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A Perseverança é Evidência da Salvação Silvio Dutra FEV/2016

A Perseverança é Evidência da Salvação · É da vontade de Deus que todos os seus filhos ... para negar que a nossa salvação é segura. Ele usar um texto como Gálatas @. e

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A Perseverança é Evidência da

Salvação

Silvio Dutra

FEV/2016

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A474 Alves, Silvio Dutra A perseverança é evidência da salvação./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 144p.; 14,8x21cm 1. Salvação. 2. Perseverança. 3. Fé. I. Título.

CDD 234

CDD 230.227

3

Cristo conduzirá até o fim os que Ele tem salvo pois tem prometido jamais lançar fora a qualquer que vier a Ele e o encontrado como seu Salvador pessoal.

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Sumário

Perseverança dos Santos..................................

5

Perseverança na Tribulação..........................

85

“Permanecer Firmes na Fé" (Atos 14.22)..

86

Perseverança, Paciência e Longanimidade....................................................

88

Perseverar Até o Fim.........................................

92

A importância Vital da Perseverança........

100

Perseverando Rumo à Vitória Final...........

122

Por Que Os Cristãos Perseveram.................

125

Recuar? Nunca!....................................................

131

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Perseverança dos Santos

É da vontade de Deus que todos os seus filhos

tenham certeza da sua salvação e que se

regozijem na esperança da glória vindoura. Mas esta certeza só pode ser confirmada através da

perseverança.

Alguém pode pegar uma ou mais passagens isoladas das Escrituras, e fora do contexto, para

negar que a nossa salvação é segura. Ele usar um texto como Gálatas 5.4 e dizer: “Vê, você pode

cair da graça.”. O texto diz: “De Cristo vos desligastes vós que procurais justificar-vos na

lei, da graça decaístes.”. Então, afirma em seguida: você está vendo, isto prova que você

pode cair da graça. Está certo, é o que está dito. Mas você observa para quem ele está dizendo

isto? Ele está dizendo isto às pessoas que estão tentando serem justificadas através do quê?...

pela lei.

Você lê no verso 2 do mesmo capítulo: “Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes

circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.”. Em outras palavras, se você crê que será

justificado por Deus por se submeter a certo tipo de operação física prescrita pela lei, então Cristo

não significa nada para você. Paulo ensinou claramente que pela lei ninguém é justificado

(3.11). Quem não é justificado pela fé, a única

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forma estabelecida por Deus, e procura ser justificado pela lei, permanece sob a maldição

da própria lei e da ira de Deus (3.10).

Quem procura justificar-se pela lei, está desligado da possibilidade de ser justificado por

Cristo, e está decaído da graça, isto é, sem possibilidade de firmar-se nela e usufruir dos

seus benefícios para a salvação.

Outros textos que são muito utilizados para afirmar a possibilidade de perda de salvação são

os que se encontram sobretudo na epístola aos Hebreus, conforme vemos a seguir:

Dentre as exortações bíblicas para que busquemos as evidências da nossa eleição, além

de II Pe 1.10, temos a passagem de Hb 3.6: “Cristo porém, como Filho, sobre a sua casa; a

qual somos nós, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança.”.

O que este texto quer afirmar é que um verdadeiro crente guarda até o fim a ousadia e a exultação da esperança, isto é, ele tem a certeza

de que é salvo, pelo Espírito Santo que testifica com o seu espírito que ele é um filho de Deus.

Aqueles que são apenas convencidos e não convertidos, e que estão na igreja, ficarão com a

ideia enganosa de que são crentes autênticos por algum tempo, porque, como se afirma na

parábola do semeador, eles abandonarão um dia

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esta convicção, seja pelas tribulações, seja pelos cuidados do mundo.

Para termos a certeza de que pertencemos realmente a Deus é necessário guardar firme

até ao fim a ousadia e a exultação da esperança, isto é, regozijarmo-nos na glória a ser revelada,

até o dia da nossa morte. Se nos afastarmos disto, certamente a dúvida invadirá o nosso coração, ou então, pode ser até possível que a

nossa esperança era falsa porque não éramos de fato salvos, o que acabou por se revelar em dado

momento de nossas vidas, quando voltamos às velhas práticas do passado.

A parábola do semeador fala de pessoas que recebem a Palavra com alegria, mas que não

chegam a nascer de novo, porque se fascinam com o mundo, ou não suportam as tribulações.

Chegam a andar um período alegremente com os crentes, achando conforto na Palavra de

Deus, mas depois de certo tempo acabam manifestando que não eram autênticos

justificados e regenerados, porque não perseveraram, e a perseverança é um dom de

Deus para aqueles que são seus. O crente verdadeiro terá um estímulo espiritual que

procede de Deus para perseverar, obedecer, santificar-se. Ainda que caia por um período,

levantar-se-á, nem que seja na hora da sua morte. Mas este levantar na hora da morte é da

esfera do conhecimento exclusivo de Deus.

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Ninguém pode antever tal condição caso não lhe seja revelada diretamente pelo Senhor. É

possível que um verdadeiro crente, por motivo de desobediência não viva no descanso de Deus,

e seja cumulado de muitas tristezas porque não amadureceu na fé, no entanto, destes pode-se

afirmar que são infelizes ainda que salvos. Isto ocorre porque a alegria do Espírito e a intimidade do Senhor são para aqueles que Lhe

obedecem, e vivem pela fé nele.

Por isso se afirma a mesma coisa em Heb 3.14: “Porque nos temos tornado participantes de

Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o princípio tivemos.”. Isto

é, alguém afirmou ter crido em Cristo. Afirmou que confiava na sua glorificação futura. E

repentinamente deixou de confiar em tudo o que afirmara anteriormente e voltou suas costas

para Deus. Ora, quem é participante realmente de Cristo, perseverará, e se esta pessoa era de

fato um autêntico crente, ela retornará à comunhão. Mas, caso contrário, a falta de

evidências de santificação, perseverança, boas obras, obediência, que são como já falamos,

consequências da salvação, não poderão comprovar para tal pessoa e nem a qualquer

outra, que de fato pode se regozijar na segurança da sua salvação. Para isto é

necessário evidência. O crente que pode se regozijar nisto é somente aquele que apresente

as evidências da sua salvação já referidas. E é da

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vontade de Deus que Ele tenha esta certeza e regozijo, por andar em santidade de vida. Se a

justificação é a base e a causa da salvação, a santificação é a evidência da mesma.

Deus em sua infinita sabedoria estabeleceu o

desenvolvimento da nova natureza recebida na regeneração, pela santificação, para que o

crente se esforce em seu crescimento espiritual à semelhança de Cristo, de modo que somente

assim possa ter a certeza da segurança plena da sua salvação em todos os dias da sua vida. Isto se torna portanto um fator contribuinte para não

se desestimular. Para não desistir em meio à sua peregrinação. Porque a certeza da segurança da

salvação, veja bem, a certeza, e não a salvação propriamente dita que lhe foi dada pela graça,

mediante a fé, está diretamente ligada à sua perseverança.

É por isso que lemos ainda em Heb 6.1-3, uma exortação para a busca do amadurecimento espiritual, rumo à perfeição, porque a tendência

natural da maioria dos crentes é a de se acomodarem depois de terem sido salvos, e é o

que parece que o texto quer se referir quando fala de princípios elementares da doutrina de

Cristo, a saber, o arrependimento, a fé, batismos, imposição de mãos, ressurreição dos

mortos e juízo eterno.

Há uma tendência em nós para dizermos: eu

passei da morte para a vida, estou entre o limiar

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do meu batismo e da minha ressurreição prometida, já o tenho conquistado, vou sentar,

descansar e esperar. Entretanto a vida cristã não é isto. É uma caminhada, no caminho da

perseverança e da santificação. A Palavra de Deus nos exorta a isto. E era exatamente este o

problema com os crentes aos quais o autor de Hebreus dirigiu inicialmente a sua epístola. Ele lhes repreendeu por sua imaturidade espiritual

e falta de progresso em direção à maturidade (Hb 5.11-14).

Ele lhes exortou a correrem com perseverança a carreira que lhes estava proposta olhando para

Jesus (Hb 12.1,2). Ele lhes fala tudo o que haviam conquistado em Cristo 6.4,5, a saber, a

iluminação espiritual, o dom celestial, a habitação do Espírito Santo, a Palavra de Deus e

os poderes do mundo vindouro, tudo isto pela justificação e pela regeneração. Agora, isto não

lhes foi dado para ficarem imobilizados, e pior ainda, transferirem a sua confiança de Jesus

para as antigas tradições da lei, e é bem possível que estivessem considerando Jesus menor que

Arão, Moisés e todos os heróis da fé do Antigo Testamento, e possivelmente até aos anjos, daí a

explanação que faz sobre a superioridade de Jesus nos primeiros capítulos da epístola. Este

era o quadro reinante, e daí o tom das suas palavras falando da impossibilidade de

renovação para arrependimento de quem se desligasse de Cristo (numa suposição de

desligamento) porque não há outro nome dado

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debaixo do céu pelo qual possamos ser salvos. Eles foram salvos em Cristo para perseverarem

em Cristo, e para serem transformados à semelhança de Cristo. A vida cristã é uma

carreira, e não uma mera expectativa contemplativa do cumprimento da promessa da

glória do céu. Não é o bastante para o crente o ter passado por uma experiência gloriosa de justificação e regeneração no passado, é

necessário crescer espiritualmente pela transformação do seu caráter e aprender a fazer

a vontade de Deus. É absolutamente necessário que a dinâmica de uma fé viva seja o moto

principal para que o testemunho de Cristo seja confirmado em suas vidas, para que sejam

cartas vivas onde outros possam testemunhar a vida que há em Jesus disponível para os

pecadores.

Não é suficiente ser justificado e nascer de novo. É preciso experimentar que Jesus é competente

para remover minha corrupção (despojamento da carne) e revestir-me de suas virtudes. Isto é

um programa para toda a vida. Não é algo para se obter em único dia ou momento de nossa vida.

O alvo de Deus para o crente em santificação é um trabalho demorado e penoso, e para

cumprir-se exige que nós perseveremos firmes na fé. Esta é a razão porque Paulo sempre

confirmava os crentes exortando-lhes a permanecerem firmes na fé durante toda a sua

peregrinação como forasteiros neste mundo de

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trevas. Não é suficiente, conforme a vontade de Deus, sabermos que Cristo é nosso Salvador e

que por meio dele fomos justificados, é necessário ter permanente e vital união com

Ele.

O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6,

corresponde no original à palavra grega parapipto, que significa “desviar-se” ou “apostatar”. É o mesmo verbo usado em Heb

3.12, onde está traduzido como “afastar-se” de Deus. A Palavra afirma em Pv 24.16 que “sete

vezes cairá o justo, e se levantará,”. A experiência tem revelado esta verdade. Muitos

são os que se desviam mas que se reconciliam posteriormente com o Senhor. Porque a

bondade a misericórdia do Senhor vão em busca da ovelha desgarrada e perdida para trazê-la de

volta ao aprisco. Quem é ovelha do Senhor está debaixo de tal cuidado. O ímpio não pode contar

com isto. Quando os ossos do crente são quebrados o Senhor os restaura novamente. O

clamor da Misericórdia do Pai clama “voltem para mim e eu voltarei para vós outros”. Vemos

nas cartas dirigidas às sete igrejas uma constante exortação ao arrependimento para o

reatamento da relações rompidas e para o retorno da prática das obras de justiça.

Um crente pode cair, mas não numa queda definitiva que seja para a perda da vida eterna

que recebeu pela graça. Se ele cair, Deus o

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levantará de novo, porque não pode justificá-lo uma segunda vez, por isto é impossível, pois, que

se o justo cair, seja renovado outra vez para arrependimento, porque ele já foi feito nova

criatura em Cristo, quando creu, de uma vez para sempre.

O próprio Noé, campeão da justiça, depois que se embriagou, arrependeu-se certamente, e permaneceu salvo pela soberana graça. Noé

caiu, mas não numa queda final para morte eterna, que ocorrerá somente com aqueles que

não têm a Cristo, no dia do grande juízo de Deus. Um crente pode se desviar, e embora isto seja

uma coisa ruim, uma coisa maligna o cair no pecado, contudo ele poderá reconciliar-se com

Deus, porque a sua salvação é para a vida eterna e para ser guardado seguro pelo poder de Deus.

Assim como um pai zeloso vela pela segurança de seus filhos, e tudo faz para mantê-los

saudáveis e em vida.

Seria uma coisa muito dura certamente, se um crente caísse e não pudesse se reconciliar com Deus. Felizmente o texto de Heb 6 não diz que é

uma coisa muito dura, mas que é impossível, e nós dizemos que seria totalmente impossível, se

um caso como é suposto pudesse acontecer, impossível para o homem, e também impossível

para Deus, porque Deus determinou que nunca estabelecerá uma segunda salvação (plano) para

salvar aqueles que tivessem rejeitado a

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primeira, depois de tê-la experimentado. O autor de Hebreus está portanto com a

apresentação do exemplo de impossibilidade, reforçando o eterno, imenso e único valor da

salvação em Jesus Cristo, que os destinatários de sua epístola estavam negligenciando, correndo

o risco mesmo de virem a desprezá-la. Por isso quase como que se retrata pela suposição forte que fizera ao dizer logo adiante o seguinte:

“Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das cousas que são

melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira.”. Assim, uma correta

interpretação de toda a epístola aos Hebreus requer que mantenhamos diante de nós o pano

de fundo que inspirou a sua escrita, pois não foi destinada a uma congregação que estava sendo

fiel na sua caminhada com Deus, mas a uma congregação que estava recuando na fé, e

esfriando no seu amor por Jesus Cristo. As palavras de exortação da epístola tinham por

alvo sacudi-los e despertá-los do estado de dormência em que se encontravam, e tais

palavras são ainda muito oportunas para toda congregação que esteja nas mesmas condições

da comunidade à qual foi destinada a epístola originalmente.

A palavra de alerta em sequência a Heb 4-6, nos versos 7 e 8 é também muito interessante para

descrever o estado em que se encontrava a quase totalidade dos destinatários da epístola.

Eles eram qual terra que havia recebido e

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absorvido a chuva da graça de Deus sobre suas vidas, só que em vez de crescerem e darem bons

frutos, estavam produzindo espinhos e abrolhos. É isto o que acontece quando o crente

para de se santificar. Ele vai produzir as obras da carne em vez do fruto do Espírito. Os espinhos

amargosos e venenosos das práticas do mundo. E esta não é uma condição para ser abençoado por Deus. Ao contrário é uma posição para ser

sujeitado à sua correção e disciplina, que certamente serão dolorosas. Mas a sequência

imediata no verso 9, já por nós apresentada, é muito elucidativa, como o “Quanto a vós outros,

todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à

salvação,”, isto porque em sendo eles verdadeiros crentes, certamente dariam frutos

para Deus em Jesus Cristo, conforme o seu santo propósito determinado antes da fundação do

mundo, porque fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras que Deus preparou de

antemão. A própria epístola exortativa que lhes estava sendo dirigida e que estamos

comentando, foi certamente uma das muitas ações que Deus estava empregando para o

despertamento daqueles seus filhos que estavam adormecidos. Ele sempre agirá para

completar a obra em nós iniciada por Ele mesmo, para o cumprimento cabal do seu

propósito eterno.

Um texto que geralmente se costuma

interpretar incorretamente, por ignorância do

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seu verdadeiro significado, é o de II Pe 2.21,22, onde se afirma: “Pois, melhor lhes fora nunca

tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após conhecê-lo, volverem para trás,

apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo

adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.”

Devemos destacar logo inicialmente que não se diz, a ovelha voltou a se sujar, mas a porca. Não

se diz que a ovelha voltou ao seu vômito, mas o cão. Ainda que sejam expressões duras, elas

estão de acordo com o alerta de Jesus ao eleitos para não darem coisas santas aos cães e aos

porcos, isto é, àqueles que na verdade não tiveram suas vidas transformadas pelo

recebimento de uma nova natureza, pelo Espírito. O que está em foco são os falsos

mestres, que no início, ao se juntarem à igreja e ao aprenderem as coisas de Deus, repetem-nas

de forma tão convincente, que são guindados pela igreja à posição de mestres, ou se fazem

como tais, só que, não tendo havido uma mudança real em sua natureza, continuam

sendo porcos e cães, e isto acaba sendo manifestado com o tempo. No contexto de todo

o capítulo segundo de II Pedro, está claramente revelado que os tais não são justos, como foi Ló,

mas injustos, que por suas obras iníquas estão destinados ao juízo de Deus (2.9). São na

verdade, não eleitos autênticos, mas falsos

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profetas, falsos mestres, que introduziam dissimuladamente heresias destruidoras entres

os crentes, para fazê-los decaírem de sua firmeza em Cristo, isto é, para desviá-los da

verdade, chegando tais falsos mestres a ponto de renegarem o próprio Jesus (2.1,2). Eles não

tinham o Espírito Santo, como se vê no paralelo ao texto de II Pe II, na epístola de Judas (Jd 19), e que não eram crentes, mas ímpios (Jd 4).

Realmente eram homens que não tinham o Espírito, e assim não eram de Cristo, pois Pedro

diz deles que eram fontes sem água (2.17). Não ensinavam o verdadeiro evangelho, mas suas

mistificações (2.13). Eram atrevidos e não se submetiam a qualquer governo, porque

julgavam, em sua ignorância, que estavam investidos da autoridade de Deus sobre todos os

homens (2.10).

Ora, não padece dúvida que são os mesmos a que Pedro se refere como os ignorantes e instáveis que deturpavam as Escrituras,

especialmente os pontos difíceis dos escritos de Paulo, para a sua própria destruição (II Pe 3.15-

17).

O cuidado que se deve ter na interpretação da Bíblia, em sua exegese, é mais do que recomendado, ele é estritamente necessário,

para que não apliquemos verdades bíblicas fora do contexto ou de situações ou mesmo pessoas

aos quais não devem ser aplicadas.

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Por exemplo, a apresentação de sacrifícios de animais no templo é uma verdade que teve o seu

tempo e contexto de aplicação. Isto deveria ser feito pelos israelitas no período da dispensação

da lei (de Moisés a João Batista), e também no local determinado por Deus, isto é, somente no

tabernáculo e depois no templo de Jerusalém, na presença dos sacerdotes.

Assim, apesar de ser uma ordenança de Deus que está contida na Bíblia, não deve ser cumprida na dispensação da graça, em que

vigora uma Nova Aliança, que substituiu a Antiga. Porque tal exigência da Antiga foi

revogada pelas disposições da Nova. Aqueles sacrifícios que eram figura do sacrifício de

Cristo, deveriam vigorar até que Cristo viesse e se oferecesse a Si mesmo de uma vez para

sempre pelos pecadores.

A mesma coisa se aplica às maldições da Antiga Aliança, previstas na lei. Elas representam em

figura uma maior e definitiva maldição de quem transgride a lei de Deus, pois que por esta, o

pecador está sujeito à morte eterna no inferno.

Entretanto, para os que estão em Cristo, a maldição da lei é revogada em relação a estes que creem. Para estes ela já não tem mais força

de lei. A pena que ela prescreve foi cancelada e Jesus encravou o cancelamento da dívida destes

que creem no seu nome, na cruz,

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definitivamente, para que a pena não seja mais reescrita para estes que foram justificados nele.

Daí a Bíblia afirmar que o crente não está mais sob a lei, e sim sob a graça, sem que isto

signifique que ele esteja sem lei perante Deus, pois está debaixo da lei de Cristo.

É necessário portanto, quando estudamos sobre a segurança eterna da salvação, não utilizarmos textos isolados da Bíblia dando-lhes uma

interpretação literal e fora do contexto de toda a revelação. É necessário submeter cada

afirmação que pareça inicialmente, contradizer doutrinas claramente reveladas, à luz destas

doutrinas, para que possamos entender o que o escritor bíblico pretendia dizer com tal

afirmação, porque não há contradições no ensino da Palavra, porque ela é a verdade.

Para ilustrar este ponto podemos usar as palavras do autor de Hebreus em 10.26-31,

comparando-as com o versículo 39 do mesmo capítulo. Em Hb 10.26-31 lemos: Porque, se

vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da

verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de

juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo

depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais

severo castigo julgais vós será considerado

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digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi

santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim

pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível cousa é

cair nas mãos do Deus vivo.”

Já comentamos, anteriormente, qual foi o propósito principal do autor de Hebreus em escrever esta epístola: alertar seus leitores

sobre a apostasia, para não ficarem inativos na fé, para buscarem a maturidade espiritual, para

perseverarem. Agora, lendo estas palavras de advertência sem levar em conta o contexto da

própria epístola, poderíamos ser levados a interpretá-las como que se referindo a uma real

perda de salvação, perdendo o apóstata a condição de filho de Deus para ser sujeitado ao

juízo de Deus para a condenação eterna no inferno. Mas, submetendo a passagem ao

próprio contexto imediato, lemos no verso 39: “Nós porém, não somos dos que retrocedem

para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.”. Ora, aqui se declara

abertamente que o que ele está dizendo anteriormente desde o versículo 26 até o 38, não

é uma afirmação de que os verdadeiros crentes, os que são da fé, perdem a sua salvação, porque

estes não retrocedem e perseveram, o que não se dá com os que não são da fé. Deus lhes faz

perseverar, e eles perseverarão, e isto para a

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conservação da alma, porque esta não será mais condenada em juízo. E logo um verso adiante,

em 11.1, define a fé como a certeza de cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não

veem. E está se referindo principalmente à certeza da esperança da glória vindoura, à

recepção da herança que está guardada para o crente no céu. Aquele que é da fé, e que portanto persevera, ou pelo menos deve perseverar,

porque não há outro modo para um autêntico filho de Deus viver, pode ter a certeza de que

receberá o que espera, e a convicção dos fatos relacionados à sua salvação que ele ainda não vê.

Foi por esta mesma fé que salva, que os antigos receberam bom testemunho de terem agradado

a Deus. Mas devemos submeter a referida passagem a outras passagens da mesma epístola

e a outras de todas as Escrituras. Na mesma epístola, para não nos alongarmos, podemos

citar outros textos como os seguintes:

“Porque com uma única oferta aperfeiçoou para

sempre quantos estão sendo santificados.” (Heb 10.14). Veja, aperfeiçoou para sempre, não

apenas por um período para se perderem depois novamente.

“de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre.” (Heb 10.17). Veja, perdão para sempre. Não

apenas dos pecados antes da conversão, mas de

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todos os pecados, quer do passado, do presente ou do futuro da vida de qualquer crente.

Ao falarmos deste modo, não se deve pensar que o pecado não deve ser levado muito a sério pelo

crente. É por isso que as passagens admoestadoras são colocadas em termos muito

fortes na Bíblia, porque o pecado é o que desperta a ira de Deus. Qualquer pecado ofende a justiça de Deus, e o crente não deve se gabar no

fato de estar debaixo de uma graça superabundante para viver praticando o

pecado, e não se entristecendo pelo pecado. Ele nunca deve esquecer que a ira de Deus pelo

pecado é tanta, que isto levou o seu próprio Filho à cruz. Daí se dizer com toda a veemência:

“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno

conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação

horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.”

Em momento nenhum se diz que o tal será lançado no inferno. Mas diz que desperta a

expectação de um horrível juízo de fogo vingador prestes a consumir os adversários. Não

foi o que ocorreu com os crentes rebeldes que estavam morrendo em Corinto? Não é o que

ocorre com os que são salvos como que pelo fogo? Esta atitude de viver deliberadamente no

pecado não é coberta pelo sacrifício de Jesus

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porque não há confissão do pecado. Não há arrependimento da condição de estar pecando.

Isto desperta a ira de Deus, mesmo contra seus filhos. E Ele os corrige e disciplina duramente,

para que todos temam e busquem a santidade de vida que convém aos filhos de Deus.

Agora, se Jesus pagou o preço por todos os nossos pecados, porque estes crentes que foram entregues a Satanás para destruição da carne,

foram submetidos ao juízo de Deus, ainda que não para a sua perdição eterna? Veja, o autor de

Hebreus responde a isto quando diz que já não resta sacrifício pelos pecados que são praticados

pelos que vivem deliberadamente em pecado depois de terem recebido o pleno

conhecimento da verdade, e de terem sido santificados pelo sangue de Jesus, e recebido a

regeneração do Espírito Santo. Isto significa que o perdão obtido pelo sacrifício de Jesus para a

vida eterna e livramento da condenação futura, não livrará o crente da justiça de Deus, que julga

a sua vida aqui neste mundo, quando decide não perseverar na fé, vivendo na graça, para viver na

carne praticando o pecado. Neste caso, ainda que não seja condenado eternamente, terá sua

conduta julgada pelo seu Pai celestial e será sujeito à disciplina da Aliança selada no sangue

de Jesus.

Ele está profanando o sangue da aliança com o qual foi lavado. É como que pisasse em Jesus

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com o seu procedimento, e isto não ficará sem a devida retribuição de Deus. Deus vingará a sua

justiça trazendo sobre o crente os juízos em forma de castigo, não para que este consiga a

sua salvação, ou o perdão dos seus pecados, porque isto já foi feito de uma vez para sempre

por Jesus na cruz, mas para que ele não vá para o céu, julgando que o Deus que o chamou não o chamou efetivamente para ser santo, por uma

eventual desconsideração com o seu modo descuidado de vida e intencionalmente dirigido

para transgredir a vontade dAquele que lhe salvou. O que está em foco não são pecados

praticados eventualmente e isoladamente, pelo crente em sua caminhada, estando direcionado

em sua vontade a não viver na prática do pecado, mas um crente que tenha efetivamente

apostatado da fé, isto é, que esteja desviado. Ainda que mesmo neste caso, não se exclua a

ação da misericórdia divina sobre suas vidas, porque são eleitos, e foram justificados, tanto

que muitos deles se arrependem, entretanto, de modo nenhum Deus deixará de lhes corrigir,

porque corrige a todo filho que ama.

Quando lemos portanto, as passagens admoestadoras e de advertências da Bíblia

quanto ao pecado, devemos lembrar imediatamente que o Deus que nos salvou odeia

o pecado, e destruirá o pecado onde quer que ele se encontre. Isto deve gerar em nós um santo

temor e o desejo de jamais conceber o fato de

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que podemos viver como crentes praticando determinados pecados seja em pensamentos,

palavras, ações ou omissões. Deus nos alerta em todo o tempo na Palavra que fomos salvos

exatamente para entrarmos juntamente com Ele numa verdadeira guerra contra o pecado.

Quer na nossa vida, quer na dos nossos irmãos em Cristo. Não devemos cruzar os braços em relação a isto como estavam fazendo muitos aos

quais o autor de Hebreus dirigiu sua epístola. Ao contrário, devemos nos revestir da armadura de

Deus e nos empenharmos diariamente neste bom combate da fé. Estamos seguramente

salvos nas mãos de Deus, mas importa viver de modo que lhe seja inteiramente agradável.

Pedro, no terceiro capítulo de sua segunda epístola, afirma que nos escritos de Paulo há coisas difíceis de serem entendidas, e que os

instáveis e ignorantes deturpavam, como também as demais Escrituras (II Pe 3.16). Veja

que alguns o faziam por ignorância, mas o grande fato é que faziam o quê? Deturpavam. E

qual era a consequência disto? O próprio Pedro declarou no verso seguinte que o resultado era

a própria destruição destes, e a possibilidade de induzir ao erro, fazendo os crentes descaírem da

sua firmeza em Cristo, por serem arrastados pelo erros desses insubordinados (II Pe 3.17).

Mas os crentes primitivos tinham uma grande vantagem sobre nós nestes dias de grandes

deturpações do evangelho: eles eram

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prevenidos pela genuína verdade pregada pelos apóstolos. Eles conheciam o verdadeiro

evangelho, que hoje, infelizmente, até mesmo muitos ministros ignoram a verdade

relacionada à obra realizada por Cristo em favor dos eleitos. São tantas as falsificações, que se

chegou mesmo ao ponto de se obscurecer a verdade. Esta ficou escondida. E a maioria dos púlpitos não têm sequer o próprio evangelho

para ser pregado e ensinado.

Quando Paulo introduz o hino triunfal da segurança eterna da salvação do crente em Rom 8.31-39, ele pergunta: “Que diremos, pois, à vista

destas cousas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.

E aí fazemos outra pergunta: Que cousas são estas a que ele se refere? Nós as sabemos?

Conhecemos o seu real significado? Ele está se referindo às verdades que havia dito

anteriormente, desde o primeiro capítulo, até o versículo 30 do oitavo. De que maneira Deus é

por nós que ninguém pode ser contra nós? Qual é o significado disto? Está escrito na Bíblia para

que o saibamos. Foi revelado pelo Espírito porque é importante para o nosso crescimento

espiritual, para a nossa caminhada em nossa jornada na vida cristã. Como podemos ignorá-

las sem sermos prejudicados? Por que o Espírito insiste em que apliquemos a Palavra revelada à

nossa vida? Já que, como afirmam alguns,

27

insensatamente, podemos ter uma vida de poder com Deus desconhecendo totalmente

qual é o significado da nossa vocação em Cristo.

Se assim fora, por que Paulo teria dito o que disse aos colossenses: “não cessamos de orar

por vós, e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a

sabedoria e entendimento espiritual;”? (Col 1.9). Por que Pedro exorta os crentes a crescerem na

graça e no conhecimento de Jesus? (II Pe 3.18). Jesus disse aos saduceus que eles erravam

porque não conheciam o poder de Deus? Sim. Mas também porque não conheciam as

Escrituras. E isto pode ocorrer conosco: errarmos na vida cristã, porque não

conhecemos a verdade revelada nas Escrituras.

É da vontade de Deus que não sejamos apenas

salvos, mas que cheguemos ao pleno conhecimento da verdade (I Tim 2.4). Jesus disse que conheceríamos a verdade e que ela nos

libertaria. Ele é a verdade que liberta. Mas devemos conhecer o como, o por quê, o até

quando (sempre) desta verdade que liberta.

Em Tito 1.1 Paulo afirma que foi levantado como apóstolo de Jesus para promover a fé que é dos eleitos de Deus e também para promover o

pleno conhecimento da verdade. Este é o dever do qual está encarregado todo ministro do

evangelho chamado por Deus: promover a fé e o

28

conhecimento total da verdade do evangelho. Não apenas partes deste conhecimento, mas

todo o conhecimento. A segurança plena da salvação é uma das partes da verdade do

evangelho que deve ser ensinada claramente à igreja, não porque isto seja da vontade do

homem, mas porque é da vontade de Deus.

A amizade que temos agora com Deus deve ser demonstrada no cumprimento dos seus

mandamentos, assim como o próprio Cristo nos ordena dizendo que somos seus amigos se

guardarmos os seus mandamentos. Isto é, somos seus amigos porque fomos reconciliados

com Deus por meio da sua morte, com o perdão de todos os nossos pecados, pois se diz em II Cor

5.18-20, que estando nele os nossos pecados não são mais imputados a nós por Deus para efeito

de condenação eterna.

Nós vemos na Bíblia que houve ordenanças relativas ao extermínio dos povos que

habitavam em Canaã, nos dias de Moisés e Josué, e isto nos ensina em figura que aqueles

que vivem contrariamente à vontade de Deus e que permanecem debaixo da sua ira,

experimentarão a morte eterna, que é ilustrada por aquele extermínio. Entretanto, vemos na

mesma Escritura que Deus abomina a violência e não tem prazer na morte de ninguém, mas em

razão do pecado que há no mundo, faz-se

29

necessária a sua intervenção com o estabelecimento de juízos sobre o pecado.

Aprendemos também em figura pelo que foi ordenado ao povo de Israel para não praticar as

mesmas obras abomináveis das nações de Canaã, que a igreja de Cristo não deve também

estar em jugo desigual com os incrédulos, de modo a praticar as mesmas obras que eles, porque o Senhor deseja que o seu povo viva em

santidade de vida, obedecendo o que nos tem ordenado em sua Palavra, especialmente no que

se refere a sermos longânimos, bondosos, não violentos, e instruídos e dirigidos em todas as

coisas pelo Espírito Santo que nos regenerou, santificou e continua santificando, por meio da

nossa obediência ao Senhor.

E ainda, pelas ameaças da lei contra os próprios israelitas, que no caso da prática de determinados pecados que lhes sentenciava a

morte física, aprendemos que ainda que fazendo parte do povo de Deus, ainda que sendo eleito

para a salvação eterna, nenhum crente está livre da correção de Deus neste mundo, que pode

chegar ao ponto extremo de um juízo de morte física. Nós vimos que mesmo crentes

verdadeiros, que serão salvos no dia do Senhor, podem ser entregues a Satanás para destruição

da carne, isto é, por serem de Deus, o diabo já não pode tocar em seus espíritos, possuindo-os,

porque todo crente verdadeiro é selado com o

30

Espírito Santo, assim é tão somente permitido a Satanás tocar na carne dos tais, mas não mais

em seus espíritos. Nenhum crente pode ser portanto possuído por qualquer espírito

maligno porque Deus é fiel para cumprir o que nos diz através do apóstolo João: “Sabemos que

todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca.” (I Jo 5.18).

Mas é preciso discernir que assim como Jó, Pedro e outros foram entregues a Satanás para

serem provados e aperfeiçoados em sua fé, e não por nenhum motivo de correção divina por

pecados que tinham praticado, como foi o caso daquele jovem de Corinto que coabitou com a

própria madrasta, e de Himeneu e Fileto que foram entregues a Satanás pelo apóstolo Paulo,

em razão de estarem ensinando o que não convinha ao povo de Deus.

Desse modo, nem toda enfermidade que atingir um crente terá sido de origem do maligno por

motivo de pecado ou desobediência a Deus. Paulo afirma que pregou o evangelho aos

gálatas por causa de uma enfermidade; e ele recomendou a Timóteo que não bebesse apenas

água por causa das frequentes enfermidades do seu estômago, e vários servos fiéis de Deus que

cumpriram e que têm cumprido ministérios poderosos no Espírito, têm sido provados pelo

Senhor com toda sorte de tribulações, e dentre

31

estas não são excluídas muitas vezes as enfermidades.

Em todas estas coisas Deus tem propósitos específicos, tanto para correção quanto para edificação, e é preciso saber distinguir um do

outro. Entretanto, em Jesus Cristo, na Nova Aliança, o crente está firmemente seguro,

porque aqui, não se diz “olho por olho”, como na Antiga Aliança feita com a nação de Israel, pois

pela sua morte expiatória adquiriu o direito para o seu povo de não receber da parte de Deus uma

retribuição ao mesmo nível dos pecados que sejam por eles praticados. Aqui exige-se

simplesmente confissão do pecado. E toda e qualquer ofensa será perdoada porque Ele

pagou integralmente todo o preço exigido para a expiação da nossa culpa.

Assim, temos nas Escrituras a afirmação desta verdade imutável de que em Cristo todos os crentes (eleitos) estão firmemente seguros e

livres de qualquer condenação eterna, como podemos ver nos seguintes textos destacados a

seguir:

Estes irão para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna. Mt 25.46

Para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira

que deu o seu Filho unigênito, para que todo o

32

que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Jo 3.15,16

Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, Jo 3.18

Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia se mantém rebelde contra o Filho

não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus. Jo 3.36

Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma

fonte a jorrar para a vida eterna. Jo 4.14

Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em

juízo, mas passou da morte para a vida. Jo 5.24

Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim, e

o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Jo 6.37

E a vontade de quem me enviou é esta: Que

nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. Jo

6.39

De fato a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer, tenha a vida eterna; e

eu o ressuscitarei no último dia. Jo 6.40

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Em verdade, em verdade vos digo: quem crê, tem a vida eterna. Jo 6.47

Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente;... Jo 6.51

Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Jo 6.54

Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de

mim se alimenta por mim viverá. Jo 6.57

...Quem comer este pão viverá eternamente. Jo 6.58

...Se alguém guardar a minha palavra não verá a

morte eternamente. Jo 8.51

...Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Jo 10.10

Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da

minha mão. Jo 10.28

...Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; Jo 11.25

E todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente... Jo 11.26

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...Aquele que odeia a sua vida neste mundo, preservá-la-á para a vida eterna. Jo 12.25

E sei que o seu mandamento é a vida eterna... Jo 12.50

...Porque eu vivo, vós também vivereis. Jo 14.19

Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida

eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus

verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Jo 17.2,3

...E creram todos os que haviam sido destinados

para a vida eterna. At 13.48

Logo, muito mais agora sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Rom 5.9

...Muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por

meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Rom 5.17

Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim

também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá

vida. Rom 5.18

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...Assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo nosso

Senhor. Rom 5.21

...O dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor. Rom 6.23

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Rom 8.1

Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não

nos dará graciosamente com ele todas as cousas? Rom 8.32

Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Rom 8.33

Quem nos separará do amor de Cristo? ... Rom 8.35

Quem és tu que julgas o servo alheio? para o seu

próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.

Rom 14.4

O qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor

Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus

Cristo... I Cor 1.8,9

36

Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o

mundo. I Cor 11.32

E, assim como trouxemos a imagem do que é

terreno, devemos trazer também a imagem do celestial. I Cor 15.49

...Somos cooperadores da vossa alegria; porquanto pela fé já estais firmados. II Cor 1.24

Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus

um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. II Cor 5.1

E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que

se fizeram novas. II Cor 5.17

Mas espero reconheçais que não somos reprovados. II Cor 13.6

...Mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna. Gál 6.8

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, Ef 2.1

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e

estando nós mortos em nossos delitos, nos deu

37

vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos, Ef 2.4,5

Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. Fp 1.6

Dando graças ao Pai que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. Col 1.12

E a vós outros que estáveis mortos pelas transgressões, e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele,

perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado e escrito de dívida, que era contra nós

e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente,

encravando-o na cruz; Col 2.13,14

E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos

livra da ira vindoura. I Tes 1.10

...Seremos arrebatados juntamente com eles,

entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o

Senhor. I Tes 4.17

Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor

Jesus Cristo, que morreu por nós para que, quer

38

vigiemos, quer durmamos, vivamos em união com ele. I Tes 5.9,10

O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam

conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos

chama, o qual também o fará. I Tes 5.23

...Toma posse da vida eterna, para a qual

também foste chamado... I Tim 6.12

...Porque sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia. II Tim 1.12

Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com

os homens, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos

salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou

sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, a fim de que, justificados por

graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Tito 3.4-7

...Tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem. Hb 5.9

Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para

interceder por eles. Hb 7.25

39

Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e de seus pecados jamais me

lembrarei. Hb 8.12

Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança a fim de que, intervindo a morte para

remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. Hb

9.15

Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. Hb

10.14

Nós, porém não somos dos que retrocedem para a perdição; somos entretanto; da fé, para a

conservação da alma. Hb 10.39

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua muita misericórdia,

nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre

os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para

vós outros, que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada

para revelar-se no último tempo. I Pe 1.3-5

Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade,...pois fostes regenerados,

não de semente corruptível, mas de

40

incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. I Pe 1.22,23

Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes

sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. I

Pe 5.10

E a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi

manifestada. I Jo 1.2

E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna. I Jo 2.25

Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus; e,

de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão o mundo não nos conhece, porquanto não o

conheceu a ele mesmo. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que

havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque

havemos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança,

assim como ele é puro. I Jo 3.1-3

E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que

41

tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. I Jo 5.11,12

Estas cousas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus. I Jo 5.13

Também sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no

verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. I Jo 5.20

O propósito de Deus na salvação dos eleitos não é simplesmente o de que se regozijem na

condição de salvos, mas que vivam para o fim da sua salvação, isto é, foram salvos para viverem

como filhos de Deus, filhos da luz e do dia, como de fato são em Cristo, e não como se fossem

filhos das trevas (I Tes 5.4-10). Isto é o que demanda a necessidade da perseverança

operada pelo Espírito na vida do crente, porque foi salvo para ser habitante do céu, em perfeita

santidade. Ainda que nunca venha a atingir a perfeição desta santidade enquanto viver na

terra, deve se esforçar neste sentido, de modo que possa viver de modo agradável a Deus.

A palavra perseverança vem do original grego hupomoné, que significa suportar cargas e aflições sem murmurações, e a prosseguir na

prática da justiça, enquanto escolhe enfrentar

42

tais cargas e aflições confiando na providência divina. Não significa portanto conhecer como

escapar das cargas, mas como viver sob elas. Mas não é uma resignação passiva. Ela é uma

qualidade ativa. É uma atitude de permanecer confiante e ativo, mesmo debaixo das maiores

provações, que visam ao abatimento da sua fé e alegria no Senhor.

Não é de admirar portanto, que mesmo e principalmente depois de ser muito usado por Deus, que o crente experimente muitas

provações que visam ao seu abatimento espiritual. Mas não se pode esquecer que Deus

está no controle de todas elas não permitindo que sejam maiores do que a nossa capacidade de

suportá-las, e nos concede também, se perseveramos, o livramento, mas sempre no

tempo por Ele determinado. Há provas que duram até anos, visando ao aperfeiçoamento do

nosso caráter.

Os sofrimentos estão produzindo perseverança em nossas vidas. E nisto, o Senhor está

colocando à prova o nosso amor por Ele. Isto explica porque as provações não nos sobrevêm

apenas por um curto período, mas é um processo que ocorre em todo o tempo.

As pessoas do mundo dão muito valor a uma vida sem qualquer tipo de tribulação. E o crente

deve cuidar-se de viver com tal pensamento,

43

porque, no seu caso, a provação não é um inimigo, mas um aliado que está moldando o seu

caráter e fortalecendo a sua fé, de maneira que possa caminhar fazendo a vontade de Deus

independentemente de qualquer circunstância desagradável que esteja vivendo (desde que não

seja resultante da prática do pecado).

Infelizmente, quando as pessoas vêm para Cristo hoje em dia, elas vêm crendo que serão livradas de todas as dificuldades. Elas trazem o

padrão do mundo consigo. A ideia de que Deus deseja que todos sejam plenamente saudáveis,

felizes e abastados é uma contradição direta da Palavra de Deus.

Jesus prometeu aos crentes que teriam aflições no mundo. Mas quando a tribulação vem, geralmente se pensa: “não é possível que isto

esteja acontecendo comigo, eu sou um crente fiel.”.

Em vez de apreciar que Deus está fazendo algo único e especial em suas vidas, deixam-se levar pela murmuração e pelo descontentamento.

A perseverança não é um fim em si mesma. Ela é um ingrediente essencial que traz a maturidade aos filhos de Deus.

Tiago afirma (1.4) que a perseverança produz o resultado de sermos perfeitos e íntegros, em

44

nada deficientes. Nós não podemos acelerar o processo que produz maturidade, porque a

própria perseverança é construída ao longo do tempo.

Nós apenas devemos ter o cuidado de não interromper o processo que Deus está operando. Esta é a razão de ser ordenado em Tg

1.4 que a perseverança deve ter ação completa, isto é, nós não devemos deixar de tirar os

devidos ensinamentos de nossas experiências, aprendendo as lições de Deus, através delas,

visando ao nosso aperfeiçoamento.

Mas, isto não significa que nós atingiremos a

perfeição, porque o próprio Tiago afirma que nós tropeçamos em muitas coisas (3.2). Isto não

quer dizer portanto que nós nunca voltaremos a pecar de novo. Não é possível ser perfeitamente

sem pecado nesta vida.

Então o que significa o uso da palavra perfeito no texto de Tiago? Ela se refere ao nosso grau de

maturidade. O crente maduro não vive indo de um lugar para outro, sem fixar sua atenção

definitivamente em qualquer objetivo, dedicando-se ao mesmo, pois isto é um

comportamento inerente às crianças. Crentes imaturos não podem ser úteis na casa de Deus.

Ao contrário, vivem criando dificuldades para serem resolvidas ou apaziguadas pelos que são

maduros. O que pode reverter isto? O seu

45

amadurecimento. E como é que este será possível? Somente pelo aprendizado da

perseverança nas provações. Amar no meio da contradição, da perseguição, da ingratidão, e

prosseguir adiante, este é um dos objetivos. Isto é perseverar segundo a vontade de Deus.

O crente que permanece em sua infantilidade, nem por isso deixa de ser um filho de Deus, mas não se pode dizer dele que esteja fazendo

progresso na perseverança.

O crente não deve procurar a tribulação, ele não

deve ir em sua direção. Ele deve procurar a Deus, e na sua procura de Deus, não raramente,

a provação lhe sobrevirá. Logo depois que Paulo foi arrebatado ao terceiro céu, ele teve a

experiência do espinho na carne. Se o seu desejo de procurar a Deus é sincero, isto implicará em

viver segundo a sua vontade e tornar-se mais semelhante a Cristo. Jesus que é manso e humilde de coração. Para aprender a mansidão

e a humildade, é quase certo que o crente se defrontará com resistências e ataques dirigidos

à sua pessoa, de modo que aprenda a não revidar as injúrias e afrontas que possa sofrer,

mantendo a paz no seu coração, segundo o poder do Espírito Santo.

Quando o crente se sente humilhado e vencido por alguma provação e diz que não sabe qual é o

proveito e o propósito de Deus na mesma, ele

46

necessita de sabedoria para poder discernir a vontade do Senhor, e é por isso que Tiago diz que

se peça sabedoria a Deus. Mas a sabedoria requer humildade e um constante

reconhecimento da nossa própria necessidade.

A vida cristã não é fácil e confortável. Por isso o crente necessita de perseverança, para que

possa viver segundo a vontade de Deus.

A certeza da segurança não é essencial à salvação, mas é essencial à alegria e à

esperança, mas só pode ser sentida na experiência prática da vida cristã, e não

meramente pelo conhecimento intelectual da sua realidade. Em outras palavras, é algo muito

mais para ser vivido do que simplesmente sabido, pois,

A CERTEZA DA SALVAÇÃO É REVELADA ATRAVÉS DA PERSEVERANÇA

Já comentamos que somos salvos exclusivamente pela graça mediante a fé, e por

intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Não somos salvos pela nossa perseverança, porque a

Bíblia é clara em afirmar que não somos salvos pelas nossas boas obras (Ef 2.8-10). Mas somos

exortados firmemente a perseverar para a plena certeza da nossa eleição, conforme está

claramente revelado por exemplo em II Pe 1.1-10.

47

O apóstolo Pedro afirma que em razão de os crentes terem recebido todas as cousas que

conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo do Senhor que os

chamou para a sua própria glória e virtude, tendo sido livrados da corrupção das paixões

que há no mundo (II Pe 1.3,4), devem reunir toda a sua diligência esforçando-se para associar à fé, a virtude, o conhecimento, o domínio próprio, a

perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor (1.5,6), e prossegue afirmando que

somente pela existência de tais qualidades espirituais e pelo aumento das mesmas, é que os

crentes não serão infrutíferos e nem inativos no pleno conhecimento de Jesus (1.8); e que os

crentes nos quais não estão presentes tais qualidades, estão cegos e esquecidos da

purificação dos seus pecados antigos (1.10), e conclui com as seguintes palavras: “Por isso,

irmãos, procurai com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto,

procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois, desta maneira é que vos será

amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”

(1.10,11).

O que ele está dizendo? Ele está dizendo que se estas coisas estiverem em sua vida e

aumentando, você dará frutos e não irá esquecer se está salvo ou não. Em outras

palavras, você se alegrará na certeza da

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segurança da sua salvação e da sua união real com Cristo. Inclusive e principalmente pela

constatação das realizações da graça de Deus através das suas obras, gerando a alegria de

perceber a sua frutificação e utilidade real no reino de Cristo. A alegria da certeza da salvação

não é meramente intelectual, ela é essencialmente de caráter prático. Você saberá pelo testemunho das vidas abençoadas através

da sua própria vida, que de fato Cristo tem operado através de você, e é nisto que se cumpre

especialmente o sentido da exortação à perseverança e à maturidade espiritual, pelo

esforço em diligência em santificação, pelo revestimento das virtudes de Cristo. Quem é útil

para Cristo e frutifica nele, não está cego quanto à posição que lhe deu a salvação pela graça,

mediante a fé, porque pela mesma graça e fé, tem dado os frutos visíveis do seu ministério.

Entretanto, nunca deveremos sequer imaginar que é pela nossa frutificação e utilidade no reino de Cristo que somos salvos, pois a Palavra é clara

em ensinar que a salvação é um dom gratuito de Deus, e que é um assunto exclusivo de graça e fé.

Não somos salvos pelas nossas boas obras conforme afirmam as Escrituras. Necessitamos

de perseverança para a confirmação e o desenvolvimento daquilo que já recebemos, e

somente isto. Não temos nada para nos gloriar em nós mesmos quanto à nossa salvação, mas

somente na obra realizada por Jesus Cristo. Foi

49

nele e por meio dele que recebemos uma nova natureza, uma nova vida, que deve ser

amadurecida no processo de santificação, mas até mesmo este amadurecimento procede dele

e é realizado por Ele, como Mediador da eterna aliança feita no seu sangue, e como nosso Sumo

Sacerdote exaltado no céu, à direita do Pai.

Deus deseja que você tenha a certeza e a alegria da sua firme segurança em Cristo. Ele não deseja que você viva duvidando da posição que

foi conquistada pela graça, mediante a fé (Rom 5.1,2). Ele deseja que você tenha alegria nesta

confiança de que está a caminho da perfeição do céu. Ele não quer que você tenha qualquer

sombra de dúvida sobre a sua viva esperança obtida por meio de Cristo.

No entanto a verdadeira certeza da segurança da salvação não é uma mera reflexão racional sobre a firmeza da nossa posição em Cristo, mas

uma atestação do Espírito Santo com o nosso espírito, que está associada à nossa

perseverança na fé. Se estamos vivendo em obediência a Deus e aos seus mandamentos,

então o Espírito certifica a nossa obediência com a infusão da certeza da segurança da

salvação. Isto é uma graça para ser experimentada somente pelos crentes que

obedecem ao Senhor.

50

A pregação ou ensino que aponta para a certeza da segurança da salvação e não indica o

caminho da perseverança para a confirmação desta certeza, não está de acordo com o ensino

das Escrituras, porque, com isso muitos poderão ser induzidos a pensarem,

ilusoriamente, que estão na posse de algo que podem não terem obtido de fato, por terem somente confessado a Jesus como Salvador em

determinado dia de suas vidas, e no entanto, permaneceram vivendo do mesmo modo que

sempre viveram antes da sua alegada conversão. É por isso que Deus determinou que

busquem a santificação e perseverem, todos os que declaram terem se convertido a Cristo, para

que possam ter a comprovação que de fato Lhe pertencem. A genuinidade da conversão deve

ser testada, comprovada e confirmada por se viver em santidade de vida, pois é pelo fruto que

se conhece a árvore. Se foi plantada por Deus dará bons frutos, o que só será possível

mediante a perseverança em santificação.

A questão da certeza da segurança da salvação não é para ser colocada em termos simplistas

semelhantes a este: “muito bem, se você aceitou a Jesus você pode e deve gloriar-se no fato de

estar salvo para sempre.”. Não deve ser assim. Isto é parte da verdade. Não em relação à

salvação que é eterna, mas quanto à certeza da segurança por parte do crente, esta lhe vem e só

pode vir pela sua própria perseverança pessoal.

51

Pelo crescimento em fé, em santificação de sua vida. Por que isto? O Espírito Santo somente

infunde o sentido da certeza da segurança, que a propósito, é cada vez maior à medida que

perseveramos, quando se está em comunhão com Deus, e esta só é possível quando se

persevera. Porque a certeza da esperança de que seremos glorificados no porvir é sentida à medida que somos transformados de glória em

glória em nossa caminhada espiritual neste mundo, porque isto testifica que estamos

rumando de fato para o fim a que fomos predestinados por Deus, a saber para sermos

semelhantes a Cristo (Rom 8.28-30).

Deus é sábio. Chamou-nos muito mais do que para livrar-nos simplesmente do inferno. Isto é apenas consequência da nossa chamada para

sermos seus filhos, para sermos santos. Sem perseverar na fé, e santificar-se, não podemos

estar atendendo a tal objetivo. Por isso associou a certeza da salvação à perseverança, isto é, à

nossa santificação. Se nos santificamos sabemos que somos salvos pela testificação do

Espírito, se não o fazemos, como diz Pedro em sua segunda epístola (1.9) ficamos cegos, vendo

somente o que está perto, isto é, não podemos ver e exultar na nossa glorificação vindoura no

céu, porque estaremos vivendo segundo a carne e sem fazer progresso em santificação, e

ficaremos também esquecidos até da

52

purificação, isto é do perdão dos nossos pecados antigos, anteriores à nossa conversão.

A salvação é eterna e segura, é exclusivamente pela graça e mediante a fé, mas está associada à perseverança, porque se diz que o que

perseverar até o fim será salvo.

Em todo o Novo Testamento o crente é exortado a perseverar até o fim para a plena certeza da

esperança, e para a convicção da sua participação de Cristo. Como já comentamos,

não é isto a causa da sua salvação, mas o que lhe dá a certeza de tê-la obtido e de estar vivendo do

modo que seja agradável a Deus (Col 1.10,11; II Tes 2.15; Heb 2.1; 3.14; 10.23; 35,36).

Todo crente sábio e esclarecido zelará portanto pela sua salvação desenvolvendo-a com temor e

tremor, sabendo que ela é segura e eterna, e não há o risco de perdê-la enquanto estiver ciente da

necessidade de perseverança e progresso na fé, conforme é da vontade de Deus, para a plena

certeza de que permanece na posse de tão precioso dom que lhe foi concedido pela graça,

mediante a fé em Cristo, de uma vez para sempre, isto é, a partir da sua justificação e regeneração ocorridas na sua conversão e

desde aí, para toda a eternidade.

Nunca devemos esquecer que a nossa justificação e regeneração são irrevogáveis e

53

irreversíveis, garantindo assim a segurança eterna da nossa salvação. A santificação e a

perseverança são consequência da salvação e não a sua causa. A causa da salvação está

relacionada exclusivamente à eleição, à redenção, à justificação e à regeneração,

estando tudo isto associado à misericórdia, à graça e ao amor de Deus, e à fé dos eleitos. Com a causa (principalmente, eleição e justificação)

eu recebi a salvação, e com a consequência (perseverança) eu simplesmente mantenho e

amadureço o que já recebi pela fé.

Agora, algo deve ser dito preliminarmente sobre a perseverança. Nada se diz na Bíblia sobre um determinado padrão de perseverança que

mantém a salvação. Ou sobre um determinado grau de perseverança. E nem mesmo sobre a sua

forma, isto é, se contínua, intensa, etc. Fala simplesmente em perseverança e nada mais. E

esta perseverança está principalmente associada à fé, isto é, à não negação de Cristo,

especialmente nas perseguições e tribulações. Refere-se a não nos envergonharmos dele e a

confessarmos o seu nome diante de todos os homens. Em suma, consiste no testemunho da

nossa fé, ainda que isto nos custe danos e perdas, até da própria vida. Em outras palavras,

o que foi salvo deve viver como salvo, o que foi justificado deve viver como um autêntico

crente.

54

O crente é chamado a dar prosseguimento ao ministério de Cristo relativo à salvação dos

pecadores, e por isso deve dar testemunho da sua fé, sendo luz e sal para o mundo.

Vemos assim que a perseverança está muito mais associada a uma fé dinâmica que atua no

mundo, do que à simples ideia de purificação e desenvolvimento pessoal no conhecimento intelectual das cousas referentes à salvação,

ainda que isto também seja parte da vida cristã. Ninguém se iluda portanto a tal respeito, porque

sabemos pela Palavra, que a perseverança não é medida tanto pela nossa aproximação da nossa

perfeição moral, quanto pela demonstração da nossa disposição em servir a Cristo, por amor a

Ele, sendo instrumentos em suas mãos, compromissados com os seus interesses,

estejamos nós, no grau em que estivermos da nossa santificação.

A doutrina que diz que você pode perder sua salvação, basicamente torna a salvação

condicional. Em outras palavras, sua salvação é mantida caso você ache as condições de mantê-

la. Isto é, Deus nos salvou, e agora se nós continuarmos a manter o padrão nós

poderemos manter a salvação, mas se em dado momento nós viermos a cair do padrão nós a

perderemos. Agora não é necessário muita visão para compreender que isto é basicamente

uma perspectiva de justiça própria decorrente

55

de obras. Em outras palavras, você está dizendo realmente que a salvação é condicional através

da ideia que minhas obras têm que permanecer no padrão ou eu perderei a minha salvação.

Eu creio que é exatamente este o assunto que Paulo enfoca em Romanos 5. E me admira que em muitos tratados que abordam o assunto da

segurança do crente, Romanos 5 nunca é discutido. Ou algumas vezes aparece como

simples nota de rodapé. Há cerca de um ano atrás o Senhor me falou que Romanos 5 é a base.

Hoje compreendo que é a base da salvação.

Eu creio que entre todas as passagens do Novo

Testamento, esta é o mais absolutamente definitivo texto escrito sobre a segurança da

nossa salvação.

Paulo está escrevendo basicamente para afirmar o evangelho. E sua afirmação até o

capítulo quarto de Romanos é que a salvação é pela graça mediante a fé. E isto implica na

justificação do pecador. E que a fé é tudo o que é necessário para se apropriar da salvação eterna.

Agora, francamente, isto é totalmente revolucionário para um judeu. Eles criaram um

sistema de salvação baseado nas obras de justiça própria, por fazerem certas obras com vistas a

ganhar o favor de Deus. E, francamente, é exatamente isto o que apresentam todas as

religiões do mundo que são erigidas com base

56

na bondade do homem, e que criam para o homem algum código religioso. Um

determinado padrão ético.

Então, quando Paulo afirma nos capítulos 3 e 4

que a salvação é um dom gratuito, que é dada pela graça de Deus, que é um dom imerecido dado a pecadores, e que é apropriado pela fé e

somente pela fé, e então é nisto que todos os homens encontram muita dificuldade para

compreenderem a exata extensão desta verdade. Porque os homens basicamente

encontram-se em trabalhos, eles estão dentro das realizações humanas, em sua justiça

própria. Basicamente, a filosofia dos homens e das religiões do mundo é: eu sou bom, eu sou

religioso, Deus nunca me enviará ao inferno. Você tem ouvido miríades de vezes: Eu penso

que eu sou uma boa pessoa, eu faço o meu melhor na religião. Eu creio que é por isso que

Deus nunca me condenará.

É muito difícil para as pessoas que têm sido ensinadas e educadas a compreenderem que elas podem entrar no reino de Deus por serem

boas, ou éticas, ou morais, e particularmente os judeus, ouvirem que isto é somente uma

matéria de fé.

É por isso que Paulo sempre cita os judeus em seus argumentos em Romanos sobre a

57

justificação que é somente pela graça mediante a fé.

Qualquer judeu diria a Paulo: você está certo de que somente a fé é o suficiente para salvar uma

pessoa? Você acha que ela fará todo o trabalho? Não é necessário viver num determinado

padrão? Somente a fé me livrará do grande julgamento futuro de Deus? E o que mantém

esta salvação pela fé?

É para responder principalmente esta pergunta que o capítulo 5 de Romanos foi escrito.

No assunto da salvação tudo é pela graça, tudo é pela fé.

Mas, o cerne da questão se encontra na forma de se entender a doutrina. O fato de ser por

graça, mediante a fé somente, não significa, conforme nenhuma passagem das Escrituras dá

apoio a isto, o fato de se pensar que o crente pode viver como bem lhe aprouver. Que o crente

pode fazer o que ele desejar.

A graça e a fé salvam para que o crente viva em santidade de vida, na prática da justiça e das boas obras.

Em Romanos 5 Paulo apresenta grandes elos da corrente que ligam o crente ao Salvador.

58

Se estudamos e compreendemos realmente estes elos, percebemos que estamos ligados a

Jesus para sempre. Isto é uma coisa maravilhosa para se saber. Deus não nos chamou para

vivermos em eterna insegurança, pois se tememos perder a salvação na terra, pelo

argumento do livre arbítrio, continuaríamos a temer então, para sempre também no céu. O amor lança fora o medo. Somos chamados à

certeza, à convicção, de outro modo, a paz com Deus referida em Romanos 5.1, que obtivemos

pela justificação não poderia ser perfeita. Por isso, a justificação é uma obra acabada e

perfeita. A nossa santificação sempre será uma obra inacabada neste mundo. É por ela que

estamos sendo tornados semelhantes a Cristo. É um contínuo caminhar. É um progresso em

despojar-se do velho homem e revestir-se do novo. Não há portanto, um padrão definido de

santificação estabelecido por Deus para que em sendo atingido, poderíamos dizer que estamos

salvos. Por isso que se diz que a reconciliação com Deus foi obtida e será mantida pela nossa

justificação, e não pela santificação.

Uma das coisas que Satanás costuma atacar no crente é este ponto da segurança da sua

salvação. Satanás adora lançar dúvidas sobre nossa redenção. É por isso que se diz em Ef 6, que

se coloque o capacete da salvação, e em Tes 5.8 refere-se à couraça da fé e como capacete a

esperança da salvação, e no verso 9 afirma a

59

razão disto: porque o crente não foi destinado por Deus para a ira, mas para alcançar a salvação

por meio de Jesus. Em outras palavras, o crente não será condenado, mas salvo por Deus. Não

está mais sujeito à ira de Deus, por causa de Jesus. A esperança da salvação não é incerta,

mas segura. É algo em que o crente deve confiar inteiramente, qual capacete que protege sua cabeça dos dardos inflamados de dúvidas que

lhes são lançados por Satanás.

Satanás trabalha para que o crente não saiba ou duvide que se encontra firme para sempre nas mãos de Deus. É impressionante como ele

consegue cegar o crente para as afirmações feitas pelo próprio Jesus, tais como esta que

encontramos em Jo 10.27-29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e

elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as

arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai

ninguém pode arrebatar.”.

Ah, como isso fere ao diabo, saber que Ele não poderá ter no inferno a nenhum dos que Jesus

genuinamente justificou e regenerou. Por isso ele trabalha para infundir a dúvida no crente, de

que pertence realmente a Deus para sempre. E se Deus o aceita completamente como filho,

apesar de suas imperfeições e limitações.

60

O diabo deseja que você creia que de alguma forma, você pode perder sua redenção e ele

soprará sobre você para que se sinta inseguro e intimidado. Por isso você deve colocar o

capacete da esperança da salvação. Esta esperança significa que você pode aguardá-la

como coisa segura e certa, porque Deus é fiel para cumprir a promessa de salvá-lo eternamente e de que ninguém tirará você das

mãos de Jesus e das mãos do Pai, como se lê em Jo 10.27-29.

A própria igreja pode disciplinar um crente excluindo-o da comunhão, e assim ficará sujeito

aos ataques de Satanás que visarão à destruição da sua carne, mas este não poderá causar

qualquer dano ao seu espírito, que será salvo no dia do Senhor, porque a Palavra afirma que um

genuíno crente (justificado e regenerado) não pode ser mais tocado pelo maligno. Isto é, o

diabo não o terá consigo no inferno.

Mas, quantos crentes autênticos desejam ser entregues a Satanás para destruição da carne? (I Cor 5.5; I Tim 1.20). Quantos almejam ser salvos

como que pelo fogo? (I Cor 3.15). Graças a Deus que a graça tem se revelado poderosa e

abundante, e são pouquíssimos aqueles, ao longo de toda a história da igreja, que caíram,

ainda que não definitivamente, de tal forma. Não se deve portanto tratar do assunto da

segurança da salvação pelos que se desviam,

61

que são pouquíssimos, e que a propósito, muitos se reconciliam com o Senhor, antes da morte,

mas pelos que permanecem firmes na fé, revelando que nossa salvação é de fato segura

porque é operada pelo Senhor, que nos justificou e regenerou somente por graça e

somente mediante a fé.

A grande questão que se apresenta diante de nós, na igreja, não é tanto a de que se perde ou

não a salvação, mas se conhecemos ou não a doutrina da justificação pela graça mediante a fé

segundo o ponto de vista de Deus, e não do nosso próprio modo de entender esta verdade das

Escrituras, que é portanto a única verdade de Deus relativa à nossa salvação.

Muitos na igreja têm noções vagas sobre o assunto da eleição, da justificação, da

regeneração e da santificação, conforme são na verdade, e já revelados na Palavra, mas ao mesmo tempo têm também um parecer final

sobre o modo de se obter ou de se manter a salvação. Todos de uma forma ou de outra, têm

sua própria opinião sobre o assunto. Mas a nossa opinião não pode mudar em nada a verdade que

foi estabelecida por Deus, relativa à nossa salvação, antes mesmo que houvesse mundo,

no Pacto eterno havido na Trindade.

O primeiro elo da corrente que nos liga a Cristo está citado em Rom 5.1: “pois”, ou “então”, isto

62

é, “concluímos desta forma”. Esta partícula conclusiva que se encontra no texto, embutida

no estudo sobre a justificação pela fé, desde que nós temos sido justificados pela fé, e tudo o que

está envolvido nisto, “então sendo justificados pela fé, nós temos,”, e aqui está o elo número

um, “paz com Deus”. A primeira grande realidade que me afirma que como um crente eu estou eternamente seguro em minha

salvação é a paz com Deus.

A palavra “pois” é o elo que nos liga ao fundamento que foi colocado nos capítulos terceiro e quarto...a justificação pela fé, me

tornou justo diante de Deus pela fé no seu Filho Jesus Cristo. Você creu em Jesus Cristo e você foi

salvo. E sendo salvo você entrou na posse da herança eterna cheia de bênçãos. E eu creio que

Paulo não pretendeu dizer em Rom 5.1 todas as consequências abençoadas da nossa

justificação, mas uma delas que é a de que estamos seguros no nosso relacionamento

porque nós temos paz com Deus através de Jesus Cristo.

Agora, o que é esta paz? Do que estamos falando quando dizemos que temos paz com Deus?

Alguns têm sugerido que isto significa que nós temos tranquilidade de mente, que nós temos

uma espécie de senso psicológico de segurança, que nós temos uma determinada sorte de

sentimentos positivos de que estamos seguros.

63

Eu penso que isto significa algo muito além de todo o tipo de coisas subjetivas. Esta afirmação

não é subjetiva, mas objetiva. Não fala de sentimentos ela fala de relacionamento.

Sentimentos não são o assunto aqui. É dito que temos paz com Deus

Agora, se nós temos paz com Deus por causa da salvação o que nós tínhamos antes da salvação?

A guerra, que é o oposto da paz. Mas Jesus tem

mudado radicalmente o nosso relacionamento com Deus. Nós estávamos em guerra com Deus.

Ele era nosso inimigo porque nós éramos seus inimigos. Mas por causa da justificação pela fé

nós temos sido trazidos a um relacionamento de paz, paz real. E esta paz não é uma atitude. Não é

uma tranquilidade psicológica, não é paz de mente, não é qualquer tipo de sentimento. Isto

significa simplesmente que a guerra entre nós e Deus acabou. Você compreende isto? A guerra acabou.

Agora, as pessoas de modo geral, não percebem, em razão da justiça própria e do pecado, que

estavam em guerra com Deus, pois costumam dizer: Eu gosto de Deus. Eu nunca estive em

guerra com Deus. Mas a Bíblia ensina claramente que a carne é inimizade contra

Deus. Que aquele que ama o mundo é inimigo de Deus. Éramos seus inimigos porque não éramos

justos aos seus olhos de perfeita justiça e

64

santidade. E mesmo nos crentes, que vivem na carne, há guerras, lutas, divisões, contendas,

porque a falta de santificação impede um relacionamento pacífico, harmonioso, em

unidade em amor. Mas, mesmo nestes, por causa de Jesus Cristo, a guerra relativa à sua

inteira aceitação por Deus acabou, porque são completamente justos aos seus olhos pela salvação que obtiveram em Cristo e que lhes deu

acesso à glória da perfeição que terão no céu. Podem portanto viver e agir como inimigos de

Deus, amando o mundo e dispondo suas energias para a carne, e certamente serão por

Ele disciplinados, mas já agora como filhos amados, por causa da justificação gratuita que

receberam pela misericórdia de Deus em Cristo Jesus. Foi por conhecer isto e por viver isto, que

Paulo se dirigia aos crentes carnais coríntios, chamando-os de filhos amados, mesmo quando

muitos deles estavam sendo disciplinados com enfermidades e até a morte física, que procedia

de Deus, em razão da sua carnalidade ostensiva, e que renitentemente, muitos deles se

recusavam a abandonar.

Mas, a Bíblia diz que antes de você vir a Cristo você estava em guerra com Deus. E algumas

pessoas podem dizer – Eu sou um bom religioso e não tenho feito nada contra Deus, eu creio em

Deus. Eu não me vejo como um inimigo de Deus. Está certo. Eu concordo com isto. Mas não é este

o problema. O problema não é se você está em

65

guerra com Deus. Sabe qual é o problema? Deus está em guerra com você. Aí é que está a

diferença. O ponto é que Deus é nosso inimigo...por causa do nosso pecado. O nosso

coração está corrompido e é ele a fonte do pecado. Pecadinhos ou pecadões cheiram mal

nas narinas perfeitamente santas de Deus. Todos somos condenáveis sob a sua perfeita e inflexível justiça. Somos livrados desta condição

somente por causa de Jesus Cristo.

Deus é assim, para o homem que não está em Cristo, seu inimigo, independentemente de

estarem tais pessoas conscientes ou não disto. E o plano de Deus é este – você é tanto seu inimigo

e ele está tão em guerra com você que um dia ele o lançará num lago de fogo que queimará

eternamente. Isto revela o quanto Deus está em guerra com você. E todos nascemos debaixo

desta condenação por causa do pecado original. Ninguém precisa fazer qualquer coisa boa ou

má para ir para o inferno, porque já nasce condenado. Um só pecado sujeitou todo

universo à maldição e à morte. Quem pois pode ser salvo pela sua própria capacidade e poder de

permanecer firme diante de Deus, sem cometer um só pecado? Pois esta seria a condição exigida

para alguém ir para o céu sem necessitar da salvação que é pela fé em Cristo Jesus. Devemos

abominar todo tipo de pecado, devemos mortificar o pecado, mas não podemos ser

ingênuos ao ponto de pensarmos que há um

66

grau de santidade que é o que nos dá a salvação, porque, como bem sabemos, não há quem não

peque, e se dissermos que não temos pecado, como afirma o apóstolo João, mentimos e a

verdade não está em nós.

Agora isto é colocado sob uma luz diferente, não é verdade? Você pode perceber agora que Deus

está em guerra com o pecador. Deus é inimigo dos pecadores. Deus luta contra os pecadores.

Deus é inimigo do pecado.

Deus é inimigo de Satanás. E deste modo, se você

não é um filho de Deus você é um filho de Satanás e pertence ao domínio de Satanás e

Deus está em guerra contra este domínio. Este é o ponto.

Você diz – eu não tenho raiva de Deus. Isto é bom. Mas Deus está irado com você. Eu não estou fazendo nada para contrariar a Deus. Isto

é bom. Mas Deus irá lançar você no inferno. O grande fato é que Deus está em guerra com os

homens mesmo que eles estejam cônscios ou não da animosidade com Ele ou não. Esta ira de

Deus sobre os pecadores está claramente revelada nos dois primeiros capítulos de

Romanos. A Palavra ensina claramente que a ira e a maldição de Deus permanecem sobre

aqueles que não foram justificados em Cristo. Veja, sobre eles, e não apenas sobre os seus

pecados (Jo 3.36, Gál 3.10).

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O modernismo do evangelho humanista inventou a doutrina de que Deus está irado com

o pecado mas não com o pecador. Não é isso o que a Bíblia ensina. Isto não é o verdadeiro

evangelho, que afirma que a ira e a maldição de Deus permanece sobre os que procuram se

justificar pelas obras, ou sobre qualquer um que não tenha sido justificado pela fé em Cristo.

Em Isaías 13.9, lemos: “Eis que vem o dia do Senhor, dia cruel, com ira e ardente furor, para converter a terra em assolação, e dela destruir

os pecadores.”.

E prossegue no verso 10: “Castigarei o mundo por causa da sua maldade, e os perversos por

causa da sua iniquidade; farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba

dos violentos.”.

A Palavra dos profetas está confirmada no Novo

Testamento tanto nas palavras de Jesus quanto dos seus apóstolos: “Ora os céus que agora

existem, e a terra, pela mesma palavra têm sido entesourados para fogo, estando reservados

para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios.” (II Pe 3.7).

Deus destruiu seus inimigos, a saber, todos os pecadores que não estavam debaixo da justiça da fé, nos dias de Noé, e livrou somente o justo

Ló, nas cidades de Sodoma e Gomorra, como

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prova de que está em guerra contra os pecadores. E trará ainda uma destruição final de

todos os homens ímpios conforme acabamos de ler em II Pe 3.7, num juízo de fogo que trará

sobre a terra.

Só existe uma forma de deixar de ter Deus como nosso inimigo: Através da justificação pela fé em

Jesus Cristo. Podemos já, somente por este primeiro ponto, avaliarmos o valor profundo da

nossa justificação, que fez com que a guerra que Deus tinha contra nós, os que fomos

justificados, terminasse?

Depois de ter relacionado os pecados que costumam praticar os ímpios, Paulo disse:

“Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas cousas vem a ira de Deus sobre os

filhos da desobediência.” (Ef 5.6).

E aqui, o ponto, de que a justificação não foi para

continuarmos na prática do pecado, pois como já vimos, o viver no pecado é o que gera a

condição de inimizade com Deus: “Portanto não sejais participantes com eles. Pois outrora éreis

trevas, porém agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz.” (Ef 5.7,8).

Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Mas o atributo da sua justiça que opera com base na sua perfeita

santidade, faz com que Ele não esteja do lado dos

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pecadores. Ele não está do lado dos que rejeitam a Cristo. Ele é inimigo deles. Ele deve condená-

los à morte eterna, caso não se arrependam e sejam justificados, com a justificação que dá

vida, por meio da fé em Jesus Cristo.

Agora, voltando à afirmação do texto de Rom 5.1. O que você sente quando ele diz que temos paz

com Deus? Não é um som agradável e precioso agora? Isto não ocorreu porque fizemos algo para obtê-lo. Não foi por algo que nós fizemos

que Deus ficou satisfeito. O que foi então? O trabalho perfeito de Jesus Cristo. Pois Deus

despejou a sua fúria e ira sobre Jesus. É por isso que se diz no final do versículo, “através de Jesus

Cristo nosso Senhor”. Veja, em Cristo o nosso pecado foi penalizado, Jesus foi o completo

pagamento a Deus como propiciação, e Deus ficou satisfeito. O preço foi pago. Por isso

também se afirma em Col 1.20 “e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio

dele reconciliasse consigo mesmo todas as cousas,”. E a consequência desta justificação

que está baseada na redenção conquistada com o sangue que Jesus derramou na cruz, é

declarada logo dois versículos adiante, em Col 1.22: “agora, porém, vos reconciliou no corpo da

sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e

irrepreensíveis.”. É assim que o crente está para sempre à vista de Deus por causa da justificação:

santo, inculpável, irrepreensível. E é em razão

70

disso que a guerra com Deus acabou. Deus não é mais seu inimigo. Não mais o destruirá. Não

somente isto, fomos reconciliados com o Deus que é todo amor, justiça, bondade, santidade.

Estamos nesta condição à vista de Deus porque cada pecado pelos quais deveríamos ser

punidos, Cristo sofreu inteiramente a pena destinada a eles. A justificação e a reconciliação são termos que indicam realidades diferentes,

mas ambas são realidades inseparáveis. Porque a justificação conduz à reconciliação, que é a

mensagem do capítulo quinto de Romanos. A justificação conduz também à santificação, que

é a mensagem dos capítulos 6 a 8. E também à glorificação, que é a mensagem do capítulo 8.

Quando alguém se une a Cristo pela fé, e é justificado, a consequência desta justificação

não é somente a glorificação por vir, no céu, mas a santificação começa imediatamente o seu

processo na regeneração, e também ocorre a reconciliação com Deus. Assim, não somos mais

seus inimigos mas seus filhos. Fomos, pelo sacrifício de Jesus, conduzidos a um

maravilhoso relacionamento de reconciliação. E este é estabelecido por meio de Jesus Cristo

como está em Rom 5.1. Tudo que temos com Deus é através de Jesus Cristo. Lemos em Ef 1.3:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte

de bênção espiritual nas regiões celestiais em

71

Cristo.”. Veja que toda a sorte de bênção que recebemos é por meio de Cristo.

Alguém dirá: muito bem, em Jesus fomos reconciliados no nosso relacionamento com Deus. Mas e a manutenção deste

relacionamento? Como ocorre?

Jesus não somente nos reconciliou com Deus

inicialmente, mas Ele mesmo mantém esta reconciliação. Este é o seu trabalho de Sumo

Sacerdote. Você entende isto : I Jo 1.7 afirma que “se andarmos na luz... o sangue de Jesus, seu

Filho, nos purifica de todo pecado.”. Você percebe que é Jesus que continua nos lavando,

que continua mediando, que continua nos purificando de nossos pecados para que

possamos manter esta reconciliação? E a consequência disto é que temos comunhão uns

com os outros na igreja.

Assim há duas verdades tremendas envolvidas na reconciliação obtida pela justificação. Numa

das mãos temos paz com Deus para sempre porque cada um dos nossos pecados foi

castigado em Cristo. E na outra mão, em nossa caminhada diária neste mundo nós temos Jesus

como nosso Mediador e Sumo Sacerdote à direita do Pai intercedendo por nós, e lavando-

nos do pecado e nos purificando de toda injustiça. Assim, podemos ter paz com Deus

para todo o sempre.

72

A justificação produz aquilo que Hodge cita em sua teologia: “uma doce quietude na alma”. Eu

sou um filho de Deus. Amigo e irmão de Jesus. Sou da família de Deus e a paz está comigo.

É por isso que se ordena em Ef 6.15 que ao nos engajarmos nas batalhas espirituais contra o

Inimigo, que calcemos os pés com a preparação do evangelho da paz. Devemos estar convictos de que Deus está do nosso lado. Que Ele não está

em guerra conosco. Que estamos reconciliados com Ele. E que devemos levar esta reconciliação

a outros, com a firme convicção de que é à paz com Deus que eles têm sido chamados em Jesus

Cristo. Deus está do nosso lado contra o inimigo de nossas almas.

Alguém dirá: Bem, e quando eu peco? Em primeiro lugar, todos os seus pecados foram

pagos no passado por Cristo. O débito foi liquidado. E toda a fúria que estava destinada ao

seu pecado, Jesus a recebeu no seu lugar. E em adição a isto Ele continua intercedendo por você

para mantê-lo firme e limpo, de forma a poder permanecer num relacionamento de paz com

Deus. Isto é, de comunhão com Ele. É aqui que a santificação que nos é ordenada tem o seu lugar.

É por ela que mantemos a nossa relação de paz com Deus e uns com os outros. O crente carnal

vive em contendas e ciúmes, consigo mesmo, com Deus e com os irmãos na fé. (I Cor 3.1-3; Tg

4.1-4).

73

Entretanto, não podemos ter esta santificação fora de Cristo. E consequentemente, esta paz de

relacionamento com Deus e com os irmãos na igreja. Lemos em Ef 2.14: “Porque ele é a nossa

paz”. Jesus mesmo é a nossa paz. Enquanto Ele viver, Ele manterá este relacionamento de paz.

Deus ficou satisfeito com o sacrifício de Cristo pelos seus pecados. sua ira em relação aos justificados se foi, eles têm paz e nada pode

mudar este relacionamento.

Lemos em Hb 8.12: “Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus pecados jamais me lembrarei.”. E por quanto

tempo isto durará? Para sempre. Por que? Porque Cristo satisfez a ira de Deus.

Dizer a qualquer crente verdadeiro (eleito) que ele pode perder sua salvação é dizer uma de

duas coisas ou ambas: o trabalho de Cristo na cruz não foi suficiente. O presente sumo

sacerdócio de Cristo também não é suficiente. Você deseja dizer isto? Duvido. Em segundo

lugar, é pensar que há alguém que seja bom e perfeito? Que nenhum de nós desagrada a Deus

por causa das nossa própria justiça baseada na perfeição das nossas boas obras e caráter, e

pureza absoluta de nossos pensamentos, palavras e ações? Porque esta é a única forma de

sermos justos por nós mesmos diante de Deus e de maneira que Ele não esteja em guerra contra

nós, e irado por causa do pecado. Um só pecado

74

no curso de toda a nossa vida já nos sujeita ao inferno. Quanto à salvação há alguém que seja

suficiente para isto?

Mas, a salvação não vem de nós, ela é um dom

gratuito e imerecido que recebemos por causa de Cristo. É por meio dele, e dele somente que

tivemos acesso a essa graça maravilhosa e profunda que nos salva (Rom 5.17).

Repare como Paulo associa inteiramente tudo o que diz respeito à salvação a Jesus Cristo. Não é por acaso que o nome Jesus significa Salvador,

ou aquele que salva: O acesso à graça que justifica foi por meio de Jesus (Rom 5.2). Jesus

morreu por nós quando ainda éramos fracos e ímpios (Rom 5.6,8). Somos justificados e salvos

da ira pelo sangue de Jesus (Rom 5.9). Somos salvos pela vida de Jesus e fomos reconciliados

com Deus mediante a morte de Jesus (Rom 5.10). Recebemos a reconciliação por meio de Jesus

(Rom 5.11). O dom gratuito da salvação é abundante sobre muitos por meio de um só

homem, Jesus Cristo (Rom 5.15). A graça de Jesus deriva de muitas ofensas, para a justificação,

isto é, Ele morreu no lugar de cada um dos justificados, por causa dos pecados de cada um

deles, e não apenas para ser considerado o substituto de Adão (Rom 5.16) Os que foram

justificados recebem a abundância da graça e o dom da justiça que cobre todos os seus pecados,

e reinarão em vida por meio de um só, a saber,

75

Jesus Cristo (Rom 5.17). O único ato de justiça decorrente da perfeita obediência de Jesus à lei,

obedecendo-a perfeitamente em vida, e atendendo à exigência da lei da morte dos

transgressores (Jesus tomou o nosso lugar), trouxe-nos a graça para a justificação que dá

vida eterna (Rom 5.18). Por meio da obediência exclusiva de Jesus somos tornados justos à vista de Deus (Rom 5.19). A graça reina pela justiça

para a vida eterna, mediante Jesus Cristo (Rom 5.21). O que sobrou para os que são justificados?

Apenas crer.

Tudo foi feito por Cristo e está sendo cumprido

também por Cristo. Nada ficou de fora para nós fazermos ou completarmos. A sua obra foi

consumada perfeitamente.

Lemos em Judas 24: “Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos

apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória,”.

Deus é poderoso para guardar o crente de tropeços e conduzi-lo em segurança à sua glória

eterna. É isto que o texto de Judas afirma.

O fato de a graça ter superabundado onde abundou o pecado é a verdade por meio da qual

somos salvos. Porque mesmo depois de convertidos, ainda estamos sujeitos ao pecado, e

se não houvesse uma graça superabundante

76

para cobrir os nossos pecados, nenhum de nós poderia ser salvo. Isto é como as águas do dilúvio

nos dias de Noé que cobriram todos os montes. Nossas montanhas de pecados, pode não ser aos

nossos olhos, mas aos olhos de Deus são verdadeiras montanhas, porque Ele considera

pecado o que fazemos e o que deixamos de fazer, seja grande ou pequeno, e mais do que isso leva em conta a intenção do nosso coração, nossos

pensamentos, imaginação etc. O crente, por mais consagrado que seja, aos olhos de Deus

está cheio de pecados. Mas, de onde lhe vem a santidade em que vive, a paz que sente no seu

coração, a alegria em sua alma, senão da graça de Jesus, que o purifica de tudo o que desagrada

a Deus.

Deus justifica por eleição e misericórdia. “Terei

misericórdia de quem quiser ter misericórdia”.

É preciso ter muito cuidado para não colocarmos o assunto da justificação em termos

de méritos pessoais ou da justiça própria. Assim fazendo não incorreremos no erro do fariseu em

relação ao publicano, na parábola citada por Jesus, o qual era justo diante de Deus aos seus

próprios olhos, pelas obras que praticava. Ao seu lado, um desprezado publicano, reconhecia-se

pecador, e sequer ousava erguer os olhos para o céu, em arrependimento dos seus pecados. Este

foi justificado e não o outro.

77

A parábola dos trabalhadores na vinha também exemplifica a concessão da graça na mesma

medida salvadora, para todos os homens, independentemente dos seus méritos. Pois

todos receberam o mesmo salário, tanto os que trabalharam muitas horas quanto os que

trabalharam uma só hora.

A razão porque o Senhor “não desamparará o seu povo” como está afirmado em I Sm 12.22 está

expressada aqui mais explicitamente, tanto quanto a declaração do seu imutável amor. Não

é porque eles fossem menos pecadores do que os outros, quer em natureza quer por praticá-lo;

ou por causa de alguma qualidade moral que se encontrasse neles; mas “porque aprouve ao

Senhor fazer-vos o seu povo.”, e “por causa do seu grande nome”.

É da natureza terrena levar-nos a comparar-nos com outros e entendermos que somos mais justos do que eles. Mas aos olhos de Deus todos

somos transgressores da sua lei e culpados. Somente em Cristo e por meio de Cristo e por

causa de Cristo, que podemos ser aceitos, porque a nossa natureza terrena, seja ela qual

for, a de um sincero Nicodemos, ou a de um terrível malfeitor, está separada de Deus, em

sua morte espiritual, e necessita de um novo nascimento, que só pode ter aquele que for

justificado pela fé.

78

A graça somente opera para o nosso bem porque é de fato um favor imerecido. De outra forma

não operaria para nenhum de nós. Bem faríamos em fazer sempre como o publicano,

por maior que seja o grau de nossa santificação: “Oh Deus sê compassivo a mim mísero

pecador”, e também a dizer juntamente com Paulo, “Miserável homem que sou. Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por

Jesus Cristo.”.

Jesus nosso grande Sumo Sacerdote está trabalhando agora para manter a paz e a aplicação da graça em nós.

Observe que Rom 5.10 afirma que agora, muito mais, já tendo sido reconciliados, seremos

salvos pela vida de Jesus. Fomos reconciliados pela morte e estamos sendo salvos pela vida. Se

a morte do Salvador pôde redimi-lo quanto mais a sua vida não poderá guardá-lo? Este é o grande

trabalho sacerdotal de Jesus. Ele intercede continuamente em nosso benefício junto ao Pai.

Paulo afirma em II Tim 1.12 que estava persuadido de que Deus é poderoso para guardar o seu depósito até o dia da sua chamada

à glória celestial. Confiança em Deus.

Lemos em Heb 10.14: “com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo

santificados.”

79

E em Heb 10.10: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de

Jesus Cristo, uma vez por todas.”.

Por uma única oferta temos sido santificados para sempre. Ele nos aperfeiçoou para sempre.

nele estamos aperfeiçoados como se diz em Col 2.10. Isto é verdadeiro mesmo aqui na terra,

onde estamos sujeitos ainda a muitas imperfeições, porque nossa justificação e

regeneração foram atos perfeitos e completos de Deus. A nova natureza está perfeita em todas

as suas partes, é uma nova vida que deve ser desenvolvida. Não está perfeita no

desenvolvimento, mas é perfeita na sua condição de incorruptibilidade e santidade. O

perdão dos nossos pecados foi também perfeito e completo.

Por isso se diz o que encontramos em Rom 8.31 a 39. O texto é longo e por isso não o estamos citando aqui, mas é muito importante que você

o leia e veja ali apontadas as consequências da justificação, de não podermos mais ser

acusados, condenados e separados do nosso relacionamento com Deus através de Jesus

Cristo.

A salvação não é somente para este tempo, mas sobretudo para a perfeição em glória na eternidade. Foi para isto que Deus nos salvou.

Como deixaria pois de concluir a sua obra

80

iniciada na justificação e na regeneração? (Fp 1.6). Como poderia o Criador de todas as cousas,

para o qual tudo é possível, ser frustrado naquilo que planejou no Pacto, na predestinação e

eleição? Como? Nem o pecado foi impedimento para a realização de sua vontade de ter muitos

filhos semelhantes a Cristo. Isto não depende de nós, de modo algum e também não é por meio de nós, mas exclusiva e totalmente por meio da

sua soberana vontade que tem sido cumprida através de Cristo.

Este é o verdadeiro evangelho, porque está em conformidade com o ensino de Jesus e dos

apóstolos. O modernismo evangélico adulterou a mensagem e ofendeu a soberania divina na

salvação, e não são poucos por isso, que pregam que a salvação é conquistada pelas obras do

homem, em cooperação com a vontade de Deus.

Somos salvos para as boas obras, não pelas boas obras. Não é a santificação que cobre a multidão

dos meus pecados. Mas o ato de Deus em Jesus Cristo da redenção dos meus pecados na cruz.

Não é o meu esforço que me torna justo aos olhos de Deus, mas a justiça de Cristo com a qual

fui vestido na justificação. Deus se agrada do nosso esforço na prática da justiça, mas não é

isto de modo nenhum o que nos justifica, e nem o que nos torna agradáveis e aceitáveis a Ele, isto

decorre simplesmente dos méritos de Cristo. É

81

simplesmente por causa de Jesus e da justificação que obtivemos por meio dele, pela

graça, mediante a fé, que somos agradáveis a Deus. É pela fé nele, que podemos nos

aproximar do Senhor e sermos santificados. É o sangue dele que nos perdoa os pecados e

purifica de toda injustiça. É por ser nosso Advogado e Sumo Sacerdote que temos paz com Deus. Que podemos sentir a sua Santa presença.

Maldito sentimento portanto, de justiça própria que acaba nos afastando de Deus, tanto quanto o

fariseu da parábola.

Outra vez dizemos: tenhamos a mesma atitude do publicano para o bem das nossas almas e

progresso verdadeiro em santificação. A graça é concedida a quem se humilha, que reconhece

que tudo está em Cristo, e que tudo procede dele em relação à nossa salvação, crescimento

espiritual, paz no relacionamento com Deus, santificação etc. Lembremos que Deus não

somente deixa de conceder graça ao soberbo, como também lhe resiste.

Do lado de Deus temos a reconciliação como um terreno firme onde podemos andar. E a promessa de que seremos firmados,

aperfeiçoados, fundamentados, glorificados. Esta é a sua parte. E qual é a nossa parte. A nossa

parte é perseverar e obedecer.

82

Como andamos em obediência? O Espírito Santo nos foi outorgado para podermos ser

guardados por caminhar em obediência.

I Pe 1.5 afirma que nós somos guardados pelo

poder de Deus. Isto aponta para a verdade de que a nossa salvação é para sempre. A alegria e o

conforto dos crentes depende realmente do senso de segurança da salvação. Em Romanos 5 Paulo afirma que a nossa salvação, a nossa

justificação pela fé é segura... no poder de Deus.

Em Ef 1.13,14 lemos: “em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele

também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa

herança até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”. Paulo mais diz, que orava

para que lhes fosse concedido espírito de sabedoria e de revelação no pleno

conhecimento de Jesus Cristo, para saberem qual é a esperança do chamamento do crente,

qual a riqueza da glória da sua herança nos santos,” (Ef 1.17,18). Em outras palavras, ele está

dizendo: “para provar que você que foi salvo pelo evangelho já conquistou uma herança que há de

se manifestar no porvir, Deus lhe concedeu o Espírito Santo como um selo que está

estampado em você que o identifica como propriedade permanente de Deus (v.14), como

garantia da riqueza da glória da herança que lhe

83

será concedida no céu, e pelo que eu estou orando para que Deus lhe revele a certeza dessa

esperança, e lhe dê entendimento disto.”. Deus quer que os seus servos tenham certeza da

segurança da sua salvação, conforme está revelado nesta porção da sua Palavra.

É preciso compreender o que temos tido em Cristo. Paulo estava dizendo aos efésios: agora que vocês foram salvos, eu estou orando para

que vocês possam compreender que sua salvação é para sempre, e que vocês têm uma

esperança e uma herança que será revelada na glória por vir.

Em Fp 1.6 lemos: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de

completá-la até ao dia de Cristo Jesus.”. Paulo havia aprendido o seu evangelho, que é o único

evangelho, diretamente de Jesus. Este ensino expresso em suas palavras ele aprendeu

certamente por revelação que lhe fora feita pelo Senhor, quanto ao caráter do evangelho da

salvação. Aquele que foi salvo será impulsionado pelo próprio Deus para

perseverar rumo à maturidade espiritual, à estatura de varão perfeito, pois este é o objetivo

da salvação, conforme planejado e revelado por Deus na Palavra, sermos semelhantes a Cristo. É

nisto que Ele trabalhará em todo o tempo para ver formado em nós. É na direção do

cumprimento deste seu Supremo propósito que

84

todas as coisas estão cooperando juntamente para o bem daqueles que o amam, a saber, os

salvos.

85

Perseverança na Tribulação

“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não

desanimados;

perseguidos, porém não desamparados;

abatidos, porém não destruídos;” (II Cor 4.8,9)

As nossas melhores alegrias, caso sejamos

cristãos autênticos, sempre estarão misturadas

a tribulações, aflições, perplexidades, perseguições e abatimentos.

Isto porque todo cristão está empenhado numa batalha entre o bem e o mal, que é tanto interna,

quanto externa.

Então, não é sábio confiar numa teologia que nos aponte Cristo como sendo o fim de todos os

nossos problemas terrenos.

Esta condição de bem-aventurança completa,

sem qualquer lágrima ou dor, está prometida ao cristão somente para o porvir.

Enquanto estivermos deste outro lado do céu,

teremos muitas tribulações, aflições e perplexidades, sem no entanto, nunca sermos

desamparados pelo auxílio da graça de Deus, ou então, de sermos deixados por Ele à mercê de nossas tribulações, aflições, perseguições e

abatimentos.

Ele nos dará alívio, socorro e livramento, conforme nos tem prometido em sua Palavra,

caso Lhe permaneçamos fiéis em tudo.

86

“Permanecer Firmes na Fé" (Atos 14.22)

A perseverança é o emblema distintivo dos

verdadeiros santos.

A vida cristã não é apenas um início nos caminhos de Deus, mas também a continuação

da mesma, enquanto a vida dura.

Dá-se com o cristão, aquilo que se deu com

Napoleão, ele disse: "A vitória fez de mim o que sou, e a vitória deve manter-me assim." Então,

sob Deus, querido irmão no Senhor, a vitória fez com que você seja o que você é, e ela deve

mantê-lo assim. seu lema deve ser: "Excelente". Somente é um verdadeiro vencedor, e será

coroado no final, quem permanece firme até que a trombeta de guerra não seja mais tocada.

A perseverança é, portanto, um alvo para todos

os nossos inimigos espirituais.

O mundo não se opõe a que você seja cristão por

um tempo, se ele puder tentá-lo a cessar a sua peregrinação, e a se estabelecer para comprar e

vender com ele na Soberba da Vida.

A carne vai procurar iludi-lo, e para evitar o seu esforço para a glória. "É um trabalho cansativo

ser um peregrino, vem, desista. Devo sempre ser humilhado? Nunca serei indulgente? Dê-

me, pelo menos, uma licença nesta guerra constante. "

Satanás fará muitos ataques ferozes à sua perseverança, que deixarão cicatrizes para

todos os seus dardos inflamados. Ele se

87

esforçará para impedi-lo de realizar o seu serviço: ele vai insinuar que aquilo que você está

fazendo não é bom, e que deve descansar. Ele fará o possível para torná-lo cansado de sofrer,

ele vai sussurrar: "Amaldiçoe a Deus e morra." Ou ele atacará sua firmeza : "Qual é a vantagem

de ser tão zeloso? Fique quieto como os demais; sonhe como os demais, e deixe a sua lâmpada apagar como as outras virgens fizeram.” "Ou ele

atacará as suas convicções doutrinárias: "Por que você está apegado a estes credos

denominacionais? Homens sensatos estão ficando mais liberais, pois eles estão removendo

os marcos antigos: os tempos mudam."

Portanto, use seu escudo, cristão, próximo de

sua armadura, e clame fortemente a Deus, para que, pelo seu Espírito, você possa perseverar até

o fim.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

88

Perseverança, Paciência e Longanimidade

A perseverança ou paciência ensinada pela

Bíblia e que é esperada dos crentes é muito mais definida pela ação objetiva do Espírito Santo em

levá-los em segurança à condição em que devem ser achados, sobretudo na glória, do que

pela ação subjetiva dos crentes em atingi-la pelo próprio esforço deles.

Obviamente, deve haver um esforço da nossa parte para que a perseverança tenha a sua obra

perfeita, todavia, quem nos habilita à condição de permanecer na fé e em Cristo até o fim é o

poder do Espírito Santo.

Deus, que começou a boa obra de santificação

dos crentes pelo Espírito Santo, há de completá-la, Ele mesmo, até o dia da volta de Jesus Cristo.

Temos esta certeza e esperança conforme prometido amplamente nas Escrituras, de

modo que não há o perigo de que algum crente venha a se perder definitivamente.

Quedas e interrupções no trabalho de santificação serão curadas no tempo próprio

pela graça de Jesus, ainda que isto ocorra somente na glória.

De modo que a segurança eterna da nossa salvação é apontada nas palavras de Jesus pela

evidência da nossa perseverança até o fim, a saber, Ele ensina claramente que aqueles que

salvou não serão rejeitados por Ele de modo

89

nenhum, pois garantirá, pelo seu próprio poder, que perseverem em amá-lo até o fim.

Contra o testemunho das próprias Escrituras muitos afirmam que pecados eventuais podem

levar um crente genuíno à perdição eterna, e se assim fora de fato, ninguém poderia ser salvo,

pois não há quem não peque (I João 1.8,10 ).

É o sangue de Jesus e o seu trabalho Sacerdotal

que nos garantem a eternidade da nossa salvação. Deve ser assim para que toda a glória

seja dele, e para que ninguém se glorie diante de Deus quanto à obtenção e manutenção da sua

salvação.

Pecados eventuais são tratados pela mesma

graça que nos salvou quando nos convertemos ao Senhor, por meio da confissão e do nosso

sincero arrependimento.

A fraqueza momentânea do crente não pode diminuir o poder de Deus para restaurar.

Quando o apóstolo Paulo declara que aquele que pensa estar em pé vigie para que não caia, nisto

se expressa claramente que o poder de permanecer firme na graça não é propriamente

de qualquer crente, senão exclusivamente do Senhor, de maneira que ninguém seja

presunçoso em seu coração pensando que pode fazê-lo de si mesmo, gloriando-se na própria

consagração.

Ouvimos muitos dizendo que são mantidos

firmes porque têm pago o preço exigido da consagração. Apesar de haver verdade em tal

afirmação, deve-se ter o cuidado para que o

90

coração não se eleve julgando que isto é propiciado pela própria consagração pessoal e

não pela graça de Jesus, como efetivamente o é.

Agora, se é pela nossa perseverança na fé em

santificação que se evidencia, que se comprova a nossa eleição (II Pe 1.10,11), então devemos nos

armar do pensamento que a perseverança é o elemento atestador da nossa saúde espiritual,

de modo que nunca abriguemos o pensamento errôneo de que podemos cruzar os braços desde

que sabemos que a salvação do crente é segura e eterna. Tal modo de pensar é ofensivo à graça

de Deus e ao alto preço que Jesus pagou para a nossa libertação.

Sem perseverar, sem permanecer em Jesus, jamais poderemos ser santificados, e a

santificação deve, obrigatoriamente, se seguir à conversão, porque fomos salvos para o

propósito de sermos santificados por Deus.

Como a fé do crente é provada, e em consequência, tribulações e aflições lhe

aguardam neste mundo, ele necessitará de longanimidade e paciência no sofrimento, de

modo que acrescentamos versículos bíblicos no final de nosso texto que se referem a ambas, por

serem irmãs siamesas da perseverança, pois sem longanimidade e paciência, não é possível perseverar.

Temos um grande exemplo de longanimidade,

paciência e perseverança nos profetas e nos apóstolos, mas o maior exemplo de todos foi o do

próprio Senhor Jesus Cristo pela muita

91

paciência com que tudo suportou e sofreu, jamais se desviando do seu grande objetivo de

obter a nossa salvação. Por isso somos chamados a imitá-lo sobretudo em seus

sofrimentos para que com Ele reinemos, já que importa estarmos conformados a Ele em tudo,

quer na sua glória, quer nos seus sofrimentos.

92

Perseverar Até o Fim

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.

"Aquele que perseverar até o fim será salvo."

(Mateus 10.22)

Esse texto foi originalmente dirigido aos

apóstolos, quando eles foram enviados para

ensinar e pregar em nome do Senhor Jesus.

Nosso texto, no entanto, ocorre novamente no

vigésimo quarto capítulo de Mateus, no versículo 14, ocasião em que não foi dirigido aos

apóstolos, mas aos discípulos em geral. Os discípulos, olhando para as enormes pedras que

foram usadas na construção do templo, esperavam que o seu Senhor proferisse algumas

palavras de elogio, mas Ele lhes advertiu sobre um tempo de aflição, em que deveria haver tantos problemas como nunca dantes. Ele

descreveu os falsos profetas como abundantes e o amor de muitos esfriaria, e avisou que "Aquele

que perseverar até o fim, esse será salvo." Então esta solene verdade se aplica a cada um de

vocês.

O homem cristão, embora não chamado para o

cargo de perigo no testemunho público da graça de Deus, é destinado, em sua medida, para

testemunhar a respeito de Jesus, e em sua esfera

93

própria e lugar, para ser uma luz brilhante. Ele pode não ter os cuidados de uma igreja, mas ele

tem muito mais, os cuidados de negócio: ele se confunde com o mundo, ele é obrigado a

associar-se com os ímpios. Em grande medida, ele deve, pelo menos, seis dias na semana,

caminhar em um ambiente hostil com a sua natureza: ele é obrigado a ouvir as palavras que nunca irão incentivá-lo ao amor e às boas obras,

e terá que contemplar as ações cujo exemplo é detestável.

Ele está exposto a tentações de todo tipo e

tamanho, pois esta é a porção de todos os seguidores do Cordeiro. Satanás sabe o quão útil

é um seguidor consistente do Salvador, e quanto dano à causa de Cristo, um professor

inconsistente pode trazer, e, portanto, ele emprega todas as suas flechas de sua aljava para

que ele possa ferir até a morte, o soldado da cruz.

Mas, queridos amigos, a perseverança não é a porção de poucos, não é para pregadores da Palavra, ou para os oficiais da Igreja é o destino

comum de todos os crentes na Igreja. Tem que ser assim, pois só assim eles podem provar que

são crentes. Tem que ser assim, pois somente por sua perseverança pode a promessa ser

cumprida. "Quem crer e for batizado, será salvo" Sem perseverança, eles não podem ser salvos e,

como devem ser salvos, perseverarão através da graça divina.

Primeiro, então, a perseverança é a insígnia de

verdadeiros santos. É a sua marca nas

94

Escrituras. Como posso saber quem é de fato cristão? Por suas palavras? Bem, até certo ponto,

as palavras traem o homem, mas o discurso de um homem nem sempre é a cópia de seu

coração, porque com linguagem suave muitos são capazes de enganar. Que é o que o Senhor

disse? "Vós os conhecereis pelos seus frutos." Mas como vou conhecer os frutos de um homem? Ao vê-lo um dia? Talvez eu forme um

palpite de seu caráter por estar com ele por uma hora, mas eu não poderia pronunciar-me com

confiança sobre o verdadeiro estado de um homem até mesmo por estar com ele por uma

semana. George Whitfield foi perguntado o que ele achava do caráter de uma determinada

pessoa. "Eu nunca vivi com ele", foi sua resposta muito adequada.

Se tomarmos o prazo de vida de um homem,

digamos, por dez, vinte ou trinta anos, e, se por observarmos cuidadosamente, vemos que ele

traz à tona os frutos da graça através do Espírito Santo, e a nossa conclusão pode ser tirada com

muita segurança.

Embora as obras não justifiquem um homem diante de Deus, elas não justificam um

descrente. Eu não posso dizer se você está justificado e chamar-se cristão, exceto por suas

obras, através de suas obras, portanto, como diz Tiago, sereis justificados. Você não pode, por

suas palavras me convencer de que você é um cristão, e muito menos por sua experiência, o

que eu não posso ver, mas se o seu curso é como

95

a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até o dia ser perfeito, eu sei que o seu caminho é o

do justo.

Mas não precisamos olhar para a mera analogia

e bom senso. A Escritura é clara o suficiente. Que diz João? "Saíram de nós." Por quê? Eram

sempre santos? Oh! se "Saíram de nós, é porque não eram dos nossos, porque, se tivessem sido

dos nossos, sem dúvida teriam permanecido conosco, mas eles saíram de nós, para que se

manifeste que eles não eram dos nossos." Eles não eram cristãos, ou então eles não teriam,

portanto, apostatado. Pedro diz: "Lhes sobreveio o provérbio, o cão voltou ao seu vômito, e a porca

lavada voltou a se revolver no lamaçal", indicando ao mesmo tempo o mais claramente

que o cão voltou ao vômito, porque sempre foi um cão.

Quando os homens vomitam seus pecados

contra a sua vontade, não porque eles não gostem deles, mas porque não podem mantê-los, se um tempo favorável vem, eles vão voltar

a engolir mais uma vez o que pareciam ter abandonado.

Nenhum verdadeiro filho de Deus perecerá,

mas isso é o emblema de um verdadeiro filho de Deus: que o homem perseverará até o fim, mas

se um homem não perseverar, mas voltar ao seu antigo mestre, e uma vez mais fica preso em sua

velha cadeia, e usa novamente o jugo satânico, não há certeza de prova que ele tenha saído do

Egito espiritual através de Jesus Cristo, seu líder,

96

e nunca tem obtido essa vida eterna que não pode morrer, porque nasce de Deus. Tenho,

assim, então, queridos amigos, dito o suficiente para provar que o verdadeiro distintivo do

cristão é a perseverança, e que sem ela, nenhum homem provou ser um filho de Deus.

Temos muitos adversários. Olhe para o mundo! O mundo não se opõe a sermos cristãos por um

tempo, ele vai alegremente ignorar todos os delitos dessa forma, se nós agora reapertarmos

a sua mão e retornarmos ao que costumávamos ser.

"Ó" diz o mundo, "volte para os meus braços mais

uma vez, se reapaixone por mim, sei que tens falado algumas palavras duras contra mim, e

feito alguns atos cruéis contra mim, mas eu vou te perdoar alegremente." O mundo está sempre

apunhalando a perseverança do crente. Às vezes, ele vai intimidá-lo para voltar, ele vai

persegui-lo com os seus escárnios e línguas cruéis devem ser utilizadas, e em outro

momento, ele vai acenar com tanta delicadeza e tão docemente, como prostituta da época de

Salomão.

O seu segundo inimigo é a carne. Qual é o seu

objetivo? "Oh!", Grita a carne, “tivemos o suficiente disto, que é um trabalho cansativo de

ser um peregrino, venha, desista." A preguiça diz: "Sente-se ainda onde estás." Então, a luxúria

clama: "Devo ser sempre humilhada? Nunca

97

serei tolerada? Dê-me, pelo menos, uma trégua nesta guerra."

Em seguida, vem o diabo, e às vezes ele bate o seu tambor e clama com uma voz de trovão "Não

há céu, não há Deus. Você é um tolo em perseverar" Ou, mudando suas táticas, ele grita:

"Venha de volta! Eu te darei um tratamento melhor do que tinhas antes. Tu me consideravas

um mestre severo, mas venha e prove que eu sou um diabo diferente do que eu era há dez

anos atrás, eu sou mais respeitável do que eu era antes. Venha comigo, e serás um amante

respeitável de prazeres.”

Se ele não puder impedir a nossa perseverança

com prazeres mundanos, ele vai tentar impedir a nossa perseverança no sofrimento. “Você

sempre foi pobre desde que você tem sido um cristão, o seu negócio não prospera, você vê,

você não pode ganhar dinheiro, a menos que você faça o que os outros fazem. Você deve ir

com os tempos, ou então você não vai chegar lá. Desista de tudo. Por que ficar sempre sofrendo

desse jeito?" Assim, o espírito imundo nos tenta.

Ou então, ele atacará nossas convicções doutrinárias. "Por que", diz Satanás, "você crê

nestes credos denominacionais? Homens sensatos estão ficando mais liberais, eles não se preocupam com a verdade de Deus, pois eles

estão removendo os marcos antigos.”

Eu acho que eu provei e não preciso gastar mais palavras sobre isso - que a perseverança é a meta

de todos os inimigos. Vista seu escudo, cristão,

98

portanto, esteja em sua armadura, e clame fortemente a Deus, para que, pelo seu Espírito,

você possa perseverar até o fim.

Em terceiro lugar, irmãos, a perseverança é a

glória de Cristo.

Ele faz todo o seu povo perseverar até o fim, para sua honra. Se eles caíssem e perecessem, cada

compromisso, promessa e a aliança de Cristo estariam em jogo. Se algum filho de Deus perecesse, onde ficariam os compromissos da

aliança de Cristo? O que ele valeria como Mediador do pacto e a garantia do mesmo, se ele

não mantiver a promessa firme para toda a semente? Meus irmãos, Cristo torna-se um

líder e comandante das pessoas, para levar muitas almas para a glória, mas se ele não trazê-

los para a glória, onde está a glória do capitão? Onde está a eficácia do sangue precioso, se não

pode efetivamente resgatar? Se ele só resgata por um tempo e, em seguida, nos deixa perecer,

onde está o seu valor? Se ele só apaga o pecado por algumas semanas, e depois permite que o

pecado volte a nos dominar, onde está a glória do Calvário, e onde está o brilho das feridas de

Jesus? Ele vive, ele vive para interceder, mas como posso honrar a sua intercessão, se for

infrutífera? Será que ele não ora: "Pai, eu quero que aqueles que tu me deste, estejam comigo

onde eu estou", e se eles não podem ser finalmente levados para estar com ele onde ele

está, onde estará a honra de sua intercessão?

99

Eu lhes conjuro pelo amor de Deus, e pelo amor de suas próprias almas, a serem fiéis até a morte.

Você tem dificuldades? Você deve vencê-las. Para seu próprio bem, por amor da Igreja,

por amor ao nome de Deus, eu oro para que vocês façam isso.

Mas vocês não podem perseverar, exceto por

muita vigilância. Muito cuidado sobre cada ação, tanto quanto dependem da mão forte do

Espírito Santo, o único que pode fazer vocês perseverarem.

100

A importância Vital da Perseverança

Tão verdadeiras são as palavras de Salomão no

2º capítulo de Provérbios, que se aplicaram à sua própria vida, no final dos seus dias, porque ao se

desviar da presença do Senhor, veio sobre ele tudo o que ele afirma, porque não somente se

deixou conduzir pelos caminhos dos perversos vindo até mesmo a idolatrar, como também se

deixou enredar por várias mulheres, que corromperam o seu coração.

Tivesse ele dado atenção, permanentemente ao que escrevera debaixo da inspiração do Espírito,

jamais teria se desviado dos caminhos de Deus.

Por isso o alerta que é dirigido a todos os crentes

pelo apóstolo Paulo, deve receber a devida atenção e todo empenho deles em diligência,

para que nunca venham a cair da presença do Senhor.

“Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não

caia.” (I Cor 10.12)

Não basta conhecer a Palavra da verdade, porque é necessário praticá-la continuamente,

todos os dias da nossa vida. Caso contrário, cairemos, ainda que não seja para uma queda

definitiva e fatal que signifique a perda da nossa salvação, se somos de fato eleitos de Deus, tal

como era Salomão.

101

Somente o conhecimento das coisas relativas ao reino de Deus não será suficiente para nos

preservar no dia mau. É necessário orar e vigiar em todo o tempo. É necessário confiar no

próprio Deus para ser livrado das muitas tentações que há no mundo, e que são

disparadas em grande número por parte dos principados e potestades das trevas, especialmente contra os crentes fiéis, com

vistas a paralisar as suas ações que trazem prejuízo aos planos do diabo.

A verdadeira sabedoria não será portanto

achada fora de um caminhar em permanente comunhão com Deus, porque é a pessoa do

próprio Cristo a sabedoria que vive e se manifesta em nós, se permanecemos nele, por

guardarmos a sua Palavra (I Cor 1.30).

Exige-se portanto este caminhar na verdade,

para que possamos ser tomados da plenitude de Cristo, depois de ter caminhado em fidelidade

em comunhão vital com Ele, todos os dias da nossa vida, negando-nos a nós mesmos e

carregando a nossa cruz, para a mortificação do nosso ego.

Porque conhecemos, pela revelação da graça e

da verdade que Cristo nos trouxe na presente dispensação (Jo 1.17), melhor do que o próprio Salomão, qual é o modo de obter a sabedoria,

que é o próprio Cristo: é pela crucificação do nosso ego.

“e porque estreita é a porta, e apertado o

102

caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.” (Mt 7.14)

Jesus mesmo é a porta estreita (Jo 10.7); e o caminho apertado que conduzem a esta outra

vida que é também Ele próprio (Jo 14.6; I Jo 5.20), a qual Ele afirma que são poucos os que a

encontram.

O modo de se achar esta outra vida é perdendo a

que temos, e ainda que ela venha a ser achada em toda a sua plenitude somente depois da

nossa morte física, é possível achá-la ainda aqui neste mundo, pela morte do nosso ego. Por isso

nosso Senhor disse que:

“Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem

perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.” (Mt 10.39)

A palavra vida no original grego usada neste

texto é psiquê, referindo-se ao viver pela energia da alma. Então é este viver pela alma que deve

morrer, para que se dê lugar ao viver no e pelo espírito, debaixo do poder do Espírito Santo, que

é quem dá essa nova vida ao nosso espírito.

Quando Jesus disse que o propósito da sua vinda

a este mundo foi para que tivéssemos esta vida, e que a tivéssemos em abundância, era a isto a

que Ele estava se referindo, ou seja, à sua vida

103

que passa a se manifestar dentro da nossa existência.

Então, quanto mais alguém morrer para o seu

ego, em Jesus Cristo, mais terá desta nova vida que nos veio do céu. E por isso Jesus disse que

Ele é o pão vivo que desceu do céu e que dá vida a todo aquele que dele comer (Jo 6.41, 48, 51).

São poucos os que acham esta nova vida, porque

é difícil o modo de obtê-la. Porque demanda a morte do nosso ego. É fácil para Deus, mas é

difícil para o pecador fazê-lo, porque geralmente se apega à sua própria vida e não

quer perdê-la. E de nós mesmos não podemos perder a nossa vida. É o próprio Deus que

providencia as experiências que nos levarão a renunciar ao nosso eu. E estas operações são

dolorosas para nós, porque naturalmente resistimos a todo tipo de morte. Entretanto é

necessário que a casca da alma do nosso grão de trigo morra, que é esta vida que temos na carne,

para que germine e cresça esta nova vida espiritual e celestial que recebemos de nosso

Senhor Jesus Cristo.

Assim como é algo maravilhoso ver um grão seco e diminuto se transformando numa bela

planta viçosa, de igual modo é maravilhoso ver o surgimento na conversão; e o crescimento na

santificação; desta planta celestial que foi plantada por Deus, que é esta nova vida, que nos

tornou novas criaturas em Cristo Jesus.

104

À medida que o Senhor for matando em nós os nossos desejos irregulares; o nosso mau

temperamento; os nossos melindres e caprichos; a obstinação em fazer a nossa própria

vontade; a incapacidade para fazer renúncias com prazer; especialmente pelo uso de aflições

e tribulações, e ao mesmo tempo em que for implantando progressivamente mais da humildade, da mansidão, da submissão e da

obediência de Cristo em nós, mais nos tornaremos semelhantes a Ele, e por isso Paulo

orava e se esforçava tanto para ver Cristo sendo formado desta forma nos crentes.

“Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em

vós;” (Gál 4.19)

Então isto não nos virá pelo simples ensino da

Palavra de Deus, que é a verdade e o meio da nossa santificação, porque será exigido que

estejamos dispostos a fazer renúncias e a permitir a Deus que crucifique o nosso ego, para

que esta maravilhosa vida do seu Filho possa ser implantada progressivamente em nós. Por isso

nos é ordenado que carreguemos a nossa cruz diariamente. A morte pela cruz era gradual e

lenta assim como é a morte do nosso velho homem que já recebeu a sentença de morte da

parte de Deus no momento mesmo que nos convertemos a Cristo. Porque é necessário se

despojar das coisas que se referem ao velho

105

homem, para poder ser revestido também por Deus das coisas correspondentes a estas que

morreram, e que se referem à nova criatura, como por exemplo: a fidelidade no lugar da

infidelidade; a misericórdia no lugar da indiferença; a paciência no lugar da ira e assim

por diante.

Quanta alegria há no coração de Deus, de Jesus

Cristo, do Espírito Santo, dos ministros fiéis do evangelho, de esposos, de esposas, de filhos, ao

verem seus amados sendo transformados de glória em glória, pelo poder do Espírito, à

própria imagem do Senhor, porque aqueles que são assim transformados, passam a ser pessoas

misericordiosas, pacientes, afáveis, dóceis, fiéis, confiáveis, justas, bondosas, e acima de

tudo, amantes do Senhor e de nenhum dos prazeres mundanos.

Quanto regozijo há no céu e na terra por pessoas

que se apresentam assim verdadeiramente consagradas ao Senhor e à sua vontade, não por

serem religiosas hipócritas, mas por carregarem em seus seres a poderosa vida do

Filho de Deus, refletindo o brilho da sua luz e graça, pelo poder do Espírito Santo, no qual elas

andam diariamente.

Bendito seja o Senhor, em quem podemos ser novas criaturas, livres das amarras de um ego

pecaminoso, para estarmos aliançados a Ele, pelos laços do seu amor divino, andando na

liberdade do Espírito.

106

Então se conhecerá, como Paulo conheceu, o poder da verdadeira alegria celestial e espiritual

que triunfa sobre as aflições e tribulações; da coragem maior do que a de leões, que enfrenta

sem se abalar toda a fúria dos poderes das trevas; do amor de Cristo, que tudo vence, sofre,

crê, espera e suporta; e que nos faz longânimos, benignos, não invejosos, ou vangloriosos e ensoberbecidos; e que faz também com que nos

portemos convenientemente e nunca buscando os nossos próprios interesses, senão os do

Senhor e de outros; e que nos faz triunfar sobre as irritações, pelas provocações que venhamos a

receber, e que além de tudo nos leva a nos regozijarmos somente com a justiça de Cristo e

com a sua verdade.

Então, vale a pena morrer para a velha vida para que se possa ter mais e mais desta nova vida que

nos está sendo oferecida pela graça, desde o céu.

Busquemos então esta outra vida dentro desta

vida que temos na carne, e a receberemos conforme nosso Senhor tem prometido que se a

buscarmos nós a acharemos, porque Ele mesmo nô-la revelará e dará, pela sua graça.

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de

Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gál 2.20)

É importante lembrarmos que Adão estava sem

107

pecado no princípio, no jardim do Éden, no entanto, não havia entrado na posse da vida

eterna, representada no fruto da árvore da vida que se encontrava no meio do jardim (Gên 2.9).

Ele comeria daquele fruto, porque não lhe havia sido vedado por Deus, tal como o fruto da árvore

do conhecimento do bem e do mal, porque era do propósito do Senhor que ele viesse a comer

do fruto da árvore da vida, no momento apropriado, porque seria necessário, que Adão,

ainda que estivesse sem pecado, que o comesse somente depois de aprender e a se dispor a

renunciar à sua própria vontade, ou seja, ao seu ego.

Seria necessário que Adão morresse para a sua própria vida, para poder receber e viver pela

vida de um Outro, a saber nosso Senhor, representado no fruto da árvore da vida.

Na verdade, Deus fizera muito mais do que uma

simples proibição a Adão, quanto ao fruto do conhecimento do bem e do mal. Ele colocou à

prova a sua obediência e até que ponto ele renunciaria à sua própria vontade, resistindo

inclusive às tentações para que desobedecesse a Deus, vindas da parte do diabo, e até mesmo de

sua própria mulher, para que mostrasse fé na Palavra do Senhor, de uma maneira prática, que pudesse ser comprovada por sua obediência, tal

como Abraão viria a demonstrar no futuro.

Para nos ensinar a lição que dependemos de nos alimentar de Cristo para ter vida eterna,

conforme estava representado em figura no

108

fruto da árvore da vida no jardim do Éden, o Senhor fez com que dependamos de nos

alimentar do fruto da terra para sustentar a nossa vida natural, para que possamos entender

que é necessário se alimentar de Cristo para se obter e manter continuamente a vida

sobrenatural do céu.

Por isso foi vedado a Adão pela misericórdia de

Deus, que tivesse acesso àquele fruto depois que ele caiu no pecado, porque viveria debaixo do

pecado por toda a eternidade. Adão teria primeiro que se arrepender do pecado, a odiar e

a deixar o pecado, para poder receber esta maravilhosa vida pura e imaculada do céu, que

é o próprio Senhor Jesus Cristo.

Não se pode comer então do fruto da vida eterna

que é Cristo, sem que se renuncie à própria vida, e especialmente quando esta vida se encontra

debaixo do pecado, como se encontrou o próprio Adão, e como nos encontramos todos

nós, por sermos seus descendentes, porque ele foi expulso do Éden.

Todos ficamos portanto, naturalmente

destituídos da vida eterna, não porque Adão deixou de comer o fruto da árvore da vida, mas

porque passamos a ser pecadores tal como ele.

A vida eterna não é transmitida

hereditariamente. Se Adão tivesse comido o fruto da árvore da vida, ele teria vida eterna, mas

esta não seria transmitida aos seus descendentes, porque cada um, de per si, deve

morrer para o seu ego, deve renunciar a si

109

mesmo, e entregar-se a Cristo, pela fé, para que possa receber a vida eterna.

Aquele pois que estiver disposto a perder a sua vida, a qual foi herdada de Adão, vai achar a sua

verdadeira vida, que é a vida eterna que Deus havia planejado, para que todo homem vivesse

por ela. Adão jamais poderia nos transmitir esta vida celestial, porque não a possuía em sua

natureza. Assim, o que nos transmitiu hereditariamente foi apenas a sua própria vida

natural.

Por isso, aqueles que não renunciam às suas

vidas, que não se arrependem de seus pecados, não podem achar esta vida eterna que é o

próprio Jesus Cristo.

Todavia, todos aqueles que se dispuserem a perdê-la, e que não somente se dispuserem a

isto, como também vierem a perdê-la efetivamente por se entregarem a Cristo, pela

fé, para ser o Senhor deles, estes receberão a nova vida do céu que está em Cristo, conforme

Ele prometeu concedê-la aos que morressem para si mesmos e que renunciassem a tudo

quanto tenham deste mundo.

Sabendo que tal vida não nos vem como um lago

de águas paradas, mas como uma fonte de águas vivas que saltam para a vida eterna, ou seja, elas

se movimentam e crescem desde o seu nascedouro, até se transformar num grande rio.

São as águas que procedem do próprio Deus, conforme a visão que dera a Ezequiel dessas

águas saindo do seu templo (Ez 47) e

110

percorrendo toda a terra, e que no início são águas que dão pelos artelhos, e depois de uma

certa medida em crescimento chegam à altura dos joelhos, e após outra medida em

crescimento chegam à altura da cintura, e finalmente, por mais uma medida, já não se

pode mais estar em pé, sendo necessário nadar em tais águas do Espírito.

É isto o que se dá com o crente que cresce progressivamente na vida de Cristo que é este

enchimento progressivo do Espírito Santo. À medida que se cresce nele, chega-se a um ponto

em que se perde a ligação espiritual com as coisas da terra, porque já não seremos mais

dominados por desejos mundanos (representado pelos pés sobre a terra, enquanto

se caminha mais e mais neste rio que vai crescendo à medida em que andamos nele, até

chegar a um ponto que somos obrigados a nadar, tirando por conseguinte nossos pés da

terra). Quando isto ocorre, podemos dizer juntamente com Paulo que estamos

crucificados para o mundo e o mundo para nós, por causa deste viver inteiramente no Espírito, e

no seu mover. Bem-aventurados são aqueles que chegam até tal ponto de crescimento espiritual.

Então esta vida não é somente recebida na

conversão, como também cresce. Assim, nenhum crente deve pensar que deve apenas

recebê-la, porque se espera que ele entenda a

111

natureza desta vida que recebeu e se esforce em Deus para que ela cresça.

Por isso se diz que os crentes são plantas da lavoura de Deus, e que somente Deus pode lhes

dar crescimento, significando isto o aumento em graus desta vida eterna, desde o seu novo

nascimento (germinação) até se tornarem uma planta madura que dê os seus respectivos

frutos, e que continuam frutificando para sempre, sempre renovando as suas folhas. Isto

sucede a eles porque têm neles a vida de Jesus Cristo, que é infinita, eterna e insondável.

“6 Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o

crescimento.

7 De modo que, nem o que planta é alguma coisa,

nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.

8 Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu

trabalho.

9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.” (I Cor

3.6-9)

Nós estamos destacando a seguir, outros textos bíblicos que se referem a este assunto, e

apresentando um breve comentário onde julgamos oportuno fazê-lo.

“mas aquele que beber da água que eu lhe der

nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu

112

lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.” (Jo 4.14)

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que

deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida

eterna.” (Jo 3.16). Veja que foi para o propósito de recebermos a vida eterna que Jesus no foi dado

como Salvador e Senhor.

“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que,

porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (Jo 3.36).

Nós vemos que a vida eterna é recebida somente pela fé em Cristo. E é também pela mesma fé

nele que ela cresce. Daí ser necessário permanecer nele para que Ele permaneça em

nós, porque não é a nossa própria vida que cresce, porque como vimos, esta vida nos vem

do alto, é de um Outro (Jesus). É no próprio Cristo crescendo em nós, em que consiste o crescimento desta vida eterna.

“Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna,

a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.” (Jo 6.27). Como

já comentamos, a vida eterna necessita do pão espiritual que é o próprio Cristo para que possa

ser mantida em crescimento constante. Isto significa que Ele é o pão que alimenta o espírito,

e do qual temos que nos alimentar

113

constantemente, se não queremos nos achar raquíticos ou mortos espirituais.

“Quem come a minha carne e bebe o meu

sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6.54). Este texto confirma o que

foi dito no texto anterior, porque não se pode obter a vida eterna, e também não se pode ter o

crescimento de tal vida, sem se alimentar do próprio Cristo, como Ele afirma diretamente

neste texto de Jo 6.54.

“eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e

ninguém as arrebatará da minha mão.” (Jo 10.28). Ninguém pode produzir a vida eterna por

atos de mera religiosidade, porque ela é concedida somente por Cristo, e pela sua

habitação naqueles que nele creem, porque Ele mesmo é esta vida. Veja que a promessa é de

viver para sempre uma vez recebida tal vida. Não é vida para um determinado período de tempo, mas por toda a eternidade, porque Jesus garante

que ninguém arrebatará as suas ovelhas da sua mão, e que elas jamais perecerão.

“25 Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra,

viverá; 26 e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11.25,26). Aquele que crê em

Cristo, ainda que morra fisicamente viverá. E este que crê, na verdade jamais morrerá

espiritualmente, porque ganhou a vida eterna

114

em Cristo, que é a garantia de que nunca será achado separado desta vida que lhe foi dada do

alto por Deus. Os ímpios somente têm a vida natural, e não tendo esta vida eterna em si

mesmos, ainda que existam, já estão mortos espiritualmente falando, porque não têm a

habitação de Jesus Cristo, que é a fonte da verdadeira vida que se traduz na implantação das suas características e poderes divinos nos

crentes.

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti,

como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (Jo 17.3). A vida eterna

consiste no conhecimento pessoal e íntimo da pessoa de Deus e de Jesus Cristo, por uma

obtenção e aumento em crescimento progressivo de tal conhecimento. Por isso se fala

em vida plena, em vida abundante, porque é possível se ter menores ou maiores medidas de

tal vida, à proporção da nossa consagração ao Senhor, pela busca deste crescimento e

conhecimento de Jesus (II Pe 3.18).

“Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e

glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a

vida eterna.” (Atos 13.48). A obtenção da vida eterna é realizado segundo a eleição de Deus.

Não é obtida portanto, simplesmente por se desejá-la, tal como o jovem rico dos dias de Jesus

que a desejava, mas tudo indica que não a

115

alcançou. Não basta querer, porque Deus tem que usar de misericórdia e nos mover a nos

esforçarmos para entrar no seu reino, conforme comentamos no início deste artigo, por uma

renúncia a tudo o que somos e que temos, especialmente ao nosso ego, porque esta vida

eterna é ganha, se perdendo a vida relativa à natureza terrena. A vida que é segundo um viver pela energia da alma. Então é um perder para

poder ganhar, e isto demandará um posicionamento e esforço de nossa parte. Então

Deus nos concederá tal vida inteiramente pela graça, por causa da nossa fé no seu Filho, como

sendo o autor e o consumador não somente da fé, como desta própria vida divina que Ele veio

nos conceder. E como nos encontramos na condição de escravos do pecado antes do

encontro com Cristo, se exige também arrependimento e diligência na prática do bem

para a obtenção e manutenção em crescimento desta vida. Por isso o apóstolo Paulo disse o

seguinte: “a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram glória,

e honra e incorrupção” (Rom 2.7).

“para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça

pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.” (Rom 5.21). A graça prevalece e

reina sobre a morte e o pecado, mediante a justiça de Cristo, que recebemos na justificação,

para o propósito de produzir a vida eterna em

116

nós, quer no que se refere à sua recepção, quer ao que se refere ao seu crescimento em graus.

“Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos

de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.” (Rom 6.22). A conversão

e a santificação têm em vista, ou seja têm por objetivo produzir em nós esta qualidade de vida

divina que é chamada na Bíblia de vida eterna.

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o

dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rom 6.23). Já comentamos

anteriormente que a vida eterna é um dom gratuito de Deus que recebemos por estarmos

em Jesus, ou seja, é recebida inteiramente pela graça de Deus e não segundo os nossos méritos

ou obras. Exige-se esforço para buscá-la como comentado anteriormente, mas nenhuma obra

específica que façamos a ponto de sermos considerados dignos de recebê-la.

“Porque quem semeia na sua carne, da carne

ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál

6.8). Este texto comprova que é necessário semear a própria vida no solo do

Espírito Santo, para que possamos colher como resultado desta semeadura, esta nova vida, que

é a vida eterna, que dará uma bela colheita para Deus. Se há colheita, é porque houve

crescimento desta planta divina que foi

117

semeada em nós e por nós, no Espírito. Assim, todo o crescimento desta vida, está relacionado

ao trabalho do Espírito Santo em nós, e daí ser tão necessário não somente viver no Espírito,

como também andar nele, ou seja se mover e atuar no Espírito em constante movimento, sem

jamais parar, porque andar indica a ação de movimento contínuo de uma posição para outra, e temos visto que no que se refere à vida

eterna, estas mudanças de posição se referem a crescimentos em graus de vida cada vez

maiores, conforme se vê na ilustração da lavoura, com os crentes sendo as plantas desta

lavoura de Deus; do edifício que está sendo construído em Cristo; e do rio de águas vivas que

cresce desde a sua fonte.

“1 E mostrou-me o rio da água da vida, claro

como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro.

2 No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que produz doze

frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura das nações.”

(Apo 22.1,2)

“1 Depois disso me fez voltar à entrada do

templo; e eis que saíam umas águas por debaixo do limiar do templo, para o oriente; pois a frente

do templo dava para o oriente; e as águas desciam pelo lado meridional do templo ao sul

do altar.

118

2 Então me levou para fora pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo

caminho de fora até a porta exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que corriam

umas águas pelo lado meridional.

3 Saindo o homem para o oriente, tendo na mão

um cordel de medir, mediu mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam

pelos artelhos.

4 De novo mediu mil, e me fez passar pelas

águas, águas que me davam pelos joelhos; outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas,

águas que me davam pelos lombos.

5 Ainda mediu mais mil, e era um rio, que eu não

podia atravessar; pois as águas tinham crescido, águas para nelas nadar, um rio pelo qual não se

podia passar a vau.

6 E me perguntou: Viste, filho do homem? Então

me levou, e me fez voltar à margem do rio.

7 Tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia árvores em grande número, de uma e de

outra banda.

8 Então me disse: Estas águas saem para a região

oriental e, descendo pela Arabá, entrarão no Mar Morto, e ao entrarem nas águas salgadas,

estas se tornarão saudáveis.

9 E por onde quer que entrar o rio viverá todo ser

vivente que vive em enxames, e haverá muitíssimo peixe; porque lá chegarão estas

águas, para que as águas do mar se tornem doces, e viverá tudo por onde quer que entrar

este rio.

119

10 Os pescadores estarão junto dele; desde En-Gedi até En-Eglaim, haverá lugar para estender

as redes; o seu peixe será, segundo a sua espécie, como o peixe do Mar Grande, em multidão

excessiva.

11 Mas os seus charcos e os seus pântanos não

sararão; serão deixados para sal.

12 E junto do rio, à sua margem, de uma e de outra banda, nascerá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer. Não murchará a sua folha,

nem faltará o seu fruto. Nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas

saem do santuário. O seu fruto servirá de alimento e a sua folha de remédio.” (Ez 47.1-12)

“Peleja a boa peleja da fé, apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito

boa confissão diante de muitas testemunhas.” (I Tim 6.12). Este texto não está insinuando perda

de salvação, mas de crescimento, de desenvolvimento da salvação. Sequer está

insinuando que a salvação é obtida em graus, mas que a vida eterna é algo do qual devemos

nos apoderar, ou seja, nos agarrar, uma vez tendo sido obtida, para que não percamos os

crescimentos em graus desta vida, por negligência da nossa parte na fé e nos deveres que nos são impostos por Deus em sua Palavra,

especialmente os relativos à nossa consagração.

“para que, sendo justificados pela sua graça,

fôssemos feitos herdeiros segundo a esperança

120

da vida eterna.” (Tito 3.7). O que esperamos em Cristo é a vida eterna, não que não a tenhamos

obtido ao crermos nele, mas que é nisto que deve consistir o nosso foco e expectativa, porque

esperamos com firme convicção o que nos foi prometido, porque Deus é fiel em cumprir o que

prometeu e não pode mentir, e para tal certeza nos deu o selo do Espírito Santo, depois de termos sido justificados pela sua graça, como se

afirma neste texto.

“E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” (I Jo 2.25)

“E o testemunho é este: Que Deus nos deu a vida

eterna, e esta vida está em seu Filho.” (I Jo 5.11)

“Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que

tendes a vida eterna.” (I Jo 5.13)

“Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e nos deu entendimento para conhecermos

aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus

Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (I Jo 5.20). No final deste texto se afirma

diretamente que é o próprio Jesus a vida eterna.

É, portanto, estando cheios desta vida sobrenatural e divina que é o próprio Cristo

vivendo em nós, que podemos de fato fazer face

121

a todas as tentações e vencer o mundo, de modo que possamos não somente ser aprovados por

Deus, como também a estarmos habilitados a fazer a sua vontade.

122

Perseverando Rumo à Vitória Final

Para as lutas que temos que travar contra os

poderes das trevas que tentarão nos deter, quando empenhados na obra do Senhor,

devemos não somente crer que Deus é todo-poderoso, mas depender do seu braço forte,

como se este fosse a nossa própria força.

Devemos fazer uso do poder onipotente do Senhor sempre que formos agredidos

por Satanás.

Muito do uso deste poder consistirá não propriamente em repreendermos o Inimigo

com palavras de autoridade, mas sobretudo em guardar o nosso coração na paz e no amor,

diante das suas tentações e opressões malignas que têm por alvo nos amargar a existência.

Estas batalhas espirituais que temos que travar são permitidas por Deus para o propósito

mesmo do nosso aperfeiçoamento como valorosos soldados do seu exército, de modo a

aprendermos a permanecer firmes na fé, e a detestar o mal e a amar o bem em toda e

qualquer circunstância.

O tesouro que temos recebidos da Graça deve ser guardado com todo o empenho,

independentemente do quanto sejamos feridos nestas batalhas, pois o amor, a fé, a

misericórdia, o perdão, a mansidão, o domínio próprio e tudo o mais que se refira ao fruto do

Espírito Santo deve ser encontrado e preservado

123

em nós, não importando o quanto sejamos agredidos, ofendidos, rejeitados, perseguidos.

A bandeira do amor de Cristo deve permanecer hasteada e elevada em nossos corações, e deve

ser retomada caso venhamos a perder alguma batalha. Não importa quantas batalhas

percamos pois esta é uma guerra de muitas batalhas e a vitória final já é certa e está

determinada que seja de Cristo e de todos aqueles que O amam.

Deus nos alistou no seu Exército para que Ele

seja glorificado nas nossas vitórias sobre as forças do Inimigo.

Para nosso encorajamento encontramos nas

páginas da Bíblia inúmeros testemunhos daqueles que venceram o Inimigo por meio da

fé no forte braço do Senhor.

Estes testemunhos foram registrados para nos incentivar a prosseguir adiante sem nada temer.

Nenhum fracasso deve servir de motivo para

recuarmos ou ficarmos intimidados, senão um meio para provarmos que temos a verdadeira fé,

que sempre se levanta do pó e persevera para conquistar a vitória.

Para este propósito são feitas grandes e preciosas promessas pelo próprio Deus de que

os vencedores reinarão juntamente com Cristo.

É o próprio Jesus quem nos diz o seguinte:

“Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de

Deus” (Apo 2.7b)

124

“O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte.” (Apo 2.11b)

“Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido,

bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o

qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe.” (Apo 2.17b)

“Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e

com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; assim

como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.” (Apo 2.26-28)

“O vencedor será assim vestido de vestiduras

brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário,

confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.” (Apo 3.5)

“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do

meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da

cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o

meu novo nome.” (Apo 3.12)

“Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me

sentei com meu Pai no seu trono.” (Apo 3.21)

125

Por Que Os Cristãos Perseveram

Por Charles Haddon Spurgeon

A esperança que enchia o coração do apóstolo

Paulo a respeito dos crentes de Corinto, conforme já sabemos, estava repleta de

consolação para aqueles que se mostravam temerosos quanto ao futuro dos membros da

igreja em Corinto. Por que o apóstolo acreditava que os crentes de Corinto seriam confirmados

até ao fim?

Devemos observar que ele apresentou as suas

próprias razões.

“Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à

comunhão de seu Filho Jesus Cristo”. (1 Coríntios 1.9)

Paulo não disse: “Vós sois fiéis”. A fidelidade do

homem é bastante desconfiável; é pura vaidade. O apóstolo também não disse: “Vós tendes

ministros fiéis para guiar-vos e instruir-vos. Por isso, creio que estais seguros”. Não! Se somos

guardados pelos homens, na realidade nunca seremos guardados. Paulo afirmou: “Deus é

fiel”. Se somos fiéis, isto acontece porque Ele é fiel. Toda a nossa salvação descansa na

fidelidade de nosso Deus da aliança. Nossa perseverança se fundamenta neste glorioso

atributo de Deus. Somos instáveis como o vento,

126

frágeis como a teia de aranha, volúveis como a água.

Não podemos depender de nossas qualidades naturais ou de nossas aquisições espirituais.

Mas Deus permanece fiel. Ele é fiel em seu amor: não conhece qualquer variação, nem

sombra de mudança. Deus é fiel aos seus propósitos: não começa uma obra e a deixa

inacabada. Ele é fiel em seus relacionamentos: como Pai, não abandonará seus filhos; como

amigo não negará seu povo; como Criador, não esquecerá a obra de suas

mãos. Deus é fiel à sua aliança, que estabeleceu

conosco em Cristo Jesus e ratificou com o sangue de seu sacrifício. Deus é fiel ao seu Filho

e não permitirá que o sangue dele tenha sido derramado em vão. Deus é fiel ao seu povo, ao

qual Ele prometeu a vida eterna e do qual jamais se afastará.

Esta fidelidade de Deus é o fundamento e a pedra angular de nossa esperança de

perseverança até ao final. Os crentes hão de perseverar em santidade, porque Deus se

mantém perseverante em graça. Ele persevera em abençoar; por conseguinte, os crentes

perseveram em serem abençoados. Deus continua guardando seu povo;

consequentemente, os crentes continuam guardando os mandamentos dele. Este é o solo

firme e excelente sobre o qual podemos descansar. Portanto, é o favor gratuito e a

infinita misericórdia que retinem no alvorecer

127

da salvação; e estes mesmos sinos continuam retinindo m e l o d i o s a mente durante todo o

dia da graça.

Podemos observar que as únicas razões para

esperarmos que seremos confirmados até ao fim e que seremos achados inculpáveis se

encontram em nosso Deus. Mas nele estas razões são abundantes.

Primeiramente, elas se fundamentam no que Deus têm feito. Ele decidiu nos abençoar e não

retrocederá. Paulo nos recorda que Deus nos chamou “à comunhão de seu Filho, Jesus

Cristo”. Deus realmente nos chamou? A chamada não pode ser revertida, “porque os

dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29). O Senhor jamais retrocede da chamada

eficaz de sua graça. Romanos 8.30 diz: “E aos que chamou, a esses também justificou; e aos que

justificou, a esses também glorificou” — esta é a norma invariável do procedimento de Deus.

Existe uma chamada comum, sobre a qual as Escrituras dizem: “Muitos são chamados, mas

poucos escolhidos” (Mt 22.14). No entanto, a chamada sobre a qual agora estamos pensando

é outro tipo de chamada; é uma chamada que prenuncia amor especial e envolve a posse

daquilo para o que fomos chamados. Nesse caso, acontece com os chamados o mesmo que

ocorreu com a descendência de Abraão, sobre a qual o Senhor declarou: “A quem tomei das

extremidades da terra, e chamei dos seus cantos

128

mais remotos, e a quem disse: Tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei” (Is 41.9).

Naquilo que o Senhor fez, temos poderosas

razões que nos asseguram nossa preservação e glória futura, porque Ele nos chamou “à

comunhão de seu Filho, Jesus Cristo”. Isto significa o companheirismo com o Senhor Jesus

Cristo. Desejo que você considere atentamente o que isto significa. Se Deus já o chamou por sua graça, você já veio à comunhão com o Senhor

Jesus, para se tornar, juntamente com ele, possuidor de todas as coisas. Então, aos olhos do

Altíssimo, você é um com o Senhor Jesus. Os seus pecados foram levados pelo Senhor Jesus,

que os carregou sobre Si mesmo, em seu próprio corpo, na cruz, tornando-se maldição

em seu lugar. Ao mesmo tempo, o Senhor Jesus tornou-se a sua justiça, de modo que você está

justificado nele.

Assim como Adão é o representante de todos os seus descendentes, assim também o Senhor

Jesus é o representante de todos os que estão nele. Assim como a esposa e o esposo são um,

assim também o Senhor Jesus é um com aqueles que, pela fé, estão unidos a Ele; são um por meio

de uma união que nunca poderá ser desfeita. E, mais do que isso, os crentes são membros do

corpo de Cristo; são um com Ele por meio de uma união de amor, permanente e viva. Deus

nos chamou a esta união, esta comunhão e este companheirismo; por essa razão, Ele nos deu o

sinal e penhor de que seremos confirmados até

129

ao fim. Se fôssemos considerados como estando separados de Cristo, seríamos criaturas

infelizes, destinadas a perecer; logo seríamos destruídos e lançados na eterna perdição. Mas,

visto que somos um em Cristo, participamos de sua natureza e possuímos sua vida imortal.

Nosso destino está vinculado ao de nosso Senhor; e, como Ele não pode ser destruído, não é possível que venhamos a perecer.

Pense demoradamente nesta união com o Filho

de Deus, à qual você foi chamado, porque toda a sua esperança está nesta união. Você nunca será

pobre, enquanto Jesus for rico, visto que você está em uma união firme com Ele. A

necessidade nunca pode assaltá-lo, porque, juntamente com Ele, que é o Possuidor, você é

coproprietário dos céus e da terra. Você nunca pode falir, pois, embora um dos sócios da firma

seja tão pobre como um rato de igreja e em si mesmo esteja em completa ruína, incapacitado

de pagar o menor de seus imensos débitos, o outro sócio é inconcebivelmente rico. Neste

companheirismo, você é levantado a uma posição que supera a depressão dos tempos, as

mudanças do futuro e o colapso do fim de todas as coisas. Deus o chamou à comunhão de seu

Filho, Jesus Cristo, e por meio desta chamada o colocou no lugar de segurança infalível.

Se você é um verdadeiro crente, é um com o

Senhor Jesus e, por isso, está seguro. Você não percebe que tem de ser assim? Se você já foi

realmente feito um com o Senhor Jesus, por

130

meio de um ato irrevogável de Deus, então você tem de ser confirmado até ao fim, até ao dia da

manifestação dele. Cristo e o pecador convertido estão no mesmo barco. Se Jesus não

pode afundar, o crente também nunca sucumbirá. Jesus tomou seus redimidos e os

uniu de tal modo a Si mesmo, que, antes de qualquer outra coisa, Ele tem de ser destruído, vencido e desonrado, para que, então, os seus

redimidos sejam injuriados. O Senhor Jesus é o titular da firma, e, até que Ele desonre seu

próprio nome, estamos seguros contra todos os temores de falência.

Portanto, com ousada confiança, prossigamos

em direção ao futuro que ainda desconhecemos, unidos eternamente a Jesus.

Se os homens do mundo perguntam: “Quem é esta que sobe do deserto e que vem encostada ao

seu amado?” (Ct 8.5), confessamos com alegria que realmente nos encostamos em Jesus e que

pretendemos nos unir a Ele cada vez mais. Nosso Deus fiel é um manancial transbordante de

deleites, e nossa comunhão com o Filho de Deus é um rio transbordante de regozijo. Sabendo

estas coisas gloriosas, não podemos nos desencorajar. Pelo contrário, clamamos juntamente com o apóstolo: “Quem nos

separará... do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”? (Rm 8.35-39)

131

Recuar? Nunca!

Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e

adaptado por Silvio Dutra)

“Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as

promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram

estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar

procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam

oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso,

Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma

cidade.” (Hb 11.13-16)

Abraão deixou seu país sob o mandado de

Deus, e nunca mais voltou para lá. A prova da fé repousa na perseverança. Há um tipo de fé que

dura por algum tempo, mas logo termina, e não pode obedecer a verdade.

O apóstolo nos diz, entretanto, que o povo de

Deus não foi forçado a prosseguir, porque eles não poderiam retornar.

“E, se, na verdade, se lembrassem de onde saíram, teriam oportunidade de voltar.”.

Oportunidades frequentes se apresentaram no

seu caminho.

132

Havia comunicação entre eles e a antiga casa paterna em Pada-Arã.

Eles recebiam notícias da família através de

mensageiros.

Rebeca não veio a Isaque do meio deles?

E Jacó, um dos patriarcas, não passou uma temporada junto deles?, mas ele não poderia

permanecer lá, e não teria descanso enquanto não retornasse à vida que ele tinha escolhido – a

vida que Deus tinha determinado para ele viver – como peregrino e estrangeiro na terra da

promessa.

Você observa então que eles tiveram muitas oportunidades de retornarem à antiga vida, e se

instalarem confortavelmente e cultivarem o solo em que seus pais haviam trabalhado antes

deles; mas eles continuaram a seguir na vida desconfortável de pessoas errantes que

caminhavam cansadas, residindo em tendas, por não possuírem seu próprio pedaço de chão.

Eles eram estrangeiros no país que Deus lhes tinha dado por promessa.

Hoje, nossa posição é muito parecida.

Para os muitos que entre nós têm crido em Cristo e que têm sido chamados.

Há muitos modos de a igreja ser chamada – por Cristo; nós temos sido separados.

Eu creio que nós sabemos que isto é sair até Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério (Hb

13.13).

133

De agora em diante não temos mais morada neste mundo, nenhuma residência fixa para o

nosso espírito.

Nosso lar está além do rio.

Nós o contemplamos entre as coisas que não se veem.

Somos peregrinos temporários como foram

nossos pais; habitantes neste deserto, rumo à Canaã, a terra que é a nossa perpétua herança.

É a maravilha das maravilhas que nós não tenhamos retornado ao mundo, e ao nosso

próprio pecado.

Quando eu penso na força da graça divina, eu não me surpreendo que os santos perseverem

mas quando eu lembro da fraqueza da sua natureza, isto parece o milagre dos milagres que

não voltem a ser inteiramente do mundo por uma só hora.

Não é coisa de somenos que o Cabeça preserve

os crentes de retornarem à sua antiga condição irregenerada.

Nós temos tido oportunidades para retornar.

Muitos crentes se encontram no meio de

pessoas ímpias. E têm oportunidade de pecar como eles fazem, de caírem em seus excessos,

no seu esquecimento de Deus, até mesmo em suas blasfêmias.

Haveria um forte apelo para ser induzido a ser

como eles, se não fosse pela graça de Deus.

Mas, mesmo quando estão sozinhos, ou em boa companhia, há ainda a ação do tentador que

procura destruir-nos.

134

Há ciladas na companhia, como há ciladas em nossa solidão.

Temos muitas oportunidades de retornar. Onde poderemos escapar destas oportunidades para

retornar?

Se voarmos nas asas do vento, poderíamos

encontrar um esconderijo no deserto em que poderíamos estar certos de estarmos livres de

toda oportunidade de retornar ao mundo e aos velhos pecados?

Não, cada homem é chamado a ser tentado como todos os seus demais companheiros.

Nossas tentações são distribuídas igualmente. E

todos nós podemos dizer que nós encontramos muitas oportunidades para retornar.

Quão fortemente age o Inimigo sobre o melhor dos homens.

Você pode ser diligente na oração secreta, e talvez o diabo possa ter dormido até você ter

começado a orar, e quando você está orando mais fervorosamente ele se aproxima mais

atrevidamente.

Quando você mais se aproxima de Deus, Satanás

parecerá algumas vezes estar mais perto de você.

Oportunidades para retornar estarão se

apresentando enquanto estiver neste corpo, mesmo quando estiver próximo do Jordão.

É até possível que a mais forte tentação venha sobre nós na hora do nosso último suspiro. Oh!

Quem nos livrará do corpo dessa morte?

135

As oportunidades para retornar podem ser encontradas em quaisquer condições de vida e

em quaisquer mudanças pelas quais possamos passar.

Por exemplo, quão frequentemente há líderes, que quando têm prosperado, encontram

oportunidades para retornar?

Eu fico triste em pensar naqueles que me pareciam verdadeiros crentes, como eles se

tornam muito duros e frios quando se tornam ricos.

Quão frequentemente isto acontece que o pobre

e sincero crente que estava associado ao povo de Deus em todas as suas reuniões, e sentia

orgulho de estar entre eles, mas quando ele “sobe na vida” entre aspas, e cresce uma ou

duas polegadas acima dos outros na estima comum, ele não poderá ir muito longe com o

povo de Deus. Ele há de procurar uma igreja que siga a moda do mundo, e se alegrará nisto

buscando ter respeitabilidade e prestígio e ele recuará na fé – se não em tudo, ao menos em seu coração.

Cuidado com os lugares elevados: eles são

muito escorregadios.

Não há regozijo em tudo que você possa imaginar ser agradável e fácil, mas, ao

contrário, a luxúria geralmente dissipa-se como a fumaça, e a abundância faz o coração inchar-

se de vaidade.

136

Se algum de vocês tem prosperado neste mundo, vigie ao menos para não esquecer de

retornar ao lugar de onde caiu.

E dá-se o mesmo com a adversidade.

Eu tenho me entristecido pelos homens crentes – conforme penso que eles sejam – que

nasceram muito pobres, e que dificilmente sentem que poderiam se associar com aqueles

que eles sabem estar em melhores circunstâncias.

Eu penso que eles tinham errado pela ideia de que poderiam ser desprezados.

Eu teria vergonha de crentes que desprezassem seus irmãos na fé porque Deus teria tratado com

eles um tanto severamente na providência, contudo há este sentimento no coração

humano, e entretanto pode não haver nenhum tratamento cruel, ainda que algumas vezes o

espírito seja capaz de imaginar isto, e eu conheço alguns que abandonaram a

congregação dos santos em razão destes sentimentos.

Isto corresponde a preparar o caminho para

retornar aos antigos lugares.

E, certamente, eu não me surpreenderia se visse

alguns líderes se tornarem frios quando penso na maneira em que eles têm sido compelidos a

viver.

Talvez eles tenham vivido, antes, numa casa

confortável, e agora eles têm que residir num quarto onde não há conforto, e onde o som da

blasfêmia os alcança.

137

Ou então, como em alguns casos, talvez eles tenham que residir num asilo de pobres, e

estarem longe de todo relacionamento com outros crentes ou de algo que pudesse lhes

confortar.

Somente a graça pode guardar aqueles que

vivem sob tais circunstâncias.

Você observa, então, que quando você se torna

rico ou quando se torna pobre, que terá oportunidade de retornar.

Se você desejar retornar ao pecado, à carnalidade, ao amor do mundo, à sua antiga

condição, você nunca precisa estar prevenido de fazê-lo por falta de oportunidades.

Se algum de nós desejasse retornar, nós

veríamos que nenhum dos nossos velhos amigos se recusaria em nos receber.

O mundo sempre receberá de braços abertos os que retornarem para ele.

Aquele que era o favorito dos salões de festas. Aquele que acima de todos era cortejado para se

mover na roda da vaidade e frivolidade; alegraria bastante a muitos se eles o vissem

retornar.

Quantos brados de triunfo se ouviriam, e como

eles lhe dariam as boas-vindas.

Que este dia nunca venha a você, especialmente aos jovens, que têm confessado a Jesus.

A separação do mundo trará a você a intimidade do Salvador, e a consciência da alegria da sua

presença.

138

Talvez você dirá: “Por que o Senhor os faz tão prósperos?

Ele não poderia nos guardar da tentação?”.

Certamente que poderia, mas isto nunca foi a intenção do Mestre que nós fôssemos plantas de estufa.

Ele nos ensinou a orar: “Não nos deixes cair em tentação”, mas ao mesmo tempo ele permite

que sejamos conduzidos a elas, e tenciona fazê-lo, para provar nossa fé e ver se é verdadeira fé

ou não.

Ele também nos convida a orar: “Livra-nos do mal”.

A fé que nunca é provada não é a verdadeira fé.

Isto deve ser exercitado mais cedo ou mais tarde.

Deus não cria coisas imprestáveis.

Ele tenciona que a fé que Ele nos dá seja testada e assim glorifique o seu nome.

Estas oportunidades de retornar têm o objetivo

de provar a sua fé, e são enviadas para provar que vocês são soldados voluntários.

Porque, se a graça é uma espécie de corrente que prende você de tal forma que não poderia

deixar o Senhor, e se isto viesse a ser uma impossibilidade física o ato de esquecer seu

Salvador, não haveria qualquer crédito para sua fé, em obedecer a Ele.

Por meio disto você saberá se é de Cristo ou não,

quando tem oportunidade de retornar, e no entanto, não retorna, isto provará que você

pertence a Ele.

139

Nós não aproveitamos a oportunidade de retornar porque aspiramos por algo melhor.

“Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto

é, celestial.”.

Nós desejamos algo muito melhor do que este mundo. Pode o mundo nos satisfazer?

Talvez quando você estava morto no pecado. Um mundo morto pode satisfazer um coração

morto, mas desde que você tem conhecido algo destas coisas melhores como poderá estar

contente com o que o mundo oferece?

É possível que você tente encher sua alma com as coisas mundanas.

Deus tem feito você prosperar, e você diz: “Oh! Isto é bom!”.

seus filhos estão junto de você; você tem tido

muitas alegrias domésticas, e você diz: “Eu ficaria aqui para sempre”.

Você não percebe desde logo que isto era um

espinho na carne?

Você já colheu alguma rosa neste mundo que

não tivesse algum espinho?

Você não está sendo obrigado a dizer, depois de ter tudo o que o mundo possa lhe dar: “vaidade

de vaidades, tudo é vaidade?”.

Eu tenho certeza de que isto tem ocorrido com

você.

Todos os servos de Deus confessarão que se o Senhor lhes dissesse: “vocês terão todo o

mundo, e será apenas esta a porção de vocês”, que eles seriam homens de corações

despedaçados.

140

Antes eles desejariam que o Senhor mesmo fosse a sua porção, porque desejam algo melhor.

Repare que mesmo quando o crente não se

alegra com algo melhor, ele deseja isto.

Quanto do caráter está revelado em nossos desejos.

Eles desejavam uma pátria melhor, a celestial.

Isto é uma grande coisa para ser desejada.

Por desejarem esta coisa melhor, não poderiam

retornar para se contentarem com as coisas que haviam desejado antes.

Não importa o que possamos encontrar neste

mundo, nós nunca acharemos um céu aqui.

Nós podemos ganhar o mundo inteiro e vir a

dizer: “Isto se parece com um pequeno paraíso”, mas não há paraíso deste lado do céu, para um filho de Deus.

Há provisão suficiente nos celeiros para os porcos, mas não para os filhos.

Há o bastante no mundo para os pecadores, mas

não o suficiente para os santos.

Estes têm desejos mais fortes, aguçados e

veementes, porque eles têm uma vida nobre dentro deles, e eles aspiram por uma pátria

melhor; e ainda que eles venham a se embaraçar por um breve tempo com este

mundo, e de um certo modo se tornem cidadãos dele, eles estarão ainda insatisfeitos, porque são cidadãos do céu, e não podem descansar em

qualquer lugar daqui.

Nossas melhores esperanças estão, a propósito,

fora do alcance da vista.

141

Nossas expectativas são nossas maiores possessões.

As coisas que nós temos, que nós valorizamos,

são nossas hoje pela fé.

Não nos alegramos nelas ainda, mas quando nossa herança se manifestar completamente,

nós teremos chegado à plena maturidade.

Oh! Então entraremos na posse da verdadeira

riqueza, que não se desfaz e não pode ser furtada ou passada para outros em razão da morte,

entraremos nas mansões da glória e na presença de Jesus Cristo nosso Senhor.

Vemos assim porque os crentes não podem

retornar, mesmo quando têm muitas oportunidades, porque descansam nisto,

através da graça divina que tem produzido este desejo por algo melhor em seus corações.

Assim, amados irmãos, cultivem estes desejos mais e mais. Se estes desejos têm a propriedade de nos separar dos desejos do mundo, moldando

em nós o caráter de Deus, cultivem-nos então o mais que puderem.

Vocês pensam que temos pensado o suficiente sobre o céu?

Olhe para o avarento.

Quando ele esquece o seu ouro?

Ele sonha com ele.

E nós temos algo muito mais valioso do que todo o ouro do mundo com que ocuparmos o nosso

pensamento.

Deus não se envergonha de seus filhos, ainda

que haja entre eles muitos pobres, fracos,

142

doentes, seja qual for a condição pela qual sejam rejeitados pelo mundo, mas jamais o serão da

parte de Deus, porque estão destinados a habitar em perfeição em glória na cidade que lhes

preparou no céu. Na Nova Jerusalém, com todo o seu resplendor e glória.

Para provar o fato de que não se envergonha deles, é chamado por Eles de seu Deus.

Deu-lhes o seu nome para serem reconhecidos

como o povo de Deus.

É assim que são conhecidos pelo mundo que os rejeita.

Mas Deus jamais se envergonhará de qualquer

deles, porque estão destinados à glória das coisas melhores que lhes deu por herança.

Há pessoas no mundo que quando se

enriquecem têm vergonha de seus familiares pobres, ainda que sejam seus irmãos.

Mas Jesus não se envergonha de chamar os

pecadores que comprou com seu sangue, de irmãos.

Uma das razões para isto é que não os julga pelo

que eles são, mas pelo que ele tem preparado para eles.

Veja que o texto diz que Deus não se envergonha

de ser chamado de o seu Deus porque lhes preparou uma cidade.

Por mais ricos que sejam segundo o mundo,

seriam muito pobres diante de Deus.

Por maior que seja a sua riqueza espiritual também não se pode comparar com a perfeição

que terão em glória.

143

Assim, todos são pobres agora, aos olhos de Deus, mas são ricos pelo que lhes tem destinado.

Ele os vê vestidos do linho finíssimo que é a justiça dos santos, com que serão vestidos na

glória.

Deus pode assim, ver em seus filhos que sejam

desprezados e feitos alvo de zombaria pelo mundo, a dignidade e a glória que lhes tem

concedido em Cristo.

Deus tem preparado uma cidade para aqueles

que têm fé, e que por isso têm deixado o mundo e seguido a Cristo.

Uma cidade em que há comunhão, liberdade, igualdade e fraternidade no mais alto grau

possível.

Onde haverá relacionamentos agradáveis.

A mais elevada honra está reservada para os cidadãos desta cidade celestial.

Se você é um filho de Deus não estranhe se tem tido desconfortos aqui neste mundo.

Você é um estrangeiro.

Não espere que os homens que são deste mundo o tratem como se fosse um deles.

Quando lhe perseguirem e disserem todo o mal contra você não espere ser confortado por este

mundo.

Ao contrário, lembre-se que Deus o tem

submetido a provas para que o seu galardão seja grande no céu.

Pois quanto maior é a fidelidade em relação à extensão da prova, maior será a honra a ser

conferida aos que perseveraram.

Numa palavra final, gostaríamos de lembrar àqueles que insistem em colocar suas

esperanças nas coisas deste mundo, que não se esqueçam que ele é uma grande cidade que está

destinada à destruição, e com esta, serão também exterminadas todas as

suas esperanças, por mais fortes que sejam.