27
A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede intencional e limitada do comportamento de sêres. humanos que contemporizam porque niío possuem meios para maximinizar." _ HERBERT A. SIMON Embora os estudiosos de Administração estejam dispostos a concordar em que problemas administrativos existem desde os primórdios da vida organizada, a maioria dêles também concordaria em que um exame sistemático dos fenômenos administrativos, salvo raras exceções, é produto do nosso século e, mais especificamente, dos dois últimos decênios. Além do mais, até há bem pouco tempo, todos aquêles que tentavam analisar os processos administra- tivos e se entregavam à procura de algum fundamento para auxiliar o desenvolvimento da pesquisa, bem como o ensino e a prática da Administração, eram pessoas aten- tas e sensíveis a uma arte originária de longos anos de experiências. Conseqüentemente, pelo menos em se con- siderando a Administração como arte intelectualmente fundamentada, as primeiras obras importantes foram es- critas por práticos em administração, como FAYOL,Mo- ONEY,ALVIN,BROWN,SHELDON,BARNARDe URWICK. Com certeza, nem mesmo os mais acadêmicos cul- HAROLD KOONTZ - Professor de Diretrizes e Transportes da "Gradua te School oi Business Adtninistretion" da Universidade da Califórnia. NOTA DA REDAÇÃO: Artigo reproduzido com autorização da "T'he Lournel oi the Academy oi Management", onde foi publicado em dezembro de 1961, volume 4, n.? 3. Traduzido do inglês por CARLOS OSMAR BERTERO.

A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

A MISCELÂNEANAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO

HAROLD KOONTZ

"A teoria da administração ê, na sua essência, ateoria eM recionelidede intencional e limitada docomportamento de sêres. humanos que contemporizamporque niío possuem meios para maximinizar." _

HERBERT A. SIMON

Embora os estudiosos de Administração estejam dispostosa concordar em que problemas administrativos existemdesde os primórdios da vida organizada, a maioria dêlestambém concordaria em que um exame sistemático dosfenômenos administrativos, salvo raras exceções, é produtodo nosso século e, mais especificamente, dos dois últimosdecênios. Além do mais, até há bem pouco tempo, todosaquêles que tentavam analisar os processos administra-tivos e se entregavam à procura de algum fundamentopara auxiliar o desenvolvimento da pesquisa, bem comoo ensino e a prática da Administração, eram pessoas aten-tas e sensíveis a uma arte originária de longos anos deexperiências. Conseqüentemente, pelo menos em se con-siderando a Administração como arte intelectualmentefundamentada, as primeiras obras importantes foram es-critas por práticos em administração, como FAYOL,Mo-ONEY,ALVIN,BROWN,SHELDON,BARNARDe URWICK.Com certeza, nem mesmo os mais acadêmicos cul-

HAROLD KOONTZ - Professor de Diretrizes e Transportes da "Gradua teSchool oi Business Adtninistretion" da Universidade da Califórnia.

NOTA DA REDAÇÃO: Artigo reproduzido com autorização da "T'he Lournel oithe Academy oi Management", onde foi publicado em dezembro de 1961,volume 4, n.? 3. Traduzido do inglês por CARLOS OSMAR BERTERO.

Page 2: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

170 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E.j18

tores da pesquisa experimental poderão prescindir do em-pirismo implícito na tentativa de extrair princípios fun-damentais a partir de experiências observadas, como ofizeram os administradores práticos que acabam de sermencionados. Conquanto as primeiras elaborações tenhamsido formuladas propositadamente sem a aplicação dequestionários, sem entrevistas controladas e sem o uso derecursos matemáticos, não é exato que elas tenham sidoapriorísticas ou concebidas em "tôrres de marfim".

Merece atenção o fato de que escritos e pesquisas acadê-micos estejam ausentes nos anos de formação das teoriasmodernas de Administração, em contraste com os nossosdias, quando somos afogados num verdadeiro dilúvio depesquisas e escritos realizados nas universidades. É inte-ressante - e talvez não constitua mais do que um sin-toma da adolescência sofisticada da Teoria Administrativa- o processo pelo qual a inundação acadêmica trouxeconsigo uma onda de grandes diferenças e de aparente con-fusão. Em lugar da análise ordenada da administraçãoao nível industrial (como a desenvolvida por FREDERI{.:Kw. TAYLOR)ou da destilação reflexiva de experiências se-gundo os interêsses da alta administração (como foi o casode HENRYFAYOL), assistimos agora a um crescimento de-sordenado, ao emaranhado de uma verdadeira floresta deopiniões de intelectuais que procuram dar aos problemasteóricos da administração as mais diversas formas de tra-tamento.Há os "behavioristas" - influenciados pelos experimentosda Hawthorne e pelo interêsse despertado pelas RelaçõesHumanas durante as décadas de 1930 e 1940 - quevêem a administração como um complexo de relações in-terpessoais e encontram base para uma teoria de admi-nistração nas afirmações provisórias de uma ciência poucodesenvolvida como a Psicologia. Existem também os quevêem a Teoria Administrativa como simples manifesta-ção dos fenômenos culturais e institucionais objeto da So-ciologia. Há ainda outros que, ao notar que o cerne daadministração é o processo decisório, partem daí para ten-

Page 3: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 171

tar englobar nesse processo tudo o que existe dentro daestrutura orgânica de uma emprêsa. Então aparecem osmatemáticos, que pensam seja a administração, antes demais nada, um exercício de relações lógicas que se ex-primem em símbolos, de conformidade com um onipre-sente e sempre reverenciado modêlo. Mas, o entrelaça-mento dêsse crescimento atinge o seu clímax quando o es-tudo da administração é visto como o estudo de um dentrevários sistemas e subsistemas, o que torna o pesquisadorinsatisfeito enquanto não consegue abranger todo o uni-verso físico e cultural como um grande sistema adminis-trativo!Com as recentes descobertas de vastíssimas áreas de in-vestigação e de problemas até o momento insolúveis -tarefa realizada por sociólogos, físicos e biólogos - e como aumento supersônico do interêsse por essas descobertas,por parte de todos os tipos de administradores, a aparenteinexpugnabilidade da hoje chamada Teoria Administra-tiva não é de difícil compreensão. Não mais estranha quepsicólogos, sociólogos, antropólogos, sociometristas, eco-nomistas, matemáticos, físicos, biólogos, cientistas políti-cos, intelectuais dedicados à especulação no campo daadministração empresária e até mesmo administradorespráticos devam competir nessa prova tão interessante, es-timulante e lucrativa.

Êsse aumento de interêsse, oriundo de todos os setores davida intelectual e administrativa, não deve causar preo-cupações a ninguém que esteja desejoso de ver definidasas fronteiras do conhecimento e ampliada a base intelec-tual da prática administrativa. Mas, o que se tornou mo-tivo de real preocupação para o administrador prático epara o observador que vislumbre o poderio social queuma administração aperfeiçoada pode proporcionar é ofato de a variedade do tratamento dado à Teoria Admi-nistrativa ter provocado uma espécie de "guerra fria" me-ramente destrutiva. Especialmente entre as várias disci-plinas acadêmicas e entre os seus respectivos discípulos,os interêsses fundamentais dos pretensos líderes parece

Page 4: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

172 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E./18

consistir em simplesmente inventar um tratamento "ori-ginal" da problematicidade administrativa. E para defen-der a sua originalidade e, dessa forma, ganhar um ingressopara a posteridade (ou, pelo menos, conseguir publicar al-go que justifique o seu status acadêmico ou a sua promo-ção) tornou-se prática corrente menosprezar e, por vêzes,deturpar o que OS outros disseram, pensaram ou fizeram.

Procurando penetrar nessa floresta e tomar claros algunspontos importantes e alguns problemas existentes na Teo-ria da Administração em nossos dias, para que o grandeinterêsse, a inteligência e os resultados das pesquisas pos-sam adquirir mais sentido, procurei classificar as várias"escolas" de Teoria Administrativa. Tentarei identificarràpidamente o que creio ser a principal fonte das diferen-ças e oferecer algumas sugestões para abrir clareiras na flo-resta. Espero com isso contribuir para que pelo menosaquêles que estiverem na referida área de interêsse nãosejam censurados por estarem a chamar a mesma coisapelos mais variados nomes, abusando de uma terminolo-gia demasiado ampla e atribuindo às teses uma argumen-tação viciada.

AS PRINCIPAIS "ESCOLAS" DE TEORIA ADMINISTRATIVA

Na tentativa de classificar as principais escolas de TeoriaAdministrativa em seis grupos básicos, estou ciente de PO-der subestimar alguns aspectos, porquanto não será pos-sível tratar de tôdas as caraterísticas de cada escola. Pa-rece-me, contudo, que a maioria dos tratamentos até hojedados à Teoria Administrativa pode ser adequadamenteclassificada nos seis grupos que a seguir serão discrimi-nados.

A Escola do Processo Administrativo

Essa escola vê a administração como um processo de rea-lizar coisas por meio de pessoas que operam dentro degrupos organizados. Ela cuida, porisso, de analisar o pro-cesso, estabelecer um quadro conceitual para entendimen-

Page 5: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 173

to do processo, identificar os princípios subjacentes ao pro-cesso e elaborar uma teoria administrativa baseada nessesprincípios. Considerando a adrmmstraçâo como um pro-cesso universalmente válido, embora reconhecendo que oambiente administrativo difere, amplamente entre os vá-rios tipos de emprêsa e entre os vários níveis de u'a mes-ma emprêsa, essa escola entende a Teoria Administrativacom uma forma de organizar a experiência para que aprática possa ser melhorada mediante pesquisas, verifica-ção experimental dos princípios e ensino dos fundamentosdo processo administrativo. 1

Freqüentemente chamada, especialmente pelos seus críti-cos, de "tradicional" ou "universalista", tem suas origensnas teorias de HENRYFAYOL,embora muitos dos seguido-res tenham ignorado o fundador, pelo fato de a obra deFAYOLter sido edipada pelo brilho de seu contemporâ-neo FREDERICKTAYLOR,e pela falta de uma traduçãoinglêsa, necessidade só satisfeita tardiamente em 1949.Além de FAYOL,a maioria dos primeiros contribuidoresdessa escola trataram apenas da parte orgânica do pro-cesso administrativo, em razão de sua maior experiêncianesse campo da administração e também pelo fato de queo planejamento, o contrôle e a função de assessoria mere-ciam pouca atenção dos administradores até 1940.

A Escola do Processo Administrativo baseia sua concep-ção da Teoria Administrativa em várias proposições:

1) a administração é um processo que pode ser dissecadointelectualmente pela análise das funções do adminis-trador;

1) Recentemente um estudioso (orientado no sentido das Relações Humanas~ do tratamento ccmportamerrtista da problematicidade administrafiva)observou que a Teoria Administrativa "pode ser vista como uma formade organizar a experiência" e que, "uma vez captado o sentido da ex-periência ambiente, abre-se o caminho para uma organização ainda maisadequada dessa experiência". Veja-se, a propósito: ROBERT DUBIN, in"Psyche, Sensitivity end Social Structure", comentário crítico de ROBERTTANNENBAUM,1. R. WESCHLERe FRED MASSARIK,Leadership and Or-ganization - A Behavioral Science Approach, Nova Iorque: McGraw-HilJ Book, Co., 1961, pág. 401.

Page 6: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

174 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E./18

2) uma longa vivência administrativa numa grande va-riedade de situações pode servir de base para a percepçãode certas verdades fundamentais ou generalizações - ha-bitualmente chamadas princípios - que ajudam a escla-recer e prever o entendimento e aprimoramento do atode administrar;

3) êsses princípios podem tornar-se pontos básicos parauma pesquisa destinada a verificar a própria validade dê-les, bem como a esclarecer o seu sentido e sua aplicabi-lidade;

4) êsses princípios, enquanto não contestados, podem for-necer elementos para a formação de uma teoria adminis-trativa, sendo ainda passíveis de uma elaboração maior'

5) a Administração é uma arte que, à semelhança da En-genharia e da Medicina, pode ser aprimorada pela com-preensão e utilização de princípios;

6) os princípios de Administração, assim como os prin-cípios das ciências físicas e biológicas, não deixam de serverdadeiros mesmo quando ignorados por determinadotratamento (digamos que a elaboração feita por um práti-co em dada situação ignore o princípio dos custos envol-vidos ou tente fazer algo insólito para contrabalançar oscustos incorridos), o que, evidentemente, não é novidadenos terrenos da Medicina, da Engenharia ou de qualqueroutra arte, porque a arte tem tarefa criadora de tornar fle-xíveis os princípios a fim de atingir os resultados dese-jados; e7) como a cultura e os universos físico e biológico têmefeitos variáveis sôbre o ambiente em que o administradore seus subordinados estejam localizados, como aliás acon-tece no campo de qualquer ciência ou arte, a Teoria Admi-nistrativa não tem necessidade de englobar todo o conhe-cimento para fundamentar-se teórica e cientificamente.

Para essa escola, portanto, o bàsicamente importante éconsiderar, em primeiro lugar, as funções dos administra-dores. Como numa segunda etapa dêsse procedimento

Page 7: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇA:O 175

muitos dentre nós posteriormente procuramos dissecar asfunções administrativas com base. no que julgávamos ver-dades fundamentais que havíamos captado do complexofluxo das práticas administrativas, julguei útil classificarminha análise dessas funções em tôrno das seguintes ques-tões essenciais:

1) Qual a natureza de uma função?2) Qual o objetivo de uma função?3) Como explicar a estrutura de uma função?4) Como explicar o processo de uma função?

Talvez existam outras indagações mais úteis, mas, a meuver, tudo o que pertence à área da Administração (inclu-sive alguns dos conceitos e pesquisas mais remotos) podeser situado nesses quatro itens.

Por outro lado, a fim de tornar a área da Teoria Admi-nitrativa mais maleável intelectualmente, aquêles que sefiliam a essa escola não tentam habitualmente incluir naTeoria, pelo menos de maneira integral, a Sociologia, aEconomia, a Psicologia, a Biologia, a Física, a Químicaou outras disciplinas. Não porque se considerem essas ou-tras áreas do conhecimento desprovidas de importânciaou alheias à Administração, mas simplesmente porquenunca houve um real progresso na ciência ou nas artes serrsuma especialização substancial do conhecimento. Toda-via, ninguém seria suficientemente tolo para ignorar queuma função que lida com pessoas nas suas várias ativida-des de produzir e mercadizar algo - desde o dinheiro atéà religião e à educação - seja completamente independen-te dos universos físico, biológico e cultural em que vive. Enão existem, porventura, tais relações de interdependên-cia em outros ramos do conhecimento?

A Escola Empírica

A segunda escola eu a chamo "empírica". Nela incluo ospensadores que identificam a Administração com um es-tudo da experiência, por vêzes com vistas à elaboração de

Page 8: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

176 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E./18

generalizações, mas habitualmente apenas como um meiode transmitir pelo ensino essa experiência ao administra-dor prático ou ao estudante. Seu objeto típico é o enten-dimento das diretrizes administrativas pelo estudo e aná-lise de casos e pela aplicação de recursos outros, tais comoo "método comparativo" de ERNEsTDALE.2 E a premis-sa em que se baseia é a seguinte: o estudo das expe-riências de administradores bem sucedidos e dos erros quese praticam na administração, e o exercício de tentativasno sentido de solucionar problemas administrativos resul-tam na compreensão e na aprendizagem das técnicas admi-nistrativas mais eficazes. Supõe-se, como se vê, que a sim-ples descoberta, pelo estudante ou pelo homem que se en-contra na prática da administração, daquilo que tenhafuncionado e daquilo que não tenha funcionado em cir-cunstâncias individuais torná-los-á capazes de repetir asexperiências bem sucedidas em situações comparáveis àsanteriormente estudadas.

Não é possível negar a importância de adquirir conheci-mento de experiências por êsse método de estudo ou posmeio da análise do "como foi feito". Mas a Administra-ção, diversamente do Direito, não é uma ciência baseadaem precedentes, onde as situações futuras quase semprese repetem nos mesmos moldes do passado. Em Adminis-tração é perigoso confiar demasiadamente na experiênciado passado e num histórico não filtrado das soluções deproblemas administrativos, porque uma técnica julgadacorreta para o passado pode não corresponder satisfatõ-riamente a uma situação futura.

Os partidários da Escola Empírica possivelmente afirma-rão que aquilo que fazem ao analisar um caso ou a his-tória de, emprêsas é tentar obter algumas generalizaçõesque possam ser aplicadas como guias úteis para o pensa-mento e para a ação em situações futuras. De fato, ER-NESTDALE, após ter declarado "encontrar muito pouco

2) ERNEST DALE, The Greet Organizers, Nova Iorque: McGrsw-Hill Book.Co., 1960, págs. 11 a 28.

Page 9: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E:./18 MISCEtÂNE:A NAs TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 177

valor" nos princípios enunciados pelos "universalistas",muito curiosamente elaborou certas "generalizações" ou"critérios" decorrentes de seus valiosos estudos sôbre gran-de número de administradores. 3 Ora, não seria o métodocomparativo de DALE,na realidade, o mesmo método uti-lizado pelos "universalistas", que êle tanto desmerece, ex-ceto pelo fato de que DALE recorre a um conjunto diversode verdades básicas?

Diante da ênfase dada pela Escola Empírica ao estudo daexperiência, tudo indica que a pesquisa e o pensamentooriundos de tais métodos de investigação possam vir aantecipar o dia em que se torne necessária a verificaçãodêsses princípios. Também é possível que os defensoresdessa escola possam elaborar um conjunto de princípiosmais útil do que o elaborado pela Escola do ProcessoAdministrativo. Porém, enquanto a Escola Empírica con-tinuar a elaborar generalizações com base em suas pes-quisas - e parece necessário que isso continue a ser feito,a menos que os seus membros se proponham a trocaressas pesquisas por experiências sem significado e sem es-trutura -, ela tenderá a ser e a fazer o mesmo que aEscola do Processo Administrativo.

A Escola do Comportamento Humano (ou "Behaviorista")

A Escola do Comportamento Humano está baseada natese central de que, desde que administrar implica a rea-lização de coisas por meio de pessoas, o estudo da Admi-nistração tem de arrimar-se nas relações interpessoais. Aêssemodo de conceituar a Teoria Administrativa tem sidodados vários nomes: "Relações Humanas", "Liderança","Ciências Comportamentais" etc.. Sob qualquer designa-ção, o que importa é que essa escola introduz no campoda Teoria Administrativa "teorias novas e aproveita asteorias já existentes, os métodos e as técnicas das ciênciassociais de maior importância para estudar os fenômenos

3) Idem, ibidem, págs. 11, 26 a 28 e 62 a 68.

Page 10: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

178 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E.j18

interpessoais e intrapessoais, cobrindo uma extensão quevai desde a dinâmica da personalidade do indivíduo atéàs relações entre as várias culturas".' Em outras palavras:essa escola concentra sua atenção nas "pessoas" como ele-mentos da administração e se apóia no princípio de queas pessoas trabalham juntas, como grupos, com vistas àrealização de objetivos, sendo, portanto, necessário "queas pessoas se entendam mutuamente".

Os teóricos dessa escola são fortemente orientados paraa Psicologia, em geral, e para a Psicologia Social, em par-ticular. Suas principais preocupações são o indivíduo co-mo um ser psicológico-social e a motivação do indivíduo.Os membros dessa escola vão desde aquêles que conside-ram a Teoria Administrativa como uma parte das tarefasdo administrador, um instrumento que auxilia o adminis-trador a entender as pessoas e a obter o máximo de todos,satisfazendo as necessidades individuais e respondendo àsmotivações dos componentes dos grupos, até os que vêemo comportamento psicológico dos indivíduos e dos gruposcomo se constituísse a totalidade da administração.

Nessa escola estão aquêles que realçam as Relações Hu-manas como uma arte que o administrador deve compre-ender e praticar proveitosamente. Existem os que atenta-tam para o administrador como um líder e, por vêzes, equa-cionam administração e liderança, tendendo como conse-qüência a tratar tôdas as atividades grupais como situa-ções "administráveis". Existem, ainda, os que vêem o es-tudo da dinâmica grupal e das relações interpessoais co-mo mero estudo das relações psicológico-sociaise parecem,dessa forma, ligar o têrmo "administração" ao campo daPsicologia Social.Que a administração tenha de lidar com o comportamentohumano é inegável. Que o estudo das interações huma-nas, tanto no ambiente administrativo como em situações

4) R. TANNENBAUM, I. R. WESCHLER e F. MASSARIK, Leadership andOrtanization, Nova Iorque: McGraw-HiII Book, Co., 1961, pá". 9.

Page 11: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.Â.E:./18 :MISCELÂNEA NAS TEORIAs DE: AD:MINISTRAÇAà 11ê

não administr8.das, constitua elemento importante e útilé questão sôbre a qual não cabe dúvida. E constituiriagrave êrro considerar uma boa liderança como fator des-provido de importância para uma boa administração. Mas,dizer que o campo do comportamento humano se identi-fica com o campo da administração equivale a consideraro estudo do corpo humano como objeto da Cardiologia.

A Escola do Sistema Social

Estreitamente relacionada com a Escola do Comportamen-to Humano e freqüentemente confundida ou entrelaçadacom ela, a Escola do Sistema Social inclui os pesquisado-res que consideram a administração como um sistema so-cial, isto é, um sistema de inter-relações culturais. Por vê-zes, como no caso de MARcH e SIMON5 o sistema é limi-tado às organizações formais, utilizando-se o têrmo "orga-nização" como equivalente ao têrmo "emprêsa", e não como conceito de autoridade/atividade mais freqüentementeusado em Administração. Em outros casos a escola nãodistingue as organizações formais, englobando na expres-são qualquer espécie de sistema de relações humanas.

Carregada de grande teor sociológico, essa escola aplicaem Administração o mesmo método usado em Sociologia.Ela identifica a natureza das relações culturais de váriosgrupos sociais e tenta mostrá-las, habitualmente, como umsistema integrado.

O pai espiritual dessa brilhante escola talvez seja CHESTERBARNARD.G Em busca de uma resposta às explicações fun-damentais subjacentes ao processo administrativo, êsse in-teligente executivo desenvolveu uma teoria de cooperaçãobaseada nas necessidades individuais para solucionar, pormeio da cooperação, as limitações biológicas, físicas e so-ciais do indivíduo e do ambiente. BARNARDelaborou, a

5) J. G. MARCH e H. A. SIMON, Organizations, Nova Iorque: Johtt Wiley&; Sons, Inc., 1958.

6) CHESTER BARNARD, The Functions oi the Executive, Cambrid~, Mass.;Herverd University Press, 1938.

Page 12: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

180 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E.j18

partir da totalidade dos sistemas cooperativos assim en-tremeados, um conjunto de inter-relações que êle definecomo "organização formal". Seu conceito de organiza-ção formal, diversamente do sustentado por administra-dores práticos, inclui qualquer sistema cooperativo no qualexistam pessoas capazes de comunicar-se entre si e dispos-tas a agir em prol de um objetivo comum.

o conceito de sistemas cooperativos de CHESTERBARNARDpermeia o trabalho de muitos contribuintes da Escola doSistema Social. HERBERTSIMON,por exemplo, certa vezafirmou serem objeto da teoria da organização e constituí-rem a própria natureza das organizações humanas "siste-mas de atividade interdependente que englobam, pelo me-nos, vários grupos primários habitualmente carateriza-dos por alto grau de orientação racional do comporta-mento para fins comuns conhecidos pelos participantesdêsses grupos". 'SIMON e outros teóricos, ao que parece,ampliaram posteriormente êsse conceito de sistemas so-ciais, nêle incluindo qualquer inter-relação com objetivosdelineados e cooperativos ou qualquer forma de compor-tamento.Essa escola foi responsável por muitas contribuições à Teo-ria Administrativa dignas de menção. A identificação dasemprêsas organizadas como organismos sociais sujeitos atôdas as pressões e conflitos do ambiente cultural foi degrande auxílio para o teórico de administração e para oadministrador prático. Despertou-lhe, por exemplo, aconsciência quanto aos fundamentos institucionais da au-toridade orgânica, à influência das organizações informaise aos fatôres sociais que WIGHTBAKKEchamou "limitesda organização".g Da mesma forma, muitos dos percucien-

7) HERBERT SIMON, "Comments on the Theory of Organizations", AmericanPolitical Science Review, N° 4, dezembro de 1952, pág. 1130.

8) WIGHT BAKKE, Bonds oi OrganiZl3tion, Nova Iorque: Herper and Broth-ere, 1950. Êsses bonds (recursos) da organização para BARKE são: (a)o sistema de especificaçõe:; funcionais (um sistema de equipe de tra-balho que tem ma origem nas especificações das tarefas e nos disposi-ttvos de associação); (b) o sitema de status '(uma hierarquia verticalde autoridade); (c) o sistema de comunicações; (d) o sistema de pu-nições e recompensas; e (e) o organograma (as idéias e os melos queconferem caráter e individualidade à or&anização ou emprêsa).

Page 13: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 181

tes conceitos de BARNARD, como o de economia de incen-tivos e os de sua teoria do oportunismo, foram responsá-veis pela utilização das concepções sociológicas para o en-tendimento da realidade prática da administração.A Sociologia Fundamental, a análise dos conceitos decomportamento social e o estudo do comportamento gru-pal no contexto dos sistemas sociais foram de grande va-lor no campo da Administração. Porém, é lícito que se per-gunte se isso é, na realidade, administração. Os campos

. da Administração e da Sociologia seriam realmente tan-gentes? Ou seria a Sociologia para a Administração ape-nas um ingrediente importante, como a Linguagem, a Psi-cologia, a Fisiologia, a Matemática e outros ramos do co-nhecimento? Será necessário que se defina a administra-ção em têrmos de universo de conhecimentos?

A Escola da Teoria DecisóriaAdotada por um grupo de intelectuais realmente capazese cujo número vem crescendo, a Escola da Teoria Deci-sória se concentra na racionalização da tomada de deci-sões. A seleção de uma dentre várias alternativas pos-síveis para o curso de uma ação ou idéia constitui o cen-tro de interêsse dêsse grupo, para o qual o objeto de es-tudo é a própria decisão, as pessoas ou o grupo orgânicoresponsáveis pela tomada de decisões, ou a análise do pro-cesso decisório. Limitam-se alguns, muito justificàvel-mente, aos aspectos econômicos da decisão; consideramoutros que qualquer coisa que aconteça numa emprêsaestá sujeita a sua análise; outros, ainda, estendem a teoriadecisória aos aspectos psicológicos e sociológicos,ao ambi-ente em que as decisões são tomadas e até aos indivíduosimplicados no processo decisório.Aparentemente, a Escola da Teoria Decisória é um pro-olongamento da Teoria das Escolas do Consumidor quepreocupou os economistas desde os tempos de ]EREMYBENTHAM, em princípios do Século XIX. Ela se originoudas análises econômicas então em voga: a maximizaçãodas utilidades, as curvas de indiferença, o conceito de uti-

Page 14: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

182 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÂO R.A.E.j18

lidade marginal e a análise do comportamento econômicoem condições de risco e incerteza. Portanto, não devecausar surprêsa encontrar a maioria dos membros dessaescola entre os próprios economistas. Da mesma forma,não deve surpreender que o conteúdo das teorias postula-das por essa escola esteja fortemente orientado em dire-ção à construção de modelos e matrizes matemáticos.

A Escola da Teoria Decisória tendeu a expandir seus ho-rizontes para além do processo de avaliação de alternati-.vas. Para muitos êsse tópico constitui apenas um pontode apoio para examinar tôda uma gama de atividades hu-manas, bem como a natureza da estrutura orgânica, as rea-ções sociais e psicológicas de indivíduos e grupos, e o de-senvolvimento de informações básicas no que se refere aobjetivos, sistemas de comunicações e incentivos. Comoseria de esperar, quando os teóricos da decisão estudama área pequena mas vital da tomada de decisão, êles sãodirigidos por essa chave-mestra que considera a adminis-tração como o campo total das operações da emnrêsa ede seu meio ambiente. O resultado é que a Teoria Decisó-ria se transforma numa ampla concepção da emprêsacomo sistema social, sem mais se limitar ao processo de-cisório.Alguns acreditam que, sendo a administração carateri-zada por uma concentração nas decisões, o desenvolvi-mento da Teoria Administrativa no futuro tenderá a uti-lizar a decisão como ponto central e que o restante serámera ramificação dêsse ponto central. Isso poderá vir aocorrer e com tôda a certeza o estudo da decisão, do pro-cesso decisório e do tomador de decisões poderá estender--se a todo o campo da administração. Todavia, pode-seindagar se êsse tratamento não seria aplicável, também,a tôda a esfera do conhecimento humano, porque, comoa maioria dos teóricos reconhecem, o problema da esco-lha não é apenas individual, mas também orgânico, e amaior parte do que tem sido dito como constituindo purateoria decisória pode ser aplicado à existência e ao pen-samento de um ROBINSONCRUSOE.

Page 15: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E/18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÂO 183

A Escola M aternática

Se bem que os métodos matemáticos possam ser usadospor qualquer escola de Teoria Administrativa - e, naverdade, êsse tem sido o caso -, decidi-me a agruparsob a rubrica "Escola Matemática" os teóricos que vêema administração como um sistema de modelos e processosmatemáticos. Talvez o grupo mais amplamente conheci-do - que arbitràriamente rotulo de "matemático" - sejao dos "pesquisadores operacionais" ou analistas de ope-rações, que, por vêzes, r'retensiosamente se ungem a simesmos com o pomposo nome de "cientistas da adminis-tração". Afirma êsse grupo que, se a administração, a or-ganizaçâo, o planejamento e a tomada de decisões cons-tituem processos lógicos, êles poderão ser expressos porsímbolos e por relações matemáticas. O recurso princi-pal dessa escola é o modêlo: é por meio dêle que o pro-blema se expressa nas suas relações básicas e em têrmosde objetivos e propósitos selecionados.

Não resta dúvida quanto à grande utilidade da Matemá-tica em qualquer campo de investigação. Ela obriga opesquisador a uma definição do problema ou da área pro-blemática, permite o emprêgo conveniente de símbolospara dados desconhecidos, adota uma metodologia lógica,desenvolvida no decurso de longos anos de aplicação cien-tífica e de abstração, e é um instrumento poderoso parasolucionar ou simplificar fenômenos complexos.

Mas, é bastante difícil considerar a Matemática como umaescola distinta de Teoria Administrativa, da mesma for-ma aue seria difícil considerar uma escola matemática nasvárias disciplinas que a utilizam, como a Física, a Quí-mica, a Engenharia ou a Medicina. Refiro-me aqui a umaEscola Matemática porque percebo ter-se desenvolvidouma espécie de culto entre os analistas matemáticos queresultou numa incorporação da administração na sua es-fera de pensamento.

Ao afirmar que a Matemática é instrumento e não escola,não pretendo subestimar sua utilidade na prática da admi.

Page 16: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

184 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E.j18

nistraçâo . Trazendo ao imenso e complexo campo da Ad-ministração os instrumentos e os métodos das ciências exa-tas, os matemáticos já lhe deram inestimável contribui-ção no sentido de ordenar-lhe o processo intelectual. Êlesforçaram muitas pessoas envolvidas na administração afocalizar vários problemas de maneira mais clara, obriga-ram intelectuais e administradores práticos a estabelecerobjetivos e critérios de eficiência, contribuíram para quea área da administração se transformasse num sistema ló-gico de relações e fizeram com que as pessoas envolvidasna administração revissem e eventualmente reorganizas-sem fontes e sistemas de informações a fim de que se pu-desse dar aos problemas um significado matemático. Mas,apesar de tão grande contribuição, máxime na esfera doplanejamento, seria insensato afirmar que Matemática ésinônimo de Teoria Administrativa, da mesma forma quenão se poderia afirmar aue Matemática é sinônimo deAstronomia.

CAUSAS PRINCIPAIS DA CONFUSÃO

Resumidas as várias escolas de Teoria Administrativa, tor-na-se claro que êsses vários cultos intelectuais não estãolevando à descoberta de inferências diferentes, a partirdos ambientes cultural e físico que nos rodeiam. Porque,então, existem tantas diferenças entre as várias escolas?Porque tanta luta, especialmente entre os nossos acadê-micos, que procuram obter um lugar ao sol simplesmentepor negarem as afirmações dos outros? Da mesma formaque as diferentes seitas da religião cristã, por vêzes tão li-tigiosas, tôdas as escolas da Teoria Administrativa têm,essencialmente, os mesmos objetivos e tratam, bàsicamen-te, com a mesma realidade.

Embora haja muitas fontes de confusão mental no ema-ranhado da Teoria Administrativa, creio que as princi-pais são as que a seguir serão mencionadas.

Page 17: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÂO 185

A Confusão Semântica

Quando homens inteligentes tratam de problemas básicos,é comum que parte das divergências resida no significadodas palavras. O problema semântico é particularmentedifícil no campo da administração. A própria palavra"administração" apresenta problemas quanto ao seu sig-nificado. A maioria concordaria em que administrar sig-nifica realizar coisas com e por meio de pessoas. Mas,através da organização formal, ou por qualquer atividadegrupal? Administrar é liderar, governar ou ensinar?Talvez a maior confusão semântica resida no uso da pa-lavra "organização". A maioria dos partidários da Escolado Processo Administrativo usam o têrmo para definira estrutura atividade/autoridade de uma emprêsa e, cer-tamente, grande parte dos administradores práticos acre-ditam que estão "organizando" quando estabelecem umconjunto de grupos de autoridade e de relações de autori-dade. Nesse caso organização representa a estrutura for-mal dentro de uma emprêsa, que cria o ambiente no qualas pessoas desempenham suas funções. Existe mesmogrande número de teóricos que entendem a organizaçãocomo a soma total das relações humanas em qualquergrupo de atividade. Dessa forma, êles parecem considrar o têrmo "organização" sinônimo de estrutura social.E existem, ainda, os que dizem "organização" para dizer"emprêsa" .

Se o significado da palavra "organização" não puder seresclarecido e o uso do têrmo não puder ser padronizadoconvencionalmente pelos vários teóricos de Administração,o entendimento e a crítica não poderão estar fundamenta-dos nessa diferença. Não creio que MARCHe SIMONse-jam precisos, por exemplo, ao criticar as teorias de organi-zação da Escola do Processo Administrativo - que êleschamam de "universa lista" - pelo fato de não conside-rarem a função administrativa de planejamento como par-te da função organizadora, uma vez que elas decidiramtratar dela separadamente. Nem tampouco devem ser

Page 18: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

186 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E./18

criticados aquêles que decidiram tratar isoladamente dasfunções de treinamento, seleção e direção OU liderançade pessoas como sendo de assessoria, ou os que dão ênfaseà função de direção por causa de uma "tendência paraconsiderar o empregado como um instrumento inerte" ou"mais como uma constante do que como uma variável". 9

Tais acusações, porque se apóiam em premissas falsas, sãoevidentemente errôneas.

Outras confusões semânticas poderiam ser mencionadas.Por alguns a tomada de decisão é olhada como um pro-cesso de escolha entre várias alternativas; para outros elaconstitui a totalidade da tarefa administrativa e a tota-lidade do ambiente. Freqüentemente são usados comosinônimos os têrmos "administração" e "liderança", .pala-vras que outros separam analiticamente. A palavra "co-municações" poderá significar tudo, desde. um relatório es-crito ou oral até um vasto sistema de relações formais einformais. Relações Humanas para alguns implica numamanipulação psiquiátrica das pessoas, para outros no estu-do e a na arte de entender as pessoas e as inter-relaçõespessoars .

Disparidade na Acepção de Administração como Conjuntode Conhecimentos

Como já foi indicado na discussão a respeito da confusãosemântica, "administração" está longe de ter um signifi-cado único, embora a maioria esteja de acôrdo em que elaenvolve, pelo menos, a realização de coisas com e por meiode pessoas. Quer isso dizer, porém, que ela trate de tôdasas relações humanas? Um vendedor-ambulante é umadministrador? O pai é um administrador? O líder de umamultidão é um administrador? Identifica-se o campo daadministração com o campo coberto conjuntamente pelaPsicologia e pela Sociologia? Administração é o mesmoque um sistema completo de relações sociais?

I' ,

9) J. G. MARCH • H. A. SIMON, op. cit., págs. 29 a 33.

Page 19: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÂO 187

Reconheço que linhas precisas não possam ser traçadasem Administração, pois igual impossibilidade existe emMedicina e em Engenharia. Todavia, há certamente apossibilidade de estabelecer uma distinção mais perfeitado que a existente atualmente. O qde não se pode espe-rar é que a Teoria Administrativa seja vista como cienti-ficamente útil para um administrador prático, quando as"autoridades" chamam de "administração" tudo o que exis-te sôbre a face da terra.

As Hipóteses "a prior?'

A confusão na Teoria Administrativa também tem sidoaumentada pela tendência, encontrada entre os novatos nocampo, para eliminar importantes observações e análisesrealizadas no passado, sob a alegação de que elas seriamapriorísticas em sua natureza. Essa é uma acusação mui-to encontradiça entre os que desejam invalidar a obra deFAYOL,MOONEY,BROWN,URWICK,GULICKe outros quesão rotulados de "universalistas". Supor que as experiên-cias elaboradas por homens como êsses constituem formasapriorísticas de raciocínio é esquecer que a experiênciaadministrativa é fundamentalmente empírica. Embora asconclusões das experiências e percepções de tarimbadospráticos da arte de administrar não sejam infalíveis, elasnão deixam de ser representativas, pois representam umaexperiência vivida, que é indiscutivelmente "real", e nãoo resultado de laborações realizadas numa "tôrre de mar-fim". Ninguém poderá negar - e eu estou absolutamenteseguro a respeito - que o teste final da "veracidade" deuma teoria administrativa tem de ser a prática e que aprática e o estudo da administração terão de desenvolver--se a partir da realidade.

o Mal-Entendido a respeito dos "Princípios"

Aquêles que acham que podem adquirir status e uma "belaficha" simplesmente por proporem algum tratamento ounoção particular amiúde se deleitam em refutar qualquercoisa que recenda a princípios de administração. Alguns

Page 20: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

188 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÂO R.A.E.j18

têm-se referido aos princípios como "óbvios", esquecendoque o óbvio é também um truísmo e que um conceito nãose torna válido simplesmente por ser familiar. (ComoROBERT FROST afirmou, "A maior parte das mudançasque pensamos encontrar na vida são meras verdades queentram e saem da moda".) Outros refutam os princípiosde FAYOL e de outros práticos de administração, simples-mente para delinear generalizações aparentemente diver-sas nos seus estudos de Administração; mas, muitas dasgeneralizações descobertas dessa forma são, com freqüên-cia, as mesmas leis fundamentais, com enunciados diferen-tes, que certos "universalistas", violentamente criticados,já haviam descoberto.Um dos lances favoritos no "jôgo" da Teoria Administra-tiva é recusar todo um conjunto de princípios com baseem um único princípio que o observador julgue não estarpràticamente fundamentado. Dessa maneira, muitos crí-ticos dos "universalistas" referem-se aos casos bem co-nhecidos de dupla subordinação, encontrados na práticaempresária, chegando por êsse caminho à errônea conclu-são de que não há substância no princípio de unidade decomando. Mas, isso não prova que não exista um grava-me de custo para a emprêsa que adote práticas adminis-trativas dispersivas ou não leve em consideração o prin-cípio da unidade de comando. Não prova, tampouco, quedeixem de existir outras vantagens que compensem ocusto de adotar técnicas dispersivas, como sucede fre-qüentemente em estabelecimentos organizados com dis-tribuição funcional de autoridade.

Talvez o estereótipo mais utilizado por aquêles que ques-tionam a validade de todos os princí pios por referência auma base comum seja o dos mal-entendidos a respeitodo princípio de "amplitude administrativa" (span oi ma-nagement, span oi control ): A fonte de autoridade habi-tualmente citada pelos que tentam a invalidação do refe-rido princípio é Sir IAN HAMILTON, que nunca preten-deu estabelecer um princípio universal, mas simplesmen-te desejou fazer uma observação pessoal num livro de re-

Page 21: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 189

flexões sôbre suas experiências no Exército, onde afirmoucasualmente que êle julgava aconselhável limitar o nú-mero de seus subordinados entre três e seis. Nenhumuniversalista moderno se apóia em tal afirmação. Na ver-dade, poucos estarão dispostos a estabelecer um limitenumérico universal e absoluto (nem mesmo poderiam fa-zê-lo). Considerando-se que Sir IAN HAMILTONnão eraum teórico em Administração e que nunca pretendeu sê--10, tenhamos a esperança de que o fantasma de sua obser-vação inocente mereça o eterno repouso!

No que diz respeito àqueles que julgam que o reconheci-mento de verdades fundamentais ou de generalizaçõespossa ser útil, no estudo e no diagnóstico dos problemasde administração, e que sabem, por experiência adminis-trativa, que tais verdades ou princípios são de uso extre~mamente valioso, há a tendência de alguns pesquisadoresno sentido de tentarem provar coisas errôneas, seja pormeio de falsas afirmações, seja por meio de indevida apli-cação de princípios. Caso clássico de mal-entendido emá aplicação é o interessante livro de CiIRYSARGYRIS,Personality and Organization.lO Êsse autor, que nesse li-vro e em outras obras deu muitas contribuições valiosasà Administração, conclui que "os princípios da organiza-ção formal encerram exigências para com indivíduos re-lativamente sadios, que são incongruentes com suas ne-cessidades", e que "a frustração, o conflito, o fracasso e as.perspectivas a curto prazo são previsíveis como resulta-dos dessa incongruência básica"." Essa chocante conclu-são - que representa o oposto do que a boa organizaçãoformal, baseada em sólidos princípios de organização, de-ve causar - é explicável quando se observa que dos qua-tro "princípios" citados por ARGYRISum não é princípiode organização, mas princípio econômico de especializa-ção, e os outros três estão citados errôneamente. 12 Com

10) CHRYS ARGYRIS, Personelitv enâ Orgat1ization, Nova Iorque: Herper andBrotbers, 1957.

11) Idem, ibidem, pág , 74.12) Idem, ibidem, págs , S8 a 66.

Page 22: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

190 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMiNISTRAÇÃO R.A.E.j18

base em tal postulado, e sem tentar reconhecer, corretaou incorretamente, nenhuma outra organização e nenhumoutro princípio de administração, ARGYRISsimplesmentedemonstrou que princípios errados aplicados indevida-mente conduzem à frustração. E qualquer administradorsabe que isso é absolutamente verdadeiro!

Incapacidade ou Má Vontade para um Acôrdo entre osTeóricos de Administração

O que foi dito acima nos leva à conclusão de que grandeparte da confusão reinante na Teoria Administrativa écausada pela má vontade ou pela incapacidade de en-tendimento mútuo por parte dos teóricos em Adminis-tração. Duvidando, porém, que a causa seja a incapaci-dade, porque suponho que quem se interêsse por TeoriaAdministrativa seja capaz de compreender pelo menosseus princípios gerais e os sistemas adotados pelas vá-rias "escolas", só me resta concluir que o obstáculo parao entendimento seja a má vontade.

É provável que essa má vontade tenha suas origens nas"barreiras" profissionais que se desenvolvem no apren-dizado das várias disciplinas, ou no mêdo de que alguémou de que alguma descoberta comprometa o status pro-fissional ou acadêmico, ou, ainda, no mêdo de obsolescên-cia profissional ou acadêmica. Mas, qualquer que seja acausa, parece-me que essas barreiras não serão demolidasaté que se compreenda que elas "existem", até que to-dos os cultistas estejam dispostos a considerar a valida-de e o conteúdo das outras escolas e até que, através datroca de idéias e de entendimentos, alguma ordem possaser criada a partir do caos atual.

DESBRAVANDO A "FLORESTA"

É de grande importância que se tomem medidas paradesbravar a "floresta" da Teoria Administrativa. Talvezseja muito cedo e para que isso ocorra sejamos obriga-dos a esperar alguns anos, que decorrerão entre tentati-

Page 23: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.c.j18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 191

vas e buscas entremeadas por um sem número de proble-mas semânticos, golpes e contragolpes. Mas, por se tra-tar de uma área tão importante para a sociedade, ondeos vários erros de uma administração desprovida de fun-damentos científicos podem ser custosos, é de esperar queessa demora não se prolongue por muito tempo.

Parece-me que algumas providências podem começar a sertomadas no sentido de afastar as fontes mais importantesda confusão. Façamos, a propósito, algumas considerações.

• Necessidade de definir um conjunto de conhecimentos- Certamente, se não se quer ver um campo do conheci-mento "paralisado" num lamaçal de mal-entendidos, aprimeira necessidade é definir o "objeto de conhecimento".Esse "campo", claro está, não pode ser delimitado minu-ciosa e inflexivelmente, mas sim ao longo de linhas quesituem o seu conteúdo específico. Pelo fato de a adminis-tração ser realidade, vida e prática, minhas sugestões se-riam no sentido de que o objeto fôsse definido à luz doquadro de referência do prático de administração capaze lúcido. Uma ciência sem relação com a prática ou coma arte a que ela se propõe servir não poderá ser eficaz.

Levando em consideração que os estudos das administra-ções de várias emprêsas, em vários países e em váriosníveis, levados a cabo por várias pessoas, entre as quaisme incluo, não são nem representativos, nem adequados,cheguei à conclusão de que Administração é a arte derealizar coisas com e por meios de pessoas em grupos for-malmente organizados; a arte de criar um ambiente nessesgrupos, onde as pessoas possam agir individualmente mascooperando para a consecução dos objetivos grupais; aarte de afastar os obstáculos a tal consecução; a arte deotimizar a eficiência na consecução eficaz dos objetivos.Se êsse tipo de definição do "campo" não fôr satisfatório,sugerirei, como forma de acôrdo, que a área seja pelomenos definida com a finalidade de refletir o campo doadministrador prático e que posteriores pesquisas e estudosda prática sejam feitos com vistas a êsse objetivo.

Page 24: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

192 MISCELÂNEA NAS TEOI{IAS DE AOMINISTI{ACÃO I{.A.E.j18

Ao definir o campo, parece-me também imperativo esta-belecer alguns limites com relação à análise e à pesquisa.Se designarmos os universos cultural, físico e biológicocomo sendo o campo da administração, não pcderemos rea-lizar grandes progressos, da mesma forma que a Químicaou a Geologia teriam estacionado, enquanto ciências, senão tivessem delimitado áreas específicas de estudo. Setivessem optado por um estudo da totalidade do conheci-mento, por certo não se teriam constituído ciências.Ao definir um campo de conhecimento, deve-se tambémcuidar que se faça distinção entre instrumentos e conteú-do. Conseqüentemente, a Matemática, a Pesquisa Opera-cional, a Contabilidade, a Teoria Econômica, a Sociometriae a Psicologia - para mencionar apenas alguns casos -constituem instrumentos importantes para a Administra-ção, mas não são, em si mesmas, parte do conteúdo docampo. Isso não quer dizer que elas sejam destituídasde importância ou que o administrador prático não devamanter essas disciplinas sempre à sua disposição, 'nemsignifica que tais disciplinas não possam servir de meiospara fazer regredir os limites do campo de conhecimentoadministrativo. Significa apenas que elas não devem serconfundidas com o conteúdo básico do campo da Admi-nistração.Claro está que um estudo frutífero não deve prescindirdas disciplinas subjacentes à Administração. Com tôda acerteza, o conhecimento da Sociologia,dos sistemas sociais,da Economia, da Ciência Política, da Matemática e deoutras áreas, quando dirigido para a finalidade de con-tribuir para o campo da Administração, deve ser objetode continuidade e de encorajamento. E descobertas im-portantes nesses e noutros campos do conhecimento podem,lançar luz sôbre os conceitos e transformá-los no campoda Administração. Isso certamente já aconteceu em ou-tras ciências e em tôdas as demais artes baseadas em ciên-cias importantes .• Integração da Administração e de outras disciplinas deimportância - Se o reconhecimento do conteúdo adequa-

Page 25: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E.j18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 193

do do campo da Administração já tivesse sido feito, creioque a atual luta de mal-entendidos tenderia a desaparecer.A Administração seria olhada como disciplina específicae outras disciplinas seriam consideradas importantes basespara a Administração. Nessas circunstâncias as disciplinassubjacentes e inter-relacionadas seriam consideradas ben-vindas pelas escolas de administração pública e de em-prêsas, bem como pelos administradores práticos, comosendo associadas leais e prestativas. E a integração daAdministração e das outras disciplinas não seria tão difícil.

• Esclarecimento da terminologia administrativa - A ne-cessidade de esclarecimento e de uniformização da termi-nologia administrativa seria, em boa parte, resultado dadelimitação do objeto da Administração e de sua definiçãocomo campo de conhecimento. Porém, mesmo em tais cir-cunstâncias, os problemas terminológicos exigiriam aten-ção especial. Não são muitas as situações em que a termi-nologia seja por si só suficiente para causar embaraços.

Aqui também seria sensato adotar a 'terminologia dosadministradores práticos, a menos que as palavras sejampor êstes usadas de forma tão inexata que exija esclareci-mento especial. Pelo menos, não deveríamos complicarainda mais um campo já bastante complexo, pelo desen-volvimento de um jargão acadêmico ou científico que cons-truiria outra barreira lingüística entre o teórico e o admi-nistrador prático.

Talvez o mais prático seja estabelecer uma cormssao re-preserrtativa de sociedades acadêmicas e associações deadministradores diretamente envolvidas nesses problemasterminológicos. Tal solução parece bastante viável e deimplantação não muito difícil. E mesmo que o fôsse, osresultados compensariam os esforços.

• Boa-vontade para elaborar e testar os fundamentos- Certamente, o teste da maturidade e da utilidade deuma ciência é a acuidade e a validade dos princípios que

Page 26: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

194. MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO R.A.E.j18

lhe servem de base. Nenhuma ciência atualmente consi-derada madura se iniciou com uma completa afirmaçãode princípios irretorqulvelmente válidos. Mesmo as ciên-cias mais velhas, como a Física, continua revendo os seusprincípios e leis fundamentais, e descobrindo novos prin-cípios. Na verdade, qualquer ciência se desenvolve e temutilidade durante séculos com base em generalizações, leise princípios.

Uma das provas da inferioridade das Ciências Sociais defácil compreensão é a de serem, reconhecidamente, ciênciasinexatas. Por outro lado, mesmo as chamadas "ciênciasexatas" estão sujeitas a grande margem de inexatidão, pos-suem princípios não inteiramente demonstráveis e re-correm à arte na elaboração de sistemas e componentespráticos. A atitude derrotista tão freqüentemente encon-trada entre as Ciências Sociais, das quais a Administraçãoé parte, não dá a importância devida ao fato de que aAdministração poderá ser explicada, poderá ter a sua prá-tica melhorada e tornar os objetivos de suas pesquisas maissignificativos se tentativas forem feitas para uma elabo-ração perceptiva da experiência por meio da descobertade princípios (ou generalizações) e pela sua ordenaçãonum contexto lógico. Como dois cientistas recententeafirmaram a êsse respeito, "A razão para essa maneiraderrotista de encarar as Ciências Sociais pode ser en-contrada no mau entendimento básico da natureza dabusca científica. O que importa não é que as inexati-dões nos procedimentos e a capacidade de previsão daciência possam ser eventualmente removidos. [ ... ] Oque importa é a objetividade, isto é, a inter-subjetividadedas descobertas, independentemente do julgamento intui-tivo de qualquer pessoa, que distingue a ciência das opi-niões intuitivas, por mais brilhantes que estas possam ser.[ ... ] Porém, uma vez que uma idéia nova tenha sidoelaborada, não importa quão intuitivo seja o seu funda-mento, ela terá de enfrentar um teste ou uma confirmaçãoobjetiva. E é a êsse padrão crucial de objetividade cien-tífica, mais do que a qualquer outro critério aparente de

Page 27: A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO · A MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇAO HAROLD KOONTZ "A teoria da administração ê, na sua essência, a teoria eM recionelidede

R.A.E./18 MISCELÂNEA NAS TEORIAS DE ADMINISTRAÇÃO 195

exatidão, que as Ciências Sociais têm de se conformar"."Tentando um esclarecimento da Teoria Administrativa,não poderia deixar de lembrar alguns outros critérios:

• A Teoria terá de lidar com uma área de conhecimentoe inquirição que seja tratável. Não se fizeram grandesavanços no conhecimento enquanto o homem se limitoua contemplar o Universo como um todo.

• A Teoria terá de ser útil no melhoramento da práticaadministrativa, não deixando de dar a devida atenção àpessoa do administrador e às suas tarefas.

• A Teoria não pode perder-se em questões de termino-logia, particularmente em jargões inúteis e ininteligíveispelo administrador prático.

• A Teoria deve fornecer uma diretriz e conferir eficá-cia para a pesquisa e para o ensino da Administração. E,finalmente,

• A Teoria Administrativa deve reconhecer que é partede um universo maior de conhecimento e de teoria.

13) O. HELMER e N. RESCHER, On tbe Epistemology vi the Lnexect Sciences,Santa Mônica, Califórnia: The Rand Corporation, P-1513, 1958, pâgs.4 e 5.