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A FÓRMULA PARA SER FELIZ (Por Ken O’Donnel) A FELICIDADE E SUAS CONSEQUENCIAS EM TERMOS DE SUCESSO PRÁTICO SÃO RESULTADOS DO ALINHAMENTO DO POTENCIAL DOS SERES HUMANOS COM SUAS METAS No final das contas e, apesar dos acontecimentos, o que queremos da vida? Nas minhas muitas viagens pelo mundo, já fiz essa pergunta para grupos diversos – índios do planalto boliviano, cientistas gregos, donas de casa americanas, operários de uma fábrica de cimento do sul da Índia e um grupo de policiais de Soweto, na África do Sul, que acabara de perder um colega baleado num tiroteio. Quase todos, independentemente de raça, cultura, nação, religião, profissão e circunstâncias, responderam que queriam ser felizes. Essa é a meta mais consistente do ser humano. Certa vez em Washington, tive uma percepção profunda sobre a natureza da felicidade ao conduzir um programa sobre valores humanos numa das maiores empresas do setor farmacêutico. Passei três dias explorando os três valores previamente estabelecidos – cooperação, liderança e serviço -, junto com setenta pessoas da equipe principal de recursos humanos. Ficou claro desde o início que a compreensão sobre os mecanismos desse trio nobre estava num plano bastante superficial. Como é comum, um grupo pequeno havia se reunido com alguns consultores externos para definir esses valores. Produziram todo tipo de bugiganga com essas três virtudes impressas – camisetas, cadernos, canetas e até copos usados para servir refrigerantes. É incrível que a direção de uma empresa de tão grande porte esperasse que a mera definição e a impressão dos valores fariam com que as pessoas automaticamente fossem líderes cooperativos, servindo de forma consistente a seus clientes internos e externos. Em inglês chamamos esse fenômeno spray and spray. Difundimos as idéias e rezamos para que dêem certo. Fazer analogia com um iceberg nos ajuda a entender o que acontece quando os planos são uma coisa e o resultado é outra. Os 10% visíveis constituem a missão, a visão e as metas. Os 90% que ficam abaixo d’água representam medos, hábitos, crenças, sentimentos e valores das pessoas. Se o vento sopra na superfície vai para o norte e as correntes do mar se dirigem para o sul, o iceberg segue para o sul, apesar do esforço do vento. Esse exemplo vale tanto para uma organização como para um indivíduo. A felicidade e suas conseqüências em termos de sucesso prático são resultados do alinhamento da parte de cima com a de baixo. Um outro programa semelhante num grande banco brasileiro, um executivo me disse que estava com dificuldade de equilibrar sua vida profissional e familiar com seu desenvolvimento como ser humano. Para muitos, os

A fórmula Para Ser Feliz

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A felicidade ao alcance de todos.

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Page 1: A fórmula Para Ser Feliz

A FÓRMULA PARA SER FELIZ

(Por Ken O’Donnel)

A FELICIDADE E SUAS CONSEQUENCIAS EM TERMOS DE SUCESSO PRÁTICO SÃO RESULTADOS DO ALINHAMENTO DO POTENCIAL DOS SERES HUMANOS COM SUAS METAS

No final das contas e, apesar dos acontecimentos, o que queremos da vida?Nas minhas muitas viagens pelo mundo, já fiz essa pergunta para grupos diversos – índios do planalto boliviano, cientistas gregos, donas de casa americanas, operários de uma fábrica de cimento do sul da Índia e um grupo de policiais de Soweto, na África do Sul, que acabara de perder um colega baleado num tiroteio. Quase todos, independentemente de raça, cultura, nação, religião, profissão e circunstâncias, responderam que queriam ser felizes. Essa é a meta mais consistente do ser humano.Certa vez em Washington, tive uma percepção profunda sobre a natureza da felicidade ao conduzir um programa sobre valores humanos numa das maiores empresas do setor farmacêutico. Passei três dias explorando os três valores previamente estabelecidos – cooperação, liderança e serviço -, junto com setenta pessoas da equipe principal de recursos humanos. Ficou claro desde o início que a compreensão sobre os mecanismos desse trio nobre estava num plano bastante superficial. Como é comum, um grupo pequeno havia se reunido com alguns consultores externos para definir esses valores.Produziram todo tipo de bugiganga com essas três virtudes impressas – camisetas, cadernos, canetas e até copos usados para servir refrigerantes. É incrível que a direção de uma empresa de tão grande porte esperasse que a mera definição e a impressão dos valores fariam com que as pessoas automaticamente fossem líderes cooperativos, servindo de forma consistente a seus clientes internos e externos. Em inglês chamamos esse fenômeno spray and spray. Difundimos as idéias e rezamos para que dêem certo.

Fazer analogia com um iceberg nos ajuda a entender o que acontece quando os planos são uma coisa e o resultado é outra. Os 10% visíveis constituem a missão, a visão e as metas. Os 90% que ficam abaixo d’água representam medos, hábitos, crenças, sentimentos e valores das pessoas. Se o vento sopra na superfície vai para o norte e as correntes do mar se dirigem para o sul, o iceberg segue para o sul, apesar do esforço do vento.

Esse exemplo vale tanto para uma organização como para um indivíduo. A felicidade e suas conseqüências em termos de sucesso prático são resultados do alinhamento da parte de cima com a de baixo.

Um outro programa semelhante num grande banco brasileiro, um executivo me disse que estava com dificuldade de equilibrar sua vida profissional e familiar com seu desenvolvimento como ser humano. Para muitos, os malabarismos diários entre esses três fatores nos deixam exaustos e sem preenchimento. No começo do dia, estamos num “carrosel” de pensamentos, palavras e ações que nos despeja na cama 18 horas depois zonzos e esgotados, para acordar no dia seguinte para mais uma rodada. A resposta das duas situações acima está em entender dois aspectos fundamentais:

- a identidade profunda do ser;- e um senso claro de propósito.

Se não identificamos quem somos, não sabemos o que fazemos. Se não sabemos o que queremos fazer, não faremos nada de substancial.Aquele que se identifica com os papéis que desempenha no trabalho, na rua ou em casa, fatalmente acaba passando a vida num “carrosel” de cenas, situações e transações. Cresce, amadurece, definha e morre sem sair dele. Pior, nem percebe que a vida poderia

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ser diferente. Aquele que só se identifica com os sucessos externos – na vida ou no trabalho – se condena a passar pela tristeza dos fracassos também.

Platão dizia que “a sabedoria é um exercício de constante auto definição”.Assim, nos perguntamos, o que é o ator por trás dos papéis e ações que realiza no palco no mundo? O que é que dá vida à nossa vida?Como no iceberg, os papéis e seus resultados são a parte visível. O que nos move realmente é a parte interna e profunda. Se Kasparov conseguiu usar 10% do seu potencial intelectual para tentar derrotar o computador no xadrez, quer dizer 90% estavam num estado latente. Nós que não somos nenhum Kasparov, utilizamos cerca de 3% a 4%, deixando o resto no seu estado inato, sem falar dos potenciais emocional e espiritual.

O desafio de qualquer ser humano é “des-cobrir” ou “des-envolver” seu potencial latente. Por causa do rush das atividades na parte visível do iceberg, não damos atenção devida à mina de qualidades e poderes que carregamos dentro de nós. Quem se identifica com o seu lado mais profundo encontra lastro para agüentar os mares altos. As ondas podem ser fortes, mas esse indivíduo não afunda.

Minha decalcomania para este ano de tantas crises é “Apesar de....Apesar dos obstáculos e problemas, eu tenho dentro de mim tudo o que preciso para vencê-los. Não tenho de equilibrar ou conciliar nada com nada, porque eu sou a mesma pessoa de dentro para fora – apesar dos diversos papéis e atividades profissionais, familiares e sociais. Essa autenticidade me poupa de muitos pensamentos inúteis e negativos que acabam sendo os verdadeiros ladrões da minha felicidade.

Uma vez me pediram para ajudar 300 pessoas da área de compras de uma grande fabricante de automóveis no Brasil a lidar com seu estresse. Nessa indústria específica, há muitas pressões que tendem a se identificar com a chegada de novos fabricantes no mercado. Eu disse que, embora as pressões reais fossem piorar, a única saída seria aprender a diminuir as pressões irreais que criamos internamente com o excesso de pensamentos inúteis e negativos.Estes geram tal estado de confusão e peso que não temos a clareza suficiente para tomar decisões corretas. “por que ele fez isso comigo?” “Como vou sair desta?” “Onde tudo vai terminar?” A lista enorme de perguntas e possíveis respostas nos rouba a energia que deveríamos estar usando para resolver os problemas.

A felicidade é o prêmio para aquele que têm a clareza de saber quem é e o que quer. Sem um propósito pessoal, a vida roda como uma mangueira solta. O indivíduo tem grande vontade e potencial para fazer algo, mas não sabe o quê, e a vida passa numa espécie de hemorragia existencial. Saber o que quer e querer o que reconhece como correto e verdadeiro é a fórmula para ser feliz. A felicidade tem exatamente o mesmo tamanho do potencial interno realizado na vida prática.

*Ken O’Donnell, australiano radicado no Brasil, é consultor de empresas nas áreas de planejamento estratégico, desenvolvimento organizacional e pessoal. Autor de dez livros publicados em diversas línguas. Coordenador para a América do Sul da Organização Brahma Kumaris, uma ONG com status consultivo geral na ONU e no Unisef.