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A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo Max Weber Weber faz uma análise de textos e teorias de pastores protestantes para discorrer sobre a relação entre as concepções religiosas fundamentais do protestantismo ascético e as máximas da vida econômica. Richard Baxter: ética puritana; posição eminentemente prática e ecumênica (compreensivo com outros cultos); avesso à toda revolução, ao sectarismo e ao zelo fanático dos “santos”. Orientou seu campo de ação essencialmente na direção do fomento prático à vida moral religiosa. A perda de tempo é o primeiro e o mais grave de todos os pecados (o tempo é infinitamente valioso porque cada hora perdida é trabalho subtraído ao serviço da glória de Deus). A especialização das profissões, por facultar ao trabalhador uma competência, leva ao incremento quantitativo e qualitativo do rendimento do trabalho e seve, portanto, ao bem comum, que é idêntico ao bem do maior número possível. “Fora de uma profissão fixa,os trabalhos que um homem faz não passam de trabalho ocasional e precário, e ele gasta mais tempo vadiando que trabalhando”. A ênfase da ideia puritana de profissão recai sempre nesse caráter metódico da ascese vocacional. Deus exige o trabalho profissional racional. Mudança de profissão não é de forma algujma encarada como algo em si condenável, desde que não se faça de forma leviana e sim para abraçar uma profissão mais agradável a Deus. Tomás de Aquino: o trabalho é necessário apenas por razão natural, para a manutenção da vida do indivíduo e da coletividade. A vocação é tida como uma ordem dada por Deus ao indivíduo a fim de que seja operante por sua glória. Enxerga a divisão de trabalho e a articulação profissional da sociedade como emanação direta do plano de Deus para o mundo. Deus se orienta em primeira linha por critérios morais, e em seguida, pela importância que têm para a coletividade os bens a serem produzidos nela, mas há um terceiro ponto de vista, o mais importante na prática: a capacidade de dar lucro; lucro econômico privado.

A Etica Protestante

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A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo

A tica Protestante e o Esprito do CapitalismoMax Weber

Weber faz uma anlise de textos e teorias de pastores protestantes para discorrer sobre a relao entre as concepes religiosas fundamentais do protestantismo asctico e as mximas da vida econmica. Richard Baxter: tica puritana; posio eminentemente prtica e ecumnica (compreensivo com outros cultos); avesso toda revoluo, ao sectarismo e ao zelo fantico dos santos. Orientou seu campo de ao essencialmente na direo do fomento prtico vida moral religiosa. A perda de tempo o primeiro e o mais grave de todos os pecados (o tempo infinitamente valioso porque cada hora perdida trabalho subtrado ao servio da glria de Deus). A especializao das profisses, por facultar ao trabalhador uma competncia, leva ao incremento quantitativo e qualitativo do rendimento do trabalho e seve, portanto, ao bem comum, que idntico ao bem do maior nmero possvel. Fora de uma profisso fixa,os trabalhos que um homem faz no passam de trabalho ocasional e precrio, e ele gasta mais tempo vadiando que trabalhando. A nfase da ideia puritana de profisso recai sempre nesse carter metdico da ascese vocacional. Deus exige o trabalho profissional racional. Mudana de profisso no de forma algujma encarada como algo em si condenvel, desde que no se faa de forma leviana e sim para abraar uma profisso mais agradvel a Deus. Toms de Aquino: o trabalho necessrio apenas por razo natural, para a manuteno da vida do indivduo e da coletividade. A vocao tida como uma ordem dada por Deus ao indivduo a fim de que seja operante por sua glria. Enxerga a diviso de trabalho e a articulao profissional da sociedade como emanao direta do plano de Deus para o mundo. Deus se orienta em primeira linha por critrios morais, e em seguida, pela importncia que tm para a coletividade os bens a serem produzidos nela, mas h um terceiro ponto de vista, o mais importante na prtica: a capacidade de dar lucro; lucro econmico privado. Quando a riqueza advm do desempenho do dever vocacional ela moralmente lcita e pode ser considerada at um mandamento. Assim como o aguamento da significao asctica da profisso estvel transfigura eticamente o moderno tipo de homem especializado, assim tambm a interpretao providencialista das oportunidades de lucro transfigura o homem de negcios. A ascese se volta com fora total principalmente contra uma coisa: o gozo descontrado da existncia e do que ela tem a oferecer em alegria. A sociedade monrquico-feudal defendia os desejosos de diverso contra a moral burguesa emergente e com conventculo asctico hostil autoridade, assim como hoje a sociedade capitalista costuma proteger os desejosos de trabalho contra a moral de classe dos operrios e o sindicalismo hostil autoridade. Os puritanos defendiam sua peculiaridade mais decisiva: o princpio da conduto de vida asctica. A uniformizao do estio de vida tinha seu fundamento ideal na rejeio divinizao da criatura. A ascese protestante intramundana agiu dessa forma com toda veemncia:- contra o gozo descontrado - estrangulou o consumo, especialmente o consumo de luxo- teve o efeito de liberar o enriquecimento dos entraves da tica tradicional - rompeu as cadeias que cercavam a ambio de lucro, no s ao legaliz-lo, mas tambm ao encar-lo como diretamente querido por Deus. A luta dos puritanos contra a concupiscncia da carne e o apego aos bens exteriores no era uma luta contra o ganho e sim contra o uso irracional das posses. A obteno da riqueza como fruto do trabalho em uma profisso era vista como bno de Deus. Valorizavam a acumulao de capital mediante coero asctica poupana. Os obstculos que agora se colocavam contra empregar em consumo o ganho obtido acabaram por favorecer seu emprego produtivo: o investimento de capital. At onde alcano a potncia da concepo puritano de vida, em todos esses casos ela beneficiou e isso, naturalmente, muito mais importante que o mero favorecimento da acumulao de capital a tendncia conduta de vida burguesa economicamente racional. Ela criou as bases do homo economicus moderno. O poder da ascese religiosa punha sua disposio trabalhadores sbrios, conscienciosos, extraordinariamente eficientes e aferrados ao trabalho como se finalidade de sua vida, querida por Deus. Dava aos trabalhadores a reconfortante certeza de que a repartio desigual dos bens deste mundo era obra toda especial da divina Providncia, que, com essas diferenas, do mesmo modo que com a graa restrita, visava a fins por ns desconhecidos. Produziu para a norma exclusivamente aquilo que importava para sua eficcia, isto , o estmulo psicolgico, quando concebeu esse trabalho como vocao profissional, como, muitas vezes, o nico meio de uma pessoa se certificar do estado de graa. Tratar o trabalho como uma vocao profissional tornou-se to caracterstica para o trabalhador moderno, como, para o empresrio, a correspondente vocao para o lucro. Os puritanos rejeitavam toda transao com a classe eticamente suspeita dos grandes capitalistas A conduta de vida racional fundada na ideia de profisso como vocao nasceu da ascese crist.