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2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A INFLUÊNCIA TELEVISIVA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM POR: IONETE LOPES DE MACÊDO - MATR. 36018 ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ DA SILVA POSSE – GO ABRIL / 2008

A INFLUÊNCIA TELEVISIVA NO PROCESSO ENSINO …Demerval Neto Roger Silverstone, Eugênio Bucci, etc. É destinado a educadores que pretendem desenvolver novas formas de se utilizar

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Page 1: A INFLUÊNCIA TELEVISIVA NO PROCESSO ENSINO …Demerval Neto Roger Silverstone, Eugênio Bucci, etc. É destinado a educadores que pretendem desenvolver novas formas de se utilizar

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA TELEVISIVA NO PROCESSO

ENSINO-APRENDIZAGEM

POR: IONETE LOPES DE MACÊDO - MATR. 36018

ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ DA SILVA

POSSE – GO

ABRIL / 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA TELEVISIVA NO PROCESSO

ENSINO-APRENDIZAGEM

Apresentação de monograf ia à

Universidade Candido Mendes

como requisito parcial para

obtenção do grau de

especialistas em Orientação

Educacional.

POSSE – GO

ABRIL / 2008

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AGRADECIMENTOS

Especialmente à Deus que me

ensina todos os dias.

E a todos que contribuíram

para o sucesso deste trabalho

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DEDICATÓRIA

A minha querida Mãe que

sempre está incentivando os

meus estudos, ao meu estimado

Pai, ao meu grande amor,

Danilo por está ao meu lado em

todos os momentos e aos filhos

Arthur e Ângela aos quais deixo

meu exemplo de luta.

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RESUMO

Este trabalho contém ref lexões acerca da relação entre televisão e educação, destacando a importância de tomá-la como objeto de estudo. São oriundos de pesquisas em bibliograf ias diversas e principalmente da minha experiência pessoal de trabalho com esta mídia, no sentido de orientar professores do Ensino Fundamental e Médio para o uso pedagógico da TV na sala de aula. Refere-se, principalmente à necessidade de compreensão das l inguagens e operações de que é feito um programa de televisão, a importância das imagens e das palavras na TV e a sua capacidade de produzir sentidos, de persuadir o público bem como a mágica das imagens que envolvem o telespectador. Trata-se das múltiplas relações entre televisão e educação, entre prát ica pedagógica e comunicação eletrônica. Como fazer da TV objeto de estudo. As transformações nas agências tradicionais de educação, família e escola, e a crescente força dos meios de comunicação como agentes formadores dos sujeitos e grupos sociais. Traz sugestões de como construir uma autêntica compreensão do fenômeno da TV em nossas vidas e de como ele atua sobre todos nós, enquanto telespectadores apontam caminhos e possibil idades de atuação dos professores na busca de uma educação para com a televisão. Espero que as ref lexões contidas neste documento, bem como as sugestões para desenvolvimento de um posicionamento crít ico e ref lexivo acerca das mensagens veiculadas pela televisão sejam úteis a todos os educadores que comprometidos com uma educação voltada a formação integral de seus alunos de forma crít ica, consciente, responsável e cidadã.

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METODOLOGIA

De acordo com Kerckhove (1997) ver televisão é interagir

permanentemente com as imagens apresentadas na tela.

Este estudo monográf ico será desenvo lv ido baseado

em autores que most ram a ef icác ia pedagógica em se usar a TV

nas esco las, tendo embasamento teór ico e prá t ico . O contexto

teór ico de P iaget e Vygotsky, ent retanto com o auxí l io também

de vár ios out ros autores renomados como Aloylson Gregór io de

To ledo Pin to, José Manoel Moran, Leda Mar ia Rangearo

F iorfent in i ent re out ros autores dos módulos TV na esco la e os

desaf ios de ho je.

No contexto prát ico com dados e trabalhos desenvolvidos

no período de pesquisas e observações feitas com f i lmes,

programas de TV, com alunos em processo de aprendizagem. As

atividades desenvolvidas leituras de relatórios, pesquisas em

revistas, teatros e of icinas pedagógicas.

Com isso, este estudo será desenvolvido baseado em

autores que mostrem a ef icácia pedagógica da TV desde que

medida pela escola bem com os desafios que esta mesma escola

deverá enfrentar no que se refere à quebra de paradigmas

relacionadas ao assunto; que mostrem a inf luência que a TV vem

exercendo sobre o indivíduo, como Rosa Maria Bueno Fisher,

Demerval Neto Roger Silverstone, Eugênio Bucci, etc. É destinado

a educadores que pretendem desenvolver novas formas de se

util izar pedagogicamente a televisão na sala de aula

compreendendo que os programas de TV além de serem vividos,

olhados, sentidos, devem também serem explorados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................... 08

CAPÍTULO I

COMO É FEITA AS DIFERENTES LINGUAGENS DA TV ............. 10

1.1. Para quem é programada a TV ....................................... 13

1.2. A Televisão em Sala de Aula .......................................... 18

1.3. Prát icas Escolas em que a TV deve ser envolvida ............ 19

CAPÍTULO II

O ESPAÇO EDUCATIVO DA TV ................................................ 23

2.1. Funções que a televisão deve desempenhar .................... 25

2.2. A Escola como criadora de ambientes favoráveis à

análise das l inguagens da TV .......................................... 26

2.3. A Informação na TV e no Vídeo ...................................... 29

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO USO

DA TV EM SALA DE AULA ....................................................... 33

3.1. O Papel da Escola frente as mensagens televisivas ......... 34

3.2. O Disposit ivo Pedagógico da TV ..................................... 38

CAPÍTULO IV

USO PEDAGÓGICO DO VÍDEO E DA TV NA SALA DE AULA ...... 42

4.1. A Escolha do recurso audiovisual.................................... 44

4.2. O Papel do orientador educacional diante do uso da TV ... 47

CONCLUSÃO .......................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 53

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INTRODUÇÃO

O objet ivo deste trabalho é proporcionar ao educando

uma visão crít ica e consciente diante da inf luência televisiva nos

dias atuais levando-o a compreender o que subjaz cada programa

e qual a intenção da mídia persuasiva.

A inf luência televisiva no processo ensino-aprendizagem

é de grande val ia para os prof issionais da educação onde procura-

se proporcionar uma visão geral da importância do uso da TV e

(vídeos) em sala de aula. Neste caso o educador é convidado a

continuar ref lexivo afetivamente em sua prát ica pedagógica entre

os dois mundos; da escola e da televisão, tão presente na vida das

crianças, jovens e mesmo dos adultos melhorar o ensino-

aprendizagem com o auxílio desse recurso tão acessível tornará as

aulas mais atrativas e com mais aprendizagem assim sendo isso

só será possível desde que forneça subsídios necessários e base

que fundamentará e motivará o aluno nesse processo.

A relevância de estudar esse tema está principalmente

enfatizado bem como tem sido o uso da televisão nas escolas,

suas implicações no fazer pedagógico e, mas que tudo isso qual

seu poder na formação de crianças e jovens, despertar nos

educandos o senso crít ico em relação às linguagens e recursos

que esta mídia uti l iza para produzir suas mensagens.

Sabe-se que entre os meios de comunicação, a televisão

tem sito destaque por ter a grande capacidade de atingir todas as

classes sociais, dessa forma disseminando os produtos das

indústrias culturais e a ideologia dominante aos mais diferentes

tipos sociais.

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Levar o aluno a participar de aulas onde o audiovisual (tv)

predomina, exige bem planejamento e conteúdos signif icativos tais

como: cidadania, patriot ismo, meio-ambiente, diferenças sociais e

econômicas inf luenciadas pelo sistema capital ista.

Ainda convém lembrar que a tv na maioria das vezes não

util izada com o propósito de somar conhecimentos de maneira

prazerosa, mas para discernimento, de acordo com inúmeros

equívocos do uso da TV em sala de aula, desenvolve-se nesta

monograf ia pontos relevantes e satisfatórios com o recurso

audiovisual em sala de aula.

Depois que a imagem televisiva e sua forma de concebê-

las forem entendidas como um dos principais recursos escolares

na aprendizagem e que além de deslumbrar situações cotidianas

estimular o exercício do pensamento, dá asas ao i lusório, a

televisão deve ser analisada por outro anglo sem interferir na

maneira de se, agir, vestir-se ou mesmo no relacionamento com

outras pessoas, tendo o educando uma visão crít ica do que

realmente subjaz em todos os programas televisivos sem

corromper-se.

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CAPÍTULO I

COMO É FEITA AS DIFERENTES LINGUAGENS

DA TV

Sabe-se que nos últ imos anos tem sido cada vez mais

freqüente o uso de novas l inguagens não somente para motivar os

alunos como também para util ização a concepção de fonte (de

aprendizado), incluindo-se neste campo as imagens, paradas ou

em movimento, produzidas por uma determinada sociedade e

veiculadas por um meio específ ico.

De acordo com Demerval Neto (1987), a compreensão do

tema a linguagem da tv exige não só pensar alguns aspectos

teóricos relat ivos ao fenômeno e a experiência da tv, como também

algum conhecimento sobre o funcionamento de seus recursos

teóricos e artísticos e, fundamentalmente, a capacidade de decifrar

a função que esses recursos cumprem, na construção chamada

“mágica” da televisão. Esta últ ima habil idade depende de atenção

e de postura crít ica em relação às emissões da tv.

A autora Rosa Maria Bueno Fisher (2001) segue adiante

quando defende que a compreensão das linguagens da tv vai além

da descrição dos aspectos técnicos da l inguagem audiovisual.

Segundo Fisher é importante desenvolver uma pedagogia da

imagem capaz de inst igar os espectadores a produzir algo para

além das imagens, a fazer algo com elas ao invés de olhá-las sem

dar-lhes importância. Portanto, é relevante considerar que ambos

os autores defendem a necessidade de uma postura crít ica em

relação a qualquer produção televisiva.

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Compreender as linguagens da TV signif ica conhecer os

instrumentos que, articulados de uma forma ou de outra,

isoladamente ou conjugados, produzem a linguagem e os

signif icados das mensagens da televisão. As diversas etapas de

realização de um programa, desde a criação da idéia e do tema, a

elaboração do roteiro e do texto, as fases de produção e de

realização técnica, como o uso de câmeras, lentes, i luminação,

captação de som, cenários, f igurinos, maquiagem, edição de

imagens e tr i lha sonora, todas estas operações devem estar

decisivamente l igadas ao conceito da mensagem que se quer

comunicar. E são estas questões que remetem à discussão sobre

os aspectos de comunicação e de educação da mídia TV. A

aptidão didát ica da TV, ou a sua ef icácia pedagógica são temas

que dizem respeito exatamente à maior ou menor qualidade na

articulação e na operação dos recursos técnicos e artísticos da

televisão. Referem-se a formato e conteúdo e referem-se portanto,

à l inguagem. O domínio da audiência exercido pela televisão e a

credibil idade da informação por ela operada a partir das últ imas

décadas junto aos diversos segmentos sociais, em especial aos

jovens, passa exatamente pelo fato de que estes públicos se

reconhecem muito mais na imagem da TV e nas linguagens por ela

operadas, do que junto aos apelos e discursos das demais

inst ituições, principalmente a escola. Ela se apresenta atraente e

com grande empatia e, ainda, como uma forma de produção

simbólica que já fez parte da experiência cot idiana das pessoas.

Seja no telejornalismo, na teledramaturgia, nos talk-

shows ou nos programas de variedades e, ainda, nos seriados

para adolescentes e nos programas infant is, a TV atua com uma

ef icaz l inguagem pedagógica, na medida em que reduz distâncias,

quebra resistências, oferece domesticidade, int imidade e

entretenimento. Opera, conforme destaca Távola, com valores

como a l inearidade, a instantaneidade, a repetição e a reiteração.

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Elabora, ainda reduções, banalizações, ampliações e

hierarquizações. E, a meu ver, o mais importante: Na

transposição da vida social para os programas – onde o mundo

real se converte em imagens – a TV oferece o real representado e

simulado como se fosse a própria real idade.

Diante disso torna-se um imperat ivo para educadores

tomarem a televisão como objeto estudo, no sentido de

desenvolver nos alunos um olhar atento para compreensão da

capacidade de persuasão da TV – a sua arte de impor o sentido

que está diretamente relacionada com o mascaramento de sua

técnica e de seus recursos, ou seja, de sua própria l inguagem. É

essencial sermos capazes de observar e perceber, por exemplo,

que inferiorizar alguém, mostrá-lo como oprimido ou inseguro, a

câmera é posicionada bem acima da linha de seus olhos. A pessoa

estará sempre em posição inferiorizada, olhando para cima. Ao

contrário, quando se quer mostrar alguém em uma posição

superior, com absoluto domínio, poder e segurança, a câmera está

posicionada mais baixa, para que esta pessoa sempre se relacione

de um ponto de vista superior, acima de tudo e de todos, e até de

nós mesmos, quando o vermos pela da TV.

Quanto mais atentos educadores est iverem para a leitura

crít ica da TV – a permite a percepção e o desvendamento de seus

engenhos e artimanhas, de seus ritos e mitos, de seus

mecanismos de inclusão e exclusão, de invenção simulação e

ocultamento – maior capacidade teremos de enfrentar seu poder

de imposição de conteúdos, concepções e signif icados. O que

tomará mais confortável criat iva a nossa relação com a própria

televisão, na medida em que se quebre a barreira entre os que

estão dentro do vídeo e os que estão fora de vídeo.

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E o momento em que se opera a dessacralização da TV, em

nome de uma recepção crítica, e que passa a se situar no centro de

uma indispensável transgressão. Que é a possibilidade da redefinição

do papel do espectador, não mais ativo, como agente de interpretação

e de interlocução, que lhe permita o exercício, seja individual ou

coletivo, da interrupção, da apropriação e da reinvenção de discurso

da TV. Estas ações no processo educativo é que farão com que a

televisão seja compreendida em todos os seus significados.

O mundo da supermodernidade não tem as

dimensões exatas daquele no qual pensamos

viver, pois vivemos num mundo que ainda não

aprendemos a olhar. Temos que reaprender a

pensar o espoco. (AUGÉ, 1994).

1.1. Para quem é programada a TV

De acordo Gilka Girardello (2002), a primeira metade do

século XX, por exemplo, ela estava embutida na própria idéia de

“comunicação de massa” jornais e shows de TV voltavam-se ao

“grande publico”, da mesma forma que garrafas de refrigerantes

eram produzidas industrialmente todas iguais, para um público

feito de “iguais”. Cada pessoa era vista não como um sujeito

cultural, mas como um indivíduo anônimo e isolado em sua casa,

passivo diante da inf luência da televisão, da mesma forma que

milhares de outros indivíduos anônimos e isolados, todos eles

meros grãos de farinha da mesma “massa”.

Muita coisa mudou de lá para cá, e a relação entre as

lógicas da produção de TV e as do consumo foram aos pouco

sendo compreendidas de forma mais complexa. Hoje se sabe como

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os públicos são variados e heterogêneos, não se compondo de

indivíduos isolados, mas art iculados em comunidades de recepção

– a famíl ia, os grupos de amigos, os colegas de trabalho – onde os

conteúdos simbólicos das mídias são reelaborados e muitas vezes

contestados. Mesmo assim, muitas vezes a compreensão dessa

pluralidade é feita de acordo com os critérios também limitados do

marketing e de seu conceito de segmentação: “os jovens de classe

A”, “as donas-de-casa de classe C”. É também com base nesses

retratos imprecisos (del ineados a partir de indicadores mais

econômicos do que sociológicos ou culturais) que a televisão

produz seu discurso, ou seja, que os prof issionais de TV escrevem

os textos dos noticiários e telenovelas, que escolhem as imagens e

elaboram as grades de programação.

Os estudos de comunicação hoje têm clara importância da

ação de ‘leitura’ que ocorre do outro lado da produção, o lado do

receptor. Para ir além das representações incompletas dadas pelas

pesquisas de opinião meramente estatísticas, os estudos de recepção

procuram investigar como as medias se encaixam na vida diária de

grupos e culturas específicas, definidos a partir de recortes como

idade, gênero, classe, etnicidade e muitos outros. Surge daí um

grande número de estudos sobre como a televisão é assistida em

contextos os mais diversos, como “tribos” urbanas, grupos religiosos,

comunidade de idosos, executivos, professores de pré-escola,

operários. A própria experiência das pessoas com uma prática cultural.

É essa a compreensão da natureza comunicativa da outra explicitada

por Martim “seu caráter de processo produtor de significações e não

de mera circulação de informações, no qual o receptor, portanto, não

é um simples decodificador daquilo que o emissor depositou na

mensagem, mas também um produtor”.

Um exemplo de público particular são as crianças. Investigar

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como as crianças recebem a TV signif ica invest igar qual o papel da

TV no seu cotidiano. Como elas interpretam os desenhos, novelas,

programas de auditório, telejornais, anúncios? Enfim: que

signif icado elas dão ao que a televisão lhes mostra?

A relação da TV com as crianças sempre despertou

opiniões apaixonadas, desde que, há 30 ou 40 anos, a televisão

virou o centro da vida domestica em boa parte do mundo. Para uns,

ela é a valiosa “janela” por onde as crianças podem vem além de

seus horizontes imediatos. Para outros, ao contrário, ela é como um

veneno que intoxica a alma e atrofia e imaginação. O que os estudos

de recepção propõem, no entanto, não é discutir o que a televisão é

ou deixa de ser e fazer, e assim o que o público faz com ela. E como

o público fala dela, o que é também um modo de fazer.

A visão de criança ai implícita é a de uma espectadora ativa,

capaz de produzir significados complexos a partir do que vê. Isso é

bem diferente da imagem tradicional da criança com submissa e

impotente diante das todo-poderosas emanações da tela de TV,

presente em muitos estudos sobre o tema a partir dos anos 70 do

século passado. Ao mesmo tempo. Não podemos cair no risco

inverso, contra o qual adverte Buckingham: o de substituirmos a

imagem tradicional da criança inocente e vulnerável pela “ imagem

igualmente romântica da criança sábia e liberada”. Desse modo, diz

ele, em “estaríamos continuando a falar da “criança” enquanto uma

categoria universal, em vez de falar sobre crianças especificas,

vivendo em contextos sociais e históricos específicos”.

A atenção ao pano de fundo sociocultural em que se dá a

recepção (a leitura da TV) é um pressuposto importante da

pesquisa com crianças. Não podemos verdadeiramente

compreender o signif icado da televisão para as crianças se as

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examinarmos em situações art if ic iais, de laboratório. O consumo

das mídias está mergulhado nas rotinas, r ituais e instituições

cotidianas, por isso “os signif icados das mídias são inseparáveis

desses contextos e negociados dentro deles”.

A conversa das crianças sobre televisão é um espaço

precioso de construção social do eu, de negociação de identidades,

de produção conjunta de conhecimento sobre o mundo. A

mediação adulta pode ajudar: é uma voz que conta ou escuta, um

cotidiano que aceita, uma professora que legit ima problematiza ou

acrescenta algo à narrat iva produzida pela criança.

Criar situações pedagógicas em que as crianças possam

conversar sobre o que vêem na televisão pode fazer em uma ponte

entre a lógica recreadora das culturas infantis e a crit ic idade que

se deseja desenvolver numa perspectiva de educação para as

mídias. Cada cena de novela ou telejornal recontada em sala de

aula vem traduzida pelo olhar, pela sensibi l idade, pelo

conhecimento e pela cultura da criança que fala. Tanto ela, que

narra, como as que a escutam e posteriormente comentam estão

em intensa at ividade reimaginativa, produzindo também uma

matéria-prima passível de transf iguração crít ica.

Falar sobre a TV – ou a partir dela – é também uma forma

de responder, de falar de volta à TV que nos fala. Sim, porque a

TV está sempre falando para alguém específ ico, seja a dona-de-

casa, o adolescente, o torcedor de futebol, o menino, a menina. E

a voz da TV, em seu eterno “você” que imita o tom da conversa

direta e intima, def ini seu espectador-ideal – a dona-de-casa, o

adolescente – com base em modelos que essa mesma voz ajudou

a construir. “Af inal”, pergunta Rosa Maria Bueno Fischer, “quem a

TV brasi leira pensa que são nossas crianças: quem os desenhos

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animados japoneses pensam que são os meninos e meninas de

todo o mundo, quando lhes oferecem pokemons e digimons

reproduzidos ao inf inito”? (Fischer, 2001, p. 83). A autora diz que

para estudarmos a TV precisamos aprender a responder questões

com essas, l igadas aos modos de endereçamento da TV. Sem

dúvida; e elas não são fáceis de responder, já que envolvem um

jogo de espelhos deformantes do que nunca conseguirmos estar

completamente fora. Af inal, muitas donas-de-casa assistem aos

programas de futebol, muitos adolescentes vêem programas de

culinária e muitos homens adultos vêem desenhos animados. E

quanto estaremos nós, professoras, aprendendo com os

apresentadores de televisão sobre as formas de nos dirigirmos aos

nossos alunos e alunas?

Sugerir às crianças questões l igadas às estratégias de

endereçamento usadas pela TV pode ser uma forma de estudar

coletivamente o discurso televisivo. Se as crianças têm uma

relação menos fascinada com a TV, mesmo valorizando as imensas

possibil idades de prazer e conhecimento presentes na fruição

televisiva, elas tendem a construir o discernimento necessário para

aliar televisão às brincadeiras cot idianas tão importantes na

infância.

Para que isso aconteça é preciso também que elas

tenham onde brincar com liberdade e segurança, a f im de que o

aparelho de televisão não seja sua única opção e companhia. A

interação verbal a partir da TV pode tornar muitas formas –

paráfrases, paródias, dramatizações, debates – mas quem fala em

todas elas são as vozes f ísicas, subjetivas e culturais das próprias

crianças. Ainda que uma parte de seu repertório tenha sido

aprendida com a TV, elas já não estão ai no lugar de espectadoras,

mas no de produtoras de um outro texto.

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1.2. A Televisão em Sala de Aula

O uso da TV em sala de aula deve ser encarada como um

projeto, de preferência colet ivo, parti lhado entre diversos

prof issionais de um estabelecimento escolar. O poder e a

inf luência da televisão só podem ser revertidos em conhecimento

escolar na medida em que o uso da TV em sala de aula seja aa

conseqüência de um conjunto de atividades e ref lexões parti lhadas

(o que não invalida as eventuais iniciativas individuais). O

professor-leitor deve estar pensando no enorme trabalho extra que

vai ser, se quiser incorporar tal material. Ele deve estar se

perguntando: como encaminhar questões e ref letir sobre problemas

trabalhando mais de quarenta horas por semana, sobrecarregado

de provas para corrigir, at ividades extraclasse e, ainda, a

dif iculdade de comprar l ivros e outros materiais para atualização?

Pode-se dizer que é possível, por meio de um trabalho de

preparação e sistematização de procedimentos, economizar tempo

e energia. O professor deve ter em mente que este projeto não

precisa se real izar no curto prazo.

O professor pode, por exemplo, distribuir as atividades de

preparação e aquisição do material no decorrer de um ano ou

semestre, e efetivamente utilizar o conteúdo televisual em outro. O

trabalho partilhado com outros profissionais pode facilitar a divisão

de tarefas. Nesse sentido, o papel das coordenações pedagógicas e

de áreas é fundamental e estratégico. São muitas as dificuldades

que afligem o profissional da educação. Mas as condições de

trabalho serão tanto piores quanto forem a desunião e a

incapacidade de coordenação das atividades, seja num

estabelecimento em particular, seja no sistema escolar como um todo.

Muitas experiências honestas e estimulantes se perdem devido à

incompreensão da direção, dos colegas ou dos gestores do sistema.

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Pode ser af i rmar então que, quando te levisão se torna

uma prát ica f reqüente no espaço escolar - em qualquer nível é

possível que professores a lunos se dêem conta de como

assumem relevância certos temas na sociedade, na medida em

que se tornam públ icos, debat idos nesse espaço amplo da

te levisão.

1.3. Práticas Escolares em que a TV pode ser envolvida

A televisão e as tecnologias digitais são espaços de

aprendizagem, ambientes cognit ivos a partir dos quais vemos o

mundo e construímos conhecimento sobre a realidade.

É certo dizer que a TV reproduz a ordem social, promove

a violência, é o lugar dos que não podem gestor tempo para ref letir

(pois tudo tem que ser rápido e dinâmico), manipula o jogo polít ico,

forma para o comodismo e a passividade e mantém os interesses

da classe dominante? É correto af irmar que, como resultado disso,

a televisão representa uma forma de comunicação autoritária,

cujos produtos e criança pode apenas consumir, cujas mensagens

são vazias de original idade, apenas reproduzindo estereótipos,

cujo código é imposto, a difusão é monopolizada e o processo de

recepção é acrít ico?

Sem dúvida, esse é um lado da questão. O outro lado,

porém, é toda a mudança nas práticas escolares que vem

articulando mídia e educação, voltada para a apropriação

intel igente e crít ica do potencial das tecnologias da comunicação.

Ele tem amplitudes variadas, desde o professor que

seleciona um capítulo da novela para debater com os alunos,

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discut indo os valores que são veiculados, até as escolas que

contam com núcleos de mídia-educação, que est imulam os

estudantes a terem “idéias na cabeça e uma câmera na mão”,

ensinando-os a se expressarem com novas l inguagens. As crianças

não só consomem, mas “aprendem” TV.

Uma escola pode, por exemplo, pedir aos alunos que criem

comerciais mentirosos: produtos falsos, mensagens para enganar o

espectador. As crianças podem discutir roteiros, comunicação verbal e

não-verbal, forma, conteúdo e ideologias subliminares.

Além disso, podem debater questões interdisciplinares,

como foco - que ângulos dos personagens, dos produtos e da

realidade são escolhidos para promover ou desmerecer imagens;

edição - que enunciados dos atores podem ser cortados ou

deturpados para reforçar pontos de vista; cor, imagem, movimento,

expressão. Depois da produção dos alunos, os professores

poderão levar para a sala de aula diversos comerciais da TV

aberta, para que as crianças decifrem neles as mensagens falsas e

o modo como foram produzidas.

Atividades como estas art iculam língua portuguesa, l íngua

estrangeira, história, artes, ciências da natureza e matemática.

Todas essas discipl inas poderiam estar sendo trabalhadas da

forma tradicional, no quadro-negro, se não fosse o uso dos meios

e a criatividade docente.

Outra sugestão é ensinar os alunos a produzir

documentários sobre questões l igadas à desigualdade social;

desenhos da TV, analisando os personagens com quem as

crianças se identif icam.

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Trabalhar com mídia na escola é a forma de subverter a

lógica da mera recepção das mensagens televisivas. As crianças e

jovens percebem que a elaboração do produto midiático pode não

estar apenas na mão dos especialistas, mas que as novas

linguagens devem ser apropriadas por todos, com f ins mais nobres

e mensagens relacionadas com a realidade concreta dos autores.

O código de leitura do mundo não é mais imposto, e sim proposto

pelos protagonistas do processo.

Rompe-se com a lógica de uma difusão monopolizada,

pois a mensagem passa a pertencer a outros (há escolas que

disponibil izam, em seu site, espaço para que os alunos veiculem a

sua produção, e nesse caso o leitor do trabalho não é mais só o

professor, e sim o mundo todo).

Esse processo de participação comparti lhada, desde a

produção até a recepção, promove discussão crít ica e intercâmbio,

forma a consciência e capacita os jovens para uma seleção

intel igente do que pe veiculado na mídia.

Deixar de articular mídia e educação, nos dias de hoje, é

oferecer uma educação obsoleta, própria para a época das

sociedades da escrita, nas quais as formas de acesso ao

conhecimento eram a imprensa ou as enciclopédias. É ignorar o fato

de que poucas famílias podem dedicar tempo a assistir TV com as

crianças e ajudá-las na interpretação das mensagens. É, sobretudo,

privar os alunos do direito a uma educação de qualidade.

Num momento em que os referenciais de acesso à

informação passam a ser, cada vez mais, as mídias eletrônicas,

oferecer às crianças a possibi l idade de desenvolver competências

relacionadas à apropriação consciente dos meios, e ao uso dos

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mesmos para promover valores de verdade e just iça, é mais do

que uma atividade pedagógica extra e ocasional.

É uma possibi l idade de mudança social e cultural, para

chegarmos a um conceito mais preciso de televisão de qualidade.

É uma obrigação de toda e qualquer proposta educacional

interessada em formar, em vez de consumidores, verdadeiros

cidadãos, que saibam usar as l inguagens de hoje para construir

uma nova sociedade.

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CAPÍTULO II

O ESPAÇO EDUCATIVO DA TV

Segundo Martin-Barbero (1999) durante uma época, estudos

enfatizam os efeitos da televisão nos receptores que recebem

mensagem. Acreditavam-se serem os receptores reféns da

manipulação ideológica. Tudo o que o emissor pretendia inculcar

parecia possível. Essa concepção mecânica de comunicação coincidia

com a idéia de conceber a educação como ato de transferência de

informação de um professor ativo para alunos passivos. Hoje não se

negam os efeitos da TV, mas já se sabe que a intenção do emissor em

sua mensagem pode não realizar-se. Receptor é sujeito ativo e

pertence a um contexto sociocultural específico, interpreta a

mensagem, dá-lhe significado de acordo com sua visão de mundo,

experiência, valores, com a cultura de seu grupo. Cotidiana,

entrecruzam-se influências de família, vizinhança, amigos, trabalho,

escola das mídias (principalmente TV e ocorrem a recepção e a

decodificação das mensagens). A recepção não se limita ao momento

diante da tela. O processo antecede o ato de ligar a TV e não se

conclui ao desligá-la. Prolonga-se pelos espaços da vida diária e nas

formas de comunicação habituais. Estende-se a conversas com

amigos, familiares, a comentários na mídia e na escola. Pesquisas

feitas sobre Vila Sésamo apontam que crianças que assistiam aos

programas em companhia de adultos participativos apreenderam mais.

Como os pais podem contribuir para que os f i lhos

desenvolvam capacidade de analisar, crit icar e selecionar

programas de TV? Interagir com os f i lhos quando juntos forem

receptores? O que fazer quando não têm tempo? E quando não se

sentirem à vontade ou preparados?

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Pesquisas recentes indicam que crianças f icam mais

tempo diante da TV que em sala de aula e são informados por ela

sobre assuntos a que antes t inham acesso apenas por meio de

familiares e professores. Buscam na TV diversão e respostas a

questões que as preocupam e encontram respostas a perguntas

que nem tão cedo fariam. A relação dos jovens com a televisão e

com outras mídias aumentou a complexidade da social ização. As

mães trabalham fora. Vive-se nova situação. A maioria das famíl ias

julga-se despreparada para enfrentá-la.

Diz Martin Barbero (1999) “De maneira vaga, os pais de hoje

captam o que está acontecendo, mas a maioria não compreende sua

profundidade, limitando-se a expressar estupor porque as crianças

‘sabem demais’ e vivem coisas ‘que não são para sua idade’”.

Que pode esperar da escola?

Qual o papel do educador?

Professores podem ajudar crianças e adolescentes a

estabelecer critérios, a formar juízos, a elaborar opiniões menos

espontâneas e a reconhecer programações de qualidade?

A predisposição a acreditar nas mensagens dos

meios depende dos critérios que o receptor tiver

formado em si, não propriamente em relação a

conteúdos, mas em relação aos meios e à sua

capacidade de analisá-los. Isso somado à

dif iculdade de uma opinião elaborada e formada

sobre os conteúdos oferecidos conduz a aceitar

esses conteúdos como corretos. (SÁNCHEZ, 1999)

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Cumprir o papel de mediador entre as mensagens de TV e

sua recepção/interpretação pelos alunos exige do professor

conhecer a relação entre alunos e TV. Requer obter de seus

alunos informações a part ir do desenvolvimento de atividades,

variadas, uti l izando-se de questões e depoimentos escritos,

discussões grupais, dramatização de situações, vídeos com

trechos de programas. O mundo espontâneo de util izar a mídia no

cotidiano é ponto de partida adequada para explorar e aprofundar

a compreensão dos programas de TV. Essa abordagem provoca a

releitura criativa e a constatação de que as mensagens são

seletivamente construídas.

Essa discussão naturalmente conduz a uma

compreensão das implicações desta construção

para as identidades de cada um, com pouca ou

nenhuma pregação moralista. A mídia na

educação torna-se, então, parte das mediações

que conduzem o indivíduo a ser um sujeito ativo

na construção da cultura. (WHITE, 1998).

2.1. Funções que a televisão deve desempenhar

Para julgar se a televisão está atendendo aos interesses

dos cidadãos, Bertrand (1999) considera necessário que se

conheçam os serviços que a televisão deve prestar. Apresenta seis

categorias ou funções das mídias, def inindo-as assim.

a) Observar o entorno

Informar-se sobre os acontecimentos, tratar a informação

analisá-la, fazê-la circular. Ficar alerta ao que ocorre nos Poderes

Executivos, Legislativo e Judiciário.

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b) Assegurar a comunicação social

Ser fórum de debates, formar grupos; de grupos,

conjuntos, de conjuntos, nação.

c) Fornecer uma imagem do mundo

O conhecimento provém de experiências pessoais,

escolares e, sobretudo da mídia. Para muitos, op que não aparece

na mídia não existe.

d) Transmit ir cultura (de geração a geração)

Visões de passado, presente e futuro do mundo,

amálgama de tradições e valores que dão ao indivíduo identidade

étnica, orientações quanto a fazer e pensar. Na social ização

incluem-se inst ituições religiosas, famíl ia, escola e os meios de

comunicação que atingem o indivíduo durante a vida.

e) Contribuir para a felicidade: divertir

As mídias oferecem o entretenimento indispensável para

diminuir tensões. O consumidor sol icita divertimento. Essa função

combina-se com todas as outras.

f) Fazer-comprar

Meios de comunicação são veículos da publicidade, que

tenciona seduzir um público para vendê-lo a anunciantes à publicidade.

2.2. A Escola com criadora de ambientes favoráveis à

análise das linguagens da TV

A af irmação de BERGER (1979, p. 20), é part icularmente

importante para uma ref lexão histórica sobre a televisão: “A TV faz

coincidir o verdadeiro, o imaginário e o real, no ponto indivisível do

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presente”. Para este autor, a TV favorece a experiência do tempo,

mas não a consciência do tempo.

Sabe-se que os meios de comunicação reconhecem

expl ic i tamente a escola e a famíl ia como lugares t radicionais de

educação dos mais jovens. No entanto, nos ú l t imos anos pode-se

dizer que a te levisão brasi le ira tem se apresentado com uma

instancia da cul tura que deseja oferecer mais do que informação,

lazer e entretenimento. Campanhas como a dos voluntár ios da

educação, por exemplo, ocupam largos espaços na TV – a l iás,

segundo Rosa Maria Bueno Fisher, campanhas que operam

signi f icados que as qual i f icam acima do bem e do mal, como se

nada nela fosse possível de cr í t ica e, por isso mesmo,

interpelam tão ef icazmente a população, assim convocada a atos

de generosidade, mostrados pr s i mesmos com posi t ivos.

Esta af irmação é particularmente importante para uma

ref lexão histórica sobre a televisão: “A TV faz coincidir o

verdadeiro, o imaginário e o real, no ponto indivisível do presente”.

(BERGER, 1979, p. 20). Para este autor, a TV favorece a

experiência do tempo, mas não a consciência do tempo.

Por outro lado, quando part imos da especif icidade da

linguagem dos artefatos midiáti icos, quando prestamos atenção

aos modos pelos quais são construídos e veiculados tais produtos,

às escolhas feitas quanto aos “alvos” a at ingir, aos diferentes

públicos a quem a mídia endereça seus produtos, part icularmente

os da televisão, talvez estejamos escolhendo um caminho bastante

produtivo para compreender melhor a presença e a importância

dessa instância cultural no conjunto mais amplo da sociedade.

A escolha, portanto, tanto de professores como dos

alunos se faz no sentido de colocar em primeiro plano a

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especif icidade da televisão, isso é, sua linguagem própria, as

estratégias de direcionamento, isso é, sua l inguagem própria, as

estratégias de seus materiais aos diversos públicos e o leque de

temáticas muito especif icas que parece dominar os produtos

comumente veiculados por ela.

Trata-se, portanto de investigar do tal processo ocorre,

sem perder de vista que essa é uma tarefa revestida de enorme

complexidade. No mínimo, estamos simultaneamente tratando de

linguagem e de modos de produzir sujeitos na cultura, de uma

estética especif ica e de projetos culturais, polít icos e econômicos.

A escola enquanto instituição que l ida o tempo todo com

questões sociais não deve, porém, pensar de modo simplista na

chamada “influência” da mídia, na ralação direta da causa e

efeito entre uma imagem mostrada e um comportamento repetido,

por exemplo: muito menos investigar uma verdade que estaria

sendo escondida “por trás” de cada seqüência de telenovela ou

de cada debate acontecido num programa “popularesco” de

auditório. Op que interessa é justamente imaginar possibil idades

concretas de análise que dêem conta da TV simultaneamente

como linguagem e com fato social.

Ver o recurso audiovisual, como prát ica social, mostrar o

quanto produzir TV, veicular programas, imaginar formas de dizer

algo ao público, experimentar o cotidiano de consumir imagens,

divertir-se, passar o tempo informar-se diante da pequena tela -

são todas prát icas relacionadas a processos de produção de

sentido na sociedade.

Dessa forma, apropriar-se deste meio, estudar suas

estratégias de endereçamento, de criação de imagens e sons,

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compreender a complexa trama de signif icados que ai estão em

jogo, acredito que seja essa uma tarefa eminentemente educativa,

pedagógica, no sentido desse termo.

Pode-se af irmar então que quando a televisão se torna

uma prática freqüente no espaço escolar - em qualquer nível é

possível que professores e alunos se dêem conta de como

assumem relevância certos temas na sociedade, na medida em que

se tornem públicos, debatidos nesse espaço amplo da televisão.

Havendo um trabalho sistemático de estudos dos

materiais da mídia, é bem provável que outras temáticas sejam

apontadas; e dependerá muito do professor, de sua sensibi l idade,

aproveitar essas descobertas.

2.3. A Informação na TV e no Vídeo

Segundo Moran (1994), a uti l ização de

programas de vídeo como instrumento didát ico

depende de uma análise competente do material

disponível. A ut i l ização de f itas de vídeos pré-

gravadas, visionadas, avaliadas e selecionadas

torna possível uma escolha consciente, por parte

do professor ou equipe de professores, dos

programas de TV ou f i lmes que atendem aos

objetivos do planejamento educacional.

Um dos campos mais interessantes de util ização do vídeo

para compreender a televisão na sala de aula é o da análise da

informação, para ajudar professores e alunos a perceber melhor as

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possibil idades e l imites da televisão e do jornal como meio

informativo.

As questões que seguem para analise de informações da

TV e vídeo foram extraídas do livro. O vídeo na sala de aula de J.

M. MORAM e pretendem orientar professores e alunos a terem uma

visão de conjunto dos programas televisivos bem como conhecer

as características e f inalidades dos programas assistidos.

O professor pode propor inicialmente algumas questões

gerais sobre a informação para serem discutidas em pequenos

grupos e depois no plenário: Como eu me informo? Que telejornal

prefiro e porquê? O que não gosto deste telejornal e gostaria de

mudar? Que semelhanças e diferenças percebo nos vários telejornais.

Que análise faço dos dois principais jornais impresso.

Pode-se fazer uma análise específ ica de um programa informativo

da televisão (por exemplo, do Jornal Nacional) e de dois jornais

impressos do dia seguinte. O professor pede a um dos alunos que

anote a seqüência das notícias do telejornal e, a outro, que

cronometre a duração de cada notícia. Depois da exibição, o

professor pede que os alunos se dividam em grupos e que alguns

analisem o telejornal e pelos menos dois analise os jornais

impressos (cada grupo um jornal).

Questões para análise do telejornal:

• Que noticias chamaram mais a sua atenção (noticias que

sensibil izaram mais, que marcaram mais) porque?

• Que noticias são mais importantes para cada um ou para

o grupo. Porque?

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• O que considerou posit ivo nesta edição do telejornal

(técnicas, tratamento de algumas matérias,

interpretação...)

• De que discorda neste telejornal (de algumas noticias em

particular ou em geral).

Questões para análise do jornal impresso;

• Noticias mais importantes para o jornal (quais são as

mais importantes da primeira página). Que estoque é

dado.

• Que noticias coincidem com o telejornal (a coincidência é

total ou há diferenças de interpretação?)

• Que noticias são diferentes do telejornal (not icias que o

telejornal anterior não divulgou).

• Qual é a opinião do jornal nesse dia (análise dos

editoriais, das matérias, que normalmente estão na

segunda ou terceira página e não estão assinadas).

O professor que reconstruir a seqüência das noticias pr

escrito na frente do plenário e pede ao cronometrista que anote a

duração de cada matéria.

Cada grupo coloca no plenário as respostas à primeira

questão. O professor procura reconstruir com todos os alunos as

noticias mais importantes para a emissora e para o jornal impresso.

Vê as coincidências e as discrepâncias.

Convém analisar a noticia mais importante com calma,

exibindo-a de novo, observando a estrutura, as técnicas utilizadas, as

palavras-chave, a interpretação. E assim vão respondendo às outras

três questões, sempre confrontando a informação da televisão com a

do jornal impresso, observando as omissões mais importantes.

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Com esta análise não se chega a uma visão de conjunto,

mas se percebe a parcialidade na seleção das noticias, na ênfase

dada, na relativização da informação, na espetacularização da

televisão como uma das armas importantes para atrair o telespectador.

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CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE

PROFESSORES NO USO DA TV EM SALA DE AULA

Segundo MORAN (1994), a uti l ização de programas de

vídeos como instrumento didát ico depende de uma análise

competente do material disponível. A uti l ização de f itas de vídeos

pré-gravadas, visionadas, avaliadas e selecionadas torna possível

uma escolha consciente, por parte do professor ou equipe de

professores, dos programas de TV ou f i lmes que atendem aos

objetivos do planejamento educacional.

Embora nos últ imos dez anos o crescimento do espaço

reservado à televisão na área da educação pública. Consciente de

que a TV deve ser posta a serviço da melhoria do ensino básico, o

Ministério da Educação criou um canal exclusivo para as escolas

de todos os país. Em convênio com os órgãos estaduais e

municipais, equipou a rede pública com antenas parabólicas, vídeo

cassetes e televisores, para assegurar a recepção do canal, a

gravação e posterior uso dos programas. TV Escola, que apesar

dos equívocos e tropeços no planejamento, implantação e

orientação pedagógica, criou um fato novo: viabi l izou as condições

de entrada da informação áudio visual na escola.

Por outro lado no universo dos canais abertos, programas

de qualidade cultural e de acordo com Syilvia Magali, de potencial

educativo relevante, são encontrados nas emissoras públicas ou

estatais, como a TV Cultura de São Paulo, a TVE do Rio de Janeiro e

demais TVs educativas regionais. A expansão dos serviços de TV a

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cabo também vem permitindo, nas cidades maiores, o aumento do

acesso a canais que veiculam bons programas.

3.1. O Papel da Escola frente às mensagens televisivas

GADOTTI (1994), af irma que “a educação sendo essencial

a transmissão de valores, necessita de testemunho de valores em

presença. Por isso, os meios de comunicação e a tecnologia não

podem substituir o professor”.

Uma das possibi l idades de aprofundamento é a formação

continuada na forma de educação à distância, que pode ser feita

uti l izando os próprios meios tecnológicos. Essa formação deve ter

como princípio norteador a uti l ização da televisão como uma

oportunidade de democratização de conhecimento e da cultura,

para isso não pode apenas condená-la, mas ref letir sobre o uso e

os valores que veicula.

Não podemos ignorar que a e televisão está presente no

cotidiano dos alunos e exerce forte inf luência sobre as relações

familiares e sociais. Nesse sentido alerta ao educador que é

preciso desenvolver os sentidos perceptuais, interando a razão,

emoção e ação, na interpretação da linguagem televisiva.

No processo das construções dessas concepções,

descobrem pelas pesquisas real izadas em sala que os alunos

util izam os programas da televisão somente par entretenimento.

Mesmo que parte das informações veiculadas tenha

relevância social e qualidade, algumas geram impactos negativos nas

crianças. A televisão cria ilusões que muitos associam à realidade, as

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novelas são um exemplo disso, o telespectador se identifica com as

situações e circunstâncias, o que facilita a adoção de “modelos de

comportamento” confundindo as pessoas sobre o que é real e ilusão.

Vivemos num mundo que vem se transformando

rapidamente. Os alunos precisam aprender a resolver os desafios

e problemas inesperados que enfrentam e enfrentarão no cotidiano

de suas vidas, com original idade e criatividade.

Reexaminando os objet ivos do trabalho educativo

desenvolvido nas escolas, o sentir, o fazer e o pensar geralmente

não são competências devidamente desenvolvidas nas escolas nas

práticas pedagógicas correntes. É necessário construir um

currículo voltado para essas f inalidades.

Um trabalho educativo voltado para análise e compreensão

dos conteúdos das mensagens televisivas seria justamente aquele

fundamentado numa formação de professores para uma autonomia de

produção que é vivenciada quando se descobre que antes e atrás de

cada imagem há alguém que cria e que envolve uma grande variação

de interesses pessoais, políticos e econômicos.

Rosa Maria Bueno Fisher (1993) muito bem nos diz que

estudar f i lmes, comerciais e programas de televisão na escola

constitui um desafio que ultrapassa o domínio de regras ou

estratégias de linguagem de cinema e televisão.

É preciso associar toda essa tecnologia própria de uma

linguagem, no caso, a l inguagem audiovisual a questões de ordem

cultural, polít ica mais amplas; em suma, a questões que remetem a

produção, circulação e interpretação de signif icados na cultura,

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numa dinâmica que inevitavelmente se dá no interior de relações

de poder muito concretos.

Neste sent ido, uma formação de professores que dê

conta desses desaf ios deve ver a TV com uma l inguagem

especif ica e que simultaneamente, mergulhe na cul tura, na luta

pela imposição dos sent idos nos modos de constru ir suje i tos em

nosso tempo.

Outro ponto não menos importante e que deve ser levado

par discussão entre professores é a insat isfação dos jovens

brasi leiros com o próprio corpo e com sua condição social. A

incansável busca por uma posição de destaque, de superioridade

ou de onipotência é uma marca desde século, processo evolutivo

se contrastarmos com a inoperância e conformismo dos jovens

frente aos problemas sociais da atualidade.

Essa nova f i losof ia de vida, de insatisfação pessoal

permanente, como se algo quase se inalcançável faltasse,

priorizando-se “eu”, é uti l izada como mecanismo ef iciente pela TV

brasi leira para venda de seus produtos, resultando na formação de

uma nova juventude, onde a prioridade é a conquista da fama, do

sucesso e do dinheiro, conseqüentemente de uma suposta

felicidade ditada pela TV.

A inf luência dos programas de TV começa desde cedo, na

infância, e não se restringe à adolescência. Não é de se espantar

que sejam realizadas inúmeras pesquisas por grupos de estudos,

inst ituições internacionais, pela igreja e missionários que tentam

desvendar qual a inf luência dos programas televisivos no

comportamento dos jovens, defendendo teses de que a TV passa

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uma mensagem oculta de incentivo ao sexo, violência,

homossexualismo, etc.

Dentro desse cenário o que mais nos tem estarrecido ao

analisarmos o comportamento do jovem, não é apenas a inf luência

direta da mídia no comportamento violento dos adolescentes ou a

atividade sexual precoce, que começa desde a infância, mas sim a

busca desordenada por um lugar no mundo dos famosos, como se

este fosse o passa decisivo para a felicidade.

Esta é a mensagem endereçada aos jovens atualmente,

prova de que a presença da TV nas casas e nas escolas não é

mais com f ins informativos, mas sim posta-se como fato social

permanente e irreversível. Ouvimos sempre “imagem é tudo!”, é

preciso não apenas ser, mas ‘parecer ser’; e se não pudermos ser,

que nos esforcemos para parecer, e isto até pode bastar, porque

cult ivar a imagem mostra-se como algo tremendamente produtivo.

Basta lembrar como ocorrem as campanhas polít icas ou as

performances públicas dos governantes.

A comunicação audiovisual não é mais um simples

mecanismo informativo, não é mais um simples meio de comunicação

onde se mostra o que aconteceu, mas sim é uma instância da cultura

que deseja oferecer muito mais que informação, lazer e

entretenimento, mostra-se como instrumento de comunicação que está

acima do bem e do mal, com se fosse inume as críticas.

O papel da escola frente a essas questões deve ser no

sentido de desenvolver nos alunos um senso crít ico necessário

para analisar de forma consciente e responsável os produtos

televisivos construindo assim, um novo olhar para se ver TV.

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3.2. O Dispositivo Pedagógico da TV

Rosa Maria Bueno Fisher (2001) muito bem escreve que a

TV, na condição de meio de comunicação social, ou de uma

linguagem audiovisual específ ica ou ainda na condição de simples

eletrodoméstico manuseado por nós, cujas imagens

cotidianamente consumimos, tem uma participação decisiva na

formação das pessoas mais enfaticamente, na própria constituição

do sujeito contemporâneo.

Sem dúvida, ela é parte integrante e fundamental de

complexos processos de veiculação e de produção de signif icações,

de sentidos, os quais por sua vez estão relacionados a modos de

ser, a modos de pensar, a modos de conhecer o mundo, de se

relacionar com a vida.

Assim sendo para que a escola real ize um trabalho

pedagógico coerente com as exigências destes tempos, é

necessário nos voltarmos justamente para o estudo da mídia (e da

publicidade, de modo particular) como lugar por excelência da

produção de sentidos na sociedade.

O ideal seria que nos dedicássemos a “desmanchar” os

materiais televisivos, cujos resultados sugerem além da

importância de compreender um tipo específ ico de linguagem e de

comunicação consiste, de modo um modo particular de

subjetivação, de ensino e de aprendizagem de formas de agir,

sentir, atribuir valores, e assim por diante.

Tal prática invest igativa sugere também a necessidade de,

no campo educacional, operar sobre esses produtos, trazendo

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professores, crianças, adolescentes e jovens para uma tarefa de

leitura criteriosa da esfera cultural tarefa que certamente inclui o

debate a respeito das formas de controle da sociedade civil sobre

aquilo que é produzido e veiculado pela televisão.

O trabalho pedagógico insere-se justamente aí, na tarefa

de discriminação que educadores e estudantes precisam exercitar

cotidianamente em sua prática pedagógica, e que, a meu ver,

inclui desde uma franca abertura à fruição (no caso, de programas

de TV, etc.) até um trabalho detalhado e generoso sobre a

construção de l inguagem em questão e sobre a ampla gama de

informações reunidas nesses produtos, sem falar nas emoções e

sentimentos que cada uma das narrat ivas suscita no espectador.

Trata-se de uma proposta destinada, nos diferentes níveis

de escolarização, a mergulhar na ampla diversidade da produção

audiovisual disponível em f i lmes, vídeos, programas de televisão,

e que certamente nos informará sobre profundas alterações

ocorridas nas ult imas décadas nos conceitos de cultura erudita,

cultura popular, cultura de massa, artes visuais, e assim por diante,

mas especialmente sobre importantes mudanças nos modos de

subjetivação, de constituição do sujeito contemporâneo.

Operar pedagogicamente com os produtos mid iát icos

s ign i f ica t razer à tona, mais amplamente, o prob lema da c isão

ou da d istânc ia ent re cu l tura , soc iedade e ind ivíduo. Como

escreve Te ixe i ra Coelho, no l ivro Guerras Cul tura is: constata-se

ho je uma c isão ent re as esferas da cu l tura propr iamente d i ta

(entend ida como estoque tota l de s ímbolos e do saber a par t i r

dos qua is os membros de um grupo in terpretam a s i mesmos e

ao mundo em que estão) , da soc iedade (v is ta como con junto

das ordens legi t imas por meio das qua is os membros de um

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grupo regu lamentam suas re lações e asseguram ent re s i a

so l idar iedade) e da personal idade (soma das competênc ias

pe las qua is um su je i to adqui re a facu ldade de par t ic ipar dos

processos de in ter-compreensão e ne les af i rmar sua própr ia

ident idade.

Além dos aspectos culturais que envolvem as produções

televisivas, educadores e educandos não devem ignorar que há

uma imensa responsabil idade dos meios de comunicação,

particularmente da TV, que aqui nos interessa, no que se refere

aos modos de nomear os diferentes.

Entre as questões que envolvem uma análise crít ica da

televisão é preciso trazer para o contexto educacional as formas

como esta refere a um grupo como os dos sem-terra, as

adolescentes de periferia, os jovens drogados, a mulher dona-de-

casa, os portadores de alguma deficiência, E a professora do

sertão nordestino. Enfim, de que maneira e em que medida todos

esses diferentes são tratados.

Conforme já exposto, quando falo da aptidão pedagógica

da mídia, não ref iro apenas à capacidade que este meio de

comunicação tem de informar de forma mais veloz e com

capacidade de envolvimento maior que a escola, mas

principalmente do poder da televisão tem na formação de nossas

subjetividades (as l ições de mora, as “dicas” da novela sobre

drogas, alcoolismo, separação dos pais, respeito aos mais velhos,

cuidado com as crianças, receitas de como tratar uma doença ou

de como fazer uma boa macarronada), de se fazer justiça,

invest igação de crimes de todos os t ipos, e assim por diante.

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Não se pode ignorar que há na TV a explicitação de

várias formas de “como viver a vida”, de como julgar a vida, de

como agir diante de “fatos da vida”.

Estas e outras questões trazidas para o inferior das

nossas escolas para serem analisadas questionadas, discutidas

contribuem para que a televisão não seja apenas um

eletrodoméstico encarregado de promover entretenimento e

informações, mas principalmente um lugar privi legiado para se

fazer aprendizagens diversas.

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CAPÍTULO IV

USO PEDAGÓGICO DO VÍDEO E DA TV NA SALA

DE AULA

Considerando a minha experiência em sala de aula e

assumindo como pressuposto que a utilização de vídeos em processos

educativos depende de um planejamento criterioso, discuto no presente

texto a utilização do vídeo e da TV em sala de aula e apresento

algumas sugestões para a leitura e análise deste tipo de recurso

audiovisual de modo a aproveitá-lo de forma adequada e competente.

Sabemos que o vídeo ou a televisão, por si só, não

garantem uma aprendizagem signif icat iva. A presença do professor

é indispensável. É ele com sua criatividade, bom senso, habil idade,

experiência docente, que deve ser capaz de perceber ocasiões

adequadas ao uso do recurso. No entanto, criatividade, bom senso,

experiência, não surgem do nada.

A sociedade contemporânea é caracterizada pela

multiplicidade de linguagens e por uma forte influência dos meios de

comunicação. É preciso que o professor entenda as linguagens do

cinema, da TV e do vídeo e que possa identificar suas potencialidades

e peculiaridades. O professor precisa estar preparado para utilizar a

linguagem audiovisual com sensibilidade e senso crítico de forma a

desenvolver, com seus alunos, uma alfabetização audiovisual.

A TV, apesar de ter herdado do cinema suas pr imeiras

técnicas básica de f i lmagem, possui hoje l inguagem, r i tmo e

objet ivos própr ios. Uma diferença básica entre as obras de

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c inema e de te levisão é que, enquanto a pr imeira produz

mercadoria cul tura l que poderá ser explorada durante vár ios

anos, a te levisão tende a produzi r programas para serem

consumidos no instante da sua difusão.

Outra característ ica t íp ica da l inguagem da TV é

basear-se em f ragmentos de real idade, pedaços de informação e

muita agi l idade. Além disso, com a t ransmissão via saté l i te,

cr iou-se a possib i l idade de a TV trazer para nossa sala, em

tempo real , outros povos, outras cul turas, outros lugares.

O vídeo, primeiramente concebido com um meio de

divulgação do cinema, é hoje a base de divulgação da linguagem

audiovisual como um todo. Ele tornou acessível o registro e a

documentação histórica das produções; a facilidade de ver, rever e

analisar um produto audiovisual; a possibilidade de intervir parando,

mudando o ritmo e até alterando uma seqüência de imagens.

Por oferecer recursos vantajosos para o trabalho pedagógico

vamos considerar o vídeo como principal instrumento de trabalho com

a linguagem audiovisual. Nesse sentido, gostaríamos de reafirmar e

ressaltar sua importância no processo de ensino-aprendizagem.

Vídeos têm a capacidade de mostrar fatos que falam por si mesmos,

mas que necessitam do professor para dinamizar a leitura do que se

vê Gadotti (1994) afirma que: “educação sendo essencialmente a

transmissão de valores, necessita do testemunho de valores em

presença. Por isso, os meios de comunicação e a tecnologia não

podem substituir o professor”.

A utilização de programas de vídeo como instrumento

didático depende de uma análise competente do material disponível.

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A utilização de fitas de vídeo pré-gravadas, visionadas, avaliadas e

selecionadas torna possível uma escolha consciente, por parte do

professor ou equipe de professores, dos programas de TV ou filmes

que atendam aos objetivos do planejamento educacional.

O vídeo só deve ser uti l izado com estratégia quando for

adequado, quando puder contribuir signif icadamente para o

desenvolvimento do trabalho.

Ao analisarmos um vídeo é preciso verif icar todas as suas

potencial idades para o processo de ensino-aprendizagem. A partir

desta análise é que se torna possível a construção dos planos de

aula. Destacamos a seguir alguns pontos a serem considerados no

planejamento de uma aula com vídeo:

• Ao explorar um vídeo, deve-se fazer analogias com outras

concepções, métodos, técnicas e resultados que já foram

ou podem ser explorados em sala de aula;

• Vídeos e textos devem se completar mutuamente;

• O vídeo tem a capacidade de aproximar o conhecimento

científico do cotidiano, fazendo com que algumas concepções

do senso comum passem a se fundamentar na ciência;

• A dinâmica e o tempo de aula devem ser bem planejados,

pois o uso do vídeo pressupõe sempre a atuação do professor;

• Os vídeos podem ser usados como instrumento de leitura

crít ica do mundo, do conhecimento popular, do

conhecimento científ ico e da própria mídia.

4.1. A Escolha do recurso audiovisual

Quando se fala em analisar e escolher um material

didático – qualquer que seja ele – é comum associarmos esta

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tarefa à idéia de determinar a qualidade do material. Mas o que é

qualidade?

Etimologicamente qualitas signif ica essência: assim

alguma coisa teria qualidade somente se fosse essencial,

importante, relevante. Qualidade também costuma estar associada

àquilo que é perfeito. Mas, o q signif ica perfeição? Ou ainda, será

que a perfeição é possível?

De acordo com Demo, 1998 toda produção humana faz

parte de um processo em evolução, em desenvolvimento, buscando

sempre aperfeiçoá-la. Não há perfeição definit iva! “O exemplo dos

computadores é paradigmático. Todo modelo novo é feito para ser

superado. No caso das produções televisivas ou f ílmicas, os

padrões de qualidade também se superam com os avanços

tecnológicos e bastam poucos anos para que aquilo que se

considerava ót imo já esteja superado.

Vejamos então o que consideramos importante quando

falamos em analisar uma produção televisiva ou f ílmica para f ins

didáticos.

Em primeiro lugar, esta tarefa não deve ser realizada para

estabelecer classificações e separações entre o que tem pouca, média

ou muita qualidade. O importante é identificar e descrever todos os

aspectos envolvidos no produto, desde as propriedades técnicas até

as mais subjetivas relacionadas aos sentidos e às emoções.

Em segundo lugar, não há como estabelecer parâmetros

gerais de qualidade. Lembre-se sempre que o que é bom para uma

f inalidade pode ser desastroso para outra. Vejamos alguns

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exemplos de situações bastante comuns. Um vídeo pode ser

tecnicamente ultrapassado, mas funcionar maravi lhosamente como

documento histórico da própria televisão, ou para análise do

momento histórico-social em que foi criado, ou ainda por tratar

competentemente de um conteúdo curricular. Um vídeo com algum

erro conceitual pode ser usado para que os alunos identif iquem e

discutam possíveis erros. Um vídeo que aborde algum assunto a

partir de uma visão polit icamente incorreta pode ser discut ido

pelos alunos como contraponto na construção de visão crít ica de

mundo.

Os exemplos acima evidenciam que o mais importante,

quando anal isamos um produto audiovisual , é ter em mente o

que pretendemos com seu uso em sala de aula. Quais são

nossos objet ivos e até que ponto um programa ou f i lme

consegue atendê-los, apesar de pecul iar idades ou imperfe ições

que podemos superar com um bom planejamento de sua

ut i l ização. Para que haja integração do vídeo ao ensino é

importante que a aval iação se converta em uma prát ica

constante. O professor deve sempre assist i r e anal isar o mater ial

que pretende ut i l izar para poder p lanejar sua aula a part i r de

seus paradigmas educacionais.

A efetiva utilização de vídeos é que poderá resultar

no desenvolvimento de padrões de qualidade tanto

para o processo de produção quanto para a

utilização de programas didáticos. Acreditando

nesta premissa e na importância de ouvir o

professor, sua prática, suas dificuldades e suas

crenças, algumas instituições vêm desenvolvendo

pesquisas junto a professores que usam a TV e o

vídeo em suas aulas (MANDARINO, 2001).

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Talvez devido a já citada falta de tempo detectamos que o

critério mais freqüente de escolha de um vídeo, para uso em sala

de aula, seja a indicação de um outro professor.

Esta indicação é feita, na maioria das vezes, de modo

informal e sem a preocupação com o registro. Não seria bom se

você pudesse encontrar a análise, os comentários, atividade

planejada e uma avaliação do que efetivamente ocorreu?

Certamente que sim! Melhor ainda seria se os professores

criassem, para o acervo da escola, um catálogo com as avaliações

dos vídeos no qual, além de uma f icha básica, pudessem encontrar

comentários sobre cada vídeo, formas de ut i l ização adotadas e

uma avaliação dos resultados alcançados.

Reconhecendo as dif iculdades encontradas na prática

docente como o excesso de trabalho, falta de tempo – acrescidas

dos baixos salários – ressaltamos que os critérios de qualidade e o

próprio uso do vídeo em sala de aula devem ser encarados como

projeto coletivo dos profissionais de uma escola. “É possível, por

meio de um trabalho de preparação e sistematização de

procedimentos, economizar tempo e energia”. (NAPOLITANO, 1999).

4.2. O Papel do orientador educacional diante do uso

da TV

Segundo MEKSENAS (2002, p. 38) Quando diz que a

função da educação é integrar o indivíduo [...] é inocular no

indivíduo idéias do meio social em que vive.

O orientador educacional é um prof issional com critérios e

formação adequada para intervir de maneira harmoniosa na

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formação do aluno dando suporte a professores e interagindo com

a comunidade.

Sabe-se que a inf luência televisiva tem grande poder

persuasivo, todavia, nossos alunos não estão preparados para

discernir com êxito frente a tantos programas televisivos, dessa

maneira o O. E. servirá para orientá-los com sabedoria sobre as

intenções subjacentes de cad programação da TV juntamente com

o corpo docente e a comunidade.

O O. E. está apto para auxil iar a comunidade escolar a

compreender os diferentes processos pelos quais estão passando

nessa era tecnológica, ajustando-os a construírem sujeitos sociais

e históricos em meio a uma cultura com normas e comportamentos

já estabelecidos pela mídia manipuladora, entretanto com a

mediação desse prof issional qualif icado será capaz de ensiná-los

valores ét icos para que propicie práticas que o leve ao

conhecimento consciente e ao valor do ser humano com ser, e não

como máquinas.

O Sistema de Orientação Educacional faz-se necessário

no ambiente escolar para auxil iar o professor na aprendizagem do

aluno, mas as funções do Orientador Educacional não se

restringem apenas a isso, todavia convém lembrar que a tarefa

desse prof issional é essencialmente ética e polít ica, part icipat iva e,

acima de tudo, sigi losa, por isso, o O. E. deve inserir-se no mundo

tecnológico para servir de intermediário entre professor, aluno e

comunidade nesse mundo televisivo ajudando o aluno a ser crít ico

diante dos mais variados programas de TV, orientando-o

juntamente com os demais prof issionais a ser crít ico consciente e

l ivre diante da persuasão da mídia que torna cada vez mais

consumista.

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Dessa forma, o orientador educacional precisa estar

atento sociedade escolar e as demais sociedades (famíl ia, cultura,

crença, fator econômico) para poder servir de mediador tanto na

aprendizagem do aluno, tanto como mediador na construção da

identidade dos jovens para que se tornem cidadãos conscientes de

seus direitos e deveres, a serem capazes de saber ref letir e decidir

com liberdade sobre o que realmente querem. (UECE, 1994)

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CONCLUSÃO

Televisão pode ser uma excelente ferramenta de

progresso. Ensina-nos a descobrir o mundo que nos rodeia. Pode

mostra-nos o que temos em comum com os nossos vizinhos,

próximos ou distantes. Pode levar luz aos recantos obscuros onde

dominam a ignorância e o ódio. A indústria da televisão está

também numa posição ideal para promover a compreensão e a

tolerância mutuas com conteúdos que nos falem não só dos que

têm nada, da vida nos paises ricos, mas também nos paises em

desenvolvimento, onde reside a maioria dos habitantes do planeta.

E, de acordo com minha experiência de trabalho com esta

mídia e com as diversas pesquisas bibl iográf icas que realizei

durante a feitura deste trabalho, posso af irmar que também pode

ser um instrumento de grande potencial pedagógico. Pode ser

levada para escola para ser estudada, analisada discutida. Pode

ser um instrumento útil para ref lexão sobre a real idade social e

histórica em que vivemos.

A minha intenção com este trabalho foi, sobretudo,

ressaltar a importância de a escola tomar esta mídia como objeto

de estudo exatamente porque, dedicando-se a ela, professores,

alunos, crianças, adolescentes e jovens estarão envolvidos com a

leitura de uma esfera cultural essencial em nosso tempo: em

primeiro lugar, porque estarão discut indo formas de controle na

sociedade civi l, sobre o que é produzido e veiculado na televisão;

estarão também se perguntando sobre qual a part icipação de cada

um de nós, de cada grupo social, de cada segmento da população,

nos processos de produção de sentidos na sociedade (por exemplo,

poderemos nos questionar sobre como crianças e jovens são

mostrados nas novelas, nos f i lmes, nos comerciais, sobre os

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sentidos que são dados aos vários modos de ser infantis e

adolescentes).

Neste sentido, estarão – professores e alunos –

invest igando também sobre como cada grupo se sente de alguma

forma representado (ou excluído) nas diferentes narrativas

televisivas. E, ainda, estarão estudando as imensas e variadas

possibil idades de comunicação através da conjugação de imagens

em movimento, som, textos (falados ou escritos), tr i lhas sonoras,

cenários, estruturas narrativas, produzidos especialmente para

aquela pequena tela que habita salas de estar, cozinhas, quartos

de dormir, restaurantes, consultórios médicos, salas de espera de

todos os tipos. Ter um certo domínio sobre essas imagens e o que

elas nos comunicam, o que elas “fazem” conosco, parece-nos

tarefa imprescindível, necessária, fundamental, nos currículos

escolares, no cotidiano da vida de professores e alunos, de todos

os níveis.

O que, enf im, quis comunicar aqui é que a TV é um

acontecimento, tem a ver com uma prática social muito complexa:

produzir TV, veicular programas, imaginar formas de dizer algo ao

público, experimentar o cot idiano de consumir imagens, divertir-se,

passar o tempo, informar-se diante da pequena tela – são todas

práticas relacionadas a processos de produção de conhecimentos

e de sentidos na sociedade. Entretanto, é pertinente ressaltar que

nenhum conhecimento está pronto, acabado, e de que,

especif icamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma

instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do

indivíduo com o mundo das relações sociais, enf im, com os meios

tecnológicos. Tal ótica permite ao homem interpretar e

(re)interpretar esse mundo, jogando-nos para dentro do movimento

da História. Assim, não é possível a escola ignorar a inf luência

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desses agentes midiáticos. Ela precisa part ir da real idade vivida

por alunos e professores, isto é, pela sociedade. A educação deve

ser um processo de construção do conhecimento ao qual ocorrem,

em condição de complementariedade, por um lado, os alunos e os

professores e, por outro lado, os problemas sociais e o

conhecimento já construído (acervo cultural da humanidade).

A arte e cultura erudita, antes privilégio da eli te, pode

hoje ser apreciadas pelas demais camadas sócio-econômicas da

população, da mesma forma que, os conhecimentos de áreas

variadas do saber pode ser divulgados, permit indo sua apropriação

por toda uma população que formará novos conceitos, princípios e

atitudes. E isso se deve, em grande parte à televisão.

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