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967 A MULHER E O MERCADO DE TRABALHO FORMAL EM MONTES CLAROS – MG WOMEN AND THE FORMAL LABOR MARKET IN MONTES CLAROS - MG Maria Vivaldina Rodrigues de Moura¹ Nágila Raianne de Jesus Barbosa¹ Simarly Maria Soares² Simone Viana Duarte² ¹Graduadas pela Universidade Estadual de Montes Claros – (UNIMONTES), [email protected] , [email protected] ²Professoras da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), simarly@ gmail.com, [email protected] RESUMO O estudo apresenta os resultados de uma pesquisa cujo objetivo foi analisar a inserção e participação da mulher no mercado de trabalho formal no município de Montes Claros/MG, no período de 2007 a 2016. A fundamentação teórica contextualiza aspectos relativos ao gênero e a inserção da mulher no mercado de trabalho, por meio de considerações acerca não só dos avanços ocorridos, mas também das contradições que permeiam o desenvolvimento profissional da mulher em relação aos homens. Foi feita uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados em fonte secundária, na base de dados RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), disponibilizados na internet através do Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho (PDET). Os resultados demonstram que existem 83.818 trabalhadores formais na cidade de Montes Claros - MG, destes 55,74% são do sexo masculino e 44,26% do sexo feminino. Observa-se ainda um crescimento na participação das mulheres na medida em que se elevam os níveis de escolaridade. Porém, verifica-se que apesar do nível de escolaridade mais elevado em relação aos homens, elas recebem menores salários e ocupam cargos inferiores, o que caracteriza uma nítida desigualdade de gênero. Palavras chave: Desigualdade de Gênero - Mercado de Trabalho – Nível de escolaridade – Montes Claros. INTRODUÇÃO Ao longo da história a mulher foi identificada como ser frágil e submisso ao homem. Trata-se de uma questão cultural que mantém a visão patriarcal de que o homem deve ser o provedor e sustentar sua família através de seu trabalho. “O trabalho feminino, no geral, não

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A MULHER E O MERCADO DE TRABALHO FORMAL EM MONTES CLAROS – MG

WOMEN AND THE FORMAL LABOR MARKET IN MONTES CLAROS - MG

Maria Vivaldina Rodrigues de Moura¹Nágila Raianne de Jesus Barbosa¹

Simarly Maria Soares²Simone Viana Duarte²

¹Graduadas pela Universidade Estadual de Montes Claros – (UNIMONTES),[email protected], [email protected]

²Professoras da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), [email protected], [email protected]

RESUMO

O estudo apresenta os resultados de uma pesquisa cujo objetivo foi analisar a inserção e participação da mulher no mercado de trabalho formal no município de Montes Claros/MG, no período de 2007 a 2016. A fundamentação teórica contextualiza aspectos relativos ao gênero e a inserção da mulher no mercado de trabalho, por meio de considerações acerca não só dos avanços ocorridos, mas também das contradições que permeiam o desenvolvimento profi ssional da mulher em relação aos homens. Foi feita uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados em fonte secundária, na base de dados RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), disponibilizados na internet através do Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho (PDET). Os resultados demonstram que existem 83.818 trabalhadores formais na cidade de Montes Claros - MG, destes 55,74% são do sexo masculino e 44,26% do sexo feminino. Observa-se ainda um crescimento na participação das mulheres na medida em que se elevam os níveis de escolaridade. Porém, verifi ca-se que apesar do nível de escolaridade mais elevado em relação aos homens, elas recebem menores salários e ocupam cargos inferiores, o que caracteriza uma nítida desigualdade de gênero.

Palavras chave: Desigualdade de Gênero - Mercado de Trabalho – Nível de escolaridade – Montes Claros.

INTRODUÇÃO

Ao longo da história a mulher foi identifi cada como ser frágil e submisso ao homem. Trata-se de uma questão cultural que mantém a visão patriarcal de que o homem deve ser o provedor e sustentar sua família através de seu trabalho. “O trabalho feminino, no geral, não

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representava alteração de valores, nem de poder. As ocupações permitidas ao sexo feminino, quase todas, não eram colocadas como as masculinas, no sentido produtivo. O trabalho feminino ia sendo realizado como fi lantropia e compromisso social” (PASSOS, 1999, p.148).

A partir da década de 1930 ocorre o aumento da preocupação com a formação da cidadania, e esse período foi marcado por lutas e reivindicações na busca da conquista dos direitos sociais. Nesse período, as mulheres adquiriram o direito ao voto e a oportunidade de inserção no mercado de trabalho. A entrada das mulheres no mercado de trabalho ocorreu principalmente devido a eclosão das duas Guerras Mundiais, em que as mulheres tiveram que buscar o sustento da família enquanto os homens estavam nos campos de batalha (SCHLICKMANN; PIZARRO, 2003). Outro marco importante que contribuiu para a inclusão da força de trabalho feminina foi a Revolução Industrial. Nesse caso, embora as mulheres ocupassem precários postos de trabalho, desempenhassem as piores funções, em péssimas condições, fossem mal remuneradas e trabalhassem sem perspectivas de melhora, esse foi o início de suas conquistas (PINTO, 2007).

Pinto (2007) ainda destaca que, paralelamente às revoluções, surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, com intuito de valorizar as minorias sociais e abster-se de “todas as formas de discriminação e exclusão”. Além disso, com o avanço do capitalismo, ocorreram mudanças políticas, econômicas e sociais signifi cativas que refl etiram na estrutura e organização da força de trabalho, tendo como destaque o papel da mulher nas relações humanas, de gênero e trabalho. Assim, houve uma busca da construção da identidade feminina e da consolidação dos estudos sobre gênero, que se consolidou no Brasil no fi nal dos anos 1970, simultaneamente ao fortalecimento do movimento feminista no país. A introdução da perspectiva de gênero por políticas públicas é, no entanto, um tema ainda incipiente (FARAH, 2004).

No cenário do mercado de trabalho brasileiro, observa-se que o crescimento da participação da mulher ocorreu a partir da década de 1970. Como demonstra a Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios (PNAD), entre 1981 e 2002, a taxa de atividade feminina elevou-se de 32,9% para 46,6% (HOFFMAN; LEONE, 2004). E isso ocorreu principalmente em virtude das lutas pelos direitos, desencadeada pelos movimentos feministas e pelo aumento no nível da escolaridade. Mas apesar das conquistas, as mulheres ainda são obrigadas a suportar dupla jornada de trabalho, a doméstica e a profi ssional, responsabilizando-se ainda pelo cuidado e educação dos fi lhos. E mesmo diante dessa realidade, as mulheres em sua maioria, não são valorizadas, convivem com o preconceito e a discriminação de gênero. Segundo dados da Fundação Carlos Chagas (2007)1, embora as mulheres estudem mais, sua remuneração é mais baixa.

Nesse sentido, o estudo teve como objetivo analisar a inserção da mulher no mercado de trabalho formal no município de Montes Claros/MG no período de 2007 a 2016, considerando as variáveis, sexo, escolaridade e remuneração. Para tanto, o artigo foi estruturado, primeiramente,

1 FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Banco de dados sobre o trabalho da mulher. Mulheres brasileiras, educação e trabalho. São Paulo, 2007. Disponível em:https://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie3.php?area=series Acesso em: 24 de julho.

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em um tópico sobre análise de gênero, em seguida sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho, em que foram abordadas as questões de escolaridade e desigualdade entre homens e mulheres em relação à remuneração. Seguido pelos métodos utilizados na pesquisa, os resultados e por fi m, considerações fi nais.

REFERENCIAL TEORICO

Análise de gênero

O gênero como categoria de análise surgiu somente no fi nal do século XX. Antes desse período o gênero não foi pensado ou abordado como uma teoria social, ou seja, como relações sociais ou sexuais. Alguns o tratavam como uma relação de oposição entre masculino e feminino, outros como uma questão feminina e como defi nição da identidade sexual. E isso difi cultou aos feministas defi nir o termo “gênero” e também entender as desigualdades entre mulheres e homens (SCOTT, 1995).

Scott (1995) ainda esclarece que surgiram três abordagens para tentar analisar o termo “gênero”, a primeira foi o patriarcado que buscava entender a dominação, subordinação e poder dos homens. Para os homens, a subordinação das mulheres era uma forma de controlar a sexualidade e a propriedade. A segunda corrente denominada de marxista propôs explicar o materialismo, através do compromisso com a crítica feminista. E por fi m, e não menos importante, a psicanálise que tinha como foco a produção e reprodução da identidade de gênero do sujeito.

De acordo com Mattos (2009), a partir do movimento feminista, o estudo de gênero se tornou um campo de conhecimento, promovendo uma revisão de teorias e metodologias para contemplar a questão da mulher nas mais diversas abordagens. Assim, emergiu uma nova dimensão que enfatizava a construção social do masculino e feminino em detrimento do determinismo biológico da diferença sexual (MATTOS et al., 2015).

No fi nal da década de 1970, buscou-se uma conceituação de gênero, partindo da defi nição de que sexo e gênero diferem em agrupamento de elementos biológicos e culturais. O sexo foi designado como a diferença entre macho e fêmea, enquanto que “gênero” se refere às relações sociais, culturais e psicológicas (SHAPIRO, 1981 apud PISCITELLE, 2002).

Mattos et al (2015) enfatiza que os termos sexo e gênero possuem diferenças que se sobrepõem às questões de vocabulário ou da simples utilização de uma palavra alternativa, pois envolve processos sociais e históricos de grande relevância. Dessa forma, a partir da análise da diferenciação entre sexo/gênero e das lutas pelo movimento feminista, impulsionou o debate sobre o conceito de gênero. De acordo com Matos (2008, p.336-337).

O “conceito” de gênero foi aos poucos sendo incorporado por afi liações teóricas nas ciências humanas e sociais (e mesmo fora delas). Algumas dessas teorias o abordam como um conceito útil e até iluminador de questões, mas não o tendo como um elemento central de suas considerações – tais afi liações teóricas estariam operando com “teorias e gênero” –, e outras, bem mais coerentes a meu ver, o absorvem substantivamente, fazendo o ocupar sempre uma posição de pivô e de destaque – estas seriam o que

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defi nimos aqui por “teorias de gênero” com um viés feminista.

Para a autora o debate sobre o conceito de gênero foi uma oportunidade de análise crítica. Foi possível “questionar as próprias categorias de homem e de masculino, bem como de mulher e de feminino, que passaram a ser fruto de intenso processo de desconstrução”. Porque mesmo com os avanços das conquistas do movimento feminista, havia o desejo de substituir as categorias de análise “estudos de mulher” ou “estudos feministas”. A categoria gênero tinha como objetivo mostrar a “subordinação feminina e acompanhar o movimento no sentido da busca da igualdade no exercício dos direitos e das oportunidades”. E de questionar as desigualdades (econômicas, políticas, sociais, culturais, biológicas, históricas, demográfi cas, psicológicas etc. (MATOS, 2008, p.336-337).

Scott (1995, p.3), entende que gênero é uma criação em oposição ao determinismo biológico das relações entre os sexos, atribuindo um caráter social. “O gênero enfatizava igualmente o aspecto relacional das defi nições normativas da feminidade. (...) as mulheres e os homens eram defi nidos em termos recíprocos e não se poderia compreender qualquer um dos sexos por meio de um estudo separado”. Para a autora o termo gênero está ligado às relações que inclui sexo, mas não pode ser defi nido pelo sexo e sexualidade.

Assim, a identifi cação com o gênero é mais complexa, pois se evidencia por meios dos comportamentos, atitudes, impulsos, interesses e atividades que não podem ser limitadas a determinadas características físicas (MATTOS, 2009).

O gênero é uma concepção social e cultural que retrata as expressões e interpretações designadas a cada sexo. É “uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado” (SCOTT, 1995, p.6). Segundo a autora, diante dos estudos referentes ao sexo, sexualidade e gênero. O termo ganhou utilidade para diferenciar “a prática sexual dos papéis sexuais atribuídos às mulheres e aos homens”. Sendo assim, ao analisar a categoria gênero buscava transformar os padrões impostos pelo pensamento tradicional.

Scott (1995) descarta a oposição entre homens e mulheres determinada pelo sexo, estimulando o rompimento das relações de hierarquia, e estabelecendo que as relações de gênero são construções e reproduções da sociedade. A autora esclarece ainda que o sexo é entendido como uma questão biológica, já o gênero são infl uências culturais e históricas. Para Matos (2008), o conceito de gênero é de suma relevância social e tem contribuído nos estudos das ciências sociais.

....através de signifi cados e re-signifi cações produzidos e compartilhados na nova perspectiva analítica e que transversalizam dimensões de classe, etárias, raciais e sexuais, o gênero tem tido o papel fundamental nas ciências humanas de denunciar e desmascarar ainda as estruturas modernas de muita opressão colonial, econômica, geracional, racista e sexista, que operam há séculos em espacialidades (espaço) e temporalidades (tempo) distintas de realidade e condição humanas. (MATOS, 2008, p. 336).

Segundo a autora o gênero como mecanismo de construção teórica e de análise, encon-tra-se em situação privilegiada atualmente, pois a temática é amplamente discutida nas acade-mias e fora delas, ou seja, já é reconhecida. Embora existam conceitos diferenciados e várias

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vertentes teóricas e metodológicas.

Inserção da mulher no mercado de trabalho

O mercado de trabalho brasileiro tem uma nítida divisão por sexo quando se refere a ocupações entre homens e mulheres. E “a determinação com que o sexo masculino e a sociedade vêm reivindicando o papel de provedor, de fato, nada tem de ingênua e altruísta. Serve para garantir a desigualdade entre os seres, seus direitos e deveres, estabelecendo a estrutura hierárquica” (PASSOS, 1999, p.151). Para a autora, na cultura machista da sociedade patriarcal, os homens eram seres inteligentes, capazes e com poder para sustentar a família e ter posição social e respeito.

Denominada de ser sensível, submisso, seu lugar era no lar, a mulher tinha como função ter fi lhos e cuidar deles. Assim a inserção da mulher no mercado de trabalho é um marco histórico, permeado de desigualdade, segmentações, discriminação e preconceito, pois a mulher era objeto de dominação e exploração pelo patriarcado. Sua condição de inferioridade e submissão a transformou em um trabalhador oprimido e passivo que, por um longo período, não teve iniciativa para reivindicar por melhores posições nos postos de trabalho (RAMOS, 2006).

Entretanto, segundo Mendonça (2003), no período de 1940 a 1970, o mercado de trabalho brasileiro passou por um processo de estruturação, tendo como principais características a elevação da taxa de assalariamento formal e a redução do desemprego. “A contribuição mais expressiva da mulher no mercado de trabalho se deu depois da década de 40 com o processo de industrialização, o aumento das siderúrgicas, petrolíferas, química, farmacêutica e automobilística” (SCHLICKMANN; PIZARRO, 2003).

De acordo com a Fundação Carlos Chagas (2007), ao analisar o comportamento da força de trabalho feminina no Brasil nos últimos 30 anos, o que chama a atenção é o vigor e a persistência do seu crescimento. Com um acréscimo de 32 milhões de trabalhadoras entre 1976 e 2007, as mulheres desempenharam um papel muito mais relevante do que os homens no crescimento da população economicamente ativa2.

O crescimento contínuo da inserção da mulher no mercado de trabalho é justifi cado por vários fatores econômicos e culturais, “o avanço da industrialização transformou a estrutura produtiva, a continuidade do processo de urbanização, a queda das taxas de fecundidade proporcionaram um aumento das possibilidades das mulheres encontrarem postos de trabalho na sociedade” (MELO, 2004, p.4).

Segundo a autora todos esses fatores modifi caram o comportamento e os valores so-ciais das mulheres, transformaram a identidade feminina e redefi niram os papéis femininos na sociedade. E essa “nova mulher” se vê interdependente da vida familiar e do trabalho e com seus direitos trabalhistas negados, “as desigualdades que qualifi cam sua inserção produtiva (rendimentos inferiores, direitos previdenciários negados, obstáculos aos planos de ascensão a cargos e chefi a)” (MELO, 2004, p. 4). Dessa forma, verifi ca-se que ainda há discriminação, pre-conceito e diferenciação de gênero e etnia, principalmente no acesso das mulheres aos cargos de comando nas organizações.

Sendo assim, a “atuação da mulher no mercado de trabalho e na sociedade tem sido marcada pela busca de igualdade nas relações de gênero, na participação nos espaços de poder, na realização pessoal e profi ssional” (DIEESE, 2012, p.216). Uma das formas dessa busca pelo reconhecimento e igualdade é através da qualifi cação, uma vez que “a expansão da escolaridade 2 Fundação Carlos Chagas. Banco de dados sobre o trabalho da mulher. Mulheres no Mercado de Trabalho: Grandes números. São Paulo, 2007. Disponível em: https://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie1.php?area=series Acesso em: 24 de julho.

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e o ingresso nas universidades viabilizaram o acesso das mulheres a novas oportunidades de trabalho” (BRUSCHINI e PRUPPIN, 2004, p. 107).

Entretanto, mesmo obtendo nível de escolaridade superior ou igual ao dos homens, os direitos ainda não são os mesmos. Como demonstra a Fundação Carlos Chagas (2007)3, “o nível de ganhos dos brasileiros é reconhecidamente baixo e as mulheres brasileiras - como as mulheres de todo o mundo - ganham ainda menos do que os homens”. Assim, as mulheres en-frentam barreiras e difi culdades no processo de inserção e permanência no mercado de trabalho de forma igualitária. Percebe-se que mesmo a mulher obtendo qualifi cação, a discriminação é latente quando o assunto se refere a questões pessoais, inserção no mercado de trabalho, ocu-pação e remuneração.

METODOLOGIA

A pesquisa é delineada a partir de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa, teve como objetivo analisar a inserção da mulher no mercado de trabalho formal no município de Montes Claros/MG considerando as variáveis, sexo, escolaridade e remuneração, no período temporal dos últimos 10 anos, sendo 2007 a 2016. Quanto aos procedimentos, trata-se de uma pesquisa documental de base estatística e pesquisa bibliográfi ca.

Para análise do mercado de trabalho, as informações foram obtidas na base de dados RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), disponibilizados na internet através do Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho (PDET)4 que tem por objetivo divulgar informações sobre o mercado de trabalho, utilizando diferentes tipos de mídia e atingindo, assim, diferentes grupos de usuários.

A coleta de dados no ano de 2016 justifi ca-se pelo fato de ser a publicação mais recente da base de dados RAIS, na data da realização da pesquisa. Ainda sobre a coleta de dados optou-se por verifi car como se deu a evolução da inserção da mulher no mercado de trabalho formal em Montes Claros – MG e para tanto, foi defi nido um espaço temporal de 10 anos, ou seja, é a apresentada grafi camente à evolução da participação das mulheres no mercado de trabalho formal em Montes Claros no período de 2007 a 2016.

Os dados foram coletados no dia 06 (seis) de julho de 2018, organizados e tabulados em planilhas do software Microsoft Excel e a análise foi feita com base na estatística descritiva pela leitura dos gráfi cos gerados. Para esse artigo foram analisados os dados relativos ao total de vínculos, bem como as variáveis, sexo, escolaridade e remuneração dos trabalhadores formais no município de Montes Claros/MG, no período 2016.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Após a refl exão teórica acerca da inserção das mulheres no mercado de trabalho e das condições às quais eram submetidas no desenvolver de seu trabalho, é importante conhecer a realidade no mercado de trabalho feminino, na região de Montes Claros, Minas Gerais. Para tanto, foram observadas as variáveis: a) sexo; b) escolaridade e c) remuneração de trabalhadores com empregos formais.3 Fundação Carlos Chagas. Banco de dados sobre o trabalho da mulher. Ganhos de Homens, Ganhos de Mulheres. São Paulo, 2007. Disponível em: https://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie8.php?area=series Acesso em: 24 de julho. 2018.4 PROGRAMA DE DISSEMINAÇÃO DAS ESTATÍSTICAS DO TRABALHO/PDET Disponível em: http://pdet.mte.gov.br Acesso em: 06 de julho de 2018.

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A participação das mulheres no mercado de trabalho em Montes Claros - MG

Várias mudanças econômicas e culturais ocorreram no Brasil, e dentre essas mudanças destaca-se a crescente valorização da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho. A inserção das mulheres no mercado de trabalho se dá tanto pelo aumento da taxa de participação feminina, como através do acesso a melhores postos de trabalho, antes reservados aos homens (BAYLÃO; SCHETINNO, 2014).

Sobre a evolução da participação do sexo feminino no mercado de trabalho formal em Montes Claros – MG percebe-se que, embora o mercado seja ainda dominado por trabalhadores do sexo masculino, há uma tendência de crescente inserção das mulheres no trabalho formal, conforme apresenta o Gráfi co 1. Isso confi rma o que Mendonça (2003) observou em relação ao mercado de trabalho brasileiro em que apresentou que a presença feminina vem ganhando espaço. Dados ainda mais recentes apresentados pelo Jornal O Globo de 19 de fevereiro de 2018 mostram que, no Brasil, a participação das mulheres no mercado formal aumentou de 40,85% em 2007 para 44% em 2016, reafi rmando a realidade observada em Montes Claros.

Gráfi co 1 – Evolução da participação das mulheres no mercado de trabalho formal em Montes Claros no período de 2007 a 2016.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Nível de escolaridade e remuneração

Em Montes Claros, no ano de 2016, os homens representam a maioria dos vínculos nas faixas de escolaridade até o ensino médio completo. No entanto, observa-se que a participação das mulheres, no que diz respeito ao emprego formal, apresenta uma tendência de crescimento na medida em que se elevam os níveis de escolaridade. O impacto da educação sobre as mulheres revela que elas têm escolaridade mais elevada do que eles, como se pode verifi car no Gráfi co 2. No que se refere ao ensino superior completo, por exemplo, as mulheres representam 58,87% do total, seguindo a tendência de maior qualifi cação das mulheres para o mercado de trabalho.

Essa mesma tendência é observada no âmbito nacional, em que as mulheres são maioria entre os trabalhadores com ensino superior completo. Dados de 2016 mostram que dos 9,8 milhões de profi ssionais com esse nível de escolaridade e trabalho com carteira assinada em 2016, as mulheres representavam 59%. A discrepância entre os salários permanece. A remuneração média dos homens era

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36% maior que a das mulheres com o mesmo nível de ensino (ensino superior completo). Enquanto os trabalhadores do sexo masculino recebiam R$ 7.537,27, as mulheres recebiam R$ 4.803,77 (O GLOBO, 2018).

Gráfi co 2 - Participação dos trabalhadores por escolaridade e sexo no município de Montes Claros – MG em 2016.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Em Montes Claros – MG, ao analisar as faixas salariais e o percentual de trabalhadores de ambos os sexos, observa-se que somente até um salário mínimo há predominância das mulheres. Em todas as outras faixas, o maior número é de trabalhadores do sexo masculino, sobretudo na faixa salarial mais alta (acima de 20 salários mínimos) em que os homens correspondem a 77,07% do total de trabalhadores formais.

Gráfi co 3 – Gênero do trabalhador X Faixa Salarial no ano de 2016

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Esses resultados corroboram com os indicadores do Brasil, em que as mulheres estão se qualifi cando cada vez mais, apresentam tempo de estudo superior ao dos homens e iniciam, mesmo que a passos lentos, a ocupação de cargos de prestígio, como por exemplo, postos de comando dentro

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das organizações. Mas o que se observa é que as mulheres ainda recebem salários inferiores aos dos homens e permanecem como maioria no mercado informal, nas ocupações precárias e sem remuneração (BRUSCHINI et al., 2011)

Setores de atividade com maior participação feminina

Observando o mercado de trabalho do município de Montes Claros – MG, observa-se que os homens estão em maior número na maioria dos setores da economia, no entanto, no setor de serviços a realidade é diferente. Nesse grande setor, as mulheres representam um percentual de 55,45% do total de vínculos de emprego formal conforme Gráfi co 4. Em relação ao mercado de trabalho brasileiro, há um equilíbrio na participação de homens (52,2%) e mulheres (48,8%) (O GLOBO, 2018), o que diferencia da realidade encontrada no município de Montes Claros.

Percebe-se que a maior diferença de participação por gênero está no setor da construção civil, em que apenas 9,9% do total de 1,9 milhões de trabalhadores desse setor eram mulheres em 2016 (O GLOBO, 2018). Essa realidade é vivenciada também no mercado de trabalho de Montes Claros, pois a participação feminina no setor da construção civil é apenas 7,43%.

Ainda que as mulheres em Montes Claros sejam maioria no setor de serviços e que busquem uma maior participação no mercado formal de trabalho, investindo cada vez mais em qualifi cação, como pode ser observado quando se discutiu a escolaridade, elas ainda continuam enfrentando preconceitos, tais como menores níveis salariais, ocasionados pela desvalorização de sua mão-de-obra, tida como inferior àquela atribuída aos homens.

Gráfi co 4 - Participação dos trabalhadores por setor e sexo no município de Montes Claros – MG em 2016.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados do mercado de trabalho formal obtidos na RAIS – MTE apontam que a reali-dade do município de Montes Claros/MG refl ete o cenário em que o Brasil está inserido já que

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o sexo masculino ainda possui uma predominância na ocupação no que diz respeito ao trabalho formal, embora as mulheres estejam cada vez mais desempenhando papéis além do ambiente doméstico.

A variável remuneração denota uma desigualdade dominante no mercado de trabalho, as mulheres recebem menores salários, mesmo possuindo as mesmas atribuições ou a mesma escolaridade. A análise temporal de 2007 a 2016, apesar de explicitar que as mulheres têm uma evolução crescente na ocupação do mercado de trabalho, mostra que a discriminação da mulher permanece, pois os homens ocupam os cargos com maiores salários.

No entanto, o próprio processo evolutivo sugere possibilidades de mudança nessa con-dição uma vez que, as mulheres já se destacam nos níveis de escolaridade mais altos, sugerindo maior capacitação para atuarem no mercado de trabalho de forma igualitária.

REFERÊNCIAS

BAYLÃO, André Luis da Silva; SCHETTINO, Elisa Mara Oliveira. A inserção da Mulher no Mercado de Trabalho Brasileiro. SEGeT. XI Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnolo-gia, 2014.

BRUSCHINI, Cristina; PUPPIN, Andrea Brandão. Trabalho de mulheres executivas no Brasil no fi nal do século XX. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, vol. 34, nº 121, p. 105-138, jan/abr, 2004.

BRUSCHINI, Cristina; LOMBARDI, Maria Rosa; MERCADO, Cristiano Miglioranza; RICOLDI, Arlene. Trabalho, renda e políticas sociais: avanços e desafi os. In: BARSTED, Leila Linhares; PITANGUY, Jacqueline (Org.) O progresso das mulheres no Brasil 2003- 2010. Rio de Janeiro: CEPIA; Brasília: ONU Mulheres, 2011.http://onumulheres.org.br/wp-content/themes/vibecom_onu/pdfs/progresso.pdf

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. (DIEESE). A Situação do trabalho no Brasil na primeira década dos anos 2000. São Paulo: DIEESE, 2012 disponível em: http://www.dieese.org.br/livro/2012/livroSituacaoTrabalho Brasil.pdf Acesso: 24 de julho de 2018.

FARAH, Marta Ferreira Santos. Gênero e Políticas Públicas. Revista Estudos Feministas. V.12, n.1 2004, p. 47-71.

FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Banco de dados sobre o trabalho da mulher. Ganhos de Homens, Ganhos de Mulheres. São Paulo, 2007. Disponível em: https://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie8.php?area=series Acesso em: 24 de julho. 2018.

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