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DO BNH AO MINHA CASA MINHA VIDA

A ideologia por trás do BNH

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DO BNH AO MINHA CASA MINHA VIDA

Gabriel Bolaffi

Ficha técnica: Texto “Habitação e Urbanismo: o problema e o falso problema (1975)

Os problemas brasileiros têm sido formulados a partir de estratégias de poder e dasideologias que foram elaboradas durante os últimos quinze ou vinte anos, e não a partirdas características intrínsecas ao problema.

O problema da habitação tomado isoladamente em função dos princípios básicos e dasregras do regime constitui um falso problema.

O sistema (brasileiro) só poderá resolver alguns dos seus verdadeiros e reais problemasse for capaz de armar-se com a vontade a coragem política para solucionar algumascontradições básicas.

O PROBLEMA E O FALSO PROBLEMA DA HABITAÇÃO NO BRASIL

A habitação popular é eleita o

“problema fundamental” pelo governo

federal em 1964.

O PROBLEMA E O FALSO PROBLEMA DA HABITAÇÃO NO BRASIL

Estudo de Loyd A. Free, no Brasil, em 1960, sob patrocínio doInstitute for International Social Research: sobre as aspiraçõespessoais e atitudes políticas da população brasileira: casa própriaera a principal aspiração as populações urbanas.

Correlação estatística entre a propriedade da habitação e políticaspúblicas conservadoras. Por quê?

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

“Porque a classe média e o operariado urbano noBrasil vivem permanentemente a contradição entreexpectativas de ascensão social, a necessidade dedemonstrar publicamente essa mesma ascensão, eum poder aquisitivo cada vez mais reduzido. Vive,portanto, entre as angústias do crediário e danecessidade de consumir mais”(BOLAFFI,1975,p.43).

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

As características do estilo de vida das classesde renda média e baixa que conferem à casaprópria a importância subjetiva e objetiva queelas lhe atribuem ao transformá-la na suaprincipal aspiração.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

Lado subjetivo: sucesso, conquista, posiçãosocial.

Lado objetivo: melhora condições para oacesso ao crediário, libera o orçamentofamiliar da obrigação inexorável do aluguel.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

ENTENDENDO A IDEOLOGIA POR TRÁS DA HABITAÇÃO POPULAR

O que o regime de 1964 fez....

>> Assumiu, juntamente como poder, o compromisso deconter e reduzir aspressões inflacionárias.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

>> Mas... sua sobrevivência política dependia da capacidade deatingir esse objetivo sem provocar uma depressão economicamenteprofunda e prolongada.

>> E também... de conseguir formular projetos capazes de conservaro apoio das massas populares, compensando-as psicologicamentepelas pressões da política de contenção salarial.

>> Para tanto... nada melhor do que a CASA PRÓPRIA!!!!!

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

“Na segunda metade de 1964, havia sinais de que o novo governo...começava a controlar os problemas imediatos e de longo prazo. Emagosto foi formulado um programa de ação do governorevolucionário para curto prazo, com o objetivo de deter a inflação(limitando a expansão do crédito subordinando as elevações dosalário ao aumento de produtividade e elevando as receitastributárias...) e estimular a produção. Esperava-se estimular aprodução mediante um amplo plano governamental de construçãode residências populares, que ao mesmo tempo incentivariaindústrias básicas, fornecedoras da construção civil, e daria saída aoproblema social representado pela aguda carência de habitações nascidade...” (Werner Baer ,1965).

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

Voltando às origens das teorias econômicas…

Teoria econômica Keynesiana: ao contrário dos cortesnas despesas governamentais, é incentivado o seuaumento, para criar emprego e demanda a partir doinvestimento em obras de longa maturação e,preferivelmente, desnecessários ou de prioridadesecundárias, durante os períodos de expansãoeconômica.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

Em 1967 o BNH recebe a gestão dos recursos do FGTS,tornando-se o segundo banco do país com recursosdisponíveis.

O BNH canalizou os recursos do FGTS para aconstrução civil. Assim, tudo indica que o “problemada habitação popular” (que se agrava cada vez mais),apesar dos fartos recursos que supostamente foramdestinados para a sua solução, não passou de umartifício político formulado para enfrentar umproblema econômico conjuntural.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

Porque…

...se observa que, a partir de 1967, quando aconjuntura econômica tende a se inverter, aspreocupações para com as condiçõeshabitacionais das camadas populares vãosendo paulatinamente esquecidas.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

>> 1967Indústria automobilística

principal indústria, com incentivoseconômicos e fiscais no Brasil.

>> crescimento desnecessariamente rápido esocialmente oneroso.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

Para Bolaffi:

Se a construção civil tivesse continuado a ser o acelerador daeconomia (e recuperador da recessão econômica), teria criado umaconjuntura econômica menos vulnerável, pois teria assegurado, oupelo menos facilitado, um crescimento econômico baseado numamelhor distribuição de renda (mais geração de empregos). Isto teriarepercutido favoravelmente sobre setores cronicamente retardados,como a agricultura para consumo interno, ou a indústria têxtil,respectivamente. Geraria uma expansão econômica mais sólidasbaseadas nas reais (mas implícitas) vantagens do Brasil: basetecnologia e industrial razoável, recursos territoriais e naturais,contingente demográfico que, sem ser excessivo, garante essencialmercado interno.

A IDEOLOGIA DAHABITAÇÃO POPULAR

Objetivo: diminuir o déficit habitacional

Relatório anual do BNH em 1971 mostra que os recursos atenderam a 24% da demanda populacional urbana.

Ou seja, está aumentando o déficit habitacional a cada ano.

O BNH: OBJETIVOS MANIFESTOSE FUNÇÃO REAL

Então, qual é a função real do BNH?

Só repassa os recursos ao uma variedade de agentesprivados intermediários.

Com isso, os recursos foram aplicados eminvestimentos estranhos à habitação popular, ou àconstrução civil, para financiar atividades econômicasmais lucrativas.

O BNH: OBJETIVOS MANIFESTOSE FUNÇÃO REAL

Exemplo de como funcionava:

>> Transfere para a iniciativa privada todas as decisõessobre a localização e a construção das habitações quefinancia, gerando negociatas inescrupulosas.

>> A burla começa com a utilização de terrenosinadequados e mal localizados, prossegue com aconstrução de edificações imprestáveis e se conclui com avenda da casa a quem não pode pagá-la, por preçosfrequentemente superiores ao valor do mercado.

O BNH: OBJETIVOS MANIFESTOSE FUNÇÃO REAL

Resultado:

O BNH contribuiu para agravar os problemas urbanos. “Um processo industrial de favelamento”.

O BNH: OBJETIVOS MANIFESTOSE FUNÇÃO REAL

O problema da habitação está atrelado ao valor do solo urbano: a necessidade de uma

nova política fundiária.

DE VOLTA ÀHABITAÇÃO

O que aconteceu foi que…

O BNH não organizou a indústria da construção civil,aumentou a produtividade do setor para baixar oscustos de produção da habitação.

A principal omissão foi não ter formulado uma políticafundiária.

DE VOLTA ÀHABITAÇÃO

Após a extinção do BNH em ….

Não houve política habitacional na década de 1990.

Constituição Federal de 1988: inclusão do conceito defunção social da cidade e da propriedade

Estatuto da Cidade: regulamentação de normasconstitucionais e definição de instrumentos de gestãodo solo urbano

MP 2220 – Regularização fundiária

DE VOLTA À HABITAÇÃONO HOJE…

lei 11977 – Programa Minha Casa Minha Vida• Disponibilização de um conjunto de novos instrumentos

urbanísticos voltados a induzir as formas de uso eocupação do solo

DE VOLTA À HABITAÇÃONO HOJE…

lei 11977 – Programa Minha Casa Minha Vida• Possibilidade de rever lógicas concentradoras e

excludentes de modelos tradicionais de atuaçãourbanística

• Abertura de espaço para a redistribuição de renda epoder entre diversos estratos da sociedade

• Elucidação da importância do planejamento urbanopara a definição do ordenamento territorial diante dasatuais demandas sociais existentes

• Possibilidade de criação de canais de pactuação entreos diversos atores e segmentos da sociedade nosprocessos decisórios sobre o destino da cidade

DE VOLTA À HABITAÇÃONO HOJE…

A lei Nº 11.977, de 7 de julho de 2009, que dispõe sobre o Programa MinhaCasa Minha Vida institui que:

“Em áreas urbanas, os critérios de prioridade para atendimento devemcontemplar também:

I – a doação pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios deterrenos localizados em área urbana consolidada para implantação deempreendimentos vinculados ao programa;II – a implementação pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípiosde medidas de desoneração tributária, para as construções destinadas àhabitação de interesse social;III – a implementação pelos Municípios dos instrumentos da Lei no 10.257[Estatuto da Cidade], de 10 de julho de 2001, voltados ao controle daretenção das áreas urbanas em ociosidade.

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O papel dos municípios no Minha Casa Minha Vida

Os municípios e respectivos órgãos das administrações direta ouindireta (companhias de habitação e outros) podem desempenharum papel fundamental no programa, mas para isso precisamdesenvolver algumas ações:• Planejar as ações no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vidade modo que os empreendimentos sejam elaborados de acordo comas diretrizes de planejamento da cidade• Identificar as regiões e zonas de intervenção prioritárias paraimplantação dos projetos, promovendo ações para facilitar o uso deterrenos bem localizados para sua implantação• Identificar e apresentar a demanda

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O papel dos municípios no Minha Casa Minha Vida

• Promover ações facilitadoras e redutoras dos custos de produçãodos imóveis• Providenciar as autorizações, alvarás, licenças e outras medidasnecessárias à aprovação e viabilização dos projetos arquitetônicos,urbanísticos, complementares e de implantação de infraestruturabásica, incluindo a aprovação do licenciamento ambiental junto aosórgãos competentes e nas situações que envolvam concessionáriasde serviços públicos de energia elétrica, água e saneamento• Doar terrenos• Os estados e municípios poderão, ainda, combinar subsídios com osque já estão disponíveis no programa de forma acumulativa para obeneficiário

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MINHA CASA MINHA VIDA...

Segundo Raquel Rolnik…

“Minha Casa, Minha Vida”: subsídios públicos individuaispermitem às famílias de menor renda comprar no mercadoprodutos ofertados por construtoras privadas. O modelose completa com disponibilidade de crédito: quanto menoré a renda, maior é o subsídio e menor é a parcela decrédito que entra para viabilizar a compra.

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MINHA CASA MINHA VIDA...

Segundo Ermínia Maricato…

“Na hora em que o Minha Casa, Minha Vida entra emação, você tem uma elevação imediata e absurda,escandalosa, dos preços dos imóveis e da terra. Issoporque nós entramos com o recurso privado e público enão entramos com a democratização do acesso à terra”.

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MINHA CASA MINHA VIDA...

Segundo Ermínia Maricato…

“O Ministério das Cidades tem política para obras e não políticaurbana. Política urbana não é uma soma de obras. É importante quehaja recursos, mas política urbana é controle do uso e ocupação dosolo. É isso que favorece o meio ambiente, dá sustentabilidade ejustiça social. É o que ninguém faz. Pela constituição, é umaresponsabilidade do município. A legislação torna isso complexo”.

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MINHA CASA MINHA VIDA...

“O aquecimento imobiliário, com o aumento do crédito e oprograma Minha Casa, Minha Vida, agravou a situação. Nas regiõesmetropolitanas, terras para moradias de famílias com renda de atétrês salários mínimos são raras e, em geral, na periferia.Raquel Rolnik, relatora especial da ONU para o Direito à Moradia,afirma que prefeituras e Câmaras Municipais acabam não utilizandoos dispositivos porque eles causam muito conflito com donos deimóveis e representantes do setor imobiliário”.

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Santa Luzia,Maranhão

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Santa Luzia,Maranhão

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Devemos tercuidado para não

virar….

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Chile

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Chile

O desafio é a regulamentação e aplicação dos instrumentos inseridos

nos Planos Diretores.

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