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CMG NILBERTO SILVA DA CRUZ A LIDERANÇA, NA MARINHA DO BRASIL, NOS DIAS ATUAIS Rio de Janeiro Marinha do Brasil Escola de Guerra Naval 2006

A LIDERANÇA, NA MARINHA DO BRASIL, NOS DIAS ATUAIS · 2015-10-14 · 2.7 NÍVEIS DE LIDERANÇA ... bem como modificar as atitudes de seus integrantes, ... pretende-se abordar neste

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CMG NILBERTO SILVA DA CRUZ

A LIDERANÇA, NA MARINHA DO BRASIL, NOS DIAS ATUAIS

Rio de Janeiro

Marinha do BrasilEscola de Guerra Naval

2006

CMG NILBERTO SILVA DA CRUZ

A LIDERANÇA, NA MARINHA DO BRASIL, NOS DIAS ATUAIS

Monografia apresentada à Escola de Guerra Navalcomo requisito de conclusão do Curso de Política eEstratégia Marítimas.

Orientador: CMG (FN-Refº) NEWTON PRADO

Rio de Janeiro

Marinha do BrasilEscola de Guerra Naval

2006

RESUMO

O objetivo desta monografia é apresentar uma visão sobre a liderança, na Marinha

do Brasil, nos dias atuais e em um futuro próximo. Inicia-se com uma caracterização dos

aspectos importantes da liderança militar, com o propósito de auxiliar o leitor a compreender

o conceito, as teorias, os princípios, os tipos e os níveis de liderança. Em seguida, apresentam-

se os valores, os atributos e as habilidades que se espera de um líder. Após esta apresentação,

aborda-se, sumariamente, o ensino da liderança nos diversos níveis e a aplicação, deste

aprendizado, no dia-a-dia das Organizações Militares. Posteriormente, apoiado no

desenvolvimento tecnológico e de equipamentos, o qual exige mudanças no perfil daquele que

lidera, é apresentado o que se deseja do líder atual e do líder futuro. A conclusão está centrada

na preocupação da Marinha com a preparação de líderes, aptos a enfrentarem os desafios de

uma nova era e capazes para o exercício diário da liderança, e com a constante evolução que

se processa nos campos da tecnologia e do pensamento humano. Apresenta-se, na conclusão,

algumas sugestões para o aperfeiçoamento do estudo e a prática da liderança na Força. Este

trabalho desenvolveu-se fundamentado em uma pesquisa bibliográfica documental,

compreendendo as seguintes técnicas: pesquisa de levantamento da bibliografia e documentos

pertinentes; seleção da bibliografia e dos documentos que efetivamente poderiam enriquecer o

objeto da pesquisa e leitura analítica da bibliografia e dos documentos selecionados. Durante

o processo de pesquisa foi realizado o fichamento dos tópicos que interessavam ao

desenvolvimento do tema, sendo elaborados resumos e fichas bibliográficas que auxiliaram a

confecção desta monografia. Termina-se este trabalho com a esperança de que o tema

continue sendo objeto de estudos cujos resultados, cada vez mais, sirvam para capacitar o

líder a cumprir, da melhor forma, a sua missão.

Palavras-chave: Liderança, liderança militar, líder, liderados

ABSTRACT

The mains goal of this work is to provide an overview about leadership, within the

Brazilian Navy, at the present moment and about the near future. Initially the characterization

of the most important aspects of military leadership will be introduced, in order to help the

reader to understand the concept, theories, principles, types and levels of leadership. In the

sequence, values, attributes and abilities expected from a leader will be presented. Following

this introduction, the leadership learning at different levels and its applications, within the

daily activities of the Military Organizations, will be presented. Afterwards, based on the

technological and material development, which demands changes in the leader profile, it will

be presented what is expected from a leader in the present and in the future. The conclusion is

centered on the Navy concerns about leader’s formation, ready to face the challenges of a new

time and able to face the daily leadership exercise and also following the constant evolution

that takes process within the technology and humankind thinking fields. The conclusion

presents also suggestions, looking forward the improvement of leadership study and practice,

within the Navy. This work was developed based on a documental bibliographic research

considering the following techniques: research of bibliography and related documents;

bibliography and useful documents selection and reading of the bibliography and documents

selected. The research process achieved cataloguing activities of interesting topics related to

the theme development, and index cards were elaborated. At the end of this work it is

expected that this theme continue being object of future research, whose results contribute to

provide, each time more, the leader to accomplish its mission, in the best way.

Key-words: Leadership, military leadership, leader, leaded

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 6

2 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA LIDERANÇA.......................... 9

2.1 O QUE É LIDERANÇA?................................................................................. 9

2.2 TEORIAS DA LIDERANÇA........................................................................... 10

2.3 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA....................................... 11

2.3.1 Aspectos filosóficos.......................................................................................... 11

2.3.2 Aspectos psicológicos....................................................................................... 12

2.3.3 Aspectos sociológicos....................................................................................... 13

2.4 FATORES AMBIENTAIS DA LIDERANÇA................................................ 13

2.4.1 O líder .............................................................................................................. 14

2.4.2 Os liderados....................................................................................................... 14

2.4.3 A comunicação.................................................................................................. 14

2.4.4 A situação.......................................................................................................... 15

2.5 PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA...................................................................... 15

2.6 OS ESTILOS DE LIDERANÇA...................................................................... 15

2.6.1 Liderança autoritária ou autocrática.................................................................. 16

2.6.2 Liderança participativa ou democrática............................................................ 16

2.6.3 Liderança delegativa......................................................................................... 17

2.6.4 Liderança situacional........................................................................................ 17

2.7 NÍVEIS DE LIDERANÇA............................................................................... 18

2.7.1 Liderança direta................................................................................................ 19

2.7.2 Liderança organizacional.................................................................................. 19

2.7.3 Liderança estratégica......................................................................................... 20

2.8 FORÇAS INTERNAS E EXTERNAS............................................................. 21

2.9 BASES DA LIDERANÇA............................................................................... 22

2.10 SER, SABER E FAZER................................................................................... 23

3 O LÍDER......................................................................................................... 24

3.1 ATRIBUTOS E QUALIDADES DE UM LÍDER........................................... 24

3.2 CHEFE E LÍDER.............................................................................................. 27

3.3 SER UM LÍDER............................................................................................... 28

4 O ENSINO DE LIDERANÇA NA MB......................................................... 29

4.1 O EXERCÍCIO DA LIDERANÇA................................................................... 29

4.2 FINALIDADE DOS CURSOS......................................................................... 31

4.2.1 Liderança para oficiais...................................................................................... 31

4.2.2 Liderança para praças........................................................................................ 33

4.3 INSTRUTORIA................................................................................................ 34

4.4 ESTUDO DE CASOS...................................................................................... 35

4.5 LIDERANÇA NO DIA-A-DIA........................................................................ 37

4.6 A DELEGAÇÃO DE AUTORIDADE............................................................. 41

5 O LÍDER DE HOJE E DO FUTURO .......................................................... 43

6 CONCLUSÃO................................................................................................. 47

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 53

1 INTRODUÇÃO

Como pode um Oficial da Marinha desenvolver a liderança? A fórmula ésimples: conhecer a sua profissão, conhecer a si próprio e conhecer seushomens (Capitão-Tenente Sherman Baldwin).

A liderança tem sido motivo de reflexões e estudos, ao longo dos anos, por

diversos autores. Sendo um entusiasta e estudioso do assunto, este autor escolheu dissertar

sobre o tema e enfocar a liderança, na Marinha do Brasil (MB), nos dias atuais e em um

futuro próximo. A importância da liderança é incontestável e está cada vez mais em evidência

nos diversos setores da atividade humana. A busca por líderes eficazes em organizações,

sejam elas públicas ou privadas, é um propósito a ser atingido. Acredita-se que um bom líder

em muito contribui para levar a sua instituição ao sucesso e que a consecução de um

determinado objetivo é proveniente da capacidade de persuasão do mesmo. Embora muito já

se tenha escrito sobre o assunto, este trabalho procurará ser original, sucinto e otimista.

Otimista mesmo quando existe uma crise de valores éticos e morais que assola o País e afeta

toda a sociedade. Percebe-se que o homem moderno não se preocupa mais com o que é certo

ou errado, uma vez que está conseguindo burlar as leis com facilidade. Existe, na sociedade

atual, uma minoria que busca a revitalização dos conceitos éticos e morais e é preciso resgatar

a idéia de que há exemplos a serem seguidos, exemplos estes representados pelos líderes

(MATOS, 2006).

A publicação Instruções Provisórias do Exército (IP 20-10) define a importância

do homem frente à liderança e à busca do conhecimento, pelo ser humano, para o desempenho

do papel de líder:

“O homem, com suas virtudes e fraquezas, emoções, anseios e frustrações,constitui o elemento propulsor da engrenagem que conduz o Exército àrealização de seus objetivos”. Aqui, substitui-se a palavra Exército pelapalavra Marinha. “Conhecer os valores humanos, a partir da busca do auto-aperfeiçoamento é, antes de tudo, uma missão a que o militar deve seentregar, ao pretender realmente ser um profissional competente, um lídercapaz de influenciar e ser respeitado por seus superiores, pares esubordinados” (BRASIL, 1991, p. 1-1).

O atual mundo globalizado tem sido caracterizado pela ocorrência de profundas

mudanças. Destaca-se, entre essas alterações, o acelerado desenvolvimento científico-

6

tecnológico que resulta na produção de equipamentos e armas sofisticadas, caras e de difícil

manutenção, e que tornam complexas, cada vez mais, as atividades militares.

Da mesma maneira, os avanços tecnológicos deram um grande impulso na

velocidade em que são transmitidas as informações. Embora tal fato facilite as tomadas de

decisões, por outro lado geram grandes necessidades operacionais, exigindo daqueles que

estão no comando e chefia decisões rápidas, seja na vida militar ou civil.

E é envolvido por esta complexidade que se destaca o elemento primordial de uma

instituição em qualquer época: o ser humano. Não restam dúvidas de que o sucesso alcançado

pela instituição Marinha deve-se à eficaz liderança praticada pelos militares que a compõem.

Tais afirmativas corroboram a idéia da importância do estudo da liderança, bem como a idéia

do ser humano ser encarado como fator essencial de uma Organização Militar (OM).

Acompanhando a história, percebe-se que uma Marinha sem uma liderança eficaz

e eficiente, que seja capaz de conduzir seus subordinados ao cumprimento de sua missão

constitucional, bem como modificar as atitudes de seus integrantes, quase nada pode fazer

pelo seu Estado. Entretanto, nem só de guerras vive uma Força ou Estado. Sabe-se que, desde

a Segunda Guerra Mundial, a MB vem procurando manter o seu nível operacional sem

envolver-se em nenhum tipo de conflito armado externo. Sendo assim, no atual tempo de paz

cresce a importância do líder, elemento este capaz de gerenciar crises e de passar uma visão

coerente e prospectiva do futuro de sua Força com o propósito de elevar, ou no mínimo

manter, o bem-estar e o moral elevado dos componentes do grupo que estiver liderando. É de

fundamental importância que este elemento tenha como objetivo a aquisição e a manutenção

de valores, que o identificarão como líder militar, e o preparo profissional para a atividade-

fim da MB.

O adestramento do profissional em liderança não é só responsabilidade da

instituição. É essencial o interesse particular daquele que pretende ser um líder, aprimorar

determinadas características no seu trabalho diário, pois o adestramento do militar deve ser

contínuo, ao buscar o aperfeiçoamento da liderança (BRASIL, 2004).

A MB, acompanhando as múltiplas e rápidas transformações pelas quais o mundo

está passando, vem se preocupando em desenvolver temas, abordando os aspectos principais

da liderança, em cumprimento à determinação do seu Comandante, em suas orientações para

o ano de 2006 (ORCOM/2006):

Considerando que a eficiência, qualidade dos serviços e produtos oferecidospor uma organização tem relação direta com o nível de satisfação

7

profissional dos seus integrantes, a Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha(DGPM), com o concurso dos demais Órgãos de Direção Setorial (ODS),deverá priorizar o ensino e a prática da liderança, em todos os níveisorganizacionais (BRASIL, 2006, p. 10).

A idéia principal deste trabalho, então, está baseada em um tema de grande

relevância na MB e motivador, em virtude de a liderança ser vista, nos dias atuais, como um

instrumento a ser utilizado para se atingir o sucesso, seja em grandes empresas ou dentro dos

ambientes militares. A própria Doutrina de Liderança da Marinha (EMA-137), primeira

publicação institucional da MB sobre o assunto, preceitua que a liderança pode representar a

diferença entre a vitória e a derrota, em um empreendimento, mesmo em um ambiente

tecnologicamente avançado.

O líder, hoje, necessita estar sempre atualizado e preparado para o futuro, em

virtude da constante troca de informações, imposta pela globalização, que requer, desse líder,

uma rápida e progressiva compreensão do que ocorre ao seu redor, de forma a conduzir, de

maneira eficiente e eficaz, os seus liderados.

8

2 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA LIDERANÇA

Liderança é o coração e a alma de qualquer empreendimento (AE KleberLuciano de Assis).

Para o desenvolvimento do tema liderança, pretende-se abordar neste capítulo

alguns conceitos, definições e princípios básicos, tendo como finalidade fornecer ao leitor um

melhor entendimento teórico sobre o assunto. Hoje, mais do que nunca, precisa-se de líderes

de alta capacidade profissional e habilidade na condução de indivíduos, porque o sucesso de

qualquer instituição, inclusive as militares, é essencialmente dependente dos valores humanos.

A liderança passou a ser a mola propulsora de uma organização moderna e a sua prática deve

ser um comprometimento do líder com a sua equipe.

É visível que as organizações que possuem, em seu quadro de funcionários,

líderes eficientes são capazes de superar problemas dos mais diversos. No âmbito militar, não

poderia ser diferente e, apesar do avanço tecnológico do mundo globalizado, a essência que

move as Forças Armadas é o homem. E este homem necessita de líderes eficazes para que

possa tornar-se, também, eficaz e receber o crédito pelo sucesso, alcançado pela instituição,

frente à liderança praticada.

Devido a este avanço tecnológico, a MB tem passado por mudanças diversas e

necessita de líderes corajosos, inteligentes e decididos com excelente adestramento e

liderança de qualidade que garanta uma integração da instituição, desde os mais altos postos

até as funções exercidas nos níveis mais elementares.

Algumas Diretrizes Principais, componentes da publicação Diretrizes Básicas da

Marinha (EMA-303), estabelecem orientações amplas e abrangentes quanto aos recursos

humanos, que devem ser observadas como: otimizar ao máximo o emprego desses recursos;

capacitar o pessoal de modo que seja possível absorver a constante evolução tecnológica dos

sistemas navais e valorizar o elemento humano, com ênfase no desenvolvimento e

aperfeiçoamento das qualidades morais, profissionais, intelectuais e culturais (BRASIL, 2003,

p. 3-1, 3-2).

2.1 O QUE É LIDERANÇA?

Tanto se tem escrito sobre liderança que a concepção de idéias novas parece ser

9

um trabalho desafiador, em virtude da infinidade de conceitos que tentam definir o tema.

Segundo James C. Hunter, consultor chefe da J. D. Associados, uma empresa de

consultoria de relações de trabalho e treinamento, e autor do livro “O monge e o executivo”, a

liderança é “a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando

atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum” (2004, p. 25, grifo nosso).

A publicação Doutrina de Liderança da Marinha (EMA-137), editada pelo Estado-

Maior da Armada (EMA), define liderança como sendo “o processo que consiste em

influenciar pessoas no sentido de que ajam, voluntariamente, em prol dos objetivos da

instituição” (2004, p. 1-2, grifo nosso).

Sendo uma das definições pertencente e voltada para o mundo empresarial e a

outra pertencente a uma publicação doutrinária da MB, ambas expressam aspectos do que seja

liderar. Percebe-se que não há diferenças nestas definições e que nelas estão implícitos os seus

agentes: o líder, os liderados, as relações que existem entre eles e os princípios filosóficos,

psicológicos e sociológicos que devem balizar o comportamento humano. Assim, verifica-se

que liderança não é só a capacidade de fazer com que um grupo de pessoas trabalhe no

sentido de realizar uma tarefa específica, mas de maneira que os liderados passem a

considerar o desejo do líder como sendo o seu próprio e labutem no sentido de alcançar a

realização deste desejo (SILVA, 1989, p. 1).

2.2 TEORIAS DA LIDERANÇA

Pela sua amplitude, a liderança é um fenômeno que abrange as relações sociais e

tem desafiado ao longo do tempo os historiadores, sociólogos e psicólogos, profissionais

ligados às ciências humanas, a encontrarem, por meio de estudos, razões que justifiquem o

surgimento do líder. Estes estudos originaram pelo menos três teorias, que se fizeram

conhecidas, e servem para ilustrar a variedade de escolas que defendem formas distintas de se

produzirem líderes. As teorias estão descritas nas Instruções Provisórias do Exército:

Teoria Inatista: defende a tese do líder inato, na qual fatores relacionadoscom a hereditariedade determinam a existência do líder. As influências domeio são minimizadas e até desprezadas pelos inatistas. Para estes, aliderança é um atributo da personalidade, que torna o líder conhecido comotal em todas as situações. Isto, porém, não acontece, pondo à mostra afragilidade dos argumentos em que se fundamenta esta teoria, que, de resto,também não explica a destituição de líderes, tão freqüente, em face desituações variadas.Teoria Sociológica: afirma que o líder é função do meio social, só

10

alcançando prestígio e aceitação por representar os ideais da coletividadenaquela determinada situação, caracterizando, deste modo, o líderemergente. Esta teoria também não encontra meios de justificar por que,somente a determinadas pessoas, a sociedade confere delegação deautoridade, ou porque estas pessoas adquirem prestígio.Teoria do Campo Social: estabelece que a liderança é uma relaçãofuncional entre membros de um grupo, na qual o líder adquire prestígioatravés de uma participação ativa e pela demonstração de suas capacidades.Assim, a liderança só poderá ser exercida por quem participe dos ideais dacomunidade e neles estejam altamente integrados. Fica evidente que suasqualidades devem coincidir com as exigidas para o momento, pelo camposocial (1991, p. 3-4, grifo nosso).

Pode-se dizer que a Teoria do Campo Social é a teoria mais aceita atualmente.

Como pode ser constatada, esta teoria funde os aspectos mais evidentes das demais correntes,

uma vez que considera a integração psicossocial de atitudes e valores tanto do indivíduo como

da coletividade. Segundo Marcio de Souza Campos (2002), a Teoria do Campo Social admite

que certas pessoas podem possuir qualidades inatas, como o carisma e a comunicabilidade,

que com certeza as auxiliará a exercer a liderança. No entanto, é no exercício de assumir

responsabilidade pelo seu grupo e nos momentos críticos que será conhecido o verdadeiro

líder.

Este autor concorda com o Almirante-de-Esquadra Kleber Luciano de Assis

quando ele descreve o seguinte conceito:

Não defendo a idéia que os líderes já nascem feitos. A liderança pode seraprendida pela leitura de seus princípios e é alcançada pela experiência devida de cada um. É observando os valores que regem a Marinha, como aconduta dos chefes que se constitua um exemplo a ser seguido, que aspessoas certamente sentirão vontade de mais do que obedecê-los, segui-los.Os princípios teóricos aliados a uma prática consciente moldam o líder(2003, p. 62).

2.3 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA

2.3.1 Aspectos filosóficos

Influenciar um grupo, processo mais importante que constitui a liderança, está

ligado aos valores éticos e morais que devem ser transmitidos e praticados, como exemplo,

pelo líder.

Estes valores, considerados vitais pela Marinha, são aqueles que devem ser

11

exercitados, diariamente, pelos líderes e seus liderados. O importante é saber hierarquizá-los,

característica fundamental da Axiologia, conhecida como a teoria dos valores, priorizando-os

em comparação aos valores materiais, ao poder e à satisfação pessoal.

É óbvio que, para transmiti-los e praticá-los, o homem necessita receber uma

educação que o faça ser capaz de valorizar algo importante como a vida humana, a sua família

etc. Sem este modelo educacional, perde-se a capacidade de perceber estes e outros valores

como a honra, dignidade, honestidade, lealdade e o amor à pátria, tão em falta nos dias atuais

(BRASIL, 2004).

O Manual de Liderança (DEnsM-1005) define bem o estágio de dificuldades em

que se encontra a sociedade atual, frente à sua crise de valores:

Atualmente, para bem cumprir tal tarefa de doutrinamento, há que seenfrentar dificuldades adicionais; a começar pela hierarquização de valorespraticada pelas sociedades em geral (embora nem sempre declarada):privilegia-se o que é concreto e material (o dinheiro, como fonte de poder esatisfação; o culto ao corpo, à beleza e à juventude - estes últimos, valorestransitórios), em detrimento de valores abstratos e perenes, como os acimamencionados (1996, p. 8).

2.3.2 Aspectos psicológicos

É natural que, em suas relações diárias, as pessoas utilizem recursos que são

encarados como psicologia do senso comum. Esta psicologia intuitiva não substitui os

conhecimentos básicos e necessários, que um líder deve ter para obter sucesso na condução de

seres humanos, para que não haja risco de ser surpreendido com comportamentos e atitudes

impróprias por parte dos subordinados.

Sabe-se, por meio do estudo da psicologia, que os seres humanos são

condicionados por estímulos, refletidos no comportamento, e pelo ambiente que os envolve

que resultam em atitudes, tais como: gestos, apresentação etc. Eis, então, uma das grandes

tarefas de um líder: ser capaz de entender todo este processo psicológico que é iniciado

através de um estímulo, passa por um comportamento e chega a uma atitude. O entendimento

deste processo permitirá que o líder avalie os seus subordinados para a realização de tarefas

que envolvam até risco de vida, como em situações de guerra.

O ideal é que o líder conheça o seu próprio perfil psicológico, ao mesmo tempo

em que conhece os membros de seu grupo, suas possibilidades e limitações, além de avaliar as

suas possíveis reações diante de diferentes contextos (BRASIL, 2004).

12

2.3.3 Aspectos sociológicos

Ao estudar este aspecto, verifica-se que aquele elemento que melhor conseguir

personificar os anseios e objetivos de um grupo pode ser candidato a líder. É necessário, neste

caso, que este indivíduo possua alguns atributos pessoais, como credibilidade e persuasão, e

esteja preparado para despertar em seus liderados a adesão voluntária aos objetivos que aquele

que está liderando tem em vista (BRASIL, 2004).

O Manual de Liderança da Marinha do Brasil auxilia no entendimento da relação

que existe entre Sociologia e Liderança, quando diz:

Partindo desta visão da Liderança, é evidente, pelo que já expusemos nestetópico, o quanto a Sociologia tem para contribuir em termos deembasamento teórico no estudo e na construção do processo de Liderança.Para muitos teóricos, a Liderança, dadas as características singulares queenvolve, constitui-se em um processo ímpar de interação social, o que sóvem corroborar sua relação com a Sociologia (1996, p. 24).

2.4 FATORES AMBIENTAIS DA LIDERANÇA

A estrutura organizacional militar é perfeita, crença deste autor, pois define os

limites da participação individual, as responsabilidades, a autoridade e as relações funcionais

existentes entre superiores, pares e subalternos. A publicação IP 20-10 complementa que:

Cada um traz para a organização suas experiências, suas necessidades, seusideais e seus objetivos, que podem interferir na sua capacidade departicipação. Estes aspectos determinam a importância do papel do chefe elíder, cujo propósito é integrar os subordinados, impulsionando-os na direçãodo cumprimento de suas atribuições (1991, p. 3.5).

Estando o estudo da liderança vinculado a fatores de natureza pessoal, social e

institucional, compreende-se que, para o seu exercício, devem existir elementos básicos que

caracterizam, em qualquer nível, o ambiente no qual as relações serão desenvolvidas, quais

sejam: o líder, os liderados, a comunicação e a situação, assim nos diz Floriano Peixoto Vieira

Neto (2004).

Baseado nas Instruções Provisórias do Exército, apresenta-se, de forma resumida,

as mais importantes características de cada fator ambiental que compõem a estrutura da

liderança.

13

2.4.1 O líder

A complexidade do cargo impõe ao líder um papel abrangente, com um aumento

da responsabilidade, na realização do propósito de um grupo. Fica claro que, mesmo sem ser

de sua vontade, o líder é um elemento modificador do comportamento de seus subordinados e

é capaz de orientar e influenciar as ações coletivas. A liderança militar está relacionada com a

responsabilidade pela vida de seres humanos. Não existe outro profissional que seja forçado a

assumir tarefa tão difícil, como a de liderar subordinados, muitas vezes em direção ao

sacrifício da própria vida, e não há explicação, fora da ética castrense, por que os homens

estão preparados para aceitar tal risco. É preciso que o líder eficaz tenha equilíbrio e presteza

para controlar as reações ante o inesperado. Considera-se que um líder inteligente deve

valorizar o aprendizado e o crescimento dos seus liderados, criando um clima que estimule a

criatividade e os desafios, que reconheça e compreenda o sentimento dos seus semelhantes e,

antes de tudo, que seja flexível.

2.4.2 Os liderados

O conhecimento dos liderados é essencial para o exercício da liderança e o

treinamento e adestramento dos escalões subordinados são aspectos fundamentais da

instrução militar, através da qual são entendidas as situações mais complexas. Mesmo na

ausência do líder, os seus colaboradores devem estar treinados e motivados para alcançarem o

sucesso da missão. Sem liderados não é possível exercer qualquer liderança e sem a

informação de suas capacidades individuais não se obtém o resultado máximo do grupo.

2.4.3 A comunicação

Sendo o processo essencial à liderança, a comunicação consiste na troca de ordens

e informações que só é completa quando a mensagem é transmitida, recebida e compreendida.

Tal quadro tem início quando uma idéia ou informação se forma na mente do líder. Por meio

de palavras ou símbolos, o líder (emissor) codifica esta idéia e a transmite ao liderado

(receptor) que decodifica a idéia, também por intermédio de palavras ou símbolos, em um

conceito ou informação. Se esta informação for a mesma que o líder transmitiu, então a

comunicação foi efetivada. Warren Bennis, valorizando a importância da comunicação no

relacionamento líderes-liderados, exemplifica: “na premissa de que líderes são pessoas com

14

capacidade para se expressar plenamente, eles também sabem o que querem e como

comunicar isto aos demais, a fim de obter a cooperação e o apoio deles” (1989, p. 135).

2.4.4 A situação

Segundo as IP 20-10 “o líder precisa compreender a dinâmica do processo de

liderança, os fatores principais que a compõem, as características de seus liderados e aplicar

estes conhecimentos como guia para cada situação em particular” (1991, p. 3-5). Identificando

todo este processo, o líder cria um clima mais favorável ao cumprimento da missão.

2.5 PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA

Essenciais para o aperfeiçoamento de um líder, os princípios da liderança, válidos

e atuais, devem ser ampliados e aprofundados por meio da educação, treinamento e acúmulo

de experiências. Tal bagagem de conhecimento será o alicerce para que o líder esteja

preparado para superar as responsabilidades crescentes, à medida que progride na carreira e

alcança posições mais elevadas. Não será definido cada princípio pela razão dos enunciados

falarem por si. Os princípios da liderança são, de acordo com as IP 20-10 (1991, p. 4-5):

a) conhecer sua profissão;

b) conhecer-se e procurar o auto-aperfeiçoamento;

c) assumir a responsabilidade por seus atos;

d) decidir com acerto e oportunidade;

e) desenvolver o senso de responsabilidade em seus subordinados;

f) servir de exemplo a seus homens;

g) conhecer e cuidar do bem-estar de seus subordinados;

h) manter seus homens bem informados;

i) assegurar-se de que as ordens são compreendidas, fiscalizadas e executadas;

j) atribuir missões a seus homens de acordo com as possibilidades destes; e

l) treinar seus subordinados como uma equipe.

2.6 OS ESTILOS DE LIDERANÇA

Estilo de liderança é a forma que o líder utiliza para estabelecer a direção,

aperfeiçoar planos e motivar os elementos de seu grupo para o cumprimento da missão. Os

15

principais estilos de liderança, descritos por muitas teorias, são baseados no conhecimento

técnico-profissional, nas características individuais, no relacionamento entre líderes e

liderados e da situação em que o grupo se encontra. Apresentam-se, a seguir, os estilos de

liderança, de acordo com o contido na publicação EMA-137 (2004, p. 1-4).

2.6.1 Liderança autoritária ou autocrática

Este estilo de liderança está fundamentado na autoridade formal que é aceita pelo

grupo. As características do líder, que utiliza este estilo de liderança, são baseadas numa

disciplina rígida, obediência imposta, relacionamento formal com seus liderados e pressão

contínua sobre o grupo, realizada por meio de inspeções constantes de verificação do

cumprimento de normas e padrões de eficiência. A maneira encontrada para motivar os seus

subordinados é por intermédio de recompensas e punições. Além de não considerar os

aspectos humanos no relacionamento líder/liderados, este estilo de liderança inibe a iniciativa

e a criatividade dos membros do grupo, por não levar em consideração as idéias e a

participação que os subordinados possam e queiram ter, o que pode provocar uma resistência

passiva dentro do grupo. Sendo o estilo de liderança mais conhecido e mais fácil de ser

adotado, é recomendável e útil em situações consideradas especiais, como por exemplo,

quando em combate.

2.6.2 Liderança participativa ou democrática

O sucesso deste estilo é verificado pelas características pessoais, pela motivação e

conhecimento técnico-profissional dos membros da equipe. A exigência de uma autoridade

formal é menor, justamente para que haja a participação e o aproveitamento das idéias dos

subordinados. Os liderados são motivados e opinam sobre as diversas formas pelas quais uma

tarefa pode ser realizada, cabendo ao líder a decisão final.

O líder que utiliza este estilo sabe estabelecer e manter um ambiente de respeito e

confiança. Possuído de uma ascendência técnico-profissional sobre aqueles a quem comanda

e sendo um exemplo de ética e moral, compatível com o cargo que exerce, este líder encoraja

a participação e delega tarefas sem perder de vista sua autoridade e responsabilidade. O líder,

possuidor de uma boa equipe, sabe que em sua ausência o planejamento estabelecido

previamente para o cumprimento de uma determinada missão terá continuidade. Este estilo de

liderança possui, como exemplo típico, um Estado-Maior.

16

O Almirante-de-Esquadra Kleber Luciano de Assis deixa claro o conceito de

liderança participativa ao falar sobre o modo como ele próprio pratica tal estilo de liderança:

Procuro, sempre que possível, praticar liderança participativa. Não meagrada ficar sentado à minha mesa exortando os homens e as mulheres quecomigo servem, sem oferecer-lhes a experiência que acumulei nesses anos.Procuro dar o exemplo honesto, que, por assim ser, se espalha em todos osgraus hierárquicos subordinados e termina por estabelecer um padrãodesejável de desempenho para toda OM (2003, p. 63).

2.6.3 Liderança delegativa

O líder, neste estilo de liderança, deverá ser altamente motivado e qualificado,

pois as decisões especializadas serão tomadas por assessores que agirão por si só. Sendo o

estilo perfeito para assuntos técnicos, nele o líder não se detém em uma determinada área

podendo dar maior atenção a problemas diversos. O controle das atividades dos subalternos é

pequeno, pois o propósito é motivar o grupo para o cumprimento de grandes metas

preestabelecidas. O enfoque principal deste estilo é saber delegar tarefas sem a perda do

controle da situação.

2.6.4 Liderança situacional

Esta escolha de estilo é função da percepção do ambiente e da capacidade de

adaptação do comportamento do líder para atender às necessidades dos seus subordinados, ou

seja, neste estilo os líderes são aqueles que, de acordo com as circunstâncias, assumem

características de liderança autoritária, democrática ou delegativa.

Depois de apresentar os estilos de liderança, surge a dúvida sobre qual dos estilos

é o melhor. Antes de se obter uma resposta, há que ser analisado que o líder deve conhecer

muito bem suas limitações e a capacidade de seus subordinados, bem como sua própria

capacidade de percepção, para que possa avaliar adequadamente a situação. Ressalta-se que as

situações confrontadas pelos líderes e liderados são as mais diversas possíveis. O tempo

disponível para a realização de tarefas, o nível de profundidade e a abrangência com que as

tarefas devem ser realizadas e a capacidade dos componentes do grupo no trato dos diversos

assuntos, são parâmetros que podem auxiliar na indicação do estilo de liderança a ser

utilizado.

Sendo assim, pode-se afirmar que não existe um estilo padrão e hegemônico que

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possa ser adotado e que a liderança é situacional. Ou seja, qualquer um dos estilos básicos

poderá ser ineficiente ou eficiente, de acordo com a situação em que será usado. Portanto,

quando a situação apresentada ao grupo é de pleno domínio do líder e o tempo disponível é

pequeno, o estilo mais adequado é o autocrático. Quando a tarefa requer maior criatividade e

se dispuser de um tempo maior, deve ser utilizado o estilo democrático. Se o líder possuir um

grupo de liderados, que seja de sua confiança, de modo que cada membro do grupo o

assessore com idéias práticas que lhe permitam preocupar-se com outros assuntos e haja

bastante disponibilidade de tempo, poderá ser implementado o estilo delegativo (CAMPOS,

2002).

A avaliação sobre o nível de maturidade do liderado em relação à tarefa que será

cumprida, a inteligência, o juízo e o autocontrole do líder são, também, de suma importância

para ajudá-lo a escolher o estilo de liderança.

Utilizando o pensamento de Hersey, Blanchard e Johnson (citados pelo Major

George Yeakey), os autores resumem a liderança situacional da seguinte maneira:

A liderança situacional é um modelo popular e muito usado que enfatiza ouso de mais um estilo de liderança, particularmente quando se trata dedesenvolvê-la entre os subordinados, nas Forças Armadas. Ela supõe que àmedida que os subordinados recebem adestramento, experiência e direção,estarão melhor preparados para cumprirem os objetivos da organização commenos interferência por parte de um líder. Trata-se de um modelo complexo,de variáveis complexas. A liderança e os estilos de liderança são conceitosque desafiam uma definição. A prontidão do subordinado é uma dimensãomultifacetada difícil de medir. O modelo da liderança situacional continua aser usado pelas forças militares como um meio de treinamento, praticamenteem todos os programas formais de adestramento de líderes (2002, p. 59).

Entende, este autor, após cuidadosa análise, que o estilo participativo ou

democrático é o que melhor se adapta às Forças Armadas e o mais usado na rotina diária das

OM. Porém, é necessário que o líder tenha arraigado crenças, valores morais, ética militar e

saiba normatizar seu ambiente de trabalho, sob pena de que a liderança não seja exercida em

sua plenitude, seja qual for o estilo adotado. A maneira correta de o líder saber se está usando

o estilo apropriado é o desempenho e resultado positivo ao avaliar o término de sua missão.

2.7 NÍVEIS DE LIDERANÇA

No decorrer da evolução das técnicas de gestão empresarial, o estudo sobre o

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comportamento dos dirigentes foi focado nas diferenças entre o líder de base e o líder de

cúpula. Foi, então, idealizado um padrão de organização com três níveis funcionais: o tático, o

operacional e o estratégico, com características diferentes e desejáveis para um líder em cada

nível. Com base nesses novos conceitos, foram criados três níveis de liderança: direta,

organizacional e estratégica, níveis que são adotados pela doutrina da Marinha do Brasil

(BRASIL, 2004, p. 1-8). Embora cada um desses níveis possua seus próprios atributos, é

interessante notar que os líderes dos níveis mais elevados não podem prescindir dos

fundamentos dos níveis mais baixos. Um líder estratégico terá, sem dúvida, no exercício de

seu cargo, muitas oportunidades para a prática da liderança nos outros níveis.

2.7.1 Liderança direta

Este nível de liderança é aquele obtido por meio do relacionamento diário e face a

face entre o líder e sua equipe. Por meio desse contato diário, o líder tem melhores condições

de exercer influência sobre seus subordinados. É o mais observado em escalões inferiores e no

comando de pequenas unidades. Ao líder direto, cabe instruir e aconselhar os seus

subordinados de modo a ter uma equipe coesa e treinada, onde todos trabalhem em direção

aos objetivos da organização.

Espera-se que este tipo de líder conheça bem os seus liderados e equipamentos em

sua área de atuação. Pelo exemplo pessoal, procurará motivar a sua equipe e os resultados de

suas ações serão vistos quase que de imediato. O líder não deve ter dúvida que o exemplo

arrasta.

2.7.2 Liderança organizacional

Este tipo de liderança é basicamente indireto. Neste caso, os líderes programam

suas diretivas e motivam os seus subordinados por intermédio de seus comandantes

subordinados. Devido a essa distância, os resultados de suas ações são mais demorados e

menos visíveis.

É importante que o líder organizacional mostre sua presença física junto aos

subordinados. Tal ação aumenta a confiança, o respeito e o desempenho dos seus liderados

que o vêem como exemplo. Isto pode ser conseguido por meio de visitas, mostras de pessoal e

material ou reuniões funcionais com os comandos subordinados.

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2.7.3 Liderança estratégica

Neste tipo de liderança, atributos adicionais devem ser desenvolvidos para reduzir

algumas dificuldades, como a influência do líder que é ainda mais distante e indireta se

comparada com a liderança organizacional. O líder estratégico é aquele que trabalha hoje e

prepara a instituição para os desafios do futuro, estando no nível mais elevado da organização.

Embora a visão do futuro não seja clara quanto a alguma possível ameaça, o líder

estratégico trabalha entre extremos, entre a consciência das necessidades atuais e baseado na

missão e objetivos de longo prazo. Sua função é visualizar o que é importante com relação a

pessoal, material, logística e tecnologia, para que sirvam de subsídios em decisões críticas que

formarão a estrutura e a capacidade futura da instituição.

O líder estratégico não trabalha apenas no âmbito interno da instituição. Ele

trabalha junto ao Congresso e a outros órgãos nos assuntos que dizem respeito a orçamento,

estrutura da Força e questões estratégicas, além de estabelecer intercâmbios com outros Países

e Forças em assuntos de interesse mútuo. Para conduzir de maneira adequada a Força e

contribuir para o desenvolvimento e segurança da Nação, o líder estratégico deve possuir um

nítido conhecimento dos requisitos operacionais, da situação geopolítica e da sociedade, haja

vista que os conflitos nos dias atuais podem ser desencadeados rapidamente, não permitindo

que haja um período de mobilização para a guerra.

Para atingir o nível de líder estratégico são necessárias a aquisição de

conhecimentos e a absorção de experiências. A capacidade pessoal, a demonstração de

conhecimento profissional e as características individuais apresentadas, no decorrer de sua

carreira, serão determinantes no processo seletivo para a liderança estratégica. E isto não é

requerido da noite para o dia e sim pela influência que os níveis anteriores de liderança

provocam na construção do líder estratégico, um processo contínuo de preparação e

aprimoramento de qualidades. O líder estratégico normalmente estará distante da tropa, pois

os canais de comando e a hierarquia se encarregam de fazer as ligações necessárias para as

trocas de informações, o envio de missões e a recepção de respostas.

Baseado nos conceitos estudados, entende-se que a liderança estratégica é aquela

que está relacionada às atividades dos Oficiais-Generais, que atuam à frente dos diversos

órgãos da instituição, no estabelecimento de políticas e diretrizes, implementando as

providências que mantenham a eficiência em níveis exigidos ao atendimento dos

compromissos ditados pela Constituição. É por intermédio deste líder que serão estabelecidas

as prioridades e serão alocados os recursos necessários para o desenvolvimento e

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implementação dos vários projetos. Cada decisão tomada repercutirá em todos os outros

níveis, contribuindo para a integração da instituição e para o estabelecimento da necessária

confiança entre os diversos escalões da Força, servindo como atenuante para as incertezas que

ocorrerão durante qualquer período de mudanças (VIEIRA NETO, 2002).

2.8 FORÇAS INTERNAS E EXTERNAS

Com o acelerado desenvolvimento da tecnologia, novos valores também são

exigidos daqueles militares que pretendem comandar e liderar um grupo de homens, fazendo

com que eles tenham um conhecimento preciso do ambiente e do momento em que estão

vivendo. É nítida a evolução da maneira em que é aplicada a liderança hoje, em comparação

com o tempo passado. A liderança militar afasta-se da simples autoridade imposta pela função

exercida, predominante nos primórdios da instituição, para um tipo de liderança baseada no

preparo profissional e no discernimento do chefe com relação às necessidades dos seus

liderados.

O livreto “Nossa Voga”, distribuído aos aspirantes na Escola Naval, apresenta o

seguinte conceito:

Para que um organismo militar seja verdadeiramente fortalecido peladisciplina e forme um bloco de poder, é essencial que todos tenhamconfiança em seus chefes. Do contrário, as restrições de liberdade, a fadiga,o isolamento e o trabalho podem parecer arbitrários e sem objetivo. Nemsempre se poderá explicar tudo aos subordinados, mas sempre é possível aosuperior inspirar confiança. Quando ele não possui qualidades pessoais bemdefinidas e reconhecidas, recebendo sua autoridade apenas dos galões queostenta e dos regulamentos, seus subordinados acham-se não diante dohomem, mas diante de sua função (2001. p. 20).

Assim sendo, o fluxo de funcionamento de uma OM é impulsionado por dois tipos

de solicitações: as externas e internas. Quanto às externas podem ser exemplificadas como

sendo as ordens, missões etc. atribuídas às organizações pelas leis, regulamentos e escalões

superiores. As forças existentes dentro das próprias organizações, como os ideais, as

aspirações, o entusiasmo, as esperanças e estímulos de cada membro do grupo seriam o que

chamamos de forças internas. O comandante combina e transforma essas duas forças em

dinâmica de organização. O líder é quem potencializa essa dinâmica.

Paulo Alfredo Bourguy Caetano da Silva apresenta um exemplo prático dessa

dinâmica:

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Assim, uma Organização Militar poderá cumprir corretamente suas tarefas,atingindo seu propósito, sem no entanto possuir aquele “algo mais” que éinoculado na sua dinâmica, e que difere o líder do chefe. Isto que chamamosde “algo mais” é de difícil definição, mas de fácil percepção. Quantos já nãoperceberam um navio que realmente executa bem suas tarefas, que possuitripulação disciplinada e cuja participação em exercícios conjuntos comoutros navios não prejudica o todo? No entanto, se comparado com um naviocujo comandante seja além de chefe um verdadeiro líder, parece não possuiralma. É isto o “algo mais” (1989, p. 12).

2.9 BASES DA LIDERANÇA

A capacitação necessária para que o líder exerça, de forma eficaz, sua influência

no comportamento de seus liderados apóia-se em quatro bases, conforme descreve Wagner

Junqueira de Souza:

Autoridade organizacional - consiste no direito de exercer o mando. Emoutras palavras, é a autoridade legalmente constituída. O fato do indivíduoestar empossado em determinado cargo é indispensável para que exerça aliderança correspondente, mas não é, por si só, suficiente para que elaefetivamente ocorra.Autoridade moral - a autoridade moral está assentada nos valorescompartilhados entre líder e liderados. Caso esses valores não sejamcomuns, o pretenso líder jamais conseguirá exercer sua liderança. Serátomado como corpo estranho no seio do grupo e, naturalmente, deledefenestrado.Competência técnica - podemos afirmar que um dos principais fatores decredibilidade do líder é a sua competência técnica, ou seja, o grau deconhecimento que possa ter sobre o assunto, área ou setor que pretendaadministrar ou dirigir. Sem demonstrar conhecimento no grau requerido, opretenso líder não conseguirá influenciar, adequadamente, o grupo quepretende liderar.Carisma - numa linguagem direta e bem simples, podemos definir o carismacomo magnetismo pessoal. O carisma faz com que o líder polarize a atençãodos liderados na sua pessoa. Possuindo carisma torna-se mais fácil ao lídersensibilizar o grupo em prol dos objetivos que pretende alcançar. Melhorainda, torna-se mais fácil ao líder fazer com que os liderados tomem essesobjetivos como se fossem seus. (1996, p. 8, grifo nosso).

Esta última capacitação, o carisma, é a mais difícil de ser definida e encontrada.

Popularizada como magnetismo pessoal ou capacidade de atração, pode passar a idéia de que

tal capacidade é inata e que não pode ser desenvolvida. Este autor não concorda com esta

idéia. Considero que, para alguns, o carisma é inato e, para outros, pode ser desenvolvido.

Sendo assim, aquele felizardo que já nasce com carisma pode, ao longo do tempo, se

aperfeiçoar e aumentar a sua capacidade de atração, enquanto aqueles que são menos providos

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podem, por meio do aprofundamento em estudo relacionado às ciências humanas e sociais,

ganhar algum grau de carisma.

Pode-se afirmar que o carisma se apóia em um processo psicológico denominado

identificação, onde os liderados buscam encontrar no líder traços de personalidade que

gostariam de ter. Dessa maneira, verifíca-se que o militar não pode se abster de conhecer um

pouco da parte da psicologia que trata da liderança e dinâmica de grupo, bem como dos

estudos sociológicos com ênfase na carreira militar, sendo estes alicerces básicos para um

efetivo exercício de liderança. O próprio EMA-137 alerta para estas considerações.

2.10 SER, SABER E FAZER

Apesar da complexidade do estudo do ser humano, do caráter imprevisível de suas

reações e das diferenças de cada um, segundo as IP 20-10 (1991), é permitido estruturar o

perfil do líder militar segundo três aspectos fundamentais: ser, saber e fazer. Ser,

apresentando atributos como lealdade, coerência, respeito, honra, integridade, coragem, mente

sã, permanente aptidão física e equilíbrio emocional constante. O ser está ligado diretamente

ao caráter que o líder deve possuir e é o atributo que lhe dá credibilidade. Saber, aprimorando

o seu conhecimento técnico-profissional por meio do estudo permanente e conhecendo os

seus subordinados por intermédio da compreensão da natureza humana, com suas

necessidades, carências e emoções. Fazer, motivando a sua equipe e buscando, cada vez mais,

o aperfeiçoamento e o desenvolvimento de seus integrantes, para o melhor cumprimento da

missão.

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3 O LÍDER

Um líder vê sempre três coisas: o que deve ser feito, o que pode ser feito, e como fazê-lo (Eleanor L. Doan).

3.1 ATRIBUTOS E QUALIDADES DE UM LÍDER

Após a definição de liderança e apresentação dos diversos conceitos de como ela

pode ser exercida, é o momento de ser abordada a figura central do processo de liderança, ou

seja, o líder. É o momento de se tentar estabelecer quais são as qualidades básicas que um

líder deve possuir, ou desenvolver, para que possa exercer de forma plena e eficaz a liderança,

e é o que se pretende neste capítulo. Tais qualidades serão aprendidas pela experiência

adquirida e com os próprios desafios assumidos, o mais cedo possível, na carreira militar.

As qualidades de um líder têm como propósito maior a capacidade de influenciar

e persuadir os seus liderados. Não existem indícios que indiquem quais são as mais

importantes ou necessárias, mas é de suma importância que os líderes desenvolvam estes

atributos, em si e em seus seguidores, para que em momentos críticos haja segurança para

decidir e agir corretamente. O ideal é que o líder transmita aos seus subordinados os atributos,

descritos adiante neste capítulo, e forme novos líderes e que o processo seja repetido.

Fernando Achilles de Faria Mello apresenta, de forma resumida, um conceito

importante sobre ser um líder:

Todo homem inteligente e capaz pode ser um líder, se ele quiser e souber sê-lo. Depende apenas de muita força de vontade, estudo, observação de simesmo e dos outros, de prática e auto-aperfeiçoamento. Isto é, depende deforças individuais internas por nós controladas, e que, se postas em ação, sópodem trazer vantagens e benefícios a essa pessoa, elevando-a, dignificando-a e aprimorando-a.Ninguém poderá ser um líder, sem, antes de mais nada, querer sincera efortemente tornar-se um líder, sem ser capaz de fazer, voluntariamente,certos esforços árduos e obstinados. Aquele que pensa ser a liderança apenasmuito prestígio, pouco trabalho e nenhuma responsabilidade, terá umagrande surpresa ao perceber que o respeito, o moral, a fama e o sucesso detodo líder são conseguidos à custa de contínuos esforços, do trabalho de cadadia, do sacrifício de certos momentos e da responsabilidade de sempre(2001, p. 5).

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Prossegue Mello em suas definições:

É oportuno frisar, como advertência salutar, que as qualidades de liderançanão devem, nem podem ser consideradas isoladamente, e sim, em conjunto.Aliás, o segredo da liderança consiste, em situações normais, no perfeitoequilíbrio dessas qualidades (muitas delas aparentemente em oposição ouchoque entre si); e nas situações anormais, difíceis ou perigosas, no seu usoadequado, ou seja, pelo emprego preponderante dos predicados que maiorinfluência decisiva tenham na solução da dificuldade, no domínio daanormalidade e no afastamento do perigo (2001, p. 5).

A liderança, em especial a militar, comporta uma enormidade de atributos que

compõem o perfil de um líder. O domínio de alguns atributos não assegura o sucesso, bem

como a inexistência de outros não indica falta de condição para existir o líder. Considera-se

que os líderes apresentam-se sob muitas formas, com muitos estilos e diferentes qualidades.

Após a comparação dos principais atributos de um líder constantes da doutrina da

MB (BRASIL, 2004, p. A-1) e da lista constante das Instruções Provisórias do Exército

(BRASIL, 1991, p. 6-1) apresenta-se, resumidamente, os seguintes atributos comuns às duas

forças:

AUTOCONFIANÇA - capacidade de demonstrar segurança e convicção deser bem-sucedido diante das dificuldades. É demonstrada pela aparência,pelo olhar, pela voz, pelo entusiasmo no modo de falar e de agir;CAPACIDADE DE DECISÃO - capacidade de tomar posição diante devárias opções. É a habilidade para tomar medidas seguras e corretas nomomento adequado. A percepção e a sensibilidade são elementos críticospara a tomada de decisões;COERÊNCIA/INTEGRIDADE - capacidade de agir de acordo com aspróprias idéias e pontos de vista, em qualquer situação. Significa firmeza,franqueza, sinceridade e honestidade para si mesmo e em relação asuperiores, pares e subordinados;COMPETÊNCIA - proficiência em habilidades tangíveis, como as técnicasfuncionais e os conhecimentos específicos e habilidades intangíveis, como asinterpessoais, de comunicação, de trabalho em equipe e administrativas;CORAGEM - a coragem apresenta-se sob duas formas: coragem física-superação do medo ao dano físico no cumprimento do dever- e coragemmoral- disposição para defender crenças e desafiar os outros, baseado emvalores e princípios morais, admitir erros e mudar o próprio comportamentoquando preciso, mesmo que esse ato contrarie os próprios interesses;DEDICAÇÃO - realizar as atividades com empenho, esforçar-se porconcluí-las corretamente, dentro dos prazos estabelecidos;DISCIPLINA - capacidade de se conduzir dentro das normas e regulamentosmesmo quando não estiver sendo observado ou quando suas idéias econcepções pessoais forem contrárias. Possuir autoliderança;IMPARCIALIDADE - capacidade de julgar, baseando-se em dadosobjetivos sem se envolver, de acordo com o mérito e o desempenho de cada

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um, sem se deixar influenciar pelas características pessoais erelacionamentos;INICIATIVA - é a capacidade de agir face a situações inesperadas, semdepender de ordem ou decisão superior;PERSUASÃO - capacidade de utilizar argumentos convincentes, parainfluenciar ações e opiniões de outros;PERSISTÊNCIA - capacidade para executar uma tarefa vencendo asdificuldades encontradas até concluí-la. É a perseverança para alcançar umobjetivo, apesar de obstáculos aparentemente insuperáveis; e RESPONSABILIDADE - capacidade de cumprir suas atribuições e as quesejam requeridas pela administração e de assumir e enfrentar asconseqüências de seus atos e omissões, de suas atitudes e decisões.

Tais atributos devem ser aprimorados em esforço conjunto pela instituição e pelos

indivíduos de forma que haja um contínuo aperfeiçoamento dos líderes e que, por meio de

exemplo pessoal, essas características sejam visíveis aos subordinados.

Recorda-se que a liderança é situacional e da mesma maneira que não existe um

estilo de liderança que possa ser considerado hegemônico, assim também pode-se fazer um

paralelo com as qualidades do líder.

As qualidades de liderança diferem da mesma forma que diferem os grupos, as

situações e os objetivos a atingir. Verifica-se que, de acordo com a afirmativa de Paulo

Alfredo Bourguy da Silva, “não somente os líderes devem diferir nas qualidades que

demonstram para o cumprimento de suas tarefas, como as diferentes tarefas demandam

diferentes estilos de liderança na aplicação dessas qualidades” (1989, p. 8). O mais importante

é que, além de desenvolver e cultivar essas citadas qualidades, o bom líder deve transmiti-las

aos seus subordinados e, assim, formar novos líderes.

Dentro da linha de argumentação anterior, Alfred Decrane, da Fundação Peter

Drucker, no livro “O líder do futuro”, identifica os atributos básicos de um líder:

Através dos anos, tentei definir e registrar as competências essenciais daliderança daqueles que admirei, bem como busquei identificar pessoas comestas qualidades em minhas próprias organizações. Observei numerosasvariações nos estilos de liderança e abordagens distintas, mas os atributosfundamentais permaneceram constantes na sua maior parte. Dividi estesatributos essenciais em quatro áreas básicas: caráter, visão, comportamento econfiança (1996, p. 250).

Crê-se que, em uma futura revisão da publicação EMA-137, o conceito de

lealdade poderá ser acrescentado e definido como a capacidade de cumprir ordens, sempre

com o mesmo entusiasmo, quer esteja perto ou longe de quem as deu, ainda que por vezes não

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concorde totalmente com as ordens dadas e as decisões originadas por elas.

3.2 CHEFE E LÍDER

Em virtude do conceito de chefia e liderança serem expressões sempre

confundidas, quando se trata de liderança, pretende-se discorrer um pouco sobre esse assunto.

Ao exercer um cargo de chefia, comando ou direção, o militar estará

desempenhando dois papéis funcionais: o de condutor de tropa e o de condutor de homens.

Com relação a ser condutor de tropa, a autoridade advém da responsabilidade

atribuída à função e é entendida como o conjunto de ações e decisões tomadas, na esfera de

competência desse chefe, com o propósito de conduzir da melhor maneira o setor que lhe foi

confiado.

Quanto ao segundo papel, o de condutor de homens, identifica-se um novo

componente em questão: o atributo de líder. Aqui, começa a ser ressaltada a importância

individual do chefe em inspirar e influenciar os seus subordinados. Como condutor de homens

é imprescindível que conheça bem essa tarefa e por intermédio de treinamento possa

desenvolver suas próprias qualidades de líder.

Definidos os dois conceitos ligados a um comando, o de ser chefe e o de ser líder,

pode-se inferir que comandar é exercer a chefia e a liderança, com o propósito de conduzir,

com eficácia, uma organização no cumprimento da missão. Chega-se à conclusão de que

chefia e liderança são processos simultâneos e complementares, e não são processos

alternativos (BRASIL, 2004, p. 1.1).

As definições de chefia e liderança permitem dizer que o termo chefia está mais

voltado ao cargo que o militar ocupa, enfatizando o papel de administrador do mesmo. Ou

seja, praticamente todos os cargos previstos requerem procedimentos administrativos,

daqueles que o exercem. Entende-se que, de uma maneira geral, todos possuem um percentual

de chefia. Chefe seria a pessoa formalmente investida da função de mando na escala

hierárquica.

Porém, ao conceituar-se líder, nota-se que o termo está mais voltado para o ser

humano, aquele que representará e tenderá a assumir os anseios de um grupo. Pode-se dizer

que o líder existe quando o reconhecimento dos membros do grupo ocorre de maneira

espontânea e, por ter credibilidade, é obedecido. O chefe, diferente do líder, é obedecido

devido ao cargo que ocupa. O máximo de um militar poderá ser obtido, então, quando ele

estiver investido de um cargo de comando ou direção e ao mesmo tempo possuir as

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características de um verdadeiro líder.

John W. Gardner também diz que “não devemos confundir liderança com poder.

Líderes sempre dispõem de algumas medidas de poder, baseados em sua capacidade de

convencer, mas muita gente com poder não tem dons de liderança” (1990, p.18).

3.3 SER UM LÍDER

Baseado no exemplo de oficiais mais antigos e na própria experiência, como

oficial de Marinha, este autor acredita que um militar, para atingir certo nível de eficiência

como líder, deve:

a) ser merecedor da confiança e do respeito por parte dos seus subordinados;

b) estabelecer metas significativas e ter planos coerentes para que tais metas

sejam alcançadas;

c) preocupar-se e tratar com respeito os seus subordinados;

d) ter decisões precisas e oportunas, estabelecendo um exemplo a ser seguido;

e) conversar com seus subordinados, abordando assuntos de interesse da

instituição. A estimulação e o intercâmbio de idéias são saudáveis;

f) aceitar o fracasso como parte de um processo, lembrando que aquele que não

erra também não contribuirá com novas idéias. Como motivação, incentivar a solução de

problemas, usando a criatividade;

g) orientar os liderados sobre o que precisa ser melhorado e como pode ser

executada essa melhora;

h) reconhecer um trabalho bem feito e recompensar os subordinados, seja por

meio de um elogio ou agradecimento, realçando a dedicação e o profissionalismo daqueles

que procuram fazer o melhor; e

i) ser, sempre, um exemplo de conduta.

Enfim, um líder deve conduzir seus subordinados por meio de um objetivo claro,

fixando regras e alinhando esforços para gerar bons resultados, acompanhando o trabalho de

sua equipe.

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4 O ENSINO DE LIDERANÇA NA MB

Não é a posição que faz o líder, é o líder que faz a posição (Stanley Huffty).

4.1 O EXERCÍCIO DA LIDERANÇA

Partindo-se do conceito que liderança é o processo de influenciar pessoas com o

objetivo de motivá-las e obter seu comprometimento na realização de empreendimento e na

consecução dos objetivos da organização, este aprendizado deverá ser dinâmico e progressivo,

fazendo com que a liderança seja desenvolvida e não imposta, quando atinge, assim, o seu

melhor resultado. Este ensinamento deverá ser ministrado nos diversos cursos de carreira e

exercitado na vida diária nas OM, trazendo benefícios não só para a instituição, mas, também,

para o sucesso de cada militar. Fica evidente que o desenvolvimento das qualidades dos

militares da MB como líderes deverá ser encarado como uma meta que, para ser atingida,

necessitará de um trabalho conjunto realizado pela OM e por cada militar.

Nos dias atuais, exige-se do líder um papel cada vez mais atuante em virtude da

acelerada evolução do conhecimento técnico-científico, que o obriga a estar capacitado para

operar com equipamentos altamente sofisticados. Analisando desta maneira, as escolas de

formação militar, que já adotavam em seus currículos uma expressiva carga horária voltada

para as ciências exatas, são obrigadas a aprofundar os estudos nesta área para fazer frente a

estes sofisticados equipamentos, cujos sistemas de comando e controle são baseados em

complexos métodos que exigem longos períodos de treinamento para um eficaz e adequado

uso.

Porém, surge a pergunta: De que vale a sofisticação dos equipamentos se não

houver o homem motivado, apto e pronto, para operá-los? É dentro desta ótica que se chama a

atenção para o aprofundamento do ensino das ciências sociais e humanas, nos cursos de

formação, e considera-se a liderança como a principal ferramenta para a condução deste

homem. Diversos argumentos podem ser utilizados para caracterizar a importância do estudo

da liderança na formação dos militares, tanto oficiais como praças. O principal argumento é

que, antes de ser um técnico ou especialista em algum setor, o militar é um condutor de

homens. Sendo assim, é imprescindível que ele conheça todos os aspectos ligados a esta tarefa

e que, por meio de um adestramento contínuo, possa desenvolver as suas qualidades próprias

29

de liderança.

Considera-se que a doutrina de liderança, pura e simples, deve ser aplicada nos

cursos de formação, como Colégio Naval e Escola Naval, para oficiais, e nos cursos de

formação de marinheiros e de soldados, para praças. Os jovens que estão nestas condições,

encontram-se na adolescência ou na fase final desta. Nesta faixa de idade, é notória a

existência de certas particularidades como uma facilidade maior para a incorporação de novas

atitudes e comportamentos. É uma oportunidade ímpar para que seja apresentado ao militar,

recém-admitido pela MB, não só os conceitos básicos, mas o estímulo inicial do

desenvolvimento dos atributos desejáveis de liderança. E, aqui, destaca-se o nível do instrutor

que irá ministrar o assunto. Os exemplos oferecidos por estes são de importância fundamental

para o militar definir os seus parâmetros de comportamento (CASAGRANDE FILHO, 1997).

O Comandante Antonio César Martins Sepulveda, ao falar sobre a educação como

instrumento básico da liderança, cita o professor Gregory Mann:

O professor Gregory J. Mann, autor e co-autor de diversos livros e artigossobre “Liderança Naval”, dizia sempre, do alto de sua autoridade de titulardessa disciplina, por mais de 40 anos, na Academia Naval dos EstadosUnidos, que “liderança deveria ser a única matéria de real interesse para opessoal da Marinha”. Os demais assuntos lecionados nas instituições deensino naval, asseverava o professor Mann, “nada mais são que apêndices,compondo o organismo do tipo da Liderança desejada para todos os níveis eetapas da carreira” (1996, p.202).

É necessário que a disciplina liderança seja integrada em todos os níveis e que

seja aplicada de forma progressiva e não como um processo repetitivo. Este ensino deverá

ressaltar o desenvolvimento das técnicas de trabalho em grupo, substituindo o caráter

competitivo pelo cooperativo na solução de problemas comuns. O que se deseja é um aluno

participativo e não um simples espectador. Não se deve perder de vista que cada círculo

hierárquico pode ter alguns aspectos peculiares de liderança. O grau de liderança necessário a

um militar de graduação de Cabo, por exemplo, é diferente do grau necessário para um militar

de outro círculo hierárquico, embora as características desejáveis para um líder não se alterem

e sejam comuns a uns e outros (BAHIENSE, 2003).

Levando-se em consideração, também, que os atributos inerentes ao exercício de

liderança são desenvolvidos, é necessária uma busca contínua do aprimoramento desses

atributos que não podem ser trabalhados somente por ocasião da carga horária destinada à

disciplina, mas sim em um esforço individual de caráter permanente.

30

4.2 FINALIDADE DOS CURSOS

A acentuada evolução do conhecimento torna as atividades militares cada vez

mais complexas. Sendo assim, o ensino da Liderança Militar merece e deve ser praticado nas

escolas de formação, aperfeiçoamento e altos estudos, acentuando procedimentos que

auxiliem o desenvolvimento de qualidades e habilidades que formam o perfil de um líder.

Ao ensinar-se liderança nos cursos de carreira da MB é necessário que seja

estabelecido, anteriormente, qual o perfil de líder que se deseja com relação aos cargos e

funções que serão desempenhadas, após a realização dos cursos. Assim, identificados os

atributos necessários ao perfil do líder, serão elaborados os sumários e projetos específicos da

disciplina e definidos os objetivos que se desejam alcançar.

Sendo do conhecimento de poucos, a Política de Ensino da Marinha (PoEnsM),

aprovada pela portaria nº 288/MB , de 19 de novembro de 2004, tem como propósito “

estabelecer os objetivos do ensino naval que devem ser alcançados pela MB, bem como

apresentar diretrizes a serem seguidas pelas OM pertencentes ao Sistema de Ensino Naval

(SEN).” Vários objetivos fundamentam a PoEnsM, entre os quais se destaca “desenvolver a

capacidade de liderança do pessoal da MB, de forma a possibilitar a postura correta e as

condições essenciais para o seu exercício, de acordo com o respectivo nível hierárquico.”

Segundo ainda a Política de Ensino, para que tais objetivos sejam alcançados, as seguintes

diretrizes deverão ser observadas:

Considerar o ensino e a prática da liderança, em todos os níveis, comoferramentas fundamentais na formação do pessoal da Marinha; eCapacitar Instrutores e Professores para o exercício de uma ação didáticarealizada por meio da adequada liderança, possibilitando uma aprendizagemcooperativa, em que as atividades desenvolvidas com os alunos contribuampara o alcance dos objetivos educacionais previstos nos currículos doscursos (2004, p. 4).

Comprova-se, assim, a importância que a MB está dedicando ao assunto liderança

e ao seu principal patrimônio: o seu pessoal.

4.2.1 Liderança para oficiais

Exige-se, hoje, que os oficiais possuam, além da competência pessoal e técnico-

profissional, uma capacidade de liderança plenamente desenvolvida, com o propósito de

31

prepará-los para conduzir a Marinha do futuro. Sendo assim, a disciplina de liderança deve ser

uma preocupação constante na formação acadêmica do oficial e o EMA-137 detalha, de

maneira sucinta, os currículos de liderança nos cursos, por níveis de ensino.

COLÉGIO NAVAL - sem prejuízo da formação de base científica/cognitiva,o currículo de liderança deverá enfocar a cultura e a educação militar, comênfase no ensino das tradições navais e na identificação dos mais nobresvalores militares. Os atributos a serem desenvolvidos serão o caráter, a éticamilitar, a atitude, a honra, a lealdade e o cultivo da ordem e da disciplina.Quanto ao preparo humanístico, deverão ser desenvolvidas habilidades econhecimentos que, além de facultar o autoconhecimento, permitirão oentendimento básico da natureza humana, sob a ótica das suas necessidades,carências e motivações. Ao final do curso, o aluno deverá ter a suacapacidade de autoliderança desenvolvida e estar iniciado no aprendizado daliderança de indivíduos.ESCOLA NAVAL/CIAW - além da formação básica, deverá constar nocurrículo de liderança o preparo humanístico, a liderança de pequenosgrupos, a condução de tarefas administrativas e operativas, a consolidação dacapacidade de julgamento e, fundamentalmente, a capacidade decomunicação. Nos respectivos cursos, deverão ser desenvolvidas habilidadese conhecimentos que, além de facultar o autoconhecimento, permitirão oentendimento mais aprofundado da natureza humana, enfocando as suasnecessidades, carências e motivações. Esse desenvolvimento visa dotar osfuturos Oficiais de maior capacidade para observar, familiarizar-se acompreender o perfil daqueles que estarão sob suas ordens, a fim de quepossam influenciar adequadamente o comportamento dos seus subordinados.Ao final do curso, o aluno deverá possuir a capacidade de autoliderança e deliderar indivíduos, além de ser capaz de liderar pequenos grupos e estariniciado na capacidade de liderar organizações.ESCOLA DE GUERRA NAVAL (C-EMOI/C-EMOS/C-SUP) - ao final docurso, o Oficial-aluno deverá ser capaz de liderar organizações. No C-PEM,ao final do curso, o Oficial-aluno deverá possuir conhecimentos de liderançaestratégica e capacidade de liderar grandes organizações plenamentedesenvolvidas (2004, p. 3-3).

Como são os oficiais mais jovens, principalmente os tenentes, os que têm um

maior contato com o pessoal subalterno, por intermédio do nível de liderança direta, estes

oficiais devem estar conscientes do importante papel que exercem no processo de liderança.

Para isso, as escolas de formação devem enfatizar e conscientizar sobre a responsabilidade e

zelo que estes oficiais terão no exercício de suas funções. Por sua vez, os oficiais de maior

antiguidade devem atentar para o doutrinamento dos oficiais mais modernos. Este

ensinamento deverá ser por meio de orientações que reflitam nos subordinados o interesse

pelo serviço e a necessidade de serem adotadas atitudes exemplares. É o líder formando

líderes.

32

4.2.2 Liderança para praças

As praças necessitam possuir a capacidade de liderança para conduzir pequenos

grupos e efetivos de militares, além da competência técnico-profissional necessária à

manutenção e à operação de equipamentos, cada dia mais avançados em termos de tecnologia.

Então, da mesma maneira como é aplicado o conceito de ensino da liderança para os oficiais,

ocorre com as praças. São criadas as condições necessárias para o desenvolvimento

progressivo dos atributos inerentes ao líder, para que, após os cursos de carreira, os perfis

desejados para cada graduação ou ciclo hierárquico estejam delineados.

O EMA-137 apresenta, de maneira resumida, os detalhes dos currículos de

liderança para os cursos das praças:

CURSO DE FORMAÇÃO DE MARINHEIROS (C-FMN)/CURSO DEFORMAÇÃO DE SOLDADOS (C-FSD) - o currículo da disciplina deliderança deverá ser voltado para a cultura e a educação militar, dando-seelevada importância ao ensino das tradições navais, aos valores intrínsecosda MB e à simbologia própria que identifica os valores mais nobres dosmilitares brasileiros. Deverão ser desenvolvidos atributos tais como ocaráter, a ética militar, a atitude, a honra, a lealdade e o cultivo da ordem eda disciplina. Ao final do curso, o aluno deverá estar adaptado aos princípiosque regem a vida militar, com os conhecimentos que o habilitem aautoliderança.CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO (C-Espc) - sem prejuízo da formação debase científico-cognitiva, deverá constar no currículo de liderança o preparohumanístico, para que sejam desenvolvidas habilidades e conhecimentosque, além de facultar o autoconhecimento, permitirão o entendimento danatureza humana, enfocando as suas necessidades, carências e motivações.Esse desenvolvimento visa permitir ao aluno maior capacidade paraobservar, familiarizar-se e compreender o perfil dos que estarão sob suasordens, a fim de que possa influenciar adequadamente o comportamento dosseus subordinados. Ao final do curso, a Praça deverá, além de possuir acapacidade de autoliderança e de liderança de indivíduos desenvolvida, estariniciada na liderança de pequenos grupos.CURSO ESPECIAL DE HABILITAÇÃO PARA PROMOÇÃO ASARGENTO (C-Esp-Hab/SG) - Além do desenvolvimento deconhecimentos militares, técnicos e científicos necessários para o exercíciode novas atribuições e responsabilidades inerentes ao novo ciclo queingressará, o aluno deverá, por meio da disciplina de liderança, desenvolveros atributos que o permitam exercer a liderança de pequenos grupos, acondução de tarefas administrativas e operativas, a consolidação dacapacidade de julgamento e, fundamentalmente, a capacidade decomunicação. Ao final do curso, o Sargento deverá ser plenamente capaz deliderar pequenos grupos; eCURSO ESPECIAL DE HABILITAÇÃO PARA PROMOÇÃO ASUBOFICIAL (C-Esp-Hab/SO) - além dos conhecimentos administrativos,

33

o curso, através da disciplina de liderança, deverá ampliar a formação daPraça em relações humanas. Deverá ser estimulada a capacidade deimplementar idéias, saber ouvir, identificar áreas de conflito e de baixodesempenho e de propor medidas para o melhor nivelamento e a maiorcoesão de um grupo, que são características típicas da liderança situacional.Ao final do curso, o militar deverá estar plenamente capacitado para oexercício da liderança situacional, no dia-a-dia (2004, p. 3-5).

Após delinear-se o conteúdo do assunto liderança, ministrado nos diversos cursos,

para oficiais e praças da MB, visando caracterizar a importância desse estudo na formação do

militar, tem-se que reconhecer que apesar dos esforços na seleção de jovens que venham a se

revelar bons líderes, nenhum método válido foi encontrado até hoje. O mercado de trabalho

atual, onde o emprego é escasso, afeta a juventude na hora de optar pela escolha de uma

profissão. Em favor da segurança de um emprego que garanta a sobrevivência, muitos ideais

são deixados para trás e é assim que muitos jovens ingressam nas Forças Armadas, neste caso

a Marinha, sem uma motivação maior. Paulo Alfredo Bourguy Caetano da Silva esclarece

que:

O pendor para a escolha da profissão militar deve estar basicamente pautadono idealismo de cada um de servir ao seu país, sem visar a grandes ganhosde ordem econômica. Esse idealismo é reforçado e mantido pela realizaçãoprofissional obtida dentro da instituição militar. Para que essa realizaçãoprofissional seja obtida, além do pendor natural pela profissão, éimprescindível que o militar se sinta útil e que haja os meios e a motivaçãopara que ele possa colocar em prática tudo aquilo que foi aprendido eidealizado por ocasião do período de formação (1989, p. 18).

É preciso estar atento a esses militares desprovidos de idealismo e não realizados

profissionalmente. A MB, como qualquer outro setor, vive um momento difícil. A falta de

recursos para manter e adquirir novos meios e a aparente ausência de ameaça externa, que

reduz a Força a uma baixa prioridade na política geral do País, são problemas vivenciados por

todos que optaram em servir à Marinha. Toda esta crise precisa estar sob controle para que

não afete, ao longo do tempo, a instituição e sirva como uma desmotivação para os militares

mais jovens.

4.3 INSTRUTORIA

Verificando-se o conteúdo dos currículos e a forma como são tratados, é deixado

de lado um importante aspecto para que o propósito geral da disciplina liderança seja

34

alcançado: o instrutor. Na maioria das vezes, os instrutores não são preparados em Psicologia,

Sociologia ou Antropologia. Tal fato pode gerar erros, pelo desconhecimento da base

científica embutida em diversos conceitos da matéria, causando assim uma falta de

credibilidade na relação aluno-instrutor. O objetivo é que o instrutor tenha um conhecimento

básico de Ciências Sociais e utilize esta informação como alicerce para exercer sua

instrutoria.

Devido à importância do assunto, a designação de oficiais e praças para o

exercício da instrutoria de liderança deve ser precedida de uma criteriosa avaliação. O ideal, e

que parece ser fundamental, é que a função de instrutor de liderança seja colocada sob forma

de voluntariado. Assim, possuidor de um grupo de voluntários, poderia ser proposto um

desenvolvimento das habilidades pedagógicas em pessoas que já teriam interesse e potencial

para exercerem a função de instrutoria (NOBRE, 2005, p. 167). Seria alcançado, então, um

perfil desejado, com indivíduos vocacionados, motivados e treinados para exercer tão

importante função e servir como exemplo ao ser um educador do assunto liderança.

Para tanto, completa Érica Nobre:

É importante que os cursos de liderança não se limitem a aulas teóricas, masincluam técnicas de dinâmica de grupo e de dramatização de papéis,conduzidas por profissionais habilitados, que mobilizam, além do nívelcognitivo, o afetivo dos indivíduos, promovendo um crescimento pessoal emtermos psicológicos. A liderança surge na relação com o outro, implicapersuadir o grupo a querer fazer o que é preciso e não simplesmente a fazer,portanto competência intelectual e técnica não são por si só suficientes paraa emergência de lideranças nos processos grupais (2005, p. 165).

4.4 ESTUDO DE CASOS

Érica Nobre diz que o objetivo primordial da utilização de estudo de casos em

liderança é desenvolver o pensamento crítico dos alunos e aumentar a capacidade de reflexão

dos mesmos. Assim, com a teoria fundamentada, o líder estará apto para a análise de uma

situação complexa e realista de liderança. Seria uma maneira de aprender por meio da

experiência do outro (2005).

Por ocasião do estudo de casos, ainda de acordo com Érica Nobre, o procedimento

intelectual para este ensino está baseado em três etapas, descritas da seguinte maneira:

A primeira delas consistiria no levantamento de problemas, que visa tambéma uma ação preventiva, buscando antecipar possíveis focos de dificuldades.

35

A segunda etapa envolve a aplicação de teorias na explicação dasocorrências, procurando-se, na medida do possível, relações de causa eefeito. É importante ressaltar, nesse caso, que as ambigüidades sãointegradas ao processo, e a noção de que muitas teorias são potencialmenteaplicáveis na explicação de situações complexas da vida organizacional éenfatizada. Há preocupação em desenvolver as habilidades de raciocíniológico dos alunos e de síntese aplicadas ao encadeamento dos eventosestudados. A fase final inclui a prescrição de ações para o líder, dentro deum enfoque de multiplicidade de soluções possíveis para a mesma situação,que são aceitáveis, desde que não criem problemas adicionais e sejamorganizacionalmente realistas (2005, p. 163).

Após a experiência bem-sucedida da publicação Liderança − Estudo de Casos

(DEnsM-1006), entende-se que deveria ser publicado o volume II, contendo novos estudo de

casos, como forma de apresentar os conceitos do manual doutrinário editado pelo EMA,

recentemente.

Para confecção desse novo volume, a MB poderia utilizar a experiência de

militares da reserva, oficiais e praças contratados por tempo certo, trabalhando em conjunto

com militares da ativa, com o propósito de estudar o assunto e coletar casos reais baseados na

experiência de cada um com a liderança. Seria importante que esse manual fosse compilado

numa linguagem acessível para uso tanto pelos oficiais como pelas praças.

É bom lembrar que a formação de um líder continua no dia-a-dia das OM para as

quais o militar é movimentado após os cursos. Utilizando os ensinamentos fornecidos em

salas de aula, seja por meio de estudo de casos ou outra forma didática, o militar permanecerá

aprimorando o seu conceito ético-profissional. Este aprimoramento não termina nunca, posto

que valores, requisitos e atributos vão sendo apurados no decorrer da vida.

A chave da construção da liderança é o constante auto-aperfeiçoamento. É

necessário que o militar incumbido de sua missão maior, a de condutor de homens, exerça sua

ação de comando e, preferencialmente, seja um líder, utilizando os ensinamentos, por

intermédio de estudos e a prática diária. As escolas de formação devem criar em salas de aula,

por meio de instrutores preparados, situações que exijam improvisações, levando os alunos a

desenvolverem qualidades de pensamento superior, crítico e com uma visão do futuro. O

aluno deverá ser capaz de visualizar o problema e antecipar-se a ele.

Também, deve-se ter sempre em mente que o trabalho em equipe é como um

multiplicador de energia que auxilia a encontrar a solução para os mais diversos problemas.

Esta união de energia de cada indivíduo, em prol de uma maior eficiência no trabalho diário, é

proveniente de uma liderança bem aplicada e otimizada. Em cada equipe, mesmo que seja

apenas de poucos componentes, caberá ao mais antigo do grupo liderar os demais. Por isso, a

36

liderança não deve ser apenas matéria ministrada para os oficiais, mas deve ser preocupação

de todos os militares, independente de postos e graduações, e deve ser responsabilidade de

cada um desenvolver as suas habilidades. Ocorre que em certas ocasiões o líder recebe uma

equipe já formada. O ideal, nesse caso, é que o líder coloque o seu estilo de liderar e lembre

que o seu grupo pode não ser o melhor, mas terá que ser o mais motivado (ASSIS, 2003,

P.61).

4.5 LIDERANÇA NO DIA-A-DIA

A Marinha é uma instituição onde suas ações visam ao cumprimento das mais

diferentes missões e isto se realiza por meio do relacionamento humano. Portanto, para que

sejam alcançados altos índices de operacionalidade, coesão e lealdade entre os seus

integrantes é de fundamental importância o exercício diário de liderança e recomendável

incentivar ao máximo a sua prática (BRASIL, 2004, p. 2-1).

Este exercício diário de liderança na MB está focado em destacar militares

competentes que, com uma reconhecida capacidade profissional, sejam referências para os

seus superiores, pares e subalternos e, espontaneamente, despontem como líderes. Entende-se

que a liderança é imprescindível aos militares em geral, pois é notório que à medida que

ganham antiguidade, ganham também um efetivo maior de subordinados. Respeitado o líder,

ele passa a ser consultado sobre os mais diversos assuntos, pois suas soluções serão sempre

provenientes de uma análise acurada do problema. Por meio deste respeito, surge no líder a

autoconfiança resultante, também, do perfeito preparo profissional, da habilidade em

transmitir este conhecimento e do sentimento de satisfação decorrente de todo o processo.

Não há dúvidas de que dentro da moderna concepção de racionalização da estrutura

organizacional e dos processos administrativos que exigem do homem uma maior

qualificação, os militares precisam estar aptos a acompanhar a evolução da MB e, por que

não, do mundo globalizado? É importante ter em mente que é na paz que se constrói a

liderança para a guerra e que, mesmo com o domínio da complexa e avançada tecnologia

atual, o exercício da liderança pode significar a diferença entre a vitória e a derrota em uma

batalha (BRASIL, 2004).

O EMA-137 orienta que o dia-a-dia da vida dos militares deve ser um exercício de

liderança contínuo: buscando o seu aprimoramento através da atualização técnico-

profissional; tendo a capacidade de perceber a situação e mudar de maneira adequada o estilo

de liderança a ser exercido e aprimorando o relacionamento com outras instituições e a

37

maneira correta de tratar os subordinados.

Desta forma, medir o nível de liderança em uma OM é tarefa difícil, tal a sutileza

embutida no conceito de liderança. Concordo com o autor Wagner Junqueira de Souza,

quando expõe alguns procedimentos e atividades que são desenvolvidos em nossas

Organizações Militares e que aumentam o nível de liderança nas organizações:

Do ponto de vista informal e prático, do cotidiano de nossas OM/Navios,todos os procedimentos e/ou atividades desenvolvidas, que fortaleçam oespírito de corpo e promovam a realização profissional de seus integrantes,redundam em aumento do nível de liderança. Dessa forma, sãoextremamente salutares a realização de competições desportivas, amanutenção de um bom nível de rancho, o capricho na manutenção dasinstalações, a realização de adestramento em bom nível e o mais próximopossível da realidade, a manutenção de uma boa apresentação pessoal, arealização de cerimônias que enalteçam as tradições navais, enfim, tudo queleve a um aumento do nível do moral das tripulações serve, na prática, para amanutenção de um bom nível de liderança. Todas essas atividades fazemparte do cotidiano de nossas OM, devendo-se cuidar para que não sejamnegligenciadas e contribuam para o exercício de um alto padrão de liderança(1996, p.37).

Os militares que utilizarem os conhecimentos sobre o assunto liderança, no

exercício de suas funções, estarão aptos a uma ação destacada na carreira. Por isso, eles não

devem se restringir somente aos conhecimentos sobre os deveres de sua incumbência e sim

buscar o seu aprimoramento constante, independente do aprendizado dos cursos de formação.

Quando se comenta sobre o destaque de militares na carreira, nota-se uma

curiosidade. Ao verificarem-se os atributos que compõem a Folha de Avaliação de Oficiais

(FAO), documento regular que serve de base para o assunto (DGPM, 2001), crê-se que um

destaque maior poderia ser dado a um oficial, tido como líder, caso a liderança fosse

quantificada com graus inteiros de 0 a 10, na parte de conceito profissional e não como fator

demeritório. Sabe-se que este quesito é raramente preenchido pelos oficiais avaliadores em

função do resultado que acarreta uma avaliação de 20 pontos negativos. Observa-se, então,

que o oficial que é capaz de infundir respeito e obediência aos seus subordinados pela

ascendência moral e profissional, não ganha ponto algum.

Com a globalização e a entrada da humanidade na era da informação, a

capacitação dos recursos humanos tornou-se fundamental para o sucesso de qualquer

organização através da priorização dos conhecimentos. E é neste processo que a presença de

líderes selecionados, ensinados, treinados, motivados e envolvidos é essencial.

O estabelecimento de um conjunto de elementos conceituais, dos princípios e das

38

orientações gerais para o desenvolvimento e aplicação doutrinária da liderança na Marinha do

Brasil, divulgado por intermédio de sua doutrina (EMA-137), foi um importante passo para

sistematizar o estudo e a aplicação dos seus conceitos no âmbito da Força. Havia a

necessidade de um documento que padronizasse procedimentos, tornando-se a base para o

treinamento, o adestramento e a avaliação de desempenho desta Força, no aspecto liderança.

Crê-se que, tomando como base a doutrina, as OM de terra/navio devem incluir o

assunto em seus Programas de Adestramento (PAD), aproveitando como instrutores aqueles

militares, que por interesse próprio, queiram estudar e se aprofundar no tema, o que será de

extrema valia para a organização. Eventualmente, poderão os instrutores serem buscados fora

da OM.

De posse da base doutrinária e da massa crítica composta pelos militares

motivados pela liderança, vislumbra-se que o tema possa ser abordado, nos diversos PAD, da

maneira mais prática possível por meio de estudo de casos, já comentado neste trabalho. Este

estudo pode ser realizado por intermédio da análise de fatos atuais da vida diária das OM ou

por meio de fatos e biografias de personagens históricos que sirvam como exemplo sobre o

grau de liderança exercido no passado. Na oportunidade, noções básicas sobre ética, valores

nacionais, tradições navais e relações humanas também, como sugestão, devem ser

ministradas. O próprio Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), em sua aula inaugural

dos cursos de altos estudos da Escola de Guerra Naval/2006, relembra aos oficiais-alunos à

leitura da Ordenança Geral para o Serviço da Armada. Outra forma de adestramento seria a

realização de palestras realizadas por Oficiais ou Praças, abordando aspectos importantes da

liderança, seguidas por debates.

Como mecanismo de realimentação, deste ensino, sugere-se o acompanhamento

por intermédio do controle do Comandante da Organização Militar e Comandos

Imediatamente Superiores (COMIMSUP) para que se tenha uma idéia aproximada de como

está o moral de suas tripulações e conseqüentemente do exercício de liderança a bordo. Para

isso é necessário que os líderes, em todos os níveis, estejam envolvidos com o processo. Os

parâmetros a serem observados e utilizados para avaliar o nível de liderança, a meu ver,

enquanto não há uma norma para ser seguida, ficariam a critério do comando da OM ou da

Força. O importante é que esses parâmetros demonstrem que o Comandante está combinando

as forças internas e externas, já citadas neste trabalho, transformando-as na dinâmica da

organização e se a sua autoridade hierárquica e moral, sua competência profissional e carisma

estão servindo para potencializar essa dinâmica. Sendo assim, mesmo sem estabelecer o nível

de liderança existente na Organização, pode-se saber se ela existe ou não. Uma sugestão é que

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o EMA elabore uma Lista de Verificação sobre liderança, para constar da publicação EMA-

130 (VOL II) Manual de Inspeções e Reuniões Funcionais da Marinha e que sirva como

parâmetro a ser verificado por ocasião das Inspeções Administrativo-Militares (IAM).

O assunto liderança sempre foi uma preocupação para a MB. Em 1993, o EMA

solicitou aos Órgãos de Direção Setorial (ODS) que conduzissem, no âmbito de suas OM

subordinadas, uma pesquisa de opinião com a finalidade de acompanhar os vários aspectos

que concorriam para manter em bom nível o moral das tripulações. O resultado da pesquisa

apresentou várias deficiências, destacando como fator de grave preocupação, apontada por

elevado percentual de praças, a dificuldade de relacionamento entre superiores e

subordinados, caracterizando problemas no campo da liderança.

O Comando de Operações Navais (CON) concordou com o resultado das

pesquisas e por intermédio do Memorando, nº 009, de 11 de abril de 1995, ainda em vigor,

encaminhou para os seus subordinados as principais deficiências observadas. Determinou-se,

então, a adoção de medidas adequadas para corrigir as discrepâncias apontadas e que

liderança e formação militar naval tivessem maior ênfase nos Programas de Adestramento

(PAD) das OM subordinadas. As deficiências apontadas são descritas abaixo:

- oficiais não conhecem perfeitamente a sua OM, o seu Departamento, a sua

Divisão, as suas tarefas etc.;

- desconhecem as leis, os regulamentos e os costumes navais, necessários ao bom

relacionamento com os subordinados;

- fazem vista grossa ao observarem irregularidades, normalmente alegando não

serem responsáveis por aqueles assuntos;

- desconhecem os assuntos relacionados com a vida profissional e particular dos

subordinados e quando lhes é solicitada ajuda, simplesmente, enviam as praças aos Serviços

de Assistência Social, sem qualquer atuação das OM;

- nas OM, fora de sede, os Oficiais sequer conhecem as Vilas Navais de praças ou

procuram conhecer os problemas que lhe são inerentes; e

- por omissão, assumem uma atitude paternalista e piegas em relação aos

subordinados, ao invés de procurar mostrar-lhes o caminho do dever.

Passados treze anos da última pesquisa, muitas mudanças aconteceram. Crê-se

que muitas dessas discrepâncias continuem acontecendo, porém, sem argumentos que

comprovem tal crença, sugere-se que o EMA determine que seja realizada nova pesquisa de

opinião, para obter-se um quadro real da situação nos dias atuais.

40

4.6 A DELEGAÇÃO DE AUTORIDADE

John Gardner é incisivo ao afirmar: “Não se pode esperar muito de um líder

assoberbado por tarefas que deveriam ter sido passadas a companheiro de equipe bem

escolhido” (1990, p. 166).

A delegação é a mais importante e mais negligenciada função de um líder.

Whitaker Penteado cita Henry Fayol, que, sem usar uma só vez a palavra delegação, escreve

sobre os preceitos do Comando: “Um chefe deve tomar conhecimento de tudo, mas não pode

ver tudo, nem tudo fazer” (1996, p. 139).

Em continuação ao pensamento de Penteado, verifica-se que “delegação é a

função do líder de transferir aos subordinados certos deveres, certas responsabilidades e certa

autoridade” (1996, p. 140). O uso constante da expressão certa é explicado, pois, na verdade,

não existe nunca a transferência de todos os deveres, todas as responsabilidades e de toda a

autoridade. A responsabilidade geral permanece com o líder, e ainda que ele não a exerça,

continua com o chefe o mesmo atributo que ele transferiu ao subordinado.

José Armando Bonfadini exemplificou esse conceito:

Para um funcionamento eficiente da organização e treinamento de dirigentes,a autoridade deve ser delegada ao nível mais baixo possível. Já aresponsabilidade, sendo uma obrigação devida ao superior, não pode serdelegada ao nível hierárquico mais baixo. O chefe mantém o seu grau deresponsabilidade perante seu superior, devendo exigir, porém, dosubordinado responsabilidades perante ele próprio, pela autoridade delegada(1993, p. 114).

Gifford Pinchot, um dos consultores da Drucker Foundation, define o que é

delegação em uma hierarquia tradicional:

Em uma hierarquia, a delegação é a ferramenta básica para a criação daoportunidade de surgimento de mais líderes. Os líderes subordinadosaceitam o escopo de seu comando e usam a liderança para realizar as tarefasa eles designadas. Se a delegação é a norma, cada líder pode desenvolverlíderes subordinados (1996, p. 52).

Existe uma cultura errônea, na MB, de que os oficiais incumbam-se,

pessoalmente, de tarefas que poderiam ser atribuídas aos subalternos. Talvez tal procedimento

seja um hábito adquirido, pelos idos de 1960, numa época em que o relacionamento entre

41

oficiais e praças era bem diferente, se comparado aos dias atuais. Deve-se delegar autoridade

com o propósito de estimular a iniciativa e a liderança dos mais modernos e não esquecer a

capacidade que possuem as praças de hoje para resolverem problemas complexos, já que o

seu nível de escolaridade é superior, se comparado com outros tempos (BAHIENSE, 2003).

Percebe-se que talvez o receio de delegar autoridade aos subordinados esteja

relacionado à chamada mentalidade do “erro zero”, onde o medo das falhas dificulta a

transferência de autoridade e acaba por inibir a iniciativa e o desenvolvimento do potencial

dos subalternos. É preciso ter em mente que se aprende tanto com os erros como com os

acertos e ambos constituem-se em valiosos instrumentos didáticos de aprendizagem.

Mais uma vez, o autor José Bonfadini define como deve ser incentivada a

delegação de autoridade nas Forças Armadas:

Nas Forças Armadas é interessante que seja incentivada, em todos osescalões, a utilização plena da autoridade delegada. Paralelamente, deve serreprimida a tendência de encaminhar para a resolução por escalõessuperiores o que claramente compete ao escalão subordinado. É essencialque os limites de responsabilidade pessoal sejam estabelecidos da maneiramais clara e específica possível. É fundamental que se faça uma distribuiçãocriteriosa de trabalho e que se definam bem as responsabilidades de cadagrupo ou elemento (1993, p. 117).

A constante comunicação com os subordinados, a valorização dos mesmos pelo

bom uso da autoridade, a manutenção de um ambiente interno sadio são normas que o líder

deverá seguir para garantir uma delegação de autoridade correta.

42

5 O LÍDER DE HOJE E DO FUTURO

Quando vier a guerra ou a crise, não haverá tempo para preparar os líderes.Eles já deverão estar prontos e serão os artífices do processo que reconduziráa nação à situação de paz e equilíbrio (Revista do Exército Brasileiro, v.135,p. 6, 1º trim 1998).

Observa-se que, mais do que preparo intelectual e prontidão operativa, o líder, de

hoje e de um futuro próximo, terá que ser capaz de adaptar-se às transformações e, por meio

de suas habilidades, motivar seus subordinados com ações e idéias. É claro que as instituições

bem-sucedidas serão aquelas que possuírem profissionais que estejam dispostos a enfrentar

desafios, cientes das suas capacidades e competências, aplicando conceitos e técnicas

relacionadas ao exercício da liderança desenvolvidas e aplicadas de maneira sistêmica.

No seu livro atual sobre liderança, “Jesus, o maior líder que já existiu”, Laurie

Beth Jones, ao estudar as técnicas de administração, chegou à conclusão de que Jesus Cristo

era um exemplo de liderança e percebeu que, para exercer este exemplo, ele utilizava três

categorias de forças que a autora classificou como: as do autodomínio, as de ação e as das

relações. Embora qualquer militar possa edificar a sua carreira utilizando apenas uma ou duas

dessas forças, o ideal para garantir o sucesso é a combinação das três forças. Não adianta um

líder, por exemplo, ter autodomínio e ação se não possuir habilidade no campo dos

relacionamentos. Selecionam-se algumas técnicas, contidas no livro, que podem ser aplicadas

na rotina de um líder e desenvolvidas ao longo de sua vida, como um auxílio, para maximizar

suas forças:

Através da força do autodomínio o líder deve ser fiel a sua missão,acreditar em si mesmo, não desperdiçar sua energia, fazer as coisas difíceis,demonstrar gratidão, assumir responsabilidades, não perder tempo, confiarem si, estar comprometido com sua causa, enfrentar seus medos e nãodesprezar as pequenas coisas.Através da força da ação o líder deve agir, ter um plano, formar umaequipe, ampliar seus limites, ser audacioso, dar um passo de cada vez, seimportar com os outros e treinar outros líderes.E por fim, através da força das relações o líder deve estar aberto às pessoase as suas idéias, ser transparente, acreditar na sua equipe, definir claramenteas recompensas do trabalho, envolver sua equipe no trabalho, dar o exemplo,defender os membros de equipe e dar autoridade ao seu pessoal (2006, p.14, grifo nosso).

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Além da aplicação das técnicas, o líder precisa ter uma visão do que ocorrerá com

o seu setor e materializá-la em forma de planejamento realista e coerente, com diretrizes bem

delimitadas entre o presente e o que se pretende atingir no futuro. Em seguida, o líder deve

buscar o comprometimento dos integrantes de seu grupo, visando a uma homogeneidade de

pensamento e postura. Devido ao período que há entre o planejamento e a consecução deste, o

líder precisa estar apto para administrar mudanças que podem ocorrer durante o percurso.

Assim, o líder deverá ser flexível e ter ampla experiência. É visível, no mundo de hoje, que os

assuntos estão tornando-se tão complexos que o processo de tomada de decisão não deve ser

centralizado e, sim, compartilhado entre os membros de um grupo, utilizando assim os estilos

de liderança participativa ou delegativa. Os líderes eficazes também devem estar em constante

auto-avaliação e cientes de que as soluções de hoje podem vir a ser os problemas de amanhã.

É obrigação do líder manter-se bem informado sobre tudo. É preciso que aos

subordinados seja repassado o maior número possível de informações e que eles saibam a

razão pela qual estão cumprindo determinada ordem. Diferente de um passado onde a

hierarquia prevalecia e as ordens eram cumpridas sem nenhum questionamento, os bons

resultados, nos dias atuais, estão ligados a uma liderança eficaz, que aproveita a criatividade

dos subordinados, no cumprimento das metas compartilhadas, sendo a decisão final do líder.

O Comandante Trisciuzzi conceitua o que se espera de um novo líder:

[...] o maior desafio do líder do futuro é ser um eterno aprendiz e levar o seuaprendizado para o ambiente de seu grupo, de sua equipe, de suaorganização. Assim procedendo, o líder, em vez de ser um simples gerentecom poder legal, estará se mostrando sensível aos sentimentos de sua equipequando estiver, legalmente e moralmente, ao lado de seus homens. Para overdadeiro líder não existe tolerância zero (2001, p. 187).

A visão do líder deve permear todos os níveis da organização. Como modelo de

uma situação para o futuro, a sua consecução deve ser bem articulada e facilmente

compreendida por todos da instituição de modo que motive a todos. Deve essa visão

futurística ser ambiciosa para levar a organização aos mais altos padrões de excelência sendo

uma importante ferramenta para o líder. A Escola de Guerra Naval (EGN), por exemplo,

possui a seguinte visão para o futuro: “Ser reconhecida como um Centro de Excelência em

ensino e pesquisa no campo de Defesa Nacional, até o ano de 2014” e, para isso, todos os

componentes da OM trabalham para atingir este propósito. Aqui, chama-se à atenção para a

competência do líder que possui uma visão. Este líder deverá estar apto para adaptar e

melhorar processos, em suas instituições, para atingir as metas estabelecidas, assegurando,

44

assim, o comprometimento de todos os liderados. A equipe, líder e liderados, precisa

compreender que a visão da OM tem que estar alinhada com a missão, propósito centrado

para o qual uma instituição é criada. Missão e visão têm que nos dar uma direção clara a ser

seguida.

Warren Wilhelm, outro consultor da Drucker Foundation, exemplifica o líder

eficaz, possuidor de visão:

Líderes eficazes possuem a visão requerida para enxergar as coisas de mododiferente dos demais. Eles reúnem e organizam os mesmos dados que todosvemos, conseguindo imaginar fenômenos novos e não percebidos. Umacaracterística essencial de todos os líderes eficazes é a capacidade deenxergar onde estão tentando chegar e articular com clareza esta visão parapotenciais seguidores, a fim de que estes conheçam o papel pessoal deles narealização desta visão (1996, p. 225).

Baseado em trinta anos de carreira militar, exercendo diversas funções, este autor

constata ter havido uma melhora significativa na Marinha no tocante aos meios materiais, na

disponibilidade de tecnologia de ponta e na qualidade de seu pessoal. Porém, a escassez de

recursos para a manutenção do existente vem ocasionando a degradação dos meios navais,

com a conseqüente falta de adestramento e queda na motivação dos militares. O acréscimo de

controle resulta no decréscimo da autonomia dos comandantes de OM e dos demais líderes,

em diferentes setores. É preciso rever, o quanto antes, alguns conceitos. Concordo com o

autor Alvaro Bahiense quando ele conclui que:

[...] crê o autor que os oficiais de Marinha, do presente e do futuro, devamapostar na liderança, como solução desses e de outros problemas com osquais passarão a se defrontar. Desta forma, os oficiais devem ter aguçadaautodisciplina, desenvolver as características essenciais e seguir, elespróprios, os princípios de liderança, em especial o que se refere ao exemplo,incentivar a delegação de competência, acreditar que os líderes são criados edesenvolvidos no dia-a-dia da Marinha, estimular a liderança eficaz emtodos os níveis, possuir habilidade para se colocar no lugar dos outros antesde tomar determinadas medidas, ter firmeza de propósitos, manterem a autoestima elevada, desenvolver a capacidade de pensar estrategicamente,possuir visão de futuro e fé em determinados valores fundamentais,especialmente os morais. E mais, ainda, comunicar-se de forma persuasiva,comportar-se de modo íntegro e acreditar naquilo que faz. Certamentehaverá, ainda, desafios imprevisíveis no futuro, os quais exigirão dos líderesuma capacidade cada vez maior para gerenciar as tensões existentes, bemcomo as inquietações e necessidades dos subordinados (2003, p. 41).

Acredita-se que a liderança do século atual não será diferente no futuro. Apenas,

45

devido às mudanças no ambiente, pela globalização e pelas revoluções tecnológicas e da

informação, o líder precisará estar seguro e apto a tirar partido deste ambiente. Outros

aspectos também poderão ser considerados para este líder como: tornar-se flexível às

mudanças, dar uma maior autonomia e responsabilidade aos subordinados e ampliar a sua

cultura geral e a visão de futuro.

As palavras de Rowan Gibson são ideais para exemplificar o novo líder:

Os novos líderes não se contentarão em ficar sentados deixando que o pilotoautomático controle a viagem. Eles estarão olhando para frente, vasculhandoo cenário, detectando novas tendências e oportunidades, evitando criseseminentes. Serão exploradores, aventureiros, desbravadores. A tecnologiaavançada lhes permitirá uma conexão interativa e em tempo real com omercado; e eles receberão feedback de sensores na periferia da organização.Mas também se deixarão guiar muito por sua própria intuição (1998, p. 27).

Sabe-se que os diversos cursos, aplicados no decorrer da carreira, não farão

líderes mas auxiliarão no desenvolvimento das qualidades necessárias para que seja atingido

este patamar. Entende-se que o líder atual seja aquele capaz de coordenar um número elevado

de atividades simultaneamente, sabendo delegar autoridade, sem compromisso com o estigma

de erro zero.

Na atualidade e em um futuro próximo, as decisões, quando possível, estarão

baseadas nas críticas e sugestões dos superiores, pares e subalternos daquele que esteja

liderando. As ações serão decisivas, mesmo quando as condições forem incertas, e o líder

precisará ter suficiente habilidade técnica e visão para prever e superar os obstáculos que,

porventura, surjam. O líder ideal será aquele que, agindo com mão firme, sabe que em certos

momentos, para o bem do seu grupo e instituição, necessitará dizer não. Novos desafios

exigirão desse líder uma assimilação consciente de uma gama intensa de informações

permitindo, assim, uma tomada de decisão oportuna e correta.

46

6 CONCLUSÃO

A MB vem exigindo dos seus recursos humanos extrema dedicação e esforço no

aperfeiçoamento técnico-profissional, para que os militares possam acompanhar as evoluções

constantes do mundo moderno, cada vez mais complexas, e aproveitando para reformular e

adaptar novas maneiras de proceder. Esta busca pela melhoria não é algo novo para a

instituição. Mesmo com as dificuldades orçamentárias atuais, a MB enfrenta os óbices e

consegue sobreviver em um cenário em que os processos arcaicos vêm dando lugar a outros

centrados no domínio da informação, do conhecimento e da tecnologia.

Percebe-se que o estudo das maneiras de agir dos líderes tem atraído psicólogos,

Forças Armadas e empresas. A razão, de acordo com a inferência deste Autor, é evidente:

aquele que descobrir o melhor processo de liderança estará resolvendo o problema da

motivação humana. Do que foi descrito, conclui-se que a liderança é uma habilidade que pode

ser aprendida e desenvolvida, pois poucos nascem líderes. À medida que o líder progride em

sua carreira, por meio do treinamento que recebe e da aquisição de experiência, ao longo do

tempo, seus princípios são ampliados e aprofundados. Este aprofundamento o tornará capaz

de superar obstáculos e as responsabilidades que, com certeza, aumentarão ao longo da

carreira e lhe darão confiança para conduzir os seus subordinados ao cumprimento da missão

que lhe é imposta. E é por isto que o assunto liderança diz respeito a todos os membros de um

grupo.

Não restam dúvidas de que o ato de liderar é proveniente da interação de uma

pessoa com um grupo de outras e é realizado por meio de vários estilos. A eficácia desses

estilos estará ligada à situação existente no ambiente onde a liderança será exercida. Ou seja, é

necessário que o estilo de liderar se adeqüe a cada situação.

Ao transpor o conceito de liderança para o ambiente militar, verifica-se que o líder

militar, nos dias atuais, deve ter um conhecimento básico de Ciências Sociais e utilizar este

conhecimento como alicerce para a sua liderança.

Na Marinha, uma das dificuldades para o estabelecimento de um processo eficaz

sobre liderança seria a falta de uma doutrina própria. Em 2004, o EMA equacionou este

problema publicando a Doutrina de Liderança da Marinha (EMA-137). Com a existência

desta publicação doutrinária, os líderes dos diversos níveis puderam exercitar uma unidade de

pensamento e ação padronizando procedimentos, tornando-a base para o treinamento, o

adestramento e a avaliação do desempenho das OM, com o propósito de estabelecerem uma

47

liderança efetiva em prol da instituição. Após divulgação e conhecimento da doutrina,

vislumbra-se e são sugeridas as seguintes ações:

a) que o EMA determine seja realizada uma pesquisa, como a de 1993, com o

enfoque voltado para o assunto liderança, usando como referência a publicação EMA-137,

com o propósito de ter uma situação atualizada de como o assunto está sendo administrado

pelo sistema MB;

b) que, em paralelo, os ODS determinem às OM subordinadas que cumpram as

ORCOM/2006 inserindo e dando ênfase, em seus PAD, no ensino e na prática diária da

liderança em todos os níveis organizacionais das OM. O assunto deverá ser abordado da

maneira mais prática possível, por meio de estudo de casos ou outro meio didático, e que

sejam vistos assuntos como ética, valores nacionais, tradições navais e relações humanas.

Também é importante que documentos, às vezes esquecidos, sejam lidos e debatidos em

grupo, como a Ordenança Geral para o Serviço da Armada, o Estatuto dos Militares e o

Regulamento Disciplinar para a Marinha. Tal ensino deverá estar enfocado para o estímulo de

novas idéias, no aproveitamento da criatividade para a solução de problemas e para o

aperfeiçoamento constante das atividades. É importante que, nesses adestramentos, o instrutor

adote as atitudes de liderança, motivando o pessoal, debatendo e transmitindo informações

para uma melhora de todo o processo de ensino;

c) que para obter-se uma idéia clara de como o assunto liderança está se

desenvolvendo em uma determinada OM e se sua implementação está alcançando sucesso, é

necessário que os líderes, em todos os níveis, estejam seriamente envolvidos com a causa. O

exemplo vindo de cima da pirâmide hierárquica será melhor aceito por todos os níveis;

d) que embora alguns currículos, das OM pertencentes ao Sistema de Ensino

Naval (SEN), tenham sofrido alterações recentes, após aprovação da doutrina sobre liderança,

é sugerido que a Diretoria de Ensino da Marinha continue a promover seminários com a

presença de representantes das OM subordinadas, para que haja uniformidade e

aperfeiçoamento contínuo de procedimentos e a constante atualização dos conhecimentos;

e) que a Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha, por intermédio de um Grupo de

Trabalho, com membros representantes das OM envolvidas no SEN, estabeleça mecanismos

de controle que permitam ao Comandante verificar como a liderança está sendo praticada,

pelos Oficiais e Praças, nas OM de terra/navios. Tais medidas devem auxiliar as OM

responsáveis pela formação de militares, principalmente o Colégio Naval, Escola Naval,

Centro de Instrução Almirante Wandenkolk e as Escolas de Aprendizes-Marinheiros, que

48

teriam um retorno do trabalho desenvolvido, aprimorando, por meio de um acompanhamento

contínuo, os resultados do aprendizado da liderança nos seus cursos respectivos;

f) que seja vislumbrada a necessidade de uma Lista de Verificação Anual (LVA),

sobre o assunto liderança, para ser usada nas IAM das OM. Esta lista deverá ser criada por

determinação do EMA, com sugestões provenientes dos ODS, e difere da sugerida no item

anterior, cujo propósito é verificar se a base da formação do líder está bem sedimentada,

enquanto a LVA de IAM é para verificar como a OM está utilizando os conceitos da doutrina

no seu dia-a-dia;

g) que seja utilizado o instrumento da delegação de competência, de modo que

todos os militares conheçam os princípios da organização em que servem e saibam tomar

decisões nos momentos necessários. É preciso que as organizações estimulem ações

inovadoras, mesmo com certo grau de risco. A idéia da perseguição do “erro zero” leva à

acomodação;

h) que haja uma prévia preparação daqueles que serão instrutores de liderança em

cumprimento aos PAD das OM. É importante que os mesmos sejam voluntários e gostem do

assunto, pois o próprio interesse já os fará realizar pesquisa e estudo sobre o tema. O ideal

seria que esses instrutores permanecessem um período maior nas OM, sem movimentação, de

modo a poder aperfeiçoar-se cada vez mais e progredir em seus conhecimentos sobre o

assunto. A MB já toma atitudes com relação ao assunto ao orientar o seu pessoal para

promover a permanente qualificação e capacitação dos militares para o exercício das funções

de instrutoria. Do mesmo modo, quando for exeqüível, permitir que o instrutor substituto

acompanhe o que irá substituir por um período de tempo máximo, de modo que o

conhecimento e a experiência anterior sejam transmitidos. Tal medida poderá ser

determinada, por meio de documentos pertinentes, pela DGPM;

i) que em virtude da MB estar passando por um processo de transformação,

decorrente do impacto das reduções orçamentárias e dos desafios provenientes das inovações

tecnológicas, tempo este conhecido como a era da informação e a era das dificuldades

materiais, nada mais oportuno e certo do que investir no homem. Assim, a relação entre o

aluno, o instrutor e o conhecimento adquirido, e entre o líder, os liderados e o cumprimento de

sua missão, permitem a discussão e a reflexão sobre a doutrina e a aplicação dos princípios da

liderança. É importante que seja evidenciado que, apesar de todas as inovações tecnológicas,

o homem é a maior preocupação das Forças Armadas e que é o valor do líder que faz a vitória

ou a derrota em uma batalha. Para contornar as dificuldades atuais, as OM devem ter uma

visão baseada na missão e um Planejamento Estratégico realístico com diretrizes de longo

49

prazo e projetos coerentes com a realidade do momento e o futuro que se pretende atingir.

Para isto, o líder deverá estar apto para planejar e administrar mudanças, uma vez que entre o

momento em que se estabelece a visão e a sua consecução, há um hiato de tempo que deve ser

monitorado, com o propósito de se adequar as metas às dificuldades de percurso. Procurou-se

mostrar que a falta de sintonia entre a meta e a visão de futuro poderá prejudicar o exercício

da liderança e que elas devem andar juntas para que o planejado seja, no futuro, uma

realidade;

j) que as OM, ligadas ao SEN, atentem para o fato de que a disciplina liderança

deve ser enfocada, em cada curso, de maneira diferenciada, de acordo com o tipo de curso e

levando-se em consideração as experiências acumuladas pelo militar. O propósito é aprimorar

a capacidade de liderar, tendo em vista as futuras responsabilidades resultantes dos cargos que

serão exercidos, pelos militares, nas OM de destino, de modo que este aprendizado seja

contínuo ao longo da carreira, de forma seqüencial e progressivo. Atentar para que seja dada

ênfase nos trabalhos em grupo realizados com o objetivo de proporcionar troca de

experiências entre os componentes da equipe;

l) que a EGN inclua, sistematicamente, assuntos ligados à liderança militar nas

listas de temas que são propostos para o C-PEM e C-EMOS, para confecção de monografias e

ensaios previstos em currículos;

m) que o Serviço de Documentação da Marinha incentive a publicação sistemática

de artigos na Revista Marítima Brasileira, sobre o assunto liderança, com o objetivo de

motivar os militares para o aprimoramento deste atributo e divulgação de trabalhos e estudos

sobre o tema;

n) que o EMA verifique a possibilidade de realização periódica de palestras e ou

conferências sobre o tema. Sugere-se que, além da participação de conferencistas/palestrantes

da MB, sejam convidados conferencistas/palestrantes extra-MB, estudiosos do assunto, o que

em muito poderá contribuir para o aperfeiçoamento do assunto no sistema naval;

o) que as OM que, porventura, venham a redigir e publicar documentos que

versem sobre liderança o façam em uma linguagem acessível para que possam,

simultaneamente, ser utilizados pelos oficiais e praças;

p) que o EMA verifique a possibilidade de incluir o assunto nas Reuniões de

Estados-Maiores, realizadas com outros Países, visando à troca de conhecimentos mútuos no

campo da liderança militar e como forma de sugerir novos intercâmbios;

q) que sob a coordenação da Comunicação Social da MB seja conscientizada a

sociedade brasileira da importância das Forças Armadas e do uso do mar para o

50

desenvolvimento socioeconômico e tecnológico do País. Através dessa divulgação, espera-se

o estabelecimento de parcerias com empresas, públicas ou privadas, com o propósito de

arrecadação de recursos ou material/serviços que auxiliarão algum projeto ou programa que

esteja paralisado e seja de interesse na MB. Essa divulgação poderá, também, auxiliar na

motivação, atraindo, dessa forma, recursos humanos para as fileiras da MB;

r) que as OM, cujas atividades estejam relacionadas ao SEN, possam difundir os

conhecimentos sobre liderança por intermédio de suas páginas na Internet/Intranet;

s) que o líder, sendo responsável pelo seu desenvolvimento, fora do contexto

escolar, busque como forma de auto-aperfeiçoamento, a atualização de conhecimentos gerais,

leituras seletivas e contatos com outras instituições. Além disso, conhecer a sua profissão,

assumir responsabilidades, servir de exemplo aos seus comandados, conhecendo-os e zelando

por eles, são metas a serem perseguidas pelo líder de hoje e de um futuro próximo. A

constante evolução exigirá que este líder seja cada vez mais flexível, para acompanhar os

avanços tecnológicos atuais, e que sua credibilidade seja inabalável perante os seus

seguidores;

t) que a DEnsM, baseada em estudo de casos, produza vídeos didáticos que serão

utilizados pelas OM, quando por ocasião da aplicação dos seus Programas de Adestramento,

obtendo-se uma uniformidade de procedimentos;

u) que os oficiais e praças, principalmente os mais antigos, imbuídos da condição

de serem exemplos para os demais militares, motivem os seus subordinados de modo que

cada equipe trabalhe de maneira coesa para o cumprimento de diversas tarefas afetas a cada

setor;

v) que a DEnsM estude a possibilidade de editar um segundo volume da

publicação DensM 1006 − Estudo de Casos, contendo novos exemplos e aplicando os

conceitos da doutrina existente;

x) que a DGPM estude a possibilidade de modificar a Folha de Avaliação de

Oficiais (FAO) quanto ao requisito liderança. A sugestão é que o item seja considerado como

item do conceito profissional e seja avaliado com graus inteiros, na escala de 0 a 10;

aa) que as Seções de Inteligência das OM identifiquem os líderes negativos que,

por suas características, poderão causar uma desmotivação nas tripulações. O ideal é que esses

líderes sejam acompanhados e, quando possível, expulsos da Força;

ab) que a antiga publicação “Tradições Navais” seja reeditada, aproveitando

alguma data significativa na MB para relançamento, como os dias 11 de junho ou 13 de

51

dezembro, e que a mesma seja distribuída, posteriormente, para todos os componentes da

Força;

ac) que em 2007, quando terá três anos em vigor, o EMA solicite aos ODS

sugestões para uma provável revisão do EMA-137;

ad) que a DEnsM divulgue, com o auxílio das OM pertencentes ao SEN, uma lista

contendo uma bibliografia atualizada sobre liderança. É recomendável que as OM que

possuam bibliotecas em suas instalações adquiram os livros referenciados para consulta e

estudo; e

ae) que como incentivo e motivação para os militares, seja incrementado, cada vez

mais, o conhecimento de idiomas e informática e para aqueles, que não estejam servindo

embarcados, haja facilidade para que freqüentem escolas, seja de ensino médio ou superior,

com a finalidade de aprimoramento individual.

Ao encerrar este trabalho, tem-se a plena consciência de que o assunto não está

esgotado e que muitas das idéias apresentadas estão em andamento e outras não serão

implementadas. Tem-se, no entanto, a certeza de que para chegar-se à Marinha desejada o

caminho passa por uma liderança eficaz, como forma de manter o moral e o espírito de corpo

dos militares, motivando a todos para que mantenham a competência e o profissionalismo de

sempre. A Marinha está no caminho certo ao prover o seu pessoal com o conhecimento básico

e profissional para o cumprimento de sua missão constitucional. Com este intuito, procura-se

obedecer a uma educação sistemática, atualizada e aprimorada, contínua e progressiva, desde

a formação inicial até os níveis mais elevados da carreira do militar. É necessário, então, o

empenho daqueles que compõem a MB em exercer e querer implementar a liderança. Rui

Barbosa dizia que esquadras não se improvisam. Líderes também não.

52

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