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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO Por: Patrícia Chagas da Costa Orientador Prof.ª Solange Monteiro Rio de Janeiro 2012

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR E … · professor precise fazer o uso excessivo da ... fácil de agir e pensar, o afeto faz parte do funcionamento ... importância

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO

PROFESSOR E ALUNO

Por: Patrícia Chagas da Costa

Orientador

Prof.ª Solange Monteiro

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO

PROFESSOR E ALUNO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia Institucional

Por: Patrícia Chagas da Costa

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AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente, pela força, saúde, sabedoria e coragem para atingir os meus objetivos. A minha família, que sempre me encorajou acreditando em mim, mesmo quando pensei em desistir, e a quem retribuo tanto amor e afeto recebido. A minha orientadora Prof.ª Solange Monteiro, com sua sabedoria e competência transformou esses momentos em grandiosos saberes.

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DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais Edilena e Jorge,

que sempre acreditaram no meu

sucesso, me apoiando para que eu

pudesse concretizar mais uma etapa da

minha vida.

Amo vocês.

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RESUMO

Este trabalho monográfico teve como objetivo identificar a importância

da afetividade nas relações desenvolvidas entre professor e aluno, ressaltando

a importância de como a afetividade pode contribuir para a melhoria no ensino-

aprendizagem. Desta maneira, a afetividade é identificada como o melhor

caminho para essas trocas entre as partes na sala de aula, sem que o

professor precise fazer o uso excessivo da autoridade como meio de formar

indivíduos. Concluindo este trabalho, irei abordar o trabalho do Psicopedagogo

na instituição escolar que tem como caráter preventivo no sentido de procurar

criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta

finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de

aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a

intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de

ensino.

Dessa forma a afetividade influencia de maneira significativa pelos quais

os seres humanos resolvem seus conflitos, essa organização da maneira de

pensar influencia o sentimento, e tendo sentimento fica mais fácil de agir e

pensar, o afeto faz parte do funcionamento psíquico de todo ser humano ele

assume papel fundamental em todas as relações.

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METODOLOGIA

Para realizar este trabalho monográfico foi utilizada uma pesquisa de

cunho bibliográfico com estudo aprofundado com leitura de livros. Alguns

teóricos contribuíram para este trabalho como Freire, Vygostky, Wallon, Piaget,

esses teóricos nos apresentam conceitos sobre afetividade, e todos nos

ensinam que para o educador desempenhar bem o seu papel é preciso se

relacionar afetivamente com o aluno. Em relação à Psicopedagogia

institucional, teóricos como Nádia Bossa, Alícia Fernandez, Maria Lúcia Lemme

Weiss, contribuíram para reflexão que o psicopedagogo estimula o

desenvolvimento de relações, o vinculo afetivo entre todos da escola, a

utilização de técnicas de ensino e aprendizagem que é relacionada com as

mais recentes concepções a respeito desse processo. Ou seja, é criado

estratégias para envolver a equipe escolar, ajudando-a a aumentar o olhar em

torno do aluno, ajudando o aluno a superar as suas dificuldades que se

interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias a leitura do mundo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Definindo a afetividade 13

CAPÍTULO II - Afetividade: Relação Professor e Aluno 25

CAPÍTULO III – O Psicopedagogo na Instituição Escolar 43 CONCLUSÃO 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52

INDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 56

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como abordagem a afetividade.

Este tema tem por objetivo discutir a importância da relação afetiva entre

professor e aluno levando a perceber como tal relação interfere no processo de

ensino-aprendizagem podendo trazer resultados positivos ou negativos para o

trabalho que o professor realiza e que a escola oferece.

Segundo Tassoni:

O processo de aprendizagem ocorre em decorrência de interações sucessivas entre as pessoas a partir de uma relação vincular, portanto, é através do outro que o indivíduo adquire novas formas de pensar e agir e apropria-se ou constrói relações sociais que influenciam na relação do individuo com os objetos, lugares e situações. (TASSONI, 2000, p.265).

A afetividade é essencial na vida de todo ser humano, por isso ela é

importante na construção da felicidade, na formação de pessoas estáveis,

capazes de conviver, saber ouvir e valorizar o outro. Por isso, as relações

afetivas na escola são importantes, pois não há transmissão de conhecimento

sem interação entre as pessoas, assim como, a aprendizagem do aluno vai

depender muito desse afeto em sala de aula que são estabelecidas entre

professor e aluno.

Frequentemente, em sala de aula surgem situações de dificuldades

existentes na relação entre professor e aluno, e grande parte dessas

dificuldades se reflete nos resultados da aprendizagem, por isso este trabalho

tem como proposta revelar a importância do afeto na relação professor e aluno.

Um alto percentual do padrão emocional é formado nos primeiros anos

de vida. Muitos desconhecem as consequências deixadas em uma criança

quando para a emoção não é atribuído um valor significativo, é nesse ponto

que afetividade tem um papel imprescindível no processo de desenvolvimento

da personalidade da criança, que se manifesta primeiramente no

comportamento.

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Segundo Almeida (1999, p. 50) “As relações familiares e o carinho dos

pais exercem grande influência sobre a evolução dos filhos, em que a

inteligência não se desenvolve sem a afetividade”. Apesar dos sentimentos de

amor e afeto, em especial nos primeiros anos de vida parecerem insignificantes

para grande maioria dos pais, são sentimentos importantes que vão influenciar

no sucesso escolar da criança. São os pais, os maiores responsáveis pela

preparação emocional de seus filhos. Atualmente a agitação da vida moderna

os pais acabam deixando essa necessidade de lado, com isso grandes

prejuízos podem ser causados na inteligência emocional da criança que ao

chegar na idade de freqüentar a escola sentirá grave reflexos na aprendizagem

e o desenvolvimento psíquico da criança dá-se através do meio social que ela

convive.

Almeida (1999) ao mencionar Wallon (1989) observa que “são as

emoções que unem a criança ao meio social: são elas que antecipam à

intenção e o raciocínio”.

Expressar apoio afetivo é de uma importância extraordinária dentro da

estrutura familiar, um olhar carinhoso, um toque, ouvir e dar atenção aos

sentimentos de um filho bombeia-lhe energia e o motiva a retomar o ponto de

onde parou. Essas demonstrações de afeto devem começar muito cedo, ainda

no ventre materno, dessa forma quando a criança iniciar sua vida escolar ela

irá desenvolver sua autonomia e terá progresso significativo na aprendizagem.

A escola é um espaço de troca, onde diferentes valores, concepções,

culturas, crenças e relações sociais se misturam e fazem do cotidiano escolar

uma rica e complexa estrutura de conhecimentos e de sujeitos. Falar de

afetividade e aprendizagem é falar do ser humano, que por sua natureza social,

se constrói na relação do sujeito com os outros sujeitos, num contexto de inter-

relações. Uma pessoa não deixa de aprender quando exerce a função de

professor, por isso o processo de ensino-aprendizagem pode ser beneficiado

quando professor e aluno buscam conhecimentos mútuo de suas

necessidades, tendo consciência de sua forma de relacionar-se, respeitando as

diferenças.

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Segundo Freire:

No fundo, o essencial nas relações entre educador e educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães, filhos e filhas, é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia. Me movo com educador porque primeiro, me movo como gente.(FREIRE,1996,P.94).

Assim, o professor em sala de aula deverá contribuir para desenvolver

em seus alunos a auto-estima, a estabilidade, tranqüilidade, capacidade de

contemplação, de perdoar, de fazer amigos e de socializar-se. Grande parte

das dificuldades que surgem no processo de aprendizagem, alunos distraídos,

rebeldes, que não conseguem aprender, resulta na falta de liberdade.

Professor e aluno são autênticos quando se apresentam como realmente são,

sem disfarces, sem máscaras. O professor contribuirá muito para a

aprendizagem se, se envolver pessoalmente com os alunos, quando o

educador é autêntico em relação aos seus alunos, manifesta seus sentimentos,

e mostra-se aberto ao diálogo e sugestões chega mais facilmente a seus

objetivos: o afeto e aprendizagem caminhando lado a lado.

De acordo com Rodrigues:

As situações de ensino agradáveis suscitam no aluno um desejo de repetir e renovar a aprendizagem. Quando, por infelicidade, o contrário acontece, o aluno tende a rejeitar não só a disciplina que não consegue aprender, mas também tudo quanto a ela se refira, inclusive o mestre e até a própria escola. Se a situação de aprendizagem é gratificante e agradável o aprendizado tende a se dinamizar, a extrapolar-se para situações novas e similares e, por fim, a inspirar novas aprendizagens. (RODRIGUES, 1976, p.179).

O trabalho do professor torna-se mais fácil na medida em que ele pode

obter dos alunos informações sobre seus problemas e temas favoritos. Se os

alunos puderem falar e discutir, o que lhes interessa virá à tona e, a partir

desses dados, o professor poderá desenvolver as atividades escolares. Nas

discussões atuais acerca da educação a autoridade docente aparece como

uma das principais questões que influenciam a questão disciplinar na sala de

aula.

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Segundo Freire:

Segura de si, a autoridade não necessita de, a cada instante, fazer o discurso sobre sua existência, sobre si mesma. Não precisa perguntar a ninguém, certa de sua legitimidade, se “sabe com que está falando?”. Segura de si, ela é porque tem autoridade, porque a exerce com indiscutível sabedoria. (FREIRE, 1996, p.91).

De acordo com o autor é importante notar que, para que a autoridade

tenha uma função vital na relação professor e aluno na sala de aula, é

necessário que os indivíduos que interagem em sala tentem construir um

conceito de disciplina que não seja imposto por leis arbitrárias, mas sim que

seja construído através da negociação de regra justas que levem os alunos a

desenvolverem autonomia e percepção crítica.

Este trabalho monográfico se justifica com a pretensão de discutir de

que forma a relação afetiva entre professor e aluno pode ajudar a buscar um

bom desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.

Ao falar nos problemas educacionais nos dias de hoje, os especialistas

em educação afirmam que grande parte dos problemas em sala de aula está

na falta de afetividade na relação entre professor e aluno, e os estudos avaliam

que esse é um dos pontos de partida para resolução de problemas na escola.

A afetividade pode ser definida, segundo Almeida como o:

Conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza. (ALMEIDA, 1999, P.11).

Assim podemos dizer que a família é quem desempenha esse papel

fundamental na formação do afeto na vida criança e isso reflete demais no

ambiente escolar, seja do lado positivo ou negativo, a afetividade é o fator

fundamental na relação com as pessoas que estão envolvidas nesse

desenvolvimento integral da criança, ou seja, a família.

Como futura educadora acredito que na escola e, principalmente, na

sala de aula, há muita escassez de afeto, porém, essa relação afetiva é

importante, pois não há transmissão de conhecimento sem interação entre

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pessoas, e essa relação de troca é responsável pela criação de ambientes

sociais saudáveis. O conversar, o ensinar e o aprender ganham um contorno

novo e os afetos contribuem para isto porque a afetividade é integrante da

educação, e é ela que se dispõe a construir o homem por inteiro.

Sendo assim, a escolha deste tema visa refletir o trabalho e a postura do

professor perante as dificuldades em sala de aula e seu relacionamento com os

alunos, além de, também, contribuir para uma discussão interessante de como

é importante à afetividade e como ela interfere no aprendizado que se torna

mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e

métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma

tarefa fácil, e por isso os professores devem despertar a curiosidade dos

alunos no desenrolar das atividades em sala de aula.

Assim, o presente trabalho monográfico terá como objetivos, discutir

sobre a importância da afetividade nas relações vividas entre professor e aluno,

bem como as mesmas podem contribuir para o processo ensino-aprendizagem,

através de fatores relevantes que possam estimular uma convivência afetiva no

processo educativo. Também procurou discutir a questão da autoridade do

professor em sala de aula.

Para tanto, ele será organizado em 3 capítulos. No primeiro

capítulo definirá a afetividade e sua contribuição na educação, no segundo

capítulo apresentamos uma reflexão sobre o afeto na relação professor e aluno

como caminho para um melhor ensino-aprendizagem, tratando também da

questão da autoridade do professor na sala de aula. E no terceiro capítulo

abordaremos a psicopedagogia institucional, discutindo a atuação do

Psicopedagogo na escola.

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CAPÍTULO I

DEFININDO AFETIVIDADE

No Minidicionário Aurélio (2005, p. 99), o verbete afetividade está

definido da seguinte forma: “Qualidade ou caráter de afetivo”. Pode-se dizer

que a afetividade exerce papel fundamental nas correlações psicossomáticas

básicas, ela influencia a percepção, a memória, o pensamento, à vontade e as

ações, e ser, assim, um componente essencial do equilíbrio da personalidade

humana. Já a palavra afeto vem do latim affectur (afetar, tocar) e constitui o

elemento básico da afetividade. O afeto, do latim affectus, corresponde no

português a “sentimento de amizade”, “afeiçoado a”, “carinho”, “afabilidade”.

Ferreira (1999) nos mostra que, quando se pensa em “afeição”, vem

naturalmente à mente imagens relacionadas a cuidado, acolhimento, aceitação,

afago. Para ser afeto, é preciso afetar, tocar, aquele que estava “sujeito a”,

produzindo uma mudança de estado.

O afeto na vida do ser humano é tudo aquilo que está interligado com a

nossa parte sensível. É tudo que nos afeta como pessoa: sentimentos, afetos,

emoções, paixões, atenção, personalidade, temperamento e outros mais.

Definir afetividade não é fácil mais sem ela não poderíamos dizer que somos

realmente humanos.

Gudín neste sentido afirma que:

A natureza sensível do homem, isto é, tudo aquilo que sentimos e que nos afeta, forma parte de nossa condição volitivo-intelectual, do que queremos e pensamos. Ambas facetas humanas, a cognoscitiva-racional e a afetiva são totalmente inseparáveis: cada ação que realizamos tem uma conotação sentimental. (GUDÍN, 2001, p.17).

A autora comenta que o ser humano é uma realidade com várias

dimensões e que estas são inseparáveis no conceito de afetividade. O homem

e a afetividade têm uma conexão que não dá para separar, o afeto faz parte da

vida e é por isso que ela possui alguns fenômenos que apresentam oscilações

no ser humano como: Algo que mexe com nosso interior e modifica nossa

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intimidade, podemos ficar tristes, alegres, emocionados, irados, indignados

com algum acontecimento. O fato é que a afetividade deixa rastro, deixa

vestígios em nossa vida, e isso depende muito da intensidade e duração do

que sentirmos.

Os estados afetivos são manifestações de nossas tendências e de

nossas inclinações. Eles representam à forma de como os acontecimentos

repercutem na vida do ser humano, tentando produzir um elenco de reações

matizadas que define seu modo de ser no mundo em que vivemos. Entende-se

que a afetividade é uma qualidade das relações humanas e das experiências

no decorrer de nossas vidas, são as relações sociais que marcam a vida

humana conferindo a realidade que faz parte do seu contexto um sentido

afetivo. Em seguida cito alguns estados afetivos que fazem parte do cotidiano

do ser humano.

De acordo com Wallon (apud Arantes 2003) a emoção, no sentido geral,

significa toda espécie de estado afetivo de certa intensidade. As emoções

podem ser divididas em emoções primárias, secundárias, as emoções

primárias são assim chamadas por serem inatas ligadas à vida instintiva e são

subdivididas em emoção de choque, emoção colérica e emoção afetuosas

sendo as duas primeiras originadas do instinto de conservação e a última do

instinto sexual.

Já as emoções secundárias são estados afetivos de estrutura e

conteúdos mais complexos que os anteriores e que se subdividem em: estados

afetivos sensoriais que partem da sensibilidade corporal com por exemplo o

prazer e a dor; e estados afetivos vitais são afetos corporais, atitudes internas

positivas ou negativas relacionadas à sensações vagas e difusas, não ligadas à

determinada parte do corpo.

Damásio (1996, p. 168) informa que: “a etimologia da palavra emoção

sugere corretamente uma direção externa a partir do corpo: emoção significa

literalmente movimento para fora”. O autor fala também que há uma

diferenciação entre emoção e sentimento que não podem ser utilizados como

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sinônimos. Afirma o autor que: “todas as emoções originam sentimentos, se

estiver desperto e atento, mas nem todos os sentimentos provêm de emoções”.

De acordo com o ponto de vista do autor a emoção é a própria

expressão da afetividade onde acontece a manifestação de um estado

subjetivo, já o sentimento, é duradouro e psicológico, faz mais parte de uma

reação afetiva.

Os sentimentos são estados afetivos estáveis, que surgem e se

substituem, que acontecem integrados às vivências, sendo, portanto,

conscientes. São mais duráveis em sua intensidade vivencial do que as

emoções, não surgem bruscamente, mas, sempre num continuo, em fusão com

um sentimento anterior. O temperamento é uma disposição fundamental inata,

ligada à constituição orgânica, imutável. Não influenciada por questões

corporais e psíquicas. Determina o modo de ser de cada um. O humor é uma

disposição afetiva básica, dependente de condições corporais e psíquicas. Ele

se altera de acordo com as condições corporais e psíquicas O humor varia

muito em indivíduos não-padecentes de transtornos específicos: sensações de

alegria, de prazer, tristeza, indiferença, desinteresse, irritabilidade encontram

sua expressão afetiva correspondente devidamente controlada pelo indivíduo.

A paixão são inclinações levadas a um alto grau de força, extraordinariamente

intensa, estado afetivo absorvente, polariza a vida psíquica em direção ao

objeto, monopoliza as ações. Existem também os estados afetivos mais

complexos como: a tristeza, o Desespero, a Repugnância, o Ressentimento, a

Angustia, ansiedade, o Medo.

Segundo Piaget:

[...] a afetividade constitui a energética das condutas, cujo aspecto cognitivo se refere apenas às estruturas. Não existe, portanto, nenhuma conduta, por mais intelectual que seja que não comporte, na qualidade de móveis, fatores afetivos; mas, reciprocamente, não poderia haver estados afetivos sem a intervenção de percepções ou compreensão, que constituem a estrutura cognitiva. (PIAGET, 1980, p.103).

Portanto, a afetividade surge à medida que os seres humanos

estabelecem relações entre si e com a natureza, ocasião em que vivenciam

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emoções e sentimentos, isto é, reagem afetivamente aos acontecimentos. O

desenvolvimento do ser humano, e a consciência de si vão sendo construídos

pelo sujeito nas suas relações com o outro. A dimensão afetiva no

desenvolvimento humano é, contudo, uma proposta que desafia todas as

velhas concepções que durante muito tempo desarticularam o homem de sua

própria essência.

De acordo com Gottmam (1997) na idade média, a família era

responsável pela transmissão da vida, dos bens e dos nomes, sem qualquer

tipo de função afetiva. A criança quando completava sete anos elas iam

participar dos jogos e atividades do dia-a-dia com adultos ou velhos, boa parte

dos casos as crianças eram enviadas para outras famílias para receber

educação. No século XVII, a família começa a manter a sociedade à distância,

e começa também a valorizar a intimidade da vida privada, e a ter necessidade

de uma identidade, passando a se unir também pelo sentimento. Assim a

família passou a ser responsabilizado pela transmissão de valores e

conhecimentos e pela socialização da criança, e isso se tornou fundamental

para que a criança desenvolvesse os laços afetivos para o processo de

subjetivação.

Segundo Sisto e Martinelli:

O desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação de seu corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e com o mundo onde estabelece ligações afetivas e emocionais. O desenvolvimento da criança está relacionado ao âmbito afetivo. (SISTO E MARTINELLI, 2006, p.47).

A presença dos pais ensinando os valores para criança pode ser muito

importante para a auto-imagem que a criança forma durante o período inicial da

autopercepção. Se as crianças se sentem amadas a auto-imagem delas tende

a ser positiva, e é provável, que elas sintam confiança nas capacidades que

estão emergindo. Por isso a família é muito importante para a formação do

afeto na vida da criança, um bom vínculo entre pais e filhos, uma relação de

confiança, espontaneidade e transparência só são possíveis se cada um dos

componentes dessa interação puder realizar uma aprendizagem emocional

satisfatória. Essa relação afetiva da criança com a família contribui

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positivamente para a formação de sua personalidade, pois a criança necessita

de uma figura afetiva onde esta desempenha o papel de mediador na

construção de sua identidade.

Ter limites com a criança dentro da família é de extrema importância

para o seu desenvolvimento no processo afetivo, tendo em vista, o respeito às

regras para a convivência alocada no espaço com o outro. Assim, a mãe, no

começo é facilitadora, deve tornar-se progressivamente facilitadora e limitadora

obrigando-se a adotar uma atitude que nova na relação com a criança. Com

isso, esta se desenvolverá de forma satisfatória, refletindo nos relacionamentos

futuros dentro de ambientes coletivos. Tem a necessidade que a mãe coloque

situações de muita segurança para com a criança, no intuito de que esta

consiga renunciar à satisfação de um prazer imediato sem que isso repercuta

negativamente na área afetiva. Isso permite que a criança crie certa tolerância

à frustração, o que mais tarde permitirá, sem perturbar a personalidade,

suportar a decepção, o fracasso, a insatisfação.

Segundo Bee:

O apoio afetivo da mãe permitirá a criança suportar a frustração. O medo de perder o amor materno faz com que a criança obedeça às exigências da mãe, já que a criança cuida muito do amor materno, portador de sentimentos de segurança. (BEE, 1986, p.210).

A vida afetiva da criança e a intensidade e qualidade dessas ligações

dependem em parte do comportamento dos pais em relação à criança. Além

disso, os sentimentos de segurança produzidos pela ligação afetiva variarão de

acordo com a regularidade desse relacionamento e com o quanto ele é

satisfatório. Estar presente na vida dos filhos é muito importante: sentar com

eles, contar uma história, contar as vitórias e as derrotas da vida, deixar que

eles façam parte do seu mundo. É muito importante também que os pais

brinquem com seus filhos: role no tapete, jogue bola e participe do seu dia a

dia, pois essa afetividade pode trazer grandes benefícios para a aprendizagem

escolar da criança.

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Falar de afetividade na vida do ser humano é ter em mente teóricos

como Wallon (1989), que atribui em sua teoria grande importância à emoção e

a afetividade, elaborando conceitos a partir do ato motor, da afetividade e da

inteligência. Para ele as interações são uma via para o desenvolvimento e para

as manifestações das emoções.

Para Wallon (apud Galvão, 2003), o movimento é à base do pensamento

e as emoções é que dão origem à afetividade. O autor dá o exemplo de um

bebê que ainda não desenvolveu a linguagem e que utiliza seu corpo por meio

de contorções, e outras manifestações emocionais para mobilizar os adultos à

sua volta pelo contágio afetivo.

De acordo com Galvão (2003, p. 74), “Pela capacidade de modelar o

próprio corpo, a emoção permite a organização de um primeiro modo de

consciência dos estados mentais e de uma primeira percepção das realidades

externas”.

Assim, é muito importante a subjetividade dos estados afetivos vividos

por quem experimenta uma determinada emoção. E uma vez que a vida

emocional se apresenta, na teoria de Wallon, como uma condição para a

existência de relações interpessoais, para este teórico, as emoções também

fazem parte da atividade representativa e, portanto, da vida intelectual. Isto

significa que Wallon não separa o aspecto cognitivo do afetivo. Sendo assim,

pode-se interpretar que o ato motor é à base do pensamento e a emoção

também é fonte de conhecimento.

Segundo Galvão:

Paralelamente ao impacto que as conquistas feitas no plano cognitivo têm sobre a vida afetiva, a dinâmica emocional terá sempre um impacto sobre a vida intelectual. [...] É graças à coesão social provocada pela emoção que a criança tem acesso à linguagem, instrumento fundamental da atividade intelectual. (GALVÃO, 2003, p.76).

Podemos perceber através das teorias de Wallon, que a cognitivação da

emoção não elimina as manifestações corporais, haja vista que, no plano da

inteligência, o pensamento se faz acompanhar por gestos em que se exerce

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muito mais a expressão do indivíduo. Um conceito de sua teoria que tem

implicação na prática pedagógica é que a emoção estabelece uma relação

imediata dos indivíduos entre si, independente de toda relação intelectual.

Para Wallon:

A propagação ‘epidérmica’ das emoções, ao provocar um estado de comunhão e de uníssono, dilui as fronteiras entre os indivíduos, podendo levar a esforços e intenções em torno de um objetivo comum. Permitiria, assim, relações de solidariedade quando a cooperação não fosse possível por deficiência de meios intelectuais ou por falta de consenso conceitual, contribuindo, portanto, para a constituição de um grupo e para as realizações coletivas. (WALLON, 1989, p.162).

Assim, de acordo com o autor, a emoção e a inteligência são

indissociáveis e potencializadas pela socialização, priorizar a afetividade nas

interações ocorridas no ambiente escolar contribui para dinamizar o trabalho

educativo.

Já para Vygotsky (2003), só se pode compreender adequadamente o

pensamento humano quando se compreende a sua base afetiva. Muito próximo

das conclusões da teoria de Wallon, acredita que pensamento e afeto são

indissociáveis.

Segundo Vygotsky apud Arantes (2003):

Quem separa o pensamento do afeto nega de antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do pensamento no plano afetivo. [...] A vida emocional está conectada a outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de um modo geral. (VYGOTSKY apud ARANTES 2003, p.18-19).

O homem é produto do desenvolvimento de processos físicos e mentais,

cognitivos e afetivos, internos e externos. No que se refere às emoções,

conforme o homem aprimora o controle sobre si mesmo, mudanças qualitativas

ocorrem no campo emocional.

Rego (1997) afirma que “São os desejos, necessidades, emoções,

motivações, interesses, impulsos e inclinações do indivíduo que dão origem ao

pensamento e este, por sua vez, exerce influência sobre o aspecto afetivo-

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volitivo”. Diante do ponto de vista do autor cognição e afeto não são

dissociados no ser humano: se inter-relacionam e exercem influências

recíprocas ao longo do seu desenvolvimento.

Diante da teoria de Vygotsky, podemos dizer que o ser humano, da

mesma forma que aprende a agir, a pensar e a falar, por meio do legado de

sua cultura e da interação com os outros, aprende a sentir. O longo

aprendizado sobre emoções e afetos se inicia nas primeiras horas de vida de

uma criança e se prolonga por toda sua existência.

Para Piaget (apud Saltini, 1999), o desenvolvimento afetivo está ligado

intrinsecamente e ocorre paralelo ao desenvolvimento moral: a criança vai

superando a fase do egocentrismo, se apercebe da importância das interações

com as outras pessoas e desenvolve a percepção do eu e do outro como

referência. Ainda no estágio sensório-motor, o sorriso infantil correspondido por

um sorriso adulto torna-se, para a criança, um instrumento de contágio e de

diferenciação entre pessoas e objetos. A afetividade ocorre quando a criança é

capaz de distinguir objetos e pessoas fora dela mesma, com a superação do

egocentrismo, momento em que desenvolve condições afetivas de amar as

pessoas e manifestar estima pelos objetos. O desenvolvimento cognitivo,

afetivo, e social se dá de forma interdependente, e qualquer desequilíbrio pode

comprometer o conjunto.

Assim para Piaget apud Inhelder:

A afetividade, a princípio centrada nos complexos familiais, amplia sua escala à proporção da multiplicação das relações sociais, e os sentimentos morais [...] evoluem no sentido de um respeito mútuo e de sua reciprocidade, cujos efeitos de descentração em nossa sociedade são mais profundos e duráveis. (PIAGET apud INHELDER, 1990, p.109).

De acordo com a teoria de Piaget (1975), podemos dizer que a formação

da consciência e dos sentimentos morais infantis é resultado da relação afetiva

da criança com os pais, o que chama à atenção para a qualidade das interações

afetivas no ambiente familiar. Isso porque é na família que a criança estabelece

os primeiros contatos e experimenta as primeiras vivências afetivas e

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aprendizagens que vão lhe servindo de referência para orientar as relações com

as outras pessoas. A criança busca satisfação orgânica e psicológica por meio

das relações com as pessoas e com o meio, está se socializando pela afetividade,

também decisiva em cada etapa de desenvolvimento proposta por Piaget (1975).

O estágio sensório-motor do desenvolvimento cognitivo, a criança passa

por um momento de transição do eu para o social: na afetividade, a criança

passa do estado de não-diferenciação entre o eu e os construtos físicos e

humanos para um estágio de reconhecer que existem trocas entre ela (o eu

diferenciado) e o outro. Para Piaget (1975), nessa fase de desenvolvimento,

existe muito mais troca afetiva e contágios para a criança do que efetivamente

diferenciação das pessoas e coisas, o que torna ainda mais importante as

interações.

O estágio pré-operatório marca outra etapa da evolução afetivo-social da

criança: a mobilidade mental, o jogo simbólico e a linguagem favorecem novas

interações e afetos, valorização pessoal e independência em relação ao objeto

afetivo designado pela criança. Se nesse nível de evolução a condição é pré-

cooperativa por causa do egocentrismo, no estágio das operações concretas, a

criança passa a ter uma personalidade individualizada que constitui novas

relações interindividuais que promovem novas trocas afetivas e cognitivas

equilibradas.

No último estágio de desenvolvimento, do pensamento formal, que

corresponde à adolescência, o pensamento já está formado e se amplia com

as interações afetivas, a mudança social e a construção de novos valores,

entre outros.

Diante das definições sobre a afetividade, vale reconhecer que nós

seres humanos necessitamos da dimensão afetiva. Ao perceber a sociedade

nos dias de hoje percebemos escassez de afetividade. Nesse sentido

entendemos que o amor, juntamente com afeto pode ter mais eficácia do que a

ordem simplesmente dada. A afetividade será sempre vista em todos os

lugares como crescimento integral do ser humano e isso faz o interligamento

para as pessoas no desenvolvimento da socialização. A partir disso queremos

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e precisamos de uma sociedade no qual todos possam sentir o sabor da

afetividade saudável, favorecendo a qualidade das relações. A família é muito

importante na formação da personalidade das crianças, os pais são os

alicerces para que os valores, a moral e a ética sejam fundamentais nessa

formação.

1.1 - Afetividade e educação

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN

9394/96, art. 2º, p. 5) nos diz que a educação tem como finalidade a

preparação do educando para o exercício da cidadania, só que a forma como

estão sendo conduzidas as relações interpessoais na educação tem produzido

sujeitos como auto-estima fragilizada, onde esses sujeitos não conseguem ter

consciência e nem a capacidade de suas habilidades, é diante disso que

precisamos que reconsiderem algumas posturas tomadas no sentido de

bloquear as relações afetivas em todas as áreas educativas. A educação é um

meio através do qual todos os educandos, educadores, gestores, pais, e outros

segmentos sociais acreditam em sua importância na construção, reconstrução

e acondicionamento de uma sociedade idealizada. Falar de afeto na educação

é de extrema importância para a qualidade das relações que se estabelecem

entre todos que rodeiam a âmbito educacional.

Segundo Vygotsky:

as reações emocionais exercem uma influência essencial e absoluta em todas as formas de nosso comportamento e em todos os momentos do processo educativo. Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem seu pensamento, devemos fazer com que essas atividades sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm que um fato impregnado de emoção é recordado de forma mais sólida, firme e prolongada que um feito indiferente. (VYGOTSKY, 1984, p.121).

De acordo com Vygotsky (1984), é dever da escola e da atuação

profissional da educação oferecer, no contexto escolar, atividades de

interações entre os diferentes sujeitos com finalidade de social e educativa. Até

porque as características individuais e essencialmente humanas estão

relacionadas e dependem da interação do ser humano com meio físico e social

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no qual pertence. As instituições escolares devem ter um espaço dinâmico, no

qual os sujeitos tenham desenvolvimento de suas capacidades e

potencialidades corporais, cognitivas, afetivas, emocionais, de relação

interpessoal e inserção social.

Chalita (2001, p. 230) afirma que “o grande pilar da educação é a

habilidade emocional”, por isso é importante entender que mesmo no cotidiano

escolar é possível desenvolver habilidades cognitivas e sociais, entende-se que

a alegria, a paixão e o amor pelo ato educativo têm a propiciar um ambiente de

melhores relações interpessoais, sabemos que os sentimentos pessoais e

interpessoais envolvendo afetividade e educação melhora de forma sistematiza

o nosso sistema educacional.

Segundo Freire:

Educar exige respeito aos saberes dos educandos. Respeito é uma dimensão do afeto. Em palavras mais simplificadas pensar certo exige respeito aos saberes com os quais os educandos chegam na escola e também discutir com eles a razão desses saberes em relação com o ensino de conteúdos. É valorizar e qualificar a experiência dos educandos e aproveitar para discutir os problemas sociais e ecológicos, a realidade concreta a que se deva associar a disciplina, estudar as implicações sociais nefastas do descaso dos mandantes, a ética de classe embutida nesse descaso. (FREIRE, 1996, p.33-34).

De acordo com Freire (1996), entende-se que ensinar faz parte da

humanização e isso está ligado diretamente à afetividade onde nós educadores

realizamos esse procedimento de estimular o sujeito através de suas próprias

capacidades criativas. Ter boas relações no âmbito escolar acontece de forma

que acabamos entrando em contato com a situação do outro, se colocando no

lugar do outro, tentando vivenciar a situação e finalmente ajuda-lo.

Segundo Luckesi:

O educando pressupõe o desenvolvimento das diversas facetas do ser humano: a cognição, a afetividade, a psicomotrocidade, e o modo de viver. Educação tem que ser não o que pensar mais sim como pensar. Para que isso ocorra com nossas crianças devemos propiciar um ambiente alegre, feliz e que possui um espaço para dialogar, discutir, questionar e compartilhar saberes. Onde há espaço para construção do conhecimento significativo. (LUCKESI, 1984, p.213).

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No âmbito educacional devemos dar atenção e receber também

atenção. Por isso as relações afetivas na educação tentam resgatar autonomia

e recursos para que os profissionais trabalhem de forma adequada. Devem

constar no seu dia-a-dia, sentimentos de ternura, compreensão, doação, e

aceitação para que o ambiente torne-se mais afetivo contribuindo para uma

melhor educação para todos que os envolve.

A afetividade é um componente na educação atual para que se tenham

melhores relações interpessoais entre todos que estão em volta na área

educacional, contribuindo positivamente para o ensino-aprendizagem dos

educandos. O educando observando na escola a relação positiva entre

diretores, professores, alunos e pessoal administrativo, ele acaba se

interessando muito mais pelo conhecimento. É através do afeto que acontece

um desenvolvimento saudável dentro do ambiente escolar, e na vida social é

necessário melhores relações entre as partes para alcançar objetivos

educativos.

Diante disso é necessário que a educação se envolva mais nessas

questões no que se trata de relacionamento interpessoais na área educacional,

permitindo que o meio escolar seja mais humano, e que desenvolva a criação

do conhecimento e da cultura humana. Educadores, alunos, pais, professores,

precisam entender que a afetividade na escola tem o papel de alcançarem

objetivos: a formação dos seres humanos.

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CAPÍTULO II

AFETIVIDADE: RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO Segundo Almeida (1999, p.107) “As relações afetivas se evidenciam,

pois a transmissão do conhecimento implica, necessariamente, uma interação

entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa

para pessoa, o afeto está presente”. Assim o afeto deve existir em qualquer

tipo de relação, no caso da afetividade entre professor e aluno no ambiente

escolar é muito importante para o desempenho na construção do aprendizado,

pois é o docente que desenvolve as relações e os vínculos diante de seus

alunos, contribuindo de forma positiva ou negativa para esse processo. O aluno

precisa sentir-se respeitado, amado e valorizado, pois no decorrer desse

processo de ensino aparecem comportamentos no qual o aluno expressa seus

sentimentos e suas emoções.

O professor tem a responsabilidade de administrar os conflitos da

criança, pois de acordo com Almeida (1999) isso é necessário para a

delimitação do eu. A autora explica que o ambiente familiar vai se estendendo

para a escola, por isso, os alunos têm aquele costume de sempre chamar o

professor de tia, o aluno muitas vezes vê o professor como a figura da mãe, é

como se a relação entre professor e aluno fosse a mesma relação entre mãe e

filho. Por isso a afetividade tem seu papel fundamental no desenvolvimento da

inteligência do aluno, pois quanto mais afetividade nesta relação, maior a

qualidade do conhecimento do aluno.

Pulasky apud Piaget afirma que:

A ênfase educativa é centralizada não só no desenvolvimento cognitivo, mas também nos sentimentos. O relacionamento entre ambos orienta-se no sentido de compreensão e de respeito, durante o qual o professor não irá impor conhecimentos ao estudante, mas orientá-lo a refletir sobre suas necessidades, objetivos e atitudes [c] (PULASKY apud PIAGET, 1986, p.116).

Atualmente muitos educadores sabem que a criança não aprende

somente na ordem lógica, mas aprende de acordo com a ordem psicológica,

sendo que os conhecimentos nunca chegam de uma maneira uniforme para os

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todos os alunos, levamos em conta que cada educando tem sua maneira de

assimilar e adquirir novos conhecimentos e hábitos, por isso o professor

precisa ser o mediador e respeitador para com seus alunos onde cada aluno

tem o seu momento de processar o conhecimento. É nesse sentido que o

professor também precisa se relacionar afetivamente com os alunos, pois esse

contato com as relações afetivas proporciona muitos pontos positivos para o

crescimento integral, no qual o professor veja seu aluno com indivíduo, pois

eles também tem algo para oferecer no que se trata de aprendizagem, e isso

se faz de acordo com as relações estabelecidas.

Segundo Chalita:

Que o aluno seja olhado de outra forma, que as relações sejam menos traumáticas [c] nascidas no respeito ao espaço e ao papel de cada um. Os alunos serão diferentes a cada ano, a cada dia, e o professor também será. Um mestre tem diante de si a responsabilidade e a missão de formar pessoas equilibradas e felizes, além de competentes. (CHALITA, 2001, p.64).

De acordo com autor, sabemos que atualmente na educação recebemos

muitos alunos na escola com grandes dificuldades na questão da

aprendizagem e isso é conseqüência da falta de relações afetivas, de fatores

emocionais, é nesse ponto que entra o professor no qual ele grande

importância e capacidade para resolver e amenizar esses grandes conflitos.

Para que o professor possa passar o afeto para seu aluno é necessário que ele

sinta de verdade e profundamente esse afeto, pois o aluno o tem como uma

referência, o docente é um facilitador da aprendizagem por isso ele é capaz

também de auxiliar seus alunos em seus projetos de vida, ou seja, tudo que faz

parte da vida do aluno deve ser interesse do professor.

Segundo Gottmam (1997, p. 54) o afeto reflete na vida escolar do aluno,

pois “Eles aprendem a confiar em seus sentimentos, regular as emoções e

resolver problemas. Tem auto-estima elevada, facilidade de aprender e de se

relacionar com os outros alunos”. Isso nos prova que o professor não se deve

prender somente em conteúdos curriculares mais sim viver experiências no

aspecto afetivo e emocional na sala de aula, sendo parceiro do aluno com o

objetivo de que o aluno resgate suas emoções positivas, de uma maneira que o

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professor possa ter meios para introduzir ou até mesmo relacionar questões

afetivas ao processo cognitivo da criança.

O professor precisa conquistar o aluno levando-o a confiar nele

mostrando-lhe que certos conteúdos vão ser importante para sua vida escolar e

até mesmo para o seu cotidiano, isso é seduzir o aluno, isso é ter afetividade.

De acordo com Freire (1996, p. 29) “não existe educação sem amor,

ama-se na medida em que se busca comunicação, integração a partir da

comunicação com os demais”. Lembramos que ter uma relação de afeto com

aluno não quer dizer que isso possa deixar interferir no seu dever de educador,

na relação entre as partes deve ter sim afeto, alegria, amor, o professor

trabalhando a afetividade na sala de aula contribui para a formação de sujeitos

capazes de lidar com seus sentimentos e também seu papel contribui para uma

sociedade menos agressiva. Piaget (1959) nos diz que a afetividade não

modifica a estrutura do funcionamento da inteligência, porém é a energia que

impulsiona a ação de aprender. Portanto podemos dizer que o afeto e a

inteligência não podem ser separados, pois não existe aprendizagem sem

esses dois aspectos interligados um ao outro.

Segundo Freire:

A responsabilidade amorosa do professor é sempre grande. A natureza de sua prática é formadora. A presença do professor é exemplar na sala de aula. E ninguém escapa ao juízo dos alunos. E o pior juízo é o que considera o professor uma ausência na sala de aula. (FREIRE, 1996, p.73).

Diante disso, para que se tenha uma afetividade na relação professor e

aluno é fundamental que o docente um grande equilíbrio emocional, pois

equilibrar suas emoções e as emoções de seus alunos precisa ter um domínio

de suas próprias reações emocionais. É necessário ter muita paciência para

quando alunos que não compreende alguma coisa ou tem atos de indisciplina o

professor possa ter controle de si próprio para pensar em que tipo de atitude

tomar. O professor introduzindo a afetividade no seu cotidiano escolar faz com

que os alunos se sintam amados, tenham participação e procura de alguma

forma entender o que está se passando ao seu redor no qual o aluno tem mais

condições de se comunicar no intuito de desenvolver um significativo processo

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construtivo no aspecto da aprendizagem. Diante disso o professor afetivo é

aquele que tenta desenvolver aspectos pedagógicos, dinâmicos, criativos,

demonstrando prazer em ensinar estimulando os alunos nas decisões, ele deve

está sempre atento no aluno entendendo suas principais necessidades no qual

eles sejam incluídos no ensino.

2.1 – Afeto e aprendizagem

É grande o interesse entre educadores de pesquisar e entender a

afetividade como influência positiva no processo de ensino-aprendizagem, pois

essa interação que tem como ingrediente a afetividade nos ajuda mais a

compreender e a modificar os indivíduos, do que ter um raciocínio magnífico de

forma que conteúdos foram passados mecanicamente. O afeto no âmbito

escolar enriqueceu muito mais quando passamos a introduzir atividades

dinâmicas no processo de ensino e aprendizagem, assim como o educando

precisa ter o aprendizado e desvendar esse prazer de aprender, nós docentes

devemos passar essa afetividade com o intuito que contagie nossos alunos.

As teorias de Vygotsky (1984) visam o aspecto social para o percurso no

processo de aprendizagem, ou seja, é através das relações sociais que a

criança introduz o conhecimento na perspectiva cultural. Ainda de acordo com

Vygotsky (1984, p.54), nos diz que “as relações sociais trás a idéia da

mediação como aspecto fundamental para a aprendizagem”. É a partir disso

que a criança vai evoluindo seu pensamento até chegar às formas abstratas, é

de extrema importância a interação com o outro com o objetivo de desenvolver

positivamente o processo de construção do conhecimento, no qual também

desenvolve a constituição do seu próprio sujeito.

Segundo Rodrigues:

As situações de ensino agradáveis suscitam no aluno um desejo de repetir e renovar a aprendizagem. Quando, por infelicidade, o contrário acontece, o aluno tende a rejeitar não só a disciplina que não consegue aprender, mas também tudo quanto a ela se refira inclusive o mestre e até a própria escola. Se a situação de aprendizagem é gratificante e agradável, aprendizado tende a se dinamizar, a extrapolar-se para situações novas e similares e, por fim, a inspirar novas aprendizagens. (RODRIGUES, 1976, p.179).

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Entendemos que para aprender é preciso que o aluno tenha motivos que

sejam humanos que faça parte de seu interior para que desenvolva tais

aprendizagens. O professor precisa ter sensibilidade e ter conhecimento sobre

a criança para que o aluno tenha motivação, que seja estimulado para

aprender e tendo um conceito de si, sobre o ensino e o professor. Não

queremos um ensino mecânico, restrito, mas sim, um ensino-aprendizagem

com objetivos e bem dinâmicos onde afetividade esteja presente

constantemente.

Sobre as interações sociais no aspecto de ensino e aprendizagem

Oliveira (1999, p.11) baseado nas teorias de Vygotsky (1984) afirma que “o

indivíduo internaliza o conhecimento através da interação com outros

indivíduos e objetos existentes no seu ambiente sócio-histórico, a mediação é

fator essencial como condição necessária no processo de ensino e

aprendizagem”. A criança vai desenvolvendo habilidades para si próprio na

interação afetiva com outras pessoas, nos mostrando a importância da

afetividade na aprendizagem de forma geral. O professor precisa ter empatia

com seu aluno para realizar atividades de acordo com a realidade de cada

aluno, dessa forma a interação entre as partes necessita de momento e local

favoráveis no qual o assunto a ser abordado seja direcionado através do

aprendizado de cada aluno.

Segundo Vygotsky apud Rego:

As interações sociais (entre professores e alunos) no contexto escolar passam a ser entendidas como condição necessária para a produção de conhecimentos por partes dos alunos, particularmente aqueles que permitem o diálogo, a cooperação e troca de informações mútuas, o confronto de ponto de vista divergentes e que implicam na divisão de tarefas onde cada um tem uma responsabilidade que, somadas, resultarão no alcance de um objeto comum. Cabe, portanto, ao professor não somente permitir que elas ocorram como também promovê-las no cotidiano das salas de aula. (VYGOTSKY apud REGO, 1997, p.110).

Nesse sentido a escola tem papel fundamental no desenvolvimento do

intelectual e conceitual do indivíduo, é ela que estuda a experiência que está

acumulada na criança para então desenvolver novos conhecimentos, o âmbito

escolar deve partir do que a criança já tem como conhecimento para então

aumentar novos conhecimentos. O ensino e aprendizagem nos proporcionam

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na sala de aula a trocar informações e falar sobre experiências pessoais entre

o aluno e o professor, nessa troca entre educador-educando a relação afetiva

será um grande facilitador no processo de ensino e aprendizagem, com essa

afetividade entre as partes o aluno não sente sozinho de forma a facilitar

melhor seu aprendizado.

A abordagem cognitivista diferencia a aprendizagem mecânica da

aprendizagem significativa, pois segundo Bock (1999, p. 117) a aprendizagem

mecânica refere-se à aprendizagem de novas informações com pouca ou

nenhuma associação com conceitos já existentes na estrutura cognitiva. Já a

aprendizagem significativa, segundo a autora, acontece quando um novo

conteúdo (idéias ou informações) relaciona-se com conceitos relevantes, claros

e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo assim assimilado. Por isso é

necessário refletir que cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias

cognitivas que mobilizam o processo de aprendizagem, ou seja, cada pessoa

aprende a seu modo, estilo e ritmo.

De acordo com Piaget (1977, p. 16) o afeto desempenha um papel

essencial no funcionamento da inteligência. Ele fala que a afetividade não

possui interesse, necessidade e motivação pela aprendizagem, não há

questionamentos, e sem eles não tem como desenvolver a mentalidade da

criança. Afetividade e cognição se complementam e uma dá suporte ao

desenvolvimento da outra.

Para Seber (1997), a criança se interessa por algo é afirmar que ela está

de posse de certas estruturas para assimilar o que professor está propondo,

quando o professor está preocupado apenas com a transmissão do

conhecimento, e deixa de lado o interesse da criança, está provocando uma

aprendizagem desprovida de significado. Portanto é preciso refletir sobre os

esquemas de assimilação da criança que podem levar a superar os desafios

feitos pelo professor. O aumento do interesse da criança pelos conteúdos

acontece de acordo quando seus processos cognitivos avançam.

Piaget (1986, p. 22) diz que “afetividade e inteligência são assim,

indissociáveis e constituem os dois aspectos complementares de toda conduta

humana”. Diante dessa teoria piagetiana, entendemos que o educador ter

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transparência da afetividade na interação com o aluno, na construção do

conhecimento, pois essa relação afeto e cognição podem favorecer o

desenvolvimento global da criança, tendo um grande equilíbrio na sua vida

social, afetiva e intelectual.

Segundo Dantas (1992 p. 79), é preciso haver empatia entre professor e

aluno, isso favorece o aparecimento de uma simpatia mútua entre ambos. O

professor deve ter claro que o processo de ensino aprendizagem é uma via de

mão dupla, um vai-e-vem dele para o aluno e do aluno para ele. Ele ensina,

porém seu aluno também possui saberes que o professor nem sempre possui.

Fica aqui caracterizado o movimento da troca.

Considerando a influência dos aspectos afetivos no processo de

aprendizagem no decorrer do desenvolvimento, os vínculos afetivos vão

ampliando-se, a figura do professor surge com grande importância na relação

de ensino e aprendizagem, na época escolar. Segundo Fernandez (1990, p.

52) “Não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem

outorgamos confiança e direito de ensinar”. Fernandez (1990), também nos diz

que para aprender necessitam-se dois personagens (ensinante e aprendente) e

um vínculo que se estabelece entre ambos.

O fracasso no aprender escolar pode situar-se na estrutura vincular e,

em resposta a essa interrogação, Fernandez (1990) observa uma relação

particular entre organismo, corpo, inteligência e desejo, tanto de quem ensina

como de quem aprende. Nessa trama vincular a aprendizagem assume a

função de interrelacionar os níveis constitutivos (orgânico, corporal, intelectual

e semiótico ou desejante) do sujeito que aprende com o exterior em um

processo dialético.

Fernandez (1990, p.57) afirma que “em troca, o corpo poderia

assemelhar-se a um instrumento musical, no qual se dão coordenações entre

diversas pulsações, mas criando algo novo”. Do ponto de vista do

funcionamento, podemos tomar duas dimensões, a que pertence ao

organismo, que é um funcionamento já codificado, e a do outro corpo, que é

aprendida. O organismo necessita do corpo, como um gravador necessita de

um instrumento de música original que emita o som, para que ele possa gravar.

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Quanto à relação inteligência e desejo, Fernandez observa:

a inteligência submetida ao desejo, não podendo desconhecer nem a um nem ao outro, facilitando-se-lhe a compreensão do tipo de relações que se estabelecem entre uma estrutura de caráter claramente genético que vai se autoconstruindo, e uma arquitetura desejante, que ainda que não seja genética, vai entrelaçando um ser humano que tem sua história.(FERNANDEZ,1990,p.67).

Fica claro que na relação professor-aluno há intercâmbios afetivos e

cognitivos que são imprescindíveis para que haja aprendizagem. Pensamento

e afeto não podem ser vistos separadamente, uma vez que são construídos

através de processos lógico-intelectual e simbólico-desejante.

Ainda com base em Fernandez (1990), o sujeito que aprende necessita

de um modelo que transmita sinais de conhecimento para que possa

transformá-lo e reproduzi-lo. O conhecimento não é transmitido diretamente em

bloco. O aprendente possui uma série de estruturas que lhe permitem

converter o que é ensinado, em um recorte de uma situação, em

conhecimento. Este, por sua vez, é construído pelo ensinante através dos

quatro níveis constitutivos do ser humano (organismo, corpo, inteligência e

desejo). Em suma, Fernandez apresenta como necessidade primordial a

inclusão da afetividade no processo de aprendizagem. Para ela, a escola não

pode valer-se apenas do cérebro.

Diante disso, penso que existe uma relação de troca no processo de

ensino-aprendizagem, sendo necessário em alguns momentos aluno e

professor trocar os papéis. O aprender é um processo de autoria individual de

cada um que aprende, e que está ensinando deve acreditar que aquele a quem

está ensinando, aprenda. E assim o professor mais do que ensinar deve incluir

o aluno como pessoa humana a sua função de ser educador.

Outra contribuição para o estudo de Afetividade e aprendizagem é a

Psicologia Social de Pichon Rivière (1995) que permite investigar a relação

professor-aluno em três dimensões: indivíduo, grupo e instituição. Para a

Psicologia Social o sujeito é essencialmente social porque se configura dentro

de uma trama de vínculos e relações sociais que se integram dialeticamente.

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Dessa forma, potencializa-se o valor que tem a aprendizagem na constituição

subjetiva do sujeito.

Através da Teoria do Vínculo de Pichon Rivière (1995), percebe-se a

complexidade de ações e reações que podem acontecer numa sala de aula. Se

o professor não tiver conhecimento, para saber lidar com tais situações, poderá

contribuir, sem desejar, para a construção de vínculos negativos com ele e com

o objeto de conhecimento.

Pichon Rivière (1995) concebe o vínculo como uma estrutura dinâmica

em contínuo movimento, que engloba tanto o sujeito como o objeto e afirma

que esta estrutura dinâmica apresenta características consideradas normais e

alterações interpretadas como patológicas. Considera um vínculo normal

aquele que se estabelece entre o sujeito e um objeto quando ambos têm

possibilidades de fazer uma escolha livre de um objeto, como resultado de uma

boa diferenciação entre ambos.

Na Teoria do Vínculo, Pichon Rivière considera o indivíduo como uma

resultante dinâmica, não da ação dos instintos e objetos interiorizados, mas sim

do interjogo estabelecido entre sujeito e os objetos internos e externos por

meio de uma interação dialética, a qual pode ser observada através de certas

condutas.

A proposta de Pichon Rivière é olhar o indivíduo como ser social e

historicamente determinado. Para tanto, ele analisa a importância de se

trabalhar com um esquema psicanalítico que funciona como um todo

organizado, ou seja, um esquema referencial próprio que deve ser confrontado

no campo operacional. Assim, busca estabelecer a rede de afetos e

identificações inconscientes presentes numa rede social, no caso, a família.

Dessa forma, inclui o externo ao sujeito numa matriz teórica formalizada.

Essa matriz é uma estrutura interna determinada socialmente que inclui não só

os aspectos conceituais, mas também esquemas afetivos, emocionais e de

ação.

Pichon Rivière (1995) conceitua a aprendizagem como capacidade de

compreensão e ação transformadora sobre a realidade, constituindo-se na

forma privilegiada da relação do homem com o mundo. Nessa perspectiva

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teórica, Pichon Rivière entende o sujeito como determinado a partir do interjogo

da relação do sujeito com o seu contexto. Para ele, o sujeito é o emergente, o

produtor e o produzido, determinado e ator, protagonista da rede vincular na

qual se desenvolve sua vida.

Diante disso, o professor deve descobrir estratégias, recurso para fazer

com que o aluno queira aprender, deve fornecer estímulos para que o aluno se

sinta motivado a aprender. Ao estimular o aluno, o educador desafia-o sempre,

para ele, aprendizagem é também motivação, onde os motivos provocam o

interesse para aquilo que vai ser aprendido. Por isso é fundamental que o

aluno queira dominar alguma competência. O desejo de realização é a própria

motivação, assim o professor deve fornecer sempre ao aluno o conhecimento

de seus avanços, captando a atenção do aluno.

2.1.1- A afetividade e aprendizagem segundo Henri Wallon.

A proposta sobre afetividade do teórico Henri Wallon (1968) tem por

objetivo a gênese dos processos psíquicos que constituem a pessoa. Baseia-

se numa visão não fragmentada do desenvolvimento humano, buscando

compreende-lo do ponto de vista do ato motor, da afetividade, da inteligência,

assim como no ponto de vista das relações que o indivíduo estabelece com o

meio.

Para Wallon (1968) a afetividade no processo de ensino e aprendizagem

decorre de várias razões. Sua teoria psicogenética dá uma importante

contribuição para a compreensão do processo de desenvolvimento e também

para o processo de ensino-aprendizagem. Apresenta ferramentas para

entender o aluno e o professor, a interação entre eles, e também enfatiza a

questão do desenvolvimento no contexto no qual está inserido, e a escola

como um dos meios fundamentais para o desenvolvimento do aluno e do

professor.

Na teoria de desenvolvimento de Wallon (1968) expressam instrumentos

que auxiliam na compreensão do processo de constituição da pessoa, nos

oferece elementos para uma reflexão de como o ensino pode criar

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intencionalmente condições para favorecer esse processo, proporcionando a

aprendizagem de novos comportamentos, novas idéias e novos valores.

Assim, na teoria Psicogenética de Wallon, o principal aspecto no

processo de desenvolvimento é a interação, em dois sentidos:

- Integração organismo-meio: O desenvolvimento do sujeito se dá a partir da

interação do potencial genético e uma grande variedade de fatores ambientais.

- Integração afetiva-cognitiva-motora: As etapas que a criança percorre serão,

portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e do sujeito.

Nesse sentindo, para Henri Wallon a afetividade deve ser distinguida de

suas manifestações, diferenciando-se do sentimento, da paixão, da emoção.

Em outras palavras, a afetividade é o termo utilizado para identificar um

domínio funcional abrangente.

Assim, podemos afirmar a existência de manifestações afetivas

anteriores ao aparecimento das emoções. As primeiras expressões de

sofrimento e de prazer que a criança experimenta com a fome ou a saciedade

são do nosso ponto de vista, manifestações com tonalidades afetivas

primitivas. Estas manifestações, ainda em estágio primitivo, têm por

fundamento o tônus, o qual mantém uma relação estreita com a afetividade

durante o processo de desenvolvimento humano, pois o tônus é a base de

onde sucedem as reações afetivas.

Para Wallon (1968) a dimensão corporal do desenvolvimento que vai do

nascimento até a morte está distribuída em estágios que expressam

características da espécie e cujo conteúdo será histórica e culturalmente.

Cada estágio, na teoria de desenvolvimento de Wallon (1968), é

considerado como um sistema completo em si, isto é, a sua configuração e o

seu funcionamento revelam a presença de todos os componentes que

constituem a pessoa.

Primeiro Estágio – Impulsivo-emocional - (0 a 1 ano) – O processo ensino-

aprendizagem exige respostas corporais, contatos epidérmicos. Através dessa

fusão, a criança participa intensamente do ambiente. Iniciando um processo de

diferenciação com a ajuda de um adulto.

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Segundo Estágio – Sensório-motor e projetivo - (1 a 3 anos) – O processo

ensino-aprendizagem no lado afetivo se revela pela disposição do professor de

oferecer diversidade de situações, espaço, para que todos os alunos possam

participar igualmente e pela sua disposição de responder às constantes e

insistentes indagações na busca de conhecer o mundo exterior, e assim

facilitar para o aluno a sua diferenciação em relação aos objetos.

Terceiro Estágio – Personalismo - (3 a 6 anos) - Neste estágio o tipo de

afetividade que facilita a aprendizagem comporta oportunidades variadas de

convivência com outras crianças de idades diferentes e aceitação dos

comportamentos de negação, lembrando que são recursos de

desenvolvimento.

Quarto Estágio – Categorial – (6 a 11 anos) - a organização do mundo em

categorias bem definidas possibilita também uma compreensão mais nítida de

si mesma, neste sentido a aprendizagem se faz predominantemente pela

descoberta de diferenças e semelhanças entre objetos, imagens e idéias. O

predomínio é da razão.

Outro ponto importante é saber e aceitar que todo conhecimento novo, não

familiar implica, na sua aprendizagem, um período de imperícia, resultante do

sincretismo inicial. À medida que ele evolui, a imperícia é substituída pela

competência.

· Quinto Estágio – Puberdade e adolescência – (11 anos em diante) – O

processo ensino-aprendizagem facilitador do ponto de vista afetivo é aquele

que permite a expressão e discussão dessas diferenças e que elas sejam

levadas em consideração, desde que respeitados os limites que garantam

relações solidárias.

De acordo com a teoria de desenvolvimento de Wallon penso que em

todos os estágios a forma de a afetividade facilitadora se expressar no

processo ensino-aprendizagem exige a existência, a colocação de limites.

Limites que facilitam o processo ensino-aprendizagem, garantindo o bem estar

de todos os envolvidos, são também uma expressão de afetividade.

O professor ao identificar as características de cada estágio permitirá

planejar atividades que promovam um entrosamento mais produtivo,

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propiciando ao professor pontos de referência para orientar e desenvolver

atividades adequadas aos alunos concretos que tem em sua sala de aula.

2.2 - A relação professor-aluno na sala de aula.

Sabemos que é de extrema importância ter uma boa relação com os

alunos na sala de aula, ver a sala de aula como um espaço de relação amplia

as possíveis maneiras de o professor desenvolver positivamente suas

didáticas, o que talvez não esteja sendo bem utilizado de acordo com o

potencial do docente. O professor é a figura fundamental no aprendizado do

aluno, é ele que está se apresentando diante do aluno como educador, como

mediador e facilitador da aprendizagem, mas infelizmente a nossa sociedade,

ou melhor, o sistema educacional não dá condições que estão sendo

necessitadas para exercer seu papel na sala de aula, e ainda já não

bastassem, professores são apontados como responsáveis pelo ensino

fracassado.

Segundo Morales:

Toda a vida na classe é relação de um tipo ou de outro: o professor explica, pergunta, responde, informa; comunicar-se verbalmente e não verbalmente de muitas maneiras. Os alunos, por sua vez, escutam, perguntam, respondem e também se comunicam não verbalmente de muitas maneiras; dizer algo enquanto aguardam e também estão dizendo algo quando estão distraídos. (MORALES, 1999, p.10).

Essa relação entre as partes deve ser uma relação de troca, como

qualquer relação entre os seres humanos, dentro da sala de aula os discentes

não são robôs para que o professor possa está manipulando, ou até mesmo

movimenta-lo de um lado para o outro, são pessoas que tem sentimentos, que

tem problemas como todo ser humano. O aluno não é depósito de

conhecimentos no qual ele memoriza conteúdos, ele tem capacidades de

pensar, discutir, participar, tomar decisões, e o professor está envolvido em

todas essas fases na vida escolar do aluno, afinal ele também é gente.

Segundo Freire (1996, p. 38) “quem ensina aprende ao ensinar e quem

aprende ensina ao aprender”. Essa idéia de manter a troca na sala de aula é

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essencial, pois contribui de forma positiva na aprendizagem de todos que estão

envolvidos no âmbito escolar, o professor está ensinando mais ele ao mesmo

tempo está aprendendo, e o aluno está aprendendo mais ao mesmo tempo

também está ensinando, o professor ouve e compreende o aluno através de

suas experiências e isso pode contribuir também para o aprendizado de seus

colegas de classe, dessa forma o professor deixa de ter aquela figura de ser

um instrutor e passa a ser um educador.

Ainda para o autor:

O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (FREIRE, 1996, p.96).

Nesse sentido o processo de aprendizagem é sempre de forma

contínua, quando estamos abertos a ter novos conhecimentos isso amplia e

acrescenta muito na vida de todo ser humano, e na sala de aula não é diferente

o aluno que tem motivação, que tem diálogo, que acredita na sua capacidade

ele tende a se dedicar mais e assim alcançar seus objetivos. As dificuldades

que surgem durante a aprendizagem são explicadas nessa falta de diálogo e

troca, no qual aluno rebelde que não consegue desenvolver o aprendizado

imagina obrigar um aluno sendo obrigado a fazer uma tarefa que não desperta

seu interesse, a ler algo por obrigação, a ficar horas e horas fazendo trabalhos

no qual fica sentada sem se mexer, isso reflexo de coisas feitas com má

vontade, conseqüência disso uma aprendizagem baixa onde não produtividade

nenhuma. Essa maneira de impor tarefas que não tem interesse por parte do

aluno só pode levá-lo a revolta e até a frustração.

Segundo Chalita:

A interação profesor-aluno só é positiva quando a necessidade de ambos é atendida, quando há uma cumplicidade, quando os interlocutores são parceiros de um jogo; o jogo da linguagem, do diálogo, que é algo fundamental. É casar interação com conversação. (CHALITA, 2001, p.162).

Essa interação que Chalita nos diz é que o professor e aluno devem se

mostrar de forma sincera um com o outro, e isso contribui e muito para uma

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aprendizagem significativa onde acontece juntamente o estabelecimento das

relações pessoais, isso abre um espaço onde professor pode dar palpites em

relação a algum tipo de comportamento do aluno, até mesmo se mostrar

satisfeitos ou não com certas atividades realizadas. O professor quando ele é

autêntico na relação com seus alunos surge consequentemente o diálogo

construtivo no qual aparecem sugestões com objetivos de ter uma

aprendizagem melhor e uma relação cordial para com seus alunos. Os alunos

diante dessa postura acabam cedendo e entendendo e valorizando o

trabalhado do professor na forma onde todos estejam colaborando para que

juntos alcancem certos objetivos.

De acordo com Freire:

O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE, 1996, p.73).

O fato é que o professor é visto como referência para o desenvolvimento

da formação do aluno, por isso é importante manter uma boa relação e ter

cuidado para a tomada de atitudes que não deixem marcas negativas pelo

resto da vida deste aluno.

Ainda de acordo com Freire (1996) o papel do professor é desafiar, no

sentido de tentar promover um espaço educacional exercendo a prática

libertadora, é ele que desenvolve no aluno essa capacidade crítica que ele

precisa ter ao despertar a curiosidade. Vale lembrar que a postura do professor

deve ser condizente com o que se fala e o que se pratica na sala de aula, pois

dessa forma o professor também aprende que devemos dar o exemplo,

passando para o aluno que o que falamos devem também agir.

Segundo Libâneo:

Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento que o educando transfere representa uma resposta à situação de opressão a que se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica. (LIBÂNEO, 1991, p.54).

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De acordo com autor não cabe somente ao educador essa

responsabilidade de desenvolver o interesse do aluno, é papel do aluno

também ter essa vontade de aprender, é importante que ele entenda o que o

professor está transmitindo de forma que essas atividades vão acrescentar

para o seu cotidiano, para o seu papel diante da sociedade. Entender que o

conhecimento adquirido na escola, na sala de aula, vai torná-lo um cidadão que

possa ter participação no que se trata de política, de economia no sentido de

conhecer seus direitos. Dessa forma o professor e aluno aprendem e ensinam

juntos onde é construída uma relação de respeito mútuo, uma relação de

disciplina, uma relação de diálogo onde a sala de aula é um espaço a se tornar

interessante com desafios no qual possui objetivos para uma aprendizagem

significativa.

2.3 - A questão da autoridade

Uma relação construída entre o professor e o aluno é dependente na

grande maioria de como o professor exerce sua autoridade dentro da sala de

aula. Para Freire (1996, p.99) “O autoritarismo é a ruptura em favor da

autoridade contra a liberdade e a licenciosidade, a ruptura em favor da

liberdade contra a autoridade". Isso pode está interligada uma composição de

regras não sendo entendidas como ação natural e sim como atitudes que o

professor obriga ao aluno a realizar atividades mesmo contra a vontade dele.

Observamos que na escola cada educador age de uma forma diferente

introduzindo um comportamento diferente em um ciclo onde existem regras, e o

aluno que não tem adaptação sobre essas regras acaba sendo visto com

indisciplinado por trazer conflitos para a escola.

Segundo Rego (1997, p. 85) “apresentar condutas indisciplinadas pode

ser entendido como uma virtude: desafiar os padrões vigentes, se opor a tirania

muitas vezes presente no cotidiano escolar”. Isso nos mostra que praticar o

autoritarismo de forma excessiva na sala de aula representa um modo de

tirania onde o projeto pedagógico fica de forma submetida ao aluno.

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De acordo com La Taille:

(...) crianças sim precisam aderir às regras e estas somente podem vir de sues educadores, pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por estas regras não devem ser apenas no sentido negativo o que não poderia ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite se situa da consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social a família, a escola, e a sociedade com um todo. (LA TAILLE, 1996, p.9).

Entendemos que em vários momentos na vida do ser humano ele é

cercado por cumprimentos de regras e isso faz com que o individuo se torne

capaz de se relacionar, de obter o diálogo, de faze essa troca com todos que

estão ao seu redor. Na educação não é diferente, precisamos também de

normas e regras pautas para seu funcionamento como meio de conviver com

vários elementos que estão nesse espaço. E dessa forma as regras deixam de

ter esse conceito de que é algo forçado passando a ser um aspecto necessário

no convívio perante a sociedade, onde o educador é aquele que oferece

parâmetros e estabelece limites.

Para Araújo (1999) a autoridade é exercida de duas formas: pelo

domínio ou pelo poder institucionalizado, como ocorre na instituição escolar, ou

pelo prestígio daquele que demonstra possuir competência em determinado

assunto (professor-autoridade). Por tal atitude, é que parte uma admiração

nutrida pelos seus subordinados a partir do prestigio e da capacidade.

Ainda acrescenta o autor que a autoridade autoritária se baseia no

respeito unilateral, onde aquele que respeita não se vê obrigado a também

respeitar o outro. Desta forma, o professor cobra respeito de seus alunos, mas

em muitos momentos não age da mesma forma com eles, pautando sua

relação na obediência e no medo, formando indivíduos submetidos à opressão

das tradições e das gerações anteriores, isto é, a moral da obediência cega.

Com esta atitude o professor está reforçando uma moral nas quais as regras

são externas ao aluno e na visão do mesmo são imutáveis e inquestionáveis.

Segundo Freire:

E o que dizer, mais, sobretudo que esperar de mim, se como professor, não me acho tomado por este outro saber, o que de preciso está aberto ao gosto de querer bem, às vezes, a coragem de querer bem aos educandos e a própria prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que

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porque professor me obrigo a querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que tenho autenticidade selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. (FREIRE, 1996, p.159).

Diante disso a autoridade que o professor exerce sobre seus alunos,

autoridade essa que deveria ser encarada pelos alunos como respeito ao

professor e que muitas vezes pode-se chamar medo, ou seja, o aluno obedece

por ter medo do professor e não respeito. Essa autoridade deve existir sim,

mas sabendo medir as atitudes e sabendo que os alunos também têm sua

autoridade e podem exercê-la, é como uma balança onde todas as atitudes

devem ser pesadas. Conclui-se que o professor que se utiliza de metodologias

interativas, que considera e valoriza a opinião do aluno, estimula o gosto de

aprender, investe na criatividade, transforma suas aulas numa atividade

extremamente significativa, compreende que aprender a pensar é mais

importante que acumular conceitos, este professor cria uma sintonia com suas

turmas e este envolvimento vale ouro. A postura do bom professor é saber usar

a autoridade, colocando limites, acompanhando, orientando e controlando, no

entanto predominando a sensibilidade, a afetividade, fortalecendo a relação

entre educador e educando.

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CAPÍTULO III

O PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

3.1- Um breve histórico da Psicopedagogia.

A partir dos anos 90 o termo “Psicopedagogia” começou a ser

introduzida de forma constante nos debates sobre a educação. Mais a

Psicopedagogia nasceu na Europa no século XIX, momento esse que surgiu o

primeiro centro de Psicopedagogia do mundo, nomeado Psicopedagogia

clínica. Em contrapartida Bossa (2011) afirma que a Psicopedagogia surgiu no

ano de 1946, período esse que iniciou os primeiros centros psicopedagógicos

na Europa, em Paris, por Boutonier e George Mauco.

Entende-se que nesta época o termo “Psicopedagogia” substituía o

termo “ médico-pedagógico” pois de acordo com Bossa(2011) um dos

objetivos dos centros era tentar ajudar as crianças e adolescentes com

dificuldades de aprendizagem, especificamente dificuldades de comportamento

na escola e na família no qual era feito uma readaptação para o seu ambiente

através do acompanhamento psicopedagógico. A equipe era formada por

Psicólogos, Psicanalistas e Pedagogos, mais era o médico que exercia a

função de diagnosticar o sujeito através de investigações da vida familiar,

testes, métodos educacionais utilizados, com a finalização do processo o

mesmo orientava o tratamento adequado com o objetivo de corrigir a falta de

adaptação.

Ao final dos anos 60 na Argentina surgiram os primeiros cursos de

Psicopedagogia, a equipe era formada por Psicopedagogos que atuavam na

parte do diagnóstico e também no tratamento dos casos. Nesse sentido aos

poucos foi criado um próprio objeto de estudo: o sujeito em processo de

ensino-aprendizagem, originando na Psicopedagogia Argentina como um

conhecimento empírico, tendo a necessidade de atender crianças com

problemas de aprendizagem escolar.

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Segundo Visca:

A psicopedagogia nasceu como uma ocupação empírica pela necessidade de atender as crianças com dificuldades na aprendizagem, cujas causas eram estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, perfilou-se como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. (VISCA, 1987, pág. 33).

De acordo com o autor, a Psicopedagogia surgiu na Argentina a partir

dos seus estudos da epistemologia da Psicopedagogia. Jorge Visca é

considerado como “Pai da Psicopedagogia”. Diante disso entendemos que a

Psicopedagogia é uma área de conhecimento que se dedica ao diagnóstico,

tratamento e prevenção das dificuldades de aprendizagem, possibilita a quem

ensina a oportunidade de lidar com os processos de aprendizagem como

aprendizes.

Na década de 60, surge a Psicopedagogia no Brasil junto com as

primeiras iniciativas de atuação psicopedagógica. Mais foi na década de 70 que

profissionais ficaram preocupados com os altos índices da evasão escolar,

introduzidos nos estudos dos problemas educacionais os teóricos da Argentina

foram trazidos para o Brasil através de profissionais com experiência

psicopedagógica voltada para educação. Segundo Bossa (2011) a literatura

francesa influenciou as idéias sobre Psicopedagogia na Argentina, a qual

influenciou a Psicopedagogia brasileira. Portanto, nasce um novo campo de

abrangência, que ao contrário do que se imaginava, a Psicopedagogia não se

restringe apenas ao estudo das dificuldades e distúrbios de aprendizagem, e

sim em todo o processo envolvido da aprendizagem.

Criada no ano de 1988, a Associação Brasileira de Psicopedagogia

(ABPp) vem possibilitando nesses vinte anos um espaço de reflexões sobre os

teóricos na área da Psicopedagogia através de trabalhos publicados. Além

disso, a ABPp aprovou em 1992 um código de ética (Código de Ética da

Associação Brasileira de Psicopedagogia) que pretendia apresentar os

objetivos da Psicopedagogia e do profissional Psicopedagogo no Brasil. O

código apresenta os procedimentos, técnicas, voltadas para compreender o ato

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de aprender. Este trabalho seria de origem clínica e Institucional, de caráter

preventivo e ou remediativo, com objetivo a promoção da aprendizagem e a

realização de pesquisas na área da Psicopedagogia.

3.2- Campo de atuação da Psicopedagogia

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento que se propõe a união,

de maneira coerente, conhecimentos e princípios das diferentes áreas

humanas com o objetivo de compreender os processos variados no que se

trata do aprendizado humano. Para que isso ocorra é necessário a contribuição

de vários campos do conhecimento, tais como, Pedagogia, Psicologia,

Psicanálise, Filosofia, Lingüística, a neurologia, entre outras áreas.

Cabe ao Psicopedagogo exercer seu papel fundamental de ser mediador

nos processos de transmissão e apropriação de conhecimentos. A

Psicopedagogia pode ser exercida em vários e diferentes espaços, mais a

maneira de refletir sobre quem está aprendendo, quem está ensinando, de

observar o processo da aprendizagem, é a mesma. A área de estudo é a

aprendizagem, e é por isso que não é necessário seguir modelos de

especialistas de outras áreas, somos profissionais e especialistas da

aprendizagem, e isso independe de onde ocorre essa aprendizagem.

Segundo Fernandez:

A intervenção psicopedagógica não se dirige ao sintoma, mas ao poder para mobilizar a modalidade de aprendizagem, o sintoma cristaliza a modalidade de aprendizagem em um determinado momento, e é a partir daí que vai transformando o processo ensino aprendizagem.(FERNANDEZ, 1990 pág. 117).

Para Fernandez (1990) é fundamental o psicopedagogo posicionar-se

em um lugar analítico e assumir uma atitude, no qual será necessário

incorporar conhecimentos, teoria e saber em torno do ensino-aprendizagem.

Portanto, podemos dizer que o campo de atuação da Psicopedagogia foi

ampliado, pois antigamente era apenas visto como clínico, hoje pode ser

trabalhado no âmbito escolar, hospitais, empresas.

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Segundo Bossa (2011) as atividades do Psicopedagogo são:

organização da vida escolar da criança quando a mesma não sabe fazer de

forma espontânea, apropriação dos conteúdos escolares, desenvolvimento do

raciocínio, atendimento de crianças. No campo terapêutico, a função do

Psicopedagogo é diagnosticar, desenvolvendo técnicas remediativas, na

orientação de pais e educadores estabelecendo contato com outros

profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, entre outros, em prol da melhor

tratamento adequado ao individuo. Ao diagnosticar, o Psicopedagogo trabalha

com aspectos psicomotores, linguísticos e cognitivos do individuo, observando

as dificuldades de aprendizagem que são apresentadas, o diagnóstico e o

tratamento psicopedagógico envolve situações complexas que requer e é

necessário constantemente revisão teórica para exercer a prática. Os autores

Scoz, Alícia Fernandez, Jorge Vísca, Sara Paín, Muller, entre outros são

essenciais quanto à necessidade de conhecimento, pois devemos fundamentar

e constituir uma teoria psicopedagógica.

Sendo assim, o Psicopedagogo não é só preocupado somente com a

aprendizagem, envolve de uma maneira complexa, o ser humano em um todo,

pois o individuo quando apresenta dificuldades, ele vai pedir ajuda de alguma

maneira, e temos que está atentos para contribuir de forma positiva atuando

como mediadores nessas tais dificuldades.

3.3- O Psicopedagogo Institucional

Segundo Bossa (2011) afirma que o trabalho psicopedagógico no âmbito

escolar tem uma função social de socializar os conhecimentos que estão

disponíveis, ajuda a promoção do desenvolvimento cognitivo e também a

formação de como adquirir regras de conduta. A escola tem uma de suas

grandes responsabilidades que é desenvolver grande parte do aprendizado

humano. Penso que o psicopedagogo com sua qualificação, ele está apto a

exercer sua função nesse áreas fazendo a mediação dando assistência aos

professores, a equipe pedagógica, os alunos, os profissionais que estão

inseridos nesse espaço escolar com objetivo de melhorar as condições dos

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processos de ensino-aprendizagem e também para prevenir esses tais

problemas.

Segundo Weiss (2011) afirma que por meio de técnicas e alguns

métodos, o Psicopedagogo institucional possibilita uma intervenção

psicopedagógica com o objetivo de solucionar as dificuldades de aprendizagem

existentes na instituição, esse processo é feito com todos que fazem parte da

instituição, a equipe da escola e todos tem que está mobilizado na construção

de um espaço adequado às condições de aprendizagem. A metodologia e as

técnicas e métodos de intervenção são as melhores ferramentas que facilita tal

processo.

Para Bossa (2011), a intervenção psicopedagógica na escola tem

caráter de prevenção, e é incluso nesse processo a ajuda aos professores na

elaboração de um plano de aula adequado para os alunos entenderem da

melhor maneira possível às aulas, elaborar juntamente com a escola o projeto

político-pedagógico, orientar educadores de como atuar na sala de aula de

acordo com que tipos de alunos temos existentes na turma, orientar também

alunos com dificuldades de aprendizagem, realizar diagnósticos institucionais

que busque os problemas pedagógicos que está prejudicando o

desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, auxilia a direção da

instituição para os profissionais ter bom relacionamento entre si, ter vínculo

afetivo, trabalha com grupos escolares como unidade em funcionamento,

identificação de sintomas de dificuldades no processo de aprendizagem,

organização de projetos de prevenção, criação de estratégias para desenvolver

a autonomia, criação de espaços de escuta, levantamento de hipóteses,

observação de entrevistas e faz a devolução, estabelece um vínculo

psicopedagógico fazendo encaminhamentos e orientações.

Segundo Gonçalves:

Desde o nascimento, o indivíduo faz parte de uma instituição social organizada, a família e depois, ao longo da vida, integra-se a outras instituições. Nessa interação vão se construindo redes de saberes, onde todos os membros da sociedade são possíveis parceiros, cada um contribuindo com seus conhecimentos, práticas, valores e crenças. Estas contribuições não são estáticas, se encontram em permanente mudança. Portanto, o conceito de rede de saberes. Constrói-se a partir do princípio de movimento, de articulação e de corresponsabilidade. (GONÇALVES, 2010, pág.42).

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Para Gonçalves (2010) o psicopedagogo institucional é o profissional

adequado para atender e esclarecer a escola a respeito dos aspectos relativos

ao processo de ensino-aprendizagem atuando com a prevenção. Na instituição

escolar, o psicopedagogo vai contribuir no esclarecimento de dificuldades de

aprendizagem que não tenha apenas como causalidade deficiências do aluno,

mas o que está levando a escola a ter esses problemas, tais como:

organização da instituição, métodos de ensino, relação professor/aluno,

linguagem do professor. Com uma atuação preventiva aos professores

explicitando habilidades, conceitos, e princípios que acompanham a

aprendizagem, trabalhando com a formação continuada desses, refletindo

currículos e projetos junto com a coordenação pedagógica.

Para Fernandez (1990) o olhar do psicopedagógico é voltado para fazer

levantamentos de questionamentos, propor estratégias, refletir e estabelecer

possibilidades de interlocução com diferentes campos do conhecimento. O

psicopedagogo institucional deve estar sempre atento às suas habilidades e

competências e deve desenvolver uma escuta, um olhar psicopedagógico

vinculado ao seu próprio processo de aprender, buscando sempre incorporar

conhecimentos, teoria e saber em torno do aprendizado.

Para obter um diagnóstico psicopedagógico de dificuldades de

aprendizagem na instituição escolar, Porto (2006, pág. 118) explica que o

psicopedagogo desenvolve “através de um olhar alimentado por esse campo

do conhecimento, é possível identificar as dificuldades, os obstáculos, relações

e possibilidades dos sujeitos envolvidos na instituição”. Esse diagnóstico é uma

maneira de investigar os aspectos que está relacionado a queixa da escola

com relação ao andamento do processo de ensino-aprendizagem, tentando

compreender tais processos.

De acordo com Porto (2006) para obter um diagnóstico da instituição

escolar, o psicopedagogo inicia a coleta de dados, entrevistas com os

discentes, com professores e funcionários da instituição incluindo a direção e

coordenação pedagógica, conhecer a família do aluno, observar o aluno de

como são as relações afetivas na escola, na sala de aula, relacionando tudo na

questão da aprendizagem.

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Segundo Fagali:

O mundo, as pessoas, e qualquer fenômeno, devem ser considerados como totalidades integradas, sistemas, cujas propriedades não podem ser reduzidas a uma parte menor, que constitui esse sistema total. Quando o sistema total é dissecado em partes isoladas, as qualidades do sistema são destruídas. (FAGALI, 2001, p.36).

Diante disso, a psicopedagogia institucional nos propõe a refletir sobre a

aprendizagem, levando em conta esse diálogo entre conteúdos e a construção

pedagógica.

Sendo assim, a psicopedagogia institucional contribui para que seja

exercida a capacidade de rever uma prática que vem amenizando a idéia do

professor como o dominador do saber. O ensino-aprendizagem só acontece

quando há troca, quando tem diálogo. O professor consegue ensinar quando

se dispõe a aprender, e o aluno aprende quando pode também ensinar. A

relação professor-aluno, sob esse ponto de vista, confere um trânsito saudável

intermediado pela expressão bipolar de cada parte. Ou seja, o professor ensina

e aprende, enquanto o aluno aprende e ensina, compondo uma relação afetiva.

O psicopedagogo institucional apresenta ao professor o contato com um novo

olhar para a própria prática e, ao mesmo tempo, uma escuta diversificada e

voltada para o que não é revelado.

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CONCLUSÃO

Após várias pesquisas bibliográficas, vimos que para ter uma educação

de melhor qualidade é preciso trabalhar os valores e afetos na escola, para que

o nosso cotidiano escolar faça diferença para os nossos alunos. Há uma

abordagem onde a afetividade na educação está interligada ao ensino-

aprendizagem, é ela que tem influência de forma positiva na vida de todo ser

humano para resolver seus conflitos do dia-a-dia, nesse sentido o afeto

caminha e se desenvolve no indivíduo através do funcionamento psíquico

tornando-o o pensamento de forma mais organizada onde esse indivíduo

pense nas suas ações e reações.

Destaco ainda que a escola e a família devem desenvolver um trabalho

juntas na educação da criança para que ela possa desenvolver capacidades

perante o grupo e também suas capacidades individuais, a família é muito

importante nesse processo educacional, pois antes de qualquer coisa eles

precisam ter amor e serem mais presentes a seus filhos, pois os pais têm o

dever de educá-los, de colocar limites, estabelecer proibições. O que se espera

de pais amigos de seus filhos, inclusive o que os próprios filhos precisam são

de pais e mães mais próximos, mais disponíveis, abertos a escutá-los, a

discutir e orientá-los naquilo que eles lhes solicitarem, ou naquilo que os pais

entenderem necessário fazê-lo. Mas, precisam igualmente de pais que saibam

dizer não, estabelecer o que é certo e o que é errado, e quais os limites que

precisam ser seriamente respeitados.

A sala de aula deve ser apresentada a eles de maneira mais amigável.

Quando a maioria das tarefas de sala de aula exige que a criança fique parada,

com uma atenção direcionada ao que é exposto pelo professor, muito

certamente este local não será um dos mais atraentes a ela, dentro dessas

observações o professor faz toda a diferença nesse processo, pois se ele

houver conhecimento de si próprio e do outro com objetivo de contribuir para a

personalidade aluno, é provável que ele saiba conduzir as relações e receberá

esses estímulos com mais calma, não tomando os mesmos como uma questão

pessoal. O educador precisa entender que o aluno faz parte do seu universo

sócio-cultural. Mas conhecer esse aluno e seu cotidiano não é uma tarefa fácil,

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implica em uma pré-disposição de amá-lo. Cabe ao professor investigar mais

esse aluno e, ao longo de sua formação, não deixar que esse educando

acumule raivas ou questionamentos. Hoje muito se sabe que o lado intelectual

caminha de mãos dadas com o lado afetivo.

Outra questão apresentada e que nos faz refletir é que o psicopedagogo,

por sua vez, tem a função de observação e avaliação no qual a verdadeira

necessidade da instituição é fazer atendimento aos seus anseios, bem como

verificar, junto ao projeto político-pedagógico, como a escola está

desenvolvendo o processo de ensino e aprendizagem, como garante o sucesso

de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse

processo. O papel do psicopedagogo na instituição escolar acontece de

maneira preventiva no sentido de procurar criar estratégias e habilidades para

solução dos problemas.

Conclui-se que as relações desenvolvidas através do vínculo afetivo

contribuem para reparar possíveis fraturas no processo de aquisição do

conhecimento de cada um, e abre espaço para que se tenha um aprendizado

que transforma interiormente propondo ao aluno o saber fazer e ser atuante

com possibilidades de posicionar-se frente a uma sociedade exigente e em

constante movimento. Portanto afirmo que a afetividade faz toda diferença na

construção do sujeito, pois ela deixa marcas em suas conquistas.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

DEFININDO A AFETIVIDADE 13

1.1 - Afetividade e educação 22

CAPÍTULO II

AFETIVIDADE: RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO 25 2.1 - Afeto e aprendizagem 28

2.1.1 - Afetividade e aprendizagem segundo Henri Wallon 34

2.2 - A relação professor-aluno na sala de aula 37

2.3 - A questão da autoridade 40

CAPÍTULO III

O PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR 43

3.1 – Um breve histórico da Psicopedagogia 43

3.2 – Campo de atuação da Psicopedagogia 45

3.3 – O psicopedagogo Institucional 46

CONCLUSÃO 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52

INDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 56

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FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO

PROFESSOR E ALUNO

Autor: PATRICIA CHAGAS DA COSTA

Nome do orientador: SOLANGE MONTEIRO

Data de entrega:

Avaliado por: Conceito: