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A invenção da América LatinaIV – O século XX e a modernização
OBJETIVOS
• Apresentar os principais episódios que constituem a Revolução Mexicana
• Discutir as principais interpretações historiográficas sobre o tema
• Qual o papel da Revolução no processo de modernização da América Latina?
• Analisar os discursos e memórias sobre a Revolução e seu significado para o México atual e para a América Latina
A questão da modernização
• O problema da “modernização incompleta”
• Modernidade: etapa histórica
• Modernização: processo sócio-econômico.
• Modernismos: projetos culturais que renovam as práticas simbólicas com sentido experimental ou crítico
Desafio interpretativo
• Pensar a América a partir de seu processo cultural e político
• Metáfora da América em seu labirinto
• A Revolução Mexicana é vítima da adoção de modelos explicativos para pensar um processo específico: socialista, liberal, apenas uma rebelião?
• Orozco.
Zapata
O espaço da Revolução do México
• Interesse pela Revolução: Revolução Cubana 1959
• Primeiro grande movimento popular do século XX
• Questões híbridas: – Inspiração liberal: alternância de poderes, eleições
periódicas, independência entre os poderes. (plano de San Luis de Potosi (out./1910)
– Pressão camponesa: reforma agrária e posse comunal da terra (ejidos)
Antecedentes da RevoluçãoPorfiriato (1876-1911)
• Porfírio Diaz assumiu o poder com uma plataforma liberal laicização do Estado e reformas políticas
• “muita administração e pouca política”
• Período de crescimento econômico e consolidação da fronteira norte
• Grandes investimentos externos na mineração
O Porfiriato (1876-1911)
• Concentração agrária (haciendas) nas mãos dos guachupines (3% pop.). 95% dos camponeses não eram proprietários.
• Construção de 20 mil Kms de ferrovias
• Crescimento populacional e de renda (duplicou em 10 anos)
“A revolução não nasceu como filha da miséria e da estagnação,
e sim da desordem provocada pela expansão e mudança”
(CAMÍN & MEYER . À sombra da Revolução Mexicana.)
O “crescimento desordenado”
• investimento estrangeiro transformou as cidades
• Provocou aumento de custos• Aliança com o capital estrangeiro
crescimento e dependência• a mineração pagou altos salários mas
criou populações flutuantes e instáveis• discriminação anti-mexicana do emprego
nacionalismo
O custo da modernização
• as ferrovias encurtaram distâncias e multiplicou os preços das terras concentração de terras
• modernização agrícola destruição da economia camponesa e dos direitos das comunidades rurais: fome, peonagem e migração
• cidades opulentas e campo miserável
Pax Porfirista • repressão aos
caciques agrários e a movimentos reivindicatórios de trabalhadores urbanos
• intolerância e repressão contra os novos agentes sociais
Os caminhos até a Revolução (1908)
• Porfírio Diaz e a manifestação do cansaço político: O México “estava preparado para a democracia” podendo existir oposição.
• Não disputaria a reeleição• Criação da Companhia petrolífera El Águila em
aliança com a Europa para conter o capital dos EUA
• Fatores climáticos e terremotos desmoronaram a produção agrícola. Queda de exportações. Crise econômica.
1909
• criação do Clube Central Anti-reeleição
• Liderança de Francisco Madero, de origem latifundiária, que cruza o país pela democracia e contra a reeleição de Porfírio Diaz
• “O povo não quer pão, mas liberdade”
1910
• centenário da Independência: o oficialismo das comemorações e a idéia de um país que “cumprira o seu destino” e que superou as desintegrações internas e catástrofes;
• candidatura de Madero à presidência que tinha “apoio” dos EUA por causa das medidas recentes de Porfírio Diaz.
1910
• Discurso de San Luis de Potosí: “o povo mexicano está disposto a morrer em defesa de seus direitos”.
• Madero foi acusado de insulto às autoridades e tentativa de rebelião
• preso durante o período eleitoral e Porfírio Diaz foi reeleito em Julho de 1910.
Madero
• Após as eleições obteve liberdade condicional e deveria ficar confinado em San Luis
• Desobedeceu ao acordo e foi para o Texas de onde liderou a insurreição com o Plano de San Luis
Plano de San Luis de Potosi
• nulidade das eleições;
• ilegalidade do regime reeleito;
• nomeação de Madero como novo presidente
• conclamava a insurreição para o dia 20 de novembro.
• O levante só ocorre em Maio de 1911.
Archivo Casasola.
1911
• alianças de Madero com Pancho Villa (norte) e Emiliano Zapata (sul)
• formação de governo provisório 21/05, chefiado pelo ministro das Relações Exteriores, Francisco León de la Barra
• desmobilização das forças maderistas • reconhecimento do poder do exército federal • a derrubada do porfiriato como “obra de um
levante ministerial”
Tratados de Ciudad Juárez
• Renúncia de Porfírio Diaz (25/05)
• Sem menção ao artigo do Plano de San Luís que prometera terra aos camponeses
• Eleições em Outubro de 1911
Período Madero (1912/13)
• Propostas de abertura política: parlamento, eleições, imprensa
• Repressão às reformas sociais • Incapacidade de alterar o exército
porfirista • Sensação de imobilidade • Rompimento de Zapata e outros líderes
revolucionários pelo não atendimento das reivindicações camponesas;
Plano de Ayala (28/11/1911)
• proposta camponesa
• planos de metas após a repressão maderista que invadiu e destruiu as plantações dos camponeses
• Reinicio dos conflitos armados e a promessa de distribuição de terras
A rebelião no período Madero
• Durou todo o período do governo Madero (fev/13)
• Instabilidade política
• Madero foi derrubado pelo Gal. Huerta, oriundo do porfirismo, que ordenou o assassinato do ex-presidente em 22/02/13.
Archivo Casasola
Huerta (1913/14)
• Retorno do porfirismo
• Carranza, Villa e Zapata se articulam e formam o exército constitucional
• restabelecer o maderismo, sob a liderança de Carranza (1914), num gesto de equilíbrio de forças entre as três lideranças.
Os líderes da Revolução
• Venustiano Carranza
• Emiliano Zapata
• Pancho Villa
Governo Carranza
• repetição da experiência dos movimentos camponeses com Madero
• Carranza envia uma proposta de reforma agrária tímida e divide os grupos camponeses;
Guerra Civil (1915)
• guerra civil com a derrota de Villa e Zapata
• consolidação do poder de Carranza• reorganização das forças militares• Reconhecimento do governo por outros
países • Os exércitos de Villa e Zapata perderam a
dimensão nacional confinados em suas áreas.
1916/1917
• 1916: as rebeliões agrárias eram expressões regionais
• Sul (Zapata)
• Norte (Villa)
A Constituição de 1917
• o ensino laico, ao encargo do estado preservando-se ainda um setor privado
• a expropriação de terras não cultivadas em favor dos ranchos e dos ejidos
• a jornada de trabalho de 8 horas, regulamentação do trabalho do menor e da mulher, salários iguais para tarefas iguais, direito de greve, organização sindical, justiça do trabalho
Constituição de 1917
• restringiu o poder da Igreja.
• casamento civil obrigatório e o único válido
• secularização do clero, transformando os padres em trabalhadores comuns
O período carrancista (1914/20)
• reativação da atividade econômica• recomposição da burocracia• aliança com os haciendados• criminalização de reivindicações de
trabalhadores• Eliminação do zapatismo e assassinato de seu
líder em 1919 • Villa fastou-se das lutas em 1920 e foi para sua
fazenda. Assassinado em 1923.• Carranza foi assassinado em 21/05/1920
• Cartaz da polícia de Columbus (EUA) oferecendo recompensa pela captura de Villa.
Carranza - Constituição
O governo Obregón
• Entre junho e outubro de 1920 houve um governo provisório
• após eleições chegou ao poder o general Álvaro Obregón (que lutou ao lado de Zapata, Villa, Carranza contra Huerta)
• período de institucionalização das características liberais da Revolução
• Assassinado em 1928 por partidários da Cristera
Plutarco Elias Calles (24-28)
• Estado afirmou a continuidade do processo revolucionário
• as mudanças ainda estariam por acontecer
• Partido Nacional Revolucionário (PNR) e sua identificação com o Estado mexicano;
• Calles, “el Jefe Máximo de la Revolución” maximato (28/35)
Lázaro Cárdenas (1934-40)
• anos 30 acentuado aumento no número de greves e rebeliões camponesas;
• Fortalecimento da ala esquerda do PNR• Eleição de Cárdenas • Rompimento entre Cárdenas e Calles• Renomeação do partido para PRM (38); PRI
(48)• retomar os princípios da Revolução com a
realização da reforma agrária, a estruturação dos sindicatos e a nacionalização das empresas petrolíferas estrangeiras
Legados da Revolução
• violência excessiva, muitas mortes (1 milhão): para os revolucionários, mártires; para os reformadores, algo a ser evitado;
• prática da simulação como contraponto à violência excessiva
• Imobilismo político: construção de um Estado forte que evitasse ações reacionárias ou revolucionárias
Legados
• redução do pluralismo e ausência do autoritarismo convencional
• crescimento econômico baseado numa economia mista: abertura e intervenção
• Persistência das desigualdades regionais e sociais
• orientação nacionalista, com a origem indígena, mas com um futuro que é o do “mexicano” consolidação da ideologia da mestiçagem
Interpretações sobre a Revolução
• Até metade do século XX o discurso hegemônico sobre a Revolução dizia “la revolución continua”
• propagada pelo governo mexicano• Forma de legitimar o poder político do Partido
Revolucionário Nacional• atrai todos os símbolos e conquistas populares
da Revolução • Nomeia os opositores de contra-revolucionários• Cuba novo viés socialista
Revisionismos historiográficos
• 1970: primeiro revisionismo” Adolfo Gilly e Arnaldo Córdova
• 1980: segundo revisionismo” Ramón Eduardo Ruiz
• diferentes conceitos de revolução, datações e delimitações com perspectivas ideológicas específicas
Adolfo Gilly
• Influência trotskista
• “rememoração” popular sobre a interrupção da Revolução – por intervenção do Estado
• preparar as próximas lutas e vitórias do povo mexicano
Arnaldo Córdova
• o México passou por uma revolução política, burguesa e populista.
Eduardo Ruiz
• Não houve revolução, mas apenas uma rebelião
• aprofundamento nas semelhanças estabelecidas entre o período de Porfírio Diaz e o revolucionário
Delimitação temporal
• Gilly: 1910 Madero as lutas populares; término: 20 Obregón
• Córdova: 1910 Madero jogos políticos / término: 17 Carranza
• Ruiz: 1905 ano da crise econômica do porfiriato economia / término: 24 crise da balança mexicana
Papel do Estado e da Revolução
• Gilly: revolução interrompida retomada nos anos 40 com Cárdenas: mobilização popular; as massas foram “enganadas”
• Córdova: aspecto burguês e populista desenvolvimento do capitalismo mexicano “estadolatria” (Alan Knight); as massas não tinham forças para transformar o Estado
• Ruiz: não houve revolução, portanto, o Estado não é revolucionário e os camponeses também não tinham o “estofo revolucionário”
O problema do modelo
• Gilly: a insurreição mexicana não pôde avançar até suas conclusões socialistas porque o México não contava com um proletariado organizado
• Córdova: uma revolução social inicia-se com a tomada do poder político produz a abolição do sistema de propriedade
• Ruiz: não houve ruptura com o passado: “não se deve confundir violência com revolução”
O papel das lideranças: Zapata e Villa
• Gilly: não são forças ancestrais como quer a burguesia; representam uma revolução que ainda não terminou.
• As atitudes dos revolucionários mexicanos eram empiricamente anticapitalistas .
Siqueros
As lideranças
• Córdova: os camponeses não conseguiram traduzir seu ódio pelos proprietários de terra
• Não era uma ação coerentemente anticapitalista;
• apenas “joguetes” da burguesia, grupo social melhor preparado para assumir o poder naquele momento
As lideranças
• Ruiz: sem expressividade política
• apenas a eclosão da miserável situação camponesa diante do desenvolvimento capitalista no México
As interpretações sobre as conquistas da Revolução (Gilly)
• a maior conquista revolucionária foi a segurança histórica do povo de ter feito uma revolução;
• a consciência de poder destruir o exército do governo e ocupar sua capital
Conquistas (Córdova)
• a maior conquista foi do Estado
• instaurar uma imagem de grande poder
• Adoção de políticas populistas
• “não deve a nenhum grupo social” por isso possuía poderes ilimitados;
• Possibilidade de desenvolver o capitalismo mexicano
Legado (Ruiz)
• as conquistas da “rebelião” passam pelo desenvolvimento do capitalismo
O problema do modelo
• Paz: “Despojada de doutrinas prévias, alheias ou próprias, a revolução será uma explosão da realidade e uma busca às cegas da doutrina universal que a justifique e englobe na história da América e na do mundo “
Questionamentos
• O debate sobre as formas de interpretar era uma questão para a Revolução ou para a sua historiografia?
• Por que a necessidade de criar um “modelo”?
• Onde está a especificidade da Revolução?
A quem pertence a revolução?
• A partir de 68 massacre de Tlatelolco desvinculação da revolução tutelada pelo Estado
• Movimentos indígenas “verdadeiros filhos da Revolução” contra um Estado usurpador daquele passado
• EZLN
Qual o espaço da Revolução?
• Utopia projeção de um futuro; nostalgia de um passado “não vivido”
• Memórias fragmentadas e apostas no porvir;
• A América é o espaço da utopia
• Risco de encobrimento
• Possibilidade de redenção
“Havia um altíssimo edifício no antigo parque da Lama, na Cidade do México, cuja construção nunca
terminava. Ano a ano, sua altura crescia, mas sempre podíamos ver o
ar através da sua colméia de cimento. Não sabíamos quando, se é que isso aconteceria, o hotel que viria
a ser receberia os seus primeiros hóspedes.
Este edifício talvez seja um símbolo apropriado para a América Latina,
crescendo, mas inacabada, dinâmica, mas repleta de problemas
aparentemente insolúveis (...).
À proporção que a América Latina se despojou da sua pele colonial,
transformou-se cada vez mais numa parte do mundo, mas deixou para trás a maioria dos próprios latino-
americanos. (...) A história recente da América Latina é caótica, veloz, contraditória. Coexistem o burro e o jato, o castiçal de vela e o letreiro a
gás néon.
A metade dos duzentos milhões de jovens latino-americanos nasceu depois que
Fidel Castro tomou o poder em Cuba, em 1959. E toda criança que nasça daqui até o ano 2000 nascerá devendo mil dólares a
um banco estrangeiro.
À medida que crescem e olham o mundo que os rodeia, nossos jovens buscam respostas para tais problemas e observam com senso crítico a
nossa história recente. Por que ainda não fomos capazes de resolver nosso problema
fundamental, que é de unir crescimento econômico com a justiça social, e ambos com a
democracia política? Por que não fomos capazes de dar à política e à economia a
continuidade existente na cultura? As respostas a essas perguntas são tão variadas como as próprias sociedades latino-americanas, que
após a independência se diversificaram extraordinariamente, desenvolvendo-se como
estados nacionais.
Agora, também a Guerra Fria terminara e a América Latina se encontrava em crise, compreendendo que tanto o capitalismo,
como o socialismo, nas suas versões latino-americanas, não haviam
conseguido livrar da miséria a maioria da nossa gente. Nossos modelos políticos,
de direita e de esquerda, haviam-se despencado sobre as nossas cabeças.
Mas tratava-se realmente de modelos nossos? Por acaso, desde a independência, não
estivéramos imitando constantemente os mais prestigiosos modelos estrangeiros na economia
e na política? Era fatal que a América Latina ficasse capturada entre os Rapazes de Chicago e os Irmãos Marx, ou seja, entre o capitalismo selvagem, irrestrito, e um socialismo ineficaz, centralizador e burocrático? Por acaso não possuíamos a tradição, a informação, as
capacidades intelectuais e de organização para criar os nossos próprios modelos de
desenvolvimento, efetivamente compatíveis com o que temos sido, com o que somos e queremos
ser?
No meio da nossa crise dos quatro “Ds” – Dívida, Drogas, Desenvolvimento e Democracia -,
demo-nos conta de que só podíamos responder essas perguntas a partir de nós mesmos, isto é, de dentro de nossas culturas. Demo-nos conta
de que tínhamos uma política balcanizada e fragmentária, sistemas econômicos
fracassados e enormes desigualdades sociais, mas, ao mesmo tempo, contávamos com uma notável continuidade cultural, que se mantinha
de pé em meio à crise generalizada da política e da economia.
Ao terminar a Guerra Fria, a América Latina esperava livrar-se das grandes potências e de
sua opção simplista: comigo ou contra mim. (...) [Diante de um quadro de comunicação global e
de problemas anteriores à conquista, nossa obrigação passou a ser] a de compreender a
nós mesmos, conhecer a nossa cultura, nosso passado, nossas tradições como fontes de uma
nova criação. Mas tampouco nos podíamos compreender sem a cultura dos demais,
especialmente a dos dois grandes reflexos de nós mesmos na Europa e nos EUA. (...)”
(Carlos Fuentes)
Bibliografia• FUENTES, Carlos. O Espelho Enterrado. Rio de Janeiro: Rocco,
2001. ps. 316-317;328-329.• CAMÍN, Héctor Aguilar. MEYER, Lorenzo. À sombra da Revolução
Mexicana: história mexicana contemporânea, 1910-1989. São Paulo – SP, EdUSP, 2000.
• CÓRDOVA, Arnaldo. La ideología de la Revolución Mexicana – la formación del nuevo régimen. México – DF, Editora Era. Primeira Edição: 1973.
• GILLY, Adolfo. La revolución interrumpida – México, 1910 –1920: una guerra campesina por la tierra y el poder. México – DF, Editora El Caballito. Primeira edição: 1971.
• RUIZ, Ramón Eduardo. México: La Gran Rebelión – 1905/1924. México – DF, Editora Era. Primeira edição em Inglês: 1980.
• PAZ, Octavio. O labirinto da solidão. Rio de Janeiro: Paz e Terra• PAVANI, Rafael. Modelos e explicações na historiografia da
Revolução Mexicana. IFCH: Unicamp, 2007.
Rivera. Os heróis do México