Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de
Distribuição de Energia Elétrica no Brasil
André Gouveia de Figueirêdo – [email protected]
MBA Projeto, Execução e Controle de Engenharia Elétrica
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Recife, PE, 13 de Novembro de 2018
Resumo
O crescente aumento e aprimoramento dos controles regulatórios, estabelecidos pela Agência
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, tem estimulado as distribuidoras de energia no Brasil
a repensarem seus processos de gestão de ativos. Diante do exposto, este trabalho tem como
objetivo evidenciar como o processo de gestão de ativos é importante para que as
distribuidoras de energia se enquadrem nos requisitos regulatórios, maximizem seus lucros e
promovam uma maior eficiência operacional. A metodologia aplicada para desenvolvimento
desse trabalho tem um objetivo descritivo, com abordagens qualitativas e quantitativas, por
meio de análises documentais e estudo de caso, sendo analisados sites de internet, artigos
cintíficos, dissertações, teses, normativos e procedimentos regulatórios. O resultado desse
estudo visa mapear a evolução das exigências regulatórias e como a gestão de ativos pode
contribuir para garantir maior rentabilidade aos resultados financeiros da empresa e melhorar
os níveis de qualidade dos serviços prestados. Conclui-se, portanto, que ao analisar
estrategicamente o atual cenário regulatório no Brasil, bem como sua tendência de evolução, é
possível minimizar e controlar os riscos regulatórios e garantir maior rentabilidade e
eficiência ao negócio de distribuição de energia elétrica, por meio de uma eficiente gestão de
ativos.
Palavras-chave: Gestão de ativos, Distribuição de energia, Regulação, Base de dados.
1. Introdução
Para entender a motivação desse artigo, se faz necessário conhecer como surgiu, a evolução,
qual a finalidade, qual a importância e as oportunidades da regulação no sistema elétrico
brasileiro.
Até o início da década de 90, o Estado era responsável por controlar o setor elétrico brasileiro
de forma verticalizada, onde uma mesma empresa controlava os três grandes pilares da cadeia
de suprimento de energia elétrica, geração, transmissão e distribuição. Esse modelo atribuía
grandes poderes às estatais, dificultando a transparência e a regulação eficiente do setor e
consequentemente prejudicando a qualidade do fornecimento de energia elétrica (Silva,
2011).
Com a aprovação das leis 8.987 e 9.074 no ano de 1995, foi possível iniciar o processo de
concessão e permissão da prestação de serviços públicos no Brasil, sendo permitida a
realização das primeiras privatizações no setor elétrico (Silva, 2011).
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
De modo a garantir que a nova estruturação do setor, composta por concessões, atendesse às
políticas e diretrizes do governo federal, foi instituída a criação da Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL, por meio da lei nº 9.427 de 26 de Dezembro de 1996, com a
objetivo de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de
energia elétrica.
Compete à ANEEL regulamentar as políticas e diretrizes do Governo Federal para
a utilização e exploração dos serviços de energia elétrica pelos agentes do setor,
pelos consumidores cativos e livres, pelos produtores independentes e pelos
autoprodutores. Cabe à Agência, ainda, definir padrões de qualidade do atendimento
e de segurança compatíveis com as necessidades regionais, com foco na viabilidade
técnica, econômica e ambiental das ações e, por meio desses esforços, promover o
uso eficaz e eficiente de energia elétrica e proporcionar condições para a livre
competição no mercado de energia elétrica. Em:
<http://www.aneel.gov.br/regulacao-do-setor-eletrico>. Acessado em: 05/10/2018
É papel da ANEEL proporcionar condições favoráveis para que o desenvolvimento do
mercado regulado de energia elétrica ocorra com equilíbrio entre o poder concedente, as
concessionárias e o consumidor, ilustrado na figura 1, que visam garantir o fornecimento e a
universalização da energia, obter maiores lucros e segurança jurídica ao negócio e desfrutar
de qualidade no suprimento de energia e tarifas baixas, respectivamente. Para tal, a ANEEL,
em sua missão institucional, tem ampliado sua capacidade de fiscalização, utilizando
inovações tecnológicas e metodológicas no processo de gestão de ativos, em busca de garantir
um melhor padrão de qualidade dos serviços prestados, bem como remunerar adequadamente
as concessionárias nos processos de revisão tarifária.
Figura 1 - Equilíbrio de interesses promovido pela ANEEL
Fonte: (PINHEIRO, 2018)
Também vale ressaltar que, como a concessão da exploração do serviço, por empresas
privadas, em algum momento deve ou pode ser revertida ao Estado, é extremamente
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
importante que a ANEEL garanta um controle eficiente dos ativos elétricos gerenciados por
estas concessionários.
A fiscalização da ANEEL tem como finalidade garantir a prestação de serviços de
qualidade. As empresas que descumprem as normas e leis do setor elétrico podem
sofrer punições que vão desde advertência e multas até a cassação da concessão.
O processo administrativo punitivo de fiscalização da ANEEL é regido
pela Resolução nº 63, de 12 de maio de 2004. Em:
<http://www.aneel.gov.br/fiscalizacao-do-setor-eletrico>. Acessado em: 10/10/2018
Com a ampliação das ações fiscalizatórias, intesificadas a partir de 2009 com a criação do
Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico, é possível observar na figura 2 o aumento
considerável dos autos de infrações, desde 2008, com uma forte tendência de redução após
fiscalizações realizadas a partir de 2015.
Figura 2 - Evolução dos autos de infrações cadastrados
Fonte: Informações Gerenciais Março 2018 (ANEEL, 2018)
Segundo Cherbele (2013), a ANEEL tem promovido a Regulação por incentivos, imputando
às concessionárias que recebem retorno financeiro por meio das revisões tarifárias, uma
constante busca pela rentabilidade do negócio em função da excelência operacional,
impulsionando-as a utilizarem a gestão de ativos para alcançar padrões adequados de
qualidade, segurança e ainda conseguirem o retorno financeiro desejado pelos acionistas.
O desafio para os próximos anos é que as empresas tenham informações mais
precisas sobre os ativos, capaz de embasar uma fiscalização mais simples já que a
agência de regulação tende a adequar a metodologia de remuneração tarifária para
garantir adequada remuneração da base de ativos em serviço, e uma confiável
reposição daqueles que exaurirem sua vida útil, sem prejuízo da qualidade do
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
serviço prestado ao consumidor final de energia. A taxa de depreciação nas
próximas revisões tarifárias não apenas demonstrará qual é a vida útil média dos
ativos em serviço observada no passado, ou o exigido na data mais recente, mas será
capaz também de estimar a expectativa de vida dos ativos considerando as inovações
tecnológicas e de mercado. (ICA, 2014:37)
É por meio do PRODIST – Procedimentos de Distribuição, PRORET – Procedimentos de
Regulação Tarifária, MCPSE – Manual de Controle Patrimonial do Sistema Elétrico, MCSE –
Manual Contábil do Sistema Elétrico e da resolução normativa 414/2010, que a ANEEL
estabelece as principais regras do setor elétrico a serem seguidas pelas concessionárias,
permissionárias e autorizadas de energia elétrica.
Diante destas novas exigências regulatórias, fica evidente a necessidade das concessionárias
em aprimorar seus processos de gerenciamento de ativos, ponderando não somente requisitos
técnicos para intervenção em equipamentos, mas também requisitos regulatórios. Para tal, é
crucial que haja uma maior integração entre as diferentes áreas e sistemas da empresa, tais
como as unidades de Planejamento, Projeto, Logística, Obras, Qualidade, Operação, Cadastro
técnico e comercial, TI, Contabilidade e Regulação, onde deve haver integração entre os
dados e informações utilizadas pelas diversas áreas com o intuito de promover resultados
sustentáveis para companhia.
Segundo Cheberle (2013), a gestão integrada de ativos, i) sob a ótica do regulador, é peça
fundamental para promover o correto investimento em prol do melhor desempenho; ii) sob a
ótica do acionista, garante que os ativos serão operados e mantidos de forma adequada, sendo
capazes de gerar a mais alta taxa de retorno dos investimentos, otimizando sua vida útil
econômica, com foco no controle de sua depreciação acumulada; e iii) sob a ótica do usuário,
é uma ferramenta capaz de tentar assegurar uma energia de qualidade pelo preço mais justo.
2. Gestão de ativos com base na ABNT ISO 5500X
De acordo com a norma ABNT ISO 55000 (2014), gestão de ativos é a atividade coordenada
de uma organização para obter valor a partir dos ativos, itens que possuem valor real ou
potencial, equilibrando os benefícios de custos, riscos, oportunidades e desempenho. Os
ativos podem ser tangíveis ou intangíveis, como exemplo os equipamentos elétricos e os
contratos, respectivamente. Esse trabalho focará na gestão dos ativos tangíveis das
distribuidoras de energia elétrica, tais como transformadores, disjuntores, chaves
seccionadoras, reguladores de tensão, religadores de linha, postes, redes de distribuição, entre
outros.
Além da ABNT ISO 55000 que normatiza o processo de gestão de ativos, também foram
lançadas em 2014 no Brasil, as normas ABNT ISO 55001 e 55002, todas baseadas na norma
internacional de gestão de ativos PAS-55 do British Standards Institution-BSI, que visam
apresentar as definições e como deve ser elaborado o sistema de gestão de ativos adaptado a
realidade brasileira para se alcançar os padrões internacionais.
Segundo ICA (2015), a gestão de ativos físicos representa uma mudança cultural no
planejamento estratégico das empresas e visa estabelecer uma política clara de renovação de
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
ativos, não somente quando estão danificados e irrecuperáveis, mas também quando os
custos operacionais e de manutenção excederem os custos de substituição, quando há risco
iminente de falha que supera o custo da substituição, quando a falha pode comprometer a
integridade física de pessoas e sistemas e quando os ativos tornaram-se obsoletos e/ou
ineficientes para o negócio.
Analogamente ao modelo do ciclo PDCA, a figura 3 relaciona os principais passos para
implementação de um sistema de gestão de ativos em uma organização.
Figura 3 - Ciclo para implementação de um sistema de gestão de ativos
Fonte: Guia Básico para implementação da Gestão de Ativos em Empresas de Energia (ICA, 2012)
Segundo a norma ABNT ISO 55000 (2014), a empresa deve estabelecer e manter atualizado o
plano de gestão de ativos, visando controlar o processo de aquisição, utilização, manutenção e
descarte dos ativos físicos. Para tal, é importante definir quais são os ativos críticos,
considerando sua função/importância para o sistema e o seu valor financeiro, para haver
maior detalhamento de informações e controle dentro do plano de gestão.
Em se tratando da manutenação do ativo, Marcorin (2005) analisou a relação existente entre
manuteção e qualidade, disponibilidade e produtividade, ficando evidente que os custos vão
muito além dos custos necessários para colocar novamente o ativo em operação. Ainda
segundo Marcorin (2005) uma política de manutenção é capaz de otimizar custos, uma vez
que é possível relacionar os custos da manutenção com os custos das falhas (custos de
indisponibilidade), conforme pode ser visto na figura 4.
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
Figura 4 - Custo de falha x custo de manutenção
Fonte: MARCORIN (2005)
O gráfico acima conclui que existe um ponto ótimo par ao nível de manutenção desejado,
onde os custos de manutenção e custos de falha resultam em um menor custo total. Com o
nível de manutenção fora do nível ótimo, há um desequilíbrio nos custos de manutenção e
custos de falha, incorrendo em um maior custo total ao processo.
A gestão de ativo, com foco na manutenção, ainda possibilita identificar o ponto ótimo de
disponibilidade, comparando os custos da manutenção com o lucro gerado pelo ativo. A
figura 5 ressalta o ponto ótimo de disponibiliade e deixa claro que os custos envolvidos para
garantir a disponibilidade em 100% não geram lucro para organização, na maioria dos casos,
ou seja, é extremamente importante categorizar os equipamentos por custo e função, de tal
forma que seja possível determinar seu percentual aceitável de indisponibilidade e promover o
adequado gerenciamento de risco do ativo.
Figura 5 - Ponto ótimo de disponibilidade
Fonte: MARCORIN (2005)
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
Dentro do processo de gestão de ativos, é importante analisar a probabilidade e a
consequência das falhas, principalmente dos ativos mais importantes, estabelencendo as
devidas medidas de controle para operar em níveis de risco aceitáveis.
A implementação da gestão de ativos em uma organização possibilita conhecer o custo de
propriedade, valor presente líquido dos investimentos e tempo de retorno sobre o capital
investido, comparar o desempenho realizado com o planejado, benchmarking entre empresas,
maior disponibilidade e confiabilidade dos ativos, melhorar os níveis dos serviços prestados,
reduzir riscos ambientais e de segurança e aumentar a satisfação dos clientes e investidores.
Em resumo, pode-se mapear os ganhos da gestão de ativos em 4 grandes áreas, conforme
figura 6.
Figura 6 - Pilares da gestão de ativos
Fonte: Dados produzidos pelo autor (2018)
3. Base de dados de ativos para atendimento regulatório
Um banco de dados atualizado e com informações confiáveis, caracaterizando a real situação
dos ativos instalados em campo, preferencialmente georreferenciado, é peça chave para o
sucesso da gestão de ativos para fins de enquadramento regulatório.
Entre vários normativos, procedimentos e regulamentos, estabelecidos pela ANEEL para
promover equilíbrio da regulação do setor elétrico no Brasil, existem dois grandes
“procedimentos” que visam promover uma eficiente gestão de ativos, o Manual de
Controle Patrimonial do Setor Elétrico - MCPSE e a Base de Dados Geográfica da
Distribuidora - BDGD, tendo o último sofrido alterações significativas em 2017, com o
advento do módulo 10 do PRODIST, se tornando um dos relatórios mais importantes e
completos fornecido pelas distribuidoras à ANEEL.
O MCPSE – Manual de Controle Patrimonial, instituido pela resolução normativa n.º 367, de
02 de Junho de 2009, contempla instruções gerais de controle patrimonial e cadastro de bens
vinculados às instalações (ativos imobilizados) concedidas ao outorgado de energia elétrica,
com o objetivo de padronizar os procedimentos de controle de ativos, permitir a fiscalização e
monitoramento das atividades objeto da concessão e uma avaliaçao patrimonial para correta
valoração dos bens.
A instituição do Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico - MCPSE atende
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
a necessidade de controle do cadastro e das movimentações dos bens e
instalações do Setor Elétrico brasileiro pelas concessionárias, permissionárias,
autorizadas e pelo Órgão Regulador, para acompanhamento patrimonial e
avaliação dos ativos em serviços outorgados de energia elétrica, tanto para
fins tarifários como para fins de reversão. (ANEEL, 2009b:05)
Para garantir o controle de cada bem ou instalação, além de possibilitar conciliação físico
contábil dos bens, o MCPSE prevê a seguinte estrutura de cadastramento de ativos: Contrato
de Concessão; ODI; TI; CM; TUC; UC (A1;A2;A3;A4;A5;A6); IdUC; UAR; Conta Contábil,
onde o significado de cada sigla está na figura 7.
Figura 7 - Legenda de códigos MCPSE
Fonte: Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico (ANEEL, 2009a)
Além da estrutura acima, o MCPSE também prevê o controle dos valores correspondentes às
avaliações dos bens e as suas respectivas depreciações acumuladas, conforme taxas anuais
previstas no próprio MCPSE.
Com o advento do MCPSE, observou-se uma grande evolução na forma de controlar os
ativos, entretanto ainda se tinha um grande desafio para controlar como esses ativos estavam
dispostos em campo.
Por meio da resolução 345/2008, foi elaborado pela ANEEL, com a particicapação das
distribuidoras de energia e associações do setor elétrico, o PRODIST – Procedimentos da
Distribuição. O PRODIST, inicialmente composto por 8 módulos, tem como objetivo
normatizar e padronizar as atividades técnicas relacionadas ao funcionamento e desempenho
do sistema de distribuição de enegia, bem como definir como essas informações serão
trocadas entre os agentes de distribuição e as entidades setorias, por meio do módulo 6.
Com a primeira revisão do módulo 6 do Prodist, em vigor desde 01/01/2010, foi criada a
BDGD – Base de Dados Geográfica da Distribuidora, a principal informação trocada entre o
regulador e o outorgado e também o principal componente do Sistema de Informações
Geográficas Regulatória - SIG-R.
Em 2017 a BDGD expandiu consideravelmente sua abrangência e complexidade,
contemplando mais dados de negócio e passando a compor o módulo 10 do Prodist, se
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
tornando viável representar a topologia elétrica da rede, tal qual existente em campo, calcular
fluxo de carga, calcular perdas técnicas e controlar um volume maior de informações técnicas
sobre os ativos e gerenciais sobre o concessionária como um todo. “O modelo geográfico
estabelecido para a BDGD é uma simplificação do sistema elétrico real, para um período
estabelecido, visando refletir tanto a situação dos ativos, quanto das informações
técnicas e comerciais de interesse.” (ANEEL, 2016:05)
A tabela 1 é resultado de uma comparação entre os dados de um transformador de distribuição
(13,8kV – 380V) existentes no MCPSE e na BDGD.
BD
GD
COD_ID - Código identificador
do equipamento X - Reatância percentual
DAT_CON - Data de conexão da
unidade
DIST - Código identificador da
distribuidora
SIT_ATIV - Ativado ou
desativado em campo
CT_MT - Circuito de média
tensão ao qual a unidade está
vinculada
PAC - Ponto de acoplamento
(poste de ligação)
TIP_UNID - Tipo de unidade
(transformador, medidor...)
UNI_TR_S - Transformador de
força a unidade está vinculada
CLAS_TEN - Classe de tensão POS - Propriedade do ativo
(terceiro ou próprio)
SUB - Subestação a qual a
unidade está vinculada
POT_NOM - Potência nominal ATRB_PER - De quem é a perda
(terceiro ou própria)
CONJ - Conjunto elétrico ao qual
a unidade está vinculada
LIG - Esquema de ligação TEN_LIN_SEC - Tensão de
linha do secundário
MUN - Município ao qual a
unidade está vinculada
TENN - Tensão no primário,
secundário e terciário
CAP_ELO - Capacidade do elo
fusível
BANC - Indica se a unidade é
composta por um banco de
equipamentos
DAT_IMO - Data de imobilização CAP_CHA - Capacidade da
chave
TIP_TRAFO - Indica tipo de
transformador
PER - Perda no ferro e perda total TAP - Valor tensão de ajuste do
secundário
MRT - Indica se a unidade é
monofásica com retorno por terra
R - Resistência percentual na base
de potência
ARE_LOC - Localização do
equipamento (urbano ou rural)
BD
GD
e M
CP
SE
ODI - Ordem de imobilização A1 - Tipo de bem A5 - Nº de fases
TI - Tipo de instalação A2 - Tensão primária A6 – Comutação
CM - Centro modular A3 - Tensão secundária SITCONT - Situação contábil do
ativo
TUC - Tipo de unidade de
cadastro A4 – Potência
MC
PS
E
ODD - Ordem de desativação VALOR - Valor do ativo em
moeda local
TX_DEPRECIAÇÃO - Taxa de
depreciação
Tabela 1 – Comparativo do volume de informações da BDGD x MCPSE
Fonte: Dados produzidos pelo autor (2018)
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
Em resumo, enquanto o MCPSE possibilita apenas o controle contábil dos ativos, a BDGD,
além de também possibilitar um controle contábil, controla um grande volume de informações
técnicas dos equipamentos, como exemplo, perdas no ferro e no cobre em transformadores.
A BDGD e o Dicionário de Dados da ANEEL - DDA, responsável por definir os padrões de
dados contidas na BDGD, são os principais elementos do sistema de informações geográficas
regulado SIG-R, conforme figura 8.
Figura 8 - Sistema de Informação Geográfica Regulatória
Fonte: ANEEL (2016)
O aumento constante das exigências do regulador e as necessidades periódicas de envio
desses dados, além da definição das tarifas ser realizada com base nos dados da
concessionária, tem representado um grande motor na transformação do processo de gestão de
ativos das distribuidoras de energia elétrica no Brasil. Para minizar os riscos regulatórios, faz-
se necessário uma integração constante entre os sistemas comerciais, técnicos, contábeis e
GIS das concessionárias.
4. Impactos da gestão de ativos para as revisões tarifárias periódicas.
A tarifa visa assegurar aos prestadores dos serviços receita suficiente para cobrir
custos operacionais eficientes e remunerar investimentos necessários para expandir a
capacidade e garantir o atendimento com qualidade. Os custos e investimentos
repassados às tarifas são calculados pelo órgão regulador, e podem ser maiores ou
menores do que os custos praticados pelas empresas. Disponível em:
<http://www.aneel.gov.br/entendendo-a-tarifa/-
asset_publisher/uQ5pCGhnyj0y/content/revisao-
tarifaria/654800?inheritRedirect=false>. Acessado em: 25/10/2018
A regulação tarifária é feita de três formas: através da revisão tarifária periódica, normalmente
em ciclos de 4 anos, através da revisão tarifária extraordinária, solicitada pela concessionária
por meio de justificativas plausíveis, e através de ajustes tarifários anuais. A tarifa se mantém
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
praticamente constante ao longo do ciclo tarifário, recebendo apenas incrementos
provenientes de ajustes tarifários anuais. (Batista, 2012).
É por meio da revisão tarifária que se define o valor de receita compatível com o retorno
adequado dos investimentos - CAPEX e os níveis eficientes de custos operacionais - OPEX,
com base na soma das parcelas A e B da Receita Requerida. Também são definidos o
percentual de perdas não técnicas, ocasionada principalmente por furto de energia, e o fator
X, referente ao padrão de qualidade desejado, a serem considerados no próximo ciclo de
revisão. Ou seja, o processo de revisão tarifária visa promover o equilíbrio econômico
financeiro das concessionárias de energia, nesse contexto, a gestão dos ativos tem papel
fundamental para garantir o devido pay back, uma vez que por meio de uma base de dados
técnica, contábil, comercial e administrativa, devidamente atualizada, é possível comprovar os
investimentos realizados e as melhorias na qualidade dos serviços prestados.
A parcela A da Receita Requerida é composta pela soma do custo de aquisição de energia
elétrica e geração própria, do custo com conexão e uso do sistema de transmissão e/ou
distribuição, dos encargos setoriais e das receitas irrecuperáveis, representando custos não
gerenciais. Já a parcela B, representa os custos gerenciáveis pela concessionária, e é calculado
conforme fórmula da figura 9.
Figura 9 - Parcela B da Receita Requerida
Fonte: Submódulo 2.1A (ANEEL, 2011)
Embora a parcela A não seja gerenciável pela concessionária, tendo seus custos repassados
integralmente para os consumidores, faz se necessária uma boa qualidade da base de dados
dos ativos, com o intuito de refletir a real topologia elétrica da rede e possibilitar à ANEEL a
aplicação da metodologia de cálculo das perdas técnicas, prevista no módulo 7 do PRODIST.
A perda técnica é inerente ao processo de distribuição e energia elétrica e representa toda a
energia dissipada ao longo da rede, compreendida desde a fonte de suprimento até o ponto de
consumo, devendo ser devidamente reconhecida durante o processo de revisão tarifária.
De acordo com o módulo 7 do PRODIST, é através da BDGD que são obtidos os dados dos
ativos elétricos das distribuidoras, tais como: redes elétricas, transformadores, reguladores,
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
chaves e medidores, além dos dados de energia das unidades consumidoras e geradoras para
realização do cálculo de perdas técnicas. Uma vez que os dados da BDGD são provenientes
dos sistemas técnicos e comerciais das distribuidoras, e que o cálculo de perdas técnicas na
rede de média e baixa tensão é feito pela metodologia de fluxo de potência, as possíveis
inconsistências cadastrais existentes poderão causar consideráveis distorções, podendo ser
objeto de glosa pela ANEEL ou até impedir a realização do cálculo. Como exemplo de
inconsistências, pode-se citar: consumidores cadastrados em fase elétrica e em
transformadores errados, informações de comprimento de ramal de ligação inconsistente,
redes trifásicas derivando de redes monofásicas, estrangulamento de condutores,
transformadores e redes de baixa tensão sem clientes associados, redes trifásicas derivando de
transformadores monofásicos, transformadores com potência diferente da existente em
campo, entre outros.
Nesse aspecto, a política de gestão de ativos tem um grande papel para garantir a correta
manutenção dos dados técnicos e consequentemente a sua aderência à realidade da rede em
campo. Sendo assim, é possível caracterizar as perdas técnicas existentes no sistema fazendo
com que seus custos passem a integrar devidamente uma parcela do custo de aquisição de
energia a ser integralizada na tarifa. Caso a base de dados fornecida pelas concessionárias não
permita o reconhecimento das perdas reais pela ANEEL, isso implicará em perdas financeiras
para empresa durante todo seu próximo ciclo tarifário, uma vez que a própria concessionária
terá que arcar com parte dos custos das perdas técnicas.
Em se tratando da parcela B da Receita Requerida, as práticas gerenciais influenciam
diretamente os resultados, visto que essa parcela é composta principalmente pelas receitas de
OPEX e CAPEX. Semolini (2014) realizou análise de 63 distribuidoras durante o terceiro
ciclo de revisão tarifária, e observou que a parcela A representa 70% da receita requerida e a
parcela B representa 30%, Sendo esta última composta pelos percentuais evidenciados na
figura 10.
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
Figura 10 - Percentual de OPEX e CAPEX na Parcela B
Fonte: SEMOLINI (2014)
A remuneração total de capital incluída nas tarifas de energia elétrica está
diretamente relacionada aos custos do capital investido na concessão. A
remuneração total de capital (custo como capital) encerra um conceito semelhante
ao de quando se faz um empréstimo bancário, onde o tomador paga o custo de
oportunidade do capital (taxa de juros ou taxa de remuneração do capital) bem como
o principal (amortização do capital). (FERREIRA, 2009:90)
A remuneração total do capital investido (CAPEX), composta da quota de reintegração
regulatória e da remuneração dos investimentos realizados, pode ser comparada a um
financiamento bancário, onde a amortização seria equivalente à quota de reintegração
regulatória e as taxas de juros equivaleriam à remuneração do investimento. Nesse cenário, a
concessionária seria o banco, já o Estado, representado pela ANEEL, seria o tomador do
empréstimo.
Principalmente por meio da remuneração do capital, é que surge o interesse das
concessionárias em realizar novos investimentos no sistema, tendo em vista que os demais
custos são apenas repassados na tarifa. Segundo Semolini (2014), a ANEEL monitora o
CAPEX por meio da evolução da qualidade dos serviços prestados e da composição da Base
de Remuneração Regulatória - BRR, onde são controlados os ativos imobilizados em serviço
e ainda não totalmente depreciados, além do Índice de Aproveitamento de Subestação – IAS,
para evitar que hajam sobre investimentos pelas concessionárias.
Em contrapartida, para que não haja sub investimentos, a ANEEL também exerce controle,
principalmente, mediante aplicação de multas por má qualidade do serviço prestado,
estipulando níveis regulatórios de perdas totais e pela resolução 414 que estabelece prazos
máximos de atendimento aos consumidores, regulando, dessa forma, a obrigatoriedade dos
melhoramentos da rede para atendimento ao crescimento do mercado da distribuidora.
(Semolini, 2014)
Conforme evidenciado na figura 9, os custos operacionais representam 61,1% da parcela B da
receita requerida, necessitando de uma gestão focada no controle e na redução desses custos,
com objetivo de promover a eficiência operacional e evitar perdas financeiras.
A abordagem adotada pela ANEEL para o cálculo dos custos operacionais
regulatórios na revisão tarifária periódica busca definir o nível eficiente de custos
para execução dos processos, de acordo com as condições previstas nos contratos de
concessão e regulamentação, assegurando uma prestação de serviço adequada e que
os ativos manterão sua capacidade de serviço inalterada durante toda a sua vida útil.
Na definição dos custos operacionais regulatórios, serão observados os custos
praticados pelas distribuidoras, o nível eficiente de custos, e as características das
áreas de concessão. A identificação do nível eficiente de custos é obtida pela
comparação entre as distribuidoras por meio de um método de benchmarking que
leva em consideração os atributos de cada concessionária. (PRORET, 2011).
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
Segundo Semolini (2014), quando os custos operacionais das concessionárias, compostos por
despesas de operação, manutenção, atividades administrativas e comerciais, superam o teto
estabelecido no processo de revisão tarifária, ocorrem perdas financeiras uma vez que o
excedente não é reconhecido na tarifa. Em contrapartida, caso os custos operacionais sejam
mantidos abaixo do teto estabelecido, é gerado ganho financeiro para concessionária.
O fator X, responsável por garantir o equilíbrio entre receitas e despesas, agrega o mecanismo
de incentivo à qualidade técnica e comercial - MIQ dos serviços prestados. Segundo Semolini
(2014), a justificativa de se adicionar aos custos operacionais os indicadores de má qualidade,
incorporando também as perdas não técnicas, se dá pelo fato de evitar que uma determinada
distribuidora seja penalizada por praticar um dispêndio adicional com a manutenção de um
elevado padrão de qualidade e um baixo índice de perdas não técnicas. Da mesma forma, a
incorporação desses indicadores evita que empresas sejam beneficiadas pelo elevado nível de
eficiência dos custos alcançados por meio da falta de manutenção na rede comprometendo
com isso a qualidade.
A figura 10 evidencia uma tendência nacional de melhoria dos indicadores de qualidade,
referentes à duração e frequência das interrupções no fornecimento de energia, inclusive com
boas possibilidades de enquadramento na meta regulatória. A partir de 2015 observa-se uma
constante melhoria nos índices, no mesmo momento em que o mecanismo de incentivo à
qualidade passou a compor a parcela B da receita requerida, por meio da versão 2.0 do
submódulo 2.1 do PRORET.
Figura 11 - Evolução dos indicadores de qualidade nos últimos 10 anos
Fonte: Informações Gerenciais Março 2018 (ANEEL, 2018)
Além da inserção do mecanismo de incentivo à qualidade na parcela B, também é possível
observar a pressão regulatória, em prol de melhorias na qualidade dos serviços prestados, por
meio do aumento de compensações regulatórias nos últimos anos, conforme mostrado na
figura 12. Também é possível perceber que há uma trajetória de queda das compensações a
partir de 2015, ocasionada pela maior atenção das concessionárias de energia ao tema de
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
qualidade dos serviços prestados, objetivando evitar multas e garantir um bom nível de
reconhecimento tarifário.
Figura 12 - Compensações financeiras pela transgressão dos limites de continuidade
Fonte: Disponível em <http://www.aneel.gov.br/indicadores-de-compensacao-de-continuidade>. Acessado em:
06/11/2018
Segundo reportagem do jornal Globo (09/12/2010), a ANEEL decidiu multar Furnas no valor
de R$53,7 milhões em virtude do apagão de 2009, que atingiu 18 estados, ter sido motivado
por falhas de manutenção. Segundo a ANEEL, o apagão foi motivado por falta de
manutenção em nos ativos.
Segundo Nunes (2016), as ações de manutenção preventiva devem visar o enquadramento nos
limites regulatórios dos indicadores de qualidade, mitigando multas compensatórias por não
atendimento dos limites estabelecidos. Dessa forma, as distribuidoras devem ser assertivas na
aplicação dos recursos financeiros, cada vez mais finitos, regulados e escassos.
Nesse sentido, a gestão de ativos é fundamental para garantir que as informações se
mantenham constantemente atualizas, suportando o planejamento eficiente da utilização de
CAPEX e OPEX, resultando na melhoria contínua dos serviços prestados e em benefício para
as concessionárias, tais como: reconhecimento tarifário dos investimentos, ganhos
proporcionados pelos mecanismos de incentivo à qualidade, diminuição das compensações
financeiras por transgressão dos limites de continuidade, enquadramento das perdas técnicas e
não técnicas, entre outros.
6. Conclusão
As mudanças promovidas pela ANEEL e as tendências regulatórias de integração de
informações, buscando alcançar elevados padrões de controle e eficiência, marcam uma nova
fase no processo de gestão de ativos no Brasil. É necessário transcender as barreiras da gestão
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
operacional e promover uma gestão estratégica para suportar as tomadas de decisão em prol
do equilíbrio entre lucro, despesas, qualidade e desempenho.
Embora as concessionárias de energia ainda não sejam obrigadas a elaborarem e manterem
um plano de gestão de ativos, o envio ordinário de dados e informações, solicitadas pela
ANEEL, tem incentivado as empresas a melhorarem seus processos, uma vez que esses
mesmos dados são utilizados para garantir a remuneração do capital investido que é o centro
do negócio das concessionárias. Mesmo diante desse cenário, uma pesquisa realizada pela
International Copper Assosiation – ICA constatou em 2014 que 90% das concessionárias do
Brasil alegavam falta de envolvimento da alta administração no processo de gestão de ativos,
ou seja, ainda é necessário realizar um forte trabalho de conscientização quanto a importância
do processo. (ICA, 2014).
Nesse sentido, o atual momento regulatório do Brasil tem sido o principal motor para as
melhorias alcançadas no setor elétrico. O desafio para os próximos anos é que as
concessionárias melhorem a confiabilidade e o controle de suas informações, e promovam a
integração entre seus sistemas e processos de gestão dos ativos, com o objetivo de maximizar
o uso das informações e exigências regulatórias, para gerar maiores lucros. As decisões de
investimentos, orientadas pela gestão dos ativos, devem considerar a remuneração do
investimento durante a vida útil do ativo (CAPEX), redução dos custos operacionais (OPEX),
redução das perdas totais e melhorias nos indicadores de qualidade.
A gestão de ativos é um diferencial competitivo para as concessionárias de energia, entretanto
se faz necessário comprometimento e engajamento da empresa com processo, compreendido
desde a fase de planejamento de obras até a fase da imobilização do ativo. Com essa gestão, é
possível mapear riscos e oportunidades para garantir a remuneração da base de ativos em
serviço e a reposição confiável dos ativos que exaurirem sua vida útil. Entretanto, ao
negligenciar esse processo de forma estratégica, as concessionárias deixam de explorar as
oportunidades de ganhos existentes no modelo estabelecido pela a ANEEL. Um exemplo da
falta de visão estratégica é observado quando são investidos grandes montantes de OPEX em
ativos que já foram completamente depreciados, comprometendo os níveis regulatórios de
despesas operacionais, ao invés de planejar um investimento com CAPEX que será totalmente
reconhecido no processo de revisão tarifária e trará maior confiabilidade ao sistema,
consequentemente o enquadramento dos indicadores de qualidade.
7. Referencias
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR ISO 55000: Gestão de
Ativos – Visão Geral, Princípios e Terminologia. Rio de Janeiro, 2014.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Informações Gerenciais Março 2018,
2018. Disponível em:
<http://www.aneel.gov.br/documents/656877/14854008/Boletim+de+Informa%C3%A7%C3
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
%B5es+Gerenciais+-+1%C2%BA+trimestre+2018/01298785-3069-c0e7-d9c8-
a2cca07cddd9>. Acessado em: 18/10/2018.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Manual de Controle Patrimonial do Setor
Elétrico – MCPSE. Resolução Normativa nº 367/2009 de 02 de Junho de 2009a.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Manual de Orientação dos Trabalhos de
Auditoria de Relatório de Controle Patrimonial - RCP. Resolução Normativa nº 367/2009
de 02 de Junho de 2009b.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Base de Dados Geográfica da
Distribuidora - BDGD. Resolução Normativa nº 730/2016 de 07 de Julho de 2016.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Procedimentos de Regulação Tarifária –
PRORET. Resolução Normativa nº 435/2011 de 24 de Maio de 2011
BATISTA, R. S. Análise da Relação entre Custos e Qualidade em Empresas de
Distribuição. 2012. 58f. (Monografia de Graduação em Engenharia Elétrica), Departamento
de Engenharia Elétrica, Universidade de Brasília, Brasília 2012.
CHEBERLE, L. A. D. A Vida Útil de Instalações no Setor Elétrico e Sua Influência na
Definição das Tarifas de Distribuição de Energia no Brasil. 2013. 128f. (Dissertação de
Mestrado Profissional em Regulação e Gestão de Negócios) – Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade, Universidade de Brasília, Brasília 2013.
FERREIRA, C. M. A. O Equilíbrio Econômico-Financeiro das Distribuidoras de Energia
Elétrica Brasileiras nas Demonstrações Contábeis. 2009. 176f. (Dissertação de Mestrado
em Controladoria e Contabilidade), Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto 2009.
ICA – International Copper Association. Gestão Ativos no Setor Elétrico da América
Latina. 2014. Disponível em: <https://www.procobre.org/pt/wp-
content/uploads/sites/4/2018/03/gestao-de-ativos-no-setor-eletrico-da-america-latina-
pesquisa2014.pdf>. Acessado em 18/10/2018.
ICA – International Copper Association. Gestão de Ativos – Guia para Aplicação da
Norma ABNT NBR ISO 55001. 2015. 88p. Disponível em:
<https://www.procobre.org/pt/wp-content/uploads/sites/4/2018/03/gestao-de-ativos-guia-para-
aplicacao-da-norma-abnt-nbr-iso-550001.pdf>. Acessado em 18/10/2018.
ICA – International Copper Association. Guia Básico para implementação da Gestão de
Ativos em Empresas de Energia, 2012. 58p. Disponível em: <https://www.leonardo-
A importância da Gestão dos Ativos Técnicos para o Negócio de Distribuição de Energia
Elétrica no Brasil
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
energy.org.br/wp-content/uploads/2018/02/Doc-147-ga-
Guia_basico_implantacao_gestao_ativos.pdf>. Acessado em 18/10/2018.
MARCORIN, W. R. Estudo da Confiabilidade de Máquinas CNC como Fator
Determinante para a Escolha da Política de Manutenção: Um Estudo de Caso. 2005.
100f. (Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção) – Faculdade de Engenharia,
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Metodista de Piracicaba, Santa Bárbara d’Oeste 2005.
NUNES, F. A. Modelo de apoio gerencial para planejamento das ações de
manutenção das redes de distribuição de energia elétrica com previsibilidade do
impacto nos indicadores de continuidade DEC e FEC: estudo de caso em uma
empresa de distribuição no Rio de Janeiro. 2016. 91f. (Dissertação de Mestrado em
Sistemas de Gestão), Escola de Engenharia, Universidade Federal Fluminense, Niteroi 2016.
PINHEIRO, T. M. M. Regulação por Incentivo à Qualidade: Comparação Eficiente entre
Distribuidoras de Energia Elétrica no Brasil. 2012. 157f. (Dissertação de Mestra em
Engenharia Elétrica), Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília 2012.
SEMOLINI, R. Eficiência dos Custos Operacionais das Empresas de Distribuição de
Energia Elétrica no Brasil. 2014. 216f. (Tese de Doutorado em Desenvolvimento
Econômico) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas 2014.
SILVA, B. G. Evolução do Setor Elétrico Brasileiro no Contexto Econômico Nacional:
Uma Análise História e Econométrica de Longo Prazo. 2011. 162f. (Dissertação de
Mestrado em Energia) – EP / FEA / IEE / IF, Universidade de São Paulo, São Paulo 2011.