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Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante* Francisco Ferreira Jorge Neto** A JUSTIÇA DO TRABALHO E A COBRANÇA DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E DE IMPOSTO DE RENDA. BREVES ENFOQUES. DESDOBRAMENTOS DAS ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS IMPOSTAS PELA LEI N. 11.457, DE 16/3/2007 Resumo: As inovações da Lei n. 11.457 são: a) a representação da União pela Procuradoria-Geral Federal quanto as contribuições previdenciárias e do imposto de renda; b) a competência da Justiça do Trabalho no tocante às contribuições previdenciárias sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido; c) a intimação da União das sentenças de conhecimento; d) o acordo, após o trânsito em julgado da sentença ou a celebração dos cálculos de liquidação, não poderá prejudicar os créditos da União (natureza previdenciária ou de imposto de renda); e) a intimação dos acordos ou da sentença será pessoalmente ao Procurador (entrega dos autos com vista). Palavras-chave: competência; contribuição previdenciária; imposto de renda; execução; Justiça do Trabalho. Sumário: 1 Introdução; 2 A União e a Secretaria da Receita Federal do Brasil; 3 A Justiça do Trabalho e as contribuições previdenciárias; 4 A Justiça do Trabalho e o imposto de renda; 5 A decisão homologatória de acordo e a sentença trabalhista. Os recolhimentos das contribuições previdenciárias e do imposto de renda. Recurso Ordinário da União; 6 Liquidação trabalhista e a contribuição previdenciária; 7 A contribui- ção previdenciária na execução trabalhista; 8 Bibliografia. *Advogado. Professor da Faculdade de Direito Mackenzie. Coordenador do Curso de Direito da Faculdade Integração Zona Oeste - FIZO. Ex-Procurador-chefe do Município de Mauá. Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP. **Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de São Caetano do Sul. Mestre em Direito das Relações Sociais - Direito do Trabalho pela PUC - SP. Ex-Professor concursado do Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul - IMES. Professor convidado no curso de pós-graduação lato sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor contratado do UNI-A - Centro Universitário de Santo André - na matéria de Direito do Trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, jul./dez. 2007.

A JUSTIÇA DO TRABALHO E A COBRANÇA DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E ... · Sumário: 1 Introdução; 2 A União e a Secretaria da Receita Federal do Brasil; 3 A Justiça do

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Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante*

Francisco Ferreira Jorge Neto**

A JUSTIÇA DO TRABALHO E A COBRANÇA DASCONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E DE IMPOSTO

DE RENDA. BREVES ENFOQUES. DESDOBRAMENTOSDAS ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS IMPOSTAS PELA

LEI N. 11.457, DE 16/3/2007

Resumo: As inovações da Lei n. 11.457 são: a) a representação da Uniãopela Procuradoria-Geral Federal quanto as contribuiçõesprevidenciárias e do imposto de renda; b) a competência da Justiça doTrabalho no tocante às contribuições previdenciárias sobre os saláriospagos durante o período contratual reconhecido; c) a intimação daUnião das sentenças de conhecimento; d) o acordo, após o trânsito emjulgado da sentença ou a celebração dos cálculos de liquidação, nãopoderá prejudicar os créditos da União (natureza previdenciária ou deimposto de renda); e) a intimação dos acordos ou da sentença serápessoalmente ao Procurador (entrega dos autos com vista).

Palavras-chave: competência; contribuição previdenciária; imposto derenda; execução; Justiça do Trabalho.

Sumário: 1 Introdução; 2 A União e a Secretaria da Receita Federal doBrasil; 3 A Justiça do Trabalho e as contribuições previdenciárias; 4 AJustiça do Trabalho e o imposto de renda; 5 A decisão homologatóriade acordo e a sentença trabalhista. Os recolhimentos das contribuiçõesprevidenciárias e do imposto de renda. Recurso Ordinário da União; 6Liquidação trabalhista e a contribuição previdenciária; 7 A contribui-ção previdenciária na execução trabalhista; 8 Bibliografia.

*Advogado. Professor da Faculdade de Direito Mackenzie. Coordenador do Curso de Direito daFaculdade Integração Zona Oeste - FIZO. Ex-Procurador-chefe do Município de Mauá. Mestreem Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Integraçãoda América Latina pela Universidade de São Paulo - USP.

**Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de São Caetano do Sul. Mestre em Direito das RelaçõesSociais - Direito do Trabalho pela PUC - SP. Ex-Professor concursado do Instituto Municipal deEnsino Superior de São Caetano do Sul - IMES. Professor convidado no curso de pós-graduaçãolato sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor contratado do UNI-A - CentroUniversitário de Santo André - na matéria de Direito do Trabalho.

Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, jul./dez. 2007.

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo do presente estu-do é a análise da Lei n. 11.457, de16/3/2007 e as suas implicações noProcesso do Trabalho, em especial,quanto à execução das contribui-ções previdenciárias e do impostode renda.

Para a estrutura normativada Consolidação das Leis do Tra-balho, a Lei n. 11.457 (art. 42) re-presentou: a) alterações de redaçãono art. 880, caput, além do parágra-fo único do art. 876 e §§ 4º, 3º, 1º e2º, respectivamente, dos artigos832, 879 e 889-A; b) acréscimo dos§§ 5º a 7º e 5º aos artigos 832 e 879.

2 A UNIÃO E A SECRETARIADA RECEITA FEDERAL DOBRASIL

De acordo com o artigo 1º daLei n. 11.457, a Secretaria da Re-ceita Federal passou a ter a deno-minação de Secretaria da ReceitaFederal do Brasil, órgão da admi-nistração direta subordinado ao Mi-nistro de Estado da Fazenda.

Além das contribuições legaisatribuídas à Secretaria da ReceitaFederal, a Secretaria da Receita Fe-deral do Brasil passou a ter a incum-bência de planejar, executar, acom-panhar e avaliar as atividades re-lacionadas à tributação, fiscaliza-ção, arrecadação, cobrança e re-

1Como uma das fontes da Seguridade Social, a Constituição Federal prevê as contribuiçõessociais: a) do empregador, da empressa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, inciden-tes sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquertítulo, à pessoa física que lhe preste serviços, mesmo sem vínculo empregatício; b) do trabalha-dor e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentado-ria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201 (art. 195,I, a, e II, CF).

colhimento das contribuições sociaisprevistas nas alíneas a, b e c doparágrafo único do art. 111 da Lein. 8.212, de 24/7/1991, e dascontribuições instituídas a títulode substituição (art. 2º, caput, Lein. 11.457).

Houve a extinção da Secreta-ria da Receita Previdenciária do Mi-nistério da Previdência Social (art.2º, § 4º).

De acordo com o art. 16, § 3º,II, da Lei n. 11.457, compete à Pro-curadoria-Geral Federal represen-tar judicial e extrajudicialmente aUnião, nos processos da Justiça doTrabalho relacionados com a co-brança de contribuições previden-ciárias, de imposto de renda retidona fonte, e de multas impostas aosempregadores pelos órgãos de fis-calização das relações do trabalho,mediante delegação da Procurado-ria-Geral da Fazenda Nacional.

3 A JUSTIÇA DO TRABALHO EAS CONTRIBUIÇÕES PREVI-DENCIÁRIAS

Antes da EC n. 20/1998, a Jus-tiça do Trabalho, para a posiçãodoutrinária dominante, tinha umaatribuição meramente de fiscaliza-ção.

O magistrado trabalhista so-mente deveria determinar as medi-das necessárias ao cálculo, deduçãoe recolhimento das contribuiçõesprevidenciárias:

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a) nas ações trabalhistas deque resultar o pagamento de direi-tos sujeitos à incidência de contri-buição previdenciária, o juiz, sobpena de responsabilidade, determi-nará o imediato recolhimento dasimportâncias devidas à SeguridadeSocial (art. 43, caput, Lei n. 8.212,com a redação dada pela Lein. 8.620/1993). Nas sentenças judi-ciais ou nos acordos homologadosem que não figurarem, discrimina-damente, as parcelas legais relati-vas à contribuição previdenciária,esta incidirá sobre o valor apuradoem liquidação de sentença ou so-bre o valor do acordo homologado(art. 43, parágrafo único). A auto-ridade judiciária velará pelo fielcumprimento do disposto no arti-go anterior, inclusive fazendo ex-pedir notificação ao InstitutoNacional do Seguro Social (INSS),dando-lhe ciência dos termos dasentença ou do acordo celebrado(art. 44);

b) Provimento n. 1/1996, daCorregedoria-Geral da Justiça doTrabalho, em seu art. 3º, que assimdispõe: Compete ao juiz da execuçãodeterminar as medidas necessárias aocálculo, dedução e recolhimento dascontribuições devidas pelo empregadoao Instituto Nacional de Seguro Social,em razão de parcelas que lhe vierem aser pagas por força de decisão proferi-da em reclamação trabalhista (art. 43da Lei nº 8.212/91, com a redaçãodada pela Lei nº 8.620/93). § 1º –Homologado o acordo ou o cálculo deliquidação, o juiz determinará aintimação do executado para compro-var, nos autos, haver feito o recolhi-

2O Provimento n. 2/1993 foi cancelado pela Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geralda Justiça do Trabalho (DJ – 12/4/2006). Atualmente, as contribuições previdenciárias são disci-plinadas pela Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho nos artigos 78 a 92 da Consolidação.

mento dos valores devidos pelo empre-gado à Previdência Social. § 2º – Ha-vendo pagamento de parcelas de di-reitos trabalhistas, não comprovado orecolhimento previsto no § 1º, o juizdará imediata ciência ao representan-te do Instituto Nacional de SeguridadeSocial, determinando a remessa men-sal do rol dos inadimplentes, proceden-do da mesma maneira em caso dealienação de bens em execução de sen-tença;

c) Provimento n. 2/19932 , daCorregedoria-Geral da Justiça doTrabalho, estabelece o procedimen-to a ser observado no que diz res-peito à incidência e ao recolhimen-to de contribuições, devidas à Pre-vidência Social, sobre o pagamen-to de direitos nas ações ajuizadasna Justiça do Trabalho.

Com a EC. de n. 20/1998houve o acréscimo do § 3º ao art.114 da CF, que assim enunciava:Compete ainda à Justiça do Traba-

lho executar, de ofício, as contribuiçõessociais previstas no art. 195, I, a e II,e seus acréscimos legais, decorrentesdas sentenças que proferir.

Não se podia negar, diante dainterpretação literal do art. 114, §3º, da CF, que a competência daJustiça do Trabalho passou a abran-ger a execução das contribuiçõesprevidenciárias.

Com a Lei n. 10.035/2000,houve uma série de alterações naCLT, para estabelecer os procedi-mentos quanto à execução das con-tribuições devidas à PrevidênciaSocial.

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Na doutrina trabalhista, oart. 114, § 3º, recebeu diversas in-terpretações.

Ao analisar a EC 20, Salva-dor Franco de Lima Laurino3 afir-ma que embora a Emenda n. 20/98tenha ampliado a competência exratione materiae da Justiça do Tra-balho, a instauração da execução fis-cal está subordinada à iniciativa departe. A regra introduzida no § 3º doart. 114 da Carta Política não consa-grou uma hipótese de execução fiscalsem título executivo ou mediante con-denação ex officio.

De maneira a aprimorar o sis-tema de fiscalização e recolhimento dacontribuição social, atribuiu ao juiz dotrabalho, por analogia com a regracontida no art. 40 do Código de Pro-cesso Civil, a incumbência de comuni-car à autarquia a existência de conde-nação em verbas sobre as quais incideo tributo.

A partir daí, compete à própriaautarquia delimitar a pretensão,extrair o título extrajudicial e postu-lar a execução fiscal, que será distri-buída de acordo com as regras de com-petência fixadas pela conjugação dedispositivos da Lei n. 6.830/80 e doCódigo de Processo Civil.

Por analogia com a disposição doart. 262 do CPC – o processo civil co-meça por iniciativa de parte, mas se de-

3LAURINO, Salvador Franco de Lima. A Emenda n. 20/98 e os limites à aplicação do § 3º do art.114 da Constituição da República: a conformidade com o devido processo legal. Revista daAmatra II, Ano 1, n. 1, out. 1999, p. 18.

4OLIVEIRA, Alexandre Nery. Contribuição previdenciária e competência da Justiça do Trabalho:análise da Emenda Constitucional n. 20/98. Revista da Amatra II, Ano 1, n. 1, out. 1999, p. 19.

senvolve por impulso oficial –, incum-be ao juiz do trabalho impulsionar exofficio a execução fiscal, obedecidos,sempre, os limites fixados pelo direitofundamental do due process of law.

Em sentido contrário, Ale-xandre Nery Oliveira4 aduz: O pa-rágrafo 3º acrescido ao artigo 114 daConstituição Federal atribuiu à Justi-ça do Trabalho nítida competênciajurisdicional e não mera atribuição ad-ministrativa, retirando, inequivoca-mente, parcela de competência da Jus-tiça Federal Comum, onde tais discus-sões eram travadas por força do arti-go 109, inciso I, da Carta vigente, in-clusive ante a ressalva contida na partefinal do referido dispositivo constitu-cional.

Diferentemente, portanto, doque vinha expresso em diplomas legaise instruções do Colendo TribunalSuperior do Trabalho, algumas comvícios de inconstitucionalidade aoatribuir função fiscalizatória earrecadadora própria do Poder Exe-cutivo a órgão do Poder Judiciário daUnião, desde a promulgação da Emen-da Constitucional n. 20/98, não se tra-ta mais de compelir a Justiça do Tra-balho a recomendar o recolhimentoprevidenciário e a comunicar o INSS– Instituto Nacional do Seguro Social,autarquia federal, quando ausenteou insuficiente o depósito respectivo,mas, agora, de em execução forçada

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definir-se o valor da parcelaprevidenciária e inclusive ocasionarcom a sentença transitada em julga-do, pertinente a tal peculiar execução,a própria quitação do encargoprevidenciário quando efetivado o pa-gamento ou o desconto cabível. Taisconsiderações são pertinentes porqueao deferir-se nítida competência abso-luta, extraída de parcela das compe-tências regulares da Justiça Federal, aJustiça do Trabalho passa a ter o pa-pel de também definir, em caráter fi-nal, o valor dos recolhimentosprevidenciários devidos em razão desuas sentenças, acarretando, com isso,que sequer o INSS poderá, por contado mesmo fato gerador, apresentaração contra o contribuinte previ-denciário perante a Justiça FederalComum.

Com a EC nº 45/2004, a qualampliou a competência materialtrabalhista, o antigo § 3º do art. 114foi alterado para o inciso VIII doart. 114, com a seguinte redação: Aexecução, de ofício, das contribuiçõessociais previstas no art. 195, I, a, e II,e seus acréscimos legais, decorrentesdas sentenças que proferir.

Além das contribuições sociais,5

a Seguridade Social é financiadapela sociedade de forma direta

5As contribuições sociais são: a) do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada naforma da lei, incidentes sobre: 1) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos oucreditados, a qualquer título, a pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculoempregatício (art. 195, I, a, CF); 2) a receita ou o faturamento (art. 195, I, b); 3) o lucro (art. 195,I, c); b) do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuiçãosobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata oart. 201 (art. 195, II); c) sobre a receita de concursos e prognósticos (art. 195, III).

6Se da decisão resultar reconhecimento de vínculo empregatício, deverão ser exigidas as contribui-ções, tanto do empregador como do reclamante, para todo o período reconhecido ainda que opagamento das remunerações correspondentes não tenha sido reclamado na ação, tomando-sepor base de incidência, na ordem, o valor da remuneração paga, quando conhecida, da remune-ração paga a outro empregado de categoria ou função equivalente ou semelhante, do salárionormativo da categoria ou do salário mínimo mensal, permitida a compensação das contribui-ções patronais eventualmente recolhidas (art. 276, § 7º, Decreto n. 3.048/99).

e indireta (art. 195, caput, CF), me-diante recursos orçamentários daUnião, dos Estados, do Distrito Fe-deral e dos Municípios.

A competência da Justiça doTrabalho abrange as seguintes con-tribuições sociais: a) do emprega-dor, da empresa e da entidade a elaequiparada na forma da lei e quesão incidentes sobre a folha de sa-lários e demais rendimentos do tra-balho pagos ou creditados, a qual-quer título, à pessoa física que lhepreste serviço, mesmo sem vínculoempregatício; b) do trabalhador edos demais segurados da previdên-cia social (art. 195, I, a e II, CF).

A execução da contribuiçãoprevidenciária poderá envolver: aparcela do empregador, a do tra-balhador ou as duas de forma si-multânea. Em qualquer hipótese,além da parcela, a execução deve-rá abranger os acréscimos legais:juros, correção monetária e multa.

A nosso ver, a competênciada Justiça do Trabalho abrange nãosó as contribuições decorrentes dastutelas condenatórias ou cons-titutivas, como as decorrentes dasações meramente declaratórias6

pelo mero reconhecimento do vín-culo.

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7DALAZEN, João Oreste. Controvérsias sobre a Execução de Contribuição Previdenciária naJustiça do Trabalho. Revista do Direito Trabalhista, n. 6, 2003, p. 8.

8Ao comentar a redação do art. 114, VIII, da CF e a Súm. nº 358, Gustavo Filipe Barbosa Garciaensina: Decorrer (como verbo transitivo indireto) quer dizer ter origem em; proceder, derivar.Portanto, somente as contribuições que tenham origem na sentença trabalhista, ou seja, delaprocedam, é que podem ser executadas neste ramo do Poder Judiciário. Apenas as contribui-ções incidentes sobre as parcelas de natureza remuneratória, objeto de condenação na decisão,é que são decorrentes desta. Quanto às contribuições previdenciárias que incidem sobre asremunerações auferidas no curso do contrato de trabalho, jamais têm origem na sentença, aindaque esta declare, ou seja, reconheça a relação de emprego. Na realidade, estas contribuições, quetiveram incidência durante o vínculo empregatício, são decorrentes: da remuneração auferida(assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados) durante o mês,no curso do pacto laboral, pelo empregado (Lei n. 8.212/91, arts. 20 e 28); das remuneraçõespagas, devidas ou creditadas pela empresa aos seus empregados, durante o mês, também aolongo da relação de emprego (Lei n. 8.212/91, arts. 22, I e II, e 24). Estas é que são as efetivasorigens das quais derivam estas contribuições, e não o provimento jurisdicional em si. Mesmoreconhecendo a existência de relação de emprego, este capítulo da sentença (que terá carga

Para João Oreste Dalazen,7

consoante se nota, o § 3º do art. 114da CF/88 atribuiu genericamente àJustiça do Trabalho competência paraexecutar a contribuição previdenciáriaconcernente às sentenças que proferir,sem explicitar a natureza jurídica detais sentenças.

Contudo, o § 3º do art. 832 daCLT, acrescentado pela Lei n. 10.035/00, ao estatuir sobre os requisitos for-mais da sentença trabalhista, estatuiu:§ 3º As decisões cognitivas ou homo-logatórias deverão sempre indicar anatureza jurídica das parcelas cons-tantes da condenação ou do acordo ho-mologado, inclusive o limite de respon-sabilidade de cada parte pelo recolhi-mento da contribuição previdenciária,se for o caso.

Percebe-se daí claramente que,embora a lei ordinária também não sejaexplícita, somente a sentençacondenatória a uma prestaçãopecuniária integrante do salário-de-contribuição, ou a equivalente transa-ção homologada que também contem-ple obrigação patronal de pagar par-cela componente do salário-de-contri-buição são suscetíveis, em tese, deensejar a execução da correspondentecontribuição previdenciária perante aJustiça do Trabalho.

Não consigo atinar para ou-tra conclusão defensável, pois so-mente em tais hipóteses é viável adiscriminação da natureza jurídicadas parcelas de que cogita a lei.

Importa dizer: o suposto parao exercício da competência da Jus-tiça do Trabalho em apreço é quehaja pagamento de direitos sujeitosà incidência de contribuição previ-denciária, tal como prescreve o art.43 da Lei n. 8.212/91.

A princípio, o TST fixou oentendimento de que a compe-tência da Justiça do Trabalhopara execução das contribuiçõesprevidenciárias alcança as parce-las integrantes do salário de con-tribuição, pagas em virtude decontrato de emprego reconheci-do em juízo, ou decorrentes deanotação da CTPS, objeto deacordo homologado em juízo(Súm. 368, I).

Em outras palavras, a com-petência limitava-se às sentençascondenatórias em pecúnia queproferir e aos valores, objeto deacordo homologado, os quais in-tegrem o salário-de-contribuição(Súm. 368, I, com a alteraçãodada pela Resolução n. 138, de22/11/2005).8

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meramente declaratória) de maneira nenhuma altera a origem e o fato gerador das contribuiçõesdecorrentes das remunerações pagas, devidas ou creditadas durante o vínculo de emprego, remu-nerações estas que não foram objeto de condenação na sentença. Além disso, não se observa àconstituição de qualquer relação jurídica, a qual, já existindo antes da sentença, apenas é por estareconhecida, não havendo que se falar, portanto, em decisão constitutiva. Assim, o dispositivoconstitucional não permite a execução, pela Justiça do Trabalho, das contribuições previdenciáriasrelativas às remunerações que não foram objeto de condenação na sentença trabalhista. Como senota, a própria norma constitucional veda a intenção do Decreto n. 4.032/2001, no que tange àexecução das contribuições previdenciárias devidas no decorrer do vínculo empregatício, aindaque o pagamento das remunerações a ele correspondentes não tenha sido reclamado na ação. Amesma conclusão se aplica quanto à redação original do inciso I da Súmula n. 368 do TST, aoestabelecer o recolhimento das contribuições previdenciárias incidentes sobre parcelas integrantesdo salário-de-contribuição já pagas no curso do contrato de trabalho. Por conseguinte, o § 7º do art.276 do RPS é eivado de manifesta inconstitucionalidade, transgredindo o que dispõe o art. 114,VIII, in fine, da CF/88 (A nova redação da Súmula n. 368 do TST e as contribuições previdenciáriasreferentes a vínculo de emprego reconhecido pela Justiça do Trabalho, Revista LTr, v. 70, n. 1, p. 56).

Tal entendimento não preva-lece diante da Lei n. 11.457, que pro-moveu a alteração do parágrafoúnico do art. 876, da CLT, o qualpassou a prever que serão executa-das ex officio as contribuições sociaisdevidas em decorrência de decisão pro-ferida pelos juízes e tribunais do tra-balho, resultantes de condenações ouhomologação de acordo, inclusive so-bre os salários pagos durante o perío-do contratual.

Assim, a competência da Jus-tiça do Trabalho não está mais li-mitada à execução das contribui-ções previdenciáriasque possam ser apu-radas na execução desentenças conde-natórias.

A nova disposi-ção legal não viola oart. 114, VIII, que pre-vê a competência daJustiça do Trabalhopara a execução, deofício, das contribui-ções sociais decorren-tes das sentenças queproferir, uma vez que o legisladorinfraconstitucional está autorizadoa ampliar a competência da JustiçaLaboral (art. 114, IX).

“A nova disposição legal não

viola o art. 114, VIII, que pre-

vê a competência da Justiça do

Trabalho para a execução, de

ofício, das contribuições soci-

ais decorrentes das sentenças

que proferir, uma vez que o

legislador infraconstitucional

está autorizado a ampliar a

competência da Justiça Laboral

(art. 114, IX).”

4 A JUSTIÇA DO TRABALHO EO IMPOSTO DE RENDA

Nos termos da Constituição,dentre outras matérias, compete aosjuízes federais processar e julgar ascausas em que a União, entidadeautárquica ou empresa pública fe-deral, forem interessadas na condi-ção de autoras, rés, assistentes ouoponentes (art. 109, I), cabendo aoTribunal Regional Federal a revisãodesses julgados (art. 108, II).

No caso do imposto de ren-da, ter a União competência exclu-

siva para constituiro crédito tributáriofaz com que parteda doutrina e da ju-risprudência traba-lhista entenda ser decompetência da Jus-tiça Federal as ques-tões que envolvam oimposto de rendaainda que decorren-tes da relação deemprego.

Isso porque, na visão dessacorrente, o Fisco não era chamadoa intervir no processo trabalhista(terceiro na relação processual en-tre empregado e empregador), de

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modo que, independentemente dadecisão judicial trabalhista, pode-ria o Fisco cobrar diferenças tribu-tárias do contribuinte ou da fontepagadora pela via administrativaou judicial perante a Justiça Fede-ral, e os juízes e Tribunais do Tra-balho seriam meros agentes arreca-dadores de receita. Tratar-se-ia decompetência administrativa tribu-tária para verificar e determinar acobrança do imposto de renda.

O TST e a maior parte da dou-trina e jurisprudência trabalhista,contudo, entendem que a compe-tência é da Justiça do Trabalho enão da Justiça Federal, em que peseserem controvertidos os efeitos dadecisão que julga a relação de tra-balho entre empregado e emprega-dor perante o Fisco federal.

O que se verifica no curso dosprocessos trabalhistas é que a exe-cução judicial do imposto de rendase dá no âmbito do processo de exe-cução trabalhista, seja com o paga-mento voluntário (apresentação deguias de recolhimento do tributoperante o juiz trabalhista) ou pelaexecução forçada (transferência dosvalores arrecadados pelo juiz daexecução ao erário federal), nãocabendo mais à União lançar oupromover a execução do tributopago, o que inevitavelmente confi-guraria um bis in idem.

Tanto é assim que os juízestrabalhistas não se limitam a deter-minar o recolhimento do imposto,mas adentram questões de nature-za tributária, fixando muitas vezesa base de cálculo do tributo, apli-cação ou não do princípio daprogressividade, mesmo quando osvalores são pagos de uma única

vez, e o responsável pelo pagamen-to do tributo.

A legislação tributária deter-mina expressamente que os rendi-mentos do trabalho assalariado fi-cam sujeitos à incidência do impos-to de renda na fonte, a ser retidopor ocasião de cada pagamentopela fonte pagadora (art. 7º, I, § 1º,Lei n. 7.713, de 22/12/1988).

Em relação ao cumprimentode decisões judiciais, o legisladortributário determina que o impostode renda sobre os valores pagosserá retido pela fonte pagadora nomomento em que, de qualquer for-ma, se dê sua disponibilidade (art.7º, § 2º, Lei n. 7.713, art. 46, Lein. 8.541, 23/12/1992).

Ademais, em relação ao cum-primento das decisões trabalhistas,o juiz do trabalho é competentepara decidir os litígios que tenhamorigem no cumprimento de suassentenças e a determinação legalpara que se procedam aos descon-tos do imposto de renda no cursodo processo nada mais são do queincidente de execução a ser resolvi-do pelo juiz da causa.

O TST, em ato administrati-vo do Corregedor-Geral, editou oProvimento n. 3, de 9/7/1984, de-terminando que, nas hipóteses decondenação do empregador aocumprimento de obrigação de dar,a decisão deveria registrar, quan-do cabível, a incidência dos descon-tos legais relativos à contribuiçãoprevidenciária e ao imposto de ren-da.

Outro Provimento do Corre-gedor-Geral do TST tratou da maté-ria (Provimento n. 1, de 20/2/1990),

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determinando aos Tribunais Regi-onais a adoção de medidasobjetivando alcançar a demonstra-ção pelos devedores do recolhimen-to das importâncias devidas à Pre-vidência Social.

O Provimento n. 1 da Corre-gedoria-Geral da Justiça do Traba-lho, de 12/1/1993, determinava aapuração e o pagamento dos valo-res devidos à União pela incidên-cia do imposto de renda e proventosde qualquer natureza quando dopagamento de créditos trabalhistaspor acordo ou cumprimento de de-cisão judicial.

Alguns meses após aqueleAto Administrativo, outro Provi-mento do Ministro Corregedor tra-tou do recolhimento das contribui-ções previdenciárias, determinandoque as decisões condenatórias daJustiça do Trabalho (ainda que fru-to de conciliação entre as partes)observassem a necessidade dos re-colhimentos das contribuiçõesprevidenciárias devidas ao Institu-to Nacional da Seguridade Social,inclusive destacando os valores de-vidos quando dos cálculos de liqui-dação da sentença pelo emprega-do e empregador (ProvimentoTST/CG n. 2, de 27/8/1993).

Novo Provimento do Corre-gedor-Geral da Justiça Especializa-da cuidou do tema (ProvimentoTST/CG n. 1, de 5/12/1996), atri-buindo unicamente ao empregadoro ônus de calcular, deduzir e reco-lher à União o imposto de rendarelativo às importâncias pagas aoreclamante quando do cumprimen-

9O Provimento n. 3/2005 foi revogado pela Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho. Atualmente, a temática do recolhimento é disciplinada pelosartigos 74 a 77 da Consolidação.

to das decisões daquela Justiça (ar-tigos 1º e 2º), bem como determina-va aos juízes a adoção das medi-das necessárias ao cálculo, deduçãoe recolhimento das contribuiçõesprevidenciárias devidas pelo empre-gado ao Instituto Nacional daSeguridade Social (art. 3º).

O Provimento TST/CG n. 1,de 16/4/1997, determinou a apli-cação do Provimento n. 1/96 àsexecuções de débitos trabalhistasrealizadas por precatórios.

O art. 1º, do Provimento n. 1/96, revogado pelo Provimento n. 3/2005,9 da Corregedoria Geral daJustiça do Trabalho, passou a dis-ciplinar a matéria da seguinte for-ma: a) a decisão ou o despacho queautorizar o levantamento, total ouparcial, do depósito judicial em fa-vor do reclamante, deverá tambémautorizar o levantamento, pela fon-te pagadora, dos valores apuradosa título de imposto de renda, de res-ponsabilidade do reclamante, a se-rem deduzidos do seu crédito, des-tinados ao recolhimento na formada lei; b) o recolhimento do impos-to de renda deverá ser comprova-do pela fonte pagadora, nos respec-tivos autos, no prazo de 15 dias dadata da retenção; c) na hipótese deomissão por parte da fonte paga-dora quanto à comprovação depagamento do imposto, e nos pa-gamentos de honorários periciais,competirá ao juízo do trabalho cal-cular o imposto de renda na fontee determinar o recolhimento à ins-tituição financeira depositária docrédito; d) a não indicação, pela

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fonte pagadora, da natureza jurí-dica das parcelas objeto de acordohomologado perante a Justiça doTrabalho acarretará a incidência doimposto de renda na fonte sobre ovalor total da avença.

Atualmente, pela jurispru-dência consolidada do TST, éinquestionável a competência daJustiça do Trabalho para fins deexecução do imposto de renda notocante as suas decisões (Súm. n.368, II).10

Com base nas assertivas aci-ma, a competência da Justiça doTrabalho para apreciar e julgar asquestões que envolvam os tributosincidentes sobre a remuneração doempregado justifica-se na próprialegislação tributária, que determi-na a incidência do imposto de ren-da no momento da disponibilidadeda remuneração, mensalmente ouquando do cumprimento da deci-são trabalhista (art. 43, CTN, art.7º, Lei n. 7.713, art. 46, Lei n. 8.541)e porque constitucionalmente com-pete à Justiça Especializada decidirlitígios em face da relação de tra-balho (art. 114), sendo que a reten-ção do imposto pelo empregador,na qualidade de fonte pagadora,

10A Súm. n. 368 é originária da conjugação das OJs n. 32, 141 e 288, as quais, respectivamente,tinham as seguintes redações: Descontos legais. Sentenças trabalhistas. Contribuição previdenciáriae imposto de renda. Devidos. Provimento CGJT n. 3/84; Descontos previdenciários e fiscais.Competência da Justiça do Trabalho; Descontos legais. Sentenças trabalhistas. Lei n. 8.541/92,art. 46. Provimento da CGJT n. 3/84 e alterações posteriores. O recolhimento dos descontoslegais, resultante dos créditos do trabalhador oriundos de condenação judicial, deve incidir sobreo valor total da condenação e calculado ao final.

11Com a EC n. 45/04, a Justiça do Trabalho passou a ter competência para as ações relativas àspenalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das rela-ções de trabalho. Essa nova competência também abrange a execução trabalhista. Em outraspalavras, a Justiça do Trabalho passou a ter competência para a execução fiscal das multas edos valores relativos às infrações aplicáveis pela fiscalização do trabalho ao empregador. Mar-cos Neves Fava ensina: De inconsistência e temeridade ímpares constitui-se a hermenêutica derejeição das execuções fiscais relacionadas às penalidades administrativas impostas aos empre-gadores pela fiscalização das relações de trabalho. Desde logo, porque a competência para ogênero ações induz, por corolário lógico, a da espécie execução. Aliás, o processo de conhecimen-to, ressalvas tutelas meramente declaratórias, não se faz útil ou efetivo, sem a correspondente

não diz respeito apenas à matériatributária, mas também à realiza-ção de descontos legais incidentessobre a remuneração do trabalha-dor (art. 462, CLT, princípio daintangibilidade salarial) e, por últi-mo, as controvérsias sobre a reten-ção do imposto, no curso do pro-cesso de execução, são incidentes aserem solucionados pelo juiz do tra-balho.

O art. 16, da Lei n. 11.457, atri-bui à Procuradoria-Geral Federal arepresentação da União nos proces-sos em tramitação perante a Justiçado Trabalho, relacionados com a co-brança de contribuições previ-denciárias, de imposto de renda re-tido na fonte e de multas impostasaos empregadores pelos órgãos defiscalização11 das relações de traba-lho, mediante delegação da Procu-radoria-Geral da Fazenda Nacional.

A União será intimada dasdecisões homologatórias de acordosque contenham parcela indeni-zatória, na forma do art. 20 da Lein. 11.033, de 21/12/2004, faculta-da a interposição de recurso relati-vo aos tributos que lhe forem devi-dos (art. 832, § 4º, CLT).

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ação de execução. Ainda que assim não fosse, considerando-se o caráter instrumental dasnormas de competência, vinculadas que são à organização prática da jurisdição, de muito rasalógica seria a distribuição da competência, de forma a exigir dos litigantes que se defendessem,ou postulassem, perante a Justiça do Trabalho, mas que, consolidada a obrigação de pagamentoda dívida, aforassem – ou se defendessem – perante a Justiça Federal, durante a execução.Mesma conclusão toma Estevão Mallet, ensinando que a finalidade da nova hipótese de compe-tência leva a afirmar-se que a própria execução fiscal das multas e dos valores deve ser feitaperante a Justiça do Trabalho, admitindo-se a discussão da legalidade do lançamento emembargos do executado. Da Justiça do Trabalho passou a ser, portanto, a competência parajulgamento das ações fiscais de cobrança da dívida ativa da União, sempre que decorrerem deauto de infração relacionado com a fiscalização das relações de trabalho, desde que o exigidofigure como empregador (As ações relativas às penalidades administrativas impostas aos em-pregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho – leitura do artigo 114, VII daConstituição da República, Revista da Escola da Magistratura do TRT da 2ª Região, n. 1, set.2006, p. 15).

Intimada da sentença, aUnião poderá interpor recurso re-lativo à cobrança das contribuiçõesprevidenciárias, de imposto de ren-da retido na fonte e de multas im-postas aos empregadores pelos ór-gãos de fiscalização das relações detrabalho (art. 832, § 5º, CLT, art.16, § 3º, Lei n. 11.457).

O acordo celebrado após otrânsito em julgado da sentença ouapós a elaboração dos cálculos deliquidação de sentença não preju-dicará os créditos da União (art.832, § 6º).

O Ministro de Estado da Fa-zenda poderá, mediante ato funda-mentado, dispensar a manifestaçãoda União nas decisões homolo-gatórias de acordos em que o mon-tante da parcela indenizatória en-volvida ocasionar perda de escaladecorrente da atuação do órgão ju-rídico (art. 832, § 7º).

5 A DECISÃO HOMOLOGA-TÓRIA DE ACORDO E A SEN-TENÇA TRABALHISTA. OSRECOLHIMENTOS DAS CON-TRIBUIÇÕES PREVIDEN-

CIÁRIAS E DO IMPOSTO DERENDA. RECURSO ORDINÁ-RIO DA UNIÃO

De acordo com o disposto noart. 831, parágrafo único, da CLT,no caso de conciliação, o termo quefor lavrado valerá como decisãoirrecorrível. Pela jurisprudênciaconsolidada do TST, só por açãorescisória é impugnável o termo deconciliação (art. 831, parágrafoúnico) (Súm. n. 259).

O acordo judicial que dê porquitada dívida previdenciária po-derá ter efeito perante a União, seela não participa da relação instau-rada perante a Justiça do Trabalho?

Com a alteração da CLT (art.832, §§ 3º e 4º, com a redação ori-ginária dada pela Lei n. 10.035, al-terada pela Lei n. 11.457), temosque a União será intimada das de-cisões homologatórias de acordo,desde que contenha parcelaindenizatória, com a possibilidadeda oposição de recurso ordinário,cujo objeto será a discriminação dasverbas do acordo judicial em sala-riais e indenizatórias.

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Como se denota, a União atuacomo terceiro interessado nos proces-sos trabalhistas, podendo recorrerdas decisões homologatórias de acor-dos que fixam as contribuiçõesprevidenciárias (art. 831, parágrafoúnico, CLT).

A Lei n. 11.457 também asse-gura à União a devida atuação noque tange aos tributos federais (arts.832, §§ 4º a 7º, 879, § 3º, CLT), coma possibilidade de recurso ordiná-rio.

A decisão judicial trabalhistadeve fixar: a) os títulos salariais eos seus valores; b) os títulosindenizatórios e os seus montantes;c) a responsabilidade das partespelas contribuições previdenciárias(art. 832, § 3º).

O recurso da sentença homo-logatória de acordo na ação de co-nhecimento é o ordinário, cujo ob-jetivo é evitar a lesão aos cofres daUnião, homologando todas as ver-bas como indenizatórias, quando opedido, de fato, contenha verbassalariais. O apelo deverá abrangera impugnação quanto à parcelaindenizatória e a discriminação efe-tuada (art. 832, § 4º), além de ou-tros elementos do crédito tributário(sujeito passivo, base de cálculo,alíquota etc.).

A jurisprudência revela:

INSS. CONTRIBUIÇÃO PRE-VIDENCIÁRIA. EXECUÇÃO. Quandotrabalhador e empregador celebramacordo e atribuem natureza indeni-zatória à determinada verba, não háincidência da contribuição previden-ciária. Não conhecido (TST – 3ª T– RR nº 28883/2002-902-02-00 –Rel. Min. Carlos Alberto Reis de

Paula – j. 17/5/2006 – DJ 9/6/2006).

RECURSO DE REVISTA.INSS. SENTENÇA HOMOLOGA-TÓRIA DE ACORDO. CONTRI-BUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.PARCELAS INDENIZATÓRIAS.INCIDÊNCIA. NÃO-CONHECI-MENTO. Não há impedimento legalpara que as partes transacionem o pa-gamento apenas das parcelas de natu-reza indenizatória, às quais não há in-cidência da contribuição previ-denciária, ainda que na inicial hajapostulação de parcelas de caráter sa-larial. Firmado acordo judicial em quese atendeu aos requisitos estabelecidosnos §§ 2º e 3º do artigo 832 da CLT,no sentido de discriminar as parcelasindenizatórias objeto da transação,afasta-se a incidência do parágrafoúnico do artigo 43 da Lei n. 8.212/91,razão pela qual não mereceadmissibilidade o recurso de revista.Recurso de revista não conhecido(TST – 6ª T – RR n. 6157/2002-034-12-00 – Rel. Min. Aloysio Corrêada Veiga – j. 10/5/2006 – DJ 9/6/2006).

RECURSO DE REVISTA. RE-CURSO ORDINÁRIO DO INSSCONTRA DECISÃO HOMOLO-GATÓRIA DE ACORDO. INTE-RESSE RECURSAL E ADEQUA-ÇÃO. (violação ao § 4º do artigo 832da CLT). Não há como se exigir aimpugnação prévia da matéria pelaautarquia previdenciária, para efeitode se assegurar a ampla defesa e o con-traditório das partes. Na verdade, ainsurgência recursal do INSS dirige-se contra a suposta fraude evidencia-da quanto à natureza jurídica das par-celas trabalhistas discriminadas noajuste homologado, lesando o seu le-

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gítimo interesse de recolher as contri-buições previdenciárias pertinentes.Nesse passo, a controvérsia nasceuexatamente dos termos da decisãohomologatória do ajuste, o que respal-da a possibilidade de ingressar com re-curso próprio, em atenção aos termosda Lei n. 10.035/00, que conferiu novaredação ao parágrafo único do artigo831 e inseriu o § 4º ao artigo 832 daConsolidação das Leis do Trabalho.Recurso de revista conhecido e provido(TST– 2ª T – RR n. 784.600/2001.7– Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva– j. 15/3/2006 – DJ 12/5/2006).

HOMOLOGAÇÃO DE ACOR-DO. CONTRIBUIÇÕES PREVIDEN-CIÁRIAS. INTERPOSIÇÃO DE RE-CURSO ORDINÁRIO PELO INSS.CABIMENTO. O artigo 832, § 4º, daCLT, aplicado em conjunto com o arti-go 831, parágrafo único, do mesmodiploma, confere ao INSS legitimidadepara interposição de recurso ordináriocontra decisão homologatória de acor-do em relação às contribuições previ-denciárias decorrentes de tal provimen-to judicial (TST – 3ª T – RR n. 2246/2001-465-02-00 – Rel. Min. MariaCristina Irigoyen Peduzzi – j. 3/5/2006 – DJ 26/5/2006).

RECURSO DE REVISTA.ACORDO JUDICIAL HOMOLO-GADO. CONTRIBUIÇÕES PREVI-DENCIÁRIAS. CABIMENTO DORECURSO ORDINÁRIO. INSS. Ocabimento de recurso ordinário, rela-tivamente às contribuições previ-denciárias, interposto pelo INSS con-tra decisão homologatória de acordojudicial, que contenha parcelasindenizatórias, encontra-se expressa-mente garantido e respaldado pelaprevisão contida nos arts. 831, pará-

grafo único, e 832, § 4º, da Consoli-dação das Leis do Trabalho (TST –5ª T – RR nº 375/2002-020-02-00 –Rel. Min. João Batista Brito Pereira– j. 26/4/2006 – DJ 26/5/2006).

Na celebração do acordo ju-dicial, tem sido controvertida a pos-sibilidade das partes não estarempresas ao objeto inicial, podendoexcluir títulos ou ampliar o objetodo acordo. Nessa linha de raciocí-nio, as partes também não estariamobrigadas a manter a propor-cionalidade das verbas salariais eindenizatórias descritas na recla-mação trabalhista e no acordojudicial.

Na jurisprudência, encontra-mos:

INSS. CONTRIBUIÇÕESPREVIDENCIÁRIAS. ACORDOHOMOLOGADO JUDICIAL-MENTE. MANUTENÇÃO DAPROPORCIONALIDADE ENTREPARCELAS SALARIAIS E IN-DENIZATÓRIAS NA PETIÇÃOINICIAL. DESNECESSIDADE.ARTIGO 43 DA LEI N. 8.212/91.O artigo 43 da Lei n. 8.212/91 nadaprevê acerca da alegada necessidadede se manter, em acordos homolo-gados judicialmente, a mesma pro-porcionalidade entre parcelas salariaise indenizatórias contida na petiçãoinicial. Logo, havendo as partescelebrado acordo em Juízo envolven-do apenas parcelas de naturezaindenizatória, discriminando-as, nãohá como se cogitar de violação dire-ta e literal daquele dispositivo de lei.Precedentes (TST – 6ª T – RR n.1199/2004-016-10-00 – Rel. Min.Horácio Senna Pires – j. 3/5/2006– DJ 9/6/2006).

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Quando se põe fim ao litígiopor um acordo entre as partes semo reconhecimento de vínculoempregatício, a possibilidade daspartes fixarem o pagamento de to-das as verbas como de naturezaindenizatória, sem que haja inci-dência da contribuição previ-denciária, tem sido questionadapelo INSS.

Na jurisprudência do TST,encontramos:

RECURSO DE REVISTA.CONTRIBUIÇÕES PREVIDEN-CIÁRIAS. TRANSAÇÃO JUDICIAL.AUSÊNCIA DE RE-CONHECIMENTODE RELAÇÃO DEEMPREGO. BASEDE INCIDÊNCIA. 1.A liberdade de transa-ção não pode superarpreceitos imperativos ede ordem pública. Háregramento (inscritona Constituição Fede-ral e na legislação or-dinária) que disciplinaas contribuições previ-denciárias – normas que não se sujei-tam à vontade das partes, quando ce-lebram negócio jurídico. 2. Emboracaiba aos litigantes o juízo da oportu-nidade e da composição de acordo, nãopoderão firmá-lo de maneira a eximir-se das contribuições previdenciárias,segundo os contornos da Lei. 3. Afas-tada, em acordo judicial, a existênciade vínculo empregatício, o relaciona-mento assume o formato de prestaçãode serviços típica, atraindo a incidên-cia de contribuições previdenciáriassobre o total do valor ajustado, con-forme determinam os arts. 195, I, a,da Constituição Federal e 43, parágra-fo único, da Lei nº 8.212/91. Recurso

“Com a Lei n. 11.457/2007,

a União deverá não só ser in-

timada da decisão homologa-

tória de acordo que contenha

parcela indenizatória, como

também das sentenças pro-

feridas na ação de conheci-

mento, com a possibilidade

da oposição de recurso ordi-

nário.”

de revista conhecido e provido (TST– 3ª T – RR n. 2147/2002-025-02-00 – Rel. Min. Alberto Bresciani – j.10/5/2006 – DJ 2/6/2006).

ACORDO JUDICIAL. IN-DENIZAÇÃO PELO TRABALHOPRESTADO. NÃO-RECONHE-CIMENTO DO VÍNCULO DEEMPREGO. INCIDÊNCIA DECONTRIBUIÇÃO PREVIDEN-CIÁRIA. Tendo sido reconhecidoem acordo homologado que os va-lores pactuados tem naturezaindenizatória, não há falar que oindeferimento do pedido de incidên-cia da contribuição previdenciária

sobre o valor totaldo acordo importeem afronta a artigosde lei e da Consti-tuição da República.Recurso de Revistade que não s e co -nhec e (TST – 5ª T.– RR n. 80286/2002-561-04-00 –R e l . M i n . J o ã oBatista Brito Perei-ra – j. 10/5/2006 –

DJ 2/6/2006).

Com a Lei n. 11.457/2007, aUnião deverá não só ser intimadada decisão homologatória de acor-do que contenha parcela indeni-zatória, como também das senten-ças proferidas na ação de conheci-mento, com a possibilidade da opo-sição de recurso ordinário.

Trata-se de uma inovaçãolegislativa. Anteriormente não erapossível a oposição de recurso or-dinário no caso de sentença de co-nhecimento por parte do INSS:

RECURSO DO INSS. A facul-dade concedida ao Órgão Previ-

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denciário para a interposição de re-curso na fase de conhecimento, limita-se à hipótese do § 4º do art. 832 daCLT. Incabível recurso do INSS con-tra a sentença cognitiva. Recursoordinário que não se conhece (TRT– 4ª R – RO n. 00274-2005-010-04-00-7 – Rel. João Pedro Silvestrin – J.7/6/2006).

PRELIMINARMENTE. NÃO-CONHECIMENTO DO RECURSODO RECLAMADO, POR DESER-TO. Configura-se deserto o apeloquando o recorrente traz aos autos,para comprovar a efetivação do reco-lhimento do depósito recursal, guiapreenchida incorretamente, onde nãoconsta o número do processo e a iden-tificação da Vara perante a qual tra-mita o feito. Recurso ordinário nãoconhecido, por deserto. NÃO-CO-NHECIMENTO DO RECURSO DOINSS. INTEMPESTIVIDADE.INADMISSIBILIDADE POR ILEGI-TIMIDADE ATIVA. Não se conhecedo recurso ordinário interposto peloInstituto Nacional do Seguro Social -INSS, por intempestivo. De outra par-te, o § 4º do artigo 832 da CLT facul-ta ao Instituto Nacional do SeguroSocial a interposição de recurso con-tra decisão homologatória de acordo,não havendo previsão legal que legiti-me o Órgão Previdenciário à inter-posição de recurso contra decisãocognitiva proferida em reclamatóriatrabalhista. Assim, deixa-se de conhe-cer do recurso do INSS (TRT – 4ª R– RO n. 00526-2002-221-04-00-5 –Relª Rosane Serafini Casa Nova – J.14/6/2006).

ILEGITIMIDADE RECUR-SAL. RECURSO ORDINÁRIO DOINSS. DECISÃO EM FASE COGNI-TIVA. Embora as contribuiçõesprevidenciárias devam ser creditadas

ao INSS na fase executória, aautarquia não detém legitimidaderecursal para hostilizar, via recursoordinário, sentença prolatada na fasede conhecimento. Nos termos da pre-visão constitucional, a execução de taiscontribuições far-se-á ex officio, semchamamento ou interveniência doINSS, que não é e nem deve ser consi-derado parte no processo trabalhista.A Lei 10.035/00, ampliando a CLT,apenas autorizou manifestações doINSS em duas situações bem defini-das: 1) Quando intimado a respeito dehomologação de acordo que contenhadiscriminação de verba de naturezaindenizatória - art. 832, § 4º, da CLT;2) Quando intimado a respeito da con-ta da liquidação - art. 879, § 3º, daCLT. Recurso não conhecido (TRT –24ª R – RO 00525/2005-005-24-01-1 – Rel. Marcio Vasques Thibau deAlmeida – DOMS 24/7/2006).

Ressalte-se que na fase de co-nhecimento do processo trabalhis-ta, a União deve ser intimada dasdecisões homologatórias de acordoe das sentenças, desde que os cita-dos pronunciamentos judiciais con-tenham verbas indenizatórias (art.832, §§ 4º e 5º).

Na jurisprudência dospretórios trabalhistas, antes da edi-ção da Lei n. 11.457, após o trânsi-to em julgado da decisão judicial, oacordo entre as partes não poderágerar lesão ao direito de terceiro, deforma a preservar a coisa julgada:

RECURSO DE REVISTA.INSS. CONTRIBUIÇÃO PREVI-DENCIÁRIA. ACORDO HOMO-LOGADO EM JUÍZO APÓS OTRÂNSITO EM JULGADO DESENTENÇA CONDENATÓRIA.Uma vez transitada em julgado

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sentença que reconheceu o vínculoempregatício e resultou na condena-ção ao pagamento de contribuiçõesdevidas ao INSS, não pode mais serdesconsiderada para fins previ-denciários. O acordo posterior é resinter alios acta, só atingindo osacordantes e não os terceiros. Por con-seguinte, a alteração na base de cálcu-lo das contribuições previdenciáriasdecorrente de acordo entabulado en-tre as partes após o trânsito em julga-do da r. sentença fere o princípio dacoisa julgada em relação ao terceiro,neste caso a Previdência Social. Recur-so de Revista conhecido e provido(TST – 6ª T – RR n.1257/2002-100-03-00 – Rel. Min.Aloysio Corrêa daVeiga – j. 10/5/2006– DJ 9/6/2006).

Com a Lei n.11.457, o acordo ce-lebrado após o trân-sito em julgado dasentença ou após acelebração dos cál-culos de liquidaçãonão poderá prejudicar os créditosda União, sejam eles de naturezaprevidenciária ou de imposto derenda retido na fonte (tributo fede-ral) (art. 832, § 6º, da CLT).

Ao que nos parece, o art. 832,§ 6º, da CLT comete uma impro-priedade: a redação contempla aconjunção ou, logo, a princípio,

12Com a publicação, a sentença torna-se irretratável, ou seja, a sentença não poderá ser alterada ourevogada pelo órgão jurisdicional que a prolatou. A sentença pode ser impugnada pelo vencido,sob alegação de vício de procedimento ou de ser errada ou injusta. A Constituição Federalassegura o duplo grau de jurisdição (art. 5º, LV). A respeito da natureza jurídica da sentençasujeita a recurso, a doutrina aponta as seguintes teorias: a) equivalente a uma mera situaçãojurídica (Chiovenda); b) ato sujeito a uma condição resolutiva (Calamandrei); c) ato imperativodo juiz, não imutável, mas que produz determinados efeitos (condição suspensiva) (Carnelutti).Na nossa opinião, apesar de possuir os requisitos necessários a sua existência, a sentençapendente de recurso está tolhida em seus efeitos. Ao contrário da condição resolutiva, trata-se deuma condição suspensiva, já que a eficácia da sentença será concreta quando ocorrer o trânsitoem julgado.

“Com a Lei nº 11.457, o acor-

do celebrado após o trânsito

em julgado da sentença ou

após a celebração dos cálcu-

los de liquidação não poderá

prejudicar os créditos da

União, sejam eles de nature-

za previdenciária ou de im-

posto de renda retido na fonte

(tributo federal) (art. 832, §

6º, da CLT).”

pode parecer que trata de duas hi-póteses distintas (acordo celebradoapós o trânsito em julgado da sen-tença; acordo celebrado após a ela-boração dos cálculos de liquidaçãode sentença). Vale dizer, uma hi-pótese contempla o trânsito em jul-gado e a outra hipótese não.

Em uma execução provisória(que se lastreia em uma decisão ain-da passível de reforma pela instân-cia revisora), na qual já se tenha asentença de liquidação, os cálculosdas contribuições serão exigíveiscom base na sentença, o que é inad-missível. Não se pode esquecer que

uma sentença pen-dente de recurso,está tolhida em seusefeitos.12

Não é justo quena execução provi-sória, em que se te-nha a sentença de li-quidação, a base decálculo da contribui-ção previdenciáriaseja a sentença demérito.

O correto é que a contribuiçãoprevidenciária seja calculada sobre osvalores da sentença quando de fatoe de direito houver ocorrido o seutrânsito em julgado.

Caso não haja a discriminaçãoda natureza das parcelas constan-tes do acordo judicial, a incidência

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da contribuição previdenciária serásobre a totalidade do avençado (art.43, parágrafo único, Lei n. 8.112; art.276, § 2º, Decreto nº 3.048/1999).

A jurisprudência revela:

CONTRIBUIÇÃO PREVI-DENCIÁRIA. ACORDO JUDICIAL.NATUREZA DAS PARCELASTRANSACIONADAS. A lei assegu-ra ao INSS a possibilidade de recorrerdas decisões, mesmo aquelas proferidasem acordo judicial. A ausência de dis-criminação das parcelas constantes doacordo judicial, consoante determina o§ 3º do artigo 832 da Consolidação dasLeis do Trabalho, dá ensejo à incidên-cia da contribuição previdenciária so-bre a totalidade do acordo. Recurso derevista conhecido e provido (TST – 1ªT – RR nº 390/2003-432-02-00 – Rel.Min. Lélio Bentes Corrêa – j. 17/5/2006 – DJ 9/6/2006).

RECURSO DE REVISTA.INSS. SENTENÇA HOMOLO-GATÓRIA DE ACORDO. CONTRI-BUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.INEXISTÊNCIA DE VÍNCULOEMPREGATICIO. PARCELASINDENIZATÓRIAS. AUSÊNCIADE DISCRIMINAÇÃO. INCIDÊN-CIA SOBRE O VALOR TOTAL.PROVIMENTO. É necessária a discri-minação das parcelas constantes doacordo homologado em juízo, com in-dicação de sua natureza jurídica, paraefeito de contribuição previdenciária,sem a qual esta incidirá sobre o valortotal acordado, não sendo possível seestabelecer percentuais globais como cri-tério para a identificação dos montan-tes relativos às verbas salariais eindenizatórias. É imperioso, segundo alei, sejam discriminadas as parcelas eos percentuais. Exegese do artigo 43,parágrafo único, da Lei n. 8.212/91,combinado com o artigo 276, §§ 2º e

3º, do Decreto n. 3.048, de 6/5/99. Re-curso de revista conhecido e provido(TST – 6ª T – RR nº 18510/2002-902-02-00 – Rel. Min. Aloysio Corrêa daVeiga – 10/5/2006 – DJ 9/6/2006).

Diante da Lei n. 11.457/2007,que promoveu a alteração do pa-rágrafo único do art. 876, da CLT,o qual passou a prever que serãoexecutadas ex officio as contribuiçõessociais devidas em decorrência de de-cisão proferida pelos juízes e tribunaisdo trabalho, resultantes de condena-ções ou homologação de acordo, inclu-sive sobre os salários pagos durante operíodo contratual; não mais podeprevalecer a posição do TST de quea competência da Justiça do Traba-lho, quanto à execução das contri-buições previdenciárias, limita-seàs sentenças condenatórias empecúnia que proferir e aos valores,objeto de acordo homologado, queintegrem o salário-de-contribuição(Súm. n. 368, I, TST). Em outraspalavras, a competência não estámais limitada à execução das con-tribuições previdenciárias que pos-sam ser apuradas na execução desentenças condenatórias.

No caso das decisõeshomologatórias de acordos e dassentenças, desde que contenhamverbas indenizatórias, o prazorecursal para a União é de 16 dias(art. 1º, III, Decreto-lei n. 779/69),não havendo a necessidade de pre-paro (art. 1º, IV).

A intimação da decisãohomologatória de acordos ou da sen-tença trabalhista será na forma doart. 20 da Lei n. 11.033, ou seja, seráefetuada pessoalmente ao Procura-dor mediante a entrega dos autoscom vista.

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De acordo com o art. 832, §7º, o Ministro de Estado da Fazen-da poderá, mediante ato funda-mentado, dispensar a manifestaçãoda União nas decisões homolo-gatórias de acordo em que o mon-tante da parcela indenizatória en-volvida ocasionar perda de escaladecorrente da atuação do órgãojurídico (acréscimo pela Lei n.11.457).

6 LIQUIDAÇÃO TRABALHIS-TA E A CONTRIBUIÇÃO PRE-VIDENCIÁRIA

Serão executados ex officio oscréditos previdenciários devidos emdecorrência de decisão proferidapelos juízes e tribunais do trabalho,resultantes de condenação ou ho-mologação de acordo, inclusive so-bre os salários pagos durante o pe-ríodo contratual reconhecido (art.876, parágrafo único, CLT, com aredação dada pela Lei n. 11.457).

Faculta-se ao executado opagamento imediato da parte queentender devida à Previdência So-cial, sem prejuízo da cobrança deeventuais diferenças encontradasna execução ex officio (art. 878-A).

Na liquidação trabalhista,além da quantificação do créditoexeqüendo, também se terá a fixa-ção do valor do montante das con-tribuições previdenciárias (art. 879,§ 1º-A).

Em seus cálculos, as partes,além de apontar o valor do créditoexeqüendo, deverão indicar os mon-tantes das contribuições previ-denciárias (as bases de cálculo dossalários de contribuição e os respec-tivos valores das cotas) (art. 879, §1º-B).

A atualização do crédito de-vido à Previdência Social observa-rá os critérios estabelecidos na le-gislação previdenciária (art. 879, §4º).

A parte, quando é intimadados cálculos do perito ou da partecontrária, terá o prazo de 10 diaspara apresentar a respectivaimpugnação (art. 879, § 2º). Aimpugnação deverá conter os itense valores da discordância. Isso sig-nifica que os cálculos apresentadossão impugnados com outros cálcu-los, apontando-se, pormenoriza-damente, os respectivos pontos dadissonância.

No caso da impugnação nãofundamentada ou do silêncio daparte, a ela serão aplicados os efei-tos da preclusão.

Com os efeitos da preclusão,a parte interessada não poderá dis-cutir os valores fixados, seja pormeio de embargos à execução (de-vedor) ou da impugnação à sen-tença de liquidação (credor).

Os efeitos da preclusão tam-bém são válidos para a União naliquidação dos valores das contri-buições previdenciárias.

A União, ao ser intimada docálculo relacionado com a contri-buição previdenciária, em caso dediscordância, deverá impugná-losno prazo de 10 dias, sob pena depreclusão (art. 879, § 3º, redaçãoalterada pela Lei n. 11.457). Pelaaplicação da inteligência do art.832, § 4º, da CLT, a intimação daUnião a respeito dos cálculos seráefetuada pessoalmente ao Procu-rador mediante a entrega dos au-tos com vista.

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A jurisprudência revela:

VÍNCULO DE EMPREGO.PERÍODO RECONHECIDO EMSENTENÇA. CONTRIBUIÇÕESPREVIDENCIÁRIAS. PRECLU-SÃO. O § 3 do art. 879, da CLT, pre-ceitua que após a elaboração da conta,o INSS deverá ser intimado para delase manifestar, no prazo de dez dias,sob pena de preclusão. Desta forma,tendo o INSS sido notificado dos cál-culos de liquidação em 06/12/2002,está preclusa sua pretensão de incluir,no quantum exeqüendo, as contribui-ções sociais relativas aos salários pa-gos no curso da relação de empregoreconhecida em juízo, até porque apresente discussão não envolve sim-ples erros materiais. Ao contrário,aborda matéria de direito, relaciona-da com o alcance da norma constitucio-nal que conferiu à Justiça do Trabalhocompetência para executar as contri-buições sociais, decorrentes das senten-ças que proferir (TRT – 8ª R – 4ª T –AP n. 00663-2002-106-08-00-7 –Relª Odete de Almeida Alves – J. 6/12/2005).

CONTRIBUIÇÕES PREVI-DENCIÁRIAS. CONTA DE LIQUI-DAÇÃO. AUSÊNCIA DE MANI-FESTAÇÃO DO INSS. HOMOLO-GAÇÃO. PRECLUSA OPORTUNI-DADE DE IMPUGNAÇÃO. Apesarde notificado para manifestar-se sobreo crédito previdenciário previsto noscálculos de liquidação, sob pena depreclusão, o INSS quedou-se silente,tendo o i. Juízo da execução homologa-do a conta de liquidação. Após o depó-sito dos valores previdenciários homo-logados, o INSS apresenta novos cál-culos apontando saldo remanescente aser quitado, o qual foi indeferido. É in-discutível o fato de que o saldo rema-nescente da contribuição previdenciária,

pretendido pela agravante, foi alcança-do pela preclusão oriunda da ausênciade manifestação do INSS sobre os cál-culos, nos exatos termos previstos noart. 879, § 3º, da CLT. Agravo de peti-ção não provido (TRT –15ª R – 3ª T– AP n. 01350-1997-076-15-00-2 –Rel. Lorival Ferreira dos Santos –DOESP 16/9/2005).

O Ministro de Estado da Fa-zenda poderá, mediante ato funda-mentado, dispensar a manifestaçãoda União quando o valor total dasverbas que integram o salário-de-contribuição (art. 18, Lei n. 8.212),ocasionar perda de escala decorren-te da atuação do órgão jurídico (art.879, § 5º, CLT).

7 A CONTRIBUIÇÃO PREVI-DENCIÁRIA NA EXECUÇÃOTRABALHISTA

7.1 Introdução

Na execução trabalhista, apartir da EC n. 20, além do credortrabalhista, tem-se, também, a par-ticipação do credor previdenciário,no caso a entidade autárquica(INSS) (a partir da Lei n. 11.457, ocredor é a União).

Há uma dupla execução: a) aprimeira, envolve empregado e em-pregador – execução trabalhista; b)a segunda, envolvendo, de um lado,a União, e de outro, empregado eempregador, na qualidade de con-tribuintes devedores da seguridadesocial – execução de cunho previ-denciário.

Daí a importância da senten-ça de liquidação indicar: a) o créditotrabalhista; b) as parcelas previ-denciárias do empregado e do em-pregador.

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Salvo disposição contráriadisposta no título judicial executi-vo, a parcela previdenciária doempregado será descontada de seuscréditos e recolhida pelo emprega-dor juntamente com o valor de suaresponsabilidade.

7.2 Trâmites iniciais da execução

Requerida a execução, o juizexpedirá o mandado de citação doexecutado, a fim de que se cumpraa decisão ou o acordo no prazo,pelo modo e sob as cominaçõesestabelecidas ou, quando se tratarde pagamento em dinheiro, inclu-sive de contribuições sociais devi-das à União, para que o faça em 48horas ou garanta a execução, sobpena de penhora (art. 880, caput,CLT, com a redação dada pela Lein. 11.457).

Ocorre a garantia da execu-ção pelo depósito da quantia oupela nomeação de bens à penhora,observada a ordem preferencialprevista no art. 655 do CPC (art.882, CLT).

Em qualquer das hipóteses, agarantia do juízo deverá envolvero crédito trabalhista e o previ-denciário, além das demais despe-sas processuais.

Com a Lei n. 11.232, de 22/12/2005, houve a extinção do pro-cesso de execução em se tratandode execução por quantia certa ouna hipótese dos artigos 461 e 461-A do CPC (art. 475-I, CPC).

Se as inovações do CPC fo-rem aplicáveis ao Processo Traba-lhista, a rigor, não mais haverá acitação do devedor previdenciáriopara fins de pagamento.

Nesse caso, após a liqüidaçãoda contribuição previdenciária, odevedor previdenciário será inti-mado para que proceda ao paga-mento em 15 dias, sob pena doacréscimo de 10% ao valor da dívi-da, não mais se tendo a oportuni-dade da nomeação de bens à pe-nhora (art. 475-J, CPC).

7.3 Os embargos do devedor e aimpugnação à sentença deliqüidação

Os embargos do devedor de-vem ser opostos no prazo de 5 diasapós a garantia do juízo. Além dadiscussão quanto aos incidentes daexecução e de outras matérias (ar-tigos 884, § 1º, CLT, e 475-L, CPC),o devedor poderá discutir a maté-ria pertinente à contribuição social(art. 884, § 3º).

Se o devedor discutir os valo-res e a questão da responsabilida-de em relação às contribuições so-ciais, o juiz deverá dar ciência dosembargos ao credor trabalhista e aoprevidenciário.

Para o credor trabalhista e oprevidenciário, o valor da con-tribuição social será objeto deapreciação, por intermédio daimpugnação à sentença de liqüida-ção. O prazo é de 5 dias, que serácomputado a partir da ciência dagarantia do juízo (art. 884, § 3º).

A fim de se evitar qualquer nuli-dade, é razoável que o juiz dê ciênciadas impugnações apresentadas paratodas as partes contrárias, como formade observar os princípios do contradi-tório e do amplo direito de defesa.

O prazo para manifestação,em relação às impugnações e aos

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embargos à execução, é de 5 dias(art. 900).

Os embargos e as impug-nações à liqüidação apresentadaspelas partes serão julgados pelamesma sentença (art. 884, § 4º).

7.4 Recolhimentos das contribui-ções sociais

Os recolhimentos das impor-tâncias, relativas às contribuiçõessociais, serão efetuados nas agên-cias locais da Caixa Econômica Fe-deral (CEF) ou do Banco do BrasilS.A., por intermédio de documen-to de arrecadação da PrevidênciaSocial, dele se fazendo constar onúmero do processo (art. 889-A,caput, CLT).

Se houver a concessão doparcelamento da contribuiçãoprevidenciária pela Secretaria daReceita Federal do Brasil, o deve-dor juntará aos autos a comprova-ção do ajuste, ficando a execuçãosuspensa até a quitação de todas asparcelas (art. 889-A, § 1º, redaçãodada pela Lei n. 11.457).

O prazo para o recolhimentodas importâncias devidas àSeguridade Social, em função dasexecuções trabalhistas, é o segun-do dia do mês seguinte ao daliqüidação da sentença (art. 276,caput, Decreto n. 3.048).

No caso do pagamento par-celado, as contribuições serão re-

colhidas na mesma data e propor-cionalmente ao valor de cada par-cela (art. 276, § 1º).

As Varas do Trabalho deve-rão encaminhar, de forma mensal,à Secretaria da Receita Federal doBrasil, as cópias das guias relati-vas aos recolhimentos comprova-dos nos autos das execuções tra-balhistas, exceto se outro prazofor estabelecido no Regulamentoda Previdência Social (art. 889-A,§ 2º).

Para fins de implemento des-sa última exigência, as secreta-rias das Varas do Trabalho deve-rão exigir das partes a entrega decópias das guias de recolhimento.

7.5 Recurso na execução trabalhis-ta das contribuições sociais

No caso de divergência daspartes (o credor trabalhista; o cre-dor previdenciário e o devedor) arespeito da sentença que julgou asimpugnações e os embargos à exe-cução, o recurso cabível é o agra-vo de petição (art. 897, § 3º, CLT).O prazo é de 8 dias para o agravode petição e a respectiva contra-razões (art. 6º, Lei n. 5.584). Parao INSS o prazo é de 16 dias (art.1º, III, Decreto-Lei n. 779).

Quando o agravo de petiçãoé relativo somente à contribuiçãoprevidenciária, o juiz da execuçãodeterminará a extração de cópias13

das peças necessárias, que serão

13INSS. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FORMAÇÃO. PEÇAS OBRIGATÓRIAS. NÃO CONHE-CIMENTO. A falta das peças necessárias e essenciais à formação do instrumento conformepreceitua o art. 897, § 5º, I, da CLT, implica no seu não conhecimento. Não há que se falar emaplicação por analogia da previsão contida no § 8º, do art. 897, da CLT, pelo simples fato de oagravante ser o INSS, pois o legislador ordinário condicionou o uso da analogia aos casos deomissão legal, ex vi do art. 4º, da Lei nº 4.657, de 04 de setembro de 1942 – Lei de Introdução aoCódigo Civil Brasileiro -, fato que, in casu, inocorre, porquanto a Lei é clara ao asseverar que sobpena de não conhecimento, as partes promoverão a formação do instrumento do agravo demodo a possibilitar, caso provido, o imediato julgamento do recurso denegado, instruindo a

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autuadas em apartado e remeti-das à instância superior para adevida apreciação após a conces-são do prazo para contraminuta(art. 897, § 3º).

Do acórdão que julgar oagravo de petição no TRT, a res-peito da contribuição previden-ciária, somente caberá recurso derevista se a matéria impugnadaenvolver violação direta e literalda Constituição (art. 896, § 2º).

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petição de interposição (§ 5º, do art. 897, da CLT). Oportuno ressaltar que quando o legisladorquis conceder algum privilégio às entidades estatais da administração direta ou indireta, seja deordem material, seja de ordem processual, o fez de forma expressa, a exemplo do art. 188, doCPC, sendo defeso ao interprete concedê-la. Logo, o fato de o agravante ser entidade autárquica,não o exime de promover a regular formação do instrumento, eis que a Lei não fez nenhumaexceção à estas entidades (TRT – 23ª R – AI n. 00459.2002.026.23.02-6 – Rel. Osmair Couto –DJMT 15/10/2003 – p. 26).

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