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A I - Tema 9_1 - Ficha # 3

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  • UNIO EUROPEIA Fundo Social Europeu

    DIREO DE SERVIOS DA REGIO NORTE AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VILA FLOR CD. 151841

    ESCOLA E.B. 2,3 / S DE VILA FLOR - CD. 346184

    C. Prof. Tcnico de Turismo Ambiental e Rural Disciplina de rea de Integrao Ano Letivo 2013/2014

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    Mdulo 6 Tema/problema: 9.1 Os fins e os meios:

    que tica para a vida humana Ficha n 3

    O DIREITO E A JUSTIA 1

    FINALIDADE DO DIREITO

    Uma vez que o ser humano vive em sociedade, em contacto com os outros, desenvolvendo

    relaes de afetividade e conflituosidade, os desgnios da sociedade no podero ser governados

    somente pela liberdade de cada um, ou depender unicamente das normas morais. Cada pessoa tem

    a sua prpria noo de bem, cada opinio diferente quando se discute se uma ao boa ou m e,

    em termos prticos, muitas pessoas confundem o bem com o bem pessoal. Ento, como governar a

    sociedade em funo do bem aplicvel a todos os cidados?

    O Direito surge, assim, como uma forma de estabelecer princpios objetivos que regulem a

    sociedade e o comportamento dos cidados, de modo a que exista harmonia, paz e respeito entre

    todos os seus membros. O Direito tem, deste modo, um fundamento tico pois a sua finalidade

    principal a de assegurar o bem social, ou seja, a justia e a segurana.

    Em termos essenciais, as caractersticas das normas decorrentes do Direito, designadas normas

    jurdicas, so as seguintes:

    Imperatividade Impe ou ordena um determinado comportamento.

    Coercibilidade Suscetibilidade de ser aplicada uma sano civil ou penal aos desviantes

    das normas estabelecidas.

    Universalidade Diz respeito a todos os indivduos.

    Abstrao Aplicvel a um nmero indeterminado de casos ou situaes e no a

    situaes concretas ou individualizadas.

    JUSTIA, ESTADO E SOCIEDADE

    A palavra justia tem origem na palavra latina iustitia que significa o conjunto

    de princpios que garantem a cada um e ao conjunto da sociedade os seus direitos,

    promovendo a igualdade entre todos os cidados.

    Apesar de ser difcil definir com simplicidade o conceito de justia, diz

    respeito ao princpio bsico que dever assegurar o bem-estar social e promover a

    igualdade entre todos os cidados, de forma a que os seus direitos sejam

    respeitados. Geralmente representada pela figura de uma mulher cega ou com os

    olhos vendados, uma espada na mo direita e uma balana na mo esquerda,

    pretende simbolizar os seguintes princpios:

    Thmis,

    a deusa da Justia

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    - a justia cega - no olha a quem - todos so iguais perante a lei;

    - a justia pune aqueles que no cumprirem as leis;

    - a justia no tem dois pesos nem duas medidas, tudo pesado na mesma balana.

    Mas, definir o que de quem, ou aquilo a que cada um tem direito, torna-se difcil de objetivar

    numa sociedade plural, pois os interesses individuais esto intimamente relacionados e, por vezes,

    confundem-se com os sociais, gerando conflitos. Da, ser necessrio criar instituies que

    consigam, ou, pelo menos, procurem assegurar esses direitos individuais e sociais, de forma a que

    a sociedade viva em paz e harmonia. Tribunais, Polcias, Assembleia da Repblica, Governo, so

    algumas das entidades que promovem, discutem e asseguram os princpios fundamentais das

    pessoas.

    A partir daqui torna-se necessrio fazer referncia a dois conceitos fundamentais que intervm

    neste processo, nomeadamente as noes de Poltica e de Estado.

    A Poltica a arte de governar, ou seja, diz respeito ao conjunto de medidas levadas a cabo por

    indivduos, grupos e governantes com vista a atingir os objetivos de uma comunidade e a resolver

    os seus problemas. O termo tem origem na palavra grega politiks, proveniente de polis (cidade

    estado) cujo significado remetia para o cidado ou o domnio pblico. Na Grcia Antiga, as cidades

    encontravam-se de tal forma organizadas politicamente que funcionavam de forma autnoma e

    independente onde os problemas da esfera pblica eram debatidos pelos cidados.

    Assim, a poltica refere-se s aes do poder desencadeadas por determinados agentes cuja

    funo conduzir os desgnios de uma sociedade ou nao a partir de um conjunto de princpios

    assentes em instituies. Cabe-lhes harmonizar os interesses particulares com os interesses coletivos

    e assegurar o equilbrio social (bem comum).

    No centro da poltica de uma comunidade encontra-se o Estado. O Estado nasceu a partir da

    necessidade de o Homem dar resposta aos desafios e dificuldades que foram surgindo ao longo do

    tempo na organizao e funcionamento da sociedade. Em virtude da moralidade, e, pelo facto de as

    prprias leis no conseguirem por si s controlar os comportamentos dos indivduos e harmonizar

    as relaes entre os cidados, foram criadas instituies que assegurassem o cumprimento dos

    princpios fundamentais do Direito e a aplicao das leis, condio fundamental para estabelecer a

    ordem e garantir a sobrevivncia da comunidade.

    O Estado , deste modo, uma forma de organizao social composta por instituies que lhes

    reconhecida autoridade para exercer o poder poltico com base no Direito. Sem ele, a sociedade no

    teria possibilidade de se organizar, dado no existirem agentes que tivessem legitimidade e poder

    para legislarem e decidirem em nome de todos os cidados - viveramos numa anarquia ou na lei

    da selva em que o mais forte ou poderoso triunfaria. As instituies que compem o Estado so o

    governo, o parlamento, os tribunais, as polcias, etc., cujas funes principais so:

    - Funo legislativa - elaborar leis e aprov-las; - Funo executiva - aplicar as leis e tomar medidas para a satisfao das necessidades

    coletivas;

    - Funo judicial - velar pelo cumprimento das leis, resolver os conflitos e punir os infratores.

    Apesar do Estado estabelecer uma diviso na sociedade (governantes e governados) existe uma

    preocupao em defender os interesses de todos os membros independentemente do 'estatuto que

    cada indivduo possa ter, dado que ele representa todos os cidados. Na base da sua ao esto

    presentes os objetivos fundamentais do direito (justia e segurana) assentes nos seguintes

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    princpios:

    - o princpio da legalidade; - o princpio da igualdade; - o princpio da justia.

    O PROBLEMA DA FUNCIONALIDADE DO ESTADO E DA APLICAO DA JUSTIA

    Se o Estado de Direito um mecanismo essencial para estabelecer a ordem e a organizao da

    sociedade, procurando garantir os princpios de igualdade e justia para todos os cidados, o

    problema que esses direitos nem sempre estiveram reservados a todos.

    Na polis grega (Grcia Antiga) que se intitulava democrtica, os direitos de escravos e crianas

    eram quase inexistentes. s mulheres, pouco mais lhes era conferido, no podendo participar das

    decises polticas, pois, todos eles, incluindo os estrangeiros, eram definidos como "coisas" e no

    como cidados.

    Na Idade Mdia, os povos indgenas dos continentes africano e americano no foram, durante

    muito tempo, considerados humanos, justamente porque se pensava que no teriam alma. A

    escravatura s foi abolida no sculo XIX na maioria dos pases, e h que lembrar que a Mauritnia

    foi, em 1981, o ltimo pas a abolir, na letra da lei, a escravatura.

    Em dezembro de 1948, foi adotada a Declarao Universal dos Direitos Humanos pela ONU

    (Organizao das Naes Unidas) que estabelece a igualdade entre todos os seres humanos nos seus

    direitos, independentemente das suas origens, caractersticas ou opes.

    No entanto, o problema da justia social e moral no diz respeito somente ao passado. Com o

    desenrolar da Histria, surgem nas sociedades novos problemas ticos que pem em causa a justia,

    a liberdade e os valores. A crescente valorizao do poder econmico e a excessiva dependncia das

    agncias bancrias e das grandes empresas sob o qual vivemos hoje, tem movido uma certa

    desconfiana em relao independncia do Estado e dos agentes polticos no exerccio das suas

    funes.

    No domnio social, o aparecimento de novos hbitos e escolhas de vida, adotados por alguns

    indivduos, criaram novos modelos axiolgicos, que, mais uma vez, colocam em causa os padres

    clssicos da sociedade. Temas como a legalizao de drogas leves, o casamento entre homossexuais,

    ou mesmo a adoo de crianas entre casais homossexuais, tm gerado polmica entre os diversos

    quadrantes da sociedade, provocando conflitos sociais. Para alguns, so excessos de liberdades e

    falta de referncias valorativas, para outros, so direitos que lhes assistem numa sociedade justa e

    igualitria.

    Construir uma sociedade justa e igualitria algo que todos pretendem. Mas determinar o

    que justo, bom, ou um direito para os cidados, uma tarefa difcil de realizar, uma vez que a

    adoo de uma norma, que se considere justa, tem os seus aderentes e os seus opositores, pelo que

    jamais haver unanimidade nas decises. No entanto, fica uma ideia clara: tais regras so essenciais

    para a integrao, educao e desenvolvimento da sociedade, sempre pautada por valores e que,

    necessariamente, tm que ser reguladas por princpios ticos.

    1 Ficha elaborada com adaptaes a partir de: MANZARRA, Antnio & GALA, Elsio (2013). rea de Integrao O Mundo. A

    descoberta da crtica: o universo dos valores. Unidade temtica 9. Lisboa: Raiz Editora, pp. 25-29.