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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE
MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO
ISABELLA STROPPA RODRIGUES
A REALIDADE DA UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA: UMA VISÃO A PARTIR
DA TRIPLA HÉLICE NO CASO UFJF
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas
de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Sistemas de Gestão. Área de concentração: Organizações e
Estratégia. Linha de pesquisa: Gestão pela Qualidade
Totaol.
Orientador:
Prof. Emmanuel Paiva de Andrade, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense
Co-orientador:
Prof. Angelo Brigato Ésther, D.SC.
Universidade Federal de Juiz de Fora
Niterói
2016
R696r Rodrigues, Isabella Stroppa.
A realidade da universidade empreendedora : uma visão a partir da Tripla
Hélice no caso UFJF / Isabella Stroppa Rodrigues. – Niterói, RJ, 2016.
92 f.
Orientador: Emmanuel Paiva de Andrade
Co-orientador: Angelo Brigato Ésther
Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão ) - Universidade Federal
Fluminense, Escola de Engenharia., 2016.
1. Universidade empreendedora. 2. Tripla Hélice. 3. Universidade brasileira. I.
Andrade, Emmanuel Paiva de, orient. I. Título.
CDD 658.421
AGRADECIMENTOS
Como não poderia ser diferente, meu agradecimento primeiro é a Deus. Não há
momento de dúvida ou dificuldade que Seu Amor não seja capaz de fazer passar e se tornar
brisa e felicidade.
Aos meus anjos na Terra, meus Pais, que em todos os momentos, desde o pré-primário,
apoiaram meus projetos e não foi diferente neste. A jornada foi extenuante, mas seria impossível
se não fossem vocês com as palavras certas na hora certa sempre!
Ao meu marido, Ewerton, que desde o envio do projeto, foi um porto seguro de incentivo
e persistência. Sem a sua dedicação e paciência, certamente esse caminho não estaria concluído!
Ao meu orientador, Emmanuel, que acreditou na ideia do estudo da universidade e me
deu impulso e ideias borbulhantes para dar andamento ao trabalho.
Ao meu co-orientador, Angelo, que esteve junto nessa jornada para uma orientação
holística. Minha vida acadêmica não existiria não fosse o primeiro passo dado há 10 anos atrás
sob a orientação no padrão PAQ!
À UFF, especialmente à querida Bianca, que desde sempre demonstrou seu carinho
especial por cada um dos batalhadores nesta louca jornada acadêmica, dona da voz e dos e-
mails fonte de muitas alegrias e calmarias!
À UFJF, que abriu as portas desde minha formação na graduação, posteriomente, para
minha atuação profissional e para minha pesquisa acadêmica e a todos aqueles que se
dispuseram a participar através das entrevistas, dedicando parte importante de suas pesadas
jornadas para estar comigo nas entrevistas.
À FIEMG, na figura de seu Presidente da Regional Zona da Mata, pela disponibilidade
e pela importante participação neste trabalho.
Aos colegas do Mestrado que fizeram a jornada ser menos exaustiva e bem mais
divertida.
A todos os meus amigos e amigas, inclusive os companheiros do GECOPI, por entender
profundamente o que foi essa caminhada.
RESUMO
Esta pesquisa visou contribuir para a compreensão da complexidade de fatores envolvidos no
relacionamento entre a universidade e outros entes, sendo, neste caso específico, o foco
direcionado para as empresas e o governo, a partir das perspectivas da Tripla Hélice e da
Universidade Empreendedora. A universidade brasileira, inserida desde sua criação em um
contexto de constantes modificações e reformas, passa constantemente pelo questionamento
acerca do seu papel. Recebendo inicialmente a atribuição de ser formadora de mão de obra,
inquietações começam a surgir no sentido de enriquecer a atuação da universidade com a
possibilidade de formação crítica dos indivíduos e criação de conhecimentos inovadores. Este
conflito de percepções perpassa décadas e chega aos dias atuais inserido em um cenário onde
se vislumbra o desinvestimento no ensino público brasileiro, o que torna atrativo para as
universidades trilhar o caminho de formação de profissionais de acordo com o perfil requisitado
pelo mercado, bem como direcionar as pesquisas da universidade para as necessidades das
empresas devido à possibilidade de serem elas as potenciais financiadoras das atividades da
universidade. No entanto, esta concepção não é linear e nem homogênea no cenário
universitário em geral, e também não o é no contexto que envolve a Universidade Federal de
Juiz de Fora, onde se aplicou a presente pesquisa utilizando o método do estudo de caso. O
intuito desta pesquisa foi compreender como a Universidade Federal de Juiz de Fora se
relaciona com a indústria e o governo e, ao mesmo tempo, identificar se ela está demonstrando
possuir as características prescritas pelo modelo de Universidade Empreendedora. Neste
sentido, foram analisados os três entes envolvidos a partir do estudo de seus posicionamentos
oficiais e também, no caso da indústria e da universidade, de entrevistas realizadas com atores
institucionais. Este estudo se balizou pela busca da produção de conhecimento capaz de
contribuir para o enriquecimento da compreensão acerca desse complexo fenômeno de
aproximação da esfera pública com a iniciativa privada, não se limitando apenas a descrições,
mas também a explorar as problemáticas decorrentes do tema.
Palavras-chave: Universidade Empreendedora. Tripla Hélice. Universidade brasileira.
ABSTRACT
This research aimed to contribute to the comprehension of the complexity of factors involved
in the relationship between the university and other entities, being, in this specific case, the
focus directed to companies and to the government, from the perspectives of Triple Helix and
Entrepreneurial University. The Brazilian university, inserted since its creation in a context of
constant changes and reforms, constantly goes through the questioning about its role. Initially
receiving the assignment of being a trainer of labor, concerns begin to emerge in order to enrich
the performance of the university with the possibility of critical formation of individuals and
creation of innovative knowledge. This conflict of perceptions goes through decades and
reaches the current days inserted in a scenario where the disinvestment in the Brazilian public
education is envisaged, which makes it attractive for universities to follow the path of
professional training according to the profile required by the market, as well as to direct
university research to the needs of companies due to the possibility that they are the potential
financiers of university activities. However, this conception is neither linear nor homogeneous
in the university scenario in general, nor is it in the context involving the Federal University of
Juiz de Fora, where the present research was applied using the case study method. The purpose
of this research was to understand how the Federal University of Juiz de Fora relates to industry
and government and, at the same time, to identify if it is demonstrating the characteristics
prescribed by the Entrepreneurial University model. In this sense, the three entities involved in
the study were analyzed from their official positions and also, in the case of industry and
university, from interviews with institutional actors. This study was based on the search for the
production of knowledge capable of contributing to the enrichment of the understanding about
this complex phenomenon of approaching the public sphere with the private initiative, not only
being limited to descriptions, but also exploring the problems arising from the theme.
Key-words: Entrepreneurial University. Triple Helix. Brazilian university.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 –
Quadro 1–
Figura 2 –
Figura 3 –
Gráfico 1 –
Quadro 2 –
Quadro 3 –
Quadro 4 –
Quadro 5 –
Percentual do PIB gasto em P&D no mundo em 2007....................................
Polos e Unidades EMBRAPII..........................................................................
O Triângulo de Sábato......................................................................................
HT III ...............................................................................................................
Patentes do tipo PI registradas no Brasil..........................................................
Incentivos à cooperação entre universidade e empresa....................................
Barreiras à integração universidade-empresa...................................................
Codificação dos entrevistados..........................................................................
Temas pesquisados e elementos analisados.....................................................
16
29
30
33
37
41
45
50
50
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Evolução mundial do investimento em P&D (2007, 2009, 2011 e 2013) ............... 18 Tabela 2- Evolução no número de pedidos e concessões de patentes (1999-2015) ................. 36 Tabela 3- Depósitos de Patentes do Tipo Patente de Invenção (PI) pela UFJF – 1º Depositante
.................................................................................................................................................. 53 Tabela 4- Os papeis que a universidade assume hoje .............................................................. 55 Tabela 5- Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o governo ..................... 57 Tabela 6- Comprometimento da UFJF com o intercâmbio de conhecimentos com a indústria,
a sociedade e o governo ........................................................................................................... 59 Tabela 7- Incentivos oferecidos pela UFJF para que seus funcionários promovam iniciativas
de integração com o empresas .................................................................................................. 61 Tabela 8- Entendimento acerca do termo Universidade Empreendedora ................................ 63 Tabela 9- Motivos que levariam a universidade a buscar a aproximação com o governo e as
empresas ................................................................................................................................... 64 Tabela 10- Fontes de financiamento das atividades da universidade ....................................... 66 Tabela 11- Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos relacionamentos da
universidade com as empresas ................................................................................................. 68 Tabela 12- Papel exercido pelo CRITT .................................................................................... 68 Tabela 13- Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer parcerias com empresas . 69 Tabela 14- Possíveis influências das partes interessadas externas na estruturação e
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem ........................................................ 70 Tabela 15- Mecanismos instititucionais da UFJF que regulam a relação com entes externos 71 Tabela 16- Atuação das políticas educacionais e econômicas governamentais no sentido da
integração ................................................................................................................................. 73 Tabela 17- Forma como o governo visualiza a construção da relação entre as universidades e
as empresas ............................................................................................................................... 75 Tabela 18- Possíveis benefícios para a universidade em uma relação mais próxima com o
ambiente externo ...................................................................................................................... 75 Tabela 19- Possíveis riscos para a universidade em uma relação mais próxima com o
ambiente externo ...................................................................................................................... 76 Tabela 20- Postura das empresas com relação à integração ..................................................... 77
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ........................................................................................... 9
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................... 13
1.3 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS ................................................................. 13
1.4 DELIMITAÇÃO ....................................................................................................... 14
1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO .............................................................................. 14
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 15
2.1 A INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA NO CONTEXTO LATINO-
AMERICANO .......................................................................................................................... 15
2.2 AS MUDANÇAS DA UNIVERSIDADE NO CENÁRIO BRASILEIRO............... 19
2.3 OS MODELOS DE INTEGRAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E O AMBIENTE
EXTERNO ............................................................................................................................... 30
2.3.1 O Triângulo de Sábato .......................................................................................... 30
2.3.2 A Tripla Hélice ....................................................................................................... 32
2.3.3 A Universidade Empreendedora .......................................................................... 37
2.4 ASPECTOS ATRATIVOS E DISTANCIADORES NO VÍNCULO
UNIVERSIDADE-EMPRESA ................................................................................................ 41
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 48
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................. 52
4.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .................................................................... 52
4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................................................... 55
5 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 83
ANEXO A ................................................................................................................................ 90
9
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O processo histórico de criação e desenvolvimento das universidades ocidentais, bem
como sua relação com a sociedade, estabelece um cenário de reflexão para a realidade do ensino
superior no Brasil e para o sentido da instituição “universidade” no país.
As universidades brasileiras, hoje inseridas em um contexto caracterizado pelas
propostas de ajuste fiscal e tensões quanto à concretização dos projetos estabelecidos no Plano
Nacional da Educação (BRASIL, 2014), foram sistematicamente atingidas pelo que se
caracteriza como crise. Mesmo antes da criação da primeira universidade no Brasil, “[...] a
instrução pública – incluindo o ensino superior – passa por diversas crises e reformas”
(TORGAL; ÉSTHER, 2014, p. 123).
Segundo estes autores, após a Proclamação da República, numerosos projetos propostos
para criação da universidade foram negados reiteradamente, já que a elite dirigente não
identificava nenhuma vantagem - e talvez alguma ameaça à ordem vigente - com a instalação
de uma universidade. Em 1920, foi enfim criada a primeira universidade do país, a Universidade
do Rio de Janeiro, devido a uma oportunidade encontrada no Código Civil Brasileiro, o qual
afirmava em seu artigo 6º: “O governo federal, quando achar oportuno, reunirá em
Universidades as Escolas Politécnica e de Medicina do Rio de Janeiro, incorporando a elas uma
das Faculdades Livres de Direito (...)” (BRASIL, 1916).
Segundo Cunha (2007), a partir desse momento ocorreu a transformação de algumas
faculdades em federações, as quais foram posteriormente convertidas em universidades, estas
caracterizadas por seu prestígio e plena liberdade de decisão quanto a diversas questões, como
a abertura de cursos e o aumento do número de vagas oferecidas.
A partir de então, a instituição “universidade” passou a ter sua atuação continuamente
questionada, sendo atribuída a ela, ao mesmo tempo, de um lado a responsabilidade de
formação técnica de mão de obra para atendimento ao mercado, enquanto, de outro, defendia-
se a sua manutenção como um centro de criação de ciência e de conhecimento.
A discussão sobre essa dicotomia de papéis, bem como sobre todas as complexas
possibilidades que surgem entre esses dois pontos começou a tomar espaço, sendo que, com o
decorrer do tempo, foram realizadas diversas adaptações e mudanças na atuação da
universidade, bem como na compreensão de seus papéis, formas de gestão, ensino e pesquisa.
10
Na década de 1950, percebeu-se a universidade pública latino-americana iniciando o
desenvolvimento de atividades de vinculacionismo sob o argumento de que seria propício fazer
chegar aos potenciais usuários os resultados da pesquisa científica e tecnológica por ela
desenvolvida (DAGNINO et. al, 2011).
O vinculacionismo seria a forma de gerar laços entre o setor produtivo e a universidade
pública através das instituições de pesquisa e de transferência da tecnologia. Segundo Dagnino
et. al (2011), ele esteve presente na realidade da América Latina até a década de 1970. Neste
período, particularmente a partir de 1968, as diretrizes oficiais atinentes à universidade
brasileira delimitaram que esta instituição deveria atuar como instrumento de formação de mão
de obra, proposição que passou a ser estimulada, mesmo com a existência de experiências
contrárias a esta orientação, como os casos da Universidade de São Paulo (USP) e da
Universidade do Distrito Federal (ÉSTHER, 2016b).
Por volta de 1975, surge o neovinculacionismo trazendo a transdução de fatos e teorias
dos países desenvolvidos relativos à integração universidade-empresa para o contexto dos
países em desenvolvimento. A transdução consiste em um processo auto-organizado de
modificação de sentido que ocorre quando uma ideia ou mecanismo é transladado de um
contexto para outro. Esta ação, segundo Dagnino e Thomas (2001, p. 208), “(...) insere um
mesmo significante (instituição, instrumento de política, etc.) num outro sistema (conjunto
sociotécnico, sistema nacional de inovação, estrutura governamental, etc.) e faz que novos
sentidos se originem (funções, disfuncionalidades, efeitos não desejados, etc.)” (DAGNINO;
THOMAS, 2001, p. 208).
A aplicação do processo de transdução no contexto latino-americano naquele momento
se manifestou com o surgimento de propostas de criação de parques tecnológicos, incubadoras
de empresas e escritórios de transferência de tecnologia como mecanismos de fortalecimento
dos laços propostos pelo vinculacionismo (DAGNINO; THOMAS, 2001). No entanto, a
percepção e defesa da universidade como formadora de mão de obra se manteve ainda até o
período da ditadura militar, sendo que, com a queda desta e, posteriormente, a realização da
reforma de Estado no governo Fernando Henrique Cardoso - marcada pela intensa atuação de
Bresser Pereira - passou-se a verificar o princípio da implementação do gerencialismo com a
tendência da denominada “Nova Gestão Pública”, responsável por trazer para o contexto
universitário e para a administração pública em geral a aplicação de modelos de gestão baseados
em premissas das empresas privadas (PAULA, 2005).
Nos mandatos do governo Lula, segundo Paula (2005), mesmo com as modificações
ocorridas na política educacional e adoção de políticas sociais para acesso, o gerencialismo se
manteve com suas métricas de eficiência e de resultados, passando-se a defender, inclusive, que
11
a universidade deveria adotar uma nova missão: promotora do desenvolvimento (CUNHA,
2007; ÉSTHER, 2016).
Os atuais projetos de modificação no contexto das universidades guardam estreita
relação com estas propostas, e vêm reforçando a tendência da suposta necessidade de adequação
da universidade aos requisitos das empresas inseridas no mercado, as quais buscariam
aproveitar o potencial de contribuição do conhecimento concentrado nas universidades para a
inovação como, segundo Melo (2002, p. 57), “(...) instrumento de atualização permanente (...)”
capaz de produzir valor que se concretizaria de forma financeira e/ou social.
Neste sentido, evidencia-se com Etzkowitz (1994) a Tripla Hélice, e com Clark (1998)
a corrente da Universidade Empreendedora, sendo estes significativos expoentes dos estudos e
das propostas de integração entre universidades e empresas como um movimento propulsor do
desenvolvimento econômico.
Por um lado, Etzkowitz (1994) propõe a relação dinâmica entre universidade, indústria
e governo como caminho para intensificar os processos inovativos e assim contribuir para o
desenvolvimento econômico regional. Por outro, Clark (1998) elabora o modelo de
Universidade Empreendedora como um projeto de manutenção e expansão da universidade a
partir do fortalecimento de suas competências, que foram divididas nas seguintes dimensões:
Núcleo de Direção Fortalecido, Periferia de Desenvolvimento Expandida, Base de
Financiamento Diversificada, Centro Acadêmico Estimulado e Cultura Empreendedora
Integrada. Este processo de robustecimento seria capaz de garantir sua sobrevivência, criar
conhecimentos úteis à indústria e assim influenciar diretamente no desenvolvimento econômico
regional e no avanço social, o que denota claramente a coerência entre os modelos da
Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) e da Tripla Hélice (ETZKOWITZ, 1994).
Apesar de tais argumentos já terem encontrado eco no contexto latino-americano e
brasileiro, inclusive sendo adotados por instituições de grande representatividade, como a
ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior),
que atualmente possui uma comissão direcionada ao estudo do empreendedorismo nas
Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES, 2015), é cabível que a análise da aplicação
destes modelos seja realizada sob a ótica da transdução descrita por Dagnino e Thomas (2001),
uma vez que as realidades em que tais teorias foram construídas diferem da latino-americana e,
assim, abrangem também instituições que não assumem a mesma identidade nestes diferentes
cenários, sendo, para este estudo, o governo, as empresas e a universidade são as que estão em
foco.
Na prática, o contexto econômico, social, legal e tecnológico em que se inserem as
instituições possui capacidade de influenciar no comportamento das mesmas, em seus
12
processos de funcionamento e interação e, consequentemente, no movimento de inovação
construído sob aquela conjuntura. Conforme afirmam Dagnino e Davyt (2011), uma dinâmica
existente em um determinado contexto somente consegue alcançar aplicabilidade em outro
quando é construída e exercida considerando o tecido de relações1 e o campo de relevância
atinentes a cada sociedade específica e não simplesmente quando busca reproduzir
acriticamente o que foi elaborado para outro contexto.
Na América Latina, surgem questionamentos sobre diversos aspectos referentes a essa
aproximação da universidade com o ambiente externo, como a discussão acerca do
financiamento das universidades pela iniciativa privada. Neste contexto, o assunto provoca
controvérsias e resistência, o que, nos países desenvolvidos, segundo Dagnino e Davyt (2011),
é prática comum, bem aceita e responsável por construir um “ciclo virtuoso” com ganhos para
ambas as partes envolvidas na interação, argumento reforçado por Ipiranga, Freitas e Paiva
(2010).
Tal conduta, quando da ocorrência em instituições públicas latino-americanas, começa
a criar inquietamentos sobre a real natureza da universidade pública, situação esta que foi
inclusive recentemente sinalizada pela discussão da Proposta de Emenda Constitucional 395/14
(PEC 395/14), a qual debate a possibilidade de cobrança nas universidades públicas para oferta
de cursos de extensão, pós-graduação lato sensu e mestrados profissionais.
A aprovação do texto-base desta proposta pelo Senado Federal em outubro de 2015
legitimando a cobrança pelos cursos supracitados gerou diversas manifestações de
descontentamento por parte de órgãos representativos, como a ANDIFES (2015), a Associação
Nacional de Pós-Graduandos (2016), a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas), os quais defendem a gratuidade do ensino público,
preceito presente no dispositivo 206 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Tais
manifestações resultaram na primeira modificação da PEC 395, a qual, na votação em Plenário
no Senado Federal em fevereiro deste ano, já excluiu a possibilidade de cobrança pelos cursos
de Mestrado Profissional.
Este conflito levanta uma questão muito mais ampla do que a busca pela gratuidade do
ensino público; ele pode estar demonstrando justamente as percepções do campo educacional
que demonstra não admitir o capitalismo acadêmico capaz de mercantilizar o ensino e o
conhecimento.
1 Segundo Dagnino e Davyt (2011), o termo “tecido de relações” corresponde aos conceitos utilizados para explicar
processos de mudança tecnológica que buscam abarcar a complexidade sociotécnica, como, por exemplo, o de
sistema nacional de inovação ou o de redes tecno-econômicas. O conceito de “sociotechnical ensembles” [Bijker,
1995] é um dos que guarda maior afinidade com o “tecido de relações”.
13
Ao afirmar que um dos seus princípios é a autonomia, disposição presente na
Constituição Federal em seu artigo 207 (BRASIL, 1988) e na Lei nº 9.394/96, denominada “Lei
de Diretrizes e Bases da Educação” (BRASIL, 1996), um dos pilares da educação brasileira
poderia ser diretamente afetado caso se permita que os financiamentos por parte de agentes
privados abra possibilidades para que eles interfiram ou determinem de alguma forma as
agendas de pesquisa ou até mesmo direcionem os cursos oferecidos.
Considerando que tanto a Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) quanto a
Tripla Hélice (ETZKOWITZ, 1994) levantam a possibilidade de outras fontes de financiamento
da universidade que não o próprio Estado, descortina-se aqui mais um fator capaz de denotar a
complexidade contextual de aplicação de tais modelos no Brasil. Neste sentido é que esse
trabalho buscará trazer suas contribuições, almejando compreender qual efetivamente está
sendo o caminho trilhado na estruturação desta relação, levantando, para isto, a situação
específica de uma universidade brasileira.
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
A partir do contexto apresentado, essa pesquisa foi direcionada no sentido de buscar
explorar como as três instituições estão se comportando frente ao movimento de fortalecimento
das tendências de integração entre as entidades universidade-empresa-governo. Assim, busca-
se alcançar a seguinte questão: como é concebida a relação universidade-empresa-governo no
caso da UFJF, a partir da perspectiva de cada ente da Tripla Hélice?
1.3 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
Levando em conta as correntes e reflexões até então apresentadas, este trabalho buscará,
como objetivo geral, compreender como é concebida a relação universidade-indústria-governo
no caso da Universidade Federal de Juiz de Fora, sendo que, para isto, será necessário:
Identificar, com base nas categorias “Base de Financiamento Diversificada”, “Núcleo
de Direção Fortalecido”, “Periferia de Desenvolvimento Expandida”, “Núcleo
Acadêmico Estimulado” e “Cultura Empreendedora Integrada”, se a UFJF tem sido
estruturada como uma universidade empreendedora;
14
Identificar a configuração e a dinâmica de interação entre a UFJF, a indústria e o
governo, a partir do discurso formal desses entes, bem como dos sujeitos que os
representam.
1.4 DELIMITAÇÃO
Este estudo foi construído com foco nas universidades públicas brasileiras, não
contemplando as demais instituições que atuam no setor de ensino que não assumem a
identidade de universidades ou que são pertencentes ao setor privado. Dessa maneira, por não
possuírem as características descritas no presente estudo de caso, os dados empíricos e téoricos
aqui apresentados podem até ser utilizados em pesquisas correlatas por estas instituições, porém
é necessário que sejam adaptados à sua realidade específica.
1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
O Capítulo 1 dessa pesquisa apresenta a introdução do trabalho que contempla, além da
presente seção, a contextualização do tema, o problema de pesquisa, os objetivos pretendidos e
as delimitações do trabalho. Este capítulo, ao descrever o contexto e demonstrar a importância
da pesquisa para o campo universitário, atua como um norteador para o restante do trabalho.
O Capítulo 2, por sua vez, contém a revisão da literatura. Nele é apresentado o panorama
da relação universidade-empresa no contexto latino-americano, bem como os modelos que
propõem esta aproximação, dentre os quais destacam-se o Triângulo de Sábato, a Tripla Hélice
e a Universidade Empreendedora. Analisando estas propostas, o capítulo contempla a revisão
de aspectos considerados favoráveis e outros descritos como distanciadores no âmbito da
relação universidade-empresa, buscando construir um painel sobre os pontos positivos e
negativos desta aproximação.
O Capítulo 3 contempla a metodologia aplicada à pesquisa, a qual foi de natureza
qualitativa, abordando um estudo de caso. Apresenta-se também o contexto sob estudo, e os
métodos de coleta e análise dos dados obtidos.
O Capítulo 4, por sua vez, é direcionado para a análise e discussão dos resultados.
Através dele, será possível compreender e explorar empiricamente os temas que são objeto
desta pesquisa.
O Capítulo 5 contempla as considerações finais do trabalho, a indicação quanto ao
atendimento dos objetivos propostos, bem como as perspectivas abertas para realização de
pesquisas futuras. Por fim, apresentam-se as referências utilizadas no estudo.
15
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA NO CONTEXTO LATINO-
AMERICANO
A interação entre universidade e empresa corresponde a uma questão que vem sendo
abordada de forma recorrente, sendo que, no cenário latino-americano, essa discussão tomou
corpo desde a década de 1950, protagonizada por autores da área de Ciência, Tecnologia e
Sociedade (CTS), como Sábato e Botana (1968) e Herrera (1995).
Segundo Herrera (1995), já a partir da Segunda Guerra Mundial começaram a ser
implementados esforços no sentido de promover a capacidade científica e tecnológica dos
países subdesenvolvidos, o que se reforçou a partir de 1975 com ações de cunho político e
também financeiro protagonizadas por orgãos internacionais, como as Nações Unidas, a OEA
(Organização do Estados Americanos) e o Banco Internacional de Desenvolvimento.
Entretanto, a atuação de agentes privados pertencentes às nações desenvolvidas também passou
a ocorrer no intuito de incrementar o progresso científico e tecnológico do “Terceiro Mundo”.
A atividade de fomento ao desenvolvimento científico se manifestou de diversas formas,
inclusive pela ajuda direta caracterizada por “(...) doações e empréstimos especiais de
equipamento científico, subsídios para projetos específicos de pesquisa, envio de pessoal
qualificado para participar na formação de novas equipes de assessoramento para a formulação
da política científica (...)” (HERRERA, 1995, p. 3).
No entanto, apesar dos esforços empregados, ao analisar o resultado dessas empreitadas,
não se encontram indicativos de sucesso. Isso se deve, segundo Herrera (1995), a fatores como
o baixo investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no contexto dos países latino-
americanos que direcionavam em torno de 0,2% de seu PIB para essas atividades, enquanto
outros com PIB semelhante ou até mesmo menor, como Israel e China, investiam entre 1 e 2,2%
em ciência e tecnologia.
Adicionalmente, pode-se ainda atribuir o baixo impacto das iniciativas anteriormente
elencadas devido à suposta desconexão entre os direcionamentos de P&D e a sociedade em que
se inserem. Segundo Herrera (1995, p. 03):
Nos países desenvolvidos, com efeito, a maior parte do P&D se realiza em relação a
temas que direta ou indiretamente estão conectados com seus objetivos nacionais,
sejam estes de defesa, de progresso social, de prestígio, etc. O progresso científico se
reflete de forma imediata em sua indústria, em sua tecnologia agrícola e, em geral, no
contínuo incremento da produção. Na América Latina, ao contrário, a maior parte da
16
investigação científica que se realiza guarda muito pouca relação com os problemas
básicos da região. Esta falta de correspondência entre os objetivos da investigação
científica e as necessidades da sociedade é uma característica distintiva do
desenvolvimento ainda mais importante que a escassez de pesquisa e é, por outro lado,
suficientemente conhecida para que não seja necesário demonstrá-la.
Neste sentido, Herrera (1995) atribui o escasso ou até mesmo estancado
desenvolvimento científico e tecnológico das nações subdesenvolvidas principalmente à falta
de interação entre estas iniciativas e as reais demandas da sociedade onde elas se inserem, sendo
que, algumas vezes, estes esforços são vistos como mais coerentes até mesmo com as linhas
adotadas pelos países desenvolvidos devido à influência que eles exercem sobre a atividade dos
centros de pesquisa por serem fonte de boa parte de seus fundos de financiamento, dentre outros
fatores que podem aumentar seu potencial de interferência.
Este autor destaca ainda que, considerando o perfil de Pesquisa & Desenvolvimento
(P&D) presente nas empresas da América Latina, o próprio estilo de desenvolvimento
econômico e social local foi capaz de exercer poder limitador no nível de integração dos
sistemas de P&D, devido à baixa demanda por conhecimento.
Ao visualizar o panorama atual de investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento,
ainda é perceptível a discrepância entre os países e regiões no sentido que Herrera (1995)
destaca, como pode-se observar no mapeamento abaixo realizado com base em dados da
UNESCO (Fig. 1).
Figura 1 - Percentual do PIB gasto em P&D no mundo em 2007
Fonte: Adaptado de Teixeira (2012)
Enquanto o Brasil apresentava investimentos em P&D representando 1,095% de seu
Produto Interno Bruto (PIB) e sendo considerados crescentes já neste quantitativo, a Coreia do
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Sul destinou 3,21% do PIB, alcançando a participação de 3,4% no total mundial de dispêndios
brutos em P&D, enquanto o Brasil representou 2,1% neste mesmo ano (UNESCO, 2015).
Percebe-se ainda um indicativo do que Herrera (1995) afirmou sobre o estilo de
desenvolvimento local ao analisar que países como Alemanha, Coreia do Sul e China
apresentam altos índices de financiamento de suas atividades de P&D provenientes do setor
privado, sendo 66%, 73% e 75%, respectivamente, enquanto Rússia, Argentina e Brasil, dentre
outras nações, demonstram dependência direta da injeção de recursos públicos, sendo este
capital responsável por, respectivamente, 73%, 69% e 53% do financiamento de P&D nestes
países. Segundo a UNESCO (2015), “[...] a participação da GERD2 executada pelo setor
empresarial (BERD3) tende a ser maior nas economias com mais foco na competitividade de
base tecnológica da indústria [...]”.
Ao analisar evolutivamente o panorama de investimento em P&D, obtém-se o cenário
apresentado pela Tabela 1. Ao se comparar o desempenho da América Latina com a América
do Norte percebe-se que, em termos de investimento, de 2007 a 2013, a América Latina
aumentou em aproximadamente 41,2% o montante, enquanto a América do Norte, somente
11,6%. No entanto, ainda assim, ao comparar o valor investido por ambas, a quantia direcionada
pela América Latina que, em 2007, representava 9,3% do total investido pela América do Norte,
em 2013, aumentou para apenas 11,7%, o que, apesar de demonstrar um crescimento, denota
ainda uma grande diferença.
Analisando especificamente o Brasil em contraste com outras nações que têm
representatividade significativa no montante de P&D mundial, o país investe apenas 8,2% se
comparado aos Estados Unidos e 10,8% se comparado à China. Entretanto, merece destaque o
fato de que, no período analisado, o Brasil expandiu em 31% esses investimentos, o que, por
um lado, denota seu empenho em direcionar esforços neste sentido, mas, por outro, ao ser
comparado com a China, que aumentou em 150% seu montante investido, demonstra que o país
ainda necessita de mais projetos nesta direção.
2 Dispêndios brutos em P&D. 3 Participação do GERD executada pelo campo empresarial.
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Tabela 1- Evolução mundial do investimento em P&D (2007, 2009, 2011 e 2013)
Fonte: UNESCO (2015, p.8)
Para compreender esse distanciamento de desempenho entre o Brasil e as demais
nações, é essencial que se explorem suas possíveis causas, dentre as quais pode ser enumerada
a atuação da universidade, um dos atores centrais neste processo devido ao seu potencial de
criação e inovação. Assim, um aspecto essencial para tornar possível a compreensão deste
interação consiste então na busca pelo entendimento acerca da colaboração da universidade
com o ambiente produtivo e vice-versa, sendo que, para isso, é preciso, em primeiro plano,
19
trazer à tona a atuação e as transformações ocorridas no papel da universidade com o decorrer
das mudanças socioeconômicas do ambiente em que se insere, sendo que aqui estará em foco o
contexto brasileiro.
2.2 AS MUDANÇAS DA UNIVERSIDADE NO CENÁRIO BRASILEIRO
Desde os primeiros ímpetos de criação da universidade no Brasil, o movimento foi
marcado por diversas crises, as quais, segundo Torgal (2010), são características das sociedades
em movimento, sendo assim primordiais para o processo de transição entre uma situação e
outra. No Brasil, elas foram representadas pelas inúmeras reformulações e reformas para a
adequação dessa instituição aos diferentes cenários que se apresentaram.
A primeira universidade implementada no país foi a chamada “URJ” (Universidade do
Rio de Janeiro), em 1920. Porém, antes da proclamação da República, já haviam movimentos
com este objetivo, sendo que a última tentativa ocorreu em 1881, quando o que se conseguiria
seria um modelo de universidade de “(...) caráter centralista, subordinando a futura universidade
ao ministro” (TORGAL; ÉSTHER, p. 126, 2014).
Esta exigência de controle da instituição demonstrava a visão de Portugal sobre a função
política que a educação é capaz de exercer, motivando transformações e mudanças culturais, o
que não era de forma alguma coerente com os ideiais do Império, a quem interessava, acima de
tudo, manter o status quo de dominação e subserviência da colônia.
Com a República sendo proclamada em 1889, o presidente do governo provisório,
Marechal Deodoro da Fonseca, percebe a premente necessidade de reconstrução do ensino
diante da realidade de uma população com 70% de analfabetos frente à implantação de um
regime democrático que não concedia o direito de voto àqueles que estavam nesta condição.
Sendo assim, os esforços foram inicialmente dedicados ao nível básico.
No entanto, com a renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca, os demais presidentes até
Nilo Peçanha, nos idos de 1909, passaram a destacar a necessidade de investimento no ensino
profissional capaz de capacitar a mão de obra livre. Neste sentido, Prudente de Morais afirmou
que “São idéias triunfantes em todos os países, onde a instrução tem merecido particular
cuidado, o ensino objetivo ou intuitivo e prático, com exclusão, tanto quanto possível, de teorias
sem aplicação imediata à vida social [...]” (MEC; INEP, 1987, p. 26).
Desta forma, percebe-se a valorização do ensino de apelo prático, capaz de contribuir de
forma direta e indubitável para o desempenho da lógica mercadológica, sendo tomada como
sem valor qualquer contribuição no sentido da construção do conhecimento como uma
finalidade em si mesma. A educação é vista, então, como importante maneira de instruir a
20
população no que tange à prática das profissões para que, assim, estas possam contribuir
diretamente para a atividade econômica do país. Atualizando-se este argumento para o contexto
atual, esse tipo de ensino seria denominado como “ensino instrumental” (CHAUÍ, 1999).
No rol das prioridades dos governos inseridos em um cenário de atividade
predominantemente agrária, encontra-se a instalação das escolas de artíficies em vários estados
como saída para qualificação da mão de obra, inclusive rural, através dos Institutos Técnicos
Profissionais. Somente em 1910, vinte e um anos após a Proclamação da República, surge com
o Marechal Hermes da Fonseca, mesmo que incipiente, o cuidado com um outro viés da
educação, conforme se pode observar no pronunciamento feito por ele:
(...) é necessário reorganizar o ensino, principalmente, no sentido de: dar autonomia
ao ensino secundário, libertando-o da condição subalterna de mero preparatório de
ensino superior; organizá-lo de maneira a fazê-lo eminentemente prático, a fim de
formar homens capazes para todas as exigências da vida social, ao mesmo tempo que
aptos, caso queiram, para seguir os cursos especiais e superiores; criar programas que
desenvolvam a inteligência da juventude e não que a aniquilem por uma sobrecarga
de estudos exageradamente inútil e, por isso, antes nociva do que proveitosa (...)
Particular atenção dedicarei ao ensino técnico profissional, artístico, industrial e
agrícola que, ao par da parte propriamente prática e imediatamente utilitária,
proporcione também instrução de ordem ou cultura secundária, capaz de formar o
espírito e o coração daqueles que amanhã serão homens e cidadãos. (MEC; INEP,
1987, p. 49)
Assim, se manifesta, pela primeira vez, a preocupação com a educação como instrumento
capaz de “(...) formar o espírito e o coração (...)”, atribuindo, desta forma, um papel mais amplo
ao ensino do que a pura preparação para uma profissão, foco que não deixa de existir, mas que,
ao que indica em sua mensagem, seria levado de forma paralela à formação dos alunos como
seres pensantes dotados de capacidade analítica. Entretanto, ao verificar suas manifestações nos
anos seguintes, percebe-se que seria realmente somente um pequeno impulso que se perdeu
com a ainda muito presente visão da necessidade de capacitação de mão de obra.
Neste momento marcado também pela Reforma Rivadávia4, a qual, segundo Torgal e
Ésther (2014), bem como Cury (2009), afirmam ter sido mais danosa que proveitosa, alguns
estados, diante do pressuposto da liberdade de ensino, perceberam então a oportunidade de criar
suas universidades estaduais, o que ocorreu no Amazonas (1909), em São Paulo (1911) e no
4 Segundo Cury (2009), a Reforma Rivadávia abrangeu o período entre 1911 e 1915 e, “Por meio dela, o governo
do presidente Hermes da Fonseca, tendo como seu ministro da Justiça o jurista Rivadávia Corrêa, ambos
seguidores da doutrina positivista, buscaram o fim do status oficial do ensino.” (CURY, 2009, p. 717). Tomando
como base a interpretação por eles realizada de um artigo da Constituição de 1891, através de um decreto, o
governo federal determinou que as escolas, tanto de ensino secundário quanto de ensino superior, iriam perder seu
status de oficial e se tornariam entidades corporativas autônomas. Dessa forma, o Estado não mais detém “(...) a
titularidade do monopólio da validade oficial dos diplomas e certificados e tal prerrogativa passa a ser dessas
entidades.” (CURY, 2009, p. 717). Assim, ocorreu o que se denominou como a desoficialização do ensino
(TORGAL; ÉSTHER, 2014).
21
Paraná (1912). Nesta época, também se multiplicaram as escolas de ensino privado, o que
deixou clara a tendência de privatização da educação neste período entre 1911 e 1914.
Posteriormente a esta reforma, veio, em 1915, o decreto nº 11.530, de 18 de março de
1915, que reorganizou o ensino secundário e o superior na República, reativando a questão da
vinculação com a União para as autorizações e criações de instituições. É neste sentido que tal
decreto estabeleceu em seu artigo 6º que a competência para criação de universidades seria
exclusiva do governo federal, como segue transcrito abaixo:
Art 6º O Governo Federal, quando achar oportuno, reunirá em Universidade as
Escolas Politécnica e de Medicina do Rio de Janeiro, incorporando a elas uma das
Faculdades Livres de Direito dispensando-a da taxa de fiscalização e dando-lhe
gratuitamente edifício para funcionar. (BRASIL, 1915)
Cria-se então a que foi denominada efetivamente como a primeira universidade do país
em 1920: a Universidade do Rio de Janeiro. As anteriormente citadas de âmbito estadual não
receberam o título de pioneiras devido ao fato de seus diplomas não possuírem validade real
(TORGAL; ÉSTHER, 2014).
Após a edição deste decreto, manifestou-se a preocupação com a formalização de um
plano definitivo para o ensino, que seria, no entanto, um plano permanente e formal para a
educação no sentido de novamente reafirmar a percepção do papel do ensino como ferramenta
de capacitação de pessoal. Neste sentido, afirma o então presidente Epitácio Pessoa, que ocupou
o cargo até 1922:
[...] é o ensino público, em todos os seus graus, elemento básico e primordial da
grandeza e prosperidade da Nação. Do preparo eficiente dos cidadãos dimanam a
regularidade e perfeição de todos os serviços, o aproveitamento das riquezas
naturais do solo, o desenvolvimento da fortuna nacional, em suma, o progresso e
o renome da Pátria sob todos os aspectos material, intelectual e moral. O Governo
da União não pode nem deve conservar-se impassível ante os prejuízos decorrentes
da falta desse preparo. Urge providenciar contra os efeitos do analfabetismo
dominante em muitos Estados da República, os quais, por falta de recursos próprios,
estão deixando sem remédio eficaz esse grande mal e contribuindo, assim, para
agravar cada vez mais o nosso atraso social e político. (Grifo nosso) (MEC; INEP,
1987, p.79-80)
Atribui-se, desta forma, o atraso social, político e econômico à falta de preparo de mão
de obra. Seria esta a visão a ser difundida muitas décadas depois por diversos autores, dentre
os quais se destaca neste trabalho Etzkowitz (1994), ao defender a atuação integrada da
universidade com a indústria e o governo com agente de desenvolvimento econômico.
Artur Bernardes, presidente na época de 1922 a 1926, período da reforma educacional
seguinte, reconduziu ao seu discurso aquela preocupação uma vez demonstrada pelo ex-
presidente Marechal Hermes da Fonseca quanto à educação abranger mais do que apenas
ensinamentos de ordem prática. Desta forma, Bernardes se dirige ao Congresso afirmando que:
22
O problema da instrução é o mais relevante para qualquer povo. A cultura geral é a
base do progresso moral e econômico. Descurar o ensino ou sofisma-lo, em qualquer
dos seus graus, é empecer o progresso da nação. Nem se diga que a tendência
moderna é para menosprezar a cultura literária, fazendo-a ceder o passo ao
aprendizado prático das ciências aplicadas. Certamente à tecnologia cabe lugar
relevante na educação dos povos que marcham na dianteira da civilização, mas
fora erro afirmar que o estudo das humanidades deve ser hoje considerado
desperdício de tempo. Nos países tidos como “práticos” e que se assinalam pelo seu
grande desenvolvimento industrial, é onde, exatamente, vemos cultivados, com mais
apreço e profundeza, os estudos clássicos. (...) Em síntese, o que inspirou essa reforma
foi o desejo de moralizar e tornar eficiente o ensino, pela ampliação dos estudos
propedêuticos de humanidades (...) Era evidente que uma legislação nova, com
semelhante finalidade, havia de despertar a oposição de quantos preferissem, de
acordo com seus interesses pessoais de momento, permanecer sob o regime antigo,
que foi revogado precisamente porque se reconheceu não mais corresponder às
exigências de ensino, e tampouco aos nossos foros de cultura [...] (MEC; INEP, 1987,
p. 95-96)
Entretanto, não houve muito tempo para que tal esforço fosse implementado, uma vez
que, em 1930, com o golpe de estado, assume Getúlio Vargas, com a intenção de instalação da
denominada “Universidade Técnica” (FRANCO; MOROSINI, 2011).
Prevalece, portanto, a visão de que educação superior deveria ser do tipo utilitário e
restrito às profissões, deixando-se de lado sua função de formadora da cultura nacional
e da cultura científica desinteressada (TEIXEIRA, 1989). Em outras palavras, quando
criada, a universidade significa formação para o trabalho e para o mercado [...]
Interessa, portanto, a ideia de universidade profissional. É assim que Getúlio Vargas,
em 1930, irá propor, final e claramente, o conceito de universidade técnica, dentro da
lógica autoritária que irá marcar seu governo. (TORGAL; ÉSTHER, 2014, p. 159)
A partir de então, a realidade universitária brasileira foi marcada por aberturas e
fechamentos de universidades, criação de universidades privadas, abertura da primeira
universidade brasileira assim concebida (a Universidade de Brasília – UnB), ao mesmo tempo
em que, com a Segunda Guerra, tomaram importância os esforços de pesquisa que culminaram
com a estruturação de entidades como o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e a Campanha
para Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES). O ideal de formação
profissional para capacitação técnica continuou a inspirar o ensino universitário, inclusive na
época da Ditadura Militar, quando ganhou espaço a Teoria do Capital Humano (TORGAL;
ÉSTHER, 2014).
Logo após a queda do regime militar, o Brasil aprova sua nova Constituição em 1988
(CF/88), que traz alguns princípios basilares para a área de educação e para a atuação da
universidade. A CF/88 estabelece em seu artigo 205 que “A educação, direito de todos e dever
do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a qualificação
para o trabalho” (BRASIL, 1988).
23
Assim, passa a receber destaque a questão da formação do indivíduo enquanto cidadão,
e não apenas de sua capacitação para o exercício de uma atribuição operacional ou tecnicista,
capacidade que é também considerada pelo dispositivo mas que não restringe o papel da
educação.
No que tange à universidade, o artigo 206 delimita que “As universidades gozam de
autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão
ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988).
Neste sentido, posteriormente reforçou ainda a Lei nº 9394/96, conhecida como Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, complementando o direcionamento legal da autonomia ao
afirmar em seu artigo 53 que:
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem
prejuízo de outras, as seguintes atribuições:
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior
previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
respectivo sistema de ensino;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais
pertinentes;
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística
e atividades de extensão;
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade institucional e as exigências
do seu meio;
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em consonância com as normas
gerais atinentes;
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
VII - firmar contratos, acordos e convênios;
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a
obras, serviços e aquisições em geral, bem como administrar rendimentos conforme
dispositivos institucionais;
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma prevista no ato de
constituição, nas leis e nos respectivos estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação financeira resultante
de convênios com entidades públicas e privadas. (BRASIL, 1988)
Dessa forma, a partir da interpretação literal da letra da lei, seria factível depreender que
a autonomia universitária brasileira é plena, uma vez que a instituição goza de poderes absolutos
para realizar a administração de sua atividade. No entanto, esta interpretação, segundo Durham
(1989), não é a mais adequada ao se tratar de entidades do Estado ou da Sociedade Civil, uma
vez que estas são criadas para cumprir fins sociais pré-definidos.
Assim, a autonomia universitária brasileira não deveria ser confundida com soberania,
já que aquela determina que a instituição “[...] é restrita ao exercício de suas atribuições e não
tem como referência o seu próprio benefício, mas uma finalidade outra, que diz respeito à
sociedade” (DURHAM, 1989, p.2).
24
Para que se garanta a consecução destes fins, no Brasil são elaborados direcionamentos
por parte do poder legislativo, do poder executivo e de seus órgãos, como o Ministério da
Educação (MEC), no sentido de indicar procedimentos de organização dos cursos de graduação,
formas de alocação dos recursos, dentre outros trâmites que permitem a constatação de que esta
autonomia é relativa, uma vez que se refere à capacidade da instituição se reger por suas normas
próprias desde que estas sejam coerentes com os fins sociais aos quais se destina e às
regulamentações superiores que a atingem. Umas dessas regulamentações consiste no Plano
Nacional da Educação (Lei 13.005/14), referenciado no artigo 214 da CF/88. Este dispositivo
estabelece que:
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o
objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e
definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a
manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e
modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas
federativas que conduzam a:
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do produto interno bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 59, de
2009)
Com relação ao financiamento, a Constituição de 1988 trouxe também direcionamentos,
os quais estão presentes em seu artigo 212, que delimita o percentual mínimo de aplicação de
recursos provenientes de impostos para o desenvolvimento do ensino nas esferas federal,
estadual e municipal. Estas regulamentações, segundo Panizzi (2014), construíram, em termos
econômicos, políticos e ideológicos, uma universidade durante muitas décadas subserviente aos
interesses do Estado e do Governo, já que as políticas de financiamento e ampliação estiveram
sendo por eles delimitadas, como, por exemplo o REUNI, Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, que visou o aumento do número de
vagas para ingresso, redução da evasão, dentre outras medidas.
Chauí (2014), ao analisar a construção e as mudanças atinentes à universidade, constrói
um panorama sobre a universidade brasileira alocando seu desenvolvimento em três fases: i.
universidade funcional; ii. universidade pautada em resultados; iii. universidade operacional.
Nas palavras da autora, esta fases seriam assim caracterizadas:
A universidade funcional, dos anos 70, foi o prêmio de consolação que a ditadura
ofereceu à sua base de sustentação político-ideológica, isto é, a classe média
despojada de poder. A ela foram prometidos prestígio e ascensão social por meio do
diploma universitário. A universidade de resultados, dos anos 80, foi aquela gestada
25
pela etapa anterior, mas trazendo duas novidades. Em primeiro lugar, a expansão para
o ensino superior da presença crescente de escolas privadas, encarregadas de
continuar alimentando o sonho social da classe média; em segundo lugar, a introdução
da ideia de parceria entre as universidades públicas e as empresas privadas. A
universidade operacional de nossos dias que difere das formas anteriores (...) [E, esta,]
voltada diretamente para o mercado de trabalho (...) Regida pelos contratos de gestão,
avaliada por índices de produtividade, calculada para ser flexível, a universidade
operacional está estruturada por estratégias e programas de eficácia organizacional e,
portanto, pela particularidade e instabilidade dos meios e dos objetivos (CHAUÍ,
2014, p. 5-6)
Assim, esta autora manifesta sua percepção crítica acerca do caminho percorrido pela
universidade brasileira até os dias de hoje, sendo ressaltado que, em todos os momentos, esta
instituição teve sua autonomia enfraquecida: no primeiro período, pelo governo; no segundo
pelas empresas; e no terceiro, pela lógica mercadológica entronizada em seu funcionamento.
Na realidade, a universidade operacional descrita por Chauí (2014) foi articulada com a reforma
gerencial responsável por trasladar para a administração pública a lógica de gerenciamento
privado, com a instituição de objetivos ligados a: “[...] indicadores de desempenho para avaliar
resultados e níveis de satisfação de clientes (internos e externos); e estimular a criatividade, o
trabalho em equipe, a cooperação e a participação dos servidores públicos” (PAULA, 2005, p.
131), marca do governo Fernando Henrique Cardoso iniciado em 1995.
O governo FHC implementou ainda ações que estimulavam a articulação do poder
público com a iniciativa privada, como os Fundos Setoriais e a Lei de Inovação Tecnológica
com oportunidades para as empresas utilizarem as instalações de laboratórios universitários,
bem como para os pesquisadores da universidade atuarem em projetos inovativos
comercializáveis (TORGAL; ÉSTHER, 2014).
Dessa maneira, já se encontravam indicativos de coerência em alguma extensão com o
movimento de integração universidade-empresa-governo, que se fortaleceu com a universidade
operacional e o gerencialismo. Conforme Silva, Martins e Ckagnazaroff (2013, p. 251):
O advento da Administração Pública Gerencial (APG) ou New Public Management
(NPM), a partir dos anos 1980, trouxe uma nova abordagem para a gestão pública ao
implementar ferramentas gerenciais até então utilizadas apenas na esfera privada,
enfatizando a eficiência e o resultado (HOOD, 1995; PACHECO, 2010; SECCHI,
2009). A APG pode ser entendida como um modelo pós-burocrático e está inserida
nos quadros de reformas da administração pública (SECCHI, 2009). A nova gestão
pública gerou forte mudança na cultura das organizações, invertendo a antiga
orientação de inputs (entradas) para outputs (resultados).
A universidade pública brasileira até então vista como anacrônica, ineficiente e
desperdiçadora de recursos, ao ser inserida nesta nova lógica de funcionamento, passaria a ter
seu desempenho avaliado de forma semelhante a uma empresa, neste caso, prestadora de
serviços tanto para a iniciativa pública, quanto para a iniciativa privada, dinâmica
26
caracterizadora da crise institucional da universidade. O efeito disto sobre a autonomia é
assolador, pois
[...] a instituição universitária perde uma das características definidoras de sua
identidade institucional, a autonomia, a qual é transferida para outra instância que não
a própria universidade. Ela passa a ser considerada uma prestadora de serviços que,
embora não orientada para o lucro, passa a ser determinada por decisões externas e
condicionada a um contrato de prestação de serviços, em que a instituição é, na
prática, obrigada a aderir para receber os recursos. (TORGAL; ÉSTHER, p. 200,
2014)
Ao buscar a reprodução de comportamentos da empresa na universidade, sendo estas
duas instituições com características e modos de operação díspares (PANIZZI, 2014), a crise
institucional se constitui. Segundo Boaventura Santos (1995), tal crise ocorre justamente
quando uma nova lógica de funcionamento tida como mais eficiente é entronizada numa
instituição que teve seu modelo administrativo questionado. Na universidade brasileira, isto foi
observado em um cenário de progressivo desinvestimento público na educação superior e
crescente mercantilização do ensino, reflexo da adoção do modelo de desenvolvimento
neoliberal.
Segundo Paula (2005), mesmo com as mudanças na política educacional e a ampliação
do acesso ao ensino superior nos mandatos do governo Lula, manteve-se a abordagem do
gerencialismo, sendo defendido, inclusive, que a universidade adotasse uma nova missão:
promotora do desenvolvimento (CUNHA, 2007; ÉSTHER, 2016).
Neste sentido, à época do governo Lula, foi sancionada a lei 10.973/04, conhecida como
Lei da Inovação, elaborada com o intuito de estabelecer incentivos à inovação e à pesquisa
científica e tecnológica capazes de favorecer a autonomia tecnológica e o desenvolvimento do
sistema de produção nacional. Com ela, houve o incentivo formal à aproximação entre
empresas, instituições de ciência e tecnologia e universidades para, juntas, desenvolverem
inovações.
Com a atribuição da nova missão à universidade, toma força nesse momento a discussão
acerca das contribuições da universidades para a sociedade, partindo-se do reconhecimento de
que havia um relacionamento claro entre a atuação desta instituição e o desenvolvimento
econômico e social, premissa reforçada quando do governo Dilma, no qual foi sancionado o
novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação, através da Lei 13.243/16, além de instituídas
medidas e programas como a EMBRAPII (EMBRAPII, 2016a) e o Brasil Mais Produtivo
(Brasil Mais Produtivo, 2016).
A Lei 13.243/16 trouxe modificações para a Lei da Inovação (Lei 10.973/04), para as
determinações sobre isenções e reduções no Imposto de Importação (Lei 8.010/90), para o
regime de dedicação exclusiva dos professores do ensino superior público (Lei 12.772/12), para
27
as permissões de pesquisadores estrangeiros (Lei 6.815/80), dentre outras legislações
anteriormente sancionadas, sendo as mudanças implementadas no sentido de facilitar a
aproximação entre a universidade e a estrututura produtiva como forma de aumentar a
competitividade das empresas e contribuir para o desenvolvimento de inovações.
Destacam-se assim algumas mudanças na Lei 10.973/04, à qual foram incluídas
determinações tais como: o estímulo à cooperação entre o setor público e privado; o incentivo
à criação e instalação de parques e polos tecnológicos no Brasil e a busca pela competitividade
empresarial tanto no mercado nacional quanto no internacional. O artigo 4º desta lei passou a
determinar, conforme as modificações implementadas pela Lei 13.243/16, que:
Art. 4º. A ICT pública poderá, mediante contrapartida financeira ou não financeira e
por prazo determinado, nos termos de contrato ou convênio:
I - compartilhar seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais
instalações com ICT ou empresas em ações voltadas à inovação tecnológica para
consecução das atividades de incubação, sem prejuízo de sua atividade finalística;
II - permitir a utilização de seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais
e demais instalações existentes em suas próprias dependências por ICT, empresas ou
pessoas físicas voltadas a atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, desde
que tal permissão não interfira diretamente em sua atividade-fim nem com ela
conflite;
III - permitir o uso de seu capital intelectual em projetos de pesquisa, desenvolvimento
e inovação. (BRASIL, 2016)
Aos entes federativos se concedeu a permissão para participar, ainda que
minoritariamente, do capital social de empresas que tenham como objetivo o desenvolvimento
de processos ou produtos inovadores. À Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT)
outorgou-se a possibilidade de prestar serviços técnicos especializados tanto para instituições
públicas quanto para instituições privadas, com o intuito de conferir maior competitividade às
empresas, sendo que os profissionais envolvidos neste contrato poderão receber bolsas como
contrapartida de seus serviços (BRASIL, 2016).
Adiciona-se a este panorama de novas permissões para vínculos entre universidades
públicas e instituições privadas a Proposta de Emenda Constitucional nº 55, que institui o Novo
Regime Fiscal. Já aprovada na Câmara em 25 de outubro de 2016, esta PEC propõe o
congelamento dos gastos públicos nas áreas de saúde e ensino pelos próximos vinte anos
(BRASIL, 2016), o que pode se constituir como mais um fator favorável a aproximação das
instituições de ensino superior da iniciativa privada sendo, neste cenário, com o intuito de
conseguir complementações para o financiamento de suas atividades.
Em harmonia com estes novos ímpetos de integração, observou-se em 2013 a iniciativa
de criação da EMBRAPII, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, caracterizada
como Organização Social do Poder Público Federal. Seu financiamento é proporcionado em
28
partes iguais pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTIC e
pelo Ministério da Educação – MEC (EMBRAPII, 2016a).
A EMBRAPII foi estruturada no sentido de construir relações sinérgicas entre empresas
industriais e instituições de pesquisa tecnológica capazes de fortalecer o potencial inovativo
brasileiro. Desta forma, sua missão corresponde a “contribuir para o desenvolvimento da
inovação na indústria brasileira através do fortalecimento de sua colaboração com institutos de
pesquisas e universidades” (EMBRAPII, 2016b).
A EMBRAPII atua por meio da cooperação com instituições de pesquisa científica e
tecnológica, públicas ou privadas, tendo como foco as demandas empresariais e como
alvo o compartilhamento de risco na fase pré-competitiva da inovação. Ao
compartilhar riscos de projetos com as empresas, tem objetivo de estimular o setor
industrial a inovar mais e com maior intensidade tecnológica para,
assim, potencializar a força competitiva das empresas tanto no mercado interno como
no mercado internacional. (EMBRAPII, 2016a)
Assim, quando da demanda por um projeto na EMBRAPII, que trabalha com fluxo
contínuo, ela aporta, no máximo, um terço dos recursos necessários para o desenvolvimento do
mesmo, sendo que os demais dois terços são divididos entre o Polo/Unidade EMBRAPII e a
empresa envolvida. Os polos e unidades da EMBRAPII são preparados em termos de
infraestrutura e de equipe para atendimento das demandas por inovação. Atualmente, o país
apresenta 28 destes pólos, como demonstrado no Quadro 01.
29
Quadro 1 - Polos e Unidades EMBRAPII
CNPEM
Embrapa Agroenergia
IPT BIO
REMA/UFSC
Mecânica e Manufatura
Materiais e Química
Tecnologias Aplicadas
Biotecnologia
COPPE/UFRJ
LAMEF/UFRGS
IF Fluminense
IFBA - Salvador
INT
IPT MAT
SENAI Polímeros
POLI/USP
IFES - Vitória
CERTI
SENAI/CIMATEC
ITA
FIMEC/UFU
POLO/UFSC
INATEL
Área de Competência Tecnológica Polos e Unidades
Tecn. de Informação e Comunicação
UFCG/CEEI
LACTEC
ELDORADO
IFCE - Fortaleza
IFMG - Formiga
DCC-UFMG
CPqD
CESAR
TECGRAF/PUC-Rio
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da EMBRAPII (EMBRAPII, 2016b)
Esta vinculação da universidade com o setor produtivo como motor de inovação guarda
estreita relação com as correntes que defendem a aproximação da universidade com a empresa,
como a universidade empreendedora proposta por Clark (1998). Ipiranga, Freitas e Paiva (2010,
p. 678) afirmam que:
(...) a Universidade passa a ser o lócus de criação e apoio a um sujeito apto a
revolucionar um sistema de produção. As mudanças decorrentes de tais inovações
seriam a força fundamental de desenvolvimento da economia dos países.
Estes ímpetos de um relacionamento de integração entre universidade e empresa estão
presentes no contexto mundial como propostas de promoção de desenvolvimento econômico e
social das nações há um período considerável. Assim, passa-se ao estudo de três desses modelos
que alcançaram maior representatividade.
30
2.3 OS MODELOS DE INTEGRAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E O AMBIENTE
EXTERNO
2.3.1 O Triângulo de Sábato
No contexto da América Latina, a abordagem de Sábato e Botana (1968) toma
importância. Cientes das dificuldades apresentadas pelos países desta região para promover a
inovação científico-tecnológica devido à ausência de tradição e escassez de recursos materiais
e humanos, dentre outros fatores, propuseram um modelo que valoriza a interrelação entre a
estrutura produtiva, o governo e a infraestrutura científico-tecnológica como forma de
proporcionar o desenvolvimento tecnológico e superar o subdesenvolvimento da América
Latina. Este modelo é representado pelo denominado “Triângulo de Sábato”, representado na
Figura 02.
Figura 2 - O Triângulo de Sábato
Fonte: SÁBATO; BOTANA (1968, p. 7)
Nesta concepção, o vértice “estrutura produtiva” abrange os setores produtivos que
oferecem os serviços e bens requisitados pela sociedade, enquanto o vértice “infraestrutura
científico-tecnológica” representa o sistema educacional, incluindo ainda a infraestrutura de
laboratórios e centros de pesquisa, o sistema de planejamento e estímulo à pesquisa e os
mecanismos jurídico-administrativos que regulamentam as atividades de pesquisa, além dos
recursos financeiros destinados ao seu funcionamento. O vértice “governo”, por sua vez,
abrange o conjunto de instituições às quais são atribuídas a elaboração e implementação de
políticas públicas, bem como o provisionamento dos recursos necessários aos outros dois
vértices por meio de sua atuação legislativa e administrativa (SÁBATO; BOTANA, 1968).
31
Nesta abordagem, a infraestrutura científico-tecnológica recebe destaque dos autores
como elemento diferencial entre as nações desenvolvidas e subdesenvolvidas. A esta
infraestrutura, organizada de forma sustentatada, séria e permanente, é atribuída a capacidade
de transformação e evolução de uma nação, bem como de sua participação ativa no
desenvolvimento social, político e cultural do mundo no futuro.
Na visão de Sábato e Botana (1968, p. 02-03), o desenvolvimento científico tecnológico
consiste no instrumento capaz de “[...] promover novas relações de igualdade entre as nações e
as regiões, de modo que o desenvolvimento dos países marginalizados permita uma redefinição
da atual distribuição de poder, do bem-estar e do prestígio no cenário da comunidade
internacional”, o que ofereceria novas e amplas possibilidades de inserção e participação das
nações das nações latino-americanas no contexto mundial.
Entretanto, como pode-se depreender do modelo, não basta o investimento apenas em
um dos vértices, uma vez que todos devem atuar de forma conjunta. Assim, entre cada um dos
agentes, formando pares de vértices, ocorrem as interrelações; no interior de cada um deles,
intrarrelações; e ainda com a sociedade, extrarrelações, as quais devem ser todas direcionadas
no mesmo sentido (SÁBATO; BOTANA, 1968). Os autores reforçam que:
Não basta uma vigorosa infra-estrutura científico-tecnológica para assegurar que um
país será capaz de incorporar a ciência e a técnica ao seu processo de
desenvolvimento; é necessário também, transferir para a realidade os resultados da
pesquisa; acoplar a infra-estrutura científico-tecnológica à estrutura produtiva da
sociedade. (SÁBATO; BOTANA, 1968, p. 04)
Desta forma, a interrelação entre os agentes assume importância no sentido de
possibilitar uma ação direcionada ao mesmo fim, que seria, neste caso, a inovação. Segundo
estes autores, o que se denomina como inovação consiste em incorporar o conhecimento com
o intuito de gerar ou aprimorar um processo produtivo. Os fatores responsáveis por impulsionar
a inovação abrangem, na visão dos mesmos, a guerra (real ou potencial), as necessidades do
mercado, a escassez de matérias-primas, , a substituição de importações, a maior ou menor
disponibilidade de mão de obra qualificada e a necessidade de otimização de investimentos.
Na relação entre os vértices é que ocorrem as diversas trocas de elementos e demandas
capazes de promover a inovação. No entanto, neste modelo, a infraestrutura científico-
tecnológica possui uma dependência direta do governo, sobretudo no que se refere ao
provisionamento de recursos; é também ele que direciona as demandas que poderão ser, por
sua vez, atendidas, transformadas ou eliminadas caso ocorram contra-demandas que a
substituam (SÁBATO; BOTANA, 1968).
Bem como Herrera (1995), Sábato e Botana (1968) já identificavam obstáculos capazes
de comprometer este processo de integração entre os vértices que poderiam reduzir o potencial
32
de inovação. Dentre eles, destacam-se aspectos sócio-culturais, econômicos, financeiros,
políticos e científicos, representados por predomínio de ações rotineiras, escassez de capital e
falta de otimização dos recursos existentes, infra-estrutura técnico-científica insuficiente ou
inexistente, entre outros, que podem ser em grande parte identificados na América Latina.
Adicionalmente, a visão de alguns autores, como Plonski (1995), ressalta que as
interrelações correspondem ao elemento que envolve maior complexidade, uma vez que, para
que se estruturem em torno de um objetivo comum, é preciso que internamente os três entes
estejam direcionados de forma homogênea para que isto se reflita na forma como eles
construirão suas relações com agentes externos. Na visão de Panizzi (2014), isto se torna
particularmente difícil quando se abordam os vértices de Infra-estrutura científico-tecnológica,
representado pela Universidade, e Estrutura Produtiva, representada pela Indústria, uma vez
que correspondem a organizações com natureza e missões distintas.
Além disso, observa-se que as relações entre os diferentes vértices se constroem ora de
forma vertical, ora de forma horizontal: quando envolve o governo, o fluxo é vertical; ao
envolver as interrelações recíprocas entre os vértices estrutura produtiva e infra-estrutura
científico-tecnológica, o fluxo é horizontal. Assim, a intenção de construir com o modelo uma
relação de intercooperação acaba enfraquecida devido ao fato do governo ocupar uma posição
proeminente, inclusive com o exercício de poder sobre as demais partes, tornando-as
subservientes a ele e delimitando suas perspectivas de atuação.
Ao perceber essa restrição do modelo, outros autores, também interessados na dinâmica
de construir inovação através da sinergia entre diferentes entes da sociedade, começaram a
elaborar novas propostas, dentre as quais se ressalta a Tripla Hélice de Etzkowitz (1994).
2.3.2 A Tripla Hélice
Diante das diversas críticas ao modelo elaborado por Sábato e Botana (1968), Etzkowitz
e Leydesdorff (1996) propõem novas abordagens de interação entre universidade-empresa-
governo, trazendo então o conceito da Tripla Hélice, que estrutura a interação entre os agentes
em todos os sentidos e não mais de forma horizontal ou vertical, mas sim em espiral. Este
modelo, inicialmente elaborado como HT1, foi também sofrendo evoluções ao longo do tempo
a partir das constantes modificações que envolvem seus atores e as formas de relacionamento
entre eles.
A proposta inicial, representando a fase I ou HT1, sugeria o governo como ente que
envolveria a universidade e a indústria, exercendo um papel central no processo. Desta forma,
o governo assumiria a atribuição de conduzir as relações entre os outros dois agentes e as
33
diretrizes seriam por ele elaboradas. Sendo assim, a inovação, nesta abordagem, assumia um
caráter normativo.
A propagação cada vez mais ampla do sistema capitalista no cenário mundial provocou
a evolução do modelo para a denominada “fase 2”, onde buscou se elaborar uma proposta mais
adequada ao novo contexto caracterizado por, ao menos teoricamente, os três agentes possuírem
liberdade e autonomia. Assim, os autores buscaram se aproximar do laissez-faire, reduzindo o
papel do governo preponderante na primeira proposta.
Na fase 2, os agentes passaram a estar ligados por uma pequena conexão, cada um
exercendo seu papel de maneira clara e bem definida em um contexto com menor autoritarismo
por parte do governo com relação aos direcionamentos de inovação. A evolução seguinte do
modelo (HT III) propõe, como pode-se perceber na Figura 03, que os entes encontrem-se até
mesmo sobrepostos em algumas situações, o que possibilita pontos comuns de atuação com um
agente interferindo e contribuindo na área do outro. Assim, não há exatamente uma delimitação
de fronteiras, já que o intuito deste novo modelo corresponde exatamente à construção de uma
interação dinâmica, intensa e constante entre todos os envolvidos a fim de promover a
construção de arranjos institucionais diversos e causar a intensificação dos processos
inovativos.
Figura 3 - HT III
Fonte: Adaptado de Etzkowitz; Leydesdorff (2000)
Este modelo vem sendo difundido com o objetivo de compreender a estruturação das
relações entre a Universidade, a Indústria e o Governo como uma estrutura trilateral de
promoção de desenvolvimento econômico regional com base no conhecimento. Nesta proposta,
a universidade passa a exercer, além das atribuições fundamentais de ensino e pesquisa, uma
terceira missão: contribuir para o desenvolvimento econômico da região onde se insere,
desencadeando o avanço social (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000).
Assim, a instituição universitária deveria, neste sentido, oferecer estrutura e apoio para
criação e desenvolvimento de iniciativas capazes de revolucionar sistemas produtivos, sendo
tais inovações a força propulsora de desenvolvimento da economia dos países. Para isto, as
34
fronteiras tradicionalmente existentes entre os componentes da Tripla Hélice não devem mais
se apresentar como barreiras, mas sim como limites permeáveis capazes de favorecer a
contrução de vínculos de cooperação e a criação de espaços colaborativos para desenvolvimento
de conhecimento e inovação, o que, na visão de Etzkowitz e Leydesdorff (2000), resultará em
um desenvolvimento regional mais relevante do que o que ocorreria caso os agentes envolvidos
trabalhassem individualmente.
Na visão de Ranga e Etzkowitz (2013), está acontecendo nas últimas décadas um
processo de mudança de foco da inovação em esferas institucionais únicas para a valorização
desta interação entre esferas como um novo espaço de construção de inovação organizacional
e relacionamento social. Com esta modificação, o desenvolvimento do produto, antes atribuído
unicamente à indústria, a formulação de políticas, inicialmente de responsabilidade exclusiva
do governo, e a criação de conhecimentos como competência privativa da academia, passam a
ser atividades compartilhadas entre todos esses entes. Desta forma, o sistema de Tripla Hélice
passa a construir uma visão dos agentes de inovação considerando as relações e fluxos entre
eles como uma transição dinâmica. Sua constituição é definida como um conjunto de
componentes, suas relações e funções.
(i) Componentes (as esferas institucionais da Universidade, Indústria e Governo, com
uma grande variedade de atores); (ii) os relacionamentos entre os componentes
(colaboração e moderação de conflito, liderança colaborativa, substituição e rede de
contatos); e (iii) funções, descritas como os processos que ocorrem no que
descrevemos como ‘Conhecimento, Inovação e Espaços de Consenso’. (RANGA;
ETZKOWITZ, p. 2, [s. d.])
O sistema da Tripla Hélice defende que diretrizes comuns e compartilhadas entre seus
componentes são capazes de reforçar a colaboração entre os mesmos; transcendendo os limites
setoriais e tecnológicos, a Tripla Hélice foca na permeabilidade das fronteiras entre tais esferas
institucionais como uma fonte para a criatividade organizacional, estimulando os indivíduos a
se moverem dentro e entre elas e se envolverem na recombinação de elementos a fim de criar
novos tipos de organizações, o que promove, de acordo com Ranga e Etzowitz (2013), uma
combinação dos recursos locais bem mais profícua no sentido de realização de objetivos
comuns e de formatação de novos modelos organizacionais no que tange a Conhecimento,
Inovação e Espaços de Consenso.
A relação Universidade – Empresa – Governo passa então a ser tratada tendo como base
este argumento da Tripla Hélice, o qual, segundo Dagnino (2003), consiste na combinação da
Segunda Revolução Acadêmica com a proposta da Política Científica e Tecnológica, como os
Pólos e Parques Tecnológicos, decorrente da difusão da primeira.
A Segunda Revolução Acadêmica delineia um processo de sinergia entre Universidade
e Empresa que, conforme Dagnino (2003) e Etzkowitz (2002), estaria acontecendo de forma
35
crescente. Este movimento pode ser identificado através da ampliação quantitativa e qualitativa
dos relacionamentos entre essas instituições, sendo o aumento do número de contratos entre
universidades e empresas e o alcance de resultados econômicos mais satisfatórios no campo de
ambas possíveis resultados dessa aproximação.
Essa ampliação estaria denotando uma maior eficiência da relação U-E-governo, fruto
do estabelecimento daquele novo contrato social entre a universidade e seu entorno
que estaria levando a universidade a incorporar as funções de desenvolvimento
econômico às suas já clássicas atividades de ensino e pesquisa, e a redefinir suas
estruturas e funções (Etzkowitz, 1994). Estaria ocorrendo, assim, a generalização de
um padrão de relação caracterizado pelo maior impacto econômico das pesquisas
realizadas na universidade. (DAGNINO, 2003, p. 272-273)
Um outro fator que seria diretamente impacto pela sinergia Universidade-Empresa seria
o nível de inovação, do qual se espera uma crescente conforme se aproximam estas instituições.
No caso do Brasil, entretanto, este panorama não é muito positivo. Hoje o país ocupa o 69º
lugar no ranking do Índice de Inovação, estudo realizado pela Organização Mundial de
Propriedade Intelectual em conjunto com a Johnson Cornell University e o INSEAD, da França.
Mesmo tendo aumentado o número de patentes solicitadas e concedidas no Brasil quando se
analisa sua evolução nos últimos anos, a comparação com o desempenho de outros paises já
enfraquece este argumento.
Como pode-se observar na tabela a seguir (Tab. 2), nos últimos quinze anos houve, no
grupo de países selecionados para a pesquisa, um aumento de aproximadamente 111% no
número de pedidos de patentes e de 90% na concessão das mesmas. O Brasil, por sua vez,
apresenta um panorama surpreendente neste sentido ao apresentar um crescimento de 335%
nos pedidos e de 267% nas concessões. Entretanto, ainda com este esforço, o país representa
apenas 0,16% dos pedidos de patentes e 0,12% das concessões dentre aqueles estudados.
36
Tabela 2- Evolução no número de pedidos e concessões de patentes (1999-2015)
Fonte: Adaptado de Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (2016)
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Pedidos 179 209 231 241 224 246 197 231 252 265 318 320 339 328 415 375 ...
Concessões 110 111 120 113 112 100 87 109 82 91 93 116 123 142 161 152 166
Pedidos 16978 17715 19900 20418 18890 19824 20664 22369 23608 25202 25163 27702 27935 29195 30551 30193 ...
Concessões 9337 10235 11260 11280 11444 10779 9011 10005 9051 8914 9000 12363 11920 13835 15498 16550 16529
Pedidos 96 137 137 95 125 103 94 117 150 138 146 134 156 141 160 126 ...
Concessões 44 54 51 54 63 46 24 38 37 32 45 45 49 63 75 71 66
Pedidos 1462 1800 1995 2160 2310 3000 2919 2928 3412 3976 3699 3739 3767 3603 3676 3516 ...
Concessões 707 705 876 859 902 953 910 1325 1265 1291 1221 1748 1921 1525 1631 1693 1627
Pedidos 186 220 219 243 259 287 295 341 375 442 464 568 586 679 769 810 ...
Concessões 91 98 110 96 130 106 77 121 90 101 103 175 215 196 254 334 323
Pedidos 6149 6809 7221 7375 7750 8202 8638 9652 10421 10307 10309 11685 11975 13560 13675 12963 ...
Concessões 3226 3419 3606 3431 3427 3374 2894 3572 3318 3393 3655 4852 5014 5775 6547 7043 6802
Pedidos 257 469 626 888 1034 1655 2127 3768 3903 4455 6879 8162 10545 13273 15093 18040 ...
Concessões 90 119 195 288 297 403 402 659 770 1223 1654 2655 3174 4637 5928 7236 8116
Pedidos 460 632 786 807 771 879 919 1143 1188 1266 1225 1540 1564 1688 1722 1869 ...
Concessões 144 218 296 410 427 449 346 412 393 399 436 603 647 810 797 946 966
Pedidos 5033 5705 6719 7937 10411 13646 17217 21685 22976 23584 23950 26040 27289 29481 33499 36744 ...
Concessões 3562 3314 3538 3786 3944 4428 4351 5908 6295 7548 8762 11671 12262 13233 14548 16469 17924
Pedidos 464 549 601 564 606 696 701 844 966 1216 1162 1422 1501 1641 1707 1640 ...
Concessões 222 270 269 303 309 264 273 295 268 303 317 414 469 642 711 789 818
Pedidos 149825 164795 177511 184245 188941 189536 207867 221784 241247 231588 224912 241977 247750 268782 287831 285096 ...
Concessões 83906 85068 87600 86971 87893 84270 74637 89823 79526 77502 82382 107791 108622 121026 133593 144621 140969
Pedidos 6216 6623 6852 6825 6603 6813 6972 7176 8046 8561 9331 10357 10563 11047 11462 11947 ...
Concessões 3820 3819 4041 4035 3868 3380 2866 3431 3130 2163 3140 4450 4532 5386 6083 6691 6565
Pedidos 271 438 643 919 1164 1303 1463 1923 2387 2879 3110 3789 4548 5663 6600 7127 ...
Concessões 112 131 178 249 342 263 384 481 546 634 679 1098 1234 1691 2424 2987 3355
Pedidos 2577 2704 2967 2980 3011 2997 2993 3274 3376 3805 3940 4156 4282 4516 4580 4764 ...
Concessões 1492 1714 1709 1751 1722 1584 1296 1480 1302 1357 1346 1798 1885 2120 2499 2628 2645
Pedidos 47821 52891 61238 58739 60350 64812 71994 76839 78794 82396 81982 84017 85184 88686 84967 88691 ...
Concessões 31104 31295 33223 34858 35515 35346 30340 36807 33354 33682 35501 44813 46139 50677 51919 53848 52409
Pedidos 147 190 196 157 185 179 180 213 212 248 220 295 306 355 357 481 ...
Concessões 76 76 81 94 85 86 80 66 56 54 60 101 90 133 155 172 172
Pedidos 28 17 28 27 20 30 33 42 57 84 91 111 91 118 133 145 ...
Concessões 5 11 12 11 12 17 10 16 13 11 17 28 30 40 60 36 56
Pedidos 6948 7523 8362 8391 7700 7792 7962 8342 9164 9771 10568 11038 11279 12547 12807 13157 ...
Concessões 3565 3959 3955 3829 3619 3441 3141 3579 3291 3085 3173 4298 4292 5211 5806 6488 6417
Pedidos 388 382 433 377 341 334 366 412 444 547 522 606 719 888 959 1007 ...
Concessões 181 183 234 200 203 169 148 172 188 176 196 271 298 331 417 444 440
Pedidos 245485 269808 296665 303388 310695 322334 353601 383083 410978 410730 407991 437658 450379 486191 510963 518691 ...
Concessões 141794 144799 151354 152618 154314 149458 131277 158299 142975 141959 151780 199290 202916 227473 249106 269198 266365
China
PAÍSES
Itália
Japão
México
África do Sul
Alemanha
Argentina
Austrália
Brasil
Canadá
TOTAL
Portugal
Reino Unido
Rússia
Cingapura
Coréia do Sul
Espanha
Estados Unidos
França
Índia
37
Adicionalmente, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI), o país apresentou uma queda significativa no número de patentes do tipo PI
(patentes de invenção) nos últimos anos, como demonstrado no Gráfico 1. Enquanto em 2000
foram registradas 649 patentes dessa especificação, em 2012, último ano do levantamento do
Instituto, foram contabilizadas apenas 363, o que representa 56% do total do ano 2000.
Gráfico 1 - Patentes do tipo PI registradas no Brasil
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do INPI (2012)
Desta forma, a partir do panorama apresentado, ainda que não conte com todos os
indicadores posíveis dedicados à inovação, percebe-se que o tema relativo à integração
universidade-indústria-governo, apesar de já estar sendo estudado há aproximadamente meio
século na América Latina, ainda requer atenção, uma vez que não estão claramente perceptíveis
os impactos esperados por esta relação como elaborado por Etzkowitz e Leydesdorff (2000),
particularmente no que se refere ao Brasil.
A Universidade Empreendedora de Clark (1998) se apresenta como um modelo
complementar à abordagem da Tripla Hélice no momento de modificações conjunturais e legais
vivido atualmente pela universidade brasileira, o qual traz a tendência da instituição de ensino
se aproximar da estrutura produtiva como uma forma de incrementar o processo inovativo e
obter fontes alternativas para dar aporte às suas atividades.
2.3.3 A Universidade Empreendedora
O modelo de Universidade Empreendedora difundido por Clark (1998) está vinculado
a um projeto de manutenção e expansão da universidade com base no fortalecimento das
competências internas desta instituição como forma de garantir sua sobrevivência em meio a
um período de grave crise mundial, o qual remete ao início da década de 1990.
649
379337
403
279247 231
198233
340 313380 363
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
38
Este momento, caracterizado pelas ondas de automação e robotização, trouxe à tona um
conjunto de inovações tecnológicas com potencial para tranformar a estrutura do sistema
produtivo então vigente. Tais mudanças, segundo Dagnino (2011), estariam associadas, por sua
própria natureza, a uma exigência cada vez maior de domínio sobre o conhecimento, o que
aumentaria “(...) a importância da universidade na definição dos rumos futuros da sociedade
(...).” (DAGNINO, 2011, p. 31).
Diante desta realidade, Clark (1998) fundamenta seu trabalho em estudos de caso
realizados em cinco instituições europeias, localizadas na Inglaterra, Holanda, Escócia, Suécia
e Finlândia, nas quais estrevistou o corpo gestor e analisou documentos. A partir de suas
pesquisas neste conjunto de instituições, ele constrói então medidas que, associadas, são
entendidas como vitais à manutenção das entidades acadêmicas.
As cinco dimensões, denominadas por ele de ‘Entrepreneurial Pathways of University
Transformation’ ou simplesmente ‘Pathways of Transformation’, são entendidas como comuns
aos casos analisados e de suma importância para a compreensão dos passos que levaram as
mencionadas instituições ao sucesso e ao reconhecimento social. São elas: Núcleo de Direção
Fortalecido, Periferia de Desenvolvimento Expandida, Base de Financiamento Diversificada,
Centro Acadêmico Estimulado e Cultura Empreendedora Integrada (CLARK, 1998).
O Núcleo de Direção Fortalecido, conforme Clark (1998), merece atenção pois uma
melhor capacidade administrativa livre de defiências de gerenciamento é essencial para o
desenvolvimento da universidade. Para melhor compreender as competências necessárias a
cada tipo de instituição, o autor categoriza-as em entidades ambiciosas (ou concentradas) e não
ambiciosas. Estas últimas geralmente se caracterizam pela sua tradição e grande poder de
influência decorrente do seu alto status, e assim, para elas são suficientes os recursos
tradicionais. Por outro lado, as ambiciosas precisam direcionar esforços para garantir sua
sobrevivência, cabendo então a estas buscar por formas organizativas mais flexíveis e
adaptáveis ao que lhes é demandado. Este posicionamento reforça a necessidade do referido
núcleo de direção fortalecido, que denota a preocupação com a forma de gestão da instituição,
a qual deve, frente aos desafios impostos pela gestão orçamentária e pela busca por novas
formas de financiamento de suas atividades, conseguir conciliar em seu cotidiano operacional
os novos valores gerenciais com a tradição acadêmica.
Os novos valores gerenciais se relacionam diretamente também à Periferia de
Desenvolvimento Expandida. Este aspecto se refere ao fato de que universidades que assumem
a perspectiva empresarial defendida apresentam relacionamentos mais diretos com as
organizações ao seu redor, sendo assim utilizado o termo “periferia”. Para Clark (1998, p. 6):
39
[...] estas unidades são escritórios de extensão profissionalizados que trabalham na
transferência de conhecimentos, contato com a indústria, desenvolvimento de
propriedade intelectual, educação continuada, captação de recursos e até mesmo no
relacionamento com ex-alunos [...]
Esses, segundo o autor, seriam uma segunda forma de orientar o trabalho acadêmico,
transcendendo a estrutura departamental clássica. Nesse ponto, Clark (1998) direciona sua
crítica a essa concepção tradicional de arranjo do trabalho acadêmico. Mesmo reconhecendo a
importância da clássica estrutura departamental, dividida em áreas do conhecimento, o autor
afirma que essa, embora permita concentrar o domínio sobre as áreas, não é suficiente para
atender esta nova concepção de universidade, cuja força motriz reside em problematizações de
ordem prática e, por si só, interdisciplinares, o que realça a importância dos citados “centros de
pesquisa”.
Eles trazem à universidade a orientação por projetos de outsiders que estão
preocupados em resolver sérios problemas práticos de ordem econômica e de
desenvolvimento social. Eles detém certa flexibilidade, sendo relativamente fáceis de
iniciar e desarticular. Construídos para cruzar as fronteiras, os centros mediam os
departamentos com o mundo exterior. (CLARK, 1998, p. 6)
Clark (1998) questiona também os modelos de financiamento tradicionais baseados em
repasses governamentais para propor a Base de Financiamento Diversificada, que considera
estruturas de autofinanciamento. Na visão do autor, isto signicaria considerar:
(...) um vasto e profundo portfólio de fontes de financiamento pelo terceiro setor que
se estendem desde a indústria, governos locais e fundações filantrópicas, até a real
receita oriunda da propriedade intelectual, rendimentos obtidos a partir de serviços
prestados, taxas estudantis e contribuições de ex-alunos. (CLARK, 1998, p. 6)
Esse novo sistema de financiamento, além de possibilitar montantes significativos para
subsidiar o desenvolvimento de pesquisas, garante também, pelo seu caráter discricionário, a
possibilidade de acesso facilitado a recursos financeiros que, no modelo tradicional de
financiamento, demandariam procedimentos burocráticos morosos devido à sua fonte ser estatal
(CLARK, 1998).
A estruturação dessa nova sistemática de financiamento seria ainda favorecida, na visão
do autor, pela quarta dimensão proposta: o Centro Acadêmico Estimulado. Sendo considerada
a universidade, em seus departamentos e unidades acadêmicas, como locus de criação de
conhecimento e de realização das atividades institucionais, um ponto chave para a promoção
de todas as mudanças propostas seria o adequado gerenciamento destes espaços que contêm em
si os valores acadêmicos em sua essência conforme os novos pressupostos. Assim, “Para a
mudança se estabelecer, departamentos e faculdades, uns após os outros, precisam tornar-se
unidades empreendedoras, focando-se com mais afinco em novos programas e relacionamentos
e promovendo o financiamento pelo terceiro setor” (CLARK, 1998, p. 7).
40
Abre-se espaço para a quinta dimensão, denominada Cultura Empreendedora Integrada,
a qual representaria o esforço de fazer vigorar no ambiente acadêmico o sentido comum de
mudança nos moldes de um modelo empreendedor. Neste sentido,
Universidades Empreendedoras, tal como empresas da indústria de alta tecnologia,
desenvolvem uma cultura que envolve mudança. Essa nova cultura pode iniciar-se
como uma ideia institucional relativamente simples sobre mudança que mais tarde se
torna elaborada em um conjunto de crenças que, se difundidas no centro da instituição,
se transforma em uma vasta cultura universitária. Culturas robustas estão enraizadas
em práticas robustas. Conforme ideias e práticas interagem entre si, o lado simbólico
ou cultural das universidades se torna particularmente importante na busca por
cultivar uma identidade institucional e uma reputação distinta. (CLARK, 1998, p.8)
Frente a este panorama de mudanças da universidade, se descortina a necessidade e a
importância de novos modos de construção do conhecimento efetivamente capazes de
contribuir para a criação de inovações. É neste sentido que ganha representatividade o “Modo
2 de Produção do Conhecimento” elaborado por Gibbons, Limoges, Nowotny, Schwartzman,
Scott e Trow (1994), o qual é denominado como uma nova forma de produção do conhecimento
na sociedade contemporânea.
Gibbons et. al (1994) descrevem dois modos existentes para a estrutura do ensino e das
ciências nas instituições de ensino superior: o Modo 1 e o Modo 2. O primeiro faz referência à
estruturação do ensino dividido em disciplinas, enquanto o segundo abrange a
transdisciplinaridade como elemento essencial, bem como a interação constante entre os atores
envolvidos no processo de produção do conhecimento. Conforme afirmam Nowotny, Scott e
Gibbons (2003, p. 179):
O velho paradigma de descoberta científica ("Modo 1") - caracterizado pela
hegemonia do teórico ou, de qualquer modo, pela ciência experimental; por uma
taxonomia internamente orientada de disciplinas; e pela autonomia dos cientistas e
suas instituições de acolhimento , as universidades - foi sendo substituído por um novo
paradigma de produção de conhecimento (“Modo 2”), que foi socialmente distribuída,
orientada para a aplicação, transdisciplinar, e sujeito a múltiplas responsabilidades.
Adicionalmente, o Modo 2 abrange outras particularidades importantes, conforme
afirma Videira (2008, p. 36):
(a) não existe respeito por fronteiras: o conhecimento “vaza” da ciência para a
sociedade e desta para a primeira; (b) possui estruturas organizacionais flexíveis,
hierarquias horizontais e cadeias de comando abertas; (c) exige responsabilidade
institucional e coletiva; (d) exige manter uma constante preocupação com o controle
de qualidade. Em suma, o Modo 2 preocupa-se com a geração de um conhecimento
que seja socialmente robusto.
Os autores do conceito destacam ainda que, quando aplicado, para que haja um
adequado desenvolvimento do conhecimento, é necessário que ele seja produzido sob uma
dinâmica de contínua negociação, o que faz com que o conhecimento gerado seja resultado de
41
um processo de interação e de oferta e demanda da sociedade e dos especialistas com relação
às instituições de ensino superior (GIBBONS et. al, 1994).
Este relacionamento entre os diversos atores para a geração de inovações pode trazer
benefícios e riscos para todas as partes envolvidas, aspectos que serão explorados na próxima
seção.
2.4 ASPECTOS ATRATIVOS E DISTANCIADORES NO VÍNCULO UNIVERSIDADE-
EMPRESA
Ao explorar essa aproximação entre diferentes entes para geração de conhecimento e
inovação, Etzkowitz (2002) afirma que cooperação entre sociedade, especialistas, empresas e
IES permitiria, segundo uma aproximação da universidade com a realidade técnica, econômica
e social em que ela se insere e ainda possibilitaria a incorporação de novos elementos coerentes
com esta nos currículos dos cursos, o que viria a contribuir ainda mais para a transformação
não somente tecnológica, mas também social das universidades. Por outro lado, analisando a
perspectiva das empresas, elas, através do modelo de Universidade Empreendedora, passam a
ter acesso a recursos que são em seu contexto de difícil acesso ou aquisição, como infraestrutura
laboratorial, mão de obra qualificada e disponibilidade para solução de problemas de ordem
tecnológica. Sbragia et. al (2006) levantam então alguns fatores que levam à cooperação entre
universidade e empresa (Quadro 2).
Quadro 2 - Incentivos à cooperação entre universidade e empresa
UNIVERSIDADE EMPRESA
Obtenção de novos recursos para pesquisa Acesso a recursos humanos qualificados
Aumento da relevância da pesquisa
acadêmica ao lidar com necessidades da
indústria ou da sociedade, e o consequente
impacto no ensino
“Janela ou antena tecnológica”, que
significa conhecer os avanços em sua área
de atuação
Possibilidade de emprego para estudantes
graduados
Acesso precoce a resultados de pesquisa
Possibilidade de futuros contratos de
consultoria para pesquisadores
Solução de problemas específicos
Possibilidade de futuros contratos de pesquisa Acesso a laboratórios e instalações
Formação de funcionários
Melhoria de sua imagem e prestígio na
sociedade
Aumento da competitividade
Redução de custos com pesquisa Fonte: Adaptado de Ipiranga, Freitas e Paiva (2010)
Embora os fatores elencados remetam para possíveis arranjos colaborativos, quando se
observa, por exemplo, a questão da “formação de funcionários”, há uma possibilidade real da
42
universidade pública sofrer um tipo de distorção que a direcione para uma espécie de
universidade corporativa (EBOLI, 1999; ÉSTHER, 2016a), podendo até mesmo entrar na
lógica do cenário de comercialização e competição mercadológica.
Segundo Tavares Filho e Bernardes (2005), o principal motivador para a existência das
universidades corporativas (UCs) consiste no propósito de direcionar os profissionais para as
estratégias do negócio. Desta forma, seus objetivos de aprendizagem são absolutamente
sintonizados com as demandas daquela organização em particular que promove ou patrocina a
formação de seus funcionários. A educação corporativa objetiva, desta forma, preparar os
recursos humanos para que estejam constantemente atualizados no que se refere às
competências de seus cargos e a algumas capacidades básicas gerais atinentes aos negócios da
empresa, se constituindo como fontes contínuas de vantagem competitiva.
Ao refletir sobre este conceito adaptado de universidade, Silva e Balzan (2006, p. 235)
afirmam que:
À primeira vista, essas soluções educacionais parecem bastante positivas, no sentido
de beneficiarem todos os envolvidos. Entretanto, constatamos que essas UCs
desenvolvem suas atividades para viabilizar os conhecimentos requeridos pelo setor
produtivo da empresa, excluindo qualquer tipo de disciplina que possa abranger uma
formação mais humanística, que forneça ao aluno condições de análises e leituras
políticas e sociais.
Ao considerar que as instituições de ensino superior inseridas na perspectiva da Tripla
Hélice (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000) e impulsionadas pelos conceitos difundidos
pela Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) buscarão ao máximo se adequar aos
direcionamentos traçados pelas empresas existentes no mercado, percebe-se uma arriscada
tendência de modificação do modelo de universidade amplamente conhecido como espaço
difusor do conhecimento, impulsionador da crítica e berço de formação ampla, para uma
universidade focada na inovação das condições de lucro industriais, sendo assim subserviente
em relação ao capitalismo (SILVA; BALZAN, 2006). Diante desta realidade, afirma Santomé
(2003, p. 32) que:
(...) a sociedade corre o risco de ver as instituições de ensino como valiosas e
necessárias apenas na medida em que oferecem uma formação adequada a esse novo
mercado, para obter um posto de trabalho no setor privado. Dessa maneira, certas
instituições de caráter público e, portanto, com interesses públicos, como as de ensino,
são sugadas por serviços privados, transformadas em apêndices de empresas para as
quais preparam gratuitamente mão-de-obra.
Dias Sobrinho (1999), no entanto, argumenta que talvez essa modificação da
universidade esteja ocorrendo devido à necessidade da instituição se adaptar às novas
exigências demonstradas pela sociedade através de pesadas pressões relacionadas aos níveis de
43
empregabilidade dos egressos e, assim, se reformar para construir um modelo de ensino descrito
por Chauí (1980 apud Silva e Balzan, 2006, p. 249) da seguinte forma:
A universidade tem hoje um papel que muitos não querem desempenhar, mas que é
determinante para a existência da própria universidade: criar incompetentes sociais e
políticos, realizar com a cultura o que a empresa realiza com o trabalho, isto é,
parcelar, fragmentar, limitar o conhecimento e impedir o pensamento, de modo a
bloquear toda a tentativa concreta de decisão, controle e participação, tanto no plano
da produção material quanto no da produção intelectual. Se a universidade brasileira
está em crise, é simplesmente porque a reforma do ensino inverteu seu sentido e
finalidade – em lugar de criar elites dirigentes, está destinada a adestrar mão-de-obra
dócil para um mercado sempre incerto. E ela própria não se sente bem treinada para
isto, donde sua “crise”.
O impacto da globalização tem provocado, então, o constante questionamento acerca do
papel das universidades, visto que o mercado espera delas uma postura de fabricar
mecanicamente mão de obra para atender suas necessidades, o que cria, no contexto da
educação superior, um cenário de hiperindividualismo, onde cada aluno considera os demais
colegas como seus rivais (SANTOMÉ, 2003), e assim a lógica capitalista consegue ser
reproduzida cada vez mais cedo nas mentes dos que irão compor futuramente a população
economicamente ativa do país.
Percebe-se, neste caso, um possível conflito no sentido de integração entre universidade
e empresa, uma vez que, devido a cada uma ter objetivos particulares, corre-se o risco de, se
concretizada, esta modificação no sistema de ensino comprometer a possibilidade da educação
trabalhar o homem em sua totalidade, englobando não somente dimensões técnicas, mas
também sociais, culturais e políticas (SILVA; BALZAN, 2006).
Outra demanda conflituosa que desponta com relação ao assunto se refere à legitimidade
da Universidade Empreendedora com relação à Universidade Pública, onde a escassez de
recursos advindos do governo pode estar sendo uma das forças impulsionadoras para a difusão
e adoção deste novo paradigma no Brasil (COSTA, 2009).
Conforme afirma Finlay (2004), seria até previsível que a capacidade de financiamento
do governo para a educação não fosse suficiente para acompanhar a evolução da demanda por
ensino superior e para subsidiar as pesquisas solicitadas pelas indústrias. Mesmo com o
lançamento de editais e programas de incentivos por parte do governo que poderiam de alguma
forma suprir parte desta carência, este novo modelo de universidade está conquistando cada vez
mais destaque por estar sendo progressivamente compreendido como algo mutuamente atrativo
devido à troca de interesses (SBRAGIA et. al, 2006; IPIRANGA, FREITAS, PAIVA, 2010).
Segundo Lima e Fialho (2001), as pesquisas científicas no Brasil estão majoritariamente
hospedadas no âmbito das instituições acadêmicas públicas e estas, no que tange a
financiamentos, estão recebendo recursos escassos, mesmo sendo essenciais ao
44
desenvolvimento do conhecimento. Assim, a busca por novas fontes pode estar se configurando
como um estímulo para que as universidades e os institutos de pesquisa participem da
cooperação com o mundo empresarial, inclusive sendo legitimada por instrumentos legais,
como pretende a PEC 395/14 (BRASIL, 2014) e como já atuou a Lei 13.243/16 (BRASIL,
2016). Esta Proposta de Emenda Constitucional busca garantir, através da modificação do
dispositivo 206 da Constituição Federal, a legalidade na cobrança pelos cursos de treinamento,
aperfeiçoamento e especialização promovidos por instituições de ensino público. A justificação
desta proposta gira em torno do tema de cooperação entre universidade e empresa, e, assim,
abrange os pressupostos da Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) e da Tripla Hélice
(ETZKOWITZ, 1994), conforme pode-se observar através do trecho a seguir.
De fato, a oferta dessas atividades frequentemente deriva da demanda de segmentos
específicos do mercado produtivo e de serviços, encomendadas inclusive sob a forma
corporativa de organização acadêmica: cursos precipuamente destinados a promover
qualificação especializada de profissionais de determinadas organizações.
As instituições públicas de ensino são procuradas por essas empresas em função da
expertise que alcançaram a partir de suas atividades de pesquisa e de excelência
acadêmica. E seguramente os recursos advindos da oferta desses cursos revertem em
benefício da qualidade da rede pública de educação superior (BRASIL, 2014).
Tal possibilidade traz à tona a problemática da universidade pública receber recursos de
empresas privadas para realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão correlatas às
necessidades destas organizações, que poderiam então passar a ter domínio sobre a agenda de
pesquisa e assim causar o desvio do papel intrínseco dessa entidade pública, que consistiria no
desenvolvimento de ensino, pesquisa e extensão com o objetivo de beneficiar a sociedade,
conforme previsto na LDB e na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1996; BRASIL, 1988).
Outras barreiras à construção de uma relação de cooperação entre a universidade e a
empresa foram levantadas por Mancini e Lorenzo (2006) e Guarnica, Ferreira-Júnior e Fonseca
(2005), conforme seguem no Quadro 3.
45
Quadro 3 - Barreiras à integração universidade-empresa
UNIVERSIDADE EMPRESA
Falta de regulamentação ou excesso de
rigidez
Reconhecimento escasso de tecnologia
nos planos empresariais
Diferenças culturais e de atitudes de trabalho,
dificultando a comunicação, além de
diferentes concepções de tempo
Preferência por licenciar tecnologia em
vez de desenvolvê-la
Visão do setor produtivo como somente
interessado em seus benefícios próprios e não
em retribuir à universidade e à sociedade
Visão imediatista dos negócios, que não
inclui a pesquisa
Docentes despreparados para a realização de
projetos de P&D e com formação
unidisciplinar
Exigência de segredo e propriedade dos
resultados da pesquisa
Pesquisadores isolados da realidade sem
compreender as necessidades do setor
produtivo
Ambientes e estruturas organizacionais
inaquedas à vinculação, além da falta de
recursos financeiros para financiar
projetos
Maior valorização da pesquisa básica do que
da pesquisa tecnológica aplicada e sua
comercialização
Desconhecimento do potencial da
universidade
Lentidão nos trâmites burocráticos para
aprovação de parcerias Aversão ao risco
Fonte: Adaptado de Ipiranga, Freitas e Paiva (2010)
Certamente, não é de difícil constatação que, para as empresas, os benefícios desta
integração são inúmeros, ainda mais diante do contexto de revolução tecnológica em que elas
estão atualmente inseridas, o qual faz com que os processos e produtos se tornem obsoletos
cada vez mais rapidamente (SBRAGIA et. al, 2006). Assim, a Universidade surgiria como uma
opção capaz de suprir a necessidade de inovação que permite a sobrevivência destas empresas,
uma vez que seria mais barato contratá-la do que implementar um setor próprio de P&D e,
assim, a empresa ainda teria à sua disposição uma equipe com maior conhecimento do que os
funcionários da própria organização.
Para que esta integração seja alcançada, no entanto, seria preciso superar alguns
estigmas, tais como a chamada “desconfiança mútua” ou ainda “diferença de linguagens” ou
“choque de culturas distintas”. Ele ocorre devido à dificuldade de, pelo próprio modelo da
academia, conseguir compatibilizar as demandas da empresa e seus prazos com os serviços que
a universidade é capaz de oferecer. Dessa forma, a visão imediatista da empresa não permitiria
que a pesquisa acadêmica se concretizasse em plenitude ao restringir prazos e, assim, tolher
suas possibilidades de exploração de temas e arestas que poderiam ser interessantes para o
desenvolvimento de novos conhecimentos, uma vez que o interesse empresarial seria a
obtenção de resultados rápidos e comercializáveis. Neste sentido, a aversão ao risco por parte
da iniciativa privada atua também como um distanciador nesta relação, uma vez que é
plenamente possível que uma determinada pesquisa ou projeto estruturado não chegue aos
resultados esperados, demore mais do que o projetado ou até mesmo traga conclusões
46
completamente discrepantes das expectativas. Para a academia, este é o processo normal da
pesquisa, no entanto, na percepção da empresa, isto pode ser visualizado como um prejuízo de
grande monta.
Tais diferenças se manifestam como traços que podem vir a impactar diretamente a
cultura do ambiente universitário, atuando de forma a modelá-lo de acordo com as necessidades
empresariais, ainda mais estando sujeito ao modelo gerencialista. Além disso,
Alguns autores acham que as relações com a indústria criaram uma atmosfera
empresarial na universidade, que está modificando o ethos da ciência. Normas
de comportamento da comunidade acadêmica estão sendo alteradas para
acomodar as ligações mais estreitas com empresas. Além disso, a sociedade
sofre outras perdas mais sutis quando os principais professores passam a ter
interesse financeiro na comercialização da pesquisa que desenvolvem. Na
tentativa de assegurar novas fontes de recursos, os professores e
administradores universitários estão adotando os valores éticos da indústria,
tais como o sigilo, a propriedade e a hierarquia. (SBRAGIA et. al, 2006, p.
94)
Pode ocorrer inclusive o que Stal (1995) denomina como “conflito de
comprometimento”, conhecido também como conflito de interesses, diante do qual o professor
sente dificuldade para realizar a distribuição de tempo e esforço entre as suas obrigações
acadêmicas e a participação em atividades externas, tais quais aquelas que são direcionadas
para atender as demandas das empresas.
Neste sentido, percebe-se que a universidade, com este esforço de integração com as
empresas, pode sofrer consequênias capazes de afetar sua própria condição de centro de
construção e difusão de conhecimento, modificando-o para um centro de criação e venda do
mesmo, sendo que esta cultura pode passar a ser disseminada entre seus departamentos, setores
e professores de forma que não mais os profissionais se sintam atraídos pela função precípua
da universidade e passem a priorizar as atividades pelas quais receberão remuneração e
compensações extras àquelas já referentes ao seus cargos. Esta é a tendência descrita pelo
capitalismo acadêmico, conforme afirmam Rhoades e Slaughter (2004, p. 37): “ O que estamos
chamando de ‘capitalismo acadêmico na nova economia’ é um regime que implica faculdades
e universidades envolvidas com o mercado e comportamentos de mercado semelhantes” .
O regime de capitalismo acadêmico provoca alterações na tomada de decisão dentro das
universidades, as quais passam a priorizar oportunidades potenciais de geração de receita, como
a produção de conhecimento para gerar patentes e a criação de materiais didáticos sujeitos à
proteção por meio de direitos autorais para posterior comercialização. Assim, de acordo com
Rhoades e Slaughter (2004), ao invés da instituição direcionar seus esforços e suas condutas
para a expansão do conhecimento acima de qualquer outra proposta, ela foca suas negociações
47
e decisões estratégicas e acadêmicas para a busca de fontes de recursos adicionais, o que é ainda
mais impulsionado quando as instituições se inserem em um cenário de redução de recursos
públicos para financiamento de suas atividades, como o contexto brasileiro atual.
As críticas em torno desta possibilidade levantam as potencialidades das universidades
públicas passarem a atender prioritariamente as demandas do setor produtivo, subordinando
assim a agenda universitária a estas questões, o que poderia prejudicar sobremaneira a
autonomia e liberdade acadêmicas, ferindo a heteronomia e a autonomia, questão anteriormente
levantada (SGUISSARDI, 2011).
O quadro aqui traçado aponta para posições, tanto teóricas quanto empíricas, que
parecem caminhar em trajetórias que se afastam. Apesar disso, as políticas públicas construídas
em torno da ciência, tecnologia e inovação, que vieram inclusive a dar nome aos órgãos gestores
tais como Ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), ou mesmo
nas universidades, cujas pró-reitorias de pesquisa e pós-graduação se tornaram Pró-Reitorias de
Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, parecem acreditar na possibilidade de uma espécie de
parceria público-privada (PPP) ou de algum outro tipo de formalização de vínculo capaz de
acomodar os interesses em jogo. Fica, no entanto, a pergunta se é possível algum tipo de
convergência e cooperação entre as duas perspectivas presentes no cenário institucional com
relação ao papel da universidade, e que modelos poderiam suportar tal convergência.
48
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Para a realização deste trabalho de natureza qualitativa, adotou-se o o estudo de caso, a
fim de, conforme Triviños (1992), conhecer e compreender de forma aprofundada a realidade
delimitada no contexto da Universidade Federal de Juiz de Fora.
O “estudo de caso” é associado à pesquisa qualitativa e, neste sentido, permite a geração
de perspectivas diversas, “seja por meio de vários métodos de coleta de dados, seja pela criação
de muitas descrições por meio de um único método” (GRAY, 2012, p. 138). A comparação e
integração dessas diferentes perspectivas permitem a construção de uma compreensão
detalhada e rica sobre um determinado contexto, o qual corresponde à unidade de análise do
estudo de caso. Neste método, como os instrumentos de coleta de dados podem ser variados,
há igual flexibilidade na análise (YIN, 2015).
Ao se considerar a forma particular com que cada universidade lida com as modificações
que as atingiram com o decorrer do tempo, a abordagem qualitativa é capaz de atuar de forma
compreensiva, inclusive investigando fenômenos que não necessariamente se comportam
conforme uma lei geral, mas sim como elementos originais e específicos (BRUYNE;
HERMAN; SCHOUTHEETE, 1991). O modelo compreensivo busca então apreender a
realidade a partir do interior, buscando alcançar a verdade vivenciada (CHANLAT, 2000).
Comparando as pesquisas de levantamento com o método de estudo de caso, Gray
(2012, p. 200) afirma que:
Enquanto as pesquisas de levantamento tendem a coletar dados sobre uma gama
limitada de tópicos, mas de muitas pessoas, os estudos de caso podem explorar muitos
temas e assuntos, mas de uma faixa muito mais direcionada de pessoas, organizações
e contextos. (...) os estudos de caso se mostram valiosos ao acrescentar entendimento,
ampliar a experiência e aume ntar a convicção sobre um tema.
Neste sentido, as questões foram elaboradas com o intuito de investigar os fenômenos
em sua complexidade natural, tomando como base um arcabouço teórico que atuou como
direcionador para a coleta de dados e para a análise dos mesmos.
Com a finalidade de construir o estudo de caso, foram consideradas como fontes de
dados primários as entrevistas, as quais foram realizadas tanto na Universidade Federal de Juiz
de Fora, quanto na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. No interior da UFJF,
as entrevistas foram realizadas com integrantes do Conselho Superior, instância máxima
decisória da universidade, que ocupam cargos na administração superior, na administração
49
média, no Núcleo de Inovação Tecnológica e em órgãos de representação docente, dicente e
dos técnicos administrativos em educação, além de ocupantes de cargos de confiança. Assim,
na universidade foram realizadas 13 (treze) entrevistas, sendo os indivíduos envolvidos
ocupantes dos cargos de: Reitor, Pró-Reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças, Pró-
Reitor de Extensão, Presidente da FADEPE (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do
Ensino, Pesquisa e Extensão), Diretor de Inovação, Diretores de cinco Unidades Acadêmicas,
além do Presidente da APES-JF (Associação dos Docentes de Ensino Superior de Juiz de Fora),
do Presidente do SINTUFEJUF (Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em
Educação das Instituições Federais de Ensino no Município de Juiz de Fora-MG) e do
Coordenador Geral do DCE (Diretório Central das e dos Estudantes da UFJF). Na FIEMG,
como forma de complementação aos dados obtidos através de documentos, foi também
entrevistado o Presidente da FIEMG Regional Zona da Mata.
Com o intuito de coletar evidências para a presente investigação, foram ainda
consideradas as fontes de dados secundários. No que concerne ao ente “universidade”, foi
analisado o Plano de Desenvolvimento Institucional da Universidade Federal de Juiz de Fora
que apresenta, para o período compreendido entre 2016 a 2020, os políticas inseridas no Projeto
Pedagógico, as quais possibilitam entender os direcionamentos da UFJF enquanto instituição.
Com relação ao ente “governo”, documentos como leis, decretos e propostas de emenda
constitucional foram analisados a fim de compreender o direcionamento governamental e suas
políticas oficiais. No âmbito da indústria, o levantamento de documentações e registros de
arquivos, como relatórios da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e do Instituto
Euvaldo Lodi (IEL) foram responsáveis por descrever o discurso formal do ente “indústria”.
Além disso, obteve-se também a percepção da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de
Minas Gerais), que atua como órgão representativo das indústrias da região da Zona da Mata,
sendo que nesta foi inclusive possível, como anteriormente descrito, captar a visão da
instituição acerca do tema pesquisado também através de entrevista com seu Presidente.
Nas entrevistas, a identidade dos indivíduos será mantida em sigilo conforme informado
a todos através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A). Esta escolha foi
realizada com o intuito de permitir aos participantes maior liberdade de expressar suas
percepções e opiniões, sem receio de posterior retaliação. Fragmentos dos registros serão
utilizados na apresentação do caso, uma vez que entendeu-se que tais apontamentos seriam
importantes no sentido de validar a apresentação das evidências acerca do tema estudado. No
entanto, a fim de possibilitar a utilização de excertos das entrevistas preservando o sigilo dos
entrevistados, os indivíduos participantes da pesquisa serão identificados somente por códigos,
os quais seguem relacionados no Quadro 4.
50
Quadro 4 - Codificação dos entrevistados
Característica do entrevistado Código
Membro da Administração Superior da
Universidade Federal de Juiz de Fora AS1, AS2, AS3, ...
Membro da Administração Média da
Universidade Federal de Juiz de Fora AM1, AM2, AM3, ...
Membro de órgão representativo de
dicentes, docentes e técnicos REP1, REP2, REP3...
Representante da Indústria de Juiz de Fora
e região IND
Fonte: Elaboração própria
Para obter os dados nas entrevistas, foi adotado um roteiro semiestruturado aplicado de
forma individual, sendo que as questões abordadas foram estabelecidas a partir das categorias
teóricas atinentes ao estudo da cooperação universidade–empresa–governo. A opção pela
entrevista semiestruturada ocorreu devido às possibilidades que este desenho oferece de realizar
um maior “[...] aprofundamento das visões e das opiniões onde for desejável que os
respondentes aprofundem suas respostas” (GRAY, 2012, p. 302).
As questões elaboradas consideraram mais de uma categoria temática do estudo em seu
bojo, abrangendo uma rede de conceitos subjacentes que permitiram a posterior interpretação
das respostas. Sendo assim, algumas questões puderam ser utilizadas para analisar mais de uma
perspectiva conceitual sendo que, para auxiliar na compreensão da estruturação deste estudo, o
Quadro 5 demonstra a relação dos temas explorados com seus respectivos elementos analisados.
Quadro 5 - Temas pesquisados e elementos analisados
TEMA ELEMENTO ANALISADO
Percepção geral da universidade
1. Os papeis que a universidade assume hoje;
15. Possíveis benefícios para a universidade em uma relação
mais próxima com o ambiente externo;
16. Possíveis riscos para a universidade em uma relação mais
próxima com o ambiente externo;
17. Entendimento acerca do termo Universidade
Empreendedora.
Tripla Hélice
2. Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o
governo;
11. Comprometimento da UFJF com o intercâmbio de
conhecimentos com a indústria, a sociedade e o governo.
Periferia de Desenvolvimento
Expandida
2. Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o
governo;
3. Motivos que levariam a universidade a buscar a
aproximação com o governo e as empresas;
6. Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos
relacionamentos da universidade com as empresas;
51
9. Possíveis influências das partes interessadas externas na
estruturação e desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem;
10. Papel exercido pelo CRITT.
Cultura Empreendedora
Integrada
5. Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer
parcerias com empresas;
8. Incentivos oferecidos pela UFJF para que seus funcionários
promovam iniciativas de integração com o empresas;
10. Papel exercido pelo CRITT.
Base de Financiamento
Diversificada
5. Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer
parcerias com empresas;
7. Fontes de financiamento das atividades da universidade.
Núcleo de Direção Fortalecido
4. Mecanismos instititucionais da UFJF que regulam a relação
com entes externos;
6. Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos
relacionamentos da universidade com as empresas;
9. Possíveis influências das partes interessadas externas na
estruturação e desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem.
Centro Acadêmico Estimulado
5. Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer
parcerias com empresas;
9. Possíveis influências das partes interessadas externas na
estruturação e desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem.
Percepção acerca do governo
12. Atuação das políticas educacionais e econômicas
governamentais no sentido da integração;
13. Forma como o governo visualiza a construção da relação
entre as universidades e as empresas.
Percepção acerca das empresas 14. Postura das empresas com relação à integração.
Fonte: Elaboração própria
Na análise das informações coletadas, foi utilizada a técnica da Análise Temática, a qual
se insere no âmbito das técnicas de Análise de Conteúdo, cujo objetivo consiste em promover
a identificação dos itens de significação a partir do conjunto de enunciados obtidos tendo como
base o conteúdo das entrevistas e dos documentos para posteriormente interpretar os elementos
obtidos relacionados ao tema da pesquisa (BARDIN, 2004). Para isto, foram realizadas as
seguintes etapas: i) transcrição, constituição do conteúdo e realização de pré-análise; ii) leitura
e exploração do material para estabelecimento de categorias e de itens de significação; iii)
tratamento dos dados através de interpretação e inferência; iv) confronto dos resultados obtidos
com as teorias articuladas.
A seguir apresenta-se, então, o caso que está sob estudo neste trabalho, de onde advirão
as análises frente às teorias anteriormente apresentadas.
52
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é uma instituição com sessenta e seis
anos de história, tendo sido fundada em 1960 pelo então Presidente Juscelino Kubitschek com
o objetivo de se tornar um pólo acadêmico e cultural no sudeste do estado de Minas Gerais,
região que contava, no período citado, com 2,5 milhões de habitantes (UFJF, 2015).
Atualmente, a UFJF abrange uma diversidade de cursos, sendo que, no total, são
oferecidos trinta e sete cursos superiores de graduação, agrupados em dezesseis unidades
acadêmicas que abrangem ciências humanas, exatas e a área de saúde. Além das graduações,
são ofertados ainda vinte e seis cursos de mestrados acadêmicos, três mestrados do tipo
profissional e nove cursos de doutorado. O quadro de funcionários é composto por 1.000
professores, 1.144 servidores técnico-administrativo educacionais e 20.000 estudantes (UFJF,
2015).
A estrutura administrativa da universidade atualmente apresenta 8 (oito) Pró-reitorias e
6 (seis) Diretorias, sendo todas diretamente subordinadas ao Reitor. As Pró-reitorias são:
Extensão; Gestão de Pessoas; Assistência Estudantil e Educação Inclusiva; Planejamento,
Orçamento e Finanças; Infraestrutura e Gestão; Pós-Graduação e Pesquisa; Graduação; e
Cultura. As diretorias, por sua vez, se referem às áreas de Inovação; Relações Internacionais;
Ações Afirmativas; Imagem Institucional; e Avaliação Institucional.
A equipe que atualmente está à frente da gestão da instituição assumiu em 16 de abril
deste ano e, assim, a universidade está passando por um momento de transformação e também
reconstrução em algumas áreas, como é característico de mudanças de administração. Um dos
campos que se destaca neste sentido é a área de Inovação, que, na gestão anterior foi alocada
em conjunto com a Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, recebendo a denominação de
Pró-reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação e, atualmente, é representada por uma
diretoria exclusiva da área. O Diretor de Inovação assumiu também a Direção do Centro
Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (CRITT), sendo que este abrange o NIT
(Núcleo de Inovação Tecnológica) da instituição. Entre as atribuições do Núcleo, constam o
gerenciamento da política de inovação da UFJF e a coordenação da Incubadora de Base
Tecnológica (IBT). Com sua qualificação como NIT, o CRITT passou a ser responsável pela
53
manutenção da política institucional de estímulo à proteção de criações, licenciamento,
inovação e outras formas de transferência de tecnologia. O CRITT atua também no sentido de
prospectar projetos da universidade para empresas e empreendedores interessados no
aprimoramento de processos de produção ou criação de produtos novos em diversas áreas
(UFJF, 2016).
Ainda sob a responsabilidade do CRITT e da UFJF, está em construção o Parque
Científico e Tecnológico de Juiz de Fora e Região (PCTJFR), cujo principal objetivo, segundo
a UFJF (2016), consiste em criar um ambiente de inovação e sinergia entre os empreendimentos
instalados.
O intuito da estruturação do PCTJFR consiste em torná-lo um espaço para empresas,
centros públicos e privados de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I), prestadores de
serviços tecnológicos complexos e de apoio às atividades tecnológicas. Além disso, em seu
escopo, o Parque ainda descreve a intenção de aproximar as universidades e centros de pesquisa
da Região da Zona da Mata Mineira às empresas e à sociedade de forma a incentivar de maneira
mais contundente o empreendedorismo e a inovação, bem como a geração de empregos e renda.
Nos últimos anos, no entanto, mesmo com iniciativas como o princípio da estruturação
do Parque Tecnológico, a UFJF apresentou esforços incipientes no sentido da inovação. Como
indicador desta situação, pode-se citar, por exemplo, os dados do Anuário Estatístico do INPI,
no qual identificou-que a a universidade entrou somente com 07 (sete) depósitos do tipo patente
de invenção em 2012. O desempenho da instituição segue demonstrado na Tabela 3, com os
dados provenientes do INPI referentes ao período entre 2000 e 2012.
Tabela 3- Depósitos de Patentes do Tipo Patente de Invenção (PI) pela UFJF – 1º Depositante
ANO NÚMERO DE DEPÓSITOS
2000 0
2001 0
2002 0
2003 1
2004 1
2005 1
2006 1
2007 0
2008 5
2009 17
2010 4
2011 14
2012 7
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do INPI (2012)
Em um panorama de doze anos, a universidade deu entrada em 51 pedidos, enquanto
outras instituições de ensino superior, como a USP, entraram com 58 pedidos em apenas um
ano, totalizando, no período selecionado, 468 pedidos. No entanto, como anteriormente
54
ponderado, a UFJF se encontra em um momento de transição e percebe-se que esforços de
diversos aspectos estão sendo empregados para modificar este panorama, inclusive com a
discussão do Marco Legal da Inovação da UFJF (UFJF, 2016).
Para melhor compreender como efetivamente a universidade se coloca neste processo
de aproximação com as empresas, é preciso que se explore também o panorama do outro ator
envolvido: as indústrias.
Para isto, elegeu-se neste estudo, como representante desta perspectiva, a Confederação
Nacional da Indústria (CNI) por ser o órgão máximo do sistema sindical patronal industriário.
Fundada em 1938, ela atualmente representa 1.250 sindicatos patronais e 27 federações de
indústrias, como a FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), FIRJAN
(Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), FIESP (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo), dentre outras (CNI, 2016).
A CNI é responsável por administrar diretamente o SESI (Serviço Social da Indústria),
o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o IEL (Instituto Euvaldo Lodi), em
conjunto com os quais compõe o denominado “Sistema Indústria”. Sua atuação ocorre no
sentido de participar e propor “[...] sugestões para a construção e o aperfeiçoamento de políticas
e leis que fortaleçam o setor produtivo e modernizem o país” (CNI, 2015), além de estimular o
desenvolvimento, a pesquisa e a inovação na indústria. No âmbito da zona da mata mineira, a
entidade representativa da indústria corresponde à FIEMG, que atua na defesa dos interesses
industriais desta região (FIEMG, 2016). O IEL, por sua vez, foi criado em 1969 especificamente
para promover a interação entre a indústria e a universidade e seu intuito era aproximar estas
duas instituições de modo a criar uma relação de mão dupla: a indústria se renovando com as
inovações proporcionadas pela universidade e a universidade realizando adequações em seus
currículos para atender as demandas da indústria (IEL, 2009).
Estas entidades representativas atuam continuamente junto ao governo com o intuito de
influir na estruturação de mecanismos que favoreçam a competitividade da indústria. O
governo, por seu lado, vem, conforme pode ser percebido pelas leis e regulamentações,
buscando estimular o fortalecimento deste vínculo entre a indústria e a universidade como
caminho interpretado como capaz de incrementar o desempenho empresarial.
Recentemente, foi sancionado o novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei
13.243/16), que autoriza o professor universitário a dedicar 8 (oito) horas semanais e até 416
(quatrocentos e dezesseis) horas por ano para realização de atividades dentro de empresas. Além
dessa determinação, o Marco também reforçou a possibilidade de que o professor pesquisador
que atue neste sentido possa receber diretamente contrapartidas remuneratórias através de
bolsas ou por outros instrumentos jurídicos, como contratos, convênios e outros.
55
Há possibilidade também de estabelecimento de vínculos voltados para gerar “produtos,
processos e serviços inovadores e a transferência e a difusão de tecnologia” entre empresas,
ICTs e instituições privadas sem fins lucrativos contando com o apoio dos entes federativos e
das agências de fomento, sendo que, aos Núcleos de Inovação Tecnológica, atribuiu-se a
responsabilidade de “promover e acompanhar o relacionamento da ICT com empresas”
(BRASIL, 2016).
Dessa forma, percebe-se que, diante das novas determinações, o NIT, que, na UFJF, é
representado pelo CRITT, pode ser considerado como o ator institucional representativo dos
vínculos da universidade com a iniciativa privada e, assim, corresponde a objeto significativo
de análise com relação ao aspecto de Periferia de Desenvolvimento Expandida, apresentado
anteriormente no modelo de Universidade Empreendedora de Clark (1998).
A pesquisa de campo buscou então trazer à tona as percepções dos atores sobre esta
relação entre a universidade, a indústria e o governo no âmbito de atuação da Universidade
Federal de Juiz de Fora.
4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A partir do referencial discutido, foi possível perceber a importância da postura da
universidade para que os relacionamentos com as empresas e o governo sejam profícuos.
Assim, é preciso, em primeiro plano, que se aprofunde o conhecimento acerca dos papeis que
ela exerce ou deveria exercer. Desta forma, para promover a compreensão inicial das
expectativas dos entrevistados com relação à atuação da universidade, questionou-se, na
percepção deles, quais seriam os papeis que a universidade exerce atualmente. As respostas dos
atores institucionais da universidade seguem tabuladas segundo as categorias temáticas
construídas a partir dos discursos no tabela a seguir (Tab. 4), onde vale ressaltar que a
porcentagem total ultrapasssa 100% devido ao fato dos sujeitos poderem fornecer mais de uma
resposta.
Tabela 4- Os papeis que a universidade assume hoje
Absoluta %
7 54%
4 31%
3 23%
3 23%
2 15%
2 15%
FrequênciaRespostas
A tríade Ensino, Pesquisa e Extensão
Ensino, Pesquisa, Extensão e outras dimensões, como a inovação e a visualização de demandas externas
Agente de desenvolvimento econômico e social
Questionamento sobre o papel ideal e o papel real
A tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, mas aquém das possibilidades
Produtora e difusora de conhecimento
Fonte: Elaboração própria
56
Percebe-se que a maioria dos entrevistados atribui à universidade os papeis legalmente
delimitados como de sua responsabilidade. Entretanto, merece destaque a percepção da
universidade como agente de desenvolvimento econômico e social, bem como desenvolvedora
de inovação. Os participantes que ressaltaram essas duas atuações adicionais totalizam 54% das
respostas e, dentre estes, estão incluídos quatro dos cinco entrevistados da Administração
Superior. O posicionamento de um desses respondentes desperta interesse.
De certa forma, nós construímos uma estrutura desse papel da universidade em dois
grandes eixos: um eixo é o do papel da universidade enquanto agente que
contribui no desenvolvimento econômico através de relações com o mundo
empresarial, a possibilidade da conversão das nossas pesquisas na área de ciência e
tecnologia em inovação, o desenvolvimento através do fornecimento de quadros, de
profissionais pro mercado, então é um papel de desenvolvimento econômico e um
papel de desenvolvimento social, que também é uma demanda fortíssima da
nossa sociedade em função de todos os nossos déficits sociais, então a
universidade precisa atuar junto a movimentos sociais, desenvolvendo políticas
e criando condições pra desenvolvimento de politicas sociais, então são os dois
grandes eixos que a universidade precisa atuar, acho que não dá pra você pensar a
universidade que atue apenas em um desses, que seja descomprometida socialmente,
por um lado, ou que não exerça seu papel e assuma sua função em termos de
desenvolvimento econômico. (Grifo nosso). (AS1)
A universidade recebe, então, como atribuição ser agente de desenvolvimento
econômico e desenvolvimento social, percepção compartilhada por 31% dos entrevistados.
Ainda neste sentido, um outro membro da Administração Superior ressalta que houve
indicação, em pronunciamento da reitoria, das funções da universidade serem entendidas como
“[...] ensino, pesquisa, extensão e inovação [...]” (AS4), demonstrando, desta forma, a
importância conferida à atividade inovativa e desenvolvimentista da universidade pela gestão
atual.
No campo da indústria, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) demonstra reconhecer as funções
destacadas pela tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, mas sua atuação, desde a criação do IEL
até hoje, ressalta os esforços de aproximação entre a universidade e as empresas como fonte de
inovação e consequente aumento da competitividade, como é possível observar no fragmento
retirado de manifestação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicada no princípio
deste ano.
Ao estimular a inovação, aperfeiçoar a gestão de empresas e academia e melhorar a
formação da mão-de-obra, a interação da indústria com universidades potencializa a
geração de ativos econômicos ricos em conhecimento e promove o crescimento da
competitividade de um segmento produtivo, região e país. Ocorre nesses locais um
efeito multiplicador e a geração de um ciclo virtuoso de inovação: currículos
acadêmicos com conteúdos mais inovadores e formação de profissionais que geram
produtos inovadores e são mais empreendedores. Mais produtos e empresas bem
sucedidas geram mais empregos, arrecadação de tributos, riquezas que, por sua vez,
geram melhores ambientes e demanda para universidades e empreendimentos
inovadores. (Grifo nosso). (CNI, 2016)
57
O representante regional da indústria entrevistado fez menção ao esforço atual da
Universidade Federal de Juiz de Fora no sentido de integração, porém, destacou o histórico foco
direcionado para o ensino que deixa em segundo plano a pesquisa aplicada e a transferência de
tecnologia, percepção confirmada também por um dos membros da Administração Superior e
por integrantes da Administração Média. Essa percepção acerca da atuação da UFJF se refletiu
nas respostas à indagação quanto ao relacionamento da instituição com as empresas e o
governo, como é possível observar na Tabela 5.
Tabela 5- Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o governo
Absoluta %
11 85%
3 23%
1 8%
Sim, mas não controle social sobre o processo de interação com as empresas 1 8%
RespostasFrequência
1 8%
Relacionamento ainda restrito
Mais interação da universidade com o governo do que com as empresas
Há uma preocupação da reitoria atender a todas as demandas da sociedade (movimentos sociais e setor
empresarial)
O relacionamento com as empresas é visto de forma perigosa e atualmente gera conflitos de percepção
dentro da universidade
Fonte: Elaboração própria
Esta dificuldade de aproximação e o foco direcionado para a atividade de ensino foi,
como anteriormente comentado, atribuída por um dos membros da Administração Superior à
forma como foi criada e estruturada a UFJF, como é possível observar no fragmento de
entrevista abaixo.
A Universidade de Juiz de Fora ela não é propriamente uma universidade que teve
origem numa área de conhecimento muito determinada ou em um conjunto de áreas
de conhecimento próximas que permitissem que esse processo acontecesse de maneira
mais “natural”. A Universidade de Juiz de Fora é uma universidade que nasceu desde
os anos 70, é universidade de formação de mão de obra, uma universidade pra formar
pessoas pro mercado de trabalho, tanto assim que a nossa pós graduação só ganha
fôlego nos anos 90 e as nossas estruturas de ensino de graduação sempre foram mais
fortes que a pós e mais fortes que a extensão [...] (AS3)
Dentre os entrevistados, 23% consideraram como um agravante para esse
distanciamento entre a universidade e os demais entes a indicação de que, por uma parte da
comunidade acadêmica, esta aproximação pode ser considerada arriscada, como pondera um
dos membros da Administração Média:
[...] e isso é visto por alguns com maus olhos, e eu às vezes percebo nas pessoas o
medo de uma interação com o mercado como se fosse algo, digamos, ligado a uma
certa privatização da universidade, uma ameaça ao financiamento público, então isso
na minha visão é perceptível e eu não vejo isso como ruim, pelo contrário, eu acho
que essa interação é interessante [...] (AM5)
58
Os atores institucionais universitários que apoiam a postura de aproximação alegam
ainda sofrer com críticas dos que que visualizam perigos na relação universidade-indústria:
“[...] porque você tem hoje também dentro da universidade dois mundos, eu sou considerado
um indivíduo privatizante, que só pensa em recursos privados e não é bem assim. É uma visão
um tanto quanto deturpada” (AS5).
Outro integrante da Administração Média destaca ainda que esse relacionamento pouco
próximo não necessariamente deve ter suas causas atribuídas exclusivamente à universidade,
uma vez que, para que a interação aconteça, é essencial que haja o interesse de todas as partes
envolvidas. Assim, o entrevistado considera a possibilidade de que não há vínculos mais
estreitos entre esses entes também por conta de barreiras provenientes dos outros agentes, como
a falta de interesse ou de conhecimento do potencial da universidade, e até mesmo o medo de
aproximação por considerar que a universidade é superior e que nem toda pessoa teria
capacidade intelectual para se relacionar diretamente com quem consideram ser os detentores
do saber. Adicionalmente, levanta-se a possibilidade de que este afastamento possa ser até
mesmo uma consequência da falta de valorização do conhecimento na cultura brasileira, do
“[...] preconceito contra o saber [...]” (AM3) que a sociedade possui.
O representante regional da indústria, por sua vez, destaca que, no contexto da UFJF,
esse distanciamento pode estar sendo agravado devido à falta de demanda por parte das
empresas.
Legislação existe, capacidade intelectual tem [...] De repente, não está sendo feito
também porque Juiz de Fora não tem indústria de ponta. Como nós temos
pouquíssimas indústrias de ponta e quem demanda pesquisa são indústrias de ponta,
pode ser que por isso também não existe pesquisa. [...] Nós temos 1284 indústrias em
Juiz de Fora, dessas 1284 nós temos 5 empresas grandes, dessas 5 empresas grandes,
posso ter aqui Beckton Dickson, Mercedes-Benz e Votorantim que é de ponta [...]
(IND)
Percebe-se que, na opinião deste entrevistado, a interação da universidade com as
empresas ocorreria essencialmente através de pesquisa, o que, na atualidade, não estaria
acontecendo devido ao fato delas não demandarem por novos conhecimentos. Desta forma,
inicia-se a construção do indício de que, no contexto da UFJF, talvez não se observe a tripla
hélice consolidada e não se confirme a característica de Periferia de Desenvolvimento
Expandida, sendo que, para esta, são necessárias ainda análises a partir de outras formas de
interação, como, por exemplo, o NIT.
No sentido de explorar mais esse ponto do relacionamento da universidade com os entes
externos, indagou-se ainda aos entrevistados sobre o comprometimento da universidade com o
intercâmbio de conhecimentos com a sociedade, a indústria e o governo, sendo as respostas
dispostas na Tabela 6.
59
Tabela 6- Comprometimento da UFJF com o intercâmbio de conhecimentos com a indústria,
a sociedade e o governo
Absoluta %
5 38%
3 23%
3 23%
1 8%
1 8%
1 8%
São iniciativas pontuais
É comprometida, mas algumas vezes se distancia de seu foco por buscar atender demandas externas
Institucionalmente não há comprometimento, isto é realizado mais pelas empresas juniores
É comprometida com a sociedade e realiza o intercâmbio por meio de pesquisa e extensão
Não há, mas a UFJF está buscando aumentar este contato através da aproximação com o mercado e com
a comunidade
Respostas
2 15%
Frequência
Através das iniciativas da Pró Reitoria de Extensão
Através das iniciativas da Direitoria de Inovação
Fonte: Elaboração própria
Apesar da questão anterior (Tab. 5) denotar uma postura de pouca proximidade da
universidade com entes externos, nesta questão 62% dos respondentes consideram a UFJF
comprometida com o intercâmbio de conhecimentos com o ambiente externo, sendo que mais
8% ainda abordam que há este relacionamento, porém, por considerar que ocorre
majoritariamente por meio das empresas juniores, afirmam faltar algo que seja de nível
institucional (Tab. 6).
Dessa forma, constituiu-se uma tensão de percepções: a universidade teria um
relacionamento restrito com as empresas e o governo, mas, ao mesmo tempo, seria
comprometida com o intercâmbio de conhecimentos com entes externos. Percebe-se que uma
parte deste compromisso é atribuído às iniciativas de extensão, que priorizam as demandas
sociais e não empresariais, o que poderia, até certo ponto, justificar parte da discrepância entre
as percepções coletadas nas duas últimas perguntas (Tab. 5 e Tab. 6), porém, ainda assim, a
afirmação não guarda completa coerência com as opiniões demonstradas anteriormente, uma
vez que, nesta questão apenas 38% dos entrevistados alegaram perceber iniciativas pontuais,
enquanto na anterior, 85% perceberam um relacionamento restrito entre as instituições.
Esta tensão denota que há possibilidade de que a UFJF ainda não tenha desenvolvido o
Centro Acadêmico Estimulado e a Periferia de Desenvolvimento Expandida citados por Clark
(1998); o primeiro devido ao fato da percepção de que as iniciativas existentes estão ainda
concentradas em partes específicas da universidade, como as pró-reitorias, e o segundo devido
à baixa integração entre a instituição e os entes externos supracitados.
Os discursos indicam que uma hipótese para esta distância entre as respostas pode ser
uma demonstração de desejo versus realidade da universidade. Os entrevistados, ao analisarem
os vínculos atuais, percebem que os mesmos são restritos, mas que, ainda assim, a universidade
deseja estar comprometida com esse compartilhamento de conhecimentos com agentes
60
externos. O aprimoramento deste vínculo foi indicado por três entrevistados como necessário,
não somente citando iniciativas de aproximação com o ambiente empresarial, mas também com
a sociedade, favorecendo assim o já citado impacto social e econômico da atividade da
universidade.
Por parte das indústrias, a percepção é de que este relacionamento ainda é incipente,
como foi declarado pelo representante regional ao afirmar que o único a se aproximar da
instituição representativa das indústrias, após muito tempo de distanciamento, foi o atual
responsável pelo Núcleo de Inovação Tecnológica da UFJF, porém, ainda assim, o entrevistado
afirma que esta iniciativa não é suficiente; na percepção dele, para que haja o efetivo
intercâmbio de conhecimentos entre a universidade e a indústria, a cultura de compartilhamento
deve ser algo divulgado e internalizado na conduta nos professores e alunos da universidade
para que efetivamente seja explorado o potencial da universidade e ocorram pesquisas de
relevante contribuição, o que provocaria a disseminação da Cultura Empreendedora Integrada
do modelo de Clark (1998). Esta mudança, segundo a CNI (2016), poderia ser guiada pela
incorporação à universidade dos princípios empresariais.
A base da sociedade moderna é a troca e a negociação. Essa premissa, do ambiente
empresarial, poderá contribuir para a reformulação da gestão das universidades,
sobretudo as públicas, tornando-as mais eficientes e integradas ao sistema econômico.
É necessário reconhecer que tanto as invenções quanto a própria formação de
profissionais têm um valor social e econômico. Alunos formados no sistema público
precisam, por exemplo, oferecer uma contrapartida pela educação financiada pela
sociedade.
Percebe-se que tanto o discurso formal do órgão representativo quanto o ponto de vista
do entrevistado da indústria indicam a visão, por parte deles, de que a melhor postura para a
universidade é aquela que a aproxima ao modelo empresarial: profissionais comprometidos
com a inovação e com o desempenho da instituição serão valorizados, a universidade deve ser
capaz de acompanhar e se adaptar às demandas do mercado e oferecer profissionais em número
e em qualificação que estejam de acordo com as necessidades apresentadas pelo ambiente
externo à instituição. Neste sentido, manifesta-se, no discurso destes, a reprodução do
comportamento das empresas no âmbito público, como preconizado pela Nova Gestão Pública
(Paula, 2005), como sinônimo de desempenho satisfatório eficiência no âmbito público.
Diante do exposto, nota-se que o segmento aparenta buscar imprimir ao cerne do meio
acadêmico uma lógica concorrencial, como se a este coubesse uma roupagem mercadológica
típica das empresas privadas, como se as universidades rivalizassem entre si um melhor
posicionamento de mercado, postura esta que já encontra algum eco dentro da própria
universidade, inclusive demonstrado, entre os entrevistados, por um dos membros da
61
Administração Superior ao afirmar, de maneira coerente com essa posição, que o professor
precisa cuidar para que não fique obsoleto ou pouco competitivo:
A dedicação exclusiva ela engessa e elas fazem com que nós não tenhamos
informações frutíferas pra repassar e essa geração Y que tá aí, a Z que tá chegando, já
diz: “professor, você é muito acadêmico, eu quero conhecimento”. Então a gente tem
que entender que isso também é uma mudança de postura porque as leis estão aí, já se
flexibiliza, professor já pode prestar consultoria, professor já pode ir pra dentro de
empresa fazer pós-doutorado, pra poder fazer com que você saia do teu limbo, da tua
zona de conforto, e busque esse conhecimento, porque você corre o risco de se tornar
obsoleto e pouco competitivo enquanto professor já nos primeiros anos da tua carreira,
então eu acho que isso daí é fundamental pra oxigenar nosso conhecimento e as nossas
técnicas e as informações que a gente repassa. Aprender a aprender sempre. (AS5)
A adoção desta abordagem de gestão ressalta a importância do Núcleo de Direção
Fortalecido, para que a universidade, se considerar pertinente, realize as adequações desejadas
em sua atuação, mas não deixe de exercer seus papeis essenciais. Neste sentido, a fim de
identificar a existência de iniciativas institucionais da universidade de alguma forma coerentes
com essa postura de aproximação com o mercado, questionou-se sobre a existência de algum
incentivo para que os funcionários da UFJF busquem promover a integração com o mundo dos
negócios. As respostas obtidas seguem na Tabela 7.
Tabela 7- Incentivos oferecidos pela UFJF para que seus funcionários promovam iniciativas
de integração com o empresas
Absoluta %
4 31%
3 23%
3 23%
2 15%
1 8%
1 8%
1 8%
Poucos incentivos, mas a aproximação não depende exclusivamente da possibilidade de recompensas financeiras
Poucos incentivos, mas a universidade está buscando aprimorar sua conduta nesse sentido
Não há incentivo
Existem incentivos, mas este contato é algo preocupante
RespostasFrequência
Através de editais e bolsas para projetos de extensão, de iniciação científica, dentre outras bolsas
São percebidos e realizados de formas diferentes a depender da área do conhecimento
A aproximação não depende disso e sim da característica do pesquisador
Fonte: Elaboração própria
Neste sentido, as respostas obtidas denotaram uma certa dedicação da instituição em
estimular os atores institucionais universitários para a aproximação com a indústria, o que pode
facilitar essa replicação de comportamentos no interior da universidade, porém 31% dos
entrevistados ressaltaram que a operacionalização destas iniciativas ocorre de forma diferente
a depender da área do conhecimento. Neste sentido, afirmam alguns dos representantes da
Administração Média: “ [...] eu acho que não é e nem pode ser homogêneo em toda a
universidade, as áreas são diferentes e vão se relacionar com as entidades externas de modo
diferente” (AM1)
62
[...] Eu vejo que em algumas áreas que tem mais apelo, que seus produtos são mais
aplicados de maneira mais imediata, porque essa é uma questão também: o acadêmico
às vezes ele demora muito a chegar no público, o produto da academia às vezes ele
demora muito tempo pra ser transformado num produto que vai ser utilizado de
maneira imediata pra população, então em áreas, por exemplo, como a medicina,
odontologia, farmácia, essas pesquisas, de certa forma, chegam mais rápido. Mas se
você pegar, por exemplo, a matemática, [...] é muito difícil. A matemática pura você
não consegue chegar imediatamente no público externo, ela é uma pesquisa que acaba
muito aplicada às próprias outras áreas da universidade, mas há setores, por exemplo,
que a gente pode transformar isso num produto mais utilizável de maneira mais rápida,
por exemplo, a matemática aplicada (...) ela usa a matemática pra resolver problemas
que vem da indústria, por exemplo, que vem de empresas, como, por exemplo,
otimização, computação, estatística, então isso poderia ser utilizado por empresas,
talvez pra melhorar seus processos e gerar talvez melhores produtos a custos mais
baixos, então eu vejo que isso é possível. (AM5)
Assim, essa distinção de incentivos para diferentes áreas do conhecimento pode ser
relacionada à particularidade de cada área no seu relacionamento com o ambiente externo,
sendo que, quanto mais imediatamente conectadas ao mercado, mais permeáveis elas são e
estão mais passíveis de receber influências e incentivos provenientes da própria iniciativa
privada, como financiamento que permite a compra de equipamentos modernos para
laboratórios, concessão de bolsas para alunos da pós-graduação, dentre outras possibilidades.
Adicionalmente, percebe-se que nas visões apresentadas, para que ocorra a aproximação
com a indústria, é preciso que se apresentem atrativos coerentes com a cultura empresarial:
apresentação de produtos com aplicabilidade imediata, propostas de redução de custos e de
aumento da eficiência. A internalização desses comportamentos em determinadas áreas pode,
ao mesmo tempo em que fortalece a cultura empreendedora, passar a requerer da universidade
um núcleo de direção cada vez mais atento à essa diversidade, de forma que possa também
elaborar mecanismos capazes de atenuar as desigualdades entre as diferentes áreas de
conhecimento que provocam inclusive discrepâncias quanto à obtenção de recursos externos.
O novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/16) neste caso de
incentivos, como anteriormente citado, e particularmente os financeiros, talvez seja atrativo
para pesquisadores que valorizam este aspecto, uma vez que legitima a base de financiamento
diversificada por parte dos centros de pesquisa, universidades, dentre outros. A preocupação
que se revela neste sentido com relação às áreas que não têm essa relação direta e imediata com
a aplicação mercadológica dos seus conhecimentos levanta sugestões como a criação de “[...]
um fundo que permita que parte desses recursos dêem sustentação a áreas que são igualmente
importantes, mas que não tem essa conexão com o mercado” (AS4).
Por outro lado, um dos integrantes da Administração Média afirmou que este incentivo
para a aproximação não deve vir da instituição, pois a conduta é algo extremamente particular
de cada profissional e pesquisador e assim, nenhum tipo de estímulo externo é capaz de forçar
63
este comportamento, nem mesmo recompensas financeiras. Nesse sentido, outro membro da
Administração Média relativiza essa questão das recompensas ao afirmar que:
[...] dentre os incentivos, o maior pro professor nem é o financeiro, é a coisa do
reconhecimento, é aquele coisa de você poder, por exemplo, ir a um congresso e
conhecer pessoas, seus pares, que estão pesquisando e fazer esse intercâmbio, ser
recebido em outras instituições, receber pessoas de outras instituições, então pra gente
vale muito mais do que o que você recebeu em termos de remuneração. Talvez você
não recebeu nada, mas você pode ir a um congresso importante, pode conhecer outras
pessoas, pode ver pessoalmente aqueles autores que você leu pro seu trabalho,
conversar com eles ou então trazer pessoas de fora, pessoas importantes, isso é o
incentivo maior que a gente tem, de ver seu trabalho publicado, ver seu trabalho
reconhecido. (AM3)
Com o intuito de enriquecer a análise sobre essa questão da aproximação com o
ambiente externo motivada por diversos aspectos, indagou-se aos entrevistados sobre o
movimento da Universidade Empreendedora e as respostas estão sintetizadas na Tabela 8.
Tabela 8- Entendimento acerca do termo Universidade Empreendedora
Fonte: Elaboração própria
A resposta mais frequente trata da institucionalização do empreendedorismo na
universidade, o que fortaleceria as dimensões do Centro Acadêmico Estimulado e da Cultura
Empreendedora Integrada no modelo de Universidade Empreendora. A questão de produção de
inovação, por sua vez, se faz presente não somente não somente na análise dos entrevistados na
universidade, como também por parte do governo e da indústria, como um dos benefícios mais
significativos desta relação. Ressaltou-se também a abertura da universidade às influências do
mercado, uma marca do movimento de Universidade Empreendedora no que concerne à
Periferia de Desenvolvimento Expandida, sendo também um traço coerente com a abertura do
campo universitário público à replicação da cultura empresarial, algo que já é implementado
em plenitude pelas empresas juniores, citadas aqui também como um dos entendimentos dos
entrevistados sobre o significado do termo, as quais seriam inclusive um exemplo de Periferia
de Desenvolvimento Expandida. A postura empreendedora dos profissionais apresentou
relevância nesta questão e foi defendida por representantes da Administração Média.
E aí é um exemplo de que quando a gente não fica parado, só esperando o que já é
previsível, a gente ganha, então quando você consegue se mobilizar, mobilizar seus
recursos, investir toda as suas capacidades pra fazer um bom projeto, por exemplo,
com a FINEP, você traz recursos para universidade também. (AM3)
Absoluta %
5 38%
4 31%
4 31%
2 15%
2 15%
RespostasFrequência
É a universidade que institucionaliza o empreendedorismo no seu interior
Se refere à produção de inovação na universidade
Se refere à conduta dos professores que tomam iniciativa ao invés de esperar algo chegar do governo
É ligado ao desenvolvimento de empresas juniores na universidade
Abrir a universidade às interferências externas provenientes do mercado
64
No entanto, um representante da Administração Média ressaltou que, em sua percepção,
a atuação empreendedora da universidade não se limitaria somente à capacidade de
comercialização do conhecimento gerado na instituição:
E não empreendedora no sentido mercantil apenas, mas ser empreendedora na
produção de conhecimento relevante que não vai necessariamente ter aplicações que
são economicamente lucrativas, mas você tem conhecimento que gera, que é um
conhecimento empreendedor, que gera benefícios sociais muito grandes, acho que
isso é, não só deveria, como é parte do que é uma universidade.(AM1)
Desta forma, talvez o empreendedorismo mereça ser compreendido e até mesmo
resignificado no âmbito da universidade, incorporando não somente esta visão que vem sendo
atribuída a ele como mercantilizador, mas também com a perspectiva do empreendorismo
social, capaz de gerar benefícios para a sociedade como um todo e não somente para uma
parcela que deseja a contrapartida do lucro pela sua atividade.
Ao identificar essa diversidade de opiniões no sentido de aproximação da universidade
com o ambiente externo, indagou-se os entrevistados a fim de explorar a temática referente aos
motivos que levariam a universidade a se aproximar do governo e das empresas, o que resultou
no seguinte panorama (Tab. 9).
Tabela 9- Motivos que levariam a universidade a buscar a aproximação com o governo e as
empresas
Absoluta %
6 46%
5 38%
3 23%
2 15%
2 15%Aproximação do objeto de estudo e maior aplicabilidade dos conhecimentos
Contribuir no desenvolvimento econômico e social
FrequênciaRespostas
Obtenção de financiamentos na iniciativa privada
Alcance de legitimidade social se aproximando da sociedade como um todo
Proporcionar maior inserção dos alunos no mercado
Fonte: Elaboração própria
Como o primeiro motivador da iniciativa da universidade, percebe-se o destaque da
questão da aproximação como uma “saída econômica” (AM1). Um diretor de unidade afirma
que “Essa é uma forma, via indústria, de você poder produzir, por exemplo, um fármaco novo,
porque, às vezes, só com verba de pesquisa que a gente recebe de agência de fomento, a gente
não consegue avançar muito” (AM2).
Um dos entrevistados provenientes da Administração Superior que já esteve à frente de
cursos de pós-gradução lato sensu citou inclusive que, quando a universide oferecia estes cursos
e recebia por eles, “[...] equipamos salas de aula, montamos laboratórios, toda uma
infraestrutura advinda de recursos privados [...]” (AS5). Como atualmente a universidade vive
65
a realidade de questionamento sobre estas cobranças, moldada pela PEC 395/14, estes recursos
não estão mais disponíveis e, assim, este participante pondera que, até mesmo aquelas pessoas
contrárias à aproximação da universidade com fontes de recursos privados, “[...] estão sofrendo
e entendendo, hoje eu acho até que aprenderam quando viram que todo o recurso se foi e na
realidade elas poderiam ter uma estrutura de trabalho muito melhor [...]” (AS5).
Interessante notar que este entrevistado afirma que, com a suspensão dos cursos de
MBA, “todo o recurso se foi” (grifo nosso), quando se sabe que a fonte de recursos da
universidade é mista (Tab. 10), mas esta manifestação denota o sentimento do profissional que
tinha recursos em mãos para utilizar e investir com certa folga e atualmente passa por situações
de restrição.
Neste sentido, vale ressaltar que mais da metade dos entrevistados entendem como
insuficientes os recursos atuais e, ainda mais, diante da PEC 55, os futuros para o financiamento
da atividade da universidade. Assim, este seria um motivo determinante para se aproximar da
iniciativa privada, o que demonstra uma tendência de desenvolvimento da dimensão de Base
de Financiamento Diversificada.
É, na medida em que, por exemplo, há um rebaixamento de recursos públicos da
educação, financiamento da educação superior pelo fundo público, e cada vez mais
são transferidos recursos públicos para o setor privado, isso, vamos dizer assim, tende
a pressionar as universidades pra preservar os seus mecanismos de manutenção, do
desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, a captar recursos via parcerias,
sem dúvida nenhuma. (REP3)
Porque com o orçamento engessado governamental [...] quando você olha os
investimentos em pesquisa no Brasil, que chega a 1,2%, quase 80% é público, só 20%
privado. Essa equação vai ter que inverter. Se inverter, a gente consegue, se não
inverter, fica um pouco complicado, porque se a gente conseguir inverter, vindo 80%
do privado e 20% público, tudo bem, nós vamos ter uma injeção de recursos, não
vindo do governo, mas vindo do setor privado. (AM4)
Atualmente, os atores institucionais universitários percebem a atividade da universidade
sendo financiada por fontes mistas: públicas e privadas, além das fontes próprias de arrecação,
sendo que atualmente, 69% dos entrevistados entende que o principal financiador da atividade
universitária é o Poder Público, como pode-se observar na Tabela 10. No entanto, a partir das
respostas anteriormente analisadas, a diversificação de fontes de financiamento e a inversão da
proporção de participação de cada fonte – pública e privada – no total estão sendo vistas como
uma possibilidade para que a universidade tenha condições de manter suas atividades.
66
Tabela 10- Fontes de financiamento das atividades da universidade
Absoluta %
3 23%
3 23%
3 23%
3 23%
1 8%
1 8%
1 8%
RespostasFrequência
Governo federal, parcerias público-públicas e público-privadas
Majoritariamente, recursos de fontes públicas, e uma parte importante proveniente de fontes próprias de arrecadação
Majoritariamente recursos públicos, sendo valores de projetos ligados a empresas irrelevantes no montante
Recursos públicos e uma parte significativa proveniente da iniciativa privada
Majoritariamente recursos públicos, mas a aproximação com a iniciativa privada deve ser estimulada
Somente do governo federal
Majoritariamente recursos públicos, sendo a Fundação de Apoio responsável por buscar outras fontes
Fonte: Elaboração própria
A indústria reconhece a atratividade dessa aproximação para as universidades como uma
fonte extra de recursos, mas demonstra um pensamento claro também no sentido de que essa
interação permitiria a formação de profissionais com maior potencial de inserção no mercado,
o que legitimaria não somente o papel da universidade, como também a função social da
empresa.
Atualmente ativo, o programa Futuros Engenheiros, uma iniciativa estruturada pelo IEL
em conjunto com o Serviço Social da Indústria (SESI) e com o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI), busca atuar justamente no sentido de “[...] aliar
conhecimentos teóricos, práticos e simular a rotina de trabalho na Indústria” (FIEMG, 2016),
com o intuito de promover para o estudante universitário das áreas de Engenharia uma
oportunidade de desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais que o tornem
mais apto para atuar na indústria. Esta formação com o viés mais aplicado, segundo o CNI
(2016), seria também capaz de incrementar o desenvolvimento econômico e social, fatores
compartilhados entre 53% dos atores universitários como estímulo para a aproximação entre a
universidade as empresas5. Dentre eles, destacam-se as percepções de dois dos entrevistados da
Administração Superior de que este desenvolvimento diferenciado é configurado a partir da
adoção de uma nova forma de competição das empresas, como é possível observar no
fragmento abaixo.
As empresas no Brasil, elas foram levadas a competir tendo como diferencial redução
de custos por conta das condições de trabalho que ela oferecia pros seus trabalhadores,
baixos salários, baixas remunerações, descomprometimento com a sustentabilidade,
[...] então essa redução de custos, de condições de trabalho e de pouca
sustentabilidade, criava condiçõess competitivas, ou seja, é a competição dos países
subdesenvolvidos. Nós precisamos competir é com outra forma. Nós temos que
competir porque os nossos produtos precisam ter tecnologia embarcada, serem
produtos efetivamente inovadores, termos processos inovadores de produção. Então,
nós estamos num momento de virada. As empresas tem que ter essa consciência, e
aonde é que elas podem buscar isso? Elas só podem buscar isso numa estrutura de
5 Foram somadas as participações das respostas “Contribuir no desenvolvimento econômico e social” e
“Proporcionar maior inserção dos alunos no mercado”, presentes na Tabela 9.
67
pesquisa desenvolvida, que é a universidade. E nós, pelo nosso lado, a universidade,
nós também temos que romper a inércia, são dados aí, lamentavelmente são dados
conhecidos, a ciência no Brasil hoje ela ocupa uma posição hoje em torno de décimo
segundo lugar em rankings mundiais de publicações indexadas e os indicadores de
capacidade inovativa no país colocam o país em 70, 60, uma coisa desse tipo, então
claramente as universidades estão produzindo ciência, mas não tão conseguindo
transformar essa ciência em inovação para criar condição de desenvolvimento
econômico, desenvolvimento econômico diferenciado. Acho que é o nosso desafio, o
desafio de você conseguir despertar as empresas: “olha, você não pode mais competir
desse jeito porque senão nós vamos ser eternos exportadores de commodities” e as
universidades, você tem que acordar a universidade e falar o seguinte: “olha, nós
temos que ir além de simplesmente gerar o conhecimento e nós temos que conseguir
transformar o conhecimento em inovação”. A direção de gestão universitária passa
muito naquele eixo de desenvolvimento econômico pra conseguir superar esse abismo
entre essas duas coisas e aproximá-las. (AS1)
Acompanhando esta percepção, seria possível organizar um novo arranjo concorrencial
entre os países, o que contribuiria, no Brasil, para a “redução das desigualdades regionais” e
para a “promoção da competitividade empresarial nos mercados nacional e internacional”,
objetivos elencados pelo novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/16) diante
das novas propostas de incentivo à pesquisa científica e à inovação no ambiente produtivo.
Sábato e Botana (1968), ao elaborar seu modelo de relação da universidade com outros entes,
já consideravam que o desenvolvimento científico tecnológico seria capaz de remodelar as
relações entre os países, inclusive, como consequência, modificando a configuração das
estruturas de poder mundiais.
No entanto, atribuir a reorganização internacional da economia somente a um fator é
algo um tanto quanto restrito e perigoso. Não está se afirmando aqui que a reestruturação dos
processos produtivos e a atividade inovativa não são capazes de promover mudanças no
patamar competitivo de um país, porém, fato é que atribuir a responsabilidade pela modificação
em todo um sistema global de competição somente a esse aspecto deixa de considerar
complexas questões políticas, conjunturais, econômicas, forças regulatórias, dentre diversos
outros fatores que tornam esta análise muito mais complexa do que simplesmente um processo
linear que descreve que, caso se modifique a cultura produtiva de um país, há o potencial para
reorganizar toda a dinâmica internacional.
Para melhor explorar as visões acerca desta temática de aproximação, questionou-se
também aos entrevistados sobre a busca por quebra de barreiras no relacionamento da
universidade com os agentes externos. Como respostas, foram obtidos os seguintes horizontes
(Tab. 11).
68
Tabela 11- Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos relacionamentos da
universidade com as empresas
Absoluta %
6 46%
4 31%
3 23%
3 23%
2 15%
RespostasFrequência
Incentivo à inovação através de Incubadoras e Parques Tecnológicos
As parcerias público-privadas
O novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação
Políticas públicas e programas do governo
Há dificuldades neste sentido devido ao isolamento por parte da universidade
Fonte: Elaboração própria
É perceptível que atribui-se diretamente às Incubadoras de empresas e aos Parques
Tecnológicos a responsabilidade por se aproximar das entidades externas, o que foi confirmado
também na questão que indaga sobre o papel do CRITT, cujas respostas seguem na tabella 12.
Tabela 12- Papel exercido pelo CRITT
Absoluta %
8 62%
6 46%
4 31%
2 15%
1 8%
1 8%Não tenho conhecimento sobre a atuação do CRITT
Proteção ao conhecimento
Transferência de tecnologia
Incubação de empresas
RespostasFrequência
Buscar uma articulação direta da universidade com a iniciativa privada
Estimular iniciativas empreendedoras
Fonte: Elaboração própria
Percebe-se, dessa forma, uma adequação das percepção dos atores universitários com a
real proposta do CRITT, que, por corresponder ao NIT da UFJF, tem como uma de suas
atribuições a busca por essa relação mais próxima com as demandas do mercado. No entanto,
no modelo de Clark (1998), valoriza-se a existência do Centro Acadêmico Estimulado e da
Cultura Empreendedora Integrada, aspectos que, a partir dessas questões, apresentaram indícios
de estarem praticamente ausentes da UFJF.
Esta postura de concentração da responsabilidade de integração na Incubadora ou
Núcleo de Inovação fica nítida também na percepção do representante regional da indústria,
como anteriormente citado, como um fator que denota o quão ocasional é a presença de
indivíduos empreendedores na universidade, já que não há a disseminação da cultura
empreendedora, fator que poderia ser diretamente relacionado, segundo os entrevistados, ao
nível potencial de desenvolvimento social e econômico de uma região ou país.
Na visão da CNI, esta questão do empreendedorismo efetivamente merece destaque no
campo universitário.
O empreendedorismo, que promove o surgimento e crescimento de novas empresas,
deve ser estimulado no ambiente acadêmico. Nos Estados Unidos, há muitas escolas
69
de negócios que são referência no mundo, como Harvard e Wharton, em que
professores continuam trabalhando em empresas. No Brasil, o enfoque está mais em
administração do que em negócios e, muitas vezes, os professores não são
incentivados a conciliar a vida acadêmica com o dia-a-dia nas indústrias. (CNI, 2016)
Este comportamento “ilhado” dos professores é evidenciado por um dos membros da
Administração Superior ao afirmar que o Centro Regional de Inovação e Transferência de
Tecnologia está buscando atuar também no sentido de identificar:
[...] quais são as expertises e os conhecimento que são gerados aqui [na universidade],
chamar o profissional para alcançar o mercado, porque às vezes o pesquisador fica lá
ilhado na sua atividade, não tem nem muita percepção da utilidade daquilo que
produz, então esse setor vai buscar no meio empresarial, no mercado, qual é o tipo de
utilização que o conhecimento aqui gerado pode ter. (AS4)
A partir da análise das respostas obtidas, foi possível identificar que uma possibilidade
de incrementar esta aproximação talvez pudesse ser atribuída a uma maior autonomia dos atores
institucionais universitários para a construção destes vínculos, fator que buscou ser analisado
na Tabela 13.
Tabela 13- Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer parcerias com empresas
Fonte: Elaboração própria
Neste caso, apesar de praticamente metade dos entrevistados afirmar que há autonomia,
87% deles destacam que a formalização requer a participação de algum outro órgão, seja de
apoio, seja da Administração Superior, o que, geralmente, na visão de um dos representantes
da Administração Média, envolve um processo burocrático e que retira o poder da unidade ou
faculdade atuar nos termos do contrato após a formalização do mesmo, uma vez que o controle
fica concentrado nos órgãos que reconheceram este vínculo institucionalmente (AM1).
Esta falta de autonomia, que afeta negativamente as dimensões do Centro Acadêmico
Estimulado e da Cultura Empreendedora Integrada, pode estar se configurando como um dos
fatores capazes de influenciar no maior distanciamento do relacionamento entre a universidade
e os atores presentes no ambiente externo, como as empresas e o governo, prejudicando assim
também as possibilidades de consolidação da Periferia de Desenvolvimento Expandida.
A Tabela 14 compila as percepções dos atores universitários sobre o engajamento desses
partes externas com a estruturação do processo de ensino-aprendizagem e, como é possível
Absoluta %
4 31%
1 8%
1 8%
1 8%
Há autonomia, o que algumas vezes beneficia a individualidade do pesquisador
As próprias unidades podem estabelecer esses vínculos
Há autonomia, mas deve haver cuidado com esses vínculos
Há autonomia, mas para formalizar, a depender do tipo de vínculo e de projeto, deve passar por
algumas instâncias (Procuradoria, Pró-reitorias, CRITT, FADEPE),
RespostasFrequência
Não, tudo passa pela Reitoria ou pela FADEPE
6 46%
70
observar, 77% dos entrevistados considera não haver a influência das demandas dessas partes
sobre o citado processo.
Tabela 14- Possíveis influências das partes interessadas externas na estruturação e
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem
Fonte: Elaboração própria
Apesar de atualmente esta tradução das necessidades do mercado não ser manifesta no
campo da UFJF, percebe-se que 46% dos entrevistados consideram atrativa a possibilidade
desta interferência, o que, na percepção dos mesmos, possibilitaria a formação de profissionais
mais aptos para atuar no mercado. No entanto, é importante observar que esta abordagem
levanta a formação universitária como educação instrumental, capacitando pessoas para atender
o mais plenamente possível as necessidades mercadológicas, postura coerente com a Teoria do
Capital Humano (COSTA, 2009). Um dos membros da Administração Média ressalta inclusive
que as empresas de Juiz de Fora e região visualizam a universidade apenas como um local de
fonte de mão de obra.
No princípio do século XX, à epoca de presidentes como Afonso Pena, Nilo Peçanha e
outros contemporâneos, se justificaria facilmente a inserção de um modelo de ensino voltado
para atender as necessidades de inserção de mão de obra no mercado, uma vez que, sendo o
Brasil um país de atividade predominantemente agrária, não oferecia condições de alocar outros
tipos de atividades que seriam até mesmo necessárias para sua consolidação e crescimento
agora como República e não mais como colônia.
No cenário atual, entretanto, com uma nação caracterizada pela busca cada vez maior
pelo ensino superior6, talvez não seja tão fácil compreender porque ainda são reproduzidos
6 O último Censo da Educação Superior publicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
datado de 2012, identificou que a Taxa Líquida Ajustada de Escolarização na Educação Superior evoluiu de 9,8%
em 2002 para 15,1% em 2012, sendo que a Taxa Bruta de Escolarização na Educação Superior subiu de 16,6%
para 28,7% no mesmo período (IBGE, 2012). A Taxa Taxa Líquida Ajustada de Escolarização na Educação
Superior corresponde ao indicador que demonstra o percentual de pessoas de 18 a 24 anos que frequentam cursos
de graduação na educação superior ou já os concluíram em relação à população total de 18 a 24 anos; e a Taxa
Absoluta %
2 15%
1 8%
1 8%
1 8%
RespostasFrequência
As parcerias com entes externos não influenciam no processo de ensino-aprendizagem
Alguns professores buscam a produção de conhecimentos articulados com as demandas sociais
Nada institucional, essa atualização de conhecimentos e abordagens depende do professor
6 46%
O financiamento de pesquisas por parte da iniciativa privada interfere no processo de ensino-
aprendizagem, direcionando esforços no sentido que as empresas desejam 1 8%
Não deve haver essa interferência; a universidade tem autonomia neste processo
Não há, mas deveria haver uma melhor interface a fim de aprimorar o processo e possibilitar a
realização de pesquisas e preparação de profissionais mais coerentes com as demandas do mercado
71
discursos com foco na educação instrumental, que retira os elementos considerados como
“inúteis” do processo educacional, sendo estes os aspectos téoricos e críticos, e deixa
permanecer apenas aqueles que efetivamente atenderão as necessidades da indústria, aqui sendo
entendida como o conjunto de empresas que se inserem no cenário atual.
Desta forma, vale refletir sobre a questão de como um país subdesenvolvido pode
desejar chegar a algum outro patamar mais elevado, como demonstrado na busca pela
redefinição da dinâmica de competição internacional, se se limita a reproduzir a lógica e os
conhecimentos vigentes, ao invés de estimular a criação, o questionamento e a crítica do status
quo para então provocar as crises, que são precursoras da mudança (TORGAL, 2010). Essa
inquietação deveria provocar ao menos movimentos capazes de buscar um equilíbrio entre a
tendência entendida como alguns por mercantilização do conhecimento e a viabilização de
financiamento diversificado do ensino. Em um contexto em que o governo está recolhendo
verbas de todos os lados, não se pode deixar de considerar as parcerias com as empresas como
uma alternativa viável de financiamento das pesquisas, o que, se contemplar um contrato claro,
de cláusulas específicas, inclusive no que tange à limitação da dedicação do professor para que
não prejudique suas atividades acadêmicas, não necessariamente provocará a completa
subordinação da agenda de pesquisa.
Recebeu destaque, então, nessa condição, a questão da regulação desse relacionamento
da universidade com a indústria, aspecto que gerou as seguintes percepções pelos entrevistados
(Tab. 15).
Tabela 15- Mecanismos instititucionais da UFJF que regulam a relação com entes externos
Absoluta %
4 31%
2 15%
2 15%
1 8%
1 8%
1 8%
1 8%
1 8%
1 8%
Há mecanimos, mas deve ser aprimorados considerando as partes favoráveis e contrárias a essa relação
Algumas situações podem ser resolvidas pelo própria Unidade Acadêmica
A Fundação de Apoio é o intermediário nesse sentido
Os mecanismos variam para promover a proteção do conhecimento
Há mecanismos, mas devem ser aperfeiçoados para uma relação cada vez mais ética e próxima
Não há mecanismo, atualmente esse relacionamento é feito diretamente pelos professores e pelas
empresas juniores
RespostasFrequência
Há mecanismos, mas envolvem muita burocracia e pouca eficiência
Busca-se a participação dos envolvidos através de fóruns e conselhos
Isto é operacionalizado pela Administração Superior
Fonte: Elaboração própria
Bruta de Escolarização na Educação Superior é o índice que identifica o percentual de pessoas que frequentam
cursos de graduação na educação superior em relação à população de 18 a 24 anos.
72
Assim, observa-se que este é um aspecto que hoje não está muito claro para os atores
institucionais entrevistados na universidade. Mesmo ao tentar explorar o assunto questionando
quais seriam estes mecanismos, diversos entrevistados apenas afirmaram que os mesmos
existiam, mas não conseguiram explicar exatamente como funcionavam. Um deles, ao tentar
descrever os mecanismos existentes, afirmou inicialmente que, para se estabelecer o vínculo
com entes externos “Não, nem precisa passar pelo Conselho Supeior, algumas coisas podem
passar pelo próprio Conselho de Unidade apenas” (AM3), mas posteriormente complementou
“É, agora, quando envolve negócio de recurso financeiro, aí é um pouco mais complicado. Aí
você tem que fazer via FADEPE” (AM3). Ao ser indagado sobre como exatamente o processo
ocorreria, as indefinições quanto ao procedimento se tornaram mais nítidas, pois até mesmo o
CRITT foi levantado como entidade intermediária. Considerar essas esferas como interventoras
não está incorreto, no entanto o que se revela é que diversos entrevistados demonstraram,
através de suas falas, que o processo para eles ainda é nebuloso, não sendo possível delimitar
claramente o papel de cada parte envolvida ou o trâmite exato de como isto ocore.
Um outro entrevistado ocupante de cargo na Administração Média, ao ser indagado
sobre esta questão do mecanismo regulatório dos vínculos, afirmou que “Aqui dentro da
universidade, tem o setor de cooperação, de convênios, então é tudo feito via Administração
Superior [...] aí vai ser avaliado pelo setor de convênios, passa pela procuradoria da
universidade, então tem toda uma coisa jurídica [...]”. É perceptível a distância entre os
discursos apresentados quanto ao entendimento sobre o procedimento adotado pela
universidade já que os atores citam órgãos diferentes e caminhos diferentes para o mesmo
processo. Assim, alguns outros entrevistados, tanto provenientes da Administração Média
quanto da Administração Superior, afirmaram, a partir da sua experiência e convívio, que
muitos professores da universidade não têm esclarecimento quanto aos procedimentos para se
elaborar e executar um projeto de cooperação com entes externos e, inclusive, levantaram esse
desconhecimento como um fator capaz de enviesar a concepção destes profissionais acerca dos
reais riscos e benefícios que se apresentam nestas relações.
Um outro ponto que merece atenção nesta questão é o fato de que, apesar de afirmarem
que os mecanismos existem, quatro dos cinco membros da Administração Superior
entrevistados ressaltaram que eles devem ser aprimorados com base na regulação, instrumento
que, internamente, é de responsabilidade do núcleo de direção da instituição.
A regulação foi levantada como instrumento de minimização de risco, uma vez que,
através da delimitação clara das condutas e responsabilidades de cada parte envolvida no
vínculo, ela cumpriria sua atribuição de proteção do bem público. No entanto, a questão da
inversão da matriz de financiamento, de majoritariamente pública para majoritariamente
73
privada, foi elecanda como fator preocupante com relação à regulação, como é possível
perceber pelo trecho a seguir obtido na fala de um dos membros da Administração Superior:
Eu concordo com a tese de que, se o Estado não garante o financiamento mínimo das
universidades, e obrigar as universidades a buscar integralmente ou uma parcela muito
significativa do seu financiamento, é muito difícil, a regulação se torna mais
complicada. Uma coisa é você regular quando se trata de complementações de
financiamento. Um laboratório vai comprar equipamentos novos, mas os
equipamentos novos ele já tem, vai sofisticar um pouco seus equipamentos,
eventualmente, você vai garantir boas remunerações pros pesquisadores, pros
professores, você ter pequenas complementações de remuneração, nada muito
expressivo, aí é relativamente fácil você regular. Agora, por exemplo, nós vivemos
um momento na universidade que você, por exemplo, você faz uma redução forte de
remunerações, uma pressão sobre remuneração e estimula as complementações, aí
você, porque se os pesquisadores e os professores estiverem dependendo muito dessa
complementação de renda, a tendência é você acabar flexibilizando nas
regulamentações pra que ele tenha mais acesso, é um perigo mesmo. (AS1)
A Lei 10.973/04, com a nova redação dada pela Lei 13.243/16, estabeleceu em alguns
de seus artigos, como o artigo 5º e parágrafos e o parágrafo 2º do artigo 9º, formas de regular
essa relação no campo da proteção do conhecimento, levantando instrumentos possíveis para
garantir aos entes federativos, ao professor pesquisador e às instituições de pesquisa a devida
participação e reconhecimento pelos conhecimentos gerados. No entanto, o participante acima
citado, bem como um outro membro da Administração Superior, expressa a preocupação com
a aplicabilidade da regulação em um contexto em que o recurso hoje tido como complementar
se tornará principal.
No campo da indústria, por sua vez, parece haver clareza com relação a estes
mecanismos, até mesmo porque a construção deste vínculos é, na percepção deste ator,
realizada formalmente, através de projetos e programas de interação universidade-empresa,
além de convênios com o governo (FIEMG, 2016).
As políticas públicas educacionais e econômicas exercem, neste sentido, uma
participação importante para estimular a aproximação com o setor privado, como foi possível
observar através das respostas compiladas na Tabela 16.
Tabela 16- Atuação das políticas educacionais e econômicas governamentais no sentido da
integração
Fonte: Elaboração própria
Absoluta %
6 46%
4 31%
2 15%
1 8%Não tenho conhecimento
RespostasFrequência
Existem, mas não são adequadas
Existem e estão propondo uma maior integração da universidade com os entes externos
Não existem políticas públicas neste sentido
74
Na percepção de um dos integrantes da Administração Superior, não há dificuldade de
identificar políticas públicas neste sentido.
Por exemplo, o Ministério da Ciência e Tecnologia desenvolveu a EMBRAPII, e o
quê que ela faz? Ela estabelece unidades quando ela consegue estabelecer relações
entre universidades e empresas, pra que laboratórios de universidade possam realizar
algum tipo de serviço, de apoio a alguma empresa, a algum conjunto de empresas, é
um exemplo claro de uma política governamental; é uma estrutura de financiamento
tanto do governo em parte, quanto das empresas, empresas obrigatoriamente tem que
colocar, universidade tem que colocar parte de recursos. A secretaria do Ministério da
Ciência e Tecnologia que trabalha no desenvolvimento de parques tecnológicos: a
ideia de parques tecnológicos é fundamentalmente uma política pública em que você
cria condições pra que as universidades estabeleçam essa interação, então eu não teria
dificuldade de identificar políticas públicas nesse sentido de aproximação da
universidade. (AS1)
A EMBRAPII, citada no discurso desse ator universitário, foi uma iniciativa conjunta
do CNI com o então Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com a Finep
(Financiadora de Estudos e Projetos) e o Ministério da Educação (MEC). Em termos de
políticas públicas, a atuação dos órgãos industriais, como a CNI, junto ao governo é bastante
marcante e tem como característica a busca por aproximação entre as indústrias e as instituições
de ensino e pesquisa.
De acordo com CNI (2016), a criação do Inova Empresa, programa de fomento a
projetos de inovação para elevação da produtividade e da competitividade da indústria
brasileira, bem como uma rede de Núcleos de Inovação nos estados, foram decorrentes de
iniciativas de parceria entre o CNI, o MCTI, dentre outros órgãos, como a Finep, BNDES e
CNPq.
No entanto, a adequação dessas políticas às necessidades de desenvolvimento social e
econômico do país foi questionada por um dos membros da Administração Superior,
ressaltando o fato de que, somente as políticas em si não são suficientes. É preciso que haja a
complementação das mesmas com a regulação no interior das universidades,
institucionalmente, inclusive para promover um equilíbrio entre as citadas diferenças de áreas
de conhecimento.
No âmbito da UFJF, como já citado, está em discussão o Marco da Inovação da UFJF,
o que sugere que, assim que houverem os direcionamentos finais neste sentido, a universidade
terá fortalecido seu Núcleo de Direção e terá constituído um importante instrumento de
regulação para permitir maior segurança e garantia nos seus contatos com outras entidades.
Pode-se perceber que em termos de políticas e programas governamentais, parece haver
um estímulo real à aproximação da universidade principalmente com o mercado, como foi
possível observar no discurso de um dos membros da Administração Superior:
75
Eu já ouvi do atual governo um estímulo feito aos reitores em uma das reuniões de
criar totais condições de captação de recursos, até por conta de um cenário de crise,
um cenário de redefinição do Estado com essa PEC que tá sendo discutida de nível
de gastos, então é natural que o governo estimule esse tipo de interação com o
objetivo de financiamento. (AS1)
Assim, buscou-se identificar a percepção dos entrevistados acerca da visão do governo
referente a esta relação da universidade com as empresas, cujas respostas seguem compiladas
na Tabela 17.
Tabela 17- Forma como o governo visualiza a construção da relação entre as universidades e
as empresas
Fonte: Elaboração própria
Assim, para o governo, os respondentes visualizam um importante benefício: sua
desobrigação em termos de agente financiador da universidade pública, o que, em um cenário
de proposta de emenda constitucional para congelamento dos gastos públicos, estaria em
coerência absoluta com os direcionamentos que ele pretende adotar.
Esta possibilidade de captação de recursos fora da matriz pública é visualizada como
benefício na construção da relação da universidade com o ambiente externo, como pode-se
observar na Tabela 18.
Tabela 18- Possíveis benefícios para a universidade em uma relação mais próxima com o
ambiente externo
Fonte: Elaboração própria
Bem como já identificado em outras questões, os participantes identificaram aqui
novamente, dentre os benefícios, o potencial inovativo e a possibilidade de captação de
recursos, além da formação de profissionais com maior conhecimento aplicado.
Absoluta %
5 38%
5 38%
5 38%
4 31%
4 31%
RespostasFrequência
A aproximação favorece a inovação
Aumenta a legitimidade social da universidade
Possibilidade de financiamentos provenientes de outras fontes além dos recursos públicos
Aproximação da formação do profissional da real necessidade de mercado
Maior aplicabilidade do conhecimento construído na universidade
Absoluta %
5 38%
5 38%
1 8%
1 8%
1 8%
Parece ser uma possível solução para o desinvestimento público em educação
Seria uma possibilidade de desenvolvimento social se houvessem estímulos no sentido desta integração
RespostasFrequência
Ele obstaculiza para proteger o bem público
Prefiro não opinar por desconhecer essa relação específica
Seria benéfico, pois auxiliaria no desenvolvimento econômico e social
76
Não acredito que vá ser tão forte no curto prazo, mas pro projeto de desenvolvimento
que de alguma maneira permita que o país possa desenvolver tecnologia e, ao mesmo
tempo, capacidade de interferência sobre a própria condição de vida, eu acho que a
relação com as empresas tem que ser ampliada. (AS3)
[...] ela é sempre muito positiva, porque ela tem impacto na formação dos nossos
alunos, no rumo da produção do conhecimento acadêmico, na construção de
inovações tecnológicas pra sociedade que mantém a universidade. (AS2)
Destaca-se também, na percepção dos entrevistados, que esta aproximação pode
favorecer a legitimidade social da universidade, o que foi anteriormente abordado quando da
análise da universidade empreendedora que poderia implantar o empreendedorismo com foco
também no desenvolvimento de conhecimentos que provocassem impacto social. Nesse
sentido, afirmaram os entrevistados:
Querendo ou não, ninguém paga mensalidade pra estudar aqui, então acho que
também tem essa relação: de fazer uso do recurso público de forma responsável, de
saber a qualidade do profissional que tá sendo formado e, além disso, o que ele vai
poder contribuir pra sociedade, dar um pouco de retorno do que foi investido mesmo.
(REP1)
[...] promover essa interação universidade-sociedade no sentido da universidade ser o
centro onde vai produzir/difundir esse conhecimento e os setores da sociedade
também absorverem esse conhecimento em prol do desenvolvimento social. (AM3)
Ao mesmo tempo, por outro lado, ao analisar os riscos dessa relação, se reforça a
preocupação com a ameaça de subordinação, exposto pelos entrevistados conforme frequência
compilada na Tabela 19.
Tabela 19- Possíveis riscos para a universidade em uma relação mais próxima com o
ambiente externo
Fonte: Elaboração própria
Dentre aqueles que não visualizam riscos, destaca-se o fato de que cinco dos seis que
afirmaram ter esta percepção, demonstraram os benefícios da aproximação a partir da questão
de possibilidades de financiamento alternativas para a universidade pública e, assim, talvez a
importância desses recursos esteja sobrepondo os riscos na relação de custo-benefício dessa
aproximação com o mercado na percepção destes atores.
Absoluta %
6 46%
3 23%
1 8%
1 8%
1 8%
RespostasFrequência
A universidade corre o risco de entrar com todos os ônus e as empresas ficarem com os bônus
Não visualizo riscos
5 38%
Risco de priorizar somente a ligação com algum setor da sociedade, como as empresas
Os riscos dependem da forma como essa relação é regulamentada
Benefícios somente para áreas que possuem maior ligação e coerência com as demandas de mercado
No caso de receber recursos de fontes privadas, desviar-se de suas finalidades públicas para atender
demandas particulares
77
Os participantes que afirmaram vislumbrar algum tipo de perigo neste relacionamento
destacaram novamente os conflitos acerca de cultura. Na percepção dos atores universitários, a
troca de culturas colocada como um dos benefícios deste vinculo pela CNI, pode ser vista como
perigosa para a universidade.
Os riscos são sempre associados à perda de referência daquilo que é a função básica
de cada ente. Então, não é papel exclusivo da universidade produzir apenas pra atender
as empresas, então é preciso que na regulamentação dessa relação, você crie
mecanimos pra preservar a qualidade do ensino e da pesquisa básica. (AS4)
O que a gente debate é o seguinte: exemplo: se a universidade ela tem, o recurso de
uma universidade federal, ele vem obviamente do governo, então tem essa
prerrogativa de que ela seja financiada, sustentada pelo governo, então, a partir do
momento que ela fica dependente do capital de empresas, dessa relação, eu acho que
pode começar a se tornar uma relação um pouco perigosa principalmente no que tange
justamente no objetivo da universidade, porque, a partir do momento que você
depende financeiramente, uma coisa é você ter suas atividades realizadas a partir do
dinheiro do governo federal, do dinheiro que é repassado, e ter esse complemento de
verba, por exemplo, com iniciativas aqui dentro relacionadas a empresas, mas, se a
universidade começar a se tornar dependente disso, acho que fica essa relação de,
aquela coisa mesmo: a dependência financeira com empresa ela é perigosa justamente
porque ela pode significar o enviesamento da universidade ou o uso da universidade
pra que, por exemplo, o interesse de alguma pesquisa ou de alguma empresa seja
atendida, por exemplo. Não é demonizar o contato que existe com o setor empresarial,
mas também entender que existem algumas ressalvas que devem ser feitas, porque o
principal objetivo da universidade não é servir a uma empresa, ao setor empresarial,
a uma empresa específica, e sim ter a formação de profissionais [...] (REP1)
A questão de que a universidade mantenha suas funções essenciais, bem como sua
autonomia, é uma preocupação de parte signicativa dos entrevistados na instituição, tendo
inclusive ressaltado os receios de privatização decorrentes desta (REP3), mesmo que alguns
outros atores não tenham conseguido enxergar aparentes perigos nessa relação.
Para as empresas, na visão dos atores universitários, parece que elas consideram este
relacionamento bastante proveitoso, como é possível observar na Tabela 20.
Tabela 20- Postura das empresas com relação à integração
Absoluta %
6 46%
3 23%
2 15%
2 15%
1 8%
1 8%
RespostasFrequência
Podendo usufruir somente dos bônus desta relação, sem os ônus
É positivo para seu desempenho no mercado
São beneficiadas pelo conhecimento produzido na universidade
Promove o desenvolvimento conjunto das universidades com as empresas
Há um certo distanciamento histórico entre as empresas e as universidades, o que dificulta esta integração
Reduz os custos de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento
Fonte: Elaboração própria
É inegável que às empresas são atribuídos benefícios decorrentes deste vínculo de
maneira muito mais direta do que à universidade, uma vez que eles são mais fáceis de identificar
por serem tangíveis: lançamento de um novo produto, redução de custos ou falhas no processo,
78
aumento da participação no mercado, dentre outros. Neste sentido, a percepção dos atores
universitários acerca da posição das empresas parece ser convergente com aquela efetivamente
adotada pela indústria, presente tanto em seus discursos formais, iniciativas e também no
discurso do presidente regional.
Para que as empresas possam usufruir desses benefícios, no entanto, são necessários
instrumentos, como as políticas públicas, que atuam buscando amenizar o distanciamento entre
a iniciativa privada e as universidades públicas. A CNI, neste sentido, destaca ainda que a
construção de vínculos mais estreitos pode vir a modificar a própria cultura e comportamento
das indústrias, tornando-as também ambientes de aprendizagem:
As universidades são ambientes educacionais por natureza, enquanto as empresas são
vistas como locais de treinamento. No entanto, a interação com o mundo acadêmico
poderá incentivar indústrias a se tornarem ambientes educacionais, com projeto de
pedagógico e de desenvolvimento de novas habilidades e competências. (CNI, 2016b)
Por outro lado, sugere-se que o relacionamento provoque consequências de mão dupla:
a cultura da aprendizagem nas empresas e a cultura mercadológica nas universidades:
Tanto o ambiente empresarial quanto o acadêmico têm seu próprio conjunto de
crenças e valores. Ao interagirem, indústrias e universidades podem harmonizar suas
culturas e aperfeiçoá-las ao incorporar o que há de melhor em cada uma delas.
Como ambientes naturais onde o conhecimento é incentivado e valorizado, as
universidades podem transmitir esse valor ao ambiente de negócios. A partir daí,
também aprendem a captar recursos ao negociar as invenções para que se tornem
inovações. (CNI, 2016b)
Em termos de definição de papeis, essa é uma postura preocupante, pois aproxima
instituições com objetivos e atuações distintas, simplificando as complexidades e conflitos que
este processo envolve. Diante disto, se faz necessário um Núcleo de Direção Fortalecido que
tenha, assim como a UFJF está buscando, definições claras sobre a regulação a ser
implementada nesta relação.
Desta maneira, a partir das análises, percebe-se que, na UFJF, apresentam-se visões
diferentes com relação aos aspectos da universidade empreendedora, bem como sobre a
possível aproximação da instituição com o mercado. No entanto, é justamente essa diversidade
de opiniões e posicionamentos que contrói a universidade em toda a sua complexidade.
79
5 CONCLUSÃO
A universidade brasileira passou por diversos momentos que marcaram a estruturação
desta instituição em toda a sua multiplicidade de papeis. Historicamente responsável por formar
mão de obra, como se observou com a Universidade Técnica de Getúlio (TORGAL; ÉSTHER,
2014), a universidade, já a partir de 1950, começou também a se aproximar da iniciativa
privada, inicialmente pelo vinculacionismo e, logo após, pelo neovinculacionismo que trouxe
para o cenário latino-americano as incubadoras e os parques tecnológicos como forma de
fortalecimento do relacionamento entre aqueles entes (DAGNINO et. al, 2011).
Após a ditaduta militar, com a reforma protagonizada pelo governo FHC
implementando a Nova Gestão Pública, veio a transferência dos princípios da administração do
campo privado para o ambiente da gestão pública (PAULA, 2005), sendo que no governo Lula,
foi dada continuidade a este movimento, e à universidade foi ainda atribuída uma nova missão:
ser promotora de desenvolvimento.
Esta pluralidade de papeis atribuídos à universidade acaba por refletir na diversidade de
percepções dos diferentes atores envolvidos neste processo, os quais passam a construir visões
variadas sobre as tendências de aproximação da universidade com a indústria e igualmente
sobre a efetiva atuação da universidade. No caso da UFJF, essa multiplicidade se revelou
nitidamente nesta pesquisa, que oportunizou captar as percepções de diversos atores
institucionais.
A UFJF foi identificada tanto pelos atores universitários quanto pela indústria como
uma universidade com foco em formação de mão de obra, o que se atribuiu, até certo ponto, à
forma como foi constituída e às expectativas quanto a sua atuação no contexto regional. Este
papel, em si, não corresponde a um problema ou fragilidade, uma vez que a universidade
efetivamente deve capacitar pessoas para que possam se tornar profissionais atuantes nas mais
diversas áreas. Porém, sua atuação esperada é mais ampla do que isso e alguns pontos de tensão
foram encontrados nas concepções sobre este tema, bem como sobre a relação da universidade
com a indústria e o governo.
Na UFJF, destaca-se a percepção coerente com aquela difundida pelo governo Lula, uma
vez que à universidade atribuiu-se o papel de agente de desenvolvimento econômico e social.
Atualmente passando por um processo de transição de gestão, a UFJF está estruturando seus
80
mecanismos internos para se relacionar com o ambiente externo, assim fortalecendo seu Núcleo
de Direção, atualmente enfraquecido pela troca de gestão.
Neste sentido, a regulação por determinações internas e externas à universidade exerce
destacada importância, uma vez que seria o mecanismo capaz de determinar limites para
atuação dos agentes envolvidos nesta relação, oferecendo, ao mesmo tempo, possibilidade para
que as empresas constituam um vínculo atrativo para elas, e, para as universidades, a segurança
de manutenção de sua autonomia.
Entretanto, percebe-se que o instrumento regulatório também gera tensões de percepção
devido ao questionamento de sua real aplicabilidade. Como no Brasil, o corpo legal em geral é
bastante denso e carece de aplicação, os atores universitários que ressaltam os riscos da
aproximação receiam que isto também ocorra com os esforços de regulação do relacionamento
entre as universidades públicas e a iniciativa privada, e a universidade acabe por se tornar
demasiadamente permeável às influências da indústria.
É perceptível que as vantagens desse tipo de vínculo são bastante nítidas para a indústria.
Esta cooperação entre governo, empresas e Instituições de Ensino Superior (IES) permitiria,
segundo Etzkowitz (2002) e de acordo com a pesquisa empírica realizada, que as empresas
passassem a ter acesso a recursos que inicialmente não possuíam, tais como mão de obra
qualificada e infraestrutura avançada, o que lhes permitiria a solução de problemas de ordem
técnica e científica de maior complexidade com menor custo, proporcionando assim, ganho de
competitividade.
Para o governo brasileiro, a aproximação das indústrias com a universidade poderia
oportunizar uma fonte alternativa de financiamento que descentralizaria esta responsabilidade
inicialmente nele concentrada e, posteriormente, poderia desobrigá-lo deste aporte, fator visto
com preocupação por alguns membros da UFJF, já que, uma vez desvinculado o governo da
obrigação de financiamento, a universidade teria que se aproximar cada vez mais da iniciativa
privada, ampliando os riscos de subordinação a ela e afetando diretamente a autonomia
universitária, princípio disposto na Constituição (BRASIL, 1988) e também na Lei de Diretrizes
e Bases (BRASIL, 1996).
Por outro lado, essa relação poderia proporcionar à universidade uma maior proximidade
com o contexto que a abrange, englobando a realidade técnica, econômica e social. Na UFJF,
no entanto, este vínculo com as empresas ainda não é consolidado e está presente pontualmente
em setores da universidade que são mais diretamente relacionados ao mercado, como as áreas
de engenharia e saúde, além das empresas juniores, mas a percepção compartilhada é que a
responsabilidade formal por buscar esse tipo de relação está atualmente concentrada no CRITT.
Em termos de extensão, a nova gestão está trabalhando no sentido de elaborar diversos
81
programas que fortaleçam esta área da universidade, criando uma aproximação maior da
instituição com a sociedade. Assim, o traço de Periferia de Desenvolvimento Expandida ainda
merece ser fortalecido no âmbito da UFJF.
O fato de se compreender que a responsabilidade por criação de vínculos externos se
concentra em alguns órgãos da universidade pode também denotar a fragilidade da Cultura
Empreendedora hoje presente na instituição, a qual parece estar presente quase que
exclusivamente nas áreas que se relacionam diretamente com o mercado.
O CRITT recebe atualmente a atribuição de estimular a visão dos pesquisadores para o
ambiente externo, demonstrando a aplicabilidade de suas pesquisas e estimulando sua
participação em conjunto com os alunos para solução de desafios propostos por empresas da
região. Este pode ser entendido como um esforço da nova gestão para promover a dimensão de
Centro Acadêmico Estimulado. No entanto, para que haja o real fortalecimento deste aspecto,
é preciso trabalhar a questão da autonomia para os pesquisadores no âmbito da universidade,
fator que foi problematizado pelos atores entrevistados e é essencial no sentido de se promover
a cultura empreendedora e o centro acadêmico estimulado, os quais impactam diretamente
sobre a capacidade de obter financiamentos de bases diversificadas.
Esta última dimensão é até relativamente encontrada na UFJF, uma vez que a instituição
recebe recursos tanto de fontes públicas, quanto de fontes privadas, além de seu
autofinanciamento. No entanto, como percebido durante a apresentação dos resultados, a
tendência, diante do novo contexto em que as universidades públicas se inserem é que isto seja
cada vez mais desenvolvido a fim de propiciar às mesmas o adequado aporte de suas atividades.
Neste sentido, ao considerar os elementos que inicialmente constituiriam uma
universidade como empreendedora, ainda não se pode afirmar que a UFJF assume esta conduta,
apesar de serem perceptíveis as iniciativas da nova gestão no sentido de fortalecimento dessas
categorias. No entanto, o que se constatou é que diversos elementos novos surgiram quando da
interação dos entrevistados com os aspectos que inicialmente estruturariam esta Universidade
Empreendedora.
O estudo desenvolvido abriu portas para considerar uma nova perspectiva do
empreendedorismo na universidade, que considera não apenas o aspecto de mercantilização de
novos conhecimentos, mas também do impacto social que eles são capazes de exercer. A
dimensão do desenvolvimento social assumiu importância nesta pesquisa, uma vez que foi
abordada inúmeras vezes por diversos atores como uma consequência da atuação da
universidade e do professor que busca estimular e construir conhecimentos articulados com a
demanda social e que tenham impactos diretos sobre a sociedade. Dessa forma, no âmbito da
82
universidade, que tem como funções essenciais o ensino, a pesquisa e a extensão, e no campo
da UFJF, ainda a inovação, talvez seja importante ressignificar o que seria empreendedorismo.
A compreensão acerca do relacionamento da UFJF no contexto da Tripla Hélice, por sua
vez, também apresentou complexidades, uma vez que os atores envolvidos apresentam entre si
inconsistências de postura e de visão. Dessa forma, este vínculo é algo que ainda carece de
discussões e debates com partes favoráveis e contrárias à integração para que seja possível
elaborar uma postura institucional, o que vem sendo buscado através de diversas iniciativas da
nova gestão, como a discussão do Marco Legal da Inovação da universidade.
Desta forma, este trabalho ofereceu contribuições no sentido de compreender melhor as
complexidades envolvidas no âmbito da UFJF para a construção de um direcionamento
institucional com relação ao papel da universidade e seu relacionamento com o ambiente
externo. Como o momento atual vivido pela UFJF é de transição, uma vez que a nova
Administração Superior assumiu recentemente, há a indicação de que sejam realizados estudos
futuros a fim de buscar identificar se os indícios de estruturação pretendida dos relacionamentos
externos efetivamente irão ter se consolidado, se a gestão continuará com a mesma abordagem
acerca da inovação e se haverá alguma mudança de percepção por parte de atores institucionais
a partir do posicionamento adotado pela Administração Superior. Ao realizar este novo estudo,
será possível acompanhar temporalmente a evolução da UFJF com relação aos aspectos
pesquisados, inclusive considerando as mudanças de conjuntura econômica e social que podem
vir a ocorrer neste período.
83
REFERÊNCIAS
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<http://www.andifes.org.br/comissoes/empreendedorismo/>. Acesso em: 25 ago. 2015.
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ANPG. ANPG se mobiliza contra a PEC 395: pelo pilar Ensino, Pesquisa e Extensão
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84
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90
ANEXO A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O (A) Sr. (a) está sendo convidado (a) a participar voluntariamente da pesquisa que trata sobre
o “A realidade da Universidade Empreendedora: uma visão a partir da Tripla Hélice no caso
UFJF”, cujo objetivo consiste em compreender como é concebida atualmente a relação universidade-
indústria-governo no contexto que envolve a Universidade Federal de Juiz de Fora.
Sua participação envolve participar de uma entrevista, que será gravada de acordo com seu
consentimento, com duração aproximada de trinta minutos. A participação nesse estudo é voluntária e
se você decidir não participar ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta
liberdade de se manifestar neste sentido, o que não acarretará qualquer tipo de penalidade.
Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador
responsável por um período de 5 (cinco) anos, e após esse tempo serão destruídos. Na publicação dos
resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as
informações que permitam identificá-lo(a). O (A) Sr. (a) poderá ter acesso a todos os resultados da
pesquisa quando finalizada.
Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente o (a) Sr. (a) estará
contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo (a) pesquisador (a) Isabella
Stroppa Rodrigues, pelo e-mail [email protected] ou telefone (32) 99925-5367. Este termo de
consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo que uma será arquivada pelo
pesquisador responsável e a outra será fornecida ao Sr. (a).
Eu, _____________________________________________, portador do documento de Identidade
____________________ fui informado (a) dos objetivos da pesquisa “A realidade da Universidade
Empreendedora: uma visão a partir da Tripla Hélice no caso UFJF”, de maneira clara e detalhada
e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar
minha decisão de participar se assim o desejar.
Declaro que concordo em participar. Recebi uma via original deste termo de consentimento livre e
esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
Juiz de Fora, _________ de __________________________ de 20 .
__________________________________
Assinatura do Participante
__________________________________
Assinatura do (a) Pesquisador (a)