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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO
MARANHÃO
CAMPUS BURITICUPU
PLATAFORMA FREIRE
A GÊNESE DA INTELIGÊNCIA SEGUNDO HENRI WALLON
Buriticupu – MA
2012
ALTIANE BANDEIRA DOS SANTOS LORENA
ANTONIO LUÍS MORAIS SILVA FILHO
ELISÂNGELA SILVA SANTOS
FRANCISCA TEIXEIRA
FRANCISCA FERREIRA FERNANDES
MARLY SOUSA DA SILVA
A GÊNESE DA INTELIGÊNCIA SEGUNDO HENRI WALLON
Trabalho apresentado à disciplina Psicologia
da Educação ministrada pela Prof.ª Claudicéa
Durans como requisito para obtenção parcial
de nota, curso: Licenciatura em Biologia, 3º
período.
Buriticupu – MA
2012
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... ………….04
2. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................. .04
2.1 Abordagem de Henri Wallon ..................................................................................... .07
2.2 Elementos básicos e a educação ................................................................................. 09
3 . CONCLUSÃO ...…...……………………………........................................................... 10
4. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. .11
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho irá abordar as principais ideias desenvolvidas por Henri
Wallon, médico, psicólogo e filósofo, as quais influenciarão diretamente a educação a
partir de suas observações. Nosso intuito é sintetizar os pontos mais importantes de
sua teoria, seus aspectos e a relação com a educação.
A Psicologia da Criança abordada por ele é um dos principais ramos do
estudo psicogenético do homem, pois é na infância que se localiza a gênese da maior
parte dos processos psíquicos, um dos motivos de seu interesse pelo desenvolvimento
infantil.
Ele acreditava que só o conhecimento da gênese dos aspectos que
constituem o psiquismo permite uma compreensão e explicação mais objetivas de seus
mecanismos e relações mútuas, evitando o equívoco de tomar a conduta do adulto por
uma simplicidade essencial e primitiva.
2. DESENVOLVIMENTO
Henri Wallon médico, filósofo e psicólogo francês nasceu em 15 de junho
de 1879 e faleceu com oitenta e três anos de idade, em 1962 em Paris. Sua biografia é
marcada por contexto histórico bastante conturbado, pois viveu num período marcado
por instabilidade social e turbulência política: as duas grandes guerras mundiais (1914-
1918 e 1939-1945); o avanço dos regimes fascistas e nazistas na Europa; a revolução
comunista na Rússia e as guerras para libertação das colônias africanas. Conflitos
político-sociais que contribuíram para o francês Henri Wallon criar sua teoria
pedagógica.
Portanto é necessário traçamos uma linha temporal para entendermos esse
contexto e alguns eventos importantes na sua trajetória de vida.
1902 – é contratado pelo governo para lecionar por um ano, no Liceu
Bar-le-Duc, na periferia de Paris. Descontente com a atividade repetitiva
de professor no secundário procura a carreira de medicina;
1908 – torna-se médico e imediatamente assistente do professor Negeotte
(1866-1948) respeitável histopatologista e com ele inicia suas atividades
no hospital de Bicêtre. Algum tempo depois, Salpêtrière, onde lhe
renderá entre os anos 1909 e 1912, mais de duzentas observações de
crianças doentes, casos de retardo, epilepsia, anomalias psicomotoras em
geral, matéria-prima para a sua tese de doutorado que defenderá somente
em 1925 após o fim da guerra;
1914 a 1918 – Período da primeira guerra mundial atuou como médico
do exército francês. O contato com os soldados portadores de lesões
cerebrais mudou posicionamentos neurológicos que ele havia
desenvolvido no trabalho com crianças deficientes. Esse Episódio de
grande impacto propiciou à Wallon observar uma aparente vinculação
entre um maior número e maior intensidade de traumas nos soldados do
que em seus superiores;
De 1920 a 1937 é o responsável pelas conferências sobre a psicologia da
criança na Sorbonne e outras instituições de ensino superior; O seu
trabalho será voltado para ao atendimento médico pedopsiquiátrico, não
mais em hospitais psiquiátricos;
1925 – cria um laboratório de psicobiologia para pesquisa e atendimento
de crianças ditas deficientes junto a uma escola na periferia de Paris;
também publica sua tese de doutorado - L’enfant turbulent (A Criança
Turbulenta) proveniente da experiência clínica observadas entre 1909 e
1912 com crianças doentes e também com os adultos traumatizados com
a guerra, a qual veio renovar e aprofundar suas observações sobre a
função da emoção na psicologia humana. Ela estaria composta de reações
orgânicas, controladas por centros cerebrais específicos e caracterizada
por transformações corporais visíveis;
1929 – torna-se professor da Universidade Sorbone e vice-presidente do
Grupo Francês de Educação Nova, a instituição que ajudou a
revolucionar o sistema de ensino da França e da qual foi presidente de
1946 até 1962, data de sua morte;
1930 – vai até a capital espanhola e se junta a estudantes e intelectuais
para protestar contra a nascente ditadura franquista;
1931 – em viagem à Russia para um congresso de Psicologia Clínica é
convidado a participar do Círculo da Nova Rússia, grupo de intelectuais
que almejava aproximar-se das teses marxistas em seus respectivos
campos de interesse. A partir desse envolvimento, Wallon passa a definir
sua psicologia como propriamente dialética; Se filia ao partido socialista
nesse mesmo ano;
1934 – publica aquele que é considerado o seu primeiro grande livro, “As
origens do caráter”, onde desenvolve suas principais teses sobre o
desenvolvimento do eu e o papel da emoção e do movimento nesse
desenvolvimento;
1938 – a convite de um amigo, o historiador Lucien Febvre, Wallon
coordena e redige todos os trabalhos para a publicação do 8º Tomo da
Enciclopédia Francesa. Cria um título no mínimo sugestivo: vida mental.
Era preciso aproximar o saber psicológico da vida real, cotidiana, resumir
os principais achados da ciência psicológica até então sem, porém sem
cair o tradicional modelo dos manuais psicológicos;
1939 a 1945 – na segunda guerra mundial atuou na resistência francesa,
como militante de esquerda contra a ocupação alemã de Adolf Hitler
sendo perseguido pela Gestapo, a polícia política nazista, porém
continuou seus trabalhos como médico em Paris; A década de 1940
apesar das conturbações nesse período marcado principalmente pelos
conflitos da guerra, Wallon publicará suas obras consideradas mais
importantes.
1941 – publica o livro “A evolução psicológica da criança”;
1942 – destaque para a obra “ Do ato ao pensamento”; integra o partido
comunista permanecendo fiel até o final de sua vida;
1944 – antes do término da guerra é indicado Ministro da Educação do
governo da resistência, cargo que ocupa por apenas um mês; Responsável
pela emenda que criou o serviço de psicologia escolar nas escolas
públicas francesas;
1945 – último livro “ Origens do pensamento na criança”.
1946 – atuou como deputado na assembleia constituinte que se iniciou
após a segunda grande guerra;
1947 – propôs e coordenou o projeto Reforma do Ensino conhecido
como Langevin-Wallon equivalente à nossa Lei de Diretrizes e Bases,
ou seja, um conjunto de propostas para mudar estruturalmente o sistema
de educação francesa. Essa reforma educacional em co-autoria com o
físico Paul Langevin (1872-1946) foi considerada muito avançada sendo
aplicada parcialmente ao ensino francês;
1948 – lançou a Revista Enfance que serviria de suporte para
pesquisadores e professores em vista das novas ideias no mundo da
educação;
1954 – presidente da Sociedade Francesa de Educação Nova e está a
frente das Jornadas de Psicologia da Criança;
2.1 Abordagem de Henri Wallon
Na primeira parte de L’enfant turbulent, Wallon descreve as etapas do
desenvolvimento psicomotor: os estágios impulsivo, emocional, sensório-motor e
projetivo e na sequência, o patológico. Deixando explícito a doença, como um dos
muitos elementos necessários para a compreensão da normalidade. Apresenta então, as
bases de sua concepção metodológica: cabe à psicologia um tratamento histórico
(genético), neurofuncional, multidimensional, comparativo.
Considera o sujeito como geneticamente social sendo sua atividade
inconcebível sem o meio social. Seu modelo de estudo é o da observação pura e está
centrado na criança, metodologia que permite conhecê-la em seu contexto. Propôs as
etapas de desenvolvimento que é o resultado da maturação e das condições ambientais,
as quais provocam alterações qualitativas no comportamento geral da criança. Esses
estágios não são lineares, nem fixos e nenhum suprime o outro, mas a etapa posterior
amplia e reforma a anterior. O desenvolvimento seria permeado de conflitos internos e
externos, com rupturas, retrocessos e reviravoltas, porém são fenômenos necessários,
geradores de evolução, pois confere ao ser humano uma nova forma de pensamento,
interação social e de emoções direcionadas ora para a construção do próprio ser, ora
para a edificação da realidade exterior.
Estágio impulsivo-emocional (0 a 1ano) – predominante afetivo, onde as
emoções são o principal instrumento de ligação com o meio físico. Afetividade
impulsiva, emocional, que se nutre pelo olhar, pelo contato físico e se
expressa em gestos, mímica e posturas. Desencadeia no outro reações de ajuda para
satisfazer suas necessidades. Seus movimentos expressam disposições orgânicas,
estados afetivos de bem-estar ou mal-estar. Ocorre, assim, uma intenção de
comunicação afetiva, um diálogo baseado em componentes corporais e expressivos.
Estágio sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos) – O interesse da criança
volta-se para exploração sensório-motora do mundo físico. A aquisição da marcha e
da preensão possibilitam-lhe maior autonomia na manipulação de objetos e na
exploração de espaços. Há o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O
pensamento, ainda nascente projeta-se em atos motores. Para Wallon, o ato mental se
desenvolve a partir do ato motor. Também são atividades predominantes, a imitação e
o simulacro. A imitação vai gerar os jogos de ficção, onde passa a realizar uma ação
com o objeto mesmo na sua ausência. Percebe-se a predominância do cognitismo.
Já a etapa do Personalismo (3 a 6 anos) – o aspecto predominante é o
afetivo, a criança toma consciência de si mediante as interações sociais passando
afirmar-se como indivíduo autônomo. O processo central é a formação da
personalidade. Período marcado por oposições, emprego do pronome eu e meu,
sedução, imitação, inibições e autonomia.
Quando da formação do eu, a crise de oposição dá lugar a uma fase
de personalismo positivo, que se apresenta em dois momentos: etapa da sedução,
onde ocorre o empenho em obter a admiração dos outros, processo necessário para
admirar a si mesmo, caso seja frustrada em sua afirmação pode demonstrar timidez; a
etapa da imitação, onde a criança imita as pessoas que lhe atraem,
incorporando suas atitudes. Aos 6 anos a criança já possui os meios intelectuais e as
oportunidades de individualizar-se.
O estágio seguinte se divide em dois períodos: o do pensamento sincrético
ou pré-categorial e o categorial (6 a 11 anos) – o pensamento sincrético é confuso,
geral, sem distinções se caracteriza pela incapacidade da criança analisar as
qualidades, propriedades, circunstâncias e conjunturas das imagens ou situações. Há
um interesse pelo conhecimento e conquista do mundo exterior. A afetividade torna-
se cada vez mais racionalizada, onde os sentimentos são
elaborados no plano mental predominando o aspecto cognitivo.
No entanto o período categorial consiste na capacidade de formar
categorias, ou seja, de organizar o real em séries, classes, apoiadas sobre um fundo
simbólico estável. É uma função de diferenciação que favorece a objetivação do real.
Realizando a separação entre qualidade e coisa, a função categorial permite
a análise e a síntese, a generalização e a comparação, e permite a diferenciação
dos objetos entre si e das tarefas essenciais do conhecimento.
O estágio da adolescência (12 anos) - fase com transformações físicas e
psicológicas. Há a necessidade pela reconstrução da personalidade, instala-se uma
nova crise de oposição, que se apresenta mais sofisticada do ponto de vista
intelectual, já que a conduta do sujeito incorpora as conquistas cognitivas realizadas
durante o estágio categorial. Diferenciada da criança pequena, que é mais
emocional na vivência de seus conflitos, o adolescente procura apoiar suas
oposições em sólidos argumentos intelectuais. A oposição se mantém como
importante recurso para a diferenciação do eu. São marcos a busca pela autoafirmação,
o desenvolvimento da sexualidade e a predominância do aspecto afetivo.
Contudo essas etapas do desenvolvimento não cessam com a adolescência, o
processo dialético sempre implicará na passagem por um novo estágio incorporando
sucessivamente as conquistas realizadas.
2.2 Os elementos básicos da teoria de Wallon e a educação
Segundo Galvão (1996) a teoria walloniana é identificada como a
Psicogênese da Pessoa Completa por considerar que a produção de um saber
psicológico lógico deve levar em conta a totalidade do sujeito integrado ao meio, suas
emoções, o eu, consciência, linguagem e etc., ou seja, os aspectos afetivo, cognitivo e
motor. Baseou suas ideias em quatro elementos que se ligam o tempo todo: a
afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa.
A afetividade – para o francês, as emoções têm papel fundamental no
desenvolvimento do sujeito. É a resposta orgânica sustentada por centros nervosos
específicos, altera a respiração, os batimentos cardíacos, a pele e etc. Ex. raiva,
alegria, medo, a tristeza, sentimentos de modo geral.
Na escola, o aluno manifesta suas vontades e desejos retratando um
universo importante, porém pouco estimulado nos modelos tradicionais de educação.
Quanto ao movimento - sua teoria sinaliza que as emoções dependem da
organização dos espaços para se manifestarem. É a dimensão motora que dar condição
inicial ao organismo para o desenvolvimento da dimensão afetiva. É a primeira forma
de manifestação do ser humano, mas desde as primeiras demonstrações, a motricidade
é afetiva. Quando bebê depende do outro e faz uso dos recursos da afetividade para
agir sobre o meio e sobre o outro. Esses movimentos impulsivos formam a base para
os expressivos de acordo com a resposta social. Somente no término do primeiro ano
de vida é que o equipamento neurológico sensório-motor de forma lenta ficará pronto
finalizando o processo motor em ato mental.
Segundo sua teoria a motricidade tem caráter pedagógico tanto pela
qualidade do gesto e do movimento quanto pela representação. Porém infelizmente
ainda está arraigada na educação, a cultura de imobilizar a criança restringindo
justamente a liberação das emoções e do pensamento, essenciais para seu
desenvolvimento completo.
A gênese da inteligência para Wallon segundo Dantas (1992) é genética e
organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se
atualizar. A sua proposta prioriza o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura
humanizada e que a escola deve trabalhar atividades pedagógicas de formas
diversificadas. Na sala de aula as disciplinas e os temas devem ajudar o aluno a
descobrir o eu no outro e não se restringir apenas a conteúdos.
O eu e o outro - a formação do eu na teoria walloniana dependerá
basicamente do outro ou por referência ou por negação principalmente quando a
criança atinge aos 3 anos de idade, a chamada crise de oposição. O ato de negar o
outro funciona como um instrumento de descoberta de si, especificamente a hora de
saber que “eu sou”. A manipulação, sedução e imitação do outro são peculiares dessa
fase.
3. CONCLUSÃO
Henri Wallon é um teórico com inúmeras contribuições para a educação,
porém suas observações são poucos discutidas no meio docente. Percebe-se através
das suas teorias um legado de reflexões e proposições para o desenvolvimento
humano. Foi pioneiro ao levar não só o corpo do educando, mas também suas
emoções para dentro da sala de aula pensando uma educação integral, ou seja,
intelectual, afetiva e social, lembrando que essas ideias para sua época fora uma
verdadeira revolução.
Aos professores é primordial para sua práxis conhecer os estágios de
desenvolvimento da teoria walloniana, compreender seus conceitos e as necessidades
específicas de cada etapa para intervir com segurança no processo de aquisição do
conhecimento do educando. Esse desenvolvimento é um processo progressivo e
compreendê-lo é tarefa que se impõe para a educação, daí a importância de se discutir
mudanças nas escolas, a organização do trabalho na sala de aula e na prática docente.
Ideias tidas como de nossa época, também foram herdadas desse teórico
como, por exemplo: a sala de aula deve ser um local de cooperação, de troca, com
alunos heterogêneos e que dominem determinada função e ajude o colega em
desenvolver também essa função. Cabendo ao professor promover a cooperação entre
os alunos, socializando e construindo conceitos.
4. REFERÊNCIA
DANTAS, H. A infância da razão. São Paulo, Manole, 1990.
http://revistaescola.abril.com.br/hitoria/pratica-pedagogica/educador-integral-
423298.shtml?page=1. Acesso em: 17/07/2012 às 11h24min