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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Cuiabá - MT – 12 a 14/06/2017
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A Internet Como “Lugar de Memória”: A Sobrevivência da Imagem do Herói
Político no Ciberespaço1
Gesner Duarte PÁDUA2
Universidade Federal de Mato Grosso, Barra do Garças, MT
RESUMO
Este artigo faz uma reflexão sobre o ambiente da internet como um novo “lugar de
memória” contemporâneo, segundo o conceito do historiador Pierre Nora, a partir de um
estudo de caso: a sobrevivência nesse espaço virtual da imagem mitificada do ex-
presidente Tancredo Neves. Analisa-se como a imagem de Tancredo como herói e mártir
da democracia, construída pelos meios de comunicação na segunda metade da década de
1980, permanece viva, hegemonicamente, até hoje no ciberespaço, difundindo-se mesmo
30 após a sua morte.
PALAVRAS-CHAVE
Lugares de Memória; Internet; Imagem heroificada; Tancredo Neves;
Introdução
A década de 1980 foi marcada por uma profunda agitação na vida política,
econômica e social do Brasil, tendo como resultado uma das maiores mobilizações da
sociedade civil já vistas: a luta pelo fim do regime militar. Nesse contexto, deflagrou-se,
através da união de políticos oposicionistas e de amplos setores da sociedade civil, a
campanha das “Diretas Já”, em 1984, exigindo eleição direta para presidente. Nesse
momento passou a aparecer com mais destaque nos meios de comunicação o então
governador de Minas Gerais, Tancredo Neves. Entretanto, a emenda Dante de Oliveira,
que previa eleições diretas para presidente, foi derrotada no Congresso Nacional devido
a manobras do governo e seu partido de apoio, o PDS. A frustração foi enorme e geral. O
novo presidente só seria eleito indiretamente em 1985 pelo Colégio Eleitoral. Através de
uma coalizão de partidos (PMDB, PDT, PTB e a Frente Liberal), Tancredo foi indicado
como candidato à presidência, tendo José Sarney (que durante três décadas havia dado
suporte ao regime militar) como vice. A disputa com Paulo Maluf, do PDS, foi marcada
1 Trabalho apresentado no DT 5 – Comunicação Multimídia do XIX Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Centro-Oeste, realizado de 12 a 14 de junho de 2017. 2 Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Professor do Curso de Jornalismo da UFMT-CUA, email:
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por um clima de profunda esperança que envolveu toda a sociedade. Sua palavra de ordem
era a grande “conciliação nacional”, a pedra de toque que, segundo ele, seria capaz de
promover a grande união de todos os setores da sociedade (desde o governo militar até os
partidos de esquerda, do grande empresário ao sindicalista) e colocar o País novamente
nos trilhos.
Em torno de Tancredo criou-se, por parte dos aliados e da mídia, a imagem de
“salvador da pátria”, de um “novo Moisés, com a missão de conduzir o País do deserto
da desesperança para uma nova Canaã”, como diz Thomas Skidmore (1988, p. 487). Sua
eleição, de forma indireta pelo Congresso, foi marcada por um verdadeiro carnaval verde
e amarelo que acentuava o caráter heroico do novo presidente. Mas os sonhos de milhões
de compatriotas foram frustrados pouco tempo depois. Um dia antes da posse, em 14 de
março de 1985, Tancredo foi internado com uma misteriosa doença, identificada mais
tarde como infecção generalizada. Sarney foi empossado como presidente interino. Ele
morreu em São Paulo no dia 21 de abril, dia de Tiradentes, o grande herói da inconfidência
mineira, depois de 38 dias. Sua morte provocou uma enorme comoção e cristalizou
definitivamente a imagem do herói e mártir da democracia na história recente do País
(PÁDUA, 2011).
Hoje, ao se falar no nome de Tancredo Neves para alguém com menos de 30 anos,
a primeira ideia que certamente lhe virá à cabeça é a do presidente que “derrotou a
ditadura” e “devolveu a democracia ao Brasil”, ideia essa formada, em grande parte, por
meio do acesso a diversos sites na internet. Na web, o internauta irá se deparar com uma
imagem profundamente mitificada do político mineiro, reproduzida de site para site: a de
Tancredo como o “pai da Nova República”, o político conciliador que encarnou as
esperanças de milhões de pessoas de um novo País, de uma nova era de prosperidade
depois de 20 anos de autoritarismo militar e mazelas econômicas. Aquele que, como outro
grande herói nacional, Tiradentes, se sacrificou e morreu em nome de um ideal nobre e
altruísta: a liberdade do seu povo. E de que sua morte, depois de muito sofrimento, foi
uma das maiores perdas da história do país, um verdadeiro trauma na vida dos brasileiros.
Essa é uma narrativa cristalizada pelos meios de comunicação na década de 1980
(PÁDUA, 2011) que sobrevive até os dias de hoje preservada e reproduzida em centenas
de sites que se transformaram, na atualidade, em novos “lugares de memória” (NORA,
1993). É isso que abordo neste trabalho. Incialmente foram selecionados para uma
primeira análise cerca de 150 sites de diversas naturezas (institucionais, blogs,
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entretenimento, etc) com menções a Tancredo. Como muitas informações e,
principalmente, o tratamento heroificado da sua imagem se repetiam, em maior ou menor
grau, optei, para este artigo, trabalhar com um recorte composto por 15 webpages que
exemplificam, de forma mais evidente, a reprodução dessa memória mitificada.
Os meios de comunicação como “lugares de memória”
Segundo Le Goff (1990, p. 423), a memória pode ser entendida, no campo da
biologia e da psicologia, como propriedade de conservar certas informações pela qual o
homem consegue atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa
como passadas. Porém, como lembra o autor, deve-se pensar a memória para além de
faculdades psico-fisiológicas e agregar ao seu entendimento a dimensão social, ou seja, a
interação entre os homens em sociedade no tempo e no espaço. Para José D’Assunção
Barros (2009), a memória não pode ser considerada de forma inerte, estática, como um
depósito de dados, um mero processo mecânico de lembrar fatos passados- ou que os
indivíduos representam como passado. Pelo contrário, deve se pensar nela em sua
dinamicidade, propiciada pelas interações sociais, como “território”, como espaço vivo,
político e simbólico no qual se lida de maneira dinâmica e criativa com as lembranças e
com os esquecimentos que reinstituem o Ser Social a cada instante.” (BARROS, 2009, p.
37).
Porém, mais importante do que entender a memória do ponto de vista individual,
é compreender a sua dimensão coletiva. Ou, seguindo a linha de pensamento de Maurice
Halbwachs, um dos pioneiros dos estudos dessa área, toda memória individual se
relaciona a dimensões coletivas, gerando uma construção de referenciais sobre o passado
e presente de diferentes grupos sociais (BARROS, 2009, p. 41). Nesse sentido, o
historiador Pierre Nora, cujas reflexões também são em parte tributárias de Halbwachs,
definiu a memória coletiva como "o que fica do passado no vivido dos grupos, ou o que
os grupos fazem do passado." (apud LE GOFF, 1990, p. 472).
Os “lugares de memória” são uma contribuição teórica importante de Pierre Nora
(1993) para as discussões sobre os usos da memória histórica. Segundo o autor, no
ocidente o desenvolvimento industrial e a modernização das sociedades fizeram com que
organizações tradicionais (como a escola, a igreja, a família) responsáveis pela
conservação e transmissão de valores, enfim, pela reprodução da memória
(principalmente através da oralidade) fossem perdendo essa função. Com o declínio da
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tradição oral, os liames que uniam os membros desses grupos foram se tornando cada vez
mais fracos por causa dessa fragilidade na preservação e repasse dos valores identitários,
promovendo assim uma “crise de memória”. Em resposta ao fim da “sociedade-
memória”, ao “sentimento que não há [mais] memória espontânea”, como diz Nora
(1993), os homens passaram a recolher e guardar vestígios do passado em “lugares de
memória”, mananciais de tradição responsáveis pela difusão daqueles valores que
antigamente eram passados de geração em geração diretamente pelos seus membros. Os
“lugares de memória” surgem da constatação de que nessas novas condições “é preciso
criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar
elogios fúnebres, notariar atos (...)” (NORA, 1993, p. 13). Os “lugares da memória”
coletiva podem ser, portanto, materiais ou simbólicos e carregam uma espécie de herança
memorial dessas sociedades. São
Lugares topográficos, como os arquivos, as bibliotecas e os museus; lugares
monumentais como os cemitérios ou as arquiteturas; lugares simbólicos como as
comemorações, as peregrinações, os aniversários ou os emblemas; lugares
funcionais como os manuais, as autobiografias ou as associações: estes
memoriais têm a sua história (NORA apud LE GOFF, 1990, p. 473).
Na perspectiva de Nora, podemos considerar os meios de comunicação também
como “lugares de memória”, incluindo aí não só os meios tradicionais como TV, rádio e
impressos, mas também, principalmente hoje em dia, a internet, na medida em que ela
contribui fundamentalmente para armazenar e repassar os fatos e valores que ajudam a
configurar a memória coletiva e a própria história. Os meios de comunicação são, segundo
Le Goff (1990, p. 476), “novos utensílios de produção dessa memória”. Considerando
que são os acontecimentos vividos pelos homens- e portanto históricos- os elementos
constitutivos da memória individual e coletiva, (que está, por sua vez, incrustrada nos
“lugares de memória”), Michel Pollak lembra que eles podem ser vividos pessoalmente
e também pelo grupo ou coletividade a qual a pessoa se sente pertencer, ou seja, vividos
indiretamente. Nesse último caso, “São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre
participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é
quase impossível que ela consiga saber se participou ou não.” (POLLAK, 1992, p. 2).
Nesse sentido, é inevitável pensar também nos meios de comunicação, e, neste trabalho
em específico, na internet, como importantes agentes históricos, criadores de sentidos, de
significações que passam a povoar a memória das pessoas.
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(...) não são eles [os meios de comunicação] os disseminadores de toda uma galeria
de heróis, modelos de beleza e de realização que povoam a fantasia desse final de
século? (...) No seu papel de retratar a realidade, bem como de trabalhar a fantasia
e a ficção, os meios constróem e veiculam um conjunto de imagens e
representações, em um espaço simbólico próprio, que tem a ver com suas
características e com sua maneira de se relacionar com seu público (ENNE, 2004).
Tancredo: o herói da mídia
“Jamais houve na história do Brasil um assunto tão noticiado, exposto em detalhes
e debatido na imprensa quanto a doença, a agonia e a morte do presidente Tancredo
Neves”. A frase é da revista Veja em sua edição especial de 01/05/1985, p. 114. De fato,
esse período de cerca de 40 dias foi um marco no jornalismo brasileiro. Rendeu milhares
de fotos, páginas de jornais e revistas e centenas de horas de reportagens e transmissões
ao vivo nas rádios e TVs em uma cobertura espetacularizada do drama vivido pelo
presidente eleito. Foi o momento em que se consumou a imagem heroificada que os meios
de comunicação começaram a construir do político mineiro, desde a derrota da emenda
das “Diretas Já” e o lançamento de sua candidatura à presidência, como o “salvador da
pátria”, o homem que lutou e venceu ditadura, em sua missão de redemocratizar o País
(PÁDUA, 2011).
Todas as grandes redes de televisão montaram esquemas gigantescos de cobertura
desde a internação do presidente, em Brasília, até sua morte, em São Paulo. Como lembra
Ribeiro (2008, p. 250), “(...) ninguém perdia nenhum detalhe da descrição. As pessoas
queriam, ao longo da agonia de Tancredo, saber passo a passo dos procedimentos, como
se pudessem opinar, decidir e ajudar a salvar o presidente quase empossado”. No
domingo, dia 21 de abril, o anúncio da morte de Tancredo, já no fim da noite, foi
acompanhado por 80 milhões de telespectadores. As emissoras de TV bateram recordes
de audiência, mantidos nos dias seguintes (BARBOSA, 2011). A narrativa dramática e
engrandecedora da imagem de Tancredo se repetia em todos os telejornais,
principalmente no mais importante deles, o Jornal Nacional, líder de audiência em todo o
país. Com a sua morte, o tom emocional atingiu níveis estratosféricos (RIBEIRO, 2008, p.
250).
O enterro, em São João del Rey, foi transmitido ao vivo, como um grande
espetáculo midiático que reforçava a imagem quase santificada de Tancredo. As
“Diretas” e a posterior campanha à presidência eram tratadas, retrospectivamente, como
luta pela liberdade, pela democracia, e Tancredo como o cavaleiro que comandou essa
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cruzada. Nesse sentido promoveu-se uma estreita ligação entre ele e o maior herói
nacional, Tiradentes, que também morreu em 21 de Abril. Passava-se a imagem de que,
assim como seu conterrâneo, Tancredo também havia sofrido e morrido em nome do ideal
de liberdade: eram dois mártires que se sacrificaram em nome de uma causa nobre e
coletiva, que se sacrificaram pelo seu povo (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p. 173). O
martírio de Tancredo era associado ao de Jesus Cristo crucificado, remetendo a um
componente religioso que, ao lado do patriotismo, caracterizou o programa, assim como
toda a cobertura realizada pela TV Globo (BARBOSA, 2011, p. 229). Para Marialva
Barbosa (2011, p. 231), a construção dessa imagem idealizada atendia à necessidade de se
configurar para a posteridade um personagem tão grandioso quanto a própria cerimônia
em uma operação de construção de uma memória histórica. Dessa forma, a TV
rememorava fatos da vida de Tancredo que, organizados em uma narrativa apologética,
construíam a imagem de um grande personagem histórico.
Muitos sentidos construídos nos programas da Rede Globo, em torno de Tancredo,
foram recorrentes na maioria dos outros veículos de comunicação. Grandes e pequenas
emissoras de rádio também difundiram ondas de ufanismo que ajudaram a forjar na
memória coletiva uma imagem idealizada do político mineiro. A rede Bandeirantes, por
exemplo, atingiu quase todo o País com suas 100 emissoras, conquistando públicos que
sequer tinham o hábito de ouvir rádio e passaram a acompanhar o noticiário, também
carregado de emoção (Veja, 01/05/85, p. 117). Mesmo os grandes jornais,
tradicionalmente mais analíticos e críticos que a TV e o rádio, ajudaram a propagar
acriticamente a imagem heroificada de Tancredo, um comportamento que já se pode
observar desde a campanha e a eleição à presidência, tratada como marco de grandes
transformações para o País, de um novo tempo que começava, como mostram as primeiras
páginas de três grandes veículos, o Estado de Minas, a Folha de São Paulo e o Jornal do
Brasil (abaixo).
Figuras 1, 2 e 3.
Reprodução da capa
dos jornais Estado de
Minas, Folha de São
Paulo e Jornal do
Brasil repercutindo a
eleição de Tancredo,
16/01/1985.
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O tom impresso na cobertura da sua morte foi um desdobramento previsível de
todo o engajamento emocional com que a figura de Tancredo foi tratada desde que seu
nome foi lançado com candidato a presidente (PÁDUA, 2011).
Os jornais Globo e Última Hora
(ao lado) traziam lacônicos e ao mesmo
tempo eloquentes títulos que, para além
do óbvio, expressavam a perplexidade que
tomava conta da população e aumentavam
a carga dramática do acontecimento,
através do arranjo gráfico que privilegiava
a força que o verbo morrer e o nome do
político adquiriam juntos: “Morreu
Tancredo”, “Tancredo morreu”. No caso do Última Hora há ainda a associação, através
de recursos gráficos, entre Tancredo e o Brasil. O presidente, cujo rosto é colocado sobre
o mapa do país, pintado de preto, representava toda a nação, que estava coberta de luto
pela sua morte.
A Folha de São Paulo, em 22/04/85, trazia logo na primeira página do dia seguinte
à morte a comparação entre Tancredo e Tiradentes, uma referência ao papel de mártir
nacional do qual ambos foram investidos: “O presidente eleito Tancredo Neves morreu
ontem, dia de Tiradentes, às 22h23, no Instituto do coração, em
São Paulo”, dizia a primeira frase do texto. E, assim como seus
concorrentes, o periódico propagava também a ideia de um
novo País e da continuidade das mudanças, a serem
promovidas pelo seu sucessor, José Sarney. País esse pelo qual
Tancredo lutou e sofreu heroicamente durante “todo o drama
da doença”, como menciona um outro título logo abaixo da
foto.
Segundo Tarcísia Travassos (2009), que estudou a
construção verbi-visual dessa capa, a Folha agiu “construindo
a imagem pública do presidente eleito como grande líder
político e mártir da nossa história”. Para a autora é clara “a intenção de consagrar
Tancredo Neves como um herói da nação brasileira”.
Figuras 4 e 5. Reprodução da capa dos jornais O Globo e Última Hora, 22/04/1985.
Figura 6. Reprodução do jornal folha de São Paulo, 22/04/1985.
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Na narrativa da maior parte da mídia, Tancredo Neves adquiria o estereótipo dos
heróis mitológicos clássicos (CAMPBELL, 1990, p. 137-181): dotado de qualidades
excepcionais, perseverança, coragem e ideais altruístas ele toma para si - e em nome do
seu povo - a missão salvadora de conduzir o País à democracia. Porém, é no período da
doença e morte que isso se completa definitivamente. Entre fatos do presente e a
rememorações de outros passados, os veículos ajudavam a construir uma certa memória
sobre Tancredo e a própria história recente do País: a de defensor da ordem, sábio,
competente, astuto e líder, condensadas em uma outra maior: a de herói conciliador
(PÁDUA, 2011). Assim, evocando certas lembranças na construção de uma determinada
memória, a imagem de Tancredo é forjada como a do grande homem público, grande
democrata, conciliador, moderado, aquele que condenava os “revanchismos”, aclamado
pelo povo e defensor da liberdade, ideal pelo qual, como um mártir, lutou mesmo doente
e enfrentando enorme sofrimento (PÁDUA, 2011).
A imagem viva do herói no ciberespaço 30 anos depois de sua morte
Como foi mostrado, no discurso dos meios de comunicação da década de 80 foram
adotados certos procedimentos enunciativos que configuraram a Tancredo uma
determinada visibilidade midiática, acentuando características como a sabedoria,
moderação, coragem, competência, liderança, patriotismo, heroísmo e sacrifício,
reforçando lembranças e promovendo esquecimentos, ou pelo menos silenciamentos, em
um processo de enquadramento de memória (POLLAK, 1989) que contribuiu para que o
ex-presidente ganhasse um lugar no mitológico panteão dos heróis nacionais, assim como
outros personagens históricos que também tiveram sua imagem construída socialmente,
como Tiradentes, Getúlio Vargas e a princesa Isabel.
Mas, e hoje, passados pouco mais de 30 anos de sua morte, como a memória
coletiva em relação a Tancredo está configurada? Obviamente uma resposta precisa não
é possível devido à vastidão e complexidade do que chamamos memória coletiva, bem
como dos “lugares de memória” aos quais ela se liga, porém é possível ter uma ideia disso
recorrendo à análise de como sua imagem aparece em diversos sites, de como ele é
lembrado por pessoas e grupos de variados perfis socioeconômicos no interior da
cibercultura, ou seja, na forma típica de cultura oriunda das interações sociais no espaço
virtual da rede mundial de computadores. Com todas as modificações que provocou em
nossa forma de existir em sociedade, de apreender e representar a realidade, a internet
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também criou uma forma peculiar de visibilidade mediática. Vejamos, portanto, como
aparece a imagem de Tancredo Neves nesse contexto virtual.
À primeira vista, o que chama a atenção é a enorme quantidade de sites com
referências a Tancredo. São centenas de páginas pessoais e institucionais com biografias,
análises, informações históricas, acadêmicas e políticas, o que aponta para uma das
características mais marcantes que o advento da cibercultura provocou nesses nossos
tempos: “uma explosão em miríade no caleidoscópio de canais e filtros
concentracionários dos media de massa socialmente destinados à lógica da (auto)
exposição e da (auto) promoção.” (TRIVINHO, 2008, p. 8). Três décadas depois da sua
morte, Tancredo ainda é (agora no ciberespaço) uma celebridade e, como as celebridades
contemporêas, desfruta de considerável visibilidade. O que interessa observar aqui, em
específico, é a relação entre essa visibilidade e a sua imagem projetada no que tange a
memória forjada pela mídia desde a segunda metade dos anos 80.
Uma das grandes características da internet, apontadas de forma positiva, é a
pluralidade de existência de múltiplos pontos de vista e de democratização da informação.
O usuário pode não somente interagir mais facilmente criticando, sugerindo, postando
informações em sites de terceiros (incluindo aí principalmente de instituições e
empresas), mas também construindo suas próprias páginas e expressando visões
alternativas sobre vários assuntos, muitos deles marginalizados pela grande mídia. Isso
realmente ocorre, mas ocorre também que apesar dessa possibilidade democratizante, que
tornaria mais difícil a criação e sobrevivência de mitos, o que se vê na prática, no caso
estudado, é o prevalecimento de uma visão hegemônica (tal como a construída pela TV,
jornais e revistas influentes dos anos 80) reproduzida nessa profusão de sites, onde se
cristaliza a imagem de Tancredo como herói nacional.
Não é objetivo deste trabalho fazer um levantamento e estudo exaustivo de sites,
até pela sua própria limitação de espaço, porém, algumas análises foram realizadas para
ilustrar a questão da sobrevivência da imagem heroificada de Tancredo na grande rede e
corroborar a ideia de que mesmo no ambiente profuso do virtual, onde se espera encontrar
uma diversidade muito maior de ideias e versões sobre a realidade do que nos meios
tradicionais, verifica-se um processo de reprodução homogeneizadora de um tipo de
imagem do ex-presidente.
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O site memóriaviva.com.br3, por exemplo, surgiu em 1998, segundo seu autor “da
constatação de que a Web brasileira, assim como o próprio país, não tem memória”. É
um dos que possuem maior conteúdo sobre a vida de grandes personalidades da história
política e cultural do país, tendo ganhado inclusive importantes prêmios em concursos
específicos de webpages, como o IBest. É também um dos mais conhecidos por quem
pesquisa informações desse gênero na internet. O site é um exemplo de como a imagem
de grande estadista e herói ainda é reproduzida fortemente no espaço da internet. Além
de lembrar a trajetória do ex-presidente, associando sua imagem à de outros mitos da
cultura política nacional como Getúlio Vargas, JK e Tiradentes, também o retrata como
agente ativo na luta contra o regime militar. Tancredo aparece com o escolhido, aquele
que aceita o desafio de se candidatar à presidência da República em nome do bem
nacional. O site traz também um link para outra página intitulada “bom dia democracia-
o pensamento de Tancredo”, com frases famosas suas (pinçadas de discursos) que
reforçam a imagem do político sensato, moderado, corajoso e sábio que se entrega à
missão heroica de devolver a liberdade ao País:
Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 anos, Tiradentes, aquele herói
enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste País uma grande nação.
Vamos fazê-la.
Com o êxtase e o terror de haver sido o escolhido, como diria Verlaine, entrego-
me hoje ao serviço da nação.
As alvoradas da liberdade não surgem como um acontecimento natural. As
manhãs da liberdade se fazem com a vigília corajosa dos homens que exorcizam
com sua fé os fantasmas da tirania.
O pensamento de Tancredo, filtrado obviamente nas declarações mais conhecidas
ou de impacto retórico, estão presentes também em sites que viraram febre na web,
dedicados exclusivamente a reproduzir frases de celebridades.4 Neles observa-se a
construção, através das frases selecionadas, de uma imagem engrandecedora e
romanceada do político que lutou pela democracia.
Nas páginas especializadas em biografias, de forma geral o mesmo tratamento se
repete. No exemplo a seguir, do site e-biografias.net5, Tancredo é comparado a Vargas na
3 http://www.memoriaviva.com.br/tancredo (Acesso em: 22/01/2017). 4 Por exemplo os sites:
www.frasesfamosas.com.br/de/tancredo-neves.html (Acesso em: 22/01/2017).
www.ponteiro.com.br/vf.php?p4=6745 (Acesso em: 10/02/2017).
http://frases.netsaber.com.br/ (Acesso em: 10/02/2017).
www.frasesonline.com.br/frases.php?id=2123 (Acesso em: 04/03/2017). 5 www.e-biografias.net/biografias/tancredo_neves.php (Acesso em: 04/03/2017).
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reação que sua morte provocou e, de forma análoga, à dimensão política do presidente
morto em 1954:
Neves representava a esperança do cidadão brasileiro após o fracasso da
campanha pelas diretas. No entanto, não chegou a tomar posse. (...) Tancredo
Neves faleceu no dia 21 de abril de 1985 depois de trinta e oito dias de
internamento. O povo esperava por uma festa, mas recebeu um triste notícia que
só teve reação semelhante no contexto nacional com o suicídio de Vargas.
Um site bastante usado em pesquisas escolares, o histoblogsu.blogspot.com6,
também compara Tancredo a Getúlio Vargas e destaca seu suposto caráter popular,
inovador e transformador: “Tancredo propunha começar uma Nova República no Brasil
e contava com o apoio da grande maioria da nação.”
Em outra página voltada ao público adolescente, o fotolog.com.br7, o ex-
presidente é considerado “a personalidade brasileira mais importante da década de 80” e
identificado com a juventude do País em sua luta pela democracia. Tancredo é, em
algumas referências, o herói-mártir que deu a vida pela democracia e uniu a nação.
O site de uma das maiores instituições de ensino superior, a Fundação Getúlio
Vargas8, no seu “Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro”, se refere a Tancredo assim:
Na noite de 21 de abril, dia consagrado à descoberta do Brasil, ao martírio de
Tiradentes e à transferência da capital para Brasília, Tancredo Neves faleceu,
depois de cumprir um calvário de 34 dias. (...) O presidente da Câmara
emocionou os presentes ao afirmar: "Tancredo Neves, você foi duas vezes mais
do que eleito, plebiscitado. Vivo, plebiscitado pela esperança para governar esta
grande nação. Morto, plebiscitado pelas lágrimas, pelas preces, pela amargura
e pelo pranto dos governantes que restaram neste grande país." (grifos meus).
O projeto do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro da FGV é referência para
pesquisadores e estudantes, uma importante fonte sobre os personagens políticos da
história do país. Esse mesmo texto laudatório a Tancredo produzido pela Fundação é
reproduzido em centenas sites e blogs9 em um processo de “copiar e colar” que ajuda a
consolidar na contemporaneidade, através dessas mídias, a mítica figura heroica de
Tancredo.
Entre as imagens fixadas na memória coletiva nacional ao longo de anos e
perceptíveis nas páginas da internet (que se configuram em novos “lugares de memória”
6 http://histoblogsu.blogspot.com/2009/09/diretas-ja.html (Acesso em: 02/03/2017). 7 www.fotolog.com.br/photomusicas/63069511 (Acesso em: 02/03/2017). 8 http://cpdoc.fgv.br/acervo/dhbb (Acesso em: 02/03/2017). 9 Por exemplo pelos sites:
https://standeuter.wordpress.com/2009/04/21/25-anos-da-morte-de-tancredo-neves,
http://memoriasdeumavida-sobral.blogspot.com.br/2010/07/decada-de-80-personalidades_11.html,
http://hid0141.blogspot.com.br/2009/04/tancredo-de-almeida-neves.html (Acesso em 03/03/2017).
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e ajudam a formar novas memórias, em um processo de reprodução) uma das mais fortes
é de Tancredo como inimigo do regime militar (assim como se difundiu na mídia da
década de 80), contra quem teria lutado ativamente e que por quem foi perseguido, o que
não tem correlação fiel com os fatos históricos (PÁDUA, 2011). Em alguns blogs e fóruns
as teorias conspiratórias sobre a morte de Tancredo têm como alvo principal o governo
militar e seus aliados:
a morte de Tancredo não foi fatalidade, mas um plano minuciosamente
arquitetado (...) Tancredo foi assassinado quando perceberam que a vitória era
inevitável.10
Naquele ano eu servia ao exército e era um tempo de muitas incertezas. Havia
sim, interesses dos milicos que o Tancredo não tomasse posse (...) Só quero dizer
que nos quartéis o clima era de incerteza e descontentamento entre os oficiais do
comando. Algo estava para acontecer e aconteceu. Não foi morte natural!11
Permanece a memória do grande político, o homem sábio, o líder, o herói nacional
que acabou com a ditadura e devolveu a democracia ao país, assim como os
esquecimentos históricos que a contrariam ou pelo menos questionam essas versões. O
que se observa, como já foi dito, é uma reprodução, no ambiente da internet, da mesma
imagem de Tancredo construída pela imprensa (revistas, jornais, TV, rádio), desde os
anos 80, na medida em que esses espaços virtuais se constituem, na perspectiva de Nora
(1993), em novos “lugares de memória”. Essa reprodução é explícita e literal, por
exemplo, em páginas que pretendem narrar os fatos históricos citando diretamente como
fonte os jornais de época, segundo a crença generalizada de que a imprensa é o reduto da
imparcialidade, verdade e confiança- um retrato fiel da realidade. Uma ONG de
divulgação literária, a Abrali,12 reproduz a primeira página do Jornal do Brasil de
22/01/85 que diz: “Tancredo de Almeida Neves, 75 anos, símbolo do maior, mais alegre
e mais pacífico movimento popular de mudanças políticas já ocorrido na História do
Brasil, morreu ontem, dia de Tiradentes, às 22h23min.” (grifo meu).
Comparando com a cobertura dos grandes veículos de comunicação em 1985, o
que muda em relação ao que é visto no contexto da visibilidade midiática na internet hoje
são as características principais do processo discursivo que levou à construção dessa
imagem heroificada de Tancredo. Naqueles veículos o discurso do herói era forjado
10 Blog Conspiração, os mistérios da humanidade. http://rodrigoenok.blogspot.com/2009/08/o-
assassinato-de-tancredo-neves.html (Acesso em: 02/03/2017). 11 www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/04/315767.shtml (Acesso em: 02/03/2017). 12www.abrali.com/033fatos_e_personagens/2104tancredo_neves/manchetes_de_jornais_22_04_85.htm (Acesso em:
02/03/2017).
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edição após edição, de forma argumentativa, onde os fatos eram contextualizados e
correlacionados até formarem um todo de sentido baseado em uma conexão bem
amarrada e com um propósito, segundo os interesses políticos e econômicas desses
veículos ou a conformação ideológica de seus donos e editores (PÁDUA, 2011). Já na
maioria dos sites analisados, a mesma imagem do herói aparece, porém, baseada em um
discurso marcado pela fragmentação, pela falta de conexão argumentativa, pela brevidade
e superficialidade das informações. Parece mais um mosaico onde peças jogadas formam
determinada imagem sem a necessidade de maiores explicações, argumentação,
contextualização ou propósito. Nesse sentido, o ciberespaço reflete a influência lógica
“dromocrática” (TRIVINHO, 2008) da história ocidental: as informações precisam ser
sucintas para serem lidas e absorvidas rapidamente, pois quantidade de informação
demanda tempo, algo cada vez mais precioso, principalmente quando se tem uma oferta
de milhares de páginas- e também a lógica pós-moderna do social e da cultura, marcada,
por exemplo, pela fragmentação e “ausência de finalidade e incerteza na produção
mediática de signos” (TRIVINHO, 2008, p. 6).
Outra característica que aponta para a fragmentação é o fato de se observar os
mesmos trechos de textos em várias páginas diferentes. As mesmas informações vão
sendo reproduzidas, indiscriminada e acriticamente, de site para site, em um processo de
cópia e colagem, que aponta, no caso estudado, para a reprodução de uma determinada
imagem de Tancredo Neves no espaço e no tempo, pois os sites têm datas de criação e
modificação diferentes uns dos outros (alguns mais recentes, outros mais antigos).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tancredo Neves ocupou uma posição central no conturbado cenário da transição
do regime militar para a democracia, no começo da década de 1980. Sob a bandeira da
grande conciliação nacional, o líder conservador do PMDB costurou uma série de
acordos com políticos que faziam oposição ao regime, com dissidentes do PDS e até
com membros civis e militares do próprio governo, em um projeto de mudança de regime
conciliada e conservadora. Na época, a grande mídia, em geral, acampou integralmente
sua candidatura, pois naquele momento ele representava a possibilidade de uma transição
“segura”, sem sobressaltos ou rupturas (ameaça essa representada por partidos e grupos
de esquerda ou extrema direita, considerados “radicais”) que poderiam prejudicar os
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interesses da elite política e econômica da qual as grandes empresas de comunicação
fazem parte (PÁDUA, 2011).
Durante a campanha à presidência seus aliados investiram na criação de uma
imagem ufanista na qual Tancredo aparecia como o único capaz de salvar o País da crise
econômica e dos graves problemas sociais. E mais importante: a do homem que
acabaria com 20 anos de ditadura e devolveria a democracia ao Brasil. A maior parte dos
grandes veículos de comunicação colaborou na construção e difusão dessa imagem
heroificada, especialmente durante a cobertura de sua doença e morte, quando a figura e
a história de Tancredo ganharam ares míticos, ao custo de muita dramatização e, em
alguns casos, distorções e silenciamentos em relação a alguns fatos históricos. Esse
processo de construção de imaginário foi tão intenso que ajudou a fazer com que
essa imagem impregnasse a memória coletiva sobre o político mineiro e se cristalizasse
no senso comum sobre a história do Brasil.
A despeito de um lapso temporal de mais de 30 anos, a figura do herói
ainda sobrevive no imaginário coletivo, graças, em grande parte, à sua preservação e
reprodução em determinados “lugares de memória”, como os de natureza midiática na
internet: sites de natureza jornalística, de entretenimento, educação, pessoais, etc, que
abordam, de alguma forma, a história política do país. O Tancredo que “derrotou a
ditadura” e, assim como Tiradentes “morreu para devolver a liberdade ao povo,
retratado pelos grandes veículos de comunicação naquele período da década de 80, é o
mesmo que pode ser visto ainda hoje nesse imenso espaço de sociabilidade virtual.
Verificou-se que, apesar do potencial de abrigar e promover múltiplas e divergentes
versões da realidade histórica, o que abriria espaço para reflexões críticas e
desmistificadoras, a internet se mostrou, predominantemente, nesse caso, um ambiente
também de reprodução acrítica de uma memória coletiva idealizada desse personagem
político da história recente do País.
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duradoras do público”. In: PRATA, Nair; CAMPELO, Wanir. Tancredo Neves: a travessia
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revistas Veja e Manchete (1982- 1985). 2011. 252 fl. (Dissertação) Mestrado em Comunicação e
Semiótica- PUC, São Paulo, 2011.
PALHA, Cássia Louro. “Televisão e polírica: o mito Tancredo Neves entre a morte, o legado e a
redenção”. In: PRATA, Nair; CAMPELO, Wanir. Tancredo Neves: a travessia midiática.
Florianópolis: Insular, 2011.
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vidas através de uma morte. Revista Opsis, v. 8, n. 11, 2008. Disponível em:
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<http://www.encontrosdevista.com.br/Artigos/A_IMAGEM_DE_TANCREDO_NEVES_NO_J
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TRIVINHO, Eugênio. “Visibilidade mediática e violência transpolítica na cibercultura: condição
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