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TELMA FERNANDA RIBEIRO A educação ambiental no Ensino formal: o Projeto Novo Goiabinha na Escola Municipal “Frei Edgard GrootDissertação apresentada ao Curso de Mestrado da PUC-MG como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Àrea de concentração: Sociologia e História da profissão docente e Educação escolar. Linha de pesquisa: Educação e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Wolney Lobato. Belo Horizonte Pontifícia Universidade Católica de Minas gerais 2002

A educação ambiental no Ensino formal o Projeto Novo ... · aprimoramento da qualidade de vida dos seres humanos. ... de Betim e a Organização não-governamental canadense denominada

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TELMA FERNANDA RIBEIRO

A educação ambiental no Ensino formal: o Projeto Novo

Goiabinha na Escola Municipal “Frei Edgard Groot”

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da PUC-MG como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Àrea de concentração: Sociologia e História da profissão docente e Educação escolar. Linha de pesquisa: Educação e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Wolney Lobato.

Belo Horizonte Pontifícia Universidade Católica de Minas gerais

2002

Dissertação defendida e aprovada, em 22 de março de 2002, Pela banca examinadora constituída pelos professores: Prof. Dr. Wolney Lobato – Orientador Prof. Dr. Roberto Célio Valadão Prof. Dra. Maria Inês Salgado de Souza

SUMÁRIO Lista de Figuras Lista de Gráficos Lista de Quadros RESUMO ABSTRACT 1- INTRODUÇÃO ............................................................................ 1 2- EDUCAÇÃO E AMBIENTE: situando a educação ................ 9 2.1- Antecedentes da Educação Ambiental .................................... 10 2.2- Evolução do conceito de Educação Ambiental ....................... 16 2.3- Educação Ambiental e Currículo Escolar ................................ 19 3- ANÁLISE CONTEXTUAL DO LOCUS DA PESQUISA......... 26 3.1- A Região de Citrolândia ................................................................ 27 3.2- O Projeto Novo Goiabinha ............................................................ 30 3.3- A Escola Municipal “Frei Edgard Groot” ................................... 37 4- A INSERÇÃO DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEU DESDOBRAMENTO NO COTIDIANO DA ESCOLA MUNICIPAL ‘FREI EDGARD GROOT’ ............................................................................................... 43 4.1- As concepções sobre meio ambiente e Educação Ambiental e seus reflexos na prática pedagógica ....................... 48

4.2- As atividades pedagógicas do Projeto Novo Goiabinha na

Escola Municipal “Frei Edgard Groot”................................... 53

4.3- Dificuldades e facilidades para as práticas pedagógicas Em Educação Ambiental........................................................... 59

5- REFLEXOS DAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DO PNG

SOBRE A PERCEPÇÃO DOS EDUCANDOS EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE ..................................... 67

5.1- Análise do resultado da pesquisa com os alunos....................... 70 5.1.1- Seção I – Identificação .................................................................. 71 5.1.2- Seção II- Conhecimento do Espaço.............................................. 74 5.1.3- Seção III- Valores, atitudes, comportamentos e opiniões................................................................................................ 85 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................. 103 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................... 109 8- ANEXOS ........................................................ 114

RESUMO Esta dissertação é o resultado de uma pesquisa que teve como objeto de estudo a proposta de educação ambiental desenvolvida na Escola Municipal “Frei Edgard Groot” a partir da inserção, em 1999, do Projeto Novo Goiabinha. O objetivo geral da pesquisa foi verificar se o programa implementado propiciou aos alunos a construção de uma percepção ambiental e de conceitos acerca da construção do espaço e proteção aos recursos naturais. A pesquisa teve como objetivos específicos verificar se o projeto estava articulado com a realidade local e identificar as dificuldades e facilidades que os professores encontram para desenvolver atividades pedagógicas relacionadas à temática ambiental. Para atingir esses objetivos a metodologia utilizada foi o estudo de caso, tendo como instrumentos a análise documental, entrevistas semi-estruturadas com professores e entrevistas estruturadas com alunos. Embora tenha sido identificadas fragilidades relativas às concepções sobre o meio ambiente e Educação Ambiental, constatou-se que a inserção do Projeto Novo Goiabinha propiciou o desenvolvimento de experiências pedagógicas que contribuiram para a consolidação de aprendizagens significativas para os docentes e discentes da escola favorecendo a construção de uma percepção ambiental e promovendo a formação de comportamentos compatíveis com a proteção ambiental.

ABSTRACT

This dissertation is the result of a research which had as a study objective a proposal for Environmental Education developed at “Escola Municipal “Frei Edgard Groot”, after an insertion in 1999 of Novo Goiabinha Project. The main goal of this research project was to verify whether the implemented program enable the students to build a environmental perception and concepts regarding the area construction and protection of natural resources. The research had as specific objectives to verifiy if the project was articulated with the local reality and to identify the difficulties and incentives that the teachers find in developing teaching activities related to the environmental. In order to reach these objectives, the methodology used was a study case having as instruments document analysis, semi- structured interviews with teachers and students. Although some weakness have been found related to conception of the environment and Environmental Education, it has been noted that the insertion of project “Novo Goiabinha” enabled the development of teaching experiments with contributed to the meaningful learning consolidation of the teachers and students alike, favoring the construction of na environmental perception and promoting the formation of a compatible behavior with environmental protection.

1

1

INTRODUÇÃO

“A questão ambiental virou questão econômica, social, política e cultural. Transformou-se num modo de falar da humanidade em seu contexto de ligar o homem aos outros homens e este à natureza. Transformou-se numa visão que engloba, associa, liga, relaciona, compromete, mobiliza e desperta consciências há muito tempo adormecidas.” (Hebert de Souza)

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“Ontem, o homem escolhia, na natureza, tudo que lhe podia ser útil para a renovação de sua vida: animais, vegetais, pedras, árvores, florestas, rios. A natureza era seu quadro vital. Hoje o homem se torna fator geológico, geomorfológico, climático e a grande mudança vem do fato de que os cataclismas naturais são um incidente [...] enquanto a ação antrópica tem efeitos continuados e cumulativos, graças ao modelo de vida adotado pela humanidade. Daí vêm os graves problemas de relacionamento entre a atual civilização material e a natureza” (SANTOS, 1997).

Nas últimas décadas do século XX, a questão ambiental transformou-se em

uma questão social, política e educacional, mobilizando diferentes atores

sociais como políticos, professores, operários, trabalhadores rurais,

homens, mulheres, crianças e jovens.

Acreditamos que a mobilização desses diferentes atores sociais é

imprescindível na busca das soluções para os “graves problemas de

relacionamento entre a atual civilização material e a natureza” de que nos

fala Milton Santos no texto em epígrafe.

Cabe à sociedade desenvolver ações que limitem os processos de

degradação do meio natural – nosso quadro vital – criando, sobretudo, no

âmbito da escola propostas pedagógicas em Educação Ambiental (EA) que

propiciem o estudo dos fatores históricos, econômicos e culturais que

3

determinam as mudanças e as necessidades prementes de proteção do meio

ambiente e sua sustentabilidade.

A preocupação com a Educação Ambiental remonta à conferência de

Estocolmo, Suécia, realizada em 1972, alguns anos após a eclosão do

movimento ambientalista, surgido no bojo dos movimentos sociais da década

de 1960 (movimento estudantil, feminista, operário, hippie, entre outros).

Em Estocolmo, representantes de 113 países discutiram os graves

problemas ambientais do planeta. Dessa conferência resultou um documento

denominado “Declaração sobre o ambiente humano” que, “em particular

recomendou que deveria ser estabelecido um programa internacional de

Educação Ambiental, visando educar o cidadão comum, para que esse

manejasse e controlasse o meio ambiente."(DIAS,2000).

Passados quase 30 anos da realização da Conferência de Estocolmo, o meio

ambiente continua sendo violentamente alterado e a Educação Ambiental

ainda é incipiente nas escolas e na comunidade em geral.

No Brasil, até recentemente, a questão ambiental – no ensino formal, níveis

infantil, fundamental e médio – tem ficado restrita ao ensino de Ecologia

nas aulas de Biologia e Programas de Saúde e Geografia. Em alguns sistemas

de ensino são desenvolvidos projetos interdisciplinares por ocasião de datas

comemorativas, como o Dia Mundial do Meio Ambiente, Semana da Árvore,

Dia Mundial da Águas, Mês da Primavera e outras.

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BÁRCENA (1999) afirma que nessas últimas décadas

“a prática teve pouco, ou muito pouco a ver com a teoria sustentada. Na contradição entre os valores defendidos e o comportamento cotidiano, separam-se a vida dos indivíduos e das instituições. Essa incoerência entre as teorias defendidas e a cotidianidade vivida manifesta com clareza que a questão ambiental não tem sido suficientemente pedagógica e transformadora”.

Incipiente, nas escolas e na comunidade em geral, ou insuficiente do ponto

de vista pedagógico, a questão ambiental se apresenta como emergência

educativa, assim como o multiculturalismo, a questão do gênero, entre

outras, e muito tem contribuído para novas reflexões pedagógicas,

colocando em destaque o debate sobre valores e novos modelos

antropológicos e culturais que favoreçam a construção de um sujeito

sensivelmente novo em relação ao passado (CAMBI, 1999).

Entendemos que a escola deve se tornar, portanto, um espaço de construção

do conhecimento e do desenvolvimento de valores e atitudes em relação ao

meio ambiente compatíveis com uma nova ação social fundada no

aprimoramento da qualidade de vida dos seres humanos.

A Educação Ambiental constitui um novo campo do conhecimento e é nele

que buscamos realizar essa pesquisa refletindo sobre a complexidade da

Educação Ambiental, seus princípios, fundamentos e as práticas pedagógicas

desenvolvidas em um cotidiano escolar.

A pesquisa foi desenvolvida na Escola Municipal "Frei Edgard Groot",

localizada no Bairro Citrolândia do município de Betim-MG, considerando que

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ali foi implementado, no ano de 1999, um programa de Educação Ambiental

denominado Projeto Novo Goiabinha (PNG), dentro do Programa de

Implantação da Agenda 21 local, numa parceria entre a Prefeitura Municipal

de Betim e a Organização não-governamental canadense denominada

ICLEI.

O programa de Educação Ambiental previsto para ser implementado em

quatro escolas da região, atingindo cerca de 2000 alunos, foi desenvolvido

apenas na Escola Municipal "Frei Edgard Groot" envolvendo cerca de 700

alunos e 23 professores e funcionários.

Nosso principal objetivo foi analisar a proposta de Educação Ambiental do

PNG desenvolvida na escola com vistas a:

- verificar se o projeto de EA estava articulado com a

realidade local, favorecendo a construção de uma prática

educativa capaz de influenciar a percepção e mudar ou

consolidar comportamentos ambientais compatíveis com a

proteção ambiental;

- examinar se as experiências pedagógicas desenvolvidas pelo

PNG propiciaram aos alunos a construção de uma percepção

ambiental e de conceitos acerca da construção do espaço e

proteção dos recursos naturais;

- identificar as principais dificuldades e/ou facilidades que os

professores encontraram ao desenvolver projetos em EA e

suas implicações nos processos pedagógicos.

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O estudo proposto se insere no âmbito da pesquisa qualitativa. A

metodologia utilizada foi o estudo de caso, tendo como instrumentos a

análise documental, entrevistas semi-estruturadas para professores

(ANEXO A) e estruturadas para alunos (ANEXO B).

Foram sujeitos da pesquisa professores e alunos que participaram do PNG

desde o início de sua implantação.

O grupo de professores da escola apresentava uma certa homogeneidade

quanto ao nível de formação (Curso de Magistério/2º Grau), tempo de

trabalho na escola, condição funcional (efetivos ) e gênero (feminino). Foram

selecionados 4 professoras entre as que se dispuseram a colaborar com a

pesquisa.

Diante da complexidade do tema e a amplitude do universo da pesquisa –

uma vez que o projeto foi desenvolvido por todos os segmentos da escola, e

em todas as séries – foi necessário restringir nosso universo a um

determinado segmento.

O universo de alunos pesquisados ficou restrito aos que cursavam em 2001,

ano de realização da pesquisa, a última etapa do 1º ciclo (antiga 3ª série),

considerando que todos:

a) eram alfabetizados

b) estavam concentrados em um único turno (vespertino)

c) pertenciam à mesma faixa etária (entre 8 e 10 anos)

d) estudavam na escola desde a 1ª série

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e) vivenciaram as experiências pedagógicas implementadas

pelo Projeto Novo Goiabinha.

Os alunos que cursavam essa etapa estavam distribuídos em 06 (seis)

turmas. Foram selecionados 03 (três) alunos de cada turma, totalizando 18

(dezoito) alunos pesquisados. Partindo do pressuposto de que poderia haver

diferenças quanto à percepção ambiental, o critério utilizado para a seleção

foi o local de residência do aluno, o que nos permitiu dividi-los em 2 (duas)

categorias:

CATEGORIA 1 – residentes no entorno da escola (próximo à área do

córrego Goiabinha).

CATEGORIA 2 – residentes em bairros mais distantes da escola

(mais afastados do córrego Goiabinha).

O questionário aplicado foi formulado a partir de 3 modelos de

instrumentos já utilizados em outras pesquisas sobre percepção ambiental:

Estudo de Percepção Ambiental – Plano de Controle Ambiental - UH de

Sobragi - Pesquisa de opinião – FUNEC/Contagem - Estudo de Percepção

Ambiental – Projeto Jaíba.

O instrumento de pesquisa foi composto de três seções: Seção I – de

identificação; Seção II – conhecimento do espaço e Seção III – valores,

atitudes, comportamento e opiniões.

A aplicação do questionário foi realizada, obedecendo ao critério das

categorias 1 e 2 já especificadas, divididos em dois grupos de 9 alunos. Essa

aplicação do instrumento de pesquisa, embora lenta, devido à sua

complexidade e extensão, transcorreu de forma tranqüila, em espaço

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reservado na escola, sem perturbações externas e muito bem aceita pelos

alunos que estiveram imbuídos de grande seriedade e respeito.

Para análise documental do PNG foi acessada toda a documentação do

projeto disponível na Escola Municipal "Frei Edgard Groot" e na

Coordenadoria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Betim.

Os resultados obtidos estão organizados em partes onde descrevemos: o

referencial teórico da educação ambiental em currículos escolares; a

caracterização do lucus da pesquisa; a análise dos reflexos do PNG sob a

ótica dos docentes e a análise dos reflexos da proposta pedagógica na

percepção dos educandos e, por último, apresentamos nossas considerações

finais.

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2

EDUCAÇÃO E AMBIENTE:

SITUANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO

FORMAL "O que está no início o jardim ou o jardineiro? É o segundo. Havendo um jardineiro cedo ou tarde um jardim aparecerá. Mas um jardim sem jardineiro cedo ou tarde desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos de um jardineiro." (Ruben Alves)

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2.1 - Antecedentes da Educação Ambiental As discussões das questões ambientais, enquanto movimento social, surgem

efetivamente na década de 1960, juntamente com outros de repercussão

no mundo ocidental como o feminista, estudantil e hippie.

É no bojo dos movimentos de contestação daquela época que os ecologistas

começaram a levantar suas bandeiras, denunciando o modelo econômico

capitalista que, entre outras mazelas, incentivava o consumismo, o

desperdício, a destruição da natureza e a poluição das cidades.

À medida que evolui e se aperfeiçoa o modelo econômico – cada vez mais

agressivo e devastador – o mesmo acontece com o movimento ecológico.

Deixando para trás o papel de “líricos” e “exóticos”, os ambientalistas se

unem “a cientistas, aos trabalhadores e aos estudantes, conseguindo

aprovar leis e ganhando ações na justiça contra empresas poluidoras,

passando a ser respeitados e ouvidos”. (MINC,1997).

A preocupação com o meio ambiente torna-se cada vez maior e passa a

fazer parte da agenda dos governos e das grandes organizações

internacionais.

Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza na cidade de

Estocolmo, Suécia, a primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente.

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Em Estocolmo “constatou-se a gravidade da destruição ambiental e foi dado

o alerta para as eminentes catástrofes, caso os países prosseguissem com o

crescimento a qualquer preço”. (MINC, 1997).

Da Conferência de Estocolmo resulta uma declaração de 23 princípios sobre

o meio ambiente. A partir de então, muitos outros eventos passam a ser,

periodicamente, realizados.

Em 1975, a UNESCO e o PNUMA criam o PIEA (Programa Internacional de

Educação Ambiental) e decidem realizar uma conferência internacional

sobre o tema.

Em 1977, a ONU realiza na cidade de Tbilisi, na Geórgia (antiga URSS) a

Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental.

Nesta conferência elabora-se o conceito de que a “Educação Ambiental é um

processo permanente na qual os indivíduos e a comunidade tomam

consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores,

habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir –

individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e

futuros”. (GUERRA, 1999).

À luz desse conceito definem-se as características fundamentais da

Educação Ambiental: seu enfoque orientado à solução de problemas

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concretos da comunidade (educar para a ação), participação da comunidade,

enfoque interdisciplinar (interação/troca) e seu caráter permanente, visto

que é um processo orientado para o futuro.

Em 1979 realiza-se a Conferência Latino Americana em Educação Ambiental

em San José, Costa Rica, também patrocinada pela ONU.

Em 1992, vinte anos após a Conferência de Estocolmo, a ONU realiza no Rio

de Janeiro a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável, conhecida como RIO-92 e ECO-92. Dessa

mega conferência resultou a Agenda 21 que foi assinada pelos presidentes

de 172 países constituindo, sem sombra de dúvidas, um dos mais

importantes documentos da história da humanidade produzido no século XX.

(GUERRA, 1999).

No Brasil, antes que o movimento ecológico assuma uma dimensão social, o

governo trata de legislar sobre o assunto, visando obter recursos, no âmbito

internacional, para promover o desenvolvimento econômico.

A formulação da política ambiental brasileira ocorreu mais como resultado

das ações de um estado centralizador, autoritário e desenvolvimentista do

que como resultado de pressões de forças sociais organizadas

(PÁDUA,1987). Como exemplo dessa política, tanto referente à gestão dos

recursos naturais, quanto à Educação Ambiental citamos:

- 1973 → O Governo Médice cria a SEMA (Secretaria Especial do

Meio Ambiente).

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- 1981 → O Governo Figueiredo cria, através da Lei 6938, a Política Nacional do Meio Ambiente e o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

- 1987 → O Conselho Federal da Educação recomenda a inclusão da

Educação Ambiental nos currículos de 1º e 2º grau e defende seu caráter multi/interdisciplinar.

- 1988 → A Constituição Federal do Brasil enfatiza a questão

ambiental nos capítulos I (artigos 5 e 23) e VI (artigo 225), dentre outros. (BRASIL, 1988).

- 1994 → O Governo Federal cria, a partir de proposta elaborada

pelo MEC e Ministério do Meio Ambiente, o Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA.

- 1998 → O Ministério da Educação e do Desporto, através da

Secretaria de Educação Ambiental, lança os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que apresentam a Educação Ambiental como Tema Transversal.

- 1999 → É sancionada a Lei Federal 9795/99 que dispõe sobre a

Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999a).

- 2001 → O Ministério da Educação divulga "Os Parâmetros em

Ação" que propõem atividades a serem realizadas em um contexto de formação continuada de profissionais da educação. (BRASIL, 2001)

Recentemente, no final década de 90, o debate sobre a Educação Ambiental

adquiriu força no âmbito escolar, em todos os níveis de ensino, devido,

sobretudo, ao lançamento, pelo Governo Federal dos Parâmetros

Curriculares Nacionais onde a Educação Ambiental está incluída nos Temas

Transversais, e posteriormente, pelo sancionamento da Lei 9795/99

(BRASIL,1999a).

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Em relação aos conteúdos das disciplinas, o “conjunto de conhecimentos

socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da

cidadania” – os Parâmetros Curriculares não apresentam novidade. A

inovação trazida pelos PCN que gerou controvérsias entre os educadores,

foi a introdução dos Temas Transversais1, que traduzem as preocupações da

sociedade brasileira de hoje e que, a partir de sua compreensão, o currículo

escolar estaria contribuindo para a formação da cidadania tendo como eixo

norteador a realidade vivida pelos alunos.

Segundo YUS (1998) “Os temas transversais aludem a uma forma de

entender determinados conteúdos educativos que não fazem parte de

disciplinas ou áreas clássicas do saber e da cultura”. Esses temas estariam

colocados no currículo escolar para promover visões interdisciplinares,

globais e complexas de questões problemáticas da sociedade e modelos de

desenvolvimento, respondendo à necessidade imperiosa de adaptação da

Educação às novas realidades sociais.

A inclusão da educação ambiental nos Temas Transversais foi “legalizada”,

colocando-a em situação de vantagem em relação aos outros temas.

A Lei nº 9765/99 reconhece a educação ambiental como um componente

urgente, essencial e permanente em todo processo educativo, formal e/ou

não formal expressos nos artigos 1º e 2º da Lei:

_______________________________ 1- “Conjunto de conteúdos educativos e eixos condutores da atividade escolar que, não estando ligados a nenhuma matéria em particular, pode-se considerar que são comuns a todas, devendo ser conveniente que seu tratamento seja transversal no currículo global da escola (Yus,1998)

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“Artigo 1º - Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem do uso comum do povo, essencial à sadia qualidade e sua sustentabilidade. Artigo 2º - A Educação Ambiental é um componente essencial, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.”

Ao incluir em um currículo escolar a Educação Ambiental como tema

transversal, os demais temas transversais podem e devem ser integrados,

como a questão da Ética, da Pluralidade Cultural, da Saúde, da Orientação

Sexual e do Trabalho e Consumo. Além da integração com os demais Temas

Transversais, a Educação Ambiental integra-se perfeitamente com os

conteúdos científicos “socialmente reconhecidos”, como Geografia, História,

Biologia, Português, Matemática e outros.

Nessa perspectiva ampla de abordagens, poderíamos ousar em pensar a

Educação Ambiental como eixo norteador de um currículo escolar.

Cabe às gerações incluídas no processo de Educação formal utilizar a Lei

como argumento e amparo para reinvindicar de professores, orientadores

pedagógicos, e da direção escolar a inclusão da Educação Ambiental em seu

processo educativo.

Fora da escola, “cabe à sociedade como um todo, manter atenção

permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a

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atuação individual e coletiva voltada para a identificação e a solução de

problemas ambientais” conforme Artigo 3º, inciso VI da Lei 9795.

(BRASIL, 1999).

2.2 - A Evolução do conceito da Educação Ambiental

A discussão sobre Educação Ambiental, iniciada a partir da Conferência de

Estocolmo, 1972, é ampliada nos eventos oficiais patrocinados pelas Nações

Unidas nos anos seguintes. Os princípios, conceitos e fundamentos

delineados em Estocolmo vão sendo reformulados, ampliados e/ou

reafirmados nos documentos produzidos ao final de cada evento. Assim, a

Carta de Belgrado, 1975, a Declaração da Conferência Intergovernamental

de Tbilisi sobre Educação Ambiental 1977, e o Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, Rio,

1992, apresentam uma evolução do conceito de meio ambiente e o modo

como esse é percebido.

Segundo REIGOTA (1999), pode-se analisar o conceito de meio ambiente à

luz de três visões diferenciadas: uma naturalista, originária da biologia, que

teve seu apogeu nos anos 70; a visão antropocêntrica – que toca na questão

da relação homem-natureza e a visão globalizante – que explicita a idéia de

interação entre o meio biológico e o meio social.

CASCINO (1999) analisa a evolução desses conceitos em três documentos

diferentes. A Carta de Belgrado ressalta sobretudo os aspectos naturais do

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meio ambiente, e a natureza é vista como fonte de recursos para atender

as necessidades do homem:

“Nós necessitamos de uma nova ética global – uma ética que promova atitudes e comportamentos para os indivíduos e sociedades que sejam consoantes com o lugar da humanidade dentro da biosfera (grifo nosso) […] Mudanças significativas devem ocorrer em todas as nações do mundo, para assegurar o tipo de desenvolvimento racional que será orientado por essa nova idéia global – mudanças que serão direcionadas para uma distribuição eqüitativa dos recursos da Terra (grifo nosso) , e para atender às necessidades dos povos” (CASCINO, 1999:55).

No documento da Conferência de Tbilisi, 1977, a noção de meio ambiente é

ampliada, como podemos observar no texto sobre as finalidades e

características da Educação Ambiental, mas a concepção de natureza como

fornecedora de recursos persiste:

“Um dos principais objetivos da EA consiste em permitir que o ser humano compreenda a natureza complexa do meio ambiente, resultante das interações dos seus aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais. Ela deve facilitar os meios de interpretação da interdependência desses diversos elementos, no espaço, no tempo, a fim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos naturais para satisfazer as necessidades da humanidade” (DIAS, 2000).

No documento resultante da Eco-92 ou Rio-92, novos elementos são

acrescentados: caráter ideológico, perspectiva holística, visão sistêmica

do ambiente acrescido da análise crítica do contexto social e histórico,

expressos nos seguintes princípios:

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“A educação Ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político.

A Educação Ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar. A Educação Ambiental deve tratar das questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados com o desenvolvimento e o meio ambiente, tais como população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da fauna e da flora, devem se abordados dessa maneira” (CASCINO, 1999:57).

A Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

(ECO-92), promovida pela ONU, foi um marco histórico muito importante e

seu discurso é, sem dúvida um referencial oportuno e necessário uma vez

que possui grande significado quanto ao compromisso político assumido pelos

governos e pelas ONG’s, pela fundamentação de estratégias a seguir e por

ser um alerta à participação e à responsabilidade de todos, tanto a partir do

plano individual, como institucional e organizacional. (GUTIERREZ & PRADO,

1999).

O que observamos, no entanto, é que existe uma grande distância entre os

conceitos e as propostas explicitadas nesses documentos e a prática, que

muitas vezes, contradiz o discurso.

A natureza, ao que nos parece, continua sendo vista como fornecedora de

recursos que garantem a sobrevivência do homem ou, como afirma

BRÜGGER (1999) ela “é vista como parte produtiva do todo, tanto quanto

uma fábrica ”.

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2.3 - Educação Ambiental e Currículo Escolar Segundo o MEC, os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados

procurando respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas

existentes no Brasil e considerando a necessidade de se construírem

referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões

brasileiras. Pretende-se com estas propostas curriculares “criar condições,

nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de

conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao

exercício da cidadania”. (BRASIL, 1998)

A incorporação dos Temas Transversais aos Parâmetros Curriculares

Nacionais objetiva levar para o âmbito da escola o debate sobre temas que

refletem as preocupações da sociedade brasileira: Saúde, Orientação

Sexual, Ética, Trabalho e Consumo, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente.

Oficialmente os PCN foram encaminhados às escolas, e a todos os

professores como subsídio às discussões e ao desenvolvimento do projeto

educativo das escolas, como convite à reflexão sobre a prática pedagógica,

ao planejamento das aulas, à análise e seleção de materiais didáticos e de

recursos tecnológicos e, em especial para a formação e atualização

profissional. (BRASIL, 1998b)

A chegada dos PCN nas escolas, especialmente nas públicas, acendeu as

discussões sobre o currículo escolar que, de uma certa forma, vinha sendo

relegado ao segundo (ou terceiro) plano dentro dos debates mais recentes

20

na Educação, como a construção de Projetos Político-Pedagógicos,

Construtivismo, Pedagogia de Projetos, Avaliação Escolar, entre outros.

Cabe observar que em todos esses debates mais recentes está implícita a

discussão sobre o currículo, porém, freqüentemente ela vem sendo

“deixada para uma outra oportunidade”, uma vez que as diretrizes

curriculares dependem dos poderes centrais (no âmbito Federal, Estadual e

Municipal) conforme a LDB prevê em seu artigo 9, inciso IV, “entre as

incumbências da UNIÃO, estabeleceu em colaboração com os Estados, DF e

municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino

fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos

mínimos, de modo a assegurar formação básica comum”. (CURY, 1997).

Esse artigo da LDB está em consonância com o artigo 210 da Constituição

Federal, que afirma “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino

fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos

valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.” (BRASIL, 1988).

Embora a questão do currículo não seja discutida com a relevância que

merece, ela constitui o núcleo do processo educacional, havendo uma forte

relação entre as características da sociedade e o saber institucionalizado

através dos currículos escolares.

Segundo APPLE (1989), há ainda um número considerável de educadores que

vêem o currículo de uma nação, região ou escola como um corpo neutro de

conhecimentos, constituído de fatos, habilidades e valores selecionados

para serem transmitidos às gerações futuras. Daí, surgem importantes

21

questões: quem seleciona, ou quem define que conhecimentos devem ser

ensinados? Que conjunto de suposições sociais e ideológicas definem o

conhecimento de alguns grupos como sendo legítimo enquanto o

conhecimento de outros nunca é oficialmente transmitido? Como a

distribuição, produção e controle do conhecimento está relacionada às

estruturas desiguais da sociedade?

Para esse autor, a grande dificuldade de se responder a essas questões

reside no fato de que muitos educadores ainda tendem a tratar o currículo

simplesmente como “conhecimento a ser aprendido”, levantando questões

meramente técnicas (“como ensinar” e não “por que” ensinar esse ou aquele

conteúdo), por não termos um quadro preciso das dinâmicas de classe,

gênero e raça e dos antagonismos que organizam a sociedade e, finalmente,

por não termos um quadro mais claro do funcionamento social contraditório

da própria escola.

APPLE (1989) afirma que o currículo escolar precisa ser entendido,

relacionalmente, como tendo adquirido seu significado a partir das conexões

que ele tem com as complexas configurações de dominação e subordinação,

na nação como um todo e em cada região ou escola individual. O currículo não

existe como fato isolado. Ele é resultado dos conflitos, acordos e alianças

de movimentos e grupos sociais determinados.

Nesse sentido, torna-se pertinente a discussão da inclusão de temas que

passam a fazer parte do currículo nacional devido à sua “urgência social,

22

abrangência nacional, possibilidade de favorecer a compreensão da

realidade e a participação social” (BRASIL, 1998).

A compreensão da inclusão desses temas remete a uma discussão mais

profunda sobre o contexto global do final do Século XX e início do Século

XXI.

Segundo SILVA (1995), há um novo mapa cultural traçado pela emergência

de uma multiplicidade de atores sociais e por um ambiente tecnicamente

modificado do qual emergem novos movimentos sociais, novas identidades

culturais, novos conflitos, e conseqüentemente, novas demandas

educacionais. Com todas essas alterações, a educação institucionalizada e o

currículo continuam a refletir, anacronicamente, os critérios e os

parâmetros de um mundo social que não mais existe.

Nesse “mundo passado” o homem colocou todo seu potencial criativo, seu

intelecto, sua mente a serviço da construção de uma sociedade onde o

progresso da ciência e da tecnologia submeteu nossa civilização à tirania da

razão (REGNIER, 1995). Fundamentado na concepção da racionalidade, da

objetividade do raciocínio linear-cartesiano foi criado um mundo contrário a

qualquer possibilidade de conhecimento científico na subjetividade e a

qualquer expressão de uma ética comprometida com a não-violação, com a

não-violência, a não-segregação, a não-exclusão.

Segundo RÉGNIER (1995), a serviço desse modelo a educação planta e colhe

seus resultados:

"fragmentação do tempo e dos saberes, padronização, falta de visão do todo, separação dos conhecimentos em disciplinas cada

23

vez mais numerosas, gerando especializações, indiferença à formação do caráter, à cultura do espírito, à construção da alma”.

Os currículos elaborados dentro da concepção positivista-mecanicista não

são organizados a partir do aluno. O indivíduo é subordinado aos objetivos e,

ao mesmo tempo, encerrado neles; os cursos são pré-selecionados e

reforçados pelos planos de aula e, oferecem poucas oportunidades para

idéias novas ou divergentes (DOLL, 1993).

No “mundo presente” emerge um novo paradigma. Não se trata apenas de um

paradigma científico. Trata-se de um paradigma gestado por uma sociedade

que sofreu uma revolução pela própria ciência. Trata-se também de um

paradigma social onde são incluídos os conceitos de historicidade e de

processo, de liberdade, de auto-determinação, da subjetividade, da

superação de dicotomias como: sujeito/objeto, natureza/cultura,

natural/artificial, coletivo/individual, entre outros. (SANTOS, 1999)

O efeito desse novo paradigma seria a configuração de um currículo

eclético, enfatizando a cultura e seu papel na construção de novas

estruturas organizacionais; incorporando a reflexão sobre o que fazemos,

por que fazemos e quem somos nós, tornando central a auto-reflexão, a

imaginação, a criatividade, envolvendo, além do universo de conteúdos

culturais, socialmente produzidos e historicamente acumulados, os diversos

valores, visões de mundo, escolhas, atitudes, relações e ações que permeiam

o processo ensino-aprendizagem.

24

Considerando as condições de “mundo passado” e do “mundo presente”

torna-se clara a idéia de que as concepções do primeiro não dão conta de

responder às demandas do segundo.

Ao lançar os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Temas Transversais

(relembrando que esses são temas de urgência para a sociedade), o Governo

Federal nos leva a refletir sobre a educação em seu sentido mais amplo e,

em especial, sobre o currículo. As disciplinas tradicionais não dão conta de

um conjunto de questões postas pela realidade e têm se mostrado incapazes

de desenvolver as capacidades necessárias para a participação e co-

responsabilidade na vida social (MACEDO, 1999).

A escola vista como redentora dos grandes problemas sociais/ambientais é

chamada mais uma vez a cumprir o seu papel de contribuir para a superação

dos problemas da sociedade contemporânea, dando novas responsabilidades

aos professores – que não se sentem preparados – e retirando dos setores

políticos, jurídicos e da sociedade civil organizada, o peso de suas

responsabilidades.

A introdução da Educação Ambiental no currículo escolar, não como uma

disciplina, mas como um tema gerador que permeie todo o contexto escolar,

poderia contemplar as tendências pedagógicas atuais, institucionalizando o

debate sobre a questão ambiental.

Além da importância sócio-educacional do currículo devemos ressaltar a

importância do papel professor, que ao reproduzir ou produzir

conhecimentos com os alunos deve levar em conta sua formação. O trabalho

do professor, aliado a um currículo coerente, pode contribuir para a busca

25

de novos valores éticos, estéticos e morais para a construção de uma

autonomia de pensamento dos educandos.

É importante que os professores estejam engajados nesse processo e

devidamente preparados para desenvolver propostas pedagógicas

articuladas com a realidade social da escola onde trabalham. É preciso,

sobretudo, que eles conheçam o espaço ambiental onde a escola está

situada.

A inclusão da Educação Ambiental no currículo escolar – no ensino formal – e

a sua prática nas empresas privadas, órgãos públicos e ONGs pressupõe

mudança de comportamento, de valores dos grupos humanos que precisam

adotar novas posturas, novas formas de pensar, de agir, que construam

novos modelos de produção de bens, novas relações sociais, com menos

violência, menos desigualdades e exclusão social.

26

3

ANÁLISE CONTEXTUAL DO

“LOCUS” DA PESQUISA

" Qual a diferença entre o inferno e o céu?

O inferno é um lugar onde há uma sopa muito gostosa, farta, à disposição dos seus habitantes, porém, onde as colheres tem cabos tão compridos que ninguém é capaz de se servir e levar a colher a própria boca. O

sofrimento dos eternamente famintos é enorme. E o céu?

No céu a situação é a mesma: há uma sopa muito gostosa, farta, à disposição de seus habitantes, com

colheres de cabos igualmente longos que ninguém consegue levar à própria boca. Porém, no Céu os

habitante tiveram a idéia de se servirem mutuamente, levando a colher à boca do próximo. Assim, vivem

felizes e satisfeitos alimentados pelo seu altruísmo." (George Kühlewind)

27

3.1 - A Região de Citrolândia A Escola Municipal “Frei Edgard Groot” localiza-se na Região de Citrolândia,

porção Sul de Betim (MG), município da Região Metropolitana de Belo

Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil, (FIG. 1) .

Citrolândia é um aglomerado descontínuo à malha urbana do município, que

teve sua origem vinculada à instalação, no início do século XX, do Sanatório

Santa Isabel, construído para abrigar os hansenianos de Minas Gerais.

Iniciada em 1922 e inaugurada oficialmente em 1931, a construção da

Colônia Santa Isabel foi parte de uma política sanitária do governo federal

de controle da doença que definia como atribuição estatal a assistência e o

isolamento dos hansenianos (ASSIS, 1996).

Segundo ASSIS (1996):

“A concepção de isolamento deixou de considerar que o doente tinha laços familiares e relações com a comunidade onde vivia (...). o preconceito e a desinformação da sociedade em relação aos pacientes de hanseníase criaram no imaginário popular, sem distinção de classe, um sentimento policialesco em relação ao paciente e seus familiares. Esta situação expulsou do convívio social os hansenianos e suas famílias que foram invadindo terrenos próximos à colônia e se estabeleceram no local. O estado tentou evitar que as famílias fossem morar nas proximidades, mas o estigma social foi mais forte, levando as pessoas a lutar para ficarem próximas dos parentes. Neste contexto, surgem os bairros que hoje compõem a região do Citrolândia."

28

Onça dePitangui

Pompéu

Maravilhas

Pequi

Papagaios

Igaratinga

Pará de Minas

São Joséda Varginha

São Gonçalodo Pará

Carmo doCajuru

Itaúna

Passa-Tempo

Crucilândia

PiracemaCarmópolisde Minas

Cláudio

InhaúmaCachoeira da Prata

Caetanópolis

Fortunade Minas

Santana dePirapama

Cordisburgo

Curvelo

Desterro deEntre-Rios

Entre-Riosde Minas

Araçaí Jequitibá

Paraopeba

Funilândia

Prudente de Morais

Sete Lagoas

Congonhas

Piedadedos Gerais

Bonfim

Itabirito

Moeda

Jeceaba

Belo Vale

São Brásdo Suaçuí

Itambé doMato Dentro

Santana do Riacho

Conceição doMato Dentro

Morrodo Pilar

Ouro Branco

MarianaOuro Preto

CatasAltas

SantaBárbaraBarão de

Cocais

Bom Jesusdo Amparo

Itabira

São Gonçalodo Rio Abaixo

Alvinópolis

Sto Antônio doRio Abaixo

DomJoaquim

19°12'

44°30' 43°30'

20°12'

43°30'

19°12'

Itaguara

Florestal

MateusLeme

Rio Manso

Itatiaiuçu

Esmeraldas

Juatuba

Igarapé

São Joaquimde Bicas

Betim

CapimBranco

Sarzedo

Brumadinho

MárioCampos

Contagem

Ibirité

Ribeirãodas Neves

PedroLeopoldo

São José da Lapa

Matozinhos

BELOHORIZONTE

Nova Lima

Confins

Vespasiano

Baldim

LagoaSanta

Jabuticatubas

Santa Luzia

Raposos

Rio Acima

CaetéSabará

NovaUnião

Taquaraçude Minas

0

Km

21 42

Betim

(Altera os arts. 7° e 21 da Lei Complementar N° 26, de 14/01/1993que estabelecem a composição da RMBH e de seu colar metropolitano)

- Lei Complementar N° 63 de 10 de Janeiro de 2002 -

Municípios da RMBH Municípios do Colar Metropolitano

Rua Itambé, n° 49 - Belo Horizonte / MGCep 30.150.150 - Telefax: 3213-2912

www.iga.br

FIGURA 1 - Localização de Betim na Região Metropolitana de Belo Horizonte FONTE: IGA 2002

29

A expansão desse aglomerado se deu de forma desarticulada com a cidade

de Betim, e muitos bairros surgiram e se desenvolveram de forma

desordenada sem o acompanhamento de infra-estrutura básica de

arruamento, esgotamento sanitário e água tratada. Nos bairros mais antigos

são comuns os becos, travessas e vielas que não permitem sequer a

passagem do caminhão para a coleta do lixo.

Outra marca da região é a sua forte característica imigratória devido,

primeiramente, às origens históricas do lugar e, mais recentemente ao

processo de aceleração da urbanização do município em função da

dinamização do setor industrial com a chegada de grupos nacionais e

estrangeiros a partir de meados da década de 1970. Os imigrantes instalam

– se em Citrolândia onde há uma menor valorização dos terrenos em relação

ao restante da cidade e, os aluguéis são mais baratos.

Essa característica migratória tem grande influência na cultura local uma

vez que os imigrantes trazem novos valores, tradições, costumes e

expectativas, enfim, uma diversidade cultural que impõe novos desafios e

demandas aos sistemas públicos de saúde, saneamento básico, educação,

entre outros (BETIM, 1999c).

Por se tratar de uma região com graves problemas nas esferas sociais e

ambientais, como falta de saneamento básico, poluição, desmatamento,

desemprego, violência, pobreza entre outros, Citrolândia vem sendo alvo do

desenvolvimento de políticas públicas que visem minimizar tais problemas.

Como exemplo dessas políticas podemos citar a construção do Aterro

30

Sanitário e da Central de Tratamento de Resíduos Sólidos, que emprega a

mão-de-obra local; a implantação do Projeto Novo Goiabinha, que visa

recuperar o córrego em seu trecho urbano; a coleta seletiva de lixo; a

municipalização da escola; construção do posto de saúde e a solução dos

problemas fundiários ainda existentes na região da Colônia de Santa Isabel.

Dentro das políticas públicas do município para Citrolândia, destacamos a

implantação do Projeto Novo Goiabinha cujo conhecimento é imprescindível

para o perfeito entendimento de nosso trabalho de pesquisa, bem como de

seus resultados.

3.2 - O Projeto Novo Goiabinha

A porção mais urbanizada e mais densamente povoada de Citrolândia se

assenta sobre a bacia do Córrego Goiabinha, contribuinte da margem direita

do Rio Paraopeba.

A bacia do Goiabinha vem sofrendo um acelerado e desordenado processo

de ocupação tanto das vertentes quanto do seu vale, tendo sido construídas

moradias bem próximas à sua calha. O córrego se transformou em pouco

tempo em depósito de lixo e de esgoto lançado in natura em suas águas.

Disso resultaram problemas graves como os odores fétidos, a presença de

insetos e ratazanas que se beneficiavam do lixo e objetos dispostos nas

margens do córrego (PUC, 2000).

31

Buscando solução para tais problemas, a comunidade local pleiteou em 1993

verbas do Orçamento Participativo do Município (OP). Com os recursos do

OP foram realizadas, entre 1993 e 1997, as obras de tratamento de fundo

de vale, a retificação e contenção das margens do Córrego Goiabinha dentro

do perímetro urbano de Citrolândia (FIG. 2).

FIGURA 2 - Córrego do Goiabinha (antes da obra do PNG). Observa-se ao fundo o início da obra de contenção das margens.

32

No final de 1998, a bacia do Córrego Goiabinha foi escolhida para fazer

parte do programa de implantação da Agenda 21 local, com verbas do OP e

da organização não-governamental ICLEI - Conselho Internacional para

Iniciativa Local em Meio Ambiente.

Objetivando melhorar a qualidade de vida, lazer, segurança e convivência da

população, foi criado com esses recursos o projeto Novo Goiabinha (PNG),

(FIG.3, FIG. 4)

FIGURA 3 - Vale do Goiabinha após as obras do PNG

33

FIGURA 4 - Vale do Goiabinha após as obras do PNG. Em segundo plano a Escola Municipal "Frei Edgard Groot"

Entre as obras do PNG estavam incluídas a recuperação da quadra de

futebol, a colocação de bancos de concreto ao longo do trecho

"recuperado", a iluminação pública a instalação de lixeiras e a colocação de

interceptores de esgoto doméstico.

Reproduzimos a seguir o texto de divulgação do PNG, elaborado pela

Coordenadoria do Ambiente do Município de Betim.

34

" PROJETO NOVO GOIABINHA

O Córrego Goiabinha, localizado na região de Citrolândia, foi escolhido

recentemente para fazer parte do programa de implantação da Agenda 21

local, através de uma instituição não governamental chamada ICLEI, que

em português significa: Conselho Internacional para Iniciativa Local em

Meio Ambiente.O projeto visa, além da recuperação e preservação do

Córrego, a uma efetiva participação da comunidade nas diversas ações

para a sua implantação.Com uma atuação transparente o Projeto trabalha

com diversas parcerias, entre elas a Prefeitura Municipal, Emater,

comunidade, PUC-MG, empresas diversas, etc...

O Projeto Novo Goiabinha se organiza em cinco frentes de trabalho, que

embora específicas se integram nas suas várias ações.As frentes de

trabalho são: Monitoramente e Recuperação, Obras, Geração de Rendas,

Segurança, Mobilização, Educação Ambiental e Divulgação.

Essas comissões são formadas tanto por funcionários da prefeitura como

pessoas da comunidade que se identificam com o trabalho realizado.

Além destas comissãos, existe um grupo Coordenador, formado pelos

relatores das cinco frentes de trabalho, um Coordenador geral (Sr. Carlos),

uma secretária (Nalva), um facilitador (Carlos Roberto – Pingo,

administrador regional), uma contadora (D. Carlita) e a responsável pelos

orçamentos ( Patrícia).Educação Ambiental:

A comissão de mobilização, Educação Ambiental e divulgação é formada

por várias pessoas da comunidade e tem como relatora Mara Andrade da

coordenadoria de Meio Ambiente da prefeitura Municipal de Betim.

Objetivo Geral: Recuperação e conservação da qualidade e quantidade de

água do Córrego Goiabinha, visando às melhorias das características do

curso d’água e garantia da qualidade de vida da população.

Resultados Esperados: Modificar os hábitos da população do entorno do

Goiabinha, minimizando a sua degradação.

35

Integrar as ações de Educação Ambiental, mobilização e divulgação aos

outros grupos de trabalho fazendo assim com que a comunidade se envolva

mais com o Projeto.

Divulgar o Projeto Novo Goiabinha na região de Citrolândia e dentro do

possível, no resto da cidade.Propostas de ações:

a)Discutir com os diversos grupos organizados da Região do Projeto Novo

Goiabinha, visando a sua divulgação e à adesão de novos parceiros;

b)Confecção de camisas para divulgação e adesão do projeto;

c)Criar informativo bimestral;

d)Elaboração de um vídeo educativo;

e)Fazer diagnóstico que aponte dados sobre segurança, situação sócio-

econômica, condições de moradia, educação ambiental e sanitária, aptidões

culturais e outros dos moradores do entorno do Goiabinha;

f) Implementar programa de educação ambiental para as escolas de

Citrolândia." (BETIM, 1998).

Na prática, a implantação do PNG, baseou-se em dois eixos fundamentais:

1 - O tratamento paisagístico das margens do córrego e recuperação do

fundo de vale e instalação dos interceptores de esgoto;

2 - Implantação de um programa de Educação Ambiental na E.M. “Frei

Edgar Groot”.

O Projeto Novo Goiabinha apresentou vários equívocos, tanto em sua parte

estrutural ( obras ), quanto em sua parte não-estrutural ( organização, apoio

técnico e institucional, entre outras). Com relação às medidas estruturais, o

PNG deu continuidade ao projeto de retificação do canal e recuperação do

fundo de vale que tinham como objetivo diminuir o risco de enchentes na

região. Tecnicamente a retificação tem a finalidade de aumentar a

velocidade da água, reduzindo o tempo da onda de cheia, melhorando a

situação local, mas agravando a situação à jusante. Na prática, isto significa

36

a transferência do problema de um lugar para outro, dando aos moradores

do vale do córrego a falsa sensação de segurança.

A instalação de interceptores de esgoto, apenas no trecho urbano, sem a

construção de uma ETE ( Estação de Tratamento de Esgoto), também

apenas transfere o problema de lugar. O esgoto coletado é novamente

lançado in natura em outro ponto do mesmo córrego.

O tratamento paisagístico dado às margens do córrego, com a colocação de

bolsões de concreto e plantio de grama não recupera o córrego. A

"natureza" do rio não foi respeitada. A vegetação original não foi

recomposta e as águas do córrego passaram a correr, fétidas, sobre o

concreto.

A iluminação pública e a colocação de lixeiras no trecho "recuperado" foram

medidas bem recebidas pela população uma vez que facilitaram a circulação

à noite e a coleta de lixo.

Com relação às medidas não-estruturais, que estavam vinculadas às

comissões de segurança, geração de renda, monitoramento da qualidade da

água, mobilização e educação ambiental, praticamente todas as propostas

fracassaram. Esse fracasso ocorreu em função da desarticulação das

comissões por razões de ordem organizacionais e técnicas.

A comissão de Mobilização e Educação Ambiental realizou algumas

atividades com a comunidade local no sentido de esclarecê-la sobre a

disposição do lixo , e a importância da recuperação do córrego e promoveu

37

eventos como o Mutirão da Limpeza e o Abraço ao Goiabinha. Além dessas

atividades a comissão levou a proposta de Educação Ambiental para a Escola

Municipal "Frei Edgard Groot".

Analisamos, a seguir, as condições materiais e pedagógicas da escola que

favoreceram o desenvolvimento da proposta de Educação Ambiental do PNG

(ANEXO C).

3.3 - A Escola Municipal " FREI EDGARD

GROOT"

A Escola Municipal "Frei Edgard Groot" foi criada em 1997. Até este ano o

estabelecimento de ensino pertencia à rede estadual com o nome de Escola

Estadual Dr. Orestes Diniz. A escola foi municipalizada atendendo as

exigências da lei de diretrizes e bases promulgada em 1996, que transferiu

para os municípios a responsabilidade sobre o ensino fundamental.

Em 1999, ano de implantação do PNG, a escola atendia cerca de 700 alunos

com faixa etária entre 6 e 11 anos, funcionando em dois turnos, manhã e

tarde, com doze turmas cada um.

Trata-se de uma escola de pequeno porte, construída em 1980, estruturada

em dois blocos. O primeiro bloco é constituído de sete salas de aula e o

segundo, constituído por 3 salas de aula, pela parte administrativa da

escola (sala de diretora e secretaria), biblioteca, sala dos professores,

banheiro, cantina e SOESP (Serviço de Orientação e Supervisão

38

pedagógica). Próximo a esse bloco, encontra-se a quadra de esportes,

pequena e sem cobertura. A escola não possui laboratórios.

A aparência geral da escola é agradável; salas limpas, com cortinas, boa

iluminação e adornadas com cartazes educativos e plantas (FIG. 5 a FIG. 8).

FIGURA 5 - Partes do fundo do Bloco 2: salas de aula e administração

39

FIGURA 6 - Pátio e Cantina

FIGURA 7 - Frente do Bloco 2 e quadra esportiva

40

FIGURA 8 - Sala de aula

No biênio 2000/2001, foram construídas mais 2 salas de aula. O jardim e os

banheiros foram reformados, e a escola ganhou nova aparência.

Com relação aos recursos materiais, a escola conta com um aparelho de TV e

vídeo, retroprojetor, 2 aparelhos de som portáteis, máquina fotográfica e 2

mimeógrafos. Esses recursos têm sido insuficientes para atender à

demanda das 24 turmas.

A direção da escola e a comissão pedagógica mostram-se bastante

preocupadas com a situação e procuram organizar as atividades pedagógicas

41

de modo que todos os professores tenham acesso aos poucos recursos de

que a escola dispõe.

Quanto aos recursos humanos, a escola é provida de funcionários em

quantidade suficiente para atender às necessidades administrativas

(direção, vice-direção e quatro secretárias), técnicas (quatorze funcionários

que cuidam da alimentação, limpeza e segurança) e pedagógicas (vinte e três

professores, quatro pedagogos e dois atendentes de biblioteca).

Além da infra-estratura física e dos recursos materiais e humanos, outros

aspectos foram considerados para compreendermos as condições que o PNG

encontrou na E. M. “Frei Edgard Groot” para desenvolver seu programa de

Educação Ambiental. Esses aspectos referem-se a um conjunto de

propostas pedagógicas consideradas inovadoras, implementadas, a partir de

1998, pela política educacional do município, intitulada ESCOLA

DEMOCRÁTICA, tais como:

- a forma de organização em ciclos de ensino-aprendizagem, que

tem como critério básico de enturmação a idade psicogenética

dos alunos que, além de valorizar e assegurar a presença e

permanência destes na escola, busca propiciar maiores e

melhores condições de aprendizagem e convivência social;

- a teoria construtivista como base da prática escolar definida

como uma “concepção epistemológica que considera a ciência

como resultado de um processo de construção de modelos

explicativos para a realidade e não para a representação desta".

42

A transposição didática dos princípios dessa teoria para o

processo de ensino-aprendizagem possibilita que o aluno, entre

outras coisas, possa: dar sentido ao que se propõe a fazer, saber

o que deve fazer e por que atribuir significado aos conteúdos da

aprendizagem, garantir um bom nível de participação e

envolvimento nos processos pedagógicos, lançar mão de sua

bagagem experiencial (BETIM, 1999 );

- a avaliação escolar processual que abrange toda a experiência

escolar e todas as dimensões da formação humana, tendo em

vista o acompanhamento, a análise e a interpretação cotidiana

das ações individuais e coletivas dos educandos face às suas

características e demandas sócio-culturais e aos objetivos

didáticos propostos pela escola.

Contando com condições razoáveis relativas às estruturas física, material e

humana, e com orientações pedagógicas que propiciam práticas de ensino-

aprendizagem inovadoras, a Escola Municipal “Frei Edgard Groot” assumiu

com grande interesse e responsabilidade as propostas encaminhadas pela

comissão de Educação Ambiental do PNG.

As práticas pedagógicas bem como seus reflexos no cotidiano escolar, tanto

do ponto de vista dos educadores quanto dos educandos estão analisadas

nos capítulos seguintes.

43

4

A INSERÇÃO DO PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

DO PNG E SEUS DESDOBRAMENTOS NO COTIDIANO DA ESCOLA

MUNICIPAL "FREI EDGARD GROOT"

"Eu diria aos educadores e educadoras, ai daqueles e daquelas, que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar e de perder a sua coragem de denunciar e de anunciar." (Paulo Freire)

44

O cotidiano da Escola Municipal "Frei Edgard Groot" começou a ser

alterado no início do ano de 1999 a partir da inserção do projeto de

Educação Ambiental proposto pela comissão¹ de Educação Ambiental do

Projeto Novo Goiabinha .

Esta comissão tinha como objetivo inicial implementar um programa de

Educação Ambiental para as 4 escolas da Regional Citrolândia – Na época da

apresentação da proposta, as quatro escolas (duas estaduais e duas

municipais) atendiam cerca de 2000 (dois mil) alunos, dos níveis

fundamental e médio.

Por razões de ordem técnica, política e institucional, o Projeto Novo

Goiabinha (PNG) foi implementado somente na Escola Municipal "Frei Edgard

Groot".

A primeira visita da Comissão de Educação Ambiental do PNG à escola

ocorreu no dia 16 de março de 1999. Nesse dia, todas as turmas dos turnos

matutino e vespertino foram visitadas, e o tema abordado foi o projeto que

estava sendo desenvolvido para recuperar o córrego Goiabinha, que passa

bem próximo à escola.

Segundo o Relatório da Comissão Coordenadora do programa:

“A direção da escola, professores e alunos demonstraram um enorme interesse pelo assunto. Encerramos nossa visita convidando a todos para participarem conosco da primeira atividade dentro da escola no próximo dia 23 de março”. (BETIM, 1999a)

___________________________________

1 - O Projeto Novo Goiabinha possuía 5 comissões ou frentes de trabalho: Obras, Geração de Renda, Segurança, Monitoramento, Mobilização e Educação Ambiental. Essas comissões eram formadas por funcionários da Prefeitura Municipal e por membros da comunidade local.

45

Este documento (ANEXO C) evidencia que a proposta de se realizar um

trabalho pedagógico, tendo como eixo central a temática ambiental, não foi,

em princípio, uma demanda da comunidade escolar (direção, professores,

alunos, pais), mas uma proposta feita pela administração municipal que, ao

ser incorporado pela escola, trouxe significativas implicações para o

desenvolvimento da temática ambiental abordada pelo currículo da escola.

Destacamos, a seguir, algumas propostas apresentadas pela Comissão do

PNG à escola:

• Auxiliar o trabalho dos professores fornecendo textos sobre a

importância da reciclagem do papel e outros textos complementares”.

• “Promover o desenvolvimento de atividades lúdicas: música, teatro, oficinas”.

• "Promover a realização de oficinas de reciclagem de papel e confecção

de brinquedos com garrafas pet" • “Permanecer na Escola Edgard Groot até o final do ano acompanhando as

atividades de educação ambiental”.

Estas propostas e/ou sugestões foram assumidas pelos docentes da escola

que procuraram desenvolvê-las com interesse. Entre os professores

entrevistados há divergências quanto à validade da experiência. Alguns a

consideraram positiva e outros fizeram severas críticas como podemos

verificar a partir de algumas falas sobre o PNG:

“Eu gostei muito do Projeto, apesar de achar que ele ficou no meio do caminho. Ele não terminou. Eu gostei porque no início nós tivemos um maior assessoramento pela coordenação (...) Os alunos ficaram muito envolvidos”. (Professor l )

46

“Faltou envolvimento entre o pessoal da escola e o pessoal que veio trazer o Projeto. Ficou um coisa muito solta (...) não ouve um planejamento geral. Foi um coisa que veio de fora (...) e que o pessoal que veio não participou. O dia do ABRAÇO foi uma palhaçada (...) Ficamos horas no sol quente esperando o prefeito (...) Os meninos tomaram raiva do prefeito. Então, quando a gente começava a falar de Goiabinha eles pediam pelo amor de Deus para parar (...) No geral, foi bem aceito mas perdeu credibilidade. No dia do ABRAÇO ficou claro o uso político do Projeto”. (Professor ll)

Considerando as falas acima, foi possível identificar os aspectos positivos e

negativos do PNG que apresentamos no QUADRO 1

QUADRO 1

Aspectos positivos e negativos do PNG, segundo opinião dos professores

entrevistados

POSITIVOS

NEGATIVOS

Envolvimento dos alunos Descontinuidade

Falta de envolvimento da Coordenação do PNG e escola Falta de planejamento geral

Falta de acompanhamento das atividades pela Comissão do PNG

Assessoria pedagógica inicial

Uso político

FONTE: Pesquisa Direta

47

É importante ressaltar que a motivação inicial, dada a presença de uma

assessoria externa, revela que havia uma insegurança dos professores

quanto ao desenvolvimento de experiências pedagógicas em educação

ambiental. A retirada da Comissão foi sentida e considerada como aspecto

negativo do projeto, imprimindo-lhe um caráter descontínuo.

Entre as críticas mais severas, destacamos o uso político que se fez do

mesmo e à sua descontinuidade, uma vez que a comissão do PNG não

permaneceu durante todo o ano de 1999 na escola, como havia sido

proposto.

Após a realização de algumas atividades, como as abaixo mencionadas, e o

descumprimento de algumas promessas, como a de reforma do jardim da

Escola, a Comissão “desapareceu” da escola:

- aulas de música, cujo professor convidado pela Comissão do PNG,

por razões desconhecidas, não mais voltou à escola;

- o "ABRAÇO AO GOIABINHA", evento promovido pela Comissão

de Educação Ambiental "Novo Goiabinha" e pela Escola Municipal

"Frei Edgard Groot", realizado sob o patrocínio do Grupo Gestor

Projeto Novo Goiabinha e Prefeitura Municipal de Betim, cuja

chamada está apresentada no (ANEXO D) A manifestação,

envolvendo toda a comunidade escolar, objetivava "abraçar"

simbolicamente o córrego, demonstrando a necessidade de

protegê-lo. Segundo alguns professores essa atividade teve um

caráter estritamente político .

48

A Comissão esteve efetivamente presente na escola até a realização do

"Abraço" ocorrido em 02 de junho de 1999.

Nesse capítulo analisamos alguns aspectos da prática docente: as

concepções de meio ambiente e de Educação Ambiental que norteiam o

trabalho pedagógico na escola, as práticas pedagógicas desenvolvidas, as

dificuldades e/ou facilidades encontradas ao se trabalhar com temas

ambientais.

4.1 - As concepções sobre meio ambiente e Educação Ambiental e seus reflexos na prática pedagógica

Segundo REIGOTA (1999) podemos analisar o conceito do meio ambiente à

luz de três visões diferenciadas: uma naturalista, originária da Biologia, que

considera como meio ambiente apenas os componentes biológicos da

natureza: vegetação, fauna, rios e lagos; uma antropocêntrica, que explicita

a relação homem-natureza e a visão globalizante que evidencia a idéia de

interação entre meio biológico e o meio social

Nos trechos das entrevistas, com alguns professores, apresentados a

seguir, destacamos as concepções, em relação ao meio ambiente que

permeiam o discurso dos docentes norteando as práticas pedagógicas

desenvolvidas na escola:

49

“Eu gosto muito de falar sobre esse assunto. A gente está ficando muito preocupado com tudo que está acontecendo com a água, com os desmatamentos. Eu falo sempre pra eles sobre o cuidados que temos que ter como nosso planeta. (Professora l) “A minha preocupação maior, o meu interesse com a Educação Ambiental é motivada, principalmente, quando eu vejo o desperdício, especialmente da água. Eu preocupo com os meus três filhos, sobre o que vai acontecer no futuro.” ( Professora lI) “A minha motivação são os próprios alunos. Tudo isso tem muito a ver com a vida deles. Eu trabalho com ciências, eu tenho que trabalhar plantas, animais, hábitos de higiene. Os alunos perguntam muito.” (Professora lII) “Eu me interessei pelo tema desde que eu trabalhava na antiga 4ª série com geografia tradicional. Eu tinha que trabalhar com mapas, com o meio físico. Eu senti muita dificuldade dos alunos em entender a geografia. Com o passar do tempo eu fui estudando e buscando compreender mais o meio ambiente para entender a intervenção do homem neste ambiente que ele está.” (Professora lV)

Considerando as visões do autor e as falas dos entrevistados, elaboramos o

QUADRO 2, onde são destacadas as concepções de meio ambiente dos

docentes.

50

QUADRO 2

Concepções de meio ambiente presentes nas falas dos docentes entrevistados

VISÃO

NATURALISTA VISÃO

ANTROPOCÊNTRICA VISÃO

GLOBALIZANTE Preocupação com a água Desperdício da água

Desmatamento

Trabalho com fauna e

flora

Trabalho com meio físico

Cuidados com o planeta

Intervenção do homem

Preocupação com as

gerações futuras

Relação com a vida

FONTE: Pesquisa Direta

Analisando as opiniões dos professores, verifica-se que a preocupação com a

água, o fato de ter que trabalhar “plantas e animais” e com o meio físico,

refletem a visão naturalista do ambiente. A preocupação com o desperdício

e a “intervenção do homem no ambiente” refletem a visão antropocêntrica.

As falas revelam ainda uma preocupação social.

Entre os docentes entrevistados, observamos a coexistência das três

concepções discutidas anteriormente. Julgamos não ser necessária a

escolha de uma delas, de vez que uma não exclui a outra. O mais importante

é que os docentes saibam dialogar com estas concepções, construindo e

reconstruindo saberes necessários ao desenvolvimento de aprendizagens

que sejam significativas para os educandos no sentido de torná-los

conscientes das relações natureza/sociedade.

51

A coexistência das concepções diferenciadas também aparece na fala dos

professores no que diz respeito aos conceitos por eles explicitados sobre a

educação ambiental:

“A Educação Ambiental é você preparar o ser humano para a vida, para ele conseguir manter o necessário para sua vida e para saber utilizá-lo de acordo com aquilo que ele precisa porque se ele não souber ele acaba destruíndo tudo.” (Professor l) “A Educação Ambiental ensina a gente a viver bem ao nosso meio. A gente tem que saber viver bem e preservar os nossos recursos naturais, viver em todos ambientes, ter respeito pelo outro. A Educação Ambiental não é uma coisa de faculdade, difícil. Eles precisam entender que é tudo muito simples, viver bem é simples. É levantar , abrir janela e olhar o dia, estar alegre. Tem que aprender a conviver.” (Professor Il) “A Educação Ambiental pra mim é realmente a gente estar aberto para trabalhar todas as questões resultantes das intervenções do homem e, de certa forma, estudando uma maneira de controlar essa intervenção do homem, a nossa própria, a de cada ser humano no ambiente que a gente tá vivendo, para entender e questionar o que está acontecendo e poder contribuir no meio social da gente para que aconteçam certas mudanças.” (Professor II l) “Na minha percepção é ver o ambiente como um todo, como um lugar de sobrevivência, de saúde e propor a todos a preservação para que haja sempre um ar puro onde a gente possa viver.” (Professor lV)

A visão naturalista nos pareceu ser a concepção que norteia as práticas

pedagógicas, muito bem destacadas nas falas dos docentes entrevistados,

apesar dos mesmos não deixarem de explicitar referências às visões

antropocêntricas e globalizantes.

52

Segundo BRÜGGER (1999) as práticas pedagógicas advindas dessa

concepção ficam, na maioria das vezes, restritas a instruções de caráter

técnico como “Não devemos gastar muita água”, “Devemos jogar lixo no

lixo”, “Preserve o verde”, “Proteja os animais” ou textos meramente

informativos visando à conscientização dos alunos sobre a importância da

conservação da natureza, tornando a Educação Ambiental meramente

conservacionista, cujos “ensinamentos conduzem ao uso racional dos

recursos naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos

ecossistemas naturais ou gerenciados pelo homem”. (BRÜGGER, 1999)

Esse conteúdo técnico-instrumental, conservacionista possui um caráter,

não de educação no seu sentido intrínseco, mas de “adestramento”

ambiental, como nos fala esta autora:

“Infelizmente, é preciso admitir ainda que adestramento, em vez de educação é o que ocorre em diferentes níveis e áreas do ensino formal em nosso país (...). A Educação-adestramento é uma forma de adequação dos indivíduos ao sistema social vigente.” ( BRÜGGER, 1999)

Ainda segundo BRÜGGER (1999),

“A educação se distingue do adestramento por ser este último um processo que conduz à reprodução de conceitos ou habilidades técnicas, permanecendo ausente o aspecto de integração do conhecimento, condição sine qua non para a formação de uma visão crítica e criativa da realidade.”

A educação para o meio ambiente, segundo essa autora, implica uma

profunda mudança de valores, uma nova visão de mundo, que ultrapasse o

universo meramente conservacionista contido nas práticas de

53

“adestramento” presentes nas atividades advindas das concepções

naturalistas preponderantes entre o corpo docente da escola.

4.2 - As atividades pedagógicas do Projeto Novo Goiabinha na Escola Municipal "Frei Edgard Groot"

Buscando como referência o marco conceitual da Educação Ambiental,

traçado na Conferência de Tbilise em 1977 e referendado na Rio-92 (DIAS,

2000), deduzimos que a proposta de Educação Ambiental do PNG

implementada pela Escola Municipal "Frei Edgard Groot" seguiu a

"recomendação que diz respeito à estratégia metodológica da ação educativa voltada para a solução de problemas locais, que deve se configurar como um elemento aglutinador na construção de uma sociedade sustentável”. (LAYRARGUES, 1999).

Segundo esse autor, a aplicação da metodologia de “Resolução de problemas

locais” pode ser realizada em dois tipos de abordagens: tema-gerador e

atividade-fim. Essas duas abordagens têm características diferenciadas

como podem ser constatadas no QUADRO 3.

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QUADRO 3

Abordagens metodológicas para a

“resolução de problemas locais”

TEMA GERADOR

ATIVIDADE-FIM

- Irradia-se em uma concepção pedagógica comprometida com a compreensão e a transformação da realidade.

- Provoca mudança de valores.

- Subverte a rdem.

- Transforma.

- Visa unicamente à resolução pontual daquele problema ambiental abordado.

- Provoca mudança de

de comportamento. - Adequação às novas

realidades.

- Se esgota nela mesma.

FONTE: LAYRARGUES, 1999.

Os professores e a comissão pedagógica da escola elaboraram um projeto

para ser desenvolvido ao longo do ano com as turmas de 1º e 2º Ciclos.

Em síntese, esse projeto apresentava as seguintes propostas e atividades:

"

Participar de palestras e conversas sobre o assunto (Projeto Novo Goiabinha);

-

Visita às margens do córrego, onde os alunos recolherão embalagens de lixo;

- Confecção de uma caixa para recolher restos de papel;

- Atividades de Matemática (probleminhas

55

envolvendo o tema)

- Confecção de lixeiras individuais para serem instaladas nas carteiras dos alunos.

- Atividades com música;

- Elaborar livrinho onde os alunos ilustrarão o antes, hoje e o depois do Córrego Goiabinha;

- Abraço ao Córrego Goiabinha com todos os alunos e a comunidade;”

(Projeto Goiabinha da E.M. Frei Edgard Groot, BETIM, 1999c)

Tendo como referência o Quadro 3 e a lista de atividades propostas pelo

PNG, (ANEXO E), fez-se a classificação das atividades de acordo com as

abordagens de tema-gerador e atividade-fim, apresentadas no QUADRO 4.

Estes dados permitiram a visualização da maioria das atividades dentro da

abordagem ATIVIDADE-FIM. Essas atividades constituíram-se numa

adequação das práticas pedagógicas a uma demanda momentânea, visando a

mudanças de comportamento em função de uma questão emergencial que se

esgotou nela mesma, haja vista o “desaparecimento” dos interessados em

determinado momento do projeto.

BARTOLOZZI & PEREZ FILHO (2000) apresentam uma classificação das

experiências voltadas para a Educação Ambiental, considerando-as em:

1 - Atividades fragmentárias: estudos parciais do meio, temas

amplos ecológicos, pontuais e comemorativos, atividades

descontextualizadas, estudos do meio físico/social.

2 - Atividades integradoras: estudo da realidade, atividades que

buscam a solução de problemas concretos do meio ambiente da

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comunidade, temas sócio-ambientais e estudos que apresentam

união entre teoria e prática.

QUADRO 4

Classificação das atividades pedagógicas

ATIVIDADES CLASSIFICADAS DENTRO DA ABORDAGEM TEMA GERADOR

ATIVIDADES CLASSIFICADAS DENTRO DA ABORDAGEM ATIVIDADE FIM

Produção de textos Visita ao Córrego Trabalho com música e poesia Palavras Cruzadas Texto de jornal Eleição, entre os alunos, de um fiscal por

turma, para orientar o uso das lixeiras Confecção, com os alunos, de mural para anexar os trabalhos

Pesquisa sobre o tempo de decomposição dos diferentes tipos de lixo

Entrevistas com moradores Desafios matemáticos Pesquisa de campo com roteiro

Estudar sobre os tipos de água (características da água)

Teatro Trabalhar Gráficos Filmes Fazer Maquete Fazer uma campanha de coleta de vidros para o banco de leite materno

Confeccionar porta-retratos, reciclando bandejas de isopor

Oficinas de reciclagem de papel

Fazer blocos de papel reciclado

Oficina de jornal e tampinhas

Fazer marcador de página com caixinhas de pasta de dente e de remédios Campanha da Latasa (Coleta de latas de alumínio) Concurso de Produção de Texto Estudar sobre a água que existe no mundo

Abraço ao Córrego Goiabinha

Confeccionar lixeiras individuais para serem instaladas nas carteiras.

FONTE: ESCOLA MUNICIPAL "FREI EDGARD GROOT" Sugestões de atividades para desenvolver o Projeto Goiabinha. Betim, 1999c.

57

Considerando estas abordagens, verificamos que as atividades desenvolvidas

na escola em questão apresentam características tanto fragmentárias:

campanha de coleta de latinhas, confecção de lixeiras, estudo sobre vermes

e larvas, desafios matemáticos, pesquisa sobre o tempo de decomposição

dos diferentes tipos de lixo, entre outros; e como atividades integradoras:

a limpeza coletiva do Córrego Goiabinha, trabalho com música e poesia,

entrevistas com moradores, produção de texto, oficinas de reciclagem e

outras. Refletindo, assim, um conflito comum no contexto escolar entre as

concepções tradicionais de ensino - no caso ambiental, a concepção

naturalista ou conservadorista - e as concepções transformadoras - no caso

ambiental as chamadas visões globalizantes ou holísticas.

Cabe ressaltar que, independentemente da concepção às quais as atividades

estavam vinculadas, os docentes da Escola Municipal "Frei Edgard Groot"

buscaram novos caminhos, construindo propostas alternativas como a Feira

de Cultura, a alfabetização com temas ambientais, projetos

interdisciplinares com temas ambientais, entre outras, que ultrapassaram as

propostas do PNG, incluindo, após a retirada da Comissão, a temática

ambiental no cotidiano escolar. As práticas desenvolvidas após a saída da

comissão demonstrou que os docentes adquiriram uma nova sensibilidade em

relação aos problemas sócio-ambientais globais e da região de Citrolândia,

propiciando a implantação de uma ação educativa comprometida com a

comunidade local, estimulando a autonomia, a solidariedade, o respeito à

natureza e ao ser humano.

Para garantir essa ação educativa, os docentes buscam desenvolver as

propostas pedagógicas em consonância com a comunidade local. Consideram

58

fundamental o conhecimento do entorno onde a escola está inserida,

conforme explicitaram nas entrevistas, das quais reproduzimos alguns

trechos:

“Eu moro aqui há dezesseis anos. Eu conheço muito bem a região. Eu gosto daqui. Acho que aqui é um bom lugar de se viver. Muitos dizem que tem muita violência. Eu não acho. Violência tem em todo lugar. Acho importante conhecer para ensinar. Eu tinha parentes na colônia. Antes a colônia era muito bonita, os jardins eram maravilhosos. Hoje lá na colônia o que menos tem é hanseniano. A maioria já morreu ou está curada.” (Professor I) “Não conheço muito bem. Já andei por aqui, já fui na colônia. Esse ano ficamos com medo de sair com os meninos por causa da campanha eleitoral. Eu conheço mais através do que os alunos me contam. Eles já fizeram o mapa do trajeto deles para a escola. Eu nunca fui muito longe, mas dizem que não é bom por que a gente fica com o coração doendo de ver tanta pobreza, tanta carência. Mas eu aproveito do que sei e do que eles contam para discutir a realidade.”( Professor II) “ Eu moro e conheço muito bem o local. Acho que isso é muito importante para o professor e para os alunos, nós nos identificamos como pessoas que compartilham o mesmo espaço, enfrentamos as mesmas dificuldades, os mesmos problemas, acho que eles se sentem mais próximos, eu não estou falando de um mundo distante, ou estou falando desse lugar e sobre esse lugar.” (Professor III) “Conheço, acredito que sim, até muito bem. Eu sou muito observadora, sabe, eu gosto de observar as coisas. Acho que meu trabalho fica melhor por que eu conheço o meio que eles vivem. Pedagogicamente, pra gente trabalhar fica bem melhor saber a realidade de cada um, os bairros mais distantes, as dificuldades daquele bairro.” (Professor IV)

As falas dos entrevistados I, III e IV refletem, em resumo:

- a importância do conhecimento local para o ensino;

59

- a identidade dos docentes com o cenário e atores;

- o compartilhamento das experiências cotidianas entre docentes e

discentes;

- o afeto pelo ambiente;

Já a fala do entrevistado II contradiz as demais de vez que demonstra

insegurança em relação ao lugar, contando apenas com as contribuições

informacionais dos alunos, não se envolvendo diretamente com os problemas

locais. Esse fato revela que o sentido pedagógico do conhecimento local é

fundamental para o desenvolvimento das ações educativas vinculadas à

temática ambiental.

A identidade desses professores com o local da escola parece influenciar,

sobremaneira, as atividades pedagógicas. A compreensão e a interação com

o cotidiano da comunidade local foi apontada como um agente

“facilitador” para o desenvolvimento de atividades pedagógicas. Os

docentes reconhecem a importância da base física e do contexto social do

espaço de vida dos educandos considerando-o como um dos principais

recursos didáticos, conforme veremos no tópico seguinte.

4.3- Dificuldades e facilidades para as práticas pedagógicas em Educação Ambiental

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN):

“A opção pelo trabalho com o tema Meio Ambiente traz a necessidade de aquisição de conhecimento e informação por parte da escola

60

para que se possa desenvolver um trabalho adequado junto dos alunos (…). O trabalho de Educação Ambiental deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construirem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria”. (BRASIL, 1998)

Como os professores da Escola Municipal "Frei Edgard Groot",

entrevistados nesta pesquisa, têm se preparado para um fazer pedagógico

em consonância com os pressupostos da Educação Ambiental acima

explicitados? Em que medida eles se prepararam para essa nova demanda

curricular? Quais são as dificuldades e quais as facilidades que os

professores encontram para atender tal demanda?

Entrevistamos cuidadosamente os professores no sentido de elucidar tais

questões e reproduzimos aqui algumas de suas falas:

“O problema é material para ser trabalhado, às vezes, porque muita coisa que você consegue é material descartável. Às vezes, para um trabalho mais elaborado, fica mais difícil, falta material, por exemplo, tem atividades que precisam de experiências e a escola não tem laboratório, então isso limita o trabalho. E quanto também aos alunos, eles não têm material, não têm livro nenhum, recurso nenhum pra poder tá ajudando nesse trabalho”. (Professor I ) “A escola tem muitos vídeos. Ano passado a gente via filme toda semana, mas esse ano já não foi assim. Foi mais difícil por que roubaram a TV e o vídeo da escola. Nosso tempo é muito pequeno para planejar. Só quinzenalmente, um dia na semana os alunos saem mais cedo e a gente faz reunião. O professor trabalha em outras escolas, é difícil chegar mais cedo ou sair mais tarde. Precisava ter mais tempo para discutir as causas da escola, fazer projetos. Mas aí não pode dispensar os alunos eu fico pensando,

61

que autonomia é essa que a escola tem? Não sabe usar ou tem medo?” ( Professor II ) “O que eu acho difícil é organizar esse trabalho, sabe? A gente pensa muita coisa mas o tempo que a gente tem, isto é, a disponibilidade para procurar meios, materiais, recursos didáticos, enfim…” (Professor III )

Em síntese, podemos dizer que as principais dificuldades pedagógicas são:

• A estrutura física da escola (falta de laboratório);

• Os alunos não possuem material didático como fontes de pesquisa

(carência sócio-econômica dos alunos);

• tempo escolar – falta tempo para elaboração coletiva de propostas

pedagógicas mais integradoras;

• Disponibilidade do professor para estudos e para pesquisa (trabalham

em 2 turnos, moram longe da escola, etc);

• Condições sociais locais.

Observamos que essas dificuldades não são específicas da Educação

Ambiental. A questão da precariedade da infra-estrutura básica dos

prédios escolares e de sua manutenção, as condições sócio-econômicas dos

educandos, a organização dos tempos escolares e o tempo do professor, que,

em função das baixas remunerações, necessitam dobrar ou triplicar a sua

jornada de trabalho, são problemas freqüentemente citados como

limitadores dos processos educacionais.

Para EISNER (1994) uma das críticas ao pensamento racional presente nas

escolas refere-se à forma como elas estão organizadas. A escola tal como

62

se apresenta, condiciona, “engessa” o pensamento dos educadores e dos

educandos, limitando o desenvolvimento das inteligências.

Segundo esse autor, as propostas freqüentes de reformas ou

reestruturação dos sistemas escolares são insuficientes, contam com o

ceticismo dos professores e a vulnerabilidade dos administradores. Em

Betim, esta característica ficou evidente com o “Projeto da Escola

Democrática”, implementado em 1998 e “esquecido” pela atual

administração.

Entendemos que, para que a Educação de modo geral e a Educação

Ambiental possam atingir seus objetivos, devem-se implementar mudanças

ou alterações radicais na estrutura organizacional da escola, nos currículos,

nas práticas cotidianas em sala de aula e na avaliação escolar. Essas

mudanças viriam a atender as novas demandas cognitivas do “mundo do

trabalho” e “do mundo da vida” dos educandos.

Sobre as facilidades pedagógicas relacionadas à temática ambiental,

consideramos para análise as seguintes falas:

“Eu vejo facilidade por que posso trabalhar com muitos materiais alternativos, por ser um tema que é da atualidade. Isso chama a atenção do aluno, o fato de estar muito próximo do nosso dia-a-dia. Então, eu acho que o que facilita é trabalhar o cotidiano”. (Professor I) “Eu trabalho muito com a demanda deles, com o contexto. Conversando com os alunos a gente aprende muito. A Educação Ambiental é um bom tema por que facilita o trabalho com as outras matérias. Eu posso usar um mesmo texto,

63

discutindo conteúdos de ciências, português, história ou geografia. Isso é uma facilidade para os alunos”. (Professor II) “O bom de estar trabalhando esse tema é o envolvimento dos alunos, o interesse deles pelo ambiente, pela preservação e eles tem essa noção. A gente não precisa ficar jogando conteúdo, tudo parte deles. Eu trabalho muito com os questionamentos deles, com debates, eles querem saber tudo. As atividades desenvolvidas, como plantas de horta, envolve muito as alunos, mais que qualquer outra atividade”. ( Professor III) “Eu trabalho a Educação Ambiental dentro de uma atividade determinada. Todo dia que surge algum exemplo a gente tá falando, falando sobre desperdício, corte de árvores, etc, sempre que surge a oportunidade a gente tá falando com os meninos, relacionando com o contexto, com o dia-a-dia na sala de aula. É fácil por que muita coisa parte do aluno e se faz uma troca com a experiência da gente”. (Professor IV) “Não tenho dificuldade porque é um processo natural, dependendo do que os alunos querem a gente procura construir algum material que os atenda”. (Professor IV)

Em relação às facilidades, alguns aspectos citados fazem parte dos

princípios e fundamentos da Educação Ambiental: o seu caráter

interdisciplinar, a sua relação com a realidade das comunidades locais e o

fato de ser um tema atual.

Segundo GUTIERREZ & PRADO (1999) o fazer pedagógico próprio da

Educação Ambiental é vivencial, flexível, frágil, menos estruturado e

processual. Não parte de um discurso pronto, elaborado, mas parte dos

protagonistas, daqueles que vivenciam um problema, que demandam, e

buscam, em primeira instância,

64

“a satisfação de necessidades não satisfeitas, desencadeando um processo imprevisível, gestos de iniciativas, propostas e soluções vinculadas aos interesses e urgência dos grupos e coletividades”. (GUTIERREZ & PRADO,1999).

Esses autores propõem uma ECOPEDAGOGIA – uma proposta pedagógica

aberta, flexível, construída na vida cotidiana e fundamentada nos processos

da demanda, mais democráticos, mais solidários e unificadores.

Ampliando o conceito de ecopedagogia, GADOTTI (2000) fala de uma

PEDAGOGIA DA TERRA para

“aqueles ou aquelas que dela necessitam em sua luta cotidiana por uma escola melhor, por um mundo melhor. Essa pedagogia resgatária os valores humanos fundamentais como a amizade, o respeito, a honestidade, a ternura, a atenção, a aproximação entre o simples e o complexo, o desejo, o amor, entre o outros." (GADOTTI, 2000)

Acreditamos, como EISNER (1994), no poder da imaginação, na construção

de mundos possíveis. A finalidade precípua da escola é proporcionar às

crianças meios de poder criar uma sociedade melhor, mais igualitária e mais

humana. Se a escola não cumprir essa finalidade “uma das conseqüências

será o aumento do fosso entre os que possuem e os destituídos, o nível de

poluição aumetará e a habilidade política para controlar seu próprio destino

diminuirá” (EISNER, 1994)

Acreditamos não ser esse o desejo dos professores da Escola Municipal

"Frei Edgard Groot", pelo menos, eles confiam naquilo que fazem e

expressam essa crença:

65

“As atividades atendem principalmente aos alunos mais carentes. Às vezes, alunos que mal sabem escrever, quando perguntamos alguma coisa sobre o meio ambiente eles sabem tudo. A gente percebe que eles aprenderam. Atitudes simples como descer para lavar as mãos já demonstra mudança. Quando a sala está suja eles querem limpar. Quando assistem alguma coisa na televisão eles comentam. Eles já sabem que a gente não pode destruir a natureza”. (Professor I )

“Há uma melhora considerável por que os temas ambientais fazem com que os alunos falem mais das coisas que eles conhecem por que é da vivência deles. Melhora a participação, eles ficam mais desinibidos. Pedagogicamente, são momentos muito ricos. Não é muito proveitoso para a escrita, mas é rico para a produção oral, desenvolvermos atitudes de respeito à fala do outro, respeito à opinião do outro”. (Professor II) “Eu observo mudanças principalmente entre os alunos que tem um ajuda em casa , quanto a essa conscientização. Eles tentam é…não jogar lixo no chão, economizam água, luz, há uma preocupação com a aparência pessoal… essas coisas, esses assuntos a gente tem que estar sempre voltando, rediscutindo. Esse é um conteúdo que não termina nunca. Tudo que envolve conscientização você tem que estar sempre batendo na mesma tecla, repetindo, explicando, fazendo observações, por que se a gente não trouxer isso para a vida da gente, você não vai modificar a maneira de encarar seu problema”. (Professor III) “Eu tenho percebido uma maior preocupação deles, não de todos, em tá preservando. Tem uns que não ligam, você sabe, depende muito da família, do que eles tem em casa”. (Professor IV )

A inserção do PNG no cotidiano da Escola Municipal "Frei Edgard Groot",

embora tenha apresentado limitações, propiciou aos docentes a

oportunidade de reflexão e de discussão acerca dos temas ambientais

globais e locais , desencadeando processos pedagógicos mais compatíveis

com suas próprias vidas e com a vida dos educandos.

66

Talvez as mudanças de comportamento identificadas pelos professores

possam ter pouco significado em outro tipo de escola, para outra classe

social. Talvez alguém possa classificar essas mudanças como um

“adestramento ambiental”. Pode parecer que sim aos olhos daqueles que

buscam perpetuar as estruturas sociais vigentes. Mas aqueles que estão

envolvidos nos processos educacionais junto às classes populares sabem que

qualquer mudança pode significar um caminho aberto para a construção de

um cidadão pleno, ciente dos seus direitos em relação à educação, à saúde e

à qualidade de vida.

67

5 REFLEXOS DAS PROPOSTAS

PEDAGÓGICAS DO PNG SOBRE A PERCEPÇÃO DOS EDUCANDOS EM RELAÇÃO

AO MEIO AMBIENTE

"Nossa experiência como indivíduos é

siginificativamente influenciada pela contribuição dos outros.

No momento em que as escolas tornam possível para os estudantes otimizar a realização de suas

potencialidades, a cultura é enriquecida. Estudantes não são apenas parte de nossa cultura; são parte do nosso futuro e nós

somos parte do deles." (Elliot W. Eisner)

68

Antecedendo à análise dos dados obtidos através da aplicação do

questionário, faz-se necessário comentar sobre a faixa etária dos alunos

que compõem o universo da pesquisa e sobre o ciclo de aprendizagem no qual

estão agrupados.

Instituídos através da Resolução 01/98 da SEED, Secretaria de Educação

de Betim (BETIM, 1999), os ciclos de Ensino/Aprendizagem com

“progressão continuada” representam uma nova forma de estruturação do

tempo escolar, fundamentada nos ciclos de Formação Humana. Os ciclos

de formação humana apresentam 3 níveis ou estruturas: infância, pré-

adolescência, adolescência, de onde se referenciam os ciclos de formação:

Primeiro Ciclo (infância): 6 a 9 anos; Segundo Ciclo (pré-adolescência): 9 a

12 anos e Terceiro Ciclo (adolescência): 12 a 14/15 anos (BELO

HORIZONTE, 1994).

Essa forma de estruturação baseia-se em

“classes não-seriadas que tem como critério de enturmação a idade psicogenética dos alunos (…) de modo a oportunizar a convivência cotidiana dos educandos portadores de características psico-sociais semelhantes, facilitar as trocas socializantes e a construção de auto-imagens e identidades mais equilibradas, autônomas e solidárias. Permanecendo no mesmo grupo de idade, os alunos terão maiores oportunidades para a sua formação integral”. (BETIM, 1999a).

A estruturação do tempo escolar em ciclos de aprendizagem possui um

caráter mais flexível e, por serem mais longos, podem constituir em

facilitadores do aprofundamento do conhecimento e do desenvolvimento de

69

comportamentos, valores e atitudes na construção das identidades dos

educandos.

Segundo documento da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte:

“Os dois primeiros ciclos (de 6 a 12 anos) constituem uma etapa fundamental do desenvolvimento sócio-cultural e de socialização, podendo solicitar uma formação básica que possibilite um desenvolvimento mais complexo, o que caracteriza a formação do Terceiro Ciclo” (BELO HORIZONTE, 1994).

A implantação dos ciclos de aprendizagem, a partir de 1998, na Rede

Municipal de Betim, faz parte de uma política educacional mais ampla,

implementada a partir de processos de discussão democráticos que

instituíram uma concepção educacional fundamentada na Teoria

Construtivista que, de maneira sucinta, pode ser caracterizada como um

paradigma que

“enfatiza a autonomia cognitiva dos educandos, reconhece a natureza processual de suas estruturas cognitivas ( lógica, pensamento, reflexão, raciocínio, cálculo, compreensão), afetivas (emoções, sentimentos, sensações, motivações), motoras (movimentos, habilidades, técnicas, instrumentos), ético-morais (valores, desejos, sonhos, intenções, interesses, virtudes, fins, objetivos), simbólicos (linguagens, imagens, representações, símbolos, ideogramas, signos) e estéticos (gosto, sensibilidade, inspiração, criatividade, expressão, plasticidade) e dá enorme relevância aos diversos processos interativos que os sujeitos estabelecem em sua práxis social e em seu meio natural” (BETIM,1999).

70

É importante relembrar, como já foi abordado anteriormente, que foram

fundamentos pedagógicos inovadores que propiciaram, ou melhor, que

facilitaram o desenvolvimento da experiência com a Educação Ambiental na

Escola Municipal "Frei Edgard Groot".

5.1 – Análise dos resultados da Pesquisa com os

alunos

A análise dos resultados da pesquisa foi elaborada à luz dos objetivos

específicos propostos, a saber:

1- Verificar se o projeto de EA do PNG estava articulado com a

realidade local, favorecendo o desenvolvimento de uma prática

educativa capaz de influenciar a percepção, mudar ou

consolidar comportamentos ambientais nos educandos,

compatíveis com a proteção ambiental.

2- Verificar se as experiências pedagógicas do PNG propiciaram

aos alunos a construção de uma percepção ambiental e de

conceitos acerca da construção do espaço e proteção dos

recursos naturais.

De acordo com os objetivos da pesquisa, não foi aplicado nenhum

instrumento avaliativo para mensurar dados sobre erros e acertos dos

alunos em relação a conceitos ou temas ligados ao meio ambiente.

71

Para a análise dos resultados foi seguida a estrutura organizacional do

instrumento de coleta de dados: Seção I - Identificação; Seção II -

Conhecimento do Espaço e, Seção III - Valores, atitudes, comportamentos

e opiniões. Embora em muitas questões não se tenha observado diferenças

significativas, foi considerada para análise a categorização dos atores em:

categoria 1 - os alunos residentes no entorno da escola, próximo ao Córrego

Goiabinha e a categoria 2 - os alunos residentes em bairros mais afastados.

As questões que estavam vinculadas aos conhecimentos adquiridos na escola

ou às experiências pessoais dos alunos não apresentaram diferenças

significativas entre as categorias 1 e 2. Elas apareceram, sobretudo, nas

questões relativas à percepção ambiental associadas ao PNG. Em geral,

observou-se uma significativa diferença de percepção em relação ao

ambiente entre os alunos da categoria 1 para os alunos da categoria 2.

Inferimos que essas diferenças se devem às influências do PNG sobre a

percepção desses educandos.

5.1.1 - Seção I – Identificação

Os Gráficos 1,2,3 e 4 evidenciam as características do grupo pesquisado:

alunos do primeiro ciclo, entre 8 e 10 anos, prevalecendo os

alunos com 9 anos (10 alunos);

O local de nascimento bem como o tempo de residência

revelam a característica do município que se constitui numa

área de forte pressão migratória de outros estados, do

72

próprio estado de Minas Gerais e sobretudo, da Região

Metropolitana;

Todos os pesquisadores sempre estudaram na mesma escola, o

que reforça a pertinência do critério de escolha desse

segmento.

GRÁFICO 1

Idade

0

1

2

3

4

5

6

7

8 anos 9 anos 10 anos

Categoria 1Categoria 2

FONTE – Pesquisa direta

GRÁFICO 2

Local de Nascimento

0

1

2

3

4

Contagem/MG Betim/MG Sarzedo/MG BeloHorizonte/MG

Bahia* Espírito Santo*

Categoria 1

Categoria 2

FONTE: Pesquisa direta

73

GRÁFICO 3

Tempo que mora no Bairro

00,20,40,60,8

11,21,41,61,8

21,

5 an

os

2 an

os

3 an

os

4 an

os

5 an

os

6 an

os

7 an

os

9 an

os

10 a

nos*

12 a

nos*

Não

sab

e

Categoria 1Categoria 2

FONTE: Pesquisa direta

GRÁFICO 4

Estudou em outra escola?

0

2

4

6

8

1 0

C a te g o r ia 1 C a te g o r ia 2

N ã oS im

FONTE: Pesquisa direta

74

5.1.2 - Seção II – Conhecimento do Espaço

A inserção deste item no questionário foi considerada fundamental para a

análise do conhecimento do aluno sobre o local onde eles vivem e estudam,

ou seja, o lugar onde eles realizam suas experiências. É importante salientar

o conceito de lugar expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais:

“O conceito de lugar guarda uma dimensão prático-sensível que a análise vai aos poucos revelando. Lugar é a porção do espaço apropriável para a vida, que é vivido, reconhecido e cria identidade. Ele possui identidade técnica, comunicacional, informacional e normativa. Guarda em si o movimento da vida, enquanto dimensão do tempo passado e presente. É nele que se dá a cidadania, o quadro das mediações se torna claro e a relação sujeito-objeto direta. É no lugar que ocorrem as relações de conflito, dominação e resistência. É a base da reprodução da vida, da tríade cidadão-identidade-lugar, da reflexão sobre o cotidiano, onde o banal e o familiar revelam a transformação do mundo e servem de referência para identificá-las e explicá-las.” (BRASIL, 1999b)

Não é recente a discussão sobre a importância do conhecimento sobre o

lugar onde se vive. Segundo HUTCHISON (2000) vários estudiosos de

diferentes campos do conhecimento, como a filosofia, a sociologia e a

psicologia, sobretudo, já expressaram suas idéias.

Para ROUSSEAU apud HUTCHISON (2000: 95), o contato sensorial

direto com o mundo natural na infância era decisivo para o desenvolvimento

saudável da personalidade. PESTALLOZZI apud HUTCHISON (2000: 95),

em suas lições sobre mapas e confecção de modelos, foi pioneiro no estudo

do “lugar” na infância, fazendo com que os alunos explorassem o terreno e a

topografia de ecossistemas locais.

75

Segundo HUTCHISON (2000), é a “unidade entre o próprio indivíduo e o

mundo, entre 8 e 12 anos que estabelece a segunda infância como período

favorável para a aquisição de uma cosmologia ecologicamente sensível do

mundo”.

Vimos no capítulo anterior que algumas atividades pedagógicas como a

limpeza do córrego e o “Abraço”, constituíram atividades consideradas

integradoras que propiciaram uma experiência significativa para os

educandos. Atribuímos este fato à sua vinculação com a realidade local,

espaço de vida dos alunos.

Todos os alunos afirmaram conhecer bem o local onde a escola está situada

(GRAF. 5). Apenas 3 alunos disseram conhecer em parte a região de

Citrolândia (GRAF. 6), o que evidencia uma boa noção espacial, dada a

extensão da regional e o grande número de bairros que a compõem.

GRÁFICO 5

Conhecimento do local onde a escola está situada.

02468

10

Conhece Bem Conhece Muito PoucoConhece Apenas EmParte

Categoria 1Categoria 2

FONTE – Pesquisa direta

76

GRÁFICO 6

Conhecimento da região de Citrolândia

Em graimpcon

02468

10

Conhece Bem Conhece MuitoPouco

Conhece ApenasEm Parte

Categoria 1Categoria 2

FONTE: Pesquisa direta

relação aos locais de referência da região, os alunos demonstraram

nde capacidade de observação ao citarem os locais que consideramos ortantes e que revelariam um certo grau de conhecimento local forme mostra o GRÁF. 7.

GRÁFICO 7

Locais de Referência

FONTE – Pesquisa direta

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Post

o de

Saú

de

Cór

rego

Goi

abin

ha

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anitá

rio

Três

Lag

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San

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Cem

itério

Rio

Par

aope

ba

Pont

o Fi

nal d

nibu

s

Igre

ja B

atis

ta

Açud

e

Categoria 1

Categoria 2

77

Observa-se que os locais de referência mais significativos são a Colônia

Santa Isabel, o Córrego Goiabinha, o Aterro Sanitário e Três Lagoas.

Locais, como o Rio Paraopeba, o ponto final do ônibus, a Igreja Batista e o

Açude, citados apenas pelos alunos da categoria 2, são locais mais distantes

da escola e que, certamente, devem ser conhecidos apenas por aqueles que

realizam um percurso mais longo para chegar até à mesma, ou simplesmente

não foram “lembrados” pelos alunos da categoria 1 já que a resposta não era

estimulada.

A questão seguinte apresentava uma lista de lugares e pedia para que eles

marcassem aqueles conhecidos pessoalmente. Nesta lista constavam nomes

de lugares da região do Citrolândia, do Município de Betim e da Região

Metropolitana. Os resultados estão apresentados no GRÁF. 8.

GRÁFICO 8

Locais Conhecidos pessoalmente

0123456789

Casa d

e Cult

ura de

Betim

Repres

a Varg

em da

s Flor

es

Parque

das M

anga

beira

s (BH)

Parque

Mun

icipal

(BH) Categoria 1

Categoria 2

Fonte: Pesquisa direta

É interessante notar o destaque do conhecimento da Colônia, marco

histórico-social da construção do local, como já foi analisado no capítulo 2 e

78

sobre os equipamentos localizados na região metropolitana, como o

Zoológico, o Parque Municipal e o Parque das Mangabeiras. Esses locais

foram visitados pelos alunos como parte das atividades pedagógicas

vinculadas aos estudos sobre o meio ambiente.

Constatamos ainda que os locais considerados referências no município de

Betim, tais como, o Salão do Encontro e a Casa de Cultura, não foi dado, pelo

alunos, o mesmo significado atribuído aos equipamentos do município de Belo

Horizonte, como o Zoológico, o Parque das Mangabeiras e o Parque

Municipal, considerados locais apropriados para estudos ambientais. A

procura destes lugares para estudos e lazer reflete a visão naturalista

presente na prática pedagógica dos professores.

A questão número 5 (GRAF. 9) não teve resposta estimulada. Os alunos

citaram livremente elementos da fauna, especialmente aves e não citaram

nenhuma espécie vegetal. Talvez os alunos não tenham estudado a flora

local, mas na lista de atividades constavam estudos sobre a fauna e a flora,

tendo este tema sido objeto de estudo desenvolvido na Feira de Cultura.

GRÁFICO 9

Plantas e Animais da região

01234567

Tuca

no

Cob

ra

Páss

aros

Periq

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s

Cor

ujas

Mor

cego

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o

Beija

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as

João

-de-

barro

Gav

ião

Papa

gaio

s

Tico

-Tic

o R

ei

Categoria 1Categoria 2

FONTE – Pesquisa direta

79

A ausência de nomes de plantas na lista dos alunos demonstra pouco

conhecimento do tema e a provável falta de integração dos conteúdos das

disciplinas de Ciências e Geografia com a realidade local. Os alunos

demonstraram ainda, não saberem diferenciar animais nativos com animais

domésticos, revelando fragilidade em relação aos conhecimentos de

ciências.

A questão 6 exigia uma maior percepção em relação à situação dos

elementos que compõem o meio natural como a fauna e a flora local, GRAF.

10. Os alunos da categoria 1 demonstraram possuir uma maior percepção

sobre a diminuição da flora e da fauna. Provavelmente este resultado é

decorrência da maior participação desses alunos no PNG que teve também

uma proposta de educação ambiental com a comunidade do entorno do

córrego.

GRÁFICO 10

Situação da plantas e animais da Região

0

2

4

6

8

Aumentando Diminuido Continua do mesmojeito

Categoria 1Categoria 2

FONTE: Pesquisa Direta

80

Perguntados sobre a opinião de como a fauna e a flora da região se

apresenta, a maioria dos alunos pesquisados acreditam que ela esteja

diminuindo, mas não souberam explicar as causas do fato. Apresentam como

justificativas:

"Porque a gente quase não vê os bichos" "Porque as plantas estão morrendo" "Porque estão matando" "Porque os caçadores matam os animais e as plantas" "Porque estão matando os animais" "Porque os animais não se reproduzem"

As justificativas ainda se apresentam precárias, poucos desenvolvidas. As

respostas evidenciaram uma percepção limitada do que está acontecendo

com o bairro em função do aumento da população e da urbanização, com a

ocupação do solo pelas atividades agrícolas, pelos desmatamentos e

queimadas. Os alunos demonstram dificuldades em relacionar o

desaparecimento das espécies com os problemas acima mencionados.

Quanto à questão sobre os problemas existentes na região, as alternativas

que aparecem com maior freqüência abordam temas amplos ligados ao meio

ambiente. Problemas, como a pobreza, o desemprego, a violência e a falta de

áreas de lazer, são citados com a mesma freqüência que a falta de

tratamento do esgoto, barulho, poluição do ar, poluição dos rios, enchentes

e desmatamentos (QUADRO 5, GRAF. 11).

81

QUADRO 5 Problemas da Região

Problemas

Categoria

1

Categoria

2 Total

Desmatamentos e Queimadas 7 8 15

Enchente 7 9 16

Pobreza 9 9 18

Pouca área verde 9 8 17

Desemprego 8 9 17

Poluição do ar (poeira) 8 9 17

Poluição dos rios e córregos 8 9 17

Violência 9 9 18

Falta de transporte coletivo 4 8 12

Extinção de peixes 6 8 14

Falta de arborização 7 7 14

Falta de área de lazer 7 9 16

Falta de rede de esgoto 8 8 16

Falta de tratamento do esgoto 8 9 17

Barulho 9 9 18

Erosão do solo 6 7 13

Falta água tratada 6 8 14

Falta de escola 4 8 12

Total 130 151 281

FONTE: Pesquisa Direta

82

GRÁFICO 11

Problemas da Região

02468

1012141618

Des

mat

amen

tos

eQ

ueim

adas

Ench

ente

Pobr

eza

Pouc

a ár

ea v

erde

Des

empr

ego

Polu

ição

do

ar(p

oeira

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Polu

ição

dos

rios

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s

Viol

ênci

a

Falta

de

trans

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cole

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Extin

ção

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Falta

de

arbo

rizaç

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Falta

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de

laze

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Falta

de

rede

de

esgo

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Falta

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trata

men

todo

esg

oto

Baru

lho

Eros

ão d

o so

lo

Falta

águ

a tra

tada

Falta

de

esco

la

Categoria 2Categoria 1

FONTE: Pesquisa Direta

Os alunos demonstraram conhecer bem os problemas sócio-ambientais da

região apontando como sendo os 3 mais graves: o desemprego, a violência

e a poluição dos rios e córregos.

Observa-se que o problema - violência - foi o mais citado pela categoria 1.

De fato, a região próxima ao córrego apresenta altos índices de violência

especialmente assaltos e tráfego de drogas. Esses temas foram bastante

abordados pela Comissão de segurança do PNG, tendo esta, inclusive,

promovido debates com a comunidade local nos sentido de buscar

alternativas a diminuição desses problemas na região. (QUADRO 6,

GRÁFICO 12).

83

QUADRO 6 Classificação dos problemas da região

ORDEM PROBLEMAS CATEGORIA

1 CATEGORIA

2

TOTAL 1º Violência 2 0 2 Pobreza 1 3 4 Falta de escola 2 1 3 Desemprego 4 1 5 Barulho 1 0 1 Poluição 0 1 1 Enchente 0 3 3 2º Desemprego 2 1 3 Pobreza 1 2 3 Violência 3 2 5 Poluição do ar 1 2 3 Pouca área verde 1 2 3 Enchente 1 0 1 3º Barulho 1 1 2 Violência 5 2 7 Desemprego 1 0 1 Falta de água tratada 1 1 2 Pobreza 2 0 2 Falta de escola 0 1 1 Poluição do ar 0 1 1 Pouca área verde 0 1 1

Poluição dos rios e córregos 0 2 2

TOTAL 29 27 56 FONTE: Pesquisa Direta

GRÁFICO 12

Problemas Mais Graves da Região

FONTE – Pesquisa direta

01234567

Viol

ênci

a

Pobr

eza

Falta

de

esco

laD

esem

preg

o

Baru

lho

Polu

ição

Ench

ente

Des

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ego

Pobr

eza

Viol

ênci

aPo

luiç

ão d

oar

Pouc

a ár

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Ench

ente

Baru

lho

Viol

ênci

a

Des

empr

ego

Falta

de

água

trat

ada

Pobr

eza

Falta

de

esco

laPo

luiç

ão d

oar

Pouc

a ár

eave

rde

Polu

ição

dos

rios

e

1º 2º 3º

Categoria 2

Categoria 1

84

Fica claro que, entre os alunos, prevalece a preocupação com os problemas

sociais, do contexto em que vivem, sobre àqueles vinculados aos elementos

da natureza.

Em relação à questão sobre a forma como eles adquiriram os conhecimentos

sobre a região de Citrolândia, três opções se destacaram, conforme

evidencia o GRÁF. 13.

GRÁFICO 13

Conhecimento Sobre a Região

(GRÁFICO 12 – Conhecimento Sobre a Região

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Anda

ndo

pela

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as e

com

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Apre

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scol

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utro

sm

eios

*

Categoria 1Categoria 2

FONTE – Pesquisa direta

O papel da escola, da família e dos amigos revelam que esses espaços de

convivência – o mundo da vida – têm função crucial na formação da

identidade social e espacial das crianças, devendo a escola propiciar a

interação dos saberes produzidos por ela mesma e dos saberes e

experiências adquiridos na família e na sociedade.

85

5.1.3 – Seção III – Valores, atitudes, comportamentos e

opiniões

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais:

"…uma tarefa importante para o professor, associada ao tema Meio Ambiente, é a de favorecer ao aluno o reconhecimento de fatores que produzem real bem-estar, ajudá-lo a desenvolver um espírito de crítica às induções ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas de sua comunidade […] O convívio escolar será um fator determinante para a aprendizagem de valores e atitudes. Considerando a escola como o espaço mais imediato do aluno, a compreensão das questões ambientais e as atitudes em relação a elas se darão a partir do próprio cotidiano da vida escolar do aluno”. (BRASIL, 1997).

Segundo ZABALZA (2000) os valores são como “os deuses da antiga Grécia,

ou seja, como grandes e contraditórias fontes de energia e de força que

movem as pessoas e os grupos em uma direção ou outra. Estimulam-no,

orientam-no, exigem-lhe, condicionam-lhe”.

A escola deve assumir compromisso com a sociedade de desenvolver uma

ação educativa que estimule a autonomia, o respeito a si mesmo e aos

demais, a solidariedade (compromisso com os mais frágeis), respeito à

natureza e sensibilidade ao multiculturalismo. Valores implícitos nas

questões relativas ao outro, à solidariedade, devem ser fomentados a cada

momento no cotidiano escolar. Valores considerados negativos, como o

86

consumismo e o desrespeito às normas do convívio social, podem ser

desconstruídos.

Segundo REIGOTA (1999), no espaço público da Educação devem ser

discutidos, sobretudo, os valores coletivos/sociais e, no espaço privado que

cada um tenha a liberdade de seguir os valores religiosos ou culturais que

acredite mais adequados.

Mas, como está salientado nos PCN, “valores e compreensão só não bastam.

É preciso que as pessoas saibam como atuar, como adequar sua prática a

esses valores.” (BRASIL,1997).

Nesse sentido, torna-se necessário estimular a aprendizagem de

procedimentos adequados e acessíveis às crianças de forma a desenvolver

as capacidades ligadas à participação, à co-responsabilidade e à

solidariedade.

Fazem parte dos conteúdos procedimentais desde formas de manutenção de

limpeza do ambiente escolar, os cuidados com a higiene pessoal ou formas

de como evitar o desperdício, até como elaborar e participar de uma

campanha ou saber dispor dos serviços existentes relacionados com as

questões ambientais. (BRASIL, 1997)

Em relação às opiniões, valores, atitudes e comportamentos consideramos

relevantes para a análise algumas das questões que evidenciam “resultados”

adquiridos a partir do desenvolvimento das atividades pedagógicas

propostas pelo PNG.

87

A primeira delas refere-se ao entendimento do conceito sobre meio

ambiente. Das três alternativas apresentadas, a opção 1, que se refere ao

meio ambiente, como “animais, plantas, ar, solo e água”, foi a escolhida por

cerca de 60% (somando-se as categorias 1 e 2), cerca de 30% fizeram

opção pela número 2 e apenas cerca de 10% optaram pela número 3,

conforme mostra o GRÁF. 14.

GRÁFICO 14

O que é meio ambiente?

Lege# 1 -# 2 - # 3 -

A e

natu

entr

0

1

2

3

4

5

6

7

# 1 # 2 # 3

Categoria 1Categoria 2

FONTE – Pesquisa direta

nda: Opção 1 Meio ambiente são os animais, as plantas, o ar, o solo e a água Opção 2 Meio ambiente engloba a nossa casa, o nosso bairro, a cidade, o país, o planeta, os

animais, as plantas, a família, a sociedade, as relações entra todos os seres vivos. Opção 3 Meio ambiente é o local em que vivemos, aproveitando de toda a natureza para a nossa

sobrevivência.

scolha majoritária da categoria 1 pela opção 1 evidencia a visão

ralista de meio ambiente bastante presente nas falas dos professores

evistados e nas propostas do PNG conforme exposto anteriormente.

88

Uma visão mais globalizante que explicita a interação entre o meio biológico

e o meio social, apresentada na opção 2, deve ainda ser mais enfatizada

pela escola. A terceira opção, que associa meio ambiente e natureza apenas

como fonte de recurso, foi escolhida por apenas 2 (dois) alunos.

A questão seguinte confirma as escolhas da anterior. Foi solicitado aos

alunos que marcassem na lista de temas apresentados aqueles que eles

consideravam relacionados ao meio ambiente. Os resultados estão abaixo

mencionados e apresentados no GRAF. 15:

Os temas relacionados aos aspectos naturais do ambiente, como a água, animais, ar, clima, matas, solo foram assinalados por praticamente todos os alunos (16 a 18).

Os temas relacionados às questões sociais e culturais, como educação, saúde, cidade, agricultura, lixo, foram associados ao meio ambiente por parte considerável dos alunos. (de 10 a 15).

Temas mais amplos, como consumo e exclusão social, foram aqueles menos associados à questão ambiental (7 e 8 votos).

Não houve diferenças significativas nas respostas das duas categorias.

Nossa leitura é de que a percepção dos alunos, relativa a esses temas, não

esta relacionada com o local de residência, mas com os conhecimentos

adquiridos na escola.

89

GRÁFICO 15

Elementos relacionados com o meio ambiente

FONTE – Pesquisa direta

0123456789

Agric

ultu

ra

Água

Anim

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Cid

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Clim

a

Con

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Popu

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Rec

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s M

iner

ais

Saúd

e

Solo

Categoria 1Categoria 2

As questões seguintes referem-se à percepção das crianças sobre a

proteção do meio ambiente em Betim, sobre a importância da proteção

ambiental no município (GRAF. 16), e sobre a responsabilidade em relação à

proteção ambiental. Os alunos da categoria um, acham que o município está

bem protegido, mas as justificativas são simplistas como “Sim. Porque é

bonito” ou “Sim. Porque é muito bom”. Entre os que acham que não está bem

protegido (menos de 50%), disseram que “ninguém cuida e não ajuda”. Na

categoria dois - aqueles que moram mais distantes da escola - uma parcela

significativa, mais de 50%, acham que o ambiente em Betim não está bem

protegido e justifica culpando o governo e os cidadãos pela situação.

90

GRÁFICO 16

Proteção do Meio Ambiente em Betim

0

1

2

3

4

5

6

7

Categoria1 Categoria 2

SimNão

FONTE: Pesquisa direta

QUADRO 7

Justificativas sobre a proteção ou não do meio ambiente

SIM NÃO "Porque é bom" Porque ninguém cuida e não ajuda"

Porque o governo não cuida da cidade"

Porque é muito sujo"

Porque a Prefeitura promete e não faz"

Porque estão jogando lixo em todo lugar"

Porque Betim é bonito"

Porque ninguém ajuda a proteger"

FONTE: Pesquisa Direta

Observamos entre os alunos da categoria 1 uma percepção diferenciada

sobre a proteção do meio ambiente em Betim. Certamente, isto se deve às

mudanças na paisagem local provocadas pelo projeto de "recuperação" do

Córrego Goiabinha. Os alunos da categoria 2, que realizam um percurso

91

maior para chegar até a escola e que vivem em locais onde não foram

realizados projetos similares, têm percepção diferenciada.

As justificativas apresentadas são simplistas, demonstrando a fragilidade

de argumentação dos alunos entrevistados em relação à proteção ambiental.

Essa fragilidade refere-se à pouca associação entre aquilo que foi

observado e as suas causas. Os alunos não conseguem explicar o fato de

"ser protegido", mas o "não protegido" fica mais visível indicando, às vezes,

os culpados.

Sobre a importância da proteção do meio ambiente (GRAF. 17) as

respostas dos alunos demonstram uma associação da questão ambiental com

a saúde da população e com a qualidade de vida das pessoas, o que, de certa

forma, mostra uma percepção mais avançada sobre as questões ambientais.

Novamente destaca-se a opinião diferenciada dos alunos da categoria 1, que

apontam a melhoria da qualidade de vida das pessoas, tema que foi bastante

reforçado na comunidade local, pelas comissões do PNG.

GRÁFICO 17

A importância da proteção ambiental

0123456

Aspe

ssoa

spo

dem

ter b

oasa

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Aspe

ssoa

spo

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ais

A vi

dada

spe

ssoa

spo

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r

Out

ros

Categoria 1Categoria 2

FONTE – Pesquisa direta

92

Na questão sobre quem eles consideram o principal responsável pela

proteção do meio ambiente (GRAF. 18), o resultado foi significativo. Quase

50% escolheram como responsáveis “todos os cidadãos”. A partir desse

dado podemos presumir que essa questão é discutida com eles no cotidiano

pois, como acontece com a população em geral, o mais comum é atribuir aos

outros a responsabilidade, como demonstraram as outras respostas, onde a

escola, o governo municipal e o governo estadual são apontados como

responsáveis. Cientistas e empresários não foram apontados como

responsáveis.

Destacam-se as escolhas da categoria 1 que, com certeza estão vinculadas

ao PNG: o papel do governo municipal, responsável pelas obras, a escola, que

desenvolveu diversas atividades e os cidadãos, que se mobilizaram em

divesos momentos do projeto.

GRAFICO 18

Responsáveis pela proteção do meio ambiente

4

2 1

0

3

O G

over

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O G

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Os

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Os

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s

As e

scol

as

Todo

s os

cida

dãos

Categoria 1Categoria 2

Fonte: Pesquisa Direta

93

Uma questão considerada importante refere-se à atitude de cada um frente

aos problemas do meio ambiente (GRAF. 19). Preocupação e denúncia, as

mais “votadas”, nos parecem ser as atitudes que revelam uma compreensão

da dimensão da problemática, porém, a atitude de mobilização, que teria um

maior significado social, não foi escolhida por nenhum aluno. Por outro lado,

a indiferença à questão não é atitude de nenhum aluno, e o descaso foi a

atitude escolhida por dois alunos.

Observa-se uma diferença entre as atitudes nas categorias. Na categoria 1

destaca-se a atitude de denúncia e na categoria 2 a de preocupação.

Podemos atribuir essa diferença às atividades de mobilização promovidas

pelo PNG.

GRÁFICO 19

Atitudes frente aos problemas ambientais

FONTE: Pesquisa direta

0246

Den

únci

a

Des

caso

Indi

fere

nça

Mob

ilizaç

ão

Preo

cupa

ção

Rei

vind

icaç

ão

Categoria 1Categoria 2

Com relação à participação em atividades relacionadas à proteção ambiental,

os resultados estão apresentados no GRÁF. 20.

As atividades mais lembradas pelos alunos foram a limpeza do córrego e o

Abraço ao Goiabinha. Lembramos que esta última foi a mais criticada pelos

94

professores mas, entendemos que para os alunos foi a mais significativa,

colocando-os como participantes ativos no processo de recuperação do

córrego.

GRÁFICO 20

Participação em atividades ligadas à proteção ambiental.

FONTE – Pesquisa direta

01234567

Abra

ço a

oG

oiab

inha

Pega

ndo

lixo

emca

sa

Pega

ndo

lixo

nozo

ológ

ico

Col

eta

delix

o

Sobre as formas de comportamento do dia-a-dia, relativas a questões

ambientais, foi apresentado uma listagem na qual os alunos deveriam

assinalar de acordo com as instruções: nunca fez, faz sempre, faz às vezes,

não sabe. Consideramos como resultados significativos aqueles que

95

alcançaram mais de 50% na escolha pelos alunos, somando-se as duas

categorias:

QUADRO 8

Formas de comportamento mais significativas

Fazem sempre Nunca fazem Fazem às vezes ou não sabem

Apagar as luzes quando não está

presente

Caçar passarinho ou animal silvestre Reutilizar ou aproveitar vidros e

papéis

Cuidar da aparência Comprar produtos que fazem mal à

saúde

Preocupar-se com a origem dos

produtos que consomem

Fechar a torneira quando não está

usando

Comprar produtos supérfluos Comprar produtos biodegradáveis

Reclamar quando compra um produto

estragado

Jogar lixos nas ruas e lotes vagos Cuidar da arborização de ruas e

quintais

Separar os diferentes tipos de lixo Pichar muros, monumentos e outros

Preocupar-se em comprar produtos

de empresas que empregam mão-de-

obra infantil

Filtrar água para beber

Cortar madeira

FONTE: Pesquisa Direta

Esses resultados apresentam coerência com a fala dos professores sobre

o comportamento dos alunos frente às questões ambientais. Muitos desses

comportamentos, que considerados ambientalmente corretos, são aqueles

também socialmente aceitáveis, como: cuidar da aparência, não pichar

muros, não comprar produtos que fazem mal à saúde, entre outros.

Alguns comportamentos como fechar a torneira durante a higienização

bucal, preocupar-se com a origem dos produtos que consome, separar os

diferentes tipos de lixo ou reclamar quando se compra um produto

estragado, evidenciam certo preparo para o exercício do direito, o senso de

96

economia, do não-desperdício e conhecimento técnico - no caso da

separação do lixo.

Sobre o conhecimento em relação a determinados conteúdos considerados

“temas ambientais”, freqüentemente encontrados na literatura sobre o

assunto, elaboramos uma questão que apresentava um conjunto de palavras,

temas ou expressões onde se pedia para os alunos marcarem com um X, de

quais eles haviam ouvido falar, de quais sabiam o significado ou de quais

nunca haviam ouvido falar.

Consideramos significativos para análise os itens assinalados que, somando-

se as categorias 1 e 2 obtiveram mais de 50% das indicações. O resultado

está apresentado no Quadro 9.

QUADRO 9

Palavras, temas ou expressões relativas ao meio ambiente

Ouviu falar

Sabe o que é

Nunca ouviu falar

Opinião

Indicações Opinião Indicações Opinião Indicações

Comunidade 09 Aterro Sanitário 12 Agenda 21 15 Degradação ambiental 09 Coleta Seletiva 10 Alimento Transgênico 15 Educação Ambiental 09 Poluição 14 Consumismo 12

Efeito Estufa 12 Reciclagem 12 Degradação Ambiental 09

Meio Ambiente 09 Desenvolvimento Sustentável 17

Qualidade de Vida 09 Ecologia 10 Ecossistema 13

ONG 12 FONTE: Pesquisa Direta

Os alunos demonstraram ter maior conhecimento sobre aquilo que eles

experienciaram no cotidiano escolar, constantes na lista de atividades

97

desenvolvidas como: a poluição, a coleta seletiva e a reciclagem. Mesmo que

as atividades sejam criticadas, por serem atividade-fim ou fragmentárias,

elas foram marcantes para os alunos.

Causou-nos estranhamento, porém, o “desconhecimento” pelos alunos

pesquisados de temas, como “Agenda 21” e “Desenvolvimento Sustentável”;

temas esses que norteavam o desenvolvimento do Projeto Novo Goiabinha. O

fato mostra que não houve uma interação apropriada entre as atividades

desenvolvidas e o significado do PNG, e corrobora a classificação dessas em

atividades-fim que se encerram nelas mesmas.

As últimas questões do instrumento de pesquisa, aplicado aos alunos,

referiam-se ao Projeto Novo Goiabinha. A intenção era verificar quais

foram as impressões ou marcas deixadas nos alunos, passados quase dois

anos após o desenvolvimento do projeto.

Sobre a participação nas atividades do PNG todos os alunos respondenram

que participaram e consideraram que a participação deles foi muito

importante. (GRÁF. 21 e 22)

Os alunos da categoria 1 consideraram muito importante a sua participação

apresentando um pequeno predomínio sobre a categoria 2. Atribuímos esta

diferença à possível participação desses nas atividades do PNG

desenvolvidas junto à comunidade local.

98

GRÁFICO 21

Participação no Projeto Novo Goiabinha

GRÁFICO 19 – Participação no Projeto Novo Goiabinha

FONTE – Pesquisa direta

0123456789

Categoria 1 Categoria 2

SimNão

FONTE: Pesquisa Direta

GRÁFICO 22

Avaliação da Participação no Projeto Novo Goiabinha

02468

10

Muito i

mporta

nte

Pouco

impo

rtante

Não al

terou

em na

da

Categoria 1Categoria 2

99

FONTE: Pesquisa Direta

Os alunos lembraram a participação no projeto, citando as atividades que

eles realizaram, conforme apresentado nos GRÁF. 23 e 24. Ressalta-se que

entre as duas categoria as diferenças foram pouco significativas

destacando-se aí, certamente, o papel da escola no estímulo à participação

nessas atividades

GRÁFICO 23

Participação no PNG - Categoria 1

Fonte: Pesquisa direta

00,5

11,5

22,5

33,5

4

Ret

irada

do li

xo

Não

joga

ndo

lixo

Lim

peza

do c

órre

go

Abra

ço a

oG

oiab

inha

Não

lem

bra

FONTE: Pesquisa Direta

GRAFICO 24

Participação no PNG - Categoria 2

0

3

Limpeza do córrego Abraço ao córrego Projeto de música

7

6 5

4

2

1

100

Fonte: Pesquisa direta

Sobre a opinião em relação aos resultados do PNG, cerca de 53% dos alunos

disseram que o projeto melhorou as condições ambientais do Citrolândia e

33% disseram que o projeto não fez diferença para as condições ambientais

no Citrolândia (GRÁF. 25).

Há diferenças de percepção entre as categorias 1 e 2. Os alunos que vivem

mais afastados do córrego têm uma avaliação positiva do projeto,

considerando que as condições ambientais locais melhoraram. Isto se deve,

certamente, à observação apenas das aparências. De fato, o local está mais

"arrumado", mais limpo, mas está menos natural. Para alguns alunos da

categoria 1 o PNG não fez diferença. Quem vive perto do córrego percebe

resultados que estão além das aparências. A qualidade e a quantidade da

água não apresentaram mudanças fato facilmente perceptível por aqueles

moradores das proximidades.

GRÁFICO 25

Opiniões sobre o Projeto Novo Goiabinha

02468

Melhorou ascondições

ambientais doCitrolândia

Não fez diferençapara as condições

ambientais doCitrolândia

Piorou as condiçõesambientais do

Citrolândia

Categoria 1Categoria 2

101

Fonte: Pesquisa direta

Em relação às sugestões para melhoria do meio ambiente na região do

Citrolândia, as respostas dos alunos demonstraram que para eles a questão

ambiental vai além da proteção dos recursos naturais, à medida que eles

sugerem atividades como a limpeza do córrego, a coleta de lixo ou o plantio

de árvores. As principais sugestões foram classificadas em grupos,

considerando que nelas estão implícitas as abordagens naturalista,

antropocêntrica e globalizante.

QUADRO 10

Sugestões para melhorias do ambiente

Abordagem Naturalista

Abordagem Antropocêntrica

Abordagem Globalizante

Plantar árvores Retirada de lixo do córrego Construção de casas

Limpeza da cidade Educar as crianças

Mais empregos

Fonte: Pesquisa Direta

Observa-se a preocupação dos alunos entrevistados com os problemas

sociais, como o desemprego, falta de moradia e educação já mencionados em

questões anteriores. O fato de os alunos evidenciarem essas preocupações

reforça a visão globalizante presente nas falas dos professores.

Finalmente, perguntados sobre o que, pessoalmente, os alunos entrevistados

poderiam fazer para melhorar o meio ambiente, as respostas aludiram às

questões que classificamos em comportamentais, atitudinais e de valores:

102

QUADRO 11

Propostas dos alunos, de realização própria, para a melhoria do

ambiente

COMPORTAMENTAIS

ATITUDES

VALORES

Não jogar lixo nas ruas

Acabar com a pobreza Ajudar as crianças de rua

Não desperdiçar água Respeitar a natureza

Dar roupas e alimentos para quem precisa

Separar o lixo

Denunciar as coisas erradas Ajudar a cidade

Plantar árvores

Cuidar das árvores

Fonte: Pesquisa Direta

É interessante observar que os alunos pesquisados desenvolveram

determinadas formas de comportamento, atitudes e valores que,

certamente, estão vinculados às atividades pedagógicas das quais

participaram durante a implantação do PNG.

Talvez esse estudo não nos tenha possibilitado responder, categoricamente,

se as impressões causadas nos alunos são duradouras. É difícil determinar

os efeitos a longo prazo de programas de Educação Ambiental sobre a

retenção do conhecimento ou sobre mudança de valores/atitudes/estilos de

vida suscitados nos estudantes.

Há que se reconhecer o esforço bem intencionado de um grupo de

professores, direção pedagógica e alunos que procuram construir saberes,

103

mudança de postura frente às questões ambientais e nova visão de mundo,

mais ética, mais solidária, mais cidadã.

6

CONSIDERAÇÕES

FINAIS

"Duvidamos suficientemente do passado para imagirnarmos o futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para podermos realizar nele o futuro. Estamos divididos, fragmentados. Sabemo-nos a caminho mas não exatamente onde estamos na jornada."

104

(Boaventura de Souza Santos)

A análise da proposta de Educação Ambiental do projeto Novo Goiabinha,

desenvolvida pela Escola Municipal “Frei Edgard Groot”, objeto de estudo

desta pesquisa, nos permitiu, dentro das limitações inerentes a um estudo

de caso, tecer algumas considerações que julgamos pertinentes.

A inserção das experiências pedagógicas do PNG, causou uma série de

mudanças no cotidiano da escola. As atividades desenvolvidas provocaram

alterações na prática pedagógica dos docentes que se sentiram desafiados a

construir propostas educativas inovadoras que transformassem o ensino, a

partir da introdução da temática ambiental no currículo escolar.

O PNG causou uma “movimentação” na escola criando oportunidades de

aprendizagens através de recursos, como a música, o teatro, oficinas e

trabalhos de campo, vinculados à realidade local e ao projeto de

“recuperação” do córrego Goiabinha.

Um aspecto importante de nossa análise refere-se a abordagem

metodológica na qual classificamos o PNG. Considerando seus aspectos mais

amplos, o PNG contemplou a metodologia de “Resolução de Problemas

Locais”, seguindo uma das recomendações da Conferência de Tbilisi.

Entretanto, é preciso salientar que, a prevalência de práticas classificadas

como ATIVIDADE-FIM evidencia alguns equívocos pedagógicos que

contrariam as tendências atuais da prática da Educação Ambiental. As

atividades realizadas se constituíram numa adequação da escola a uma

105

demanda momentânea que visavam mudanças de comportamento em função

de uma questão emergencial que se esgotava nela mesma.

As tendências pedagógicas atuais de construção de conhecimento, de

criatividade, interação e de valorização do conhecimento e das experiências

dos educandos, foram as menos contempladas. Esse fato limitou, mas não

impediu, o desenvolvimento de aprendizagens significativas capazes de

promover mudanças de valores que estivessem comprometidos com a

compreensão e a transformação da realidade.

A pesquisa nos permitiu identificar a pouca articulação entre o

desenvolvimento das experiências voltadas para as questões ambientais e o

currículo das disciplinas tradicionais (História, Geografia, Português,

Ciências e outras). Ficou evidente a necessidade de se trazer a temática

ambiental para o contexto dessas disciplinas no sentido de torná-las mais

coerentes com a realidade local e de propiciar aos alunos o entendimento

das interrelações entre os temas tradicionais e os temas ambientais.

A relação entre a temática ambiental e o currículo escolar foi pouco

contemplada nas atividades pedagógicas do PNG. É importante ressaltar que

esse aspecto deve ser abordado com maior profundidade pelos docentes da

escola em questão.

Não se trata, simplesmente, de implementar experiências pedagógicas ou

de “ambientalizar” os conteúdos tradicionais para atender demandas

externas. Há um risco de se cometer equívocos pedagógicos, caso não haja

uma articulação entre projetos da natureza do PNG e o currículo escolar e

deste com a realidade local.

106

Os resultados da pesquisa deixaram claro a necessidade do corpo docente

aprofundar estudos sobre as questões teóricas relativas à problemática

ambiental, especialmente, no que se refere às diferentes concepções que

fundamentam os conceitos de Meio Ambiente e Educação Ambiental. Os

aportes teóricos devem estar claros para os educadores para que não se

transmita aos educandos concepções equivocadas que perpetuem, às já

problemáticas, relações do homem com a natureza.

Observou-se entre os docentes e dicentes, a coexistência das diferentes

concepções, naturalista, antropocêntrica e globalizante, que fundamentam

as discussões sobre meio ambiente e as práticas de Educação Ambiental.

Consideramos não ser relevante a escolha de uma dessas concepções, mas é

fundamental que os docentes saibam estabelecer o diálogo entre elas,

construindo e reconstruindo saberes necessários ao desenvolvimento de

aprendizagens significativas para os educandos no sentido de permitir a

formação de uma consciência sobre as relações natureza e sociedade. A

incorporação da temática ambiental à educação formal deve ir além da

internalização de valores relativos à conservação da natureza.

Embora tenhamos identificado a coexistência das diferentes concepções, a

visão naturalista nos pareceu ser a que norteou as práticas pedagógicas

desnvolvidas pelo PNG. As práticas advindas dessa concepção ficam, na

maioria das vezes, restritas a instruções de caráter técnico, a estudo de

texto meramente informativos que induzem apenas ao conservacionismo. O

conteúdo técnico-instrumental não é suficiente para promover mudanças de

valores e atitudes ou de melhorar a percepção dos educandos em relação à

construção do espaço e à proteção dos recursos naturais.

107

A análise dos dados da pesquisa realizada com os alunos nos permitiu

algumas considerações sobre os “resultados pedagógicos” do PNG. Entre os

entrevistados ficou evidente o quanto a participação no Projeto foi

significativa para os educandos. Entre os alunos da categoria 1 – residentes

próximo à escola e ao córrego – ficou clara a influência do PNG sobre a

percepção dos alunos em relação ao ambiente. Esses alunos se posicionaram

de maneira diferente em relação aos da categoria 2 – residentes em locais

mais distantes da escola e do córrego. A percepção em relação as

modificações da fauna e flora do ambiente, as atitudes frente às questões

ambientais, o conhecimento dos problemas sociais, a capacidade de avaliação

sobre a responsabilidade do poder público e dos cidadãos com o ambiente,

ficou mais evidente entre os alunos da categoria 1.

A análise de questões que abordavam temas mais amplos discutidos na

escola como, a identificação de elementos relacionados ao meio ambiente,

conhecimento da região e de comportamentos “ambientalmente corretos”,

não revelou diferenças significativas entre as duas categorias. A leitura que

fizemos foi a de que essas questões foram reforçadas pelas atividades e

conhecimentos propiciados pela escola ao conjunto dos alunos, sem ter uma

vinculação direta com o local de residência do aluno e suas experiências

extra-curriculares.

Outro aspecto a ser mencionado diz respeito às dificuldades e facilidades

que os professores entrevistados encontraram para desenvolver o PNG e

outras atividades relacionadas ao meio ambiente. Em relação às dificuldades

ficou evidente que estas não estão vinculadas somente às questões

específicas da Educação Ambiental e sim às questões que extrapolam o

108

âmbito da escola (como a estrutura física dos prédios escolares e sua

conservação), possuindo uma dimensão mais ampla vinculadas às políticas

públicas no campo da Educação e às condições sócio-econômicas dos

educadores e educandos.

Em relação às facilidades foram evidenciados os aspectos ligados à

atualidade do tema, que favorece o acesso às informações e à conexão

deste com a realidade da comunidade local. Esse último aspecto reforça a

pertinência da escolha de temas vinculados à realidade do aluno e da

utilização do espaço como recurso didático.

Há que se fazer referência ainda, à vinculação de projetos de Educação

Ambiental com os projetos pedagógicos mais amplos da escola como, a

organização dos tempos escolares, a teoria pedagógica que dá suporte

teórico às práticas docentes e aos processos de avaliação.

Encerrramos esse trabalho convictos de que a construção de uma

racionalidade ambiental pressupõe uma (r)evolução no sistema escolar, na

formação e no trabalho dos educadores. Não há sentido em se propor a

construção do saber ambiental dentro de contextos escolares arcaicos,

tradicionais, fechados em instituições desarticuladas com seu entorno,

desconsiderando suas externalidades.

109

7 REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

"Quanto tempo Duram as obras? Tanto quanto

Ainda não estão completadas Pois enquanto exigem trabalho

Não entram em decadência. (...) Quem dará duração às obras?

Os que viverão no tempo delas. Quem escolher como construtores?

Os ainda não nascidos. Não deves perguntar: como serão eles? Mas sim

Detrminar." (Bertold Brecht)

110

APPLE, Michel W. Currículo e poder. Educação e realidade, Porto Alegre, v. 14, n. 2, p.46-57, jul./dez. 1989. ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim: espaço geográfico construído por gente. Betim: Prefeitura Municipal de Betim, 1996. BARCENA, Alícia. Apresentação. In: GUTIERREZ, F.; PRADO, C. Ecopedagagia e cidadania planetária. São Paulo: Cortez, 1999. p.14 BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Educação. Escola plural. 2. ed. Belo Horizonte, 1994. BETIM. Prefeitura Municipal. Coordenadoria do Meio Ambiente. Projeto Novo Goiabinha. Betim, 1998. BETIM. Prefeitura Municipal. Coordenadoria do Meio Ambiente. Relatório da Comissão Ambiental do PNG. Betim, 1999a. BETIM. Prefeitura Municipal. Escola Municipal "Frei Edgard Groot". Projeto Goiabinha. Betim, 1999b. BETIM. Prefeitura Municipal. Secretaria de Educação e Cultura. Escola democrática: resoluções do III COMEB. Betim, 1999c. BORTOLOZZI, A.; PEREZ FILHO, A. Diagnóstico da educação ambiental no ensino de geografia. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.109: 115-72, mar. 2000. BRASIL. Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. 292p. BRASIL. Lei n. 9795 - 27 abr. 1999. Dispõe sobre a educação ambiental e institui a política nacional de política ambiental. Diário Oficial da União, Brasília, 28 abr. 1999a. p.1 BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais; meio ambiente, saúde. Brasília, 1997

111

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais; temas transversais. Brasília, 1998. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília, 1999b. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental. Educação ambiental: curso básico a distância. Brasília, 2001. BRÜGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental. 2.ed. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1999. CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. CASCINO, Fávio. Educação ambiental: princípios, história, formação de professores. São Paulo: SENAC, 1999. CURY, Carlos Roberto J. et al. Medo à liberdade e compromisso democrático – LDB e Plano Nacional da Educação. São Paulo: Editora do Brasil, 1997. DIAS, Genebaldo E. Educação ambiental: princípios e práticas. 6.ed. São Paulo: Gaia, 2000. DOLL Jr., William E. Currículo: uma perspectiva pós-moderna. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. EISNER, Elliot W. Cognition and curriculum reconsidered. New York: Teachers College Press, 1994. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. São Paulo: Fundação Peirópolis, 2000. GUERRA, Cláudio B. Novas abordagens em educação ambiental. Belo Horizonte: CEPEMG, 1999. (Mimeogr.) GUTIERREZ, F.; PRADO, C. Ecopedagagia e cidadania planetária. São Paulo: Cortez, 1999.

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HUTCHISON, David. Educação ecológica; ideias sobre consciência ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2000. LAYRARGUES, Philippe Pomier. A resolução de problemas ambientais locais deve ser um tema-gerador ou atividade-fim da educação ambiental? In: REIGOTA, Marcos (Org.) Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP & A, 1999. p. 131-148. MACEDO, Elizabeth. Parâmetros curriculares nacionais: a falácia de seus temas transversais. In: MOREIRA, Antônio Flávio (Org.). Currículo e prática. Campinas: Papirus, 1999. p.43-58 MINC, Carlos. Ecologia e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. (Coleção Polêmica). PÁDUA, José Augusto. Natureza e projeto nacional: as origens da ecologia política no Brasil. In: PÁDUA, José Augusto (Org.) Ecologia & política no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1987. p.12-24. PESTALLOZZI Apud HUTCHISON, David. Educação ecológica; ideias sobre consciência ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2000. PUC MINAS. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Curso de Tratamento da Informação Espacial. Diagnóstico ambiental da Bacia do Córrego Goiabinha Citrolândia - Betim - MG. Belo Horizonte, 2000. REGNIER, Erna Martha. Educação/formação profissional: para além dos novos paradgmas. Boletim Técnico do Senac, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 3-13, jan./abr. 1995. REIGOTA, Marcos. A floresta e a escola: por uma educação ambiental pós-moderna. São Paulo: Cortez, 1999. ROUSSEAU Apud HUTCHISON, David. Educação ecológica; ideias sobre consciência ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2000.

113

SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução a uma ciência pós-moderna. São Paulo: Cortez, 1999.

SANTOS, M. Técnica espaço tempo – globalização e meio técnico-científico informacional. 3.ed. São Paulo: HUCITEC, 1997. SILVA, Tomaz Tadeu. Os mapas culturais e o lugar do currículo numa paisagem pós-moderna. In: SILVA, Tomaz Tadeu; MOREIRA, Antônio Flávio. Territórios contestados. Petropolis: Vozes, 1995. YUS, Rafael. Temas transversais; em busca de uma nova escola. Porto Alegre: Artmed, 1998. ZABALZA, Miguel. Como educar em valores na escola. Patio, Porto Alegre, v.4, n. 13, maio/jul. 2000.

114

8

ANEXOS

115

ANEXO A

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM DOCENTES - Apresentação

- Interesse pela EA

- Escolha de conteúdos

- Práticas pedagógicas em EA – dificuldades e

facilidades

- Projeto Novo Goiabinha - Participação de alunos e

professores

- Pontos positivos e negativos

- Conhecimento do local onde a escola está inserida

- Persepção sobre mudanças de comportamento dos

alunos

- Conceito de Educação Ambiental

116

ANEXO B SEÇÃO I – IDENTIFICAÇÃ 1 – SEXO: Femi Masc 2 – IDADE: ________ 3 – Cidade e estado on___________________ 4 – Há quanto tempo m___________________ 5 – Em que outra escol___________________ SEÇÃO II – CONHECIMEN

1 – Em relação à região

Conhece bem.

Conhece muito

Conhece apena

2 – Em relação ao bairr

Conhece bem.

Conhece muito

Conhece apena

3 – Quais os principnascentes, cachoei

1 - ___________________ 2 - ___________________ 3 - ___________________

QUESTIONÁRIO DO ALUNO

O

nino ulino

___anos

de nasceu: __________________________

ora no bairro? _______________________

a já estudou? ________________________

TO TERRITORIAL

onde está situada a escola você diria que:

pouco. s em parte.

o Citrolândia você diria que:

pouco. s em parte.

ais pontos de referência da região (lugares bonitos, córregos, ras, fazendas, espaços culturais e outros)

______________________________________________

______________________________________________

______________________________________________

117

4 - _________________________________________________________________ 5 - _________________________________________________________________ 6 - _________________________________________________________________ 4 – Dos locais abaixo quais você conhece pessoalmente:

Casa de Cultura de Betim

Aterro Sanitário

Colônia Santa Isabel

Salão do Encontro

Nascente do Córrego Goiabinha

Encontro do Córrego Goiabinha com o Rio Paraopeba

Três Lagoas

Açude Bandeirinhas

Zoológico de Belo Horizonte

Represa Vargem das Flores

Parque das Mangabeiras (BH)

Parque Municipal (BH)

5 – Você poderia citar o nome de algumas plantas e animais nativos aqui da região do

Citrolândia?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________ 6 – Na sua opinião as plantas e os animais da região estão:

Aumentando

Diminuindo

Continua do mesmo jeito. Justifique sua resposta: _______________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

118

7 – Dos problemas abaixo, quais você acha que tem aqui na região?

Desmatamento e Queimadas Extinção de peixes

Enchente Falta de arborização

Pobreza Falta de área de lazer

Pouca área verde Falta de rede de esgoto

Desemprego Falta de tratamento do esgoto

Poluição do ar (poeira) Barulho

Poluição dos rios e córregos Erosão do solo

Violência Falta água tratada

Falta de transporte coletivo Falta de escola 8 – Dos problemas apontados quais você considera os mais graves? Escolha 3 (três) em ordem de importância).

1 - ___________________________________________________________________

2 - ___________________________________________________________________ 3 - ___________________________________________________________________

9 – Como você adquiriu os conhecimentos que você tem sobre a região do Citrolândia:

Andando pelas ruas e com amigos.

Aprendeu com parentes (pais, tios, avós)

Aprendeu na escola (textos, mapas, aulas).

Aprendeu por outros meios (jornais, revistas, televisão, outros). SEÇÃO III – VALORES, ATITUDES, COMPORTAMENTOS E OPINIÕES 1 – Para você o que é Meio Ambiente? (Entre as opções abaixo marque a que você

considera mais correta:

Meio Ambiente são os animais, as plantas, o ar, o solo e a água.

Meio Ambiente engloba a nossa casa, o nosso bairro, a cidade, o país, o planeta, os animais, as plantas, a família, a sociedade, as relações entre todos os seres vivos.

Meio Ambiente é o local em que vivemos, aproveitando de toda a natureza para a nossa sobrevivência.

119

2 – Entre os elementos abaixo, assinale com X aqueles que você considera que podem ser relacionados com o meio ambiente:

Agricultura

Água

Animais

Ar

Cidade

Clima

Consumo

Educação

Energia

Exclusão social

Lixo

Matas e outras plantas

População

Recursos Minerais

Saúde

Solo

3 – Você acha que em Betim o meio ambiente é preservado?

Sim Não

Justifique sua resposta.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________ 4 – A proteção do meio ambiente é importante porque:

As pessoas podem ter boa saúde.

As pessoas podem viver mais.

A vida das pessoas pode ser melhor.

Outros (citar) _______________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

120

5 – Quem você considera o principal responsável pela proteção do meio ambiente em Betim?

O Governo Federal.

O Governo Estadual

O Governo Municipal

Os políticos em geral.

Os empresários.

Os cientistas.

As escolas.

Todos os cidadãos. 6 – Cite o fato ou a atividade que você considerou mais importante para a proteção do

meio ambiente. (Cite o fato e o responsável)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

7 – Qual tem sido a sua atitude frente aos problemas do meio ambiente?

Denúncia.

Descaso

Indiferença

Mobilização

Preocupação

Reivindicação 8 – Você já participou de alguma atividade relacionada à proteção do meio ambiente?

Em caso afirmativo que atividade e qual foi a sua participação?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

121

9 – Responda se você concorda ou discorda das seguintes afirmativas: (indique com os números)

1 Concorda.

2 Discorda.

3 Não sabe.

Não faz diferença para a proteção do meio ambiente se você diminui o consumo de água.

Não faz diferença para o meio ambiente se você reduz o consumo de energia.

Não faz diferença para o meio ambiente se você jogar lixo nos lugares certos.

Não faz diferença para o meio ambiente se na escola você estuda sobre os problemas ambientais.

10 – Das formas de comportamento do dia-a-dia citadas abaixo, indique com os

números as que você:

1 Nunca fez.

2 Faz sempre.

3 Faz às vezes.

4 Não sabe.

Apagar as luzes quando não estou presente.

Caçar passarinho ou animais silvestres.

Compra produtos biodegradáveis.

Compra produtos que fazem mal a saúde (cigarros, bebidas, etc)

Compra produtos supérfluos.

Cortar madeira.

Cuidar da aparência (pentear cabelo, tomar banho, escovar os dentes e outros)

Cuidar da arborização dos quintais e ruas.

Fechar a torneira quando não estiver usando.

Filtrar a água para beber.

Jogar lixo nas ruas e nos lotes.

Participa de movimentos em defesa do meio ambiente, direitos do consumidor ou campanha pela segurança contra a violência e outros.

Pichar muros, monumentos e outros.

Preocupa-se com a origem dos produtos que consome.

Preocupa-se em comprar produtos de empresas que empregam mão de obra infantil.

122

Preocupa-se em comprar produtos de empresas que não danificam o meio ambiente.

Reclama quando compra um produto estragado ou com defeito.

Reutilizar ou reaproveitar vidros e papéis.

Separar os diferentes tipos de lixo (papel, metal, plástico, vidro).

11 – Das palavras, temas ou expressões abaixo, marque com um X, quais você já ouviu

falar, sabe o que é, nunca ouviu falar.

Palavra, tema ou expressão Ouviu falar

Sabe o que é

Nunca ouviu falar

AGENDA 21 ALIMENTO TRANGÊNICO ATERRO SANITÁRIO CIDADANIA COLETA SELETIVA DE LIXO COMUNIDADE CONSUMISMO DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO ECOLOGIA ECOSSISTEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EFEITO ESTUFA ETE (ESTAÇÃO DE TRAMENTO DE ESGOTO) MEIO AMBIENTE ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL POLUIÇÃO QUALIDADE DE VIDA RECICLAGEM

12 – Você conhece o Projeto “Novo Goiabinha”?

Sim

Não

Apenas ouviu falar 13– Você participou de alguma atividade do Projeto “Novo Goiabinha”?

Sim

Não

Em caso afirmativo cite a atividade e qual foi a sua participação.

___________________________________________________________________

123

___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________ 14 – Como você avalia sua participação em relação ao desenvolvimento do Projeto

Novo Goiabinha?

Muito importante.

Pouco importante.

Não alterou em nada. 15 – Você acha que o projeto “Novo Goiabinha”:

Melhorou as condições ambientais do Citrolândia.

Não fez diferença para as condições ambientais do Citrolândia.

Piorou as condições ambientais do Citrolândia. 16 – Você teria alguma sugestão de atividade para melhorar o meio ambiente aqui na região do

Citrolândia?

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___________________________________________________________________ 17 – O que você, pessoalmente poderia fazer nesse sentido?

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ANEXO C

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PNG PARA AS ESCOLAS DE CITROLÂNDIA:

Entendemos que a comunidade escolar é imprescindível na formação ecológica e

ética, que leve a uma mudança de comportamento compatível com o

desenvolvimento sustentável tão necessário para a sobrevivência das futuras

gerações.

Mas para isso é necessário garantir que os alunos tenham sua escolarização apoiada

em vivências ricas no presente e construtivas de seu futuro, de forma a realizarem

efetivamente as aprendizagens básicas indispensáveis à vida em comunidade.

A equipe de Educação Ambiental do Projeto Novo Goiabinha, propõe uma ação efetiva

e sistemática, na escola Edgar Groot por entender que; a proximidade da escola com

o Córrego aproxima mais a comunidade escolar dos problemas do Goiabinha além de

conseguirmos um maior envolvimento com os setores envolvidos.

Pensar um projeto de educação ambiental, que possa abrir as portas da escola para a

comunidade, transformando o espaço escolar em um verdadeiro laboratório é o que

pretendemos, e acreditamos ser o resultado uma experiência bastante satisfatória.

Apresentaremos algumas idéias e propostas de ações e esperamos que com o

decorrer do projeto os resultados nos levem a mais formas de atuação.

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ANEXO D

RELATÓRIO DIA 16 DE MARÇO

Irmã Hilda e Mara foram de sala em sala, no dois turnos de

funcionamento (manhã e tarde), falando com os alunos sobre o Córrego eo

Projeto Goiabinha.

A conversa foi informal e em cada sala assuntos diferentes foram

tratados, mas em todas o tema central era o Goiabinha e a importância da

participação de todos no projeto de recuperação e proteção do Córrego.

Avaliamos positivamente a nossa visita e descobrimos assim mais

alguns parceiros extremamente importantes para o nosso projeto: a direção da

escola, professores e os alunos que demonstraram um enorme interesse pelo

assunto.

Encerramos nossa visita convidando a todos a participarem conosco da

primeira atividade dentro da escola.

DIA 23 DE MARÇO De 9:30 às 11:30 e de 15:00 às 16:30

Instalamos no pátio da escola quatro grandes painéis sobre o

Goiabinha.

O primeiro mostrava o Goiabinha antes das obras de contenção, o

segundo durante as obras, o terceiro mostrava o projeto arquitetônico

elaborado pelo Lessandro, permitindo assim que todos pudessem ver como

ficará o Goiabinha, e o quarto painel mostrava o mutirão de limpeza no trecho

um.

Nossa atividade teve a participação do Grupo de Teatro Cará-cará, do

Núcleo de Mobilização Ambiental da Prefeitura – NUMA.

126

O Cará-cará passou de sala em sala convidando os alunos para

assistirem a apresentação da “Rádio Goiabinha” – forma criada pelo Numa de

atrair e tornar diferente as nossas falas durante as atividades.

A “Rádio” iniciou sua programação convidando primeiro a Lúcia Aquino,

que representava a informação. A Lúcia falou do Projeto e da importância da participação de cada

pessoa na proteção e recuperação do Goiabinha. No encerramento da fala da

Lúcia chamamos dona Raimunda, que é cantineira e faxineira da escola. Ela foi

a pessoa que buscou mostrar a necessidade de manter também a escola

limpa. Assim como o cuidado que devemos ter com o Goiabinha, é importante

cada aluno contribua para manter limpo o espaço da escola.

Logo depois veio o Sr. João Chaves, morador antigo da região,

representando a história do lugar – o contador de casos. O Sr. joão contou

casos para as crianças e professores sobre como era o Goiabinha antes, e

encerrou falando uma poesia que ele mesmo fez.

E para encerrar as atividades do dia, a Isabel foi apresentada para

cantar a música do Goiabinha junto com as crianças. Ela veio representando

uma famosa cantora da região. A atividade foi a mesma nos dois turnos, sendo que à tarde no lugar da

Lúcia a fala foi a Mara.

Em cada um destes turnos a participação foi total, tendo em média 350

alunos por turno.

Fotografamos através da Assessoria de Imprensa da Prefeitura, e a

filmagem foi feita pelo Santinho, funcionário da Adminstração Regional, que

tem participado ativamente do Projeto, desde o início. Todas as pessoas que

participaram das atividades gostaram muito e temos certeza que a escola

Edgar Groot poderá se tornar realmente uma escola laboratório e modelo para

outras no município.

OUTRAS ATIVIDADES PREVISTAS

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Permanecemos até o final do ano na Escola Edgar Groot com várias

atividades de educação ambiental. Dia 05 de abril, encaminhamos para a

escola o seguinte calendário:

Primeira etapa:

Cada professor com o auxílio da equipe de educação ambiental deverá

trabalhar com os alunos a importância de manter limpa as salas de aula.

Para isto deveremos confeccionar com os próprios alunos caixas de

lixo, feitas de reaproveitamento de caixas de papelão. Inicialmente cada sala

deverá ter duas caixas de papelão pintadas na cor azul, que é a cor oficial da

reciclagem de papel. Isto porque o lixo produzido pelos alunos em sala de aula

é basicamente “papel”. Deverão ser duas caixas, pois cada sala atende a dois

turnos. Além disto, a sala deverá ter ainda uma cesta colocada em lugar visível

para outros tipos de lixo não recicláveis.

Para esta atividade a presença das faxineiras será muito importante,

pois são elas que poderão nos informar sobre a limpeza das salas antes do

Projeto e assim poderemos fazer uma avaliação desta etapa com os alunos e

professores.

Para auxiliar no trabalho dos professores forneceremos textos sobre a

importância da reciclagem de papel, e outros textos complementares.

Complementando esta atividade os alunos deverão levar para a escola:

caixas de pasta de dentes, caixas de papelão diversas, folhas de papel usadas,

cadernos velhos... Com este material faremos: blocos para rascunho ou

cadernos para desenho, marcadores de livros, papel reciclado, papel machê...

Cada etapa deverá vir acompanhada de atividades lúdicas: música,

teatro, oficinas...

O importante é que cada tema seja acompanhado pelo professor e

pelos membros de Educação Ambiental do Goiabinha.

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É também extremamente importante que cada etapa passe por uma

avaliação dos alunos/professores e grupo de educação ambiental. Assim, como

resultado deveremos objetivar salas mais limpas e conseqüentemente escola

mais limpa.

O envolvimento do restante da comunidade é fundamental para o

sucesso do projeto. A participação dos pais nas etapas fará com que o número

maior de pessoas compreenda e participe do Projeto Novo Goiabinha. Por isto

deveremos marcar reuniões com os pais de todos os alunos da Escola

Municipal "Frei Edgar Groot.".

Encerrando esta atividade deveremos iniciar a importância de recursos

naturais como alumínio, plástico, vidro... Para cada uma delas realizaremos

campanhas como reaproveitamento de latas para plantio, doação de vidros

para entidades que possam reutilizá-los ou até mesmo uma campanha de

coleta seletiva em toda a escola.

Precisaremos: espaço para armazenarmos o material recolhido e uma

forma de vender todo o material. Uma campanha já existente é a da Latasa que

troca equipamento para escola por latinhas de cerveja e refrigerante.

Com os pais deveremos também promover algumas oficinas como:

aproveitamento de óleo velho para fabricação de sabão, cultivo de ervas

medicinais, hortas caseiras, alimentação alternativa e outras...

Após esta etapa (ou paralelo a ela) deveremos visitar toda a extensão

do Goiabinha com as crianças para que elas possam fazer um diagnóstico da

situação atual do Córrego.

Isto fará com que elas percebam com mais clareza a necessidade de

recuperação e proteção do Córrego Goiabinha.

Outros temas a trabalhar: A importância da água. Aí é importantíssimo

fazer a importância para a nossa sobrevivência com a poluição dos córregos,

rios e principalmente mostrar problemas causados pelo desperdícios.

Os alunos deverão dentro da própria escola detectar: torneiras

pingando, descargas que não funcionam, o desperdício de água ao lavar as

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mãos, vasilhas ou mesmo o pátio... À partir daí deveremos ter como resultado

a mudança de atitude da comunidade da escola Edgar Groot.

O cuidado com quintais, pátios... Incentivar o plantio de árvores, jardins

ou hortas nos espaços livres da escola. Além disto, os alunos deverão se

responsabilizarem pelo cuidado com o espaço.

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ANEXO E

SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA DESENVOLVER O PROJETO GOIABINHA

- Visita ao Goiabinha com os alunos:

• 13/04/99 – 4 turmas de 4ª série do 1º turno e 1 4ª série da noite

• 14/04/99 – 2 turmas de 2ª série

• 16/04/99 – 4 turmas de 1ª série

- Produção de texto;

- Poesia – música;

- Texto de jornal – trabalha as colunas do jornal;

- Desenho;

- Palavras cruzadas;

- Eleger entre os alunos um fiscal por turma para orientar no uso das lixeiras;

- Confeccionar com os alunos um mural para anexar os trabalhos;

- Pesquisa sobre o tempo de composição dos lixos e exposição em painel

com ilustrações;

- Entrevistas;

- Desafios matemáticos - usar a agenda 21 e outros;

- Pesquisa de campo com roteiro;

- Teatro;

- Filmes;

- Fazer uma campanha de vidros para doar para o banco de leite materno;

- Montar painel com fotos;

- Estudar sobre vermes e larvas;

- Tipos de água (límpida – suja – sem cheiro – sem sabor);

- Trabalhar gráficos;

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- Gibi sobre “A boca de lobo”;

- Confeccionar com os alunos uma caixa para reciclagem do papel (cor

padronizada da caixa azul);

- Fazer maquete;

- Confeccionar porta-retratos reciclando bandeijas de isopor;

- Fazer bloquinhos com papel reciclado;

- Fazer marcador de páginas com caixinhas de pasta de dente e de

remédios;

- Oficina de reciclagem de papel e outros;

- Oficina de jornal e tampinhas – confeccionar descanso de panela e ábaco

chinês para matemática;

- Continuar com a campanha latasa;

- Garantir um espaço no jornal para divulgar o trabalho da escola;

- Concurso de produções de texto;

- Trabahar sobre a água que existe no mundo e fazer comparação da

proporção da água que existe em nosso corpo;

- Confeccionar com os alunos em lixeirinha de carteira reciclando garrafas de

refrigerante pet.