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A participação de pessoas com
deficiência na atividade física: Uma
perspetiva de seus familiares
Orientadora: Professora Doutora Ana Isabel Castro Almeida e Sousa
Coorientadora: Professora Mestre Mariana de Sena Amaral da Cunha
Lia Fernandes Couto
Porto, 2016
Dissertação apresentada com vista à obtenção do 2º
ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em
Atividade Física Adaptada ao abrigo do Decreto-lei
nº74/2006 de 24 de marçodo no âmbito do Curso de
2º Ciclo em Atividade Física Adaptada, nos termos
do Decreto-Lei nº 74/2006 março.
II
Ficha de Catalogação
Couto, L. F. (2016). A participação de pessoas com deficiência na atividade
física: Uma perspetiva de seus familiares. Porto: Couto, L. F. Dissertação de
Mestrado para a obtenção do grau de Mestre em Atividade Física Adaptada,
apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-chave: ATIVIDADE FÍSICA, PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, PAPEL
DA FAMÍLIA, ORGANIZAÇÕES.
III
Agradecimentos
A realização do presente estudo apenas foi possível com o
acompanhamento, presença, apoio e incentivo de inúmeras pessoas e
organizações, às quais quero deixar o meu sincero agradecimento, pela
concretização deste capítulo na minha vida.
À Professora Doutora Ana Sousa, um agradecimento que vem do fundo
do coração, por ter aceite um desafio de uma aluna que nunca passou pelas
suas mãos enquanto Professora, mas que aceitou o desafio de orientar, da
melhor forma, o presente estudo. Agradecer pela forma como sempre me
acompanhou, despendendo do seu tempo, mesmo em alturas mais
complicadas e a forma como compreendeu as minhas ideias e aceitou o
desafio que propus para o presente estudo. Quero dizer ainda, que tenho a
certeza que terá um futuro brilhante, tanto a nível profissional, como pessoal,
pela excelente pessoa que demonstra ser e pela forma tão “humana” e tão
dedicada com que trata os seus alunos. Foi um prazer ser sua orientanda!
À Professora Mestre Mariana Cunha, que aceitou igualmente o desafio,
mesmo que numa fase mais tardia, não temendo coorientar uma estudante que
nunca foi sua aluna. As palavras que dirigi à Professora Doutora Ana Sousa,
também se dirigem a si e ao seu trabalho. Tenho uma grande admiração pela
vossa exigência e pela forma como se dedicam ao trabalho e aos alunos. Dizer
ainda que foi uma honra não ter duas, mas sim quatro orientadores! O desejo
de um grande futuro para os vossos filhos, com muita saúde e felicidade, que
marcaram, de uma forma muito especial, esta caminhada! O meu muito
obrigada Professora Mariana!
Ao Departamento de Adaptada, da FADEUP, liderado pelo Professor
Doutor Rui Corredeira. Dizer que possui uma bela equipa e foi um prazer
pertencer a este Departamento durante o meu Mestrado. Muito obrigada por
tudo!
Agradecer às três instituições que me permitiram realizar o presente
estudo, e as quais vou guardar na minha memória, por terem tido um papel tão
IV
importante no presente estudo. O Sport Club do Porto, o clube onde trabalho e
onde tenho um projeto de vida. Um clube do coração! Ao Pony Club e ao CIAD,
pela forma como me permitiram entrevistar nas vossas organizações, toda a
disponibilidade e simpatia demonstradas, por todos aqueles que passaram pelo
meu caminho. São duas organizações que admiro muito e que prestam um
excelente serviço à comunidade. Agradecer em especial à Drª. Fátima, à Drª.
Diana, à Raquel, ao Drº. João Belchior e à Drª. Raquel Lacerda.
Aos pais e avós, que generosamente aceitaram o desafio de serem
entrevistados e por toda a simpatia demonstrada. Sem estes, nada disto teria
sido possível. O meu muito obrigada!
À minha família, que sempre me apoiou ao longo da vida e que permitiu
ser a pessoa que hoje sou. Um agradecimento muito especial à minha mãe,
por ser o meu ídolo e heroína, ao meu pai, por me ter permitido estudar aquilo
que sempre quis e aos meus irmãos, que estão sempre do meu lado e no meu
coração.
Ao Coronel Jorge Mota Santos, o meu Orientador. Não há palavras para
descrever a importância que teve e tem na minha vida, a forma como a marcou
e mudou para sempre. Sem si não teria vindo para este Mestrado e não teria o
percurso que estou a realizar no Sport Club do Porto. É um enorme prazer
poder tê-lo na minha vida, de uma forma profissional e pessoal. Obrigada por
me ter ajudado a ir em frente, na luta pelos meus sonhos, que agora são os
nossos sonhos! Obrigada!
Aos meus amigos e colegas que de alguma forma marcaram o meu
percurso de faculdade e me permitiram ter uma experiência que nunca
esquecerei. À minha Laurita, amiga do coração, psicóloga e companheira de
casa, que nunca me deixou mal e está sempre lá para o que der e vier. Ao meu
padrinho, o Mário, aka Pi, que desde o primeiro segundo esteve ao meu lado e
se tornou, rapidamente, num melhor amigo! Obrigada por tudo aquilo que
representas e és na minha vida! Nunca desistas dos teus sonhos! Ao melhor
trio, Ana Raquel e Ana Isabel (e eu), que nunca vão sair do meu coração!
V
Foram muitos momentos especiais partilhados e sei que são amigas para a
vida! Aos restantes colegas de Licenciatura e Mestrado que fizeram parte deste
percurso, e que de alguma forma marcaram o meu percurso, o meu obrigada!
Aos meus colegas e amigos do Sport Club do Porto, que acreditam e me
apoiam a todos os instantes, que me fazem crescer todos os dias, que me
aturam, mesmo quando eu não me sei conter. O meu muito obrigada! Um
agradecimento muito especial ao Josésito, ao Dr. Manuel Castro e aos meus
novos companheiros de projeto! Obrigada por acreditarem em mim e no nosso
projeto! Vamos em frente!
VI
VII
Índice Geral
Índice Geral ...................................................................................................... VI
Índice de Figuras ............................................................................................. IX
Índice de Quadros ........................................................................................... XI
Índice de Anexos ............................................................................................ XII
Resumo ......................................................................................................... XIV
Abstract .........................................................................................................XVII
Lista de Siglas e Abreviaturas .................................................................... XIX
Capítulo I - Introdução ..................................................................................... 1
Introdução ......................................................................................................... 3
1.1 Objetivos do Estudo .................................................................................. 4
1.2 Estrutura da Dissertação ........................................................................... 5
Capítulo II - Revisão de Literatura................................................................... 3
Revisão de Literatura .................................................................................... 9
1. Atividade Física Adaptada ....................................................................... 9
2. Benefícios da Atividade Física Adaptada ............................................... 28
3. Barreiras à prática de Atividade Física Adaptada .................................. 33
4. Papel da Família .................................................................................... 35
Capítulo III - Metodologia ............................................................................... 11
Metodologia ................................................................................................. 49
1. Grupo de estudo .................................................................................... 49
2. Procedimentos e instrumentos de recolha ............................................. 57
Capítulo IV - Apresentação e Discussão dos Resultados .......................... 63
Apresentação e Discussão dos Resultados ............................................. 65
1. Expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com deficiência na
prática de atividade física .......................................................................... 65
2. Realidade da participação de pessoas com deficiência na atividade física
................................................................................................................... 71
3. Da realidade às expectativas futuras sobre a participação de pessoas
com deficiência na prática de atividade física ............................................ 92
Capítulo V - Conclusões e sugestões........................................................... 97
VIII
Conclusões e sugestões ............................................................................ 99
1. Conclusões ............................................................................................ 99
2. Sugestões ............................................................................................ 101
Referências Bibliográficas .......................................................................... 103
Anexos ............................................................................................................... i
IX
Índice de Figuras
Figura 1 – Organograma da FPDD (2013). ...................................................... 25
Figura 2 – A evolução do processo de tematização indutiva dos dados .......... 62
X
XI
Índice de Quadros
Quadro 1 – Marcos importantes na história da AFA, retirado de Winnick (1990).
......................................................................................................................... 11
Quadro 2– Competições do Desporto Escolar, retiradas do mapa anual de
atividades 2015/2016 (Desporto Escolar, 2016). .............................................. 16
Quadro 3 – Jogos Paralímpicos de Verão, retirado e adaptado de Depauw e
Gavron (2005) e Comité Internacional Paralímpico (2016). ............................. 23
Quadro 4 – Barreiras à AF, adaptado de Shields, Synnot e Barr (2012). ......... 34
Quadro 5 – Número de participantes por organização. .................................... 50
Quadro 6 – Caracterização do grupo de estudo (E1 a E6)............................... 51
Quadro 7– Caracterização do grupo de estudo (E7 a E15).............................. 52
Quadro 8 – Caracterização do grupo de estudo (E16 a E23). .......................... 53
Quadro 9 – Caracterização do grupo de estudo (E24 a E30). .......................... 54
Quadro 10 – AF praticada pelos filhos e netos. ................................................ 55
XII
XIII
Índice de Anexos
Anexo I – Autorização para realização das entrevistas ................................... iii
Anexo II – Guião de entrevista inicial .............................................................. v
Anexo III – Guião de entrevista final .............................................................. vii
Anexo IV – Termo de Consentimento ............................................................. ix
XIV
XV
Resumo
A importância da atividade física (AF) na vida de pessoas com deficiência é,
hoje em dia, muito reconhecida, nomeadamente pelos vários benefícios que
proporciona (Martin, 2013). Porém, apesar do seu valor, os níveis de
participação na prática de AF, em pessoas com deficiência, são baixos. São,
por isso, poucas as pessoas com deficiência que têm acesso a uma AF
específica e adaptada às suas reais necessidades. Face à necessidade de
melhorar este aspeto, importa conhecer a perspetiva dos familiares sobre esta
temática, uma vez que estes possuem um papel fundamental na vida das
pessoas com deficiência, quer ao nível das tomadas de decisão, quer no modo
como influenciam a sua participação na AF. O grupo de estudo foi constituído
por 30 pais e avós de pessoas com deficiência. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, posteriormente transcritas, através de uma transcrição
híbrida, entre indexical e unfocused (Gibson e Brown, 2009). Emergiram três
temas de uma abordagem indutiva (Bryman, 2008): expectativas iniciais sobre
a participação de pessoas com deficiência na prática de AF; realidade sobre a
participação de pessoas com deficiência na prática de AF; e da realidade às
expectativas futuras sobre a participação de pessoas com deficiência na prática
de AF. Conclui-se que os pais e avós conhecem vários benefícios decorrentes
da prática de AF, nomeadamente ao nível social, psicológico e fisiológico. Esse
conhecimento influencia, positivamente, pais e avós a colocar os seus filhos e
netos nessa mesma prática. Os pais e avós identificaram igualmente as
barreiras que impedem a participação dos filhos e netos em determinadas
atividades, nomeadamente ao nível de barreiras pessoais, sociais, ambientais
e organizacionais. Estas barreiras são muitas vezes impeditivas da prática de
AF ou de maior frequência dessa prática. Por fim, pais e avós consideram
fundamental que as organizações da área sejam detentores de profissionais
especializados, um custo acessível, um ambiente inclusivo, devendo existir
uma oferta capaz de cobrir as várias zonas geográficas.
PALAVRAS-CHAVE: ATIVIDADE FÍSICA; PESSOAS COM DEFICIÊNCIA; PAPEL
DA FAMÍLIA, ORGANIZAÇÕES.
XVI
XVII
Abstract
Nowadays, the importance of physical activity in the life of people with disability
is recognized by the many benefits that it conveys (Martin, 2013). Even though
this recognition exists, the level of participation of people with disability in
physical activity is low. There are only a few with access to a program of
physical activity, specified and adapted to their necessities. Given the need to
change, it is important to know the perspective of the family in this matter, as
they have a major role either in the process of decision or in influencing the
participation of people with disability in physical activity. The study group was
30 parents and grandparents of people with disability. Semi structured
interviews were conductd and later transcribed through a hybrid form, between
indexical and unfocused approaches (Gibson & Brown, 2009). Three themes
emerged from an inductive thematic analysis (Bryman, 2008): Initial
expectations on the participation of people with disability in physical activity; the
reality of the participation of people with disability in physical activity; and from
reality to the future expectations of the participation of people with disability on
physical activity. It was concluded that: parents and grandparents know many
benefits of physical activity, in social, psychological and physiological levels;
knowledge influences positevely the parents and grandmothers, including their
children and grandchildren, with respect to their participation in physical activity;
parents and grandmothers also identified the barriers that hinder the
participation of their children and grandchildren, namely personal, social,
environmental and organizational obstacles. These barriers are many times
preventive of their participation in physical activity or in more regular basis. As
such, parents and grandmothers consider that sports organizations and clubs of
the area should have specialized professionals, a price that is affordable,
inclusive environment and the existence of a sufficient number of organizations
in many different geographical areas, as encouraging factors to practice a
physical activity.
KEY-WORDS: PHYSICAL ACTIVITY; PEOPLE WITH DISABILITY; THE ROLE OF
FAMILY; ORGANIZATIONS.
XVIII
XIX
Lista de Siglas e Abreviaturas
AFA - Atividade Física Adaptada
AF - Atividade Física
WHO - World Health Organization
IFAPA - International Federation of Adapted Physical Activity
EUFAPA - European Federation of Adapted Physical Activity
FPDD - Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência
EF - Educação Física
DE - Desporto Escolar
EE - Educação Especial
NEE - Necessidades Educativas Especiais
CAE - Centros de Área Educativos
CPP - Comité Paralímpico de Portugal
DI - Deficiência Intelectual
E- Entrevista
IPSS - Instituição Particular de Solidariedade Social
TOC - Transtorno Obsessivo-Compulsivo
CIAD - Centro Integrado de Apoio à Deficiência
Pony Club - Pony Club do Porto
SCPorto - Sport Club do Porto
XX
Capítulo I - Introdução
Capítulo I - Introdução
3
Introdução
A Atividade Física Adaptada (AFA) reforça e congrega todas as formas
da participação desportiva de qualquer pessoa com limitações, nomeadamente
de movimento, independentemente do objetivo dessa atividade, quer seja
educativo, competitivo, terapêutico ou recreativo (Marques, Castro e Silva,
2001).
Atualmente, é reconhecida a elevada importância que a AF tem na vida
das pessoas com deficiência, nomeadamente através dos inúmeros benefícios
que esta proporciona (Martin, 2013). Com efeito, o valor reconhecido à AF é
percecionado pelos vários benefícios que desta advêm, sendo que estes se
podem reconhecer a nível social, psicológico e fisiológico. Porém, apesar da
existência de vários benefícios, segundo a World Health Organization (WHO,
2003), a inatividade física em pessoas com deficiência é muito elevada.
Nesse sentido e face aos factos enunciados, importa conhecer quais as
razões que levam as pessoas com deficiência a não participar na prática de
AF, assunto já estudado por alguns autores (Martin, 2013; Shields et al., 2012).
Segundo estes autores, existem barreiras a nível pessoal, social, ambiental e
organizacional que impedem ou dificultam esta participação. Neste contexto, o
papel da família poderá constituir, em si, uma barreira ou facilitador neste
processo, nomeadamente ao nível das suas ações, comportamentos ou
preocupações (Shields el al., 2012). De facto, verificamos que a participação de
pessoas com deficiência na AF, está muitas vezes dependente do papel
desempenhado pela família nessa participação.
Relativamente a este último aspeto, é importante salientar que, no caso
das pessoas com deficiência, muitas das vezes por falta de autonomia motora
ou falta de independência, fatores inerentes às características específicas de
cada tipo de deficiência, têm de ser os familiares a assegurar a sua
participação em atividades de caráter social, enquadrando-se aqui a prática de
AF. De facto, vários estudos mostram a importância do papel dos pais e dos
familiares na participação na AF dos seus filhos (Martin, 2009; Jeong, Kim e
Capítulo I - Introdução
4
Lee, 2015; Pitchford et al., 2016). No entanto, estes estudos focam-se,
unicamente, na influência parental durante a infância.
Nesta medida, é fundamental compreender a perspetiva que os
familiares de pessoas com deficiência, nomeadamente pais e avós, possuem
relativamente à participação dos seus filhos e netos na prática de AF.
Depois de identificada esta problemática, realizamos uma pesquisa
exaustiva na literatura internacional e nacional da área, não nos tendo sido
possível encontrar nenhum estudo que respondesse, integralmente, a estas
questões.
Neste contexto, a presente investigação revela-se inovadora, uma vez
que pretende focar a perspetiva dos familiares de pessoas com deficiência,
congregando diferentes faixas etárias: crianças, jovens e adultos.
Adicionalmente, a nível nacional e, mais especificamente na cidade do Porto,
não existem estudos realizados neste tema, o que contribuiu igualmente para
justificar a pertinência do presente estudo.
Por fim, importa ressalvar que o ponto de partida para este surgiu da
necessidade pessoal identificada por uma das autoras deste trabalho,
enquanto responsável pela criação do Centro de Desporto Adaptado do Sport
Club do Porto, clube desportivo da cidade do Porto, um clube que até então
apenas se dedicava à prática de modalidades regulares. Através do trabalho
realizado foi possível perceber a escassez de serviços disponíveis nesta área e
a falta de estruturação deste tipo de prática desportiva, um contexto que carece
de transformação em Portugal.
1.1 Objetivos do Estudo
O objetivo geral da presente dissertação foi compreender a perspetiva
que os familiares de pessoas com deficiência, nomeadamente pais e avós,
possuem relativamente à participação dos seus filhos e netos na prática de AF.
Como objetivos específicos pretende-se:
- Entender a perspetiva dos pais e avós acerca da importância da prática
de AF dos seus filhos e netos com deficiência;
Capítulo I - Introdução
5
- Compreender a perspetiva de pais e avós acerca dos aspetos que
dificultam a participação dos seus filhos e netos na prática de AF;
- Perceber o que os pais e avós de pessoas com deficiência consideram
importante numa organização que promova a prática de AF;
- Apresentar sugestões de melhoria dos serviços prestados na área da
AFA, partindo das perspetivas de pais e avós de pessoas com deficiência.
1.2 Estrutura da Dissertação
Após identificação dos objetivos do presente estudo, importa
compreender como este se encontra estruturado. Assim, no capítulo II
apresentámos a revisão de literatura, essencial para contextualizar o presente
estudo. Inicialmente foi realizada a definição de AFA, seguido do seu
enquadramento histórico e evolução até à atualidade.
Após o aprofundamento da temática da AFA, seguiu-se o estudo dos
benefícios da mesma, onde foram elencados os benefícios decorrentes da
prática de AF em pessoas com deficiência. De seguida foram descritas as
barreiras encontradas à sua prática. Para finalizar a revisão de literatura, focou-
se o tema da família, nomeamente a importância dos pais na vida das pessoas
com deficiência e, por fim, a importância que têm na prática de AF por parte
dos seus filhos.
No capítulo III, capítulo onde é descrita a metodologia, o método
utilizado foi qualitativo, sendo que no presente estudo se optou pela realização
de entrevistas. Procedeu-se ainda à descrição e caracterização do grupo de
estudo, seguido dos procedimentos utilizados na análise das entrevistas. Esta
análise é realizada no capítulo IV, onde são apresentados e discutidos os
resultados.
Para terminar, apresentam-se as conclusões do estudo, com a intenção
de responder aos objetivos inicialmente propostos. Queremos que as
conclusões possam ajudar as organizações da área e respetivos profissionais a
evoluir e apresentar um melhor serviço, capaz de ir ao encontro daquilo que os
participantes procuram. Posteriormente, apresentamos ainda algumas
Capítulo I - Introdução
6
limitações do estudo, apontando possíveis sugestões para a realização de
estudos futuros.
Capítulo II - Revisão de Literatura
Capítulo II - Revisão de Literatura
9
Revisão de Literatura
1. Atividade Física Adaptada
A AFA é um termo que foi introduzido em 1973 pelos fundadores da
Federação Internacional da AFA, realçando vários significados, dependendo do
seu contexto e das variáveis que a afetem. Entre essas variáveis encontram-se
a história, o país, a língua nativa, a cultura, a educação e as interações sociais
(Hutzler e Sherrill, 2007).
A AFA, segundo Sherrill (2004), pode ser definida como: um serviço
prestado, uma forma pedagógica de interação, uma metodologia de treino ou
um treino conduzido por profissionais qualificados para conseguir o objetivo
principal da AF, permitindo chegar a todos os indivíduos, de todas as idades,
com limitações ao nível do movimento, ou a nível social.
Numa definição mais recente, da Federação Internacional de AFA
(2014), a AFA pode ser considerada um conceito transdisciplinar, de
conhecimento prático e teórico, direcionado para deficiências, limitações na
atividade e restrições de participação na AF. É ainda uma profissão que visa a
prestação de serviços e um campo de estudo académico que apoia uma
atitude de aceitação das diferenças individuais, exige o acesso a um estilo de
vida ativo e que incluí o desporto, promovendo serviços inovadores e
cooperativos, apoios e poder. A AFA inclui, mas não só, educação física,
desporto, recreação, dança, artes recreativas, nutrição, medicina e reabilitação
(IFAPA, 2014). Uma definição idêntica é apresentada pela Federação Europeia
de AFA. Por seu turno, Winnick (2011) descreve a AFA como uma área
emergente de conhecimento que compreende o estudo interdisciplinar da AF
pela educação, pelo bem-estar, pela participação desportiva e pelo lazer de
indivíduos com características únicas.
Existem marcos importantes na evolução da história da AFA, que
consideramos relevante referir no presente estudo, para conhecimento da
evolução que existiu. A AFA foi inicialmente reconhecida pela prática de
Capítulo II - Revisão de Literatura
10
pessoas com surdez. A este respeito, Winnick (1990) refere os seguintes
marcos da história da AFA (Quadro 1):
Capítulo II - Revisão de Literatura
11
Quadro 1 – Marcos importantes na história da AFA, retirado de Winnick (1990).
Ano Marco importante na história do Desporto Adaptado
1870's Escolas para pessoas surdas são envolvidas em competições desportivas
organizadas.
1907
Foi realizada uma competição de Atletismo através do meio telegráfico
entre as escolas de Overbrook e Baltimore - foi uma das primeiras
competições gravadas nos Estados Unidos com pessoas cegas.
1924 Os primeiros Jogos Surdolímpicos foram realizados no Stade Pershing,
em Paris, França.
1945 Foi formada a American Athletic Association for the Deaf (AAAD)
1949 Foi formada a National Wheelchair Basketball Association (NWBA)
1952 Os primeiros jogos internacionais em cadeiras de rodas são realizados em
Stoke Mandeville, Inglaterra.
1956 Foi formada a National Wheelchair Athletic Association
1960
Os Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, chamados Jogos
Paralímpicos, são realizados em conjunto com os Jogos Olímpico de
Roma.
1967 Foi formada a National Handicapped Sports and Recreation Association
(NHSRA)
1968 A Special Olympics é criada e os seus primeiros jogos internacionais
foram em Soldier Field, Chicago.
1975 Foi criada uma lei americana requerendo igualdade nas oportunidades de
participação desportiva de crianças com deficiência
1977
Leis americanas foram criadas requerendo que crianças com deficiência
usufruíssem do benefício de todos os programas educacionais e de todas
as atividades educativas.
1978
Uma lei americana relativa aos desportos amadores, levou ao
estabelecimento do Committe on Sports for the Disable (COSD) dentro do
U.S. Olympic Committee (USOC).
1978 Foi formado a National Association of Sports for Cerebral Palsy (NASCP).
1981 Foi formada a The United States Amputee Athletic Association (USAAA).
1985 Foi formada a The United States Les Autres Sports Association (USLASA).
Capítulo II - Revisão de Literatura
12
Como se verifica no Quadro 1, ao longo do século XX, as oportunidades
de prática desportiva para pessoas com deficiência aumentaram
exponencialmente e foram evoluindo os seus objetivos.
As pessoas com deficiência percorreram um longo percurso
relativamente aos seus objetivos na AFA, começando com preocupações
meramente de sobrevivência, até objetivos que passam pela conquista da
glória nos Jogos Paralímpicos (Wheeler et al., 2003). O mesmo autor refere
que até tempos relativamente recentes, as pessoas com deficiência sofriam
abandono, perseguições, segregação e marginalização, vivendo uma liberdade
restrita sob filosofias institucionais dominadas por modelos médicos e religiosos
de cuidado e caridade. Foi apenas durante a última metade do século XX e nos
primeiros anos do século XXI, que as oportunidades e os direitos das pessoas
com deficiência se tornaram uma prioridade na agenda pública, nomeadamente
através dos direitos humanos, o que trouxe uma mudança nas políticas
humanas e levou à normalização, integração e inclusão das pessoas com
deficiência, incluindo a sua participação na AF.
Mais recentemente, os objetivos da AFA passam por integrar e aplicar
fundamentos teórico-práticos das diferentes disciplinas da motricidade humana,
das diversas áreas vizinhas da saúde, da educação e reabilitação, destinados a
indivíduos de todas as faixas etárias, que não se ajustem total ou parcialmente
às exigências das instituições sociais, como é o caso da família, da escola, do
trabalho e da comunidade em geral (Mauerberg-deCastro, 2005).
Segundo Marques, Castro e Silva (2001), a AFA sublinha e congrega
todas as formas de participação desportiva de qualquer indivíduo, mesmo com
fortes limitações da capacidade de movimento e seja qual for o objetivo dessa
atividade: educativo, recreativo, competitivo ou terapêutico. Esta divisão em
quatro dimensões da AFA foi apresentada pelo Comité para o Desenvolvimento
do Desporto (1981) e ainda pela Federação Portuguesa de Desporto para
Pessoas com Deficiência (FPDD, 1995). Marques, Castro e Silva (2001)
concluem que as dimensões educativa, de competição e terapêutica
prevalecem sobre a dimensão recreativa, no entanto a pertinência deste estudo
Capítulo II - Revisão de Literatura
13
implica entender e evidenciar de igual forma a importância da AF no contexto
recreativo.
1.1 Dimensão educativa
A dimensão educativa passa muito pelo trabalho que é realizado nas
escolas, através das aulas de Educação Física (EF), do Desporto Escolar (DE)
e das atividades integradas no núcleo de Educação Especial (EE). Até ao
presente existiu uma enorme evolução na forma como os alunos com
necessidades educativas especiais (NEE) foram incluídos nos vários processos
de aprendizagem, incluindo nas aulas de EF.
A EE acompanhou de perto a evolução do conceito de deficiência.
Começou com características essencialmente assistenciais, desenvolveu-se ao
longo dos tempos e hoje procura manter o indivíduo em processos educativos
regularizados, através da sua inclusão (Marques, Castro e Silva, 2001). Correia
(2003), aborda exatamente essa questão, destacando a importância do
Decreto-Lei nº 319/91, de 23 de Agosto, que veio tornar o sistema de educação
especial mais organizado para os alunos com NEE. Algumas das
consequências da criação desse Decreto-Lei foram (Correia, 2003):
- Introdução do conceito de NEE, baseado em critérios pedagógicos,
propondo a descategorização;
- Privilegiar ao máximo a integração dos alunos com NEE na Escola
regular;
- Responsabilizar as Escolas pela procura de respostas educativas
eficazes para todos os alunos;
- Reforçar o papel dos pais na educação dos filhos, determinando
direitos e deveres que lhes são conferidos para esse fim;
- Direito à educação gratuita, igual e de qualidade, para os alunos com
NEE, através da individualização das intervenções educativas segundo planos
educativos individualizados e programas educativos com a finalidade de
responder às necessidades educativas desses alunos;
Capítulo II - Revisão de Literatura
14
- Introdução do conceito de meio ambiente menos restritivo possível, que
pretende que a criança com NEE seja educada com a criança sem NEE e
apenas seja afastada do ambiente educacional regular quando a natureza ou
gravidade da problemática assim o ditem.
A EE, numa perspetiva mais antiga, foi definida pela UNESCO (1977)
como sendo aquela dos que se desviam física ou mentalmente, emocional ou
socialmente dos grupos relativamente homogéneos do sistema regular de
educação, de modo que é necessário tomar providências especiais para
corresponder às suas necessidades. Segundo Jiménez et al. (1993), considera-
se que um aluno necessita da educação especial se tiver alguma dificuldade de
aprendizagem que requeira uma medida educativa especial. Numa perspetiva
mais recente, Correia (2003) refere que os serviços de EE são serviços de
apoio especializados tendo em vista responder às necessidades especiais do
aluno com base nas suas características e com o fim de maximizar o seu
potencial.
Neste contexto, Marques, Castro e Silva (2001) referem que o objetivo
fundamental da EE é permitir ao indivíduo com necessidades especiais um
desenvolvimento máximo das suas aptidões intelectuais, escolares e sociais,
originando, desse modo, a inclusão de todos os cidadãos na vida em
comunidade.
Segundo Kudlacek, Jesina, Sterbova e Sherril (2008), a inclusão é
descrita como promotora do apoio necessário, assegurando aos estudantes
com deficiência, que se mantêm com sucesso, a inclusão na classe de aula
regular.
Dentro do contexto da EE, existem também as aulas de EF, que são as
aulas que permitem a prática de AF por parte dos alunos. As aulas de EF não
são exceção ao facto de que, apesar das suas deficiências, os estudantes
devem ter a oportunidade de participar com os seus pares nas aulas,
promovendo a interação entre todos os alunos, com e sem deficiência.
A EF é muitas vezes um lugar onde as diferenças entre os alunos sem
deficiência e os alunos com deficiência são acentuadas pelas diferenças na
prestação motora e funcional. Deve existir um certo equilíbrio criado pelos
Capítulo II - Revisão de Literatura
15
próprios professores, que procure estabelecer um ambiente inclusivo e de
participação para todos os alunos.
Neste contexto, a EF deve ter um papel primordial na inclusão, uma vez
que poderá constituir um meio de garantir oportunidades de realizar e aprender
novos movimentos de lazer, de recreação, aprender novas brincadeiras, novos
jogos e ainda proporcionar oportunidades de competição e inclusão com os
seus pares, promovendo assim, a independência e socialização (Rodrigues,
2006).
Face ao seu carácter obrigatório nos percursos escolares das crianças e
dos jovens, a EF é, muitas vezes, o único momento de AF em que participam
na sua vida diária. Para além das aulas de EF, o Desporto Escolar é também
uma forma importante de proporcionar a prática de AF a crianças e jovens
durante o seu período escolar.
Segundo o Decreto-Lei n.º 95/91 de 26 de fevereiro (Ministério da
Educação, 1991), o DE é o conjunto das práticas lúdico-desportivas e de
formação com objeto desportivo, desenvolvidas como complemento curricular e
ocupação dos tempos livres, num regime de liberdade de participação e de
escolha, integradas no plano de atividades da escola e coordenadas no âmbito
do sistema educativo. É, portanto, outra forma de crianças e jovens poderem
usufruir da prática de AF no contexto educativo.
Algumas atividades adaptadas que encontramos na realidade do DE
nacional, encontram-se no mapa anual de atividades 2015-2016, mapa que
representa o último ano letivo e onde são indicadas as várias competições
durante o ano letivo e que pode ser consultado no Quadro 2.
Para além destas competições regionais existem, as competições a nível
local, através dos Centros de Área Educativos (CAE), que não são referidas
nestes mapas, mas que têm uma grande expressão, principalmente ao nível do
Boccia. Depois existem, acima das competições regionais, as competições
nacionais, sendo que, a nível de desporto adaptado, no ano de 2016, apenas
existiu a competição de Boccia, realizado na Gafanha da Nazaré (Desporto
Escolar, 2016).
Capítulo II - Revisão de Literatura
16
Quadro 2– Competições do Desporto Escolar, retiradas do mapa anual de atividades
2015/2016 (Desporto Escolar, 2016).
Cidade Evento Local
Braga Boccia Circuito local
Braga Desportos adaptados Circuito local
Braga XII Torneio Pista Coberta
Adaptado
Parque Exposições e Desportos‐
Braga
Vale de
Cambra F.A. Boccia EB Búzio
Vale de
Cambra QC Boccia Atividades regulares
Porto Boccia Vários locais
Porto Desporto adaptado 1º encontro ‐ Atletismo
Porto Desporto adaptado 2º encontro ‐ circuito escola
Porto Desporto adaptado 4º encontro ‐ Surf
Vila Real Q. C. Boccia Vários
Vila Real Q. C. Natação ‐ NEE Vários
Tâmega Boccia Vários Misto -
Tâmega Desporto Adaptado -
Tâmega Goalball Circuito Regional
Bragança QC Boccia Vários
Viseu Boccia Pav. Mun. Tondela
Lisboa Boccia Pav. Multiusos Odivelas
Algarve Dia Paralímpico Nacional Lisboa
Algarve Natação NEE Loulé
Capítulo II - Revisão de Literatura
17
1.2 Dimensão terapêutica
Uma dimensão muito importante da AFA é a terapêutica. É um aspeto
da AF que acaba por atrair muitas pessoas, nomeadamente as com deficiência,
para a prática regular de AF, uma vez que tem um forte impacto na saúde dos
seus praticantes.
Pessoas com deficiência revelam estados de saúde substancialmente
piores, comparado com a população em geral (Krahn et al., 2006; Drum et al.,
2005). Drum et al. (2005) demonstra a disparidade entre esses mesmos
estados de saúde de pessoas sem deficiência relativamente a pessoas com
deficiência, onde o estado de saúde da população em geral é melhor do que
aquele que é verificado nas pessoas com deficiência, sendo que os autores
apontam fatores como a genética, as circunstâncias sociais e do meio
envolvente, a promoção de saúde e acesso a cuidados médicos, como razões
para essa disparidade no estado de saúde entre ambos os grupos. Esta ideia é
reforçada num estudo mais recente, onde a amostra era constituída por
indivíduos com deficiência intelectual (DI), deficiência motora ou ambas, e que
indica que indivíduos com deficiência tendem a possuir mais problemas físicos
e cognitivos, maiores limitações funcionais, mais condições de saúde crónicas,
menos acesso a atividades na comunidade e piores comportamentos de saúde
(Jones et al., 2008). Estes estudos vêm reforçar o papel fundamental da AF na
saúde das pessoas com deficiência, tendo naturalmente cada área de
deficiência as suas particularidades e as suas patologias associadas. Porém,
de uma forma geral, as pessoas com deficiência recorrem a vários profissionais
de saúde para realizar reabilitação.
A reabilitação é uma área que se preocupa com cuidados de saúde e
que proporciona o tratamento da pessoa, tendo em vista desenvolver, manter
ou recuperar o máximo de movimento e funcionalidade ao longo da vida. Isto
incluí exercer tratamento em circunstâncias onde o movimento e a
funcionalidade do indivíduo é afetada pela idade, por lesão, por doença ou
fatores ambientais (Verellen e Molik, 2011). Os objetivos da reabilitação
passam pela identificação e optimização da qualidade de vida e capacidade de
Capítulo II - Revisão de Literatura
18
movimento dentro das áreas da promoção, prevenção, tratamento/intervenção,
habilitação e reabilitação. Tudo isto implica um bem-estar físico, psicológico,
emocional e social. Neste sentido, a reabilitação requer uma
multidisciplinaridade na sua abordagem (Verellen e Molik, 2011). Dependendo
do grupo de foco, neste caso específico as pessoas com deficiência, as áreas
que contribuem para um programa de reabilitação passam, entre outras, pela
medicina e enfermagem, terapia ocupacional e fisioterapia (Noreau e
Shephard, 1995; Yohannes, Doherty, Bundy and Yalfani, 2010).
Na última década, a AFA tem sido reconhecida como uma valiosa adição
às disciplinas atrás referidas como parte integrante de um programa de
reabilitação, exemplo disso são os estudos de Molt et al. (2010), onde
participou uma amostra de pessoas com esclerose múltipla e onde a AF provou
ser benéfica no caminhar destas pessoas e noutro estudo de Valent et al.
(2010), com a participação de pessoas com lesões medulares, onde a prática
de handcycling provou ser benéfica nas capacidades requeridas para andar em
cadeira de rodas e ainda no aumento do desenvolvimento muscular.
Estudos científicos anteriores já sugeriram que programas exclusivos de
fisioterapia, frequentemente, não dão a atenção necessária à condição geral de
aptidão física do paciente, à sua funcionalidade e potencial máximo, com o
objetivo de ajudar a alcançar a melhor funcionalidade possível para as tarefas a
desempenhar no dia a dia. Nesse sentido, a existência de um programa de
AFA que complemente o programa de fisioterapia permitiria alcançar isso
mesmo (Verellen e Molik, 2011). Com efeito, o programa de AFA pode ser
implementado durante e após o programa de fisioterapia para, não só melhorar
a qualidade e aumentar a probabilidade de sucesso do programa, mas também
prevenir retrocessos no estado clínico do paciente (Hayden, Van Tulder e
Tomlinson, 2005).
O leque de atividades que podem ser realizadas neste contexto
terapêutico é variadíssimo, mas as atividades que são mais frequentes, e por
isso importa aprofundar um pouco cada uma e as suas características
essenciais, são: a Hidroterapia, Hipoterapia e a Equitação Terapêutica. Estas
Capítulo II - Revisão de Literatura
19
atividades têm diversas particularidades que atraem várias pessoas à sua
prática.
A Hidroterapia corresponde ao uso das propriedades da água para fins
terapêuticos em benefício de pessoas de todas as idades e com diferentes
níveis de habilidades (Skinner e Thomson, 2008). A Hidroterapia tornou-se uma
componente muito popular da reabilitação, sendo atualmente utilizada
extensivamente no desporto, nomeadamente numa introdução à Natação e
reabilitação ortopédica, tal como em muitas doenças neurológicas. O
estabelecimento de um programa aquático pode ser uma adição muito benéfica
a nível terapêutico para o cuidado clínico de um paciente. A imersão na água
provoca profundos efeitos biológicos, que se estendem em todos os sistemas
homeostáticos. Estes efeitos são tanto imediatos como a longo prazo e
permitem que a água seja usada como uma terapia eficaz na resolução de
vários problemas reabilitacionais. A Hidroterapia é benéfica no tratamento de
problemas músculo-esqueléticos, neurológicos, cardiorrespiratórios, entre
outros. Esta foi a origem de programas aquáticos adaptados e programas de
formação para profissionais que ensinam técnicas de nado a pessoas com
deficiência. Os objetivos eram recreacionais e educacionais, com o foco de
ajudar os nadadores a alcançar independência na água. Foi rapidamente
visível que os resultados terapêuticos alcançados na água se notavam
igualmente em terra (Cole e Becker, 2004).
A Hipoterapia e Equitação Terapêutica, apesar de serem muitas vezes
confundidas e consideradas como equivalentes, cada uma destas atividades
possui objetivos diferentes e por isso serão descritas de forma separada.
Na Hipoterapia o movimento do cavalo é a componente básica utilizada
para produzir efeitos terapêuticos a nível neurofisiológico no cavaleiro, uma vez
que este tem de se adaptar à alteração constante de forças físicas. Os
movimentos do cavalo produzem um movimento tridimensional transmitindo
impulsos dinâmicos e rítmicos ao cavaleiro. Estes impulsos expõem o cavaleiro
a movimentos para a frente e para trás, movimentos laterais e rotações
(Honkavaara e Rintala, 2010).
Capítulo II - Revisão de Literatura
20
A Hipoterapia centra-se na recuperação de competências que permitam
a reintegração, tanto a nível profissional como social, direcionando-se para o
domínio da medicina física e de reabilitação. Esta vertente intervém ao nível do
alívio da dor e da funcionalidade motora, pretendendo manter ou melhorar
aspetos como a força muscular, a mobilidade, a capacidade respiratória, a
circulação, a coordenação muscular e correção de posturas. Assim, a terapia é
dirigida para objetivos neuromotores específicos, no que diz respeito ao
processo de reabilitação do indivíduo (Leitão, 2012).
A Equitação Terapêutica surge para responder às problemáticas sociais
numa perspetiva médica e pedagógica (Kröger, 1989). A abordagem
terapêutica pretende que o cavaleiro aprenda a montar a cavalo, enquanto
beneficia da terapia que assegura influências pedagógicas e psicológicas. A
Equitação Terapêutica aplica-se em condições adaptadas a cada caso e
apresenta objetivos diferentes para cada individuo. O instrutor tem a função de
ensinar a técnica de montar a cavalo, tendo sempre em conta as limitações e
incapacidades individuais. Pretende-se que o cavaleiro se torne autónomo na
condução do cavalo e atue sobre este, realizando atividades adaptadas pelos
técnicos envolvidos (Lobo, 2003).
A vertente terapêutica da AF é uma vertente que tem enorme
importância na vida das pessoas com deficiência, uma vez que estas possuem
determinadas patologias ou riscos associados à sua deficiência, que podem ser
ultrapassados, ou diminuídos através da prática de AF. A AFA deverá,
portanto, ser uma área a ter em conta para a reabilitação e manutenção de
saúde das pessoas com deficiência. A WHO (2003) sugere isso mesmo,
dizendo que a AF e a prática saudável de desportos é essencial para a nossa
saúde e bem-estar.
1.3 Dimensão de competição
A AFA consegue, em toda a sua abrangência, incluir ainda a dimensão
competitiva, abarcando o mundo desportivo adaptado, que muito apaixona as
Capítulo II - Revisão de Literatura
21
pessoas e permite que as pessoas com deficiência consigam elevar as suas
capacidades até ao limite num mundo de competição e de excelência.
Segundo Depauw e Gavron (2005), a ligação do desporto com o mundo
da deficiência, resultando no desporto adaptado, ocorreu inicialmente durante o
século XX. Os mesmos autores referem que a origem do desporto adaptado
pode ser identificada ao longo de uma perspetiva histórica da AF, na vasta
história da AF e do movimento humano.
Para Winnick (2011), o desporto adaptado corresponde a um desporto
modificado ou criado para ir de encontro às necessidades dos indivíduos com
deficiência. Já Nixon (2006), considera o desporto adaptado qualquer forma de
competição física organizada intencionada, especificamente, para pessoas com
deficiência e contrasta com desportos regulares que são organizados para
pessoas sem deficiência. O desporto adaptado inclui desportos que foram
criados para um determinado grupo de atletas com uma deficiência específica:
Goalball para pessoas com deficiência visual ou Boccia para pessoas com
Paralisia Cerebral, nas suas várias categorias. No entanto, também existem os
desportos convencionais que são praticados pelas pessoas sem deficiência,
mas adaptados para pessoas com deficiência, como é o caso do Basquetebol
em cadeira de rodas ou Voleibol sentado para pessoas com deficiência motora.
Estes desportos podem requerer algumas ou nenhumas modificações para a
participação de pessoas com deficiência (Deprauw e Gavron, 2005).
Hoje em dia existem grandes competições internacionais para atletas
com deficiência de elite, para além das inúmeras competições nacionais e
regionais (Depauw e Gavron, 2005).
Segundo Depauw e Gavron (2005), as três grandes competições
internacionais existentes no mundo do desporto adaptado são:
- Surdolímpicos;
- Jogos Paralímpicos;
- Special Olympics.
Os Jogos Paralímpicos e os Surdolímpicos são as competições de maior
nível internacional, onde apenas alcançam estas provas os atletas de
excelência e de grande nível desportivo, praticantes de modalidades
Capítulo II - Revisão de Literatura
22
consideradas pelo Comité Paralímpico Internacional. Os Special Olympics são
uma grande competição internacional, mas onde o objetivo não é o alto
rendimento desportivo e a procura de medalhas. Os Special Olympics são uma
competição onde o que será importante é a própria participação, onde se
procura a maior participação de atletas possível, dentro da DI e que estes
possam participar num grande evento desportivo.
Segundo Depauw e Gavron (2005), os Surdolímpicos são uma
competição desportiva específica para pessoas surdas, tal como o nome da
competição indica e foram iniciados no ano de 1924, em Paris, tendo sido,
portanto, a primeira competição internacional criada para pessoas com
deficiência, neste caso específico, para pessoas com surdez. Atualmente,
realizam-se de quatro em quatro anos, no ano após os Jogos Paralímpicos e,
sempre que possível, no mesmo local.
Os mesmos autores referem que os Jogos Paralímpicos são
considerados o equivalente aos Olímpicos para atletas de elite com deficiência
motora, intelectual e visual. Os primeiros jogos internacionais realizaram-se em
1952, em Stoke Mandeville, no entanto os primeiros Jogos Paralímpicos
realizaram-se em Roma, em 1960, com a participação de 400 atletas e com
representação de 32 países. Portugal participa pela primeira vez em 1972, na
antiga República Federal da Alemanha (FPDD, 2016). A começar em Seoul,
1988, nos últimos anos os Jogos Paralímpicos têm sido realizados no mesmo
país e cidade que os Jogos Olímpicos (Depauw e Gavron, 2005).
No seguinte quadro (Quadro 3), podemos verificar todos os Jogos
Paralímpicos realizados até à data, o seu ano de realização, o local onde
ocorreram, os tipos de deficiência que foram incluídos em cada edição, os
países que participaram, o número de atletas participantes e os desportos
presentes em cada edição até aos recente Jogos Paralímpico do Rio de
Janeiro, inclusive.
Capítulo II - Revisão de Literatura
23
Quadro 3 – Jogos Paralímpicos de Verão, retirado e adaptado de Depauw e Gavron
(2005) e Comité Internacional Paralímpico (2016).
Ano Localização Deficiência Países Atletas Desportos
1952 Stoke Mandeville Lesão Medular (LM) 2 130 6
1960 Roma LM 23 400 8
1964 Tokyo LM 21 375 9
1968 Tel Aviv e Cidade do
México LM 29 750 10
1972 Heidelberg e
Munique LM, Cegueira (C) 41 1004 10
1976 Toronto e Montreal
LM, C, les autres (LA) 42 1657 13
1980 Arnhem e Moscovo
LM, amputados (A), C, Paralisia Cerebral
(PC) 42 1973 12
1984 Stoke Mandeville
e Nova York LM, A, C, PC 41 1100 14
1988 Seoul LM, A, C, LA 45 1800 13
1992 Barcelona LM, A, C, PC, LA 61 3053 17
1992 Madrid DI 82 3020 15
1996 Atlanta LM, A, C, PC, LA, DI 74 1400 5
2000 Sydney LM, PC, LA, DI, C, A 103 3195 17
2004 Atenas LM, A, PC, LA, C, DI 123 3843 18
2008 Pequim LM, A, PC, LA, DI 130 4000 21
2012 Londres LM, A, PC, LA, C, DI 164 4237 20
2016 Rio de Janeiro LM, A, PC, LA, C, DI 161
(estimativa) 5000
(estimativa) 25
De uma forma geral, verificámos, através do Quadro 3, que a
diversidade de deficiências, o número de atletas, o número de países
participantes e os desportos praticados, revelaram uma tendência crescente ao
longo da história dos Jogos.
Capítulo II - Revisão de Literatura
24
Por fim, os Special Olympics, são uma competição criada,
especificamente, para pessoas com DI, tendo não só os jogos de verão, mas
também os de inverno. Estes são alternados entre si por dois anos, sendo que
os jogos de verão acontecem de quatro em quatro anos, um ano antes dos
Jogos Paralímpicos. Os primeiros Special Olympics foram realizados no
Canadá, em 1968 (Depauw e Gavron, 2005).
A existência destas competições internacionais, promove bastante o
desporto adaptado, no entanto, para se chegar a um patamar de excelência
desportiva é necessário, em primeiro lugar, promover o desporto adaptado
desde os seus níveis de competição mais elementares. Para que essa situação
possa ocorrer, cabe aos pais, aos professores de EF, ou aos clubes amadores,
como é o caso do Sport Club do Porto, captar crianças e jovens, para que
estes possam iniciar uma atividade desportiva regular, desde o mais baixo nível
desportivo até ao patamar mais elevado. É assim necessário cativar atletas,
por exemplo através do DE, através das aulas de EF, para que possam, a partir
daí, ingressar num clube. Existe a possibilidade de evoluir, participar em
competições a nível distrital, regional e nacional. Os atletas que continuarem a
sua carreira na área e reunirem todos os fatores necessários, podem mesmo
chegar aos mínimos para ingressar na alta competição e chegar às
competições internacionais atrás referidas.
Uma vez que o presente estudo se enquadra no contexto nacional,
importa referir que a nível nacional, o desporto para pessoas com deficiência
encontra-se organizado como representado pelo organograma (Figura 1)
segundo a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência
(FPDD).
Capítulo II - Revisão de Literatura
25
Figura 1 – Organograma da FPDD (2013).
Existem, como demonstra a Figura 1, duas entidades que tutelam o
desporto para pessoas com deficiência em Portugal, o Comité Paralímpico de
Portugal (CPP) e a FPDD. O CPP é a entidade que tutela o desporto adaptado
a nível internacional. A FPDD é uma entidade que tutela o desporto adaptado
nacional e divide-se nas várias associações, que se dividem por áreas da
deficiência, com o objetivo de promover todo o tipo de desportos e abarcar os
diferentes tipos de deficiência. Assim, o nível competitivo será mais justo e
mais inclusivo, uma vez que permite a participação de todos. Algumas das
modalidades estão, no entanto, filiadas nas respetivas federações nacionais,
como é o caso do Voleibol sentado, que se encontra filiado à Federação
Portuguesa de Voleibol, reforçando o papel da inclusão no desporto. As várias
associações e federações têm o dever de promover atividades desportivas na
sua área específica e dotar os clubes com meios e capacidades para
desenvolver a prática desportiva. Estes devem ir de encontro às regras de
funcionamento criadas pelos órgãos máximos do desporto para pessoas com
deficiência e devem permitir a participação de todos. Existe, assim, um elevado
número de entidades que procuram desenvolver o desporto de competição e
Capítulo II - Revisão de Literatura
26
promover o desporto para pessoas com deficiência, do mais baixo ao mais alto
nível competitivo.
1.4 Dimensão recreativa
Para terminar o desenvolvimento das várias dimensões da AFA, concluo
com a dimensão recreativa, que terá um papel muito importante no
desenvolvimento do presente estudo, uma vez que esta é uma dimensão muito
presente no desenvolvimento da Centro de Desporto Adaptado do Sport Club
do Porto.
As pessoas com deficiência sempre estiveram entre nós, no entanto,
enquanto sociedade não estávamos muito conscientes da presença deles.
Muitos deles viviam em instituições, ou fora de vista. Aqueles que viviam com
as suas famílias, habitualmente, permaneciam em casa e eram apenas
conhecidos pelos seus vizinhos mais imediatos. Qualquer recreação de que
pudessem desfrutar era oferecida através das suas famílias ou pelas
instituições. Alguns com deficiências mais leves e que conseguissem, de
alguma forma, “acompanhar” o ritmo das atividades, podiam ser encontrados
nos programas recreativos, embora fossem identificados como pessoas com
deficiência (Pomeroy, 1983).
Durante os anos 70 foi estimado que apenas 10% da população com
deficiência recebia serviços de recreação; 90% não tinha acesso a este tipo de
serviços. A norma, na altura, era focada em mencionar, avaliar, planear e
publicitar demonstrações, por exemplo, nos que recebiam estes serviços, em
vez de se focar aqueles com deficiência que não os tinham (Nesbitt, 1981). O
mesmo autor refere que, já no início dos anos 80, se deveria ir fora das
instituições e usufruir de programas já existentes para chegar aos que não têm
acesso a estes serviços, oferecendo serviço recreativo para pessoas com
deficiência, quer crianças, jovens, adultos ou idosos.
Hoje em dia o paradigma mudou, enquanto antigamente as pessoas
eram colocadas em hospícios próprios, hoje em dia existe a tentativa de os
Capítulo II - Revisão de Literatura
27
incluir nas atividades da sociedade e, se possível, colocá-los de forma
autónoma na vida quotidiana.
Para Marques, Castro e Silva (2001), a dimensão recreativa não terá a
mesma relevância das dimensões anteriores, no entanto, numa perspetiva de
vida quotidiana, esta dimensão parece-me possuir elevada importância,
nomeadamente na ocupação de tempos livres de pessoas com deficiência.
Este tipo de AF pode ser definida como uma atividade ou experiência
que envolve vários níveis de esforço físico, perícia e/ou habilidade, o que
poderá não ser o foco da atividade e é realizada, voluntariamente, por um
indivíduo, no seu tempo livre, com a intenção de satisfação mental ou física
(Australia Year Book, 2008).
De acordo com Woodmansee, Hahne, Imms e Shields (2016), a AF
recreativa incluí atividades formais organizadas, estruturadas com regras (por
exemplo, jogos coletivos) e atividades informais espontâneas que requerem
pouca preparação e treino (por exemplo, jogar no recreio da escola com os
amigos). Engloba, por isso, um vasto intervalo de intensidades a nível físico,
desde o menos intenso, até ao mais vigoroso, mas exclui a atividade
sedentária, que não requer qualquer dispêndio de energia.
No fundo, a participação recreacional permite ao indivíduo envolver-se
na AF, através dos próprios meios e condições, tendo como objetivo primário
ser saudável e divertir-se (Lundberg, Taniguchi, McCormick e Tibbs, 2011).
Frequentemente, atividades praticadas na natureza, por pessoas com
deficiência, envolvem atividades recreativas ao ar livre e desportivos cujos
objetivos englobam a autossuperação e a manutenção da saúde em todas as
suas dimensões. A natureza tem um apelo de desafio e, ao mesmo tempo, é
um contexto agradável, oferece muitas opções de atividades físicas, desportos
e atividades recreativas, que surgiram nas últimas décadas para diversificar o
tempo livre das pessoas com deficiência (Mauerberg-deCastro, 2005). A
mesma autora refere ainda que as pessoas com deficiência assumiram há
muito tempo a sua independência na escolha das atividades do contexto do
lazer e do desporto, especialmente onde não há uma organização formal, como
nas atividades junto à natureza. Devemos aprender com elas sobre este
Capítulo II - Revisão de Literatura
28
processo de vencer desafios e sobreviver. Devemos inspirar-nos nas suas
experiências para, como educadores e terapeutas, propiciar alternativas de
atividades para aqueles com menos independência (Mauerberg-deCastro,
2005).
Marques, Castro e Silva (2001), sugeriam que no início dos anos 2000,
foram aparecendo vários trabalhos dirigidos à recreação, focando-se na sua
importância e formas organizativas, tendo-se verificado que existe ainda uma
baixa adesão, estudando-se as razões e concluindo-se a grande relevância e
futuro desta área para as pessoas com deficiência.
2. Benefícios da Atividade Física Adaptada
Os benefícios da AF são de extrema relevância para toda a sociedade.
Contudo, os autores Anderson e Heyne (2010) referem que a AF para pessoas
com deficiência é mais importante do que para pessoas sem deficiência. Esta
frase pode ser interpretada de várias formas, sendo que se verificarmos o valor
da AF, esta é de igual forma importante para todos, quer se tenha deficiência
ou não. No entanto, o nível de impacto na vida, em termos de benefícios
diretos na vida da pessoa, parece-nos que, de facto, este é maior na vida de
pessoas com deficiência.
A prática regular de AF pode ser uma forma de atingir inúmeros
benefícios de saúde, que podem influenciar, de uma forma direta, ou indireta, o
impacto positivo em diversos riscos para a saúde. Na realidade, as pessoas
com deficiência devem ter oportunidades e apoio para a prática de uma AFA às
suas limitações e capacidades. O objetivo é ajudar as pessoas com deficiência
a melhorar a sua força muscular, o estado psicológico de bem-estar e elevar a
qualidade de vida, melhorando a realização das tarefas da vida diária (World
Health Organization, 2003).
Neste estudo serão focados os vários benefícios decorrentes da prática
de AF por parte das pessoas com deficiência. Neste contexto, serão
explanados os benefícios a nível social, psicológico e fisiológico.
Capítulo II - Revisão de Literatura
29
2.1 Benefícios a nível social
O relacionamento com os outros é algo que é vital na vida do ser
humano. A prática de AF e desportiva é um meio, no qual existe a grande
possibilidade de nos relacionarmos com os outros de uma forma mais próxima,
e daí, permitir desenvolver um contexto social que poderá ter um papel
importante na vida da pessoa. Para pessoas com deficiência pode ainda ter
uma importância maior, uma vez que podem muitas vezes sentir-se excluídas
das restantes atividades da vida quotidiana. Para muitas pessoas com
deficiência, a mesma pode limitar oportunidades para se envolver em eventos
sociais com os seus pares, o que pode levar a sentimentos de isolamento
(Rimmer et al., 2007).
As dificuldades sociais experienciadas por grupos minoritários, tais como
a discriminação e a estigmatização, são elevadas entre as pessoas com
deficiência, comparativamente a pessoas sem deficiência, mas a AF pode
atenuar esses aspetos (Barg et al., 2010).
Segundo Martin (2013), a AF contribui para a melhoria do estado social
da pessoa. Nesse sentido, Arbour, Latimer, Martin Ginis e Jung (2007)
constataram que as pessoas sem deficiência olhavam para as pessoas com
deficiência que fossem fisicamente ativas de uma forma mais favorável,
comparativamente a pessoas com deficiência inativas. Os mesmos autores
referem que pessoas que praticam AF são mais amigáveis, persistentes e em
quem se pode confiar mais.
A natureza social de muitas atividades desportivas leva ao aumento da
integração social, interação social e à criação de amizades (Groff e Kleiber,
2001). Com efeito, num estudo realizado pelos mesmos autores, com crianças
com Paralisia Cerebral e Espinha Bífida, que participaram em programas
desportivos no período pós aulas, realçaram a importância de estarem em
contacto com outras crianças com deficiência. Criar laços com outras crianças
com deficiência contribuiu para o sentimento de pertença, permitindo que estas
agissem de uma forma mais natural, com capacidade de serem eles próprios
(Groff e Kleiber, 2001).
Capítulo II - Revisão de Literatura
30
Adicionalmente, quando a AF decorre através de desporto de competição,
jovens atletas também têm a oportunidade de viajar com a sua equipa e
experienciar sentimentos como o de independência, diversão e ainda o efeito
surpresa que muitas vezes acompanha a descoberta de novos lugares e o
conhecimento de novas culturas (Anderson et al., 2005). Mas esta prática não
se resume à participação das crianças e dos jovens. A felicidade e a rede de
contactos criada através do desporto e da AF, são motivadores importantes
também para os adultos (Allender et al., 2006).
Os benefícios afetivos da AF não estão apenas limitados ao aumento do
bom humor e aos sentimentos positivos, mas também à diminuição de
experiências afetivas negativas (Martin, 2013). A AFA é, portanto, um veículo
importante, para que as pessoas com deficiência possam interagir com os seus
parceiros, sejam estes os seus colegas de equipa, adversários, treinadores ou
professores e criar laços afetivos com os mesmos, o que permite aumentar a
sua capacidade de comunicação e valorizar mais a sua vida social.
2.2 Benefícios a nível psicológico
A AF permite a evolução e melhoria do estado psicológico dos
indivíduos.
Em muitos casos, as pessoas com deficiência são vistas como
incapazes e limitadas na sua tentativa de serem independentes e bem
sucedidas. Assim, os maiores benefícios psicológicos decorrentes da
experiência bem sucedida da AF são a autoperceção, variando desde uma
autoestima global para um julgamento discreto e específico de competência e
autoeficácia (Martin, 2013).
A AF, segundo Callaghan (2004), é conhecida por melhorar a autoestima
e o funcionamento cognitivo, ajudando a ultrapassar estados de ansiedade,
depressão e ainda humor negativo. Também ajuda a regular o sono, melhora o
vigor e os níveis de energia da pessoa, num estudo realizado com pessoas
com doenças mentais (Sharma et al., 2006). A prática de AF, permite o
aumento da circulação sanguínea para o cérebro e estimula a região do
Capítulo II - Revisão de Literatura
31
cérebro responsável pelo humor, pela motivação e melhora o estado e
formação de memória, uma vez que a AF promove a secreção de
neurotransmissores de serotonina e endomorfinas que melhoram o estado
emocional da pessoa, também num estudo realizado com pessoas com
doenças mentais (Callaghan, 2004). Sharma et al. (2006) acrecenta que a AF
ajuda, igualmente, na regulação da reação fisiológica corporal ao stress.
As pessoas com deficiência, por serem muitas vezes postas de parte na
sociedade, vêem na AFA uma oportunidade de demonstrar que também são
capazes e que devem ter as mesmas oportunidades que os outros para
mostrar que não estão, de forma alguma, num patamar inferior a nível de
importância relativamente às pessoas sem deficiência, o que lhes permite criar
a confiança (Martin, 1999) e usufruir de uma estado de espírito positivo,
desfrutando das atividades (Martin, 2006), como merecem. O impacto da AF no
nível emocional e psicológico das pessoas com deficiência é portanto muito
positivo e deve ser reforçado ao máximo.
2.3 Benefícios a nível fisiológico
Existem vários benefícios fisiológicos da AF que podem diminuir o risco
de doença crónica, problemas de saúde mental e morte prematura. Warburton,
Nicol e Bredin (2006), por exemplo, denotaram uma melhoria da função
vascular entre adultos que praticam atividade aeróbia regular. Esta AF revelou
diminuir o risco de coágulos de sangue e regula a pressão arterial; além disso,
o exercício aeróbio diminui lipoproteínas de baixa densidade (LDL’s, ou
“colesterol mau”) e aumenta as de alta densidade (HDL’s, ou o colesterol bom),
diminuindo assim o risco de doenças cardiovasculares. O exercício regular
diminui ainda a inflamação crónica, resultando na melhoria muscular e saúde
cardíaca (Warburton et al., 2006). Os mesmos autores constataram que o
exercício assiste na estabilização hormonal e níveis de insulina, o último
através da homeostasia para manter a glicose no sangue sob controlo,
reduzindo assim a possibilidade de desenvolver diabetes ou de se tornar obeso
(Sharma, Madaan e Petty, 2006; Warburton et al., 2006). No contexto da saúde
Capítulo II - Revisão de Literatura
32
específica das pessoas com deficiência, as consequências na saúde das
mesmas, por não praticarem qualquer AF, incluem a diminuição da capacidade
de locomoção e consequente diminuição de independência (Nosek, et al.,
2006; Goodwin, et al., 2004; Durstine, et al., 2000; McDonald, 2002; Draheim,
2006; Sutherland et al., 2002). Segundo Rimmer e Wang (2005), as pessoas
com deficiência, independentemente do sexo, da raça e etnicidade ou da idade,
tinham valores significativamente mais elevados de sobrepeso, obesidade e
obesidade mórbida, comparando com pessoas sem deficiência, numa amostra
de 306 pessoas com deficiência. Esta ideia é complementada pelos estudos
que indicam que as pessoas com deficiência têm maior tendência para
desenvolver doenças secundárias que incluem a osteoporose, osteoartrites,
diminuição do equilíbrio, da força, da resistência, da flexibilidade e por fim, o
aumento de probabilidade de obesidade (Craham e Reid, 2000; Rimmer, 1999).
É, portanto, extremamente importante manter os níveis de AF elevados na
população com deficiência.
Num estudo que tinha como amostra indivíduos com todo o tipo de
deficiências, mas excluiu aquelas que surgem de doenças crónicas, foi
demonstrado que a participação regular em programas de AF contribuí para a
redução de risco cardiovascular, diabetes e hipertensão nas pessoas com
deficiência, (Rimmer e Braddock, 2002).
A AFA também melhora não só a composição corporal e saúde óssea,
assim como contribui para a prevenção ou atraso de doenças crónicas com
crianças com deficiência (Shields, Synnot e Barr, 2012). Nesta faixa etária, a
participação na AF é particularmente importante, uma vez que pode ter um
impacto positivo no desenvolvimento, qualidade de vida e saúde em situações
futuras (Shields, Synnot e Barr, 2012).
Todos os benefícios quer sociais, psicológicos ou fisiológicos, têm uma
importância elevada na vida das pessoas com deficiência e devem ser
estudados ao máximo, para que possam contribuir de uma forma muito positiva
para a vida das pessoas. Todos estes benefícios, devem estar presentes de
uma forma equilibrada, na vida das pessoas, uma vez que se complementam
Capítulo II - Revisão de Literatura
33
entre si. Todos os parâmetros de saúde estão interligados entre si, sendo que
uma diminuição na saúde, ou situação de patologia numa determinada
componente, poderá necessariamente, prejudicar as restantes componentes de
saúde. A AFA acaba por ter um papel fundamental uma vez que permite que
haja benefícios a todos esses níveis, permitindo às pessoas com deficiência
encontrar um bom equilíbrio na sua vida, em todas as componentes que a
constituem.
3. Barreiras à prática de Atividade Física Adaptada
Dado o valor que a AF possui e os baixos níveis de prática por parte da
maioria das pessoas com deficiência, não é de estranhar que um grande foco
de investigação no mundo da deficiência e da AF passe por identificar as
barreiras à sua prática de AF por parte de indivíduos com deficiência (Martin,
2013). Para o autor, algumas das barreiras são partilhadas entre todas as
pessoas, no entanto, existem barreiras que são específicas para pessoas com
deficiência.
A este respeito, Shields, Synnot e Barr (2012), realizaram uma
investigação, a partir da revisão de 14 artigos, desde o ano 1983 até 2007,
quanto às barreiras para a prática de AF por parte de crianças com deficiência.
As principais barreiras encontradas apresentam-se seguidamente:
Capítulo II - Revisão de Literatura
34
Quadro 4 – Barreiras à AF, adaptado de Shields, Synnot e Barr (2012).
Barreiras Pessoais
Barreiras Sociais Barreiras
ambientais Barreiras organizacionais
Falta de habilidade física
Ações, comportamentos ou preocupações parentais
Instalações inadequadas
Falta de programas de AF adequados
Falta de habilidade social
Falta de amigos ou apoio dos pares
Transporte Os que existem só se focam em desportos de equipa
Preferência por outras atividades que não físicas
Atitudes negativas por parte da sociedade
Tempo/meteoro-logia
Falta de capacidade por parte dos trabalhadores
Medo Falta de um modelo a seguir
-
Atitudes negativas dos trabalhadores em relação às pessoas com deficiência
Falta de conhecimento ou perceção relativamente à AF
Falta de boa comunicação para com a criança com deficiência
- Custo
Falta de tempo - -
Falta de divulgação para com os clientes e falta de informação acerca dos benefícios da AF
Dor ou desconforto
- - -
Verificamos, através da visualização do Quadro 4, as barreiras à prática
de AF consideradas em diferentes estudos, sendo que as autoras distinguiram
as barreiras pessoais, sociais, ambientais e por fim organizacionais. As que
apresentam um número mais elevado de subtemas são as barreiras pessoais,
seguidas pelas barreiras organizacionais, sendo que as que têm menor número
de subtemas, são as barreiras ambientais.
Com referência a esta temática, Martin (2013) afirma que existe um
número significativo de barreiras à prática de AF para pessoas com deficiência.
O autor divide as barreiras em pessoais, sociais e do ambiente, no entanto
Capítulo II - Revisão de Literatura
35
refere que muitas barreiras não se enquadram em nenhum destes domínios,
sendo que não é fácil identificar a sua origem, correndo-se o risco de simplificar
e não representar a realidade enfrentada pelas pessoas com deficiência. Uma
das barreiras principais para o autor é a dor, uma vez que influencia a prática
de AF para muitas pessoas com deficiência. Martin (2013) refere ainda que as
barreiras podem, em conjunto, impedir a participação na AF e ainda pode variar
de pessoa para pessoa. Por fim, barreiras que existem no início da prática de
AF (por exemplo a dor) podem desaparecer à medida que a sua experiência e
envolvência com a AF aumenta.
O conhecimento das várias barreiras à participação na AF por parte de
pessoas com deficiência, é vital para que a comunidade envolvente neste tipo
de atividades, tais como clubes e organizações desportivas, possam evitar e
desenvolver formas de suprimir estas barreiras, ou pelo menos minimizá-las.
Estes organismos devem ainda conhecer ao máximo a realidade das pessoas
com deficiência, para que possam, em colaboração com as mesmas,
responder às suas necessidades e encontrar soluções a nível local, nas suas
próprias instalações e atividades. As organizações devem também explorar as
entidades de maior relevância a nível global, através do contacto com agentes
maiores, tais como juntas de freguesia, câmaras municipais e chegar mesmo
ao governo português, para que se possa, cada vez mais, sensibilizar a
sociedade para estas barreiras e para que se possam, de uma forma mais
significativa, evitar as mesmas de uma forma global e permanente.
4. Papel da Família
4.1 Papel dos pais na vida da pessoa com deficiência
A importância do papel dos pais é inquestionável, mais não seja porque
são eles os responsáveis pela nossa existência, de uma forma muito simples,
partilhando o seu código genético para a criação de um novo ser. Para além de
serem os criadores, são também responsáveis, na maioria das vezes, pela
educação e pela formação dos seus filhos. Eles escolhem a escola que o filho
Capítulo II - Revisão de Literatura
36
irá frequentar, escolhem o nome que filho terá para o resto da sua vida,
escolhem até onde o seu filho nasce. São tudo decisões, que de uma forma ou
outra, irão influenciar a vida dos seus filhos e irão criar as raízes para o
desenvolvimento de um novo ser, com uma personalidade própria e com a
perspetiva de que terá um futuro próspero. Isto não significa que quando o filho
tem capacidade para tal, não possa tomar decisões próprias na sua vida,
mesmo que possua algum tipo de deficiência.
Apesar do papel de decisão dos pais, existe um aumento no
reconhecimento de que os jovens, incluindo jovens com deficiência, podem
expressar os seus pensamentos e sentimentos, tomar decisões informadas e
exercer influência (Lansdown e Karkara, 2006). A Convenção das Nações
Unidas acerca dos direitos da criança afirma que todas a crianças, incluindo
crianças com deficiência, têm o direito de ser envolvidas em assuntos e
decisões que lhes dizem respeito (Lansdown e Karkara 2006). Com efeito, a
criança com deficiência também influencia o que está à sua volta, possui
grandes conhecimentos em relação às suas experiências do dia a dia e tem a
capacidade de tomar decisões (Unites Nations General Assembly, 1989; James
e James, 2004).
No mesmo contexto, de tomada de decisões, investigações realizadas
com jovens e crianças sem deficiência na Noruega (Bjerk, 2011), no Reino
Unido (Morrow, 1999) e na Europa do Leste (Tomanovic-Mihajlovic, 2000;
Tomanovic, 2003) demonstraram padrões similares de participação na tomada
de decisões: as crianças raramente faziam, ou expressavam o desejo de tomar
decisões com completa autonomia. Nestes estudos, foram encontradas
diferenças, tanto intra como entre estudos, contudo, todos os estudos
demonstraram que as crianças que sentiam que a sua opinião era respeitada e
valorizada na tomada de decisões, indicou que fatores pessoais, familiares e
culturais, muito provavelmente, contribuem para as diferenças que decorrem de
família para família, mostrando o importante papel desses fatores externos à
criança no seu desenvolvimento. No contexto, Tomanovic (2003) demonstrou
que perceções de condições sociais pouco seguras, combinadas com vários
Capítulo II - Revisão de Literatura
37
níveis de confiança nas competências da criança, levava os pais a tomar
diferentes posições de controlo em relação às ações das crianças e jovens.
Ambos, pais e jovens, tendem a descrever que os pais devem exercer
autoridade nas questões morais que afetam o bem-estar dos outros e questões
convencionais que estão relacionadas com comportamentos aceites que
estruturam as interações sociais (Smetana, 2010). Também para assuntos
delicados, respeitantes a questões de saúde e segurança, os pais e os
adolescentes concordam que os pais devem ter autoridade (Smetana e Asquith
1994; Smetana 2000).
Apesar destes estudos referidos não se direcionarem, especificamente,
para as crianças com deficiência, as mesmas também poderão ser
enquadradas neste contexto, sendo que outros estudos revelaram situações
específicas para as mesmas, completando a informação anterior.
No contexto da realidade da deficiência, tudo varia desde deficiências
que pouco e raramente afetam a capacidade das crianças na participação num
espetro total de atividades, até deficiências múltiplas e complexas que estão
sempre presentes e envolvem vários aspetos da sua vida diária (Mark Whiting,
2013). No caso de pessoas que apenas possuem deficiência motora, a sua
forma de pensar e a sua tomada de decisão não será, em princípio, posta em
causa, uma vez que a sua deficiência não afeta a sua condição cognitiva, no
entanto, o mesmo não acontece com pessoas que possuem deficiências que
afetem o seu desenvolvimento cognitivo.
Com referência a este facto, num estudo realizado com uma amostra de
pessoas com DI e os seus familiares, o nível no qual um jovem era ou não
percecionado com necessidade de proteção e que, assim, estava capaz de
participar nas tomadas de decisão, parece estar dependente das suas
características pessoais, o que, no entanto, pode ser comprometido por
ameaças externas ao seu bem-estar. Em termos de características pessoais,
os pais muitas vezes descreviam os seus filhos com DI com falta de
discernimento e pouco desenvolvimento na capacidade de tomada de decisão.
Na opinião dos pais, estes não são capazes de entender a diferença entre “o
correto e o incorreto”, possuem falta de confiança ou de capacidade de
Capítulo II - Revisão de Literatura
38
argumentação, falta de capacidades específicas (por exemplo lidar com
dinheiro) e apresentam níveis mais elevados de imaturidade. Estas
características levam a que os pais acreditem que os jovens com DI, tomariam
decisões incorretas e pouco seguras. Os pais também receiam que, muitas
vezes, devido às suas diferenças visíveis, nomeadamente no modo como se
apresentam, ou vulnerabilidades pessoais, estes jovens com DI seriam
rejeitados socialmente ou os outros acabariam por se aproveitar dos mesmos,
tendo em conta as suas fragilidades (Saaltink et al., 2012). Nesta perspetiva, o
papel dos pais na vida das pessoas com DI acaba por ser preponderante, uma
vez que estes não possuem capacidades suficientes, salvo determinadas
exceções, para serem independentes, mesmo que já sejam maiores de idade.
Segundo Cobb e Alwell (2009), comparado com outros pais, os pais de
crianças com deficiência têm um papel mais ativo nas escolhas associadas ao
abandono de uma participação a tempo inteiro na educação por duas razões
principais. Primeiro, quando uma pessoa jovem tem uma deficiência cognitiva
considerável, os pais assumirão responsabilidade de tomar decisões (tendo
sempre em conta, naturalmente, as aspirações e preferências do jovem).
Segundo, a presença de cuidados e suporte de necessidades quer dizer que,
apesar do jovem poder sair de casa, os pais têm um papel permanente de
cuidados e responsabilidades, havendo, necessariamente, um papel de
constante presença na vida do filho, permanecendo ativo nas decisões da vida
do mesmo.
Uma questão muito presente na vida destes pais é o facto de estes
poderem vir a estar dependentes dos mesmos, mesmo que já se encontrem
em fase adulta. Muitos pais podem presumir que à medida que os seus filhos
se tornam adultos, eles deverão, por fim, viver fora da casa de família. Porém,
para pais de filhos com deficiência, principalmente alguma deficiência que
limite a sua capacidade de realizar tarefas do dia a dia, esta expectativa pode
ser mais difícil de concretizar pois estes precisam de cuidados e suporte,
possivelmente a longo prazo. Grant (2000) apoia esta visão, num livro dedicado
à DI, argumentando que pais de crianças com dificuldades de aprendizagem
possuem um papel parental permanente e que inclui, frequentemente, o
Capítulo II - Revisão de Literatura
39
sustento que corresponde a providenciar apoio e casa. Assim, é difícil para
estes pais ter o estilo de vida “típico” de pessoas com a mesma idade e por
isso podem criar algum receio e ansiedade relativamente a questões parentais
inacabadas e preocupar-se com o futuro.
Neste contexto, os pais poderão vir a experienciar algum stress pelo
facto de estes, com mais alguma idade, terem uma tendência para possuir
menos planos para o futuro, uma vez que não se encaixam numa vida
profissional, caminho natural para a maioria das pessoas, o que Thompson
(2001) atribui à falta de informação disponível, isolamento de serviços, falta de
profissionais especializados e falta de serviços específicos para grupos
minoritários.
Os pais também pretendem um aumento de acesso a serviços na
comunidade, o que lhes permitiria criar um envolvimento diferente e uma
melhor relação com os seus descendentes. Nesta perspetiva, o desejo de
manter um papel permanente foi detetado como significativo na saúde e bem-
estar dos pais e foi relacionado com a sensibilidade dos pais em relação à
vulnerabilidade dos seus filhos, num estudo em que os autores Davys e Haigh,
(2008) realizaram entrevistas aos pais de pessoas com dificuldades de
aprendizagem.
Entende-se que os pais têm, assim, um papel preponderante na vida dos
seus filhos com deficiência, sendo que a preocupação com a sua própria saúde
é um aspeto a ter em conta, especialmente no que respeita à necessidade de
proteger o seu filho, que sem os seus cuidados, será deixado a um destino sem
boas perspetivas.
Com o aumento da esperança média de vida das pessoas, decorrente
da evolução investigacional e tecnológica, há um aumento de adultos, idosos e
crianças que vivem com deficiência, o que, afeta diretamente as suas vidas e
opções. Os seus direitos têm sido reconhecidos em convenções internacionais
e consagrados em constituições nacionais, mas a luta pelo respeito, inclusão e
igualdade no acesso a recursos está longe de terminar (Home, Carter, Scarth e
Warren, 2015).
Capítulo II - Revisão de Literatura
40
Pais de crianças com deficiência enfrentam múltiplos desafios. Apesar
de diferenças na cultura, diferenças socioeconómicas e situações ligadas às
diferentes deficiências, estes enfrentam pesadas exigências, elevados custos,
exclusão social e iniquidade na maioria das sociedades, uma vez que poucos
esforços são realizados para o progresso daqueles que possuem deficiência
(Green, 2007; Dowling e Dolan, 2001).
Segundo Davys e Haigh (2008), a insatisfação parental incorpora um
número de elementos que incluem insatisfação relativamente a prestadores de
serviços, a sensação de terem de lutar sempre para ter o que pretendem, falta
de confiança nos serviços, a sensação de que os próprios pais e os
prestadores de serviços têm ideias opostas e o sentimento de que os serviços
prestados não vão de encontro ao que estes pretendem e/ou que têm falta de
qualidade.
Os mesmos autores constatam que considerações financeiras acarretam
um conjunto de problemáticas, que incluem o facto de os pais terem de pagar
serviços que recebem, sendo que existe a preocupação entre o que os pais
sentem que é necessário e o que realmente podem sustentar. De facto,
Redmond e Richardson (2003) referem que cuidar de uma criança com
deficiência pode levar a um impacto negativo na situação financeira de uma
família. Podem existir custos financeiros de equipamento especializado,
transporte, roupas e elevados custos de lavandaria, mas em adição a isto, os
cuidados a ter com o filho podem afetar os pais (especialmente as mães que
comummente desempenham o papel principal, salvo exceções) na participação
de um emprego remunerado. A capacidade familiar de gerar receitas é,
portanto, reduzida numa situação onde existe uma necessidade financeira
maior.
Esta necessidade de deixar o emprego para cuidar do filho com
deficiência é de facto bastante preocupante, uma vez que se trata de menos
rendimento que a família obterá e, em proporção inversa, os custos com a
saúde e cuidados do seu filho com deficiência são bastante dispendiosos,
criando uma dificuldade extrema na gestão da vida familiar. Assim, deverá
existir um apoio extra para estas famílias, que mantém a sua responsabilidade
Capítulo II - Revisão de Literatura
41
de cuidar do seu filho com deficiência, apesar das dificuldades, mas que devem
ser beneficiadas de alguma forma, para que haja igualdade nas circunstâncias
de vida, relativamente à restante comunidade.
Todos os pais referem a importância da questão financeira em diferentes
contextos o que sugere que este é um assunto significativo e pode contribuir
para uma tensão constante entre os prestadores de serviços e os pais,
especialmente se estes últimos sentirem que estão a pagar serviços com os
quais não estão satisfeitos, tanto a nível da sua capacidade como de qualidade
(Davys e Haigh, 2008).
Pese embora o papel dos pais ser fundamental, muitas vezes existem
outras pessoas que ajudam na educação e desenvolvimento dos seus filhos
com deficiência.
Num estudo realizado por Whiting (2013), os pais identificaram um
conjunto de pessoas que consideram ser prestadores de ajuda e suporte. Isto
incluiu família e amigos, pessoas em serviços oficiais tais como os profissionais
de saúde que acompanhavam a pessoa com deficiência em emergências ou
consultas marcadas.
Em simultâneo, membros da família mais afastada foram igualmente
reconhecidos como um forte suporte. Contudo, isto varia e depende de certos
fatores tais como a deficiência específica da criança ou necessidade de saúde
e a distância entre as casas dos familiares e pessoas próximas. Neste grupo,
os avós foram destacados como um suporte particularmente forte, permitindo,
por exemplo, cuidados regulares planeados ou estar disponível como
substitutos em casos de emergência. Um leque de perspetivas foram, contudo,
oferecidas, incluindo muitas referências de como outros membros familiares
“não estavam totalmente confiantes” ou se sentiam “assustados” quanto a
tomar conta da pessoa com deficiência (Whiting, 2013). O mesmo autor refere
ainda que muitos pais descreveram as amizades como um importante apoio de
suporte psicológico.
No mesmo estudo, onde foram entrevistados vários pais de pessoas
com deficiência, os profissionais representados por um conjunto de disciplinas
Capítulo II - Revisão de Literatura
42
na área da saúde, educação e serviços sociais foram identificados pelos pais
como recursos de ajuda e suporte (Whiting, 2013).
O papel dos pais e avós é, então, visto como essencial na vida das
pessoas com deficiência, apesar de estas terem também uma certa autonomia
nas suas decisões, dependendo do seu nível de funcionalidade, mas não é
uma tarefa nada facilitada numa sociedade em que, se não fossem os pais, as
pessoas com deficiência estariam muito desamparadas, ou pelo menos, não
teriam as condições de vida, que através da sua família conseguem obter.
4.2 Importância dos pais na prática de atividade física dos filhos
com deficiência
Vários investigadores sugerem que os pais são importantes
determinantes nos níveis de AF dos seus filhos (Martin et al., 2007; Trost et al.,
2003).
A família é um dos mais importantes contextos para os adolescentes em
desenvolvimento. A dinâmica, as relações interdependentes e ações entre os
membros da família formam o comportamento, as normas e as atitudes
familiares (Bubolz, 2001), o que influencia, substancialmente, os resultados do
desenvolvimento (Sameroff e Fiese, 2000).
Segundo McManus, Mandic, Carle e Robert (2012), muitos estudos
destacam a importância de ambientes familiares positivos para promover a AF
em diversas populações jovens. Assim, o papel dos pais (Silva, Lott, Mota, e
Welk, 2014) e também dos professores (Standiford, 2013) foi estabelecido
como um grande fator de promoção de AF dos adolescentes. Na realidade, o
envolvimento dos pais na AF dos seus filhos tem um impacto direto nos níveis
de AF durante a infância e no futuro enquanto adultos (Thompson, Humbert, e
Mirwald, 2003). Isto é ainda reforçado pelo papel dos pais, entre outros, na
determinação de quais atividades as crianças podem fazer e a que recursos
têm acesso (Welk, Wood, e Morss, 2003) e os mesmos podem influenciar a
atividade das crianças de duas formas: sendo um modelo a seguir ou
constituindo um fator de motivação (Beets, Vogel, Chapman, Pitetti, e Cardinal,
Capítulo II - Revisão de Literatura
43
2007). De facto, alguns estudos afirmam que pais que são ativos têm maior
influência na AF dos filhos, nomeadamente na forte relação entre os níveis de
AF entre ambos, comparando com os pais que são sedentários (Welk, Wood, e
Morss, 2003). Na mesma linha de pensamento, pais que valorizam a AF
servem de modelos a seguir, transmitindo os seus bons hábitos aos filhos
(Anderssen et al., 2006). Martin e Choi (2009) reforçam esta ideia constatando
que os pais que gostam de ser fisicamente ativos, estão mais próximos de
tornar-se, efetivamente, ativos e a ser uma referência para os seus filhos.
Adicionalmente, pais que gostam de ser ativos também demonstram ser mais
encorajadores na participação dos seus filhos na AF e no desporto, comparado
com pais que muitas vezes demonstram menos gosto pela AF.
Num estudo mais recente, Olivares et al. (2015), mostram que o
encorajamento por parte dos pais determina ainda a quantidade de AF
praticada pelos seus filhos, quer esta seja suave, moderada ou vigorosa. Neste
contexto, as respostas afetivas parentais (por exemplo, desfrutar da AF)
também parecem influenciar os filhos na escolha da prática de AF, reforçando
a ideia de modelo a seguir (Martin e Choi, 2009).
No entanto, Wang e DePauw (1995) contrariam esta ideia, referindo que
a prática de AF por parte dos pais é menos determinante relativamente à
apreciação da AF e ao encorajamento prestado aos seus filhos. Assim, o
potencial do valor de modelo a seguir por parte da figura parental, no aspeto de
ser fisicamente ativo, poderá, segundo estes autores, ser limitado, tal como o
potencial de pais e filhos serem ativos juntos, no caso de os pais serem mais
sedentários do que ativos. A vontade dos pais em encorajar enquanto
permanecem de alguma forma inativos, é bastante comum. Um exemplo disso
mesmo, é o facto de, apesar de poucos pais participarem no desporto, muitos
ainda encorajam os seus filhos com deficiência a praticar AF (Wang e DePauw,
1995).
Adicionalmente, acredita-se que os pais que esperam dos seus filhos
sucesso numa determinada AF e que valorizam o sucesso nesse domínio,
estarão mais propícios a influenciar os seus filhos a integrar a AF (Bauman,
Sallis, Dwewaltowski, e Owen, 2002; Welk, 1999). Assim, verificamos que a
Capítulo II - Revisão de Literatura
44
forma como os pais percecionam a AF irá influenciar a forma como apoiam a
participação dos seus filhos nessas mesmas atividades físicas, ou não.
As preocupações dos pais com a saúde dos seus filhos influencia os
seus valores em relação à AF, incluindo usar a AF como uma estratégia para
prevenir que os seus filhos se tornarem pessoas com sobrepeso ou até mesmo
com obesidade (Ritchie, Welk, Styne, Gerstein, e Crawford, 2005).
As crianças estão, muitas vezes, dependentes dos adultos (na maioria
das vezes os seus pais ou outros familiares) para os encorajar, para lhes
proporcionar o transporte, para providenciar o encargo das despesas
associadas às atividades e facilitar o seu envolvimento na AF (Martin e Choi,
2009). Esta dependência dos adultos é ainda maior nas crianças com
deficiência, uma vez que estas muitas vezes não podem retirar vantagens de
situações informais para a prática de AF como as crianças sem deficiência
podem. Por exemplo, uma criança em cadeira de rodas não pode subir e
descer escadas para ir jogar Futebol no recreio, ao contrário das crianças sem
deficiência que conseguem ter momentos como esse com maior frequência.
Uma vez que as crianças com deficiência estão frequentemente dependentes
dos seus pais para a prática de AF, é particularmente importante entender as
perceções dos pais (Martin e Choi, 2009). Apesar de a maioria, ou a totalidade
dos estudos apenas focar estas necessidades nas crianças com deficiência, o
mesmo se pode extrapolar para pessoas adultas com deficiência, que sejam
ainda dependentes dos seus pais.
Segundo os mesmos autores, Martin e Choi (2009), a perceção parental
dos seus próprios comportamentos sociais (divertimento e encorajamento)
sugere que os pais apoiam a prática de AF e o envolvimento no desporto dos
seus filhos e acreditam que o seu filho deve ser fisicamente ativo, sendo que
acrescentam ainda que um feedback positivo por parte dos pais relativamente
à prática de AF dos filhos com deficiência, tem uma influência positiva nessa
mesma prática. Esta conclusão é positiva, uma vez que, frequentemente, os
pais são demasiado protetores em relação às crianças com deficiência.
Verifica-se, deste modo, a grande importância do papel dos pais na
influência positiva que podem ter sobre os seus filhos com deficiência, quer no
Capítulo II - Revisão de Literatura
45
que diga respeita ao apoio verbal, quer enquanto modelo a seguir. O seu papel
é ainda preponderante no apoio logístico e financeiro dessas mesmas
atividades, o que reforça a importância do conhecimento dos pais relativamente
à prática de AF.
É portanto, de extrema importância que os pais possam ter
conhecimento dos vários benefícios que a AF pode trazer aos seus filhos com
deficiência e verificar o impacto positivo que tem na vida dos mesmos.
Cabe agora às organizações e aos profissionais da área da AFA criar
boas expectativas e divulgar ao máximo o seu trabalho, não só aos pais e
familiares, mas a toda a comunidade e realizar o melhor trabalho possível para
que esta área seja cada vez mais promovida e alcance a importância que
merece na sociedade, mas principalmente, na vida das pessoas com
deficiência.
Capítulo III - Metodologia
Capítulo III - Metodologia
49
Metodologia
1. Grupo de estudo
O grupo de estudo foi constituído por 30 pais e avós de pessoas com
deficiência: 14, em que o filho ou neto é maior de idade e 16, em que o filho ou
neto é menor de idade. Procurou-se um equilíbrio no que respeita à presença
de pais ou avós com filhos ou netos menores ou maiores de idade. Esta
situação permitiu estudar perspetivas diferentes, uma vez que se encontravam
em fases distintas da vida, proporcionando, assim, testemunhos
complementares e novas ideias que enriqueceram o estudo.
A captação dos participantes foi facilitada pela relação de proximidade
de uma das autoras com o Sport Club do Porto. As organizações abordadas
foram o Pony Club do Porto e o Centro Integrado de Apoio à Deficiência
(CIAD), duas instituições em estreita ligação com o Sport Club do Porto. O
Pony Club, que é uma IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social),
possui as suas instalações dentro do Centro Hípico do Sport Club do Porto, o
que proporcionou a abordagem à organização. O CIAD pertence à Santa Casa
de Misericórdia do Porto, que possuí uma forte relação com o clube. Foi
realizada uma reunião inicial com ambas as instituições, sendo que no Pony
Club falamos com a Diretora, a qual concordou de imediato com a solicitação
feita para realizar o estudo. No caso do CIAD, após entrevista inicial com a
Psicóloga, responsável pelo centro de atividades ocupacionais (CAO) e
delegada por parte do Diretor para orientar a minha presença, solicitou o envio
da descrição do projeto de investigação e uma carta, que foi redigida com o
propósito de pedir autorização para efetuar o estudo. Em sede de reunião de
Direção foi aprovada a sua realização. A formalização de ambos os pedidos
encontra-se no Anexo I. O número de participantes de cada organização foi:
Capítulo III - Metodologia
50
Quadro 5 – Número de participantes por organização.
Organizações Pony Club CIAD SCPorto
Número de participantes 19 10 1
Total 30 - -
Foram, assim, entrevistadas 19 pessoas nas instalações do Pony Club,
10 pessoas nas instalações do CIAD e 1 nas instalações do Sport Club do
Porto.
1.1 Caracterização do grupo de estudo
O Quadro 6, 7, 8 e 9 caracterizam o grupo de estudo constituído por 30
participantes, pais e avós de crianças, jovens e adultos com deficiência,
designadamente 10 pais, 17 mães e 3 avós.
No mesmo Quadro é possível identificar ainda o género do filho ou neto,
a idade, o tipo de deficiência, a sua etiologia, se os entrevistados praticam ou
não AF, bem como as suas habilitações literárias e profissão.
Capítulo III - Metodologia
51
Quadro 6 – Caracterização do grupo de estudo (E1 a E6).
Nº entrevista
Género participante
Género do filho(a)
Grau de parentesco
Idade do
filho(a)
Tipo de deficiência
Etiologia da deficiência Habilitações literárias do participante
Profissão do participante
Responsável prática AF?
E1 Feminino Masculino Mãe 9 Hiperlaxidez/Des-
coordenação motora
Nascença 9º ano Doméstica/ Limpezas
Não
E2 Feminino Feminino Mãe 6 Síndrome de
Asperger Nascença Licenciada
Recursos Humanos
Sim
E3 Feminino Masculino Mãe 7 Síndrome de Huntchinson-
Gilford Nascença 12º ano
Assistente educativa
Não
E4 Masculino Feminino Pai 8
TOC – (Transtorno Obsessivo-
Compulsivo)
Nascença/ diagnosticado aos 6
anos Licenciado Contabilista Não
E5 Feminino Feminino Mãe 6 Paralisia Cerebral No período de gravidez Perinatal/diagnosticada
aos 9 meses Licenciada
Responsável de projeto
Não
E6 Masculino Masculino Pai 13 Trissomia 18 em mosaico/ Autismo
Nascença/Diagnosti-cado aos 7 anos
Bacharelado Oficial de
justiça Não
Capítulo III - Metodologia
52
Quadro 7– Caracterização do grupo de estudo (E7 a E15).
Nº entrevista
Género participante
Género do filho(a)
Grau de parentesco
Idade do
filho(a)
Tipo de deficiência
Etiologia da deficiência Habilitações literárias do participante
Profissão do participante
Responsável prática AF?
E7 Feminino Feminino Mãe 11 Síndrome de
Rett
Nascença/Diagnosticado
aos 14 meses Licenciada Comercial Sim
E8 Masculino Masculino Pai 7 Autismo Nascença/diagnosticado
1,5 ano
12º ano/iniciou
faculdade
Técnico de
computadores Não
E9 Feminino Feminino Mãe 24 Trissomia 21 Nascença Mestrado/Frequenta
doutoramento Professora Sim
E10 Masculino Masculino Pai 37 DI Nascença 4ª classe Reformado Não
E11 Masculino Masculino Pai 44 DI Desconhecida 3º ano escola
industrial Reformado Sim
E12 Feminino Feminino Mãe 26 Síndrome de
Rett Nascença 9º ano Doméstica Sim
E13 Feminino Masculino Avó 7 Paralisia
Cerebral 13 dias de vida 12º ano Cabeleireira Sim
E14 Feminino Feminino Mãe 13 DI Nascimento prematuro 12º ano/iniciou
faculdade Secretária Não
E15 Feminino Feminino Mãe 31 Trissomia 21 Nascença Curso de
secretariado Reformada Não
Capítulo III - Metodologia
53
Quadro 8 – Caracterização do grupo de estudo (E16 a E23).
Nº entrevista
Género participante
Género do filho(a)
Grau de parentesco
Idade do
filho(a)
Tipo de deficiência
Etiologia da deficiência Habilitações literárias do participante
Profissão do participante
Responsável prática AF?
E16 Feminino Masculino Mãe 24 Síndrome de
Asperger
Nascença/ diagnosticado aos
16 anos 12º ano Administrativa Sim
E17 Feminino Feminino Avó 7 Autismo Nascença/diagnosticado 1 ano Área de
informática Reformada Sim
E18 Feminino Masculino Mãe 16 DI Nascença/diagnosticado aos 7
anos
Cursos
Técnicos
Profissionais
Técnica de
fisioterapia Não
E19 Feminino Masculino Mãe 33 Síndrome de
Asperger Nascença Mestrado Psiquiatra Sim
E20 Feminino Feminino Mãe 38 Cegueira 1 mês de idade/meningite 4ª classe Reformada Sim
E21 Masculino Masculino Pai 37 DI Nascença/Parto 7º ano Reformado Não
E22 Masculino Masculino Pai 38 Deficiência
motora/visual
3
meses/meningite/diagnosticado
6 anos
Não estudou Ourivesaria Sim
E23 Feminino Masculino Mãe 35 DI Nascença/parto 4ª classe Doméstica Não
Capítulo III - Metodologia
54
Quadro 9 – Caracterização do grupo de estudo (E24 a E30).
Nº entrevista
Género participante
Género do filho(a)
Grau de parentesco
Idade do filho(a)
Tipo de deficiência
Etiologia da deficiência
Habilitações literárias do participante
Profissão do participante
Responsável prática AF?
E24 Masculino Masculino Pai 24 Paralisia
Cerebral 8 anos/acidente 9º ano
Funcionário
autárquico Não
E25 Feminino Feminino Avó 6 Paralisia
Cerebral
2 anos/
hemorragia
pulmonar
9º ano Reformada Não
E26 Masculino Feminino Pai 8 DI Detetado aos 3
anos Mestrado Urbanista Sim
E27 Feminino Masculino Mãe 10
Síndrome
de
Angleman
Nascença 12º ano Operadora de
caixa Não
E28 Feminino Masculino Mãe 8 Paralisia
Cerebral Nascença/Parto Licenciada Desempregada Não
E29 Masculino Feminino Pai 26 Síndrome
de Rett 1 ano
5º ano
antigo/Industrial Desempregado Sim
E30 Feminino Masculino Mãe 10 Cegueira Nascença Licenciada
Funcionária da
Câmara de
Matosinhos
Sim
Capítulo III - Metodologia
55
Verificamos que existe uma grande diversidade de deficiências no
presente estudo, designadamente: Autismo, Cegueira, Deficiência Intelectual,
Hiperlaxidez/Descoordenação Motora, Paralisia Cerebral, Síndrome de
Angleman, Síndrome de Asperger, Síndrome de Huntchinson-gilford, Síndrome
de Rett, Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e Trissomia 18 em Mosaico.
O mesmo se constata no tipo de etiologia da deficiência e ainda nas
habilitações literárias dos entrevistados. Para o efeito do presente estudo, esta
diversidade é positiva, uma vez que permite uma abordagem mais ampla, no
sentido de incluir diferentes aspetos e permitir a obtenção de diferentes
perspetivas sobre a temática em estudo.
Foi igualmente importante perceber se todos os filhos e netos praticam,
ou se já praticaram, AF, distribuindo-se o tipo de prática da seguinte forma:
Quadro 10 – AF praticada pelos filhos e netos.
AF Nº de praticantes
Atividades aquáticas 18
Atividades equestres 22
Aulas de EF 7
Voleibol 1
Ginástica de Manutenção 5
Boccia 1
Fitness 4
Atividades recreativas e de lazer 9
Basquetebol 3
Futebol 1
Ténis 2
Dança 2
Sessões de psicomotricidade 2
Orientação e mobilidade 1
Através do Quadro 10 verifica-se que existem filhos e netos que
praticam mais do que uma atividade, sendo que as atividades mais praticadas
são as atividades aquáticas, que incluem atividades como Hidroterapia e
Natação Adaptada. Também se destacaram as atividades equestres que
Capítulo III - Metodologia
56
incluíam Hipoterapia e Equitação Terapêutica. No que se refere às atividades
equestres, é natural que o número de praticantes seja elevado no presente
estudo, uma vez que grande parte das entrevistas decorreram no Pony Club,
IPSS que presta esse mesmo serviço. A AF identificada através de Atividades
de Recreação e Lazer, representa uma atividade que é realizada, não de uma
forma formal, correspondendo a atividades como Caminhadas, Jogos de
Futebol em família.
Capítulo III - Metodologia
57
2. Procedimentos e instrumentos de recolha
2.1 Recolha de dados
A escolha da metodologia a utilizar prendeu-se com o facto de o
presente estudo ser de um cariz social, com ênfase nas palavras e sentidos,
não na quantificação de dados, sendo que foi utilizado a metodologia
qualitativa (Bryman, 2008). A investigação qualitativa é descrita como sendo
flexível, interativa, natural e resulta em grandes descrições que refletem a
forma como a recolha de dados é realizada (Gibson e Brown, 2009).
Dentro desta abordagem foi selecionado o método de entrevista, uma
vez que se pretendeu analisar e aprofundar a opinião dos entrevistados, tendo
em conta as suas experiências pessoais e vivências. Segundo Gibson e Brown
(2009), o objetivo de métodos que envolvem a realização de questões diretas
aos participantes é o de criar discursos com foco analítico, que permitam a
exploração de determinados assuntos de investigação.
Neste estudo, o tipo de entrevista utilizada foi a semiestruturada ou
semidiretiva, que segundo Queirós e Lacerda (2013) é o tipo de entrevista mais
utilizado na investigação qualitativa.
O guião da entrevista do presente estudo é constituído por seis questões
de resposta aberta, e ainda por algumas questões fechadas com o intuito de
recolher dados para caracterização do grupo de estudo. No guião foram
questionados vários temas relativamente à participação na AF por parte dos
filhos e netos, nomeadamente: a importância da AF; o conhecimento da
realidade da AFA; as barreiras na participação de AF; e, por fim, que aspetos
consideram necessários numa organização de AFA.
A realização do guião de entrevista foi um processo que passou por
várias fases, sendo que a primeira fase foi a de uma pesquisa bibliográfica algo
extensa, com o intuito de esclarecer todos os pontos que se queria incluir no
presente estudo e se os mesmos se enquadravam nos objetivos finais. Numa
segunda fase, foi escrito o primeiro guião (presente em Anexo II), que foi
alterado e validado por um painel de peritos das áreas da Atividade Física
Capítulo III - Metodologia
58
Adaptada e Pedagogia do Desporto. Numa terceira fase foram realizadas 3
entrevistas piloto. Esta última etapa pretendeu certificar, tanto a
compreensibilidade e adequação das questões, tal como a qualidade da
informação recolhida, ou seja, verificar se dava resposta aos objetivos definidos
(Cunha et al., 2014). Após a realização das entrevistas piloto foram feitas
novas alterações ao guião e foi realizada um última entrevista piloto, que por se
tornar adequada aos objetivos do estudo, foi considerada entre as entrevistas a
analisar. Ficou assim concretizado o guião final de entrevista (Anexo III).
As entrevistas foram realizadas nas instalações do Pony Club e do
CIAD, respetivamente, na sua globalidade, em sítios calmos e silenciosos, para
que o ambiente ficasse favorável à realização da entrevista. Presidiu um
esquema prévio de entrevista: o guião de entrevista. No entanto, a ordem pela
qual os temas foram abordados foi livre e quando os entrevistados não
abordavam um tema, a entrevistadora voltava a propor esse tema, algo que
aconteceu diversas vezes aos longo das entrevistas do presente estudo.
Existe, nesta medida, um quadro de referência para os entrevistados se
guiarem e poderem limitar o seu discurso ao que o entrevistador questiona,
diminuindo, assim, a ambiguidade que existiria comparando com a entrevista
livre (Queirós e Lacerda, 2013). Contudo, a investigadora tentou enquadrar os
seus interesses, já previamente definidos com as restantes autoras, nos
tópicos que se desenrolam ao longo da entrevista, em vez de forçar os
entrevistados a enquadrar as suas ideias numa ordem específica das questões
pré-definidas (Gibson e Brown, 2009), o que permitiu o desenvolvimento de
uma maior naturalidade no discurso e na conversa que a entrevistadora quis
gerar. Para facilitar esse processo, Gibson e Brown (2009) referem que o
entrevistador poderá dar exemplos da sua própria vivência dentro dos temas
abordados, quebrando alguma barreira inicial relativamente ao tema proposto e
de certa forma conduzir o inquirido para uma determinada direção, que esteja
mais relacionada com os objetivos do investigador. Em variados casos, quando
os entrevistados não entendiam a questão, havia esta inclusão de exemplos
para facilitar o processo de resposta. No presente estudo verificou-se que estas
“dicas” ao inquirido foram muito importantes para chegar a temas, que de outra
Capítulo III - Metodologia
59
forma os entrevistados não teriam abordado. Segundo Gibson e Brown (2009),
os investigadores estão livres de incentivar os inquiridos para mais informação
em determinados assuntos, para os explorar de uma forma mais discursiva e
não tão estruturada, e ainda, explorar assuntos que possam surgir como novos
tópicos que não foram incluídos no guião inicial, algo que no presente estudo
aconteceu de uma forma bastante natural.
Houve alguns constrangimentos relativamente à disponibilidade horária
dos pais e avós, mas os profissionais tanto do Pony Club, como do CIAD,
prestaram uma grande ajuda nesse sentido, para que fosse possível realizar o
máximo número de entrevistas. Da parte do Pony Club, a seleção dos pais e
avós para o estudo foi feita por parte da Terapeuta e no CIAD, pela Psicóloga.
Esta situação foi muito importante, uma vez que estas profissionais conheciam
os entrevistados, escolhendo aqueles que estariam mais abertos e capazes de
participar no presente estudo.
A realização das entrevistas decorreu entre os meses de Fevereiro e
Abril de 2016. No presente estudo optamos pela modalidade de recolha de
dados áudio e gravação de entrevistas, com o gravador Olympus VN-731PC. A
duração das entrevistas oscilou entre os 4 e os 50 minutos de duração, sendo
que na sua média tiveram duração aproximada de 15 minutos. Todas as
entrevistas foram gravadas com o prévio consentimento dos participantes,
através da assinatura do termo de consentimento (Anexo IV). A utilização de
gravador permitiu um grande foco na entrevista realizada com o inquirido, o
que permitiu analisar da melhor forma a conversa que decorria, tornando o
ambiente o mais natural possível, como que numa troca de ideias
descontraída.
2.2 Procedimentos de análise das entrevistas
Foi utilizada uma análise temática indutiva (Bryman, 2008). O primeiro
passo neste processo de análise foi a transcrição. Segundo Gibson e Brown
(2009), a transcrição é uma forma de representação e deve ser considerada
Capítulo III - Metodologia
60
como tal. No seguimento dessa ideia, o processo de transcrição das entrevistas
realizadas não se limitou a escrever o que os pais e avós disseram ou fizeram,
envolveu também realizar interpretações analíticas acerca do que representar e
como o representar, e escolher apresentar ou focar determinados detalhes de
uma conversa, ação ou interação em vez de outros. Uma das preocupações
iniciais, foi o modo como a transcrição seria realizada, sendo que muitos
investigadores realizam transcrições literais do que foi gravado. No entanto, no
presente estudo fez-se uma abordagem diferente.
No presente estudo a transcrição realizada de uma forma não literal, foi
uma transcrição onde houve uma interpretação das palavras dos inquiridos e
foi completada com alguns excertos literais, com menção cronológica, de
momentos e frases que continham ideias importantes para o estudo (Gibson e
Brown, 2009).
Mais tarde no processo, foi realizada uma seleção do que seria relevante
para o estudo, pelo que foi utilizado uma tipologia de transcrição híbrida entre a
indexical e a unfocused. A transcrição indexical envolve produzir uma espécie
de índice com uma cronologia relativamente aos dados recolhidos, enquanto a
unfocused permite criar um registo do que aconteceu dentro de um
determinado discurso ou ação (Gibson e Brown, 2009).
A informação contida nas entrevistas foi submetida a uma análise de
conteúdo por recurso a procedimentos indutivos (Bryman, 2008) e de análise
de Glaser e Strauss (1967) e Strauss e Corbin (1990), percorrendo as três
fases de criação dos temas principais: open coding; axial coding e selective
coding. O processo de open coding, resultou na leitura, divisão, comparação,
conceptualização e categorização dos dados recolhidos. O axial coding,
segunda fase de definição dos temas, consistiu na associação entre os termos
que resultaram do open coding. Por fim, o selective coding foi o processo que
permitiu identificar os temas principais do estudo. Existiu assim um processo
evolutivo no reconhecimento dos temas a ser analisados no presente estudo.
Após leitura das transcrições, foram, inicialmente, identificados os conceitos
presentes nas entrevistas, depois agrupados, formando os subtemas e por fim
Capítulo III - Metodologia
61
surgiram os temas principais a ser analisados na apresentação e discussão
dos resultados.
Os temas que emergiram da análise acima descrita foram:
- Expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com deficiência
na prática de AF;
- Realidade sobre a participação de pessoas com deficiência na prática
de AF;
- Da realidade às expectativas futuras sobre a participação de pessoas
com deficiência na prática de AF.
Os dois primeiros subdividiram-se nos seguintes temas:
- Benefícios da prática de AF;
- Barreiras à prática de AF;
No tema das expectativas iniciais, é descrito aquilo que os pais e avós
acham que existe relativamente à prática de AF, benefícios que poderão surgir
através desta prática e barreiras que consideram que existem, mesmo não as
tendo experienciado. No tema da realidade, é descrito aquilo que os pais e
avós vivenciam através da participação dos seus filhos e netos, nomeadamente
as condições em que praticam e vivenciam estas atividades, os benefícios que
decorrem das atividades e ainda a barreiras que experienciam no dia a dia. No
terceiro e último tema, é descrito o que os pais e avós consideram que deveria
existir para a prática de AF por parte dos seus filhos e netos.
A evolução do processo de tematização indutiva dos dados é
demonstrada na figura 2:
Capítulo III - Metodologia
62
Figura 2 – A evolução do processo de tematização indutiva dos dados
Capítulo IV - Apresentação e Discussão dos Resultados
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
65
Apresentação e Discussão dos Resultados
No presente capítulo desenvolveremos os três grandes temas que
emergiram da análise dos dados recolhidos, em resposta aos objetivos
definidos para o presente estudo. Os temas que emergiram são os seguintes:
expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com deficiência na prática
de AF; realidade sobre a participação de pessoas com deficiência na prática de
AF; e, por fim, da realidade às expectativas futuras sobre a participação de
pessoas com deficiência na prática de AF. O primeiro tema a ser abordado
reporta-se às expectativas iniciais dos pais e avós, sendo os restantes
apresentados seguidamente e respeitando a ordem enunciada.
1. Expectativas iniciais sobre a participação de pessoas com
deficiência na prática de atividade física
Nas várias entrevistas, os pais e avós demonstraram ter uma
expectativa inicial relativamente à participação na AF, criada em virtude das
experiências vividas até então com os seus filhos e netos.
Inicialmente, os entrevistados referiram as expectativas que têm
relativamente aos benefícios que a prática de AF pode trazer aos seus filhos e
netos, assunto que desenvolveremos em seguida.
1.1 Benefícios da prática de atividade física
As expectativas iniciais reveladas pelos entrevistados variam entre
expectativas mais específicas e gerais. Em duas entrevistas, os pais referiram
que qualquer AF que os filhos pudessem praticar era muito bom para os
mesmos, não especificando quais os benefícios diretos, mas reforçando uma
importância global. No entanto, na maioria das entrevistas, foram discriminados
diversos benefícios, uns mais comuns e universais, outros atendendo às suas
experiências singulares. Os vários benefícios expectados pelos entrevistados,
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
66
decorrente da prática de AF dos seus filhos e netos, passaram pelos benefícios
psicológicos e fisiológicos.
Reportando-nos às entrevistas, a nível psicológico, um dos pais
considera e espera que através da AF e da interação com outras crianças, a
sua filha, que possuí um transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), possa ficar
mais calma, nomeadamente que a filha consiga: “no fundo que esta perca um
pouco da energia que tem” (excerto retirado da E4, p.1). Segundo Sharma et al.
(2006), que realizou um estudo com indivíduos com patologias na saúde
mental, a prática de AF ajuda a regular o sono, melhora o vigor e os níveis de
energia da pessoa. Apesar disso, com a prática de AF, o dispêndio de energia
realizado na atividade poderá catalisar toda a energia da criança para essa
atividade, no fundo o que o pai procura que aconteça com a sua filha. Em
variados estudos foram descritos os benefícios que a AF proporciona na
execução de tarefas por parte de crianças hiperativas, um dos sintomas do
TOC, alterando a estrutura do cérebro e a sua funcionalidade, particularmente
a região frontal do cérebro. Isto é de particular importância para crianças com
esta patologia, uma vez que a hiperatividade pressupõe um défice do lobo
frontal do cérebro, o que afeta as manifestações cognitivas e de
comportamento (Castellanos e Tannock, 2002; Durstin, 2003).
Ainda ao nível psicológico, é descrito por uma entrevistada que a AF é
muito importante para as pessoas com deficiência, que acabam por ver nesta
atividade: “uma fuga, no fundo, um escape” (excerto retirado da E18, p.1). Com
efeito, a AF é uma forma de libertar as nossas emoções e de escapar dos
deveres do dia a dia (Royal College of Psychiatrists, 2016).
As restantes expectativas mencionadas ao longo das entrevistas,
apontam para benefícios fisiológicos da prática de AF.
Nesse sentido, uma mãe referiu que já pensou em atividades que
poderiam ajudar a sua filha a ganhar força muscular, um aspecto que já é
desenvolvido pela Hipoterapia, mas que esta sente que poderia ser
complementado por mais alguma atividade. Já noutra entrevista, onde o filho
não participa em nenhuma AF formal, a mãe referiu:
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
67
“Seria importante o meu filho praticar AF, uma vez que ele não tem muita
mobilidade a nível físico, mesmo relativamente à sua postura.”
(Excerto retirado da entrevista E30, p. 2)
A falta de AF, como já referido, tem efeitos nefastos na nossa saúde e
os pais e avós não deixaram de manifestar essa preocupação. Aliás,
mostraram o seu receio relativamente a um possível retrocesso no estado de
saúde dos seus filhos e netos, por não praticarem AF. Um exemplo concreto
foi-nos apresentado por uma entrevistada, mãe de uma jovem adulta com
Síndrome de Rett, que demonstrou muita preocupação quando a filha teve de
abandonar a Hipoterapia, havendo hipótese de um retrocesso na sua condição
de saúde, que até ali tinha melhorado com a participação nessa atividade. No
entanto, não foi a única a revelar a sua expectativa relativamente ao impacto
que a falta de AF pode ter na vida do seu filho. De facto, numa outra entrevista,
um pai mencionou:
“A prática de AF é importante para todos, mas para crianças em
desenvolvimento é muito importante, uma vez que sem esta elas poderão sentir-se
menos capazes, o que também os poderá retrair na relação com os seus pares.”
(Excerto retirado da entrevista E8, p.2)
Em síntese, os benefícios referidos no contexto das expectativas iniciais
foram a maior calma e relaxamento, a libertação das emoções e do stress
diário, o desenvolvimento muscular, correção da postura, o receio de
retrocesso no estado de saúde e a diminuição de autoestima e de
relacionamento com os pares no caso de falta de AF.
No decorrer das entrevistas, as expectativas dos entrevistados não se
prenderam unicamente aos benefícios da prática de AF, mas também às suas
barreiras. Neste contexto, foram evidenciadas algumas barreiras à participação
na AF.
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
68
1.2 Barreiras à prática de atividade física
O presente subtema remete-nos para as expectativas que os pais e avós
têm relativamente às dificuldades para a prática de AF.
A primeira grande barreira prende-se com a própria expectativa dos
entrevistados relativamente às capacidades dos seus filhos e netos para
integrar determinado tipo de atividades. Este facto vai de encontro aos
resultados dos estudos de Martin (2009), em que o autor constatou que os pais
de crianças com deficiência eram demasiado protetores. Esta necessidade de
proteção extrema, também identificada no presente estudo, é reveladora da
preocupação que os pais e avós têm quanto à falta de capacidades dos seus
filhos e netos, o que poderá afetar a participação e integração positiva nas
atividades.
Esta situação foi descrita por vários entrevistados, nomeadamente por
uma das mães que referiu o facto de, à partida, a filha não ter tanta capacidade
física: “e, portanto, não encontrar o seu lugar” na AF (excerto retirado da E9,
p.2). Na mesma linha de ideias, na entrevista E10, o pai refere que tem medo
da reação do filho se este fosse para um clube e que, por isso, prefere não o
colocar. Mesmo na condição hipotética do seu filho poder ser acompanhado
pelos pais e por profissionais, o pai mantém a opinião de que o filho não tem
capacidade para integrar atividades desportivas, em contexto formal. Outros
exemplos surgem quando muitos entrevistados referem que as suas filhas
pedem para ir para a Dança ou Ballet, no entanto, estes não as colocam por
acharem que estas não seriam capazes de acompanhar as aulas. Um exemplo
concreto é retirado de uma entrevista, onde o pai relata a experiência que tem
da sua filha com deficiência intelectual:
“A minha filha pede para fazer várias atividades, chegou a pedir para ir para o
Ballet, no entanto, sei que tudo o que tenha uma enorme disciplina, não é possível
para ela. Eu acho que ela não ia aguentar.”
(Excerto retirado da entrevista E26, p.2)
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
69
Numa outra entrevista, a mãe refere que muitas vezes não é a atividade
em si que a filha não consegue executar, mas sim a logística que envolve
praticar AF. Com efeito, “apesar dela ser bastante autónoma, necessita de
ajuda para se vestir, um problema que numa atividade como o Karaté seria
facilitado por ser um equipamento largo, mas noto que precisa de apoio de
alguém para essa situação” (excerto retirado da E5, p.1).
No caso da entrevista E21, surgiu uma expectativa distinta, onde o pai
sente que o filho, por ter demasiada capacidade física, não deve praticar AF na
instituição. Este entrevistado refere que como as pessoas da instituição têm
deficiências profundas, a aula de ginástica de manutenção que proporcionam
na instituição acaba por ser uma aula sem grandes esforços, achando que não
é benéfico para o seu filho.
Para além da preocupação quanto à falta de capacidade dos seus filhos
e netos na participação na prática de AF, os entrevistados salientaram a falta
de capacidade demonstrada pelas próprias organizações para prestar um
serviço adequado às suas necessidades. Uma das entrevistadas relata que
muita da dificuldade na integração da sua filha, que possui Trissomia 21, ocorre
pela falta de preparação das pessoas para receber a filha, dizendo que têm
medo e por isso preferem nem ter de lidar com a situação.
Nesse contexto, esta falta de preparação é relatada por outro
entrevistado que queria colocar o filho numa equipa de Basquetebol ou Futsal,
mas não consegue porque diz que os clubes não estão preparados. Continua
por dizer que não estão vocacionados para as pessoas com deficiência:
“muitas vezes não estão preparados para lidar com gente dita normal, quanto
mais pessoas com deficiência” (excerto retirado da E24, p.4). O pai ainda
acrescenta que o filho, antes de ter o acidente, era atleta de Judo e que está
sempre a pedir para voltar, mas o pai tenta protegê-lo dessa situação porque
sabe que eles não estão preparados para o receber e o seu filho iria ficar
desiludido. Mesmo quando se tratam de atividades direcionadas para pessoas
com deficiência, existem diferenças entre as várias deficiências e, muitas
vezes, aquelas que se encontram em cadeira de rodas acabam por não ter as
mesmas oportunidades que os outros, precisamente pela falta de condições
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
70
proporcionadas nos locais de prática. Este exemplo é referido pela seguinte
entrevistada:
“Se eles são todos iguais, têm de ter as mesmas oportunidades. A minha filha,
por ter cadeira de rodas, não tem as mesmas oportunidades! Eles estão tão limitados
naquilo que podem fazer, tão limitados, que pelo menos aquilo que podem, deveriam
ter acesso”.
(Excerto retirado da entrevista E12, p.3)
Através destes vários exemplos, fica patente uma preocupação comum
quanto à integração dos filhos e netos nas organizações e nas atividades de
caráter desportivo, por considerarem que estas não estão preparadas para os
receber da melhor forma. Esta apreensão é reveladora da falta de confiança
dos entrevistados nalguns serviços prestados na AFA. Este sentimento poderá
ser ainda agravado pelo facto de muitas vezes haver falta de conhecimento da
realidade relativamente à oferta existente.
A este respeito, um dos entrevistados refere: “não é fácil encontrar locais
adaptados, uma vez que o meu filho poderá ter reações como começar aos
berros, que é algo que as pessoas não compreendem e não é fácil gerir essa
situação. Se calhar existem locais onde poderíamos ir com ele, mas ficam
longe“ (excerto retirado da E8, p.3).
Adicionalmente, alguns entrevistados revelaram ainda falta de
conhecimento relativamente à AF. Uma das entrevistadas refere que,
iinfelizmente, o seu filho não pratica muita AF, realçando que a marcha do filho
não está muito desenvolvida, pelo menos como poderia estar, precisamente
pela falta dessa vertente na sua vida. Neste contexto, salienta: “eu também
nunca encontrei ninguém para me dizer qual era o desporto ideal para o meu
filho. Será que é a Natação, para ter postura? Será que seria o Hipismo?”
(excerto retirado da E30, p.1), acrescentando que o próprio médico nunca
referiu que seria bom para o seu filho praticar um desporto.
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
71
As expectativas iniciais relativas às barreiras para a prática de AF devem
ser conhecidas pelas organizações para causarem impacto nos seus serviços,
tentando ir de encontro às expectativas positivas dos pais e avós.
Em síntese, as barreiras referidas foram a falta de capacidade dos
próprios filhos e netos, a falta de capacidade por parte das organizações e a
falta de conhecimento por parte dos pais e avós.
2. Realidade da participação de pessoas com deficiência na
atividade física
No presente estudo, todos os entrevistados referem que existe pelo
menos uma AF praticada pelo seu filho ou neto, mesmo que esta atividade não
tenha um caráter formal, facto já mencionado, mas que importa relembrar antes
de prosseguirmos com análise e discussão do tema realidade.
Relativamente às atividades desportivas informais, alguns entrevistados
assumem incentivar a sua prática, querendo colmatar a falta de mobilidade dos
seus filhos ou netos. Neste contexto, enquadram-se as atividades recreativas e
de lazer, praticadas em conjunto com a família, como relatado na entrevista
E30, em que a mãe expressa que desporto, concretamente, o seu filho não faz.
No entanto, realiza uma caminhada, pelo menos uma vez por semana, em
conjunto com a sua família. Um exemplo semelhante é apresentado a partir do
seguinte excerto: “Nós também tentamos em casa puxar um bocadinho por ele
e na rua” (excerto retirado da E8, p.1). Estes relatos vão ao encontro do estudo
de Modell, Rider e Menchetti (1997), onde os autores afirmam que mais de
metade da AF praticada por crianças com deficiência é praticada em contexto
familiar.
Neste contexto, verifica-se que o papel da família é fundamental na
participação das pessoas com deficiência, como é também descrito por Beets
et al. (2007), que refere a importância da motivação que os pais proporcionam
para os seus filhos praticarem AF. Porém, na questão do papel de modelo
parental como exemplo a seguir, no presente estudo, verificou-se que 14
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
72
entrevistados são ativos e praticam AF e 16 não praticam. Isto sugere que a
ideia de modelo não é tão significativa no nosso estudo, como descrito por
Wang e DePauw (1995) no seu estudo realizado com atletas com deficiência.
Porém, outros autores reforçam os resultados obtidos no nosso estudo,
referindo que as crenças dos pais podem ser, só por si, suficientes para alterar
os níveis de AF dos seus filhos, sem terem de mudar o seu próprio
comportamento (Pitchford, Siebert, Hamm e Joonkoo, 2016). Os autores
acrescentam ainda que, no caso específico da deficiência, podem existir
maiores dificuldades na mudança de hábitos, pelo facto de terem uma pessoa
com deficiência à sua responsabilidade.
Nesta medida, muitos dos entrevistados não deixaram de referir que a
prática de AF é igualmente importante para a sua própria saúde. Em duas
entrevistas é referido que a prática de AF é fundamental, considerando muito
importante que seja praticada por todos. Numa das entrevistas está presente o
seguinte excerto: “Acho importante para toda a gente, eu sou a primeira a
praticar desporto porque acho que é essencial para a minha saúde” (excerto
retirado da E9, p.1).
Apesar de duas entrevistadas terem expressado que consideram a
prática de AF como algo que tem um papel fundamental na vida de todos, a
maioria realça a importância que tem na vida dos seus filhos e netos, em
particular. Em quase todas as entrevistas, participação na AF é realizada de
forma regular em atividades desenvolvidas nos contextos das associações,
IPSS’s ou clubes.
Segundo Anderson e Heyne (2010) a AF tem maior importância das
pessoas com deficiência. Muitos entrevistados referiram que para estas
pessoas a prática de AF tinha um impacto maior. Na primeira entrevista a mãe
refere que a prática de AF é importante para todas as crianças, no entanto,
para o seu filho, é ainda mais devido à sua condição.
Ao longo das entrevistas, ficou patente a elevada importância que os
entrevistados atribuem à prática de AF nesta população. Neste sentido, talvez
o conhecimento das perspetivas parentais sobre os benefícios provenientes da
AF nos possa ajudar a explicar as razões pelas quais as pessoas com
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
73
deficiência são ativas ou inativas (Pitchford, Siebert, Hamm e Joonkoo, 2016).
Neste sentido, parece-nos fundamental que os familiares próximos de pessoas
com deficiência sejam detentores de uma forte crença na importância da AF, o
que irá ter um impacto positivo na sua participação.
2.1 Benefícios da prática de atividade física
O conhecimento dos benefícios da prática de AF, que os pais e avós
percecionam através da prática dos filhos e netos, influenciará os próprios a
criar maiores oportunidades para a prática. Neste contexto, a investigação que
permite conhecer as várias vantagens da AF, permitirá aos profissionais
fundamentar a importância da AF e sustentar as suas recomendações
(Johnson, 2009).
No decorrer das entrevistas foram referidos vários benefícios
decorrentes da prática de AF. A sua diversidade e o número elevado de
referências a este assunto sustentam a importância que estes assumem para
os entrevistados. Estes benefícios manifestam-se a nível social, psicológico e
fisiológico.
Os benefícios sociais que provêm da AF são de grande importância,
uma vez que a interação das pessoas com deficiência com os seus pares é
algo que, muitas vezes, é um obstáculo. Com efeito, uma das entrevistadas
refere que o seu filho acaba por ser excluído das atividades com os colegas por
não ter as mesmas capacidades, o que o deixa muito em baixo. Utilizando as
palavras da mãe: “quase que é bullying” (excerto retirado da E1, p.3). Este tipo
de acontecimento afeta a vida social das pessoas com deficiência. Neste
contexto, a visibilidade de uma deficiência ou a perceção de falta de
capacidade aumenta, claramente, a distância social e compromete a inclusão
das pessoas com deficiência.
A este respeito, encontramos ainda opiniões contrárias, destacando que
através da AF, é possível interagir de uma forma natural e estabelecer laços
com todos os que estão envolvidos na atividade, quer seja com os seus
colegas, com os seus professores, ou outros indivíduos que estejam presentes
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
74
nessas atividades. Quando existe um contacto mais próximo com pessoas com
deficiência que permite a partilha de momentos de maior familiaridade e
experiências de vida, as atitudes negativas, o estigma e a distância social
parecem ser diminuídas (Mitchell et al., 1993; Grayson e Marini, 1996). Assim,
alguns pais e avós referem que a AF tem um impacto positivo na vida social
dos seus filhos e netos, sendo capazes de influenciar o meio social próximo,
como é referido por uma avó entrevistada. Esta considera a AF importante em
várias vertentes, não só porque permite ao seu neto contactar com outras
pessoas, bem como interagir com outros contextos, mas também usufruir de
espaços sociais diferentes. Numa outra entrevista, uma mãe refere que o seu
filho, quando vai às provas de Natação, se sente sempre motivado a alcançar o
primeiro lugar, sendo o incentivo dos colegas de equipa o grande fator
motivacional neste caso.
Nesta perspetiva, foram vários os entrevistados que destacaram o
aspeto relacional com os pares como muito importante:
“Além de em termos físicos e motores ser importante, também é sobre o ponto
de vista de integração e interação com os outros.”
(Excerto retirado da E26, p.1)
Em síntese, ao longo das entrevistas foram referidos diversos benefícios
sociais experienciados pelos filhos e netos, tais como a interação com os
outros, vivências em diferentes contextos sociais, motivação proporcionada
pelo apoio dos pares e integração promovida pela prática de AF.
O aspeto social da AF cria uma dinâmica na vida da pessoa que lhe
permite melhorar aspetos da vida, nomeadamente o seu estado psicológico.
Do ponto de vista psicológico, a AF pode ter um impacto positivo na
forma como os indivíduos sentem o seu corpo, ajudá-los a combater os
estigmas da sociedade comummente vividos pelas pessoas com deficiência,
elevar os seus sentimentos positivos e melhorar os níveis de confiança (Blinde
e McClung, 1997; Giacobbi et al., 2006; Pensgaard e Sorensen, 2002; Taub,
Blinde e Greer, 1999). Neste sentido, um dos entrevistados, pai de um jovem
adulto com Paralisia Cerebral, realçou a importância da prática de AF no ganho
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
75
de confiança por parte do filho, ajudando-o a ultrapassar o acidente que
vivenciou. O mesmo pai referiu: “suponho que foi fundamental, não só na parte
física, mas também na parte mental. O bem-estar proporcionado nas diferentes
atividades que desenvolveu. Conseguiu grandes vitórias e foi importante que
ele conseguisse ultrapassar limites, que tinha, se calhar, como assumidos que
não conseguia!” (excerto retirado da E24, p.2). Ainda na mesma entrevista, o
pai acrescenta que a AF é muito importante para o desenvolvimento cognitivo.
A ideia de ter o seu filho parado, não aceita: “parado não, parado não quero”
(excerto retirado da E24, p.2). Callaghan (2004) reforça esta ideia, referindo
que a AF pode melhorar a autoestima, como mencionado por uma mãe que
verificou esse aumento na sua filha, assim que esta começou a praticar AF.
Segundo Callaghan (2004), num estudo na área da saúde mental, a
prática de AF melhora o desenvolvimento cognitivo. Estes resultados foram de
encontro ao nosso estudo, sendo que alguns dos entrevistados referiram este
benefício. De acordo com uma mãe, a sua filha aprendeu a terminar as suas
tarefas, ou se possível, realizar duas tarefas seguidas: “se forem coisas mais
apelativas, ela consegue fazer melhor do que se forem coisas abstratas”
(excerto retirado da E14, p.1). Tomemos ainda como exemplos deste facto os
excertos que se seguem:
“A nível do desenvolvimento dele, a nível muscular, a nível de concentração, as
práticas desportivas exigem bastante dele, que é o que ele precisa.”
(Excerto retirado da E3, p.1)
“Notamos que ela está mais atenta, por se insistir muito com ela. São crianças
que precisam muito de rotinas e de repetir várias vezes as coisas para conseguir
assimilar”
(Excerto retirado da E7, p.1)
Por fim, Callaghan (2004) defende que a prática de AF ajuda a diminuir
estados de ansiedade, depressão e estados de humor negativos. No caso das
pessoas com deficiência, ajuda-as a ganhar maiores níveis de confiança e a
sentirem-se felizes. De facto, num estudo de Martin et al. (2009), os pais
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
76
referem dar o seu apoio na prática de AF aos filhos com deficiência, uma vez
que verificaram que estes são felizes durante essa prática. Este facto foi
descrito em várias entrevistas, nomeadamente por um pai que retratou a
felicidade do filho, afirmando que este gosta bastante da prática de Hipoterapia,
uma vez que consegue executar o que lhe é solicitado: “não é demasiado difícil
e, por isso, sente-se bem e costuma estar muito animado nas aulas” (excerto
retirado da E8, p.1). O pai concluiu ainda referindo que a AF influencia o estado
de ânimo e ajuda no descanso à noite. Outro exemplo surge numa entrevista
onde a mãe considera que é muito importante para a filha praticar AF pelo
equilíbrio e bem-estar que consegue atingir na sua vida.
Em suma, foram referidos pelos entrevistados diversos benefícios
psicológicos, experienciados pelos filhos e netos, tais como a melhoria do bem-
estar geral, o aumento da autoestima, a melhoria do desenvolvimento
cognitivo, melhoria de confiança, e felicidade experienciada através da prática
de AF.
Por fim, surgem os benefícios fisiológicos que, talvez por serem os que
têm maior impacto e visibilidade, foram frequentemente relatados pelos
entrevistados.
As consequências na saúde de indivíduos com deficiência que não
praticam AF incluem a diminuição da capacidade de locomoção e consequente
diminuição de independência (Nosek, et al., 2006; Goodwin, et al., 2004;
Durstine, et al., 2000; McDonald, 2002; Draheim, 2006; Sutherland et al., 2002).
Ao mesmo tempo, é consensual que as pessoas inativas têm maior risco de
doença cardiovascular, diabetes do tipo 2, elevada tensão arterial, obesidade e
osteoperose (Draheim, 2006; Sutherland et al., 2002). A este respeito, uma das
entrevistadas, que é profissional de medicina, refere: “Eu acho que o desporto
é importante para todas as pessoas, tanto a nível cerebral como a nível
cardiovascular. É a única forma de aumentar as HDL do colesterol e as
endorfinas, que faz libertar os neurotransmissores cerebrais” (excerto retirado
da E19, p.1), enaltecendo a relevância da AF na prevenção de doenças e na
melhoria do bem estar geral da pessoa.
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
77
As pessoas com deficiência têm ainda tendência para desenvolver
doenças secundárias, onde se incluem a osteoperose, osteoartrites, diminuição
do equilíbrio, da força, da resistência, da flexibilidade e o aumento da tendência
para a obesidade (Craham e Reid, 2000; Rimmer, 1999). A este respeito, outro
entrevistado refere que para a sua filha é muito importante a prática de AF,
uma vez que esta tem necessidade de desenvolver os mecanismos
responsáveis pelo equilíbrio, melhorando, efetivamente, esta capacidade
motora.
Muitos dos entrevistados referem ainda que verificaram melhorias
significativas ao nível da postura dos seus filhos, como consequência do
reforço muscular alcançado através da prática de AF. Nas várias entrevistas,
os pais e avós referiram isso como resultado da Hipoterapia. Numa entrevista,
a mãe conta que o filho tem um problema na coluna, que lhe dificulta a marcha
e a realização de determinados movimentos. Com a Hipoterapia, essas
dificuldades foram ultrapassadas com o auxílio do movimento do cavalo e que
refletiram-se na melhoria postural do seu filho. Ainda referente à Hipoterapia,
uma avó de uma menina com Paralisia Cerebral referiu: “ela melhorou bastante
a postura” (excerto retirado da E25, p.1). Resultados semelhantes foram
encontrados por Bertoti (1988) em que o autor demonstrou, através do estudo
da postura de 27 crianças com Paralisia Cerebral, a importância de um
programa de Hipoterapia, concluindo que esta atividade ajuda na melhoria
postural.
No entanto, para além da Hipoterapia, também foram referidas outras
atividades pelos pais e avós como sendo benéficas, na realidade vivida pelos
seus filhos e netos. Por exemplo, uma mãe mencionou que os médicos com
especialidade em ortopedia e fisiatria referiram que era muito importante para o
filho praticar AF, no sentido de melhorar a sua postura, uma vez que ele não
tinha massa muscular. Com a hiperlaxidez que possui, os médicos
recomendaram a Natação, uma vez que o iria ajudar a relaxar e ao mesmo
tempo a desenvolver a sua coordenação motora. O mesmo foi reforçado por
outra das mães entrevistadas, nomeadamente uma mãe que considera que é
muito importante o seu filho praticar Natação e Ginástica, uma vez que
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
78
promove o máximo de movimento: “tudo é mexido” (excerto retirado da E15,
p.1).
O reforço muscular foi também referido em duas entrevistas, onde as
entrevistadas consideram que a AF muito importante para o desenvolver da
massa muscular dos seus filhos.
Os pais e avós também referiram que a prática de AF teve efeito direto
na melhoria de determinadas patologias que os seus filhos e netos possuíam, o
que revela, de forma evidente, os benefícios fisiológicos da AF. A este respeito,
surgiram nas entrevistas vários exemplos, nomeadamente em dois casos de
escoliose e num caso de falta de mobilidade no tendão de Aquiles. Nestes
casos, os participantes descreveram o impacto positivo da AF.
Outra patologia comummente associada à deficiência é a obesidade,
nomeadamente por falta de AF. Com efeito, condições crónicas e secundárias
associadas à obesidade nas pessoas jovens com deficiência podem limitar a
sua independência e as oportunidades para participar em atividades da
comunidade, nomeadamente na prática de AF (Simeonsson, McMillen e
Huntington, 2002). Esta patologia é igualmente referida por alguns pais e avós.
Utilizando as palavras de uma das entrevistadas: “a ele só faz bem, para
queimar isto tudo” (excerto retirado da E1, p.1), apontando para a barriga e
sugerindo que o filho tem excesso de peso.
A adolescência é um período fulcral do desenvolvimento educacional
dos jovens com deficiência e para os seus educadores. Em conjunto devem
possuir controlo sobre os vários aspetos que determinam o seu peso e,
consequentemente, reduzir o risco de obesidade e todas as condições
associadas a isso (Rimmer, Rowland e Yamaki, 2007), uma vez que a
obesidade em crianças e adolescentes com deficiência, é um problema sério
com muitas consequências ao nível de saúde e a nível social, que na maioria
dos casos, continuam até à vida adulta (Foxhall, 2006). Esta situação foi
realçada por alguns entrevistados, sendo que no caso de uma entrevistada, a
mesma demonstra preocupação com o peso do filho, valorizando a prática de
AF no combate a essa situação.
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
79
Deste modo, dos benefícios fisiológicos referidos pelos pais e avós
destacamos a melhoria de postura, a melhoria do equilíbrio, o desenvolvimento
músculo-esquelético e o controlo de determinadas patologias, nomeadamente
a obesidade.
Os benefícios percecionados pelos entrevistados, foram um aspeto
bastante abordado, atendendo à sua elevada relevância.
Apesar do reconhecimento de todos os entrevistados de que a AF
promove diversos benefícios, os baixos níveis de participação de pessoas com
deficiência na prática de AF são preocupantes. Atendendo a esse aspeto,
muitos investigadores procuram identificar as barreiras para a prática de AF
(Martin, 2013).
2.2 Barreiras à prática de atividade física
No presente estudo, as barreiras à prática de AF descritas pelos
entrevistados foram elencadas em número elevado, o que denota a importância
atribuída a este tema.
Segundo Martin (2013) existem barreiras que são percecionadas por
todos, como por exemplo a falta de tempo para a prática de AF. No entanto,
existem barreiras que são específicas e que afetam apenas as pessoas com
deficiência.
Neste contexto, as barreiras pessoais foram as mais referidas pelos pais
e avós, mostrando que muitas vezes o que limita as pessoas com deficiência a
participar na AF são as suas próprias características. O mesmo aconteceu no
estudo de Gardner et al. (2007), onde os participantes, neste caso os próprios
indivíduos com deficiência, indicaram a sua deficiência e os sintomas
associados à mesma como a principal barreira à prática de AF.
Este facto foi também visível no nosso estudo, quando duas
entrevistadas referiram que as filhas não conseguem fazer muitos dos
exercícios, alegando que a sua deficiência não lhes permite aprender e
executar alguns gestos que para outras pessoas parecem básicos, mas para
as suas filhas são um obstáculo. Em concreto, uma das mães refere que a sua
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
80
filha faz muito pouca coisa devido à Síndrome de Rett. Ela caminha bem, mas
tem falta de mobilidade e alguns problemas ao nível de equilíbrio, o que cria
algumas restrições na prática de AF. Acrescenta ainda que a filha não tem
autonomia para se sentar sozinha e que necessita sempre de auxílio para se
sentar e levantar. Ao mesmo tempo, numa outra entrevista, uma mãe refere
que a prática de AF é: “muito complicada porque ele não é autónomo” (excerto
retirado da E23, p.2), destacando a questão da dependência como impeditivo à
prática.
Para além das barreiras pessoais a nível motor, existem ainda barreiras
a nível social e psicológico que afetam a participação na prática de AF, como
se pode verificar nos dois excertos que se seguem:
“Ele tem algumas dificuldades e como se apercebe disso, não se sente muito à
vontade”.
(Excerto retirado da entrevista E8, p.1)
“Em primeiro lugar o meu filho tem tendência para se isolar e isso nós tentamos
que ele não faça. Além de ter a maneira de ser de um Asperger, também tem a
personalidade dele”.
(Excerto retirado da entrevista E16, p.2)
Muitas vezes o que também impede a participação das pessoas com
deficiência na AF é o medo de se magoarem, ou os próprios pais terem esse
mesmo receio (Scholl et al., 2003). Numa entrevista, uma mãe realça isso
mesmo, dizendo que o seu filho tem alguns medos: “tem receio de dar o
primeiro passo” (excerto retirado da E30, p.2). Relativamente ao medo sentido
pelos pais, este ficou patente no excerto da seguinte entrevistada: “ele não
controla o correr, não consegue jogar Futebol e eu tenho muito medo pela
segurança dele” (excerto retirado da E1, p.2).
Depois da referência às barreiras relativas à própria deficiência, os
entrevistados salientaram outra barreira pessoal, a falta de tempo, o que vai de
encontro ao estudo de Zhu (2001) onde o autor a destaca como a segunda
maior barreira à prática de AF. A maioria dos filhos e netos que fazem parte
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
81
deste estudo estão na escola ou frequentam uma instituição, tendo um horário
bastante preenchido, um facto que dificulta a participação na AF. A este
respeito, uma mãe refere que a filha passa o dia todo na instituição, não
restando grande tempo para essas atividades. O mesmo se passa com a
primeira entrevistada que refere: “os médicos ralham comigo”, porque “ele
durante o dia não pára um segundo” (excerto retirado da E1, p.1), alegando
que o filho também deve ter tempo para brincar. Com efeito, vários pais e avós
referiram esta falta de tempo como uma barreira à prática de AF. Numa das
entrevistas, um pai diz que a sua filha já tem um horário muito preenchido e
considera que a filha também tem de ter tempo para fazer os trabalhos de
casa. O mesmo acrescenta que esta já faz AF na escola e que isso basta.
Muitos pais consideram mesmo esta como uma das maiores barreiras à AF,
como referido no seguinte excerto:
“A maior barreira são mesmo os horários. As atividades de Natação e
Hipoterapia são todas realizadas ao sábado por falta de disponibilidade durante a
semana.”
(Excerto retirado da entrevista E3, p.1)
Esta falta de tempo nas pessoas com deficiência é ainda mais agravada
por estas terem várias sessões de terapia e fisioterapia, como é referido pela
seguinte entrevistada: “atualmente o que está a limitar mesmo é o tempo. Não
quero sobrecarregar a minha filha. Ela tem um horário que inclui todas as
terapias em que participa e não há como retirar alguma coisa do seu horário.
Tudo é muito necessário. Para além de tudo isso, ela também tem de ter tempo
para brincar” (excerto retirado da E5, p.2).
Em síntese, as barreiras pessoais referidas pelos pais e avós no
presente estudo foram a própria deficiência que impede o filho ou neto de
realizar determinados movimentos exigidos na prática, devido a problemas
cognitivos ou motores. Outra barreira foi o medo, tanto do próprio praticante,
como dos pais e avós que temem pela segurança dos filhos e netos. Por fim, a
barreira da falta de tempo foi igualmente salientada por diversos participantes.
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
82
No presente estudo as barreiras sociais foram igualmente referidas,
embora em menor número. Na literatura, num estudo realizado com 145
crianças com deficiência motora, estas viam o preconceito de terceiros como
uma grande barreira à AF (Kang et al., 2007). Este preconceito e falta de
compreensão da sociedade foi também referido por alguns dos nossos
entrevistados, como é o caso de uma entrevistada que explica que a nível
emocional o seu filho se magoa muito com os comentários dos pares, o que a
preocupa bastante. Outro pai chega mesmo a referir que a sociedade não dá
valor a estas pessoas que, na sua opinião, têm muito para oferecer: “quando
estas pessoas fazem um espetáculo de dança, ninguém vai ver, só os pais”
(excerto retirado da E22, p.3). Ainda no mesmo contexto, um pai dá a sua
opinião quanto à falta de aceitação social: “as pessoas não aceitam, as
pessoas rejeitam, as pessoas põem de parte e hoje em dia muitos deles
acabam por ficar desprezados, sentem-se ultrapassados, sentem-se postos de
parte e a revolta deles é muito grande” (excerto retirado da E24, p.4). Segue-se
outro exemplo ilustrativo, através do seguinte excerto:
“Mesmo que o meu filho fosse melhor do que os colegas, porque o era, havia
sempre o estigma relativamente ao facto de ter deficiência, sendo que era agravado
em contexto de competição. A barreira não é o desporto, são as barreiras que estão à
volta do desporto”.
(Excerto retirado da entrevista E15, p.3)
Para além desta falta de compreensão da sociedade, a própria
deficiência muitas vezes não permite que seja possível a interação com os
outros, tornando muito complicada a participação, por exemplo em desportos
coletivos. Tal como referiu uma das entrevistadas, sempre foi complicado
integrar a sua filha num desporto de equipa, onde na sua opinião: “se poderia
juntar o útil ao agradável” (excerto retirado da E9, p.1), uma vez que ela
necessita também de uma atividade onde esteja integrada e interaja com os
pares. “Acho que, infelizmente, não é fácil e que se deveria reforçar muito,
mesmo a nível de crianças e jovens” (excerto retirado da E9, p.2). Continua por
dizer que a sua filha começou na Natação muito cedo e “só porque não fazia
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
83
tudo igual aos outros, pronto, ficava sempre para trás” (excerto retirado da E9,
p.2).
Sob o ponto de vista social, a falta de amigos é também vista como uma
barreira (Lieberman et al., 2006; Levinson e Reid, 1991), o que acaba por ser
uma consequência da falta de capacidade de comunicação e de
relacionamento com os pares. A título de exemplo apresentamos o excerto de
uma entrevistada cuja filha tem Síndrome de Asperger: “esse é mesmo um dos
problemas dela, ela não tem problema nenhum a nível intelectual, pelo
contrário, é muito inteligente, agora a nível de interação é muito complicado”
(excerto retirado da E2, p.2). O mesmo é verificado no excerto seguinte:
“A minha filha tem dificuldades em trabalhar em grupo, em obedecer a regras,
mas se se insistir com ela, ela faz as coisas.”
(Excerto retirado da entrevista E4, p.2)
Ainda do ponto e vista social, foram apresentadas duas perspetivas
diferentes relativamente à falta de independência da pessoa com deficiência.
Por um lado, foi demonstrada a necessidade que os filhos e netos têm na
presença constante dos seus pais ou avós, o que muitas vezes os impede de
participar adequadamente nas atividades. Um exemplo concreto, está presente
numa entrevista onde o pai refere que o seu filho tem uma enorme
dependência do pai: “para onde eu for, ele vai” (excerto retirado da E22, p.3).
Continua por dizer que mesmo que insista para o filho ir sozinho, o mesmo não
aceita: “se não vais, eu também não vou” (excerto retirado da E22, p.3). Numa
segunda perspetiva, ocorre a exagerada proteção dos pais em relação aos
seus filhos, o que pode suprimir determinados comportamentos durante a
infância, que depois terão repercussões na sua vida adulta. Esta excessiva
proteção pode implicar, igualmente, a diminuição de oportunidades na
participação na AF (Steele et al., 1996), uma situação comum a vários
entrevistados:
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
84
“O nosso filho não sai de casa sozinho, mas ele também foi habituado assim.
Refere que têm de estar com o filho para o proteger, uma vez que o filho não tem
capacidades para andar sozinho.”
(Excerto retirado da entrevista E10, p.2)
Estas duas perspetivas, apesar de antagónicas, acabam por se
influenciar mutuamente e de forma negativa. É necessário um certo cuidado
para equilibrar a ajuda aos filhos, com a independência dos mesmos.
Em síntese, as barreiras sociais descritas pelos pais e avós são a falta
de compreensão da sociedade e dos seus pares, a falta de capacidade de
comunicação e relacionamento dos filhos e netos, a elevada dependência dos
filhos e netos e o excesso de pais e avós.
Prosseguimos com a análise das barreiras ambientais. Neste caso, as
pessoas com deficiência são impedidas de praticar AF por razões “materiais”,
isto é, pela falta de condições e de acesso às atividades. Apesar de muitas
vezes as instalações poderem estar disponíveis para pessoas com deficiência,
frequentemente não estão bem localizadas (Tsai e Fung, 2005) ou são
inacessíveis (Rimmer, 2005). A localização foi, de facto, uma barreira muito
mencionada pelos entrevistados. Nesse contexto uma mãe refere: “moro em
Gaia e vir para o Porto acaba por ser mais complicado” (excerto retirado da
E20, p.1). No entanto, temos exemplos de entrevistados que sentem que
apesar de isto ser uma barreira, acabam por conseguir ultrapassá-la, como é
descrito na entrevista E3, onde a mãe refere que ser longe é uma barreira, uma
vez que acarreta fazer várias viagens para levar o filho às atividades, mas fá-lo
de qualquer forma.
Outro obstáculo que se impõe e que também foi referido pelos
entrevistados, é a falta de meios de transporte. Este aspeto é referido por
diversos entrevistados. Como refere um dos entrevistados: “o meu filho está
completamente dependente de mim para se deslocar para qualquer lugar”
(excerto retirado da E21, p.2). Outro testemunho surge de uma mãe que nos
relatou que o filho com DI, perdeu a capacidade de andar em transportes
públicos, começando a perder-se e necessita que a mãe o vá buscar à
instituição. A situação piora, uma vez que o seu filho não entende os sinais de
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
85
trânsito e não compreende o risco de atravessar a rua. Por todos estes motivos
a mãe considera que o filho não tem capacidade para fazer atividades fora da
instituição: “se fosse há uns anos atrás, talvez, agora é impossível” (excerto
retirado da E23, p.2). Esta questão de algumas pessoas com deficiência não
entenderem os sinais de trânsito foi referido por mais entrevistados, o que
limita a capacidade de se deslocarem de forma autónoma, sem que corram
perigo. Na mesma linha de ideias, Martin e Choi (2009) referem que os filhos
estão muitas vezes dependentes dos seus pais para o transporte, como se
espelha nos seguintes excertos:
“As deslocações que são necessárias e o transporte são barreiras, uma vez
que está sempre dependente da família para isso.”
(Excerto retirado da entrevista E13, p.2)
“O melhor são atividades que sejam na zona de residência, uma vez que o
facto de ser longe e o trânsito são duas barreiras.”
(Excerto retirado da entrevista E14, p.2)
O tema da acessibilidade também foi referido por vários entrevistados,
mas ao contrário do que se poderia esperar, não foi apenas mencionado por
aqueles que lidam com baixa mobilidade.
Neste contexto, um caso específico é realçado por uma mãe refere que
uma enorme barreira é o facto de os locais não estarem adaptados para
receber pessoas com deficiência, como para o caso da sua filha que é Cega.
Já numa entrevista onde a participante é mãe de uma jovem adulta que se
desloca em cadeira de rodas, sugere que as pessoas que utilizam cadeira de
rodas geralmente são as mais prejudicadas, ou porque não há transporte, ou
por outras situações, como a falta de acessibilidade, considerando injusto
essas pessoas não terem as mesmas oportunidades que aqueles que são mais
autónomos.
No contexto das acessibilidades, a grande maioria das pessoas com
deficiência consideram que locais como os parques, ginásios, piscinas e locais
para praticar desporto são ambientes não acessíveis (Bullock e Mahon, 1995;
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
86
Cardinal e Spaziani, 2003; Figoni et al., 1998). A título de exemplo, uma das
entrevistadas refere que encontra um problema comum em todas as piscinas, a
falta de acessibilidade para pessoas com deficiência: “as rampas não existem,
que são coisas que podem ser construídas logo de raiz. Já chateia falar nas
barreiras arquitetónicas, porque já são tantos anos” (excerto retirado da E12,
p.3). No entanto, para além das barreiras arquitetónicas, existem também outro
tipo de barreiras ambientais que prejudicam a participação de pessoas com
deficiência na AF, como é referido no seguinte excerto:
“Basta existir um ambiente diferente, com um pouco de música mais alta, ou
muitas pessoas, que o meu filho já fica mais tenso e quer encontrar um local mais
calmo. Qualquer coisa serve para ele se distrair, para ficar nervoso, ou ficar tenso.”
(Excerto retirado da entrevista E8, p.3)
Face ao referido, as principais barreiras ambientais referidas pelos pais
e avós foram a distância dos locais de prática, a falta de transporte, falta de
acessibilidades dos locais e os contextos ambientais desfavoráveis.
Por fim, o último tipo de barreira e que é a segunda mais referida no
presente estudo, logo a seguir às barreiras pessoais, são organizacionais.
As barreiras organizacionais, ao contrário das ambientais, não apontam
a falta de acessibilidade e adequabilidade dos locais, mas sim a falta de
existência desses mesmos locais, entre outras situações. No estudo de Martin
e Smith (2002), onde os autores estudaram pessoas com deficiência que
praticam Atletismo e Natação, concluiu-se que há pouca oferta de locais onde
se possa praticar AFA.
No presente estudo, ao longo de todas as entrevistas, foi questionado
aos entrevistados se estes conheciam locais onde os filhos pudessem praticar
AF, para além daqueles onde os filhos já praticam, mais especificamente na
cidade do Porto. As respostas foram variadas. Verificou-se que, no total das 30
entrevistas, 7 entrevistados referiram que era fácil encontrar locais onde os
seus filhos e netos pudessem praticar AF, 18 disseram que era difícil encontrar
esses locais e 5 responderam que não tinham qualquer conhecimento de
causa, preferindo não responder à questão.
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
87
Entre os entrevistados que responderam que era fácil encontrar locais
onde os filhos pudessem praticar AF, muitos alegaram que as novas
tecnologias ajudam e facilitam o acesso à informação, como é exemplo uma
entrevistada, avó de um menino com Paralisia Cerebral que, apesar de não ser
da cidade do Porto considera fácil encontrar tudo, uma vez que: “hoje em dia
vê-se tudo pelo facebook e pela internet” (excerto retirado da E13, p.1). Os pais
consideram a internet uma fonte de informação útil, que lhes permite serem
independentes na procura de informação e na opção que tomam, para além de
que muitas vezes estas iniciativas não são divulgadas por outros meios
(Maddison e Beresford, 2011).
Na questão da facilidade de encontrar locais para os filhos e netos
praticarem AF, uma entrevistada referiu que os pais que têm filhos com algum
tipo de deficiência acabam por falar uns com os outros: “é o passa palavra!”
(excerto retirado da E28, p.1). Com efeito, outros estudos também salientam o
facto de grupos de pais de pessoas com deficiência oferecerem, com
frequência, suporte emocional, oportunidades para transmitir os seus
conhecimentos, tornarem-se mais confiantes, serem uma fonte de partilha de
informação e ainda indentificar o sentimento de pertença (Law et al., 2001;
Singh et al., 1997).
No entanto, a grande maioria dos entrevistados alegaram que não
tinham conhecimento de outros locais onde os filhos e netos pudessem praticar
AF, sendo difícil encontrar esses mesmos locais, o que vai de encontro ao
estudo de Martin (2013) em que o autor salienta o desconhecimento como uma
das principais barreiras à prática de AF, nesta área. Este aspeto é
repetidamente mencionado nas entrevistas, nomeadamente por uma mãe que
refere: “noto uma lacuna na existência de atividades desportivas para pessoas
como a minha filha” (excerto retirado da E5, p.1). Para além da falta de locais,
pais e avós também se referiram à falta de divulgação como um obstáculo.
Esta situação é igualmente descrita na literatura. No estudo de Levins,
Redenbach e Dyck (1991), realizado com 8 adultos com lesão medular, o grupo
de estudo referiu que não têm acesso a qualquer tipo de fonte ou informação
relativamente à prática de AF. Esta falta de divulgação e de conhecimento foi
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
88
reforçada pela mãe de uma menina com Síndrome de Rett: “é difícil encontrar
locais adaptados a este tipo de crianças, com atividades próprias para eles. Há
muita falta de divulgação nesse aspeto” (excerto retirado da E7, p.3). Uma
realidade descrita por outro pai: “não conheço nenhum local e nada é
divulgado” (excerto retirado da E29, p.1). Um dos pais menciona ainda que
esta dificuldade apenas existe para quem tem filhos com deficiência,
salientando: “Se ele não fosse deficiente, mas como o meu filho tem
deficiência, não é nada fácil” (excerto retirado da E22, p.2).
“Há uma ignorância natural em nós todos, em que o nosso mundinho não
corresponde ao mundo, mas de todos os esforços que fiz para encontrar as melhores
soluções para a minha filha, há muito pouco e não é fácil encontrar locais para ela.”
(Excerto retirado da entrevista E26, p.2)
Por fim, alguns entrevistados referiram que não tinham conhecimento de
qualquer prática, mas por não estarem dentro do assunto. Aqui geram-se duas
interpretações possíveis. Parece-nos que, possivelmente, os pais e avós não
tiveram de se preocupar porque filhos e netos naturalmente iniciaram a sua AF,
nomeadamente através da escola ou na instituição. Outra interpretação pode
ser o facto de os entrevistados mostrarem não ter qualquer intenção de colocar
os filhos e netos neste tipo de atividades, o que poderá ser uma enorme
barreira. Neste caso, serão os pais e avós em que os seus filhos apenas
praticam AF graças à escola ou instituição que promove essa atividade.
Relativamente ao conhecimento de outras organizações, um pai referiu:
“não estou muito por dentro dessa situação” (excerto retirado da E4, p.1). A
este respeito podemos observar outros exemplos, como numa entrevista onde
se falou da existência de clubes com desporto adaptado, mas a mãe
respondeu: “não sei, não estou a ver, não conheço” (excerto retirado da E23,
p.3).
“Não conheço nenhuns locais, mas que isso é natural, uma vez que a vida do
filho se restringe à instituição e à casa.”
(Excerto retirado da entrevista E10, p.2)
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
89
As barreiras organizacionais estendem-se ainda aos profissionais que
desempenham funções na área, um aspeto muito referido no presente estudo.
Na literatura, num estudo realizado com crianças com deficiência, a má
prestação de serviços foi verificada nos profissionais pelas próprias crianças,
uma vez que os profissionais não entendiam as suas necessidades ou
capacidades (Kramer et al., 2012). Os mesmos autores referem ainda que as
crianças com deficiência ficam muito frustradas quando os profissionais
superestimam ou subestimam as suas capacidades. O mesmo se verificou no
nosso estudo, em que uma das entrevistadas referiu: “saindo da escola com o
ensino especial, nós cá fora não temos nada de desportos, de atividades
extracurriculares que possam ser adaptadas a estas crianças por professores
que tenham formação. Não temos, posso-lhe dizer que eu corri tudo, tudo. Há
falta de professores especializados para lidar com pessoas como o meu filho”
(excerto retirado da E18, p.2).
Uma outra situação que ocorre a nível do papel dos profissionais,
quando lidam com pessoas com deficiências não visíveis, como a DI, estas
pessoas manifestam comportamentos inesperados e que não são, na maioria
das vezes, compreensíveis. Estes comportamentos levam à interpretação dos
profissionais como uma desobediência ou má educação prestada pelos pais
(Kingston, 2007). Com respeito a este facto, uma das mães entrevistadas
referiu que as organizações não estão preparadas para lidar com pessoas que
tenham o problema do filho, Sídrome de Asperger. Como nestas organizações,
na maioria dos casos, existe uma grande diversidade de deficiências, muitas
vezes não conseguem compreender a reação de todos os utentes. Por este
motivo, a mãe afirmou: “muitas vezes não têm formação para entender este
tipo de comportamento” (excerto retirado da E19, p.2).
Esta falta de conhecimento na área é igualmente encontrada nas
escolas, onde os pais e os próprios professores de EF referem a falta de
preparação para as barreiras encontradas no ensino de alunos com NEE
(Lieberman et al., 2003). Este aspeto foi também mencionado por uma das
entrevistadas, destacando que o próprio professor de EF na escola tem alguma
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
90
dificuldade em entender o que a filha pode ou não fazer, mas que, com o
tempo, acabou por se adaptar. No entanto, sente que no início há sempre
receio por parte dos professores, fazendo questões do que podem ou não
fazer: “às vezes fazem perguntas um bocado ridículas, vão muito a medo”
(excerto retirado da E5, p.2). Num outro exemplo, uma entrevistada explica que
os profissionais do centro Hípico em que inicialmente colocou a filha,
desconheciam por completo a sua Síndrome.
“A dificuldade que a minha filha tem é que se quem está a dinamizar a
atividade, um instrutor ou técnico, não percebe que ela tem de ter um
acompanhamento diferente, ela acaba por se desinteressar da atividade.”
(Excerto retirado da entrevista E26, p.2)
Esta falta de preparação chega também às escola, sendo que uma mãe
contou que na escola não existe nenhuma atividade adaptada para pessoas
como o seu filho Cego, nomeadamente a nível da EE. A mãe dá o exemplo de
que na escola alguns professores e auxiliares colocam os meninos Cegos num
banco durante os intervalos para que não haja qualquer acidente, o que a mãe
considera inaceitável: “é inconsebível passarem a hora do recreio sentados
num banquinho de pedra” (excerto retirado da E30, p.1).
Por fim, a barreira mais citada pelos pais e avós, foi o aspeto financeiro.
Neste ponto, importa referir que se notou alguma diferença entre as realidades
dos entrevistados no Pony Club e no CIAD. No entanto, mesmo pais e avós
que escolheram um serviço privado para os seus filhos e netos demonstraram
preocupação relativamente à questão monetária, o que muitas vezes os
impedia de colocarem os filhos e netos em mais atividades, ou com mais
frequência durante a semana. Esta visão é descrita igualmente por Scholl, et al.
(2003), que afirmam que os pais podem restringir a participação dos seus filhos
na AF por dificuldades financeira. Com efeito: “essencialmente a nível
financeiro pode existir uma enorme barreira” (excerto retirado da E7, p.2). A
grande maioria dos entrevistados referem que é muito complicado a nível
financeiro, uma vez que pelas características dos seus filhos e netos, estes têm
de ter uma atenção especial e os serviços particulares são sempre muito mais
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
91
dispendiosos, o que sem ajudas é muito mais complicado. Na mesma linha de
pensamento, é possível enumerar vários excertos: “a primeira barreira,
geralmente é monetária” (excerto retirado da E12, p.2). Esta mãe ainda salienta
que os únicos benefícios que conseguem retirar é ao nível fiscal e de IRS, mas
que de resto não existem ajudas nenhumas, sendo tudo a nível particular.
Continua por dizer que as instituições não estão muito recetivas a fazer um
esforço pelos seus utentes, considerando que fazem apenas o necessário e
essencial, por ser mais cómodo e prático. Por essa razão, sentiu necessidade
de procurar soluções fora da instituição: Não é fácil estar a canalizar tudo para
essas atividades” (excerto retirado da entrevista E12, p.2).
“A questão financeira é logo realçada, uma vez que para o meu filho com
deficiência é muito mais complicado, uma vez que envolve toda uma logística bastante
diferente, nomeadamente ao nível de recursos humanos.”
(Excerto retirado da entrevista E27, p.1)
Habitualmente, a questão financeira é uma prioridade das organizações,
perdendo, muitas vezes, o foco de prestar um serviço para poder colmatar uma
lacuna que exista na sociedade e tentar fazê-lo da melhor forma possível, não
focando apenas no lucro financeiro, mas na qualidade do serviço. Um dos pais
entrevistados expressa essa mesma situação, referindo que o nível financeiro
necessário, muitas vezes, é muito elevado relativamente ao que é a oferta.
Atualmente, muitas atividades não sobrevivem porque os pais não têm
possibilidades e as próprias instituições sem fins lucrativos, acabam por se
focar no lucro. As organizações poderiam fazer muito mais e por isso é que o
pai considera que o privado faz bem, mas leva o justo valor daquilo que é um
bom serviço prestado. Deve haver uma boa gestão entre a oferta e a procura:
“as organizações, eu não sei se mesmo quando falam de responsabilidade
social e esses slogans todos que as empresas muitas vezes gostam de fazer,
eu acho que é mais para se venderem, do que propriamente ajudar, com as
devidas exceções naturalmente” (excerto retirado da E26, p.3). Para este pai, a
responsabilidade social deveria surgir naturalmente e não ser publicitada: “eu
acho que as organizações têm de ter um caráter mais humano, é a sensação
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
92
que eu tenho” (excerto retirado da E26, p.3). Dentro da mesma linha de
pensamento, uma entrevistada também sublinha esta ideia e considera que o
papel das instituições seria o de proporcionarem aquilo que os pais não podem
proporcionar, mas na realidade isso não acontece: “a maior parte dos miúdos
não tem acesso às coisas” (excerto retirado da E12, p.4).
Face ao enunciado, no presente estudo as barreiras organizacionais
expressas incluem a falta de oferta desportiva, falta de divulgação dos locais
existentes, a presença de profissionais sem experiência na área e, por fim, a
barreira mais citada, as dificuldades financeiras.
3. Da realidade às expectativas futuras sobre a participação de
pessoas com deficiência na prática de atividade física
No presente estudo, a perspetiva dos pais e avós relativamente aos
benefícios e às barreiras existentes na prática de AF, levam-nos às questões
da melhoria da realidade da AFA, na tentativa de responder às expectativas
futuras dos participantes. Urge, portanto, entender quais os aspectos
valorizados por pais e avós de pessoas com deficiência numa organização
desportiva, uma vez que os familiares se constituem como elemento facilitador
da participação na AF.
Para melhor compreender este assunto, os entrevistados fizeram
referência à forma como percecionam as organizações que conhecem e que
são frequentadas pelos seus filhos e netos, referindo-se aos aspectos positivos
e negativos de cada uma delas.
Nesta medida, a presença de profissionais especializados foi um dos
fatores que mais influenciou a escolha da instituição ou clube em que
integraram filhos e netos. Neste sentido, os profissionais da AFA podem ter um
papel fundamental na promoção da participação de pessoas com deficiência
em todas as áreas da AF. Estes profissionais têm prática e conhecimentos em
desportos adaptados, em atividades recreativas e programas de AF que
permitirão a estas pessoas obter experiências desportivas enriquecedoras e
positivas (Rimmer et al., 2008). Este facto ficou bem patente na primeira
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
93
entrevista realizada, em que a mãe refere que quando soube que no Pony Club
existiam profissionais da área achou o local ideal. Outro testemunho foi dado
por outra mãe que chegou mesmo a comparar instituições, dando o exemplo
de que no Pony Club todos os trabalhadores são profissionais com cursos na
área, comparando com a antiga escola de Hipismo que a filha frequentou e
onde demorou mais tempo a evoluir. Outros entrevistados referiram isso
mesmo:
“A presença das professoras e dos terapeutas é muito importante. Sempre que
eles estão, o meu filho faz as coisas. Ele sente aquele apoio.”
(Excerto retirado da entrevista E10, p.2)
”Sou conhecedor da realidade desportiva e que, por exemplo, no complexo
desportivo onde trabalho, não existem profissionais com formação nem dirigentes
capazes de entender as necessidades de pessoas com deficiência. Os profissionais
especializados são muito importantes e têm de estar vocacionados, tal como os
dirigentes dos clubes, mas ainda estamos muito longe disso.”
(Excerto retirado da entrevista E24, p.4)
Segundo Shields et al. (2012) outras razões que os pais demonstraram
que seriam importantes foram: a proximidade ao local, referido também no
nosso estudo por uma avó que explicou como o Pony Club é muito perto de
sua casa foi: “juntar o útil ao agradável” (excerto retirado da E25, p.1); o custo,
expresso por um entrevistado, em que os preços razoáveis foram um aspeto
que o levou a escolher o Pony Club, e por fim, melhores oportunidades na
usufruição de serviços específicos, como representado no seguinte excerto:
“No Futebol Club do Porto existe outra estrutura completamente diferente da
instituição. Existe uma preparação no próprio treino, com aquecimento e os treinos são
puxados.”
(Excerto retirado da entrevista E21, p.1)
A importância de conhecer as barreiras colocadas na prática de AF em
pessoas com deficiência é também de extrema importância para outro tipo de
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
94
organizações, nomeadamente aquelas que detêm poder de decisão a nível
social, como o governo, as câmaras municipais, as juntas de freguesia, as
escolas, os seus profissionais e todos aqueles envolvidos nestas atividades.
Importa que se possam eliminar, de uma forma definitiva, todos estas barreiras.
Mesmo sabendo que não será fácil e que o desafio é audacioso, convém não
esquecer que poderá mudar a vida de muita gente.
Por fim, descritas as entrevistas e a visão dos pais e avós, relativas às
suas perspetivas na participação de pessoas com deficiência na prática de AF,
realça-se a importância dos familiares na participação dos filhos e netos na
prática de AF.
Nesse contexto, os investigadores sugerem que os pais são um fator
determinante nos níveis de AF dos seus filhos (Matin et al., 2007; Trost, et al.,
2003). A grande maioria dos entrevistados referiram esta importância do papel
familiar na participação dos filhos e netos nas atividades. Uma das entrevistas
refere: “temos de ser nós, pais, no entanto, há pais que têm mais capacidade,
outros menos, uns mais cansados, porque isto é muito desgastante” (excerto
retirado da E12, p.2). A mesma continua por dizer que são muitos anos para ter
de lidar com uma situação muito complicada, considerando que existem
sempre altos e baixos: “um passo à frente e dois atrás. Acaba por recair o
esforço todo sobre os pais” (excerto retirado da E12, p.2), mas “temos de ser
nós pais, a lutar, a lutar, com o pouquinho que temos, porque não temos nada”
(excerto retirado da E18, p.3).
“Isto é a realidade de quem anda neste mundo, eu não sou milionário, eu
trabalho. Eu e a minha mulher trabalhamos para o dia a dia, o dinheiro não chega para
tudo. Prefiro abdicar das minhas férias para que o meu filho possa usufruir de
atividades diferentes.”
(Excerto retirado da entrevista E24, p.3)
Os familiares de pessoas com deficiência encaram múltiplos desafios.
Apesar das diferenças culturais, socioeconómicas e diferentes deficiências,
todos eles enfrentam elevadas exigências, elevados custos, exclusão social e
falta de igualdade na maioria dos setores da sociedade, quando o
Capítulo IV - Apresentação e discussão dos resultados
95
desenvolvimento da pessoa difere da norma (Green, 2007; Dowling e Dolan,
2001).
Com tudo isto em mente, é nosso dever, enquanto membros comum de
uma sociedade que deve ser justa e inclusiva, compreender os aspetos a
melhorar e realizar todos os esforço necessários para reverter, positivamente,
esta tendência.
Capítulo V - Conclusões e sugestões
Capítulo V - Conclusões e sugestões
99
Conclusões e sugestões
1. Conclusões
A presença da AF na vida das pessoas com deficiência é, cada vez
mais, assumida como algo vital e necessário, não apenas pela importância que
tem na saúde dos indivíduos, mas também para a sua qualidade de vida em
geral.
É, assim, fundamental dar resposta à necessidade de criar condições
para que todas as pessoas com deficiência, independentemente das suas
limitações e capacidades, possam, de alguma forma, participar nessa prática e
retirar todos os benefícios que dela advêm.
A prática de AF deve começar desde muito cedo na vida e, por isso, os
pais ou outros familiares, devem influenciar e potenciar a participação
desportiva, numa fase em que as próprias crianças ainda não terão idade para
definir aquilo que gostariam de fazer. São, assim, os pais ou outros familiares
os primeiros a decidir que tipo de AF os filhos praticam, ou se estes praticam
de todo.
Nesta perspetiva, foi intenção do presente estudo conhecer a perspetiva
que os pais e avós têm acerca da participação dos seus filhos e netos com
deficiência na prática de AF. Para isso, importou estudar vários aspetos que
estão descritos nos objetivos do presente estudo.
Inicialmente, pretendemos entender qual a importância que os pais e
avós dão à prática de AF, sendo que os mesmos revelaram ser conhecedores
de vários benefícios. Nas entrevistas foram referidos benefícios sociais,
psicológicos e fisiológicos. Nos benefícios sociais destacaram-se a interação
com os outros, as vivências em diferentes contextos sociais, a motivação
proporcionada pelo apoio dos pares e a integração promovida pela prática de
AF. Já nos benefícios psicológicos destacaram-se a melhoria do bem-estar
geral, o aumento da autoestima, a melhoria do desenvolvimento cognitivo,
melhoria de confiança e a felicidade experienciada através da prática de AF.
Por fim, nos benefícios fisiológicos realçamos melhorias alcançadas ao nível da
Capítulo V - Conclusões e sugestões
100
postura, do equilíbrio, o desenvolvimento do músculo-esquelético e o controlo
de determinadas patologias, nomeadamente a obesidade.
O conhecimento dos vários benefícios decorrentes da prática de AF, é
um fator de elevada importância na escolha dos pais e avós para a prática de
AF por parte dos seus filhos e netos. Foi, por isso, muito importante entender
se os pais e avós conheciam esta realidade, ou não.
O segundo objetivo específico do presente estudo passou por
compreender a perspetiva dos pais e avós acerca dos aspetos que dificultam a
participação dos seus filhos e netos na prática de AF. Isto porque o
conhecimento destas dificuldades ajudam-nos a entender o porquê de muitas
vezes, apesar de todos os benefícios decorrentes da prática de AF, muitas
pessoas com deficiência não praticam AF. Na verdade, embora no presente
estudo todos os participantes tenham relatado que os seus filhos e netos
praticam atividade física, todos os entrevistados apontaram barreiras à prática
de AF. Estas barreiras dividem-se em barreiras pessoais, sociais, ambientais e
organizacionais. As barreiras pessoais descritas foram a própria deficiência que
impede o filho ou neto de realizar determinados movimentos exigidos na prática
de AF, o medo, tanto do próprio praticante, como dos pais e avós que temem
pela segurança dos filhos e netos e por fim, a mais referida, a falta de tempo.
As barreiras sociais incluem a falta de compreensão da sociedade e dos seus
pares, a falta de capacidade de comunicação e relacionamento dos filhos e
netos, a elevada dependência dos familiares e o excesso de proteção que
surge por parte dos pais e avós. Nas barreiras ambientais destaca-se a
distância dos locais de prática, a escassez de transportes, falta de
acessibilidade dos locais e os contextos ambientais desfavoráveis. Por fim, nas
barreiras organizacionais os entrevistados destacaram a pouca oferta de
organizações que prestam serviços de atividade física, falta de divulgação das
existentes, a presença de profissionais sem experiência na área e, por fim, a
barreira mais citada, as dificuldades financeiras.
Depois da abordagem a todos estes aspetos, importava perceber o que
os pais e avós consideram essencial numa organização que promova a prática
de AF. A respeito deste assunto, foram referidos pelos pais e avós os seguintes
Capítulo V - Conclusões e sugestões
101
aspetos a ter em conta: a existência de profissionais especializados, a
proximidade da localização da organização, um custo acessível e melhores
oportunidades proporcionadas, ao nível de serviço, aos seus filhos e netos.
Por fim, dando resposta ao último objetivo do presente estudo, no qual
se pretendeu apresentar sugestões de melhoria dos serviços prestados na área
da AFA, partindo das perspetivas de pais e avós, através dos relatos recolhidos
destacamos os seguintes aspetos a considerar: as organizações devem ter em
atenção a presença de profissionais especializados; devem garantir uma maior
oferta desportiva e a um custo mais acessível; os serviços oferecidos devem
garantir a segurança do aluno e, se possível, serem desenvolvidos em
ambientes inclusivos; importa assegurar o transporte dos praticantes; garantir
acessibilidades e condições favoráveis à prática de AF; e ter em linha de conta
a sua área geográfica de intervenção, na tentativa de dar resposta às
necessidades do maior número de pessoas com deficiência possível.
2. Sugestões
O presente estudo permitiu a abordagem de um tema que poderá
melhorar, significativamente, a realidade da AFA. Mas para isso é necessário
um trabalho conjunto e um esforço para ir de encontro às necessidades
encontradas. A realidade está ainda longe do que se consideraria ideal, mas
não devemos deixar de procurar essa utopia e ir de encontro às expectativas
criadas e mencionadas pelos entrevistados.
Para que este estudo possa ter um maior impacto, seria importante o
mesmo ser replicado noutras cidades de Portugal e até em contexto
internacional, para que as organizações locais entendessem de que forma se
deveriam adaptar ao que é pretendido por aqueles que irão usufruir dos seus
serviços.
Seria igualmente importante realizar este estudo através de uma
perspetiva diferente, nomeadamente, através de entrevistas realizadas
Capítulo V - Conclusões e sugestões
102
diretamente a pessoas com deficiência que usufruem destes serviços, obtendo
um ponto de vista distinto sobre o assunto, mas igualmente válido e crucial.
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124
i
Anexos
Anexos
iii
Anexo I – Autorização para realização das entrevistas
Pedido formal à instituição CIAD:
Anexos
iv
Pedido formal à instituição Pony Club:
Anexos
v
Anexo II – Guião de entrevista inicial
Guião de entrevista
Dados pessoais:
Género: M__ F__; Género do filho(a): M__ F__
Grau de parentesco: Pai__ Mãe__ Outro_______________
Idade do filho(a):___
Tipo de deficiência do
filho(a):_________________________________________________
Etiologia da deficiência_____________________________________
Habilitações Literárias______________________________________
Profissão_______________________________________________
As questões que lhe serão colocadas têm como objetivo compreender a sua
perpetiva relativamente à prática de atividade física adaptada por parte do seu
filho e na prática em geral
Questões:
1. O seu filho pratica algum tipo de atividade física ou desportiva nos
tempos livres? Se sim, indique qual/quais? Essa atividade tem um
contexto recreativo, terapêutico, ou de competição?
2. Você pratica atividade física? Considera que isso possa influenciar a
participação, ou não participação do seu filho(a) em atividade física?
3. Considera que é importante o seu filho praticar algum tipo de atividade
física? Enuncie alguns do benefícios que decorrerão dessa prática.
4. Acha que é fácil encontrar programas de atividade física adaptada para
o seu filho? Recebe algum tipo de informação relativamente a estes
programas?
5. Quais são as principais barreiras que consegue identificar levando a que
os pais não coloquem os seus filhos com deficiência nos programas de
atividade física ou desportiva?
- Experiência pessoal;
- Ideia geral.
6. Na sua opinião, o que acha que uma organização deve possuir para
poder receber e desenvolver atividade física/desportiva para pessoas
com deficiência?
- Profissionais especializados;
- Instalações adequadas/adaptadas;
Anexos
vi
- Transporte;
- Baixo custo;
- Bom ambiente social.
Anexos
vii
Anexo III – Guião de entrevista final
Guião de entrevista
Estou a realizar a presente entrevista no âmbito da minha tese de
Mestrado de Atividade Física Adaptada, na Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto. Para além de ser aluna, sou ainda responsável por uma
Centro de Desporto Adaptado, no Sport Club do Porto, projeto que criei e
pretendo desenvolver.
O objetivo específico deste estudo passa por entender a opinião dos
pais relativamente à prática de atividade desportiva por parte dos seus filhos e
ainda o que pensam acerca das organizações desportivas existentes. Entender
o que uma organização deve possuir para receber pessoas com deficiência e
promover a sua atividade física.
Esta área de estudo é muito limitada, sendo que será importante,
através da visão dos pais, analisar e procurar ajudar na evoluação da realidade
organizacional.
Questões:
1. Conte-me que atividades desportivas o seu filho(a) fez na última
semana?
- Se não, porque não pratica?
- Em que contexto
- Duração e frequência
- Acha que alterou de alguma forma a vida do seu filho? Ele sente-se
feliz/contente?
2. Na sua opinião porque é que pode ser importante o seu filho praticar
atividades desportivas?
- Vertente recreacinal, terpêutica ou de competição
3. Acha que é fácil encontrar atividades desportivas para o seu filho?
Anexos
viii
4. Na cidade do Porto, tem conhecimento de clubes ou associações que
oferecem essas atividades?
5. Para si, quais são as principais barreiras à inscrição e participação do
seu filho em atividades desportivas?
- Experiência pessoal
- Ideia geral relativamente a outros pais
6. Na sua opinião, o que acha que uma organização, por exemplo um
clube, deve ter para poder receber e desenvolver atividades desportivas
especificamente para pessoas com deficiência?
- Profissionais especializados;
- Instalações adequadas/adaptadas;
- Transporte/Proximidade;
- Baixo custo;
- Bom ambiente social.
Dados pessoais:
Género: M__ F__; Género do filho(a): M__ F__
Grau de parentesco: Pai__ Mãe__ Outro_______________
Idade do filho(a):___
Tipo de deficiência do
filho(a):_________________________________________________
Etiologia da deficiência_____________________________________
Habilitações Literárias______________________________________
Profissão_______________________________________________
Pratica atividade física?_____________________________________
Anexos
ix
Anexo IV – Termo de Consentimento
Termo de Consentimento Informado, Livre e Esclarecido
Eu,_____________________________________________________________
_____, fui convidado a participar na Dissertação para 2º Ciclo de Atividade
Física Adaptada, com o tema específico “A participação de pessoas com
deficiência em atividade física adaptada: Uma perspetiva parental”, afeta à
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Perante este documento, confirmo o recebimento das seguintes informações:
- O objetivo geral deste estudo é compreender a perspectiva parental na
participação dos seus filhos com deficiência em atividade física e permitir o
desenvolvimento e/ou a adaptação de organizações/instituições que prestem
serviços relacionados com a área;
- As investigadoras envolvidas no presente estudo são a Licenciada Lia
Fernandes Couto, a Professora Doutora Ana Sousa e ainda a Professora
Mestre Mariana Cunha;
- A participação neste estudo foi realizada através de uma entrevista
gravada em formato áudio, aspeto sobre o qual fui previamente informado(a) e
o qual consenti. Fui ainda informado(a) que todos os dados relativos à
identificação dos participantes do presente estudo serão confidenciais, sendo
mantido o anonimato.
- Será ainda possível o acesso a todo e qualquer tipo de informação
relativa a esta investigação, tendo a autora Lia Fernandes Couto assumido que
o trabalho final, já terminado e com as respetivas conclusões, me será dado a
conhecer.
Face aos pontos elencados anteriormente, manifesto o meu livre
consentimento para a participação neste estudo.
______ de _____________________________ de 201__
____________________________ ____________________________
(Participante entrevisto/a) (Autora, Lia Fernandes Couto)