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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR FRANCISCANO – IESF CURSO DE PEDAGOGIA EM GESTÃO EDUCACIONAL ROSANA MENDES DE MATOS PRIVADO A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA: O caso do Programa Bolsa Família e sua vinculação a escola.

A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR FRANCISCANO – IESFCURSO DE PEDAGOGIA EM GESTÃO EDUCACIONAL

ROSANA MENDES DE MATOS PRIVADO

A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA:

O caso do Programa Bolsa Família e sua vinculação a escola.

Paço do Lumiar2006

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ROSANA MENDES DE MATOS PRIVADO

A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA:

O caso do Programa Bolsa Família e sua vinculação a escola.

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia em Gestão Educacional do Instituto de Ensino Superior Franciscano – IESF, para a obtenção do grau de bacharelado em Pedagogia.

Orientadora: Profa Esp. Ednilde Guerra Terças.

Paço do Lumiar2006

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Privado, Rosana Mendes de Matos

A política social educacional como política assistencialista:O caso do Programa Bolsa Família e sua vinculação a escola / Rosana Mendes de Matos Privado. – Paço do Lumiar, 2006.

76f.

Monografia (Graduação em Pedagogia em Gestão Educacional) – Instituto de Ensino Superior Franciscano, 2006.

1. Política social 2. Política educacional 3. Política assistencialista I. Título CDU 371.16:304

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ROSANA MENDES DE MATOS PRIVADO

A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA:

O caso do Programa Bolsa Família e sua vinculação a escola.

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia em Gestão Educacional do Instituto de Ensino Superior Franciscano – IESF, para a obtenção do grau de bacharelado em Pedagogia.

Aprovada em _______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________Profª Esp. Ednilde Guerra Terças (Orientadora).

Instituto de Ensino Superior Franciscano

_______________________________________________________1º EXAMINADOR

______________________________________________________2º EXAMINADOR

Page 5: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

AGRADECIMENTOS

Ao misericordioso e eterno Deus, que sempre esteve comigo em todos os

momentos de minha vida, guiando-me e ajudando-me nesta árdua caminhada, e por não

permitir que as adversidades ocorridas ao longo deste percurso me desestimulassem, mas que

estas sempre me servissem de lição;

Á minha adorada mãe Olegária Mendes de Matos, que incentivou-me a ingressar

na vida acadêmica, apoiando-me nos momentos árduos, alegrando-se comigo nos momentos

de vitória e sempre me aconselhando nas tomadas de decisões;

Ao meu querido pai José Raimundo Privado, que mesmo distante esteve sempre a

desejar-me êxito nesta empreitada;

Aos meus amados irmãos Andre Mendes de Matos Privado e Ruth Mendes de

Matos Privado, por sempre se fazerem disponíveis a ajudar-me nos momentos que precisei e

pelas críticas e elogios feitos nos trabalhos realizados;

Ao meu apaixonante namorado e futuro esposo Tony Henrique Garcia Aragão,

que sempre se fez presente nas minhas apresentações, elogiando-me e criticando-me, e por

continuamente entender a minha ausência;

A minha admirada professora e orientadora Ednilde Guerra Terças Santos, por

confiar no meu trabalho e estimular-me a sempre busca o conhecimento, ajudando-me como

professora e como amiga, que sempre esteve presente;

Às minhas inseparáveis amigas Eliscleide, Elisângela, Gracinete e Maria Cláudia,

que unidas sempre enfrentamos as adversidades, tanto na vida acadêmica quanto na vida

diária, ajudando umas as outras, com amor, compaixão e altruísmo;

Aos surpreendentes professores pelo incentivo, e pela assistência fundamental na

superação da visão alienada que tinha;

A Diretora Geral professora Ivone Coqueiro por nunca ter desistido desta

instituição, apesar de todas as dificuldades;

Aos meus estimados colegas de classe pela cumplicidade, afetividade,

companheirismo e admiração conquistados ao longo destes quatro anos.

A todos que colaboraram para a realização desta pesquisa científica deste

trabalho.

Page 6: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Não podemos nos limitar a dar dinheiro às famílias porque o efeito colateral é escravizá-las na miséria. Um dos grandes perigos de um programa apenas assistencialista de esmola, é levar uma adolescente a ser mãe precoce para receber aquele dinheiro mensal e abortar suas chances de ser um dia, quem sabe uma cientista.

Heloisa Helena

Page 7: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

RESUMO

O presente estudo que trata sobre o vínculo do Programa Bolsa Família com as instituições

escolares, tem o objetivo de tratar o assunto em questão a partir de uma visão crítica,

baseando-se na teoria e na prática, pretendendo esclarecer que a conexão entre programas

assistenciais e a educação é uma violação aos direitos do cidadão, pois ao mesmo tempo que

se tem direito a assistência financeira direcionada aos mais desfavorecidos economicamente,

advinda dos cofres públicos sem que haja uma contribuição direta, este também têm direito a

saúde, moradia, saneamento básico, e sobretudo a uma educação de qualidade inquestionável,

para que todas as metas preconizadas nas leis brasileiras possam ser consolidados no dia-a-dia

da sociedade.

Palavras chave: Bolsa Família. Instituições Escolares. Assistência. Educação.

Page 8: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

ABSTRACT

The present study that deals with on the bond the Program Stock market Family with the

pertaining to school institutions, it has the objective to treat the subject in question from a

critical vision, being based on the theory and the practical one, intending to clarify that the

connection between assistenciais programs and the education are a breaking to the rights of

the citizen, therefore at the same time that right is had economically the directed financial

assistance to most disfavored, happened of the public coffers without it has a direct

contribution, this also has right the health, housing, basic sanitation, and over all an education

of unquestioned quality, so that all the goals praised in the laws Brazilians can be

consolidated in day-by-day of the society

Keywords: Stock market Family. Pertaining to school institutions. Assistance. Education.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Comparativo entre Crianças de 4 a 14 residentes no Estado do Maranhão que

freqüentaram a escola no ano de 2004...............................................................32

Gráfico 2 – Percentual de analfabetos no Brasil por região no período de 2002 a 2003......33

Gráfico 3 – Número total de matrículas de alunos aprovados, reprovados e evadidos no

Ensino Fundamental Menor (1º a 4º séries) no Estado do Maranhão em 2005 34

Quadro 1 – Valores do benefício..........................................................................................44

Gráfico 4 – Índices de desigualdade no Nordeste nos anos de 2001 à 2003.........................46

Gráfico 5 – Estimativa de famílias pobres residentes no Estado do Maranhão em 2001 e

famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família em 2005................................47

Gráfico 6 – Comparativo entre os alunos aprovados, reprovados, evadidos e transferidos..53

Gráfico 7 – Estimativa de famílias pobres residentes no Município de Paço do Lumiar em

2001 e famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família em 2005....................55

Gráfico 8 – Quantidade de filhos por família........................................................................56

Gráfico 9 – Renda mensal por família..................................................................................56

Gráfico 10 – Tempo que recebe o benefício............................................................................57

Gráfico 11 – Problemas com o Programa................................................................................57

Gráfico 12 – Manutenção das crianças na escola sem o auxílio do benefício.........................58

Gráfico 13 – Manutenção das crianças na escola sem o vínculo do programa com o sistema

escolar ...............................................................................................................58

Gráfico 14 – Manutenção das crianças na escola essencialmente pelo programa...................59

Gráfico 15 – Melhoras financeiras através do programa.........................................................59

Gráfico 16 – Satisfação no valor do benefício ........................................................................60

Gráfico 17 – Recebimento de outros benefícios oferecidos pelo Bolsa Família.....................60

Figura 1 – Fatores que geram a pobreza..............................................................................61

Figura 2 – Condicionalidade educacional frente os programas assistenciais......................62

Page 10: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

LISTA DE SIGLAS

PROMIN – Programa Materno Infantil.

PSA – Programa Social.

ONG’s – Organizações Não Governamentais.

PRONASOL – Programa Nacional de Solidariedade.

FSE – Fundo Social de Emergência.

FIS – Fundo de Inversões Sociais.

LDB – Lei de Diretrizes e Bases.

EC Emenda Constitucional.

FHC – Fernando Henrique Cardoso.

MP – Medida Provisória.

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana.

CODEFAT – Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

PRM – Programas de Renda Mínima.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

SINE – Sistema Nacional de Empregos.

PEETI – Programa para Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil.

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar.

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

TV – Televisão.

PIS – Programa Integração Social.

PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público.

BCP – Beneficio de Prestação Continuada.

LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social.

PNE – Plano Nacional de Educação.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................11

2 O ASSISTENCIALISMO E A EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA.....................15

3 A HISTORICIDADE DO ASSISTENCIALISMO NO BRASIL.................................19

4 A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA

ASSISTENCIALISTA ..............................................................................................29

4.1 O caso do Bolsa Família e sua vinculação às instituições de ensino.....................39

5 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM PAÇO DO LUMIAR...................................49

5.1 Metodologia................................................................................................................49

5.1.1 Local de realização da pesquisa...................................................................................49

5.1.2 Universo da pesquisa...................................................................................................49

5.1.3 Instrumentos utilizados na pesquisa.............................................................................49

5.2 Objetivos...........................................................................................................................50

5.2.1 Geral............................................................................................................................50

5.2.2 Específico....................................................................................................................50

5.3 Análise e resultado dos dados...................................................................................51

5.3.1 Entrevista realizada com a senhora Cleonice Diniz Pereira, Diretora da Unidade

Integrada Conjunto Paranã...........................................................................................51

5.3.2 Entrevista realizada com a senhora coordenador do Programa Bolsa Família de Paço

do Lumiar, Gisele Resende..........................................................................................53

5.3.3 Análise dos dados obtidos nos questionários realizados com os pais dos alunos

matriculados na Unidade Integrada Conjunto Paranã..................................................56

6 CONCLUSÃO...................................................................................................................61

RERERÊNCIAS..........................................................................................................63

APÊNDICES................................................................................................................66

ANEXOS......................................................................................................................70

Page 12: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

1 INTRODUÇÃO

O ideário de garantias sociais, advindas da concepção keynesiana, deu bases para

o surgimento do Estado de Bem-Estar ou Welfare State, onde segundo o entendimento de J.

M. Keynes não existia a liberdade natural dos indivíduos, principalmente por seus objetivos

nem sempre coincidirem com as metas da sociedade. Este defendia a intervenção do Estado

para garantir uma política econômica programada, para que houvessem garantias de

produtividade e renda, aumentando assim a empregabilidade.

Com a crise do capitalismo, na década de 70, toda essa estrutura foi reordenada, e

o Estado assumiu uma política de negatividade de sua intervenção para a construção de um

bem-estar social.

A questão social, no atual modelo capitalista neoliberal, visualiza a chaga mais

profunda da sociedade, que entende-se ser a desigualdade entre os homens, como algo

necessário, pois este possibilita uma estabilização e a complementação de funções, sendo esta

algo fundamental , segundo afirma Vergara (1984, apud BIANCHETTI, 2001, p. 72) ao

comentar que “não há nada que descanse sobre um fundamento mais débil que a afirmação da

suposta igualdade de todos os que têm forma humana”. Deste modo, toda e qualquer proposta

que parta da classe dominante, é algo que na sua essência o pressuposto é a condicionalidade

do indivíduo, e não a sua emancipação.

Entender que os programas de renda mínima provém de um ideário neoliberal,

perfaz entender como esta visualiza o indivíduo, onde o mesmo é naturalmente livre para

deliberar diante das imposições do mercado. Todo homem portanto é dono de suas próprias

“portas de entrada e saída”. O ponto mais importante do neoliberalismo é o desenvolvimento

do capital: quanto mais os sujeitos consomem, mais cresce o capital no país, dessa forma

destinar recursos aos “indivíduos incompetentes”, aumenta o consumo local e o capital no

país, através das arrecadações de impostos.

O modelo neoliberal transforma as políticas sociais de direitos sociais adquiridos

e assumem o perfil de ações assistenciais, em cujo contexto a questão social é tratada de

forma marginalizada, pois segundo esta concepção, isto resulta da ação de “indivíduos

incompetentes” que não souberam escolher adequadamente as possibilidades que o mercado

lhes oferece.

A redução dos gastos públicos é defendida pelo neoliberalismo de forma radical:

as políticas sociais deixam de ser direitos garantidos por lei, sendo mantidos pelo poder

Page 13: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

privado, e o Estado acaba por oferecê-la de forma mínima, como tem ocorrido na saúde,

educação superior, moradia, saneamento básico e outros benefícios que a sociedade necessita

para viver com qualidade.

Além desta proposta de transferências de responsabilidades, há ainda um estilo

particular do Estado em “manter” as crianças e adolescentes freqüentadores da instituição

escolar: através do vínculo do sistema educacional a programas sociais. Um exemplo claro e

que será discutido ao longo deste trabalho a ser desenvolvido é o Bolsa Família que estipula a

freqüência escolar das crianças e adolescentes cadastrados no programa como uma das

contrapartidas da família.

Pode-se afirmar que programas assistencialistas destinados aos mais desprovidos

economicamente “[...] induzem os beneficiários à acomodação e à dependência dos subsídios

estatais, contribuindo para a desagregação das famílias e do pátrio poder” (AZEVEDO, 2001,

p. 13). Dessa maneira, percebe-se que os subsídios públicos com a finalidade de auxiliar as

famílias carentes, abre precedente à indolência e permissividade.

O quadro ideológico visualizado pela burguesia de que todos são iguais perante a

lei, estende-se coerentemente ao ideário educacional, onde todos os homens são iguais e a

gratuidade e obrigatoriedade da educação garantirá a todos as mesmas oportunidades.

Dessa forma, a educação passa a desempenhar várias funções necessárias para a

reprodução e crescimento do sistema, a saber: “assegurar o funcionamento e aperfeiçoar o

sistema de produção e as relações de produção vigentes [...]; assegurar a conservação e a

vigência do sistema jurídico-político [...]; conservar e difundir os ideais dominantes

[...]”(CUNHA, 1985, p. 17).

Assim, pois a educação é tida como prática social condicionante, trabalhando em

função da teoria do capital humano, difundindo que a educação gera desenvolvimento, renda e

mobilidade social, tornando-se uma aliada na reprodução da cultura dominante.

Desta forma o interesse ideológico da classe dominante é manter a educação

mínima e de baixa qualidade, que vem servindo cada vez mais à reprodução da diferença de

classes, inculcando na classe trabalhadora a impossibilidade de alcançar os níveis mais

elevados da sociedade, onde estes se satisfazem com o “pouco que ganham do Poder

Público”, caracterizando assim a face reproducionista do programa assistencial em questão.

Infelizmente em nossa sociedade a educação não é visualizada como prática de

libertação, como assim almejava Paulo Freire, mas como mera função social; função está tão

somente com o objetivo de reproduzir a ideologia da classe a quem se serve.

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O foco deste trabalho de pesquisa é o Programa Bolsa Família, que tem como

objetivo principal investigar, explanar e criticar sobre a maneira subserviente em que a escola,

instância da sociedade responsável pelo desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem,

coloca-se como uma das regras essenciais para a permanência no programa acima citado.

A escola, contrapartida para a permanência no programa, vem ao longo da história

perdendo sua característica fundamental. Prova disso é a forma como esta é tratada pelo Poder

Público; apenas como política pública, e não como ferramenta essencial para o

desenvolvimento social do indivíduo, uma vez que é responsável pela inserção do sujeito em

diversas áreas da sociedade, ação essa imprescindível no relacionamento humano.

Não pretende-se empregar sensacionalismo para explanar sobre o assunto que é

tão elogiado por uns e criticado severamente por outros, mas espera-se usar de bom senso,

lucidez e fundamentação teórica para que o presente estudo ganhe proporções além das que

foram colocadas inicialmente, e possa futuramente ser utilizado para a real transformação da

sociedade em que estamos inseridos.

Esta pesquisa foi desenvolvida pautada na necessidade de que seus resultados

sejam satisfatórios, baseou-se em planejamentos cuidadosos, trazendo em seu bojo reflexões

conceituais sólidas e alicerçadas.

As concepções teóricas aqui defendidas foram baseadas na pesquisa bibliográfica,

na conjectura defendida por diversos autores analisados ao longo dos trabalhos, destacando-

se:

Moacir Gadotti;

Roberto Bianchetti;

Eliane Nunes de Carvalho;

Pedro Demo;

Sonia Maria Draibe;

Gaudêncio Frigotto;

Eduardo Matarazzo Suplicy, dentre outros.

Em relação a pesquisa de campo, esta dará de forma dinâmica, onde optou-se pela

entrevista depoimental e aplicação de questionários, comportando um universo pesquisado

composto por algumas famílias que são beneficiadas pelo programa, a diretora da Unidade

Integrada Conjunto Paranã e a Coordenadora do Programa Bolsa Família do Município de

Paço do Lumiar, objetivando esboçar um perfil imparcial sobre a pesquisa em questão.

Detalhando o que será enfocado ao longo deste estudo, encontra-se delineado no

primeiro capítulo as questões sociais na América Latina, enfocando a sua natureza e qual o

Page 15: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

teor das políticas sociais desenvolvidas nestes países, tratando de cada um destes de forma

clara e coerente.

O segundo capítulo deste, enfocará sobre a trajetória histórica do assistencialismo

no Brasil, e como nosso país se encontra atualmente diante deste “mar” de programas sociais,

que ao contrário do que pregam nada têm de emancipatórios.

O terceiro capítulo destina-se a descrever a educação no Brasil, delineando a sua

atuação na sociedade, frisando a sua importância para a libertação do indivíduo para que

possa adentrar numa sociedade mais justa e menos excludente.

No quarto capítulo descreve-se o tema deste trabalho que é a relação entre a

política educacional e o Programa Bolsa Família, tratando deste de forma crítica pautada em

literaturas especializadas em assistência social.

No quinto capítulo tratar-se-á de descrever toda a pesquisa de campo realizada na

Unidade Integrada Conjunto Paranã e na Secretaria de Desenvolvimento Social do Município

de Paço do Lumiar.

E por fim o sexto capítulo que tratará de concluir este trabalho monográfico,

traçando considerações sobre o tema abordado.

Page 16: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

2 O ASSISTENCIALISMO E A EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

Segundo Draibe (1997), é possível afirmar que no início da década de 80 a grande

maioria dos países latino-americanos organizavam suas políticas sociais baseadas no modelo

de Welfare Stat, apoiados no duplo pilar de programas universais e os de seguros sociais, onde

encaixavam-se alguns programas assistencialistas, especialmente aqueles que eram dirigidos a

classe mais pobre.

Na década de 70, alguns países iniciaram seus primeiros passos para tornar

possíveis as reformas unificadoras dos regimes previdenciários, e ainda introduziram ou

reforçaram pensões sociais destinados a trabalhadores que não eram devidamente

incorporados ao sistema de seguros, em especial ligados ao labor rural.

Na década de 90, em particular no Brasil e no México, houve um considerável

crescimento de programas, especialmente os ligados aos grupos pobres (programas voltados

para a alimentação e nutrição), reforçando o impacto redistributivo do sistema de proteção

social.

Salama e Valier (1997, apud OLIVEIRA; DUARTE, 2005) tratam da existência

de uma grande defasagem ente o direito e a realidade. Segundo estes autores a realidade

destes países não apresentam universalidade e homogeneidade, e os direitos sociais em muitos

desses países não passam de mera formalidade, uma vez que a grande maioria da população é

marginalizada, devido a “[...] distribuição diferenciada dos benefícios em termos de favores e

privilégios resultantes do clientelismo” (OLIVEIRA; DUARTE, 2005, p. 289).

É importante ainda destacar três características centrais das políticas sociais

liberais implantadas pelos países latino-americanos, traçados por Salama e Valier (1997, apud

OLIVEIRA; DUARTE, 2005, p.287) que são:

a) Políticas sociais orientadas para os muito pobres – São políticas destinadas a

garantir às populações mais vulneráveis um mínimo de serviços de primeira

necessidade e de infra-estrutura social. O caráter focalizado que apresenta é

justificado pela necessidade de combater a extrema pobreza;

b) Políticas sociais de assistência-benfeitoria e de privatização – “O corte do gasto

social foi o resultado do mais palpável dessa diretriz [alcançado] através da

privatização e da descentralização do financiamento e operação dos programas e

serviços” (DRAIBE, 1997, p. 216);

Page 17: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

c) Políticas sociais descentralizadas – o apelo a caridade e ao apoio comunitário

passa a ser condição vital para a realização dessas políticas. Em geral as ações

descentralizadas se realizam, nesse modelo, por meio de contatos entre o governo

central e governos sub-nacionais como no caso brasileiro as chamadas parcerias

ente União, Estados e Municípios, outras instituições da sociedade civil e ONG’s.

Sendo assim, fica claro que estas características reafirmam o descompromisso do

Estado na manutenção das políticas sociais, onde o poder privado toma para si a

responsabilidade estatal, sob a forma de contrato firmado com a sociedade civil, tornando os

serviços básicos comercializáveis, e a política social toma forma de mero paliativo, perdendo

seu caráter universal.

O campo dos programas assistências foi o campo mais inovado dentro do sistema

de proteção social da América Latina. A introdução destes dirigidos aos grupos mais pobres

decorreu de “[...] recomendações programáticas quanto por pressões reais originadas nos

aumentos da pobreza e da desigualdade que acompanhavam a crise e os ajustamentos

processados” (DRAIBE, 1997, p. 229).

Dos sete países da América Latina apenas três seguiram o paradigma de ações

emergenciais e compensatórias.

O Chile inaugurou, na região, a modalidade rede social, coerente com o princípio da focalização do gosto da tentativa de aumentar a sua progressividade. [...]. A diferença de outros países que também concentraram as políticas sociais nos programas assistenciais e emergenciais, o Chile não isolou seus programas em um especial fundo social [...]. O México também introduziu alterações importantes nos seus programas assistenciais. A mais ambiciosa iniciativa foi o Programa Nacional de Solidariedade - PRONASOL1, iniciado em 1989, como instrumento específico para erradicar a pobreza. [...]. Na Bolívia, com o objetivo de aliviar os custos sociais do ajuste refletidos nos segmentos mais pobres da população, instituiu-se o FSE – Fundo Social de Emergência2 [...]. Suas operações terminaram em 1991 e foi substituído pelo FIS – Fundo de Inversões Sociais3, concebido com caráter permanente e dirigido basicamente a programas de saúde e educação (DRAIBE, 1997, p. 229, grifo nosso).

Apesar do Brasil, a Argentina, a Costa Rica e a Colômbia criarem constantemente

programas voltados para a classe pobre, não introduziram em suas políticas sociais na década

de 80, programas de erradicação à pobreza.

1 O PRONASOL atua em quatro vertentes: Bem-estar; Infra-estrutura básica de apoio e eletrificação; Solidariedade para a produção e Programas de apoio. Apesar da grande importância do programa, o atual governo mexicano praticamente o abandonou.2 Os programas apoiados pelo FSE foram do tipo assistência social, infra-estrutura social, infra-estrutura econômica e apoio a produção.3 Na modificação de FES para FIS houve uma centralização do programa, com objetivo de garantir maior poder de iniciativa ao Estado.

Page 18: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Na década de 90 estes países contaram com mudanças em suas estratégias para o

combate à miséria: o Brasil no governo Fernando Henrique4, implantou diversos programas

assistenciais de combate a pobreza; a Argentina reforçou e criou programas para enfrentar

algumas situações do forte empobrecimento, onde destaca-se o PROMIN – Programa

Materno Infantil, o PSA – Programa Social; a Costa Rica em 1993, mantinha trinta e oito

programas de combate a indigência, sendo que o programa voltado para a área habitacional

atingiu um número pequeno de beneficiários e não alcançou os mais pobres; a Colômbia

alcançou melhoras nos indicadores sociais de pobreza nos anos 80, através dos Programas de

Habitação Popular, do Programa Supervivir que objetivava a melhora na saúde e educação

das crianças menores, o Programa Escuela Nueva com o objetivo de melhorar a qualidade da

educação básica, o Programa Hogares de Bienestar voltado para a criação e manutenção de

creches com o apoio da sociedade e o Plan Nacional de Educación voltado para melhorar o

bem-estar da população marginalizada e que localizavam-se em regiões afetadas pela

guerrilha (JARAMILHO, 1993 apud DRAIBE, 1997).

A educação, um dos direitos sociais e parte integrante das políticas sociais, nos

sete países da América Latina mantêm entre si um padrão de similaridade, onde a gratuidade e

a universalidade desta política social é uma característica uniforme a todos, e não se encontra

nenhum caso evidente de privatização, apesar das diversas alternativas de parcerias, auxílios

pecuniários ao setor privado e terceirização da gestão. O ensino superior ainda é o nível

educacional menos privilegiado, ainda não havendo casos de privatização, mas de quebra de

gratuidade, como ocorre no Chile. Os esforços dirigidos para a inovação e melhoria

qualitativa da educação tem sido uma constante em todos os países.

O processo privatizatório no campo educacional tem sido uma experiência

vivenciada por vários países, processo esse que Draibe (1997, p. 220) delimita em três

vertentes:

a) POLÍTICA DE PRIVATIZAÇÃO POR DEFAUT – não há recuo da oferta do

ensino público, mas há um crescente aumento da oferta privada;

b) POLÍTICA DELIBERADA DE PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO – exemplificada

pelo Chile, onde a oferta do ensino é mantida pela rede privada em todos os níveis

de ensino, em troca de subvenções públicas, que tem como critério assignitativos

o custo e a freqüência dos alunos;

c) POLÍTICA DE DESCENTRALIZAÇÃO – criação de parcerias ou subvenções

onde se enquadram as instituições filantrópicas e ONG’s.

4 Este assunto será mais bem detalhado no próximo capítulo.

Page 19: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Dessa forma, pode-se entender que apesar de não totalizar-se a privatização, esta é

uma prática desenvolvida e que dia após dia tem conquitado espaço frente as dificuldades do

Estado, que não consegue suprir as necessidades básicas da sociedade, e que pode ter um

prisma de entendimento mais amplo, de acordo com o referido no parágrafo anterior.

Quanto à descentralização do ensino básico, foi uma das grandes “conquistas” do

poder público, uma vez que esta ação “democratiza” as políticas educacionais e diminui

consideravelmente os gastos públicos. Dentro desta questão destacam-se a Costa Rica e a

Bolívia que não aderiram a este modelo de gestão educacional; o Chile que municipalizou a

educação primária e secundária em 1981; a Colômbia que direcionou os encargos

educacionais aos departamentos e municípios5.

Nos países federativos, o México iniciou suas reformas descentralizantes a partir

dos anos 70, intensificando esta mudança nos anos 90; a Argentina transferira no final dos

anos 70 a responsabilidade da educação primária às províncias, e nos anos 80 também

transfere o ensino médio, mantendo apenas nas mãos do governo nacional o ensino superior;

no Brasil o ensino básico e secundário são mantidos pelo Estado e Municípios6

respectivamente, e o ensino superior mantido pelo Governo Federal e pelos Estados, mas que

ao passar dos anos esta responsabilidade gradativamente tem passado para as mãos de

instituições privadas.

3 A HISTORICIDADE DO ASSISTENCIALISMO SOCIAL NO BRASIL

5 Estes são países que mantém um modelo governamental de estrutura unitária.6 A LDB trata que o Estado assegurará o ensino fundamental e oferecerá com prioridade o ensino médio (ART. 10º, VI). Aos municípios cabe oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, dando prioridade ao ensino fundamental (Art. 11º, V), oferta essa que em muitos casos , inclusive no Maranhão, é de péssima qualidade e em doses homeopáticas.

Page 20: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Entender o que atualmente ocorre na questão social no Brasil perpassa

compreender inicialmente sobre o que significa “sistema de proteção social”.

Segundo Draibe (1995 apud SILVA, 2001, p. 40) sistema de proteção social

significa:

“Conjunto de programas que em última instância protegem os cidadãos dos riscos inerentes às economias de mercado contemporâneos, entre eles o clássico risco de perda de renda, mas também os modernos riscos enfrentados pela reprodução social intergeneracional.”

Dessa maneira, proteção social tem o objetivo claro de amenizar as necessidades

econômicas, evitando ao máximo o sofrimento gerado, por exemplo, pela falta de renda

devido o desemprego, para a manutenção das necessidades básicas do indivíduo, ação que

Demo (1995, p. 76) contesta ao afirmar que:

Se a previdência é, teoricamente, universal, sua inclusão se dá tipicamente pela via do salário mínimo, o que já é absurdo gritante; mas o maior absurdo está em que foi montada de modo tão contraditório, que se melhorar o salário mínimo, quebra; enquanto isto pululam aposentadorias privilegiadas, sobretudo aquelas forjadas nos setores públicos [...].

Draibe trata o significado de sistema de proteção social em sentido abrangente,

quase com a mesma extensão do Welfare State ou Sistema de Bem Estar Social. Segundo esta

“o termo proteção remete à idéia de proteção contra riscos sociais [...]. Dessa forma, o

conceito afasta-se muito do tradicionalmente referido apenas à seguridade social” (DRAIBE,

2000, p.06).

O Welfare State ou Estado de Bem Estar Social defende a concepção de que todo

indivíduo tem direito, a partir do nascimento, a inúmeros bens e serviços que são de

responsabilidade do Estado, como referiu-se Draibe, à seguridade social. Esses direitos iriam

desde a saúde e educação até o auxílio ao desemprego, por exemplo.

O conceito do Welfare State nasce paralelo ao conceito de Universalismo, que:

É a forma de política social que nasce e se desenvolve com a ampliação do conceito de cidadania [advinda] com o fim dos governos totalitários da Europa Ocidental [...], [e firmados] com a hegemonia dos governos sociais – democratas e, secundariamente das correntes euro-comunistas, com base na concepção de que existem direitos sociais indissociáveis à existência de qualquer cidadão (MEDICI, 2006, p. 1)7.

7 O conceito de Welfare State é algo que na prática social brasileira esta incluída somente nas leis, que tem em suas linhas um teor europeu de universalismo dos direitos sociais, sendo que na prática tudo não passa de mera falácia.

Page 21: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

As questões sociais no período do regime autoritário no Brasil durante meados da

década de 60, foram enfrentadas de forma “tecnocrática”, cujo objetivo delimitou-se em “[...]

excluir as aspirações que decorrem da dinâmica de participação popular e a ganhar uma lógica

em que a funcionalidade do sistema econômico [resumia-se a] uma espécie de entidade neutra

que provocaria por definição o progresso e o bem-estar comum” (KOWARICK, apud

COSTA, 1998, p. 35).

Este modelo governamental contrastou-se com anteriores experiências brasileiras,

principalmente sob o período de 1930 a 1945, delimitadas ao primeiro Governo Vargas, onde

as estratégias principais eram de táticas integracionistas em relação à classe trabalhadora. A

quebra do vínculo com o regime populista rompeu com a “[...] política dirigida a redistribuir

renda e ampliar emprego” (MOISÉS, 1978 apud COSTA, 1997, p. 36.), apesar desta época da

história brasileira não haver políticas sociais apresentadas pelo governo que visa-se suprimir

as deficiências urbanas.

Neste período apenas eram considerados cidadãos os indivíduos comunitários que

ocupavam as vagas no mercado de trabalho reconhecidas e definidos por lei, os indivíduos

que exerciam atividades que não eram reconhecidos por esta, eram descritos como pré-

cidadãos8, demonstrando assim a dualidade e exclusão social a partir da força de trabalho da

posição ao indivíduo dentro da sociedade. A partir desta concepção de cidadania foi que

durante muito tempo o conceito de “público” restringiu-se exclusivamente a instituições

sociais de acesso limitado às classes profissionais incluídas no pacto populista (IBIDEM apud

COSTA, 1997).

No pós 64 esta exclusão vivida no primeiro Governo Vargas não foi trabalhada

sob a estrutura pública, muito pelo contrário, a característica hostil frente ao desenvolvimento

de valores universais em relação a construção dos direitos sociais só colaborou para reafirmar

o dualismo social.

Segundo Costa, durante a primeira fase do regime militar houveram duas metas

que foram atingidas

[...] a reconstrução da iniciativa decisória no Estado especialmente no Executivo e na tecnobrurocracia e a reafirmação da capacidade gerencial direcionada para a acumulação de capital assegurando controle sobre a economia e reduzindo os níveis gerais de consumo (COSTA, 1997, p. 38).

8 Este entendimento foi concebido a partir da política previdenciária.

Page 22: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Dessa forma o Governo aumentou de forma ímpar seu poder sobre o controle

social, onde todas as decisões passaram a ser definidas em torno do Executivo,

monopolizando dessa maneira o debate entre o Estado e os trabalhadores.

Baseado no escopo de Welfare State é que durante o período desenvolvimentista

foi expressivo o brio com que o País dedicou-se a desenvolver programas na área social. Com

efeito, durante os anos 30 e final dos anos 70, o Brasil conseguiu organizar um sistema de

políticas sociais enquadrado no conceito de Bem Estar Social. Apesar dos esforços, o

empreendimento dispensado às políticas sociais foi irrelevante, abaixo das expectativas

criadas pelas necessidades sociais da população, mesmo no espaço de tempo transcorrido

durante a instalação das estruturas básicas e o dinamismo industrial, em meados dos anos 70.

Durante os anos 80 as políticas sociais foram incorporadas a agenda reformista

nacional, “[...] sob a dupla chave da democratização e a da melhora de sua eficácia e

efetividade” (DRAIBE, 2000, p.07). O acerto de contas com o autoritarismo veio de encontro

a suposta reordenação das políticas sociais que replicaram as demandas de equidade social.

O antagonismo entre as desigualdades sociais, e a busca por obtenção destas

através da (re) afirmação dos direitos sociais, obteve concretas conotações de

desenvolvimento da abrangência dos programas e o universalismo destes através das

propostas registradas no texto da Constituição Federal de 1988.

Como o disposto no Artigo 6º que diz: “são direitos sociais a educação, a saúde, o

trabalho, a moradia o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição9” (BRASIL, 2006, p.

7).

Este artigo traz um sentindo bem abrangente dos direitos sociais dos cidadãos,

apesar de não deixar explícito quem será responsabilizado na falta de um desses direitos

assegurados por lei, sendo este o modelo para todas as leis ramificadas da Constituição 10, a

falta de compromisso do Estado.

Os esforços destinados a reforma social nos anos 80 esbarraram no clientelismo e

nos resistentes privilégios corporativos existente no sistema político. Mesmo frente as

mudanças materializada no texto da Constituição Federal, não se obteve forças suficientes

para enfrentar agregação por parte do setor privado dos recursos públicos.

No que concerne o “plano organizacional”, ações como “[...] a descentralização e

ampliação dos graus de participação social nos desenhos e formato dos programas, através de

9 Artigo com redação modificada pelo EC 26/2000, onde foi incluído o direito a moradia.

Page 23: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

conselhos, foram uma vez mais as fortes diretrizes para o reordenamento institucional do

sistema de proteção social” (DRAIBE, 2000, p.08.).

Dessa forma as possibilidades de abrangência em graus significativos dos

programas sociais tornavam-se mais coerentes com a realidade da sociedade carente.

A década de 90 nasceu com o Governo Collor, onde este procurou implantar o

que denominava de “Modernização do Estado”, que segundo Oliveira e Duarte o objetivo

geral desta proposta governamentista visava “[...] a implementação de reformas estruturais

como os processos de privatização de liberação de importações, de desregulamentação da

economia e o corte nos gastos públicos” (OLIVEIRA; DUARTE, 2005, p. 284).

A partir desta “modernização”, o governo procurou formas de desvincular o

Estado dos compromissos sociais firmados na Constituição de 1988, desconstruindo a agenda

social delimitada por esta. A preocupação principal do Governo era engajar o País a atual

ordem capitalista mundial, tornando-o capacitado a lógica do mercado livre e incorporando as

políticas de corte neoliberal.

Em 1993, no Governo Itamar Franco, instituiu-se o Programa de Combate à Fome

e à Miséria, que tinha características muito mais de movimento social de mobilização e

solidariedade do que um programa de combate à pobreza.

Em 1995, no Governo Fernando Henrique, iniciou-se o Programa Comunidade

Solidária, que tinha o foco na população de baixa renda, objetivando ações nas áreas de

alimentação, reforço da educação fundamental, combate a mortalidade infantil e geração de

emprego e renda (DRAIBE, 1997).

No governo FHC e no governo Lula, o foco foi direcionado à união de esforços

das políticas sociais para a manutenção e criação de políticas assistenciais, com ênfase no

acesso a renda sem a necessidade do trabalho, política essa que deixou totalmente desfalcada

a ampliação e em muitos casos a manutenção dos direitos sociais constituídos em lei,

deixando ao setor privado a política social universal e investindo numa política meramente

paliativa.

O modelo de proteção social em vigor focaliza-se na transferência de renda, que é

mantida em um valor irrisório e que não é abrangente a todos, ou a grande maioria que

realmente necessita.

No sentido de modificar as regras de regulação social e definir uma nova postura

do Estado frente às políticas sociais, o governo FHC deslocou o papel histórico do Estado de

10 As leis ramificadas da Constituição Federal vêem com o propósito de “reafirmar” os direitos sociais dos cidadãos, como a LDB Lei 9.394/96, o ECA Lei 8.069/90, o PNE Lei 10.172/2001, dentre outras.

Page 24: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

“[...] provedor para o de indutor e articulador das políticas sociais [...]” (OLIVEIRA;

DUARTE, 2005, p. 10), significando a aproximação do setor privado e do setor público, onde

a cobertura das necessidades sociais e coletivas dos trabalhadores seriam supridas pelo setor

privado, devido a privatização de serviços sociais antes cobertos pelo setor público, com a

justificativa de racionalização de gastos, onde quem tem um maior poder aquisitivo paga

pelos serviços que necessita, e quem não pode pagar é encaminhado para a precária

assistência pública, segmentando assim a pobreza.

Durante a permanência de FHC na presidência, manteve-se ativos programas de

transferência de renda, destinados a população pobre, dentre eles destacam-se:

a) PROGRAMA BOLSA ESCOLA – Criado em 2001, através da Lei nº 10.291 de

abril de 2001 e regulamentado pelos Decretos nº 3.823/01 e nº 4.313/02, Tinha

como objetivo atender famílias com crianças de 6 a 15 anos com renda per capita

mensal menor que R$ 90,00. Em contrapartida, as famílias deveriam manter as

crianças freqüentando a rede regular de ensino, onde cada família recebia R$

15,00 por criança, limitando o valor a no máximo R$ 45,00. Foi integrado ao

Bolsa Família em 2003 (SANTOS, 2004, p. 12);

b) PROGRAMA BOLSA ALIMENTAÇÃO – Iniciativa do Ministério da Saúde

com o objetivo de combater a mortalidade e desnutrição infantil em famílias

pobres do país. Foi instituído em 10 de agosto de 2001, pela MP nº 2.206, e

regulamentada pelo Decreto nº 3.934 em 20 de setembro de 2001. Beneficiava

gestantes, mães amamentando crianças de 6 meses a 6 anos e 11 meses de idade

e/ou mães portadoras do vírus HIV com renda mínima de meio salário mínimo

per capita com um benefício de R$ 15,00 por beneficiário, podendo chegar a R$

45,00 por família. O bolsa-alimentação era um programa que complementava à

bolsa-escola do Ministério da Educação, pois as crianças que devido a idade (até

seis anos), saiam deste programa encontravam maior facilidade em aderir ao

bolsa-escola, pois já estavam inscritas no sistema. Foi integrado ao Bolsa Família

em 2003 (SANTOS, 2004, p. 12);

c) PROGRAMA AUXÍLIO GÁS – Foi criado em 2002, com a publicação na MP

nº18/2001, de 28/12/2001 (Artigos 5º e 6º), foi posteriormente transformada na

Lei nº10.453, de 13/05/2003, e estabelecida pelo Decreto nº 4.102, de 24/01/2002.

Este programa era de competência do Ministério das Minas e Energia, com o

objetivo de garantir as famílias com renda per capita de meio salário mínimo, as

que fazem parte do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e

Page 25: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

as que são beneficiadas pelos programas Bolsa-Alimentação ou Bolsa Escola a

ajuda de R$ 15,00 bimestrais para a obtenção do gás de cozinha. Foi integrado em

2003 ao Programa Bolsa Família (SANTOS, 2004, p. 11);

d) PEETI (PLANO PARA ELIMINAÇÃO DA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO

INFANTIL) – Criado em 2 de julho de 1998 e posteriormente substituído pelo

PETI, garantia as famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo o

direito a receber R$ 25,00 por mês nas áreas rurais e R$ 40,00 mensais na área

urbana (SANTOS, 2004, p. 15);

e) PROGRAMA AGENTE JOVEM – Instituído em 2001, garantia a jovens com

idade entre 15 a 17 anos, com renda inferior a meio salário mínimo a capacitação

teórica e prática, abordando temas de saúde, cidadania e meio-ambiente,

exercendo atividades práticas em sua comunidade e uma renda mensal de R$

65,00 (SANTOS, 2004, p. 6);

f) PRONAF (PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DE

AGRICULTURA FAMILIAR) – Bolsa renda destinada as famílias em áreas

agrícolas em estado de calamidades pública e em estado de emergência devido as

enchentes ou secas. O benefício é de R$ 30,00 mensais por família enquanto

perdurar a seca ou enchente (PRONAF, 2002).

No governo Lula, houve mudanças significativas nos programas anteriores, onde

os Programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, o Cartão Alimentação e o Auxílio Gás

fundiram-se e tornou-se o Programa Bolsa Família, que será melhor detalhado no próximo

capítulo. Destacam-se ainda a permanência do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil (PETI, 2003) que é um programa vinculado ao Ministério do Trabalho e o Ministério

de solidariedade Social, que mantém o mesmo valor pago no Governo anterior, (R$ 25,00 por

mês nas áreas rurais e R$ 40,00 mensais na área urbana) e ainda destina um complemento de

R$ 10,00 nas áreas urbanas e R$ 20,00 nas áreas rurais para a chamada Jornada Escolar

Ampliada, para o desenvolvimento extracurricular de atividades voltadas para o reforço

escolar, alimentação, desenvolvimento de atividades culturais, esportivas e artísticas. Tem

como público alvo:

Menores em situação de abandono escolar sem terem concluído a escolaridade

obrigatória;

Menores que encontram- se em risco de inserção precoce no mercado de trabalho;

Menores encontrados em situação efetiva de exploração de trabalho infantil;

Menores vítimas das piores formas de exploração.

Page 26: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Têm-se ainda a criação do Programa Fome Zero, que é considerado um programa

transversal aos demais programas de transferência de renda mínima, com o objetivo de

fornecer alimentação com qualidade e regularidade, ao mesmo tempo em que implementa

ações voltadas para a promoção da produção e distribuição de alimentos, de inclusão social,

educação alimentar e nutricional (SUPLICY, 2003).

Suplicy (2003, p.97) refere ações a serem desenvolvidas pelo programa Fome

Zero, que foram divididos da seguinte forma:

a) PROGRAMAS DE COMBATE A FOME

Programa Nacional de Banco de Alimentos – Tem como objetivo incentivar a

doação de alimentos;

Programas de Restaurantes Populares – Objetiva o fornecimento de refeições a

preços populares;

Cartão-Alimentação – Objetiva fornecer as famílias de baixa renda um benefício

de R 50,00 mensais;

Programa de Educação Nutricional e Alimentar – Tem o objetivo de disseminar

práticas de boa nutrição através do rádio, TV e todos os meios de comunicação.

Objetiva ainda expandir o programa da parceria com o Ministério de Educação,

visando o aumento do valor quantitativo da merenda escolar através da produção

local, aumento do valor nutritivo dos alimentos e o treinamento das pessoas

responsáveis pela preparação do mesmo;

Programa de Distribuição de Cestas Básicas Emergenciais – Direcionado às

famílias11 sob risco alimentar, objetivando a distribuição de cestas básicas;

b) MOVIMENTO CONTRA A FOME

Abrange todas as ações voltadas para a doação de alimentos12 ou em dinheiro13,

visam ainda a preparação de cartilhas, panfletos informativos e voluntários14.

c) POLÍTICAS REGIONAIS PRIORITÁRIAS

Reforma Agrária – Objetiva a preparação do Plano Reforma Nacional, plano de

assentamento urgente para as famílias que esperam por este benefício e

reestruturação de famílias que estão em assentamentos precários;

11 Este é direcionado a famílias que estão encampadas a espera do benéfico de assentamento do Programa de Reforma Agrária, à comunidades indígenas e comunidades quilombolas.12 As doações de alimentos em grande escala são direcionadas para a CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento e em pequena escala é direcionado aos Municípios.13 O Governo Federal conta ainda com contas bancarias oficiais com o objetivo de fazer a distribuição da renda mínima.14 A participação de voluntários é direcionada para auxiliar na arrecadação e distribuição das doações.

Page 27: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Fortalecimento da Agricultura Familiar – Visa expandir o PRONAF e o

financiamento durante a entressafra;

Projeto de Emergência para Viver Bem na Área Semi-Árida – Tem como

objetivos implementar o Seguro de Colheita, prover emergencialmente o

abastecimento de água e construir pequenas usinas hídricas, cisternas e açudes;

Programa para superar o analfabetismo – Objetiva alfabetizar jovens e adultos

beneficiados com o programa e ainda desenvolver programas educacionais nos

locais de Reforma Agrária;

Programas para Geração de Emprego – Visa desenvolver financiamentos voltados

para a moradia e saneamento para famílias de renda baixa, expandir o

microcrédito e incentivar o turismo em áreas rurais;

Programas de Combate à Desnutrição Materno-Infantil – Vinculado ao Programa

Bolsa Alimentação, que é ligado a saúde. Ainda objetiva uma maior atenção a

saúde básica do público alvo.

Além dos programas aqui citados de transferência direta com contrapartida do

dinheiro público, destacam-se ainda programas que não implicam transferência direta e sem a

contrapartida do dinheiro do Estado para pessoas físicas, mantidos pelo Ministério da

Previdência Social e Ministério do Trabalho. Serão mencionados neste trabalho sem o

objetivo de críticas, por não ser o foco principal deste e por se entender que as rendas

destinadas a estes garantem ao seu público alvo um valor que supre o mínimo das

necessidades básicas.

Segundo Suplicy (2003, 102) destacam-se:

a) ABONO SALARIAL PIS/PASEP – Instituído em 1970, através das leis

complementares nº. 7 e 8, caracteriza-se por ser um benefício destinado a

trabalhadores que recebem até dois salários mínimos de empregadores que

contribuem para o Programa de Integração Social ou para o Programa de

Formação do Patrimônio do Servidor Público, segundo determinação do artigo

239, § 3º da Constituição Federal, e que estejam de acordo com os critérios

definidos pela Lei nº. 7.998, de 11 de janeiro de 1990, designadamente em seu

Artigo 9º, que define o exercício da atividade remunerada por no mínimo trinta

dias no ano de referência e que esteja cadastrado pelo menos cinco anos no Fundo

de Participação PIS/PASEP ou no Cadastro Nacional do Trabalhador, dando

direito ao trabalhador a um salário mínimo anual;

Page 28: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

b) SALÁRIO FAMÍLIA – Estabelecido pela Lei 4.266/63 e modificado mais

recentemente pela EC nº. 20/98, proporciona aos empregados do setor privado ou

autônomos que prestam serviços a empresas um benefício de R$ 11,26 por filho

com idade máxima de 14 anos, ou filho acima desta idade que seja deficiente,

desde que o empregado receba o valor mensal de R$ 468,47;

c) BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC) – O Ministério da

Previdência Social controla o benefício de um salário mínimo destinado a idosos e

portadores de necessidades especiais, que não apresentam condições de sustento,

sendo que a renda per capita para ambos os casos precisa ser de um ¼ do salário

mínimo. Instituído pela Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, constante no

Art. 2º, inciso IV, da Lei nº. 8.742/93, e regulamentado pelo Decreto nº. 1.744/95

e pela Lei nº. 9.720/98. A idade de acesso do idoso ao benefício foi alterada, pois

a LOAS, promulgada em 1993, previa a concessão para idosos com 70 anos de

idade ou mais. Já a Lei nº. 9.720/98 alterou a idade mínima para 67 anos, e o

Estatuto do Idoso (Lei nº10.741/03) reduziu a idade mínima para 65 anos. A

mesma lei também permite que mais de um idoso da mesma família tenha acesso

ao BPC;

d) BOLSA QUALIFICAÇÃO – Benefício baseado nos três últimos salários

recebidos, concedido ao empregado que tiver seu contrato suspenso,em

conformidade com o disposto em convenção ou acordo coletivo, e que esteja

matriculado em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo

empregador. A Bolsa foi instituída pelas MP’s nº. 1.726 em três de novembro de

1998, nº. 1.779-7 de 11 de fevereiro de 1999, nº. 1779-8 de 11 de março de 1999

e pela Resolução nº. 200 do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao

Trabalhador –CODEFAT em 04 de novembro de 1998, sendo efetivada em

Janeiro de 1999;

e) GARANTIA SAFRA – Instituída pela Lei nº. 10.420 de 10 de abril de 2002, é

destinado ao pequeno agricultor rural que por ventura for vítima de situações de

calamidade, emergência ou estiagem, sendo fornecido o valor de R$ 475,00

divididos em cinco parcelas iguais de R$ 95,00;

f) PREVIDÊNCIA RURAL – Com a promulgação da Lei nº. 8.213/91, foi facultado

ao trabalhador rural contribuir com a Previdência Social e obter os mesmos

direitos já garantidos aos trabalhadores urbanos, sendo assim, este benefício

constitui um seguro social, que consiste em um programa de pagamentos, ao

Page 29: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

indivíduo ou a seus dependentes, como compensação parcial/total da perda de

capacidade laborativa, geralmente mediante um vínculo contributivo, onde o

beneficiário recebe o equivalente a um salário mínimo;

g) SALÁRIO MÍNIMO PERMANENTE (Aposentadoria) – Disponibilizado pelo

Ministério da Previdência Social o valor de um salário mínimo a idosos, viúvas,

segurados em licença saúde, indivíduos que estão se recuperando de acidentes do

trabalho e trabalhadores rurais;

h) SEGURO DESEMPREGO – De responsabilidade do Ministério do Trabalho,

garante aos empregados do setor formal a garantia de receber um salário igual ao

valor médio recebido durante os três últimos meses de emprego, sendo que o valor

equivale de um a dois salários mínimos por um período que equivale de três a

cinco meses de recebimento do benefício.

Dessa forma, encontra-se na pauta das políticas sociais brasileiras tanto programas

de renda mínima vinculados ao Ministério da Previdência Social, ao Ministério do Trabalho,

em geral destinados aos idosos, viúvas, portadores de necessidades especiais, segurados

afastados do emprego por motivo de saúde e desempregados, classificados dentro da política

social como seguros sociais, quanto os programas de renda mínima vinculados a área da

saúde, educação e a segurança alimentar, que vem de forma assistencial garantir ao indivíduo

o mínimo “necessário” para a sobrevivência.

Todos estes programas assistenciais, vinculados ou não a educação tem em seu

perfil o teor neoliberalista, que camufla a imagem de bem estar social com a idéia da

igualdade de condições dos homens para atuar na sociedade.

A partir do momento que dispensa aos mais carentes um benefício mínimo, para

suprir minimamente suas necessidades, vêm com o objetivo de apenas satisfazer interesses

individuais, sendo explicitado pela fala de Villey (1978, apud BIANCHETTI, 2001, p.88) que

diz: “o que o sistema de mercado encerra de irracional é próprio à essência do homem e

assegura sua dignidade”, ou seja, o que o mercado determina é a comercialização, algo

preconizado pelo capitalismo selvagem, e que o Estado vem garantir as famílias carentes é a

livre comercialização do dinheiro que lhe é “dado”, deixando de garantir melhores condições

de educação, saúde, saneamento básico, moradia dentre outras necessidades para que a

sociedade possa viver com mais dignidade.

4 A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Page 30: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

A escola ao longo da sua evolução tem passado por inúmeras transformações.

Inicialmente na Antiguidade esta era entendida como lugar do ócio, uma vez que o trabalho

profissional e o trabalho manual eram desvalorizados.

Durante a idade média, o ensino se dava em mosteiros, direcionada para a

formação religiosa dos leigos e clérigos. Durante a emergência da classe burguesa, se fez

necessário uma educação voltada para as necessidades desta, onde Libâneo, Oliveira e Toschi

(2003, p.50) entendem que “[...] a escola atende historicamente a interesses de quem a

controla”.

No Brasil, este controle não foi historicamente diferente: iniciou-se com os

jesuítas, que tinham o claro objetivo de “catequizar e instruir” os índios, e ao mesmo tempo

formavam jovens da elite para darem continuidade aos estudos superiores na Europa. Com a

expulsão dos padres jesuítas do Brasil por Portugal, nenhum sistema educacional foi posto em

seu lugar, deixando a educação da classe menos favorecida em segundo plano, uma vez que a

elite enviava seus filhos para estudarem na Europa.

Durante o período monárquico, este quadro não se modificou, apesar das

inúmeras leis criadas mas todas voltadas para uma realidade inexistente. Exemplo disto foi a

primeira Lei do ensino primário em 1827, que instituía a criação de escolas de primeiras letras

em todas as cidades, vilas e lugarejos (PILETTI, 1997), algo que até hoje ainda não foi

constituído. Ao final deste período não obteve-se um ensino secundário digno, e que

abrange-se a população carente, muito pelo contrário, apenas os jovens das classes

dominantes mantinham o acesso aos estudos.

No período republicano dois “grandes feitos” apenas mostraram uma pequena

esperança para a educação: a Constituição de 1934 e a lei educacional de 1971. Na

Constituição no seu Art. 150, dispositivos a, b, c do parágrafo único, preconizava-se o ensino

integral, gratuito e obrigatório, com extensão aos adultos, a inclinação à gratuidade do ensino

ulterior ao primário e a liberdade de ensino em todos os graus e ramos da educação (PILETTI,

1997).

A lei Nº 5.692 de 11 de agosto de 1971 foi auto denominada na época de

“revolução pela educação”, mas pouco ou nada foi colocado em prática. Piletti (1997, p. 26)

cita o Art. 1º desta lei, que modificada pela lei 7.094/82, ficou com a seguinte redação: “O

ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação

necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização,

preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania”.

Page 31: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

O texto da referida lei, incorpora uma realidade que infelizmente não foi

alcançada, demonstrando que a “boa vontade” do poder público encerra-se nas belas palavras

expressadas na redação das leis, e apesar do benefício ser em favor do povo, este povo pouco

sabe sobre estas leis, não podendo assim lutar por seus direitos.

A educação no Brasil vem tomando uma forma dualista e contraditória15 onde de

um lado se afirma uma política social universalista, orientada pela ampliação da rede regular

de ensino e o crescente crescimento do público alvo. Por outro lado, encontra-se a focalização

da política educacional em concentrar-se nos processos de acesso e permanência dos grupos

carentes da sociedade na escola, onde pode-se citar como exemplo as cotas para negros e

índios visando o ingresso nas universidades públicas e o vínculo desta educação a programas

de distribuição de renda mínima.

Se a política assistencialista baseia-se no modelo de Welfare Stat, onde as funções

do Estado capitalista são máximas, no campo da política social isto é contraditório e

metafórico, pois o paradigma ideológico atuante é o Estado Capitalista Mínimo que defende o

ideário privatizatório das empresas públicas e consequentemente a diminuição crescente da

atuação do Estado junto a sociedade (DEMO, 1995).

Segundo Demo (1995, p. 20) o Estado nesta perspectiva define-se como

[...] promotor de políticas sociais compensatórias, para assistir aos que não conseguem inserir-se adequadamente no mercado. Como regra básica valem as relações do mercado, que além de constituírem a tática fundamental produtiva, representam a salvaguarda essencialmente na livre iniciativa.

Dessa forma, entende-se que o Estado apenas cumpre a função de amenizador das

mazelas sociais, tendo suas políticas sociais como políticas assistencialistas, política essa

estritamente compensatória devido sua condicionalidade relacionada ao mercado vigente,

abrangendo essa relação à educação, que é oferecida de forma clientelista e assistencialista,

somente com o objetivo de qualificar mão de obra para suprir as necessidades da sociedade

capitalista.

Segundo Gadotti (2003, p. 123)

Não existe uma sociedade moderna e democrática sem um sistema educacional moderno e democrático. Uma sociedade totalitária tem um sistema educacional também totalitário e hierarquizado. Uma sociedade desenvolvida tem um sistema educacional, uma educação segundo o seu grau de desenvolvimento. E como não

15 Esta não é uma posição nova no processo educacional brasileiro, mas é uma constante presente tanto na teoria quanto na prática das políticas educacionais.

Page 32: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

existem sociedades prefeitas não existe também nenhum sistema educacional perfeito, nenhuma educação perfeita.

Sendo assim, o nosso sistema capitalista, neoliberal, gerador de políticas

clientelistas e assistencial não poderia manter ou gerar uma educação que não estivesse em pé

de igualdade com a mesma, apesar do “querer” político em elitizar o Brasil, mas sem

investimento na área educacional pouco se avança no campo social-econômico.

“O Brasil optou por um modelo de desenvolvimento capitalista que considera a

educação um aspecto secundário” (GADOTTI, 2003, p. 123), dessa forma, o Estado o atrela à

programas de renda mínima para que haja a “divisão das riquezas”, riqueza esta gerada a

partir do engrandecimento de poucos e empobrecimento de muitos. O fato de tentar implantar

a “igualdade social”, unindo os PRM a obrigatoriedade da freqüência escolar não significa

qualidade tanto no que se ensina quanto no que se aprende.

A Lei 10.172 de 9 de Janeiro de 2001 consiste na lei que aprova o Plano Nacional

de Educação – PNE, onde esta delimita aos Estados, Distrito Federal e Municípios articulados

com a União e a sociedade civil a avaliação periódica da implantação do PNE16.

Em suas diretrizes traçadas para o Ensino Fundamental que

Nos cinco primeiros anos de vigência deste plano, o ensino fundamental deverá atingir a sua universalização, sob a responsabilidade do Poder Público, considerando a indissociabilidade entre acesso, permanência e qualidade da educação escolar. O direito ao ensino fundamental não se refere apenas a matrícula, mas ao ensino de qualidade, até a conclusão (BRASIL, 2001, p. 71).

O PNE fez cinco anos no ano vigente (2006) e ainda não se universalizou o ensino

fundamental, e isto é evidente, pois apesar dos “esforços assistencialistas” por parte do

Governo Federal, avançou-se muito pouco nesses cinco anos, de acordo com dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2006), do Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2006) e pelo Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada – IPEA.

Gráfico 1 – Comparativo entre Crianças de 4 a 14 residentes no Estado do Maranhão que freqüentaram a escola no ano de 2004.

16 Art. 3º. A União, em articulação com os Estados, o Distrito Federal, os municípios e a sociedade civil, procedera avaliações periódicas da implementação do Plano Nacional de Educação.

Page 33: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Nacional por amostra de domicílios: síntese de indicadores 2005. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão, 2006.

O quadro acima demonstra uma diferença significativa que separa a educação no

Estado do universalismo preconizado pela PNE, diferença esta que ainda é forte em todo

território brasileiro. Esta diferença entre o indicador de crianças existentes no Estado e o

número de matriculas é significativo no tocante a sua pequena quantidade, apenas 174,261

crianças estão fora da escola, e o Estado em união com os Municípios tem condições

suficientes para tornar a educação no Estado universal.

Um ponto de extrema importância e de preocupação governamental é o

desempenho do analfabetismo no Brasil, desempenho este que só confirma que as políticas

públicas em relação a este assunto ainda são insatisfatórias para que esta problemática seja

sanada, e que segundo Gadotti (2003, p. 103) o analfabetismo define-se como

“[...] um problema político, a sua superação dependerá de uma profunda mudança social e política. Somente uma distribuição justa de renda, salários condizentes, capacitação, saneamento, enfim, uma democracia com igualdade de oportunidades para todos, elevará a condição do nosso analfabeto”

Esta deficiência no campo educacional é melhor evidenciada a partir do gráfico

abaixo que demonstra o analfabetismo nas regiões brasileiras.

Gráfico 2 - Percentual

de analfabetos

no Brasil por região

no período de 2002 a

2003

Page 34: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Políticas sociais: acompanhamento e análise. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2005.

Partindo dos números demonstrados no quadro acima, observa-se o alto grau de

analfabetismo encontrado no nordeste e o quanto em três anos estes números diminuíram,

sendo apenas de 0,9% de 2001 para 2002 e de 0,2% de 2002 para 2003, o mesmo ocorre nas

demais regiões: no norte de 2001 para 2002 apenas 0,8% e de 2002 para 2003 houve um

aumento de 0,2%; no sudeste de 2001 à 2002 diminuição de 0,3% e de 2002 à 2003 0,4%; no

sul onde há as menores taxas de analfabetismo diminuição de 0,4% entre 2001 e 2002, e de

2002 à 2003 diferença de 0,3% e por fim no centro-oeste 2001 e 2002 0,6% e entre 2002 à

2003 0,1%. Esta diferença mínima que demonstra a queda do analfabetismo apenas vem

reafirmar que as práticas que aí estão são de caráter assistencialista, clientelista e paternalista,

Quanto à indissociabilidade entre acesso, permanência e qualidade escolar,

também não avançou-se com intensidade, pois em muitos lugares brasileiros há crianças que

caminham mais de 1Km para chegar a escola mais próxima, problemática essa que foi

largamente divulgadas em meados deste ano, dentre outras tantas precariedade evidenciadas

pelos dados do IBGE. Quanto à qualidade do ensino a cada tempo que passa fica mais crítica

esta questão, pois há vários fatores que tornam a educação pública um “ponto cego” dentro do

espaço social brasileiro e que em muitos casos recaem somente sobre a escola, eximindo-se

assim os pais e a sociedade em geral desta responsabilidade.

Gráfico 3 – Número total de matrículas de alunos aprovados, reprovados e evadidos no Ensino Fundamental Menor (1º a 4º séries) no Estado do Maranhão em 2005

Page 35: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Fonte: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Resultados do censo escolar 2005.

Brasília: Ministério da Educação, 2006.

O gráfico acima evidencia os dados referentes à proporção de matrículas, e em

relação a esta, quanto alunos foram aprovados, reprovados e evadidos, demonstrando que

apesar do vínculo da educação com programas de transferência de renda, não se alcançou um

percentual satisfatório, pois ainda se obteve um taxa equivalente a 16% de alunos reprovados

e 10% de alunos evadidos. Este fator só vem confirmar que o vínculo entre educação e

programas de transferência de renda não significa qualidade educacional e nem um real

interesse por parte dos discentes e familiares em se comprometerem com a aprendizagem

formal.

No que concerne o vínculo legal entre a escola e Programas de Renda Mínima

pode-se destacar o PNE, que preconiza em seus objetivos e metas o seguinte:

Integrar recursos do Poder Público destinados à política social, em ações conjuntas da União, dos Estados e Municípios, para garantir entre outras metas, a Renda Mínima Associada a Ações Socioeducativas para as famílias com carência econômica comprovada (Brasil, 2001, p. 74).

Observa-se o interesse que o poder público demonstrou ao relacionar a renda

mínima ao que ele denominou de “ações socioeducativas”. Bem se sabe que o fator pobreza

influência de forma significativa no fator educacional, mas o que precisa ser repensando são

estratégias sociais de amenização da pobreza e estratégias educacionais que resgate o real

sentido educacional, sem que esta seja entendida como massa de manobra política.

Page 36: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Tanto a Constituição Federal17 quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente18

trazem em seus textos a especificação do direito a assistência social, apesar de não vinculá-lo

diretamente a educação.

Mas não se pode esquecer que o direito a educação também é preconizado em lei,

onde a LDB reafirma dizendo em seu Artigo 2º que “a educação, dever da família e do Estado

[...]” (SAVIANI, 2004, p. 65) e a Constituição Federal (BRASIL, 2005, p. 7) em seu Art. 6º

afirma que “são direitos sociais a educação [...]” confirmando este direito no seu Art. 227 que

diz

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação no trabalho. (BRASIL, 2006, p. 41).

Entende-se, portanto que tanto a educação quanto os PRM são importantes para a

sociedade, mas o que precisa ser compreendido é que estes não devem ser para toda a vida. É

necessário que o indivíduo alcance a sua emancipação econômica, e que consiga “andar com

as próprias pernas”. A educação faz parte deste processo emancipatório, não somente para a

construção da força de trabalho, mas para o alcance do senso crítico, para que a sociedade

consiga mudar sua realidade.

Gadotti (2003, p. 40) ao se reportar a educação imposta pela classe dominante

enfatiza que “a educação dominante talvez ensine a ler, mas contribui muito pouco para a

leitura e a compreensão da realidade [...]. Ler e escrever, contudo continuam sendo essencial

do ato educativo, mesmo depois da alfabetização”. É importante que se entenda que o papel

da educação vai muito além do aprender a ler e escrever. É necessário que o discente tenha

uma visão crítica da sua realidade, visão esta que precisa ir além das aparências e ser atuante

diante das dificuldades encontradas.

“Para educar (conscientizar) é preciso lutar contra a educação, uma luta retomada

incessantemente, contra a educação dominante, a educação do colonizador” (GADOTTI,

2003, p. 40), sendo assim é pertinente que os educadores entendam a fundo o seu papel junto

a sociedade, papel este que não restringir-se somente ao ensinar mecanicamente, mas o

ensinar que leva a transformação crítica da comunidade em que esta inserido.

Meszáros (1981 apud FRIGOTTO, 2003, p. 26) entende a educação como objeto

de produção e reprodução ao dizer que

17 Art. 2003. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social [...].18 Art. 87. II. Políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que deles necessitem; [...].

Page 37: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

O complexo sistema educacional da sociedade é também responsável pela produção e reprodução da estrutura de valores dentro da qual os indivíduos definem seus próprios objetivos e fins específicos. As relações sociais de produção capitalista não se perpetuam automaticamente.

Entende-se pois que o ciclo histórico e vicioso a que a sociedade esta submetida é

algo perpetuado pela escola, uma vez que esta é manipulada pelo sistema em que esta

inserida, algo que Gadotti (2003) esclarece quando diz que não há dissociação entre escola e

sociedade, sendo assim esta perpetua igualmente a desigualdade social que implica em

miséria e falta de condições de auto libertação da situação vivenciada pelo indivíduo.

A escola hoje trabalha a serviço do capitalismo, onde sua função dentro do

ambiente social é a educação em prol das demandas do capital, situação esta que a classe

dominante entende que a educação das classes menos favorecidas deve ter o objetivo de

habilitação para o trabalho.

O entendimento desta educação dualista vai além do ideal defendido pela elite: ela

é aceita e condicionada pela classe desfavorecida, onde explica-se na fala de Desttut (1908

apud FRIGOTTO, 2003, p.34) que diz:

Os homens da classe operária têm desde cedo necessidade do trabalho de seus filhos. Essas crianças precisam adquirir desde cedo o conhecimento e sobretudo o hábito e a tradição do trabalho penoso a que se destinam. Não podem portanto perder tempo nas escolas. (...). Os filhos da classe erudita, ao contrario podem dedicar-se a estudar durante muito tempo; tem muitas coisas para aprender para alcançar o que se espera deles no futuro. (...). Esses são fatores que não dependem de qualquer vontade humana; decorrem da necessariamente da própria natureza dos homens e da sociedade; ninguém está em condições de mudá-los. Portanto trata-se de dados invariáveis dos quais devemos partir.

O que o autor defende não esta distante do que é defendido inúmeras vezes pelas

famílias das classes desfavorecidos, onde estas entendem que o destino de seus filhos está

atrelado ao deles, que em geral são vitimas de um passado de negação dos direitos básicos

(educação, saúde, lazer, moradia etc), e sendo assim entendem que a educação é “perda de

tempo”. É neste entendimento que a política social tem adentrado com seu assistencialismo

paterno e clientelista, ao atrelar a educação à programas de renda mínima, esquecendo que a

qualidade educacional é primordial para a emancipação da condição precária em que estas

famílias se encontram.

Gadotti (2003, p. 60) ao referenciar a problemática em torno da educação em

quanto aparelho ideológico do estado, entende que “a educação reproduz uma sociedade,

[consequentemente esta] não pode transformar o que reproduz”, e questiona-se sobre a

Page 38: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

possibilidade da educação transformar a sociedade que a mantém e que ela reproduz,

chegando a compreensão de que

“[...] é falsa a afirmação de que nada é possível fazer na educação enquanto não houver uma transformação da sociedade, porque a educação é dependente da sociedade. A educação não é certamente, a alavanca da transformação social. Porém, se ela no pode fazer sozinha a transformação, essa transformação não se efetivará, não se consolidará sem ela. Se ela não é a alavanca, isso significa ainda que a sua luta deve estender-se além dos muros da escola não deve limitar-se ao seu ‘campus’, [...]. Compete ao educador, resumida a sua função crítica na sociedade tornar dominante o espaço livre, que hoje é um espaço minúsculo e vigiado (GADOTTI, 2003, p.63)

Dessa forma, o professor enquanto mediador do aprendizado formal precisa

entender que sua função pedagógica não restringe-se somente ao ensino/aprendizagem, é

preciso que o discente entenda a sociedade e seu papel frente as dificuldades encontradas por

este em seu convívio comunitário, pois não é possível visualizar a educação sem que esta

atue na problemática da sociedade, e nem se entende a sociedade a margem do processo

educativo.

A educação não sobrevive se a sua prática não estiver vinculada aos anseios

sociais, mas é importante salientar que ela não precisa esta vinculada a “trocas de favores” e

nem assumir a responsabilidade de “mãe dos pobres”, pois o seu papel social é estar com a

sociedade na construção da identidade e cidadania desta, de acordo com o que afirma Fonseca

(apud VASCONCELLOS, 2005, p. 124)

Educação remete a abertura, possibilidade, vir-a-ser; desta forma, educação tem um nexo profundo com a idéia de transformação, visto que o homem se faz transformando o mundo e, a partir daí, cria a cultura, sendo a escola um espaço privilegiado de apropriação cultural.

Atualmente o que ocorre é a falta de compromisso por parte dos governantes em

tratar de tornar o processo educativo qualitativo ao invés de quantitativo, e para que haja

quantitatividade educacional vinculou-se o ensino aos programas de renda mínima, para que a

população pobre fosse alcançada pelo processo educativo, uma vez que estes não apresentam

condições financeiras para manterem seus filhos estudando.

A falta de compromisso por parte das autoridades em traçar políticas públicas

decentes para a população em geral, reflete-se na fala da assessora da secretária responsável

Page 39: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

pelo Programa Bolsa Escola19 do ano de 2001 ao ano de 2002, a Drª em Antropologia Social

Ana Lúcia Valente que fala sobre a vinculação do programa a educação onde esta diz que:

Pretendo sustentar a opinião de que o Programa Nacional de Bolsa Escola foi idealizado como proposta educacional de ampla envergadura, que ultrapassa os muros da escola. Essa proposta se realiza em pelo menos três níveis: ao favorecer o acesso e a permanência de crianças pobres na escola empreende ações afirmativas de cunho universalista; ao exigir o desenvolvimento de ações socioeducativas pode promover atividades que valorizem a diversidade cultural das populações locais; e ao propor o acompanhamento das ações por um conselho formado por membros da comunidade encaminha um processo de construção da cidadania. (VALENTE, 2003, p. 166, grifo nosso)

O primeiro ponto que precisa ser criticado é o “acesso e a permanência” dos

educandos; o acesso conforme foi demonstrado neste capítulo ainda não foi universalizado, e

o programa não facilita o ingresso, ele esta ligado diretamente a entrada das crianças a escola,

sendo assim ele não facilita, ele exige o acesso. Quanto à permanência, está diretamente

ligada a questão já explicitada no acesso, pois a permanência é obrigatória e isto não

demonstra que o processo de ensino/aprendizagem esta sendo tratado de forma qualitativa, e

também não demonstra interesse por parte da família em relação a vida familiar de seus

filhos.

O segundo ponto destacado foi o desenvolvimento de ações socioeducativas.

Precisa-se entender inicialmente o que seja esta ação: socioeducativa vem da união entre a

sociedade e educação, desta maneira o programa promove que atuações que envolve a

educação e a sociedade, fato este que não foi evidenciado na pesquisa de campo realizada por

este estudo.

O terceiro e último ponto esta relacionado ao “acompanhamento das ações por um

conselho formado por membros da comunidade”, acompanhamento que não foi identificado

nas pesquisas realizadas, evidenciando que o mesmo não ocorre, devido as inúmeras fraudes

alardeadas pela empresa nacional.

4.1 O caso do Bolsa Família e sua vinculação às instituições de ensino

19 Este programa antecedeu o Programa Bolsa Família, foco deste trabalho. Apesar de ter sido substituído posteriormente, seus objetivos continuaram vivos no atual programa, onde entende-se a troca de nomenclatura somente por questões políticas.

Page 40: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Demo (2001) confirma o direito a assistência rendal, ao declarar que a subsídio é

um direito indiscutível. Pessoas e famílias que não conseguem auto-sustentar-se, teriam o

direito de receber do Estado um auxílio monetário mensal, como se fosse um substituto do

salário que o mercado nega. Sendo assim, não se pode negar este direito, uma vez que a lei o

garante, mas, o que procede nos dias atuais é a manutenção de programas que escravizam e

condicionam a população a tornar-se parasitária deste tipo de ajuda, uma vez que estes não

tornam os cidadãos tutelados em cidadãos emancipados.

Além desta problemática, encontra-se ainda o grande número de pessoas que

realmente necessitam da assistência, mas que não foram alcançadas pela mesma, enquanto

pessoas sem precisão econômica estão incluídas neste tipo de programa, e mais, ainda há o

problema do valor disponibilizado as famílias, que na sua maioria sempre são menores frente

a realidade vivenciada.

Atualmente, têm-se o programa Bolsa Família, que se enquadra neste tipo de

programa aqui criticado, tema deste trabalho, e que gera diversos tipos de polêmicas, devido o

seu caráter condicionador, sem objetivos emancipatórios.

O programa Bolsa Família, foi Instituído pela Lei nº. 10.836 de 9 de janeiro de

2004, e regulamentado pelo Decreto nº. 5.209 de setembro de 2004, objetivando agregar sob

sua gestão os programas Cartão Alimentação, Vale Gás, Bolsa Alimentação e o Bolsa Escola.

Apesar de ser acrescido de vários programas, o valor a ser distribuído continua a ser mínimo,

mantendo as características do Programa Bolsa Escola instituído à nível nacional.

O Bolsa Escola foi um programa de renda mínima, e como o próprio nome sugere,

fora vinculado a educação, ou seja, segurança de uma renda mensal mínima, disponibilizado

prioritariamente à mãe, a fim de que seu filhos estudem e não sejam constrangidos a trabalhar

para ajudar no sustento de suas famílias (ALMEIDA, 1996).

Esta idéia, surgiu na década de 80, a partir de estudos desenvolvidos na

Universidade de Brasília, liderado pelo então reitor da UnB, professor Cristovam Buarque20,

onde a grande problemática girava em torno da evasão escolar gerado pela pobreza.

O Bolsa Escola tomou forma de Decreto nº. 16.270 publicado no Diário Oficial de

Brasília no dia 11 de janeiro de 1995, onde foi instituído como Programa de Renda Mínima

no Distrito Federal pelo então Governador Cristovam Buarque. Três dias depois o mesmo

20 Este estudo deu origem a um documento denominado “ A Revolução nas prioridades”, e publicado em 1994 na forma de livro, que leva o mesmo nome.

Page 41: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

programa foi instituído também no Município de Campinas21, e posteriormente outros Estados

aderiram à idéia.

O Programa Bolsa Escola instituído em Brasília, seguia as seguintes etapas:

a) A Secretaria de Educação abria processo de inscrição, onde os locais de cadastro e

quais os critérios para a seleção22 seriam indicados por este;

b) A equipe responsável pelo Bolsa Escola organizava voluntários e estagiários para

visitarem as famílias a fim de checarem as informações dadas pelas famílias no

cadastro;

c) Após a checagem, a Secretária de Educação selecionava as famílias que iriam ser

beneficiadas;

d) As relações das famílias aprovadas eram enviadas as escolas para que estas

informassem as mães das crianças vinculadas ao programa os resultados.

Após todos estes passos, o pagamento do benefício era feito às famílias que

fossem aprovadas na etapa anterior, e seguia outros momentos que listam:

a) Envio mensal da freqüência23 escolar para a Secretária de Educação;

b) Após o envio e checagem de quem estava apto a receber o benefício, a Secretaria

de Educação solicitava o pagamento a Secretaria da Fazenda que enviava o valor

ao banco pagador;

c) De posse do valor a ser pago, o banco disponibiliza nas contas das famílias

cadastradas o correspondente a um salário mínimo.

A reavaliação das famílias era feita anualmente. Caso a família não consegui-se

superar sua situação, então poderiam permanecer no programa até a conclusão do ciclo

fundamental da educação de seus filhos, sendo que se a família consegui-se superar sua

condição financeira, era desvinculada do programa, mesmo que as crianças não tivessem

terminado o ensino fundamental.

As famílias ainda recebiam acompanhamento complementar, onde havia a sua

disposição atendimento psicológico, atendimento médico, reforço escolar e capacitação

21 O programa do Distrito Federal e o de Campinas comportavam características muito distintas: o primeiro destinava a famílias carentes um salário mínimo e obrigatoriedade escolar; o segundo dispunha as famílias carentes uma renda complementar de R$ 35,00 e a não obrigatoriedade educacional.22 Os critérios seletivos do programa são específicos onde a família precisa comprovar residência no município há mais de cinco anos; renda per capita de no máximo meio salário mínimo; ter as crianças de 7 a 14 anos devidamente matriculados na escola ou assinar um termo de compromisso de matrícula-las assim que possível; firmar um compromisso de manter as crianças na escola mediante acordo assinado e inscrever todos os adultos desempregados da família no SINE – Sistema Nacional de Emprego.23 Vale ressaltar que as crianças que faltassem a escola duas vezes no mês sem justificativa ficavam de fora da folha de pagamento mensal.

Page 42: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

profissional, ações que eram integradas as demais Secretárias do Governo e vinculados a

entidades envolvidas com a proteção da criança e do adolescente.

O programa anterior demonstra organização e centralização em um determinado

público, que deveria ser obrigatoriamente famílias residentes no Estado há mais de cinco

anos, evitando assim que outras pessoas de outros estados migrassem para o Distrito Federal

para receberem o benefício.

Ainda em relação às obrigações da família, ressalta-se a obrigatoriedade de todos

os adultos estarem devidamente inscritos no SINE, demonstrando que as famílias não

poderiam viver vinculadas ao programa por tempo indeterminado, e dessa forma deveriam

procura uma forma de não mais depender deste benefício, não sendo este portanto algo

vicioso e condicionador.

Outro ponto a ser ressaltado é o valor do benefício, que equivalia a um salário

mínimo, sendo este um dos pontos positivos do programa, pois o sustento familiar estaria

garantido dentro de um padrão de sustentabilidade razoável, além dos serviços de saúde

disponibilizados para as famílias cadastradas.

Quanto ao ponto educacional, vale ressalvar que tudo estava vinculado a

freqüência escolar do aluno, sendo que duas faltas ao mês sem justificativa à família não

recebia o benefício no mês da ocorrência. Dessa maneira acaba-se entendendo a escola como

um depósito, pois conforme já se citou neste estudo, a freqüência escolar na maioria das vezes

nos remete a um processo de ensino/aprendizagem satisfatório, não sendo este o caso das

escolas brasileiras, que ainda estão longe de atingir altos graus de qualitatividade, e ainda não

garante que pais ou responsáveis pelas crianças estejam de fatos imbuídos em dedicarem-se as

questões educacionais das mesmas.

O Programa Bolsa Escola a nível nacional foi instituído a partir da Lei Nº. 10.219,

de 11 de abril de 2001, com o objetivo das famílias carentes manterem seus filhos na escola, e

foi inspirado nos bons resultados obtidos pelo programa original. Atendia famílias que tinha

uma renda mensal per capita inferior ou igual a meio salário mínimo, direcionando-lhes uma

renda mensal de R$ 15,00 chegando ao valor máximo de R$ 45,00, e em contrapartida a

família era obrigada a manter as crianças de 6 a 15 anos no ensino regular (CNSAN, 2004).

Era de obrigação dos municípios o cadastro, a seleção das famílias, a

responsabilidade de ampliação do programa e ainda avaliação trimestral da freqüência escolar

das crianças vinculadas ao programa.

Segundo Valente (2003, p. 167)

Page 43: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

As bolsas concedidas impulsionam as economias locais, especialmente dos municípios pobres. De outro lado, o programa busca romper com a histórica relação entre políticas educacionais e práticas paternalistas e clientelistas, devolvendo à comunidade a responsabilidade na definição dos seus próprios rumos e de suas portas de saída.

Que a lógica do livre comércio propagada pelo capitalismo funciona, disso não se

tem dúvida, mas entender que este tipo de programa vem romper com a “relação entre as

políticas educacionais e práticas paternalistas”, isto ainda precisa ser repensado, pois as

famílias pobres além de dependerem da “ajuda” rendal, continuam a depender de boas

condições não só no âmbito educacional, mas estende-se a saúde, saneamento básico,

dignidade de moradia, garantia de emprego e outros fatores como essenciais para que a

população carente possa se tornar de fato e de direto definidora de seus próprios rumos e de

suas próprias portas de saídas.

Em se tratando da relação do Programa Bolsa Escola e a permanência das crianças

na escola, Valente (2003, p. 171) entende que

Para se manter as crianças na escola seria possível, por exemplo garantir que o equipamento escolar fosse adequado, e não resta dúvida de que se trataria de uma ação que concretiza a política educacional. Mas apenas num nível, talvez o mais elementar e ‘mecânico’, em que tal política ganharia concretude. A opção política para a superação desse nível poderia ser: estabelecer que essa ação fosse revestida de conteúdo significativo que implicasse o aprendizado, para além dos mediadores institucionais locais, os municípios, e que não tivesse como foco não apenas a ‘comunidade escolar’.

Entender que o investir na qualificação da escola é um ponto “elementar” e

“mecânico” demonstra o teor das políticas públicas voltadas para a educação. Dessa maneira

o poder público justifica a sua falta de investimento no âmbito educacional, por entender que

ações voltadas para questões sociais são mais benéficas para a elevação dos índices do setor

educacional, e que os investimentos deste último é algo que não dá retornos a curto prazo, ao

contrário dos “benefícios” de um programa meramente assistencial.

No ano de 2003, o Programa Bolsa Escola foi gradativamente instinto e

incorporado ao Programa Bolsa Família, que tem uma forte semelhança com este programa,

uma vez que manteve as características básicas do programa anterior.

Segundo a CNSAN – Conferencia Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional, os objetivos do Bolsa Família são:

Promoção da inclusão social numa perspectiva de emancipação das famílias atendidas, criando condições para que elas possam superar a situação de vulnerabilidade em que se encontram; Garantia de direitos sociais básicos, como a

Page 44: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

saúde, a educação, a assistência alimentar e nutricional, com o rompimento do círculo vicioso da miséria (CNSAN, 2004, p.4).

Promover a inclusão e emancipação social do cidadão é um termo muito

abrangente para um programa que apenas vem “amenizar” a pobreza, pois este não tem força

suficiente para “incluir socialmente” um indivíduo a partir da liberação de uma renda mínima,

uma vez que esta inclusão perpassa por questões mais profundas como a moradia descente,

saneamento básico de qualidade, educação, saúde, alimentação saudável e outros fatores que

transformariam eficazmente a vida do indivíduo frente a problemática pobreza.

O Bolsa Família como já foi colocado neste trabalho, é um programa criado para

agregar os programas Auxílio Gás, o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação e o Cartão

Alimentação.

Consiste na distribuição de renda através do Cadastro Único24 das famílias com

renda per capita de R$ 50,00, e as famílias com renda mensal de R$ 50,01 à R$ 100,00 per

capita que tenha criança de zero a 15 anos ou gestantes. Este valor para a inclusão das

famílias no programa foi modificado em 11 de abril de 2006, através do decreto nº. 5.749, que

traz em seu Art. 1º a seguinte modificação:

Art. 1º O caput do art. 18 do Decreto nº. 5.209, de 17 de setembro de 2004, passa a vigorar com a seguinte redação:“Art. 18. O Programa Bolsa Família atenderá às famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, caracterizadas pela renda mensal per capita de até R$ 120,00 (cento e vinte reais) e R$ 60,00 (sessenta reais), respectivamente” (BRASIL, 2006, p. 1).

As prefeituras são responsáveis pelo cadastro, onde as famílias são submetidas a

responder um questionário, que é dividido em três tipos:

Alteração de dados de identificação do domicílio e da família;

Identificação da pessoa;

Identificação do agricultor familiar.

O Cadastro Único funciona da seguinte forma:

a) As famílias respondem a um questionário disponível na coordenação responsável

pelo programa;

b) As informações obtidas através do questionário, a prefeitura envia os dados para o

Governo Federal;

c) Após o recebimento, o Governo Federal analisa as informações e identifica as

famílias que deverão entrar no Programa.

24 Nome dado ao cadastro federal feito pelas famílias junto ao programa.

Page 45: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

O valor do benefício varia de acordo com o grau de necessidade da família,

identificado no cadastro realizado e é dividido da seguinte forma:

Quadro 1 – Valores do benefício.

PERFIL DA FAMÍLIABENEFÍCIO

BÁSICOBENEFÍCIO VARIÁVEL

TOTAL

Renda per capita de até 60,00 por mês.R$ 50,00

R$ 15,00 a R$ 45,00

R$ 50,00 a R$ 95,00

Renda per capita de R$ 60,01 a R$ 120,00 por mês _____

R$ 15,00 a R$ 45,00

R$ 15,00 a R$ 45,00

O valor variável é disponível para as famílias que tenham crianças e corresponde a

uma criança no mínimo, indo no máximo ao valor de três crianças beneficiadas por família.

Apesar do benefício só contemplar três crianças por família, é importante que todos os

familiares estejam cadastrados no programa.

O programa é pago às famílias através da Caixa Econômica Federal, que

disponibiliza as famílias cadastradas um cartão magnético que pode ser utilizado tanto para

saques nas agências da Caixa, com também para pagamentos a serem efetuados em armazéns,

mercados, padarias e outros parceiros do Banco (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO

SOCIAL E COMBATE À FOME, 2006).

Em contrapartida, as famílias que entram no programa precisam assumir

compromisso com a saúde e educação de todos os seus membros. É obrigatório e

indispensável para a permanência no programa as seguintes ações na área da educação e

saúde, tanto para as crianças quanto para as gestantes:

Matricular as crianças e adolescentes de 6 a 15 anos na escola. Garantir a freqüência de no mínimo 85% das aulas a cada mês. Se houver falta às

aulas, é preciso informar à escola e explicar a razão. [...]. Levar a criança para vacinação e manter atualizado o calendário de

vacinação. Levar a criança para pesar, medir e ser examinada conforme calendário do

Ministério da Saúde. [...]. Participar do pré-natal e ir às consultas na unidade de saúde. Continuar o

acompanhamento depois do parto, de acordo com o calendário do Ministério da Saúde. [...].

Participar das atividades educativas desenvolvidas pelas equipes de saúde sobre aleitamento materno e alimentação saudável. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2006, p. 18).

Segundo o decreto 5.209 de 17 de setembro de 2004, em seu Art. 25, o benefício

poderá ser suspenso se houver:

Page 46: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

I - comprovação de trabalho infantil na família, nos termos da legislação aplicável;II - descumprimento de condicionalidade que acarrete suspensão ou cancelamento dos benefícios concedidos, definida na forma do § 4o do art. 28;III - comprovação de fraude ou prestação deliberada de informações incorretas quando do cadastramento;IV - desligamento por ato voluntário do beneficiário ou por determinação judicial;V - alteração cadastral na família, cuja modificação implique a inelegibilidade ao Programa; ouVI - aplicação de regras existentes na legislação relativa aos Programas Remanescentes,respeitados os procedimentos necessários à gestão unificada, observado o disposto no § 2o do art. 3o. (BRASIL, 2004, p. 8).

É pertinente frisar que na Agenda de Compromisso da Família se encontra a

seguinte informação:

Na educação, a escola faz a sua parte e a família faz a sua parte.Por isso, é importante: Acompanhar o aprendizado das crianças. Conversar sempre com a professora. Comparecer às reuniões na escola. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO

SOCIAL E COMBATE À FOME, 2006, p. 20).

Esta é uma realidade debatida ao longo deste estudo, onde têm-se enfatizado que

garantir renda mínima e vinculá-la a educação não garante que o acompanhamento dos pais

será efetivado, mesmo porque esta é uma problemática que a escola enfrenta diariamente, ao

tentar inserir pais e responsáveis no convívio escolar de seus tutelados.

Quanto ao vínculo do programa com o trabalho e renda, a Agenda de

Compromissos traz o seguinte:

Muitas entidades da comunidade e governos promovem treinamentos para ensinar novas habilidades para as pessoas. E oferecem atividade de geração de trabalho e renda que podem ajudar você a realizar novos trabalhos e aumentar a renda de sua família. Procure se manter informado. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2006, p. 22).

O mesmo não trata a questão de emancipação das famílias de forma obrigatória, e

nem determina o órgão a quem compete esta função, confirmando assim o caráter

condicionador e paternalista do programa.

Em relação ao controle social do Bolsa Família, esta é construída através da

instituição de Conselho ou Comitê de Controle Social do Bolsa Família, que são responsáveis

pelo acompanhamento e avaliação do programa, verificação das famílias, identificando se

estas se enquadram ou não no Programa e verificação também se o Programa está atendendo

satisfatoriamente aos seus beneficiados.

Page 47: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Segundo o Ministro do Desenvolvimento Social, Ananias Patrus (2004, p. 1):

[...] é certo que, na contabilização de erros e acertos, os inúmeros benefícios que o programa proporciona às famílias atendidas superam em muitas vezes os problemas operacionais. São mais de 5 milhões de famílias beneficiadas, o que significa um contingente de mais de 20 milhões de brasileiros e brasileiras. Pelos números de nosso cadastro, o benefício chega efetivamente àqueles que mais precisam. E chega com efeitos positivos na economia local.

É indiscutível o benefício que o programa vem agregar as famílias, uma vez que

concede uma melhora na rentabilidade familiar a quem antes não tinha nenhuma perspectiva

de obtenção de renda, mas é preciso que estas possam superar sua falta de condições em

sustentar-se, e o Governo Federal precisa criar mecanismos mais eficazes para que estas

famílias possam desvincular-se o mais breve possível de sua tutela, podendo então alto

gerir-se.

Entender as questões de penúria no Brasil é pertinente demonstrar os índices de

pobreza que ao longo dos anos tem sido diminuído minimamente, e que de acordo com dados

do IPEA 2005, estes tem sofrido ínfimas modificações, de acordo com o que demonstra os

dados do gráfico abaixo:

Gráfico 4 – Índices de desigualdade no Nordeste nos anos de 2001 à 2003.

Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Políticas sociais: acompanhamento e análise. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2005.

De acordo com os dados acima descritos, a pobreza em todo o território brasileiro

é algo que merece extrema atenção política, uma vez que o menor índice do ano de 2003 ficou

com o Centro-Oeste que computa 53,3% da população como pobre, mas que sofreu uma

mudança considerada entre os anos de 2002 e 2003 quando o percentual de 60% caiu para

53,3%. Os índices também demonstram que pouco se avançou quanto a emancipação dos

Page 48: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

mais carentes, devido o baixo percentual de mudanças, como por exemplo, o norte que entre

os anos de 2001 e 2002 não computou mudanças, e entre os anos de 2002 e 2003 registrou

um aumento de 1,7% sobre o valor do ano anterior.

Segundo dados do PNAD 2001 e estatísticas feitas pelo Bolsa Família em 2005, a

proporção de famílias pobres e as que são beneficiadas pelo programa dispõe-se segundo

quadro exposto abaixo:

Gráfico 5 – Estimativa de famílias pobres residentes no Estado do Maranhão em 2001 e famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família em 2005.

Fonte: MINISTÉRIO DE

DESENVOLVIMENTO E COMBATE A FOME. Demonstrativo: Percentual de atendimento no Bolsa Família nas UF em relação às famílias carentes. Brasília: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome,

2005.

Tomando como base o gráfico número quatro, que demonstra a pouca evolução

quanto a emancipação dos mais carentes em relação a sua condição financeira, onde nos três

anos demonstrados apenas 1,2% da população carente, conseguiu elevar sua condição

financeira, entende-se que a estimativa entre as famílias pobres do Estado do Maranhão

identificados no ano de 2001 e as famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família em 2005

é um comparativo justificável, uma vez que poucas mudanças ocorreram. Sendo assim, o

programa ainda deixa um grande percentual de famílias carentes excluídas de sua

abrangência, e como este é vinculado a educação e a saúde, entende-se que estas famílias que

ainda não foram alcançadas estejam à margem destes serviços, sendo excluídas da sociedade

não só pelo fato de serem pobres, mas por não terem condições de acesso a educação e a

saúde.

O que pretende-se explicitar é que não é suficiente o vínculo de um programa

assistencialista a educação e a saúde, pois o que se observa é a falta de universalização de

Page 49: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

direitos essenciais para o indivíduo, direitos estes que precisam ser reafirmados para que a

sociedade em geral tenha não só o direito garantido a um benefício que lhe garanta

alimentação por um tempo determinado, mas que a educação, a saúde, o saneamento básico, a

moradia dentre outros direitos possam ser assegurados com qualidade garantida.

5 O PROGRAMA BOLSA FAMILIA NO MUNÍCIPIO DE PAÇO DO LUMIAR

Page 50: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

5.1 Metodologia

5.1.4 Local de realização da pesquisa

O trabalho em questão teve sua parte prática desenvolvida na Unidade Integrada

Conjunto Paranã, localizada à Rua C, S/Nº, Paranã I, Paço do Lumiar – MA, no período de 01

à 20 de dezembro de 2006, no turno matutino e noturno.

Também foi campo de pesquisa prática para este estudo a Secretária de

Desenvolvimento social, localizado à Avenida Principal, S/Nº, Paço do Lumiar – MA, nos

dias 11 e 18 de dezembro de 2006, no turno matutino.

5.1.5 Universo da pesquisa

Foram selecionados em quanto amostra para realização da pesquisa:

A Unidade Integrada Conjunto Paranã, através da diretora Geral, a Senhora

Cleonice Diniz Pereira;

A Coordenadora do Programa Bolsa Família em Paço do Lumiar, a Senhora

Gisele Rezende;

Dez pais de alunos da Unidade Integrada Conjunto Paranã que são beneficiados

pelo Programa Bolsa Família.

5.1.6 Instrumentos utilizados na pesquisa

Quanto ao instrumento utilizado na pesquisa, optou-se pela entrevista depoimental

e por questionário.

Entrevista segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 195) “é um encontro entre duas

pessoas, afim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto,

mediante uma conversação de natureza profissional”. O depoimento é algo declarado, um

testemunho, é o resultado da entrevista. Portanto conclui-se que, entrevista depoimental é o

encontro entre o investigador e o investigado, onde este último testemunha sua experiência

sobre o assunto estudado, determinando assim a correlação entre entrevista e depoimento.

Para Costa (1997, p.223):

Page 51: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Uma das técnicas mais comuns, econômicas e simples de pesquisa social é o questionário. Ele é necessário notadamente nos casos em que o cientista não dispõe de dados previamente coletados pelas instituições públicas sobre determinadas características da população, e quando se quer obter levantamento específico sobre aspectos, opiniões e comportamentos de uma população.

A entrevista depoimental realizada com a diretora da Unidade Integrada Conjunto

Paranã continha doze perguntas (APÊNDICE A) respondidas satisfatoriamente. Fora

realizado entrevista depoimental também com a coordenadora do Programa Bolsa Família,

contendo treze perguntas (APÊNDICE B), respondido também de maneira satisfatória.

Os questionários direcionados aos pais dos alunos da Unidade Integrada Conjunto

Paranã, continham dez perguntas abertas e fechadas (APÊNDICE C).

5.2 Objetivos

5.3.4 Geral

Demonstrar, explanar e criticar sobre a maneira subserviente em que a escola vem

sendo apresentada à sociedade, ao servir de regra para a permanência no Programa Bolsa

Família.

5.3.5 Específico

a. Ilustrar sobre o tema em questão;

b. Explicar sobre seu teor condicionante do programa em questão, sem trata-lo de

forma superficial e mecânica;

c. Demonstrar que há possibilidade dos programas assistenciais suprimirem as

necessidades básicas da sociedade, sem que estes vinculem-se a escola.

5.3 Análise e resultado dos dados

Page 52: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

5.3.1 Entrevista realizada com a senhora Cleonice Diniz Pereira, Diretora da Unidade

Integrada Conjunto Paranã

Inicialmente entrevistou-se a Diretora da Unidade Integrada Conjunto Paranã, a

senhora Cleonice Diniz Pereira, que esta há dez meses na direção da referida instituição.

O objetivo desta entrevista foi detalhar qual o entendimento da comunidade

escolar com relação a função da escola frente ao Programa Bolsa Família. Inicialmente

pretendeu-se entrevistar a diretoria e o corpo docente, mas detectou-se que os docentes não

têm nenhum conhecimento quanto a identidade dos alunos beneficiados pelo Programa, sendo

portanto, somente entrevistado a diretora da instituição.

No início da entrevista, a diretora foi questionada quanto ao número de alunos

existentes na instituição, onde a mesma informou que haviam 501 alunos matriculados, e ao

ser argüida quanto ao número de alunos vinculados ao Programa Bolsa Família, a mesma

informou que não tinha os números com certeza, pois a escola não sabe quantos alunos reais

recebem o programa, mas informou que haviam em média 100 alunos beneficiados pelo

programa.

Esta ao ser indagada sobre como se dá o cadastramento e recadastramento de

alunos no programa, a mesma informou que a escola disponibiliza para os pais dos alunos

freqüentes uma declaração que informa sobre a regularidade escolar do aluno, sendo que a

mesma não emite esta declaração em caso de alunos faltosos.

Ao ser questionada sobre a melhora no rendimento escolar por parte dos alunos

beneficiados pelo Programa, a mesma enfatizou que “os pais se preocupam mais com o

recebimento ‘da bolsa’ do que mandar os filhos para a escola, pois já houve casos de nós não

liberarmos a declaração e os pais disserem que nós estamos prejudicando as crianças, mas

justamente para eles perceberem que pra nós, escola, o importante é a criança estar na

escola”.

Esta ainda enfatiza que dentre estes alunos beneficiados pelo programa, há alguns

que não levam nenhum tipo de material escolar, além de ainda não terem obtido a farda da

escola, um grande problema para alunos e professores, pois sem os materiais didáticos

necessários e essenciais é impossível que o aluno acompanhe o processo de

ensino/aprendizagem em sala de aula.

Relata ainda um grande problema que a escola tem tido com algumas adolescentes

grávidas, onde “[...] nem freqüentando mais estavam, e a mãe veio receber a declaração para

o Bolsa Família, e eu não dei, e aí ela falou que a escola estava prejudicando a filha dela”.

Page 53: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

A mesma ainda criticou a pouca freqüência dos pais em reuniões realizadas pela

escola, onde em uma turma de trinta alunos, comparecem menos da metade dos responsáveis,

sendo esta uma negligência tanto de pais que recebem o benefício quanto daqueles que não o

recebe.

A diretora ao ser indagada se houve aumento no número de matrículas e

diminuição da evasão escolar, em relação a este primeiro, a mesma enfatizou que não houve

uma grande procura, mas em relação a evasão, esta enfatiza que o número é muito grande,

evidenciado principalmente entre as adolescentes, que na sua maioria são garotas que

trabalham em casa de família, sem residência fixa.

Finalizando a entrevista, questionou-se a diretora sobre a sua opinião pessoal em

relação ao vínculo que a escola tem com o Programa em questão, a mesma replicou que “este

programa parte do governo, não é a escola em si, a escola é só um subsídio pra que o aluno

por meio dela tenha acesso [ao programa]”.

Na escola ainda obteve-se dados estatísticos sobre alunos aprovados, reprovados,

transferidos e evadidos, dos anos de 2004 e 2005, ficando dispostos de acordo com o gráfico

abaixo:

Page 54: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Gráfico 6 – Comparativo entre os alunos aprovados, reprovados, evadidos e transferidos.

Fonte: Unidade Integrada Conjunto Paranã.

Estes índices demonstram a necessidade de uma política mais consistente, que

seja eficaz para que a escola possa elevar seus índices de aprovação, não para mera

informação estatística, mas para que os alunos possam superar a sua condicionalidade tanto

intelectual quanto social.

5.3.2 Entrevista realizada com a senhora coordenadora do Programa Bolsa Família de Paço

do Lumiar, Gisele Resende

O objetivo de entrevistar a coordenadora do Programa Bolsa Família no

Município de Paço do Lumiar, foi de confrontar as regras impostas pelo Decreto deste e a

realidade vivenciada em um município isolado.

Inicialmente questionou-se sobre o (re) cadastro das famílias no programa,

quando as mesmas precisam ainda esta solicitando as escolas uma declaração, sendo que o

entendimento que se tinha do (re) cadastro era que todas as informações obtidas sobre a

freqüência escolar era emitida pela instituição escolar para a secretária de educação. A

coordenadora respondeu que o cadastro hoje é feito através da Secretaria de Desenvolvimento

Social dessa maneira, pois houve modificações na parte administrativa do programa.

Quando questionada sobre o aumento da freqüência escolar por parte das crianças,

a mesma ainda foi enfática em afirmar que este ato é incontestável, devido o programa ser

condicionado a freqüência da criança à escola.

Quanto ao processo de cadastro dos beneficiários, a mesma o detalhou

informando que os cadastros são feitos na Secretaria, após o registro a assistente social vai às

casas das mesmas e compara a realidade dessas pessoas com o que foi declarado no cadastro.

53

Page 55: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Informou ainda da obrigatoriedade do CPF e Título de Eleitor para o cadastramento no

programa, pois anteriormente era necessário somente a certidão de nascimento ou identidade

do responsável. A mesma comentou ainda que apesar da extinção do programa Bolsa Escola

algumas famílias só procuraram a Secretaria de Ação Social porque o Programa foi totalmente

suspenso este ano, obrigando assim as famílias que ainda o recebiam a se recadastrarem no

programa Bolsa Família.

A coordenadora ainda informou que caso haja fraude por parte de algum

beneficiário, as denúncias podem ser feitas junto a Secretaria em questão e ao Conselho

Tutelar da Criança e do Adolescente, sendo que o fraudador pode ser condenado a pagar o

valor do benefício recebido com juros ou em último caso ser condenado a prisão.

Quanto a questão do Conselho de Controle Social do Programa, informou-se que

este controle é realizado apenas com as visitas da Assistente Social25, não sendo realizado

através de uma comissão como é colocado no Decreto nº. 5.209 de 17 de setembro de 2004,

em seu Art. 9º § 1º26.

Algo interessante que a coordenadora informou foi o número de pessoas que estão

recebendo o benefício no Município de Paço do Lumiar: em 2006 foram 5.817 famílias

beneficiadas.

Argüiu-se a coordenadora sobre se há alguma forma de desvincular a família o

mais breve possível do programa, e a mesma respondeu que a família é desvinculada do

programa somente se as crianças já estiverem fora da faixa etária imposta pelo programa ou se

a renda da família estiver fora dos parâmetros impostos pelos mesmos e ainda se não

cumprirem com as condicionalidades do programa. Quando indagada sobre a existência de

algum programa que trabalhe as questões empregatícias da família, como a criação de cursos

profissionalizantes, a mesma informou que estes são realizados pela Casa da Família ou

Centro de Assistência e Referência Familiar, mas que apenas as famílias que continuamente

freqüentam o local sabem que os cursos ocorrem.

Finalizou-se a entrevista perguntando a coordenadora como ocorria a divulgação

do (re) cadastramento das famílias, onde esta informou que este informe ocorre através da

25 Uma informação pertinente dada ao pesquisador em relação a Assistência Social, foi que o município só dispõe de um profissional desta área, sendo que a Secretária de Desenvolvimento Social pediu auxílio a Assistente Social do Centro de Assistência e Referência Familiar, para que auxilie nos trabalhos, pois o profissional atual não estava conseguindo cobrir todo o município.26 § 1o O conselho de que trata o caput deverá ser composto por integrantes das áreas da assistência social, da saúde, da educação, da segurança alimentar e da criança e do adolescente, quando existentes, sem prejuízo de outras áreas que o Município ou o Distrito Federal julgar conveniente.

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Page 56: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Rádio Cultura, localizada no Maiobão e através de carros de som, que visitam todos os bairros

do município.

Para que se finalize este ponto, se faz pertinente demonstrar dados do Ministério

do Desenvolvimento Social e Combate a Fome em relação ao município em questão:

Gráfico 7 – Estimativa de famílias pobres residentes no Município de Paço do Lumiar em 2001 e famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família em 2005.

MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO E COMBATE A FOME. Demonstrativo: Percentual de atendimento no Bolsa Família nas UF em relação às famílias carentes. Brasília: Ministério de Desenvolvimento Social e

Combate a Fome, 2005.

Percebe-se uma proximidade muito grande entre o número de pessoas pobres

residentes no município de Paço do Lumiar em relação as que recebem o benefício,

demonstrando que uma parcela considerável da população pobre do município esta sendo

beneficiada pelo Programa. Mas a realidade vivenciada não é favorável à emancipação das

famílias carentes, pois estas ainda estão extremamente dependentes do apoio federal, essa

realidade é visível, não necessitando de pesquisas profundas para que se identifique a pobreza

vivenciada pelos residentes na jurisdição municipal.

55

Page 57: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

5.3.3 Análise dos dados obtidos nos questionários realizados com os pais dos alunos

matriculados na Unidade Integrada Conjunto Paranã

Gráfico 8 – Quantidade de filhos por família.

Ao questionar os pais quanto a quantidade de filhos que estes têm, obteve-se um

percentual de 70% para as famílias que comportam o limite de até quatro crianças, e 30%

para as famílias que comportavam mais de 4 filhos.

Gráfico 9 – Renda mensal por família.

Ao se questionar quanto a renda familiar, identificou-se 60% estão com renda

abaixo de R$ 100,00, onde estas possuem renda de no máximo R$ 80,00 mensais e de no

mínimo R$ 00,00 mensais. As famílias que obtiveram renda igual ou maior a R$ 100,00

totalizaram um percentual de 40% e obtiveram renda máxima de um salário mínimo por mês.

Estes dados demonstram que não há o que contestar quanto a importância deste

benefício para o aumento da renda familiar, que na maioria das vezes é a única forma de

sustento doméstico mensal.

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Page 58: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Gráfico 10 – Tempo que recebe o benefício.

Ao se questionar quanto ao tempo que as famílias recebem o benefício, de acordo

com o gráfico acima, percebeu-se que 50% dos entrevistados recebem a benfeitoria há 2 anos

e 40% recebem o benefício há 4 anos, demonstrando a condicionalidade do programa, pois

este não trabalha uma forma para que as famílias beneficiadas depois de um certo tempo,

consigam suprir por conta própria suas necessidades pessoais.

Gráfico 11 – Problemas com o Programa.

Ao questionar os

responsáveis sobre eventuais problemas obtidos com o programa, sendo este de qualquer

natureza, obteve-se um inesperada percentual, sendo este de 100% de negação por parte das

famílias de qualquer problema em relação ao programa no Município de Paço do Lumiar. Este

ponto positivo esta relacionado somente ao universo pesquisado, pois a ausência de problemas

relacionados com o programa ainda está bem longe de serem sanados.

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Page 59: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Gráfico 12 – Manutenção das crianças na escola sem o auxílio do benefício.

Ao indagar se as famílias manteriam as crianças na escola sem o auxílio do

programa, 90% dos responsáveis informaram que manteriam seus filhos na escola, mesmo

sem o auxílio do programa e apenas 10% responderam que não manteriam seus filhos na

escola, pois na justificativa destes, não haveria condições financeiras para gastos escolares.

Gráfico 13 – Manutenção das crianças na escola sem o vínculo do programa com o sistema escolar.

Ao perguntar se as famílias manteriam as crianças na escola mesmo que o

programa não tivesse vínculo com o sistema escolar, 100% dos responsáveis informaram que

manteriam seus filhos na escola, mesmo que não houvesse vínculo do programa com a escola.

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Page 60: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Gráfico 14 – Manutenção das crianças na escola essencialmente pelo programa.

Ao se questionar se o programa é essencial para que as crianças estejam na escola,

apesar da resposta detatalhada pelo gráfico 12 demonstrar que 90% dos responsáveis

informaram que manteriam seus filhos na escola, mesmo sem o auxílio do programa, neste

questionamento 70% dos entrevistados informaram que o Programa Bolsa Família é

fundamental para que seus filhos frequente a escola, sendo portanto contraditório a resposta

dos mesmos.

Gráfico 15 – Melhoras financeiras através do programa.

Ao serem

questionados quanto a efetivação de melhoras financeiras, todos os entrevistados informaram

que obtiveram melhoras financeiras, dentro da idéia de que o programa os ajuda nas despesas

domésticas, pois de outra forma, contradizeria o tempo que estes estão no programa, pois se

realmente houvesse melhoras financeiras para os beneficiados, estes não estariam há tanto

tempo dependentes do programa.

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Page 61: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Gráfico 16 – Satisfação no valor do benefício.

Quando arguidos sobre a satisfação em relação ao valor do benefício, 56% dos

entrevistados se mostraram satisfeitos com o valor do programa e 44% não estão satisfeitos,

pois este não tem sido suficiente para suprir suas necessidades.

Gráfico 17 – Recebimento de outros benefícios oferecidos pelo

Bolsa Família.

Quando questionados sobre o recebimento de outras “benfeitorias” do Governo

Federal, que estivesse vinculado ao Programa Bolsa Família, obteve-se 100% de negatividade

quanto ao conhecimento de algum outro benefício vinculado ao Programa, seja ele na área de

profissionalização para os adultos da família ou qualquer outro curso vinculado ao programa,

ou ainda outras benfeitorias que envolva as crianças ou os adultos cadastrados neste.

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Page 62: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

Torna-se pertinente informar que todas os questionamentos realizados e

respondidos pelos pais foram devidamente acompanhados, para que fossem sanadas eventuais

dúvidas em relação a qualquer uma das questões elencadas nesta pesquisa.

61

Page 63: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

6 CONCLUSÃO

Diante do exposto, conclui-se que:

a) As políticas sociais dos países da América Latina, iniciaram seus trabalhos

baseados no modelo de Welfare Stat ou Bem Estar Social, algo que no Brasil

concretizou-se apenas no âmbito redacional das leis, pois o universalimo dos

direitos básicos garantidos por lei em pleno século XXI não foram concretizados;

b) Devido as inúmeras disparidades entre as classes sociais, países da América,

dentre eles o Brasil, intensificaram suas politicas assitencialistas para diminuírem

as berrantes diferenças sociais. No Brasil, esta prática tem sido desenvolvida

desde os anos 90, e apesar do ideário de emancipação das famílias carentes, estes

não puderam superar seu aspecto condicionador, paternalista e clientelista.

Atualmente destaca-se o programa Bolsa Família, que tem o objetivo de fazer com

que os menos favorecidos tenham auxílio monetário para superação da pobreza.

Apesar do objetivo ser algo de extrema necessidade para grande maioria da

população carente, o programa pouco tem a fazer para a emancipação do

indivíduo, pois não há como este emancipar-se com uma renda mensal, em muitos

casos única, de no máximo R$ 95,00, sem que haja uma forma de incluir este

sujeito no mercado de trabalho, para que o mesmo possa auto gerir-se.

c) A pobreza não é um fato isolado, ela resulta da unificação de diversos fatores

como mostra o esquema abaixo:

Figura 1 – Fatores que geram a pobreza.

Fonte: Rosana Mendes de Matos Privado

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Page 64: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

d) A partir da figura acima citada, entende-se que a pobreza não é uma fator isolado,

o mesmo não passar a existir de uma mera deficiência da sociedade, mas esta

surge a partir de fatores que brotam do seio desta, fazendo com que o sujeito fique

a margem do coletivo por diversos fatores que o exclui de obter as oportunidades

de forma igualitária. Combater estas “mazelas” sociais, é tocar na ferida que gera

o câncer social: a pobreza.

e) Finalizando este trabalho, faz-se pertinente demonstrar o esquema abaixo, para

que compreenda-se o papel dos programas assistências diante do sistema

educacional:

Figura 2 – Condicionalidade educacional frente os programas assistenciais.

Fonte: Rosana Mendes de Matos Privado

f) A partir do esquema acima, entende-se os programas assistenciais como

“satélites” que transladam em volta da educação, gerando um campo entre esta

que pode-se denominar como “condicionalidade educacional”, onde o ingresso do

indivíduo no sistema educacional é condicionada à uma gama de favores: o

Estado dá assistência rendal e o indivíduo coopera com o aumento “positivo” dos

índices educacionais.

g) Dessa forma, entende-se que a assistência financeira ao indivíduo que necessita é

incontestável, pois este precisa de subsídios para manter-se mesmo que seja com

padrões mínimos. Mas é importante elencar que este auxílio não é vitalício, e

precisa ter em sua proposta começo e fim previsíveis para que o sujeito possa

empenhar-se ao máximo para que ao término da assistência, este possa está auto-

gerindo-se.

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Page 65: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004. Regulamenta a Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras providências. Disponível em: <http://sisvan.datasus.gov.br/sbf/documentos/Decreto5_209.pdf.>. Acesso em : 14 set. 2006.

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COSTA, Cristina. Introdução à ciência da sociedade. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1997.

COSTA, Nilson do Rosário. Políticas públicas, justiça distribuitiva e inovação: saúde e saneamento na agenda social. São Paulo: Hucitec, 1998. cap. 1.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Entrevista aplicada à Diretora. 68

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR FRANCISCANO – IESF CURSO DE PEDAGOGIA – GESTÃO EDUCACIONAL

ENTREVISTA APLICADA PARA OBTENÇÃO DE DADOS MONOGRÁFICOS

TEMA: A Política Social Educacional como Política Assistencialista:o caso do Programa Bolsa Família e sua vinculação a escola.

ENTREVISTA DIRETORA

1. Qual seu nome?

2. Há quanto tempo a senhora esta na direção desta escola?

3. Quantos alunos desta escola estão vinculados ao programa bolsa família?

4. a escola sofre pressões dos pais na época de enviar os dados de seus filhos para a prefeitura?

5. Como se dá esse processo?

6. A senhora identifica melhoras no rendimento escolar por parte destes alunos?

7. Os pais destes alunos se mostram interessados pela vida escolar de seus filhos?

8. Com que freqüência estes comparecem a escola?

9. A evasão escolar da escola caiu?

10. Houve aumento considerado do número de matriculas na escola? Em quais séries?

11. A senhora conhece algum caso ocorrido nesta escola de pais que só mantém seu filho no sistema educacional para receber o beneficio?

12. A senhora concorda que este tipo de programa esteja vinculado a escola? Por que?

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APÊNDICE B – Entrevista aplicada à Coordenadora do Bolsa Família em Paço doLumiar. 69

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR FRANCISCANO – IESF CURSO DE PEDAGOGIA – GESTÃO EDUCACIONAL

ENTREVISTA APLICADA PARA OBTENÇÃO DE DADOS MONOGRÁFICOS

TEMA: A Política Social Educacional como Política Assistencialista:o caso do Programa Bolsa Família e sua vinculação a escola.

ENTREVISTA COORDENADORA

1. Qual seu nome?

2. Qual a sua função dentro do programa?

3. Qual o Decreto que institui o Bolsa Família no município?

4. Qual o vínculo que o programa tem com a saúde?

5. Quanto aos cursos oferecidos, você conhece a existência de algum relacionado a alfabetização?

6. Quanto ao valor do beneficio, em que valor o município o estipulou?

7. Qual o número de crianças por família que o município estipulou para receberem o benefício?

8. Como as famílias atestam que a criança esta dentro da freqüência mínima estipulada pelo programa?

9. Você tem conhecimento se o conselho de controle social do programa esta em funcionamento no Município? Quantos são em média o número de participantes e como foram selecionados?

10. O Município faz a distinção de pagamento entre as pessoas extremamente pobres e as pobres? Qual o valor destinado a cada um desses grupos?

11. O programa instituído no município é vinculado só a esta secretária ou esta sendo gerenciado com o auxilio de outras? Quais?

12. Como se dá o cadastro das famílias junto ao programa?

13. Há alguma ação voltada para a desvinculação das famílias do programa?

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APÊNDICE C – Questionário aplicado aos pais. 70

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR FRANCISCANO – IESF CURSO DE PEDAGOGIA – GESTÃO EDUCACIONAL

QUESTIONÁRIO APLICADO PARA OBTENÇÃO DE DADOS MONOGRÁFICOSTEMA: A Política Social Educacional como Política Assistencialista:o caso do Programa

Bolsa Família e sua vinculação a escola.

QUESTIONÁRIO PAIS

1. QUAIS AS INICIAIS DO SEU NOME?

2. QUANTOS FILHOS O SENHOR TEM?

3. QUAL A RENDA MENSAL DA SUA FAMILIA?

4. A QUANTO TEMPO RECEBE O BOLSA FAMILIA?

5. JÁ TEVE ALGUM PROBLEMA COM O PROGRAMA?( ) SIM ( ) Não

6. SE O PROGRAMA NÃO TIVESSE VINCULO COM O SISTEMA ESCOLAR, O SENHOR MANTERIA SEUS FILHOS NA ESCOLA?( ) SIM ( ) Não

7. O PROGRAMA É ESSENCIAL PARA QUE SEU FILLHO FREQUENTE A ESCOLA?( ) SIM ( ) Não

8. DESDE QUE O SENHOR COMEÇOU A RECEBER O PROGRAMA, O SENHOR OBTEVE MELHORAS FINANCEIRAS?( ) SIM ( ) Não

9. O SENHOR ACHA O VALOR DO BENEFICIO SATISFATÓRIO?( ) SIM ( ) Não

10. O SENHOR RECEBE ALGUM OUTRO BENEFICIO POR PARTE DO GOVERNO VINCULADO A ESTE PROGRAMA? QUAL?( ) SIM ( ) Não

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ANEXOS

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ANEXO A – Termo de consentimento.

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ANEXO A – Termo de consentimento. 73

Page 75: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

ANEXO A – Termo de consentimento. 74

Page 76: A POLÍTICA SOCIAL EDUCACIONAL COMO POLÍTICA ASSISTENCIALISTA

ANEXO A – Termo de consentimento. 75

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ANEXO A – Termo de consentimento. 76