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A participação de pessoas com deficiência na atividade física: Uma perspetiva de seus familiares Orientadora: Professora Doutora Ana Isabel Castro Almeida e Sousa Coorientadora: Professora Mestre Mariana de Sena Amaral da Cunha Lia Fernandes Couto Porto, 2016 Dissertação apresentada com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Atividade Física Adaptada ao abrigo do Decreto-lei nº74/2006 de 24 de marçodo no âmbito do Curso de 2º Ciclo em Atividade Física Adaptada, nos termos do Decreto-Lei nº 74/2006 março.

A participação de pessoas com deficiência na atividade ... · À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento

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A participação de pessoas com

deficiência na atividade física: Uma

perspetiva de seus familiares

Orientadora: Professora Doutora Ana Isabel Castro Almeida e Sousa

Coorientadora: Professora Mestre Mariana de Sena Amaral da Cunha

Lia Fernandes Couto

Porto, 2016

Dissertação apresentada com vista à obtenção do 2º

ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em

Atividade Física Adaptada ao abrigo do Decreto-lei

nº74/2006 de 24 de marçodo no âmbito do Curso de

2º Ciclo em Atividade Física Adaptada, nos termos

do Decreto-Lei nº 74/2006 março.

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II

Ficha de Catalogação

Couto, L. F. (2016). A participação de pessoas com deficiência na atividade

física: Uma perspetiva de seus familiares. Porto: Couto, L. F. Dissertação de

Mestrado para a obtenção do grau de Mestre em Atividade Física Adaptada,

apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Palavras-chave: ATIVIDADE FÍSICA, PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, PAPEL

DA FAMÍLIA, ORGANIZAÇÕES.

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III

Agradecimentos

A realização do presente estudo apenas foi possível com o

acompanhamento, presença, apoio e incentivo de inúmeras pessoas e

organizações, às quais quero deixar o meu sincero agradecimento, pela

concretização deste capítulo na minha vida.

À Professora Doutora Ana Sousa, um agradecimento que vem do fundo

do coração, por ter aceite um desafio de uma aluna que nunca passou pelas

suas mãos enquanto Professora, mas que aceitou o desafio de orientar, da

melhor forma, o presente estudo. Agradecer pela forma como sempre me

acompanhou, despendendo do seu tempo, mesmo em alturas mais

complicadas e a forma como compreendeu as minhas ideias e aceitou o

desafio que propus para o presente estudo. Quero dizer ainda, que tenho a

certeza que terá um futuro brilhante, tanto a nível profissional, como pessoal,

pela excelente pessoa que demonstra ser e pela forma tão “humana” e tão

dedicada com que trata os seus alunos. Foi um prazer ser sua orientanda!

À Professora Mestre Mariana Cunha, que aceitou igualmente o desafio,

mesmo que numa fase mais tardia, não temendo coorientar uma estudante que

nunca foi sua aluna. As palavras que dirigi à Professora Doutora Ana Sousa,

também se dirigem a si e ao seu trabalho. Tenho uma grande admiração pela

vossa exigência e pela forma como se dedicam ao trabalho e aos alunos. Dizer

ainda que foi uma honra não ter duas, mas sim quatro orientadores! O desejo

de um grande futuro para os vossos filhos, com muita saúde e felicidade, que

marcaram, de uma forma muito especial, esta caminhada! O meu muito

obrigada Professora Mariana!

Ao Departamento de Adaptada, da FADEUP, liderado pelo Professor

Doutor Rui Corredeira. Dizer que possui uma bela equipa e foi um prazer

pertencer a este Departamento durante o meu Mestrado. Muito obrigada por

tudo!

Agradecer às três instituições que me permitiram realizar o presente

estudo, e as quais vou guardar na minha memória, por terem tido um papel tão

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IV

importante no presente estudo. O Sport Club do Porto, o clube onde trabalho e

onde tenho um projeto de vida. Um clube do coração! Ao Pony Club e ao CIAD,

pela forma como me permitiram entrevistar nas vossas organizações, toda a

disponibilidade e simpatia demonstradas, por todos aqueles que passaram pelo

meu caminho. São duas organizações que admiro muito e que prestam um

excelente serviço à comunidade. Agradecer em especial à Drª. Fátima, à Drª.

Diana, à Raquel, ao Drº. João Belchior e à Drª. Raquel Lacerda.

Aos pais e avós, que generosamente aceitaram o desafio de serem

entrevistados e por toda a simpatia demonstrada. Sem estes, nada disto teria

sido possível. O meu muito obrigada!

À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu

ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento muito especial à minha mãe,

por ser o meu ídolo e heroína, ao meu pai, por me ter permitido estudar aquilo

que sempre quis e aos meus irmãos, que estão sempre do meu lado e no meu

coração.

Ao Coronel Jorge Mota Santos, o meu Orientador. Não há palavras para

descrever a importância que teve e tem na minha vida, a forma como a marcou

e mudou para sempre. Sem si não teria vindo para este Mestrado e não teria o

percurso que estou a realizar no Sport Club do Porto. É um enorme prazer

poder tê-lo na minha vida, de uma forma profissional e pessoal. Obrigada por

me ter ajudado a ir em frente, na luta pelos meus sonhos, que agora são os

nossos sonhos! Obrigada!

Aos meus amigos e colegas que de alguma forma marcaram o meu

percurso de faculdade e me permitiram ter uma experiência que nunca

esquecerei. À minha Laurita, amiga do coração, psicóloga e companheira de

casa, que nunca me deixou mal e está sempre lá para o que der e vier. Ao meu

padrinho, o Mário, aka Pi, que desde o primeiro segundo esteve ao meu lado e

se tornou, rapidamente, num melhor amigo! Obrigada por tudo aquilo que

representas e és na minha vida! Nunca desistas dos teus sonhos! Ao melhor

trio, Ana Raquel e Ana Isabel (e eu), que nunca vão sair do meu coração!

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V

Foram muitos momentos especiais partilhados e sei que são amigas para a

vida! Aos restantes colegas de Licenciatura e Mestrado que fizeram parte deste

percurso, e que de alguma forma marcaram o meu percurso, o meu obrigada!

Aos meus colegas e amigos do Sport Club do Porto, que acreditam e me

apoiam a todos os instantes, que me fazem crescer todos os dias, que me

aturam, mesmo quando eu não me sei conter. O meu muito obrigada! Um

agradecimento muito especial ao Josésito, ao Dr. Manuel Castro e aos meus

novos companheiros de projeto! Obrigada por acreditarem em mim e no nosso

projeto! Vamos em frente!

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VI

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VII

Índice Geral

Índice Geral ...................................................................................................... VI

Índice de Figuras ............................................................................................. IX

Índice de Quadros ........................................................................................... XI

Índice de Anexos ............................................................................................ XII

Resumo ......................................................................................................... XIV

Abstract .........................................................................................................XVII

Lista de Siglas e Abreviaturas .................................................................... XIX

Capítulo I - Introdução ..................................................................................... 1

Introdução ......................................................................................................... 3

1.1 Objetivos do Estudo .................................................................................. 4

1.2 Estrutura da Dissertação ........................................................................... 5

Capítulo II - Revisão de Literatura................................................................... 3

Revisão de Literatura .................................................................................... 9

1. Atividade Física Adaptada ....................................................................... 9

2. Benefícios da Atividade Física Adaptada ............................................... 28

3. Barreiras à prática de Atividade Física Adaptada .................................. 33

4. Papel da Família .................................................................................... 35

Capítulo III - Metodologia ............................................................................... 11

Metodologia ................................................................................................. 49

1. Grupo de estudo .................................................................................... 49

2. Procedimentos e instrumentos de recolha ............................................. 57

Capítulo IV - Apresentação e Discussão dos Resultados .......................... 63

Apresentação e Discussão dos Resultados ............................................. 65

1. Expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com deficiência na

prática de atividade física .......................................................................... 65

2. Realidade da participação de pessoas com deficiência na atividade física

................................................................................................................... 71

3. Da realidade às expectativas futuras sobre a participação de pessoas

com deficiência na prática de atividade física ............................................ 92

Capítulo V - Conclusões e sugestões........................................................... 97

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VIII

Conclusões e sugestões ............................................................................ 99

1. Conclusões ............................................................................................ 99

2. Sugestões ............................................................................................ 101

Referências Bibliográficas .......................................................................... 103

Anexos ............................................................................................................... i

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IX

Índice de Figuras

Figura 1 – Organograma da FPDD (2013). ...................................................... 25

Figura 2 – A evolução do processo de tematização indutiva dos dados .......... 62

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X

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XI

Índice de Quadros

Quadro 1 – Marcos importantes na história da AFA, retirado de Winnick (1990).

......................................................................................................................... 11

Quadro 2– Competições do Desporto Escolar, retiradas do mapa anual de

atividades 2015/2016 (Desporto Escolar, 2016). .............................................. 16

Quadro 3 – Jogos Paralímpicos de Verão, retirado e adaptado de Depauw e

Gavron (2005) e Comité Internacional Paralímpico (2016). ............................. 23

Quadro 4 – Barreiras à AF, adaptado de Shields, Synnot e Barr (2012). ......... 34

Quadro 5 – Número de participantes por organização. .................................... 50

Quadro 6 – Caracterização do grupo de estudo (E1 a E6)............................... 51

Quadro 7– Caracterização do grupo de estudo (E7 a E15).............................. 52

Quadro 8 – Caracterização do grupo de estudo (E16 a E23). .......................... 53

Quadro 9 – Caracterização do grupo de estudo (E24 a E30). .......................... 54

Quadro 10 – AF praticada pelos filhos e netos. ................................................ 55

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XII

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XIII

Índice de Anexos

Anexo I – Autorização para realização das entrevistas ................................... iii

Anexo II – Guião de entrevista inicial .............................................................. v

Anexo III – Guião de entrevista final .............................................................. vii

Anexo IV – Termo de Consentimento ............................................................. ix

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XIV

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XV

Resumo

A importância da atividade física (AF) na vida de pessoas com deficiência é,

hoje em dia, muito reconhecida, nomeadamente pelos vários benefícios que

proporciona (Martin, 2013). Porém, apesar do seu valor, os níveis de

participação na prática de AF, em pessoas com deficiência, são baixos. São,

por isso, poucas as pessoas com deficiência que têm acesso a uma AF

específica e adaptada às suas reais necessidades. Face à necessidade de

melhorar este aspeto, importa conhecer a perspetiva dos familiares sobre esta

temática, uma vez que estes possuem um papel fundamental na vida das

pessoas com deficiência, quer ao nível das tomadas de decisão, quer no modo

como influenciam a sua participação na AF. O grupo de estudo foi constituído

por 30 pais e avós de pessoas com deficiência. Foram realizadas entrevistas

semiestruturadas, posteriormente transcritas, através de uma transcrição

híbrida, entre indexical e unfocused (Gibson e Brown, 2009). Emergiram três

temas de uma abordagem indutiva (Bryman, 2008): expectativas iniciais sobre

a participação de pessoas com deficiência na prática de AF; realidade sobre a

participação de pessoas com deficiência na prática de AF; e da realidade às

expectativas futuras sobre a participação de pessoas com deficiência na prática

de AF. Conclui-se que os pais e avós conhecem vários benefícios decorrentes

da prática de AF, nomeadamente ao nível social, psicológico e fisiológico. Esse

conhecimento influencia, positivamente, pais e avós a colocar os seus filhos e

netos nessa mesma prática. Os pais e avós identificaram igualmente as

barreiras que impedem a participação dos filhos e netos em determinadas

atividades, nomeadamente ao nível de barreiras pessoais, sociais, ambientais

e organizacionais. Estas barreiras são muitas vezes impeditivas da prática de

AF ou de maior frequência dessa prática. Por fim, pais e avós consideram

fundamental que as organizações da área sejam detentores de profissionais

especializados, um custo acessível, um ambiente inclusivo, devendo existir

uma oferta capaz de cobrir as várias zonas geográficas.

PALAVRAS-CHAVE: ATIVIDADE FÍSICA; PESSOAS COM DEFICIÊNCIA; PAPEL

DA FAMÍLIA, ORGANIZAÇÕES.

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XVI

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XVII

Abstract

Nowadays, the importance of physical activity in the life of people with disability

is recognized by the many benefits that it conveys (Martin, 2013). Even though

this recognition exists, the level of participation of people with disability in

physical activity is low. There are only a few with access to a program of

physical activity, specified and adapted to their necessities. Given the need to

change, it is important to know the perspective of the family in this matter, as

they have a major role either in the process of decision or in influencing the

participation of people with disability in physical activity. The study group was

30 parents and grandparents of people with disability. Semi structured

interviews were conductd and later transcribed through a hybrid form, between

indexical and unfocused approaches (Gibson & Brown, 2009). Three themes

emerged from an inductive thematic analysis (Bryman, 2008): Initial

expectations on the participation of people with disability in physical activity; the

reality of the participation of people with disability in physical activity; and from

reality to the future expectations of the participation of people with disability on

physical activity. It was concluded that: parents and grandparents know many

benefits of physical activity, in social, psychological and physiological levels;

knowledge influences positevely the parents and grandmothers, including their

children and grandchildren, with respect to their participation in physical activity;

parents and grandmothers also identified the barriers that hinder the

participation of their children and grandchildren, namely personal, social,

environmental and organizational obstacles. These barriers are many times

preventive of their participation in physical activity or in more regular basis. As

such, parents and grandmothers consider that sports organizations and clubs of

the area should have specialized professionals, a price that is affordable,

inclusive environment and the existence of a sufficient number of organizations

in many different geographical areas, as encouraging factors to practice a

physical activity.

KEY-WORDS: PHYSICAL ACTIVITY; PEOPLE WITH DISABILITY; THE ROLE OF

FAMILY; ORGANIZATIONS.

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XVIII

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XIX

Lista de Siglas e Abreviaturas

AFA - Atividade Física Adaptada

AF - Atividade Física

WHO - World Health Organization

IFAPA - International Federation of Adapted Physical Activity

EUFAPA - European Federation of Adapted Physical Activity

FPDD - Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência

EF - Educação Física

DE - Desporto Escolar

EE - Educação Especial

NEE - Necessidades Educativas Especiais

CAE - Centros de Área Educativos

CPP - Comité Paralímpico de Portugal

DI - Deficiência Intelectual

E- Entrevista

IPSS - Instituição Particular de Solidariedade Social

TOC - Transtorno Obsessivo-Compulsivo

CIAD - Centro Integrado de Apoio à Deficiência

Pony Club - Pony Club do Porto

SCPorto - Sport Club do Porto

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XX

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Capítulo I - Introdução

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Capítulo I - Introdução

3

Introdução

A Atividade Física Adaptada (AFA) reforça e congrega todas as formas

da participação desportiva de qualquer pessoa com limitações, nomeadamente

de movimento, independentemente do objetivo dessa atividade, quer seja

educativo, competitivo, terapêutico ou recreativo (Marques, Castro e Silva,

2001).

Atualmente, é reconhecida a elevada importância que a AF tem na vida

das pessoas com deficiência, nomeadamente através dos inúmeros benefícios

que esta proporciona (Martin, 2013). Com efeito, o valor reconhecido à AF é

percecionado pelos vários benefícios que desta advêm, sendo que estes se

podem reconhecer a nível social, psicológico e fisiológico. Porém, apesar da

existência de vários benefícios, segundo a World Health Organization (WHO,

2003), a inatividade física em pessoas com deficiência é muito elevada.

Nesse sentido e face aos factos enunciados, importa conhecer quais as

razões que levam as pessoas com deficiência a não participar na prática de

AF, assunto já estudado por alguns autores (Martin, 2013; Shields et al., 2012).

Segundo estes autores, existem barreiras a nível pessoal, social, ambiental e

organizacional que impedem ou dificultam esta participação. Neste contexto, o

papel da família poderá constituir, em si, uma barreira ou facilitador neste

processo, nomeadamente ao nível das suas ações, comportamentos ou

preocupações (Shields el al., 2012). De facto, verificamos que a participação de

pessoas com deficiência na AF, está muitas vezes dependente do papel

desempenhado pela família nessa participação.

Relativamente a este último aspeto, é importante salientar que, no caso

das pessoas com deficiência, muitas das vezes por falta de autonomia motora

ou falta de independência, fatores inerentes às características específicas de

cada tipo de deficiência, têm de ser os familiares a assegurar a sua

participação em atividades de caráter social, enquadrando-se aqui a prática de

AF. De facto, vários estudos mostram a importância do papel dos pais e dos

familiares na participação na AF dos seus filhos (Martin, 2009; Jeong, Kim e

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Capítulo I - Introdução

4

Lee, 2015; Pitchford et al., 2016). No entanto, estes estudos focam-se,

unicamente, na influência parental durante a infância.

Nesta medida, é fundamental compreender a perspetiva que os

familiares de pessoas com deficiência, nomeadamente pais e avós, possuem

relativamente à participação dos seus filhos e netos na prática de AF.

Depois de identificada esta problemática, realizamos uma pesquisa

exaustiva na literatura internacional e nacional da área, não nos tendo sido

possível encontrar nenhum estudo que respondesse, integralmente, a estas

questões.

Neste contexto, a presente investigação revela-se inovadora, uma vez

que pretende focar a perspetiva dos familiares de pessoas com deficiência,

congregando diferentes faixas etárias: crianças, jovens e adultos.

Adicionalmente, a nível nacional e, mais especificamente na cidade do Porto,

não existem estudos realizados neste tema, o que contribuiu igualmente para

justificar a pertinência do presente estudo.

Por fim, importa ressalvar que o ponto de partida para este surgiu da

necessidade pessoal identificada por uma das autoras deste trabalho,

enquanto responsável pela criação do Centro de Desporto Adaptado do Sport

Club do Porto, clube desportivo da cidade do Porto, um clube que até então

apenas se dedicava à prática de modalidades regulares. Através do trabalho

realizado foi possível perceber a escassez de serviços disponíveis nesta área e

a falta de estruturação deste tipo de prática desportiva, um contexto que carece

de transformação em Portugal.

1.1 Objetivos do Estudo

O objetivo geral da presente dissertação foi compreender a perspetiva

que os familiares de pessoas com deficiência, nomeadamente pais e avós,

possuem relativamente à participação dos seus filhos e netos na prática de AF.

Como objetivos específicos pretende-se:

- Entender a perspetiva dos pais e avós acerca da importância da prática

de AF dos seus filhos e netos com deficiência;

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Capítulo I - Introdução

5

- Compreender a perspetiva de pais e avós acerca dos aspetos que

dificultam a participação dos seus filhos e netos na prática de AF;

- Perceber o que os pais e avós de pessoas com deficiência consideram

importante numa organização que promova a prática de AF;

- Apresentar sugestões de melhoria dos serviços prestados na área da

AFA, partindo das perspetivas de pais e avós de pessoas com deficiência.

1.2 Estrutura da Dissertação

Após identificação dos objetivos do presente estudo, importa

compreender como este se encontra estruturado. Assim, no capítulo II

apresentámos a revisão de literatura, essencial para contextualizar o presente

estudo. Inicialmente foi realizada a definição de AFA, seguido do seu

enquadramento histórico e evolução até à atualidade.

Após o aprofundamento da temática da AFA, seguiu-se o estudo dos

benefícios da mesma, onde foram elencados os benefícios decorrentes da

prática de AF em pessoas com deficiência. De seguida foram descritas as

barreiras encontradas à sua prática. Para finalizar a revisão de literatura, focou-

se o tema da família, nomeamente a importância dos pais na vida das pessoas

com deficiência e, por fim, a importância que têm na prática de AF por parte

dos seus filhos.

No capítulo III, capítulo onde é descrita a metodologia, o método

utilizado foi qualitativo, sendo que no presente estudo se optou pela realização

de entrevistas. Procedeu-se ainda à descrição e caracterização do grupo de

estudo, seguido dos procedimentos utilizados na análise das entrevistas. Esta

análise é realizada no capítulo IV, onde são apresentados e discutidos os

resultados.

Para terminar, apresentam-se as conclusões do estudo, com a intenção

de responder aos objetivos inicialmente propostos. Queremos que as

conclusões possam ajudar as organizações da área e respetivos profissionais a

evoluir e apresentar um melhor serviço, capaz de ir ao encontro daquilo que os

participantes procuram. Posteriormente, apresentamos ainda algumas

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Capítulo I - Introdução

6

limitações do estudo, apontando possíveis sugestões para a realização de

estudos futuros.

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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Capítulo II - Revisão de Literatura

9

Revisão de Literatura

1. Atividade Física Adaptada

A AFA é um termo que foi introduzido em 1973 pelos fundadores da

Federação Internacional da AFA, realçando vários significados, dependendo do

seu contexto e das variáveis que a afetem. Entre essas variáveis encontram-se

a história, o país, a língua nativa, a cultura, a educação e as interações sociais

(Hutzler e Sherrill, 2007).

A AFA, segundo Sherrill (2004), pode ser definida como: um serviço

prestado, uma forma pedagógica de interação, uma metodologia de treino ou

um treino conduzido por profissionais qualificados para conseguir o objetivo

principal da AF, permitindo chegar a todos os indivíduos, de todas as idades,

com limitações ao nível do movimento, ou a nível social.

Numa definição mais recente, da Federação Internacional de AFA

(2014), a AFA pode ser considerada um conceito transdisciplinar, de

conhecimento prático e teórico, direcionado para deficiências, limitações na

atividade e restrições de participação na AF. É ainda uma profissão que visa a

prestação de serviços e um campo de estudo académico que apoia uma

atitude de aceitação das diferenças individuais, exige o acesso a um estilo de

vida ativo e que incluí o desporto, promovendo serviços inovadores e

cooperativos, apoios e poder. A AFA inclui, mas não só, educação física,

desporto, recreação, dança, artes recreativas, nutrição, medicina e reabilitação

(IFAPA, 2014). Uma definição idêntica é apresentada pela Federação Europeia

de AFA. Por seu turno, Winnick (2011) descreve a AFA como uma área

emergente de conhecimento que compreende o estudo interdisciplinar da AF

pela educação, pelo bem-estar, pela participação desportiva e pelo lazer de

indivíduos com características únicas.

Existem marcos importantes na evolução da história da AFA, que

consideramos relevante referir no presente estudo, para conhecimento da

evolução que existiu. A AFA foi inicialmente reconhecida pela prática de

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Capítulo II - Revisão de Literatura

10

pessoas com surdez. A este respeito, Winnick (1990) refere os seguintes

marcos da história da AFA (Quadro 1):

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Capítulo II - Revisão de Literatura

11

Quadro 1 – Marcos importantes na história da AFA, retirado de Winnick (1990).

Ano Marco importante na história do Desporto Adaptado

1870's Escolas para pessoas surdas são envolvidas em competições desportivas

organizadas.

1907

Foi realizada uma competição de Atletismo através do meio telegráfico

entre as escolas de Overbrook e Baltimore - foi uma das primeiras

competições gravadas nos Estados Unidos com pessoas cegas.

1924 Os primeiros Jogos Surdolímpicos foram realizados no Stade Pershing,

em Paris, França.

1945 Foi formada a American Athletic Association for the Deaf (AAAD)

1949 Foi formada a National Wheelchair Basketball Association (NWBA)

1952 Os primeiros jogos internacionais em cadeiras de rodas são realizados em

Stoke Mandeville, Inglaterra.

1956 Foi formada a National Wheelchair Athletic Association

1960

Os Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, chamados Jogos

Paralímpicos, são realizados em conjunto com os Jogos Olímpico de

Roma.

1967 Foi formada a National Handicapped Sports and Recreation Association

(NHSRA)

1968 A Special Olympics é criada e os seus primeiros jogos internacionais

foram em Soldier Field, Chicago.

1975 Foi criada uma lei americana requerendo igualdade nas oportunidades de

participação desportiva de crianças com deficiência

1977

Leis americanas foram criadas requerendo que crianças com deficiência

usufruíssem do benefício de todos os programas educacionais e de todas

as atividades educativas.

1978

Uma lei americana relativa aos desportos amadores, levou ao

estabelecimento do Committe on Sports for the Disable (COSD) dentro do

U.S. Olympic Committee (USOC).

1978 Foi formado a National Association of Sports for Cerebral Palsy (NASCP).

1981 Foi formada a The United States Amputee Athletic Association (USAAA).

1985 Foi formada a The United States Les Autres Sports Association (USLASA).

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Capítulo II - Revisão de Literatura

12

Como se verifica no Quadro 1, ao longo do século XX, as oportunidades

de prática desportiva para pessoas com deficiência aumentaram

exponencialmente e foram evoluindo os seus objetivos.

As pessoas com deficiência percorreram um longo percurso

relativamente aos seus objetivos na AFA, começando com preocupações

meramente de sobrevivência, até objetivos que passam pela conquista da

glória nos Jogos Paralímpicos (Wheeler et al., 2003). O mesmo autor refere

que até tempos relativamente recentes, as pessoas com deficiência sofriam

abandono, perseguições, segregação e marginalização, vivendo uma liberdade

restrita sob filosofias institucionais dominadas por modelos médicos e religiosos

de cuidado e caridade. Foi apenas durante a última metade do século XX e nos

primeiros anos do século XXI, que as oportunidades e os direitos das pessoas

com deficiência se tornaram uma prioridade na agenda pública, nomeadamente

através dos direitos humanos, o que trouxe uma mudança nas políticas

humanas e levou à normalização, integração e inclusão das pessoas com

deficiência, incluindo a sua participação na AF.

Mais recentemente, os objetivos da AFA passam por integrar e aplicar

fundamentos teórico-práticos das diferentes disciplinas da motricidade humana,

das diversas áreas vizinhas da saúde, da educação e reabilitação, destinados a

indivíduos de todas as faixas etárias, que não se ajustem total ou parcialmente

às exigências das instituições sociais, como é o caso da família, da escola, do

trabalho e da comunidade em geral (Mauerberg-deCastro, 2005).

Segundo Marques, Castro e Silva (2001), a AFA sublinha e congrega

todas as formas de participação desportiva de qualquer indivíduo, mesmo com

fortes limitações da capacidade de movimento e seja qual for o objetivo dessa

atividade: educativo, recreativo, competitivo ou terapêutico. Esta divisão em

quatro dimensões da AFA foi apresentada pelo Comité para o Desenvolvimento

do Desporto (1981) e ainda pela Federação Portuguesa de Desporto para

Pessoas com Deficiência (FPDD, 1995). Marques, Castro e Silva (2001)

concluem que as dimensões educativa, de competição e terapêutica

prevalecem sobre a dimensão recreativa, no entanto a pertinência deste estudo

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Capítulo II - Revisão de Literatura

13

implica entender e evidenciar de igual forma a importância da AF no contexto

recreativo.

1.1 Dimensão educativa

A dimensão educativa passa muito pelo trabalho que é realizado nas

escolas, através das aulas de Educação Física (EF), do Desporto Escolar (DE)

e das atividades integradas no núcleo de Educação Especial (EE). Até ao

presente existiu uma enorme evolução na forma como os alunos com

necessidades educativas especiais (NEE) foram incluídos nos vários processos

de aprendizagem, incluindo nas aulas de EF.

A EE acompanhou de perto a evolução do conceito de deficiência.

Começou com características essencialmente assistenciais, desenvolveu-se ao

longo dos tempos e hoje procura manter o indivíduo em processos educativos

regularizados, através da sua inclusão (Marques, Castro e Silva, 2001). Correia

(2003), aborda exatamente essa questão, destacando a importância do

Decreto-Lei nº 319/91, de 23 de Agosto, que veio tornar o sistema de educação

especial mais organizado para os alunos com NEE. Algumas das

consequências da criação desse Decreto-Lei foram (Correia, 2003):

- Introdução do conceito de NEE, baseado em critérios pedagógicos,

propondo a descategorização;

- Privilegiar ao máximo a integração dos alunos com NEE na Escola

regular;

- Responsabilizar as Escolas pela procura de respostas educativas

eficazes para todos os alunos;

- Reforçar o papel dos pais na educação dos filhos, determinando

direitos e deveres que lhes são conferidos para esse fim;

- Direito à educação gratuita, igual e de qualidade, para os alunos com

NEE, através da individualização das intervenções educativas segundo planos

educativos individualizados e programas educativos com a finalidade de

responder às necessidades educativas desses alunos;

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Capítulo II - Revisão de Literatura

14

- Introdução do conceito de meio ambiente menos restritivo possível, que

pretende que a criança com NEE seja educada com a criança sem NEE e

apenas seja afastada do ambiente educacional regular quando a natureza ou

gravidade da problemática assim o ditem.

A EE, numa perspetiva mais antiga, foi definida pela UNESCO (1977)

como sendo aquela dos que se desviam física ou mentalmente, emocional ou

socialmente dos grupos relativamente homogéneos do sistema regular de

educação, de modo que é necessário tomar providências especiais para

corresponder às suas necessidades. Segundo Jiménez et al. (1993), considera-

se que um aluno necessita da educação especial se tiver alguma dificuldade de

aprendizagem que requeira uma medida educativa especial. Numa perspetiva

mais recente, Correia (2003) refere que os serviços de EE são serviços de

apoio especializados tendo em vista responder às necessidades especiais do

aluno com base nas suas características e com o fim de maximizar o seu

potencial.

Neste contexto, Marques, Castro e Silva (2001) referem que o objetivo

fundamental da EE é permitir ao indivíduo com necessidades especiais um

desenvolvimento máximo das suas aptidões intelectuais, escolares e sociais,

originando, desse modo, a inclusão de todos os cidadãos na vida em

comunidade.

Segundo Kudlacek, Jesina, Sterbova e Sherril (2008), a inclusão é

descrita como promotora do apoio necessário, assegurando aos estudantes

com deficiência, que se mantêm com sucesso, a inclusão na classe de aula

regular.

Dentro do contexto da EE, existem também as aulas de EF, que são as

aulas que permitem a prática de AF por parte dos alunos. As aulas de EF não

são exceção ao facto de que, apesar das suas deficiências, os estudantes

devem ter a oportunidade de participar com os seus pares nas aulas,

promovendo a interação entre todos os alunos, com e sem deficiência.

A EF é muitas vezes um lugar onde as diferenças entre os alunos sem

deficiência e os alunos com deficiência são acentuadas pelas diferenças na

prestação motora e funcional. Deve existir um certo equilíbrio criado pelos

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Capítulo II - Revisão de Literatura

15

próprios professores, que procure estabelecer um ambiente inclusivo e de

participação para todos os alunos.

Neste contexto, a EF deve ter um papel primordial na inclusão, uma vez

que poderá constituir um meio de garantir oportunidades de realizar e aprender

novos movimentos de lazer, de recreação, aprender novas brincadeiras, novos

jogos e ainda proporcionar oportunidades de competição e inclusão com os

seus pares, promovendo assim, a independência e socialização (Rodrigues,

2006).

Face ao seu carácter obrigatório nos percursos escolares das crianças e

dos jovens, a EF é, muitas vezes, o único momento de AF em que participam

na sua vida diária. Para além das aulas de EF, o Desporto Escolar é também

uma forma importante de proporcionar a prática de AF a crianças e jovens

durante o seu período escolar.

Segundo o Decreto-Lei n.º 95/91 de 26 de fevereiro (Ministério da

Educação, 1991), o DE é o conjunto das práticas lúdico-desportivas e de

formação com objeto desportivo, desenvolvidas como complemento curricular e

ocupação dos tempos livres, num regime de liberdade de participação e de

escolha, integradas no plano de atividades da escola e coordenadas no âmbito

do sistema educativo. É, portanto, outra forma de crianças e jovens poderem

usufruir da prática de AF no contexto educativo.

Algumas atividades adaptadas que encontramos na realidade do DE

nacional, encontram-se no mapa anual de atividades 2015-2016, mapa que

representa o último ano letivo e onde são indicadas as várias competições

durante o ano letivo e que pode ser consultado no Quadro 2.

Para além destas competições regionais existem, as competições a nível

local, através dos Centros de Área Educativos (CAE), que não são referidas

nestes mapas, mas que têm uma grande expressão, principalmente ao nível do

Boccia. Depois existem, acima das competições regionais, as competições

nacionais, sendo que, a nível de desporto adaptado, no ano de 2016, apenas

existiu a competição de Boccia, realizado na Gafanha da Nazaré (Desporto

Escolar, 2016).

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Capítulo II - Revisão de Literatura

16

Quadro 2– Competições do Desporto Escolar, retiradas do mapa anual de atividades

2015/2016 (Desporto Escolar, 2016).

Cidade Evento Local

Braga Boccia Circuito local

Braga Desportos adaptados Circuito local

Braga XII Torneio Pista Coberta

Adaptado

Parque Exposições e Desportos‐

Braga

Vale de

Cambra F.A. Boccia EB Búzio

Vale de

Cambra QC Boccia Atividades regulares

Porto Boccia Vários locais

Porto Desporto adaptado 1º encontro ‐ Atletismo

Porto Desporto adaptado 2º encontro ‐ circuito escola

Porto Desporto adaptado 4º encontro ‐ Surf

Vila Real Q. C. Boccia Vários

Vila Real Q. C. Natação ‐ NEE Vários

Tâmega Boccia Vários Misto -

Tâmega Desporto Adaptado -

Tâmega Goalball Circuito Regional

Bragança QC Boccia Vários

Viseu Boccia Pav. Mun. Tondela

Lisboa Boccia Pav. Multiusos Odivelas

Algarve Dia Paralímpico Nacional Lisboa

Algarve Natação NEE Loulé

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Capítulo II - Revisão de Literatura

17

1.2 Dimensão terapêutica

Uma dimensão muito importante da AFA é a terapêutica. É um aspeto

da AF que acaba por atrair muitas pessoas, nomeadamente as com deficiência,

para a prática regular de AF, uma vez que tem um forte impacto na saúde dos

seus praticantes.

Pessoas com deficiência revelam estados de saúde substancialmente

piores, comparado com a população em geral (Krahn et al., 2006; Drum et al.,

2005). Drum et al. (2005) demonstra a disparidade entre esses mesmos

estados de saúde de pessoas sem deficiência relativamente a pessoas com

deficiência, onde o estado de saúde da população em geral é melhor do que

aquele que é verificado nas pessoas com deficiência, sendo que os autores

apontam fatores como a genética, as circunstâncias sociais e do meio

envolvente, a promoção de saúde e acesso a cuidados médicos, como razões

para essa disparidade no estado de saúde entre ambos os grupos. Esta ideia é

reforçada num estudo mais recente, onde a amostra era constituída por

indivíduos com deficiência intelectual (DI), deficiência motora ou ambas, e que

indica que indivíduos com deficiência tendem a possuir mais problemas físicos

e cognitivos, maiores limitações funcionais, mais condições de saúde crónicas,

menos acesso a atividades na comunidade e piores comportamentos de saúde

(Jones et al., 2008). Estes estudos vêm reforçar o papel fundamental da AF na

saúde das pessoas com deficiência, tendo naturalmente cada área de

deficiência as suas particularidades e as suas patologias associadas. Porém,

de uma forma geral, as pessoas com deficiência recorrem a vários profissionais

de saúde para realizar reabilitação.

A reabilitação é uma área que se preocupa com cuidados de saúde e

que proporciona o tratamento da pessoa, tendo em vista desenvolver, manter

ou recuperar o máximo de movimento e funcionalidade ao longo da vida. Isto

incluí exercer tratamento em circunstâncias onde o movimento e a

funcionalidade do indivíduo é afetada pela idade, por lesão, por doença ou

fatores ambientais (Verellen e Molik, 2011). Os objetivos da reabilitação

passam pela identificação e optimização da qualidade de vida e capacidade de

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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movimento dentro das áreas da promoção, prevenção, tratamento/intervenção,

habilitação e reabilitação. Tudo isto implica um bem-estar físico, psicológico,

emocional e social. Neste sentido, a reabilitação requer uma

multidisciplinaridade na sua abordagem (Verellen e Molik, 2011). Dependendo

do grupo de foco, neste caso específico as pessoas com deficiência, as áreas

que contribuem para um programa de reabilitação passam, entre outras, pela

medicina e enfermagem, terapia ocupacional e fisioterapia (Noreau e

Shephard, 1995; Yohannes, Doherty, Bundy and Yalfani, 2010).

Na última década, a AFA tem sido reconhecida como uma valiosa adição

às disciplinas atrás referidas como parte integrante de um programa de

reabilitação, exemplo disso são os estudos de Molt et al. (2010), onde

participou uma amostra de pessoas com esclerose múltipla e onde a AF provou

ser benéfica no caminhar destas pessoas e noutro estudo de Valent et al.

(2010), com a participação de pessoas com lesões medulares, onde a prática

de handcycling provou ser benéfica nas capacidades requeridas para andar em

cadeira de rodas e ainda no aumento do desenvolvimento muscular.

Estudos científicos anteriores já sugeriram que programas exclusivos de

fisioterapia, frequentemente, não dão a atenção necessária à condição geral de

aptidão física do paciente, à sua funcionalidade e potencial máximo, com o

objetivo de ajudar a alcançar a melhor funcionalidade possível para as tarefas a

desempenhar no dia a dia. Nesse sentido, a existência de um programa de

AFA que complemente o programa de fisioterapia permitiria alcançar isso

mesmo (Verellen e Molik, 2011). Com efeito, o programa de AFA pode ser

implementado durante e após o programa de fisioterapia para, não só melhorar

a qualidade e aumentar a probabilidade de sucesso do programa, mas também

prevenir retrocessos no estado clínico do paciente (Hayden, Van Tulder e

Tomlinson, 2005).

O leque de atividades que podem ser realizadas neste contexto

terapêutico é variadíssimo, mas as atividades que são mais frequentes, e por

isso importa aprofundar um pouco cada uma e as suas características

essenciais, são: a Hidroterapia, Hipoterapia e a Equitação Terapêutica. Estas

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Capítulo II - Revisão de Literatura

19

atividades têm diversas particularidades que atraem várias pessoas à sua

prática.

A Hidroterapia corresponde ao uso das propriedades da água para fins

terapêuticos em benefício de pessoas de todas as idades e com diferentes

níveis de habilidades (Skinner e Thomson, 2008). A Hidroterapia tornou-se uma

componente muito popular da reabilitação, sendo atualmente utilizada

extensivamente no desporto, nomeadamente numa introdução à Natação e

reabilitação ortopédica, tal como em muitas doenças neurológicas. O

estabelecimento de um programa aquático pode ser uma adição muito benéfica

a nível terapêutico para o cuidado clínico de um paciente. A imersão na água

provoca profundos efeitos biológicos, que se estendem em todos os sistemas

homeostáticos. Estes efeitos são tanto imediatos como a longo prazo e

permitem que a água seja usada como uma terapia eficaz na resolução de

vários problemas reabilitacionais. A Hidroterapia é benéfica no tratamento de

problemas músculo-esqueléticos, neurológicos, cardiorrespiratórios, entre

outros. Esta foi a origem de programas aquáticos adaptados e programas de

formação para profissionais que ensinam técnicas de nado a pessoas com

deficiência. Os objetivos eram recreacionais e educacionais, com o foco de

ajudar os nadadores a alcançar independência na água. Foi rapidamente

visível que os resultados terapêuticos alcançados na água se notavam

igualmente em terra (Cole e Becker, 2004).

A Hipoterapia e Equitação Terapêutica, apesar de serem muitas vezes

confundidas e consideradas como equivalentes, cada uma destas atividades

possui objetivos diferentes e por isso serão descritas de forma separada.

Na Hipoterapia o movimento do cavalo é a componente básica utilizada

para produzir efeitos terapêuticos a nível neurofisiológico no cavaleiro, uma vez

que este tem de se adaptar à alteração constante de forças físicas. Os

movimentos do cavalo produzem um movimento tridimensional transmitindo

impulsos dinâmicos e rítmicos ao cavaleiro. Estes impulsos expõem o cavaleiro

a movimentos para a frente e para trás, movimentos laterais e rotações

(Honkavaara e Rintala, 2010).

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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A Hipoterapia centra-se na recuperação de competências que permitam

a reintegração, tanto a nível profissional como social, direcionando-se para o

domínio da medicina física e de reabilitação. Esta vertente intervém ao nível do

alívio da dor e da funcionalidade motora, pretendendo manter ou melhorar

aspetos como a força muscular, a mobilidade, a capacidade respiratória, a

circulação, a coordenação muscular e correção de posturas. Assim, a terapia é

dirigida para objetivos neuromotores específicos, no que diz respeito ao

processo de reabilitação do indivíduo (Leitão, 2012).

A Equitação Terapêutica surge para responder às problemáticas sociais

numa perspetiva médica e pedagógica (Kröger, 1989). A abordagem

terapêutica pretende que o cavaleiro aprenda a montar a cavalo, enquanto

beneficia da terapia que assegura influências pedagógicas e psicológicas. A

Equitação Terapêutica aplica-se em condições adaptadas a cada caso e

apresenta objetivos diferentes para cada individuo. O instrutor tem a função de

ensinar a técnica de montar a cavalo, tendo sempre em conta as limitações e

incapacidades individuais. Pretende-se que o cavaleiro se torne autónomo na

condução do cavalo e atue sobre este, realizando atividades adaptadas pelos

técnicos envolvidos (Lobo, 2003).

A vertente terapêutica da AF é uma vertente que tem enorme

importância na vida das pessoas com deficiência, uma vez que estas possuem

determinadas patologias ou riscos associados à sua deficiência, que podem ser

ultrapassados, ou diminuídos através da prática de AF. A AFA deverá,

portanto, ser uma área a ter em conta para a reabilitação e manutenção de

saúde das pessoas com deficiência. A WHO (2003) sugere isso mesmo,

dizendo que a AF e a prática saudável de desportos é essencial para a nossa

saúde e bem-estar.

1.3 Dimensão de competição

A AFA consegue, em toda a sua abrangência, incluir ainda a dimensão

competitiva, abarcando o mundo desportivo adaptado, que muito apaixona as

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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pessoas e permite que as pessoas com deficiência consigam elevar as suas

capacidades até ao limite num mundo de competição e de excelência.

Segundo Depauw e Gavron (2005), a ligação do desporto com o mundo

da deficiência, resultando no desporto adaptado, ocorreu inicialmente durante o

século XX. Os mesmos autores referem que a origem do desporto adaptado

pode ser identificada ao longo de uma perspetiva histórica da AF, na vasta

história da AF e do movimento humano.

Para Winnick (2011), o desporto adaptado corresponde a um desporto

modificado ou criado para ir de encontro às necessidades dos indivíduos com

deficiência. Já Nixon (2006), considera o desporto adaptado qualquer forma de

competição física organizada intencionada, especificamente, para pessoas com

deficiência e contrasta com desportos regulares que são organizados para

pessoas sem deficiência. O desporto adaptado inclui desportos que foram

criados para um determinado grupo de atletas com uma deficiência específica:

Goalball para pessoas com deficiência visual ou Boccia para pessoas com

Paralisia Cerebral, nas suas várias categorias. No entanto, também existem os

desportos convencionais que são praticados pelas pessoas sem deficiência,

mas adaptados para pessoas com deficiência, como é o caso do Basquetebol

em cadeira de rodas ou Voleibol sentado para pessoas com deficiência motora.

Estes desportos podem requerer algumas ou nenhumas modificações para a

participação de pessoas com deficiência (Deprauw e Gavron, 2005).

Hoje em dia existem grandes competições internacionais para atletas

com deficiência de elite, para além das inúmeras competições nacionais e

regionais (Depauw e Gavron, 2005).

Segundo Depauw e Gavron (2005), as três grandes competições

internacionais existentes no mundo do desporto adaptado são:

- Surdolímpicos;

- Jogos Paralímpicos;

- Special Olympics.

Os Jogos Paralímpicos e os Surdolímpicos são as competições de maior

nível internacional, onde apenas alcançam estas provas os atletas de

excelência e de grande nível desportivo, praticantes de modalidades

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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consideradas pelo Comité Paralímpico Internacional. Os Special Olympics são

uma grande competição internacional, mas onde o objetivo não é o alto

rendimento desportivo e a procura de medalhas. Os Special Olympics são uma

competição onde o que será importante é a própria participação, onde se

procura a maior participação de atletas possível, dentro da DI e que estes

possam participar num grande evento desportivo.

Segundo Depauw e Gavron (2005), os Surdolímpicos são uma

competição desportiva específica para pessoas surdas, tal como o nome da

competição indica e foram iniciados no ano de 1924, em Paris, tendo sido,

portanto, a primeira competição internacional criada para pessoas com

deficiência, neste caso específico, para pessoas com surdez. Atualmente,

realizam-se de quatro em quatro anos, no ano após os Jogos Paralímpicos e,

sempre que possível, no mesmo local.

Os mesmos autores referem que os Jogos Paralímpicos são

considerados o equivalente aos Olímpicos para atletas de elite com deficiência

motora, intelectual e visual. Os primeiros jogos internacionais realizaram-se em

1952, em Stoke Mandeville, no entanto os primeiros Jogos Paralímpicos

realizaram-se em Roma, em 1960, com a participação de 400 atletas e com

representação de 32 países. Portugal participa pela primeira vez em 1972, na

antiga República Federal da Alemanha (FPDD, 2016). A começar em Seoul,

1988, nos últimos anos os Jogos Paralímpicos têm sido realizados no mesmo

país e cidade que os Jogos Olímpicos (Depauw e Gavron, 2005).

No seguinte quadro (Quadro 3), podemos verificar todos os Jogos

Paralímpicos realizados até à data, o seu ano de realização, o local onde

ocorreram, os tipos de deficiência que foram incluídos em cada edição, os

países que participaram, o número de atletas participantes e os desportos

presentes em cada edição até aos recente Jogos Paralímpico do Rio de

Janeiro, inclusive.

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Capítulo II - Revisão de Literatura

23

Quadro 3 – Jogos Paralímpicos de Verão, retirado e adaptado de Depauw e Gavron

(2005) e Comité Internacional Paralímpico (2016).

Ano Localização Deficiência Países Atletas Desportos

1952 Stoke Mandeville Lesão Medular (LM) 2 130 6

1960 Roma LM 23 400 8

1964 Tokyo LM 21 375 9

1968 Tel Aviv e Cidade do

México LM 29 750 10

1972 Heidelberg e

Munique LM, Cegueira (C) 41 1004 10

1976 Toronto e Montreal

LM, C, les autres (LA) 42 1657 13

1980 Arnhem e Moscovo

LM, amputados (A), C, Paralisia Cerebral

(PC) 42 1973 12

1984 Stoke Mandeville

e Nova York LM, A, C, PC 41 1100 14

1988 Seoul LM, A, C, LA 45 1800 13

1992 Barcelona LM, A, C, PC, LA 61 3053 17

1992 Madrid DI 82 3020 15

1996 Atlanta LM, A, C, PC, LA, DI 74 1400 5

2000 Sydney LM, PC, LA, DI, C, A 103 3195 17

2004 Atenas LM, A, PC, LA, C, DI 123 3843 18

2008 Pequim LM, A, PC, LA, DI 130 4000 21

2012 Londres LM, A, PC, LA, C, DI 164 4237 20

2016 Rio de Janeiro LM, A, PC, LA, C, DI 161

(estimativa) 5000

(estimativa) 25

De uma forma geral, verificámos, através do Quadro 3, que a

diversidade de deficiências, o número de atletas, o número de países

participantes e os desportos praticados, revelaram uma tendência crescente ao

longo da história dos Jogos.

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Capítulo II - Revisão de Literatura

24

Por fim, os Special Olympics, são uma competição criada,

especificamente, para pessoas com DI, tendo não só os jogos de verão, mas

também os de inverno. Estes são alternados entre si por dois anos, sendo que

os jogos de verão acontecem de quatro em quatro anos, um ano antes dos

Jogos Paralímpicos. Os primeiros Special Olympics foram realizados no

Canadá, em 1968 (Depauw e Gavron, 2005).

A existência destas competições internacionais, promove bastante o

desporto adaptado, no entanto, para se chegar a um patamar de excelência

desportiva é necessário, em primeiro lugar, promover o desporto adaptado

desde os seus níveis de competição mais elementares. Para que essa situação

possa ocorrer, cabe aos pais, aos professores de EF, ou aos clubes amadores,

como é o caso do Sport Club do Porto, captar crianças e jovens, para que

estes possam iniciar uma atividade desportiva regular, desde o mais baixo nível

desportivo até ao patamar mais elevado. É assim necessário cativar atletas,

por exemplo através do DE, através das aulas de EF, para que possam, a partir

daí, ingressar num clube. Existe a possibilidade de evoluir, participar em

competições a nível distrital, regional e nacional. Os atletas que continuarem a

sua carreira na área e reunirem todos os fatores necessários, podem mesmo

chegar aos mínimos para ingressar na alta competição e chegar às

competições internacionais atrás referidas.

Uma vez que o presente estudo se enquadra no contexto nacional,

importa referir que a nível nacional, o desporto para pessoas com deficiência

encontra-se organizado como representado pelo organograma (Figura 1)

segundo a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência

(FPDD).

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Capítulo II - Revisão de Literatura

25

Figura 1 – Organograma da FPDD (2013).

Existem, como demonstra a Figura 1, duas entidades que tutelam o

desporto para pessoas com deficiência em Portugal, o Comité Paralímpico de

Portugal (CPP) e a FPDD. O CPP é a entidade que tutela o desporto adaptado

a nível internacional. A FPDD é uma entidade que tutela o desporto adaptado

nacional e divide-se nas várias associações, que se dividem por áreas da

deficiência, com o objetivo de promover todo o tipo de desportos e abarcar os

diferentes tipos de deficiência. Assim, o nível competitivo será mais justo e

mais inclusivo, uma vez que permite a participação de todos. Algumas das

modalidades estão, no entanto, filiadas nas respetivas federações nacionais,

como é o caso do Voleibol sentado, que se encontra filiado à Federação

Portuguesa de Voleibol, reforçando o papel da inclusão no desporto. As várias

associações e federações têm o dever de promover atividades desportivas na

sua área específica e dotar os clubes com meios e capacidades para

desenvolver a prática desportiva. Estes devem ir de encontro às regras de

funcionamento criadas pelos órgãos máximos do desporto para pessoas com

deficiência e devem permitir a participação de todos. Existe, assim, um elevado

número de entidades que procuram desenvolver o desporto de competição e

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Capítulo II - Revisão de Literatura

26

promover o desporto para pessoas com deficiência, do mais baixo ao mais alto

nível competitivo.

1.4 Dimensão recreativa

Para terminar o desenvolvimento das várias dimensões da AFA, concluo

com a dimensão recreativa, que terá um papel muito importante no

desenvolvimento do presente estudo, uma vez que esta é uma dimensão muito

presente no desenvolvimento da Centro de Desporto Adaptado do Sport Club

do Porto.

As pessoas com deficiência sempre estiveram entre nós, no entanto,

enquanto sociedade não estávamos muito conscientes da presença deles.

Muitos deles viviam em instituições, ou fora de vista. Aqueles que viviam com

as suas famílias, habitualmente, permaneciam em casa e eram apenas

conhecidos pelos seus vizinhos mais imediatos. Qualquer recreação de que

pudessem desfrutar era oferecida através das suas famílias ou pelas

instituições. Alguns com deficiências mais leves e que conseguissem, de

alguma forma, “acompanhar” o ritmo das atividades, podiam ser encontrados

nos programas recreativos, embora fossem identificados como pessoas com

deficiência (Pomeroy, 1983).

Durante os anos 70 foi estimado que apenas 10% da população com

deficiência recebia serviços de recreação; 90% não tinha acesso a este tipo de

serviços. A norma, na altura, era focada em mencionar, avaliar, planear e

publicitar demonstrações, por exemplo, nos que recebiam estes serviços, em

vez de se focar aqueles com deficiência que não os tinham (Nesbitt, 1981). O

mesmo autor refere que, já no início dos anos 80, se deveria ir fora das

instituições e usufruir de programas já existentes para chegar aos que não têm

acesso a estes serviços, oferecendo serviço recreativo para pessoas com

deficiência, quer crianças, jovens, adultos ou idosos.

Hoje em dia o paradigma mudou, enquanto antigamente as pessoas

eram colocadas em hospícios próprios, hoje em dia existe a tentativa de os

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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incluir nas atividades da sociedade e, se possível, colocá-los de forma

autónoma na vida quotidiana.

Para Marques, Castro e Silva (2001), a dimensão recreativa não terá a

mesma relevância das dimensões anteriores, no entanto, numa perspetiva de

vida quotidiana, esta dimensão parece-me possuir elevada importância,

nomeadamente na ocupação de tempos livres de pessoas com deficiência.

Este tipo de AF pode ser definida como uma atividade ou experiência

que envolve vários níveis de esforço físico, perícia e/ou habilidade, o que

poderá não ser o foco da atividade e é realizada, voluntariamente, por um

indivíduo, no seu tempo livre, com a intenção de satisfação mental ou física

(Australia Year Book, 2008).

De acordo com Woodmansee, Hahne, Imms e Shields (2016), a AF

recreativa incluí atividades formais organizadas, estruturadas com regras (por

exemplo, jogos coletivos) e atividades informais espontâneas que requerem

pouca preparação e treino (por exemplo, jogar no recreio da escola com os

amigos). Engloba, por isso, um vasto intervalo de intensidades a nível físico,

desde o menos intenso, até ao mais vigoroso, mas exclui a atividade

sedentária, que não requer qualquer dispêndio de energia.

No fundo, a participação recreacional permite ao indivíduo envolver-se

na AF, através dos próprios meios e condições, tendo como objetivo primário

ser saudável e divertir-se (Lundberg, Taniguchi, McCormick e Tibbs, 2011).

Frequentemente, atividades praticadas na natureza, por pessoas com

deficiência, envolvem atividades recreativas ao ar livre e desportivos cujos

objetivos englobam a autossuperação e a manutenção da saúde em todas as

suas dimensões. A natureza tem um apelo de desafio e, ao mesmo tempo, é

um contexto agradável, oferece muitas opções de atividades físicas, desportos

e atividades recreativas, que surgiram nas últimas décadas para diversificar o

tempo livre das pessoas com deficiência (Mauerberg-deCastro, 2005). A

mesma autora refere ainda que as pessoas com deficiência assumiram há

muito tempo a sua independência na escolha das atividades do contexto do

lazer e do desporto, especialmente onde não há uma organização formal, como

nas atividades junto à natureza. Devemos aprender com elas sobre este

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Capítulo II - Revisão de Literatura

28

processo de vencer desafios e sobreviver. Devemos inspirar-nos nas suas

experiências para, como educadores e terapeutas, propiciar alternativas de

atividades para aqueles com menos independência (Mauerberg-deCastro,

2005).

Marques, Castro e Silva (2001), sugeriam que no início dos anos 2000,

foram aparecendo vários trabalhos dirigidos à recreação, focando-se na sua

importância e formas organizativas, tendo-se verificado que existe ainda uma

baixa adesão, estudando-se as razões e concluindo-se a grande relevância e

futuro desta área para as pessoas com deficiência.

2. Benefícios da Atividade Física Adaptada

Os benefícios da AF são de extrema relevância para toda a sociedade.

Contudo, os autores Anderson e Heyne (2010) referem que a AF para pessoas

com deficiência é mais importante do que para pessoas sem deficiência. Esta

frase pode ser interpretada de várias formas, sendo que se verificarmos o valor

da AF, esta é de igual forma importante para todos, quer se tenha deficiência

ou não. No entanto, o nível de impacto na vida, em termos de benefícios

diretos na vida da pessoa, parece-nos que, de facto, este é maior na vida de

pessoas com deficiência.

A prática regular de AF pode ser uma forma de atingir inúmeros

benefícios de saúde, que podem influenciar, de uma forma direta, ou indireta, o

impacto positivo em diversos riscos para a saúde. Na realidade, as pessoas

com deficiência devem ter oportunidades e apoio para a prática de uma AFA às

suas limitações e capacidades. O objetivo é ajudar as pessoas com deficiência

a melhorar a sua força muscular, o estado psicológico de bem-estar e elevar a

qualidade de vida, melhorando a realização das tarefas da vida diária (World

Health Organization, 2003).

Neste estudo serão focados os vários benefícios decorrentes da prática

de AF por parte das pessoas com deficiência. Neste contexto, serão

explanados os benefícios a nível social, psicológico e fisiológico.

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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2.1 Benefícios a nível social

O relacionamento com os outros é algo que é vital na vida do ser

humano. A prática de AF e desportiva é um meio, no qual existe a grande

possibilidade de nos relacionarmos com os outros de uma forma mais próxima,

e daí, permitir desenvolver um contexto social que poderá ter um papel

importante na vida da pessoa. Para pessoas com deficiência pode ainda ter

uma importância maior, uma vez que podem muitas vezes sentir-se excluídas

das restantes atividades da vida quotidiana. Para muitas pessoas com

deficiência, a mesma pode limitar oportunidades para se envolver em eventos

sociais com os seus pares, o que pode levar a sentimentos de isolamento

(Rimmer et al., 2007).

As dificuldades sociais experienciadas por grupos minoritários, tais como

a discriminação e a estigmatização, são elevadas entre as pessoas com

deficiência, comparativamente a pessoas sem deficiência, mas a AF pode

atenuar esses aspetos (Barg et al., 2010).

Segundo Martin (2013), a AF contribui para a melhoria do estado social

da pessoa. Nesse sentido, Arbour, Latimer, Martin Ginis e Jung (2007)

constataram que as pessoas sem deficiência olhavam para as pessoas com

deficiência que fossem fisicamente ativas de uma forma mais favorável,

comparativamente a pessoas com deficiência inativas. Os mesmos autores

referem que pessoas que praticam AF são mais amigáveis, persistentes e em

quem se pode confiar mais.

A natureza social de muitas atividades desportivas leva ao aumento da

integração social, interação social e à criação de amizades (Groff e Kleiber,

2001). Com efeito, num estudo realizado pelos mesmos autores, com crianças

com Paralisia Cerebral e Espinha Bífida, que participaram em programas

desportivos no período pós aulas, realçaram a importância de estarem em

contacto com outras crianças com deficiência. Criar laços com outras crianças

com deficiência contribuiu para o sentimento de pertença, permitindo que estas

agissem de uma forma mais natural, com capacidade de serem eles próprios

(Groff e Kleiber, 2001).

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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Adicionalmente, quando a AF decorre através de desporto de competição,

jovens atletas também têm a oportunidade de viajar com a sua equipa e

experienciar sentimentos como o de independência, diversão e ainda o efeito

surpresa que muitas vezes acompanha a descoberta de novos lugares e o

conhecimento de novas culturas (Anderson et al., 2005). Mas esta prática não

se resume à participação das crianças e dos jovens. A felicidade e a rede de

contactos criada através do desporto e da AF, são motivadores importantes

também para os adultos (Allender et al., 2006).

Os benefícios afetivos da AF não estão apenas limitados ao aumento do

bom humor e aos sentimentos positivos, mas também à diminuição de

experiências afetivas negativas (Martin, 2013). A AFA é, portanto, um veículo

importante, para que as pessoas com deficiência possam interagir com os seus

parceiros, sejam estes os seus colegas de equipa, adversários, treinadores ou

professores e criar laços afetivos com os mesmos, o que permite aumentar a

sua capacidade de comunicação e valorizar mais a sua vida social.

2.2 Benefícios a nível psicológico

A AF permite a evolução e melhoria do estado psicológico dos

indivíduos.

Em muitos casos, as pessoas com deficiência são vistas como

incapazes e limitadas na sua tentativa de serem independentes e bem

sucedidas. Assim, os maiores benefícios psicológicos decorrentes da

experiência bem sucedida da AF são a autoperceção, variando desde uma

autoestima global para um julgamento discreto e específico de competência e

autoeficácia (Martin, 2013).

A AF, segundo Callaghan (2004), é conhecida por melhorar a autoestima

e o funcionamento cognitivo, ajudando a ultrapassar estados de ansiedade,

depressão e ainda humor negativo. Também ajuda a regular o sono, melhora o

vigor e os níveis de energia da pessoa, num estudo realizado com pessoas

com doenças mentais (Sharma et al., 2006). A prática de AF, permite o

aumento da circulação sanguínea para o cérebro e estimula a região do

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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cérebro responsável pelo humor, pela motivação e melhora o estado e

formação de memória, uma vez que a AF promove a secreção de

neurotransmissores de serotonina e endomorfinas que melhoram o estado

emocional da pessoa, também num estudo realizado com pessoas com

doenças mentais (Callaghan, 2004). Sharma et al. (2006) acrecenta que a AF

ajuda, igualmente, na regulação da reação fisiológica corporal ao stress.

As pessoas com deficiência, por serem muitas vezes postas de parte na

sociedade, vêem na AFA uma oportunidade de demonstrar que também são

capazes e que devem ter as mesmas oportunidades que os outros para

mostrar que não estão, de forma alguma, num patamar inferior a nível de

importância relativamente às pessoas sem deficiência, o que lhes permite criar

a confiança (Martin, 1999) e usufruir de uma estado de espírito positivo,

desfrutando das atividades (Martin, 2006), como merecem. O impacto da AF no

nível emocional e psicológico das pessoas com deficiência é portanto muito

positivo e deve ser reforçado ao máximo.

2.3 Benefícios a nível fisiológico

Existem vários benefícios fisiológicos da AF que podem diminuir o risco

de doença crónica, problemas de saúde mental e morte prematura. Warburton,

Nicol e Bredin (2006), por exemplo, denotaram uma melhoria da função

vascular entre adultos que praticam atividade aeróbia regular. Esta AF revelou

diminuir o risco de coágulos de sangue e regula a pressão arterial; além disso,

o exercício aeróbio diminui lipoproteínas de baixa densidade (LDL’s, ou

“colesterol mau”) e aumenta as de alta densidade (HDL’s, ou o colesterol bom),

diminuindo assim o risco de doenças cardiovasculares. O exercício regular

diminui ainda a inflamação crónica, resultando na melhoria muscular e saúde

cardíaca (Warburton et al., 2006). Os mesmos autores constataram que o

exercício assiste na estabilização hormonal e níveis de insulina, o último

através da homeostasia para manter a glicose no sangue sob controlo,

reduzindo assim a possibilidade de desenvolver diabetes ou de se tornar obeso

(Sharma, Madaan e Petty, 2006; Warburton et al., 2006). No contexto da saúde

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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específica das pessoas com deficiência, as consequências na saúde das

mesmas, por não praticarem qualquer AF, incluem a diminuição da capacidade

de locomoção e consequente diminuição de independência (Nosek, et al.,

2006; Goodwin, et al., 2004; Durstine, et al., 2000; McDonald, 2002; Draheim,

2006; Sutherland et al., 2002). Segundo Rimmer e Wang (2005), as pessoas

com deficiência, independentemente do sexo, da raça e etnicidade ou da idade,

tinham valores significativamente mais elevados de sobrepeso, obesidade e

obesidade mórbida, comparando com pessoas sem deficiência, numa amostra

de 306 pessoas com deficiência. Esta ideia é complementada pelos estudos

que indicam que as pessoas com deficiência têm maior tendência para

desenvolver doenças secundárias que incluem a osteoporose, osteoartrites,

diminuição do equilíbrio, da força, da resistência, da flexibilidade e por fim, o

aumento de probabilidade de obesidade (Craham e Reid, 2000; Rimmer, 1999).

É, portanto, extremamente importante manter os níveis de AF elevados na

população com deficiência.

Num estudo que tinha como amostra indivíduos com todo o tipo de

deficiências, mas excluiu aquelas que surgem de doenças crónicas, foi

demonstrado que a participação regular em programas de AF contribuí para a

redução de risco cardiovascular, diabetes e hipertensão nas pessoas com

deficiência, (Rimmer e Braddock, 2002).

A AFA também melhora não só a composição corporal e saúde óssea,

assim como contribui para a prevenção ou atraso de doenças crónicas com

crianças com deficiência (Shields, Synnot e Barr, 2012). Nesta faixa etária, a

participação na AF é particularmente importante, uma vez que pode ter um

impacto positivo no desenvolvimento, qualidade de vida e saúde em situações

futuras (Shields, Synnot e Barr, 2012).

Todos os benefícios quer sociais, psicológicos ou fisiológicos, têm uma

importância elevada na vida das pessoas com deficiência e devem ser

estudados ao máximo, para que possam contribuir de uma forma muito positiva

para a vida das pessoas. Todos estes benefícios, devem estar presentes de

uma forma equilibrada, na vida das pessoas, uma vez que se complementam

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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entre si. Todos os parâmetros de saúde estão interligados entre si, sendo que

uma diminuição na saúde, ou situação de patologia numa determinada

componente, poderá necessariamente, prejudicar as restantes componentes de

saúde. A AFA acaba por ter um papel fundamental uma vez que permite que

haja benefícios a todos esses níveis, permitindo às pessoas com deficiência

encontrar um bom equilíbrio na sua vida, em todas as componentes que a

constituem.

3. Barreiras à prática de Atividade Física Adaptada

Dado o valor que a AF possui e os baixos níveis de prática por parte da

maioria das pessoas com deficiência, não é de estranhar que um grande foco

de investigação no mundo da deficiência e da AF passe por identificar as

barreiras à sua prática de AF por parte de indivíduos com deficiência (Martin,

2013). Para o autor, algumas das barreiras são partilhadas entre todas as

pessoas, no entanto, existem barreiras que são específicas para pessoas com

deficiência.

A este respeito, Shields, Synnot e Barr (2012), realizaram uma

investigação, a partir da revisão de 14 artigos, desde o ano 1983 até 2007,

quanto às barreiras para a prática de AF por parte de crianças com deficiência.

As principais barreiras encontradas apresentam-se seguidamente:

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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Quadro 4 – Barreiras à AF, adaptado de Shields, Synnot e Barr (2012).

Barreiras Pessoais

Barreiras Sociais Barreiras

ambientais Barreiras organizacionais

Falta de habilidade física

Ações, comportamentos ou preocupações parentais

Instalações inadequadas

Falta de programas de AF adequados

Falta de habilidade social

Falta de amigos ou apoio dos pares

Transporte Os que existem só se focam em desportos de equipa

Preferência por outras atividades que não físicas

Atitudes negativas por parte da sociedade

Tempo/meteoro-logia

Falta de capacidade por parte dos trabalhadores

Medo Falta de um modelo a seguir

-

Atitudes negativas dos trabalhadores em relação às pessoas com deficiência

Falta de conhecimento ou perceção relativamente à AF

Falta de boa comunicação para com a criança com deficiência

- Custo

Falta de tempo - -

Falta de divulgação para com os clientes e falta de informação acerca dos benefícios da AF

Dor ou desconforto

- - -

Verificamos, através da visualização do Quadro 4, as barreiras à prática

de AF consideradas em diferentes estudos, sendo que as autoras distinguiram

as barreiras pessoais, sociais, ambientais e por fim organizacionais. As que

apresentam um número mais elevado de subtemas são as barreiras pessoais,

seguidas pelas barreiras organizacionais, sendo que as que têm menor número

de subtemas, são as barreiras ambientais.

Com referência a esta temática, Martin (2013) afirma que existe um

número significativo de barreiras à prática de AF para pessoas com deficiência.

O autor divide as barreiras em pessoais, sociais e do ambiente, no entanto

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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refere que muitas barreiras não se enquadram em nenhum destes domínios,

sendo que não é fácil identificar a sua origem, correndo-se o risco de simplificar

e não representar a realidade enfrentada pelas pessoas com deficiência. Uma

das barreiras principais para o autor é a dor, uma vez que influencia a prática

de AF para muitas pessoas com deficiência. Martin (2013) refere ainda que as

barreiras podem, em conjunto, impedir a participação na AF e ainda pode variar

de pessoa para pessoa. Por fim, barreiras que existem no início da prática de

AF (por exemplo a dor) podem desaparecer à medida que a sua experiência e

envolvência com a AF aumenta.

O conhecimento das várias barreiras à participação na AF por parte de

pessoas com deficiência, é vital para que a comunidade envolvente neste tipo

de atividades, tais como clubes e organizações desportivas, possam evitar e

desenvolver formas de suprimir estas barreiras, ou pelo menos minimizá-las.

Estes organismos devem ainda conhecer ao máximo a realidade das pessoas

com deficiência, para que possam, em colaboração com as mesmas,

responder às suas necessidades e encontrar soluções a nível local, nas suas

próprias instalações e atividades. As organizações devem também explorar as

entidades de maior relevância a nível global, através do contacto com agentes

maiores, tais como juntas de freguesia, câmaras municipais e chegar mesmo

ao governo português, para que se possa, cada vez mais, sensibilizar a

sociedade para estas barreiras e para que se possam, de uma forma mais

significativa, evitar as mesmas de uma forma global e permanente.

4. Papel da Família

4.1 Papel dos pais na vida da pessoa com deficiência

A importância do papel dos pais é inquestionável, mais não seja porque

são eles os responsáveis pela nossa existência, de uma forma muito simples,

partilhando o seu código genético para a criação de um novo ser. Para além de

serem os criadores, são também responsáveis, na maioria das vezes, pela

educação e pela formação dos seus filhos. Eles escolhem a escola que o filho

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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irá frequentar, escolhem o nome que filho terá para o resto da sua vida,

escolhem até onde o seu filho nasce. São tudo decisões, que de uma forma ou

outra, irão influenciar a vida dos seus filhos e irão criar as raízes para o

desenvolvimento de um novo ser, com uma personalidade própria e com a

perspetiva de que terá um futuro próspero. Isto não significa que quando o filho

tem capacidade para tal, não possa tomar decisões próprias na sua vida,

mesmo que possua algum tipo de deficiência.

Apesar do papel de decisão dos pais, existe um aumento no

reconhecimento de que os jovens, incluindo jovens com deficiência, podem

expressar os seus pensamentos e sentimentos, tomar decisões informadas e

exercer influência (Lansdown e Karkara, 2006). A Convenção das Nações

Unidas acerca dos direitos da criança afirma que todas a crianças, incluindo

crianças com deficiência, têm o direito de ser envolvidas em assuntos e

decisões que lhes dizem respeito (Lansdown e Karkara 2006). Com efeito, a

criança com deficiência também influencia o que está à sua volta, possui

grandes conhecimentos em relação às suas experiências do dia a dia e tem a

capacidade de tomar decisões (Unites Nations General Assembly, 1989; James

e James, 2004).

No mesmo contexto, de tomada de decisões, investigações realizadas

com jovens e crianças sem deficiência na Noruega (Bjerk, 2011), no Reino

Unido (Morrow, 1999) e na Europa do Leste (Tomanovic-Mihajlovic, 2000;

Tomanovic, 2003) demonstraram padrões similares de participação na tomada

de decisões: as crianças raramente faziam, ou expressavam o desejo de tomar

decisões com completa autonomia. Nestes estudos, foram encontradas

diferenças, tanto intra como entre estudos, contudo, todos os estudos

demonstraram que as crianças que sentiam que a sua opinião era respeitada e

valorizada na tomada de decisões, indicou que fatores pessoais, familiares e

culturais, muito provavelmente, contribuem para as diferenças que decorrem de

família para família, mostrando o importante papel desses fatores externos à

criança no seu desenvolvimento. No contexto, Tomanovic (2003) demonstrou

que perceções de condições sociais pouco seguras, combinadas com vários

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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níveis de confiança nas competências da criança, levava os pais a tomar

diferentes posições de controlo em relação às ações das crianças e jovens.

Ambos, pais e jovens, tendem a descrever que os pais devem exercer

autoridade nas questões morais que afetam o bem-estar dos outros e questões

convencionais que estão relacionadas com comportamentos aceites que

estruturam as interações sociais (Smetana, 2010). Também para assuntos

delicados, respeitantes a questões de saúde e segurança, os pais e os

adolescentes concordam que os pais devem ter autoridade (Smetana e Asquith

1994; Smetana 2000).

Apesar destes estudos referidos não se direcionarem, especificamente,

para as crianças com deficiência, as mesmas também poderão ser

enquadradas neste contexto, sendo que outros estudos revelaram situações

específicas para as mesmas, completando a informação anterior.

No contexto da realidade da deficiência, tudo varia desde deficiências

que pouco e raramente afetam a capacidade das crianças na participação num

espetro total de atividades, até deficiências múltiplas e complexas que estão

sempre presentes e envolvem vários aspetos da sua vida diária (Mark Whiting,

2013). No caso de pessoas que apenas possuem deficiência motora, a sua

forma de pensar e a sua tomada de decisão não será, em princípio, posta em

causa, uma vez que a sua deficiência não afeta a sua condição cognitiva, no

entanto, o mesmo não acontece com pessoas que possuem deficiências que

afetem o seu desenvolvimento cognitivo.

Com referência a este facto, num estudo realizado com uma amostra de

pessoas com DI e os seus familiares, o nível no qual um jovem era ou não

percecionado com necessidade de proteção e que, assim, estava capaz de

participar nas tomadas de decisão, parece estar dependente das suas

características pessoais, o que, no entanto, pode ser comprometido por

ameaças externas ao seu bem-estar. Em termos de características pessoais,

os pais muitas vezes descreviam os seus filhos com DI com falta de

discernimento e pouco desenvolvimento na capacidade de tomada de decisão.

Na opinião dos pais, estes não são capazes de entender a diferença entre “o

correto e o incorreto”, possuem falta de confiança ou de capacidade de

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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argumentação, falta de capacidades específicas (por exemplo lidar com

dinheiro) e apresentam níveis mais elevados de imaturidade. Estas

características levam a que os pais acreditem que os jovens com DI, tomariam

decisões incorretas e pouco seguras. Os pais também receiam que, muitas

vezes, devido às suas diferenças visíveis, nomeadamente no modo como se

apresentam, ou vulnerabilidades pessoais, estes jovens com DI seriam

rejeitados socialmente ou os outros acabariam por se aproveitar dos mesmos,

tendo em conta as suas fragilidades (Saaltink et al., 2012). Nesta perspetiva, o

papel dos pais na vida das pessoas com DI acaba por ser preponderante, uma

vez que estes não possuem capacidades suficientes, salvo determinadas

exceções, para serem independentes, mesmo que já sejam maiores de idade.

Segundo Cobb e Alwell (2009), comparado com outros pais, os pais de

crianças com deficiência têm um papel mais ativo nas escolhas associadas ao

abandono de uma participação a tempo inteiro na educação por duas razões

principais. Primeiro, quando uma pessoa jovem tem uma deficiência cognitiva

considerável, os pais assumirão responsabilidade de tomar decisões (tendo

sempre em conta, naturalmente, as aspirações e preferências do jovem).

Segundo, a presença de cuidados e suporte de necessidades quer dizer que,

apesar do jovem poder sair de casa, os pais têm um papel permanente de

cuidados e responsabilidades, havendo, necessariamente, um papel de

constante presença na vida do filho, permanecendo ativo nas decisões da vida

do mesmo.

Uma questão muito presente na vida destes pais é o facto de estes

poderem vir a estar dependentes dos mesmos, mesmo que já se encontrem

em fase adulta. Muitos pais podem presumir que à medida que os seus filhos

se tornam adultos, eles deverão, por fim, viver fora da casa de família. Porém,

para pais de filhos com deficiência, principalmente alguma deficiência que

limite a sua capacidade de realizar tarefas do dia a dia, esta expectativa pode

ser mais difícil de concretizar pois estes precisam de cuidados e suporte,

possivelmente a longo prazo. Grant (2000) apoia esta visão, num livro dedicado

à DI, argumentando que pais de crianças com dificuldades de aprendizagem

possuem um papel parental permanente e que inclui, frequentemente, o

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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sustento que corresponde a providenciar apoio e casa. Assim, é difícil para

estes pais ter o estilo de vida “típico” de pessoas com a mesma idade e por

isso podem criar algum receio e ansiedade relativamente a questões parentais

inacabadas e preocupar-se com o futuro.

Neste contexto, os pais poderão vir a experienciar algum stress pelo

facto de estes, com mais alguma idade, terem uma tendência para possuir

menos planos para o futuro, uma vez que não se encaixam numa vida

profissional, caminho natural para a maioria das pessoas, o que Thompson

(2001) atribui à falta de informação disponível, isolamento de serviços, falta de

profissionais especializados e falta de serviços específicos para grupos

minoritários.

Os pais também pretendem um aumento de acesso a serviços na

comunidade, o que lhes permitiria criar um envolvimento diferente e uma

melhor relação com os seus descendentes. Nesta perspetiva, o desejo de

manter um papel permanente foi detetado como significativo na saúde e bem-

estar dos pais e foi relacionado com a sensibilidade dos pais em relação à

vulnerabilidade dos seus filhos, num estudo em que os autores Davys e Haigh,

(2008) realizaram entrevistas aos pais de pessoas com dificuldades de

aprendizagem.

Entende-se que os pais têm, assim, um papel preponderante na vida dos

seus filhos com deficiência, sendo que a preocupação com a sua própria saúde

é um aspeto a ter em conta, especialmente no que respeita à necessidade de

proteger o seu filho, que sem os seus cuidados, será deixado a um destino sem

boas perspetivas.

Com o aumento da esperança média de vida das pessoas, decorrente

da evolução investigacional e tecnológica, há um aumento de adultos, idosos e

crianças que vivem com deficiência, o que, afeta diretamente as suas vidas e

opções. Os seus direitos têm sido reconhecidos em convenções internacionais

e consagrados em constituições nacionais, mas a luta pelo respeito, inclusão e

igualdade no acesso a recursos está longe de terminar (Home, Carter, Scarth e

Warren, 2015).

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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Pais de crianças com deficiência enfrentam múltiplos desafios. Apesar

de diferenças na cultura, diferenças socioeconómicas e situações ligadas às

diferentes deficiências, estes enfrentam pesadas exigências, elevados custos,

exclusão social e iniquidade na maioria das sociedades, uma vez que poucos

esforços são realizados para o progresso daqueles que possuem deficiência

(Green, 2007; Dowling e Dolan, 2001).

Segundo Davys e Haigh (2008), a insatisfação parental incorpora um

número de elementos que incluem insatisfação relativamente a prestadores de

serviços, a sensação de terem de lutar sempre para ter o que pretendem, falta

de confiança nos serviços, a sensação de que os próprios pais e os

prestadores de serviços têm ideias opostas e o sentimento de que os serviços

prestados não vão de encontro ao que estes pretendem e/ou que têm falta de

qualidade.

Os mesmos autores constatam que considerações financeiras acarretam

um conjunto de problemáticas, que incluem o facto de os pais terem de pagar

serviços que recebem, sendo que existe a preocupação entre o que os pais

sentem que é necessário e o que realmente podem sustentar. De facto,

Redmond e Richardson (2003) referem que cuidar de uma criança com

deficiência pode levar a um impacto negativo na situação financeira de uma

família. Podem existir custos financeiros de equipamento especializado,

transporte, roupas e elevados custos de lavandaria, mas em adição a isto, os

cuidados a ter com o filho podem afetar os pais (especialmente as mães que

comummente desempenham o papel principal, salvo exceções) na participação

de um emprego remunerado. A capacidade familiar de gerar receitas é,

portanto, reduzida numa situação onde existe uma necessidade financeira

maior.

Esta necessidade de deixar o emprego para cuidar do filho com

deficiência é de facto bastante preocupante, uma vez que se trata de menos

rendimento que a família obterá e, em proporção inversa, os custos com a

saúde e cuidados do seu filho com deficiência são bastante dispendiosos,

criando uma dificuldade extrema na gestão da vida familiar. Assim, deverá

existir um apoio extra para estas famílias, que mantém a sua responsabilidade

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Capítulo II - Revisão de Literatura

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de cuidar do seu filho com deficiência, apesar das dificuldades, mas que devem

ser beneficiadas de alguma forma, para que haja igualdade nas circunstâncias

de vida, relativamente à restante comunidade.

Todos os pais referem a importância da questão financeira em diferentes

contextos o que sugere que este é um assunto significativo e pode contribuir

para uma tensão constante entre os prestadores de serviços e os pais,

especialmente se estes últimos sentirem que estão a pagar serviços com os

quais não estão satisfeitos, tanto a nível da sua capacidade como de qualidade

(Davys e Haigh, 2008).

Pese embora o papel dos pais ser fundamental, muitas vezes existem

outras pessoas que ajudam na educação e desenvolvimento dos seus filhos

com deficiência.

Num estudo realizado por Whiting (2013), os pais identificaram um

conjunto de pessoas que consideram ser prestadores de ajuda e suporte. Isto

incluiu família e amigos, pessoas em serviços oficiais tais como os profissionais

de saúde que acompanhavam a pessoa com deficiência em emergências ou

consultas marcadas.

Em simultâneo, membros da família mais afastada foram igualmente

reconhecidos como um forte suporte. Contudo, isto varia e depende de certos

fatores tais como a deficiência específica da criança ou necessidade de saúde

e a distância entre as casas dos familiares e pessoas próximas. Neste grupo,

os avós foram destacados como um suporte particularmente forte, permitindo,

por exemplo, cuidados regulares planeados ou estar disponível como

substitutos em casos de emergência. Um leque de perspetivas foram, contudo,

oferecidas, incluindo muitas referências de como outros membros familiares

“não estavam totalmente confiantes” ou se sentiam “assustados” quanto a

tomar conta da pessoa com deficiência (Whiting, 2013). O mesmo autor refere

ainda que muitos pais descreveram as amizades como um importante apoio de

suporte psicológico.

No mesmo estudo, onde foram entrevistados vários pais de pessoas

com deficiência, os profissionais representados por um conjunto de disciplinas

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Capítulo II - Revisão de Literatura

42

na área da saúde, educação e serviços sociais foram identificados pelos pais

como recursos de ajuda e suporte (Whiting, 2013).

O papel dos pais e avós é, então, visto como essencial na vida das

pessoas com deficiência, apesar de estas terem também uma certa autonomia

nas suas decisões, dependendo do seu nível de funcionalidade, mas não é

uma tarefa nada facilitada numa sociedade em que, se não fossem os pais, as

pessoas com deficiência estariam muito desamparadas, ou pelo menos, não

teriam as condições de vida, que através da sua família conseguem obter.

4.2 Importância dos pais na prática de atividade física dos filhos

com deficiência

Vários investigadores sugerem que os pais são importantes

determinantes nos níveis de AF dos seus filhos (Martin et al., 2007; Trost et al.,

2003).

A família é um dos mais importantes contextos para os adolescentes em

desenvolvimento. A dinâmica, as relações interdependentes e ações entre os

membros da família formam o comportamento, as normas e as atitudes

familiares (Bubolz, 2001), o que influencia, substancialmente, os resultados do

desenvolvimento (Sameroff e Fiese, 2000).

Segundo McManus, Mandic, Carle e Robert (2012), muitos estudos

destacam a importância de ambientes familiares positivos para promover a AF

em diversas populações jovens. Assim, o papel dos pais (Silva, Lott, Mota, e

Welk, 2014) e também dos professores (Standiford, 2013) foi estabelecido

como um grande fator de promoção de AF dos adolescentes. Na realidade, o

envolvimento dos pais na AF dos seus filhos tem um impacto direto nos níveis

de AF durante a infância e no futuro enquanto adultos (Thompson, Humbert, e

Mirwald, 2003). Isto é ainda reforçado pelo papel dos pais, entre outros, na

determinação de quais atividades as crianças podem fazer e a que recursos

têm acesso (Welk, Wood, e Morss, 2003) e os mesmos podem influenciar a

atividade das crianças de duas formas: sendo um modelo a seguir ou

constituindo um fator de motivação (Beets, Vogel, Chapman, Pitetti, e Cardinal,

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Capítulo II - Revisão de Literatura

43

2007). De facto, alguns estudos afirmam que pais que são ativos têm maior

influência na AF dos filhos, nomeadamente na forte relação entre os níveis de

AF entre ambos, comparando com os pais que são sedentários (Welk, Wood, e

Morss, 2003). Na mesma linha de pensamento, pais que valorizam a AF

servem de modelos a seguir, transmitindo os seus bons hábitos aos filhos

(Anderssen et al., 2006). Martin e Choi (2009) reforçam esta ideia constatando

que os pais que gostam de ser fisicamente ativos, estão mais próximos de

tornar-se, efetivamente, ativos e a ser uma referência para os seus filhos.

Adicionalmente, pais que gostam de ser ativos também demonstram ser mais

encorajadores na participação dos seus filhos na AF e no desporto, comparado

com pais que muitas vezes demonstram menos gosto pela AF.

Num estudo mais recente, Olivares et al. (2015), mostram que o

encorajamento por parte dos pais determina ainda a quantidade de AF

praticada pelos seus filhos, quer esta seja suave, moderada ou vigorosa. Neste

contexto, as respostas afetivas parentais (por exemplo, desfrutar da AF)

também parecem influenciar os filhos na escolha da prática de AF, reforçando

a ideia de modelo a seguir (Martin e Choi, 2009).

No entanto, Wang e DePauw (1995) contrariam esta ideia, referindo que

a prática de AF por parte dos pais é menos determinante relativamente à

apreciação da AF e ao encorajamento prestado aos seus filhos. Assim, o

potencial do valor de modelo a seguir por parte da figura parental, no aspeto de

ser fisicamente ativo, poderá, segundo estes autores, ser limitado, tal como o

potencial de pais e filhos serem ativos juntos, no caso de os pais serem mais

sedentários do que ativos. A vontade dos pais em encorajar enquanto

permanecem de alguma forma inativos, é bastante comum. Um exemplo disso

mesmo, é o facto de, apesar de poucos pais participarem no desporto, muitos

ainda encorajam os seus filhos com deficiência a praticar AF (Wang e DePauw,

1995).

Adicionalmente, acredita-se que os pais que esperam dos seus filhos

sucesso numa determinada AF e que valorizam o sucesso nesse domínio,

estarão mais propícios a influenciar os seus filhos a integrar a AF (Bauman,

Sallis, Dwewaltowski, e Owen, 2002; Welk, 1999). Assim, verificamos que a

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Capítulo II - Revisão de Literatura

44

forma como os pais percecionam a AF irá influenciar a forma como apoiam a

participação dos seus filhos nessas mesmas atividades físicas, ou não.

As preocupações dos pais com a saúde dos seus filhos influencia os

seus valores em relação à AF, incluindo usar a AF como uma estratégia para

prevenir que os seus filhos se tornarem pessoas com sobrepeso ou até mesmo

com obesidade (Ritchie, Welk, Styne, Gerstein, e Crawford, 2005).

As crianças estão, muitas vezes, dependentes dos adultos (na maioria

das vezes os seus pais ou outros familiares) para os encorajar, para lhes

proporcionar o transporte, para providenciar o encargo das despesas

associadas às atividades e facilitar o seu envolvimento na AF (Martin e Choi,

2009). Esta dependência dos adultos é ainda maior nas crianças com

deficiência, uma vez que estas muitas vezes não podem retirar vantagens de

situações informais para a prática de AF como as crianças sem deficiência

podem. Por exemplo, uma criança em cadeira de rodas não pode subir e

descer escadas para ir jogar Futebol no recreio, ao contrário das crianças sem

deficiência que conseguem ter momentos como esse com maior frequência.

Uma vez que as crianças com deficiência estão frequentemente dependentes

dos seus pais para a prática de AF, é particularmente importante entender as

perceções dos pais (Martin e Choi, 2009). Apesar de a maioria, ou a totalidade

dos estudos apenas focar estas necessidades nas crianças com deficiência, o

mesmo se pode extrapolar para pessoas adultas com deficiência, que sejam

ainda dependentes dos seus pais.

Segundo os mesmos autores, Martin e Choi (2009), a perceção parental

dos seus próprios comportamentos sociais (divertimento e encorajamento)

sugere que os pais apoiam a prática de AF e o envolvimento no desporto dos

seus filhos e acreditam que o seu filho deve ser fisicamente ativo, sendo que

acrescentam ainda que um feedback positivo por parte dos pais relativamente

à prática de AF dos filhos com deficiência, tem uma influência positiva nessa

mesma prática. Esta conclusão é positiva, uma vez que, frequentemente, os

pais são demasiado protetores em relação às crianças com deficiência.

Verifica-se, deste modo, a grande importância do papel dos pais na

influência positiva que podem ter sobre os seus filhos com deficiência, quer no

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Capítulo II - Revisão de Literatura

45

que diga respeita ao apoio verbal, quer enquanto modelo a seguir. O seu papel

é ainda preponderante no apoio logístico e financeiro dessas mesmas

atividades, o que reforça a importância do conhecimento dos pais relativamente

à prática de AF.

É portanto, de extrema importância que os pais possam ter

conhecimento dos vários benefícios que a AF pode trazer aos seus filhos com

deficiência e verificar o impacto positivo que tem na vida dos mesmos.

Cabe agora às organizações e aos profissionais da área da AFA criar

boas expectativas e divulgar ao máximo o seu trabalho, não só aos pais e

familiares, mas a toda a comunidade e realizar o melhor trabalho possível para

que esta área seja cada vez mais promovida e alcance a importância que

merece na sociedade, mas principalmente, na vida das pessoas com

deficiência.

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Capítulo III - Metodologia

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Capítulo III - Metodologia

49

Metodologia

1. Grupo de estudo

O grupo de estudo foi constituído por 30 pais e avós de pessoas com

deficiência: 14, em que o filho ou neto é maior de idade e 16, em que o filho ou

neto é menor de idade. Procurou-se um equilíbrio no que respeita à presença

de pais ou avós com filhos ou netos menores ou maiores de idade. Esta

situação permitiu estudar perspetivas diferentes, uma vez que se encontravam

em fases distintas da vida, proporcionando, assim, testemunhos

complementares e novas ideias que enriqueceram o estudo.

A captação dos participantes foi facilitada pela relação de proximidade

de uma das autoras com o Sport Club do Porto. As organizações abordadas

foram o Pony Club do Porto e o Centro Integrado de Apoio à Deficiência

(CIAD), duas instituições em estreita ligação com o Sport Club do Porto. O

Pony Club, que é uma IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social),

possui as suas instalações dentro do Centro Hípico do Sport Club do Porto, o

que proporcionou a abordagem à organização. O CIAD pertence à Santa Casa

de Misericórdia do Porto, que possuí uma forte relação com o clube. Foi

realizada uma reunião inicial com ambas as instituições, sendo que no Pony

Club falamos com a Diretora, a qual concordou de imediato com a solicitação

feita para realizar o estudo. No caso do CIAD, após entrevista inicial com a

Psicóloga, responsável pelo centro de atividades ocupacionais (CAO) e

delegada por parte do Diretor para orientar a minha presença, solicitou o envio

da descrição do projeto de investigação e uma carta, que foi redigida com o

propósito de pedir autorização para efetuar o estudo. Em sede de reunião de

Direção foi aprovada a sua realização. A formalização de ambos os pedidos

encontra-se no Anexo I. O número de participantes de cada organização foi:

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Capítulo III - Metodologia

50

Quadro 5 – Número de participantes por organização.

Organizações Pony Club CIAD SCPorto

Número de participantes 19 10 1

Total 30 - -

Foram, assim, entrevistadas 19 pessoas nas instalações do Pony Club,

10 pessoas nas instalações do CIAD e 1 nas instalações do Sport Club do

Porto.

1.1 Caracterização do grupo de estudo

O Quadro 6, 7, 8 e 9 caracterizam o grupo de estudo constituído por 30

participantes, pais e avós de crianças, jovens e adultos com deficiência,

designadamente 10 pais, 17 mães e 3 avós.

No mesmo Quadro é possível identificar ainda o género do filho ou neto,

a idade, o tipo de deficiência, a sua etiologia, se os entrevistados praticam ou

não AF, bem como as suas habilitações literárias e profissão.

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Capítulo III - Metodologia

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Quadro 6 – Caracterização do grupo de estudo (E1 a E6).

Nº entrevista

Género participante

Género do filho(a)

Grau de parentesco

Idade do

filho(a)

Tipo de deficiência

Etiologia da deficiência Habilitações literárias do participante

Profissão do participante

Responsável prática AF?

E1 Feminino Masculino Mãe 9 Hiperlaxidez/Des-

coordenação motora

Nascença 9º ano Doméstica/ Limpezas

Não

E2 Feminino Feminino Mãe 6 Síndrome de

Asperger Nascença Licenciada

Recursos Humanos

Sim

E3 Feminino Masculino Mãe 7 Síndrome de Huntchinson-

Gilford Nascença 12º ano

Assistente educativa

Não

E4 Masculino Feminino Pai 8

TOC – (Transtorno Obsessivo-

Compulsivo)

Nascença/ diagnosticado aos 6

anos Licenciado Contabilista Não

E5 Feminino Feminino Mãe 6 Paralisia Cerebral No período de gravidez Perinatal/diagnosticada

aos 9 meses Licenciada

Responsável de projeto

Não

E6 Masculino Masculino Pai 13 Trissomia 18 em mosaico/ Autismo

Nascença/Diagnosti-cado aos 7 anos

Bacharelado Oficial de

justiça Não

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Capítulo III - Metodologia

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Quadro 7– Caracterização do grupo de estudo (E7 a E15).

Nº entrevista

Género participante

Género do filho(a)

Grau de parentesco

Idade do

filho(a)

Tipo de deficiência

Etiologia da deficiência Habilitações literárias do participante

Profissão do participante

Responsável prática AF?

E7 Feminino Feminino Mãe 11 Síndrome de

Rett

Nascença/Diagnosticado

aos 14 meses Licenciada Comercial Sim

E8 Masculino Masculino Pai 7 Autismo Nascença/diagnosticado

1,5 ano

12º ano/iniciou

faculdade

Técnico de

computadores Não

E9 Feminino Feminino Mãe 24 Trissomia 21 Nascença Mestrado/Frequenta

doutoramento Professora Sim

E10 Masculino Masculino Pai 37 DI Nascença 4ª classe Reformado Não

E11 Masculino Masculino Pai 44 DI Desconhecida 3º ano escola

industrial Reformado Sim

E12 Feminino Feminino Mãe 26 Síndrome de

Rett Nascença 9º ano Doméstica Sim

E13 Feminino Masculino Avó 7 Paralisia

Cerebral 13 dias de vida 12º ano Cabeleireira Sim

E14 Feminino Feminino Mãe 13 DI Nascimento prematuro 12º ano/iniciou

faculdade Secretária Não

E15 Feminino Feminino Mãe 31 Trissomia 21 Nascença Curso de

secretariado Reformada Não

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Capítulo III - Metodologia

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Quadro 8 – Caracterização do grupo de estudo (E16 a E23).

Nº entrevista

Género participante

Género do filho(a)

Grau de parentesco

Idade do

filho(a)

Tipo de deficiência

Etiologia da deficiência Habilitações literárias do participante

Profissão do participante

Responsável prática AF?

E16 Feminino Masculino Mãe 24 Síndrome de

Asperger

Nascença/ diagnosticado aos

16 anos 12º ano Administrativa Sim

E17 Feminino Feminino Avó 7 Autismo Nascença/diagnosticado 1 ano Área de

informática Reformada Sim

E18 Feminino Masculino Mãe 16 DI Nascença/diagnosticado aos 7

anos

Cursos

Técnicos

Profissionais

Técnica de

fisioterapia Não

E19 Feminino Masculino Mãe 33 Síndrome de

Asperger Nascença Mestrado Psiquiatra Sim

E20 Feminino Feminino Mãe 38 Cegueira 1 mês de idade/meningite 4ª classe Reformada Sim

E21 Masculino Masculino Pai 37 DI Nascença/Parto 7º ano Reformado Não

E22 Masculino Masculino Pai 38 Deficiência

motora/visual

3

meses/meningite/diagnosticado

6 anos

Não estudou Ourivesaria Sim

E23 Feminino Masculino Mãe 35 DI Nascença/parto 4ª classe Doméstica Não

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Capítulo III - Metodologia

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Quadro 9 – Caracterização do grupo de estudo (E24 a E30).

Nº entrevista

Género participante

Género do filho(a)

Grau de parentesco

Idade do filho(a)

Tipo de deficiência

Etiologia da deficiência

Habilitações literárias do participante

Profissão do participante

Responsável prática AF?

E24 Masculino Masculino Pai 24 Paralisia

Cerebral 8 anos/acidente 9º ano

Funcionário

autárquico Não

E25 Feminino Feminino Avó 6 Paralisia

Cerebral

2 anos/

hemorragia

pulmonar

9º ano Reformada Não

E26 Masculino Feminino Pai 8 DI Detetado aos 3

anos Mestrado Urbanista Sim

E27 Feminino Masculino Mãe 10

Síndrome

de

Angleman

Nascença 12º ano Operadora de

caixa Não

E28 Feminino Masculino Mãe 8 Paralisia

Cerebral Nascença/Parto Licenciada Desempregada Não

E29 Masculino Feminino Pai 26 Síndrome

de Rett 1 ano

5º ano

antigo/Industrial Desempregado Sim

E30 Feminino Masculino Mãe 10 Cegueira Nascença Licenciada

Funcionária da

Câmara de

Matosinhos

Sim

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Capítulo III - Metodologia

55

Verificamos que existe uma grande diversidade de deficiências no

presente estudo, designadamente: Autismo, Cegueira, Deficiência Intelectual,

Hiperlaxidez/Descoordenação Motora, Paralisia Cerebral, Síndrome de

Angleman, Síndrome de Asperger, Síndrome de Huntchinson-gilford, Síndrome

de Rett, Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e Trissomia 18 em Mosaico.

O mesmo se constata no tipo de etiologia da deficiência e ainda nas

habilitações literárias dos entrevistados. Para o efeito do presente estudo, esta

diversidade é positiva, uma vez que permite uma abordagem mais ampla, no

sentido de incluir diferentes aspetos e permitir a obtenção de diferentes

perspetivas sobre a temática em estudo.

Foi igualmente importante perceber se todos os filhos e netos praticam,

ou se já praticaram, AF, distribuindo-se o tipo de prática da seguinte forma:

Quadro 10 – AF praticada pelos filhos e netos.

AF Nº de praticantes

Atividades aquáticas 18

Atividades equestres 22

Aulas de EF 7

Voleibol 1

Ginástica de Manutenção 5

Boccia 1

Fitness 4

Atividades recreativas e de lazer 9

Basquetebol 3

Futebol 1

Ténis 2

Dança 2

Sessões de psicomotricidade 2

Orientação e mobilidade 1

Através do Quadro 10 verifica-se que existem filhos e netos que

praticam mais do que uma atividade, sendo que as atividades mais praticadas

são as atividades aquáticas, que incluem atividades como Hidroterapia e

Natação Adaptada. Também se destacaram as atividades equestres que

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Capítulo III - Metodologia

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incluíam Hipoterapia e Equitação Terapêutica. No que se refere às atividades

equestres, é natural que o número de praticantes seja elevado no presente

estudo, uma vez que grande parte das entrevistas decorreram no Pony Club,

IPSS que presta esse mesmo serviço. A AF identificada através de Atividades

de Recreação e Lazer, representa uma atividade que é realizada, não de uma

forma formal, correspondendo a atividades como Caminhadas, Jogos de

Futebol em família.

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Capítulo III - Metodologia

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2. Procedimentos e instrumentos de recolha

2.1 Recolha de dados

A escolha da metodologia a utilizar prendeu-se com o facto de o

presente estudo ser de um cariz social, com ênfase nas palavras e sentidos,

não na quantificação de dados, sendo que foi utilizado a metodologia

qualitativa (Bryman, 2008). A investigação qualitativa é descrita como sendo

flexível, interativa, natural e resulta em grandes descrições que refletem a

forma como a recolha de dados é realizada (Gibson e Brown, 2009).

Dentro desta abordagem foi selecionado o método de entrevista, uma

vez que se pretendeu analisar e aprofundar a opinião dos entrevistados, tendo

em conta as suas experiências pessoais e vivências. Segundo Gibson e Brown

(2009), o objetivo de métodos que envolvem a realização de questões diretas

aos participantes é o de criar discursos com foco analítico, que permitam a

exploração de determinados assuntos de investigação.

Neste estudo, o tipo de entrevista utilizada foi a semiestruturada ou

semidiretiva, que segundo Queirós e Lacerda (2013) é o tipo de entrevista mais

utilizado na investigação qualitativa.

O guião da entrevista do presente estudo é constituído por seis questões

de resposta aberta, e ainda por algumas questões fechadas com o intuito de

recolher dados para caracterização do grupo de estudo. No guião foram

questionados vários temas relativamente à participação na AF por parte dos

filhos e netos, nomeadamente: a importância da AF; o conhecimento da

realidade da AFA; as barreiras na participação de AF; e, por fim, que aspetos

consideram necessários numa organização de AFA.

A realização do guião de entrevista foi um processo que passou por

várias fases, sendo que a primeira fase foi a de uma pesquisa bibliográfica algo

extensa, com o intuito de esclarecer todos os pontos que se queria incluir no

presente estudo e se os mesmos se enquadravam nos objetivos finais. Numa

segunda fase, foi escrito o primeiro guião (presente em Anexo II), que foi

alterado e validado por um painel de peritos das áreas da Atividade Física

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Capítulo III - Metodologia

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Adaptada e Pedagogia do Desporto. Numa terceira fase foram realizadas 3

entrevistas piloto. Esta última etapa pretendeu certificar, tanto a

compreensibilidade e adequação das questões, tal como a qualidade da

informação recolhida, ou seja, verificar se dava resposta aos objetivos definidos

(Cunha et al., 2014). Após a realização das entrevistas piloto foram feitas

novas alterações ao guião e foi realizada um última entrevista piloto, que por se

tornar adequada aos objetivos do estudo, foi considerada entre as entrevistas a

analisar. Ficou assim concretizado o guião final de entrevista (Anexo III).

As entrevistas foram realizadas nas instalações do Pony Club e do

CIAD, respetivamente, na sua globalidade, em sítios calmos e silenciosos, para

que o ambiente ficasse favorável à realização da entrevista. Presidiu um

esquema prévio de entrevista: o guião de entrevista. No entanto, a ordem pela

qual os temas foram abordados foi livre e quando os entrevistados não

abordavam um tema, a entrevistadora voltava a propor esse tema, algo que

aconteceu diversas vezes aos longo das entrevistas do presente estudo.

Existe, nesta medida, um quadro de referência para os entrevistados se

guiarem e poderem limitar o seu discurso ao que o entrevistador questiona,

diminuindo, assim, a ambiguidade que existiria comparando com a entrevista

livre (Queirós e Lacerda, 2013). Contudo, a investigadora tentou enquadrar os

seus interesses, já previamente definidos com as restantes autoras, nos

tópicos que se desenrolam ao longo da entrevista, em vez de forçar os

entrevistados a enquadrar as suas ideias numa ordem específica das questões

pré-definidas (Gibson e Brown, 2009), o que permitiu o desenvolvimento de

uma maior naturalidade no discurso e na conversa que a entrevistadora quis

gerar. Para facilitar esse processo, Gibson e Brown (2009) referem que o

entrevistador poderá dar exemplos da sua própria vivência dentro dos temas

abordados, quebrando alguma barreira inicial relativamente ao tema proposto e

de certa forma conduzir o inquirido para uma determinada direção, que esteja

mais relacionada com os objetivos do investigador. Em variados casos, quando

os entrevistados não entendiam a questão, havia esta inclusão de exemplos

para facilitar o processo de resposta. No presente estudo verificou-se que estas

“dicas” ao inquirido foram muito importantes para chegar a temas, que de outra

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Capítulo III - Metodologia

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forma os entrevistados não teriam abordado. Segundo Gibson e Brown (2009),

os investigadores estão livres de incentivar os inquiridos para mais informação

em determinados assuntos, para os explorar de uma forma mais discursiva e

não tão estruturada, e ainda, explorar assuntos que possam surgir como novos

tópicos que não foram incluídos no guião inicial, algo que no presente estudo

aconteceu de uma forma bastante natural.

Houve alguns constrangimentos relativamente à disponibilidade horária

dos pais e avós, mas os profissionais tanto do Pony Club, como do CIAD,

prestaram uma grande ajuda nesse sentido, para que fosse possível realizar o

máximo número de entrevistas. Da parte do Pony Club, a seleção dos pais e

avós para o estudo foi feita por parte da Terapeuta e no CIAD, pela Psicóloga.

Esta situação foi muito importante, uma vez que estas profissionais conheciam

os entrevistados, escolhendo aqueles que estariam mais abertos e capazes de

participar no presente estudo.

A realização das entrevistas decorreu entre os meses de Fevereiro e

Abril de 2016. No presente estudo optamos pela modalidade de recolha de

dados áudio e gravação de entrevistas, com o gravador Olympus VN-731PC. A

duração das entrevistas oscilou entre os 4 e os 50 minutos de duração, sendo

que na sua média tiveram duração aproximada de 15 minutos. Todas as

entrevistas foram gravadas com o prévio consentimento dos participantes,

através da assinatura do termo de consentimento (Anexo IV). A utilização de

gravador permitiu um grande foco na entrevista realizada com o inquirido, o

que permitiu analisar da melhor forma a conversa que decorria, tornando o

ambiente o mais natural possível, como que numa troca de ideias

descontraída.

2.2 Procedimentos de análise das entrevistas

Foi utilizada uma análise temática indutiva (Bryman, 2008). O primeiro

passo neste processo de análise foi a transcrição. Segundo Gibson e Brown

(2009), a transcrição é uma forma de representação e deve ser considerada

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Capítulo III - Metodologia

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como tal. No seguimento dessa ideia, o processo de transcrição das entrevistas

realizadas não se limitou a escrever o que os pais e avós disseram ou fizeram,

envolveu também realizar interpretações analíticas acerca do que representar e

como o representar, e escolher apresentar ou focar determinados detalhes de

uma conversa, ação ou interação em vez de outros. Uma das preocupações

iniciais, foi o modo como a transcrição seria realizada, sendo que muitos

investigadores realizam transcrições literais do que foi gravado. No entanto, no

presente estudo fez-se uma abordagem diferente.

No presente estudo a transcrição realizada de uma forma não literal, foi

uma transcrição onde houve uma interpretação das palavras dos inquiridos e

foi completada com alguns excertos literais, com menção cronológica, de

momentos e frases que continham ideias importantes para o estudo (Gibson e

Brown, 2009).

Mais tarde no processo, foi realizada uma seleção do que seria relevante

para o estudo, pelo que foi utilizado uma tipologia de transcrição híbrida entre a

indexical e a unfocused. A transcrição indexical envolve produzir uma espécie

de índice com uma cronologia relativamente aos dados recolhidos, enquanto a

unfocused permite criar um registo do que aconteceu dentro de um

determinado discurso ou ação (Gibson e Brown, 2009).

A informação contida nas entrevistas foi submetida a uma análise de

conteúdo por recurso a procedimentos indutivos (Bryman, 2008) e de análise

de Glaser e Strauss (1967) e Strauss e Corbin (1990), percorrendo as três

fases de criação dos temas principais: open coding; axial coding e selective

coding. O processo de open coding, resultou na leitura, divisão, comparação,

conceptualização e categorização dos dados recolhidos. O axial coding,

segunda fase de definição dos temas, consistiu na associação entre os termos

que resultaram do open coding. Por fim, o selective coding foi o processo que

permitiu identificar os temas principais do estudo. Existiu assim um processo

evolutivo no reconhecimento dos temas a ser analisados no presente estudo.

Após leitura das transcrições, foram, inicialmente, identificados os conceitos

presentes nas entrevistas, depois agrupados, formando os subtemas e por fim

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Capítulo III - Metodologia

61

surgiram os temas principais a ser analisados na apresentação e discussão

dos resultados.

Os temas que emergiram da análise acima descrita foram:

- Expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com deficiência

na prática de AF;

- Realidade sobre a participação de pessoas com deficiência na prática

de AF;

- Da realidade às expectativas futuras sobre a participação de pessoas

com deficiência na prática de AF.

Os dois primeiros subdividiram-se nos seguintes temas:

- Benefícios da prática de AF;

- Barreiras à prática de AF;

No tema das expectativas iniciais, é descrito aquilo que os pais e avós

acham que existe relativamente à prática de AF, benefícios que poderão surgir

através desta prática e barreiras que consideram que existem, mesmo não as

tendo experienciado. No tema da realidade, é descrito aquilo que os pais e

avós vivenciam através da participação dos seus filhos e netos, nomeadamente

as condições em que praticam e vivenciam estas atividades, os benefícios que

decorrem das atividades e ainda a barreiras que experienciam no dia a dia. No

terceiro e último tema, é descrito o que os pais e avós consideram que deveria

existir para a prática de AF por parte dos seus filhos e netos.

A evolução do processo de tematização indutiva dos dados é

demonstrada na figura 2:

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Capítulo III - Metodologia

62

Figura 2 – A evolução do processo de tematização indutiva dos dados

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Capítulo IV - Apresentação e Discussão dos Resultados

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

65

Apresentação e Discussão dos Resultados

No presente capítulo desenvolveremos os três grandes temas que

emergiram da análise dos dados recolhidos, em resposta aos objetivos

definidos para o presente estudo. Os temas que emergiram são os seguintes:

expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com deficiência na prática

de AF; realidade sobre a participação de pessoas com deficiência na prática de

AF; e, por fim, da realidade às expectativas futuras sobre a participação de

pessoas com deficiência na prática de AF. O primeiro tema a ser abordado

reporta-se às expectativas iniciais dos pais e avós, sendo os restantes

apresentados seguidamente e respeitando a ordem enunciada.

1. Expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com

deficiência na prática de atividade física

Nas várias entrevistas, os pais e avós demonstraram ter uma

expectativa inicial relativamente à participação na AF, criada em virtude das

experiências vividas até então com os seus filhos e netos.

Inicialmente, os entrevistados referiram as expectativas que têm

relativamente aos benefícios que a prática de AF pode trazer aos seus filhos e

netos, assunto que desenvolveremos em seguida.

1.1 Benefícios da prática de atividade física

As expectativas iniciais reveladas pelos entrevistados variam entre

expectativas mais específicas e gerais. Em duas entrevistas, os pais referiram

que qualquer AF que os filhos pudessem praticar era muito bom para os

mesmos, não especificando quais os benefícios diretos, mas reforçando uma

importância global. No entanto, na maioria das entrevistas, foram discriminados

diversos benefícios, uns mais comuns e universais, outros atendendo às suas

experiências singulares. Os vários benefícios expectados pelos entrevistados,

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

66

decorrente da prática de AF dos seus filhos e netos, passaram pelos benefícios

psicológicos e fisiológicos.

Reportando-nos às entrevistas, a nível psicológico, um dos pais

considera e espera que através da AF e da interação com outras crianças, a

sua filha, que possuí um transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), possa ficar

mais calma, nomeadamente que a filha consiga: “no fundo que esta perca um

pouco da energia que tem” (excerto retirado da E4, p.1). Segundo Sharma et al.

(2006), que realizou um estudo com indivíduos com patologias na saúde

mental, a prática de AF ajuda a regular o sono, melhora o vigor e os níveis de

energia da pessoa. Apesar disso, com a prática de AF, o dispêndio de energia

realizado na atividade poderá catalisar toda a energia da criança para essa

atividade, no fundo o que o pai procura que aconteça com a sua filha. Em

variados estudos foram descritos os benefícios que a AF proporciona na

execução de tarefas por parte de crianças hiperativas, um dos sintomas do

TOC, alterando a estrutura do cérebro e a sua funcionalidade, particularmente

a região frontal do cérebro. Isto é de particular importância para crianças com

esta patologia, uma vez que a hiperatividade pressupõe um défice do lobo

frontal do cérebro, o que afeta as manifestações cognitivas e de

comportamento (Castellanos e Tannock, 2002; Durstin, 2003).

Ainda ao nível psicológico, é descrito por uma entrevistada que a AF é

muito importante para as pessoas com deficiência, que acabam por ver nesta

atividade: “uma fuga, no fundo, um escape” (excerto retirado da E18, p.1). Com

efeito, a AF é uma forma de libertar as nossas emoções e de escapar dos

deveres do dia a dia (Royal College of Psychiatrists, 2016).

As restantes expectativas mencionadas ao longo das entrevistas,

apontam para benefícios fisiológicos da prática de AF.

Nesse sentido, uma mãe referiu que já pensou em atividades que

poderiam ajudar a sua filha a ganhar força muscular, um aspecto que já é

desenvolvido pela Hipoterapia, mas que esta sente que poderia ser

complementado por mais alguma atividade. Já noutra entrevista, onde o filho

não participa em nenhuma AF formal, a mãe referiu:

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

67

“Seria importante o meu filho praticar AF, uma vez que ele não tem muita

mobilidade a nível físico, mesmo relativamente à sua postura.”

(Excerto retirado da entrevista E30, p. 2)

A falta de AF, como já referido, tem efeitos nefastos na nossa saúde e

os pais e avós não deixaram de manifestar essa preocupação. Aliás,

mostraram o seu receio relativamente a um possível retrocesso no estado de

saúde dos seus filhos e netos, por não praticarem AF. Um exemplo concreto

foi-nos apresentado por uma entrevistada, mãe de uma jovem adulta com

Síndrome de Rett, que demonstrou muita preocupação quando a filha teve de

abandonar a Hipoterapia, havendo hipótese de um retrocesso na sua condição

de saúde, que até ali tinha melhorado com a participação nessa atividade. No

entanto, não foi a única a revelar a sua expectativa relativamente ao impacto

que a falta de AF pode ter na vida do seu filho. De facto, numa outra entrevista,

um pai mencionou:

“A prática de AF é importante para todos, mas para crianças em

desenvolvimento é muito importante, uma vez que sem esta elas poderão sentir-se

menos capazes, o que também os poderá retrair na relação com os seus pares.”

(Excerto retirado da entrevista E8, p.2)

Em síntese, os benefícios referidos no contexto das expectativas iniciais

foram a maior calma e relaxamento, a libertação das emoções e do stress

diário, o desenvolvimento muscular, correção da postura, o receio de

retrocesso no estado de saúde e a diminuição de autoestima e de

relacionamento com os pares no caso de falta de AF.

No decorrer das entrevistas, as expectativas dos entrevistados não se

prenderam unicamente aos benefícios da prática de AF, mas também às suas

barreiras. Neste contexto, foram evidenciadas algumas barreiras à participação

na AF.

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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1.2 Barreiras à prática de atividade física

O presente subtema remete-nos para as expectativas que os pais e avós

têm relativamente às dificuldades para a prática de AF.

A primeira grande barreira prende-se com a própria expectativa dos

entrevistados relativamente às capacidades dos seus filhos e netos para

integrar determinado tipo de atividades. Este facto vai de encontro aos

resultados dos estudos de Martin (2009), em que o autor constatou que os pais

de crianças com deficiência eram demasiado protetores. Esta necessidade de

proteção extrema, também identificada no presente estudo, é reveladora da

preocupação que os pais e avós têm quanto à falta de capacidades dos seus

filhos e netos, o que poderá afetar a participação e integração positiva nas

atividades.

Esta situação foi descrita por vários entrevistados, nomeadamente por

uma das mães que referiu o facto de, à partida, a filha não ter tanta capacidade

física: “e, portanto, não encontrar o seu lugar” na AF (excerto retirado da E9,

p.2). Na mesma linha de ideias, na entrevista E10, o pai refere que tem medo

da reação do filho se este fosse para um clube e que, por isso, prefere não o

colocar. Mesmo na condição hipotética do seu filho poder ser acompanhado

pelos pais e por profissionais, o pai mantém a opinião de que o filho não tem

capacidade para integrar atividades desportivas, em contexto formal. Outros

exemplos surgem quando muitos entrevistados referem que as suas filhas

pedem para ir para a Dança ou Ballet, no entanto, estes não as colocam por

acharem que estas não seriam capazes de acompanhar as aulas. Um exemplo

concreto é retirado de uma entrevista, onde o pai relata a experiência que tem

da sua filha com deficiência intelectual:

“A minha filha pede para fazer várias atividades, chegou a pedir para ir para o

Ballet, no entanto, sei que tudo o que tenha uma enorme disciplina, não é possível

para ela. Eu acho que ela não ia aguentar.”

(Excerto retirado da entrevista E26, p.2)

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

69

Numa outra entrevista, a mãe refere que muitas vezes não é a atividade

em si que a filha não consegue executar, mas sim a logística que envolve

praticar AF. Com efeito, “apesar dela ser bastante autónoma, necessita de

ajuda para se vestir, um problema que numa atividade como o Karaté seria

facilitado por ser um equipamento largo, mas noto que precisa de apoio de

alguém para essa situação” (excerto retirado da E5, p.1).

No caso da entrevista E21, surgiu uma expectativa distinta, onde o pai

sente que o filho, por ter demasiada capacidade física, não deve praticar AF na

instituição. Este entrevistado refere que como as pessoas da instituição têm

deficiências profundas, a aula de ginástica de manutenção que proporcionam

na instituição acaba por ser uma aula sem grandes esforços, achando que não

é benéfico para o seu filho.

Para além da preocupação quanto à falta de capacidade dos seus filhos

e netos na participação na prática de AF, os entrevistados salientaram a falta

de capacidade demonstrada pelas próprias organizações para prestar um

serviço adequado às suas necessidades. Uma das entrevistadas relata que

muita da dificuldade na integração da sua filha, que possui Trissomia 21, ocorre

pela falta de preparação das pessoas para receber a filha, dizendo que têm

medo e por isso preferem nem ter de lidar com a situação.

Nesse contexto, esta falta de preparação é relatada por outro

entrevistado que queria colocar o filho numa equipa de Basquetebol ou Futsal,

mas não consegue porque diz que os clubes não estão preparados. Continua

por dizer que não estão vocacionados para as pessoas com deficiência:

“muitas vezes não estão preparados para lidar com gente dita normal, quanto

mais pessoas com deficiência” (excerto retirado da E24, p.4). O pai ainda

acrescenta que o filho, antes de ter o acidente, era atleta de Judo e que está

sempre a pedir para voltar, mas o pai tenta protegê-lo dessa situação porque

sabe que eles não estão preparados para o receber e o seu filho iria ficar

desiludido. Mesmo quando se tratam de atividades direcionadas para pessoas

com deficiência, existem diferenças entre as várias deficiências e, muitas

vezes, aquelas que se encontram em cadeira de rodas acabam por não ter as

mesmas oportunidades que os outros, precisamente pela falta de condições

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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proporcionadas nos locais de prática. Este exemplo é referido pela seguinte

entrevistada:

“Se eles são todos iguais, têm de ter as mesmas oportunidades. A minha filha,

por ter cadeira de rodas, não tem as mesmas oportunidades! Eles estão tão limitados

naquilo que podem fazer, tão limitados, que pelo menos aquilo que podem, deveriam

ter acesso”.

(Excerto retirado da entrevista E12, p.3)

Através destes vários exemplos, fica patente uma preocupação comum

quanto à integração dos filhos e netos nas organizações e nas atividades de

caráter desportivo, por considerarem que estas não estão preparadas para os

receber da melhor forma. Esta apreensão é reveladora da falta de confiança

dos entrevistados nalguns serviços prestados na AFA. Este sentimento poderá

ser ainda agravado pelo facto de muitas vezes haver falta de conhecimento da

realidade relativamente à oferta existente.

A este respeito, um dos entrevistados refere: “não é fácil encontrar locais

adaptados, uma vez que o meu filho poderá ter reações como começar aos

berros, que é algo que as pessoas não compreendem e não é fácil gerir essa

situação. Se calhar existem locais onde poderíamos ir com ele, mas ficam

longe“ (excerto retirado da E8, p.3).

Adicionalmente, alguns entrevistados revelaram ainda falta de

conhecimento relativamente à AF. Uma das entrevistadas refere que,

iinfelizmente, o seu filho não pratica muita AF, realçando que a marcha do filho

não está muito desenvolvida, pelo menos como poderia estar, precisamente

pela falta dessa vertente na sua vida. Neste contexto, salienta: “eu também

nunca encontrei ninguém para me dizer qual era o desporto ideal para o meu

filho. Será que é a Natação, para ter postura? Será que seria o Hipismo?”

(excerto retirado da E30, p.1), acrescentando que o próprio médico nunca

referiu que seria bom para o seu filho praticar um desporto.

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

71

As expectativas iniciais relativas às barreiras para a prática de AF devem

ser conhecidas pelas organizações para causarem impacto nos seus serviços,

tentando ir de encontro às expectativas positivas dos pais e avós.

Em síntese, as barreiras referidas foram a falta de capacidade dos

próprios filhos e netos, a falta de capacidade por parte das organizações e a

falta de conhecimento por parte dos pais e avós.

2. Realidade da participação de pessoas com deficiência na

atividade física

No presente estudo, todos os entrevistados referem que existe pelo

menos uma AF praticada pelo seu filho ou neto, mesmo que esta atividade não

tenha um caráter formal, facto já mencionado, mas que importa relembrar antes

de prosseguirmos com análise e discussão do tema realidade.

Relativamente às atividades desportivas informais, alguns entrevistados

assumem incentivar a sua prática, querendo colmatar a falta de mobilidade dos

seus filhos ou netos. Neste contexto, enquadram-se as atividades recreativas e

de lazer, praticadas em conjunto com a família, como relatado na entrevista

E30, em que a mãe expressa que desporto, concretamente, o seu filho não faz.

No entanto, realiza uma caminhada, pelo menos uma vez por semana, em

conjunto com a sua família. Um exemplo semelhante é apresentado a partir do

seguinte excerto: “Nós também tentamos em casa puxar um bocadinho por ele

e na rua” (excerto retirado da E8, p.1). Estes relatos vão ao encontro do estudo

de Modell, Rider e Menchetti (1997), onde os autores afirmam que mais de

metade da AF praticada por crianças com deficiência é praticada em contexto

familiar.

Neste contexto, verifica-se que o papel da família é fundamental na

participação das pessoas com deficiência, como é também descrito por Beets

et al. (2007), que refere a importância da motivação que os pais proporcionam

para os seus filhos praticarem AF. Porém, na questão do papel de modelo

parental como exemplo a seguir, no presente estudo, verificou-se que 14

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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entrevistados são ativos e praticam AF e 16 não praticam. Isto sugere que a

ideia de modelo não é tão significativa no nosso estudo, como descrito por

Wang e DePauw (1995) no seu estudo realizado com atletas com deficiência.

Porém, outros autores reforçam os resultados obtidos no nosso estudo,

referindo que as crenças dos pais podem ser, só por si, suficientes para alterar

os níveis de AF dos seus filhos, sem terem de mudar o seu próprio

comportamento (Pitchford, Siebert, Hamm e Joonkoo, 2016). Os autores

acrescentam ainda que, no caso específico da deficiência, podem existir

maiores dificuldades na mudança de hábitos, pelo facto de terem uma pessoa

com deficiência à sua responsabilidade.

Nesta medida, muitos dos entrevistados não deixaram de referir que a

prática de AF é igualmente importante para a sua própria saúde. Em duas

entrevistas é referido que a prática de AF é fundamental, considerando muito

importante que seja praticada por todos. Numa das entrevistas está presente o

seguinte excerto: “Acho importante para toda a gente, eu sou a primeira a

praticar desporto porque acho que é essencial para a minha saúde” (excerto

retirado da E9, p.1).

Apesar de duas entrevistadas terem expressado que consideram a

prática de AF como algo que tem um papel fundamental na vida de todos, a

maioria realça a importância que tem na vida dos seus filhos e netos, em

particular. Em quase todas as entrevistas, participação na AF é realizada de

forma regular em atividades desenvolvidas nos contextos das associações,

IPSS’s ou clubes.

Segundo Anderson e Heyne (2010) a AF tem maior importância das

pessoas com deficiência. Muitos entrevistados referiram que para estas

pessoas a prática de AF tinha um impacto maior. Na primeira entrevista a mãe

refere que a prática de AF é importante para todas as crianças, no entanto,

para o seu filho, é ainda mais devido à sua condição.

Ao longo das entrevistas, ficou patente a elevada importância que os

entrevistados atribuem à prática de AF nesta população. Neste sentido, talvez

o conhecimento das perspetivas parentais sobre os benefícios provenientes da

AF nos possa ajudar a explicar as razões pelas quais as pessoas com

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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deficiência são ativas ou inativas (Pitchford, Siebert, Hamm e Joonkoo, 2016).

Neste sentido, parece-nos fundamental que os familiares próximos de pessoas

com deficiência sejam detentores de uma forte crença na importância da AF, o

que irá ter um impacto positivo na sua participação.

2.1 Benefícios da prática de atividade física

O conhecimento dos benefícios da prática de AF, que os pais e avós

percecionam através da prática dos filhos e netos, influenciará os próprios a

criar maiores oportunidades para a prática. Neste contexto, a investigação que

permite conhecer as várias vantagens da AF, permitirá aos profissionais

fundamentar a importância da AF e sustentar as suas recomendações

(Johnson, 2009).

No decorrer das entrevistas foram referidos vários benefícios

decorrentes da prática de AF. A sua diversidade e o número elevado de

referências a este assunto sustentam a importância que estes assumem para

os entrevistados. Estes benefícios manifestam-se a nível social, psicológico e

fisiológico.

Os benefícios sociais que provêm da AF são de grande importância,

uma vez que a interação das pessoas com deficiência com os seus pares é

algo que, muitas vezes, é um obstáculo. Com efeito, uma das entrevistadas

refere que o seu filho acaba por ser excluído das atividades com os colegas por

não ter as mesmas capacidades, o que o deixa muito em baixo. Utilizando as

palavras da mãe: “quase que é bullying” (excerto retirado da E1, p.3). Este tipo

de acontecimento afeta a vida social das pessoas com deficiência. Neste

contexto, a visibilidade de uma deficiência ou a perceção de falta de

capacidade aumenta, claramente, a distância social e compromete a inclusão

das pessoas com deficiência.

A este respeito, encontramos ainda opiniões contrárias, destacando que

através da AF, é possível interagir de uma forma natural e estabelecer laços

com todos os que estão envolvidos na atividade, quer seja com os seus

colegas, com os seus professores, ou outros indivíduos que estejam presentes

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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nessas atividades. Quando existe um contacto mais próximo com pessoas com

deficiência que permite a partilha de momentos de maior familiaridade e

experiências de vida, as atitudes negativas, o estigma e a distância social

parecem ser diminuídas (Mitchell et al., 1993; Grayson e Marini, 1996). Assim,

alguns pais e avós referem que a AF tem um impacto positivo na vida social

dos seus filhos e netos, sendo capazes de influenciar o meio social próximo,

como é referido por uma avó entrevistada. Esta considera a AF importante em

várias vertentes, não só porque permite ao seu neto contactar com outras

pessoas, bem como interagir com outros contextos, mas também usufruir de

espaços sociais diferentes. Numa outra entrevista, uma mãe refere que o seu

filho, quando vai às provas de Natação, se sente sempre motivado a alcançar o

primeiro lugar, sendo o incentivo dos colegas de equipa o grande fator

motivacional neste caso.

Nesta perspetiva, foram vários os entrevistados que destacaram o

aspeto relacional com os pares como muito importante:

“Além de em termos físicos e motores ser importante, também é sobre o ponto

de vista de integração e interação com os outros.”

(Excerto retirado da E26, p.1)

Em síntese, ao longo das entrevistas foram referidos diversos benefícios

sociais experienciados pelos filhos e netos, tais como a interação com os

outros, vivências em diferentes contextos sociais, motivação proporcionada

pelo apoio dos pares e integração promovida pela prática de AF.

O aspeto social da AF cria uma dinâmica na vida da pessoa que lhe

permite melhorar aspetos da vida, nomeadamente o seu estado psicológico.

Do ponto de vista psicológico, a AF pode ter um impacto positivo na

forma como os indivíduos sentem o seu corpo, ajudá-los a combater os

estigmas da sociedade comummente vividos pelas pessoas com deficiência,

elevar os seus sentimentos positivos e melhorar os níveis de confiança (Blinde

e McClung, 1997; Giacobbi et al., 2006; Pensgaard e Sorensen, 2002; Taub,

Blinde e Greer, 1999). Neste sentido, um dos entrevistados, pai de um jovem

adulto com Paralisia Cerebral, realçou a importância da prática de AF no ganho

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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de confiança por parte do filho, ajudando-o a ultrapassar o acidente que

vivenciou. O mesmo pai referiu: “suponho que foi fundamental, não só na parte

física, mas também na parte mental. O bem-estar proporcionado nas diferentes

atividades que desenvolveu. Conseguiu grandes vitórias e foi importante que

ele conseguisse ultrapassar limites, que tinha, se calhar, como assumidos que

não conseguia!” (excerto retirado da E24, p.2). Ainda na mesma entrevista, o

pai acrescenta que a AF é muito importante para o desenvolvimento cognitivo.

A ideia de ter o seu filho parado, não aceita: “parado não, parado não quero”

(excerto retirado da E24, p.2). Callaghan (2004) reforça esta ideia, referindo

que a AF pode melhorar a autoestima, como mencionado por uma mãe que

verificou esse aumento na sua filha, assim que esta começou a praticar AF.

Segundo Callaghan (2004), num estudo na área da saúde mental, a

prática de AF melhora o desenvolvimento cognitivo. Estes resultados foram de

encontro ao nosso estudo, sendo que alguns dos entrevistados referiram este

benefício. De acordo com uma mãe, a sua filha aprendeu a terminar as suas

tarefas, ou se possível, realizar duas tarefas seguidas: “se forem coisas mais

apelativas, ela consegue fazer melhor do que se forem coisas abstratas”

(excerto retirado da E14, p.1). Tomemos ainda como exemplos deste facto os

excertos que se seguem:

“A nível do desenvolvimento dele, a nível muscular, a nível de concentração, as

práticas desportivas exigem bastante dele, que é o que ele precisa.”

(Excerto retirado da E3, p.1)

“Notamos que ela está mais atenta, por se insistir muito com ela. São crianças

que precisam muito de rotinas e de repetir várias vezes as coisas para conseguir

assimilar”

(Excerto retirado da E7, p.1)

Por fim, Callaghan (2004) defende que a prática de AF ajuda a diminuir

estados de ansiedade, depressão e estados de humor negativos. No caso das

pessoas com deficiência, ajuda-as a ganhar maiores níveis de confiança e a

sentirem-se felizes. De facto, num estudo de Martin et al. (2009), os pais

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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referem dar o seu apoio na prática de AF aos filhos com deficiência, uma vez

que verificaram que estes são felizes durante essa prática. Este facto foi

descrito em várias entrevistas, nomeadamente por um pai que retratou a

felicidade do filho, afirmando que este gosta bastante da prática de Hipoterapia,

uma vez que consegue executar o que lhe é solicitado: “não é demasiado difícil

e, por isso, sente-se bem e costuma estar muito animado nas aulas” (excerto

retirado da E8, p.1). O pai concluiu ainda referindo que a AF influencia o estado

de ânimo e ajuda no descanso à noite. Outro exemplo surge numa entrevista

onde a mãe considera que é muito importante para a filha praticar AF pelo

equilíbrio e bem-estar que consegue atingir na sua vida.

Em suma, foram referidos pelos entrevistados diversos benefícios

psicológicos, experienciados pelos filhos e netos, tais como a melhoria do bem-

estar geral, o aumento da autoestima, a melhoria do desenvolvimento

cognitivo, melhoria de confiança, e felicidade experienciada através da prática

de AF.

Por fim, surgem os benefícios fisiológicos que, talvez por serem os que

têm maior impacto e visibilidade, foram frequentemente relatados pelos

entrevistados.

As consequências na saúde de indivíduos com deficiência que não

praticam AF incluem a diminuição da capacidade de locomoção e consequente

diminuição de independência (Nosek, et al., 2006; Goodwin, et al., 2004;

Durstine, et al., 2000; McDonald, 2002; Draheim, 2006; Sutherland et al., 2002).

Ao mesmo tempo, é consensual que as pessoas inativas têm maior risco de

doença cardiovascular, diabetes do tipo 2, elevada tensão arterial, obesidade e

osteoperose (Draheim, 2006; Sutherland et al., 2002). A este respeito, uma das

entrevistadas, que é profissional de medicina, refere: “Eu acho que o desporto

é importante para todas as pessoas, tanto a nível cerebral como a nível

cardiovascular. É a única forma de aumentar as HDL do colesterol e as

endorfinas, que faz libertar os neurotransmissores cerebrais” (excerto retirado

da E19, p.1), enaltecendo a relevância da AF na prevenção de doenças e na

melhoria do bem estar geral da pessoa.

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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As pessoas com deficiência têm ainda tendência para desenvolver

doenças secundárias, onde se incluem a osteoperose, osteoartrites, diminuição

do equilíbrio, da força, da resistência, da flexibilidade e o aumento da tendência

para a obesidade (Craham e Reid, 2000; Rimmer, 1999). A este respeito, outro

entrevistado refere que para a sua filha é muito importante a prática de AF,

uma vez que esta tem necessidade de desenvolver os mecanismos

responsáveis pelo equilíbrio, melhorando, efetivamente, esta capacidade

motora.

Muitos dos entrevistados referem ainda que verificaram melhorias

significativas ao nível da postura dos seus filhos, como consequência do

reforço muscular alcançado através da prática de AF. Nas várias entrevistas,

os pais e avós referiram isso como resultado da Hipoterapia. Numa entrevista,

a mãe conta que o filho tem um problema na coluna, que lhe dificulta a marcha

e a realização de determinados movimentos. Com a Hipoterapia, essas

dificuldades foram ultrapassadas com o auxílio do movimento do cavalo e que

refletiram-se na melhoria postural do seu filho. Ainda referente à Hipoterapia,

uma avó de uma menina com Paralisia Cerebral referiu: “ela melhorou bastante

a postura” (excerto retirado da E25, p.1). Resultados semelhantes foram

encontrados por Bertoti (1988) em que o autor demonstrou, através do estudo

da postura de 27 crianças com Paralisia Cerebral, a importância de um

programa de Hipoterapia, concluindo que esta atividade ajuda na melhoria

postural.

No entanto, para além da Hipoterapia, também foram referidas outras

atividades pelos pais e avós como sendo benéficas, na realidade vivida pelos

seus filhos e netos. Por exemplo, uma mãe mencionou que os médicos com

especialidade em ortopedia e fisiatria referiram que era muito importante para o

filho praticar AF, no sentido de melhorar a sua postura, uma vez que ele não

tinha massa muscular. Com a hiperlaxidez que possui, os médicos

recomendaram a Natação, uma vez que o iria ajudar a relaxar e ao mesmo

tempo a desenvolver a sua coordenação motora. O mesmo foi reforçado por

outra das mães entrevistadas, nomeadamente uma mãe que considera que é

muito importante o seu filho praticar Natação e Ginástica, uma vez que

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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promove o máximo de movimento: “tudo é mexido” (excerto retirado da E15,

p.1).

O reforço muscular foi também referido em duas entrevistas, onde as

entrevistadas consideram que a AF muito importante para o desenvolver da

massa muscular dos seus filhos.

Os pais e avós também referiram que a prática de AF teve efeito direto

na melhoria de determinadas patologias que os seus filhos e netos possuíam, o

que revela, de forma evidente, os benefícios fisiológicos da AF. A este respeito,

surgiram nas entrevistas vários exemplos, nomeadamente em dois casos de

escoliose e num caso de falta de mobilidade no tendão de Aquiles. Nestes

casos, os participantes descreveram o impacto positivo da AF.

Outra patologia comummente associada à deficiência é a obesidade,

nomeadamente por falta de AF. Com efeito, condições crónicas e secundárias

associadas à obesidade nas pessoas jovens com deficiência podem limitar a

sua independência e as oportunidades para participar em atividades da

comunidade, nomeadamente na prática de AF (Simeonsson, McMillen e

Huntington, 2002). Esta patologia é igualmente referida por alguns pais e avós.

Utilizando as palavras de uma das entrevistadas: “a ele só faz bem, para

queimar isto tudo” (excerto retirado da E1, p.1), apontando para a barriga e

sugerindo que o filho tem excesso de peso.

A adolescência é um período fulcral do desenvolvimento educacional

dos jovens com deficiência e para os seus educadores. Em conjunto devem

possuir controlo sobre os vários aspetos que determinam o seu peso e,

consequentemente, reduzir o risco de obesidade e todas as condições

associadas a isso (Rimmer, Rowland e Yamaki, 2007), uma vez que a

obesidade em crianças e adolescentes com deficiência, é um problema sério

com muitas consequências ao nível de saúde e a nível social, que na maioria

dos casos, continuam até à vida adulta (Foxhall, 2006). Esta situação foi

realçada por alguns entrevistados, sendo que no caso de uma entrevistada, a

mesma demonstra preocupação com o peso do filho, valorizando a prática de

AF no combate a essa situação.

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

79

Deste modo, dos benefícios fisiológicos referidos pelos pais e avós

destacamos a melhoria de postura, a melhoria do equilíbrio, o desenvolvimento

músculo-esquelético e o controlo de determinadas patologias, nomeadamente

a obesidade.

Os benefícios percecionados pelos entrevistados, foram um aspeto

bastante abordado, atendendo à sua elevada relevância.

Apesar do reconhecimento de todos os entrevistados de que a AF

promove diversos benefícios, os baixos níveis de participação de pessoas com

deficiência na prática de AF são preocupantes. Atendendo a esse aspeto,

muitos investigadores procuram identificar as barreiras para a prática de AF

(Martin, 2013).

2.2 Barreiras à prática de atividade física

No presente estudo, as barreiras à prática de AF descritas pelos

entrevistados foram elencadas em número elevado, o que denota a importância

atribuída a este tema.

Segundo Martin (2013) existem barreiras que são percecionadas por

todos, como por exemplo a falta de tempo para a prática de AF. No entanto,

existem barreiras que são específicas e que afetam apenas as pessoas com

deficiência.

Neste contexto, as barreiras pessoais foram as mais referidas pelos pais

e avós, mostrando que muitas vezes o que limita as pessoas com deficiência a

participar na AF são as suas próprias características. O mesmo aconteceu no

estudo de Gardner et al. (2007), onde os participantes, neste caso os próprios

indivíduos com deficiência, indicaram a sua deficiência e os sintomas

associados à mesma como a principal barreira à prática de AF.

Este facto foi também visível no nosso estudo, quando duas

entrevistadas referiram que as filhas não conseguem fazer muitos dos

exercícios, alegando que a sua deficiência não lhes permite aprender e

executar alguns gestos que para outras pessoas parecem básicos, mas para

as suas filhas são um obstáculo. Em concreto, uma das mães refere que a sua

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

80

filha faz muito pouca coisa devido à Síndrome de Rett. Ela caminha bem, mas

tem falta de mobilidade e alguns problemas ao nível de equilíbrio, o que cria

algumas restrições na prática de AF. Acrescenta ainda que a filha não tem

autonomia para se sentar sozinha e que necessita sempre de auxílio para se

sentar e levantar. Ao mesmo tempo, numa outra entrevista, uma mãe refere

que a prática de AF é: “muito complicada porque ele não é autónomo” (excerto

retirado da E23, p.2), destacando a questão da dependência como impeditivo à

prática.

Para além das barreiras pessoais a nível motor, existem ainda barreiras

a nível social e psicológico que afetam a participação na prática de AF, como

se pode verificar nos dois excertos que se seguem:

“Ele tem algumas dificuldades e como se apercebe disso, não se sente muito à

vontade”.

(Excerto retirado da entrevista E8, p.1)

“Em primeiro lugar o meu filho tem tendência para se isolar e isso nós tentamos

que ele não faça. Além de ter a maneira de ser de um Asperger, também tem a

personalidade dele”.

(Excerto retirado da entrevista E16, p.2)

Muitas vezes o que também impede a participação das pessoas com

deficiência na AF é o medo de se magoarem, ou os próprios pais terem esse

mesmo receio (Scholl et al., 2003). Numa entrevista, uma mãe realça isso

mesmo, dizendo que o seu filho tem alguns medos: “tem receio de dar o

primeiro passo” (excerto retirado da E30, p.2). Relativamente ao medo sentido

pelos pais, este ficou patente no excerto da seguinte entrevistada: “ele não

controla o correr, não consegue jogar Futebol e eu tenho muito medo pela

segurança dele” (excerto retirado da E1, p.2).

Depois da referência às barreiras relativas à própria deficiência, os

entrevistados salientaram outra barreira pessoal, a falta de tempo, o que vai de

encontro ao estudo de Zhu (2001) onde o autor a destaca como a segunda

maior barreira à prática de AF. A maioria dos filhos e netos que fazem parte

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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deste estudo estão na escola ou frequentam uma instituição, tendo um horário

bastante preenchido, um facto que dificulta a participação na AF. A este

respeito, uma mãe refere que a filha passa o dia todo na instituição, não

restando grande tempo para essas atividades. O mesmo se passa com a

primeira entrevistada que refere: “os médicos ralham comigo”, porque “ele

durante o dia não pára um segundo” (excerto retirado da E1, p.1), alegando

que o filho também deve ter tempo para brincar. Com efeito, vários pais e avós

referiram esta falta de tempo como uma barreira à prática de AF. Numa das

entrevistas, um pai diz que a sua filha já tem um horário muito preenchido e

considera que a filha também tem de ter tempo para fazer os trabalhos de

casa. O mesmo acrescenta que esta já faz AF na escola e que isso basta.

Muitos pais consideram mesmo esta como uma das maiores barreiras à AF,

como referido no seguinte excerto:

“A maior barreira são mesmo os horários. As atividades de Natação e

Hipoterapia são todas realizadas ao sábado por falta de disponibilidade durante a

semana.”

(Excerto retirado da entrevista E3, p.1)

Esta falta de tempo nas pessoas com deficiência é ainda mais agravada

por estas terem várias sessões de terapia e fisioterapia, como é referido pela

seguinte entrevistada: “atualmente o que está a limitar mesmo é o tempo. Não

quero sobrecarregar a minha filha. Ela tem um horário que inclui todas as

terapias em que participa e não há como retirar alguma coisa do seu horário.

Tudo é muito necessário. Para além de tudo isso, ela também tem de ter tempo

para brincar” (excerto retirado da E5, p.2).

Em síntese, as barreiras pessoais referidas pelos pais e avós no

presente estudo foram a própria deficiência que impede o filho ou neto de

realizar determinados movimentos exigidos na prática, devido a problemas

cognitivos ou motores. Outra barreira foi o medo, tanto do próprio praticante,

como dos pais e avós que temem pela segurança dos filhos e netos. Por fim, a

barreira da falta de tempo foi igualmente salientada por diversos participantes.

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

82

No presente estudo as barreiras sociais foram igualmente referidas,

embora em menor número. Na literatura, num estudo realizado com 145

crianças com deficiência motora, estas viam o preconceito de terceiros como

uma grande barreira à AF (Kang et al., 2007). Este preconceito e falta de

compreensão da sociedade foi também referido por alguns dos nossos

entrevistados, como é o caso de uma entrevistada que explica que a nível

emocional o seu filho se magoa muito com os comentários dos pares, o que a

preocupa bastante. Outro pai chega mesmo a referir que a sociedade não dá

valor a estas pessoas que, na sua opinião, têm muito para oferecer: “quando

estas pessoas fazem um espetáculo de dança, ninguém vai ver, só os pais”

(excerto retirado da E22, p.3). Ainda no mesmo contexto, um pai dá a sua

opinião quanto à falta de aceitação social: “as pessoas não aceitam, as

pessoas rejeitam, as pessoas põem de parte e hoje em dia muitos deles

acabam por ficar desprezados, sentem-se ultrapassados, sentem-se postos de

parte e a revolta deles é muito grande” (excerto retirado da E24, p.4). Segue-se

outro exemplo ilustrativo, através do seguinte excerto:

“Mesmo que o meu filho fosse melhor do que os colegas, porque o era, havia

sempre o estigma relativamente ao facto de ter deficiência, sendo que era agravado

em contexto de competição. A barreira não é o desporto, são as barreiras que estão à

volta do desporto”.

(Excerto retirado da entrevista E15, p.3)

Para além desta falta de compreensão da sociedade, a própria

deficiência muitas vezes não permite que seja possível a interação com os

outros, tornando muito complicada a participação, por exemplo em desportos

coletivos. Tal como referiu uma das entrevistadas, sempre foi complicado

integrar a sua filha num desporto de equipa, onde na sua opinião: “se poderia

juntar o útil ao agradável” (excerto retirado da E9, p.1), uma vez que ela

necessita também de uma atividade onde esteja integrada e interaja com os

pares. “Acho que, infelizmente, não é fácil e que se deveria reforçar muito,

mesmo a nível de crianças e jovens” (excerto retirado da E9, p.2). Continua por

dizer que a sua filha começou na Natação muito cedo e “só porque não fazia

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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tudo igual aos outros, pronto, ficava sempre para trás” (excerto retirado da E9,

p.2).

Sob o ponto de vista social, a falta de amigos é também vista como uma

barreira (Lieberman et al., 2006; Levinson e Reid, 1991), o que acaba por ser

uma consequência da falta de capacidade de comunicação e de

relacionamento com os pares. A título de exemplo apresentamos o excerto de

uma entrevistada cuja filha tem Síndrome de Asperger: “esse é mesmo um dos

problemas dela, ela não tem problema nenhum a nível intelectual, pelo

contrário, é muito inteligente, agora a nível de interação é muito complicado”

(excerto retirado da E2, p.2). O mesmo é verificado no excerto seguinte:

“A minha filha tem dificuldades em trabalhar em grupo, em obedecer a regras,

mas se se insistir com ela, ela faz as coisas.”

(Excerto retirado da entrevista E4, p.2)

Ainda do ponto e vista social, foram apresentadas duas perspetivas

diferentes relativamente à falta de independência da pessoa com deficiência.

Por um lado, foi demonstrada a necessidade que os filhos e netos têm na

presença constante dos seus pais ou avós, o que muitas vezes os impede de

participar adequadamente nas atividades. Um exemplo concreto, está presente

numa entrevista onde o pai refere que o seu filho tem uma enorme

dependência do pai: “para onde eu for, ele vai” (excerto retirado da E22, p.3).

Continua por dizer que mesmo que insista para o filho ir sozinho, o mesmo não

aceita: “se não vais, eu também não vou” (excerto retirado da E22, p.3). Numa

segunda perspetiva, ocorre a exagerada proteção dos pais em relação aos

seus filhos, o que pode suprimir determinados comportamentos durante a

infância, que depois terão repercussões na sua vida adulta. Esta excessiva

proteção pode implicar, igualmente, a diminuição de oportunidades na

participação na AF (Steele et al., 1996), uma situação comum a vários

entrevistados:

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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“O nosso filho não sai de casa sozinho, mas ele também foi habituado assim.

Refere que têm de estar com o filho para o proteger, uma vez que o filho não tem

capacidades para andar sozinho.”

(Excerto retirado da entrevista E10, p.2)

Estas duas perspetivas, apesar de antagónicas, acabam por se

influenciar mutuamente e de forma negativa. É necessário um certo cuidado

para equilibrar a ajuda aos filhos, com a independência dos mesmos.

Em síntese, as barreiras sociais descritas pelos pais e avós são a falta

de compreensão da sociedade e dos seus pares, a falta de capacidade de

comunicação e relacionamento dos filhos e netos, a elevada dependência dos

filhos e netos e o excesso de pais e avós.

Prosseguimos com a análise das barreiras ambientais. Neste caso, as

pessoas com deficiência são impedidas de praticar AF por razões “materiais”,

isto é, pela falta de condições e de acesso às atividades. Apesar de muitas

vezes as instalações poderem estar disponíveis para pessoas com deficiência,

frequentemente não estão bem localizadas (Tsai e Fung, 2005) ou são

inacessíveis (Rimmer, 2005). A localização foi, de facto, uma barreira muito

mencionada pelos entrevistados. Nesse contexto uma mãe refere: “moro em

Gaia e vir para o Porto acaba por ser mais complicado” (excerto retirado da

E20, p.1). No entanto, temos exemplos de entrevistados que sentem que

apesar de isto ser uma barreira, acabam por conseguir ultrapassá-la, como é

descrito na entrevista E3, onde a mãe refere que ser longe é uma barreira, uma

vez que acarreta fazer várias viagens para levar o filho às atividades, mas fá-lo

de qualquer forma.

Outro obstáculo que se impõe e que também foi referido pelos

entrevistados, é a falta de meios de transporte. Este aspeto é referido por

diversos entrevistados. Como refere um dos entrevistados: “o meu filho está

completamente dependente de mim para se deslocar para qualquer lugar”

(excerto retirado da E21, p.2). Outro testemunho surge de uma mãe que nos

relatou que o filho com DI, perdeu a capacidade de andar em transportes

públicos, começando a perder-se e necessita que a mãe o vá buscar à

instituição. A situação piora, uma vez que o seu filho não entende os sinais de

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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trânsito e não compreende o risco de atravessar a rua. Por todos estes motivos

a mãe considera que o filho não tem capacidade para fazer atividades fora da

instituição: “se fosse há uns anos atrás, talvez, agora é impossível” (excerto

retirado da E23, p.2). Esta questão de algumas pessoas com deficiência não

entenderem os sinais de trânsito foi referido por mais entrevistados, o que

limita a capacidade de se deslocarem de forma autónoma, sem que corram

perigo. Na mesma linha de ideias, Martin e Choi (2009) referem que os filhos

estão muitas vezes dependentes dos seus pais para o transporte, como se

espelha nos seguintes excertos:

“As deslocações que são necessárias e o transporte são barreiras, uma vez

que está sempre dependente da família para isso.”

(Excerto retirado da entrevista E13, p.2)

“O melhor são atividades que sejam na zona de residência, uma vez que o

facto de ser longe e o trânsito são duas barreiras.”

(Excerto retirado da entrevista E14, p.2)

O tema da acessibilidade também foi referido por vários entrevistados,

mas ao contrário do que se poderia esperar, não foi apenas mencionado por

aqueles que lidam com baixa mobilidade.

Neste contexto, um caso específico é realçado por uma mãe refere que

uma enorme barreira é o facto de os locais não estarem adaptados para

receber pessoas com deficiência, como para o caso da sua filha que é Cega.

Já numa entrevista onde a participante é mãe de uma jovem adulta que se

desloca em cadeira de rodas, sugere que as pessoas que utilizam cadeira de

rodas geralmente são as mais prejudicadas, ou porque não há transporte, ou

por outras situações, como a falta de acessibilidade, considerando injusto

essas pessoas não terem as mesmas oportunidades que aqueles que são mais

autónomos.

No contexto das acessibilidades, a grande maioria das pessoas com

deficiência consideram que locais como os parques, ginásios, piscinas e locais

para praticar desporto são ambientes não acessíveis (Bullock e Mahon, 1995;

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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Cardinal e Spaziani, 2003; Figoni et al., 1998). A título de exemplo, uma das

entrevistadas refere que encontra um problema comum em todas as piscinas, a

falta de acessibilidade para pessoas com deficiência: “as rampas não existem,

que são coisas que podem ser construídas logo de raiz. Já chateia falar nas

barreiras arquitetónicas, porque já são tantos anos” (excerto retirado da E12,

p.3). No entanto, para além das barreiras arquitetónicas, existem também outro

tipo de barreiras ambientais que prejudicam a participação de pessoas com

deficiência na AF, como é referido no seguinte excerto:

“Basta existir um ambiente diferente, com um pouco de música mais alta, ou

muitas pessoas, que o meu filho já fica mais tenso e quer encontrar um local mais

calmo. Qualquer coisa serve para ele se distrair, para ficar nervoso, ou ficar tenso.”

(Excerto retirado da entrevista E8, p.3)

Face ao referido, as principais barreiras ambientais referidas pelos pais

e avós foram a distância dos locais de prática, a falta de transporte, falta de

acessibilidades dos locais e os contextos ambientais desfavoráveis.

Por fim, o último tipo de barreira e que é a segunda mais referida no

presente estudo, logo a seguir às barreiras pessoais, são organizacionais.

As barreiras organizacionais, ao contrário das ambientais, não apontam

a falta de acessibilidade e adequabilidade dos locais, mas sim a falta de

existência desses mesmos locais, entre outras situações. No estudo de Martin

e Smith (2002), onde os autores estudaram pessoas com deficiência que

praticam Atletismo e Natação, concluiu-se que há pouca oferta de locais onde

se possa praticar AFA.

No presente estudo, ao longo de todas as entrevistas, foi questionado

aos entrevistados se estes conheciam locais onde os filhos pudessem praticar

AF, para além daqueles onde os filhos já praticam, mais especificamente na

cidade do Porto. As respostas foram variadas. Verificou-se que, no total das 30

entrevistas, 7 entrevistados referiram que era fácil encontrar locais onde os

seus filhos e netos pudessem praticar AF, 18 disseram que era difícil encontrar

esses locais e 5 responderam que não tinham qualquer conhecimento de

causa, preferindo não responder à questão.

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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Entre os entrevistados que responderam que era fácil encontrar locais

onde os filhos pudessem praticar AF, muitos alegaram que as novas

tecnologias ajudam e facilitam o acesso à informação, como é exemplo uma

entrevistada, avó de um menino com Paralisia Cerebral que, apesar de não ser

da cidade do Porto considera fácil encontrar tudo, uma vez que: “hoje em dia

vê-se tudo pelo facebook e pela internet” (excerto retirado da E13, p.1). Os pais

consideram a internet uma fonte de informação útil, que lhes permite serem

independentes na procura de informação e na opção que tomam, para além de

que muitas vezes estas iniciativas não são divulgadas por outros meios

(Maddison e Beresford, 2011).

Na questão da facilidade de encontrar locais para os filhos e netos

praticarem AF, uma entrevistada referiu que os pais que têm filhos com algum

tipo de deficiência acabam por falar uns com os outros: “é o passa palavra!”

(excerto retirado da E28, p.1). Com efeito, outros estudos também salientam o

facto de grupos de pais de pessoas com deficiência oferecerem, com

frequência, suporte emocional, oportunidades para transmitir os seus

conhecimentos, tornarem-se mais confiantes, serem uma fonte de partilha de

informação e ainda indentificar o sentimento de pertença (Law et al., 2001;

Singh et al., 1997).

No entanto, a grande maioria dos entrevistados alegaram que não

tinham conhecimento de outros locais onde os filhos e netos pudessem praticar

AF, sendo difícil encontrar esses mesmos locais, o que vai de encontro ao

estudo de Martin (2013) em que o autor salienta o desconhecimento como uma

das principais barreiras à prática de AF, nesta área. Este aspeto é

repetidamente mencionado nas entrevistas, nomeadamente por uma mãe que

refere: “noto uma lacuna na existência de atividades desportivas para pessoas

como a minha filha” (excerto retirado da E5, p.1). Para além da falta de locais,

pais e avós também se referiram à falta de divulgação como um obstáculo.

Esta situação é igualmente descrita na literatura. No estudo de Levins,

Redenbach e Dyck (1991), realizado com 8 adultos com lesão medular, o grupo

de estudo referiu que não têm acesso a qualquer tipo de fonte ou informação

relativamente à prática de AF. Esta falta de divulgação e de conhecimento foi

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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reforçada pela mãe de uma menina com Síndrome de Rett: “é difícil encontrar

locais adaptados a este tipo de crianças, com atividades próprias para eles. Há

muita falta de divulgação nesse aspeto” (excerto retirado da E7, p.3). Uma

realidade descrita por outro pai: “não conheço nenhum local e nada é

divulgado” (excerto retirado da E29, p.1). Um dos pais menciona ainda que

esta dificuldade apenas existe para quem tem filhos com deficiência,

salientando: “Se ele não fosse deficiente, mas como o meu filho tem

deficiência, não é nada fácil” (excerto retirado da E22, p.2).

“Há uma ignorância natural em nós todos, em que o nosso mundinho não

corresponde ao mundo, mas de todos os esforços que fiz para encontrar as melhores

soluções para a minha filha, há muito pouco e não é fácil encontrar locais para ela.”

(Excerto retirado da entrevista E26, p.2)

Por fim, alguns entrevistados referiram que não tinham conhecimento de

qualquer prática, mas por não estarem dentro do assunto. Aqui geram-se duas

interpretações possíveis. Parece-nos que, possivelmente, os pais e avós não

tiveram de se preocupar porque filhos e netos naturalmente iniciaram a sua AF,

nomeadamente através da escola ou na instituição. Outra interpretação pode

ser o facto de os entrevistados mostrarem não ter qualquer intenção de colocar

os filhos e netos neste tipo de atividades, o que poderá ser uma enorme

barreira. Neste caso, serão os pais e avós em que os seus filhos apenas

praticam AF graças à escola ou instituição que promove essa atividade.

Relativamente ao conhecimento de outras organizações, um pai referiu:

“não estou muito por dentro dessa situação” (excerto retirado da E4, p.1). A

este respeito podemos observar outros exemplos, como numa entrevista onde

se falou da existência de clubes com desporto adaptado, mas a mãe

respondeu: “não sei, não estou a ver, não conheço” (excerto retirado da E23,

p.3).

“Não conheço nenhuns locais, mas que isso é natural, uma vez que a vida do

filho se restringe à instituição e à casa.”

(Excerto retirado da entrevista E10, p.2)

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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As barreiras organizacionais estendem-se ainda aos profissionais que

desempenham funções na área, um aspeto muito referido no presente estudo.

Na literatura, num estudo realizado com crianças com deficiência, a má

prestação de serviços foi verificada nos profissionais pelas próprias crianças,

uma vez que os profissionais não entendiam as suas necessidades ou

capacidades (Kramer et al., 2012). Os mesmos autores referem ainda que as

crianças com deficiência ficam muito frustradas quando os profissionais

superestimam ou subestimam as suas capacidades. O mesmo se verificou no

nosso estudo, em que uma das entrevistadas referiu: “saindo da escola com o

ensino especial, nós cá fora não temos nada de desportos, de atividades

extracurriculares que possam ser adaptadas a estas crianças por professores

que tenham formação. Não temos, posso-lhe dizer que eu corri tudo, tudo. Há

falta de professores especializados para lidar com pessoas como o meu filho”

(excerto retirado da E18, p.2).

Uma outra situação que ocorre a nível do papel dos profissionais,

quando lidam com pessoas com deficiências não visíveis, como a DI, estas

pessoas manifestam comportamentos inesperados e que não são, na maioria

das vezes, compreensíveis. Estes comportamentos levam à interpretação dos

profissionais como uma desobediência ou má educação prestada pelos pais

(Kingston, 2007). Com respeito a este facto, uma das mães entrevistadas

referiu que as organizações não estão preparadas para lidar com pessoas que

tenham o problema do filho, Sídrome de Asperger. Como nestas organizações,

na maioria dos casos, existe uma grande diversidade de deficiências, muitas

vezes não conseguem compreender a reação de todos os utentes. Por este

motivo, a mãe afirmou: “muitas vezes não têm formação para entender este

tipo de comportamento” (excerto retirado da E19, p.2).

Esta falta de conhecimento na área é igualmente encontrada nas

escolas, onde os pais e os próprios professores de EF referem a falta de

preparação para as barreiras encontradas no ensino de alunos com NEE

(Lieberman et al., 2003). Este aspeto foi também mencionado por uma das

entrevistadas, destacando que o próprio professor de EF na escola tem alguma

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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dificuldade em entender o que a filha pode ou não fazer, mas que, com o

tempo, acabou por se adaptar. No entanto, sente que no início há sempre

receio por parte dos professores, fazendo questões do que podem ou não

fazer: “às vezes fazem perguntas um bocado ridículas, vão muito a medo”

(excerto retirado da E5, p.2). Num outro exemplo, uma entrevistada explica que

os profissionais do centro Hípico em que inicialmente colocou a filha,

desconheciam por completo a sua Síndrome.

“A dificuldade que a minha filha tem é que se quem está a dinamizar a

atividade, um instrutor ou técnico, não percebe que ela tem de ter um

acompanhamento diferente, ela acaba por se desinteressar da atividade.”

(Excerto retirado da entrevista E26, p.2)

Esta falta de preparação chega também às escola, sendo que uma mãe

contou que na escola não existe nenhuma atividade adaptada para pessoas

como o seu filho Cego, nomeadamente a nível da EE. A mãe dá o exemplo de

que na escola alguns professores e auxiliares colocam os meninos Cegos num

banco durante os intervalos para que não haja qualquer acidente, o que a mãe

considera inaceitável: “é inconsebível passarem a hora do recreio sentados

num banquinho de pedra” (excerto retirado da E30, p.1).

Por fim, a barreira mais citada pelos pais e avós, foi o aspeto financeiro.

Neste ponto, importa referir que se notou alguma diferença entre as realidades

dos entrevistados no Pony Club e no CIAD. No entanto, mesmo pais e avós

que escolheram um serviço privado para os seus filhos e netos demonstraram

preocupação relativamente à questão monetária, o que muitas vezes os

impedia de colocarem os filhos e netos em mais atividades, ou com mais

frequência durante a semana. Esta visão é descrita igualmente por Scholl, et al.

(2003), que afirmam que os pais podem restringir a participação dos seus filhos

na AF por dificuldades financeira. Com efeito: “essencialmente a nível

financeiro pode existir uma enorme barreira” (excerto retirado da E7, p.2). A

grande maioria dos entrevistados referem que é muito complicado a nível

financeiro, uma vez que pelas características dos seus filhos e netos, estes têm

de ter uma atenção especial e os serviços particulares são sempre muito mais

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

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dispendiosos, o que sem ajudas é muito mais complicado. Na mesma linha de

pensamento, é possível enumerar vários excertos: “a primeira barreira,

geralmente é monetária” (excerto retirado da E12, p.2). Esta mãe ainda salienta

que os únicos benefícios que conseguem retirar é ao nível fiscal e de IRS, mas

que de resto não existem ajudas nenhumas, sendo tudo a nível particular.

Continua por dizer que as instituições não estão muito recetivas a fazer um

esforço pelos seus utentes, considerando que fazem apenas o necessário e

essencial, por ser mais cómodo e prático. Por essa razão, sentiu necessidade

de procurar soluções fora da instituição: Não é fácil estar a canalizar tudo para

essas atividades” (excerto retirado da entrevista E12, p.2).

“A questão financeira é logo realçada, uma vez que para o meu filho com

deficiência é muito mais complicado, uma vez que envolve toda uma logística bastante

diferente, nomeadamente ao nível de recursos humanos.”

(Excerto retirado da entrevista E27, p.1)

Habitualmente, a questão financeira é uma prioridade das organizações,

perdendo, muitas vezes, o foco de prestar um serviço para poder colmatar uma

lacuna que exista na sociedade e tentar fazê-lo da melhor forma possível, não

focando apenas no lucro financeiro, mas na qualidade do serviço. Um dos pais

entrevistados expressa essa mesma situação, referindo que o nível financeiro

necessário, muitas vezes, é muito elevado relativamente ao que é a oferta.

Atualmente, muitas atividades não sobrevivem porque os pais não têm

possibilidades e as próprias instituições sem fins lucrativos, acabam por se

focar no lucro. As organizações poderiam fazer muito mais e por isso é que o

pai considera que o privado faz bem, mas leva o justo valor daquilo que é um

bom serviço prestado. Deve haver uma boa gestão entre a oferta e a procura:

“as organizações, eu não sei se mesmo quando falam de responsabilidade

social e esses slogans todos que as empresas muitas vezes gostam de fazer,

eu acho que é mais para se venderem, do que propriamente ajudar, com as

devidas exceções naturalmente” (excerto retirado da E26, p.3). Para este pai, a

responsabilidade social deveria surgir naturalmente e não ser publicitada: “eu

acho que as organizações têm de ter um caráter mais humano, é a sensação

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

92

que eu tenho” (excerto retirado da E26, p.3). Dentro da mesma linha de

pensamento, uma entrevistada também sublinha esta ideia e considera que o

papel das instituições seria o de proporcionarem aquilo que os pais não podem

proporcionar, mas na realidade isso não acontece: “a maior parte dos miúdos

não tem acesso às coisas” (excerto retirado da E12, p.4).

Face ao enunciado, no presente estudo as barreiras organizacionais

expressas incluem a falta de oferta desportiva, falta de divulgação dos locais

existentes, a presença de profissionais sem experiência na área e, por fim, a

barreira mais citada, as dificuldades financeiras.

3. Da realidade às expectativas futuras sobre a participação de

pessoas com deficiência na prática de atividade física

No presente estudo, a perspetiva dos pais e avós relativamente aos

benefícios e às barreiras existentes na prática de AF, levam-nos às questões

da melhoria da realidade da AFA, na tentativa de responder às expectativas

futuras dos participantes. Urge, portanto, entender quais os aspectos

valorizados por pais e avós de pessoas com deficiência numa organização

desportiva, uma vez que os familiares se constituem como elemento facilitador

da participação na AF.

Para melhor compreender este assunto, os entrevistados fizeram

referência à forma como percecionam as organizações que conhecem e que

são frequentadas pelos seus filhos e netos, referindo-se aos aspectos positivos

e negativos de cada uma delas.

Nesta medida, a presença de profissionais especializados foi um dos

fatores que mais influenciou a escolha da instituição ou clube em que

integraram filhos e netos. Neste sentido, os profissionais da AFA podem ter um

papel fundamental na promoção da participação de pessoas com deficiência

em todas as áreas da AF. Estes profissionais têm prática e conhecimentos em

desportos adaptados, em atividades recreativas e programas de AF que

permitirão a estas pessoas obter experiências desportivas enriquecedoras e

positivas (Rimmer et al., 2008). Este facto ficou bem patente na primeira

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

93

entrevista realizada, em que a mãe refere que quando soube que no Pony Club

existiam profissionais da área achou o local ideal. Outro testemunho foi dado

por outra mãe que chegou mesmo a comparar instituições, dando o exemplo

de que no Pony Club todos os trabalhadores são profissionais com cursos na

área, comparando com a antiga escola de Hipismo que a filha frequentou e

onde demorou mais tempo a evoluir. Outros entrevistados referiram isso

mesmo:

“A presença das professoras e dos terapeutas é muito importante. Sempre que

eles estão, o meu filho faz as coisas. Ele sente aquele apoio.”

(Excerto retirado da entrevista E10, p.2)

”Sou conhecedor da realidade desportiva e que, por exemplo, no complexo

desportivo onde trabalho, não existem profissionais com formação nem dirigentes

capazes de entender as necessidades de pessoas com deficiência. Os profissionais

especializados são muito importantes e têm de estar vocacionados, tal como os

dirigentes dos clubes, mas ainda estamos muito longe disso.”

(Excerto retirado da entrevista E24, p.4)

Segundo Shields et al. (2012) outras razões que os pais demonstraram

que seriam importantes foram: a proximidade ao local, referido também no

nosso estudo por uma avó que explicou como o Pony Club é muito perto de

sua casa foi: “juntar o útil ao agradável” (excerto retirado da E25, p.1); o custo,

expresso por um entrevistado, em que os preços razoáveis foram um aspeto

que o levou a escolher o Pony Club, e por fim, melhores oportunidades na

usufruição de serviços específicos, como representado no seguinte excerto:

“No Futebol Club do Porto existe outra estrutura completamente diferente da

instituição. Existe uma preparação no próprio treino, com aquecimento e os treinos são

puxados.”

(Excerto retirado da entrevista E21, p.1)

A importância de conhecer as barreiras colocadas na prática de AF em

pessoas com deficiência é também de extrema importância para outro tipo de

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

94

organizações, nomeadamente aquelas que detêm poder de decisão a nível

social, como o governo, as câmaras municipais, as juntas de freguesia, as

escolas, os seus profissionais e todos aqueles envolvidos nestas atividades.

Importa que se possam eliminar, de uma forma definitiva, todos estas barreiras.

Mesmo sabendo que não será fácil e que o desafio é audacioso, convém não

esquecer que poderá mudar a vida de muita gente.

Por fim, descritas as entrevistas e a visão dos pais e avós, relativas às

suas perspetivas na participação de pessoas com deficiência na prática de AF,

realça-se a importância dos familiares na participação dos filhos e netos na

prática de AF.

Nesse contexto, os investigadores sugerem que os pais são um fator

determinante nos níveis de AF dos seus filhos (Matin et al., 2007; Trost, et al.,

2003). A grande maioria dos entrevistados referiram esta importância do papel

familiar na participação dos filhos e netos nas atividades. Uma das entrevistas

refere: “temos de ser nós, pais, no entanto, há pais que têm mais capacidade,

outros menos, uns mais cansados, porque isto é muito desgastante” (excerto

retirado da E12, p.2). A mesma continua por dizer que são muitos anos para ter

de lidar com uma situação muito complicada, considerando que existem

sempre altos e baixos: “um passo à frente e dois atrás. Acaba por recair o

esforço todo sobre os pais” (excerto retirado da E12, p.2), mas “temos de ser

nós pais, a lutar, a lutar, com o pouquinho que temos, porque não temos nada”

(excerto retirado da E18, p.3).

“Isto é a realidade de quem anda neste mundo, eu não sou milionário, eu

trabalho. Eu e a minha mulher trabalhamos para o dia a dia, o dinheiro não chega para

tudo. Prefiro abdicar das minhas férias para que o meu filho possa usufruir de

atividades diferentes.”

(Excerto retirado da entrevista E24, p.3)

Os familiares de pessoas com deficiência encaram múltiplos desafios.

Apesar das diferenças culturais, socioeconómicas e diferentes deficiências,

todos eles enfrentam elevadas exigências, elevados custos, exclusão social e

falta de igualdade na maioria dos setores da sociedade, quando o

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Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados

95

desenvolvimento da pessoa difere da norma (Green, 2007; Dowling e Dolan,

2001).

Com tudo isto em mente, é nosso dever, enquanto membros comum de

uma sociedade que deve ser justa e inclusiva, compreender os aspetos a

melhorar e realizar todos os esforço necessários para reverter, positivamente,

esta tendência.

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Capítulo V - Conclusões e sugestões

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Capítulo V - Conclusões e sugestões

99

Conclusões e sugestões

1. Conclusões

A presença da AF na vida das pessoas com deficiência é, cada vez

mais, assumida como algo vital e necessário, não apenas pela importância que

tem na saúde dos indivíduos, mas também para a sua qualidade de vida em

geral.

É, assim, fundamental dar resposta à necessidade de criar condições

para que todas as pessoas com deficiência, independentemente das suas

limitações e capacidades, possam, de alguma forma, participar nessa prática e

retirar todos os benefícios que dela advêm.

A prática de AF deve começar desde muito cedo na vida e, por isso, os

pais ou outros familiares, devem influenciar e potenciar a participação

desportiva, numa fase em que as próprias crianças ainda não terão idade para

definir aquilo que gostariam de fazer. São, assim, os pais ou outros familiares

os primeiros a decidir que tipo de AF os filhos praticam, ou se estes praticam

de todo.

Nesta perspetiva, foi intenção do presente estudo conhecer a perspetiva

que os pais e avós têm acerca da participação dos seus filhos e netos com

deficiência na prática de AF. Para isso, importou estudar vários aspetos que

estão descritos nos objetivos do presente estudo.

Inicialmente, pretendemos entender qual a importância que os pais e

avós dão à prática de AF, sendo que os mesmos revelaram ser conhecedores

de vários benefícios. Nas entrevistas foram referidos benefícios sociais,

psicológicos e fisiológicos. Nos benefícios sociais destacaram-se a interação

com os outros, as vivências em diferentes contextos sociais, a motivação

proporcionada pelo apoio dos pares e a integração promovida pela prática de

AF. Já nos benefícios psicológicos destacaram-se a melhoria do bem-estar

geral, o aumento da autoestima, a melhoria do desenvolvimento cognitivo,

melhoria de confiança e a felicidade experienciada através da prática de AF.

Por fim, nos benefícios fisiológicos realçamos melhorias alcançadas ao nível da

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Capítulo V - Conclusões e sugestões

100

postura, do equilíbrio, o desenvolvimento do músculo-esquelético e o controlo

de determinadas patologias, nomeadamente a obesidade.

O conhecimento dos vários benefícios decorrentes da prática de AF, é

um fator de elevada importância na escolha dos pais e avós para a prática de

AF por parte dos seus filhos e netos. Foi, por isso, muito importante entender

se os pais e avós conheciam esta realidade, ou não.

O segundo objetivo específico do presente estudo passou por

compreender a perspetiva dos pais e avós acerca dos aspetos que dificultam a

participação dos seus filhos e netos na prática de AF. Isto porque o

conhecimento destas dificuldades ajudam-nos a entender o porquê de muitas

vezes, apesar de todos os benefícios decorrentes da prática de AF, muitas

pessoas com deficiência não praticam AF. Na verdade, embora no presente

estudo todos os participantes tenham relatado que os seus filhos e netos

praticam atividade física, todos os entrevistados apontaram barreiras à prática

de AF. Estas barreiras dividem-se em barreiras pessoais, sociais, ambientais e

organizacionais. As barreiras pessoais descritas foram a própria deficiência que

impede o filho ou neto de realizar determinados movimentos exigidos na prática

de AF, o medo, tanto do próprio praticante, como dos pais e avós que temem

pela segurança dos filhos e netos e por fim, a mais referida, a falta de tempo.

As barreiras sociais incluem a falta de compreensão da sociedade e dos seus

pares, a falta de capacidade de comunicação e relacionamento dos filhos e

netos, a elevada dependência dos familiares e o excesso de proteção que

surge por parte dos pais e avós. Nas barreiras ambientais destaca-se a

distância dos locais de prática, a escassez de transportes, falta de

acessibilidade dos locais e os contextos ambientais desfavoráveis. Por fim, nas

barreiras organizacionais os entrevistados destacaram a pouca oferta de

organizações que prestam serviços de atividade física, falta de divulgação das

existentes, a presença de profissionais sem experiência na área e, por fim, a

barreira mais citada, as dificuldades financeiras.

Depois da abordagem a todos estes aspetos, importava perceber o que

os pais e avós consideram essencial numa organização que promova a prática

de AF. A respeito deste assunto, foram referidos pelos pais e avós os seguintes

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Capítulo V - Conclusões e sugestões

101

aspetos a ter em conta: a existência de profissionais especializados, a

proximidade da localização da organização, um custo acessível e melhores

oportunidades proporcionadas, ao nível de serviço, aos seus filhos e netos.

Por fim, dando resposta ao último objetivo do presente estudo, no qual

se pretendeu apresentar sugestões de melhoria dos serviços prestados na área

da AFA, partindo das perspetivas de pais e avós, através dos relatos recolhidos

destacamos os seguintes aspetos a considerar: as organizações devem ter em

atenção a presença de profissionais especializados; devem garantir uma maior

oferta desportiva e a um custo mais acessível; os serviços oferecidos devem

garantir a segurança do aluno e, se possível, serem desenvolvidos em

ambientes inclusivos; importa assegurar o transporte dos praticantes; garantir

acessibilidades e condições favoráveis à prática de AF; e ter em linha de conta

a sua área geográfica de intervenção, na tentativa de dar resposta às

necessidades do maior número de pessoas com deficiência possível.

2. Sugestões

O presente estudo permitiu a abordagem de um tema que poderá

melhorar, significativamente, a realidade da AFA. Mas para isso é necessário

um trabalho conjunto e um esforço para ir de encontro às necessidades

encontradas. A realidade está ainda longe do que se consideraria ideal, mas

não devemos deixar de procurar essa utopia e ir de encontro às expectativas

criadas e mencionadas pelos entrevistados.

Para que este estudo possa ter um maior impacto, seria importante o

mesmo ser replicado noutras cidades de Portugal e até em contexto

internacional, para que as organizações locais entendessem de que forma se

deveriam adaptar ao que é pretendido por aqueles que irão usufruir dos seus

serviços.

Seria igualmente importante realizar este estudo através de uma

perspetiva diferente, nomeadamente, através de entrevistas realizadas

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Capítulo V - Conclusões e sugestões

102

diretamente a pessoas com deficiência que usufruem destes serviços, obtendo

um ponto de vista distinto sobre o assunto, mas igualmente válido e crucial.

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124

Page 145: A participação de pessoas com deficiência na atividade ... · À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento

i

Anexos

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Page 147: A participação de pessoas com deficiência na atividade ... · À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento

Anexos

iii

Anexo I – Autorização para realização das entrevistas

Pedido formal à instituição CIAD:

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Anexos

iv

Pedido formal à instituição Pony Club:

Page 149: A participação de pessoas com deficiência na atividade ... · À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento

Anexos

v

Anexo II – Guião de entrevista inicial

Guião de entrevista

Dados pessoais:

Género: M__ F__; Género do filho(a): M__ F__

Grau de parentesco: Pai__ Mãe__ Outro_______________

Idade do filho(a):___

Tipo de deficiência do

filho(a):_________________________________________________

Etiologia da deficiência_____________________________________

Habilitações Literárias______________________________________

Profissão_______________________________________________

As questões que lhe serão colocadas têm como objetivo compreender a sua

perpetiva relativamente à prática de atividade física adaptada por parte do seu

filho e na prática em geral

Questões:

1. O seu filho pratica algum tipo de atividade física ou desportiva nos

tempos livres? Se sim, indique qual/quais? Essa atividade tem um

contexto recreativo, terapêutico, ou de competição?

2. Você pratica atividade física? Considera que isso possa influenciar a

participação, ou não participação do seu filho(a) em atividade física?

3. Considera que é importante o seu filho praticar algum tipo de atividade

física? Enuncie alguns do benefícios que decorrerão dessa prática.

4. Acha que é fácil encontrar programas de atividade física adaptada para

o seu filho? Recebe algum tipo de informação relativamente a estes

programas?

5. Quais são as principais barreiras que consegue identificar levando a que

os pais não coloquem os seus filhos com deficiência nos programas de

atividade física ou desportiva?

- Experiência pessoal;

- Ideia geral.

6. Na sua opinião, o que acha que uma organização deve possuir para

poder receber e desenvolver atividade física/desportiva para pessoas

com deficiência?

- Profissionais especializados;

- Instalações adequadas/adaptadas;

Page 150: A participação de pessoas com deficiência na atividade ... · À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento

Anexos

vi

- Transporte;

- Baixo custo;

- Bom ambiente social.

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Anexos

vii

Anexo III – Guião de entrevista final

Guião de entrevista

Estou a realizar a presente entrevista no âmbito da minha tese de

Mestrado de Atividade Física Adaptada, na Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto. Para além de ser aluna, sou ainda responsável por uma

Centro de Desporto Adaptado, no Sport Club do Porto, projeto que criei e

pretendo desenvolver.

O objetivo específico deste estudo passa por entender a opinião dos

pais relativamente à prática de atividade desportiva por parte dos seus filhos e

ainda o que pensam acerca das organizações desportivas existentes. Entender

o que uma organização deve possuir para receber pessoas com deficiência e

promover a sua atividade física.

Esta área de estudo é muito limitada, sendo que será importante,

através da visão dos pais, analisar e procurar ajudar na evoluação da realidade

organizacional.

Questões:

1. Conte-me que atividades desportivas o seu filho(a) fez na última

semana?

- Se não, porque não pratica?

- Em que contexto

- Duração e frequência

- Acha que alterou de alguma forma a vida do seu filho? Ele sente-se

feliz/contente?

2. Na sua opinião porque é que pode ser importante o seu filho praticar

atividades desportivas?

- Vertente recreacinal, terpêutica ou de competição

3. Acha que é fácil encontrar atividades desportivas para o seu filho?

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Anexos

viii

4. Na cidade do Porto, tem conhecimento de clubes ou associações que

oferecem essas atividades?

5. Para si, quais são as principais barreiras à inscrição e participação do

seu filho em atividades desportivas?

- Experiência pessoal

- Ideia geral relativamente a outros pais

6. Na sua opinião, o que acha que uma organização, por exemplo um

clube, deve ter para poder receber e desenvolver atividades desportivas

especificamente para pessoas com deficiência?

- Profissionais especializados;

- Instalações adequadas/adaptadas;

- Transporte/Proximidade;

- Baixo custo;

- Bom ambiente social.

Dados pessoais:

Género: M__ F__; Género do filho(a): M__ F__

Grau de parentesco: Pai__ Mãe__ Outro_______________

Idade do filho(a):___

Tipo de deficiência do

filho(a):_________________________________________________

Etiologia da deficiência_____________________________________

Habilitações Literárias______________________________________

Profissão_______________________________________________

Pratica atividade física?_____________________________________

Page 153: A participação de pessoas com deficiência na atividade ... · À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento

Anexos

ix

Anexo IV – Termo de Consentimento

Termo de Consentimento Informado, Livre e Esclarecido

Eu,_____________________________________________________________

_____, fui convidado a participar na Dissertação para 2º Ciclo de Atividade

Física Adaptada, com o tema específico “A participação de pessoas com

deficiência em atividade física adaptada: Uma perspetiva parental”, afeta à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Perante este documento, confirmo o recebimento das seguintes informações:

- O objetivo geral deste estudo é compreender a perspectiva parental na

participação dos seus filhos com deficiência em atividade física e permitir o

desenvolvimento e/ou a adaptação de organizações/instituições que prestem

serviços relacionados com a área;

- As investigadoras envolvidas no presente estudo são a Licenciada Lia

Fernandes Couto, a Professora Doutora Ana Sousa e ainda a Professora

Mestre Mariana Cunha;

- A participação neste estudo foi realizada através de uma entrevista

gravada em formato áudio, aspeto sobre o qual fui previamente informado(a) e

o qual consenti. Fui ainda informado(a) que todos os dados relativos à

identificação dos participantes do presente estudo serão confidenciais, sendo

mantido o anonimato.

- Será ainda possível o acesso a todo e qualquer tipo de informação

relativa a esta investigação, tendo a autora Lia Fernandes Couto assumido que

o trabalho final, já terminado e com as respetivas conclusões, me será dado a

conhecer.

Face aos pontos elencados anteriormente, manifesto o meu livre

consentimento para a participação neste estudo.

______ de _____________________________ de 201__

____________________________ ____________________________

(Participante entrevisto/a) (Autora, Lia Fernandes Couto)