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A EFETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NO MERCOSUL E NA UNIÃO EUROPÉIA Grupo de Pesquisa sobre Cidadania e Direitos Fundamentais (Linha de Pesquisa sobre Integração Regional) do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia (PPGD/UFBA), em associação com o GERCIE (Grupo de Estudo e Pesquisa sobre a Cooperação Internacional e Européia) da Universidade François-Rabelais, Tours/França.

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A EFETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NO MERCOSUL E NA UNIO EUROPIAGrupo de Pesquisa sobre Cidadania e Direitos Fundamentais (Linha de Pesquisa

sobre Integrao Regional) do Programa de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal da Bahia (PPGD/UFBA), em associao com o GERCIE (Grupo de Estudo e Pesquisa

sobre a Cooperao Internacional e Europia) da Universidade Franois-Rabelais, Tours/Frana.

COORDENADOR:

SAULO JOS CASALI BAHIAJuiz Federal (SJBA) e Professor Adjunto (UFBA). Doutor em Direito (PUC-SP).

Lder do Grupo de Pesquisa sobre Cidadania e Direitos Fundamentais Linha de Pesquisa sobre Integrao Regional/PPGD-UFBA

2010Salvador Bahia

A EFETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NO MERCOSUL E NA UNIO EUROPIAGrupo de Pesquisa sobre Cidadania e Direitos Fundamentais (Linha de Pesquisa

sobre Integrao Regional) do Programa de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal da Bahia (PPGD/UFBA), em associao com o GERCIE (Grupo de Estudo e Pesquisa

sobre a Cooperao Internacional e Europia) da Universidade Franois-Rabelais, Tours/Frana.

O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, en dade do Governo Brasileiro voltada para a formao de recursos humanos.Publicao do Programa de Ps Graduao em Direito da Universidade Federal da Bahia (PPGD/UFBA).

Editorao eletrnica e produo grfi ca: Editora Paginae E-mail: [email protected]

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DIREITO UFBACoordenadora: Mnica Neves Aguiar da SilvaVice-coordenador: Paulo Roberto Lyrio Pimenta

Corpo docente: Ana Paula Costa e Silva. Doutora Universidade de Lisboa (Professora Colaboradora) Alessandra Rapassi M. Prado (Doutora, PUC/SP) Celso Luiz Braga de Castro (Doutor, UFPE/PE) David Nathan Cassuto. (Doutor) Dirley da Cunha Junior. (Doutor, PUC/SP) Edilton Meireles de O. Santos (Doutor, PUC/SP) Edvaldo Pereira de Brito (Doutor, USP/SP) Fredie Souza Didier Jnior (Doutor, PUC/SP) Heron Jos de Santana Gordilho (Doutor, UFPE) Geisa de Assis Rodrigues (Doutora, UERJ/RJ) Luiz de Pinho P. da Silva (Livre Docente, UFBA) Maria Auxiliadora Minahim (Doutora, UFRJ) Marilia Muricy Machado Pinto (Doutora, PUC/SP) Manoel Jorge e Silva Neto (Doutor, PUC/SP) Mnica Neves Aguiar da Silva (Doutora, PUC/SP) Nelson Cerqueira (Doutor, Indiana University/EUA) Paulo Roberto Lyrio Pimenta (Doutor, PUC/SP) Paulo Csar Santos Bezerra (Ps-Doutor, U. Coimbra Portugal) Ricardo Maurcio Freire Soares (Doutor, UFBA) Rodolfo Mrio Veiga Pamplona Filho (Doutor, PUC/SP) Roxana Cardoso Brasileiro Borges (Doutora, PUC/SP) Saulo Jos Casali Bahia (Doutor, PUC/SP) Sebas an Borges de Albuquerque Mello (Doctor., UFBA) Selma Pereira de Santana (Doctora, U. Coimbra/ Portugal) Washington Luiz da Trindade (Livre Docente, UFBA) Wilson Alves de Souza (Doutor e Ps-Doutor, U. Coimbra/Portugal)

Endereo: FACULDADE DE DIREITO UFBA (Sala do PPGD, 2 andar Rua da paz, s/n, Graa, Salvador, Bahia CEP 40.150-140 E-mail: ppgd@u a.br Telefax (71) 3017-2814)

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SUMRIO

Apresentao .......................................................................................................... 7

I. La dmocratie participative: un processus permanent pour mieux respecter les Droits Humains (Le cas du Venezuela) ............... 9

A democracia participativa: um processo permanente para melhor respeitar os direitos humanos (o caso da Venezuela)Andrs Bansart

II. Circulao de pessoas e convalidao de diplomas de nvel superior no Mercosul ..................................................................... 27Brbara Araujo Medeiros e Roberta Pires Alvim

III. Banco Central e moeda nica no Mercosul: sopesando as vantagens e as desvatagens da integrao econmica ............ 49Bethnia Amaro e Pedro Leal Fonseca

IV. Efetividade do direito fundamental sade no Mercosul (preliminar) ............................................................................ 63Bouzid Izerrougene

V. A evoluo do tratamento da matria ambiental no Mercosul .................... 73Carlos Alberto Almeida Cerqueira Junior

VI. Controvrsias relativas regulao, por meio de tratados, de matria tributria ordinariamente de competncia exclusiva dos estados brasileiros: aplicao do princpio do tratamento nacional ao Mercosul ........................................................ 95Christiane Andrade Alves

VII. O sistema de soluo de controvrsia no Mercosul: evoluo histrica e perspectivas atuais ...................................................... 117Clarissa Ramalho

VIII. O papel do juiz para a efetivao da integrao sul-americana: a solicitao de opinies consultivas ao Tribunal Permanente de Reviso do Mercosul pelo Supremo Tribunal Federal ........................... 141Cludio Azevdo da Cruz Oliveira

IX. Leffectivite des droits fondamentaux dans le secteur de la sante, sous le prisme de lUnion Europeenne ..................................... 165

A efetividade dos direitos fundamentais no setor da sade, sob o prisma da Unio EuropiaDiane Roman

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SAULO JOS CASALI BAHIA

X. A importncia do Parlasul na concretizao dos direitos humanos e da cidadania no Mercosul ...................................... 201Efson Batista LimaMax Bandeira

XI. Caminhos rumo regulao da livre concorrncia no mbito do Mercosul ................................................................................ 227Felipe Barroco Fontes Cunha

XII. Anotaes sobre o acesso a justia das demandas individuais e coletivas no Mercosul ..................................... 253Geisa de Assis Rodrigues

XIII. Regard dun economiste sur leffectivite des droits fondamentaux en Europe ............................................................ 281 Viso de um economista sobre a efetividade dos direitos fundamentais na EuropaGervasio Semedo

XIV. Leffectivite des droits culturels en Europe ................................................. 311 A efetividade dos direitos culturais na EuropaIsabelle Hannequart

XV. Leffectivite des droits fondamentaux dans lunion Europenne .................. 367 A efetividade dos Direitos Fundamentais na Unio Europia

Jean Rossetto

XVI. Livre circulao de bens, servios e fatores de produo no Mercosul ...... 383Ligia Rocha

XVII. Alca & Mercosul ......................................................................................... 415 Rafael Barros Barbosa

XVIII. Derechos sociales en el Mercosur (anlisis de la declaracin sociolaboral del Mercosur como proyecto regional para el trabajo decente) .................. 449

Direitos sociais no Mercosul (anlise da declarao sociolaboral do Mercosul como projeto regional para o trabalho condigno)Rodolfo Capn Filas

XIX. O Mercosul e seus projetos institucionais ................................................... 529Saulo Jos Casali Bahia

XX. O Mercosul e suas relaes com a ALCA e a Unio Europia ................... 539Saulo Jos Casali Bahia

XXI. Protocolos de cooperao jurdica no Mercosul ......................................... 547Yves WesT Behrens

APRESENTAO

O presente livro rene artigos de renomados professores brasileiros e es-trangeiros, participantes em abril/2008 do colquio internacional A Efetivida-de dos Direitos Fundamentais no Mercosul e na Unio Europia, organiza-do pelo Programa de Ps Graduao em Direito da Universidade Federal da Bahia (PPGD/UFBA), em associao com o GERCIE (Groupe dtude et de Recherche sur la Coopration Internationale et Europenne/Grupo de Estu-do e Pesquisa sobre a Cooperao Internacional e Europia) da Universidade Franois-Rabelais, Tours/Frana.

Rene ainda artigos produzidos por diversos membros do Grupo de Pes-quisa sobre Cidadania e Direitos Fundamentais (Linha de Pesquisa sobre In-tegrao Regional) do PPGD/UFBA, registrado no Diretrio de Grupos de Pesquisa do CNPQ desde 2002, tendo sido aquele colquio uma de suas ati-vidades planejadas.

O PPGD/UFBA e o GERCIE/Tours vem consolidando forte cooperao acadmica internacional, e desde 2006 implementam uma poltica de simp-sios bianuais, alternadamente no Brasil e na Frana.

O relacionamento entre o PPGD/UFBA e o GERCIE/Tours foi iniciado no ano de 2000. A iniciativa deve-se a Isabelle Hannequart, ento vice-pre-sidente da Universidade Franois-Rabelais de Tours, responsvel pelo setor de relaes internacionais, com o apoio do escritrio de cooperao da Fran-a em Salvador (SCAC). Um acordo-quadro inicial (2000-2005) foi fi rmado com a UFBA para intercmbio em diferentes reas, como literatura e direito. Seguiu-se uma primeira misso de um membro do GERCIE em Salvador, consistente em trs semanas de atividades na Faculdade de Direito/UFBA, com vrias intervenes sobre a questo dos direitos humanos e sobre direito das minorias. Esta iniciativa, secundada pela vice-presidncia, iniciou um re-lacionamento agora permanente de desenvolvimento da atividade cientfi ca. O GERCIE coordenado pelo professor Jean Rossetto, e hoje rene uma equipe de 43 membros, entre juristas de direito pblico (direito europeu e direito in-ternacional) e economistas.

O primeiro simpsio foi realizado em Tours, em abril de 2006 com o t-tulo UE-Mercosul entre a concorrncia e a solidariedade. Este simpsio contou com abordagens jurdicas e econmicas, e permitiu a comparao das experincias de integrao e das relaes institucionais entre as duas orga-nizaes regionais, a partir do Acordo-Quadro de Cooperao Econmica e

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Comercial, de dezembro de 1995, que liga as duas entidades. Os anais foram publicados pela Editora LHarmattan (Paris) sob a direo de Isabelle Hanne-quart em abril de 2008 (376 pginas).

O segundo simpsio foi realizado em Salvador em abril de 2008. O co-lquio elegeu o tema A efi ccia dos direitos fundamentais no Mercosul e na Unio Europia, e buscou analisar os aspectos gerais da efetividade dos direitos fundamentais, nos prismas jurdico e econmico, na Unio Europia e no Mercosul, com nfase nos direitos representao democrtica, liber-dade, igualdade, sade, ao meio ambiente, ao trabalho, educao, cul-tura e ao acesso Justia. Este evento teve apoio da Fundao Faculdade de Direito da Bahia, da CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior), da Associao dos Procuradores do Estado da Bahia, da ANPR (Associao Nacional dos Procuradores da Repblica) e da Faculdade Baiana de Direito.

Colocou-se os direitos humanos no centro de duas integraes regionais, que ainda so banhadas pela jurisprudncia produzida por instituies judici-rias regionais especfi cas (Corte Europia dos Direitos do Homem, Tribunal de Justia da Unio Europia e Corte Interamericana de Direitos Humanos), elas prprias que interagem com um ambiente internacional no sentido da glo-balizao econmica e jurdica.

Estes colquios permitiram em paralelo reunies de trabalho entre os dois lados, abrindo perspectivas mais amplas para a pesquisa e o intercmbio es-tudantil e acadmico.

Um terceiro simpsio est previsto para Tours, em outubro/2010, prosse-guindo-se as discusses ocorridas nos simpsios anteriores, que destacaram o impacto das injunes legais internacionais e da dinmica econmica das duas integraes, e as especifi cidades das duas integraes no contexto global. Ele ir analisar a forma como as duas organizaes comportam-se, quer como re-transmissores de normas globais ou refgios para perturbaes internacionais, ou ainda como fontes da ordem mundial.

Atravs destas colaboraes, os laos entre as duas equipes so refora-dos at ao ponto de considerar um espao comum de investigao dedicada ao trabalho conjunto, com base na experincia adquirida e consolidada por j uma dcada de intercmbios regulares.

Setembro/2010.

Prof. Dr. Saulo Jos Casali BahiaCoordenador

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SAULO JOS CASALI BAHIA

I.LA DMOCRATIE PARTICIPATIVE:

UN PROCESSUS PERMANENT POUR MIEUX RESPECTER LES DROITS HUMAINS

(LE CAS DU VENEZUELA)Andrs Bansart*

SOMMAIRE: Introduction 1. Droit lidentit 2. Droit la mmoire 3. Droit la diversit 4. Droit lducation mutuelle 5. Droit lco-dveloppement et au dveloppement endogne 6. Droit un environnement naturel et humain sains 7. Droit la terre et leau 8. Droit la sant physique, mentale et sociale 9. Droit un travail utile, reconnu et rmunr de manire quitable 10. Droit lin-formation et la communication 11. Droit une culture autochtone et la culture universelle 12. Perspectives.

INTRODUCTIONLorsque jai reu le programme de ce colloque, je me suis rjoui de voir

que celui-ci allait tre interdisciplinaire, en plus de son caractre interuniver-sitaire et international. Toutes ces dynamiques dchange nous permettront de cerner diffrents problmes, de les comparer et de trouver des pistes nouvelles pour avancer.

Une autre chose que jai immdiatement apprcie, cest la locution qui est utilise ici au Brsil ou par les organisateurs du colloque pour dsigner les Droits Humains. On a dabord parl des Droits de lHomme (cela ds 1789). Au dbut, il tait fait rfrence aux droits de gens du sexe masculin; et les droits de la femme ntaient pas assurs. Puis, le mot Homme a dsign tout le genre humain. Mais la locution Droits fondamentaux me semble meilleure parce quil sagit des fondements mme de nos socits.

Dans certains documents en relation avec les Droits Humains dans le Mercosur, jai lu aussi le terme Droits essentiels. Celui-ci me plat aussi beaucoup. Il sagit de lessence mme de ltre humain. Sans ces Droits, ltre nexiste pas, il deviendrait un sous-tre.

* Vnzuelien, Directeur de lInstitut des Hautes Etudes dAmrique Latine et de la Carabe (Universidad Latinoamericana y del Caribe, Parlement Latino-amricain), Professeur titulai-re de la Universidad Simn Bolvar (Caracas), Professeur mrite de lUniversit Franois Rabelais (Tours).

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Pour ma part, janalyserai ces droits fondamentaux partir de la ralit concrte du Venezuela, et des propositions qui y sont faites actuellement. Vo-lontairement donc, je vais me situer dans le contexte dune dmarche politique bien prcise. Il ne sagit pas, bien sr, de faire du proslytisme, mais de rfl -chir sur ce que voudraient tre ces Droits dans le processus de transformation en marche au Venezuela.

Je me baserai sur la Constitution de 1999, qui est actuellement en vigueur, mais aussi sur les propositions qui furent faites par lexcutif national pour amender cette mme constitution. Comme vous le savez sans doute, le rf-rendum constitutionnel du 6 dcembre 2007 a t remport par lopposition avec moins de 1% davantage. La dmocratie a t respecte. Nous conti-nuons donc fonctionner avec cette Constitution qui, pour beaucoup, semble incomplte ou imparfaite; mais nous nabandonnons pas les ides mises pour la transformation dsire par presque la moiti de llectorat.

Jinterprte les propositions de la rvolution bolivarienne et du socialisme du XXIme sicle comme celles dun cosocialisme. Il sagit ici dune inter-prtation personnelle. Celle-ci devrait me permettre de mener au plus loin, dun point de vue thorique, ce que lon pourrait entendre comme les Droits fondamentaux dans ce contexte prcis.

Un des points, quil me semble important de relever, cest qu tout Droit correspond un Devoir. Souvent, il sagit du devoir de celui-l mme qui est bnfi ciaire du Droit. Puis, videmment, au Devoir quont lEtat, les gouver-nements et autres institutions charges de les faire respecter et de donner les moyens pour quils soient respects.

Un nombre important des articles de la Constitution se rfrent directe-ment aux Droits Humains: cent dix articles neuf runis dans neuf chapitres. Dans le dixime chapitre de cette partie de la Constitution, six articles sont consacrs aux Devoirs. Personnellement, mais sans porter de jugement de va-leur, je ferais un quilibre plus grand entre les Obligations et les Droits.

La dmocratie participative, qui est un des fondements du socialisme du XXIme sicle prn par le mouvement chaviste, me semble un bon exemple de cette relation entre Droit et Devoir. Les citoyens ont le Droit non seulement de recevoir les bnfi ces dune certaine dmocratie dite reprsentative (trs relative et fort loigne des citoyens), mais ils ont le Droit de participer di-rectement la res publica, la chose publique, la conduction de la Rpu-blique. A ce Droit correspond un Devoir de participation. Si on ne fait jouer que le Droit, le risque est grand de vite se retrouver dans un systme populiste qui serait prcisment loppos de la dmocratie participative.

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Le degr de participation sera, dans les annes qui viennent, un bon test pour mesurer lvolution du projet socialiste ou son chec. Dans une premire phase, il y a bien sr un leader qui incarne les besoins du peuple, ses dsirs encore mal exprims, sa volont titubante. Il exprime les intuitions du peuple, son dsir de participer qui nest pas encore une volont. Il parle au nom des couches populaires pour prciser quels sont les Droits de celles-ci; il propose aussi des mesures pour que les citoyens puissent eux-mmes prciser et exiger leurs Droits et soient capables de comprendre leurs Devoirs.

Petit petit, on devrait aller vers la dmocratie directe et un socialisme dautogestion rellement endogne o les communauts de base soient ca-pables de dfi nir leurs Droits et ceux des autres, dfendre ceux-ci et assumer leurs propres obligations.

Ce dont je vais parler aujourdhui au sujet des Droits fondamentaux vus partir du processus vnzuelien, ce nest donc pas la ralit vraie daujourdhui, sinon les dynamiques engages partir de 1998 et surtout de 2002 vers une dfi nition de ces Droits et vers un engagement populaire pour assumer les De-voirs dans ce que jaime appeler un cosocialisme.

Quels sont ces Droits fondamentaux dans loptique de la dmocratie par-ticipative quon tente de mettre en route au Venezuela? Je vais me permettre dnumrer un certain nombre de Droits, qui nous semblent fondamentaux, aller le plus loin possible dans lexigence, qui nous parat tre de mise, et iden-tifi er les Devoirs qui leur correspondent.

Comme nous parlons du projet dune socit socialiste, lorsque nous par-lons de ltre humain, nous nous rfrons ltre collectif aussi bien quaux tres individuels qui le conforment. Souvent, nous mettrons plutt laccent sur le premier plutt que sur le second.

Nous allons nous rfrer certains Droits accepts par la plupart des so-cits de la plante (au moins en thorie), mais nous allons interprter ceux-ci dans loptique du socialisme du XXIme sicle propos au Venezuela et voir jusquo il nous semble ncessaire daller avec chacun deux pour atteindre le seuil des objectifs quil poursuit. Nous allons nous rfrer aussi des Droits dont on parle sans doute moins et qui nous paraissent indispensables de pren-dre en compte hic et nunc, ici dans ces Amriques, qui tentent de se refaire, et maintenant au XXIme sicle.

1. DROIT LIDENTIT

Si ltre collectif ou ltre individuel ne peut se nommer, sidentifi er, dire lAutre qui il est, la socit restera fragmente. Or, cest ce qui sest pass et continue se passer dans beaucoup de pays dans nos Amriques.

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De nombreux tre collectifs sont rests en marge de nos socits durant plusieurs sicles: les communauts originaires dabord, celles-l mme dont les Droits furent bafous ds larrive des Europens sur le continent qui allait sappeler Amrique; puis, les communauts des afro-descendants, des descen-dants des esclaves amens dAfrique par la force et qui, aprs labolition de lesclavage, se sont retrouvs avec des bribes et morceaux didentits confu-ses et face au racisme des socits qui avaient lEurope et les Blancs comme modles.

Dans les prambules de la Constitution de la Rpublique Bolivarienne du Venezuela, le pays se dfi nit dans le but dtablir une socit dmocratique, participative et protagonique, multiethnique et pluriculturelle. Je souligne les adjectifs multiethnique et pluriculturelle. Ensuite, larticle 9 prcise La langue offi cielle est le castillan. Les langues indignes sont galement utilises comme langues offi cielles pour les indignes et doivent tre respec-tes sur lensemble du territoire de la Rpublique par le fait de constituer un patrimoine culturel de la Nation et de lHumanit.

Plusieurs autres pays de nos Amriques ont incorpor des articles sem-blables dans leur propre constitution, la fi n du XXme sicle ou au dbut du XXI. Et les constituantes poursuivent actuellement leurs travaux dans plu-sieurs pays spcialement multiethniques comme la Bolivie et lEquateur pour permettre tous les tres collectifs jouir du Droit lidentit.

Quant aux individus, nombre dentre eux navaient jamais eu, au Venezue-la, de carte didentit. Ils taient ainsi exclus de la socit. Pour la socit, ils nexistaient pas et ne pouvaient donc exercer aucun de leurs Droits. Des op-rations massives ont eu lieu pour donner voix et vote tous ces citoyens.

2. DROIT LA MMOIRE

Il ny a pas didentit possible et, partant, pas de participation ni de projets possibles sans mmoire. Dans des pays, comme le Venezuela, o lHistoire a t crite par le colonisateur dabord, puis par une classe sociale privilgie, il y a une distorsion de lHistoire.

O est lHistoire des peuples originaires, lHistoire des esclaves, lHistoi-re des paysans pauvres, lHistoire des femmes battues, violes et dlaisses? O est lHistoire des marrons poursuivis, des sans-terres, des sans-papiers? O est lHistoire de la souffrance, de la douleur, de labandon? O est lHis-toire des muets de lHistoire?

Mme lorsquon clbre les grands faits de nos indpendances, on se sou-vient de quelques noms, mais se souvient-on de ces milliers et milliers de gens

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qui ont donn leur vie pour que nous puissions devenir ce que nous voudrions tre.

Qui a crit lHistoire de nos Amriques durant plus de cinq sicles? Qui a crit lHistoire indoamricaine, lHistoire afroamricaine, lHistoire des Am-riques dlaisses, des Amriques agenouilles, des Amriques humilies?

Que peut devenir un arbre sans racines? Il est primordial de recrire lHis-toire, de donner la voix aux muets de lHistoire. Cest un Droit quont chaque tre collectif, chaque peuple, chaque nation. Il faut rompre le silence; cest un Devoir.

3. DROIT LA DIVERSIT

La richesse de nos Amriques, cest son immense diversit. Sa biodiver-sit (nous parlerons ici du Droit des peuples dfendre cette biodiversit) et de son ethnodiversit. Cette dernire fait face aux projets machiavliques de la Pense Unique; elle fait front tous les imprialismes.

Les peuples des Amriques ont le Droit dtre eux-mmes et de devenir ce quils veulent tre. Ils ont le Droit la diffrence. Or, ce Droit a t ba-fou durant plusieurs sicles et continue ltre tant lintrieur de nos pays quau niveau international. La multiethnicit, le plurilinguisme et la diversit culturelle, dont nous avons dj parl, font partie de ce Droit fondamental. Le respect actif de celui-ci est la seule manire de nous enrichir nous-mmes spirituellement et socialement.

Dans la Constitution vnzuelienne de 1999, cest, mon avis, larticle 100 un de ceux qui exprime le mieux ce Droit la diversit. Il commence ainsi: Les cultures populaires constitutives de la vnzonalit jouissent dune attention spciale grce la reconnaissance et au respect de linterculturalit sous le principe de lgalit des cultures.

Dans la proposition de la rforme constitutionnelle, le Prsident Chvez suggrait daller plus loin en disant que La Rpublique Bolivarienne du V-nzuela est le produit historique de la confl uence des plusieurs cultures; pour cela, lEtat reconnat la diversit de ses expressions et valorise les racines indignes, europennes et afrodescendantes ().

Plus loin, dans le mme article, il proposait ce qui suit: Les cultures popu-laires, celle des peuples indignes et celle des afrodescendants, constitutives de la vnzolanit jouissent dne attention spciale grce la reconnaissance et au respect de linterculturalit sous le principe de lgalit des cultures.

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4. DROIT LDUCATION MUTUELLEPartout, tout le monde accepte que lenseignement est un Droit fonda-

mental. Je dis bien: lenseignement, car enseignement nest pas synonyme dducation. Lenseignement est dispens lcole. Des professeurs ensei-gnent aux lves lire, crire et compter. On parle aussi dinstruction et de personnes instruites. Cet instruction se donne lcole, dans les lyces ou les universits.

Mais ce nest pas de cela que je veux parler. Lducation nest pas ins-truction. Si on peut instruire quelquun ou lui enseigner certaines choses, per-sonne ne peut duquer une autre personne. Le verbe devrait tre sduquer. Il sagit dun processus rfl exif. Depuis longtemps dailleurs, on parle dduca-tion permanente: ltre individuel peut ou devrait pouvoir sduquer tout au long de sa vie, depuis sa naissance jusquau moment de sa mort. Cest de ce Droit-l que je veux parler.

Si on est instruit par des matres, on doit sduquer soi-mme. Mais on ne peut pas le faire seul. On a besoin des autres pour le faire. Ltre individuel sduque de manire cooprative au sein de ltre collectif. Il sagit dchan-ges. La diversit, dont on vient de parler, est importante ce propos, non com-me Droit seulement, mais comme richesse; non seulement dun tre collectif lautre, mais au sein mme de ltre collectif.

Ltre collectif (surtout dans les communauts de base) et les individus qui le conforment, ont Droit avoir le temps et les moyens pour cette du-cation rfl exive, cette ducation communautaire, cette ducation mutuelle. Elle se fait ds le plus jeune ge. Lenfant est instruit par ses parents, mais il permet ceux-ci de sduquer (ex-ducere) de sortir deux-mmes et de crotre.

Chaque instant de la vie, chaque circonstance, chaque rencontre permet-tent ltre humain de sduquer dans ses dimensions individuelle et collec-tive. Mais cela ne se fait pas de manire inconsciente. Il faut un souhait, un d-sir, une volont de se faire, de se dvelopper, de se raliser, grce soi-mme, ses effort, et grce aux autres.

Ainsi, la alfabetizacin concientizadora (je ne sais comment cela se dit en franais), cette alphabtisation qui permet lindividu de prendre conscien-ce de sa propre ralit et qui a t invente par le Brsilien Paulo Freire, ce processus dalphabtisation, au cours duquel ladulte apprend lire, crire et compter, est un processus dapprentissage, certes, mais il est en mme temps un processus dducation mutuelle. Les femmes et les hommes qui y prennent part napprennent pas seulement, mais se forment entre eux, grce

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leurs rfl exions, leurs expriences et leurs actions, prendre conscience des mcanismes de la socit

Limportant, ce nest pas le texte quils apprennent lire ou crire, cest le contexte quils apprennent dchiffrer, comprendre et transformer.

On pourrait donner des centaines dexemples ce propos pour montrer et dmontrer ce Droit lducation mutuelle qui va beaucoup plus loin que le Droit linstruction et qui est en relation directe avec les processus de chan-gements que nous vivons actuellement dans nos Amriques.

Avec respect, cest une des critiques que je formulerais tant vis--vis de la Constitution de 99 que vis--vis de la proposition de rforme. Je vois personnel-lement, dans les articles qui vont du 102 au 107, une confusion entre les concepts dducation et denseignement. En plus, on souligne plus laspect individuel de ce Droit que laspect de mutualit qu mon avis il faudrait lui donner.

Un article -le 79- va dune certaine manire dans le sens de lducation plus que dans celui plus limit de lenseignement. Il dit: Les jeunes gens et les jeunes fi lles ont le droit et le devoir dtre des sujets actifs du processus de dveloppement. (Cest moi qui souligne). Cet article se trouve dans le Cha-pitre V consacr aux Droits Sociaux.

Les articles suivants -le 80 et le 81- parlent des vieillards et des handica-ps. Mais il sagit plus de droits la protection individuelle quau protago-nisme social et lducation mutuelle qui devrait, mon avis, tre assurs pour toute la vie.

5. DROIT LCO-DVELOPPEMENT ET AU DVELOPPEMENT ENDOGNE

Puisque nous venons de mentionner la biodiversit, le Droit et le De-voir de protger lenvironnement pour nous-mmes et pour les gnrations futures, puis au Droit dentreprendre de manire cooprative des processus dducation mutuelle, il me semble indispensable de souligner le Droit des peuples et le Devoir des responsables des secteurs publics et privs dassurer un dveloppement qui soit, en mme temps, soutenable, endogne et, bien sr, participatif.

Je crois quil faut sans cesse dfi nir le terme dveloppement pour savoir clairement de quoi nous parlons. Le mot dveloppement nest pas synony-me de croissance conomique. Parfois mme, les deux concepts saffrontent. Une forte croissance conomique peut tre en porte--faux vis--vis du d-veloppement si, par exemple, il y a accumulation de richesses avec un cot

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environnemental lev. Il sagirait l dune hypothque sur le futur et donc une erreur profonde et grave.

Une forte croissance conomique peut tre aussi en porte--faux vis--vis du dveloppement sil y a accumulation de richesses et une mauvaise rparti-tion de ces richesses. Il sagirait l dun faux dveloppement.

Le dveloppement est une dynamique holistique de toute une socit vers lharmonie, lquit et le bonheur. Il sagit de conjuguer une conomie saine avec une cologie active, dune avance sociale de tous les tres collectifs et individuels qui la composent, dun mieux-tre pour tous et surtout pour les plus dmunis. Le dveloppement ne peut que se faire sil apporte des bn-fi ces spirituels, matriels et sociaux lensemble de la communaut (locale, provinciale, nationale ou internationale).

Aucun tre collectif ne peut se dvelopper si les autres, en mme temps que lui ne se dveloppe galement. Cest pourquoi les pays qui se disent d-velopps se trompent doublement. Premirement, parce que si de dveloppe-ment il sagit, cela suppose non un tat, mais une dynamique. Un pays ne peut tre dvelopp; il se dveloppe, se paralyse ou rgresse. Deuximement, parce quun pays ne peut se dvelopper sil le fait au dtriment dautres pays ou de lcologie plantaire. Les pays riches -qui sont riches parce quils ont exploit dautres pays, les peuples de ces pays et mis sac la nature de ces pays- les pays riches ne sont pas des pays dvelopps.

Dans le terme dveloppement (desenvolvimento), il y a le mot enve-loppement (envolvimento). Les pays de nos Amriques ont t ou sont encore des pays envelopps. Ils ont t ou sont encore ceinturs, enserrs, fi cels, exploits de lintrieur par des intrts individualistes et de lextrieur par des intrts dautres nations ou transnationaux.

Cest pour cela quil faut parler de dveloppement endogne. Il ne fau-drait mme pas utiliser cet adjectif, mais, comme beaucoup se refusent com-prendre, il est ncessaire de le placer ct du substantif dveloppement. Le dveloppement doit tre endogne ou il nexiste pas.

Le dveloppement doit aussi tre soutenable ou il nexiste pas. Un soit di-sant dveloppement qui ne respecterait pas lenvironnement est inconcevable. Or, tout ce quon a prsent jusquil y a peu, sest fait contre ltre humain, contre la nature et contre le futur.

Un dveloppement exogne et non-soutenable est le contraire mme du dveloppement.

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Ltre collectif (local, provincial, national, rgional ou plantaire) a Droit au dveloppement. Il a Droit sengager dans cette volution endogne, auto-gre, cologique, conomique, sociale, culturelle, politique, quitable et so-lidaire). Il a Droit recevoir des compensations lorsquil a t exploit. Il ne sagit pas daide au dveloppement, comme on le dit souvent. Il sagit dun Droit.

Combien de Devoirs correspondent alors ce Droit? Je ne vais pas parler ici du problme pineux de la dette, mais tout le monde me comprend. On sait trs bien quels pays, quelles entreprises transnationales, quels groupes dint-rts nationaux ou quelles classes sociales ont des dettes payer parce quils se sont enrichis au dtriment des autres et de lenvironnement.

Las pays dits (faussement) sous-dvelopps ou en voie de dveloppement nont pas besoin de modles imports ou imposs. Ils ont le Droit rclamer la justice, simplement, et recevoir les moyens de se dvelopper.

Ltre collectif quel que soit sa taille (du local au plantaire) a des Droits et des Devoirs vis--vis de lHumanit daujourdhui et de demain, vis--vis de son environnement et de celui des gnrations futures.

De nouveau comme une observation tout fait personnelle et respectueu-se, jestime quautant dans la constitution de 1999 que dans la proposition du Prsident, il faudrait prciser ce que lon entend par dveloppement. Cepen-dant, il faut souligner le fait que le Prsident lui-mme a rpt sans cesse dans de trs nombreuses circonstances limportance de ce que le dveloppe-ment ft endogne.

Il est juste aussi de faire noter quau sujet de larticle 112, qui se rfre aux droits conomiques, le Prsident proposait quelques modifi cations qui al-laient dans le sens que nous voudrions donner au style et au modle de dve-loppement.

Mais dans une perspective dco-dveloppement, qui pourrait tre celle du socialisme du XXIme sicle, ces concepts devraient tre mis beaucoup plus en valeur.

6. DROIT UN ENVIRONNEMENT NATUREL ET HUMAIN SAINS

Puisque nous parlons dco-dveloppement et du Droit lendog-nit du dveloppement, il me semble ncessaire de dire un mot de plus sur lenvironnement ainsi que des Droits fondamentaux qui sont lis celui-ci.

Personnellement, je ne limite pas lenvironnement la nature, mais divise celui-ci en trois: lenvironnement physique naturel, lenvironnement physique

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transform par ltre humain et lenvironnement humain, c..d. les groupes humain qui environnent un tre collectif dtermin.

Bien sr lpoque actuelle, les trois sont troitement lis entre eux. Cest pourquoi leur protection est aussi importante, comme nous lavons dj re-marqu dans le paragraphe prcdent.

La nature a ses Droits et, si ceux-ci sont bafous, ceux des tres humains prsents et futurs le sont et le seront aussi. Or, la situation est dramatique sur toute la plante et elle empire chaque jour. Je ne vais pas mtendre sur ce pro-blme car ici, tout le monde est sans doute dccord sur ce point. Cependant, le veux souligner le fait que les gouvernements et les organisations interna-tionales ne prennent pas les mesures ncessaires pour dfendre ce Droit fon-damental. Tellement fondamental quil en va de lavenir mme de lhumanit et de la plante.

Dans larticle 107 de la Constitution, on affi rme que Lducation envi-ronnementale est obligatoire dans les niveaux et modalits du systme duca-tif aussi bien que dans lducation non-formelle.

Il est galement juste de noter quun chapitre complet de la Constitution -le neuvime- consacre trois longs articles aux droits environnementaux (les articles 127, 128 et 129). Dans le 128, on fait mention du dveloppement sou-tenable et, dans le 129, on met en relation les impacts environnementaux et les impacts socio-culturels.

Mais, mon avis, il aurait fallu aller plus loin et situer ce problme dans tout ce qui se rfre aux concepts dco-dveloppement, de dveloppement endogne, de souverainet nationale et dducation permanente et mutuelle.

Certaines entreprises transnationales mettent en place des programmes quon pourrait qualifi er de crime contre lhumanit et contre la plante sans que la plupart des gouvernements ne smeuvent ou ne prennent des mesures draconiennes leur encontre. Plus mme, certains couvrent ces entreprises criminelles et donc se font complices de leurs mfaits.

Je ne mtendrai pas outre mesure sur ce problme, mais ne peux pas non plus lesquiver. Prenons, par exemple, un phnomne extrmement choquant comme la privatisation de leau. Qui a Droit privatiser leau, vendre leau, empcher les pauvres dobtenir ce service qui est vital pour notre vie ou pour notre survie? Or, des compagnies europennes, par exemple, se sont mises faire du commerce avec leau. Cest le cas, entre autres, dune compagnie franaise qui sest installe en Bolivie. On sait ce que cette ingrence tran-gre a provoqu dans le quartier El Alto de La Paz et ses consquences.

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Il a dautres exemples ce propos, malheureusement beaucoup trop dexemples. Lun dentre eux a t fortement dnonc il y a quelques semai-nes. Il sagit de lentreprise Monsantos, qui, depuis de trs nombreuses dcen-nies, ralise de multiples expriences de manipulations gntiques et produi-sent des Organismes Gntiquement Modifi s (OGM) en passant au-dessus des lois, trompant les consommateurs et ralisant de fausses expriences de laboratoires. L, cest la plante toute entire et lhumanit complte qui est en danger.

Certains pays comme lArgentine, le Brsil et le Paraguay, prcisment, trois pays du Mercosud sont particulirement touchs par les agissements de cette entreprise. Quant au Mexique, tout le monde connat les manuvres de son associ nord-amricain au sein de lAlena au sujet de la production du mas.

Nos pays, particulirement les communauts paysannes de nos pays et les consommateurs, ont le Droit la transparence au sujet de ce quils mangent, ce quils boivent, ce quils respirent. Ils ont Droit leau et la nourriture. Ils ont Droit un environnement sain, une nourriture saine et au contrle de leurs ressources.

7. DROIT LA TERRE ET LEAU

Il nest pas inutile de relancer ici un slogan mille et une fois rpt et mille et une fois pitin: La terre ceux qui la cultivent. Cest un Droit fon-damental. Que de rformes agraires a-t-on vues et vcues durant le XXme sicle et que dchecs na-t-on pas observs et soufferts.

Dans une premire instance, jusqu prsent, le gouvernement vnzue-lien rcupre les grandes proprits rurales ou parties des proprits qui sont laisses labandon et ne produisent rien.

Le XXIme sicle doit voir non pas des rformes agraires, mais des rvo-lutions, sinon cest une fois encore lhumanit toute entire et la plante qui vont souffrir et peuvent mourir de par lgosme et lpret au gain de quel-ques pays, de quelques entreprises ou de quelques individus.

Toutes les collectivits humaines ont Droit la terre et leau. Personne na le Droit de monopoliser ces biens essentiels. Cest un crime contre lhu-manit et contre la plante dempcher des peuples entiers la proprit de la terre et laccs leau.

On sait comment lconomie de plantation sucrire a provoqu lrosion, lasschement et la dsertifi cation dun pays comme Hati. Au XVIIIme

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sicle, ctait la colonie la plus riche du monde; aujourdhui, cest le pays le plus pauvre, le plus misrable de nos Amriques.

On sait comment beaucoup de nos pays ont t dboiss, saccags, appau-vris par les pays qui se disent maintenant dvelopps.

On sait comment les entreprises transnationales continuent dboiser les Guyanes, lAmazone et dautres forts, comment les paysans restent sans ter-re, comment la fl ore et la faune disparaissent chaque jour par manque de terre, par manque deau et par manque doxygne.

On sait tout cela. Et on sait quil existe un Droit lair, leau et la terre. Ny a-t-il pas dorganisations nationales ou internationales pour faire respecter ce Droit?

Dans le monde, 2.600 millions dtres humains nont pas accs des eaux saines. Les eaux non assainies provoquent dix fois plus de morts que les guer-res, bien que celles-ci dtruisent des millions de vies. Des maladies, comme le cholra, sont capables de stendre en quelques jours dans une ville entire et tuer de manire impitoyable. Tout cela, cause des eaux pollues.

Tout cela pourrait tre vit. Cinq mille enfants meurent chaque jour par manque deau saine ou potable. Est-il possible de voir des chiffres pareils au XXIme sicle. Largent des guerres ne pourrait-il permettre ces millions dtres humains de recevoir ce Droit fondamental.

Et ce peut-il que, dans nos pays dAmrique du Sur si bien pourvus en eau, dans des pays comme le Venezuela et le Brsil, ce Droit nest encore quun souhait?

8. DROIT LA SANT PHYSIQUE, MENTALE ET SOCIALE

Avec ce Droit leau, avec le Droit lenseignement, le Droit lalimen-tation et dautres Droits fondamentaux, on cite toujours le Droit la sant. Mais de quoi parle-t-on au juste?

La sant est un tat de bien-tre physique, social et mental de ltre indi-viduel en harmonie avec son environnement. Comme on le voit, de nombreux autres Droits fondamentaux sont impliqus dans ce Droit particulier. Il ne sagit pas seulement de labsence daffections ou de maladies, mais dassurer un quilibre qui nest pas uniquement celui de lindividu, mais aussi de son environnement naturel et social, donc de ltre collectif auquel il appartient et du milieu dans lequel il se dveloppe.

En-dehors des mesures dhygine, de prvention et dautres, on pourrait parler du Droit une mdecine intgrale et communautaire.

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En fait, au Venezuela, comme dans beaucoup dautres pays, il y a plusieurs classes dans la mdecine. Les gens trs riches vont en premire classe dans des cliniques nord-amricaines pour se faire soigner. Les classes moyennes -quelques 20% de la population- se rendent dans des cliniques prives o il faut prsenter sa carte de crdit pour y tre admis. Le reste, les grandes majori-ts doivent se contenter dune mdecine de troisime classe quon leur donne dans des hpitaux o, souvent, il faut faire la queue et o il manque de tout.

Ce quil faut, cest une mme mdecine pour tout le monde. Ou y aurait-il des citoyens de premire, de deuxime et de troisime classe? Non seulement une bonne mdecine curative, mais aussi une mdecine prventive et un en-seignement relatif la sant.

Si on accepte la dfi nition faite de la sant, celle-ci a un double caractre individuel et social. Non seulement parce que les causes et les consquences de la sant ou du manque de sant affecte le corps et lesprit de lindividu et de ceux qui lentourent, mais aussi parce que cest lensemble de lEtre qui, dans toutes ses dimensions, qui spanouit ou souffre. Cest pour cette raison que nous parlons dune mdecine intgrale et communautaire.

Un norme effort a t fait par lactuel gouvernement vnzuelien dans ce domaine. Ce quon appelle les missions reprsentent dimmenses mobilisa-tions surtout locales mais aussi provinciales et nationales pour faire face aux problmes de la sant et permettre aux populations de se prendre en main afi n daugmenter leur qualit de vie.

9. DROIT UN TRAVAIL UTILE, RECONNU ET RMUNR DE MANIRE QUITABLE

Pour sintgrer dans ltre collectif et tre reconnu par celui-ci, ltre in-dividuel a besoin de participer la construction, la vie, au dveloppement de la communaut dont il fait partie. Il ne sagit pas seulement du juste salaire dont il a Droit et dont il a besoin pour vivre et faire vivre sa famille, mais du sens mme du travail au sein de ltre collectif.

La personne qui na pas de travail, se trouve non seulement dans lembar-ras, mais elle se trouve en marge de la socit. Laspect matriel est donc impor-tant, mais tout aussi importants sont les aspects sociaux et psychologiques.

Puis, il y a le sens donner au travail. Il ne sagit pas uniquement de par-ticiper la production dun bien ou dun service, mais de savoir lutilit de ce bien ou ce service dans la socit. Dans la socit de consommation, la pro-duction de biens et services souvent superfl us conjugus au dlire de possder

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sans besoin rel rend le travail souvent absurde. Il faut produire pour vendre et travailler pour acheter.

Dans une socit co-socialiste et humaniste, le travail serait une contri-bution crer des richesses et satisfaire non seulement les besoins individuels sinon les ncessits collectives.

Dans cette optique, il faut prendre en compte lorganisation du travail. Cest un Droit pour chacun davoir un travail, mais de pouvoir donner un sens ce travail. Le travailleur doit pouvoir situer son unit de production dans le contexte gnral de lconomie, dans les dynamiques cologiques et sociales. A quoi sert le travail collectif auquel il participe? Dautre part, il doit pouvoir se situer, comme individu, au sein mme de cette unit de production de biens ou de services. Il a le Droit savoir son travail reconnu et valoriser, quelles que soient ses fonction dans lentreprise ou linstitution qui lemploie.

Bien sr tous ces Droits lis au travail, correspondent des Devoirs. Tra-vailler est une obligation morale vis--vis de la socit dans laquelle on vit, travailler bien, donner un sens son travail, se former de manire permanente non pas tellement pour augmenter le rendement, mais pour qu leffi cacit de lindividu corresponde une satisfaction de lensemble de ltre collectif.

Dans une socit socialiste et humaniste, les Droits et les Devoirs qui correspondent au travail devraient tre un des moteurs dun dveloppement endogne, cologique et quitable, un des moteurs aussi de la dmocratie par-ticipative. Je mets cette phrase au conditionnel, car cest l une de mes proc-cupations vis--vis du processus vnzuelien actuel.

Grce aux entres gigantesques du ptrole ou, plutt, cause de cette pluie de ptrodollars (surtout au cours de ces dernires annes), nous nous trouvons dans la tourmente dune socit de consommation outrancire et cest, prcisment, dans ce pays et ce moment, que surgit un mouvement qui prtend transformer cette socit en socit socialiste. Cela semble parfois ab-surde, utopique et impossible. Cest l, je crois, limmense dfi qui se pose.

Dans la proposition du rfrendum constitutionnel, le Prsident voulut modifi er larticle 112 relatif au systme conomique. Une partie de cet article modifi proposait que lEtat, je cite: encouragera et dveloppera diverses formes dentreprises et dunits conomiques de proprit sociale, aussi bien directe ou communale quindirecte et de lEtat, ainsi que des units cono-miques de production et/ou de distribution sociale pouvant tre de proprit mixte entre lEtat, le secteur priv et le pouvoir communal, crant les meilleu-res conditions pour la construction collective et cooprative dune Economie Socialiste.

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Cette proposition damendement fut peut-tre un de ceux qui ont provo-qu la rticence dune partie de la population et qui fi t perdre moins d1% le Oui la rforme constitutionnelle.

La socit de consommation et la rente ptrolire sont trop ancres dans les modes de vie et les mentalits. La peur du socialisme est plus forte que la vo-lont de justice, dquit et dharmonie sociale. Le Prsident rptera sans doute sa fameuse expression Por ahora (Pour linstant); le futur nous le dira.

10. DROIT LINFORMATION ET LA COMMUNICATIONLtre humain -que ce soit comme collectivit ou comme individualit-

a Droit linformation. Ce Droit est intimement li la dmocratie. Dans une dmocratie reprsentative, pour que les collectivits et les individus puissent lire leurs reprsentants, valuer leurs actions et pouvoir exiger leur effi cacit, ils doivent tre informs non seulement des agissements de leurs reprsentants ou possibles reprsentants, mais aussi de la situation conomique, cologique, sociale et politique dans laquelle ils se trouvent (au niveaux local, provincial, national et international).

Si linformation nest pas digne de confi ance, la dmocratie simplement nexiste pas. Or, les moyens dinformation sont de plus en plus nombreux et de moins en moins crdibles. Ils se prsentent mme souvent comme acteurs extrmement importants des luttes pour le pouvoir. Le Droit linformation est ainsi pitin partout dans le monde.

Certaines institutions qui prtendent dfendre les Droits de lHomme, sont souvent elles-mmes emptres dans les pires combines et ne font que confondre une opinion publique qui fi nit par ne plus croire en rien: ni en la dmocratie, ni dans les moyens qui sont senss les informer.

Si on parle, comme au Venezuela, de la dmocratie participative, le Droit linformation se fait encore plus pressant. Il se transforme dailleurs en Droit la communication. Il ne sagit plus de recevoir passivement les informa-tions, mais de les recevoir de manire critique (et donc davoir les capacits danalyser et de critiquer) et de les produire, de produire des informations et de participer un vaste processus dchange.

On mentionne partout les moyens de communication sociale. En fait, la plupart des chanes de tlvision et de radio, les journaux et autres priodiques ne sont absolument pas des moyens de communication. Ce sont des instru-ments aux mains de minorits qui distribuent des informations et nont aucu-nement lintention de provoquer quelque communication qui soit.

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La communication avant tout horizontale. Elle permet aux tres collectifs et individuels de sexprimer, dexprimer leurs besoins, leurs souhaits et leurs expriences, dexprimer leur manire de concevoir la socit et elle leur per-met dcouter les autres, danalyser leurs problmes et de comprendre leurs suggestions pour rsoudre ensemble ces problmes.

Nous nous trouvons ainsi au cur mme de la dmocratie participative. Il sagit dinformation mutuelle, dchange dinformations, de mise en com-mun dinformation pour que tout le monde puisse tre inform de la mme manire avec la capacit dtudier, de comparer, dvaluer les informations, de les mettre en relation et de les utiliser bon escient.

La communication doit tre aussi verticale. Il faut pouvoir recevoir des informations fi ables des instances suprieures de lorganisation sociale et po-litique; il faut aussi pouvoir, avec autant de facilit, pouvoir envoyer des in-formations ces instances. De nouveau, nous le rptons, nous nous trouvons ici au cur de la dmocratie participative.

En relation avec le Droit de recevoir, denvoyer et dchanger des infor-mations, au Droit dtablir les communications juges ncessaires et davoir la matrise de celles-ci, il existe un autre Droit: celui dapprendre, de manire permanente -de la petite enfance jusqu la vieillesse, recevoir la formation ncessaire pour pouvoir utiliser les canaux dinformation et les instruments de communication.

Nous ne donnerons ici quun seul exemple fort simple. Donne-t-on, dans les coles des cours pour lire le journal de manire active, des cours pour d-codifi er les messages transmis par la tlvision, des cours pour utiliser internet comme un outil pour assumer la citoyennet dans une dmocratie participa-tive?

Il existe donc un Droit linformation partage, la communication hori-zontale et verticale, la formation vivre en rseau.

Quant au Devoir qui correspond ces Droits, il me semble inutile de faire ici un discours sur lthique. Ceux qui veulent comprendre, comprennent trs bien.

Curieusement pour moi, dans la proposition prsidentielle de rforme de la Constitution, les articles 58 et 108 nont pas t mentionns. Il me semble que ceux-ci laissent trop de pouvoir aux entreprises prives et aux intrts fi nanciers qui manipulent linformation et empchent une vritable commu-nication. Le Prsident a peut-tre vit daborder cette question qui avait pro-voqu de nombreuses polmiques au cours des mois prcdents au sujet de la non-rnovation dune licence une chane prive de tlvision.

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11. DROIT UNE CULTURE AUTOCHTONE ET LA CULTURE UNIVERSELLE

Je place ce Droit la fi n de cette communication non pas parce quil serait moindre que les autres, mais, au contraire, parce quil me semble synthtiser tous les autres. Parler de culture, cest parler de lEtre, de lexistence, du fait dexister, de la conscience dexister, de la libert dassumer sa propre vie, de la possibilit de crotre, de se dvelopper, de donner un sens son existence.

Tous les Droits sont rassembls dans ce Droit, ce qui le rend complexe. Il ne sagit bien sr pas dtre cultiv, de possder de nombreuses connais-sances, daccumuler des diplmes, mais de donner un sens la vie, lEtre, lexistence. Il sagit dune connaissance de soi-mme et de son environne-ment dans le but dun plus-tre et dun mieux-tre de soi-mme et des autres.

Ltre -quil soit individuel ou collectif- se fait grce la rencontre avec dautres tres. Il se modle en fonction de son pass, quil doit assumer, et de son futur, quil doit modeler selon ses dsirs et ses possibilits. Il se modle aussi en fonction de son environnement physique et humain, selon le milieu dans lequel il sinscrit et des autres tres qui lentourent.

Ltre humain a le Droit de sassumer dans ses dimensions collective et individuelle, de sidentifi er, de se connatre et dtre reconnu avec toutes ses spcifi cits.

Nous revenons l au Droit lidentit dont nous avons parl au dbut de cette communication,

au Droit la mmoire, au Droit de connatre le pass, son pass, de se reconnatre dans ses racines,

au Droit la diversit culturelle, au Droit dtre diffrent de lAutre et au Devoir de souvrir lAutre,

le Droit de sduquer avec les autres dans une dynamique dchange et de don,

le Droit de se dvelopper partir de lui-mme et de son environnement, un environnement naturel et humain fragile, mais riche et divers, riche de par sa diversit,

le Droit la terre, sa terre, aux racines ancestrales enfouies au fond de la terre, au Droit aux sources, au rivire et la pluie,

le Droit la sant, la vie, lchange,

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le Droit au travail, la participation la construction du monde,

le Droit la communication, au partage et lamour.

Le Droit la culture, cest le Droit tout cela. Cest la ramifi cation de tous ces Droits entre eux. Cest le Droit sa propre culture - la conserver, en jouir, la transformer, la transmettre ses enfants- et le Droit la culture universelle, le Droit connatre lAutre et senrichir ensemble.

12. PERSPECTIVES

Ce ne sont pas les actions dindividus isols, ni celles de groupes isols, ni mme celles de pays isols qui vont faire changer les choses. Cest une vritable rvolution dans lensemble de nos Amriques qui permettra de faire rgner hic et nunc le Droit, la justice et lharmonie.

Le Venezuela ne prtend pas imposer un modle, mais il propose une int-gration interne et internationale pour unir les efforts et se librer enfi n de tous les colonialismes. Il voit le Mercosud comme un excellent instrument dint-gration. Mais il est convaincu que celui-ci ne peut tre centr sur le march. Mercado del Sur, March du Sud, Mercado do Sul.

Les Droits fondamentaux ne sont pas ceux de pouvoir se dbrouiller et survivre dans un march. Pour que les Droits fondamentaux soient respects, il nous faut une intgration de tous les Droits fondamentaux pour lensemble des tres collectifs et tous les individus qui en font partie. Le respect croissant des Droits Fondamentaux est troitement li avec le dveloppement, lintgra-tion et la paix de Notre Amrique.

Ce sont des Droits Essentiels. Ils nous permettent dtre, dexister et de nous raliser comme peuples et comme personnes. Nous ne pouvons exister comme des peuples mutils, comme des pays mutils, comme des individus mutils dans nos Droits. Nous ne voulons pas tre des pays invalides et isols, mais un ensemble de pays sains et forts.

N.B.: La traduction des articles de la Constitution et des propositions de rforme faite par le Prsident de la Rpublique, monsieur Hugo Chvez Fras, a t ralise par lauteur du prsent travail. Article: 31 mars 2008.

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II.CIRCULAO DE PESSOAS

E CONVALIDAO DE DIPLOMAS DE NVEL SUPERIOR NO MERCOSUL

Brbara Araujo Medeiros e Roberta Pires Alvim*

SUMRIO: 1. Introduo 2. Aspectos gerais da circulao de pessoas 3. A circu-lao de pessoas na Unio Europia 4. A Circulao de pessoas no Mercosul: 4.1 Aspectos sociolaborais; 4.2 Simples trnsito, Migrao e Residncia 5. Convali-dao de diplomas de nvel superior 6. Concluso 7. Referncias

RESUMO: Com a globalizao, faz-se mister a compreenso do princpio da circu-lao de pessoas a nvel internacional. Contudo, deve-se entender esse fenmeno tambm pela tica da regionalizao experimentada por muitos pases do mundo, no qual a Unio Europia vanguardista. Suas fronteiras internas so impercept-veis aos cidados europeus.

Diversa a percepo desse princpio no Mercado Comum do Sul Mercosul. Desde a sua criao, por meio do Tratado de Assuno de 26 de maro de 1991, o bloco americano somente sentido em seu vis econmico e poltico, pouco se discute a infl uncia do bloco em matrias como trnsito de pessoas, migrao ou residncia. Entretanto, o prprio Tratado de Assuno defi ne como objetivo fi nal do bloco a criao de um mercado comum, que somente ser alcanado por meio da livre circulao de fatores produtivos, na qual o homem deve ser considerado como fator.

Por esse motivo, existem diversos protocolos, tratados e acordos (a exemplo do Acordo de Residncia para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul, Bolvia e Chile) regulando a livre circulao de pessoas, alm de outros que tratam dos efei-tos refl exos desse movimento, como a necessidade de harmonizao das normas de seguridade social e trabalhistas.

Outro aspecto de extrema importncia para a livre circulao de pessoas a con-validao de diplomas de nvel superior. O Mercosul j conta com decises que objetivam o aproveitamento dos estudos superiores. A convalidao, contudo, est restrita somente para a rea acadmica.

PALAVRAS-CHAVES: circulao de pessoas; convalidao de diplomas; Merco sul.

RESUMEN: Con la globalizacin, se hace imprescindible la comprensin del princi-pio de la circulacin de personas a nivel internacional. Sin embargo, este fenmeno debe ser entendido tambin bajo la ptica de la regionalizacin experimentada por

* Membros do Grupo de Pesquisa sobre Cidadania e Direitos Fundamentais Linha de Pes-quisa sobre Integrao Regional/PPGD-UFBA.

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muchos pases del mundo, proceso en el que la Unin Europea es vanguardista. Sus fronteras internas son imperceptibles a los ciudadanos europeos.

Diferente es la percepcin de ese principio en el Mercado Comn del Sur Mer-cosur. Desde su creacin, por medio del Tratado de Asuncin del 26 de marzo de 1991, el bloque americano solamente es sentido en su vertiente econmica y poltica, se discute poco la infl uencia del bloque en asuntos como trnsito de per-sonas, migracin o residencia. No obstante, el propio Tratado de Asuncin defi ne como objetivo fi nal del bloque la creacin de un mercado comn, que solo ser alcanzado por medio de la libre circulacin de factores productivos, en la cual el hombre debe ser considerado como factor.Por esa razn, existen diversos protocolos, tratados y acuerdos (a ejemplo del Acuerdo de Residencia para nacionales de los Estados Partes del Mercosur, Bolivia e Chile) regulando la libre circulacin de personas, adems de otros que cuidan de los efectos refl ejos de ese movimiento, como la necesidad de armonizacin de las reglas de seguridad social y laboral. Otro aspecto de extrema importancia para la libre circulacin de personas es la convalidacin de diplomas de nivel superior. El Mercosur ya cuenta con decisiones que objetivan el aprovechamiento de los estudios. Sin embargo, la convalidacin sirve solamente para el rea academica.

PALAVRAS-CLAVE: circulacin de personas; convalidacin de diplomas; Mercosur.

1. INTRODUOO Mercado Comum do Sul Mercosul j uma realidade. Desde a sua

criao, com o Tratado de Assuno de 1991, possvel sentir seus efeitos, principalmente nas esferas econmica e poltica. Sem embargo, para que o objetivo primordial institudo no artigo primeiro do referido tratado, ou seja, a criao de um mercado comum, seja alcanado, essencial a con-solidao da livre circulao de pessoas dentro do bloco.

O artigo ora exposto objetiva estudar e, por conseguinte, divulgar, este aspecto do Mercosul a circulao de pessoas , importante, porm, pouco explorado pela comunidade acadmica.

Como ser demonstrado no trabalho, a circulao de pessoas no Mercosul encontra-se em fase de desenvolvimento, uma vez que seus Estados Membros priorizaram o vis econmico da Organizao. Para que esta se concretize muitos so os fatores necessrios, dentre eles destaca-se a essencialidade da convalidao de diplomas de nvel superior.

Analisa-se, portanto, os documentos internacionais j existentes no que se referem tanto circulao de pessoas como a convalidao de diplomas de n-vel superior no Mercosul, e o seu processo de ratifi cao pelos Estados Mem-bros. A Unio Europia utilizada como referencial visto que seu processo de integrao atravs da circulao internacional de pessoas logrou xito, sendo exemplo para o Mercosul.

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BRBARA ARAUJO MEDEIROS E ROBERTA PIRES ALVIM

2. ASPECTOS GERAIS DA CIRCULAO DE PESSOAS

A globalizao experimentada na atualidade faz com que as distncias paream reduzir-se e os seres humanos possam se locomover mais facilmen-te pelo planeta. Entretanto, a circulao de pessoas existe desde tempos ime-moriais. Sempre existiram indivduos saindo do ambiente em que viviam para outro mais distante, em busca de melhores condies socioeconmicas, no intuito de reencontrar pessoas, fugir de perseguies ou at mesmo pela simples curiosidade de conhecer lugares novos e distintos dos que sempre conviveu.

Esse movimento de circulao de pessoas denomina-se migrao. Se den-tro do territrio do Estado o que se observa a migrao interior; para fora dele o movimento migratrio exterior ou internacional.

Dentro do conceito internacional surgem mais dois institutos: a imigrao e emigrao. Imigrar a ao de vir estabelecer-se num pas estrangeiro, o contrrio de emigrao, que a sada da ptria me em grupo ou individual-mente.

Os movimentos, tanto de imigrao quanto de emigrao, so freqen-tes e, como j explicitado, necessrios ao homem. Surgiu, ento, um direito, o de ir e vir dos indivduos. Como conseqncia desse direito adveio tam-bm o princpio da livre circulao internacional de pessoas. A importncia desse princpio tamanha que o Direito Internacional reconhece e declara o direito de migrar em diversos institutos, exemplifi cados abaixo.

A Declarao Universal dos Direitos Humanos (Resoluo n 217 As-semblia Geral da ONU), em seu artigo 13, pargrafo 1, proclama que: Toda pessoa tem direito liberdade de locomoo e residncia dentro das fronteiras de cada estado, reconhecendo assim o direito a livre circulao. Por conse-guinte, o pargrafo 2 vai alm, afi rmando que: Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer pas, inclusive o seu prprio, e a este regressar. De acordo com a professora Thelma Thais Cavarzere1, essa meno ao pargrafo segun-do o estabelecimento solene do princpio da livre circulao internacional de pessoas.

Ademais da declarao supracitada, o princpio foi consolidado pelo Pac-to Internacional sobre Direitos Civis e Polticos, que prev no artigo 12 que:

1. CAVARZERE, Thelma Thais. Direito Internacional da Pessoa Humana: A circulao in-ternacional de pessoas. Rio de Janeiro: Renovar, 1995

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CIRCULAO DE PESSOAS E CONVALIDAO DE DIPLOMAS DE NVEL SUPERIOR NO MERCOSUL

Artigo 12.

12 (1). Toda pessoa que se ache legalmente no territrio de um Estado ter o direito de nele livremente circular e escolher sua residncia;

12 (2). Toda pessoa ter o direito de sair livremente de qualquer pas, inclusi-ve de seu prprio pas;

12 (4). Ningum poder ser privado do direito de entrar em seu prprio pas.

Na esfera do continente americano, foco deste trabalho, por ser onde se localizam geografi camente os Estados que integram o Mercosul, a Conveno Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de So Jos da Costa Rica) expres-samente prev o direito de circulao e residncia no artigo 22, muito similar ao explicitado nos documentos anteriores, a ver:

Artigo 22.

22 (1). Toda pessoa que se ache legalmente no territrio de um Estado tem direito de circular nele e de nele residir em conformidade com as disposies legais; 22 (2). Toda pessoa tem o direito de sair livremente de qualquer pas, inclusive do prprio;

22 (5) Ningum pode ser expulso do territrio do Estado do qual for nacional nem ser privado do direito de nele entrar.

E no mbito do Mercosul os cinco pases membros prevem o direito a livre circulao em suas Constituies Nacionais, nos captulos referentes aos direitos e garantias fundamentais. No Brasil, a Constituio Federal de 1988 estatui a livre circulao de pessoas no art. 5, inciso XV2; na Argentina, a previso est no art. 143; no Uruguai no art. 374; no Paraguai no art. 415; e na Venezuela no art. 506.

2. livre a locomoo no territrio nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer, ou dele sair com seus bens.

3. Todos los habitantes de la Nacin gozan de los siguientes derechos conforme a las leyes que reglamenten su ejercicio; a saber: [] de entrar, permanecer, transitar y salir del territorio argentino [].

4. Es libre la entrada de toda persona en el territorio de la Repblica, su permanencia en l y su salida con sus bienes, observando las leyes y salvo perjuicios de terceros.

5. Todo paraguayo tienen derecho a residir en su Patria. Los habitantes pueden transitar li-bremente por el territorio nacional, cambiar de domicilio o de residencia, ausentarse de la Repblica o volver a ella y, de acuerdo con la ley, incorporar sus bienes al pas o sacarlos de l. Las migraciones sern reglamentadas por la ley, con observancia de estos derechos.

6. Toda persona puede transitar libremente y por cualquier medio por el territorio nacional, cambiar de domicilio y residencia, ausentarse de la Repblica y volver, trasladar sus bienes y pertenencias en el pas, traer sus bienes al pas o sacarlos, sin ms limitaciones que las es-tablecidas por la ley.

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Da mesma maneira, os Pases Associados, Bolvia e Chile, prevem o princpio da livre circulao nos artigos 7 7 8 de cada uma de suas Constitui-es9.

Entretanto, como qualquer outro direito, o direito de ir e vir, regulado pelo princpio da livre circulao internacional de pessoas, apesar de previsto na Constituio de grande parte dos pases democrticos, e em instrumentos in-ternacionais ratifi cados pela maioria dos Estados do mundo, no absoluto.

Os Estados so soberanos no controle de suas fronteiras. Esta uma prer-rogativa reconhecida pelo Direito Internacional e que entra em confl ito com o direito livre circulao internacional de pessoas. Logo, um determinado pas pode denegar a entrada de estrangeiros em seu territrio. Contudo, essa deciso no pode ser arbitrria. O pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos prev os motivos no mesmo artigo 12:

Artigo 12.

12 (3) Os direitos supracitados no podero constituir objeto de restrio, a menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurana nacio-nal e a ordem, a sade ou a moral pblicas, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatveis com os outros direitos reconhe-cidos no presente pacto.

Estas seriam as causas legtimas e, por conseguinte, legais. O que ocorre que muitas vezes os Estados mascaram os reais motivos da denegao do imi-grante, alegando um motivo de ordem ou de sade pblica, quando na verdade o que se quer evitar , em sua grande maioria, a entrada macia de imigrantes advindos de pases mais pobres, que pode gerar aumento nos ndices de crimi-nalidade e desemprego.

O controle fronteirio exercido atravs da exigncia de passaporte e visto. O professor italiano Egidio Reale10, citado por Thelma Thais Cavarze-re, defi ne passaporte como: o documento emitido pelas autoridades pblicas competentes que certifi ca a identidade e a nacionalidade do titular, permitin-do-lhe viajar sobre o territrio do Estado que o concedeu, ou dirigir-se a ou-

7. Toda persona tiene los siguientes derechos fundamentales, conforme a las leyes que regla-menten su ejercicio: A ingresar, permanecer, transitar y salir del territorio nacional.

8. Toda persona tiene derecho de residir y permanecer en cualquier lugar de la Repblica, trasladarse de uno a otro y entrar y salir de su territorio, a condicin de que se guarden las normas establecidas en la ley y salvo siempre el perjuicio de terceros.

9. A Constituio Boliviana a que se refere o texto a de 1967, pois o pas encontra-se em pro-cesso de elaborao de uma nova Constituio.

10. REALE, Egidio. Le problme ds passeports. Recueil des Cours de lAcadmie de Droit Internacional de la Haye. Paris, 63 (I), 1938.

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tro Estado. A emisso de passaportes competncia exclusiva dos Estados. Sem o documento, impossvel entrar no territrio da maioria dos pases do mundo (exceo feita a entrada em pases parte de regies de livre trnsito como a Unio Europia e o Mercado Comum do Sul Mercosul, quando j dentro delas).

J o visto uma anotao feita pelas autoridades diplomticas, consulares ou administrativas, no passaporte do viajante. Seria uma espcie de pr-apro-vao de sua entrada no pas emissor do visto. Entretanto, apesar de designar autorizao dada pelo Estado ao estrangeiro, domiciliado ou no, de entrada em seu territrio (visto de entrada), ou ao nacional ou estrangeiro residente de sair (visto de sada), algumas vezes o possuidor do passaporte com visto no consegue a entrada ou sada do pas.

As formalidades exigidas, tanto para a emisso do passaporte quanto para a obteno do visto so, em alguns pases, extremamente desgastantes e one-rosas, visando difi cultar e at mesmo desestimular o direito internacional a livre circulao internacional de pessoas de maneira indireta. No se probe a entrada ou sada do pas, mas os procedimentos para esse fi m se tornam to burocrticos que, na prtica, a proibio acaba acontecendo.

3. A CIRCULAO DE PESSOAS NA UNIO EUROPIAO maior exemplo de mudana nas formalidades impostas pelos Estados

para o livre trnsito de pessoas encontra-se no mais integrado bloco econ-mico do mundo: a Unio Europia. Nascido com o Tratado de Roma, que foi assinado em 25 de maro de 1957, possua o nome inicial de Comunidade Econmica Europia (CEE). Apenas no incio da dcada de 90 passou a ter o nome atual. Os objetivos iniciais da Unio Europia eram de recuperar a economia dos pases membros, enfraquecidos tanto econmica, quanto so-cial e politicamente aps a Segunda Guerra Mundial; enfrentar o avano do comunismo; e por fi m, deter a crescente infl uncia dos Estados Unidos da Amrica.

Posteriormente, o objetivo primordial era o alcance das chamadas Qua-tro liberdades. A livre circulao de mercadorias, servios, capitais e pessoas visavam efetivar uma real integrao regional. Contudo, apenas as trs pri-meiras liberdades foram alcanadas na prtica at 1993, quando comeou o Mercado Comum Europeu. Quanto circulao de pessoas, esta somente foi implementada quando o Acordo de Schegen foi incorporado legislao co-munitria, com a assinatura do Tratado de Amsterdam em 1997.

A questo da livre circulao de pessoas na Unio Europia advm de uma discusso econmica. Primeiro, visou-se a uma circulao de pessoas

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como sujeitos econmicos, ou seja, aqueles que exeram alguma atividade econmica (trabalhadores assalariados ou prestadores de servios). O Tratado de Roma, de 1957, em seu artigo 48, trata da livre circulao de trabalhadores nos seguintes termos:

Artigo 48

48 (2) A livre circulao dos trabalhadores implica a abolio de toda e qual-quer discriminao em razo da nacionalidade, entre os trabalhadores dos Estados-membros, no que diz respeito ao emprego, remunerao e demais condies de trabalho.

48 (3) A livre circulao dos trabalhadores compreende, sem prejuzo das li-mitaes justifi cadas por razes de ordem pblica, segurana pblica e sade pblica, o direito de:

a) Responder a ofertas de emprego efetivamente feitas;

b) Deslocar-se livremente, para o efeito, no territrio dos Estados-membros;

c) Residir num dos Estados-membros a fi m de nele exercer uma atividade laboral, em conformidade com as disposies legislativas regulamentares e administrativas que regem o emprego dos trabalhadores nacionais;

d) Permanecer no territrio de um Estado-membro depois de nele ter exercido uma atividade laboral, nas condies que sero objetivo de regulamentos de execuo a estabelecer pela Comisso.

Portanto, nota-se a preocupao do Tratado em fornecer o suporte concei-tual acerca da atividade laboral para uma maior integrao econmica. Desse modo, os trabalhadores poderiam desenvolver suas atividades em qualquer lugar do Mercado Comum.

Em 1992, foi assinado o Tratado de Maastricht, que criou a chamada Ci-dadania Europia. Por meio deste Tratado a idia de circulao de pessoas perde a essncia estritamente econmica de circulao de agentes laborais, para obter um carter relacionado idia de cidadania. O cidado passa a obter uma dupla nacionalidade, a nacionalidade do pas no qual nasceu e a europia. Desse modo, passa a desfrutar de certos direitos e privilgios, como o direito igualdade de oportunidades, no-descriminao por razo da na-cionalidade, ao de circular e residir livremente e sem limitao de tempo no territrio de outro Estado-membro, entre outros.

Antes da implementao da Cidadania Europia, foram realizados v-rios acordos intergovernamentais com o propsito de facilitar e alcanar a livre circulao de pessoas dentro das fronteiras dos estados signatrios. Po-de-se afi rmar que o mais importante deles foi o Acordo Schengen de 14 de junho de 1985, que entrou em vigor no ano de 1995. Este previa a supresso gradativa de mecanismos de controle fronteirio entre os pases inicialmente participantes (Alemanha, Frana, Blgica, Holanda e Luxemburgo). Criou-se

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o Espao Schengen, no qual haveria a transferncia dos controles das frontei-ras comuns para as fronteiras externas do espao.

Com a assinatura do Tratado de Amsterdam no ano de 1997, o Acordo de Schegen foi incorporado legislao comunitria, passando a abranger treze Estados Membros. Desse modo, as decises realizadas, bem como as estru-turas de trabalho do Acordo foram integradas Unio Europia em 01 de maio de 1999. Os pases signatrios se comprometeram a abolir o controle nas fronteiras internas e criar uma fronteira externa nica, onde so efetuados os controles de acesso ao Espao Schengen, segundo procedimentos idnticos. Ademais, foram adotadas regras comuns a exemplo das relacionadas a vistos e direito de asilo, a fi m de possibilitar a livre circulao das pessoas nos pases signatrios sem perturbar a ordem pblica.

Para um efi ciente funcionamento da dinmica do Espao Schengen foi criado o Sistema de Informao Schengen (SIS), que se constitui numa base de dados sofi sticada que permite s autoridades responsveis dos Estados Schengen realizarem o intercmbio de dados relativos a certas categorias de pessoas e de bens. Por meio deste, possvel uma colaborao e coordenao entre os servios de policias e as autoridades judiciais, alm de um maior con-trole da entrada de cidados originrios de pases estranhos ao tratado.

Em dezembro de 2007, esse Espao foi ampliado, passando a abranger vinte e quatro pases. Dentre os Estados da Unio Europia, a Inglaterra e a Irlanda no participam dessa rea. Por outro lado, existem pases que no in-tegram a UE que participam do Espao, como a Noruega e a Islndia. Agora, mais de quatrocentos milhes de pessoas podem transladar-se sem a neces-sidade de apresentao de passaporte. Com a ajuda fi nanceira e tcnica da UE, os novos pases foram obrigados a reforar a vigilncia, os controles nas fronteiras e as condies de entrega de vistos. E por fi m, tiveram que partici-par do SIS.

No mbito da Unio Europia, os direitos inerentes livre circulao de pessoas somente podero ser limitados se justifi cados com base em razes de segurana, ordem e sade pblica.

4. A CIRCULAO DE PESSOAS NO MERCOSUL

Os processos de integrao, em geral, surgem com objetivos econmicos, uma vez que esto inseridos em uma estrutura internacional que os incentiva. Com o Mercosul no foi diferente.

Dentre as etapas de integrao regional, a Zona de Livre Comrcio o estgio inicial, caracterizada pela livre circulao de bens. Posteriormente, h

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a Unio Aduaneira, caracterizada pelo acrscimo da Tarifa Externa Comum TEC s relaes econmicas internacionais dos pases signatrios. A pr-xima etapa, o Mercado Comum, adiciona a este quadro a livre movimentao de fatores.

O Tratado de Assuno, de 26 de maro de 1991, que instituiu o Mercosul, tem como objetivo final o alcance do Mercado Comum, a ser consolidado no ano de 1994. Todavia, no panorama atual, o Mercosul se posiciona em fase hbrida, uma vez que ainda no completou a Unio Aduaneira, mas j apresenta caractersticas de Mercado Comum.

Para que se alcance o objetivo consagrado pelo Tratado, ou seja, o Mer-cado Comum, primeiro se faz necessrio o trmino das excees a TEC, que possibilitar o alcance pleno do status de Unio Aduaneira. Posteriormente, e com vista consecuo do Mercado Comum, fundamental consolidar a livre movimentao de fatores ao quadro atual, processo que consiste nas j citadas Quatro liberdades: livre circulao de mercadorias, servios, capi-tais e pessoas.

O Tratado de Assuno menciona a circulao de pessoas em seu artigo 1: Artigo 1

Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum, que dever estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994, e que se denominar Mercado Co-mum do Sul (MERCOSUL).

Este Mercado Comum implica: A livre circulao de bens servios e fatores produtivos entre os pases, atra-vs, entre outros, da eliminao dos direitos alfandegrios e restries no-tarifrias circulao de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente. (grifos nossos)

Segundo Faria11 citado por Augusto Jaeger Jnior, A expresso fatores produtivos, empregada no artigo 1, do Tratado, compreende logicamente dois grandes elementos: trabalho e capital. De ambos deriva um terceiro, que o estabelecimento, como unidade de fuso orgnica de um e de ou-tro. Pode-se tambm falar em livre circulao de pessoas, como englobando trabalhadores e empresas, e livre circulao de capitais, referente apenas aos investimentos materiais. Ruiz Daz Labrano12, tambm citado pelo au-tor, ressalva que o Tratado de Assuno No faz, portanto, uma meno

11. FARIA, Werter R. Experincias latino-americanas de integrao. Revista do Centro de Es-tudos Judicirios. Braslia, v. 1, n. 1. maio/ago. 1997.

12. RUIZ DAZ LABRANO, Roberto. El Mercosur, marco juridico institucional, analisis y perspectivas de sus normas derivadas. Asuncin: Intercontinental, 1993.

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seno indireta livre circulao de pessoas salvo pelo fato de que hoje se interpreta e considera o homem como fator produtivo. Revela-se, desse modo, o carter perifrico da dimenso social no Mercosul.

4.1 Aspectos sociolaborais

Devido a essa carncia de abordagem social, os Ministros do Trabalho e as instituies sociais dos pases membros se articularam em um movimento que culminou, em 9 de maio de 1991, na Declarao de Montevidu. Por meio dessa declarao conjunta, eles objetivavam chamar ateno para os aspectos sociais e laborais da integrao, e para a criao de um rgo responsvel pela discusso e pelo desenvolvimento de polticas relacionadas a estas temticas. A principal conseqncia de tal movimento foi o surgimento do Subgrupo de Trabalho n 11 (SGT 11), cujo tema era Assuntos Laborais (Resoluo n 11/91 do GMC). O SGT 11 era um dos rgos de auxlio do GMC (Grupo Mercado Comum). Entretanto, no conseguiu alcanar resultados concretos.

O tema social passou a ser pauta do Mercosul a partir da assinatura do Protocolo de Ouro Preto, em 1994, uma vez que este criou diversos foros negociadores que discutiam os aspectos laborais e sociais. Esses foros socio-laborais possuem a competncia de estudar esses temas, bem como de propor polticas e projetos para a melhoria das condies dos cidados e trabalhado-res do Mercosul perante o Grupo Mercado Comum (GMC) ou, conforme o caso, o Conselho Mercado Comum (CMC). Dentre eles destacam-se:

1) Reunio de Ministros do Trabalho: foi instituda antes do Protocolo de Ouro Preto (POP) pela Deciso do CMC n 5/91. A Reunio visa a discus-so dos componentes sociolaborais do Mercosul no processo de integra-o do bloco, enfatizando a questo do trabalho e estabelecendo diretrizes para sua adequada abordagem. Eles se articulam para, alm do processo de integrao econmica e comercial, avanar em acordos nas reas das relaes trabalhistas, de seguridade social e migraes. Ademais, buscam garantir a igualdade de tratamento e proteo aos trabalhadores migran-tes.

2) Subgrupo de Trabalho n 10 (SGT 10): com o insucesso do SGT 11, de-pois da assinatura do POP e seu redimensionamento promovido na estru-tura do Mercosul, o GMC adota a Resoluo n 20/95 que criou o SGT 10. Este constitudo por trs Comisses Temticas (CT): CT I Rela-es de Trabalho; CT II Emprego, Migraes e Formao Profi ssional, que conta tambm com o grupo Ad Hoc de Migraes laborais; e a CT III Sade e Segurana no Trabalho, Inspeo do Trabalho e Seguridade Social. O SGT 10 organizado de forma tripartite, servindo de amplo

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espao de dilogo entre os governos, empregadores e trabalhadores em torno dos componentes sociolaborais da integrao. Este grupo foi o res-ponsvel por importantes conquistas como: a Declarao Sociolaboral do Mercosul, o Acordo Multilateral de Seguridade Social do Mercosul e seu Regulamento Administrativo, os Nomencladores Nacionais (documentos que compendiam as legislaes trabalhistas dos pases membros e servem de base aos estudos comparados), o Observatrio do Mercado de Traba-lho do Mercosul, o Documento Mercosul Sade e Segurana no Trabalho, o Repertrio de Recomendaes Prticas sobre a Formao Profi ssional e o Glossrio de Formao Profi ssional, entre outras.

3) Comisso Sociolaboral do Mercosul: foi instituda pela Declarao So-ciolaboral do Mercosul que segundo afi rma em seu artigo 20, um (...) rgo tripartite, auxiliar do Grupo Mercado Comum, que ter um carter promocional e no sancionador, dotado de instncias nacionais e regio-nais, com o objetivo de fomentar e acompanhar a aplicao do instru-mento. (...). Esse ato rene os direitos e compromissos fundamentais do trabalhador, que so reconhecidos pelos Estados signatrios.

4) Foro Consultivo Econmico e Social (FCES): o Protocolo de Ouro Preto estabelece em seu artigo 28 que o Foro Consultivo Econmico Social o rgo de representao dos setores econmicos e sociais e ser integrado por igual nmero de representantes de cada Estado Parte e em seu artigo 29 defi niu que o Foro Consultivo Econmico Social ter funo consultiva e manifestar-se- mediante Recomendaes ao Grupo Mercado Comum. da competncia do FCES acompanhar, analisar e avaliar o impacto eco-nmico e social derivado das polticas destinadas ao processo de integrao e as diversas fases de sua implementao, seja a nvel setorial, nacional ou regional. O Foro pode propor normas e polticas econmicas e sociais em matria de integrao e contribuir para uma maior participao da so-ciedade no processo de integrao regional. Promove-se, desse modo, a integrao do Mercosul, ampliando sua dimenso econmica e social. a porta de acesso possvel da sociedade civil aos membros do GMC. Contu-do, este um instrumento pouco utilizado, uma vez que no existe a cultura do cidado mercosulino interessado nas questes da integrao regional.

5) Projeto Dimenso Sociolaboral do Mercosul: surge a partir de uma so-licitao feita pelo Mercosul junto Comunidade Europia em 1999. Em 2000, a Comunidade Europia incumbiu ao Comit Econmico Social Europeu (CES) a misso de elaborar uma proposta de identifi cao com a fi nalidade de concretizar as aes de cooperao e de defi nir o quadro oramentrio do Projeto. Mas, apenas em 07 de julho de 2004 foi fi rmado o Convnio de Financiamento Mercosul/Unio Europia para o Projeto

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Dimenso Social, com o perodo de vinte e quatro meses para a execu-o. Esse Projeto objetiva contribuir para o desenvolvimento da dimen-so sociolaboral do Mercosul, por meio do fortalecimento das instncias envolvidas no dilogo socioeconmico entre os diferentes atores polticos (SGT 10 e GMC), os setores socioeconmicos representados pelo FCES e a instncia tripartite (CSL).

Apesar de toda discusso sobre a temtica social, o que existe em matria concreta sobre circulao de pessoas dentro do espao dos pases membros do Mercosul ainda um movimento tmido, comparando-se s conquistas nas matrias econmicas.

4.2 Simples trnsito, Migrao e Residncia

Atualmente, foram institudas algumas medidas de facilitao do trnsito de pessoas entre os pases signatrios. Para transladar-se de um pas para ou-tro, apenas o documento de identidade ou passaporte vigente sufi ciente, con-forme Resoluo do GMC n 75/96 (Documentos de cada Estado Parte que habilitam o trnsito de pessoas no Mercosul), que lista os tipos de identidade que podem servir para este fi m.

Os passaportes dos cidados do Mercosul comearam a ser impressos de forma padronizada, com a adoo da cor azul escuro e a expresso Mer-cosul carimbada no topo da capa, na lngua ofi cial do pas emissor. Este passaporte comeou a ser emitido no Brasil a partir de 2006, primeiramente, em Braslia (DF) e Goinia (GO). Os novos documentos seguem as normas da Organizao de Aviao Civil Internacional e possuem dezesseis itens de segurana, em contraposio ao passaporte antigo que possua sete. Essa nova medida facilitou o intercmbio de informaes entre os consulados dos pases membros do Mercosul.

A Deciso n 35/00, Mecanismos de Cooperao Consular entre os Pa-ses do Mercosul, Bolvia e Chile permite, por exemplo, que um cidado brasileiro receba atendimento consular em postos dos pases nos lugares onde o Itamaraty no estiver representado.

Existem outros acordos que abordam a temtica da livre circulao de pessoas. A Deciso n 37/04 dispe sobre Acordo contra o Trfi co Ilcito de Migrantes entre os Estados Partes do Mercosul, a Repblica da Bolvia e a Repblica do Chile que, contudo, encontra-se pendente de ratifi cao pelos Estados signatrios. E a Deciso N 17/05, que acorda sobre o Protocolo de Assuno sobre o Compromisso com a Promoo e Proteo dos Direitos Hu-manos no Mercosul, documento ratifi cado apenas pela Argentina e Paraguai, encontrando-se pendente de ratifi cao no Brasil e no Uruguai.

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Contudo, nenhum acordo pode ser considerado mais importante para o avano da circulao de pessoas e o combate migrao clandestina nos pa-ses do Cone Sul, que o Acordo sobre Residncia para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul, Bolvia e Chile, celebrado na XXIII Reunio do Con-selho do Mercado Comum, realizada em Braslia, no dia 6 de dezembro de 2002. No dia 20 de maio de 2004, o Congresso Nacional Brasileiro ratifi cou o acordo, Decreto Legislativo n 925/2005, concedendo, deste modo, o direito residncia e ao trabalho para os cidados de todos os Estados Partes, sem outro requisito alm da nacionalidade, como expresso no artigo 1, que trata do objetivo:

Artigo 1

Os nacionais de um Estado Parte que desejem residir no territrio de outro Estado Parte podero obter residncia legal neste ltimo, conforme os termos deste Acordo, mediante a comprovao de sua nacionalidade e apresentao dos requisitos previsto no artigo 4 do presente.

Por meio desse acordo, pessoas natas ou naturalizadas h pelo menos cin-co anos (artigo 3) possuem o processo simplifi cado na obteno de residn-cia temporria de dois anos. exigido passaporte vlido, certido de nasci-mento, certido negativa de antecedentes judiciais e/ou penais e/ou policiais, declarao de ausncia de antecedentes internacionais penais ou policiais e dependendo do pas, certifi cado mdico de autoridade migratria (artigo 4).

O artigo 5 prev o processo de transformao da residncia temporria em residncia permanente, mediante a apresentao, perante a autoridade migratria do pas de recepo, da mera comprovao de meios de vida l-citos que permitam a subsistncia do peticionante e de seu grupo familiar de convvio, noventa dias antes do decurso do prazo da primeira concesso.

Os pases signatrios se comprometem, tambm, por meio do acordo, a fornecer suas respectivas regulamentaes sobre imigrao, assim como, no caso de elaborao, suas ltimas modifi