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7/23/2019 A Presença de Cristo Na Eucaristia
http://slidepdf.com/reader/full/a-presenca-de-cristo-na-eucaristia 1/9
A presença de Cristo na Eucaristia.
Verdadeira, real e substancial do cardeal Avery Dulles, S.J., Revista 30 dias, número 9, 2005
Este Ano da Eucaristia, na medida em que estimula a uma maior devoção, sugeriu uma nova
reflexão teológica sobre os vários aspectos da Eucaristia como sacrifício, presença real e
comunhão.
A presença real, investigada com grande acuidade durante a dade !"dia, foi um dos pontos
centrais de controv"rsia entre os cristãos a partir do período da #eforma. $utero, mesmo
pondo em d%vida a transubstanciação, manteve firmemente a opinião sobre a nature&a real
e substancial da presença de 'risto, ainda que a maior parte dos outros protestantes não
concordassem com isso, ao menos verbalmente. (as %ltimas d"cadas, houve um pouco de
confusão no )mbito católico quanto * presença real. A 'onfer+ncia Episcopal Americana,assumindo como sua responsabilidade pastoral o necessário esclarecimento dessa questão,
publicou em -- uma pequena obra, muito %til/ A presença real de 0esus 'risto no
sacramento da Eucaristia/ as perguntas e as respostas fundamentais. (o presente artigo,
retomarei o fundamento teológico do ensino católico oficial.
1epois da consagração, o sacerdote, em todas as missas, proclama que a Eucaristia " um
m2sterim fidei. A presença real leva a mente humana aos limites extremos de suas
capacidades. (o fim de tudo, somos obrigados a reconhecer que " um mist"rio inefável e
que deveria ser acolhido com admiração e maravilhamento. 3 uma verdade que só a mente
de 1eus pode entender completamente. 4odavia, algo deve ser dito, visto que 1eus não se
revelou simplesmente para nos envolver em mist"rio. 5uer que imitemos a 6anta 7irgem,que refletiu profundamente sobre as palavras que lhe foram dirigidas.
Antes de mais nada, " preciso di&er que a gre8a aceita a presença real como mat"ria de f",
pois está incluída na 9alavra de 1eus, como confiram a 6agrada Escritura e a 4radição. 0esus
disse claramente/ :Este " meu corpo; este " meu sangue< e, polemi&ando com os 8udeus,
insistiu que não estava usando uma metáfora. :!inha carne " verdadeira comida e meu
sangue " verdadeira bebida. 5uem consome a minha carne e bebe o meu sangue permanece
em mim, e eu nele< =0o >,??@?>.
!uitos discípulos acharam essas palavras árduas demais e o deixaram, mas 0esus não
modificou suas afirmaçBes para fa&+@los voltar atrás.
Cs 9adres e 1outores da gre8a confessaram com confiança a presença real, s"culo após
s"culo, apesar de todas as ob8eçBes e mal@entendidos. Dinalmente, em ??, o 'oncílio de
4rento forneceu uma exposição completa da doutrina católica da Eucaristia, dando muita
import)ncia * presença real. A partir de então, repetido por muitos papas e documentos
oficiais, o que foi ensinado por 4rento continua a ser ainda ho8e normativo. C 'atecismo da
gre8a 'atólica não tem medo de citá@lo ao p" da letra ='atecismo da gre8a 'atólica,
FG.F>@FF.
Dalando da presença de 'risto nesse sacramento, o 'oncílio de 4rento usou tr+s adv"rbios.
(ele, o 6enhor está contido, di& o 'oncílio, :verdadeiramente, realmente e
substancialmente< =1en&inger@6chHnmet&er >?. Esses tr+s adv"rbios são as chaves que
abrem as portas do ensinamento católico e excluem os pontos de vista contrários, quedevem, portanto, ser re8eitados.
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1i&endo em primeiro lugar que 'risto está verdadeiramente contido nas esp"cies
eucarísticas, o 'oncílio afastou a id"ia de que o sacramento se8a meramente um símbolo ou
uma figura que aponta para um corpo que está ausente ou que talve& este8a em algum lugar
no c"u. Essa afirmação " feita contra o herege Ierengário, do s"culo J, e contra alguns de
seus seguidores protestantes do s"culo J7.
Em segundo lugar, a presença " real. Cu se8a, " ontológica e ob8etiva. Cntológica porque
acontece no nível do serK ob8etiva porque não depende dos pensamentos ou dos sentimentos
do ministro ou dos comungantes. C corpo e o sangue de 'risto estão presentes no
sacramento graças * promessa de 'risto e ao poder do Espírito 6anto, ligados * execução
correta do rito por parte de um ministro validamente ordenado.
sso ensinando, a gre8a refuta a id"ia de que a f" se8a o instrumento que determina a
presença de 'risto no sacramento. 6egundo o ensinamento católico, a f" não torna 'risto
presente, mas reconhece com gratidão essa presença e permite que a santa comunhão traga
seus frutos de santidade. #eceber o 6acramento sem f" " in%til, at" pecaminoso, mas a falta
de f" não torna a presença irreal.
Em terceiro lugar, o 'oncílio de 4rento nos di& que a presença de 'risto no 6acramento "
substancial. A palavra :subst)ncia< nunca " usada, neste caso, como um termo filosófico
t"cnico, como na filosofia de Aristóteles. Essa palavra era usada na alta dade !"dia muito
antes que circulassem as obras de Aristóteles.
:6ubst)ncia<, no uso comum, denota a realidade fundamental da coisa, o que a coisa " em
si. 1erivada da rai& latina sub@stare, significa o que está sob as apar+ncias, que podem
mudar de uma hora para a outra, deixando o ob8eto intacto.
As apar+ncias podem ser enganadoras. 7oc+s poderiam não conseguir me reconhecer se eu
me disfarçasse ou se estivesse gravemente doente, mas eu não deixo de ser a pessoa que
eraK minha subst)ncia continua a mesma. (ão há nada de obscuro, portanto, no significadode :subst)ncia< nesse contexto.
:6ubst)ncia<, significando o que uma coisa " em si, pode ser contraposta a :função<, que fa&
refer+ncia * ação. 'risto está presente por meio de seu poder din)mico e de sua ação em
todos os sacramentos, mas na Eucaristia a sua presença ", al"m disso, substancial. 9or esse
motivo, a Eucaristia pode ser adorada. 3 o maior de todos os sacramentos.
1epois da consagração, o pão e o vinho, de uma forma misteriosa, tornam@se o próprio
'risto. C 'oncílio Ecum+nico 7aticano cita 6anto 4omás para di&er que esse sacramento
cont"m a inteira rique&a espiritual da gre8a, dado que a gre8a não tem outras rique&as
espirituais a não ser 'risto e o que Ele comunica a ela.
C 'oncílio de 4rento falou tamb"m da maneira como acontece essa presença de 'risto.Afirma que o pão e o vinho mudamK deixam de ser o que eram e se transformam no que não
eram. A inteira subst)ncia do pão e do vinho se transforma na subst)ncia do corpo e do
sangue de 'risto e, visto que 'risto não pode ser dividido, se transformam tamb"m em sua
alma e em sua divindade =1en&inger@6chHnmet&er >G-.>G. 4odo o 'risto " feito
presente inteiramente em cada uma das duas formas.
A mudança que acontece na consagração durante a missa " sui generis. (ão se deixa
circunscrever nas categorias de Aristóteles, que acreditava que toda mudança substancial
comportasse uma mudança nas apar+ncias ou no que ele denominava acidentes. 5uando eu
como uma maçã, ela perde as suas qualidades perceptíveis, tal como a sua subst)ncia de
maçã. 4orna@se parte de mim mesmo. !as, na consagração do pão e do vinho durante amissa, as apar+ncias externas continuam id+nticas.
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'omo 0esus está presente na EucaristiaL 0esus 'risto está presente na Eucaristia de modo
%nico e incomparável. Está presente, com efeito, de modo verdadeiro, real, substancial/ com
o seu 'orpo e o seu 6angue, com a sua Alma e a sua 1ivindade. (ela está, portanto,
presente de modo sacramental, ou se8a, sob as esp"cies eucarísticas do pão e do vinho,
'risto todo inteiro/ 1eus e homem. =do 'omp+ndio do 'atecismo da gre8a 'atólica, nM N
A gre8a cunhou o termo :transubstanciação< para designar o processo com o qual a inteira
subst)ncia, e tão@somente ela, transforma@se na subst)ncia do corpo e do sangue de 'risto.
3 preciso uma palavra especial para indicar um processo que " %nico e sem paralelo. Ao
ensinar que as esp"cies continuam as mesmas, a gre8a indica que as propriedades físicas e
químicas continuam a ser as do pão e do vinho. (ão apenas parecem e pesam o mesmoK
elas mant+m tamb"m o mesmo valor nutritivo que tinham antes da consagração. 6eria
in%til tentar demonstrar ou refutar a presença real por meio de experimentaçBes físicas, pois
a presença de 'risto " espiritual ou sacramental, não física, no sentido de mensurável.
9ara esclarecer o ensinamento da gre8a a respeito da presença real, será %til, acredito,
contrapO@lo a algumas posiçBes errOneas. A presença de 'risto pode ser entendida de
maneira demasiadamente carnal ou demasiadamente mística, demasiadamente grosseira oudemasiadamente t+nue, demasiadamente ing+nua ou demasiadamente figurada.
C erro realista ing+nuo pode ser ilustrado por meio da reação dos 8udeus em 'afarnaum, que
ficaram chocados com as palavras de 0esus. Evidentemente, eles pensaram que Ele estivesse
afirmando o canibalismo, que consideravam, com 8ustiça, como um pecado horrível. Alguns
cristãos compreendem a presença de 'risto na Eucaristia num sentido demasiadamente
materialista, sem fa&er uma adequada distinção entre sua presença natural e sua presença
sacramental. Ps ve&es imaginam que Ele poderia sofrer se a hóstia fosse profanada ou que
poderia sentir@se so&inho no tabernáculo. $i em algum lugar sobre uma 8ovem estudante que
tinha medo de tomar sorvete depois de receber a comunhão, pois pensava que 0esus sentiria
frio.
(a alta dade !"dia, alguns teólogos, seguindo 9ascásio #adberto, afirmaram que 0esus, na
Eucaristia, assumiria a forma do pão e do vinho como sua verdadeira forma. :9or que não
poderia ser assim<, eles se perguntavam, :visto que na #essurreição apareceu como um
peregrino e como um 8ardineiro que seus discípulos não conseguiam reconhecerL<. C que
vemos quando olhamos para a hóstia e o que engolimos durante a comunhão, di&iam, " o
corpo e o sangue de 'risto numa forma travestida. Alguns afirmavam at" que na
consagração os elementos perdem a natural capacidade nutritiva do pão e do vinhoG.
9ara evitar a implicação de que, na glória, 'risto pudesse sofrer em ra&ão da indignidade,
alguns pensadores da alta dade !"dia afirmaram que o corpo de 'risto no altar não era o
mesmo do c"u. 1e fato, falavam dos tr+s corpos de 'risto/ seu corpo natural, que agora estáno c"uK seu corpo sacramental, que está na EucaristiaK e seu corpo eclesial, que " a gre8a?.
Essa afirmação nunca foi condenada pela gre8a, mas não " mais muito sustentada, talve&
porque, contrariamente * id"ia daqueles que a elaboraram, parece sugerir que o corpo na
Eucaristia não se8a o que nasceu da 7irgem !aria. 6e fosse assim, não poderíamos cantar/
:Ave verum corpus, natum de !aria 7irgine<.
6anto 4omás de Aquino desenvolveu o que poderíamos definir como uma posição de
mediação. 9or um lado, evita falar da Eucaristia como um corpo especial =sacramental ou
místico, mas, por outro lado, afirma que o corpo ressuscitado e glorificado de 'risto tem
uma exist+ncia diferente no c"u e no 6acramento. 'ontrapBe a exist+ncia de 'risto em si e
sua exist+ncia sob o v"u do 6acramento como dois diferentes estados ou modos de ser.6egundo sua maneira natural de exist+ncia, 'risto está no c"uK segundo a maneira
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eucarística de exist+ncia, está no 6acramento>. C corpo de 'risto está realmente presente
na Eucaristia, mas não no sentido em que os corpos estão num determinado lugar. 6uas
partes e suas dimensBes não podem ser medidas em relação a outros corpos. 6ua
circunfer+ncia não " a da hóstia.
'ontra os realistas ing+nuos, portanto, 6anto 4omás afirma que quando olhamos para a
hóstia não vemos a figura e as cores que propriamente pertencem ao corpo de 'risto, mas
as da própria hóstia. (ão estamos na mesma situação dos discípulos antes da Ascensão, aos
quais 'risto apareceu em seu próprio corpo. 5uando olhamos para a hóstia ou para o cálice
sobre o altar, os aspectos ou os fenOmenos visíveis são ainda os do pão e do vinho.
6anto 4omás apresenta a ob8eção segundo a qual alguns contaram ter visto o !enino 0esus
ou seu preciosíssimo sangue numa hóstia consagrada. #esponde que 1eus " capa& de
reali&ar uma mudança milagrosa na hóstia, de forma tal que possa aparecer como um
menino ou como sangue humano, mas o que aparece num caso como esse não podem ser as
qualidades do próprio 'ristoF.
Clhando para a hóstia ou para o preciosíssimo sangue, não podemos di&er que a cabeça está
aqui e os p"s, ali. A presença de 'risto nesse 6acramento assemelha@se com a da alma no
corpo. A minha alma não está parte na minha cabeça, parte no meu coração, parte nas
minhas mãos, mas está inteiramente presente no todo e em cada uma das partes. E assim "
a respeito de 'risto na Eucaristia. 5uando uma hóstia " partida, cada fragmento cont"m
'risto plenamente, tanto quanto a hóstia inteira. Qma %nica gota do preciosíssimo sangue
cont"m dEle tanto quanto todo o conte%do do cálice inteiro. 6anto 4omás dá o %til exemplo
do reflexo de uma imagem no espelho. 5uando o espelho se quebra, cada fragmento pode
refletir todo o ob8eto, tal como fa&ia o espelho inteiroN.
6e a situação e as características da hóstia não são as de 'risto, surge a pergunta/ podemos
di&er que 'risto " transportado durante uma procissão ou que " posto no tabernáculoL (ão
comemos sua carne, nem bebemos seu sangueL 6im, di& 6anto 4omás, Ele " transportado,
comido e bebido, mas não em suas próprias dimensBes. 3 transportado, comido e bebido em
sua forma eucarística de exist+ncia, na medida em que sua presença coincide com as
propriedades palpáveis ou :acidentes< do pão e do vinho. Ele não " danificado fisicamente
por nenhuma viol+ncia feita ao 6acramento, pois essas qualidades e dimensBes não são
propriamente suas.
A presença de 'risto no 6antíssimo 6acramento só pode ser reconhecida, portanto, pelo
intelecto, que aceita a 9alavra de 1eus na f"R. A presença pode ser denominada sacramental
porque as apar+ncias do pão e do vinho indicam onde o corpo e o sangue de 'risto estão
presentes. 6ão sinais, ou se8a, sacramentos de uma realidade que está presente neles.
A presença eucarística, porquanto real, não elimina a aus+ncia da qual 0esus fala quando se
despede de seus discípulos durante a %ltima ceia. A Eucaristia " um memorial da presença
histórica de 0esus na terra e penhor de sua volta na glória, quando seremos capa&es de v+@
$o como Ele ".
9elo que foi dito, pode@se entender que a presença de 'risto nesse sacramento " %nica e
misteriosa. Cs mestres do espírito nos advertem de que não se8amos curiosos demais, pois
nossas mentes poderiam facilmente confundir@se diante de tão excelso mist"rio. 3 melhor
aceitar simplesmente as palavras de 'risto, da 6agrada Escritura, da 4radição, do !agist"rio
da gre8a, que nos di&em o que " necessário saber/ :'risto está real mas invisivelmente
presente na Eucaristia<. 6ua presença " tal que o pão e o vinho, depois da consagração, são
verdadeira, real e substancialmente seu corpo e seu sangue, mas segundo uma forma deexist+ncia diferente de sua presença no c"u.
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Dalemos agora dos erros de minimi&ação. C 'oncílio de 4rento foi por ve&es atacado por
estar concentrado demais numa só das maneiras com as quais 'risto está presente na
liturgia. 6egundo 9aulo 7 e segundo o 'oncílio 7aticano S lembram@nos esses autores S
'risto está presente na liturgia em não menos de cinco formas/ na assembl"ia, quando nos
reunimos para a oraçãoK na 9alavra de 1eus, quando " proclamadaK no sacerdote, quando
celebra a missaK nos sacramentos, quando são administradosK e, finalmente, na hóstia e nocálice oferecidos durante a missa.
A presença nas esp"cies consagradas, afirmam esses autores, " apenas uma das cinco
maneiras e não deveria ser tomada como se fosse a %nica efetiva. 1e fato, di&em, deveria
ser vista como subordinada * presença na gre8a, da qual " um sinal sacramental. Agostinho
e 4omás de Aquino acaso não ensinaram que a finalidade do sacramento " criar a unidade da
gre8a como corpo místico de 'ristoL Alguns teólogos, a partir disso, começaram a di&er que
a presença de 'risto está primariamente na assembl"ia reunida-.
6egundo o ensinamento da gre8a, as m%ltiplas presenças de 'risto são efetivas e
importantes, mas a presença na Eucaristia ultrapassa as outras. 'erca de quin&e anos antes
do 7aticano , o papa 9io J chamou a atenção para quatro das maneiras como 'risto estápresente na liturgia. !as se preocupou em precisar que essas maneiras de presença não
estavam todas no mesmo nível. C 1ivino Dundador da gre8a, escrevia o 9apa, :está
presente T...U sobretudo sob as esp"cies eucarísticas<.
9aulo 7, em sua encíclica de R>?, forneceu uma relação semelhante, acrescentando * lista
de 9io J uma quinta maneira/ a presença de 'risto na proclamação da 9alavra. !as não
deu espaço a d%vidas sobre qual pudesse ser a presença mais importante. 1epois de ter
sublinhado mais uma ve& as m%ltiplas presenças de 'risto, di&ia/ :Cutra ", contudo, e
verdadeiramente sublime, a presença de 'risto na sua gre8a pelo 6acramento da Eucaristia.
9or causa dela, " este 6acramento, comparado com os outros, mais suave para a devoção,
mais belo para a intelig+ncia, mais santo pelo que encerraK cont"m, de fato, o próprio 'ristoe " como que a perfeição da vida espiritual e o fim de todos os 6acramentos< =!2sterium
fidei, G-. Essa presença, di&ia 9aulo 7, " denominada real não porque as outras se8am
irreais, mas porque " real por excel+ncia =!2sterium fidei, G. 'omo presença substancial
de 'risto todo inteiro, a Eucaristia supera a sua presença transitória e virtual nas águas
batismais, nos outros sacramentos, na proclamação da 9alavra e no ministro que representa
'risto nessas açBes.
6e essa autoridade não fosse suficiente, poderíamos notar que o 7aticano , em sua
constituição sobre a liturgia, afirma que 'risto está presente :sobretudo TmaximeU nas
esp"cies eucarísticas< =6acro sanctum 'oncilium, F. E o papa 0oão 9aulo , em sua encíclica
de -- sobre a Eucaristia, disse que deveríamos ser capa&es de reconhecer 'risto :ondequer que Ele se manifeste, com as suas diversas presenças, mas sobretudo no sacramento
vivo do seu corpo e do seu sangue<.
Vá uma diferença notável entre a presença de 'risto na Eucaristia e na assembl"ia ou em
seus membros. Cs fi"is, em determinadas condiçBes, são unidos misticamente a 1eus por
graça. C Espírito 6anto habita neles, mas eles mant+m a sua identidade pessoal. (ão são
transubstanciadosK não deixam de ser eles mesmos para se transformarem em 'risto
6enhor.
A gre8a como corpo místico nunca pode se elevar * dignidade de 'risto em seu corpo
específico, que nasceu da 7irgem !aria, morreu na cru& e reina glorioso no c"u. Esse corpo
está substancialmente presente na Eucaristia, mas não na comunidade cristã. Vá uma
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notável diferença entre a adoração que damos a 'risto na Eucaristia e a veneração que
damos aos santos.
Alguns desses teólogos que minimi&am afirmam que, visto que a finalidade da Eucaristia "
formar a gre8a como corpo de 'risto, sua presença eclesial " mais intensa e mais
importante do que sua presença nas esp"cies consagradasG. C erro que reside nessa lógica
pode ser entendido se pensarmos na Encarnação. 0esus se fe& homem e morreu na cru& pela
nossa redenção, mas não " conseqW+ncia disso que 1eus este8a mais intensamente presente
na comunidade dos remidos do que no Dilho encarnado, ou que a nossa devoção se deva
concentrar mais nos cristãos do que em 'risto 6enhor.
Qm segundo argumento empregado *s ve&es para exaltar a gre8a acima da Eucaristia " que
seria a gre8a, como sacramento geral, aquele que produ& cada um dos sete 6acramentos,
inclusive a Eucaristia. A gre8a, di&em, não poderia dar o que não tem. !as esse argumento
não leva em conta o fato de que a gre8a não produ& os sacramentos por obra de seu poder.
A Eucaristia, como os outros sacramentos, " um dom de 1eus. Ao produ&i@lo, a gre8a "
subordinada a 'risto, o ministro principal. A gre8a, al"m disso, " formada pela Eucaristia. Cs
fi"is são um só corpo porque participam de um só pão, que " 'risto 6enhor =cf. 'or -,F.Assim, poderíamos di&er, como disse o papa 0oão 9aulo em sua encíclica, que, se a gre8a
fa& a Eucaristia, não " menos verdade que a Eucaristia fa& a gre8a =cf. Ecclesia de
Eucharistia, >.
A gre8a refuta a id"ia de que a f" se8a o instrumento que determina a presença de 'risto no
6acramento. 6egundo o ensinamento católico, a f" não torna 'risto presente, mas reconhece
com gratidão essa presença e permite que a santa comunhão traga seus frutos de santidade.
#eceber o 6acramento sem f" " in%til, at" pecaminoso, mas a falta de f" não torna a
presença irreal
Qma terceira linha de pensamento que tende a minimi&ar a realidade da presença de 'risto
na Eucaristia vem da fenomenologia personalista em moda no período do 7aticano .
'oncentrando@se nas relaçBes interpessoais, essa escola de pensamento fa& coincidir a
exist+ncia pessoal com os relacionamentos humanos.
Cs teólogos seguidores dessa tend+ncia refutam a id"ia de subst)ncia, sobretudo quando "
aplicada * Eucaristia, que consideram como a uma refeição comum. !esmo em nível natural,
di&em, um almoço com os amigos " muito mais que comer e beberK " uma ocasião social
para expressar e consolidar as relaçBes humanas. Assim se dá, di&em, com a Eucaristia.
'onvidando@nos a sua ceia, o 6enhor dá ao pão e ao vinho um novo significado e uma nova
finalidade, como símbolos efica&es de seu amor que redime. Cs elementos mudaram na
medida em que adquirem uma nova import)ncia e uma nova finalidade. 9or esse motivo,
continuam, deveríamos falar de :transignificação< e de :transfinali&ação<, mais que de
:transubstanciação<?.
Esses novos termos podem ser discutíveis e estorvar e, assim, do ponto de vista
terminológico, não levam a nenhuma melhoria com relação ao termo :transubstanciação<. (o
que exprimem de positivo, os termos são inócuos. (a Eucaristia, a import)ncia e a finalidade
do pão e do vinho efetivamente mudaram/ indicam e reali&am a alimentação espiritual e a
8ubilosa comunhão com 'risto e com os cristãos. !as a terminologia alternativa " carente
porque não nos di& nada acerca do que acontece *s esp"cies consagradas em si mesmas.
9aulo 7, em sua encíclica !2sterium fidei, explicou que o pão e o vinho podem adquirir uma
import)ncia e uma finalidade radicalmente novas porque cont+m uma nova realidade. A
mudança do significado e da finalidade derivam de uma precedente mudança ontológica =cf.
!2sterium fidei, G>. 9odemos nos relacionar pessoalmente com 'risto no 6acramento, e Ele
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conosco, pois Ele está realmente ali. 6ua presença no 6acramento " real e pessoal, quer a
pessoa creia e a reconheça, quer não. A Eucaristia não " apenas um sinal, mas uma pessoa
que subsiste por direito próprio, como acontece *s pessoas.
Qm teólogo holand+s da d"cada de R>- perguntou@se se a presença real continuaria na
hóstia consagrada caso no mundo todos fossem mortos inesperadamente por algum desastre
excepcional. #espondeu negativamente, com base no fato de que a presença pessoal não
pode existir fora de um encontro recíproco de su8eitos livres e conscientes>.
Esse teólogo parece confundir os dois sentidos de :presença<. :9resença<, de fato, pode
significar duas coisas. 9ode ser presença dentro, como a alma está presente no corpo ou
como 'risto está presente nas esp"cies eucarísticas. Cu pode significar presença para
outros. 1as duas, a presença dentro " a mais fundamental. #estringir a presença real *
segunda " redutivo. (ós nos distanciamos da f" da gre8a 'atólica, que afirma que a
presença real de 'risto na Eucaristia " ob8etiva e independente de sua percepção por parte
de quem quer que se8a.
'ontinuam a ser levantadas questBes sobre o termo :subst)ncia<, sobretudo porque o
conceito clássico de subst)ncia, comum ao pensamento realista, não " muito aceito ho8e.
1esde o período de 1escartes e $ocXe, o termo passou a significar algo auto@incluído e
inerte, ao passo que antes tinha o significado de centro ativo gerador de relaçBes, que, por
meio dos próprios acidentes, entra em relação din)mica com outras criaturas.
(aturalmente, ho8e muita gente acha estranho di&er de uma pessoa que " uma subst)ncia.
!as, se o conceito clássico for abandonado, será preciso encontrar outro termo para indicar o
que " uma coisa em sua realidade fundamental. Ao chamar substancial a presença
eucarística de 'risto, a gre8a pretende di&er que a Eucaristia em sua realidade nada mais "
que 'risto.
A transubstanciação, como expliquei, " o processo por meio do qual uma subst)ncia, no casoa do pão ou do vinho, se transforma numa outra subst)ncia, a do corpo e do sangue de
'risto, sem sofrer nenhuma mudança físico@química. C 'oncílio de 4rento ensinou que o
termo " muito adequado =cf. 1en&inger@6chHnmet&er >?. 9aulo 7, em R>?, disse que
era ainda :adequado e preciso< e, como lembrei, achava@o superior a outros termos que
haviam sido propostos =cf. !2sterium fidei, G>. !as a gre8a não se vinculou definitivamente
a nenhum vocábulo em particular.
Qma mudança na terminologia continua a ser teoricamente possível.
Vouve ainda, como resultado das novas teologias eucarísticas propostas durante e logo
depois do 7aticano , uma temporária perda de interesse pelo 6antíssimo 6acramento. 4oda
a atenção foi reservada * celebração da missa. Em muitas paróquias e casas religiosas, ab+nção eucarística foi repentinamente abandonada. Em algumas igre8as, reservou@se um
lugar modesto ao receptáculo do 6antíssimo 6acramento, mais parecido com uma despensa
do que com uma capela. Educadores de vanguarda no campo da religião repetiam aos fi"is
que a finalidade do 6antíssimo 6acramento era ser recebido na comunhão e não ser adorado,
como se as duas coisas se excluíssem mutuamente.
C magist"rio eclesiástico resistiu constantemente a essa tend+ncia negativa, combatendo@a.
!esmo concordando que a finalidade primária da Eucaristia " tornar presente o sacrifício da
cru& e dar alimento espiritual ao fiel, o 'oncílio de 4rento insistiu em que o 6antíssimo
6acramento se8a honrado e adorado fora da liturgia da missa =cf. 1en&inger@6chHnmet&er
>G.>?>. (egar isso equivale a negar a presença substancial de 'risto no 6acramento.
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Em R>?, o papa 9aulo 7 falou de maneira clara e decidida em favor da custódia do
6antíssimo 6acramento num lugar de honra na igre8a. Exortou os pastores a que
expusessem o 6acramento * solene adoração e a que fi&essem procissBes eucarísticas nos
momentos oportunosK convidou depois os fi"is a visitá@lo freqWentemente =cf. !2sterium fidei
??.>>@>N.
0oão 9aulo , em seus muitos escritos como papa, procurou promover a digna celebração da
Eucaristia e a devoção * Eucaristia fora da missa. Em sua encíclica de --, exprime
satisfação pelos muitos lugares nos quais a adoração do 6antíssimo 6acramento " praticada
com fervor, ao mesmo tempo em que deplora que em outros lugares essa prática tenha sido
quase completamente abandonada =cf. Ecclesia de Eucharistia, -.
C culto eucarístico fora da missa, escreve, :" de um valor inestimável na vida da gre8a, e
está ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico. T...U 'ompete aos
9astores, inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de modo particular
as exposiçBes do 6antíssimo 6acramento e tamb"m as visitas de adoração a 'risto presente
sob as esp"cies eucarísticas< =cf. Ecclesia de Eucharistia, ?.
C próprio 9apa passava muitas horas diante do 6antíssimo 6acramento e muitas de suas
melhores intuiçBes nasciam desses momentos de oração. 'omo 6anto Afonso de $igório, que
ele cita a esse respeito, o 9apa estava convencido do valor da adoração de 0esus no
6antíssimo 6acramento. A oração diante da Eucaristia fora da missa, escreve, nos permite
tomar contato com a fonte da graça =cf. Ecclesia de Eucharistia, ?.
Em boa parte graças a esse encora8amento papal, houve um notável crescimento da prática
da exposição e da hora santa de adoração. Ao longo do ano ---, verificou@se que mais de
mil paróquias nos Estados Qnidos promoveram a adoração eucarística perp"tua e que outras
mil criaram condiçBes para a adoração durante boa parte do diaF.
Essas práticas, longe de enfraquecer a fome da santa comunhão, a estimulam. 9rolongam eincrementam os frutos da participação ativa * missa. Al"m disso, exprimem e fortificam a f"
dos católicos no pleno significado da presença real. 9ermanecendo entre nós dessa forma
sacramental, o 6enhor mant"m sua promessa de estar com sua gre8a :todos os dias, at" o
fim dos tempos< =!t N,-.
Ainda que o mist"rio da presença real leve ao limite as nossas possibilidades de
compreensão, não " um quebra@cabeças. 3 um sinal consolador do amor, do poder e da
genialidade do nosso 1ivino 6alvador. Ele quis entrar em íntima união com os fi"is de todas
as geraçBes e quis fa&+@lo de um modo que satisfi&esse a nossa nature&a de espíritos
encarnados.
C alimentar e o beber formas profundamente carregadas da lembrança da história do antigosrael, são significativos at" para as pessoas incultas, em todos os tempos. 6imboli&am
oportunamente a alimentação e a restauração espiritual conferidos pelo 6acramento.
Em outro nível, condu&em o pensamento * crucifixão de 'risto, que derramou 6eu sangue
pela nossa redenção. E, enfim, prefiguram o banquete eterno dos bem@aventurados na
0erusal"m celeste. C simbolismo m%ltiplo da Eucaristia não pode ser separado da presença
real. Esse simbolismo tem o poder singular de chamar a atenção da memória para o
passado, transformar o presente e antecipar o futuro, pois cont"m verdadeira, real e
substancialmente o 6enhor da história.
(C4A6
9ara uma exposição desses tr+s termos, cf./ !ax 4hurian, 4he !2ster2 of the Eucharist/ anEcumenical Approach, !ichigan, Eerdemans@Yrand #apids, RNG, pp. ??@?N.
7/23/2019 A Presença de Cristo Na Eucaristia
http://slidepdf.com/reader/full/a-presenca-de-cristo-na-eucaristia 9/9
'oncílio 7aticano , 9resb2terorum ordinis, ?, que cita 6anto 4omás de Aquino, 6umma
theologiae , q. >?, a. , ad K cf. q. FR, a. c e ad .
'f. 6anto 4omás de Aquino, 6umma theologiae , q. FF, a. >, :9odem as esp"cies
alimentarL<. 6anto 4omás se refere a 'or , e aos comentários que se fa&iam em seu
tempo para mostrar que as esp"cies, tomadas em quantidade suficiente, podem satisfa&er a
fome e embebedar.
G Essa linha de pensamento, que parte de 9ascásio #adberto, " representada por $anfranco e
Yuitmundo de Aversa. 'f. o artigo, :Yuitmund of Aversa and the Eucharistic 4heolog2 of 6t.
4homas<, de !arX Y. 7aillancourt, em 4he 4homist >R =outubro de --?.
? 0ean Iorella, 4he 6ense of 6upernatural, Edinburgh, 4Z4 'larX, RRN, pp. F@FF. Ele
encontra a doutrina do :triplo corpo de 'risto< em Ambrósio, 9ascásio #adberto e Vonório de
Autun. Venri de $ubac fala de Amalário de !et& e Yodescalco de Crbais como representantes
dessa doutrina medieval. 'f. seu 'orpus !2sticum/ $[Eucharistie et l[Eglise au !o2en Age, \
ed., 9aris, Aubier, RGR, p. F. Esses teólogos não negaram a identidade real entre o corpo
real e o corpo eucarístico de 'risto.
> 6anto 4omás de Aquino, 6umma theologiae , q. F>, a. >. 9ara um l%cido comentário, cf.
Anscar 7onier, A ]e2 to the 1octrine of the Eucharist, R, pp. @K segunda edição/
Iethesda =EQA, ^accheus 9ress, --.
F d., ibid., a. N, ad e ad .
N 6anto 4omás de Aquino, 6umma theologiae , q. F>, a. .
R d., ibid., q. F>, a. F.
- 0udith !arie ]ubicXi atribui a ]arl #ahner, Ed_ard 6chillebeecXx e 9iet 6choonenberg a
posição segundo a qual a gre8a como sacramento " :o primeiro lugar da presença de 'risto
no mundo<. 'f. seu artigo :#ecogni&ing the 9resence of 'hrist in the $iturgical Assembl2<, in/
4heological 6tudies >? =--G, pp. NF@NF, na p. N.
9io J, encíclica !ediator 1ei, -.
9aulo 7, encíclica !2sterium fidei, >.
0oão 9aulo , encíclica Ecclesia de Eucharistia, >.
G 4ípico desse ponto de vista " o breve artigo :'hanging Elements or 9eopleL<, de D. Yerald
!artin, in/ America N =G de março de ---, p. . #eagindo contra a tend+ncia a separar
a presença real da santa comunhão, ele cai no erro oposto, desmerecendo a devoção ao
6antíssimo 6acramento, como se ela se opusesse * comunhão freqWente.
? C termo :transfinali&ação< parece ter sido cunhado pelo marista franc+s 0ean de
Iaciocchi, mas foi usado por muitos outros. C termo :transignificação< está associado emparticular ao 8esuíta holand+s 9iet 6choonenberg. 9ara boas informaçBes sobre essas
tend+ncias, cf. 0oseph !. 9o_ers, Eucharistic 4heolog2, (ova `orX, 6eabur2, R>F, pp. @
FR, e 'olman C[(eill, (e_ Approaches to the Eucharist, 6taten sland, Alba Vouse, R>F,
pp. -@>.
> 9iet 6choonenberg, :4he #eal 9resence in 'ontemporar2 1iscussion<, in/ 4heolog2 1igest
? =primavera de R>F, pp. @, na p. -.
F 4omo esses dados de Am2 $. Dlorian, :Adoro 4e devote<, in/ America N =G de março de
---, pp. N@, na p. N.