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Esse artigo é uma experimentação primeira do “momento etnográfico” (Strathern,2014), “exemplo de uma relação que junta o que é entendido (que é analisado nomomento da observação) à necessidade de entender (o que é observado nomomento da análise)” (STRATHERN, 2014, p.350). É uma aproximação entre dadose teoria como passo para uma pesquisa mais profunda que objetiva compreender osmodos pelos quais o Estado, os moradores do entorno e os demais grupos sociaisenvolvidos com os parques Fernando Sabino, Cássia Eller e Confisco interagem naprodução da localidade no e em torno destes parques.
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A produção do lugar: as formas de apropriação dos parques Fernando Sabino e
Cássia Eller em Belo Horizonte
VINTI, Mayana Silva1
INTRODUÇÃO
Esse artigo é uma experimentação primeira do “momento etnográfico” (Strathern,
2014), “exemplo de uma relação que junta o que é entendido (que é analisado no
momento da observação) à necessidade de entender (o que é observado no
momento da análise)” (STRATHERN, 2014, p.350). É uma aproximação entre dados
e teoria como passo para uma pesquisa mais profunda que objetiva compreender os
modos pelos quais o Estado, os moradores do entorno e os demais grupos sociais
envolvidos com os parques Fernando Sabino, Cássia Eller e Confisco interagem na
produção da localidade no e em torno destes parques. Não pretendo aqui trazer
conclusões analíticas sobre os modos da construção da localidade nestes parques
urbanos de Belo Horizonte - e nem poderia, já que o trabalho de campo como
mestranda em antropologia ainda não foi iniciado. Tenho apenas a intenção de
apresentar as contribuições que as teorias pós-coloniais, lidas a partir de um ponto
de vista antropológico, trouxeram para o meu modo de pensar – até agora - o
contexto e os grupos sociais que escolhi como sujeitos da minha pesquisa. A
Antropologia Pós-Colonial foi a porta pela qual entrei – recentemente – na pesquisa
antropológica. Interessa-me até onde os seus caminhos podem me levar e que
contribuições suas posso trazer comigo pelas outras portas que estão por serem
abertas.
Parques Públicos: sociedade e poder
O Povo do Município de Belo Horizonte, por seus representantes, decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica denominada Parque Fernando Sabino a área verde de 191.531 m2 (cento e noventa e um mil, quinhentos e trinta e um metros quadrados), correspondente ao lote 75 do quarteirão 82 do CP 240-14-M e situada no Bairro Paquetá. Lei municipal nº 9095, de 26 de setembro de 2005
1 Mestranda em Antropologia; Universidade Federal de Minas Gerais – Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas.
Uma Lei Municipal de setembro de 2005, originária de um Projeto de Lei de janeiro
do mesmo ano criou o Parque Fernando Sabino em Belo Horizonte. No Projeto de
Lei o vereador proponente apresentou a justificativa para o nome dado ao parque,
uma descrição da vida do escritor e jornalista mineiro Fernando Sabino desde a sua
infância, e encerrou o texto do documento com a citação do epitáfio que o próprio
Fernando Sabino teria criado para o momento de sua morte -“Aqui jaz Fernando
Sabino que nasceu homem e morreu menino.” – seguido da seguinte consideração:
“E os parques são nos dias de hoje o melhor lugar para os meninos.” O nome dado
ao parque seria assim um “reconhecimento ao eterno mineiro” e faria alusão à
apropriação do parque para o lazer das crianças2.
A área remanescente de uma antiga fazenda, foi naquele dia re-criada, nomeada
parque pelo então prefeito. Criado pelas palavras, pelo decreto do “Povo do
Município de Belo Horizonte, por seus representantes” o parque passou a estar
sujeito ao ordenamento da Fundação de Parques Municipais-FPM, órgão da
administração em indireta vinculado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de
Belo Horizonte. Foi então classificado como área de preservação e parque não
aberto ao público. Os discursos que oficializam a criação do Parque e o tornam lugar
de preservação, são os meios através dos quais o Estado busca legitimar o seu
poder de pensar e agir sobre área, de se apropriar dela. O discurso é o poder e ao
mesmo tempo um meio de alcance do poder (FOUCAULT, 2006). O nome oficial não
impede que o parque também seja conhecido como Parque Fazenda da Serra,
nome pelo qual era conhecida a região. Como os discursos, e junto com eles, as
ações interagem na luta pelo poder de se apropriar do espaço e torná-lo pleno de
sentido. Deste modo, o fato de ser classificado como um parque não aberto ao
público não impossibilitou que os moradores do entorno o frequentassem e
inscrevessem no território seus valores, seus discursos.
Localizado em terreno de forte declive o Parque Fernando Sabino é um parque
ainda não implantado, ou seja, que não possui infraestrutura. É classificado como
área de preservação, com a presença de nascentes. Os grupos sociais do seu
2 Câmara Municipal de Belo Horizonte. Projeto de Lei n°119/2005 de autoria do vereador Ronaldo Gontijo.
entorno apresentam perfis socioeconômicos diferenciados, entre os quais se
destacam como extremos opostos os moradores do condomínio Fazenda da Serra e
aqueles que moram nos becos na divisa com o Parque no Bairro Ouro Preto. O
parque é cercado por tela de arame no perímetro em que se limita com as ruas e
quintais de casas dentro do condomínio Fazenda da Serra, o que permite a
visualização completa de sua área verde. Algumas casas possuem no fundo de seus
quintais pequenos portões que dão acesso direto ao parque. No limite com as ruas
externas ao condomínio o parque é murado. O muro chega a ter quase três metros
de altura na vizinhança dos grupos sociais de mais baixa renda, no bairro Ouro
Preto. Os muros e a tela que cercam a área foram erguidos pela Associação dos
Moradores do Fazenda da Serra, parceira da FPM na gestão do Fernando Sabino,
por meio de um contrato de adoção. As duas instituições são também parceiras na
administração do Parque Cássia Eller.
O parque Cássia Eller é uma ampla praça com jardins, área de lazer, e uma
pequena área verde. Foi implantado no ano 2000 como compensação ambiental
pelo loteamento da área para a construção do Condomínio Fazenda da Serra. Está
dentro dos limites do condomínio, ou seja, para chegar até ele é necessário passar
pela cancela do condomínio, onde é solicitado aos visitantes um documento de
identificação. Recentemente esse parque passou a receber festas de aniversário
que são agendadas pelos interessados no setor de eventos da FPM. Os moradores
do seu entorno, seus frequentadores mais assíduos, são aqueles do Condomínio
Fazenda da Serra. Esse Parque, ao contrário do Fernando Sabino, não possui
cercas ou muros. Parte de sua área é ocupada por um viveiro de mudas que dá
suporte aos jardins do condomínio. A edificação construída para ser a sede
administrativa do parque é hoje ocupada pela Associação dos Moradores do
Fazenda da Serra.
Nestes dois casos, pela facilidade que a atuação da Associação de Moradores do
Fazenda da Serra representa para a gestão dos parques, a Fundação de Parques
Municipais não intervém com frequência na administração dos mesmos. Mantém
oficialmente vazio e cercado o parque que cuja implantação seria possivelmente
marcada por conflitos entre os interesses dos grupos muito diversos que vivem no
seu entorno, permite a limitação do acesso ao parque aberto ao público em troca da
adoção de ambos por uma instituição privada que garante a proteção de um contra
invasões, a beleza dos jardins e o bom funcionamento das áreas de lazer no outro,
legitimando os modos de apropriação exercidos pelo grupo de maior capital político
e econômico (Bourdieu, 2002).
No discurso de legitimação do poder do Estado, o Projeto de Lei, os parques são os
melhores lugares para os meninos. Na prática administrativa, que também é forma
de expressão do poder do Estado, os meninos são filtrados pela colonialidade do
poder (QUIJANO, 2002) e os parques pelo controle da subjetividade (QUIJANO,
2002). Na peneira ficam os meninos pobres, negros, ameaças ao ambiente e à
qualidade dos parques e o parque que não pode ser apropriado segundo os padrões
de implantação adotados pelo estado. Esta divisão, que se aproxima a meu ver
daquela indicada por Said (1990) no livro Orientalismo – O Oriente como invenção
do Ocidente onde o autor denuncia, como salienta Ballestrin, (2013, p.92) “a
funcionalidade da produção do conhecimento no exercício de dominação sobre o
“outro”, assegura a polarização da distinção entre os ricos e pobres, entre as
famílias que moram no condomínio - e que veem os parques – e aquelas que vivem
fora dos muros – e veem os muros; e por traz dos muros veem um grande lote vago,
proibido, bom pra soltar pipa, bom para plantar, bom para habitar e se esconder.
Cancela, muros, políticas públicas que impõe limitações ao encontro entre diferentes
grupos sociais, naturalizando o poder como medida de preservação dos parques,
como verdade científica, como iniciativa de proteção dos mesmos contra o
vandalismo (SAID, 1990).
O estranhamento: do ponto de vista da administração pública
Durante um ano e meio, entre setembro de 2011 e abril de 2013, exerci na
Fundação de Parques Municipais o cargo de Chefe da Divisão Operacional dos
Parques Pampulha. No exercício desta função visitei os Parques Fernando Sabino e
Cássia Eller – e os outros parques da regional - semanalmente no intuito de fazer
valer as diretrizes administrativas da FPM nesses espaços, garantindo a sua
conservação e o cumprimento das suas funções como espaço de lazer para a
sociedade – no caso do Cássia Eller – e como área de preservação em recuperação
– no caso do Fernando Sabino. No diálogo com as pessoas envolvidas com os
parques – principalmente com o funcionário da Associação dos Moradores do
Fazenda da Serra responsável pela gestão dos contratos de adoção – vivenciei
conflitos entre o discurso e a construção de sentido legitimada pelo poder público
que definia como os parques deveriam ser adequadamente experimentados e
produzidos e dos quais eu era portadora, e os discursos verbais, corporais ou
inscritos no território que indicavam as formas como os moradores do condomínio e
os ‘lá de cima’ – modo como o funcionário da Associação se referia aos moradores
do bairro Ouro Preto nas proximidades com o Parque Fernando Sabino - se
apropriavam ou desejavam se apropriar daqueles espaços. Foi a turismóloga,
educadora socioambiental, dedicada à sensibilização da sociedade para a
preservação de parques naturais e então administradora dos parques da regional
Pampulha quem questionou, naquele momento, a naturalização das relações
hierarquizadas entre o Estado, os moradores do Fazenda da Serra e os moradores
do bairro Ouro Preto.
No exercício da administração pública, no anseio de contribuir para que as pessoas
se apropriassem dos parques de modo a preservá-los, realizei as primeiras
observações em campo dos grupos sociais – e dos parques – aos quais me dedico
nesse artigo. As memórias de campo sobre as quais se desenvolve esse artigo
foram apreendidas por mim naquele momento já com a intenção de escrita de um
projeto de pesquisa a ser submetido ao processo seletivo do mestrado. Sustento
assim, que mesmo com as limitações do cargo que exercia e a ausência do
arcabouço teórico e metodológico, se tratava de certo modo de uma pesquisa de
interesse antropológico. Chamo-as de memórias de campo, sem a pretensão de
entendê-las como notas, por reconhecer que elas são resultado não apenas das
lembranças, mas também do esquecimento, ambos envolvidos pelos interesses,
anseios e indignações que me impulsionaram à pesquisa acadêmica.
Experimentando as novas lentes
Minhas primeiras observações enquanto Chefe da Divisão Operacional de Parques
Pampulha, onde minha função era garantir o “bom funcionamento” dos parques,
estiveram voltadas para as materialidades desses espaços, ou seja, para o
resultados das ações dos grupos e indivíduos sobre eles. Esta visão limitada resulta
da lógica desenvolvimentista que abraça um padrão – externo – a ser alcançado
sem questionar seus fins. As relações entre o ser humano e a natureza – em
especial nas sociedades ditas ocidentais – não fogem a esta lógica de percepção do
mundo (ESTEVA, 2000). A preocupação com a proteção do parque em nome de um
interesse público remete aos modelos de preservação estabelecidos, que negam a
existência de um sujeito social (ZHOURI, 2007). A apropriação, entretanto, não
produz apenas materialidade, mas principalmente localidade (APPADURAI, 2004)
incorporação do espaço nas redes próprias de sentido, sentimento.
Os lugares nos parques
Como acenado anteriormente, entendo aqui apropriação como atribuição de sentido
que se dá na experiência vivida do dia a dia. Experiência que reúne o espaço
material e o espaço simbólico em um “Terceiro Espaço” que supera o binarismo dos
dois anteriores, como propõe Soja (SOJA,1996 apud ESCOBAR, 2001). Escobar
estende a “trialética do vivido” proposta por Soja à natureza, propondo também a
“primeira natureza como realidade biofísica, segunda natureza como aquela dos
teóricos, administradores e da construção simbólica, e terceira natureza como
aquela que é vivida pelas pessoas na vida cotidiana” (ESCOBAR, 2001, p.156).
São os conflitos entre a segunda e a terceira natureza o foco do meu interesse. Elas
concorrem na produção da localidade como “propriedade fenomenológica da vida
social, uma estrutura de sentimento produzida por determinadas formas de
actividade intencional e que produz certos tipos de efeito material” como entende
Appadurai (2004, p.243). A localidade enquanto valor ou propriedade da vida social
se realiza nos bairros por meio de “técnicas de produção espacial da localidade”
(p.239). Neste sentido Appadurai faz uso do termo bairro para dizer das
“comunidades situadas caracterizadas pela sua realidade, espacial ou virtual, e pelo
seu potencial para a reprodução social”, ou seja, para a formação de sujeitos locais.
No parque Fernando Sabino, não obstante as fronteiras físicas, as localidades
adjacentes se encontram dentro de seu território e são disputadas no tencionamento
entre os bairros como numa competição de cabo de guerra – se for possível
imaginar um cabo de guerra com mais de duas extremidades que se movimentam
no espaço, aproximando-se ou distanciando-se umas das outras. As cercas e
muros, o plantio de árvores, as podas, os buracos nos muros, os portões, os lixos e
entulhos, os animais e as queimadas, os meninos subindo em árvores e soltando
pipa são técnicas e materialidades da produção da localidade.
Assim como para Bhabha (2001) a identidade se constrói na relação com a
alteridade, para Appadurai (2004), o bairro e o sentido de localidade que o sustenta,
é construído em oposição a outros sentidos e originado a partir de outras
localidades. Isso faz do bairro um contexto e um produtor de contexto. Ou seja, os
bairros como provedores de interpretações, contribuem em diferentes escalas para a
produção de sujeitos locais que em suas ações sociais nas interseções entre bairros
diferentes contribuem para a construção de novos contextos, que vão integrar
aqueles do seu próprio bairro e interferir no contexto de outros bairros.
Tais considerações nos levam a sustentar que a disputa entre os bairros que
ocupam o território dos parques é também uma disputa pelas bases de formação
dos sujeitos locais produzidos no seu contexto.
Chantal Mouffe (1999) ao tratar sobre a identidade contribui para compreender
como a dinâmica das disputas atribui à localidade a fragilidade do que está em
constante movimento, em construção e nunca é inerte.
Na medida em que toda objetividade depende de uma
alteridade ausente, necessariamente remete a essa alteridade,
está contaminada por ela. Isto impede para sempre a
segurança de uma identidade que pertença a um indivíduo e à
qual este indivíduo pertença. (MOUFFE, 1999)
Os fluxos dialógicos de produção das localidades também são contextuais e
históricos (APPADURAI, 2004). É possível e provável que as técnicas e escalas da
produção da localidade que observei anteriormente não sejam as mesmas que
serão percebidas durante os próximos trabalho de campo. Os valores hoje
acionados na produção da localidade foram construídos a partir da experiência entre
natureza material e simbólica em outros contextos históricos. Escobar (2001, p.148)
ressalta que “os lugares podem ser vistos como construídos conscientemente pelas
pessoas por meio de processos ativos de trabalho (Wade, 1999), narrativas (Raffles,
1999; Berger, 1979), e movimento (Harvey, 1999)”. Afirma ainda que no campo
ambiental a modificação das paisagens locais resultantes de atividades que
impactam negativamente o ambiente provocam mudanças nos sentidos de lugar
(ESCOBAR, 2001). O que me leva a questionar quais teriam sido os impactos da
construção dos muros que cercam o parque para as pessoas que moram no seu
entorno. Que relações anteriormente estabelecidas entre eles e aquela área verde
foram modificadas a partir do erguimento da barreira física? Que mudanças de
sentido acarretaram e que novas formas de produção do lugar foram estabelecidas?
À primeira vista considero como uma mudança importante a perda do contato visual
com a área, mas essas questões só serão de fato percebidas ao longo do trabalho
de campo.
Appadurai (2004, p.224) ressalta que as relações históricas em que se produzem os
bairros estão atravessadas pelas relações de poder. Produzir um bairro é exercer o
poder sobre um espaço hostil, esvaziado dos valores pertencentes aos sujeitos
locais que o reivindicam. É impor a produção e reprodução do sentido próprio de
localidade em uma ação consciente e colonizadora de afirmação de poder.
É nas relações de poder entre diferentes bairros que se define o potencial gerador
de contexto na produção de localidade.
A capacidade dos bairros para produzirem contextos (dentro
dos quais as suas actividades localizadoras adquirem
significado e potencial histórico) e de produzir sujeitos locais é
profundamente afectada pelas capacidades produtoras de
localidade das formações sociais de maior escala (...) de
determinar a forma geral de todos os bairros ao alcance do seu
poder. (Appadurai, 2004, p.248)
Appadurai insere entre estas “formações sociais de maior escala” o Estado-Nação.
Parques públicos: lugar do estado
A percepção dos funcionários da Fundação de Parques Municipais como um grupo
de interesses na disputa pela apropriação dos parques torna necessária uma
aproximação às discussões provenientes da antropologia do Estado. Amita Baviskar
(2003) e Das & Poole (2008) contribuem para a compreensão sobre como o Estado
constrói o seu poder diferencial na disputa pela produção da localidade.
Ao tomar como tema a violência acionada pelo Estado nas suas relações com os
movimentos sociais organizados na India central, Baviskar (2003, p.1) afirma que o
mito do Estado onisciente, criado pela separação entre as suas dimensões sublimes
– relacionadas às “formas superiores de racionalidade” – e profanas – “incoerência,
brutalidade e banalidade da governança” abre espaço para a fusão entre política e
violência. A naturalização da racionalidade do Estado ancorada no consenso em
torno do discurso desenvolvimentista justifica o uso da violência em contextos
específicos e contra determinados indivíduos ou grupos, legitimando aqueles que
podem fazer uso dela. O consenso sobre a transcendência da racionalidade do
Estado mascara o conflito político em problema administrativo, desordem,
insubordinação que só podem ser resolvidos através da violência. Para Baviskar
(2003) a classificação dos espaços está entre as formas de violência do Estado.
A criação do parque Fernando Sabino é exemplo desse tipo de classificação
baseado no consenso que envolve o discurso desenvolvimentista desconsiderando
outros interesses e formas de conhecimento.
Das & Poole (2008) fazem uma revisão da Teoria Política Ocidental para mostrar
como a violência esteve diretamente relacionada à construção do consenso nas
funções ordenadoras do Estado. Para isto retomam algumas ideias de Weber, Kant
e Hegel para quem o Estado assumia como legítimo o seu uso da violência como
resposta à tendência natural dos indivíduos de colocarem o bem-estar próprio acima
de tudo, o que colocava em perigo o controle do Estado “sobre a organização
racional do governo”. “Desta maneira, as demandas de justiça popular foram
interpretadas como expressão das facetas da natureza humana ainda não
dominadas pela racionalidade” (DAS & POOLE, 2008, p.9).
As autoras introduzem a noção de margem relacionada a este espaço onde pulsam
as forças naturais que o Estado busca constantemente cercear por meio de sua
organização racional. Para elas, mais do que geograficamente localizadas, as
margens são “lugares de práticas nos quais a lei e outras práticas estatais são
colonizadas por outras maneiras de regular que emanam das urgentes
necessidades das populações de assegurar sua sobrevivência política e
econômica”. Ou seja, as margens também exercem o poder conformando as
práticas políticas e reguladoras do Estado. Neste ponto me permito uma
aproximação entre o pensamento de Das & Poole ( 2008) e Appadurai (2004): ao
mesmo tempo em que são localizadas à margem do Estado, as margens, em maior
ou menor grau, também são produtoras de contexto. Estado e margem mesmo
entrelaçados em relações desiguais se constroem mutuamente nas suas relações.
As margens não são um lugar de desordem que o Estado não alcançou, são o lugar
de contestação da sua racionalidade soberana.
Sustento que é nas relações diretas com os representantes das instituições públicas
que incorporam o Estado que as margens encontram brechas profanas, fissuras no
mito da racionalidade superior que devolvem o caráter conflituoso de suas relações
permitindo que o discurso do estado seja contestado nas práticas do dia a dia. É em
suas próprias margens que o Estado se aproxima do vivido e se coloca como força
em disputa, inclusive com outras instâncias do próprio Estado (DAS & POOLE,
2008). E aqui o sublime e profano estão mais próximos de se unirem como facetas
contíguas do Estado (BAVISKAR, 2010).
A FPM nas suas relações de poder com os grupos inseridos nos parques estudados
encontra-se no patamar onde as diretrizes do Estado continuam a se apoiar em uma
ideia de racionalidade superior e de uma natureza teorizada, tecnicizada, construída
administrativamente – conforme a “segunda natureza” de Escobar (2001). Ao
mesmo tempo vê-se encharcada pelas experiências cotidianas dos indivíduos que a
representam e que trazem consigo as localidades às quais pertencem e com as
quais se inserem na disputa pela transformação do espaço dos parques em lugar.
Recorrendo à dimensão sublime do Estado (Baviskar, 2003), com a qual se presume
que seus esforços devam coadunar ao menos em essência – buscam legitimar seu
conhecimento técnico, valores e até interesses pessoais e assim habitam também o
terceiro Espaço ou terceira natureza (Escobar, 2001). Entendo como margem do
Estado este espaço onde a sua experiência com o cidadão se sobressai. Onde os
grupos sociais encontram os meios de exercer seu esforço de conformar o estado
através da sua produção de lugar.
Segundo Das & Poole, “a indeterminação das margens não só permite formas de
resistência, mas também, de forma mais importante, permite estratégias para
encarar o estado como um tipo de margem do corpo dos cidadãos (DAS & POOLE,
2008 p.33)”. Asad (1995) aciona a fórmula inversa, que explora ainda mais as
possibilidades das análises a partir das margens, ao lembrar que o poder dos
cidadãos de delegar poder ao Estado permite que esse último seja tomado como
margem.
As (im)possibilidades de fala
Ao conhecer os Parques Fernando Sabino e Cássia Eller, me senti desconfortável e
até indignada diante do modo como os moradores do condomínio se apropriavam
desses parques públicos como propriedades privadas – o parque no interior do
condomínio cujo acesso era dificultado, selecionado e até impedido pela portaria
com cancela e um parque de preservação onde se criava galinhas, cultivava jardins
e pomares. A nota que se segue – parte de minhas “memórias de campo” - ilustra,
ao expressar os sentidos e posicionamentos acionados por mim na disputa pelo
poder na produção da localidade destes parques, as considerações sobre as
margens do Estado feitas nos últimos parágrafos do item anterior. Ela também
introduz as discussões a cerca das possibilidades de fala dos grupos na relação
desproporcional de poder sobre as formas de apropriação dos parques.
Foi buscando solucionar os problemas levantados pelo gerente do condomínio que conheci
os limites do parque com o bairro Ouro Preto. Em suas denúncias sobre o que considerava
absurdos cometidos contra o parque, me ajudou a perceber outros modos de apropriação.
Conheci as ruas no entorno do parque Fernando Sabino no dia em que o gerente se
ofereceu para me mostrar a laje de onde o lixo e entulho era jogado pra dentro do parque.
Estacionamos o carro na esquina do parque com um beco. Ali, onde o muro era um pouco
mais baixo que no resto da rua e descia rente ao beco, era o único lugar daquele lado de
onde era possível ver a grande área verde que terminava lá embaixo, dando lugar a casas
enormes com piscinas e jardins. Bem diferente daquelas casas entorno de nós. De cima da
laje vi bem próximo ao muro uma grande quantidade de lixo, resto de material de construção
e outros entulhos.
Descemos a escadaria do beco íngreme e estreito. As casas amontoadas do lado direito e o
muro do parque do lado esquerdo. Enquanto descíamos o gerente me apontava os buracos
no muro, grandes e pequenos, mas sem tecer comentários. Alguns dos buracos permitiam
facilmente a entrada de pessoas, inclusive em pé. Por um deles foi possível ver o cultivo de
algumas plantas. Cruzamos com algumas pessoas no beco, com as quais trocamos
cumprimentos breves e silenciosos. Na volta ao condomínio o nosso guia indicou as partes
da rua de onde possivelmente viria o esgoto não canalizado das casas, despejado no
parque. De volta ao condomínio ele me contou que quando construíram o muro algumas
áreas do parque já tinham sido invadidas. A própria laje teria sido construída numa tentativa
de invasão, que foi frustrada pela ação rápida da fiscalização acionada por ele.
Passei várias vezes por aquelas ruas que faziam limites com o parque, mas de onde não
era possível vê-lo, quando ia àquela esquina da laje. Dali, o melhor lugar para se ver o
parque, acompanhava a quantidade de lixo jogado e o resultado das queimadas.
Acompanhei também a derrubada da laje e a colocação de mais algumas fileiras de tijolo
naquele canto do muro. Ia sempre vestida com o colete da Fundação de Parques e o carro
da prefeitura. Nenhum morador se aproximou de mim ou me dirigiu a palavra.
Como educadora ambiental, que continuava a ser, busquei auxílio do setor de mobilização
da SLU para que realizássemos uma ação de sensibilização dos moradores das
proximidades da antiga laje. A proposta era conversar com eles sobre o Parque Fernando
Sabino, sua limpeza e preservação. A ação foi realizada em conjunto pelo setor de
mobilização da SLU Pampulha, pelos agentes da zoonose com sede no posto de saúde que
existe há alguns metros do local e por mim, representando a Fundação de Parques
Municipais.
Dividimo-nos em grupos de três pessoas que se dirigiram a áreas diferentes do bairro para
conversar com os moradores de cada casa. O grupo do qual participava ficou responsável
pelo beco. Os agentes da zoonose conheciam muitos dos moradores, com os quais
conversamos na escadaria e na porta de suas casas. Nenhum dos moradores com quem
falamos sabia que a grande área atrás do muro era um parque. Além de informar sobre a
existência do Fernando Sabino e conversar sobre a importância de mantê-lo limpo e
preservado, falávamos dos dias e locais da coleta de lixo e do cuidado com a limpeza do
local onde moravam para evitar a proliferação de ratos, escorpiões, baratas e do mosquito
da dengue.3
No Parque Fernando Sabino, todos os modos de construção da localidade diferentes
daquele acionado pela FPM são considerados ilegítimos, contrários ao ideal de
desenvolvimento sustentável instituído pelos órgãos públicos ambientais brasileiros,
herdeiros da colonialidade do saber que concebe a ciência moderna - fundada num
paradigma europeu, branco, masculino - como único modo de pensar possível
negando o caráter racional a todas as outras formas de conhecimento (MIGNOLO,
2003). Entretanto, enquanto com os moradores do condomínio a disparidade entre
as formas de apropriação acionadas e normas do parque passavam pelo diálogo e
pela negociação, e só em último caso pelas notificações oficiais, do outro lado do
mesmo parque inexistiu qualquer diálogo dos técnicos ou administradores da FPM
sobre as formas de apropriação “irregulares”. As únicas oportunidades de contato ou
diálogo foram essas trazidas no trecho de minhas “memórias de campo”
reproduzidas acima.
Recorro a Spivak e suas discussões no livro “Pode o Subalterno Falar?” na busca de
compreender melhor estas relações. Spivak (2010) trata sobre a impossibilidade de
fala do subalterno entendido como um sujeito heterogêneo, relacionado ao conceito
gramsciniano de proletariado, ou seja, àquele cuja voz não está imbuída do poder de
ser ouvida. Para estes, o caráter dialógico de interação da fala – entre falante e
ouvinte - não se concretiza.
A reivindicação dos cidadãos pelos seus direitos e por uma cidade que
responda às suas necessidades transita hoje no senso comum em Belo Horizonte.
Os parques da cidade não escapam a estas reivindicações. Entretanto, apenas uma
parcela mínima dos parques possui instrumentos institucionalizados de participação
comunitária. Há grupos sociais organizados, como associações de bairro e até
mesmo associações criadas para lidar prioritariamente com as questões
relacionadas a parques específicos, mas estas organizações não estão presentes
3 A descrição de algumas experiências que julguei importantes quando me propus a pesquisar, no mestrado em
antropologia, as relações entre os grupos sociais na apropriação destes parques urbanos em Belo Horizonte –
que chamei aqui de “memórias de campo” - foi feita durante o segundo semestre de 2013, poucos meses
depois de ter solicitado a exoneração da FPM, quando cursava uma disciplina eletiva do mestrado em
Antropologia, antes de ser aprovada para na seleção do mestrado.
em todos os contextos sociais relacionados aos parques e estão distantes de
abarcar as demandas de todos os grupos sociais interessados. Além disso, como
vimos, as possibilidades de reivindicação dos interesses junto ao poder público não
são as mesmas para todos os grupos sociais. Para os moradores do entorno do
Parque Fernando Sabino, no bairro Ouro Preto, o espaço dialógico de interação da
fala parece não se concretizar (SPIVAK, 2010) e nem mesmo ser considerado, na
relação com a FPM.
O mesmo sujeito impossibilitado de falar e sem representação para ser ouvido
conforma o Estado e sua racionalidade ao invadir o parque, ao soltar pipa, ao jogar
seu lixo para dentro do parque. Das & Poole (2008) ressaltam a capacidade de ação
presente na vida cotidiana dos grupos à margem do Estado apresentando os limites
da noção de resistência que, segundo as autoras, estaria associada principalmente
à capacidade de ação nos momentos críticos.
A subalternidade não é uma característica intrínseca de um indivíduo ou grupo
social, mas se concretiza nas relações onde a desigualdade de poderes é bem
marcada. Digo isso com base na seguinte situação: Após uma visita dos engenheiros
agrônomo e ambiental e de uma bióloga foi feito um relatório que tratava da necessidade de
retirada de árvores exóticas, inclusive frutíferas, para que fosse feito o replantio de mudas
nativas no Parque Fernando Sabino. O relatório foi encaminhado à Associação do Fazenda
da Serra com a assinatura do presidente da Fundação de Parques Municipais. Houve
reclamação de moradores e funcionários que, diante de um relatório técnico assinado pelo
presidente da FPM, não foram consideradas. Depois de algum tempo o presidente da
Fundação de Parques Municipais chamou os técnicos para uma reunião pedindo
esclarecimentos sobre as árvores do Parque Fernando Sabino. Tinha recebido uma ligação
de um vereador morador do condomínio que criticou a decisão de retirada das árvores. O
laudo técnico foi reconsiderado, permitindo que as árvores exóticas mais antigas fossem
mantidas e exigindo a retirada daquelas de menor porte.
Neste caso, os moradores e funcionários do condomínio tiveram sua fala
impossibilitada diante do discurso técnico. O que acena para a tendência ao
reducionismo tecnocrático baseada no modo eurocêntrico de racionalização para a
qual acena Quijano (2002, p.20). Como ele mesmo assevera, estas tendências
estão em crise e são constantemente questionadas, mas não foram ainda
superadas. Os moradores só foram ouvidos pelo intermédio da voz de um outro que
falou por eles, os representou (SIPIVAK, 2010) utilizando seu forte capital político.
Considerações finais
O presente artigo se desenvolveu principalmente a partir das considerações sobre o
Estado – Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte – nas suas relações
com os grupos sociais interessados no Parque Cássia Eller e no Parque Fernando
Sabino. Privilegiou este último, onde o conflito entre as formas de apropriação
esteve mais perceptível nas oportunidades de observação. É resultado de dois
momentos, a observação enquanto funcionária da FPM e o início da pesquisa
antropológica. É ao mesmo tempo o marco das minhas diferenças em relação aos
sujeitos dos quais me aproximei analiticamente, do distanciamento, do encontro da
alteridade. Um registro do processo que estabeleceu uma relação pesquisadora –
pesquisados onde antes existia uma relação entre colegas de trabalho ou entre
representante do poder público – administrados. O arcabouço teórico aqui acionado
contribuiu para os anseios de questionamento dos meus próprios valores e do grifo
do choque cultural onde prevalecia ainda a impressão de continuidade das minhas
relações anteriores com os grupos sociais aos quais me dedico. As leituras dos
autores aqui citados e de outros cujas discussões se aproximam das teorias pós-
coloniais me ajudaram a alcançar um estado alerta, que reconhece a necessidade
de questionar as categorias que conformam a sociedade à qual pertenço e à qual
também pertencem os grupos que me proponho a estudar. No contexto ao qual me
dedico, tencionar categorias como ambiente, sociedade, bem comum, interesse
público, parque, entre outras, é uma forma de desnaturalizar a violência epistêmica
(SPIVAK), o controle da subjetividade/intersubjetividade (QUIJANO), a colonialidade
do conhecimento e do poder (MIGNOLO) no âmbito das relações entre o homem e o
ambiente. Uma tentativa de oportunizar caminhos que superem o “projeto técnico”
disseminado pelo modo de produção industrial que pretende “substituir o tecido
social, os laços de solidariedade que constituem a trama de uma sociedade, por
uma fabricação”, “pela relação instrumental com o espaço” (DUPUY, 1981) abrindo
espaço para que os conflitos entre as subjetividades sejam reconhecidos, retomando
o caráter político das questões ambientais.
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