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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Educação Especial Inclusiva Gislaine Verdeli Alves Leme A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL: O DEFICIENTE FÍSICO LINS SP 2010

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL: O DEFICIENTE FÍSICO · Para a melhor compreensão do processo evolutivo da criança com necessidades educacionais especiais em deficiência física

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Educação Especial Inclusiva

Gislaine Verdeli Alves Leme

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL:

O DEFICIENTE FÍSICO

LINS – SP

2010

GISLAINE VERDELI ALVES LEME

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL: O DEFICIENTE FÍSICO

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação Especial Inclusiva sob a orientação das Professoras M.Sc. Fatima Eliana Frigatto Bozzo e Profª M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva.

LINS – SP

2010

Leme, Gislaine Verdeli Alves

A educação especial no Brasil: o deficiente físico/ Leme, Gislaine Verdeli Alves. – – Lins, 2010.

51p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós-Graduação em Educação Especial Inclusiva, 2010

Orientadores: Fatima Eliana Frigatto Bozzo; Heloisa Helena Rovery da Silva.

1. Deficiente físico. 2. Educação especial 3. Práticas pedagógicas. I. Título.

CDU 376

L567e

GISLAINE VERDELI ALVES LEME

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL: O DEFICIENTE FÍSICO

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Especialista em Educação Especial Inclusiva.

Aprovada em: ____/____/______

Banca Examinadora:

Profª Fatima Eliana Frigatto Bozzo

Mestre em Odontologia - Saúde Coletiva pela Universidade do Sagrado

Coração

_________________________________

Profª Heloisa Helena Rovery da Silva

Mestre em Administração pela CNEC / FACECA - MG.

_________________________________

LINS – SP

2010

Primeiramente, a Deus, pelo dom da vida, por seu amor, cuidado e apoio, me fortalecendo diante dos obstáculos conscientes e inconscientes da natureza humana. Com muito amor, ao meu marido e filhos, que são minha fonte de energia para a vida em todos os sentidos.

AGRADECIMENTOS

À M.Sc. Fatima Eliana Frigatto Bozzo sábia e dedicada professora que aceitou a orientação deste trabalho. À Prof. M.Sc Heloisa Helena Rovery da Silva pela competência com que transmitiu os ensinamentos necessários para a elaboração deste trabalho. A todos que direta ou indiretamente me auxiliaram de forma contundente para a realização deste trabalho.

RESUMO

No Brasil, a inserção escolar derivou das idéias e práticas relativas aos serviços para pessoas com deficiência. Até hoje são muitos os desafios a serem enfrentados para a inclusão do deficiente físico e toda e qualquer investida no sentido de ministrar um ensino especializado aos alunos depende da estruturação adequada do ensino escolar para estes alunos. A política educacional brasileira da Educação especial tem sido vista como uma parte indesejável e, muitas vezes, atribuída como assistência aos deficientes e não como educação de alunos que apresentam deficiência. As escolas especiais têm papel fundamental no desenvolvimento do indivíduo com deficiência, pois, elas oferecem atendimento especializado, diferente de escolas regulares, que, na maioria dos casos, não tem nada a oferecer a essas pessoas diferentes, que necessitam de estímulos diferentes, de adaptações, de aceitação. Crianças com necessidades especiais decorrentes da deficiência física precisam de muito mais do que tão somente recursos básicos que satisfaçam suas necessidades primárias. São crianças que poderão precisar de cuidados e atenção ininterruptos em todos os dias de sua vida, ou superar as dificuldades iniciais se forem bem estimuladas e bem acolhidas. Desta forma, este estudo tem por objetivo, através de pesquisa bibliográfica verificar o atual cenário da educação do deficiente físico no Brasil com base na Educação Especial, bem como os recursos pedagógicos para a educação deste aluno. Após a pesquisa concluiu-se que as pesquisas auxiliam professores com recursos e adaptações importantes para o conforto e a ensino-aprendizagem da criança com deficiência física. Programas de apoio e formação continuada são relevantes e essenciais devendo, no entanto, vincularem-se à prática, tomando-a como ponto de partida. As dificuldades atribuídas à deficiência no processo de ensino-aprendizagem são reais e vividas pelos participantes. As dificuldades e necessidades devem ser consideradas quando se pensa em estruturar um trabalho efetivo nessa área, pois os professores são atores importantes no cenário da inclusão da criança deficiente físico e conhecem a realidade que se apresenta. Palavras-chave: Deficiente físico. Educação especial. Práticas pedagógicas.

ABSTRACT

In Brazil, school integration was derived from ideas and practices concerning services for people with disabilities. Even today there are many challenges to be faced for the inclusion of physically disabled people and any inroads in order to provide a specialized education to students depends on appropriate structuring of school education for these students. Politics Brazilian education in special education has been seen as a part undesirable and often given as assistance to disabled and non-education as students who have disabilities. Special schools have role in the development of the individual with disabilities because they provide specialized care, unlike regular schools, which in most cases has nothing to offer these different people that require different stimuli, adjustments, acceptance. Children special needs arising from physical disabilities need a lot more than merely basic resources to meet their needs primaries. These are children who may need care and attention uninterrupted in every day of your life, or overcome difficulties early if they are well promoted and well received. Thus, this study aims, through literature search to verify the current scenario education of the handicapped in Brazil based on Special Education and as teaching resources for the education of this student. After research concluded that the research assist teachers with resources and adjustments important for the comfort and the teaching and learning of children with disabilities physics. Support programs and continuing education programs are relevant and essential should, however, commit themselves to the practice, taking it as a starting point. Difficulties attributed to a deficiency in the teaching-learning are real and experienced by participants. The difficulties and needs must be considered when thinking about designing an effective work in this area, because teachers are important actors on the stage of inclusion of children handicapped and know the reality it presents. Keywords: Physical Disability. Special education. Teaching practices.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

CENESP - Centro Nacional de Educação Especial

DESE - Departamento de Educação Supletiva e Especial

Fenapaes - Federação Nacional das APAES

IBC - Instituto Benjamin Constant

LDB - Lei de Diretrizes e Bases

MEC - Ministério da Educação

OMS - Organização Mundial de Saúde

SEESP - Secretaria de Educação Especial

SEJUSP - Secretaria de Educação Especial

SNEB - Secretaria Nacional de Educação Básica

SP - São Paulo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9

CAPÍTULO I - CONCEITOS IMPORTANTES SOBRE A DEFICIÊNCIA

FÍSICA E EDUCAÇÃO DESTE ALUNO .......................................................... 11

1 DEFINIÇÃO DE DEFICIÊNCIA FÍSICA ................................................. 12

1.1 Desenvolvimento e aprendizagem da criança com deficiência física .....

1.2 A relação ambiente e desenvolvimento da criança com deficiência

física ............................................................................................................... 17

1.3 Comprometimentos prejudiciais ao desenvolvimento da criança

com necessidades especiais em decorrência da deficiência física................... 18

1.4 Outros fatores importantes para o desenvolvimento e

aprendizagem da criança com deficiência física ............................................... 19

CAPÍTULO II - HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E ATUALIDADE DA

EDUCAÇÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS .................. 23

2 A HISTÓRIA BRASILEIRA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ............................. 23

2.1 A Educação Especial na atualidade no Brasil ............................................. 28

CAPÍTULO III - A EDUCAÇÃO DO ALUNO DEFICIENTE FÍSICO ................. 32

3 OS RECURSOS E ADAPTAÇÕES DE MATERIAIS

PEDAGÓGICOS PARA EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE FÍSICO ..................... 32

3.1 Recursos e adaptações para a escrita ................................................... 33

3.2 Recursos e adaptações para as Atividades da Vida Diária

(AVD’s) ............................................................................................................. 35

3.3 Recursos e adaptações para o mobiliário .............................................. 37

CONCLUSÃO ................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 42

9

INTRODUÇÃO

No Brasil, atendimento adequado às necessidades escolares de

crianças com dificuldades de aprendizagem é deficitário o que denota altos

índices de evasão e um ensino com pouca qualidade. (MAZZOTTA, 2003).

A inserção escolar derivou da das idéias e práticas relativas aos serviços

para pessoas com deficiência que colocam inúmeras questões aos

educadores, especialistas, conforme Strapasson; Carniel (2007).

Conforme Mantoan (1997), são inúmeros os desafios a serem

enfrentados e toda e qualquer investida no sentido de ministrar um ensino

especializado aos alunos depende de se ultrapassarem as condições atuais de

estruturação do ensino escolar para deficientes.

Mendes (2009) salienta que a Educação Especial na política educacional

brasileira, desde o seu surgimento ao final da década de cinquenta deste

século, até os dias atuais, tem sido vista como uma parte indesejável e, muitas

vezes, atribuída como assistência aos deficientes e não como educação de

alunos que apresentam deficiência.

Mazzotta (2003), define Educação Especial como:

A modalidade de ensino que se caracteriza por um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais organizados para apoiar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação formal dos educandos que apresentem necessidades educacionais muito diferentes das da maioria das crianças e jovens. Tais educandos, também denominados de "excepcionais", são justamente aqueles que hoje têm sido chamados de "alunos com necessidades educacionais especiais. (MAZZOTTA, 2003, p. 11).

Segundo Strapasson; Carniel (2007), as escolas especiais têm papel

fundamental no desenvolvimento de crianças, jovens e adultos com deficiência,

pois, elas oferecem atendimento especializado, diferente de escolas regulares,

que, na maioria dos casos, não tem nada a oferecer à essas pessoas

diferentes, que necessitam de estímulos diferentes, de adaptações, de

aceitação.

A deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, o sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis,

10

segundo os segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida. (ARAÚJO; DI LORETO, 2008, p. 9)

Uma pessoa pode ter tido um acidente de carro e lesar a medula

espinhal e se tornar um paraplégico ou tetraplégico. Pode também ter uma

lesão ou doença neurológica que ocasione uma deficiência na coordenação

dos movimentos de uma ou mais partes do corpo, podendo ser definitivas,

temporárias ou progressivas. (ARAÚJO; DI LORETO, 2008).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, em tempos de paz,

10% da população de países desenvolvidos são constituídos de pessoas com

algum tipo de deficiência. Para os países em vias de desenvolvimento estima-

se de 12 a 15%. Desses, 20% seriam portadores de deficiência física.

Considerando-se o total dos portadores de qualquer deficiência, apenas 2%

deles recebem atendimento especializado, público ou privado. (MEC, 2003,

apud GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Para a melhor compreensão do processo evolutivo da criança com

necessidades educacionais especiais em deficiência física decorrentes de

problemas neurológicos, tais como: a encefalopatia crônica não-progressiva,

popularmente chamada de paralisia cerebral, a mielomeningocele, ou de

qualquer outra manifestação física de causa não neurologia, que provoque

anomalias motoras com o impedimento parcial ou total das funções corporais

na interação com o meio. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Para o desenvolvimento e aprendizagem da criança com necessidades

educacionais especiais em decorrência da deficiência física é necessário

estabelecer um paralelo com o desenvolvimento da criança normal, para que,

dessa forma, possa o educador sair do campo da análise para o campo da

ação, na busca efetiva do resgate de situações, de vivências, de experiências

que promovam a construção desse sujeito, com objetivo de oferecer-lhe

oportunidades iguais para o desenvolvimento de toda sua potencialidade.

(GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Crianças com necessidades especiais decorrentes da deficiência física

precisam de muito mais do que tão somente recursos básicos que satisfaçam

suas necessidades primárias. São crianças que poderão precisar de cuidados

e atenção ininterruptos em todos os dias de sua vida, ou superar as

dificuldades iniciais se forem bem estimuladas e bem acolhidas.

11

(STRAPASSON; CARNIEL, 2007).

O presente estudo pretende-se através de pesquisa bibliográfica ampliar

as informações referentes ao tema estudado.

Destarte, o objetivo principal do trabalho é verificar o atual cenário da

educação do deficiente físico no Brasil com base na Educação Especial, bem

como os recursos pedagógicos para o a educação deste aluno.

O estudo baseia-se no seguinte questionamento: Qual o atual cenário da

educação especial do deficiente físico no Brasil?

Para que se possa atingir o objetivo dividiu-se o estudo em três

capítulos.

O primeiro capítulo traz conceitos importantes para o entendimento da

deficiência física e educação do aluno deficiente físico, tais como a definição de

deficiência física, desenvolvimento e aprendizagem da criança com deficiência

física, a relação ambiente e desenvolvimento da criança com deficiência física,

os comprometimentos prejudiciais ao desenvolvimento da criança com

necessidades especiais em decorrência da deficiência física e outros fatores

importantes para o desenvolvimento e aprendizagem da criança com

deficiência física.

O segundo capítulo relata a história, evolução e atualidade da educação

dos alunos com necessidades especiais.

O terceiro capítulo descreve sobre a educação do aluno deficiente físico,

dos recursos e adaptações de materiais pedagógicos para educação deste

aluno.

Por fim, vem a Conclusão.

12

CAPÍTULO I

CONCEITOS IMPORTANTES SOBRE A DEFICIÊNCIA FÍSICA E

EDUCAÇÃO DESTE ALUNO

1 DEFINIÇÃO DE DEFICIÊNCIA FÍSICA

A deficiência física impossibilita os movimentos humanos pelo

comprometimento do sistema locomotor. Godói; Galasso; Miosso (2003),

explicam que:

A deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema osteoarticular, o sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis, segundo(s) segmento(s) corpora(is) afetado(s) e o tipo de lesão ocorrida. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 11).

A deficiência física decorrente de lesão do Sistema Nervoso

normalmente altera o tônus muscular resultando em hipertonia, hipotonia,

atividades tônicas reflexas, movimentos involuntários e incoordenados podendo

ser chamado de mono, tetra, tri e hemiplegia dependendo da parte do corpo

envolvida, significando respectivamente, “somente os membros inferiores,

somente um membro, os quatro membros, três membros ou um lado do corpo”.

(SCHIRMER et al., 2007, p. 15).

A função física pode ocorrer também em decorrência da falta de um

membro por amputação, má-formação ou deformação que são alterações que

acometem o sistema muscular e esquelético, segundo Schirmer et al. (2007).

A legislação brasileira através do seu Decreto Lei nº 3.298 de 1999

conceitua deficiência e deficiência física como:

Art. 3…: - Para os efeitos deste Decreto, considera-se: I - Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; Art. 4…: - Deficiência Física – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento

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da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. (BRASIL, 1999, p. 1).

Godói; Galasso; Miosso (2003), salientam que a deficiência física pode

advir de:

Lesão cerebral (paralisia cerebral, hemiplegias), lesão medular (tetraplegias, paraplegias), miopatias (distrofias musculares), patologias degenerativas do sistema nervoso central (esclerose múltipla, esclerose), lesões nervosas periféricas, amputações, sequelas de politraumatismos, malformações congênitas, distúrbios posturais de coluna, de patologias da coluna, de queimaduras, distúrbios dolorosos da coluna vertebral e das articulações dos membros, artropatias, reumatismo inflamatório da coluna e das articulações, doenças osteomusculares (DORT). (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 13).

De acordo com Godói; Galasso; Miosso (2003, p. 13), as causas mais

comuns da deficiência física são “paralisia cerebral, hemiplegias, lesão

medular, malformações congênitas e artropatias”. A paralisia cerebral ocorre

por prematuridade; anóxia perinatal; desnutrição materna; rubéola;

toxoplasmose; trauma de parto; subnutrição. Já as hemiplegias ocorrem por

acidente vascular cerebral; aneurisma cerebral; tumor cerebral. A lesão

medular deriva de por ferimento por arma de fogo; ferimento por arma branca;

acidentes de trânsito; mergulho em águas rasas; traumatismos diretos; quedas;

processos infecciosos; processos degenerativos. As malformações congênitas

ocorrem por exposição à radiação; uso de drogas; causas desconhecidas e as

artropatias decorrem por processos inflamatórios; processos degenerativos;

alterações biomecânicas; hemofilia; distúrbios metabólicos e outros.

A deficiência física se não aparente pode ser detectada prematuramente

quando se observa, por exemplo, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor

do bebê (não firmar a cabeça, não sentar, não falar no tempo esperado) ou

ainda a perda ou alterações dos movimentos, da força muscular ou da

sensibilidade em membros superiores ou inferiores. Outros fatores podem

ocasionar a deficiência física, tais como: erros inatos do metabolismo, doenças

infecto-contagiosas e crônico-degenerativas e gestação de alto risco. (GODÓI;

GALASSO; MIOSSO, 2003).

14

Desta forma, os exames pré e pós-natais são importantes na

identificação e a prevenção primária e secundária da deficiência física não

permitindo o agravamento dos quadros de limitação e de incapacidade.

As crianças com deficiências apresentam características individuais e

comprometimentos diversos que podem ser leve cambalear no andar;

necessidade do uso de muletas ou andador para auxiliarem na execução da

marcha; uso de cadeira de rodas que pode ser manobrada pelo aluno; uso de

cadeira de rodas manobrada por terceiros devido á impossibilidade do aluno;

uso de cadeira de rodas motorizada que poderá ser acionada por qualquer

parte do corpo onde predomine alguma função voluntária. (SCHIRMER et al.,

2007).

Esses problemas poderão estar associados ou não a dificuldades de linguagem (disartria, anartia, entre outros); dificuldades visuais (estrabismo, nistagmo, visão sub-normal e outros); dificuldades auditivas com possibilidade de compensação com uso de aparelho específico; semi-dependência para atividades da vida diária (AVD), tais como: higiene; alimentação; uso do banheiro; escrita; desenho; atividades que necessitem coordenação motora fina. Os problemas do desenvolvimento cognitivo são dificuldades para o fazer; dificuldades para o compreender o que está sendo visto, e dificuldades para compreender a linguagem. (SCHIRMER et al., 2007, p. 16).

1.1 Desenvolvimento e aprendizagem da criança com deficiência física

Para compreender o processo evolutivo da criança com deficiência física

decorrente de problemas neurológicos (encefalopatia crônica não-progressiva

ou paralisia cerebral, mielomeningocele entre outras) ou de qualquer outra

manifestação física de causa não neurológica com anomalias motoras com o

impedimento parcial ou total das funções corporais na interação com o meio,

há a necessidade de se estabelecer um paralelo com o desenvolvimento da

criança normal. Com isso, o professor passa facilmente da análise para a ação,

resgatando situações, vivências e experiências que promovam a construção

desse sujeito. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Para o desenvolvimento da criança, Franco (1995, p. 34) lembra que são

baseados em alguns princípios:

a) o desenvolvimento se processa no sentido da cabeça para os

15

pés. Primeiramente, controla os olhos e progressivamente, percebe, estabelece contato, busca e fixa a visão; depois percebe as mãos e, aos poucos, descobre o poder de preensão e força que elas têm para pegar, agarrar, puxar, manipular; com ajuda dos braços busca alcançar, apoiar, e, futuramente, passa a ter domínio das pernas e dos pés usando-os em seu benefício na exploração do meio. Assim, um bebê, primeiramente, vê um objeto, para depois poder alcançá-lo com as mãos; controla primeiro a cabeça, depois o tronco, e a seguir, aprende a sentar, e assim sucessivamente; aprende a fazer muitas coisas com as mãos bem antes de andar;

b) o desenvolvimento se processa da área central do corpo para as periféricas como um processo que se irradia: primeiro, o bebê adquire a capacidade para usar o braço e a coxa, depois as mãos e os pés, e finalmente, seus dedos. Dessa forma, observa-se que o desenvolvimento da criança acompanha a mesma sequência da formação do embrião (cabeça, tronco e membros);

c) o desenvolvimento parte do geral para o específico, dos grandes para os pequenos músculos e depois se amplia do simples para o complexo (por exemplo: preensão). (FRANCO, 1995, p. 34).

Destarte, entende-se que o desenvolvimento da criança ocorre numa

sequencia lógica de eventos previsíveis. Porém, o ritmo e a qualidade deste

desenvolvimento são individualizados, dependendo de influências da

hereditariedade e do ambiente em que a criança vive, além das características

estruturais corporais. (FRANCO, 1995).

Na criança com deficiência o desenvolvimento, assim como das crianças

sem deficiência, seguem etapas que vão desde a conquista de autonomia até o

conhecimento. As divergências que poderão existir entre o desenvolvimento

dessas crianças se restringem às fases do desenvolvimento, e na criança

comprometida pela deficiência física poderão não ocorrer de acordo com a

cronologia estabelecida pelos teóricos que embasam a nossa prática. Elas

poderão iniciar mais tarde, além de serem mais demoradas porque o ritmo de

interação social e de execução das suas ações apresentarão formas diferentes

de manipulação e experimentação com o meio. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO,

2003).

Vayer; Roncin (1989, apud GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003),

comenta ainda que o meio pode oferecer à criança, deficiente ou não,

sentimentos de segurança, de autonomia e confiança para poder agir, embora

a criança sem deficiência consiga encontrar soluções para construir sua

pessoa com mais facilidade, mesmo que o contexto não seja facilitador.

É notório que a criança com deficiência tenha dificuldades de interação

com o meio, embora estas diferenças não sejam padrão de dificuldades. O

16

relacionamento saudável com os adultos promove na criança descoberta de

habilidades e de interação social. (VAYER; RONCIN, 1989, apud GODÓI;

GALASSO; MIOSSO, 2003).

Cabe ao educador o mérito de abrir e expandir o leque de oportunidades

iguais para todas as características individuais, com ou sem deficiência, com

objetivo de que cada um construa a sua pessoa e sua concepção do mundo

Toda criança, ao nascer, inicia a fascinante aventura de adaptar-se ao mundo equipada apenas da sua frágil organização herdada. Seus poderes naturais são formidáveis, e aos poucos, ela transforma, ajusta, aumenta, alarga e enriquece a sua organização somática inicial. Gradualmente, torna-se mais acostumada a sugar, a alcançar, a agarrar e a identificar visualmente e a seguir objetos: este é o início do seu processo de adaptação ao mundo. (RODRIGUES 1976, apud GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p.30).

O brincar promove na criança a interação com o meio, bem como os

conceitos de distância, altura, tamanho, forma, peso, temperatura, textura,

som, espacialidade, lateralidade são primordiais para a construção das

estruturas mentais básicas e fundamentais para aprendizagem formal que se

ampliam à medida que se acentua sua interação com o meio, promovendo o

desenvolvimento da inteligência e, simultânea e paralelamente, permite à

criança construir sua própria e particular interpretação do mundo. (ARAÚJO; DI

LORETO, 2008).

Na criança com deficiência o desenvolvimento acontece por outros

caminhos, por recursos internos que ela criou para se adaptar ao mundo.

Araújo; Di Loreto (2008), observam em seu trabalho que qualquer

interesse do indivíduo com base em necessidade fisiológica, afetiva ou

intelectual pode desencadear uma ação e, nessas situações de interação, é a

inteligência que tem a função de compreender, de explicar, partindo

inicialmente de uma análise primária e, avançando, progressivamente, para

formas sempre mais elaboradas, que correspondem, gradativamente, à

evolução de seu desenvolvimento.

É importante dizer que a ação (atividade/motricidade), a afetividade e a inteligência trabalham em harmonia, estabelecendo-se um estreito paralelismo entre o desenvolvimento da afetividade e o das funções intelectuais, porque estes são dois aspectos inseparáveis de cada ação. É da afetividade que provêem a motivação e o dinamismo energético de toda ação, ao passo que o aspecto cognitivo, sensório-motor ou racional é influenciado pelas técnicas e pelos meios empregados. Esses dois elementos, sempre e em todo lugar, implicam-se um ao outro e intervêm em todas as condutas

17

relacionadas tanto a objetos como a pessoas. Nenhuma ação poderá ser inteiramente racional ou puramente afetiva. O que pode existir são indivíduos que se interessam mais por pessoas do que pelas coisas ou abstrações, ao passo que com outros se dá o inverso. Os primeiros parecem mais sentimentais e os outros mais secos, mas são apenas condutas e sentimentos que implicam, necessariamente ao mesmo tempo, a inteligência e a afetividade. (RODRIGUES, 1976, apud GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 32).

Finalmente, pode-se dizer que a atenção, reabilitação física e educação,

se aplicados correta e convenientemente por profissionais especializados,

podem melhorar ou manter a capacidade funcional do indivíduo que apresenta

lesões neurológicas e de outras patologias.

1.2 A relação ambiente e desenvolvimento da criança com deficiência física

A criança com deficiência física precisa muito mais de recursos básicos

que satisfaçam suas necessidades primárias do que as crianças sem

deficiência. Estes recursos traduzem-se em cuidados e atenção para que a

criança com deficiência física supere as dificuldades iniciais com estimulação e

bom acolhimento. (ARAÚJO; DI LORETO, 2008).

Nesse contexto, a creche e a escola são importantes para a

estimulação, principalmente da criança com deficiência, suprindo, muitas vezes

carências com a nutrição, os estímulos, a afetividade e a socialização.

(SCHIRMER et al., 2007).

A creche e a pré-escola têm papel fundamental no processo de

formação da criança por ser a primeira a trabalhar a inserção social fora da

família. Embora não seja fácil receber uma criança que não anda no tempo

esperado, usa fraldas, não fala ou canta, não consegue segurar um lápis ou um

brinquedo, é imprescindível que o professor, dentro do processo de

aprendizagem e formação dessa criança, se adapte às formas de lidar com

este aluno. (SCHIRMER et al., 2007).

O ingresso da criança com deficiência física na comunidade escolar

permite-lhe a oportunidade de ser criança e não apenas um ser com cuidados

especiais.

18

1.3 Comprometimentos prejudiciais ao desenvolvimento da criança com

necessidades especiais em decorrência da deficiência física

No desenvolvimento global da criança devem ser considerados alguns

fatores importantes. Dentre eles a motricidade que, em qualquer indivíduo, é

garantida pelo “conjunto de funções biológicas que asseguram a

movimentação”. (LAROUSSE, 1992, apud GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003,

p. 23).

Para se estabelecer parâmetros de entendimento do desenvolvimento

motor da criança com deficiência há de se entender o que ocorre com a criança

não deficiente. Sobre a motricidade Pfeifer (1994, apud GODÓI; GALASSO;

MIOSSO, 2003, p. 27) esclarece que

A habilidade motora é a capacidade de movimento e de postura, que se define num contínuo, variando desde grande habilidade motora (desenvolvimento normal) até a ausência de movimentação encontrada nos diversos comprometimentos motores causados pela paralisia cerebral, de acordo com o maior ou menor grau de comprometimento apresentado. (PFEIFER, 1994, apud GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 27).

De acordo com Piaget (apud GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003), o

desenvolvimento é sensório-motor porque a aprendizagem se dá pela

sensação do movimento em toda experiência com o corpo e, sendo assim, no

desenvolvimento motor ocorre uma sequência de diferentes e variadas

posturas e aquisições de movimentos.

Para Muñoz et al. (1997), o desenvolvimento psicomotor pode ser

prejudicado pela capacidade de movimentação corporal espontânea

(alimentação, sono, marcha), e a intencional (atividades físicas próprias de

cada fase da infância: rolar, brincar, correr e saltar, subir e descer, manipular

objetos).

Quando o problema é neurológico há atraso no desenvolvimento motor

do tônus muscular e, consequentemente, na movimentação do corpo em

qualquer ação; da postura, que é o posicionamento adequado do corpo nas

infinitas atividades que a vida proporciona e das experiências com o corpo,

desde o mais simples gesto, até os mais complexos, na experimentação do

mundo. (SCHIRMER et al., 2007).

19

Caso o desenvolvimento da fase inicial da vida da criança com

necessidades especiais em decorrência da deficiência física não ocorra dentro

dos parâmetros da normalidade a criança poderá desencadear um atraso no

desenvolvimento global, comprometendo ainda mais sua interação com o meio

e prejudicando suas aquisições mentais, consideradas os pilares que formam a

base necessária para o posterior processo de aprendizagem informal e de

aprendizagem escolar. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

A maturidade de desenvolvimento dessa criança deverá sempre ser observada com base nas suas capacidades e possibilidades, na forma como ela compreende e reage aos estímulos. Forçar quaisquer situações de aprendizagem que tenham como base somente o desenvolvimento cronológico (idade) trará como consequência o desrespeito ao seu real potencial, e também estar-se-á promovendo a desigualdade de oportunidades, porque não lhe serão oferecidos desafios compatíveis com a sua capacidade e suas possibilidades. Também há crianças que superam essas dificuldades e, mesmo com limitações para interação adequada, presenciam a movimentação e as mudanças de seu meio e, assim operando mentalmente sobre seu mundo, passiva e silenciosamente desenvolvem-se, formando, alimentando e mantendo estruturas suficientes para aprendizagem. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 40).

É comum a criança com deficiência física realizar seus primeiros

registros, pois a falta de coordenação motora que a incapacita de segurar um

lápis ou pincel, inviabiliza uma atividade espontânea. Desta forma, é importante

que se estimule esta criança a realizar suas tarefas, para que ocorra o

desenvolvimento adequado. Nessas situações, o professor deverá ter muita

perspicácia e aceitar aquilo que o aluno conseguiu fazer, valorizando seu

produto e estimulando-o a prosseguir, não permitindo qualquer tipo de

comparação negativa. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

1.4 Outros fatores importantes para o desenvolvimento e aprendizagem da

criança com deficiência física

Dentre os muitos fatores que promovem o desenvolvimento e

aprendizagem da criança com deficiência física está a afetividade na medida

em que entende-se que esta criança poderá ser mais sensível às respostas do

meio e mais atenta ao comportamento dos adultos. Para isso, é necessário de

20

se estabeleça um vínculo que começa com o processo de conhecimento e de

descobertas que o professor estabelece com ela; das abordagens e estratégias

que usa para sua aprendizagem; do empenho em buscar soluções e/ou

adaptações para satisfazer suas necessidades de aprendizagem; da sua luta

para que ela consiga e não desista nunca; da forma e de todas as formas que

lhe transmite. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Outro fator importante para o desenvolvimento da criança com

deficiência física está o trabalho em equipe que viabiliza uma estimulação

global da criança prevenindo, planejando e desenvolvendo uma ação bastante

específica para a criança com deficiência física (ARAÚJO; DI LORETO, 2008).

Os contatos feitos entre a instituição que reabilita a criança e os outros

agentes, como a família, a escola e outros grupos, são importantes à medida

que possibilitam a intervenção, a conscientização, a informação e a

implantação dos recursos, desde os preventivos até os que atendem às

necessidades mais específicas da criança com deficiência física. À equipe cabe

o desenvolvimento de um trabalho multidisciplinar, nos estritos limites das

atividades que lhe são reservadas. Isso acontece quando são reconhecidos os

casos pertencentes aos demais campos da especialização. Procede-se, então,

ao encaminhamento da criança aos profissionais habilitados a fim de discutir o

caso em equipe, procurando as soluções mais convenientes para cada caso

(GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

A família tem um papel de suma importância dentro desse processo no

que diz respeito à dinâmica de relacionamento e convivência, principalmente se

considerar o crescimento e desenvolvimento da personalidade do ser humano,

e também seu ajustamento aos diferentes âmbitos da sociedade. Quando se

espera o nascimento de um filho, a expectativa dos pais é receber uma criança

saudável, bonita e inteligente. É certo que ninguém espera ter um filho com

deficiência, e quando isso acontece há frustração e desestruturação total da

família. Diante de tal fatalidade, essa família buscará respostas às suas

inquietações e, aos poucos, o trauma inicial dará lugar à tristeza e desolação,

iniciando-se o processo de luto pelo sonho não concretizado. Esse doloroso

processo continua com o lento ajustamento à realidade não esperada. Essa

criança está à espera, necessitando de cuidados especiais, situação diante da

qual se deseja que o luto inicial possa se transformar em luta diária (GODÓI;

21

GALASSO; MIOSSO, 2003).

O processo de ajustamento a essa nova situação de vida familiar

determinará o tratamento e o bem-estar da criança especial e de toda sua

família, sendo vital a cooperação dos pais, pois somente quando a família e a

equipe de reabilitação atuam em parceria, integradas, poderão dar à criança as

melhores oportunidades para o desenvolvimento das suas capacidades,

quaisquer que sejam suas limitações (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Sentimentos confusos permeiam a convivência familiar dessa criança,

mascarando ou deturpando ainda mais suas dificuldades quando se dá ênfase

às deficiências e às impossibilidades, revestindo as interações de um caráter

superprotetor sob o qual a criança é encarada como um ser incapaz de pensar,

ter vontades, aspirações ou desejos, como se fosse uma massa amorfa e sem

personalidade. Essa criança poderá, tão somente, receber os cuidados básicos

e ser impedida de ter acesso à real convivência familiar para participação, para

trocas, para verdadeira integração no meio em que vive. Superproteção ou

negligência são constantes na vida dessa criança, e podem ser impedimentos

que agravam ainda mais suas deficiências, porque existe o reforço da

influência humana. Se o outro mostra que não crê na capacidade de ação da

criança, será certamente esse o retorno. A percepção da ineficácia desmoraliza

e debilita mais que os obstáculos externos. (ARAÚJO; DI LORETO, 2008).

A criança com necessidades especiais somente terá um

desenvolvimento saudável a partir do compromisso de seus pais de também se

desenvolverem, isto é, de assumirem postura e atitudes que conduzam

também, o crescer com a criança. Os pais sentir-se-ão obrigados a adaptar-se

à condição do filho especial; entretanto, é igualmente importante que seja dada

à criança oportunidade para também se adaptar a eles. (ARAÚJO; DI

LORETO, 2008).

Considerando o despreparo e as dificuldades enfrentadas pela família na

qual existe um membro portador de necessidades especiais, entendemos ser

de suma importância um acolhimento dos pais com o objetivo de contribuir para

o processo de reestruturação familiar. (ARAÚJO; DI LORETO, 2008).

Sabe-se que a orientação dos profissionais da reabilitação proporcionará

a família que tem um filho especial experiências dentro das possibilidades,

permitindo que essa criança desfrute de seus direitos e deveres, seja

22

respeitada em suas limitações, mas valorizada por suas capacidades. Deve-se

ressaltar o papel do professor nesse contexto familiar como sendo de

fundamental importância, pois esse será a ponte entre o aluno e família,

transmitindo confiança, segurança, dando acolhimento e, por meio de um

processo gradativo, conscientizando os pais a respeito, do valor e da

importância da família para o desenvolvimento psicossocial dos filhos, e em

particular do filho especial. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

O professor poderá orientar os pais com relação à disciplina dessa

criança especial (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

A tarefa de educar filhos não é fácil, porém consiste, em grande parte,

em bom senso, reforçado por um interesse sincero e pelo amor. É um

compromisso consciente entre pais e filhos, de confiança e respeito mútuos.

Para Buscaglia (1993, p. 41), “disciplinar crianças deficientes, de forma sensata

e dentro de seus próprios limites especiais, não é cruel, mas ao contrário, pode

representar uma atitude de maior generosidade”.

23

CAPÍTULO II

HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E ATUALIDADE DA EDUCAÇÃO

DOS ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

2 A HISTÓRIA BRASILEIRA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

No século XIX com base nas experiências vividas na Europa e Estados

Unidos, brasileiros iniciaram organização de serviços para atendimento a

cegos, surdos, deficientes mentais e deficientes físicos. Porém, foi somente no

final dos anos cinquenta e início da década de sessenta no século XX, que

política educacional brasileira passou a falar de inclusão da educação de

deficientes, a Educação Especial. (MAZZOTTA, 2003).

Alguns pesquisadores (MENDES, 1995; JANNUZZI, 1992) verificaram

que a Educação Especial em diferentes países, inclusive no Brasil, ocorreu em

períodos mais ou menos distintos uns dos outros resultando em mudanças na

concepção de deficiência.

A história da Educação Especial no Brasil tem como marcos fundamentais a criação do “Instituto dos Meninos Cegos” (hoje “Instituto Benjamin Constant) em 1854, e do “Instituto dos Surdos-Mudos” (hoje, “Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES) em 1857, ambos na cidade do Rio de Janeiro, por iniciativa do governo Imperial. A fundação desses dois Institutos representou uma grande conquista para o atendimento dos indivíduos deficientes, abrindo espaço para a conscientização e a discussão sobre a sua educação. No entanto, não deixou de “se constituir em uma medida precária em termos nacionais, pois em 1872, com uma população de 15.848 cegos e 11.595 surdos, no país eram atendidos apenas 35 cegos e 17 surdos”, nestas instituições. (MIRANDA, 2008, p. 30).

Mazzotta (2003), relata que o Segundo Império registra outras ações

voltadas para o atendimento pedagógico ou médico-pedagógico aos

deficientes. Em 1874 o Hospital Estadual de Salvador, na Bahia, hoje

denominado Hospital Juliano Moreira, iniciou a assistência aos deficientes

mentais. Tratava-se de assistência médica e não propriamente atendimento

educacional.

24

Surge ao final de século XIX e meados do século XX o desenvolvimento

em escolas públicas de classes especiais, visando oferecer à pessoa deficiente

uma educação à especializada. (MIRANDA, 2008).

Em 1900, durante o 4° Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro, o Dr. Carlos Eiras apresentou a monografia intitulada: "A Educação e Tratamento Médico-Pedagógico dos Idiotas". Por volta de 1915 foram publicados três outros importantes trabalhos sobre a educação de deficientes mentais. As obras deram início as pesquisas científicas e ao atendimento a pessoas com deficiência no país. (MAZZOTTA, 2003, p. 30).

No Brasil, na década de 1920, foram realizadas várias reformas na

educação brasileira, influenciadas pelo ideário da Escola-Nova. Para isso,

vários professorespsicólogos europeus foram trazidos para oferecer cursos aos

educadores brasileiros, influenciando os rumos da Educação Especial no nosso

País. Em 1929, chegou a Minas Gerais a psicóloga russa Helena Antipoff,

responsável pela criação de serviços de diagnóstico, classes e escolas

especiais. Fundou em 1932 a Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais para

atender os deficientes. Essa psicóloga contribuiu para a formação de um

número significativo de profissionais que, mais tarde, foram trabalhar na área

da Educação Especial pelo país. (JANNUZZI, 1992; MENDES, 1995).

A corrente filosófica adotada por Antipoff valorizava muito a organização

do ambiente de trabalho, a metodologia usada pelo professor e a psicologia

infantil. Entretanto, o conteúdo e o conhecimento ministrados ficavam

relegados a segundo plano. Deste modo, foi propiciado às crianças, sem

lesões graves, mas com dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, como

hiperatividade, dispersão, problemas emocionais, dentre outros, a possibilidade

de frequentar a escola. Com isso, o ensino regular destinado aos “anormais”

ficou isento da incômoda presença de alunos com deficiência mental que,

segundo os preceitos da época, atrapalhavam o rendimento dos outros alunos.

(MIRANDA, 2008).

Segundo Jannuzzi (1992), apesar das reformas observadas no sistema

educacional, a expansão dos serviços de Educação Especial permanecia muito

tímida no Brasil: em 1930, existiam 16 locais para a educação de deficientes

mentais, subindo para 22 estabelecimentos, em 1935.

Fazendo uma análise do ideário da Escola-Nova no Brasil, Dechichi

(2001) apontou que, apesar desse movimento defender a diminuição das

25

desigualdades sociais, sua influência na Educação Especial contribuiu para a

exclusão dos indivíduos considerados diferentes nas escolas regulares. Ao

ressaltar o estudo das diferenças individuais, propor um ensino adequado e

especializado e adaptar técnicas de diagnóstico, os seguidores da Escola-Nova

estimularam o processo de identificação de alunos que não conseguiam

acompanhar as exigências da escola, mostrando a necessidade de eles

receberem uma educação mais adequada, justificando, assim, sua segregação

em classes ou escolas especiais.

Entre as décadas de 1930 e 1940, observamos várias mudanças na

educação brasileira, como, por exemplo, a expansão do ensino primário e

secundário, a fundação da Universidade de São Paulo etc. Podemos dizer que

a educação do deficiente mental ainda não era considerada um problema a ser

resolvido. Neste período, a preocupação era com as reformas na educação da

pessoa normal. (MIRANDA, 2008).

No panorama mundial, a década de 1950 foi marcada por discussões

sobre os objetivos e qualidade dos serviços educacionais especiais. Enquanto

isso, no Brasil acontecia uma rápida expansão das classes e escolas especiais

nas escolas públicas e de escolas especiais comunitárias privadas e sem fins

lucrativos. O número de estabelecimentos de ensino especial aumentou entre

1950 e 1959, sendo que a maioria destes eram públicos em escolas regulares.

(MIRANDA, 2008).

Até 1950 já existiam 40 instituições mantidas pelo poder público (um

federal e os demais estaduais), que prestavam algum tipo de atendimento

escolar especial a deficientes mentais em estabelecimentos de ensino regular.

(MAZZOTTA, 2003).

Nesta mesma época, três instituições especializadas (uma estadual e

duas particulares) atendiam deficientes mentais e outras oito (três estaduais e

cinco particulares) dedicavam-se à educação de outros tipos de deficiências.

O Instituto Pestalozzi de Canoas criado por um casal de professores, introduziu no Brasil a concepção da ortopedagogia das escolas auxiliares, européias. Em 1927, o centro que era em Porto Alegre (RS) foi transferido para Canoas (RS), como internato especializado no atendimento de deficientes mentais. Inspirado na concepção da Pedagogia Social do educador suíço Henrique Pestalozzi, o Instituto Pestalozzi do Rio Grande do Sul foi precursor de um movimento que, ainda que com divergências e variações, se expandiu pelo Brasil, e pela América do Sul. (MAZZOTTA, 2003, p. 42).

26

Em 1967, a Sociedade Pestalozzi do Brasil, criada em 1945, já contava

com 16 instituições por todo o país. (MENDES, 1995).

Em 1928, Instituto de Cegos Padre Chico, que atendia cegos passou a

chamar-se Fundação Dorina Nowil. Já na Santa Casa de Misericórdia de São

Paulo, entre 1931-1932, prestava atendimento a deficientes físicos através de

classe especial estadual, na Escola Mista do Pavilhão Fernandinho, que

funcionava como modalidade de ensino hospitalar. Em 1982 passaram a

funcionar no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo,

com dez classes especiais estaduais administrativamente classificadas como

Escolas Isoladas sob a Jurisdição da 13° Delegacia de Ensino da Capital.

(STRAPASSON, CAERNIEL, 2007).

Em 1933, o Instituto de Santa Terezinha em Campinas (SP) passa a

atender deficientes auditivos. Estes deficientes ganharam maior assistência em

1942 e 1949, no Rio de Janeiro, após a criação do Instituto Benjamin Constant

(IBC) para cegos.

Criada em 1954, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais já

contava também com 16 instituições em 1962. Nessa época, foi criada a

Federação Nacional das APAES (FENAPAES) que, em 1963, realizou seu

primeiro congresso (MENDES, 1995).

Entre 1957 até 1993 iniciaram-se as oficinas em âmbito nacional para o

atendimento educacional de crianças com deficiências mentais. (MAZZOTTA,

2003).

Por volta da década de 1970, observa-se um movimento de integração

social dos indivíduos que apresentavam deficiência, cujo objetivo era integrálos

em ambientes escolares, o mais próximo possível daqueles oferecidos à

pessoa normal. (MIRANDA, 2008).

O governo passa a incentivar as instituições de atendimento a

deficientes físicos. Em 1973, por ato do Presidente Médici a Associação de

Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Rio de Janeiro recebeu em

comodato, uma área onde instalou o Centro de Treinamento Profissional. E, em

1975, foi assinada a portaria n° 550 pelo Ministro Ney Braga, em vinte e nove

de outubro, concebendo a Centro Nacional de Educação Especial (CENESP),

abrangendo todas as deficiências. O órgão foi criado com a finalidade de incluir

todas as deficiências no atendimento escolar desde a pré-escola até o superior

27

incluindo até mesmo o ensino supletivo, promovendo, coordenando e

planejando o desenvolvimento da Educação Especial no Brasil.

(STRAPASSON, CAERNIEL, 2007).

Conforme Mazzotta (2003, p. 56), o artigo 2° declara que:

O CENESP tem por finalidade planejar, coordenar e promover o desenvolvimento da Educação Especial no período pré-escolar, nos ensinos de 1° e 2° graus, superior e supletivo, para os deficientes da visão, da audição, mentais, físicos, portadores de deficiências múltiplas, educandos com problemas de conduta e os superdotados, visando à sua participação progressiva na comunidade, obedecendo aos princípios doutrinários, políticos e científicos que orientam a Educação Especial. (MAZZOTTA, 2003, p. 56).

Em 1990 as atribuições relativas à Educação Especial passaram a ser

da Secretaria Nacional de Educação Básica (SNEB) e ao final de 1991, a

Coordenação de Educação Especial foi desativada. Todas as atribuições

específicas da Educação Especial passaram, então, a serem exercidas pela

nova diretora do Departamento de Educação Supletiva e Especial (DESE),

(STRAPASSON, CAERNIEL, 2007).

Com o impeachment de Fernando Collor de Mello ao final de 1992,

reaparece a Secretaria de Educação Especial (SEJUSP), como órgão

específico do Ministério da Educação e do Desporto. (MAZZOTTA, 2003).

No Brasil, em relação ao atendimento a pessoas com deficiência,

observa-se na Constituição Federal e em diversos textos oficiais, a busca de

organização de instituições especializadas gerenciadas pelos próprios pais.

Este é um importante aspecto a ser organizado junto aos grupos de pais a fim

de consolidar a tão desejada parceria entre sociedade civil e ação

governamental. (MAZZOTTA, 2003).

Por outro lado, mais recentemente se tem registrado a organização dos

movimentos de pessoas com deficiência. Onde estes têm levado suas

necessidades ao conhecimento dos organismos governamentais em todos os

níveis da organização social e pouco a pouco percebe os fazendo esforços

para assegurar que, de alguma forma, suas necessidades sejam satisfeitas de

modo mais eficiente. (MIRANDA, 2008).

Reconhecer a importância da participação das pessoas com deficiência

no planejamento e na execução dos serviços e recursos a eles destinados é,

sem dúvida, um imperativo de uma sociedade que pretende ser democrática. A

28

capacidade de pressão dos grupos organizados por pessoas com deficiência

tem sido evidenciada na própria elaboração da legislação sobre os vários

aspectos da vida social, nos últimos dez anos no Brasil. (STRAPASSON,

CAERNIEL, 2007).

A Educação Especial brasileira segue o que determina a Lei de

Diretrizes e Bases (LDB), buscando sempre a inclusão e o melhor atendimento

aos alunos especiais (STRAPASSON, CAERNIEL, 2007).

Em conformidade com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial

na Educação Básica (BRASIL, 2001) o Brasil possui uma política educacional

inclusiva decorrente das diretrizes estabelecidas na Declaração Mundial de

Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990) e da Conferência Mundial

sobre Necessidades Educacionais Especiais: acesso e qualidade (Salamanca,

Espanha, 1994) (DE VITTA; SILVA; MORAES, 2004).

Na Conferência Mundial sobre Educação Especial, ocorrida em Salamanca, na Espanha, em 1994. Nessa conferência foi elaborado o documento Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais, que, inspirada na igualdade de valor entre as pessoas, propõe ações a serem assumidas pelos governos em atenção às diferenças individuais (CARVALHO, 1998, p. 146).

De acordo com a Declaração de Salamanca, o conceito de inclusão é

um desafio para a educação, na medida em que estabelece que o direito à

educação seja para todos e não só para aqueles que apresentam

necessidades educacionais especiais. (MIRANDA, 2008).

No Brasil, o órgão responsável pela educação da criança deficiente é a

Secretaria de Educação Especial (SEESP) do Ministério da Educação (MEC)

que determina que a educação especial é uma “[...] modalidade de educação

escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas

com necessidades educacionais especiais”. (BRASIL, 2000, p. 1).

2.1 A Educação Especial na atualidade no Brasil

Marcado pelo movimento da inclusão, o período atual refere-se a uma

nova maneira de ver a criança principalmente, as diversas maneiras de lidar

29

com as pessoas que apresentam deficiência refletindo a estrutura econômica,

social e política do momento. (MIRANDA, 2008).

Ao analisar a história da Educação Especial no Brasil, verifica-se a

evolução do atendimento educacional especial com características diferentes

daquelas observadas nos países europeus e norte-americanos. (MIRANDA,

2008).

A fase da negligência ou omissão que, pode ser observada em outros

países até o século XVII, no Brasil, pode ser estendida até o início da década

de 1950. Durante esse tempo, observa-se que a produção teórica referente à

deficiência mental esteve restrita aos meios acadêmicos, com escassas ofertas

de atendimento educacional para os deficientes mentais. (MIRANDA, 2008).

Em relação ao surgimento do movimento inclusivista na Educação,

Semeghini (1998), relata que o conceito de inclusão passou com o passar dos

anos a ser trabalhado na educação especial de forma diferente do conceito de

integração, no entanto, eles têm a mesma proposta que é inserir os alunos que

apresentam necessidades educacionais especiais no ensino regular.

A Educação Especial na atualidade pretende superar de uma educação

especial equivocada que responsabiliza o deficiente ou o seu meio próximo

pelas dificuldades de aprendizagem e de adaptação; exerce uma função

segregadora e excludente, e atua contra os ideais de inclusão e integração

social de pessoas com deficiência e a garantia de sua plena cidadania.

(OLIVEIRA, 2006).

Pode-se dizer que a integração passa a idéia de que a pessoa, para ser

inserida na escola regular, deve estar em condições para isso, ou em

condições de corresponder às solicitações feitas pela escola. Nesse sentido,

não se questiona sobre o papel e a função da escola, pois é ela quem dita o

modelo o qual o aluno deve seguir, enquanto a inclusão considera a inserção

de alunos através de outro ângulo, isto é, aquele que reconhece a existência

de inúmeras diferenças (pessoais, linguísticas, culturais, sociais e outros), e ao

reconhecê-las mostra a necessidade de mudança do sistema educacional que,

na realidade, não se encontra preparado para atender a essa clientela.

(MIRANDA, 2008).

A literatura especializada aponta grandes avanços recentes, mas, ao

mesmo tempo, revela imensas lacunas no conhecimento relativo a problemas

30

que envolvem os indivíduos especiais, suas famílias, a escola e a comunidade;

problemas cuja solução depende de investigação científica e de intervenção

que seja cientificamente embasada e avaliada. (MENDES, 2009).

No Brasil a educação inclusiva é ainda uma história a ser construída, e

as universidades podem contribuir para esse processo. Portanto, a ciência

torna-se essencial para que a sociedade brasileira busque contribuir, de

maneira intencional e planejada, para a superação de uma Educação Especial

equivocada que atua contra os ideais de inclusão social e plena cidadania. Por

outro lado, é necessário também que o processo de tomada de decisão política

privilegie mais as bases empíricas fornecidas pela pesquisa científica sobre

inclusão escolar. (MENDES, 2009).

No Brasil há procedimentos que geram dados que permitem subsidiar o

acompanhamento de políticas públicas educacionais, que adotam a

perspectiva da inclusão, sobre formação de professores (do ensino regular e

especial) e estratégias pedagógicas inclusivas que podem ser adaptadas para

a realidade brasileira. (ZANELLA, 2006).

Amplamente discutidas por estudiosos e pesquisadores da área de

Educação Especial, nota-se que o processo de inclusão no Brasil carece de

uma mudança da escola, pois trabalhar com todos os alunos tem sido um

grande desafio ao sistema escolar. A escola necessita de grandes

transformações, e estas devem sempre estar vinculadas a uma transformação

radical da própria sociedade. (MIRANDA, 2008).

Qualquer tentativa de inclusão deve ser analisada e considerada em

seus mais diversos aspectos, a fim de termos a garantia de que esta será a

melhor opção para o indivíduo que apresenta necessidades especiais

(CORREIA, 1997).

Atualmente, em todos os documentos referentes à educação dos

indivíduos com deficiência, o modelo da inclusão é o eixo norteador e o

atendimento segregado é visto como alternativa que deve ser evitada. Apesar

do predomínio de orientações inclusivistas, fica a preocupação do quanto o

eixo norteador pode se tornar realidade, pois sabemos que, ainda que os

alunos sejam matriculados em escolas regulares, esse fato por si só não altera

a qualidade de sua escolarização. (MIRANDA, 2008).

Assim sendo, o futuro da educação inclusiva no Brasil dependerá de um

31

esforço coletivo, que obrigará a uma revisão na postura de pesquisadores,

políticos, prestadores de serviços, familiares e indivíduos com deficiência, para

trabalhar numa meta comum que seria a de para garantir uma educação de

melhor qualidade para todos. (MENDES, 2009).

Os estudos de Godói; Galasso; Miosso (2003), mostraram que poucos

eram os casos de alunos com problemas neurológicos que conseguiam

progresso escolar para atingir o ensino médio e a universidade. As causas

tinham origens diversas, que variavam desde limitações próprias do quadro

neurológico até falta de acesso adequado ao sistema educacional do País. São

problemas estruturais que englobavam desde os cursos universitários, falta de

apoio no processo de formação continuada do professor, falta de equipe de

apoio que dê suporte pedagógico, terapêutico e psicológico à equipe escolar e

ao aluno para um trabalho realmente eficiente, além de:

a) dificuldades em encontrar escolas adaptadas e professores, se não capacitados, mas, ao menos, preparados para oferecer condições e oportunidades de desenvolvimento das potencialidades do aluno para aprendizagem;

b) dificuldades de acesso a tratamentos de reabilitação em locais especializados;

c) problemas socioeconômicos e culturais, gerando desconsideração e negligência pelo potencial da criança, ou superproteção que lhe transmite a idéia de ser incapaz. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 45),

Concluí-se que o paradigma da inclusão é recente na sociedade

brasiliera. Como qualquer situação nova, incomoda, provoca resistências,

desperta simpatia e também críticas, mas é necessário e urgente que

pesquisadores e professores compreendam melhor as complexidades do

cotidiano da sala de aula, especialmente quando se trata de alunos com

deficiência. (MIRANDA, 2008).

32

CAPÍTULO III

A EDUCAÇÃO DO ALUNO DEFICIENTE FÍSICO

3 OS RECURSOS E ADAPTAÇÕES DE MATERIAIS PEDAGÓGICOS

PARA EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE FÍSICO

O documento Salas de Recursos Multifuncionais. Espaço do

Atendimento Educacional Especializado publicado pelo Ministério da Educação

afirma que:

É necessário que os professores conheçam a diversidade e a complexidade dos diferentes tipos de deficiência física, para definir estratégias de ensino que desenvolvam o potencial do aluno. De acordo com a limitação física apresentada é necessário utilizar recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação buscando viabilizar a participação do aluno nas situações prática vivenciadas no cotidiano escolar, para que o mesmo, com autonomia, possa otimizar suas potencialidades e transformar o ambiente em busca de uma melhor qualidade de vida. (BRASIL, 2006, p. 29).

O comprometimento motor da criança com deficiência física torna-se

muito evidente nas diferentes situações de sala de aula nas quais o aluno

precisa mostrar condições de fazer, ou melhor, de executar as atividades de

exploração e manipulação de material e do próprio corpo, como recorte,

colagem, grafismo, entre outros. (DISCHINGER; MACHADO, 2006).

A movimentação corporal, assim como a coordenação motora fina da criança, poderá estar prejudicada por todos os problemas já relatados anteriormente. Por isso, vários aspectos de seu desempenho fogem ao padrão de normalidade, mostrando uma execução diferente, ou até podendo não conseguir realizar de forma nenhuma as atividades comuns. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 48).

Em todas as situações próprias ao desenvolvimento e à aprendizagem

da criança na sala de aula e na escola, o aluno com comprometimentos

motores deverá receber a atenção necessária para que possa delas participar,

dentro das suas possibilidades e com o seu jeito de atuar. Dessa forma, tendo

33

as mesmas oportunidades de participação e de execução, a criança se sentirá

valorizada e estimulada, desenvolvendo sua auto-estima e, pelas experiências

e oportunidades de interação social, terá condições de formar as estruturas

mentais básicas para aprendizagem. (DISCHINGER; MACHADO, 2006).

3.1 Recursos e adaptações para a escrita

Dentre os aspectos comunicacionais, a escrita é um dos principais tipos

de comunicação prejudicados pela deficiência física.

Segundo Godói; Galasso; Miosso (2003, p. 46) a escrita compõe-se por

“letras ou grafemas e requer usualmente condições motoras preservadas de

ombro, braço, antebraço, punho, mão, de preensão dos dedos e coordenação

motora fina para sua execução, seja em letra cursiva ou de forma”.

Atualmente, já existem adaptações para possibilitar à criança com

deficiência física a realizar o traçado da escrita. Estas adaptações podem ser:

a) aparelhos usados nas mãos para melhor prender o lápis, para quem apresenta alguma condição motora para a escrita. Nem sempre é preciso se prender à necessidade de aparelho próprio para isso porque a criatividade do professor é sempre um elemento facilitador. Verifica-se com o aluno onde melhor posicionar o lápis para sua escrita e prendê-lo com fita crepe, de forma que fique firme para proporcionar a escrita;

b) engrossamento de lápis que poderá ser feito com espuma de espessura adequada para a preensão do aluno ou, com massa do tipo epox revestindo todo o lápis. Se, após revestir o lápis com este tipo de massa, se fizer uma movimentação de ir e vir com o lápis dentro da massa, depois de seca ela poderá ser usada em outros lápis;

c) pulseiras com peso para controlar a movimentação involuntária, quando indicadas pelo terapeuta responsável. Deve-se tomar os devidos cuidados para que o peso demasiado ou menor que o necessário, ou, ainda, seu uso intensivo, não provoque outros danos;

d) capacete com uma ponteira que sai da base da testa ou do queixo, onde o professor encaixa o lápis para que, com a movimentação coordenada da cabeça, a criança possa processar a escrita;

e) uso de letras do alfabeto ou números em quadrados de madeira para construção da escrita de sílabas, palavras ou frases. A criança que usa esse tipo de material, provavelmente poderá precisar da ajuda de uma pessoa para transcrever sua produção para o caderno. Nessa situação, é preciso muito cuidado para que a pessoa que assume o papel para transcrição da escrita com as letras móveis não interfira na idéia, na ortografia, na organização, na concordância ou em nenhum outro aspecto do

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conteúdo elaborado e transmitido pelo aluno. Total fidelidade à produção do aluno significa respeito às suas possibilidades e individualidade.

f) o computador também poderá ser um recurso com o qual o aluno, fazendo dele o seu caderno eletrônico, digitará a sua .escrita.. Caso tenha movimentação involuntária, poderá ser usada sobre o teclado, uma placa de acrílico chamada .colméia., que tem um furo sobre cada caracter do teclado, possibilitando que o aluno direcione os dedos para os furos batendo uma tecla por vez. Algum elemento de adaptação para a escrita também poderá ser improvisado com materiais de uso diário, como por exemplo, no caso de a criança não conseguir usar seus dedos para teclar, e tendo condições de preensão com a mão, mesmo de forma irregular, poderá ser usado por ela um lápis, a embalagem vazia de qualquer caneta esferográfica, a seringa de injeção sem agulha, um pedaço de madeira com espessura e tamanho suficiente para esse uso, enfim, para a criatividade e inventividade do professor não pode haver obstáculos. (ARAÚJO; DI LORETO, 2008, p. 12).

Para que se possam utilizar adaptações como órteses (aparelhos para

mãos), pulseiras diversas, capacete com ponteira ou placa e letra imantadas

adequadamente há necessidade de indicação do fisioterapeuta ou terapeuta

ocupacional. (ARAÚJO; DI LORETO, 2008).

Na opinião de Godói; Galasso; Miosso (2003, p. 48)

Na fase em que se inicia o grafismo, é muito importante que o professor esteja atento ao tipo de movimentação de membros superiores que a criança com deficiência física apresenta, com objetivo de verificar quais as possibilidades de grafismo, do momento ou futuras. Muitas vezes, a prontidão para o grafismo poderá estar defasada em relação ao desenvolvimento da criança sem deficiência e, em alguns casos, a criança poderá não apresentar condições de escrita. Somente com o tempo e a estimulação adequada, respeitadas as possibilidades e potencialidades do aluno, é que ele poderá mostrar condições de escrita. Se ele apresenta condições, mas os movimentos de braços são amplos, fugindo ao espaço limitado de cadernos ou folhas de papel sulfite, esses materiais terão que ser adaptados ao espaço adequado a sua condição de movimentação, para o registro do grafismo. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 48).

A criança deficiente física tem dificuldades em fazer letra do tipo cursiva,

sendo mais fácil produzir a escrita, em letra de forma do tipo bastão (letra de

forma maiúscula). Desta forma, os exercícios repetitivos em cadernos de

caligrafia ou em outro material melhor adaptado podem melhorar a grafia

destes alunos. Ao longo de seu desenvolvimento, poderá apresentar melhora

no traçado. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Para isso, há a necessidade de adaptação do material pedagógico às

condições de manipulação e de uso da criança. Para esta adaptação o

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professor deve usar a criatividade e inventividade utilizando, principalmente,

material de sucata para esse fim, tais como: embalagens e tampas de material

de limpeza, caixas de diversos tamanhos (pasta dental, remédios, presentes,

sapatos, sabão em pó), latas com respectivas tampas, rolos vazios de papel

alumínio, tubos de filmes fotográficos e outros. Muita coisa poderá ser feita com

ajuda da comunidade, como, por exemplo, o marceneiro poderá fazer em

tamanho maior as peças de jogos de dominó, números e letras do alfabeto,

peças do material dourado, dos blocos lógicos entre outros, sempre com o

tamanho de acordo com a visualização e capacidade de manipulação e

preensão da criança. (SOUSA; SOUSA, 2010).

3.2 Recursos e adaptações para as Atividades da Vida Diária (AVD’s)

É importante destacar que, na educação infantil, constitui aspecto

relevante a aquisição de conceitos relacionados às atividades de vida diária, à

saúde e independência pessoal e social. Nessa perspectiva, as crianças que

apresentam comprometimentos motores relacionados à preensão e

coordenação poderão adquirir maior grau de independência com a utilização de

algumas adaptações nos utensílios usados para alimentação e higiene.

(SOUSA; SOUSA, 2010).

Algumas adaptações básicas de material de uso diário são importantes:

a) bandejas ou tábuas com recortes para copos e pratos que podem ser presos sobre a mesa com ventosas ou outro sistema de fixação, evitando que escorreguem ou caiam, sendo indicado especialmente para crianças com incoordenação olho-mão-mão-boca;

b) pratos com ventosas, com bordas altas, que permitem a fixação na mesa ou bandeja, impedindo que a comida se espalhe, indicado para crianças com incoordenação motora manual;

c) copos adaptados com bases mais pesadas, indicadas para inibição dos movimentos involuntários;

d) copos com duas alças para favorecer a simetria dos membros superiores e coordenação bimanual;

e) copos com bordas recortadas, para evitar a extensão da cabeça e probabilidade de aspiração;

f) talheres, pentes e escovas de dente adaptados quanto ao tamanho, tipos e angulações, com engrossamento de cabos revestidos de espuma, e epóxi ou outros materiais, permitindo melhorar a preensão. As angulações proporcionam melhor desempenho motor em relação à coordenação mão-boca, em

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casos de desvios ulnares; g) lápis com diâmetro engrossado por várias camadas de fita crepe,

argila, espuma, massa do tipo epóxi ou outro material; h) evitar o uso de cadernos para a realização de atividades da

criança, porque não podem ser bem fixados, e também pela diferença de altura com relação à mesa ou carteira;

i) para o traçado ou execução de atividades da criança, usar papel maior que o sulfite padronizado, que é do tamanho A4. Pode-se usar o papel manilha, popularmente conhecido como papel de embrulho, que é encontrado em lojas de armarinho, de tecidos, papelarias e armazéns, e pode ser em rolo; folhas de sulfite de tamanho A1, ou outro tipo de papel que poderá ser adaptado para esse fim;

j) o papel deverá estar preso nas quatro pontas com fita crepe larga com grande capacidade de aderência para suportar os movimentos de traçado da criança;

k) as atividades preparadas pelo professor deverão ter traçado grosso feito com pincel atômico em tamanho grande para melhor visualização, percepção e entendimento da criança;

l) o traçado de desenhos, letras e números deverá ser feito na cor preta, em papel de fundo branco ou da cor gelo;

m) os desenhos apresentados nas diversas atividades deverão ter contorno grosso, ser simples, com poucos elementos e sem detalhes, para que sua visualização identificação ou reconhecimento fiquem mais acessíveis para a criança;

n) para melhor percepção pela criança, as figuras geométricas, letras e números usados no processo inicial de manipulação (em tamanho grande e de preferência de madeira) deverão ser revestidos com lixa na face principal. Na manipulação, resultados melhores são alcançados quando o professor orienta, passo a passo, quais os movimentos que a criança deve seguir para perceber e construir a idéia do objeto pesquisado;

o) os primeiros exercícios de percepção do traçado no papel poderão apresentar melhores resultados se, por baixo da folha que a criança estiver usando, for colocada uma folha de lixa de madeira, iniciando-se pela mais grossa e áspera e ir gradualmente trocando-a por outras mais finas. É importante ressaltar que cada fase em que se objetiva estimular os diferentes tipos de percepção do aluno tem um ritmo e tempo próprios, devendo-se considerar especialmente as características de cada criança. O professor deverá estar atento ao momento em que foi superado um desafio, para só então provocar outro;

p) assim como as folhas de atividades deverão ser presas nos quatro cantos com fita crepe, no caso do uso de caderno, o mesmo procedimento precisa ser tomado;

q) é importante para a criança explorar e vivenciar concretamente todo tipo de percepção com o próprio corpo, com o professor fazendo o movimento com ela quando existe a impossibilidade de fazê-lo sozinha, contribuindo para formar suas estruturas mentais básicas para a aprendizagem;

r) as atividades com papel deverão ser poucas e organizadas, de forma que facilitem a visualização, compreensão e execução da criança;

s) alguns alunos poderão encontrar maior facilidade visual e de organização se o material (folha, caderno, livro e outros) for colocado sobre a prancha elevatória que aproxima e permite melhor visualização e manipulação para execução do aluno;

t) quando a criança se encontrar na fase de construção da escrita, as linhas das folhas deverão ser feitas com pincel atômico e com espaço entre linhas de acordo com o tamanho da letra que ela

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produz. Muito lentamente, à medida que adquire maior compreensão do espaço para escrita e segurança no traçado, o espaço entre linhas poderá ser diminuído gradativamente. Somente quando ela dominar o novo espaço poder-se-á introduzir um novo desafio;

u) para a criança que apresenta dificuldade de percepção espacial (quando não consegue encontrar determinada letra no meio de outras, perdendo-se e frustrando-se) o professor poderá providenciar uma tira de cartolina ou papel cartão nas cores branca ou preta, onde fará uma .janela. que é um buraco de forma retangular de tamanho suficiente para destacar a letra ou número em questão. O professor colocará a janela sobre o papel onde se encontram as letras deslizando-a sobre elas, uma a uma, até que a letra seja localizada e reconhecida pela criança;

v) quando a criança apresenta dificuldades motoras acentuadas que a impedem de fazer uso da comunicação escrita (quando não consegue escrever), deverá ser valorizada e estimulada a sua comunicação oral;

w) no que diz respeito ao melhor posicionamento na sala de aula para as diversas atividades e às adaptações ou confecções de mobiliário específico, a responsabilidade cabe à equipe de apoio e, particularmente, ao fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 52).

3.3 Recursos e adaptações para o mobiliário

A postura é um dos fatores mais importantes relacionados ao

rendimento escolar, portanto, deve-se estar atento à postura sentada da

criança na sala de aula, de maneira que o corpo fique reto (e não dobrado,

curvado ou torcido), os braços devem estar apoiados, alinhados e afastados

dos lados do corpo, as mãos devem estar na frente dos olhos para melhor

função durante a atividade escolar e alinhamento do corpo e a distribuição do

peso deve ser igualmente sobre os dois lados do corpo, sobre os braços,

quadris, joelhos e pés. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Porém, nem todas as crianças conseguem ficar na posição sentada, em

muitos casos faz-se necessário o uso de suportes, almofadas nas laterais das

coxas, apoios laterais para o tronco e apoio para a cabeça e os pés devem

estar sempre apoiados sobre uma base firme. (SCHIRMER et al., 2007).

Não existe um posicionamento padrão funcional do sentar. Cada indivíduo terá a necessidade de encontrar uma posição individual, conforme a atividade que estiver realizando. A posição mais adequada a cada aluno será a que oferecer conforto e possibilidade de viver plenamente. O sentar normal consiste em posicionar diferentes partes do corpo em ângulos de 90º. (SCHIRMER et al., 2007, p. 23).

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A atenção à postura sentada é de grande importância, pois provê os

benefícios de normalizar ou diminuir as influências neurológicas anormais;

manter o alinhamento do corpo e controlar ou prevenir deformidades e/ou

contraturas; aumentar a estabilidade do corpo, aumentando a função dos

membros superiores; diminuir a fadiga; aumentar o tempo de tolerância na

postura sentada, pois a criança se sente confortável; facilitar os padrões

normais de movimento. (SCHIRMER et al., 2007).

Na escola, para que o aluno fique corretamente posicionado existem as

cadeiras de posicionamento com encosto reto e as com encosto sextavado. As

cadeiras com encosto reto são usadas de forma mais comum nos casos de

paralisia cerebral, tipo espástico, pois favorecem um bom alinhamento do

corpo, permite que os membros superiores fiquem livres para a realização das

atividades. Já as cadeiras com encosto sextavado são usada mais nos casos

de crianças portadoras de paralisia cerebral coreoateóide, de maneira a

favorecer a inibição da retração da cintura escapular, trazendo os membros

superiores para a linha média. (SCHIRMER et al., 2007).

Além das cadeiras de posicionamento existem também as cadeiras de

chão usadas pela maioria das crianças, contudo cabe ressaltar que devemos

estar atentos quanto às medidas da cadeira, como a profundidade, largura e

altura, para permitir que a criança possa sentar-se sobre os ísquios, apoiar as

costas no encosto, e apoiar os pés no solo. Também pode ser importante que a

cadeira tenha braços nas laterais para uma maior segurança da criança e para

facilitar as mudanças posturais. (SCHIRMER et al., 2007).

O cavalo de abdução, outro mobiliário para melhor posicionamento do

aluno, é colocado tanto na cadeira de chão quanto nas cadeiras de

posicionamento e serve para manter os membros inferiores abduzidos (joelhos

afastados). (SCHIRMER et al., 2007).

O cantinho é usado para criança sentar-se nas atividades desenvolvidas

no chão. A mesa com recorte permite um melhor apoio dos membros

superiores durante a realização das atividades, e encaixa-se com a cadeira de

chão. Na forração das espumas do mobiliário deve-se utilizar material

antiderrapante, a fim de que as crianças não escorreguem nas cadeiras.

(GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Outro aspecto importante a ser observado refere-se à posição do aluno

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na sala de aula e à organização do mobiliário. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO,

2003).

No caso das crianças com movimentação involuntária, é importante que ela se sente no meio da sala, em frente à lousa, para maior simetria. No caso de crianças com paralisia cerebral hemiparesia, deixar o melhor amigo do lado comprometido, como também os seus materiais, visando que a criança faça transferência do peso para aquele lado, bem como estimular o uso de ambas as mãos. Crianças com maior dificuldade de atenção devem ser sentadas mais à frente, próximas à lousa. Verificar a interferência de estímulos na sala de aula que possam desviar a atenção do aluno. Verificar a iluminação da sala de aula e a presença de reflexo da luz no quadro negro. Verificar a cor do quadro de giz, bem como a cor do giz utilizado para melhor visualização do que é escrito. O posicionamento do professor frente ao aluno deverá favorecer o contato .olho a olho. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003, p. 45).

A escola deverá buscar orientações sobre os recursos, procedimentos,

mobiliários e outras adaptações necessárias ao desenvolvimento da criança

junto a profissionais da área de reabilitação nos postos de saúde mais

próximos. (GODÓI; GALASSO; MIOSSO, 2003).

Todos os indivíduos possuem potencialidades a serem desenvolvidas.

Cabe ao professor, criar situações e adaptações tais que as barreiras e/ou

comprometimentos físicos e sensoriais não impeçam o potencial criador dos

portadores de necessidades educacionais especiais. (GODÓI; GALASSO;

MIOSSO, 2003).

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CONCLUSÃO

A inclusão da criança deficiente na escola deve estar na meta de todos

os que trabalham com essas crianças, na medida em que o ambiente escolar é

determinante para a experimentação de uma diversidade maior de atividades.

É na escola que a criança desenvolve suas habilidades e capacidades,

superando dificuldades e descobrindo que é parte integrante e atuante de uma

sociedade.

Assim, cabe aos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem

garantir a educação da pessoa portadora de necessidades educativas

especiais, através de ações educativas que traduzem-se em esforços de

sensibilização e de promoção da capacitação da comunidade escolar.

O ambiente inclusivo promove aos alunos a aprendizagem do

comportamento ativo diante dos desafios do meio escolar, abandonando, na

medida do possível, os condicionamentos, a dependência que lhes são típicos,

sejam com ou sem deficiências.

Para que essa inclusão venha a acontecer de forma natural, é necessário

que a escola busque alternativas para melhor receber e atender os alunos com

necessidades especiais independente da sua gravidade, pois incluir esses alunos

é recebê-los com respeito e procurar ao máximo valorizar cada um deles, sendo

de suma importância para sua formação enquanto individuo pensante e capaz de

se desenvolver plenamente.

Em resposta ao questionamento deste estudo, pode-se dizer que o

estudo permitiu verificar que alguns fatores ligados à educação da criança

deficiente são apresentados constantemente nas respostas de pesquisas,

revelando indícios importantes em relação aos conceitos de professores e às

condições de trabalho em que se encontram.

As pesquisas auxiliam professores com recursos e adaptações

importantes para o conforto e a ensino-aprendizagem da criança com

deficiência física. Porém, estes devem estar disponíveis em todos os

estabelecimentos de ensino para que haja a possibilidade de inclusão e

educação da criança com deficiência. Professores devem ser orientados e se

capacitarem para tal.

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Assim sendo, programas de apoio e formação continuada são relevantes

e essenciais devendo, no entanto, vincularem-se à prática, tomando-a como

ponto de partida. As dificuldades atribuídas à deficiência no processo de

ensino-aprendizagem são reais e vividas pelos participantes. As dificuldades e

necessidades devem ser consideradas quando se pensa em estruturar um

trabalho efetivo nessa área, pois os professores são atores importantes no

cenário da inclusão da criança deficiente físico e conhecem a realidade que se

apresenta.

Estudos que aprofundem o atual cenário da educação da criança

deficiente física poderão esclarecer ainda mais sobre o tema desta pesquisa.

Sendo assim, os objetivos do trabalho foram atingidos.

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REFERÊNCIAS

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