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8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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A PANE
Uma histria ainda possvel
(1955 1956)
Friedrich Drrenmatt
PRIMEIRA PARTE
Existem ainda, histrias possveis, historias para escritores? Se alg!m
n"o #iser narrar so$re si mesmo, generali%ar se e de maneira
rom&ntica, lrica, se n"o sentir a o$riga'"o de alar de sas esperan'as e
derrotas, com total veracidade, de alar do se modo de deitarse com
mlheres, como se a veracidade transpsesse tdo isso para o &m$ito
geral, e n"o para o plano da *edicina, da +sicologia na melhor das
hipteses, se alg!m n"o #isesse a%er isso, mas antes recar
discreto, edcadamente preservando a esera privada, tendo a trama
diante de si como m escltor tem se material, e nela tra$alhar, nela
se desenvolver, e como ma esp!cie de artista cl-ssico tentar n"o se
desesperar de imediato, ainda #e se.a ineg-vel o pro a$srdo #e por
todos os lados se revela, ent"o o ato de escrever tornase mais dicil e
solit-rio, mais sem sentido tam$!m /ma $oa nota na 0istria da
iteratra n"o interessa ainal, #em ! #e .- n"o ganho ma $oa
nota, #e em$stes .- n"o oram premiados com distin'"o? , as
exig2ncias do momento s"o mais importantes
3o entanto, tam$!m a#i nos vemos diante de m dilema e ma
sita'"o rim no mercado 4 vida oerece pro e simples
entretenimento noite, o cinema7 no .ornal di-rio, a poesia, $em o
mal +or m poco mais nm gesto de generosidade social, .- a partir
de m ranco s'o exigese a alma, coniss8es, veracidade mesmo7
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devese veiclar valores elevados, li'8es de moral, senten'as teis,
algma coisa deve ser sperada o airmada, ora o :ristianismo, ora o
desespero corrente literatra enim
+or!m, e se o ator se recsar a prod%ir tal coisa? E se, cada ve% mais
decidido e o$stinado, certo de #e a ra%"o para sa escrita esta nele
mesmo, em se consciente o inconsciente, dependendo, de caso a
caso, de ma dose de sa cren'a o de sa dvida, mas .lgando
tam$!m #e .stamente iss .- n"o diga respeito ao p$lico, sendo
siciente o #e escreve, conigra, orma, $astando mostrar a
spercie o #e escreve, e s ela, de modo apetitoso, tra$alhandose
somente nela, de resto seria o caso de calar a $oca, sem coment-rios
nem conversa iada? ;endo desco$erto tal coisa, ele h- de gage.ar,
hesitar, icar perplexo
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sem liga'"o com o todo mndo, com o decorrer dos acertos e
desacertos, com o desenrolar das necessidades
@ destino a$andono o palco no #al encenando para icar a espreita
nos $astidores, ora da dramatrgia vigente7 no primeiro plano tdo se
transorma em acidente as doen'as, as crises *esmo a gerra se torna
dependente de os c!re$ros eletrCnicos poderem o n"o prever sa
renta$ilidade +orem, isso nnca acontecer- sa$ese #e, se as
ma#inas calcladoras ncionarem, somente as derrotas ser"o
matematicamente prov-veis7 ai de ns, se ocorrerem rades,
interven'8es proi$idas nos c!re$ros artiiciais *as mesmo isso ! menos
constrangedor #e a possi$ilidade de #e m paraso se aroxe, m
so saia do crso normal, m $ot"o rea.a errado, o im do mndo
casado por m crtocircito t!cnico, ma conex"o maleita 4ssim,
nenhm des mais nos amea'a, nenhma .sti'a, nenhm destino como
na DAinta Sinonia, e sim acidentes de transito, rptras de di#es em
virtde de alha de constr'"o, a explos"o de ma a$rica de $om$as
atCmicas provocada por m ncion-rio de la$oratrio distrado,
chocadeiras malinstaladas F a esse mndo de panes #e leva nosso
caminho, de c.a margem poeirenta, al!m de reclames para cal'ados
=allG, atomveis Stde$aBer, o sorvetes, e l-pides em memria dos
acidentados, resltam ainda algmas histrias possveis 4 hmanidade
olhando a partir de ma cara comm, o a%ar sem #erer se
generali%ando, .lgamento e .sti'a tornandose visveis, talve% a te a
piedade, captada por acaso, reletida pelo monclo de m em$riagado
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SEUNDA PARTE
/m acidente, sem gravidade at!, mas em todo caso ma pane 4lredo
;raps, para cham-lo pelo nome, #e tra$alhava no setor t2xtil,
#arenta e cinco anos, longe de ser gordo, de apar2ncia agrad-vel,
modos satisatrios, em$ora deixando notar m certo adestramento,
deixando transparecer algo de primitivo, de mascate, este nosso
contempor&neo aca$ara de se deslocar com se Stde$aBer por ma
das grandes estradas do pas e .- esperava chegar em ma hora ao local
onde residia, nma cidade maior, #ando o atomvel alho
Simplesmente n"o ando mais - ico, impotente, com a m-#ina
vermelha parada ao sop! de m pe#eno morro, em torno do #al
segia a estrada ondlando 4o norte ormaramse cmlosnim$os, e a
oeste o sol segia alto, #ase no meio da tarde
;raps mo m cigarro e e% ent"o o necess-rio @ mec&nico #e enim
re$oco o Stde$aBer declaro n"o poder reparar a avaria antes da
manh" seginte, deeito na transmiss"o de gasolina Se di%ia mesmo a
verdade, n"o era possvel desco$rir, nem aconselh-vel tentar7 icase
merc2 de mec&nicos como otrora se icava nas m"os dos salteadores
o, antes ainda, dos deses locais e entidades mal!icas Sem &nimo
para percorrer o caminho de meia hora at! a esta'"o mais prxima e
empreender viagem de volta para casa, m tanto complicada em$ora
crta, de voltar para a esposa, ses #atro ilhos, todos meninos, ;raps
decidi pernoitar Eram seis da tarde, a%ia mito calor, o dia mais longo
do ano se aproximando, o povoado em c.a margem icava a oicina,
simp-tico, espalhado contra morros co$ertos pela mata, com ma
pe#ena eleva'"o e sa igre.a, casa paro#ial, em m velhssimo
carvalho provido de an!is de erro e estacas de apoio, tdo decente e
$emeito, at! mesmo os montes de esterco em rente s casas dos
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camponeses cidadosamente empilhados e $em arrmados ;am$!m
havia ma a$ri#inha pelas redonde%as, e v-rios $ote#ins e
estalagens rrais #e ;raps .- ovira diversas ve%es elogiarem7 mas
todos os #artos estavam reservados, m congresso de +ropriet-rios de
+e#enos 4nimais de :ria'"o exigira para si todas as camas, e o
caixeirovia.ante oi encaminhado a ma mans"o onde di%iam #e ve%
por otra rece$iam pessoas ;raps hesito 4inda era possvel voltar
para casa de trem *as, a esperan'a de viver algma aventra o atrai7
s ve%es havia garotas nos povoados, como recentemente em
Hrois$iestringen, #e os caixeirosvia.antes do ramo t2xtil sa$iam
apreciar Ieeito, ele tomo, ainal, o caminho #e levava a mans"o Ja
igre.a vinha o $adalar dos sinos Kacas trotavam em dire'"o a ele,
mgiam 4 casa de campo, asso$radada, icava em meio a m .ardim
$em amplo, persianas verdes, co$ertas at! a metade por ar$stos, aias
e pinheiros7 em dire'"o ra, lores, so$retdo rosas, m homen%inho
de idade avan'ada com avental de coro amarrado, provavelmente o
dono da casa exectando pe#enos tra$alhos de .ardinagem
;raps apresentose e pedi alo.amento
- Aal sa proiss"o? pergnto o velho, #e chegara a cerca,
mando m =rissago e poca coisa mais alto #e o port"o do
.ardim
- ;ra$alho no ramo t2xtil
@ velho examino ;raps atentamente, olhando por cima dos clos sem
aro maneira de m hipermetrope
- :laro, a#i o cavalheiro pode pernoitar
;raps #is sa$er o pre'o @ velho declaro #e n"o costmava co$rar
nada por a#ilo, #e vivia s, se ilho estava nos Estados /nidos, ma
governanta era #em cidava dele, mademoiselle Simone Ent"o ele se
alegrava de poder a$rigar m hspede de tempos em tempos
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@ caixeirovia.ante de tecidos agradece Estava tocado pela
hospitalidade e o$servo #e os sos e costmes das gera'8es passadas
ainda n"o haviam parecido @ port"o do .ardim oi a$erto ;raps olho
em torno de si :aminhos de cascalho, grama, grandes por'8es de
som$ra, pontos $em ensolarados
Estava agardando algns senhores a#ela noite, explicolhe o velho
#ando chegaram s lores e pCsse a aparar cidadosamente o roseiral
Kiriam amigos #e moravam na vi%inhan'a, algns do povoado, otros
de mais longe, dos lados do morro, aposentados como ele prprio,
atrados pelo clima ameno e por#e ali n"o se sentiam os eeitos do
>LhnM, todos solit-rios, vivos, -vidos por algo novo, resco, vvido, de
tal modo #e era m pra%er para ele poder convidar o senhor ;raps para
o .antar e a tertlia #e viria em segida
@ caixeirovia.ante detevese atCnito Ele na verdade #isera comer no
povoado, na t"o conhecida estalagem rral7 s #e n"o oso recsar o
convite Sentise comprometido 4ceitara o convite para pernoitar
gratitamente, n"o #eria parecer m homem maledcado da cidade
4ssim tento demonstrar contentamento @ dono da casa cond%io ao
andar de cima
/m #arto agrad-vel avatrio com -ga corrente, ma cama larga,
mesa, poltrona conort-vel, ma $an#eta encostada parede, velhos
volmes com capa de coro na prateleira de livros @ caixeirovia.ante
a$ri sa malinha, lavose, $ar$eose, envolvese nma nvem de
-gadecolCnia, oi .anela, acende m cigarro @ sol era m grande
disco a escorregar morro a$aixo, $rilhando so$re as aias Ele de ma
passada de olhos so$re os negcios eitos no dia, a pedido da Iotacher
S4, nada ma, as diicldades com o senhor Nildhol%, ele #eria cinco
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por cento, rapa%, rapa%, ele ainda o arrinaria E ent"o srgiram
lem$ran'as :oisas cotidianas, desconexas, m adlt!rio plane.ado no
0otel ;oring, se devia mesmo comprar m tren%inho el!trico para o
ilho mais novo (o #e ele mais amava)7 por edca'"o, na verdade por
o$riga'"o, ligar para a esposa dando noticia de sa perman2ncia or'ada
na#ele lgar +or!m, deixo isso de lado :omo .- era $em de
costme Ela estava ha$itada com a#ilo e de todo modo n"o
acreditaria mesmo nele Ele $oce.o e permitise mar mais m
cigarro >ico o$servando como vinham marchando pelo caminho de
cascalho tr2s cavalheiros de idade, dois deles a$ra'ados, mais atr-s m
gordo, careca :mprimentos em vo% alta, cmprimentos de m"o,
a$ra'os, conversas so$re rosas ;raps reco da .anela, oi a prateleira
de livros +elos ttlos, poderia esperar ma noite entediante
0ot%endor, O homicdio e a pena de morte, SavignG, Sistema do direito
romano nos dias de hoje, Ernest Javid 0Llle, A prtica do
interrogatrio. @ caixeirovia.ante vi claramente o senhor #e o
hospedava era .rista, provavelmente m exadvogado :ome'o a
preparar o esprito para discss"o complicadas o #e ! #e m
homem t"o estdado entendia de vida real? 4s leis eram $em a prova
disso ;am$!m dava para temer #e viessem a alar de arte o coisa
semelhante, a ele acilmente passaria vergonha Enim, se n"o havia de
estar no meio de ma $atalha comercial, estaria a par das coisas de
nvel mais elevado 4ssim, desce ela ainal, sem vontade, para a
varanda a$erta e ainda ilminada pelo sol, onde os otros haviam se
instalado, en#anto a governanta, ma igra ro$sta, co$ria a mesa da
sala de .antar ali ao lado *as ele estaco ao ver o grpo #e o
agardava 4legrose de ter sido o dono da casa o primeiro a vir em
sa dire'"o, agora #ase emperi#itado, os escassos ca$elos
cidadosamente escovados, vestindo m casac"o longo demais ;raps
oi rece$ido com $oasvindas :om m $reve discrso 4ssim pode
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esconder sa admira'"o, mrmro #e a#ilo o enchia de alegria, e%
m movimento rio e distante de reverencia, e%se de grande
especialista em tecidos e penso, melanclico, #e icara ainal na#ele
povoado para arran.ar algma garota +lano racassado Kiase diante
de tr2s anci"os, #e n"o icavam nada atr-s do tipo es#isit"o, o dono
da casa :omo imensos corvos, eles enchiam a#ele espa'o de ver"o
com os mveis de vime e cortinas $em are.adas Eram vetstos,
enxovalhados e desleixados, ainda #e ses cassa'8es mostrassem ser
da melhor #alidade, como ele logo constatara
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- Sim, sim, por avor responde ;raps, e acomodose nma
poltrona, en#anto o comprido magricela o olhava interessado
atrav!s do monclo
- @ senhor ;raps vai participar de nosso .oginho, n"o vai?
- *as ! claroU ogos me divertem
@s velhos senhores sorriram, $alan'ando a ca$e'a
- 3osso .ogo ! m tanto singlar, talve% inormo o anitri"o
catelosamente, #ase hesitando, para #e se pensasse $em V
+assamos a noite encenando nossas velhas proiss8es
- @s anci"os sorriram de novo, edcadamente, discretos
;raps admirose :omo deveria entender a#ilo?
- @ra preciso o anitri"o , no passado e i .i%, o senhor Torn
oi promotor p$lico7 e o senhor Pmmer, advogado7 ent"o ns
encenamos m tri$nal
- @h, sim compreende ;raps e acho a id!ia aceit-vel ;alve%
noite nem estivesse mesmo perdida
@ anitri"o encaro o caixeirovia.ante de modo estivo Je modo geral,
comento ele com vo% save, tratavam dos processos #e haviam se
cele$ri%ado na 0istria, o +rocesso Scrates, o +rocesso ess, o
+rocesso oana JW4rc, o +rocesso JreGs, mais recentemente o
inc2ndio do Ieichstag, sede do parlamento alem"o, e certa ve% at!
>rederico o Hrande teria sido declarado inimpt-vel
;raps espantose
-
E isso voc2s encenam toda noite?@ .i% e% #e sim *as claro #e o melhor, contino explicando, era
#ando podiam encenar so$re material vivo, o #e com re#X2ncia
resltava em sita'8es particlarmente interessantes7 ainda dois dias
antes, por exemplo, m parlamentar #e havia eito discrso eleitoral no
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povoado e perdera o ltimo trem ora condenado a cator%e anos de
recls"o por chantagem e corrp'"o
- /m tri$nal severo concli ;raps animado
- Aest"o de honra declararam os anci"os radiantes
E #e papel deveria ele assmir?
3ovos sorrisos, #ase risadas
@ .i%, o promotor e o deensor eles .- possam, eram ademais postos
#e presspnham o conhecimento da mat!ria e das regras do .ogo,
explico o anitri"o7 s o posto de m r! estaria vago, mas claro #e o
senhor ;raps n"o era o$rigado, de modo algm, a participar do .ogo,
isso ele #eria mais ma ve% enati%ar
@ propsito dos velhos senhores animo o caixeirovia.ante de tecidos
Y noite esta salva 3"o cairia em erdi'"o nem seria entediante,
prometia tornarse divertida Ele era m homem simples, sem grande
capacidade intelectal e inclina'"o para a#ela atividade, m homem do
ramo comercial, cale.ado, era inevit-vel, ele #e no se ramo entrava de
ca$e'a, #e gostava de comer e $e$er $em e sentia ma #eda por
divers8es ortes Jisse #e sim, participaria do .ogo, seria ma honra
ele assmir o posto de r! #e icara vago
- =ravoU gralho o promotor e $ate palmas V =ravoU
- /m ponto importante responde o promotor p$lico, en#anto
limpava se monclo V /m crime ! algo #e sempre pode se
achar
;odos riram
@ senhor Pmmer levantose
- Kenha, Sr ;raps disse nm tom #ase paternal V 4inal, ainda
#eremos provar o vinho do +orto #e resta por a#i7 !
envelhecido, o senhor tem #e conhecelo
:ond%i o senhor ;raps at! a sala de .antar 4 grande mesa redonda
estava agora posta como #e para ma grande esta :adeiras antigas
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com espaldar alto, #adros escros nas paredes, ora de moda, tdo
$em maci'o, da varanda vinha conversa despreocpada dos anci"os,
atrav!s das .anelas a$ertas cintilava o $rilho da noite, chegava o trinado
dos p-ssaros, e so$ ma mesinha havia garraas, otras ainda so$re a
lareira, os =ordeax acondicionados em cestinhas @ advogado de
deesa despe.o em das pe#enas ta'as, cidadosamente e m tanto
tr2mlo, o vinho do +orto de ma velha garraa7 encheas at! a $orda,
e% m $rinde sade do caixeirovia.ante, com mito cidado, #ase
n"o deixando #e se tocassem as das ta'as com o precioso li#ido
;raps provoo D*agnicoU Elogio
- So se advogado de deesa, senhor ;raps disse o senhor
Pmmer
- Ent"o, #e se $rinde entre ns D4 ma $oa ami%ade
- 4 ma $oa ami%adeU
@ melhor a a%er, explico o advogado, e com o rosto vermelho, o nari%
de $e$err"o e se pincen2 chego mais perto de ;raps, de modo #e
sa $arriga imensa o toco, ma massa mole e desagrad-vel, o melhor
era #e o cavalheiro lhe coniasse logo #e crime havia cometido S
assim ele podia garantir scesso no tri$nal Se a sita'"o n"o oerecia
perigo, por otro lado n"o se podia menospre%ar o ato de #e o
comprido e magricela, o promotor p$lico, ainda em posse de sas
acldades intelectais, era alg!m terrvel7 e, al!m disso, o anitri"o
ineli%mente tendia para o rigor e talve% at! mesmo para a aeta'"o, o
#e com a idade ele tinha QO anos devia ter se intensiicado Je
todo modo, por!m, este advogado de deesa lograra vencer a maioria
dos casos, o pelo menos havia evitado #e acontecesse o pior S ma
ve%, nm caso de latrocnio, n"o lhe ora possvel, de ato, salvar nada
*as m latrocnio n"o era o #e estava em #est"o ali, pelo menos #e
ele podia spor no Sr ;raps o era?
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inoc2ncia, e o resltado ! arrasador @ senhor perde onde poderia
ganhar e a ica o$rigado a aceitar a clpa #e lhe est"o
impingindo, n"o tem mais a permiss"o de escolhela
@ caixeirovia.ante $alan'o os om$ros divertindose com a#ilo7 ele
lamentava n"o poder servir, mas n"o tinha consci2ncia de nenhm delito
#e o psesse em conlito com a lei, assegro
@ advogado de deesa recoloco o pincen2 :om ;raps ia ter de se
esor'ar, a coisa ia pegar, ele ico pensativo
- *as, principalmente concli a conerencia relita so$re cada
palavra, n"o saia matra#eando #al#er coisa, caso contr-rio o
senhor se ver- de repente condenado a longos anos de deten'"o,
sem #e se possa a%er algo para a.dalo
Ent"o chegaram os demais Sentaramse todos em torno da mesa
redonda /m agrad-vel grpo renido, grace.os +rimeiramente oram
servidas dierentes entradas, rios, ovos com maionese, moda rssa,
escargots, sopa de tartarga @ estado de esprito era excelente,
davamse colheradas animadas, sorviam alto, sem cerimCnia
- E ent"o, o #e o senhor r! tem a nos apresentar? Espero #e m
$elo, m importantssimo assassinato gralho o promotor
p$lico
@ advogado de deesa protesto
- *e cliente ! m r! sem crime7 ma raridade na .sti'a, por
assim di%er Harante ser inocente
-
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@ caixeirovia.ante de tecidos, o representante geral, como agora
podemos di%er, pCsse a cortar despreocpado m $eesteaB tartar,
gote.o lim"o por cima, sa receita, m tanto de conha#e, p-prica e
sal 3nca ma comida lhe parecera mais agrad-vel, exltose com
a#ilo, ele sempre considerara as noites no Schlaraia\ o #e havia de
mais divertido para gente como ele, mas essa tertlia parecia lhe
prometer divers"o ainda maior
- 4rr-U conirmo o promotor V @ senhor ! scio do Schlaraia\
Ae apelido o senhor sa l-?
- *ar#es de :asanova
- ]timoU gralho contente o promotor, como se a novidade tivesse
import&ncia, o monclo novamente encaixado V F m pra%er
para todos ns ovir isso +odese aplicar o apelido sa vida
privada, carssimo?
- >i#e atento silvolhe o advogado de deesa
- :aro senhor responde ;raps , s em algmas circnstancias
Aando acontece entre mim e otras mlheres algo extracon.gal
e mesmo assim apenas casalmente e sem am$i'8es
Ae o senhor ;raps tivesse a $ondade de por o circlo ali renido a par
de sa vida, em $reves pinceladas, oi o #e pedi o .i% en#anto se
servia do 3ech&teller - #e haviam decidido colocar o convidado e
pecador diante do tri$nal e talve% meterlhe anos e anos de pena, era
mais do #e indicado #e o conhecessem melhor e tomassem ci2ncia de
coisas particlares, intimas, historias com mlheres, se possvel $em
temperadas com sal e pimenta
- :ontaU :ontaU exigiram do representante geral os velhos
senhores aos risinhos :erta ve% haviam tido mesa m caet"o
#e lhes contara as coisas mais eletri%antes e picantes de se
mtiere, com tdo a#ilo, sarase com apenas #atro anos de
deten'"o
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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- @ra, ora ri ;raps tam$!m , o #e tenho para contar de mim?
evo ma vida cotidiana, mes senhores /ma vida comm a'o
#est"o de conessar desde .- @lhando nos olhos, $rindemos
- =rindemosU
@ representante geral erge sa ta'a, e emocionado ixose nos olhos
vidrados, como de p-ssaros, dos #atro velhos, #e nele se prenderam
como se mirassem ma igaria especial7 ent"o $rindaramse com as
ta'as
- ora o sol inalmente se psera e mesmo o alarido inernal dos
p-ssaros se calara7 mas a paisagem continava ali l% do dia, os
.ardins e os telhados vermelhos entre as -rvores, o morro co$erto de
mata e, ao longe, os primeiros montes e algmas geleiras, atmosera de
pa%, tran#Xilidade de ma regi"o rral, sensa'"o estiva de elicidade,
$en'"o divina e harmonia csmica
;ivera ma dra .ventde, conto ;raps en#anto Simone trocava os
pratos e pnha mesa ma enorme terrina megante
Champignons la crme
Se pai ora oper-rio de -$rica, m prolet-rio #e cara nas dotrinas
e#ivocadas de *arx e Engels, m homem amargrado, sem alegrias,
#e nnca cidara de se nico ilho7 a m"e, lavadeira, mrchara mito
cedo
- S a escola prim-ria e pde re#Xentar S a escola prim-ria
conirmo, l-grimas nos olhos, amargo e emocionado ao mesmo
tempo pelo se passado miser-vel, en#anto se $rindavam com
m I!serve des *ar!chax
- :rioso disse o promotor , crioso S- a escola prim-ria *as
consegi crescer pelas prprias or'as, ilstrssimo senhor
- stamente vangloriose ;raps, aogeado pelo *ar!chax,
em$alado pela a-vel companhia dos otros, por a#ele mndo
divino, em esta, atrav!s das .anelas F .stamente isso #e e
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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#ero di%er 0- de% anos e era m mero mascate, e is com ma
maleta $ater de porta em porta ;ra$alho pesado, caminhadas,
noites passadas so$re montes de eno, al$erges poco
coni-veis :omecei de $aixo no me ramo, $em de $aixo E
agora, mes senhores, se vissem minha conta $anc-riaU 3"o !
#e e #eira me ga$ar, mas alg!m a tem m Stde$aBer?
- Se.a cidadoso sssrrolhe o advogado de deesa,
preocpado
- E como acontece isso? #is sa$er o promotor, crioso
Ele devia icar atento e n"o alar demais, adverti o advogado de
deesa
4ssmira a n'"o de representante exclsivo do 0eesto no continente,
anncio ;raps, e olho par os lados, trinante Somente a Espanha e a
regi"o dos =-lc"s estavam em otras m"os
- 0eesto oi m des grego comento em meio a risadinhas o
pe#eno .i%, en#anto amontoava champignons no prato
0eesto, verdadeiramente m grande artes"o, #e captro a
desa do amor e se amante, o des 4res, nma rede inssima e
invisvel, a%endo com #e os otros deses se divertissem at!
n"o poder mais +or!m, o #e seria essa 0eestos, c.a
representa'"o comercial o pre%ado ;raps assmi com
exclsividade ainda me parece envolto nm v! de dvidas
- *as o senhor chego perto, pre%ado anitri"o e .i% ri ;raps
@ senhor mesmo est- di%endo m v! E esse des grego #e
desconhe'o e de nome #ase igal ao do me artigo teria tramado
ma rede $em ina e invisvel Se ho.e existem o nylon, operlone
o myrlon, tecidos sint!ticos dos #ais o respeita$ilssimo tri$nal
certamente .- ovi alar, tam$!m existe o 0eestos, o rei dos
tecidos sint!ticos, irrompvel, transparente, al!m de ser ma
$2n'"o at! para rem-ticos, pode ser sado tanto na indstria
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como na moda, em tempos de gerra o tempos de pa% @ tecido
pereito para gardachvas e ao mesmo tempo a mat!ria mais
encantadora para camisolas de $elssimas damas >alo com
conhecimento de casa
- @'am, o'amU grasnaram os anci"os :onhecimento de
casa, essa ! $oaU E Simone trocava de novo a mesa, agora
tra%endo m assado de rins de vitela
- /m $an#ete extasiose o representante geral
- 4legrame disse o promotor p$lico #e o senhor sai$a
valori%ar algo assim E com ra%"oU *ercadoria da melhor #alidade
est- sendo posta diante de ns e em por'8es sicientes, m
men como no s!clo passado, #ando as pessoas ainda osavam
comer ovemos SimoneU ovemos nosso anitri"oU F ele mesmo
#em os compra, velho gnomo e gourmet, e #anto aos vinhos,
deles ! +ilet #em cida, ele #e ! dono de posada no pe#eno
povoado vi%inho ovemos +ilet tam$!mU *as onde oi #e
paramos mesmo, $ravo senhor? :ontinemos investigando se
caso Sa vida .- conhecemos >oi m pra%er ter ma pe#ena
vis"o7 e tam$!m #anto a sas atividades proissionais est- tdo
claro S m ponto irrelevante ainda n"o est- esclarecido como o
senhor chego a m posto t"o lcrativo? 4penas pelo ainco, por
ma energia de erro
- >i#e atento si$ilo o advogado de deesa 4gora est- icando
perigoso
4 coisa n"o havia sido t"o -cil, responde ;raps e o$servo co$i'oso
como o .i% come'ava a trinchar o assado +rimeiro tivera de vencer
HGgax, o #e ora m tra$alho -rdo
- @ps, e o senhor HGgax, #em ! esse, ainal de contas?
- *e exchee,
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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- Ele teve de ser aastado, para icarmos no tom rde do me ramo
responde ;ranps e acrescento molho a se prato, :avalheiro,
os senhores h"o de sportar minhas palavras sinceras F dro, na
vida comercial, n"o a'a aos otros o #e n"o #er #e a'am a
voc2, #em tenta ser m gentleman, pois n"o, est- morto Hanho
dinheiro como capim, mas tam$!m tra$alho como de% eleantes,
todo dia giro mes seiscentos #ilCmetros com o Stde$aBer Je
modo #e a$soltamente .sto e n"o i, #ando oi o caso de
mostrar os dentes e avan'ar so$re HGgax7 mas e tinha de
progredir 3egcio ! negcio, ora $olas
- @ promotor p$lico, crioso, levanto os olhos de se assado de
rim de vitela
- Jespachar, mostrar os dentes e avan'ar s"o mas express8es
$em maldosas, caro ;raps
@ representante geral ri
- Ae o senhor as entenda em sentido em sentido igrado, claro
- @ senhor HGgax vai $em, pre%adssimo?
- *orre no ano passado
- Est- malco? si$ilolhe nervoso o advogado de deesa @
senhor deve ter enlo#ecido de ve%U
- 4no passado lamento o promotor Sinto mito mesmo E
#antos anos tinha?
- :in#Xenta e dois
- 3a lor da idade E morre de #2?
-
Je ma doen'a #al#er- Jepois de o senhor rece$er o posto dele na empresa?
- +oco tempo antes
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- *ito $em, n"o preciso sa$er mais nada, por en#anto disse o
promotor Sorte, temos sorte /m morto est- desenterrado, e
isso ! o principal
;odos riram 4t! +ilet, o careca, concentrando no #e comia, cheio de
aeta'"o, irme, engolindo por'8es imensas, levanto os olhos
- Excelente comento e aliso o $igode negro
Ent"o se calo e contino a comer
@ promotor p$lico erge sa ta'a estivamente
- *es senhores, para $rindar esta desco$erta, degstemos o
+ichonongeville 199[ /m $om =ordeax para m $om .ogoU
=rindaram novamente e $e$eram sade de todos
- Ae coisa, mes senhoresU espantose o representante geral,
esva%iando o +ichon em m s gole e estendendo a ta'a para o
.i% Ae sa$or espl2ndidoU
:hegara o crepsclo mal se podiam reconhecer os rostos dos homens
ali renidos +odiamse imaginar as primeiras estrelas nas .anelas, e a
governanta acende tr2s grandes e pesados candela$ros, #e
pro.etaram nas paredes a partir da som$ra da imagem da mesa
renida algo como o maravilhoso c-lice de ma lor ant-stica
4tmosera de aconchego, conorto, simpatia por todos os lados,
aroxamento dos modos, dos costmes
- :omo no conto da carochinha admirose ;raps
@ advogado de deesa limpo com o gardanapo o sor da testa
- @ conto da carochinha, caro ;raps, ! o senhor disse 3nca
encontrei m r! #e desse declara'8es t"o imprdentes com
maior pa% de esprito
;raps ri
- Sem medo, caro vi%inhoU 4ssim #e come'ar o interrogatrio, me
controlo e n"o perco a ca$e'a
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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Sil2ncio mortal na sala, como .- acontecera 3enhm mastigar o sorver
ridoso
- Se ineli%U sspiro o advogado de deesa @ #e o senhor
#er di%er com Dassim #e come'ar o interrogatrio?
- =em disse o representante geral en#anto .ntava salada no
prato , por m acaso ele .- come'o?
@s anci"os riramse satiseitos, olharamse divertidos, maliciosos, e
inalmente desataram em ortes risos, com $erros de pra%er
@ tacitrno e tran#Xilo careca, -s risadinhas, disse
- Ele n"o perce$eU Ele n"o perce$eU
;raps paro, atCnito, a#ela anima'"o inantil lhe parece estranha
/ma impress"o #e certamente haveria de se dissipar logo Ent"o pCs
se a rir .ntos
- *es senhores, perd"o comento , mas e imaginava m .ogo
mais cerimonioso, cheio de dignidade, mais ormal, mais como
nm tri$nal
- :arssimo senhor ;raps esclarecelhe o .i% , sa isionomia
consternada ! impag-vel 3osso modo de cond%ir o tri$nal lhe
parece estranho, animado demais, pelo #e ve.o *as ! #e ns,
nesta mesa, valoroso senhor, somos aposentados e nos li$ertamos
da imensid"o desnecess-ria de rmlas, protocolos,
escrevinha'8es, leis e toda a paraern-lia #e costma lotar
nossos tri$nais >a%emos nossos .lgamentos sem considerar os
miser-veis cdigos de leis e ses par-graos
- :ora.osos replico ;raps, com a lnga .- meio pesada
:ora.osos *es senhores, isso me impressiona Sem par-graos,
! ma id!ia osada
@ advogado de deesa levantose, ata$alhoado
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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passeio%inho revigorante e de m cigarro, e ele convidava o senhor
;raps a acompanh-lo
Saram da varanda para a noite a$erta #e inalmente cara, #ente e
ma.estosa Jas .anelas da sala de .antar viamse os ios de lanternas
so$re o gramado, #e se estendiam at! os canteiros de rosas @ c!
estrelado, sem la, e as -rvores ergiamse ali como ma massa
escra, e mal se podiam adivinhar os caminhos de cascalho entre elas,
por onde eles agora caminhavam 0aviam se a$ra'ado 4m$os estavam
pesados pelo vinho tomado, cam$aleavam e $alan'avam ve% por otra,
a%endo esor'o para andar $em eretos7 e mavam cigarros,
+arisiennes, pontos vermelhos na escrid"o
- *e Jes resolego ;raps , #e arra a#ilo l- dentroU E
aponto para as .anelas ilminadas, onde aca$ara de se mostrar a
silheta massda da governanta 4 coisa est- divertida, divertida
mesmo
- :aro amigo disse cam$aleante o advogado de deesa, apoiando
se em ;raps , antes de voltarmos e atacarmos o rango, deixeme
dirigirlhe ma palavra, ma palavra s!ria, #e o senhor deveria
considerar com carinho Simpati%o com o senhor, .ovem amigo,
tenho carinho pelo senhor, #ero lhe alar como se osse se pai
ns estamos em vias de perder completamente nosso processo
- Ae a%ar responde o representante geral, e oi giando o
advogado de deesa ao longo do caminho de cascalho,
contornando a grande massa negra e es!rica de m ar$sto
Ent"o chegaram a m lago, divisaram m $anco de pedra,
sentaramse Estrelas se espelhavam na -ga, do ch"o s$ia ma
aragem Jo povoado vinham os sons de gaitas e cantos, agora
tam$!m se podia ovir o som de ma trompa dos 4lpes, a
4ssocia'"o dos +ropriet-rios de +e#enos 4nimais de :ria'"o
estava em esta
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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- @ senhor tem de se conter advertilhe o advogado de deesa @
inimigo tomo grandes $alartes7 por sa tagarelice incontrol-vel,
eis #e srgi desnecessariamente, o inado HGgax, ma amea'a
poderosa ;do isso ! mito rim, m deensor inexperientes teria
#e entregar as prprias armas7 mas com tenacidade,
aproveitandose de todas as chances e, principalmente, com toda
a catela e disciplina de sa parte, Sr ;raps, ainda poderei salvar
algo consider-vel
;raps ri 4#ilo era m .ogo de sal"o dos mais estranhos, constato
;inha de tocar no assnto na prxima reni"o do Schlaraia
- 3"o ! mesmo? Kirese de novo Esto al#e$rado, caro amigo,
depois de rennciar a me cargo e de repente ;er de ga%ar minha
velhice sem ocpa'"o, sem minha velha proiss"o neste povoado
4inal, o #e acontece por a#i? 3ada, s deixamos de respirar o
a$aado >Lhn, e ! tdo :lima sad-vel? Iidclo, se n"o se tem
ocpa'"o intelectal @ promotor p$lico estava mori$ndo7
#anto a nosso anitri"o, achavase #e soria de c&ncer no
estCmago7 +ilet soria de dia$etes e em mim era a press"o
sangXnea #e casava preocpa'8es 4#ele era o resltado
/ma vida de c"o Je ve% em #ando nos sent-vamos .ntos,
tristes, para alar sadosos de nossas antigas proiss8es e
scessos, nossa nica msera alegria 4 o promotor teve a id!ia
de introd%ir o .ogo, o .i% pCs sa casa e e minha ortna
disposi'"o $em, so m solteir"o e, como advogado da elite
m-xima por d!cadas a ia, .ntamse ns $ons trocados, me
caro F #ase inacredit-vel como m salteador das altas inan'as
a$solvido recompensa esplendidamente se advogado de deesa7
$eira o desperdcio E tornose nosso onte da .ventde, esse
.ogo7 os hormCnios, os estCmagos, os p&ncreas voltaram a icar
em ordem, desaparece o t!dio, reapareceram energia, mocidade,
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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elasticidade e apetite Ke.a o senhor mesmo e, apesar da
$arriga, e% algns exerccios de gin-stica, como ;raps pCde notar
sem mita nitide% na escrid"o
- ogamos com os hspedes do .i%, #e representam nossos r!s
prossegi o advogado de deesa depois de se sentar novamente
@ra com mascates, ora com via.antes em !rias, e dois meses
atr-s pdemos at! condenar m general alem"o a vinte anos de
deten'"o :hego a#i en#anto cr%ava o lgar nma caminhada
com a esposa e s minha arte pCde salv-lo da orca
- *agnica essa prod'"oU admirose ;raps *as essa coisa da
orca n"o pode ser verdade 4 o senhor est- exagerando m
po#inho, pre%ado promotor, ainal a pena de morte est- a$olida
- 3a .sti'a do Estado corrigilhe o advogado de deesa *as
ns a#i lidamos com ma .sti'a particlar e a reintrod%irmos F
.stamente a possi$ilidade de pena de morte #e deixa nosso .ogo
t"o eletri%ante e sui generis
- Ent"o voc2s devem ;er m carrasco tam$!m, n"o? ri ;raps
- :laro responde positivamente o advogado de deesa, orglhoso
, tam$!m temos +ilet
- +ilet?
- Srpreso, n"o?
- ;raps tomo v-rios goles
- *as ele ! dono de posada e cida dos vinhos #e estamos
tomando
-
Estala.adeiro ele sempre oi rise satiseito o advogado dedeesa Exercia sa atividade p$lica apenas como proiss"o
paralela Aase como honor-rio Era m dos mais ha$ilidosos em
sa -rea no povoado vi%inho e, em$ora .- este.a aposentado h-
vinte anos, contina m mestre em sa artes
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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/m atomvel passo pela ra e l% de ses aris ilminose a
ma'a dos cigarros +or segndos, ;raps vi tam$!m o advogado de
deesa, a igra descomnal no casac"o engordrado, o rosto gordo,
satiseito, $onach"o ;raps estremece /m sor rio srgi em sa
testa
- +ilet
@ advogado de deesa paro espantado
Ei, mas o #e h- com voc2 ainal, me $om ;raps? +erce$o #e est-
tremendo 3"o est- passando $em?
Ele vi diante de si o careca, #e na verdade at! ali se $an#eteara em
estado de torpor7 era m atrevimento comer com m tipo da#eles *as
o #e podia a%er o po$re s.eito com sa proiss"o? 4 noite amena de
ver"o, o vinho ainda mais delicado tornavam ;raps hmano, tolerante,
sem preconceitos Ele era ainal de contas m homem #e mito vira e
$em conhecia o mndo, sem $eatice nem ilistesmo, n"o, m
especialista de primeira no ramo t2xtil +arece mesmo a ;raps agora
#e sem m carrasco a#ela noite seria menos divertida e pra%erosa, e
logo se alegro com a id!ia de em $reve poder contar tdo no
Schlaraia, para onde segramente tam$!m poderiam chamar o
carrasco, mediante algns honor-rios e co$rindo cstos +or im , ele ri
li$ertado
- Koc2s me pegaramU >i#ei com medoU @ .ogo est- icando cada
ve% mais divertido
- Sem segredos entre ns disse o advogado de deesa aps se
levantarem dandose os $ra'os para, oscados pela l% das
.anelas, andarem apalpando o caminho de volta casa :omo o
senhor mato HGgax?
- +or acaso o matei?
- =em, se ele est- morto
- *as e n"o o matei
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caso, teramos de nos preparar par ma acsa'"o por homicdio
+osso apostar #e o promotor est- indo nessa dire'"o ;enho c-
minhas sposi'8es :onhe'o o mo'o
;raps sacdi a ca$e'a
- *e caro senhor deensor disse , a gra'a especial desse nosso
.ogo ! se me permite, como iniciante e totalmente sem
par&metros #e so, expressar minha opini"o #e ele
amedronte e case estranhe%a em alg!m @ .ogo amea'a tornar
se realidade Je repente, alg!m se pergnta se ainal ! m
criminoso o n"o, se haveria matado o velho HGgax o n"o
Se discrso #ase me caso ma vertigem E, por isso, sem segredos
entre ns so inocente na morte do velho g&ngster Je verdade
:om isso, entraram de volta sala de .antar, onde o rango .- ora
servido e m :h&tea +avie 19R1 cintilava nas ta'as
;raps, $emhmorado, dirigise ao s!rio e tacitrno careca e aperto
lhe a m"o Jisselhe #e so$era, pelo advogado de deesa, de sa
proiss"o de otrora, #e #eria enati%ar n"o poder haver nada mais
agrad-vel do #e ;er mesa m homem t"o valoroso7 airmolhe #e
n"o tinha preconceitos pelo contr-rio E +ilet, alisando o $igode
tingido, mrmro enr$escido, m tanto envergonhado e nm dialeto
pavoroso
- F m pra%er, ! m pra%er, vo me esor'ar
4ps essa comovente conraterni%a'"o, tam$!m o rango apetecelhes
enormemente >ora preparado segndo ma receita secreta de Simone,
anncio o .i% *astigando ridosamente, comiam com as m"os,
elogiavam a o$raprima, $e$iam, $rindavam sa sade de #al#er
m, lam$iam o molho escorrido nos dedos, sentiamse $em, e com todo
o conorto processo segi adiante @ promotor, com m gardanapo
em volta do pesco'o e o rango diante da $oca #e a%ia m $ico e dava
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mastigados ridosas, esperava #e lhe servissem ma coniss"o para
acompanhar a ave
- F certo, carssimo e honora$ilssimo r!, #e o senhor enveneno
HGgax
- 3"o ri ;raps , nada disso
- =em, digamos atiro nele?
- ;am$!m n"o
- +reparolhe secretamente m acidente de atomvel?
Iiso geral, e o advogado de deesa si$ilo mais ma ve%
- +reste aten'"o, isso ! ma armadilhaU
- 4%ar, senhor promotor, pro a%arU exclamo ;raps excitado
HGgax morre de inarto, e n"o oi o primeiro #e ele sore
4lgns anos antes .- o haviam alertado para #e prestasse
aten'"o 4inda #e #isesse aparentar ser m homem sad-vel, a
#al#er agita'"o podiase temer #e a coisa se repetisse, sei
disso com certe%a
- @ps, so$e por #em?
- +ela esposa dele?
- 4ten'"o, pelo amor de Jes mrmrolhe o advogado de
deesa
@ :h&tea +avie 19R1 spero as expectativas ;raps .- estava na
Aarta ta'a, e Simone lhe psera ma garraa extra por perto *ediante
o espanto do promotor, o representante geral e% m $rinde aos velhos
cavalheiros, mas #e o respeita$ilssimo tri$nal n"o viesse a pensar
#e ele estava escondendo algo Ele #eria di%er a verdade e mant2la,ainda #e se advogado de deesa lhe estivesse si$ilando D4ten'"o Je
ato, tivera algo com a senhora HGgax =em, o velho g&ngster via.ava
re#Xentemente e despre%ava da orma mais crel a#ela sa esposinha
$emeia e apetitosa7 ent"o ele tivera #e a%er, ve% por otra, o papel
do consolador, no canap! da sala de estar dos HGgaxes e mais tarde
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tam$!m na cama de casal, ocasionalmente enim, o cro normal das
coisas neste mndo
4 estas palavras de ;raps os velhos senhores pasmaram +or!m, de
repente pseramse a ginchar divertidos, e o careca, at! ent"o calado,
grito, atirando se cravo para os ares D/ma coniss"oU /ma
coniss"oU S o advogado de deesa $ate desesperado os pnhos
contra as t2mporas
- Ae insensate%U exclamo Se cliente devia ter enlo#ecido e
n"o se podia acreditar incondicionalmente na histria #e estava
contando 4o #e ;raps, indignado e so$ novos aplasos na mesa,
protesto :om isso se inicio m longo palavrrio entre o
deensor e o promotor, em instantes idas e vindas, meio estranho,
meio s!rio, ma discss"o c.o contedo ;raps n"o consegia
compreender Era em torno da palavra dols, c.o signiicado o
representante geral desconhecia 4 discss"o oi icando cada ve%
mais intensa, as vo%es se elevando, cada ve% mais
incompreensveis, o .i% se intromete, exaltose igalmente, e
no incio ;raps estava empenhado em ovir, adivinhando algo do
sentido da alterca'"o, mas respiro aliviado, #ando a governanta
veio pCr mesa os #ei.os, camem$ert, $rie, emmenthal,
grG_re, t2te de moine, vacherin, lim$rg e gorgon%ola, e deixo
o dols para l-, $rinvo com o careca, #e permanecia ali calado e
parecia tam$!m n"o entender nada, e se servi at! #e, s$ito,
nm movimento inesperado, o promotor virose para ele
- Senhor ;raps pergnto, com a .$a de le"o eri'ada e o rosto
em $rasa, o monclo na m"o es#erda , o senhor e a senhora
HGgax ainda s"o amigos?
;odos arregalaram os olhos na dire'"o de ;raps, #e emprrara pela
$oca p"o $ranco com camem$ert e mastigava satiseito E ent"o tomo
mais m gole do :h&tea +avie Em algm lgar ti#eta#eava m
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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relgio e do povoado vinham otra ve% sons distantes de reale.o,
homens cantando em coro DSendo a hospedaria a Espada S'a
Jesde a morte de HGgax, explico ;raps, n"o visitara mais a esposinha
4inal n"o #eria estragar a repta'"o da viva
4 explica'"o provoco, para se espanto, ma nova onda de
contentamento, ant-stica e incompreensvel, haviam icado ainda mais
animados #e antes, o promotor grito
- Jolo malo, dolo maloU E $rado versos gregos e latinos, cito
Schiller e Hoethe, en#anto o pe#eno .i% soprava as velas,
exce'"o de ma, c.a chama so para, $errando e ngando
ridosamente, pro.etar na parede as mais ant-sticas imagens em
som$ra ca$ras, morcegos, dia$os e ogros 3isso +ilet golpeo a
mesa de tal modo #e ta'as, pratos e t-$as dan'aram
- Kai dar pena de morteU Kai dar pena de morteU
Somente o advogado de deesa n"o participava, e emprro a t-$a para
;raps Ae este se servisse, eles teriam de artarse de #ei.o, n"o lhes
restava mais nada
/m :h&tea *argax oi tra%ido mesa :om ele reinstarose a pa%
;odos encararam o .i%, #e come'ava a desarrolhar a empoeirada
garraa(ano 191`),com catela e mito meticlosamente, sando m
sacarolhas es#isito, arcaico, #e lhe permitia pxar a rolha da garraa
deitada sem tir-la de se sporte, m procedimento #e se dava so$
m clima de tens"o, a respira'"o presa, mas terminava por preservar
intacta ao m-ximo a rolha, .- #e essa era a nica prova de #e a
garraa realmente vinha do ano de 191` #atro d!cadas haviam
destrdo a eti#eta a%ia mito tempo 4 rolha n"o saia inteira, o resto
tinha de ser cidadosamente removido, por!m ainda se podia ler nela o
nmero do ano7 oi passada de m"o em m"o, cheirada, admirada e por
im entrege de modo solene ao representante geral, como lem$ran'a
da $elssima noite, como disse o .i% Este ent"o provo do vinho, e%
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com #e estalasse na $oca, servi @s otros come'aram a cheirar, a
sorver com rdo, soltaram gritos de deslm$ramento, enalteceram o
anitri"o
@ #ei.o oi servido ao crclo, e o .i% ordeno #e o promotor p$lico
proerisse se Ddiscrso%inho de acsa'"o Este exigi primeiramente
novas velas, a coisa devia se dar de modo cerimonioso, a$sorto, era
preciso concentrarse, renir todas as energias interiores Simone
troxe o #e ora exigido Estavam todos ansiosos, ao representante
geral a sita'"o parece levemente estranha, senti m calario, mas ao
mesmo tempo acho sa aventra maravilhosa, e por nada no mndo
teria #erido a$rir m"o dela 4penas se deensor n"o parecia de todo
satiseito
- =om, ;raps disse ele , vamos ovir o discrso de acsa'"o
Koc2 vai se assstar com o #e arran.o com sas respostas
descidadas, com sa t-tica e#ivocada Se a sita'"o antes era
rim, agora ! catastrica *as coragem, vo a.d-lo a sair do
atoleiro, s n"o v- perder a ca$e'a, vai precisar de $ons nervos
para sair dessa s"o e salvo
:hegara a hora +igarros, tosses por todos os lados, $rindaramse
novamente, e so$ risinhos e escarninhos o promotor p$lico come'o
se discrso
- @ pra%er de nossa tertlia disse ergendo sa ta'a,
permanecendo por!m sentado , se scesso, se deve ao ato de
termos desvendado m assassinato, tramando de maneira t"o
reinada #e natralmente escapo de maneira $rilhante nossa
.sti'a estatal
;raps ico perplexo e de repente se irrito
- Ent"o, #er di%er #e e cometi m assassinato? protesto
@ra, o'a o senhor isso tdo .- est- indo longe demais para mim
- n"o $astava o advogado de deesa com sa histria radaU
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*as ent"o releti m poco e come'o a rir, desmedidamente,
#ase sem consegir se acalmar, ma piada sensacional, agora ele
entendia, #eriam lhe inclcar m crime, essa era $oa, era $oa
mesmoU
@ promotor p$lico, cheio de dignidade, levanto os olhos na dire'"o de
;raps, limpo se monclo e o recoloco
- @ r! contino dvida da prpria clpa 0mano Aem de
ns ! consciente, sa$e de ses crimes e sas maleitorias
secretas? *as permitamme risar algo neste momento, antes #e
nosso .ogo otra ve% entre em e$li'"o passional caso ;raps se.a
m assassino, como airmo, como intimamente #ero crer,
estamos diante de m momento particlarmente solene @ #e !
.sto F como a alegria de ser pai, a desco$erta de m
assassinato, ma alegria #e a% nosso cora'"o $ater mais orte,
colocandonos diante de novas tareas, decis8es, deveres, de
modo #e #ero cmprimentar nosso #erido prov-vel ator do
crime, ainal sem m ator n"o ! possvel desco$rir m
assassinato, a%er imperar a sti'a /m $rinde especial, ent"o, a
nosso amigo, nosso modesto 4lredo ;raps, tra%ido a nosso meio
por m destino $emintencionadoU
/ma explos"o de alegria, levantaram, $rindaram sade do
representante geral este, por sa ve%, com l-grimas nos plhos
agradece e assegro #e a#ela com certe%a era a mais $ela noite
#e .- tivera
@ promotor, agora igalmente em l-grimas
- Sa mais $ela noite, declara nosso pre%adssimo /ma palavra,
ma palavra comovente Iememoremos o tempo em #e se tinha
#e desenvolver atividades escsas a servi'o do Estado 3"o era
como amigo #e o r! se apresentava diante de ns, mas como
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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inimigo Esse #e agora podemos apertar contra o peito na#ele
tempo tnhamos de aast-lo Kenha ent"o a me peitoU
:om essas palavras, salto da cadeira, erge ;raps no ar e a$ra'o
o esivamente
- +romotor, #erido, #erido amigo $al$cio o representante
geral
- I!, #erido ;raps sol'o o promotor p$lico ;ratemonos
por voc2 +ode me chamar de Part Y sa sade, 4lredoU
=ei.aramse, apertaramse contra o peito, aagaramse, $e$eram
$rindando m ao otro, a como'"o se espalhava, a ntima convic'"o de
ma ami%ade #e ali lorescia
- *as como tdo mdoU proclamo erico o promotor Se
antigamente nos lan'-vamos ao$ados de caso em caso, de crime
em crime, de senten'a em senten'a, agora .stiicamos,
argXimos, relatamos, discrsamos e de$atemos com vagar,
comodidade, contentamento7 aprendemos a estimar, amar o r!,
sa simpatia nos toca, conraterni%a'"o de am$os os lados E mal
se prod% esta, tdo ica mais -cil, o crime perde o peso, e a
senten'a tornase ntida 4ssim, deixemme pronnciar palavras
de reconhecimento ao assassinato perpetrado (;raps ia di%endo,
ao mesmo tempo, com o mais resplandecente hmor D+rovas,
Part, provas) stiicadamente, pois se trata de m pereito, de
m $elo assassinato 4#i o ador-vel ator do crime poderia ver
m cinismo $re.eiro longe de mim isso D=elo pode ser
chamado o se ato so$ dois aspectos, nm sentido ilosico e
nm t!cnicovirtoso nosso grpo renido mesa, pre%ado
4lredo, a$andono o preconceito de ver no crime algo indecente,
terrvel, e ver na .sti'a, por otro lado, algo $elo, ainda #e
este.a mais para terrivelmente $elo 3"o, na verdade ns
reconhecemos at! no crime a $ele%a como a pr! condi'"o para ,
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s a partir desta, ser possvel a .sti'a Este, o lado ilosico
:ele$remos agora a $ele%a t!cnica do ato :ele$ra'"o acho #e
entendi a palavra .sta, n"o #ero #e me discrso de acsa'"o
se.a m amigo, e sim ma cele$ra'"o #e lhe apresente se
crime, #e a'a esse crime desa$rochar para ele, a%endoo tomar
consci2ncia somente so$re o limpo pedestal do reconhecimento !
#e se pode erigir o monmento inteiri'o da .sti'a
@ velho promotor de oitenta e seis anos detevese, exasto 4pesar da
idade, alara em vo% alta e cavernosa, com grandes gestos, en#anto
$e$ia e comia mito Ent"o ele limpo o sor da testa com o
gardanapo manchado #e tinha preso ao pesco'o, enxgo a nca
ran%ida ;raps estava comovido *antinhase pesadamente sentado em
sa cadeira, o men deixarao nm estado de letargia Estava satiseito,
mas n"o #eria se deixar a$ater pelos #atro anci"os, em$ora admitisse
;er sido dominado pelo apetite e pela sede descomnais #e tinha Ele
era m valente comedor, mas tal vitalidade e voracidade nnca lhe
haviam acontecido antes Estava espantado, olhava em$as$acado e
inerte por so$re a mesa, aagado pela cordialidade com a #al o
promotor o tratava, ovindo da igre.a as do%e solenes $adaladas do sino
meianoite, e ent"o retm$o longe, notrno, o coro dos +ropriet-rios
de +e#enos 4nimais de :ria'"o D3ossa vida ! igal viagem
- :omo no conto da carochinha srpreendese otra ve% o
representante geral , como no conto E contino Ent"o #er
di%er #e e cometi m assassinato? sto e?
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de sange, sem meios como veneno, pistolas o coisa
semelhante, mesmo assim oi exectado?
+igarreo, ;raps o encaro, hipnoti%ado, m peda'o de vacherin na
$oca
:omo perito #e era, prossegi o promotor, tinha de partir da tese de
#e podia haver m crime espreitando por tr-s de #al#er a'"o, de
#al#er pessoa 4 primeira id!ia de #e se haveria encontrado na
igra do senhor ;raps alg!m avorecido pelo destino e a$en'oado com
m crime se devia circnst&ncia de #e o caixeirovia.ante de
tecidos m ano antes andava nm velho :itroZn e agora desilava m
Stde$aBer
- Sei, por!m, #e vivemos tempos de crescimento econCmico e,
desse modo, a id!ia ainda era vaga, mais compar-vel inti'"o
de estar diante de ma experi2ncia eli%, da desco$erta de m
assassinato, mesmo 3osso amigo ;er assmido o posto de se
chee, ;er precisado aastar se chee, e este chee ;er morrido,
todos estes atos ainda n"o eram provas, mas os primeiros
elementos #e ortaleceriam a tese e dariam ndamento #ela
inti'"o 4 sspeita, alicer'ada logicamente, s cresce #ando se
so$e #e esse legend-rio chee havia morrido de m inarto 4
oi o caso de .ntar, com$inar, invocar perspic-cia, sagacidade,
proceder com discri'"o, aproximarse sorrateiro da verdade,
reconhecer o comm como o incomm, ver o deinido no
indeinido, contornos na n!voa, crer nm assassinato exatamente
por parecer a$srdo spor m assassinato Ke.amos em tra'os
gerais o material #e temos disponvel Es$ocemos m #adro do
alecido +oco sa$emos dele7 o #e sa$emos depreendemos das
palavras de nosso simp-tico convidado @ senhor HGgax era o
representante geral do 0eesto, tecido sint!tico ao #al podemos
coniar todas as agrad-veis #alidades #e lhe atri$i nosso caro
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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4lredo Era ma pessoa, podemos conclir, #e ia direto ao
ponto, explorava ses s$ordinados sem maiores considera'8es,
#e sa$ia a%er ses negcios ainda #e os meios pelos #ais
echava esses negcios ossem re#Xentemente no mnimo
#estion-veis
- F verdade concordo ;raps entsiasmado F ma descri'"o
pereita da#ele malandroU
- 4l!m disso, podemos ded%ir contino o promotor #e ele
exteriormente a%ia o papel do ro$sto, do ortalh"o, do
comerciante $emscedido, escolado e escaldado7 por essa ra%"o
HGgax ocltara, enim, da maneira mais cidadosa ses s!rios
pro$lemas cardacos, e a#i tam$!m reprod%imos as palavras de
4lredo, em$ora ele sportasse esse sorimento nma esp!cie de
sanha o$stinada, como ma pedra de prestgio pessoal, por assim
di%er
- Ae maravilhaU admirose o representante geral, a#ilo era
praticamente $rxaria, ele podia apostar #e Part conhecera o
alecido
*as #e ;raps se calasse, si$ilolhe o advogado de deesa
- 4demais explico o promotor , completando o retrato do senhor
HGgax, o alecido despre%ava sa esposa, #e temos de pensar
como ma $emeita e apetitosa mlher%inha, pelo menos oi
como se expresso, aproximadamente, nosso amigo +ara HGgax
s contava o scesso, os negcios, o exterior, a achada, e
podemos spor com m certo gra de pro$a$ilidade #e ele
estava convencido da idelidade da esposa e considerava ;er ma
apar2ncia extraordin-ria e ser ma imagem masclina mito
excepcional, para #e pdesse se#er lhe passar pela ca$e'a o
pensamento de m adlt!rio7 da ;er sido, segramente, m dro
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golpe tomar conhecimento da inidelidade de sa esposa com o
nosso :asanova do Schlaraia
;odos riram, e ;raps de tapas na prpria coxa, animado
- Ele era isso mesmo conirmo, radiante, a sposi'"o do
promotor >oi o im para ele, #ando so$e a#ilo
- @ senhor simplesmente enlo#ece geme o advogado de
deesa
@ promotor p$lico se levantara e olhava satiseito na dire'"o de ;raps,
este raspando com a aca se tte de moine
- Ei, como ele ico sa$endo tdo, o velho cr-pla? pergnto
Sa apetitosa esposinha lhe conesso?
- Jisso ela n"o tinha coragem, era covarde demais, senhor
promotor responde ;raps Ela temia o gangster
- >oi o prprio HGgax #e chego aos atos?
- Jisso ele n"o era capa%, era presn'oso demais
- E oi voc2 #em conesso, por m acaso, caro amigo e Jon an?
;raps sem #erer ico vermelho
- 3""""o, Prt disse , isso ! o #e voc2 pensa /m dos
irrepreensveis colegas comerciantes revelo tdo ao velho
malandro
- :omo assim?
- Aeria me pre.dicar Sempre agi como me inimigo
- Em #e mndo ns vivemosU espantose promotor
- *as como oi #e esse homem de conian'a ico sa$endo de se
relacionamento ?- E lhe contei
- :onto ?
- Enim drante ma ta'a de vinho o #e ! #e a gente n"o
conta por a ?
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- Kamos admitir #e sim concordo o promotor *as voc2 aca$o
de di%er #e esse colega comerciante do senhor HGgax sempre
agi como inimigo3"o existia de antemo a certe%a de #e o
velho malandro iria aca$ar tomando conhecimento de tdo?
3isso o advogado de deesa interveio energicamente, levantose at!,
ensopado de sor, a gola se se casac"o encharcada Aeria chamar a
aten'"o de ;raps, explicandolhe #e ele n"o precisaria responder
#ela pergnta
;raps tinha otra opini"o
- +or #e ! #e n"o? disse +ois a pergnta ! totalmente
inoensiva 4inal, para mim podia ser indierente se HGpax ia
tomar conhecimento o n"o @ g&ngster me tratava com tamanha
alta de considera'"o #e n"o seria mesmo e #em iria #ere
$ancar ali alg!m cheio de considera'"o por ele
+or m momento a sala ico silenciosa, nm sil2ncio mortal, ent"o e%
se o tmlto, anima'"o, gargalhadas hom!ricas, m ra'"o de .$ilo @
careca tacitrno a$ra'o ;raps, $ei.oo, o advogado de deesa perde
se pincen2 de tanto rir com m r! da#eles simplesmente n"o era o
caso de se ene%ar En#anto isso, o .i% e o promotor p$lico dan'avam
ao redor as sala, esmrrando as paredes, cmprimentandose com as
m"o, s$indo nas cadeiras, espatiando garraas, a%endo cheios de
pra%er a mais a$srda arra @ r! estava conessando mais ma ve%,
gralho com or'a o promotor pela sala, agora sentado no espaldar de
sa cadeira, n"o havia mais como elogiar o #erido convidado, ele
estava .ogando magniicamente
- :aso ! claro, a ltima evid2ncia se conirma contino ele, so$re
a cadeira $am$a como m momento $arroco em decomposi'"o
@lhemos para nosso pre%ado, nosso #eridssimo 4lredoU Kivia
nas m"os da#ele g&ngster se chee, andava pela regi"o com
se :itroZm 4inda m ano atr-sU Ele podia se orglhar disso,
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nosso amigo, esse pai de #atro ilhinhos, esse ilho de m
oper-rio de a$rica E com ra%"o 4inda no tempo da gerra ora
mascate 3em isso sem atori%a'"o, era m andarilho com
artigos t2xteis alsos, m pe#eno comerciante ilegal, indo de
trem de povoado a povoado 7 o a p! , passando por atalhos, com
re#X2ncia #ilCmetros e mais #ilCmetros atrav!s de matas
escras rmo a propriedades distantes, ma $olsa de coro s.a
presa ao corpo , o mesmo m cesto, ma mala meio destro'ada
na m"o 4gora ele havia melhorado, instalarase nm negocio, era
mem$ro do partido li$eral, dierentemente de se pai marxista
*as #em ! #e #er descansar no galho #e aca$o de alcan'ar,
se na copa da arvore, digamolo poeticamente, apresentamse
galhos com rtos ainda melhores? Ele at! ganhava $em, ia
voando com se :itroZm de lo.a de tecidos em lo.a de tecidos, o
carro n"o era rim, mas nosso caro 4lredo via todos os lados
despontarem e passarem por ele novos modelos, acelerando,
voando em sa dire'"o, ltrapassandoo @ $emestar estava
crescendo no pas, #em n"o #eria participar?
- >oi exatamente isso, Prt exlto ;raps , exatamente isso
@ promotor estava agora no se elemento, eli%, satiseito como ma
crian'a cheia de presentes
- >ora mais -cil decidir do #e a%er comento, ainda sentado no
espaldar de sa cadeira @ chee n"o o deixava crescer, ma ,
insistentemente explorandoo, davalhe adiantamentos para
amarralo de novo, sa$ia acorrentalo cada ve% mais
impiedosamente
- :ertssimoU grito o representante geral indignado @s
senhores n"o t2m id!ia de como o velho g&ngster me oprimia
- E ent"o era preciso ir com tdo disse o promotor
- E comoU conirmo ;raps
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4s interven'8es do r! ati'avam o promotor, agora em per so$re a
cadeira, en#anto $alan'ava como ma $andeira o gardanapo
respingado de vinho, salada no colete, molho de tomate, restos de
carne
- 3osso caro amigo de inicio agia no plano dos negcios, ainda #e
n"o t"o honestamente, como ele prprio admite +odemos ter
ma imagem aproximada disso, de como era Ele secretamente
entrava em contato com os ornecedores do chee, sondava,
prometia melhores condi'8es, criava em$ara'os, conerenciava
com otros caixeirosvia.antes do ramo t2xtil, echava acordos e
contraacordos S #e a ele teve a id!ia de tomar mais m
caminho, dierente
- /m caminho dierente? espantose ;raps
@ promotor p$lico e% #e sim
- Esse caminho, mes senhores, passava pelo canap! da resid2ncia
dos HGgaxes, indo diretamente sa cama casal
Iiso geral, principalmente de ;raps
- Kerdade concordo este , era ma pe'a maldosa #e e estava
pregando no velho g&ngster4 sita'"o, porem , era es#isita
demais, relem$ro agora +or m lado, e de ato at! este momento
me envergonho de ter eito a#ilo, ainal #em gosta de sa$er as
conse#X2ncias do #e e%? ;otalmente limpo ning!m est- *as
por otro lado, #ando se est- entre amigos t"o compreensivos, a
vergonha se torna ridclo, desnecess-rio :riosoU Sintome
compreendido e come'o a me compreender tam$!m, como se
estivesse conhecendo ma pessoa #e so e mesmo, ma
pessoa #e antes e s conhecia como m representante geral
nm Stde$aBer, como mlher e ilhos, por assim di%er
- F com pra%er #e constatamos disse em segida o promotor,
caloroso e cheio de aeto #e est- se acendendo ma l%inha
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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para nosso amigo :ontinemos a.dando, para #e com ela se
a'a dia Sigamos as sas motiva'8es com o ervor de alegres
ar#elogos e vamos nos deparar com a $ele%a sprema de
crimes soterrados Ele come'o ma rela'"o com a senhora
HGgax :omo chego l-? Ele vi a apetitosa mlher%inha,
podemos imaginar ;alve% osse tarde da noite, so$ a l% dorada
das lanternas nas ras, talve% no inverno, l- pela seis (;raps
DSete Prt, seteU), #ando na cidade .- era noite, com vitrines e
cinemas ilminados e placas de p$licidade, lminosas e
amarelas, por todos os lados, noite aconchegante, lasciva,
atraente Ele viera com se :itroZm pelas ras escorregadias at! o
$airro de mans8es onde se chee morava (;raps entsiasmado
intervindo DSim, sim, $airro de mans8esU), vinha com ma pasta
em$aixo do $ra'o, pedidos, tecido em mostr-rio, hora de tomar
ma importante decis"o s #e a limnise de HGgax n"o se
encontrava na costmeira vaga na $eira da cal'ada *esmo assim
ele cr%o o par#e escro e toco a campainha , a senhora
HGgax lhe a$ri a porta , o marido n"o viria para casa essa noite e
a empregada havia sado Ela estava de vestido longo o
melhor de rop"o de $anho , mas mesmo assim #e ;raps
aceitasse m aperitivo, ela a%ia #est"o de convidalo, e assim
icariam .ntos no sal"o de convidados
;raps ico pasmo
- :omo voc2 sa$e tdo isso, Prt? +arece coisa de $rxariaU
- F treino explico o promotor @s destinos todos segem crso
igal 3"o oi se#e sed'"o, nem da parte de ;raps, nem da#ela
mlher7 oi ma oportnidade #e ele aproveito Ela estava s e
entediada, n"o pensava em nada de especial, ico contente por
alar com alg!m, a resid2ncia com m calor agrad-vel, e so$ o
rop"o de $anho com lores coloridas ela vestia apenas a
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camisola E #ando ;raps se sento a se lado e vi sa pela
$ranca, m prenncio de se seio, e en#anto ela tagarelava,
%angada com o marido, desencantada, como $em podia perce$er
nosso amigo, ele s compreende #e tinha de entrar em a'"o ali
#ando .- estava agindo, e ent"o logo ico sa$endo tdo so$re
HGgax, como era preocpante a sada da#ele, como #al#er
grande excita'"o poderia matalo, sa idade, como ele era rde e
malvado com a mlher e como tinha a p!trea convic'"o de #e
esta lhe era iel, pois por ma mlher #e #er se vingar do
marido icamos sa$endo de tdo E assim ele prossegi com a
rela'"o, pois agora era mesmo intencional, pois agora se tratava
de arrinar se chee por todos os meios, acontecesse o #e
acontecesse, e ent"o chego o momento em #e ele teve tdo nas
m"os parceiros comerciais, ornecedores, a mlher $ranca,
rechonchda e na as noites , e assim ele aperto o la'o,
provoco o esc&ndalo
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irrepreensvel colega comerciante, admirado @ #e signiicava
tdo a#ilo? , ovindo atentamente tdo, esctando da $oca do
prprio ;raps a historia do adlt!rio, para ent"o , horas mais
tarde, como n"o podia deixar de ser e como nosso 4lredo .-
previra, correr para o chee, por sentimento de dever, ami%ade e
decoro intimo, revelar tdo ao desgra'ado
- Ae hipcritaU exclamo ;raps, os olhos redondos e $rilhantes
hipnoti%ados, eli% por icar sa$endo a verdade, sa orglhosa ,
osada e solit-ria verdade
E ent"o
- 4ssim chego o momento atdico, calclando com precis"o ,
#ando HGgax ico sa$endo de tdo @ velho ainda consegi ir
para casa, imaginemos,rioso, .- no carro sando em pros"o,
dores na regi"o do cora'"o,m"os tremendo, policiais apitando
irritantemente, sinais de transito sendo ignorados, o diicltoso
caminhar da garagem ate aporta de casa, o ata#e, ainda no
corredor talve%, en#anto a esposa vinha em sa dire'"o, a
vistosa, apetitosa mlher%inha 3"o dro mito, o medico ainda
de morina, ai em segida, inalmente, mais m estertor sem
import&ncia, sol'os por parte da esposa, ;raps em casa entre os
#e ama, tira o teleone do gancho, a$alo, sensa'"o de miss"o
cmprida, tr2s meses mais tarde o Stde$aBer
3ovas gargalhadas @ $om ;raps, atirado de estpea'"o em
estpea'"o, ri .nto, ainda #e m tanto constrangido, co'o a
ca$e'a, $alan'oa para o promotor em sinal de reconhecimento, mas
n"o descontente Estava ate de $om hmor 4 noite era pereita7 o ato
de lhe atri$rem m assassinato, se por m lado o deixava m poco
atCnito, a%iao pensativo, circnstancia #e, no entanto lhe parecia
agrad-vel , por otro despertava nele m prenncio de coisas mais
elevadas, de .sti'a , de crime e castigo @ temor , #e ele n"o
8/12/2019 A Pane - Friedrich Drrenmatt
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es#ecera, #e o assaltara no .ardim e mais tarde nas explos8es de
alegria do grpo renido a mesa , parecialhe in.stiicado agora,
animavao Era tdo t"o hmanoU Ele estava crioso pelo #e viria a
segir @ grpo transerise para o sal"o de convidados, para o
cae%inho7 oram , man#e.antes, o advogado de deesa trope'ando,
entrando nm aposento lotado de #in#ilharias de porcelana e vasos
Enormes gravras nas paredes vistas da cidade, cenas histricas, o
+acto de IXtli, a =atalha de apen, o Jeclnio da Harda S'a, a
:ompanhia dos Sete 0onestos , teto de gesso, ornamento em est#e ,
no canto m piano de cada, poltronas conort-veis, $aixas , enormes,
tra$alhos de tricC por cima, di%eres religiosos, D=em aventrado a#ele
#e trilha o caminho da .sti'a, D/ma consci2ncia em pa% m $om
travesseiro a% +elas .anelas a$ertas viase a estrada vicinal, algo
imprecisa na escrid"o, antes m prenncio de estar ali, mas, agica,
perdida so$ as l%es oscilantes dos aris dos atomveis, os pocos
#e rodavam h- essa hora, ainal .- eram #ase das3nca ovira algo
mais arre$atador #e o discrso do Prt, .lgo ;raps 3o geral, n"o
havia mito #e o$servar, algmas leves corre'8es, com certe%a,
seriam convenientes @ irrepreensvel colega comerciante, por exemplo,
era m tanto $aixo e $em magro e a gola era dra , de modo algm se
encharcava de sor, e a senhora HGgax n"o o rece$era vestida nm
rop"o de $anho, e sim nm #imono certamente de corte $em amplo,
de modo #e se am-vel convite tam$!m se i%era em termos visais
a#ilo oi mais m dos grace.os dele, m exemplo de se modesto
hmor 7 alem disso , o merecido inarto do g&ngstermor n"o o
apanhara em casa, mas nos ses arma%!ns, drante ma ra.ada de
>Lhn, e ainda ora levado ao hospital, com a$ertra e interven'"o
cirrgica no cora'"o +orem, tdo isso eram, como dissera, detalhes
irrelevantes @ certo, o mais exato, so$retdo, era o #e comentara se
genial amigo do peito e promotor #e ele se metera com a senhora
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HGgax somente para arrinar o velho malandro, sim, ele se lem$rava
claramente de como, deitado na cama da#ele, so$re sa mlher,
encarara a otograia dele, o rosto gordo e antip-tico com clos de aro
de chire diante de olhos es$galhados, e como lhe so$reviera a id!ia de
ma alegria insana com a#ilo #e ele ali a%ia t"o cheio de pra%er e
empenho, estava na verdade assassinando de ve% se chee, a sange
rio dando ca$o a#ele s.eito
- estavam sentados nas poltronas com os di%eres religiosos #ando
;raps declaro isso, agarravam a pe#ena xcara megante de ca!,
mexiam com a colherinha e por cima tomaram m conha#e de 1Q9[,
Ioignac, em grandes copos $o.dos
:om isso, era chegado o momento da #eixacrime, anncio o
promotor p$lico, esparramado nma conort-vel poltrona, as pernas
com as meias dierentes (ma xadre% cin%a e preto e otra verde)
estendidas so$re os $ra'os dela
@ amigo 4lredo n"o agira dolo indirecto, como se a morte tivesse se
dado por acaso, e sim dolo malo, com m- inten'"o, como os atos
haviam apontado, de modo #e por m lado provocara ele prprio o
esc&ndalo, por otro n"o mais visitaria a apetitosa esposinha aps a
morte do g&ngstermor, de onde necessariamente se concla #e a
esposa teria sido m mero instrmento para ses planos sangin-rios, a
galante arma do crime, por assim di%er7 #e deste modo se estaria
diante de ma assassinato exectado de ma orma psicolgica tal #e,
aora m adlt!rio, nada de ilegal teria acontecido, claro #e apenas
aparentemente , motivo pelo #al ele ent"o, agora #e essa apar2ncia
se dissolvia, sim, depois de o valoroso r! haver ele prprio conessado
o crime da maneira mais gentil, ele na #alidade de promotor p$lico
tina o pra%er e com isso chegava ao inal de sas honrarias de exigir
do ilstre .i% a pena de morte para 4lredo ;raps, como recompensa
por m crime #e merecia admira'"o, espanto e respeito, m crime #e
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ademais podia reivindicar o direito de igrar entre m dos mais
extraordin-rios do s!clo
Iiram, apladiram e atiraramse ao $olo #e Simone troxera +ara
coroar a noite, conorme esta proclamo - ora, como atra'"o, ergia
se ma la tardia, ma oice estreita, as -rvores aralhavam sem
exagero, de resto s silencio, na ra apenas raramente m atomvel, e
ent"o alg!m voltando atrasado para casa, com cidado, meio em
%ige%age 4o lado de +ilet , o representante geral sentiase
protegido, nm canap! mole e aconchegante com os di%eres DE
amide entre os #e amo +asso o $ra'o pelo om$ro do homem
calado, #e apenas de tempos em tempos pronnciava admirado m
Dant-sticos, deixando o D soar chiado, asso$iado, $em de acordo com
sa eleg&ncia aetada :om carinho :om aconchego >ace a ace @
vinho o deixava pesado e paciico, ele desrtava a#ilo, ser verdadeiro,
ser ele mesmo na#ele grpo de pessoas compreensivas, n"o ter mais
segredos, pois nenhm mais era necess-rio, ser honrado, venerado,
amado, compreendido, e a id!ia de #e teria cometido m assassinato
convenciao cada ve% mais, tocavao, metamoroseava sa vida,
a%endoa mais complexa, mais herica, mais valiosa 4 id!ia at! o
entsiasmava Ele plane.ara e exectara o crime imagino, ent"o
para progredir
3a verdade n"o proissionalmente, por ra%oes inanceiras, por exemplo,
partindo do dese.o de ter ma Stde$aBer7 e sim essa era a palavra
para se tornar m homem mais essencial, mais prondo, segndo
pressentia, ent"o no limite de sa capacidade intelectal, digno das
homenagens, do carinho de homens erditos, estdados, como agora
lhe pareciam ate mesmo +ilet a#eles magos de mticos tempos
ancestrais, ele lera ma ve% no !eader"s #igest$magos #e conheciam
n"o s o segredo das estrelas, mas mito mais, o segredo da sti'a
(ele entrava em 2xtase com esta palavra), a #al ele em sa vida no
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ramo t2xtil s conhecera como m o$st-clo a$strato e #e agora se
ergia como m sol descomnal, incompreensvel so$re se hori%onte
limitado, como ma id!ia n"o de todo conce$ida, #e por isso lhe dava
calarios ainda mais ortes, a%iao tremer E oi assim #e ovi, ainal,
en#anto sorvia se conha#e marromdorado, primeiro admirado,
depois cada ve% mais indignado, as mincias do gordo advogado de
deesa, a#ela empenhada tentativa de remetamorosearse ato em
algo comm, $rg2s, cotidiano
>ora com satisa'"o #e ovira o inventivo discrso do promotor
p$lico, expCs o senhor Pmmer, levantando o pincen2 das $ochechas
vermelhas e inchadas e alando em tom proessoral, com discretos e
elegantes gestos geom!tricos Sim, era certo #e o senhor HGgax
estava morto, se cliente sorera nas m"os dele, vira crescer ma
verdadeira animosidade contra a#ele homem, tentara derr$alo, #em
havia de contestar ?
4lgo #e acontece com #al#er m >ant-stico apenas era #erer
tachar como assassinato #ela morte de m comerciante com
complica'8es cardacas (D*as e o assassineiU, protesto ;raps como se
casse das nvens) 4o contrario do promotor p$lico, Pmmer
considerava inocente o r!, incapa% mesmo de rece$er a clpa (;raps
interrompendoo, .- irritado D*as e so clpadoU) @ representante
geral do tecido 0eesto seria m exemplo para mitos Se o classiicava
como inimpt-vel, n"o era por#e #isesse airmar #e estivesse isento
de clpa pelo contrario ;raps estava, isto sim, envolvido nas mais
dierentes esp!cies de clpa cometera adlt!rio, trapaceara na vida, s
ve%es com certa perversidade, mas tam$!m n"o se podia di%er #e sa
vida se resmisse a adlt!rio e trapa'a7 n"o, n"o, sa vida tam$!m
tivera ses aspectos positivos, sas virtdes mesmo @ amigo 4lredo
era diligente, o$stinado, m amigo iel dos ses amigos, tentando
garantir para os ilhos m tro melhor, politicamente coni-vel, para
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tomarmos o homem no se todo7 apenas se deixara como #e a%edar,
estragarse levemente pelo incorreto como alias e o caso de mita
vida mediana, o haveria de ser o caso , mas exatamente por isso n"o
se podia atri$ir a ele a grande, pra e orglhosa clpa, do crime
evidente (;raps D:alniaU +ra calniaU) Ele n"o era m criminoso, e
sim ma vitima de se tempo, do @cidente, da civili%a'"o #e
oh(cada ve% se tornando mais o$scro) perde a !, o cristianismo, a
no'"o do $em comm7 tdo era catico, de modo #e nenhma estrela
gia mais piscava para o individo, srgindo como resltado a cons"o,
o em$rtecimento, a lei do mais orte e a alta de ma verdadeira
moralidade @ #e acontecera agora? 4#ele homem comm cara
totalmente desprevenido nas m"os de ma promotor astto Se modo
despreocpado e instintivo de agir no ramo t2xtil, sa vida privada ,
todas as aventras de se ser, #e se compnha de viagens a tra$alho,
da lta pelo p"o de cada dia e de divertimentos mais o menos
inoensivos, oram ent"o examinados l%, investigados, dissecados7
atos desconexos oram amarrados, m plano lgico oi
radlentamente inserido no con.nto dos atos, incidentes
apresentados como casas de a'8es #e $em o mal poderiam ter
acontecido tam$!m de otra maneira,o casal revertido em intencional,
o impensado transormado em propositado, de tal modo #e , ao inal,
s haveria de sair mesmo m assassino do interrogatrio, como
coelhinho sai da cartola de m m-gico (;raps D
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cardacas (;raps DIidcloU), de modo #e tdo n"o passara de m
mero caso de a%ar :laro #e se cliente agira inescrplosamente, mas
estava ainal s$metido s leis da vida comercial, como ele mesmo
v-rias ve%es risara:laro #e ele mitas ve%es teria preerido matar b
chee o #e ! #e n"o pensamos, o #e ! #e n"o passa pela nossa
ca$e'a ? *as tdo em pensamento /m ato alem desse pensamento n"o
estava disponvel nem podia ser comprovado Seria a$srdospor
a#ilo *ais a$srdo ainda, no entanto, se se prprio cliente agora
antasiava ter cometido m assassinato, #e tivesse logo em segido
pane mec&nica no atomvel sorido ma segnda, ma pane mental E
com isso ele , advogado de deesa, re#isitava para 4lredo ;raps a
a$solvi'"o, etc etc
:ada ve% mais irritava o representante geral a#ela $emintencionada
nevoa com #e se co$ria se $elo crime, na #al este se esgar'ava, se
dissolvia, tornandose irreal, vago, m prodto das condi'8es
$arom!trica ;raps sentiase s$estimado, e assim contino se
de$atendo, mal o advogado de deesa terminara se discrso Explico,
indignado e levantandose na m"o direita m prato com m novo
peda'o de $olo, na es#erda se copo de Ioignac #e gostaria de,
antes #e se proerisse a senten'a, apenas ma ve% mais reiterar #e
concordava com o discrso do promotor (nisso vieramlhe lagrimas aos
olhos), a#ilo ora m assassinato, m assassinato consciente, agora
estava claro para ele7 o discrso do advogado de deesa, por sa ve%,
decepcionarao prondamente, chegara mesmo a apavoralo,
.stamente dele esperara, acreditara poder esperar compreens"o, e
assim pedia agora a senten'a, mais ainda, a pena7 n"o para se es#ivar,
mas por entsiasmo, pois somente na#ela noite ! #e se havia
revelado a ele o #e signiicava levar ma vida %erdadeira(a#i o $om,
o $ravo ;raps se em$ara'o), para a #al de ato eram necess-rias as
id!ias mais elevadas de .sti'a, do crime e do castigo, como a#eles
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elementos e compostos #micos a partir dos #ais se preparava se
tecido sint!tico para n"o sair de se ramo, ma desco$erta #e o a%ia
renascer7 em todo caso se voca$l-rio ora da proiss"o era m tanto
prec-rios, #e o perdoassem se n"o consegia expressar o #e de ato
#eria di%er , em todo caso, renascimento lhe parecia ser a express"o
apropriada para a elicidade #e agora o movia, envolvia, revolvia como
o vento de ma tempestade
E assim chego ent"o a senten'a, #e o pe#eno e agora ortemente
em$riagado .i% anncio em meio a gargalhadas, ginchos, hrras e
tentativas de canto tirolesa (pelo senhor +ilet), com mito esor'o,
pois n"o apenas s$ira no piano de cada de canto (o melhor,entrara
nele, .- #e antes o havia a$erto), mas tam$!m a ala lhe casava
agora insistentes diicldades ;rope'ava nas palavras, invertia o
mistrava otras, come'ava rases #e depois escapavam a se
controle, ligandoas a otras de c.o sentido .- se es#ecera, mas de
modo geral se raciocnio ainda podia ser adivinhado :ome'o por
#estionar #em teria ra%"o, o promotor o o advogado de deesa, se
;raps teria cometido m dos mais extraordin-rios crimes do s!clo o se
era inocente3"o podia concordar com nenhm dos pontos de vista Se
;raps n"o so$era a%er ace ao interrogatrio, como di%ia se deensor,
e por essa conessara mita coisa #e na verdade n"o acontecera
da#ela maneira, por otro lado havia, sim, assassinado7 certamente
n"o com ma inten'"o dia$lica, n"o, mas por#e se apropriara da
insensate% do mndo no #al agora vivia como representante geral dos
tecidos 0eesto *atara por#e para ele era a coisa mais natral tirar a
a'"o de alg!m, agir inescrplosamente, acontecesse o #e
acontecesse 3o mndo #e ele atravessava a mil por hora em se
Stde$aBer, n"o teria acontecido nada ao caro 4lredo, se assim osse
possvel7 mas ent"o ele i%era a gentile%a de ir at! eles, na#ela
tran#Xila mans"o $ranca (e a#i o .i% oi icando ne$loso, e o #e
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expCs em segida o e% sen"o em meio a sol'os de satisa'"o, -s ve%es
interrompidos por m espirro comovido, orte, #ando sa ca$e'a
pe#enina era envolvida nm grande len'o, o #e provocava
gargalhadas cada ve% mais ortes dos otros) ;raps ora at! eles,
#atro homens de idade avan'ada, #e haviam ilminado se mndo
com o raio pro da sti'a, esta #e certamente tinha sas
caractersticas es#isitas, ele sa$ia, sa$ia, sa$ia disso, esta #e sorria
nos #atro rostos encar#ilhados, reletiase no monclo de m
promotor anci"o, no pincen2 de m deensor o$eso, soltava risinhos na
$oca sem dentes de m .i% em$riagado e .- meio $al$ciando, e
$rilhava vermelha na calva de m carrasco aposentado (os otros,
impacientes, diante de todo a#ele palavrrio com veleidades po!ticas
D4 senten'aU 4 senten'aU) /ma .sti'a #e era grotesca, extravagante,
aposentada, mas #e exatamente por isso era a sti'a (os otros,
ritmados DSenten'aU Senten'aU) E em nome dessa .sti'a ele
condenava agora se excelente, carssimo 4lredo morte (o promotor
p$lico, o advogado de deesa, o carrasco e Simone D0rraU KivaU7
;raps, agora tam$!m sol'ando de emo'"o D@$rigado, caro .i%,
o$rigadoU, em$ora a pena s se apoiasse .ridicamente no ato de o
prprio condenado ter se declarado clpado Enim, a#ilo era o mais
importante 4ssim, alegravase de poder proerir ma senten'a #e o
condenado reconhecia sem #ais#er ressalvas , n"o se icava devendo
misericrdia dignidade hmana, e #e rece$esse se pre%ado hospede
a coroa'"o do assassinato cometido, ma coroa'"o #e , assim
esperava o .i%, acontecera m circnst&ncias n"o menos agrad-veis
#e o assassinato em si @ #e, no caso do cidad"o, do homem comm,
se revelava como acaso, nm acidente, o como mera necessidade da
natre%a, como doen'a, como entpimento de m vaso sangXneo nma
em$olia, como tmor maligno, aparecia ali como resltado necess-rio,
moral7 s ali ! #e a vida se consmava plena e logicamente como ma
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o$ra de arte, ! #e a trag!dia hmana se tornava visvel Ela rel%ia,
assmia ma orma imaclada, concreti%avase (os otros
D:hegaU:hegaU) podiase mesmo di%er com tran#Xilidade , somente
no ato do anncio da senten'a, #e a%ia do r! m condenado, ! #e
se consagrava a espada da .sti'a7 n"o podia haver nada mais elevado,
mais no$re, mais grandioso #e a condena'"o de m homem a
morte;raps, a#ele #e talve% nem era m legitimo eli%ardo ma ve%
#e s lhe era permitida ma pena de morte so$ certas condi'8es, das
#ais ele no entanto deixaria de tratar, para n"o casar m decep'"o
#ele caro amigo, 4lredo ;raps se lhes tornara agora m semelhante
e digno de ser rece$ido na#ele circlo como mais m .ogador, etc (os
otros D*anda o champanheU)
4 noite alcan'ara se ponto alto @ champanhe espmava, o
contentamento dos homens ali renidos era completo, arre$atador,
raternal, mesmo o advogado de deesa se via novamente envolvido na
rede de simpatia 4s velas com a chama pelo im, algmas .-
mingadas, l- ora a primeira sensa'"o da manh", de estrelas
apagadas, de sol nascente ao longe, rescor e orvalho ;raps estava
animado, mas ao mesmo tempo cansado, pedi #e o levassem a se
#arto, oi cam$aleando de peito em peito @s homens s $al$ciavam,
estavam em$riagados, ortes torpores enchiam o sal"o, discrsos sem
sentido, monlogos, .- #e ning!m mais #eria ovir o otro
:heiravam a vinho tinto e #ei.o, aagaram o representante geral nos
ca$elos, mimaram, $ei.aram o homem eli%, atigado, #e ali estava
como ma crian'a rodeada por avs e tios@ careca tacitrno levoo
para cima Era cstoso s$ir a escada, de #atro7 no meio pararam,
agarrados m ao otro, n"o dava para continar7 segiram de ccoras
pelos degras Je cima, atrav!s de ma .anela, penetrava m estrelado
alvorecer matinal, mistrandose ao $ranco das paredes de re$oco7 e
alem disso, l- ora, os primeiros rdos do dia #e se ormava, da
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distante esta'"o%inha de trem vinham apitos e otros rdos de
mano$ras, como vagas recorda'8es de viagem de retorno #e perdera
;raps estava eli%, sem dese.ar mais nada, como nnca se sentira em
sa vida de pe#eno$rg2s inalmente estavam em rente porta do #arto de
hospedes @ .i% a a$ri, porem o grpo estivo estanco atCnito na
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soleira, o promotor p$lico ainda com o gardanapo amarrado7 na
es#adria da .anela pendi ;raps, imvel, ma silheta escra diante da
prata trva do c!, envolta pelo pesado perme de rosas, de maneira
t"o deinitiva e t"o irrestrita, #e o promotor, em c.o monclo se
reletia a manh" cada ve% mais poderosa, teve primeiro de apanhar m
poco de ar, antes de, perplexo e triste pelo amigo perdido, exclamar
com verdadeira dor
- 4lredo, me $om 4lredoU @ #e passo pela sa ca$e'a , pelo
amor de Jes? Koc2 esta mandando pros dia$os a nossa mais
$ela tertliaU
M Kento #ente e seco #e atravessa os 4lpes
\ Schlaraia 3ome dado a ma agremia'"o ndada em 1Q59 por artistas do Jetsches
;heater de +raga, para o cltivo da arte, da ami%ade e do hmor 4ca$o se espalhando por
v-rias partes do mndo 4s associa'8es cong2neres mant2m as caractersticas originais ses
mem$ros, os DSchlaraen, s alam alem"o e evitam assntos como poltica, religi"o e
negcios, segindo ma s!rie de regras de condta com ei'8es medievalcarnavalescas @
nome remete ao alem"o DSchlaraenland, #e designa m lgar de pra%eres, como a :ocanha
(+aGs de :ocagne) dos ranceses, o a +as-rgada, do poema de *anel =andeira
Dados !io"r#$icos do a%tor
Friedrich Drrenmatt (5 de .aneiro de 19R1 1` de de%em$ro de
199b) oi m ator e dramatrgo s'o Era m proponente do teatro
!pico c.as pe'as reletiram as recentes experi2ncias da Segnda
Herra *ndial @ politicamente ativo ator ganho a maior parte de
sa ama devido a ses dramas vangardistas, prondos romances
policiais, e algmas s-tiras maca$ras /m de ses principais $ord8es
era ma histria n"o est- terminada at! #e algo tenha dado
extremamente errado
http://pt.wikipedia.org/wiki/5_de_janeirohttp: