A produção de sentido em histórias em quadrinhos de Batman

7/31/2019 A produo de sentido em histrias em quadrinhos de Batman

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INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao

XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002

A PRODUO DE SENTIDO EM HISTRIAS EMQUADRINHOS DE BATMAN1

DENISE CASTILHOS DE ARAUJO

PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA - PUCRS

CENTRO UNIVERSITRIO FEEVALE

RESUMO

Este artigo tem por objetivo identificar as possveis significaes percebidas nas

histrias em quadrinhos de Batman, criao de Bob Kane, na dcada de 30. A permanncia

dessas narrativas ao longo dos anos possibilitou a presena de mudanas, tanto em relao

ao trao, forma fsica das personagens, aos temas abordados, bem como a repetio de

outras questes, tais como o carter do heri e sua vontade de lutar sempre pela justia.

Para a realizao dessa anlise foi selecionada uma mesma cena, narrada em trs

pocas diferentes, possibilitando, ento, a verificao das mudanas, bem como a

permanncia de determinados aspectos, os quais contribuem para a criao de sentido nos

textos.

Palavras-chave:

Histrias em quadrinhos significao - semitica

1Trabalho apresentado no NP16 Ncleo de Pesquisa Histria em Quadrinhos, XXV Congresso Anual emCincia da Comunicao, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.


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A Semitica tem por objeto os sistemas de signos e suas significaes, e a

fundamentao desta cincia decorre da concomitncia dos estudos de dois tericos,

Ferdinand de Saussure, europeu, e Charles Sanders Peirce, americano. Esses autores

desenvolveram as bases de uma cincia que ampliou seu alcance, atravs dos estudos de

outros tericos, que procuraram criar ramificaes, com o intuito de poder fundamentar a

anlise de qualquer sistema de signos. Dessa forma, e em consonncia com Peirce, aSemitica passou a abarcar no s textos verbais, mas tambm no-verbais, como

manifestaes da cultura.

Para Saussure, o signo une um conceito e uma imagem acstica que, alm de fsica,

sensorial. O autor justifica a afirmativa, considerando a possibilidade de o ser humano

falar consigo (SAUSSURE, 1993, p.80). Complementando a idia, afirma ser o signo

uma entidade psquica de duas faces, que exigem a existncia uma da outra. A estes dois

termos correlatos o autor d o nome de significante e significado.

O signo, segundo Saussure, possui outras duas caractersticas: a arbitrariedade e a

linearidade. O signo arbitrrio, porque a ligao existente entre significante e significado,

ou entre a face material do signo e a idia que representa, aparece de forma livre. O carter

linear do signo diz respeito sucesso linear exigida pelos significantes acsticos, a fim de

formarem uma cadeia.

cadeia estruturada de signos, Saussure d o nome de linguagem, a qual se

apresenta de forma abstrata a lngua, ou de forma concreta a fala. A lngua independe

do indivduo; sua natureza social, constituindo o sistema utilizada para a comunicao

entre os indivduos. Saussure diz:

Alngua existe na coletividade sob forma duma soma desinais depositados em cada crebro, mais eu menos como umdicionrio cujos exemplares, todos idnticos, fossemrepartidos entre os indivduos (SAUSSURE, 1993, p.27)


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002V-se, ento, que a lngua possui ascendncia sobre o indivduo, apresentando-se

como uma instituio. Sobre ela, teoricamente, no possvel deixar marcas individuais.

Por outro lado, a fala se impregna de caractersticas individuais, porque ela a maneira

como o indivduo combina os elementos da lngua na comunicao. A fala o processo de

ordenao da lngua.

Mesmo evidenciada a diferenciao entre a lngua e fala e a caracterizao de uma e

outra, o autor afirma que entre elas h um vnculo inevitvel, pois no possvel ao

indivduo falar, sem ter presente regras da lngua, as quais tornam inteligvel sua

mensagem. No entanto, seria impossvel sociedade a regulamentao dos sistemas, se o

indivduo no utilizasse a fala. H, pois, interdependncia entre lngua e fala, mas ainda

assim, estes elementos so distintos.

Paralelamente aos estudos de Saussure, desenvolveram-se os do americano Charles

Sanders Peirce, preocupado com a lgica das cincias, que compreende seus mtodos e

raciocnios. O autor apresentava esta preocupao porque era um cientista e dedicava-se a

vrios campos: Matemtica, Fsica, Astronomia, Qumica, Metrologia, Lingstica. Devido

diversidade das cincias com que trabalhava, Peirce buscava a lgica de cada cincia,para, a partir disso, levantar os pontos comuns entre elas, o que, para ele, poderia ser

chamado de Semitica.

Decorrente de sua dedicao lgica, o conceito de signo no se prende, em Peirce,

unicamente ao sistema lingstico, como faz Saussure. Para Peirce, o signo algo distinto

de seu objeto e pode representar o objeto, ou o conjunto de objetos, no sendo esta

mediao necessariamente lingstica.

Este autor apresenta um nmero muito grande de divises do signo, conforme trs

tricotomias: conforme o signo em si mesmo, como mera qualidade, um existente concreto

ou uma lei geral; conforme a relao do signo para com seu objeto que se constitui no fato

de o signo ter algum carter em si mesmo, ou manter relao existencial com esse objeto ou

com o interpretante; conforme a representao do interpretante, que poder perceber o

signo como um signo de possibilidade ou como um signo de fato ou de razo.


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002Na primeira tricotomia, o signo pode ser denominado qualissigno, sinsigno ou

legissigno. Um qualissigno uma qualidade que no signo, at que se corporifique. Um

sinsigno p uma coisa real que um signo, envolvendo vrios qualissignos. E, por fim, um

legissigno uma lei que um signo, estabelecida pelos homens.

Na segunda tricotomia, um signo pode ser classificado como cone, quando se

referir a um objeto, guardando uma relao de semelhana; ndice um signo que se refere

ao objeto; smbolo, signo que interpretado como se referindo a um determinado objeto.

Na terceira tricotomia, um signo pode ser denominado rema, dicissigno ou dicente e

argumento. Um rema um signo que, para seu interpretante, um signo de possibilidade

qualitativa; um dicente o signo que, para seu interpretante, um signo de existncia real;

o argumento um signo que uma lei para o interpretante.

Estas trs tricotomias acima apresentadas possibilitaram a diviso dos signos em

dez classes, com numerosas subdivises. Neste texto trabalhar-se- com a segunda

tricotomia, sem, no entanto, menosprezar as outras duas. O motivo o fato de serem as

histrias em quadrinhos, objetos desse estudo, narrativas que se valem de elementos

icnicos, indiciais e simblicos para sua manifestao. Conseqentemente, as HQ podemser examinadas sob a luz da Semitica, porque so um sistema de signos, estruturados em

cdigo, apresentando significao, sendo, assim, objetos semiticos.

A natureza dessas histrias remete ao seu carter narrativo: contam um fato fictcio,

contudo com veridico e verossimilhana, possibilitando ao leitor, por vezes, identificar-

se, provavelmente, com o texto, o qual reproduz cenas do cotidiano; presentificam uma

sucesso temporal porque so relatos de episdios ocorridos em determinado momento,

sendo substitudos por outros conseqentes; retratam personagens, as quais so

responsveis pelos episdios ocorridos.

As histrias em quadrinhos remetem s primeiras manifestaes icnicas do

homem, o qual, atravs de seus desenhos, em paredes rochosas ou cavernas, narrava os

fatos ocorridos, ou, at mesmo, imaginados. Posteriormente, outras civilizaes utilizaram

esse cdigo para suas narrativas, tais como os egpcios, celtas, entre outros. Na Idade


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002Mdia, as imagens eram utilizadas em forma de tapearias, estandartes, escudos, e tais

objetos os quais narravam histrias desses grupos. A via-sacra, por exemplo, pode ser

considerada, tambm, um exemplo de narrativa icnica, uma vez que mostra o caminho

percorrido por Jesus, entre sua priso e morte na cruz. V-se, ento, que a narrativa icnica

est presente no desenvolvimento das civilizaes, e, mesmo quando houve a estruturao

de um cdigo escrito, ela permaneceu, como forma de expresso, valendo-se deste para

precisar a mensagem. Para Roland Barthes:

(...) a narrativa pode ser sustentada pela linguagem oral ouescrita, pela imagem, fixa ou mvel, pelo gesto ou pelamistura ordenada de todas estas substncias; est presente nomito, na lenda, na fbula, no conto, na novela, na epopia, nahistria, na tragdia, no drama, na comdia, na pantomima,na pintura, no vitral, no cinema, nas histrias em quadrinhos,nofait divers, na conversao.(BARTHES, 1973, p.19)

Com o surgimento da imprensa, houve a possibilidade do aparecimento de

charges em jornais, as quais tinham o intuito de satirizar a poltica. Esses desenhos

foram instituindo caractersticas prprias, culminando com as histrias em

quadrinhos. Inicialmente eram macrovinhetas, ou seja, um nico quadro com os

desenhos de uma cena, sem fala. Posteriormente, aos desenhos foi adicionada alinguagem verbal, e os quadrinhos passaram a fazer parte de suplementos

dominicais de jornais, por volta de 1895. Em virtude do sucesso alcanado, muitos

personagens foram criados, fazendo com que houvesse, tambm, a instituio de um

cdigo prprio para a criao das histrias em quadrinhos, o qual passou a ser

reconhecido pelos leitores. Nesse cdigo pode-se ver, por exemplo, que dependendo

do formato que o balo de fala das personagens tenha, j se tem a presena de

significao, a qual assimilada pelos leitores. Nesses textos, pode haver, tambm,

a imitao dos movimentos, atravs de certos recursos especficos, a entonao,

bem como o sotaque das personagens, o ritmo da histria, enfim, essas narrativas

possuem vrias regras, as quais foram se solidificando ao longo dos tempos,

instituindo um conjunto especfico de caractersticas, as quais tornaram-se comuns

na maioria dos quadrinhos, fazendo com que o pblico reconhea-as e interprete-as


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002como o cdigo dos quadrinhos.

As histrias em quadrinhos, assim como quaisquer outros textos, produzem

sentidos, e, segundo Eco:

(...) en todo discurso hay uma produccin indirecta desentido. Esta se manifesta el carcter de la asercin, en actoslingsticos que parecen sugerir pero que en realidad quierenque se los tome por una orden: en elementos paralingsticosque aaden otra connotacin a lo que se dicelingsticamente; En frases dirigidas con un sentido a X paraque entienda que Y entienda otra cosa...(...) El signo siemprepermite conocer algo ms a travs de la actividad deinterpretacin, imprescindible para activar el contenido detoda expresin. (ECO, 1995, p.245)

Observando-se as HQ, pode-se perceber que muitas vezes o que se viu

nessas narrativas foi a representao de um dado momento histrico - momento esse vivido

pelo cartunista - simbolizado nas produes. As histrias em quadrinhos serviram para

desvelar e propagar sentimentos comuns sociedade de determinadas pocas. No incio do

sculo passado, as HQ privilegiaram as histrias com temtica relacionada s famlias

pequeno-burguesas, mostrando a vida desses ncleos familiares, bem como sua asceno na

sociedade. Anos mais tarde, com as guerras, foram criados personagens que salvavam os

indivduos sofridos, oprimidos e mal-tratados pelos inimigos. Houve nessa poca, tambm,

a veiculao da mensagem ideolgica da guerra, em que todos deveriam unir-se contra o

mal, representado pelos orientais e pelos russos; o bem era representado pelos americanos e

seus heris. Em outra fase, mais crtica, as histrias apontavam para situaes de desordem

poltica, social ou econmica, traando uma crtica muito cerrada em relao aos atos dos

governos. Um exemplo dessa crtica Quino, cartunista argentino, o qual com sua

personagem Mafalda traou comentrios mordazes contra a economia e a poltica

mundial na dcada de 70, inspirado nos acontecimentos dos pases liderados pelos

militares. Atualmente, h histrias em quadrinhos com temticas variadas, no entanto, h,

tambm, a permanncia da dicotomia bem x mal, muito observada nas dcadas de 40 e 50.

Para a anlise da produo de sentido nas HQ, foram selecionadas as novas


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002histrias de Batman, a Coleo Premium. Essas histrias trazem o homem-morcego, com

todas as caractersticas j conhecidas do seu pblico: coragem, fora, audcia, conscincia

da necessidade de cuidar dos fracos e desvalidos, mas traz tambm, outras caractersticas,

simbolizando a sociedade mais atual. Ou seja, Batman um smbolo da cultura atual, ele

est revestido com caractersticas dessa poca, no um heri mitolgico, porque um

homem comum que luta contra o mal e possui limites, assim como todos os leitores.

Bob Kane criou a personagem Batman em 1939, no auge do sucesso de outro

grande super heri, Superman. Nesse perodo entre guerras, o que se viu foi o surgimento

de vrios outros heris, que tinham por misso salvar o mundo do mal. Alguns com foras

sobrenaturais, tais como a possibilidade de voar, fora descomunal, armas muito poderosas;

mas Batman trazia consigo somente coragem e a promessa de vingar a morte de seus pais,

atravs da priso de todos os bandidos de Gotham City.

Esse um fato constantemente mostrado nas revistas de Batman, vrias edies

trazem a imagem dos pais de Bruce Wayne sendo mortos por um assaltante, na presena do

menino, e ele jurando a busca da justia contra o mal. A promessa de proteo traz tona

no s a necessidade que a sociedade tem de punir o mal, mas o altrusmo como uma

virtude que deve ser cultivada pelos membros de uma sociedade. Ou seja, o indivduo deve

ultrapassar suas dores para poder colaborar com o bem-estar de todo o grupo ao qual

pertence, ento, nem mesmo a morte dos pais deve ser motivo para o sujeito afastar-se dos

princpios de seu grupo.

A cena apresenta, alm da morte dos pais do menino a escolha que o mesmo iria

fazer, tornar-se uma criatura das trevas, como os morcegos, a fim de no ser percebido por

seus inimigos, pegando-os de surpresa. Alm disso, o morcego tambm representa uma

criatura que faz parte do imaginrio coletivo, devido s vrias lendas e histrias contadas,

nas quais esse ser amedronta e toma para si a energia de suas vtimas. (Anexo 1)

Segundo o Dicionrio de Smbolos:


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(...) o morcego reveste-se de dupla significao. No sentidopositivo, a imagem da perspiccia: um ser que v mesmo noescuro, quando o mundo inteiro est mergulhado na noite. Nosentido negativo, a figura do inimigo da luz, da pessoaextravagante(...) ( Dicionrio de Smbolos, 1982, p.621)

Durante algum tempo, Batman causou certo receio nos leitores, por sua associao

ao morcego, ento, para modificar tal circunstncia, Kane apresentou ao pblico o menino

prodgio Robin, tentando, assim, tornar Batman mais humano.

As histrias atuais apresentam um heri muito mais falvel, influenciado pelas

situaes nas quais est envolvido. Esse heri vive em uma cidade completamente

destruda, mas no perde as esperanas de poder reconstitui-la, a fim de recuperar seu lar.

Para tanto, ele rene uma forte equipe, com o intuito de varrer o mal de Gotham City, que

agora tem o nome de Terra de Ningum, e que est divida em vrios quadrantes, cada um

distribudo para um responsvel, alguns deles inimigos de Batman, como o Duas-Faces e

Pingim.

A reconstruo da cidade do heri simboliza a reconstruo da famlia, do lar;

aponta para a necessidade que o ser humano tem de manter suas razes, seu vnculo com

aquilo que lhe mais caro, sua origem. E, na instncia fictcia, remete para a destruio de

seu lar, quando os pais foram baleados e morreram. E essa necessidade percebida pelo

sofrimento do homem-morcego, o qual apresenta traos de melancolia, tristeza. E, apesar

disso, ele mantm a promessa de cuidar da sua cidade, defendendo-a do mal. Na cena

abaixo, observa-se a luta de Batman contra Bane, um vilo que pretende ser o rei de

Gotham City. Nesta luta h a meno da existncia do mal, o qual se corporifica na parte danoite, esta significando, tambm, o lado escuro que todos os seres humanos tm. O vilo

sugere que o homem-morcego se alimente do mal, porque na escurido que Batman

combate seus inimigos, afirmao que refutada pelo heri.

O mal pode ser visto em Batman por Banes, porque o heri carrega em si o estigma


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002da noite, da escurido, a qual simboliza todos os temores dos seres humanos. Com essa

identificao, o heri no se diferencia muito do vilo. Ambos tem um lado obscuro,

possibilidades de falha, no h a perfeio absoluta. E esse trao mostrado

constantemente nas novas histrias do homem-morcego. No s em relao personagem

principal, mas tambm em relao conduta de seus companheiros. Eles, apesar de

buscarem o bem, muitas vezes praticam aes geradoras de grande perigo para a populao

que sobrevive em Gotham City. (Anexo 2)

Esse obscurantismo, reforado pelos trajes do heri, bem como seu comportamento

notvago, remete ao imaginrio coletivo, pois para a cultura ocidental as criaturas da noite

sempre trazem consigo desconfianas temores, incertezas. E esse heri, tambm conhecido

como Cavaleiro das Trevas remete a essas imagens coletivas. Que, para Gilbert Durand:

(...) representa um isso antropolgico, o lugar que Jungdenomina o inconsciente coletivo, mas que ns preferimosdenominar de o o inconsciente especfico e que est ligado estrutura psicopsicolgica do animal social, o Sapienssapiens. (DURAND, 1999, p.93)

A relao de Batman com o medo, as trevas, o lado negro, s poder ser

identificada pelas culturas que crem nessa relao, ou seja, a produo de sentido est

ligada intimamente com as crenas e elaboraes culturais dos povos.

Outro aspecto dessas histrias que chamam a ateno dos leitores a progressiva

melhora e aumento da forma fsica do heri. Ele passou de um homem comum, fantasiadode morcego, para um atleta de alta performance. Seus msculos foram, aos poucos,

tornando-se cada vez maiores e melhores definidos, refletindo, claro, a imagem que a

cultura ocidental tem, atualmente, de credibilidade, forma fsica. A aparncia, no s

saudvel, mas prxima dos ideais apolneos, confirma a importncia que essa cultura d


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002para a aparncia, onde s confia-se em quem belo, saudvel, forte, inteligente. Seu traje

no esconde, revela, uma vez que funciona como uma segunda pele, marcando, de forma

intensa a musculatura.

O ideal de beleza na sociedade ocidental, nos ltimos anos passou da aquisio

sade, simplesmente, para o culto ao corpo perfeito. E a perfeio, por sua vez, remete-se

ao lado bom dos heris. Apesar de Batman possuir um lado obscuro, beirando o mal; ele

tem, tambm, a fora e a aparncia de um heri. Nossa cultura, durante um perodo muito

longo, elaborou heris perfeitos, tanto fsico, quanto moralmente, e, somente a partir da

Ps-Modernidade, e que se pode perceber que o heri tambm possui falhas. O imaginrio

coletivo aspira pela retido de carter, pela aparncia perfeita, pela inteligncia acima do

normal, pela incorruptibilidade do heri. E, nesse aspecto, o homem-morcego supera seu

lado negro.

Na atual fase das narrativas de Batman, a produo de sentido remete presena do

poder e da ideologia. Nessas histrias h a manifestao bvia da briga pelo poder em

Terra de Ningum atual Gotham City destruda e arruinada sob todos os aspectos. V-

se, ento, que a disputa no sutil, pelo contrrio, uma guerra declarada, na qual o que

est em jogo realmente o controle da cidade, e, conseqentemente, o exerccio do poder

pelos vrios indivduos que tm uma parte dessa cidade, mas que lutam entre si para

aumentarem seus limites. As lutas entre as personagens so extremamente violentas,

porque no h sutileza nas suas aes, dificultando a aceitao do poder. Pois, segundo

Foucault:

O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito simplesmente que ele no pesa s como uma fora que dizno, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz aoprazer, forma saber, produz discurso. (...) tem por funoreprimir.(FOUCAULT, 1993, p.8)

As disputas pelo controle da situao em Terra de Ningum so bastante


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002equilibradas, contudo o bem, na maioria das vezes, consegue vencer o mal; reforando a

idia de que por mais frgil que seja o defensor do bem, ele ter maiores chances de vencer

do que aquele que pratique o mal. Ento, vemos com nitidez a ideologia que perpassa toda

a histria, o homem buscando o melhor para sua ptria, seus amigos, e para si mesmo.

(Anexo 3)

Todas as atitudes do homem morcego tm como propsito o engrandecimento das

virtudes do ser humano, mostrando que, mesmo em circunstncias desfavorveis, deve-se

ter a esperana da reconstruo, da reestruturao. E mesmo diante de tanta violncia,

insegurana, as personagens dos quadrinhos mantm acesa a fagulha do bem. O que, diante

das condies adversas nas quais elas vivem, parece ser algo utpico. Nas histrias

observa-se a manuteno da crena num mundo melhor, onde cada um ter sua parte,

contudo deve continuar lutando, a fim de conquist-la.

Apesar de todo visual renovado das revistas, Batman continua com o mesmo enredo

das primeiras tiras publicadas. O criador e, mais tarde, toda a equipe de produo,

souberam manter seus leitores, porque no se distanciaram das caractersticas que um

super-heri tem, tampouco fugiram s regras consagradas da narrativa. O leitor sabe o que

ir encontrar nas HQ, e por isso que realiza a leitura das revistas.

Batman estrutura-se, ento, como smbolo de uma cultura que est em decadncia,

mas que deve continuar lutando, porque o bem sempre vence o mal. E, apesar de todas as

adversidades, a ptria deve ser defendida, porque representa no s o espao onde se vive,

mas a prpria vida do sujeito.

Por outro lado, o homem morcego aponta, tambm, para o lado escuro que os

indivduos tm. As pessoas no so totalmente boas ou ruins, e isso o heri mostra com

clareza, pois no se coloca em um patamar diferenciado dos outros, um sujeito que falha e

reconhece seus erros.

Enfim, Batman no s um super-heri, mas um cidado que visa a proteo de

seus conterrneos e a reconstruo de sua cidade, destruda pelo mal.


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XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002Anexo 2


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Anexo 3


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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

BATMAN, Super-heris Premium. Vol. 1,2,3,4. DC Comics, 2000.

CONNOR, Steven. Cultura Ps-Moderna - Introduo s teorias do

contemporneo. 3a ed. So Paulo: Loyola, 1996.

DURAND, Gilbert. O Imaginrio. Rio de Janeiro: Difel, 1998.

ECO, Umberto. Apocalpticos e integrados. 5a ed. So Paulo: Perspectiva, 1993.

______________ Interpretao e Superinterpretao. So Paulo: Martins

Fontes, 1993.

_____________ Os limites da Interpretao. So Paulo: Perspectiva.

_____________ Semitica y Filosofia Del Lenguaje. Barcelona: Lumen, 1995.

______________ Tratado de Semitica General. 5a ed. Barcelona: Lmen, 1995.

FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. 11a ed. Rio de Janeiro: Graal, 1993.

GOIDA. Enciclopdia dos Quadrinhos. Porto Alegre: L&PM, 1990.

IANNONE, Leila Rentroia; IANNONE, Roberto Antonio. O Mundo das Histrias

em Quadrinhos. 4a ed. So Paulo: Moderna, 1994.


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PEIRCE, Charles Sanders. Semitica. 2a ed. So Paulo: Perspectiva, 1995.

COELHO NETO, Jos Teixeira. Moderno & Ps-Moderno. So Paulo:

Iluminuras, 2001.

VERN, Eliseo. A Produo de Sentido. So Paulo: Cultrix, 1980.


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CURRICULUM VITAE

1. DADOS PESSOAIS

Nome: Denise Castilhos de Araujo

Data de Nascimento: 26.03.69

Nacionalidade: Brasileira

Naturalidade: Novo Hamburgo

2.FORMAO

Ps-Graduao:

Universidade: PUCRS

Curso: Doutorado em Comunicao Social

Perodo: Curso em andamento

Universidade UNISINOS - So Leopoldo

Curso Mestrado em Semitica

Perodo Concluso novembro/97.

Superior:Universidade UNISINOS - So Leopoldo

Curso Letras Portugus - Licenciatura Plena

Perodo Concluso 1994


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3. EXPERINCIAS PROFISSIONAIS

Centro Universitrio FEEVALE, a contar do primeiro semestre do ano de 1998,

atuando como professora de Portugus I e II para os alunos do 3 grau.

4.PUBLICAES

5.1. Artigos referentes ao trabalho de concluso foram publicados na RevistaPalavra Como Vida, da UNISINOS, no perodo de maro a julho de 1995.

5.2. Publicao do resumo do trabalho apresentado no Seminrio-Feira daUNISINOS, nos anais da feira.

5.3. Artigo: Realidade e fico no conto Domingo de Festa de Jos J. Veiga, na

Revista de Estudos da FEEVALE, n 1 - jan/jun - 1998.

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