Upload
vuongkien
View
217
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A loucura de Brasília: o antimudancismo nas páginas do jornal Tribuna da Imprensa (1956-1960)
Cristiano Aguiar Lopes1
Resumo
Neste artigo, denominamos “antimudancismo” o movimento político contrário à transferência da capital para Brasília. O antimudancismo, que esteve em evidência na segunda metade dos anos 50 e no início dos anos 60, contou com o apoio de alguns dos principais jornais brasileiros da época. Analisamos matérias do jornal carioca Tribuna da Imprensa sobre a construção de Brasília publicados de 1956 a 1960. O estudo confirma que o antimudancismo da Tribuna da Imprensa foi, muito além de um simples movimento político contrário à mudança da capital, uma bandeira de oposição a JK na tentativa de desestabilizar o governo. Palavras-chave: história da imprensa, Brasília, Tribuna da Imprensa, antimudancismo, mídia e política.
Prólogo
Lacerda adentrou a redação da Tribuna com o ímpeto de sempre. Mas dessa vez não
seguiu para seu escritório, como era de costume. Estacionou na primeira máquina de escrever
que encontrou – uma velha Underwood da redação. Era uma tarde muito, muito quente.
Porém não mais quente do que todas as outras daquele dezembro de 58. Como que possuído
pelo sobrenatural, Lacerda desatou a agredir a máquina com seus velozes dedos... TAC...
TAC... TAC... Por toda a redação ouvia-se aquele martelar. Os mais velhos da Tribuna
sabiam muito bem o que aquilo significava. Os mais novos pareciam surpresos. E todos se
uniam em um pesado silêncio. Apenas o TAC... TAC... TAC..., que ecoava Lavradio afora,
centro afora, Rio afora, Brasil afora. Mais alguns TACs e pronto: ali estava o mais cruel
ataque à construção de Brasília que a imprensa jamais ousaria publicar...
1 Jornalista, Mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília, consultor legislativo da Câmara dos
Deputados para as áreas de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. E-mail:
“(...) O resultado é uma espécie de pot pourri de dirigismo estatal e de voracidade privatista, que se contemplam numa obra nefasta. A iniciativa privada autêntica é perseguida ou, quando menos, menosprezada. A iniciativa privada que se estimula é precisamente a que não convém: são os grupos privilegiados que se criam e prosperam à sombra de favores cambiais, com endereço certo, são os sócios políticos do Sr. Juscelino Kubitschek de Oliveira – os que ele trouxe de Belo Horizonte e os que adicionou à farândola do triunfo que o Exército garantiu à corrupção. O estatismo que se expande é o do crédito, que se tranca à iniciativa privada e se derrama sobre as despesas governamentais, como a loucura de Brasília e as despesas justas, se isoladamente consideráveis, mas desatinadas, se analisadas dentro do quadro financeiro do país, das obras monumentais que prosseguem arrancando a carne do particular, do cidadão, do contribuinte em suma.”2
Introdução
Brasília estava longe de ser uma unanimidade. Exatamente o oposto, havia muito mais
detratores do que defensores. A grande imprensa era majoritariamente contrária à construção
da nova capital. Do lado dos antimudancistas – membros do movimento político contrário à
transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília - nomes de peso e em grande
quantidade. Como Gustavo Corção (1896-1978), até hoje o maior intelectual da direita
católica brasileira. Como Assis Chateubriand (1892-1968), criador do maior conglomerado de
comunicações já visto do lado de cá do Equador3. Como Samuel Wainer (1910-1980), que
abriu grande espaço em seu jornal A Última Hora para a causa antimudancista.
Mas ninguém foi mais antimudancista, nem mais inimigo do governo de Juscelino
Kubitschek (1902-1976), que Carlos Lacerda (1914-1977). A Tribuna da Imprensa, jornal
personalíssimo que era conhecido como “o jornal do Carlos Lacerda” (BACIU, 1982) durante
o período da “velha tribuna”4, foi o mais ferrenho crítico da transferência da capital para o
2 LACERDA, Carlos. Otimismo: o Nosso e o da Camorra. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29 dez. 1958, p.
4 (grifos nossos) 3 Chatô, contudo, se transformou em um mudancista tardio, ao enxergar na nova capital a oportunidade para dois
novos negócios – a TV Brasília e o jornal Correio Braziliense. 4 O período da “velha Tribuna” vai da sua fundação por Carlos Lacerda, em 27 de dezembro de 1949, até sua
venda, em outubro de 1961, quando passou a ser controlada pelo grupo Jornal do Brasil. Trata-se do período
“Lacerdista”, já que após a venda da Tribuna, houve um processo de “deslacerdização” do jornal (BACIU, 1982,
p. 77).
Planalto Central. Não por acaso, durante muito tempo os desagradáveis redemoinhos que
levantavam poeira, destelhavam casas e incomodavam os primeiros pioneiros de Brasília
foram chamados de “lacerdinhas”.
Artigos, reportagens, charges e editoriais que não poupavam críticas à construção de
Brasília começaram a ser publicados ainda em 1955, quando poucos acreditavam que tal
“desatino” realmente iria se concretizar. Em 1956, quando efetivamente se iniciam os
preparativos para a construção da cidade, os artigos contrários à transferência da capital
passam a ser mais freqüentes e contundentes.
Esse aumento quantitativo e qualitativo nas críticas da Tribuna da Imprensa a Brasília
continua a ocorrer nos anos seguintes, até que em 1960 se transforma em matérias diárias,
muitas com direito a grande destaque na capa do jornal. Letras garrafais e amplas fotos
mostravam as condições precárias da “Brasília às vésperas da mudança”, em uma série de
reportagens realizada antes da inauguração. Depois de 21 de abril, as críticas eram as mesmas,
mas com novos enfoques, com manchetes como “Casacas no barro”5 ou “Ministros também
estão de volta: Brasília não tem mesmo condições”6.
5 Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 22 abr. 1960, p. 1 6 Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 e 24 abr. 1960, p. 1
Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 17 fev. 1960, p. 1
Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23/24 abr. 1960, p. 1
Breve histórico da “velha Tribuna”
A história da Tribuna da Imprensa começa antes da sua fundação e em outro jornal, o
Correio da Manhã. Em 1946, Carlos Lacerda, já jornalista aclamado, filiado à União
Democrática Nacional (UDN) e antigetulista de primeira hora, cria no Correio a coluna
“Tribuna da Imprensa”, na qual analisava o processo constituinte que culminaria na
promulgação da Constituição Federal em setembro daquele mesmo ano.
Em 1949, após ser demitido do Correio da Manhã, Lacerda inicia uma campanha de
arrecadação de fundos para abrir um novo jornal, que seria organizado na forma de Sociedade
Anônima. 34 mil acionistas depois – além da valiosa ajuda de um empréstimo tomado no
Banco de Crédito Real sem qualquer garantia material -, Lacerda comprava o prédio na Rua
do Lavradio, 98, e lá instalava uma velha rotativa adquirida da empresa Listas Telefônicas
(RIBEIRO, 2007). Um acordo com os proprietários do Correio da Manhã o autorizou a
utilizar o nome da sua influente coluna: nascia assim, em 27 de dezembro de 1949, o
vespertino Tribuna da Imprensa.
Apesar de nunca ter sido um jornal de grande circulação – no seu ápice, em 1955,
tinha uma tiragem de 40 mil exemplares, enquanto vespertinos como Diário da Noite e O
Globo publicavam 90 mil e 110 mil exemplares, respectivamente (RIBEIRO, 2007) – a
Tribuna da Imprensa era bastante influente. O tamanho do seu prestígio só podia ser igualado
pelo volume de suas dívidas, que iriam atormentar os administradores do periódico até o fim
dos seus dias.
Trata-se de uma publicação sui generis, que não apenas nasceu e cresceu em um
período de profunda transformação do jornalismo brasileiro, como esteve na vanguarda de
uma rápida e intensa profissionalização da imprensa. A Tribuna da Imprensa foi, por
exemplo, pioneira na implementação de normas precisas de escrita, por meio de manuais de
redação. (BARBOSA, 2007). Foi na Tribuna que o modelo dos cinco que (o quê, quem,
quando, onde e por que), bem como o lead, foram inicialmente utilizados no Brasil, em um
processo de transição que se distanciava do modelo literário e panfletário dominante até
então, para se filiar ao modelo americano, no qual a isenção era o padrão-ouro.
Mas a personalidade forte e dominante de Carlos Lacerda à frente da Tribuna, e a clara
motivação política que o levou a fundar o jornal, mantinham um rígido controle editorial,
tornando a Tribuna “um jornal para o Lacerda”. Tanto é verdade que o manual de redação da
Tribuna da Imprensa, símbolo maior da sua modernização, foi inteiramente redigido pelo
próprio Carlos Lacerda. Tinha-se como resultado uma publicação que hesitava entre a
observação imparcial e o mais explícito espírito panfletário. Não era um simples manual de
redação que iria impedir o “jornal que pensa o que diz porque diz o que pensa” de se
posicionar firmemente em relação a determinados temas, deixando em último plano qualquer
pretensão de isenção.
E quando o assunto era oposição, qualquer sombra de isenção era posta rua afora. Se
era para a Tribuna ser antigetulista, que o fosse com toda a gana. Se a oposição era ao
Movimento Militar Constitucionalista, ou ao “golpista preventivo” Marechal Lott, que fosse
plena. E se o objetivo era desestabilizar Juscelino Kubitschek, não importavam os métodos,
apenas os resultados. Apesar do famoso embate entre Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, que
resultou em um atentado contra o primeiro e, talvez, no suicídio do segundo, foi contra JK
que Lacerda teve a chance de exercer seu mais livre e ferino jornalismo de oposição. Por
sincera oposição ideológica. Por clara disputa política de posições. Por ser dono do próprio
jornal. Mas, principalmente, por estar publicando em um breve hiato de grande liberdade de
expressão, espremido entre o fim do longo controle da imprensa da Era getulista e o golpe
militar de 1964. Junte-se tudo isso, e temos trechos como este:
“Houvera uma crise ministerial e êle [Mário Meneguetti, ministro da Agricultura de JK entre outubro de 1956 e abril de 1960] estava por perto. Bota-se êsse, disseram ao Leviano [JK]. E como seria uma leviandade nomeá-lo, nomearam, que o ciclo a ser cumprido é o da leviandade extrema, cinqüenta anos em cinco de leviandades cósmicas”.7
Esse caldeirão de motivações pessoais,
estratégias políticas, oposição ideológica e grande
liberdade de expressão moldaram sobremaneira a
cobertura do governo JK – cobertura essa que muitas
vezes descambava para o completo desrespeito. Afinal,
não é todo dia que vemos um presidente da República
retratado como um rato em uma charge.
ABRAMO, Hilde Weber. Juscelino Candango. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 e 24 abr. 1960, p. 3
Para a Tribuna da Imprensa, Juscelino sequer era um presidente democraticamente
eleito. “Assim como um dos seus antecessores fazia datar o Brasil da sua chegada ao Poder”
diz Lacerda, “o Sr. Kubitschek faz datar a confiança no Brasil da sua ascensão, pelas armas e
pela fraude, à presidência da República”8. Oposição desse tipo, dirigida diretamente a JK e às
suas obras – em especial Brasília – estamparia as páginas da Tribuna por todo o seu governo e
mesmo depois. Apenas em outubro de 1961 quando, premido por dívidas impagáveis, Carlos
7 FILHO, João Duarte. NOVACAP Particular. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 24 nov. 1958, p. 3 8 LACERDA, Carlos. Otimismo: o Nosso e o da Camorra. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29 dez. 1958, p.
4
Lacerda vende a Tribuna da Imprensa, inicia-se uma guinada definitiva rumo à modernização
do jornal. Mas a nova Tribuna, sem a verve de Lacerda, perde boa parte da sua aura, e segue
sua derrocada, até morrer nos braços de Helio Fernandes que, heroicamente, conseguiu
manter a Tribuna viva até 2008.
Metodologia
O estudo foi conduzida exclusivamente por meio de pesquisa bilbiográfica. A
principal atividade foi a coleta de artigos da Tribuna da Imprensa publicados no período
delimitado entre a promulgação da Lei nº 2.874, de 19 de setembro de 1956, que autorizou o
início das obras de construção de Brasília, e 31 de dezembro de 1960.
A coleta foi realizada em três fases. Na primeira, foi feita uma varredura em
microfilmes de todas as edições da Tribuna da Imprensa publicadas no período pesquisado.
Frente ao grande volume de informações, optamos por utilizar, como guia, uma lista de
artigos sobre a construção de Brasília elaborada por Michelle dos Santos, em sua dissertação
“A construção de Brasília nas tramas de imagens e memórias pela imprensa escrita (1956-
1960)”, defendida no Departamento de História da Universidade de Brasília em setembro de
2008. Tal lista, gerada a partir da coleção de recortes de jornais do Fundo Novacap do
Arquivo Público do Distrito Federal, facilitou sobremaneira a localização dos artigos na
Tribuna da Imprensa. Mas não nos limitamos aos artigos analisados pela autora, e por isso
nosso corpo documental é maior do que o que consta na sua dissertação. Contudo, ainda que
mais ampla, nossa lista também não é composta pela totalidade dos artigos sobre a construção
de Brasília publicados pela Tribuna no período estudado. Trata-se tão somente de uma
amostra composta por matérias que julgamos mais representativas do Cenário de
Representação da Política (CR-P) daquela época. Voltaremos ao conceito de CR-P em breve.
A segunda fase foi a de digitalização dos artigos selecionados. Optamos por digitalizar
não apenas os artigos a serem analisados, mas a imagem em fac-símile da página inteira na
qual eles foram publicados. Assim, é possível vislumbrar com maior clareza diversos
elementos de edição essenciais ao pleno entendimento do grau de importância conferido aos
temas abordados nos textos.
A terceira fase foi a de transcrição dos textos selecionados. Optamos por realizar essa
transcrição por dois motivos primordiais: a facilidade para a posterior citação de trechos; e a
possibilidade de compartilhamento desses textos via Internet, permitindo inclusive a sua
busca por palavras-chave, bem como a sua indexação por mecanismos de busca na rede. Sem
a transcrição, tanto o compartilhamento quanto a indexação seriam impossíveis, uma vez que
o processo de digitalização guarda somente a imagem em fac-símile, sem o reconhecimento
automático de caracteres. Como o processo de escaneamento dos microfilmes não foi capaz
de gerar imagens em alta resolução, todo o processo de transcrição foi feito manualmente, já
que a utilização de OCR9 geraria textos repletos de falhas e, assim, pouco confiáveis.
Eventuais erros de transcrição são, portanto, de responsabilidade exclusiva do autor.
Ao fim e ao cabo, chegamos a um total de duas charges e 64 textos selecionados,
digitalizados e transcritos10, assim divididos:
- 1956: 3 textos
- 1957: 3 textos
- 1958: 9 textos
- 1959: 2 textos
- 1960: duas charges e 47 textos
O volume consideravelmente maior de textos do ano de 1960 faz parte de uma
deliberada estratégia na construção da amostra. Na pesquisa inicial, pudemos constatar um
número muito maior de artigos sobre a construção de Brasília publicados naquele ano, quando
comparado aos anteriores. Em 17 de fevereiro de 1960, a Tribuna da Imprensa começou a
publicar, quase que diariamente, uma série especial de reportagens intitulada “Brasília às
vésperas da mudança”, na qual denunciava as condições precárias da cidade que, dali a
poucos meses, seria a nova capital do país. Além disso, 1960 era um ano eleitoral, no qual
Carlos Lacerda terminaria sendo eleito, em outubro, governador da Guanabara. Nossa
9 Optical Character Recognition, ou Reconhecimento Óptico de Caracteres. 10 Todas as imagens em fac-símile e os textos transcritos das matérias analisadas estão disponíveis no blog
Museu da Propaganda, no endereço http://museudapropaganda.blogspot.com. Para acessa-los, basta selecionar a
opção “Tribuna da Imprensa” do menu “seções”, ou ir diretamente ao endereço
http://museudapropaganda.blogspot.com/search/label/tribuna
hipótese principal, com base no conceito de CR-P, era a de que as matérias contrárias à
construção de Brasília publicadas na Tribuna da Imprensa tinham como alvo Juscelino
Kubitschek - e que os ataques desferidos pela Tribuna a JK e a Brasília faziam parte da
construção de um cenário de representação no qual Lacerda seria uma legítima voz do
descontentamento do Rio de Janeiro com a transferência da capital. Portanto, as matérias de
1960 sobre a nova capital mostravam-se essenciais para se colocar nossa hipótese à prova.
Bem, falemos agora um pouco da base teórica escolhida para a análise dos textos
selecionados. Poderíamos ter optado pela metodologia de análise do discurso, que com toda a
certeza traria resultados bastante ricos. Mas uma análise desse tipo nos traria como problema
justamente sua maior virtude: resultados bastante amplos, capazes de revelar facetas
ideológicas, culturais e sociais das mais variadas.
Buscávamos uma análise menos
abrangente, mais centrada na política e, mais
especificamente, na disputa política e no jogo
eleitoral da época. Assim, uma metodologia
baseada no conceito de CR-P nos permitiria
melhor analisar uma vertente que, para nós, é
essencial no entendimento do papel
desempenhado pela Tribuna da Imprensa na
formação da cultura política, sobretudo durante
o período da “velha tribuna”. Afinal, a mídia se
transformou em palco privilegiado das disputas
pelo poder político na contemporaneidade
(LIMA, 2001). Nos anos 50, a importância da
mídia – e sobretudo da imprensa escrita – na
construção da hegemonia no cenário político
brasileiro é notável (LATTMAN-WELTMAN, 1996; RIBEIRO, 2007). E não podemos
esquecer que a Tribuna da Imprensa pertencia a Carlos Lacerda, um homem de intensa
atividade política, que disputou (e venceu) uma eleição a governador durante o período por
nós pesquisado, e que utilizava sua publicação para fins políticos pessoais de maneira pouco
velada.
Por isso nos valemos do conceito de CR-P. Nas palavras de Lima (2001, p. 181 e
182):
“Dentro da tradição maior representada pelos conceitos de imaginário social e cultura política e tomando o conceito de hegemonia como referência teórica básica (...) o CR-P refere-se a um “cenário de representação” específico da política (...). Se entendermos a palavra “cenário” como significando o espaço, o lugar onde ocorre algum fato, a ação ou parte da ação de uma prática qualquer, é possível afirmar que a hegemonia (...) pode ser decomposta em vários “cenários” específicos que incorporam todas as suas características. Mas qual a característica fundamental desses “cenários”? (...) podemos afirmar que ela [a hegemonia] se constitui e se realiza no espaço em que o sentido da vida e das coisas é construído, isto é, no espaço das representações. Dessa forma, podemos também afirmar que esses “cenários” são, de fato, “cenários de representação” (...) Em nossa articulação conceitual, representação significa não só representar a realidade, mas também constituí-la.”11
A partir dessa linha de argumentação, Lima (2001, p. 182 e 183) chega à seguinte
definição de CR-P: “espaço específico de representação da política nas ‘democracias
representativas’ contemporâneas (...) lugar e objeto da articulação hegemônica total,
construído em processos de longo prazo, na mídia e pela mídia (...)”.
É possível notar, portanto, que no conceito de CR-P é dado um espaço privilegiado
para a análise do papel da mídia como constituidora de representações, como um elemento
capaz de, em certa medida, introduzir valores e modelar condutas individuais e coletivas. Há,
obviamente, que se relativizar essa capacidade constituidora da mídia que, em última
instância, é o seu próprio papel na construção da hegemonia. Claro que há muitos outros
fatores que inflem na formação de uma hegemonia e que, como bem ressalta Lima, a mídia é
também constituída, na medida em que internaliza e reverbera valores a ela extrínsecos. Mas
há um fato inquestionável: a mídia não é simplesmente reflexiva, é também dotada de
capacidade constituidora, e por isso desempenha papel fundamental na construção da
hegemonia.
11 Grifos nossos.
Então, apresentada a nossa metodologia e explicitado o nosso referencial teórico,
analisemos as matérias selecionadas.
Discussão
1956
Em 1956, apesar de já promulgada a Lei nº 2.874, de 19 de setembro de 1956, que
“dispõe sôbre a mudança da capital e dá outras providências”, as matérias sobre a
transferência da capital para Brasília revelam um misto de incredulidade e de dúvidas quanto
à motivação da escolha pela mudança. Em 1º de novembro, a Tribuna publica um dos únicos
artigos, em todo o período analisado, que se propõem a uma análise mais isenta da
transferência da capital. Citando G. K. Chesterton (1874–1936) e Harold Laski (1893-1950),
o artigo “Sôbre a mudança da capital”, assinado pelo historiador e escritor João Camillo de
Oliveira Tôrres (1915-1973) diz pretender, antes de criticar, “instaurar dúvidas” sobre a
mudança. Mas as críticas vêm logo em seguida:
“(...) espanta-me a idéia de quererem colocar o govêrno do Brasil fora dos centros civilizados, fora do centro povoado e vivo do país. Govêrno sempre se soube, é govêrno de homens sôbre homens e, não, sobre terras. Afinal, que vai fazer o govêrno fora das cidades? (...) Se é uma loucura querer administrar o país de dentro do Rio, uma cidade situada no centro do país [retomando crítica ao excesso de centralização do governo brasileiro], centro humano, demográfico, social, econômico, o que não será da periferia sertaneja?”12
Na crítica de Tôrres, está uma representação que irá se repetir ao longo de boa parte da
cobertura da construção de Brasília: a de que se trata de uma ideia bastante tola transferir a
capital para a “periferia sertaneja”. Uma peculiaridade é a citação a outros exemplos de
transferência de capitais no mundo, algo que encontramos apenas no artigo de Tôrres.
12 TÔRRES, João Camillo de Oliveira.Sôbre a mudança da capital. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 1º.
nov. 1956, p. 4
“Se isso fôsse seguir os Estados Unidos, a capital iria para Rezende, São José dos Campos, ou qualquer outro lugar entre Rio e São Paulo. Washington não está nos cafundós de Nevada e, sim, logo adiante de Nova York, perto do mar. Desde Tomé de Souza que o Govêrno do Brasil é o fator de civilização, o veículo que nos transmite as idéias da Europa. Ficaria bem em pôrto (...) Cita Chesterton os casos de Constantinopla, Madrid, S. Petersburgo, Cracóvia e Versalhes. Com Exceção de Bizâncio, os demais exemplos foram da mesma época, expressão do mesmo espírito, o abandono das velhas cidades, sedes da tradição e da religião, cheias de povo, em troca de cidades novas, desligadas de qualquer contato mais íntimo com a realidade histórica tradicional. O fenômeno, lembra-nos Chesterton, e êste o tema de seu ensaio, está associado ao aparecimento do absolutismo, e ao abandono das velhas práticas da “monarquia limitada” dos tempos medievais. Antes governava o rei “em côrtes”. Isto é, nas assembléias do povo; depois viria o govêrno do rei “na côrte”, isolado de tudo.”13
Na edição de 29/30 de dezembro do mesmo ano, surge mais uma representação que irá
se repetir em grande parte dos artigos analisados: a corrupção. Na capa, acima da dobra, está a
matéria “Coisas estranhas acontecem com o dinheiro de Brasília”. A matéria denuncia que,
“contrariando a praxe do serviço público, são emitidos cheques ao portador” ao invés de
cheques nominais. Ela não afirma diretamente que houve desvio de verbas, mas mostra que a
emissão de cheques ao portador pode ser, no mínimo, uma brecha que permitiria o mau uso
do dinheiro público durante a construção da nova capital.
“Nos dias 19 e 20 de dezembro, por exemplo, a “Cia Urbanizadora da Nova Capital” emitiu contra o Banco do Brasil dois cheques no valor de Cr$ 1.701.917,60. Só um deles, entretanto, levou o nome do recebedor. O outro, em maior quantia, foi, inexplicavelmente, emitido ao portador.”14
Na mesma edição, outra matéria sobre a construção de Brasília, essa muito mais
explícita em suas críticas. Sob o título “Mudança para Brasília – a mentira carioca de 1956”, o
artigo publicado na seção de Opinião da Tribuna comenta uma reportagem do Estado de São
Paulo, e afirma que a construção da nova capital está sendo feita “na base da improvisação e
da inconseqüência” que caracterizaria o governo de JK, qualificado como um “permanente
13 TÔRRES, João Camillo de Oliveira. Sôbre a mudança da capital. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 1º.
nov. 1956, p. 4
turista”. Mais uma vez, surge o tema “corrupção”: “Os planos (...) propiciarão negociatas,
darão oportunidade a que ganhem dinheiro, facilmente, aquêles que têm os bons olhos do
govêrno e faro para a tramóia” 15.
1957
A página 2 da edição de 20 de setembro
de 1957 traz em destaque uma foto de Carlos
Lacerda discursando durante a inauguração do
diretório da UDN no Catumbi, bairro da região
central do Rio de Janeiro. A foto ilustra a
matéria “Ainda está por fazer quem nos faça
calar” – o título reproduz um trecho do longo
discurso proferido por Lacerda na ocasião. Era
evidentemente um evento político e Lacerda,
como de costume, aproveitou a oportunidade
para desferir duros golpes contra Juscelino
Kubitschek. Porém um golpe muito bem
dirigido, destinado a insuflar o
descontentamento dos fluminenses e,
principalmente, dos cariocas contra JK e contra
a transferência da capital para Brasília.
A Tribuna da Imprensa deu destaque a um trecho do discurso sobre o tema: “criticou
o líder udenista a construção de Brasília: ‘pelo governo voador, que quer se vingar do carioca
porque não lhe mereceu o voto´”16. Trata-se de uma representação recorrente na Tribuna,
14 Coisas estranhas acontecem com o dinheiro de Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29 e 30 dez.
1956, p. 1. 15 Mudança para Brasília – a mentira carioca de 1956. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29 e 30 dez. 1956,
p. 4. 16 Ainda está por nascer quem nos faça calar. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 20 set. 1957, p. 2.
também ressaltada por Michelle dos Santos (2008) – o esvaziamento político do Rio, gerado
pela construção na nova capital, seria uma retaliação de JK ao seu fraco desempenho eleitoral
durante as eleições presidenciais. Essa mesma representação apareceria apenas alguns dias
depois, em 26 de setembro, e de forma muito mais explícita. O título do artigo é auto-
explicativo: “Brasília, castigo do Rio”.
Mas, mesmo com as obras de construção da capital já em andamento – haviam
começado em fevereiro – a representação da “incredulidade” ainda está presente. Em matéria
também de 26 de setembro, na qual se informa que data da transferência da capital será 21 de
abril de 1960, Brasília é chamada de “cidade de ficção”. A reportagem repercute críticas do
senador udenista Daniel Krieger (1909-1990) à aprovação, pelo Senado Federal, de um
projeto de lei17 que fixava essa data para a transferência da capital – projeto este que se
transformaria na Lei nº 3.273, de 1º. de outubro de 1957: “Não é possível que se construa
nesse prazo (...) uma cidade destinada a servir de capital a um país de 60 milhões de
habitantes. Isso vai exigir um sacrifício extremo da nação brasileira”18. Ainda valendo-se das
palavras de Krieger, a Tribuna da Imprensa aproveita para alertar sobre a possibilidade de
desperdício de recursos públicos e, também, para veladamente criticar as “excentricidades” de
JK, representação essa também recorrente:
“(...) Além do mais, o presidente da República pode se valer dêsse ato do Legislativo para depois dizer: tudo o que fiz recebi (sic) prazo do Congresso, os créditos especiais, o esbanjamento das verbas produzidas por todos os Estados do Brasil que apliquei na capital, foi deliberação expressa do Parlamento. O sr. Fernandes Távora, em aparte, frisou que não se deveria dar ao sr. Juscelino esse ‘bill’ de identidade para êle justificar ‘todas as maluquices que tem praticado’. O sr. Gaspar Veloso, líder do PSD, não gostou da expressão ‘maluquice’ e o Sr. Távora modificou para ‘desacêrto’, embora sem satisfazer de todo o senador paranaense.” 19
O tema desperdício de verbas públicas e desvio de recursos de outros estados para
Brasília ressurge na coluna “Vozes da Cidade” de 18 de dezembro, assinada por José do Rio.
17 PL 1.773, de 1956, do Deputado Emival Caiado (UDN/GO) 18 A capital se muda em abril de 60. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26 set. 1957, p. 3. 19 A capital se muda em abril de 60. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26 set. 1957, p. 3.
O autor informa, em pequena nota, que os orçamentos dos Institutos de Previdência têm uma
nova rubrica, chamada Empreendimentos Brasília, que já teria liberado 180 milhões de
cruzeiros para inversão na nova capital. “Enquanto isso”, frisa José do Rio, “os prédios dos
Institutos na velha capital – o Rio – estão caindo aos pedaços.”20
1958
Na mesma linha da representação do
desperdício de verbas públicas está a da
escolha de prioridades para a utilização dos
recursos que, como sabemos, são sempre
escassos. É a linha principal seguida pela
matéria “Brasília financia publicidade oficial:
Fala à Tribuna o senador Alencastro
Guimarães”, com grande destaque na edição
de 30 de abril. E mais uma vez, é utilizada a
dicotomia “verbas destinadas à construção de
Brasília” versus “verbas não utilizadas na
infra-estrutura do Rio de Janeiro”:
“Não vejo, nunca vi, dificuldades de monta na solução de certos problemas capitais do Rio – declarou à TRIBUNA DA IMPRENSA o senador Alencastro Guimarães referindo-se a vários problemas que angustiam a vida da cidade. E prosseguiu: ‘falta de dinheiro não é. Se a União pode despender bilhões na construção da nova capital onde não há praticamente habitantes, poderia com muito mais razão e propriedade aplicar êsses bilhões na velha capital. Se lá o dinheiro rende, recompensa o capital empregado, aqui, com muito mais sucesso, teria a rentabilidade maior e mais rápida. É verdade que aqui o emprêgo desse dinheiro não teria os efeitos publicitários que
20 Vozes da Cidade. Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro, 18 dez. 1957, p. 2.
produz em Brasília. Essa talvez a razão porque para nós cariocas falta tudo, exceção da abundância de uma paciência infinita” 21
Na mesma página, e em linhas gerais, com a mesma representação, uma pequena
matéria, intitulada “Desvio de verba para Brasília”, na qual se repercute uma denúncia
apresentada por mais um udenista, desta vez o deputado Herbert Levy (1911-2002). O
subtítulo diz: “O Instituto dos Ferroviários de S. Paulo, além de dever enormes quantias ao
Estado, deixou também de pagar a aposentadoria dos seus associados. E tudo isso porque
mandou seus recursos para Brasília. Fazendo esta denúncia na Câmara Federal, o deputado
Herbert Levy citou o caso dos ferroviários da Estrada de Campos do Jordão que há seis mêses
não vêem dinheiro.” 22
E para que tantos gastos? O que exatamente se está construindo no Planalto Central?
De acordo com a Tribuna da Imprensa, palácios para JK. É o que afirma logo na manchete a
matéria “Inaugurado em Brasília o palácio de Kubitschek”, publicada em 1º de julho. Um
palácio, segundo a Tribuna, de requintes nababescos, feito com um orçamento astronômico:
“Foi inaugurado ontem, em Brasília, o Palácio da Alvorada, residência do Sr. Juscelino
Kubitschek e primeiro edifício construído na nova capital. Custou ao Tesouro cêrca de Cr$ 1
bilhão tendo um dos banheiros mais luxuosos da América do Sul, orçado há tempos, em Cr$
15 milhões” 23.
Ao longo de nossa análise dos artigos sobre a construção de Brasília, pudemos
observar que, de 1958 em diante, há uma alternância ou a justaposição de dois argumentos.
De um lado, a construção da nova capital é apresentada como um inesgotável escoadouro de
verbas públicas, que demonstra não haver escassez de dinheiro para obras e políticas
essenciais, mas tão somente uma escolha equivocada de prioridades pelo governo JK. De
outro, um argumento, sempre fundamentado na “gastança” com a construção de Brasília, de
21 Brasília financia publicidade oficial. Fala à Tribuna o senador Alencastro Guimarães. Tribuna da Imprensa,
Rio de Janeiro, 30 abr. 1958, p. 3. 22 Desvio de verba para Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 30 abr. 1958, p. 3. 23 Inaugurado em Brasília o palácio de Kubitschek. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 1º jul. 1958, p. 3.
que escassez de recursos não pode ser usada como desculpa para qualquer decisão
governamental que vise evitar gastos em outras ações.
É o que vemos, por exemplo, na edição de 9 de julho. A utilização do segundo
argumento é feita logo no título da matéria “Governo que constrói Brasília não pode vetar
reajustamento dos inativos da Previdência Social”. Novamente é dada voz a um udenista para
combater a medida do governo. Mas dessa vez o próprio Carlos Lacerda é o citado:
“Combatendo o veto presidencial ao reajustamento da aposentadoria e pensões dos segurados da previdência social (...) o deputado Carlos Lacerda, líder da UDN, demonstrou ontem, durante a sessão do Congresso Nacional, que as razões do Govêrno não procedem. O govêrno, para vetar a emenda Padilha, disse que esta colocaria em risco a Previdência Social do Brasil, levando-a à falência.” 24
Variações dessas argumentações surgem esporadicamente na Tribuna até que, em 29
de dezembro aparece pela primeira vez, salvo melhor juízo, uma matéria na qual um assunto
bem mais local e específico de Brasília é abordado. Como pudemos ver, toda a cobertura da
construção de Brasília até então havia sido centrada no Rio, tanto do ponto de vista da
atividade jornalística em si quanto da construção dos argumentos que embasavam as inúmeras
críticas à construção da nova capital. Mas o Rio sai do centro da reportagem no artigo
“Especulações imobiliárias encareceram Brasília”. Saem de cena também os udenistas, para
dar lugar a uma crítica que vem de um técnico. Outra inovação, ainda pouco utilizada na
imprensa de então, é o recurso da “chamada de capa”. Na primeira página, há somente o lide
da matéria, em 117 palavras, fechado por um “Leia na pág. 2”.
No interior, críticas do general Djalma Polli Coelho (1892-1954), ex-presidente da
Comissão de Estudos para a Localização da Nova Capital e já falecido àquela época, ao
“rush” imobiliário observado no Planalto Central devido à construção de Brasília. As críticas
estavam contidas em um antigo relatório resgatado pela Tribuna, e cuja data de elaboração
não é citada pela matéria.
24 Governo que constrói Brasília não pode vetar o reajustamento dos inativos da Previdência Social. Tribuna da
Imprensa, Rio de Janeiro, 9 jul. 1958, p. 3.
“Afirma o general Polli Coelho que, antes da construção de Brasília, era preciso organizar o Distrito Federal. Depois disso é que se poderia pensar na construção da nova Capital. ‘Qualquer pressa – frisa êsse militar – como a que seria incitar logo de construir uma grande cidade, para servir de nova Capital, sómente poderia conduzir a maus resultados. Sómente os aventureiros, que estarão com as suas vistas voltadas para os lucros, poderão cogitar de começar pela construção da grande capital. A mudança da capital não deve dar oportunidade a negócios que venham a enriquecer aventureiros.’” 25
A edição de 29 de dezembro foi
prolífica em matérias contrárias à construção de
Brasília. Além da reportagem sobre a
especulação imobiliária, foi publicado um
artigo do próprio dono do jornal, Carlos
Lacerda, já citado no prólogo deste artigo. Em
“Otimismo: o nosso e o da Camorra”, reaparece
a representação de que se trata de uma tolice a
construção da nova capital. Neste editorial de
Lacerda, um dos mais duros dirigidos ao
governo JK, a decisão de se transferir a capital é
qualificada como “a loucura de Brasília”26 -
daqui tiramos o título deste artigo. Outra
representação bastante evidente, e mais uma
vez repetida, é a do desperdício dos gastos
públicos. Lacerda, fiel à ideologia udenista, acrescenta, contudo, uma nova nuance a essa
representação, ao criticar a escolha do governo pela realização de investimentos com verbas
públicas, em detrimento da livre iniciativa e do estímulo aos investimentos privados:
1959
25 Especulações imobiliárias encareceram Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29 dez. 1958, p. 2. 26 Pouco mais de um ano antes, em 3 de setembro de 1957, o jornal Luta Democrática publicou artigo cujo título
era exatamente “A loucura de Brasília”.
No início do ano, algo raro aparentementeacontece: pela primeira vez, a Tribuna da
Imprensa abre espaço para a opinião de um “governista” sobre Brasília. Trata-se de uma
pequena nota, de apenas 284 palavras, publicada na página 3 do jornal, com o título “Diretor
da NOVACAP diz que Brasília é obra do povo”. A matéria reproduz um pequeno trecho de
entrevista realizada com Íris Meinberg (1908-1973) que, apesar de compor o governo JK, era
filiado à UDN de Carlos Lacerda.
Exatamente devido a essa aparente idiossincrasia se faz necessária uma pequena
contextualização para entender melhor o que significa essa nota. Meinberg iniciou sua
carreira política no Partido Social Democrático (PSD) de JK, em 1945. Em 1950, contudo,
aceitou convite para se filiar à UDN, e foi eleito deputado federal por São Paulo pela legenda.
Foi reeleito para a legislatura de 1955 –1958, mas renunciou em 1956 para assumir o cargo de
diretor da NOVACAP.
Meinberg foi alçado a esse cargo por uma imposição legal, e não por uma escolha de
JK – por isso o “governista” entre aspas. O § 6o do art. 12 da Lei nº 2.874, de 19 de setembro
de 1956, impunha que um terço dos membros do conselho de administração, da diretoria e do
conselho fiscal da NOVACAP fossem escolhidos em lista tríplice de nomes indicados pela
diretoria nacional do maior partido político que integrasse a corrente da oposição no
Congresso Nacional – no caso, a UDN. Essa regra não fazia, obviamente, parte da redação do
projeto de lei do Executivo27 que deu origem à Lei nº 2.874/56. Foi negociada por JK com a
UDN – e principalmente com o deputado Emival Caiado (1918-2004), eleito por Goiás
(COUTO, 2006, p. 72) – para viabilizar um acordo político que levasse à aprovação do
projeto.
Para ocupar a vaga da oposição na diretoria da NOVACAP, a UDN indicou três
nomes: Café Filho (1899-1970), Jales Machado e Íris Meinberg. Café Filho havia sido um dos
próceres do movimento que visava impedir a posse de JK. Jales Machado era ferrenho
opositor do pessedista José Ludovico (1906-1989), então governador de Goiás, que vetou seu
nome. Restou então Íris Meinberg, um ex-pessedista que, por haver sido eleito por Goiás,
27 PL nº 1.234, de 1956.
estava mais propenso a ver com bons olhos a transferência da nova capital para uma área do
seu estado (OLIVEIRA, S/D).
Portanto o que para um leitor comum era uma entrevista com um governista ou, na
melhor das hipóteses, de um udenista convidado a fazer parte do governo, na verdade era um
espaço aberto a um udenista que, por força da lei, dirigia uma empresa vital na construção da
nova capital. Mas com um quê de maldade a ridicularizar as opiniões de Meinberg. Apesar do
texto da matéria ser bastante objetivo, limitando-se a reproduzir as falas do diretor da
NOVACAP, o subtítulo da matéria – uma frase fora do contexto – soa um tanto ridículo:
“Diretor da NOVACAP diz que Brasília é obra do povo. O Sr. Íris Meinberg afirmou que a
nova capital já está exportando tomates”28. Acrescente-se que, na época, “tomates” era uma
expressão muito comum para se referenciar, em termos chulos, a “testículos”.
A ala mais antimudancista da UDN, e principalmente Carlos Lacerda, considerava
Meinberg um traidor por ter aceitado o cargo na direção da Novacap. A Tribuna da Imprensa
fez uma campanha intensa exigindo que Meinberg se demitisse do cargo, o que terminou
ocorrendo em novembro de 59, apenas alguns meses antes da inauguração de Brasília. Na
despedida de Meinberg, foi entregue a ele um cartão que, de certa forma, conta um pouco da
história dessa pressão exercida por Lacerda:
“Dr. Íris Meinberg
A maledicência de alguns jamais apagará do pensamento dos funcionários da NOVACAP seu passado de tradições gloriosas e sua colaboração imprescindível na obra gigantesca do século - Brasília”29
Na edição de nove de janeiro, uma notinha bastante jocosa na coluna “Vozes da
Cidade” traz novamente a representação do esvaziamento e abandono do Rio de Janeiro, com
a transferência de recursos da cidade para Brasília. Na coluna, José do Rio reproduz um chiste
que se contava nas ruas do Rio de Janeiro na época: “Um funcionário “barnabé” explicando a
seu filho a ausência do Papai Noel: “Meu filho, Juscelino transferiu o homem para Brasília...”
28 Diretor da NOVACAP diz que Brasília é obra do povo. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 7 jan. 1959, p. 3. 29 Trecho extraído de "Um Moisés brasileiro", de Clotilde de Mello Meinberg, edição particular.
1960
A Tribuna inicia 1960 repetindo a
representação de que a escassez de recursos não
pode ser usada como desculpa para as decisões
governamentais, frente à “gastança” que está
sendo promovida com a construção de Brasília.
Em 23 de janeiro, uma matéria de capa retoma o
argumento utilizado em artigo de 9 de julho de
1958 (“Governo que constrói Brasília não pode
vetar reajustamento dos inativos da Previdência
Social”). Mas se em 1958 o público-alvo eram os
aposentados e pensionistas, agora a matéria é
destinada aos servidores públicos federais.
Meses antes da publicação da matéria, o
governo havia negado um novo plano de
classificação do funcionalismo – o equivalente
hoje a um novo plano de carreira - que redundaria em reajuste nos salários dos funcionários
públicos. Em 23 de janeiro, citando fonte do palácio do Catete, a Tribuna da Imprensa
informa que Cr$ 10 bilhões vão ser gastos na mudança para Brasília, com a transferência dos
deputados, de centenas de funcionários e de mobiliários e equipamentos. Daí conclui logo no
título: “Brasília: dinheiro da Classificação do Funcionalismo pagará mudança”.
Na capa da edição de 22 de fevereiro, uma pequena matéria anuncia: “Novacap: UDN
articula uma lista insuspeita”. Com a saída de Íris Meinberg do cargo de diretor financeiro da
Novacap, a UDN deveria elaborar uma nova lista tríplice, a ser remetida ao presidente da
República, como estabelecia a legislação. Um dos nomes seria escolhido para ser um dos
diretores da empresa. Apesar do sucesso em seu intento de forçar o pedido de exoneração de
Meinberg, recorrendo a acusações de nepotismo e corrupção (STORY, 2006, p. 131), Carlos
Lacerda deixava claro, por meio da Tribuna, o seu descontentamento com o udenista de Goiás
e com o grupo de “colaboracionistas” (udenistas favoráveis à transferência da capital):
“A iniciativa foi tomada depois que os udenistas notaram que diversas listas estavam sendo preparadas pelos deputados contrários às irregularidades, enquanto os “colaboracionistas” entrosavam-se para a indicação de elementos de sua confiança. Essa desagregação de fôrças poderia significar a derrota da maioria do partido, dado aos cuidados a que se entregam estes últimos.’” 30
Na edição do dia seguinte, surge uma representação até hoje presente, e que a
historiografia costuma apontar como um fator decisivo na decisão de JK pela construção de
Brasília: a instalação da capital na “periferia sertaneja” era uma estratégia para afastar o
governo do conturbado ambiente político do Rio de Janeiro e, assim, silenciar a oposição. De
fato, ainda hoje o suposto isolamento da classe política em Brasília é apontado como um fator
de estímulo a uma pretensa apatia política dos brasileiros. A matéria repercute declarações do
senador Mem de Sá (1905-1989) sobre o tema:
“Com a mudança do Congresso para Brasília a 21 de abril, a Oposição cava o túmulo e à beira dêle se suicida para ser enterrada sem dar muito trabalho (...) Salientou que, no corrente ano, dificilmente o Congresso funcionará, pois a grande esmagadora maioria dos parlamentares, mantendo suas residências no Rio, estarão mais aqui que em Brasília, onde a falta de “quorum” impedirá a votação das leis (...) Até que Brasília se torne suportável, creio que irá propiciar, entre funcionários e parlamentares, a formação de quadros invencíveis para os campeonatos mundiais de bridge, biriba, buraco e outros desportos carteados (...) é ato de alucinação, impôsto pelo arbítrio de uma maioria parlamentar que reflete interesses momentâneos e visa satisfazer a vontade e o capricho do grande senhor da República’” 31
Na edição do dia seguinte, outra reportagem parece complementar a matéria sobre as
declarações de Mem de Sá. A Tribuna alardeia que, além de “inútil”, o Congresso em Brasília
será caríssimo, muito mais caro do que no Rio de Janeiro. Dessa vez os ataques partem de um
deputado do próprio partido do presidente, Nestor Jost (1917 - ): “O país gastará mais de Cr$
80 milhões por ano com as despesas do funcionalismo da Câmara dos Deputados se for
30 Novacap: UDN articula uma lista insuspeita. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 22 fev. 1960, p. 1. 31 Congresso lá em Brasília será túmulo da Oposição. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 fev. 1960, p. 3.
aprovada a proposição da Comissão de Finanças reestruturando sem nenhum critério de
equidade os vencimentos dos servidores” 32 diz a matéria, intitulada “Câmara em Brasília
custará mais 80 milhões por ano”. Interessante notar como título e matéria dizem coisas
distintas: enquanto o título nos faz crer que a Câmara será mais cara por funcionar em
Brasília, o texto mostra que na verdade o eventual reajuste nos salários dos servidores será o
verdadeiro responsável pelo aumento de gastos.
Na mesma página, uma pequena nota informava que a UDN havia adiado a escolha da
lista tríplice de nomes a serem indicados como representante da oposição no Conselho Diretor
da Novacap. O adiamento era fruto do intenso conflito entre “colaboracionistas” e
“verdadeiros oposicionistas”, noticiado em 22 de fevereiro no artigo “Novacap: UDN articula
uma lista insuspeita”. O confronto terminou em vitória dos “colaboracionistas”, o que
motivou a publicação de um artigo inflamado e repleto de ironia na edição de 9 de março:
“Como estava previsto, a UDN exibiu ontem com todo o elenco no palco, o espetáculo de sua desagregação como verdadeiro partido oposicionista. Foi um espetáculo de gala, no qual as exceções, numerosas e honrosas, não puderam turbar (...) a UDN passou algumas horas votando, contando votos e cabalando votos para os oposicionistas que vão compor (com esta ou aquela intenção, êste ou aquêle pretexto, esta ou aquela desculpa, não importa) a quadrilha da NOVACAP. As resistências de alguns, repetimos, não conseguiram ofuscar o brilho do espetáculo, nem o conseguiu, muito menos, a tentativa de apresentar nomes marcados por uma atuação de luta pela decência e contra o roubo, nomes que se sabia intransigentes, incapazes de continuar a tradição do sr. Íris Meinberg. (...) e assim terminou o espetáculo. Ou melhor o primeiro ato, pois só um nome para a lista tríplice foi indicado. Os candidatos são muitos, os votados outros tantos, muito grande é o desejo de servir ao povo, fazendo o sacrifício de ajudar os srs. Kubitschek e Israel Pinheiro na NOVACAP. E não foi fácil obter, para três, a maioria absoluta indispensável para concorrer à nomeação presidencial. A disputa continuará e, se alguém pensa que não vale a pena, consulte o sr. Íris Meinberg’” 33
No mesmo dia 9 de março, Brasília volta a ser apresentada como “castigo do Rio” na
matéria “Petebista diz que Rio é a maior vítima de JK”. Na reportagem, é destacada entrevista
dada pelo deputado Elói Dutra (1916-1990), na qual ele afirma que o Distrito Federal é uma
das maiores vítimas do governo de Juscelino. Na conclusão da matéria, Dutra, que havia
32 Câmara em Brasília custará mais 80 milhões por ano. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 24 fev. 1960, p. 3. 33 Oposição e NOVACAP. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 mar. 1960, p. 4.
visitado as obras do palácio do Congresso Nacional em Brasília, dá a sua impressão sobre a
nova sede do Legislativo: “O plenário (...) é fundo, escuro, sem ventilação suficiente e em
condições de confinamento tal que não permitem as necessárias condições para que deputados
e senadores trabalhem eficientemente” 34.
A mesma linha segue a matéria “Brasília vai ser capital, mas bom mesmo é o Rio”,
publicada na edição de 14 de março. O artigo, assinado por José Álvaro e sob a retranca “Giro
em sociedade”, ressalta a “falta de classe” da cidade que, daí pouco mais de um mês, abrigaria
a capital federal. “Nem vaidade, nem cultura, em Brasília não há cabeleireiro nem livraria”,
destaca Álvaro, que arremata: “Mesmo quando estiver, em futuro não muito próximo,
funcionando realmente como cidade, Brasília é certinha demais. Tôdo mundo metido em
prédio igual, em lugares previamente designados (...) A esta altura ninguém mais duvida de
que Brasília vai ser mesmo a capital do Brasil. Que seja, mas daqui não saio, que bom
mesmo, é o Rio” 35.
Porém o que realmente chama a atenção em Brasília, não só da Tribuna (mas
principalmente da Tribuna), como de muitos jornais cariocas, é a falta de infra-estrutura para
abrigar o aparato estatal após a transferência da capital. Em 9 de fevereiro, por exemplo, a
Tribuna da Imprensa informa: “Parlamentares vão viver no meio da poeira”. Mais uma vez, a
fonte é o senador Mem de Sá, a quem se atribui a seguinte declaração: ”Os deputados,
senadores e juizes vão viver em meio de obras, de andaimes, aterros, valas, lama ou nuvens
de pó vermelho, com a precariedade de tudo que é improvisado e feito a machado. Sem
assistência médica, dentária e sem o mínimo de confôrto a que a civilização os acostumou” 36.
34 Petebista diz que Rio é a maior vítima de JK. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 mar. 1960, p. 3. 35 Brasília vai ser capital, mas bom mesmo é o Rio. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 14 mar. 1960, p. 7. 36 Parlamentares vão viver no meio da poeira. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 fev. 1960, p. 3.
Essa representação de Brasília como um lugar
agreste, incivilizado e carente das mais básicas
condições de moradia são dominantes em dezenas de
artigos publicados pela Tribuna da Imprensa ao longo
do ano de 1960, principalmente antes da inauguração
da cidade. Brasília é apresentada como um lugar no
qual índios invadem estradas37, situado em uma zona
árida e estéril38, habitado por cobras39 e onde se pode
levar uma flechada a qualquer momento40.
ABRAMO, Hilde Weber. Recepção em Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 24 fev. 1960, p. 4.
Também chama a atenção da Tribuna o quanto a cidade está incompleta, com algumas
de suas obras fundamentais ainda em andamento. Em fevereiro de 60, dois repórteres do
jornal, Jayme Negreiros e Antônio Andrade, se instalam em Brasília e, a partir do dia 17,
começam a publicar uma série de reportagens, como enviados especiais, sob a retranca
“Brasília às vésperas da mudança”.
A primeira reportagem estampa a capa do jornal, com uma grande foto que ocupa a
parte superior da página, acima do título do jornal, com os dizeres “Brasília às vésperas da
mudança: andaimes, poeira e muito mato”. A legenda explica o andamento das obras
retratadas: “No primeiro plano, está a Avenida das Nações, em Brasília: apenas uma estrada
coberta de cascalho e betume. Ao longe, à direita a silhueta do palácio (inacabado) do
Congresso Nacional. Ao centro e à esquerda, também ao longe, cinco silhuetas menores: são
edifícios, também inacabados, de ministérios. Isto é Brasília a pouco mais de dois meses da
37 SPI adverte Exército: índios invadem estrada para Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 25 jan. 1960,
p. 1. 38 Geógrafo vê Brasília: “Zona árida e estéril”. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 15 fev. 1960, p. 7. 39 Cobras de Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 19 fev. 1960, p. 3. 40 Índios de Brasília já expulsaram um. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 16 mar. 1960, p. 5.
mudança”. Logo abaixo da foto, uma pequena coluna vaticina: “Impossível viver em
Brasília”:
“A 64 dias da mudança da capital, estão completamente prontos em Brasília apenas o Palácio da Alvorada, para o sr. Juscelino Kubitschek, e o Palace Hotel, para os privilegiados que possam pagar Cr$ 1 mil pela diária, sem refeições. Os edifícios do Congresso e da Administração não estão prontos e parece impossível concluí-los a tempo. E, o que é igualmente grave: os 15 mil funcionários, cuja transferência está prevista para a primeira etapa, não terão onde morar decentemente, nem onde se abastecer, nem onde nem como atender às necessidades essenciais, suas e de suas famílias, desde a necessidade de alimentar-se à de locomover-se nas enormes distâncias desertas da cidade em construção. Esse é o tema da primeira reportagem da série que os nossos repórteres Jayme Negreiros e Antônio Andrade escreveram, depois de uma visita de oito dias a Brasília, e que começamos a publicar hoje, na página 3.” 41
A série de reportagens era inédita: em toda a cobertura sobre a construção de Brasília
pela imprensa carioca, poucas foram as matérias feitas a partir da observação de repórteres
que efetivamente estiveram na cidade. A abordagem era, quase que invariavelmente, realizada
a partir do Rio de Janeiro, refletindo muito mais a impressão que se tinha de lá sobre o que
estava acontecendo em Brasília do que a realidade de fato. As matérias de Jayme Negreiros e
Antônio Andrade são as primeiras a analisar detalhadamente a situação da cidade que seria,
em poucos dias, a capital do Brasil. E o que a dupla de repórteres encontra é um cenário ainda
mais precário do que se imaginava no Rio – o que eles vêem, e de fato era uma realidade
inegável, é uma Brasília que não tinha, e continuaria a não ter até pelo menos meados dos
anos 60, condições para ser a sede do governo federal.
As matérias da série enfatizam duas representações primordiais: a do quanto Brasília
era agreste, poeirenta e incivilizada; e a de como a nova capital era uma cidade em
construção, com diversas obras ainda longe de serem finalizadas. A matéria que inaugura a
série, por exemplo, utiliza ambas as representações. Uma grande foto, no topo da página e
com o chapéu “dentro do mato”, tem como legenda: “Dentro do mato – que nem jipe
atravessa – fica o palácio do Congresso. Assim é na cidade que será capital do país a 21 de
abril”. A foto ilustra a matéria “Brasília: prontos só o hotel de luxo e um palácio para
41 Impossível viver em Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 17 fev. 1960, p. 1.
Kubitschek sonhar”. No texto, Negreiros e Andrade afirmam que os serviços públicos e
instituições democráticas ainda não têm condições para funcionar. Alguns prédios, como os
dos ministérios, Congresso e os prédios residenciais dos Institutos de Previdência, antes
mesmo de terminados, estariam cobertos de lama e poeira, com paredes rachadas porque o
material seria inferior.
“O exterior do Congresso, como em todos os trechos de Brasília, é só barro, valas com pôças d´água, lama e poeira, já que a urbanização ainda não começou. Também o palácio Federal dos Despachos (...), o Supremo Tribunal Federal (...) e os onze Ministérios (...) não estão terminados (...) não há lavanderia, tinturaria, barbearia, armazém ou mercadinhos. As distâncias entre blocos residenciais são de quilômetros e o único transporte são os escassos e superlotados ônibus (...) Um detalhe não falta em Brasília: propaganda do sr. Juscelino Kubitschek, com seu retrato pendurado em bares, restaurantes, lojas comerciais e até mesmo a legenda “JK 1965” fixada num grande letreiro luminoso na fachada de um órgão oficial – o edifício do Ministério da Fazenda ” 42
A primeira reportagem da série “Brasília às vésperas da mudança” gerou grande
frisson, o que certamente motivou a Tribuna da Imprensa a dar ainda mais destaque ao tema.
O número de correspondências e telefonemas de leitores foi tão grande que motivou a
publicação, na capa da edição de 18 de fevereiro, de uma coluna tratando da repercussão das
matérias sobre Brasília publicadas no dia anterior. Muitos leitores estavam indignados com o
que chamavam de manipulação dos fatos e com uma alegada cobertura tendenciosa da
Tribuna sobre a nova capital:
“Êste seu amigo quase não fez outra coisa, da tarde de ontem à manhã de hoje, senão atender telefonemas sobre a primeira reportagem da série que nossos enviados especiais realizaram em Brasília, do dia 9 ao dia 14 do mês corrente. Jayme Negreiros e Antônio Andrade apenas começaram a contar o que é a cidade faraônica do sr. Kubitschek, a dois meses da mudança. E os protestos são muitos, pelo nosso telefone. Uns dizem que a foto publicada em nossa primeira página de ontem é “do arquivo”, “está superada”, é “uma montagem desonesta”. Outros dizem que a foto foi feita “do Rio, com teleobjetiva”. E os protestantes são unânimes em alegar que apresentamos “a cozinha de Brasília”, que a mostramos “pelos fundos” (...) Veja você os argumentos dos protestantes: são todos argumentos de desespero (...) na inconseqüência do seu mudancismo ingênuo ou “vivo” demais, sob o impacto da
42 Brasília: prontos só o hotel de luxo e um palácio para Kubitschek sonhar. Tribuna da Imprensa, Rio de
Janeiro, 17 fev. 1960, p. 3.
realidade de Brasília, apreendida pela máquina fotográfica do repórter em tôda a sua nudez” 43
Como imagens valem por mil palavras,
gozam de uma maior aura de isenção do que o
texto escrito e foram os grandes causadores da
polêmica da matéria, a Tribuna tratou de utilizá-
las com ainda mais destaque na série “Brasília às
vésperas da mudança” – sempre retratando obras
inacabadas e o lado “selvagem” da cidade. Em
18 de fevereiro, o prédio do Banco do Brasil. No
dia 19, as cobras de Brasília. Na edição dos dias
20 e 21, os conjuntos residenciais do IAPM, os
ministérios e a orla do Lago Paranoá. No dia 22,
o “mercado” – assim mesmo, entre aspas, com
uma foto que retrata não um mercado, mas uma
suja e desorganizada feira livre. E assim seguem
fotos de favelas, da Catedral, de diversos prédios
residenciais e até de um operário supostamente flechado por um índio.
A série é publicada em 9 matérias, e termina na última edição de fevereiro de 60. Ao
fim, o leitor que havia lido todas as matérias sabia que as donas de casa precisariam andar
quilômetros a pé para fazer compras, que não haveria luz, água encanada e esgoto na data da
inauguração, que o preço do açúcar seria astronômico, que as ligações telefônicas e de rádio
não funcionavam, que a nova capital já tinha 6 mil barracos e 32 mil flagelados, que os
diários oficiais não seriam impressos, que parasitas ameaçavam o povo, que não havia
hospitais...
43 Prezado leitor. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 18 fev. 1960, p. 1.
Mas chega 20 de abril, e estamos a apenas algumas horas da inauguração. O “Brasília
às vésperas da mudança” se torna o “Horas antes da mudança”. E a Tribuna da Imprensa
anuncia: Brasília ainda é poeira.
“Apesar de uma laranjada estar custando Cr$ 80 e um ovo Cr$ 30, da poeira vermelha, que penetra nas roupas, no corpo e na alma da gente, da confusão por falta de acomodações para funcionários, parlamentares e turistas convidados, da ausência de qualquer obra terminada, da falta de luz e de condução, do surto de disenteria e intoxicação provocada pelo excesso de cloro na água, o sr. Osvaldo Penido, presidente da Comissão de Transferência da Capital, afirma que Brasília está preparada para a inauguração.” 44
No dia 22 de abril, são publicadas as primeiras notícias sobre a inauguração de
Brasília. Como era de se esperar, a poeira é a protagonista, segundo a Tribuna. Uma grande
foto ocupa a capa do jornal. Um parlamentar aparece em primeiro plano, e outros dois ao
fundo. Nenhum identificado, e todos vestidos em traje de gala. Ao fundo, apenas um
pedacinho do prédio do Congresso Nacional, engolido por uma imensidão que, mesmo em
uma foto preto-e-branco, sabe-se vermelha. E para que não reste dúvida, a legenda explica,
em caixa alta e negrito: “CASACAS NO BARRO”. Assim termina a cobertura da Tribuna da
Imprensa da mudança da capital. Antimudancistas no litoral, e derrotados. Mudancistas com
os pés no barro, mas vitoriosos. Chegava ao fim um capítulo fundamental da história
brasileira do século XX, e da história da imprensa brasileira de todos os séculos.
Conclusão
A Tribuna da Imprensa foi um dos grandes revolucionários da mída brasileira, e
contribuiu fortemente para a modernização do jornalismo na prolífica década de 50
(LATTMAN-WELTMAN, 1996; BARBOSA, 2007; RIBEIRO, 2007). No lugar do
jornalismo literário até então vigente, fortemente marcado pela opinião em detrimento do fato
e por um intenso proselitismo político, surgia a reportagem, dotada de uma pretensa aura de
isenção diante da realidade. O jornalista não era mais um observador distante, a quem cabia
44 Horas antes da mudança, Brasília ainda é poeira. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 20 abr. 1960, p. 2.
analisar ideológica e politicamente uma situação e sobre ela emitir seu parecer, e sim uma
“testemunha ocular da história”, como muito bem resume o bordão de Heron Domingues no
Repórter Esso.
Na cobertura da Tribuna sobre a transferência da capital do Rio de Janeiro para
Brasília, pudemos observar nitidamente o surgimento desse novo jornalismo no Brasil. Há
uma delimitação muito bem estabelecida entre o que é “reportagem” e o que é “opinião” –
não apenas do ponto de vista de estruturação do texto, mas também graficamente, com as
matérias de opinião ocupando um lugar específico e devidamente identificado no jornal.
Porém o que, em uma análise mais superficial, poderia parecer uma guinada rumo a uma
crescente isenção, com o jornalista se preocupando mais com fatos que com opiniões, não
resiste a um olhar político mais aguçado, com as ferramentas que o conceito de Cenários de
Representação da Política (CR-P) nos oferece.
A frágil aparência de isenção dada pelo uso de modernas técnicas de reportagem na
cobertura da construção de Brasília – principalmente nos anos 60, com a série “Brasília às
vésperas da mudança” – rui quando analisamos os cenários de representação que vão sendo
construídos ao longo do tempo. A opinião da Tribuna sobre Brasília fica muito bem
explicitada – “faraônica”, “cara”, “fruto da inconsequência e da loucura de JK”, “corrupta”,
“de mau gosto”, “agreste”, “selvagem”, “barrenta”, “longe de estar concluída”.
Fica evidente que o papel constituidor de realidades da Tribuna é bastante exercitado.
E é justamente o que devíamos esperar. O que chamamos de “opinião da Tribuna” é, em
grande parte, a “opinião do dono da Tribuna, Carlos Lacerda”. E na cobertura da construção
de Brasília nos anos de 1956 a 1960, pudemos constatar, com base no material analisado, que
o antimudancismo da Tribuna da Imprensa foi, muito além de um simples movimento
político contrário à mudança da capital, uma bandeira de oposição a JK, habilmente utilizada
por Carlos Lacerda na tentativa de desestabilizar o governo.
Não que o antimudancismo fosse exclusivamente uma bandeira “politiqueira”. A
Tribuna da Imprensa, assim como toda a imprensa carioca, tinha motivos comerciais,
econômicos, políticos e mesmo ideológicos suficientes para se opor fortemente à
transferência da capital do Rio para Brasília. Mas o que vimos nas matérias analisadas foi
uma deliberada estratégia de utilização do antimudancismo como um forte mote político de
oposição a Juscelino, e como uma estratégia para dar suporte a um claríssimo objetivo de
Lacerda: se eleger governador da Guanabara. O antimudancismo era, ao mesmo tempo, uma
forma de marcar oposição a JK e de se identificar com o eleitorado do Rio de Janeiro,
também, em grande parte, antimudancista. E assim, de forma estratégica e deliberada, a
Tribuna da Imprensa constituiu um CR-P altamente contrário à construção de uma nova
capital, e não mediu esforços para se opor à “loucura de Brasília”.
Bibliografia
(Livros, teses, dissertações e artigos)
ABREU, Alzira Alves de (org.). A Imprensa em Transição: o jornalismo brasileiro nos
anos 50. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
BACIU, Stefan. Lavradio, 98. Histórias de um jornal de oposição: a Tribuna da Imprensa
ao tempo de Carlos Lacerda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil – 1900-2000. Rio de Janeiro:
Mauad X, 2007.
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. O governo Kubistschek: desenvolvimento
econômico e estabilidade política 1956-1961. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
BEÚ, Edson. Expresso Brasília: a história contada pelos candangos. Brasília: LGE, 2006.
BRASIL. Presidência/ Serviço de Documentação. Coleção Brasília. Rio de Janeiro, 1960.
CASTRO, Mário. A Realidade Pioneira. Brasília: Thesaurus, 1986.
COUTO, Ronaldo Costa. Brasília Kubitschek de Oliveira. Rio de Janeiro: Record, 2006.
CPDOC, O Governo JK (bibliografia). Rio de Janeiro: FGV, 1992.
GOMES, Ana Lúcia de Abreu. Brasília: de espaço a lugar, de sertão a capital (1956 –
1960). 2008 351 f. Tese (Doutorado) - Departamento de História, Universidade de Brasília,
Brasília.
HOLSTON, James. A Cidade Modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia. São
Paulo: Companhia das Letras, 1993.
JACINTO, Andréa Borghi Moreira. Margens Escritas: versões da capital antes de Brasília.
Trabalho apresentado na 25ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia, Goiânia,
11 a 14 de junho de 2006, GT 50 – Sertão: sentidos e re-sentidos.
JAMES, Preston E.; FAISSOL, Speridião. The Problem of Brazil´s Capital City.
Geographical Review, vol. 46, No. 3, Jul. 1956, p. 301-317
JOFFILY, Geraldo Irinêo. Brasília (cibernética ou faraônica). Brasília, 1968 (manuscritos
originais do autor).
_____________________. Brasília e sua ideologia. Brasília: Thesaurus, 1977.
LACERDA, Carlos. A missão da imprensa. São Paulo: EDUSP, 1990.
LAFER, Celso. JK e o programa de metas, 1956-1961 : processo de planejamento e
sistema político no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
LATTMAN-WELTMAN, Fernando. Imprensa carioca nos anos 50: os “anos dourados”.
IN: ABREU, Alzira Alves de; LATTMAN-WELTMAN, Fernando; FERREIRA, Marieta de
Moraes; RAMOS, Plinío de Abreu (org.). A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro
nos anos 50. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2003. Cap. 4, p. 157-187.
LIMA, Venício A. de. Mídia: Teoria e Política. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2001.
LOPES, Luís Carlos. Brasília, o enigma da esfinge: a construção e os bastidores do poder.
Porto Alegre/São Leopoldo: Editora da Universidade/Editora Unisinos, 1996.
MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
NIEMEYER, Oscar. Minha Experiência em Brasília. Rio de Janeiro: Editorial Vitória,
1961.
OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Por que construí Brasília. Rio de Janeiro: Edições
Bloch, s/d.
_____________________________ . Meu Caminho para Brasília. Rio de Janeiro: Bloch
Editores, 1974, 3 volumes.
OLIVEIRA, Márcio de. Brasília: o mito na trajetória da nação. Brasília: Paralelo 15, 2005.
PORTO, Sérgio Dayrell (org.). O jornal: da forma ao sentido. Brasília: Ed. UnB, 2002.
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Imprensa e História no Rio de Janeiro dos anos 1950. Rio
de Janeiro: E-papers, 2007.
RODRIGUES, Georgete Medleg. Ideologia, propaganda e imaginário na construção de
Brasília. 1997. 250 f. Dissertação (Mestrado) - Departamento de História, Universidade de
Brasília, Brasília.
SANTOS, Michelle dos. A Construção de Brasília nas tramas de imagens e memórias
pela imprensa escrita (1956-1960). 2008. 260 f. Dissertação (Mestrado) -Departamento de
História, Universidade de Brasília, Brasília.
SILVA, Ernesto. História de Brasília : um sonho, uma esperança, uma realidade. Brasília:
Câmara de Dirigentes Lojistas, 1997.
SILVA, Luiz Sérgio Duarte da. A Construção de Brasília. Modernidade e Periferia.
Goiânia: Ed. da UFG, 1997.
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo (1930-1964). São Paulo: Paz e Terra,
1985
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999
STORY, Emily Fey. Constructing Development : Brasília and the making of modern
Brazil. 2008. 168 f. Tese (Doutorado) - Faculty of the Graduate School of Vanderbilt
University, Nashville.
TEIXEIRA, Hermes Aquino. Brasília: o outro lado da utopia. 2008. 212 f. Dissertação
(Mestrado) - Departamento de História, Universidade de Brasília, Brasília.
(Matérias de jornais)
1956
TÔRRES, João Camillo de Oliveira.Sôbre a mudança da capital. Tribuna da Imprensa, Rio de
Janeiro, 1º. nov. 1956, p. 4
Coisas estranhas acontecem com o dinheiro de Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro,
29 e 30 dez. 1956, p. 1.
Mudança para Brasília – a mentira carioca de 1956. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29
e 30 dez. 1956, p. 4.
1957
A loucura de Brasília. Luta Democrática, Rio de Janeiro, 3 set. 1957.
Ainda está por nascer quem nos faça calar. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 20 set. 1957,
p. 2.
A capital se muda em abril de 60. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26 set. 1957, p. 3.
Vozes da Cidade. Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro, 18 dez. 1957, p. 2.
1958
Brasília financia publicidade oficial. Fala à Tribuna o senador Alencastro Guimarães. Tribuna
da Imprensa, Rio de Janeiro, 30 abr. 1958, p. 3.
Desvio de verba para Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 30 abr. 1958, p. 3.
Inaugurado em Brasília o palácio de Kubitschek. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 1º jul.
1958, p. 3.
Governo que constrói Brasília não pode vetar o reajustamento dos inativos da Previdência
Social. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 jul. 1958, p. 3.
Brasília – carta do leitor Justus Rodrigues. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 jul. 1958,
p. 4.
FILHO, João Duarte. NOVACAP Particular. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 24 nov.
1958, p. 3
Especulações imobiliárias encareceram Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29 dez.
1958, p. 1.
Especulações imobiliárias encareceram Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 29 dez.
1958, p. 2.
LACERDA, Carlos. Otimismo: o Nosso e o da Camorra. Tribuna da Imprensa, Rio de
Janeiro, 29 dez. 1958, p. 4 (grifos nossos)
1959
Diretor da NOVACAP diz que Brasília é obra do povo. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro,
7 jan. 1959, p. 3.
Vozes da Cidade. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 jan. 1959, p. 2.
1960
Brasília: dinheiro da Classificação do funcionalismo pagará mudança. Tribuna da Imprensa,
Rio de Janeiro, 23 jan. 1960, p. 1.
Advogados: justiça em Brasília será injusta. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 jan.
1960, p. 2.
Brasília: sol deixa Lôbo suado. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 jan. 1960, p. 2.
SPI adverte Exército: índios invadem estrada para Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de
Janeiro, 25 jan. 1960, p. 1.
Rio vai ter maiores delegacias do mundo. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 25 jan. 1960,
p. 2.
Parlamentares vão viver no meio da poeira: Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9
fev. 1960, p. 3.
Geógrafo vê Brasília: “Zona árida e estéril”. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 15 fev.
1960, p. 7.
Impossível viver em Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 17 fev. 1960, p. 1.
Brasília: prontos só o hotel de luxo e um palácio para Kubitschek sonhar. Tribuna da
Imprensa, Rio de Janeiro, 17 fev. 1960, p. 3.
Deputado do PSD critica Brasília: mudança é bacanal. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro,
17 fev. 1960, p. 3.
Prezado leitor. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 18 fev. 1960, p. 1.
Brasília às vésperas da mudança (II). Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 18 fev. 1960, p. 1.
Vozes da Cidade. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 18 fev. 1960, p. 2.
Câmara advertida: Brasília é apenas esboço de cidade. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro,
19 fev. 1960, p. 3.
Financiamento para jornais em Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 19 fev. 1960,
p. 3.
Cobras de Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 19 fev. 1960, p. 3.
Brasília às vésperas da mudança (III) – Donas-de-casa farão quilômetros a pé para comprar
(quando houver mercado). Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 19 fev. 1960, p. 3.
Isto “é” o conjunto IAPM em Brasília, às vésperas da mudança / Ministérios às vésperas da
mudança. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 20 e 21 fev. 1960, p. 1.
Brasília às vésperas da mudança (IV) – Na hora da mudança, não haverá luz suficiente nem
rede de esgôtos nem abastecimento de água. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 20 e 21
fev. 1960, p. 3.
Mercado de Brasília às vésperas da mudança. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 22 fev.
1960, p. 1.
Novacap: UDN articula uma lista insuspeita. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 22 fev.
1960, p. 1.
Novacap entrega abastecimento de Brasília a intermediário, estimulando alta de preços.
Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 22 fev. 1960, p. 1.
Brasília isolada: rádio não funciona. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 fev. 1960, p. 1.
Brasília às vésperas da mudança (VI) – Catedral de Brasília não ficará pronta em abril:
construído só o anel de base. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 fev. 1960, p. 3.
Brasília: nem urbs, nem civitas, nem domus. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 fev.
1960, p. 3.
Congresso lá em Brasília será túmulo da Oposição. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23
fev. 1960, p. 3.
Câmara em Brasília custará mais 80 milhões por ano. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro,
24 fev. 1960, p. 3.
Novacap: UDN adia escolha para março. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 24 fev. 1960,
p. 3.
Nova capital do país vai começar com seis mil barracos e 32 mil flagelados. Tribuna da
Imprensa, Rio de Janeiro, 24 fev. 1960, p. 3.
Brasília às vésperas da mudança (VIII) – “Diários Oficiais” talvez não possam ser impressos
em Brasília até abril. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26 fev. 1960, p. 3.
JK desmente Israel sôbre o preço de Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26 fev.
1960, p. 3.
Brasília às vésperas da mudança (IX) – Parasitas ameaçam o povo em cidade sem hospitais.
Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 27 e 28 fev. 1960, p. 3.
Petebista diz que Rio é a maior vítima de JK. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 mar.
1960, p. 3.
Oposição e NOVACAP. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 mar. 1960, p. 4.
Brasília vai ser capital, mas bom mesmo é o Rio. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 14
mar. 1960, p. 7.
Índios de Brasília já expulsaram um. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 16 mar. 1960, p. 5.
Parlamentares vão viver no meio da poeira. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 9 fev. 1960,
p. 3.
Horas antes da mudança, Brasília ainda é poeira. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 20
abr. 1960, p. 2.
Casacas no barro. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 22 abr. 1960, p. 1.
Aeronautas: voar até Brasília é perigoso. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 22 abr. 1960,
p. 2.
Ministros também estão de volta: Brasília não tem mesmo condições. Tribuna da Imprensa,
Rio de Janeiro, 23 e 24 abr. 1960, p. 1.
Deputados que voltam falam de Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 e 24 abr.
1960, p. 2.
Brasília deixa sem lei tráfego no Rio. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 23 e 24 abr. 1960,
p. 2.
Ministros abandonam Kubitschek em Brasília. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 25 abr.
1960, p. 1.
JK ameaça ministros: Brasília ou demissão. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26 abr.
1960, p. 1.
Casacas de Brasília voltam sujas: poeira. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26 abr. 1960,
p. 1.
Brasília provoca doença imaginária. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 24 nov. 1960, p. 5.
(Legislações)
SENADO FEDERAL, SUBSECRETARIA DE INFORMAÇÕES. Lei nº 2.874, de 19 de
setembro de 1956, que “dispõe sôbre a mudança da Capital Federal e dá outras
providências”. Sistema de Informações do Congresso Nacional. Acesso em 20 jun. 2009.
______________________________________________________. Lei nº 3.273, 1º de
outubro de 1957, que “fixa a data da mudança da Capital Federal e dá outras
providências”. Sistema de Informações do Congresso Nacional. Acesso em 20 jun. 2009.
(Vídeos e áudios)
Brasília segundo Feldman (1980, Vladmir Carvalho e Eugene Feldman). 1 VHS (20 min):
VHS, son., color.
Inquérito 0215, locutor 252, tema: terreno (1974, Projeto NURC-RJ). 1 arquivo de áudio
MP3 (55 minutos).
Agradecimentos
À equipe do Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados
(CEDI), em especial a Wilton Sidou Pimentel e Adalgiso de Oliveira Costa; e à equipe do
Arquivo Público do Distrito Federal (arPDF).