16
A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 julho/2013 A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler Graziella Rodrigues da Silva [email protected] MBA Perícia, Auditoria e Gestão ambiental Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Porto Alegre, agosto de 2012 Resumo Este artigo tem como objetivo apresentar as proporções tomadas pela evolução do turismo dentro do cenário ambiental e econômico do mundo, bem como a relevância de um sistema de gestão ambiental para que o desenvolvimento da atividade torne-se sustentável. Utilizando-se de revisão bibliográfica de autores especialistas nos assuntos, o artigo afirma que o turismo constitui atualmente uma das atividades econômicas mais expressivas na economia mundial. Entretanto, seu crescimento desordenado pode acarretar impactos negativos significativos e até mesmo danos a uma área afetada. A questão das certificações no turismo também é um tema abordado neste artigo onde se discute as possibilidades de pequenos empreendimentos se integrarem nesse tipo de gestão de maneira a não perderem espaço no ramo mercadológico. Por fim, a ilustração do caso do Hotel Buhler, relatando a pró-atividade de empreendedores de pequeno porte na busca pela sustentabilidade da atividade em prol do meio ambiente, demonstra que a partir da consciência e de ações concretas é possível agregar ao turismo uma forma de conservação de uma região possibilitando lazer aos visitantes e captando lucros à população local. Palavras-chave: Turismo. Gestão Ambiental. Impactos. Certificações. 1. Introdução O turismo como forma de atividade econômica avançou em proporções significativas, sendo atualmente explorado em praticamente todos os continentes do globo. O seu crescimento avançado e muitas vezes desordenado pode causar sérios impactos às localidades onde está inserido assim como comprometer a continuidade da atividade em uma região. Dessa maneira a abordagem sobre a gestão ambiental na atividade turística tornou-se o enfoque deste trabalho, considerando a importância mundial do turismo e sua proximidade com o meio ambiente. Dentro dessa abordagem, a questão das certificações dentro do turismo levanta a questão referente às vantagens e seus custos em relação aos pequenos empreendedores, bem como a possibilidade destes se manterem no mercado haja vista a competitividade mercadológica dentro da área. A questão aqui discutida constitui um assunto de grande abrangência, o que possibilitou uma profunda pesquisa bibliográfica sobre o tema, culminando no relato de uma experiência real que conectou a atividade turística com a sustentabilidade e conservação ambiental, resultando em visibilidade e lucro para o empreendimento. 2. Turismo como atividade econômica A palavra turismo surgiu no século XIX, porém, a atividade estende suas raízes pela história. Certas formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações, entretanto a partir do século XX,

A importância da gestão ambiental na atividade … importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize

Embed Size (px)

Citation preview

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

A importância da gestão ambiental na atividade turística:

o caso do Hotel Buhler

Graziella Rodrigues da Silva – [email protected]

MBA Perícia, Auditoria e Gestão ambiental

Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG

Porto Alegre, agosto de 2012

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar as proporções tomadas pela evolução do turismo dentro

do cenário ambiental e econômico do mundo, bem como a relevância de um sistema de gestão

ambiental para que o desenvolvimento da atividade torne-se sustentável. Utilizando-se de revisão

bibliográfica de autores especialistas nos assuntos, o artigo afirma que o turismo constitui

atualmente uma das atividades econômicas mais expressivas na economia mundial. Entretanto, seu

crescimento desordenado pode acarretar impactos negativos significativos e até mesmo danos a

uma área afetada. A questão das certificações no turismo também é um tema abordado neste artigo

onde se discute as possibilidades de pequenos empreendimentos se integrarem nesse tipo de gestão

de maneira a não perderem espaço no ramo mercadológico. Por fim, a ilustração do caso do Hotel

Buhler, relatando a pró-atividade de empreendedores de pequeno porte na busca pela

sustentabilidade da atividade em prol do meio ambiente, demonstra que a partir da consciência e

de ações concretas é possível agregar ao turismo uma forma de conservação de uma região

possibilitando lazer aos visitantes e captando lucros à população local.

Palavras-chave: Turismo. Gestão Ambiental. Impactos. Certificações.

1. Introdução

O turismo como forma de atividade econômica avançou em proporções significativas, sendo

atualmente explorado em praticamente todos os continentes do globo. O seu crescimento avançado

e muitas vezes desordenado pode causar sérios impactos às localidades onde está inserido assim

como comprometer a continuidade da atividade em uma região. Dessa maneira a abordagem sobre a

gestão ambiental na atividade turística tornou-se o enfoque deste trabalho, considerando a

importância mundial do turismo e sua proximidade com o meio ambiente. Dentro dessa abordagem,

a questão das certificações dentro do turismo levanta a questão referente às vantagens e seus custos

em relação aos pequenos empreendedores, bem como a possibilidade destes se manterem no

mercado haja vista a competitividade mercadológica dentro da área. A questão aqui discutida

constitui um assunto de grande abrangência, o que possibilitou uma profunda pesquisa bibliográfica

sobre o tema, culminando no relato de uma experiência real que conectou a atividade turística com

a sustentabilidade e conservação ambiental, resultando em visibilidade e lucro para o

empreendimento.

2. Turismo como atividade econômica

A palavra turismo surgiu no século XIX, porém, a atividade estende suas raízes pela história. Certas

formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações, entretanto a partir do século XX,

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

mais precisamente após a 2ª Guerra Mundial, que ele evoluiu como consequência dos aspectos

relacionados à produtividade empresarial, ao poder de compra das pessoas e ao bem estar resultante

da restauração da paz no mundo (BARRETO Apud FOURASTIÉ, 2005).

Atualmente, a atividade turística é considerada como uma das mais expressivas na economia

mundial. Além de ser considerada uma das maiores prestadoras de serviços no mundo, é

responsável por receitas importantes a setores da economia e a eles ligados direta ou indiretamente.

O turismo é um grande gerador de empregos e renda, podendo vir a ser a solução para o

desenvolvimento econômico-social de uma região.

Segundo Serrano (2004) o turismo enquanto atividade econômica abrange duas ações estratégicas

importantes que são o planejamento e a comercialização. Salienta ainda, que ambos os lados devem

interagir, entretanto possuem funções bem distintas.

Fazendo uma analogia com a atividade habitacional, a autora explica que, assim como os arquitetos

realizam os desenhos, os engenheiros, executam os projetos, as construtoras aportam grandes

capitais e constroem e, paralelamente, as imobiliárias comercializam, existem os “arquitetos” do

turismo que são os planejadores, os grandes capitalistas que são as operadoras e as agências que

comercializam. Entretanto, na atividade turística, a quem compete cada uma dessas áreas, não

parece estar muito claro.

Ainda, a referida autora esclarece que na visão da maioria das pessoas, incluindo quem detém poder

nas esferas governamentais, a atividade turística significa simplesmente viajar, e o planejamento

turístico significa a propaganda ou a criação de pacotes por parte de operadores. Tais fatores

levaram o Turismo a um planejamento desordenado que não atende aos interesses das comunidades

receptoras nem aos preceitos da conservação do meio ambiente, mas apenas aos interesses

econômicos dos grupos empresariais envolvidos.

Para Almeida (2012), o Turismo é uma atividade crescente em todo o mundo, especialmente nos

últimos anos, mas seu crescimento desordenado tem provocado danos às paisagens, às populações

nativas e ao meio ambiente das regiões afetadas. O uso inadequado dos recursos naturais dentro da

atividade turística pode provocar grandes desequilíbrios ambientais. Almeida esclarece que o

manejo adequado, cuidadoso e respeitoso para com o meio ambiente, a cultura e as formas de vida

das populações locais, não diminui o valor destas áreas como lugares de descanso e lazer e torna-se

fator positivo para a atividade turística a implantação de medidas compensatórias à população por

parte dos empreendedores, como geração de empregos, indenizações, etc.; o planejamento do

turismo respeitando as formas de vida e as tradições da população local; adoção de medidas para

capacitação e o aprimoramento profissional da população local; e implementar dispositivos legais

que protejam os interesses locais.

Almeida (2012) chama a atenção para o aspecto da paisagem de uma localidade turística, a qual

pode ser extremamente afetada se a atividade for desordenada e mal planejada. Nesse caso, faz-se

necessária a implantação de planos diretores municipais que impeçam a proliferação de construções

que agridam a paisagem.

Devem ser fixadas regras para o desenvolvimento local, estabelecendo

proibições de construções em determinadas zonas e os parâmetros

construtivos a serem observados nas demais. O cumprimento destas regras

deve ser controlado, mediante a concessão de licenças e através da

fiscalização exercida pelos órgãos municipais, estaduais e federais

(ALMEIDA, 2012:163).

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

Por fim, o autor conclui salientando a importância do apoio institucional do setor público para o

sucesso dos empreendimentos turísticos, através de diversas ações, seja mediante o fortalecimento

da administração pública nos locais de turismo, com a capacitação de pessoal para o atendimento

adequado ao turista, seja pela instituição de instrumentos legais para a proteção das áreas dedicadas

ao turismo.

3. Impactos e instrumentos da gestão ambiental na atividade turística

O turismo visa à satisfação do consumidor através de uma intensa intervenção antrópica no meio

natural, causando, inevitavelmente, diversos impactos ao meio ambiente em que a atividade está

inserida.

As principais consequências negativas da atividade turística encontram-se no seu poder de

degradação dos recursos naturais, culturais, sociais e do patrimônio edificado, destacando-se essa

propriedade principalmente quando o local é capaz de atrair muitas pessoas ao mesmo tempo. O

inadequado planejamento de implantação da atividade turística, a falta de interesse da gestão,

visando somente o lucro fácil e momentâneo intensifica o poder negativo da atividade.

Contudo, segundo Almeida (2011), a estreita relação entre os projetos turísticos e a qualidade do

meio ambiente faz com que os impactos ambientais negativos destes empreendimentos causem a

degradação dos mesmos ambientes, dos quais depende o êxito dos projetos, reduzindo seus

benefícios.

A ausência do adequado planejamento da atividade, na busca do equilíbrio entre a intensidade, tipo

das atividades turísticas e capacidade de suporte do meio ambiente, predispõe os projetos turísticos

a não serem apenas ambientalmente danosos como também economicamente insustentáveis.

Desse modo, destacam-se os principais impactos ambientais negativos de projetos turísticos,

segundo Almeida (2011: 111-112):

¯ Degradação da paisagem, devido a construções inadequadas, especialmente de edifícios, que

por suas dimensões, formas cores e matérias-primas utilizadas podem ser consideradas

arquitetonicamente inadequadas ao lugar;

¯ Aumento da utilização e da necessidade de abastecimento de água potável;

¯ Contaminação das águas dos rios e mares, devido ao aumento de esgotos não tratados;

¯ Degradação da fauna e da flora local, devido ao desmatamento, caça e pesca predatória;

¯ Redução da população dos animais que tem sua coleta dirigida ao atendimento da

alimentação do turista, tais como: camarão, caranguejo, etc.;

¯ Aumento da geração de resíduos sólidos;

¯ Aumento da demanda de energia elétrica;

¯ Aumento do tráfego de veículos, com a consequente redução da qualidade do ar e aumento

de ruídos;

¯ Assoreamento da costa devido às ações humanas, com destruição de corais, recifes,

mangues, restingas, dunas, etc., onde se destacam os constantes aterros realizados em praias

para aumentar a área urbana;

¯ Alterações sobre o estilo de vida das populações nativas;

¯ Mudanças na forma da exploração econômica da região afetada, com alterações tais como da

agricultura e da pesca para a prestação de serviços ao turista;

¯ Aumento sazonal de população com diversas implicações sobre a área afetada, sua

infraestrutura e a população nativa;

¯ Deslocamento e marginalização das populações locais;

¯ Perda de benefícios econômicos para as comunidades locais;

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

¯ Necessidade de implantação de obras de infraestrutura causadoras de impactos ambientais

negativos, tais como: estradas, sistemas de drenagem, aterros com grande movimentação de

terra, entre outros.

Ainda, cabe ressaltar a profundidade dos impactos sobre o solo, água, qualidade do ar, fauna, flora e

paisagem dos destinos afetados pela atividade.

Segundo Almeida (2011), nos destinos turísticos urbanizados, muitas vezes a impermeabilização

excessiva, a erosão, a contaminação por disposição inadequada de resíduos sólidos, a compactação

para a construção de estradas e urbanização e a eliminação da vegetação protetora, especialmente

em regiões litorâneas e montanhosas, são os impactos ambientais negativos mais frequentes sobre o

solo.

Em relação às águas, os impactos ambientais negativos mais comuns são o consumo não sustentável

e a contaminação dos mananciais, especialmente nas épocas de temporada, quando, por exemplo,

em um hotel o consumo pode oscilar entre 350 e 1.200 litros por dia por hóspede. Além disso, nas

áreas litorâneas, o lançamento de esgotos no mar, assim como as constantes contaminações por

resíduos e óleos das embarcações, nas zonas portuárias e petrolíferas, são riscos constantes à

balneabilidade das praias.

A grande quantidade de edifícios altos e a impermeabilização do solo na orla marítima, que também

impede a chegada dos raios solares em determinados horários do dia e altera a movimentação dos

ventos, afetam a qualidade do ar e o microclima do local. Nas áreas excessivamente urbanizadas,

também pode ocorrer o aumento de temperatura em até 3 ºC, em relação às áreas pouco

urbanizadas. Destaca-se também que o aumento da urbanização e do tráfego nas áreas afetadas,

causa entre outros danos, aumento de níveis de poluição do ar e ruídos.

A modificação ou completa remoção da cobertura vegetal da região, necessária à instalação de

empreendimentos como hotéis, marinas e empreendimentos esportivos, podendo afetar ambientes

frágeis como mangues, restingas e florestas. Essa alteração do meio atinge suas funções ambientais

relacionadas com a fauna e a flora, especialmente o abrigo à fauna e proteção dos cursos d’água.

Visto a magnitude de impactos que podem ser gerados pela atividade turística, torna-se indiscutível

a necessidade de uma gestão ambiental voltada para o turismo.

Gestão ambiental é o processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais que interagem

em um dado espaço com vistas a garantir a adequação dos meios de exploração dos recursos

ambientais – naturais, econômicos e socioculturais – às especificações do meio ambiente, com base

em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos (ALMEIDA, 2012:1)

Estudos de Almeida (2012) resultaram no seguinte quadro que relaciona os potenciais impactos da

atividade turística e as respectivas medidas de gestão ambiental.

IMPACTOS AMBIENTAIS

POTENCIAIS

MEDIDAS DE GESTÃO

Aumento da utilização e da necessidade

de abastecimento de água potável;

Aumento da geração de resíduos sólidos;

Aumento da demanda de energia elétrica;

Aumento do tráfego de veículos, com a

consequente redução da qualidade do ar e

aumento da geração de ruídos;

Contaminação da água de rios e mares

¯ Planejamento da utilização

sustentável da água, avaliando-se a

quantidade e qualidade das

reservas disponíveis em

comparação com as necessidades

previstas.

¯ Definição da capacidade de

suporte, de forma que a população

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

devido ao aumento de esgoto não tratado;

Degradação da fauna e da flora local,

devido ao desmatamento, caça e pesca

predatória;

Redução da população dos animais, que

tem sua coleta dirigida ao atendimento da

alimentação dos turistas, tais como

camarão, caranguejo, etc.

Necessidade de implantação de obras de

infraestrutura causadoras de impactos

ambientais negativos, tais como estradas,

sistemas de drenagem, aterros com grande

movimentação de terra, entre outros.

de turistas possa ser atendida no

lugar sem sobrecarregar a

infraestrutura e os recursos

naturais existentes.

¯ Adequação dos sistemas de coleta

e tratamento de esgoto e resíduos

sólidos para atendimento da

demanda gerada pelo turismo.

¯ Planejamento integrado dos

acessos e da malha urbana,

evitando grandes concentrações de

veículos e pedestres, reduzindo o

tráfego e o ruído.

¯ Criação de estruturas

governamentais pertinentes para a

prestação de serviços necessários

na região de estabelecimento dos

projetos de turismo, com

orçamento e capacitação para

monitorar e fiscalizar.

¯ Estabelecimento de planos

diretores para os municípios

afetados para evitar

desordenamento e especulação

imobiliária.

Assoreamento da costa, devido às ações

humanas, com destruição de corais,

recifes, mangues, restingas, dunas, etc.,

onde se destacam os grandes aterros

realizados em praias para aumentar a área

urbana.

¯ Estabelecimento de zonas de

proteção ambiental, em áreas

sensíveis e de significativo

interesse ambiental, como florestas

e demais formas de cobertura

vegetal, especialmente as situadas

em topo de montanhas, restingas,

mangues, entre outros, de acordo

com a legislação ambiental.

Degradação da paisagem, devido a

construções inadequadas, especialmente

de edifícios, que por suas dimensões,

formas, cores e matéria-prima utilizada,

podem ser consideradas

arquitetonicamente inadequadas ao lugar.

¯ Implantação de projetos

paisagísticos com redução da

impermeabilização e com o plantio

de árvores e outros vegetais, que

venham a minimizar os problemas

de poluição e ruídos nas áreas

urbanizadas.

¯ Redução da altura dos edifícios,

permitindo o fluxo dos ventos e

dos raios solares, especialmente

nos balneários.

Aumento sazonal da população com ¯ Possibilitar a participação da

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

diversas implicações sobre a área afetada,

sua infraestrutura e população nativa;

Possível mudança de valores e formas de

comportamento tradicional da população

local, ao ver-se confrontados com o modo

de vida dos turistas;

Comercialização de festas e cerimônias

tradicionais das populações locais, como

atração aos turistas, com a possibilidade

de perda de identidade por parte dos

nativos e do sentido real de suas

festividades;

Mudanças nas formas de exploração

econômica da região afetada, com

alterações, tais como da agricultura e da

pesca para a prestação de serviços ao

turista;

Crescimento da população, com a

concentração espacial e urbanização não

planejada, a vinda de comerciantes,

fabricantes e pessoas em busca de

trabalho, que serão concorrentes da

população local e poderão acentuar

desequilíbrios sociais;

Modificação do estilo de vida de grupos

nativos, com a introdução da economia

monetária;

Violação e inobservância das tradições

religiosas;

Ocorrência do uso indiscriminado de

álcool e drogas, assim como prostituição;

Limitação de atividades tradicionais que

utilizam recursos naturais de maneira

artesanal, como a pesca, e da própria

produção de outros produtos artesanais;

Aumento dos preços dos gêneros de

primeira necessidade, devido ao aumento

da demanda de turistas.

população afetada no processo de

planejamento e execução dos

empreendimentos.

¯ Implantar medidas compensatórias

à população, por parte dos

empreendedores, como geração de

empregos, indenizações, etc.

¯ Planejar o turismo respeitando as

formas de vida e as tradições da

população local.

¯ Adotar medidas para capacitação e

o aprimoramento profissional da

população local.

¯ Implementar dispositivos legais

que protejam os interesses locais.

“Nas unidades de conservação”

Forte perturbação aos animais devido à

excessiva aproximação de pessoas,

veículos e geração de ruídos.

Maior risco de acidentes com animais

devido ao aumento do tráfego de veículos;

Modificação do comportamento natural

¯ Elaboração e implantação de

planos de manejo para as unidades

de conservação, com a previsão da

harmonização das características

ambientais da Unidade com o

Turismo.

¯ Estabelecimento de programas de

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

instintivo dos animais, devido ao

recebimento de alimentos pelos turistas;

Transmissão de doenças aos animas e aos

próprios homens, através do contato com

os turistas e com seus dejetos;

Maior risco de ocorrência de incêndios

florestais, dizimando espécies da flora e

da fauna;

Coleta de espécies da flora e da fauna de

forma predatória.

“educação ambiental” para

orientação do turista, com especial

atenção à reciclagem do lixo, bem

como as formas e posturas

ambientais que devem ser

mantidas nas áreas de turismo,

especialmente nas unidades de

conservação.

¯ Informação ao turista sobre as

formas de conduta na Unidade,

utilizando-se informativos, placas

cartazes, etc. mediante a

implantação de um programa de

comunicação social.

¯ Estabelecimento de estradas,

caminhos e trilhas abertas ao

público.

¯ Adequação da legislação ambiental

nas áreas turísticas para o

atendimento à realidade existente,

especialmente quanto à proteção

dos atributos da natureza e de

valor histórico-cultural, entre

outras.

¯ Fechamento de zonas de

significativo interesse ambiental.

¯ Proibição de coletas de material,

como espécies da fauna e da flora,

exceto para fins científicos e

devidamente autorizados.

¯ Estabelecimento de limites de

quantidade de turistas e excursões

nas unidades.

¯ Informações ao turista sobre as

formas de conduta na Unidade.

Tabela 1 – Relação entre impactos ambientais potenciais e respectivas medidas de gestão

Fonte: Adaptado de Almeida (2012)

4. Atividade turística, meio ambiente e certificações

Desde o início da década de 1960, com o surgimento dos movimentos sociais, entre eles, o

ambientalista, as questões sobre o desenvolvimento e globalização, espelhadas em modos ocidentais

padronizados, orientam como as pessoas devem realizar suas atividades, de maneira que obtenham

maior eficiência e lucro com menor demanda de tempo e concomitantemente gerando menor

impacto ao meio ambiente.

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

Segundo Neiman (2010), a partir da intensificação das discussões sobre o futuro do planeta,

especialmente com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, evento conhecido

como Rio-92, a sustentabilidade passou a ser integrada às discussões governamentais de como tratar

o assunto da conservação ambiental e cultural. Desde então, também se debate como as empresas

deveriam contribuir para a implantação desse novo conceito.

O desafio de tornar a atividade turística uma prática sustentável nos mostra um caminho que se

depara com dificuldades relativas à conservação de localidades e atendimento de qualidade, visto a

alta rotatividade de funcionários no setor, cuja escolaridade geralmente é baixa. Alguns autores já

fizeram reflexões sobre o assunto.

O desenvolvimento sustentável de uma localidade requer crescimento

econômico, acompanhado de uma distribuição equilibrada da renda e da

devida proteção dos recursos naturais – base das suas potencialidades -, com

vistas a assegurar uma qualidade de vida adequada tanto para as atuais como

para as futuras gerações. Esse processo se viabiliza com a participação

efetiva da sociedade tanto nas atividades de planejamento como nas de

gestão das atividades para o desenvolvimento. (BARRETO, 2005:56)

De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT, 2001), a sustentabilidade dessa

atividade só será viável se o poder de conservação dos lugares turísticos essenciais for administrado

e, em seguida, rigorosamente implantado por meio de um sistema eficiente de controles de operação

e planejamento. Nesse sentido, muitos estudos e regulamentações precisam ser realizados, de modo

que possam se constituir os alicerces de longo prazo dos projetos e estratégias da administração da

atividade.

Segundo Gonçalves (2004), há uma forte tendência de que a busca pela qualidade ambiental deixe

de ser um problema e passe a ser um fator de competitividade empresarial, e, sobretudo, de

responsabilidade social. A redução do consumo de energia e água, a reciclagem de resíduos e a

otimização dos processos são algumas das medidas que podem tornar os empreendimentos mais

eficientes do ponto de vista da gestão sustentável.

Os sistemas de Gestão Ambiental (SGA) visam à redução dos impactos das atividades humanas no

meio ambiente e, para que se atinja esse objetivo, os processos de certificação ganham importância

fundamental. As cerificações ganharam força na década de 1990, quando as discussões sobre meio

ambiente entraram em voga no mundo. Segundo o mesmo autor, a Norma Pioneira foi a britânica

BS 7750 (Specification for Environmental Management System).

De acordo com Neiman (2010), as certificações são o reconhecimento, por meio de selos ou

logomarcas, das medidas tomadas pela empresa com o intuito de minimizar os impactos ambientais,

melhorar o relacionamento interno (todos os membros que a compõe, independentemente de

hierarquia) e externo (fornecedores, sociedade, concorrentes, meio ambiente) da empresa, por meio

da adoção de práticas denominadas SGA. O selo será fornecido para empreendimentos que

alcançarem um determinado padrão de eficiência e desempenho conforme critérios do certificador.

O empreendimento interessado procura um órgão certificador que, não necessariamente, é o mesmo

que irá supervisionar se as metas estão sendo cumpridas de acordo com aquelas estabelecidas para a

certificação.

No setor turístico, as empresas passíveis de certificação podem ser: meios de hospedagem,

operadores, agências de viagens, parques naturais, restaurantes e afins, serviços, etc.

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

Para iniciar um processo de certificação, é necessário o levantamento e o diagnóstico de tudo o que

é necessário ser feito para que se obtenha o selo desejado. O segundo passo consiste em traçar

meios de se atingir objetivos e metas recomendados pelo órgão certificador. Por parte da empresa a

ser certificada, deve haver comprometimento e cumprimento dos prazos.

O trabalho deve ser visto com seriedade e a qualidade do serviço certificado deve se tornar a própria

filosofia de trabalho do empreendimento. Agir como se a certificação fosse apenas uma forma de se

dar maior visibilidade ao negócio, com consequente aumento de público, maior inserção no

mercado, ou obtenção de mais lucro não é o mais recomendado. Se uma coisa não estiver

desvinculada de outra, a empresa poderá obter diversas vantagens, entre elas o lucro obtido ao final

do processo será naturalmente maior.

Um dos sistemas de certificação mais conhecidos mundialmente é desenvolvido pela ISO

(International Organization for Standardization), uma federação mundial não governamental

fundada em 1947 que conta com a participação de 111 países, sediada em Genebra, Suíça. Seu

objetivo é propor normas e padrões relativos a medidas, procedimentos, materiais e seu uso

praticamente em todos os setores de atividades. Os trabalhos da ISO resultam em acordos

internacionais que são publicados como normas a serem seguidas por todos. A Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) representa o Brasil nesse grupo (NEIMAN, 2010:261).

A autora ressalta que, no entanto, não são todas as certificações que possuem vínculos aos sistemas

da ISO, sendo que muitas possuem métodos próprios, e variadas maneiras para a construção do

SGA. Apesar disso, algumas certificações se baseiam nas Normas da ISO, visto que constituem um

padrão de referência muito conceituado, além de proporcionar adaptações a cada realidade,

mantendo o objetivo comum desses programas que é a conservação do meio ambiente, com a

redução dos impactos gerados pela empresa e a melhoria da qualidade dos produtos oferecidos,

sejam eles quais forem.

Existem certificações específicas para cada área de atividade. No setor turístico e ambiental podem

ser citadas: Hóspedes da Natureza; Roteiros de Charme; Programa Aventura Segura; Programa de

Certificação da Qualidade no Setor de Turismo (parceria entre o Instituto de Hospitalidade e a

ABNT); ECO Certificações; ISO 14001; Green Touris; Green Globe 21; CST; Emas (Eco-

Management and Audit Scheme, uma alternativa à ISO 14001, permitida apenas na União

Européia); Viabono (Certificadora Alemã); Green Leaf (Exclusiva para hotéis); EU Flower;

Biosphere Hotels; Ecolabel Austrália; Ecolabel Áustria; Nordic Swan; e o Programa de Certificação

em Turismo Sustentável (PCTS).

A autora esclarece que todos esses programas foram criados com a finalidade de reduzir os

impactos ambientais causados pela atividade turística. A cada empresa fica o critério de verificar o

mais adequado a seus padrões. As certificações desse tipo apresentam como requisitos, objetivando

a sustentabilidade, itens como: qualidade e manutenção dos atrativos naturais, impactos

construtivos, eficiência energética, conservação e gestão do uso de água, seleção e uso de insumos

ambientalmente corretos, benefícios para a comunidade local etc.

A ISO emitiu a norma ISO 14001, específica para o SGA, apontando os requisitos para a

implantação, manutenção, auditoria e melhoria. A ABNT adotou essa Norma como Brasileira,

dando-lhe o nome NBR ISO 14001. Somente empresas que adotam uma série de procedimentos

para evitar danos ao meio ambiente obtêm esse certificado.

Segundo a autora, a padronização dos serviços é garantir que o serviço de excelência seja o mesmo

em todos os estabelecimentos que possuem o selo, para reconhecimento também do cliente, que já

saberá o que esperar daquela marca.

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

No entanto, para alguns autores, a qualidade é um item subjetivo porque alguns clientes podem

acreditar que ser bem atendido basta; outros levam em conta, além desse item, a parte social ou

ambiental da empresa, por exemplo.

Não basta existirem produtos e serviço social e ambientalmente sustentáveis

aos olhos do consumidor. É preciso haver cuidados com a qualidade na

prestação dos serviços, índices confortáveis de satisfação e, se possível,

superação das expectativas do cliente (SALVATI, 2004:87).

Ainda segundo Salvati (2004), embora a qualidade medida pelo cliente seja muito importante, visto

que um cliente satisfeito é um consumidor em potencial e um veículo de propaganda muito

eficiente, deve-se levar em consideração a satisfação de todo o corpo dos funcionários, pois estes

trabalham, atendem melhor e exercem suas funções com mais vontade quando estão satisfeitos com

a empresa. São os funcionários, os principais colaboradores da corporação, pois trabalham

diretamente com o cliente e estão aptos a perceber quais suas exigências, o que os satisfaz ou não e

a transmitir essas informações à gerência. Dessa forma, para que haja qualidade é necessário ter

profissionais treinados, capacitados, bem posicionados em suas funções e bem remunerados.

Entretanto, o mesmo autor discorre sobre a possibilidade de a padronização dos serviços vir a ser

um ponto negativo para empreendimentos que primam pela originalidade e autenticidade. Segundo

o autor

(...) no caso da certificação do Turismo, o estabelecimento de padrões a

serem seguidos pode diminuir a chance de os produtos de autenticidade

diferenciada e que ofereçam conceitos inovadores de qualidade em serviço,

se desenvolverem e se manterem no mercado. (SALVATI, 2004: 88)

Contudo, Salvati (2004) nos lembra de que muitas pessoas buscam a padronização justamente para

antecipar o padrão de qualidade que procuram. Estes consumidores costumam não gostar de serem

surpreendidos.

5. Vantagens e desvantagens da certificação

Para a adoção das práticas do SGA, é necessário que a empresa interessada faça uma análise

criteriosa dos benéficos que o sistema trará ao seu negócio, bem como das dificuldades de se adotar

essas medidas.

Segundo Diniz (2208:2), as vantagens e desvantagens de um SGA para a empresa são:

Vantagens:

¯ Aperfeiçoamento dos processos tecnológicos das empresas e diminuição dos

consumos específicos de energia, matérias-primas e recursos naturais;

¯ Minimização do impacto ambiental das atividades da empresa e melhoria da imagem

perante a opinião pública;

¯ Acesso a determinados mercados e concursos em que a certificação ambiental é

obrigatória. Melhoria da posição competitiva em face dos concorrentes não

certificados;

¯ Melhoria da organização interna e aumento da motivação e envolvimento dos

colaboradores internos;

¯ Redução de riscos e redução de auditorias por parte de outras entidades.

Desvantagens:

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

¯ Dificuldade no cumprimento dos requisitos legais (base de qualquer SGA) e de

sensibilização / formação interna para a necessidade de alterar hábitos (desde a

gestão de topo às bases da organização);

¯ Questões independentes das próprias empresas como formalização e rapidez dos

licenciamentos.

No que tange às vantagens, concluímos que a diminuição do consumo, de energia, água, etc.,

implica benefícios ao meio ambiente e à empresa, pois há redução de custos.

Segundo Prochnow e Vasconcelos, acerca das certificações no Turismo:

Durante o acordo de Mohonk, ocorrido na cidade de New Paltz, Nova York,

EUA, em 2000, foram discutidos e nivelados os princípios e componentes

que devem fazer parte de todo o programa sólido de certificação. Os

participantes reconheceram que os programas de certificação de turismo

necessitam ser ajustados às características geográficas locais e aos

respectivos segmentos turísticos, definido os componentes universais que

devem fundamentar todo programa de turismo sustentável e de ecoturismo.

(PROCHNOW; VASCONCELOS, 2008:35)

Neiman (2010), em seus estudos discorre sobre a possibilidade de os critérios da qualidade

necessários para a obtenção de selos interferirem na genuinidade do serviço oferecido. A autora

questiona como poderão garantir a diversidade e o particular, se os empreendimentos e os serviços

precisam adequar-se a normas rígidas que, inclusive, aumentam consideravelmente os custos

operacionais. Questiona ainda se seria possível sistemas de certificação regionais, ou locais, com

critérios de exigência mais afeitos às características socioculturais e econômicas de cada realidade.

Indaga sobre a “legitimidade” dessas certificações.

6. Certificação versus custos

Estudos de Neiman (2010) mostram que o setor da atividade turística abrange vários segmentos e,

com isso, empresas de vários portes, com tamanho, capital para investimentos e lucratividade

distintos. Quando se deseja medir a qualidade de um estabelecimento por meio da certificação

simbolizadas por um selo, é preciso que se leve em conta essa heterogeneidade. O custo da

implantação das certificações é uma das grandes dificuldades que devem ser enfrentadas por

aqueles que buscam seus benefícios.

De acordo com Gonçalves (2004), como resultado de reconhecimento de questões maiores como a

questão ambiental, as empresas estão sob uma forte pressão para mudar. Essas pressões tomam

forma através de uma gama de forças imediatas, tais como leis, multas e queixas dos consumidores,

que obrigam as organizações empresariais a avançar rumo à era ambiental ou a sair do mercado.

Seguindo esse pensamento, Neiman (2010) questiona como podem o pequeno e o micro

empreendedor enfrentarem a concorrência das grandes empresas se estas possuem melhores

condições financeiras para arcar com os custos de uma certificação.

A autora encontra a resposta analisando que se os pequenos empreendedores tiverem clareza da

qualidade do serviço que podem oferecer, e conhecimento suficiente para adequar seu

estabelecimento aos padrões mínimos de qualidade, é possível que, por meio de estudos que

promovam pequenas mudanças, eles, por conta própria, consigam ter boa visibilidade perante seus

consumidores, por intermédio de ações de marketing bem planejadas. Inclusive porque a conquista

de um selo de qualidade não garante que o estabelecimento tenha, de fato, incorporado a ética

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

daquilo que está certificando. Podem ter obtido a certificação apenas porque conseguiram atender às

exigências técnicas, mas encaram essa conquista meramente como questão mercadológica que

aumenta sua lucratividade.

Um bom planejamento com estratégias de curto, médio e longo prazo, controle e correções de

rumos, pode conferir aos pequenos empreendedores um diferencial que faça concorrência àqueles

que possuem maior capital de investimento em certificações. Entre essas estratégias, pode-se citar a

diferenciação de preço, de público e de atrativos, por exemplo. (NEIMAN, 2012: 273).

7. A gestão com foco na responsabilidade ambiental e no compromisso social em um

pequeno empreendimento – O caso do Hotel Buhler

Segundo Costa (2007), a consciência de que o aumento do fluxo de turistas em uma região acarreta,

ao mesmo tempo, vantagens e problemas, deu início a uma decisão empresarial dos administradores

do Hotel Buhler. O Hotel, situado em um paraíso ecológico na região de Visconde de Mauá, na

fronteira dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, através de uma iniciativa pioneira, encontra-

se desde 2001 sem deixar um só saco de lixo na rua para ser recolhido.

O Programa de Redução de Lixo do Hotel Buhler, é considerado um caso emblemático: um

pequeno hotel, localizado em um vale cercado de montanhas, onde até hoje se chega por uma

estradinha de terra e onde o telefone se popularizou somente no terceiro milênio, conseguiu

encontrar alternativas simples, de baixo custo e grande eficácia para administrar e gerenciar

adequadamente a sua produção de resíduos sólidos (COSTA, 2007:13).

De acordo com a autora, a atividade do Hotel Buhler iniciou no ano de 1922, quando Chrystoffe e

Anne Marie Buhler, imigrantes de origem alemã, encontraram na hospedagem de visitantes em sua

própria casa, uma forma de sustento. Oito anos depois, inauguraram a pousada que deu origem ao

Hotel Buhler.

A comunidade rural de Visconde de Mauá, onde o hotel está inserido, não possuía sistema de coleta

de resíduos até meados do ano de 2003, sendo que cada morador cuidava, por conta própria, da

limpeza de sua propriedade e dos arredores. Atualmente, o serviço municipal de coleta de resíduos

possui um caminhão que percorre a região duas vezes por semana. O destino desses resíduos são

depósitos públicos a 35/40 km de distância.

Durante décadas, a família Buhler adotou procedimentos tradicionais nas zonas rurais no que tange

ao destino de seus resíduos. O resíduo orgânico era jogado na horta, sem grandes cuidados; as

folhas, galhos, resíduos de jardim, etc. eram queimados e os demais objetos, exceto vidro, eram

enterrados. Essa forma de descarte poderia não ser a ideal, entretanto, naquela época, as condições

ambientais e os padrões de consumo do hotel e dos hóspedes eram bem diferentes dos atuais.

A atual proprietária do Hotel, Norma Buhler, passou a seguir a ideia de “mudar para preservar”,

pois não queria depender de ações concretas de terceiros para conservar o meio ambiente, principal

atração turística do local, garantindo consequentemente a atividade econômica que exercia. Para

tanto, iniciou um processo de estudos e pesquisas sobre o tema “lixo” e surpreendeu-se com o

universo de informações a que teve acesso. Norma Buhler iniciou suas ações com a busca de um

destino para os resíduos sólidos do seu hotel, pois assim já eliminaria um grande problema.

Segundo Costa (2007), Norma Buhler relata que “Ficava doente só de ver aquelas latas à espera de

um caminhão de coleta para levá-las embora. Os cachorros espalhavam o lixo e deixavam as ruas

e estradas imundas, para horror dos turistas que nos visitavam. E me perguntava, ainda, para onde

ia aquilo tudo, depois que o caminhão passava (...)”.

Ao iniciar a separação criteriosa de resíduos sólidos, Norma Buhler evidenciou a existência de um

grande volume de resíduos recicláveis e passou a buscar por uma destinação correta do material.

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

Depois de um período de pesquisa Norma chegou até a Sociedade Pestolazzi de Resende, localizada

a cerca de 40 km da região, uma entidade beneficente que cuida de crianças portadoras de

necessidades especiais. A entidade recebe doações, inclusive materiais recicláveis, o qual

comercializa para uma recicladora da região. A renda é revertida para melhorias na instituição. Aos

olhos de Norma e toda a equipe do hotel parecia uma ótima opção, visto que a ação renderia

grandes benefícios sociais.

Quanto aos resíduos orgânicos, Norma entrou em contato com o biólogo Luis Toledo, criador do

Projeto Lixo zero – um método de reaproveitamento de lixo orgânico aparentemente simples e de

baixo custo. O biólogo prestou a consultoria necessária para que a proprietária do Hotel pudesse dar

início à implantação do programa de redução de resíduos do Hotel Buhler.

O procedimento adotado por Norma Buhler, fez com que a proprietária criasse novas rotinas, além

de ter que contar com a participação de hóspedes e funcionários. Entendemos que, certamente, a

proposta de implantar um programa de redução de resíduos em um pequeno hotel localizado em um

paraíso ecológico exige uma verdadeira mudança de mentalidade em todos os que estão

relacionados com o empreendimento.

Segundo Costa (2007), após um ano de prática, Norma Buhler concluiu que a redução de resíduos

inicia na hora das compras para abastecimento do empreendimento. Para tanto, os funcionários

receberam a orientação de dar preferência a produtos com menor volume de embalagens. Se as

embalagens forem indispensáveis, a preferência é daquelas feitas de material reciclável. Entre

outras ações básicas, o hotel opta por evitar o uso de sacolas plásticas e a compra de bebidas em

lata, dando preferência às garrafas de vidro que retornam ao fabricante.

A proprietária do hotel relata em Costa (2007) que como o princípio básico da redução dos resíduos

consiste na separação criteriosa dos materiais, centralizou esforços e focou nas principais fontes de

produção de resíduos do hotel como a cozinha e os próprios hóspedes. A diferença entre os dois é

que a cozinha tem rotinas seguidas por profissionais treinados, portanto, passível de alterações e

controle. Em relação aos hóspedes, torna-se difícil prever o comportamento e reação mediante as

orientações do projeto. Visto que se tratava de um hotel antigo e com clientela fiel, que espera

sempre encontrar os mesmos serviços, a proprietária entendeu que era necessário conquistar os

hóspedes. A forma encontrada foi preparar pequenos cartazes, afixados em cada quarto e em pontos

estratégicos do hotel, com instruções simples e fáceis e salientando a contribuição da ação para com

o meio ambiente, assim como a integração social de pessoas portadoras de necessidades especiais,

referindo-se à instituição beneficente que recebe os materiais recicláveis ali separados.

Segundo Costa (2007), os hóspedes não só contribuíram de forma decisiva para o projeto, como

também se interessaram pelos detalhes, além dos constantes nos cartazes. Quando bem informados,

os clientes ficam satisfeitos em colaborar para a conservação das condições ambientais da região.

Na área externa ao hotel existem vários conjuntos de duas latas de lixo com indicação de material

orgânico e inorgânico. Junto a elas, há uma latinha para os cigarros. A partir da separação dos

resíduos, a triagem é feita pelos funcionários que recebem treinamento específico.

O destino do material orgânico são as várias composteiras mantidas nos fundos do empreendimento,

próximo aos viveiros de animais (pavões, patos e gansos). Depois de passar pelo processo de

decomposição, o material transforma-se em adubo que é utilizado na horta e nos jardins do hotel.

Atualmente, várias técnicas diferentes de compostagem são empregadas, com diferentes sistemas de

circulação do ar, para suprir a grande demanda de resíduos gerados no hotel. Entre outras técnicas

de reaproveitamento de rejeitos, a gordura do hotel vira sabão nas mãos de um funcionário que

agregou a tarefa às suas funções.

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

Os resíduos de lenta decomposição, formados por materiais orgânicos e inorgânicos ao mesmo

tempo, não podem ser misturados aos demais resíduos sólidos e exige um cuidado maior com sua

destinação final. Para esse tipo de resíduo, o Hotel Buhler construiu depósitos controlados,

devidamente impermeabilizados e afastados de cursos d’água, conforme determina a legislação

ambiental. Esses produtos permanecem armazenados até a sua completa decomposição.

Há produtos para os quais ainda não foi encontrado destino definitivo. Por enquanto, a saída foi

misturá-los à massa de cimento ou colocá-los dentro de blocos usados em construções.

Segundo Costa (2007), com a adoção do Programa de Redução de Lixo, o Hotel Buhler é hoje um

dos poucos hotéis do Brasil em condições de ser aprovado em uma eventual avaliação da

International Hotel Association – IHA, da International Hotels Environment Initiative – IHEI e do

United Nations Environmental Programme – UNEP.

A autora ainda ressalta que depois de 18 meses de prática, o Buhler Hotel poderia dar um “sim” a

todas as indagações do questionário básico do Pacote de Ações Ambientais para Hotéis, tornando-se

pelos critérios da Associação Internacional de Hotéis (IHA), uma empresa hoteleira de “boa

performance” ambiental. Pelas normas da entidade, cinco ou mais respostas positivas ao

questionário (Quadro 1) revelam desempenho adequado do hotel no gerenciamento de resíduos.

1) Você sabe o que acontece com o lixo do seu hotel?

2) Há um monitoramento dos tipos e volumes do lixo gerados por seu hotel?

3) As oportunidades de reduzir o lixo foram identificadas e ações nesse sentido foram adotadas?

4) Existem sistemas para minimizar o desperdício, reduzi-lo e reciclar?

5) Você recicla ou reutiliza a maior parte das garrafas, do papel, das latas e das baterias?

6) Há compostagem dos resíduos orgânicos?

7) O hotel adota materiais reutilizá-los?

8) O hotel se preocupa com o destino final do lixo?

9) Os produtos poluentes são identificados e catalogados?

Quadro 1 - Questionário básico do Pacote de Ações Ambientais para Hotéis

Fonte: Adaptado de Costa, 2007

Atualmente, segundo seu site, o Hotel Buhler recebeu o Selo de Hospedagem Sustentável do Guia 4

Rodas.

De acordo com o portal EcoHospedagem, o Selo Verde Guia 4 Rodas é uma certificação do Guia 4

Rodas que ficou muito conhecido entre turistas e hoteleiros devido ao poder e abrangência do Guia

4 Rodas. Trata-se de uma boa forma de conscientizar os turistas brasileiros, de incentivá-los a

preocuparem-se com o meio ambiente e a comunidade local, passando também a cobrar dos hotéis

em que se hospedam uma atitude mais sustentável.

Segundo o site Planeta Sustentável, este é o checklist da Hospedagem Sustentável

¯ Valoriza cultura e artesanato locais, além da culinária da região.

¯ Investe parte do lucro na capacitação dos funcionários, contribuindo para a melhoria da vida

local.

¯ Faz trabalho de conscientização ambiental junto aos hóspedes, funcionários e fornecedores.

¯ Preocupa-se com o uso racional dos recursos naturais, da água e da energia (sistemas de

purificação de água, tratamento de esgoto, reaproveitamento de água de chuveiros, torneiras

e da chuva, energia solar e uso de equipamentos que consomem menos).

¯ Contempla no projeto arquitetônico e na decoração as características culturais da região.

¯ Usa materiais renováveis na construção, como madeira certificada e materiais de demolição.

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

¯ Promove ações para prevenir e recompor inevitáveis impactos da visitação, como reciclagem

de lixo e neutralização de resíduos.

8. Conclusão

O atual panorama econômico abrange as questões ambientais em diversos setores de atividades.

Contudo, no setor turístico, não está sendo diferente. O turismo como atividade econômica muitas

vezes foi definida como uma indústria “sem chaminés”. Entretanto torna-se clara a magnitude de

impactos negativos e até mesmo danos que essa atividade pode causar em uma localidade afetada.

A gestão ambiental voltada para o turismo torna-se um fator de suma importância tanto para

garantir a continuidade da atividade, visto que o ambiente em que está inserida, muitas vezes

constitui a principal atração turística, como também um fator de competitividade entre

empreendimentos que cada vez mais estão aderindo aos “selos verdes”.

A questão levantada ao logo da pesquisa, é de como os pequenos empreendimentos podem competir

com aqueles que detêm maiores recursos para se obter uma certificação através da implantação de

um SGA. A resposta encontrada está no exemplo do Hotel Buhler, um pequeno empreendimento,

situado em um paraíso ecológico, onde através da pró-atividade, força de vontade, e por que não

dizer também, de coragem para dar o primeiro passo e também seguir firme em uma gestão

ambiental. Gestão esta onde os benefícios são muito maiores do que o próprio investimento, tanto

para o estabelecimento, em matéria de lucro e visibilidade mercadológica, como para o consumidor

e para o meio ambiente que segue ao mesmo tempo conservado e oferecendo o sustento e lazer a

tantas pessoas.

9. Bibliografia

ALMEIDA, Josimar R. Perícia Ambiental Judicial e Securitária. Rio de Janeiro: Thex, 2011, 501

p.

_________ Gestão Ambiental para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Thex, 2012, 566

p.

BARRETTO, Margarita. Planejamento Responsável do Turismo. Campinas: Papirus, 2005, 111 p.

BUHLER HOTEL – Lixo mínimo – http://www.hotelbuhler.com.br/ acessado em 12/08/2012

COSTA, Silvia de Souza. Lixo mínimo - uma proposta ecológica para a hotelaria. Rio de Janeiro:

Senac Nacional, 2007, 128 p.

DINIZ, Ana Margarida. A Certificação e o turismo sustentável.

http://www.pluridoc.com/Site/FrontOffice/default.aspx?module=Files/FileDescription&ID=2242&s

tate=FVC acessado em 01/08/2012

NEIMAN, Zysman; RABINOVICI, Andréa (Orgs). Turismo e Meio Ambiente no Brasil. Barueri,

SP: Manole, 2010, 332 p.

OMT – Organização Mundial do Turismo. Introdução ao Turismo. Trad. Dolores Martin Rodriguez

Corner. São Paulo: Roca, 2001.

Planeta sustentável -

http://planetasustentavel.abril.com.br/busca/busca.shtml?qu=selo+verde&si=planetasustentavel&x=

9&y=11 acessado em 20/08/2012

PORTAL ECOHOSPEDAGEM - http://ecohospedagem.com/o-turismo-sustentavel-e-os-selos-

verdes/ acessado em 20/08/2012

PROCHNOW, Waldir. E.; Vasconcelos, Eliane C. O estado da arte das ações para certificação em

ecoturismo. Caderno Virtual de Turismo, v.8, nº 3, 2008, p. 29-40.

RUSCHMANN, Dóris. Turismo e Planejamento Sustentável. Campinas, SP: Papirus, 1997, 199 p.

A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

SALVATI, Sérgio Salazar (Org.). Turismo responsável: manual para políticas locais. Brasília:

WWF-Brasil, 2004, 226 p.

SERRANO, Célia; BRUHNS, Heloisa; LUCHIARI, Maria. (Orgs). Olhares Contemporâneos sobre

o Turismo, Campinas, SP: Papirus, 2004, 206 p.