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A POSSÍVEL MORTE DO RIO CATETÉ, DA VIDA AQUÁTICA E SILVESTRE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
DEVIDAS AOS METAIS PESADOS TÓXICOS PARA OS ÍNDIOS XIKRIN.
RELATÓRIO PARA O GERENTE DA ASSOCIAÇÃO POREKRÔ E MINISTÉRIO PÚBLICO”
JOÃO PAULO BOTELHO VIEIRA FILHO Consultor médico da Associação Indígena Porekrô Professor Adjunto da Escola Paulista de Medicina
Preceptor do Centro de Diabetes - UNIFESP
ABRIL 2015
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A POSSÍVEL MORTE DO RIO CATETÉ, DA VIDA AQUÁTICA E
SILVESTRE E SUAS CONSEQUÊNCIAS DEVIDAS AOS METAIS
PESADOS TÓXICOS PARA OS ÍNDIOS XIKRIN
Histórico
Nos meus relatórios anuais sobre a saúde dos índios Xikrin da Terra Indígena
Cateté, de julho 2013 e julho 2014, expus a contaminação do rio Cateté que
atravessa em toda sua extensão a área necessária à sobrevivência destes
brasileiros. Pedi medidas de proteção contra a poluição visível do rio Cateté
pela mineradora Onça Puma, que explora o níquel, da Companhia VALE, em
que os índios não cansavam de me dizer: “Tu viu como o rio está sujo e não é
mais o mesmo do passado?”.
Nesses relatórios médicos expus a tragédia que iria ocorrer se a Companhia
VALE não realizasse medidas preventivas. Escrevi que indenizações futuras
não iriam compensar o mal ocorrido e que eram necessárias medidas
preventivas. Esses relatórios foram encaminhados às Associações Indígenas
Porekrô, Kakarekré e Baypran, à Companhia VALE, á Secretaria Especial de
Saúde Indígena (SESAI), FUNAI e outras organizações interessadas na
sobrevivência de índios.
Solicitei no relatório de 2014, que as Associações Indígenas pedissem
dosagens do metal pesado níquel na água do rio Cateté à Faculdade de
Geologia de Marabá.
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Em julho de 2013, constatei amontoado de minério ao lado do rio Cateté na
entrada da Terra Indígena Cateté, que iria escorrer para o rio nas chuvas.
Notei desmoronamentos de terras da mineração na estrada ao lado do rio
sem qualquer proteção, grandes movimentos de terras por máquinas
motorizadas ao lado e proximidades do rio por parte da mineração Onça
Puma da VALE, contaminação dos grotões d’água, poeira intensa de
movimentação das máquinas. Todos esses fatos foram descritos em meus
relatórios pedindo proteção ambiental ao rio Cateté, que é a espinha dorsal da
Terra Indígena Cateté.
Previ e descrevi a morte futura do rio Cateté, se medidas preventivas de
proteção ambiental do rio e grotões, como tunilizações e outras ações, não
fossem desencadeadas. Escrevi sobre a contaminação dos peixes e fauna, do
risco do uso d’água contaminada pelos metais pesados como câncer do
pulmão promovido pelo níquel.
A direção da Usina Onça Puma da Companhia VALE não levou em
consideração as minhas informações, resolvendo aumentar a quantia
monetária mensal destinada aos índios em julho de 2014.
Só posso elogiar a Associação Indígena Porekrô, através do seu gerente
Rafael da Silva Melo, ter seguido minha orientação do controle d’água do rio
Cateté quanto à contaminação pelos metais pesados promovida pela
mineração do níquel da Usina Onça Puma da Companhia VALE.
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A tragédia anunciada tornou-se realidade trágica pela contaminação d’água e
margens do rio Cateté pelos metais pesados níquel, cobre, ferro, alumínio,
silício e soluções dissolvidas. A água do rio Cateté tornou-se inapropriada
para consumo humano.
Volto a afirmar que enviei os meus relatórios com diretrizes para uma melhor
saúde, como faço há 49 anos ao senhor Mário Henrique responsável pela
mineração do níquel e Usina Onça Puma da Companhia VALE. Indiquei nos
relatórios de 2013 e 2014, que o grande Projeto Etno-Ambiental que a
Companhia teria que enfrentar estava nas terras da Mineradora VALE, na
entrada do rio na Terra Indígena Cateté. Com medidas preventivas efetivas se
tivessem sido realizadas, a Companhia VALE estaria protegendo o rio Cateté
e seus grotões, a água do rio Cateté e Itacaiúnas, que se dirigem para a 2ª
maior cidade do Pará que é Marabá. A Sra. Nadine Blaser da VALE
International da Suiça tomou conhecimento dos fatos relatados em 2013.
Vejo com grande preocupação e tristeza a contaminação do rio Cateté e
margens pelos metais pesados níquel, cobre, ferro, alumínio, silício e
soluções totais dissolvidas, pela Usina Onça Puma da VALE. Esses metais
pesados poderão extinguir a vida animal e humana pelo acúmulo tóxico na
cadeia alimentar, se medidas corretivas sérias não forem tomadas com
urgência. Essas medidas já deveriam ter sido tomadas anteriormente em
defesa da população Xikrin tão próxima da mineração. O rio Cateté e seus
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entornos caminha para um curso d’água morto, sendo que um ambiente
contaminado e morto significa a morte dos humanos.
Que cursos d’água beirando favelas estejam mortos e poluídos com uma
frequência entristecedora e vergonhosa para nós brasileiros entre populações
faveladas e desfavorecidas, tão pobres, possa se refletir no mesmo exemplo
de uma mineradora tão rica e com nome respeitado em nível nacional e
internacional sobre uma população Xikrin com valores culturais notáveis, é
inadmissível e estarrecedora. O peixe tem valor cultural para os Xikrin muito
grande que podemos observar nos nomes femininos e masculinos dos índios
como peixe-forte, peixe doente.
A minha tristeza e preocupação tão grande com o futuro dos Xikrin está
relacionada também com o meu trabalho médico assistencial exaustivo à
sobrevivência dos Xikrin durante 49 anos, em que os Xikrin maltratados pela
sociedade brasileira chegaram a 98 índios em 1967, quando os conheci,
correndo risco de extinção, conseguindo-se com grandes esforços a sua
sobrevivência, passando a mais de 1.400 índios presentemente. Deve-se
lembrar a assistência que os Xikrin tiveram também do etnólogo René Fuerst
da Suíça, dos missionários católicos Frei José Caron e Frei Gil Gomes, da
antropóloga Lux Vidal da USP. Posteriormente foram assistidos e
beneficiados financeiramente pelo Banco Mundial no Projeto Ferro-Carajás
através da Companhia VALE do Rio Doce. Contaram na sua recuperação
com as Associações Bep-Noi, Porekrô, Kakarekré e Baypran, FUNASA e
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SESAI do governo, ainda com o Hospital de Carajás. Todo esse esforço de
inúmeras pessoas comprometidas com a sobrevivência dos Xikrin, não pode
ser esquecido. A Companhia VALE que tanto socorreu os Xikrin, sobretudo
através da Dra. Maria de Lourdes Davies de Freitas no passado e Josino
sempre, deverá resolver o problema da contaminação do rio que é a vida
psíquica, física e cultural dos índios Xikrin, devendo ser responsabilizada.
Durante vinte e tantos anos havia uma assessoria de médico e antropólogos
com especialistas aceitos pelos índios para o componente indígena da área
de influência da VALE, com um trabalho de qualidade. Deixou de existir com a
privatização pelo desinteresse da mineradora em receber orientação
especializada. A orientação médica passou a se fazer presente pelas
Associações Indígenas e Ministério Público.
CONSIDERAÇÕES MÉDICAS E TOXICOLÓGICAS
Passo às considerações médicas e toxicológicas sobre contaminações pelos
metais pesados que são tóxicos e desreguladores hormonais.
Muitos metais como sódio, potássico, cálcio, ferro, zinco, cobre, cobalto e
manganês, são essenciais para o desenvolvimento dos organismos desde
bactérias até os seres humanos em baixas concentrações. Em maiores
concentrações danificam os organismos vivos, tornando-se contaminantes
ambientais como o níquel, cromo, zinco, ferro, cobalto, manganês.
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Alguns metais pesados desempenham funções na nutrição como o zinco,
magnésio, cobalto e ferro em pequenas quantidades. São micronutrientes
como o zinco, magnésio, cobalto, ferro da hemoglobina. Tornam-se tóxicos e
perigosos para a saúde humana quando ultrapassam as concentrações
mínimas necessárias à vida.
Os metais pesados como o níquel, cobre, ferro e alumínio, quando
acumulados nos tecidos dos organismos vivos, são muito tóxicos com graves
consequências para a saúde e o meio ambiente. Comprometem a saúde dos
seres humanos, dos animais e a vida silvestre, ocasionando várias doenças,
cânceres e desregulamentos hormonais. São bioacumulativos podendo
chegar à grandes distâncias, contaminando pela água e ar os animais
aquáticos e silvestres dos rios como o Cateté e Itacaiúnas da Terra Indígena
Cateté.
O chumbo, o mercúrio, o cadmio, o cromo e o arsênico são metais pesados
que não existem em nenhum organismo animal. Não possuem funções
nutricionais em animais, plantas e microorganismos, sendo prejudiciais em
qualquer concentração. Com a mineração e metalurgia, a produção desses
metais nocivos aumentou com problemas gravíssimos para os seres
humanos, animais, vegetais e ecosistemas.
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Algumas empresas de mineração adotam comportamento de
subdesenvolvimento em países em desenvolvimento ou pobres ou corruptos,
quanto ao comprometimento de suas populações e meio ambiente. Nesses
países as leis e fiscalizações são ignoradas ou toleradas, o que não se
verifica em países desenvolvidos e com nível educacional, social e cívico alto.
A impressão que nos é transmitida na poluição do rio Cateté e margens por
metais pesados como o níquel, cobre, ferro, alumínio, silício e soluções
dissolvidas, é que a Companhia VALE visa lucros, economizando nos custos
preventivos da saúde e meio ambiente, na mineração do níquel do Onça
Puma.
Uma produção limpa utiliza procedimentos sustentáveis nas minerações do
níquel, cobre, ferro, ouro, com controle da contaminação pelos metais
pesados, evitando o comprometimento da biodiversidade.
Os metais tóxicos como o níquel, cobre, ferro, ouro, manganês e alumínio
depositam-se no solo e água de regiões distantes, quando liberados na
mineração sem medidas de controle ambiental. São absorvidos pelos animais
e vegetais, posteriormente pelos humanos. Os metais pesados podem se
acumular em todos os organismos que fazem parte da cadeia alimentar dos
seres humanos ou índios Xikrin no caso.
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As populações mais próximas da mineração de níquel e outros resíduos
metálicos, são as primeiras a serem contaminadas, quando não existem
medidas preventivas de controle da poluição ambiental, o que foi previsto por
mim nos relatórios e filmes explicativos de saúde de 2013 e 2014.
As manifestações dos efeitos tóxicos dos metais pesados estão ligadas às
doses ou concentrações além de determinados valores. A absorção dos
metais que contaminam a água e alimentos, faz-se principalmente pela
absorção gastro-intestinal, podendo ocorrer pelos pulmões e pele. As
manifestações tóxicas do níquel, cobre, ferro, alumínio e manganês estão
ligadas às doses, distribuindo-se a impregnação por todo o organismo.
O níquel em excesso ocasiona os cânceres do pulmão e das cavidades
nasais, lesões dermatológicas alérgicas, eczemas, dermatites e dermatoses,
rinites e sinusites, conjuntivites alérgicas, alterações da tireóide e adrenais,
aumento das imunoglobulinas IgG, IgA e IgM e diminuição da IgE, náuseas,
vômitos, palpitação, fraqueza, vertigem, dor de cabeça, epilepsia.
Bekoire foi removido ao Hospital São Paulo da Universidade Federal de São
Paulo, onde sou professor, com angiedemas deformantes da face o que
nunca havia ocorrido entre os Xikrin, havendo indicação do exame de sangue
quanto ao efeito tóxico do níquel e outros metais. Ele reside na aldeia Djudjê-
Kô, a mais próxima da mineração de níquel da Usina Onça Puma e campos
de mineração do níquel. Seu pai Bekatenti exibe lesões dermatológicas dos
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pés e palmas das mãos. Inúmeros indígenas Xikrin são medicados
frequentemente por cefaleias ou dores de cabeça.
O ferro em excesso ocasiona a hemocromatose pelo depósito desse mineral
no fígado, pâncreas, ocasionando cirrose e diabetes. 17 índios Xikrin
encontram-se em tratamento de diabetes atribuído às alterações da dieta
alimentar para a ocidental ou industrial com aumento do peso. Duas índias
diabéticas evoluíram rapidamente para insuficiência renal, diálise e morte.
O cobre em nível tóxico deposita-se nos rins, fígado e olhos.
Estudos epidemiológicos e toxicológicos sugerem que os metais pesados
contribuem como causadores de obesidade e diabetes, independentes das
causas principais da dieta ocidental ou industrial e pouca atividade física.
Os casos de obesidade e diabetes mellitus tipo 2 tem aumentado entre os
Xikrin, acompanhando os alimentos hipercalóricos da dieta ocidental e a
menor atividade física. Na literatura médica atualíssima, aparecem estudos da
contribuição dos metais pesados e disruptores hormonais na epidemia de
obesidade e diabetes mellitus.
Exposição ambiental aos metais pesados como chumbo, metilmercúrio,
arsênico, disruptores hormonais ou disruptores químicos estão ligados ao
autismo e déficit de atenção com desordem da hiperatividade. Esses metais
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são neurotóxicos e comprometem a função cerebral com déficits cognitivos,
como também os pesticidas.
O alumínio como metal tóxico foi encontrado bastante elevado como também
o ferro e o silício nas margens do rio Cateté, próximo das aldeias Djudjê-Kô e
Cateté, indicando deposição contínua de proveniência de mineração sem
critérios de proteção ambiental.
O alumínio é um metal abundante na crosta terrestre, porém seu nível é baixo
nas águas, vegetais e animais. Esse alumínio acumulado nas margens do rio
Cateté deve vir de processo da Usina Onça Puma, uma vez que a sua
concentração é maior na aldeia Djudjê-Kô que é a mais próxima dos campos
de mineração da Companhia VALE, comparando com os valores da margem
da aldeia Cateté, acontecendo o mesmo com o ferro, manganês e cálcio.
O alumínio não tem nenhum benefício nos organismos animais. O excesso de
alumínio ingerido ou aspirado tem sido relacionado com alterações
neurológicas e doença de Alzheimer.
Preocupante também é a dosagem excessivamente alta dos solventes ou
soluções totais dissolvida na água, que irão atuar como disruptores hormonais
causadores de inúmeras doenças.
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A União Europeia com países desenvolvidos e de ponta nos estudos
científicos, na medicina, realizam pesquisas dos custos monetários dos
metais pesados e disruptores hormonais, sua presença no organismo humano
ocasionando déficits mentais, infertilidade, criptorquidismo, obesidade,
diabetes, distúrbios da tireoide, das adrenais.
Esses exemplos forneço como exemplo da obrigação e responsabilidade da
Companhia VALE cuidar d’água dos rios, da contaminação dos metais
pesados e disruptores hormonais, dos efeitos tóxicos no organismo humano
dos índios Xikrin e demais brasileiros.
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Lobo F. Metais tóxicos e suas consequências para a saúde humana, notícias
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JOÃO PAULO BOTELHO VIEIRA FILHO Consultor médico da Associação Indígena Porekrô Professor Adjunto da Escola Paulista de Medicina
Preceptor do Centro de Diabetes - UNIFESP