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A reconfiguração das demandas da agenda ambiental Ana Flávia Castro Rodrigues do Nascimento Karoline Campos Allão Pedro Henrique de Castro Motta Vinícius Teixeira Lima A trajetória de “desenvolvimento sustentável” como expressão-chave para uma nova compreensão do mundo moderno resulta de sua função como vínculo entre dois diferentes discursos em crise – um, o do meio ambiente, e outro, o do desenvolvimento – e como promessa de um possível resgate dessas crises Ergon Becker 235 2

A reconfiguração das demandas da agenda ambientalsinus.org.br/2015/wp-content/uploads/2017/01/2.2-UNEANEP-PP.pdf · Em meados dos anos 2000, os principais líderes mundiais se

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A reconfiguração das

demandas da agenda

ambiental

Ana Flávia Castro Rodrigues do Nascimento

Karoline Campos Allão

Pedro Henrique de Castro Motta

Vinícius Teixeira Lima

A trajetória de “desenvolvimento sustentável” como expressão-chave para uma nova compreensão do

mundo moderno resulta de sua função como vínculo entre dois diferentes discursos em crise – um, o do meio ambiente, e outro, o do desenvolvimento – e

como promessa de um possível resgate dessas crises

Ergon Becker

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1. Introdução Embora desempenhe um papel significativo para a sobrevivência

humana, o meio ambiente era tratado como coadjuvante nas discussões internacionais até meados do século XX. Uma vez considerado apenas o cenário onde se passavam os conflitos e uma fonte de recursos, era caracterizado como inerte na pauta internacional. Por esse motivo, os debates não estabeleciam as diretrizes necessárias para garantir sustentabilidade (SACHS, 2010).

Apenas nos últimos cinquenta anos, a mudança de percepção por parte dos Estados foi notória, acarretando na inclusão do tema “meio ambiente” na agenda global. A partir da compreensão da importância dessa temática, a nova abordagem permitiu a determinação de perspectivas para o desenvolvimento sustentável (SACHS, 2010).

Para isso, no entanto, é necessário considerar as particularidades de cada região do mundo. Esses fatores, atuantes em escala global, repercutem de maneiras diferentes nos diversos países e regiões. Todavia, as nações precisam desenvolver sistemas que estabeleçam regras, procedimentos e padrões para que os princípios direcionados sejam adequadamente resguardados, desta forma, cada objetivo deve se adequar à realidade dos países, de forma que respeite a diversidade visando o bem comum (MOREL, 2004).

A partir disso, foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). São oito objetivos, dos quais um trata especificamente do meio ambiente: “qualidade de vida e respeito ao meio ambiente”. Esses objetivos foram atualizados em 2015. Agora denominados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mantém o intuito de orientar as políticas nacionais e internacionais das nações, uma vez que tais diretrizes visam o

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desenvolvimento sustentável dos países. Ademais, são alinhados à cooperação internacional nos próximos quinze anos. São 17 objetivos – dos quais seis tratam de questões ambientais –, e 169 metas, desenvolvidos na ocasião da conferência Rio+20, resultados de um processo que teve início em 2013 (ONU, 2016).

Tendo ciência da centralidade da pauta ambiental nas negociações internacionais, o presente artigo se propõe a tecer um paralelo entre as resoluções apresentadas no ensejo das Conferências das Nações Unidas e a falta de cumprimento por parte dos Estados. Este cenário, evidentemente, vem sendo alterado, porém existe ainda uma lacuna quanto ao comprometimento tanto por parte de governos nacionais, como também da sociedade civil na defesa das pautas ambientais.

A agenda das Nações Unidas se propõe a discutir os ODS como o caminho para o desenvolvimento sustentável. Faz-se necessária então uma análise sobre a aplicabilidade das diretrizes dos objetivos do desenvolvimento sustentável estabelecidas, e como as nações estão seguindo esses direcionamentos. Mais do que aprovar os ODS, é essencial estabelecer indicadores e formas de monitoramento internos nos países para identificar quais são as medidas que estão sendo seguidas e as que estão sendo negligenciadas, para que os ODS sejam implementados de forma concreta e efetiva (ONU, 2016).

Pois bem, este artigo é pautado na questão dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável referentes aos aspectos ambientais. O tema se relaciona ao lema “Compartilhando cuidados na transformação da sociedade”, de forma que engloba o cuidado com o meio ambiente global e respeito às demandas específicas dos países, em sintonia com sua realidade. Estabelecer uma ligação entre a esfera internacional e as necessidades específicas de cada

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país é essencial para o desenvolvimento sustentável. O tema abordado se relaciona diretamente ao comitê ao apresentar os

ODS com viés ambiental como basais para a vida humana. A pauta ambiental está cada vez mais presente nas negociações em patamares internacionais e, hoje, a questão ambiental é indissociável do conceito de progresso e desenvolvimento.

2. Contextualização A agenda ambiental tem recebido maior visibilidade desde a primeira

conferência realizada para discutir a questão do meio ambiente no sistema internacional. Em 1972, foi realizada em Estocolmo a primeira conferência de foco ambiental que não estava restringida apenas à comunidade científica. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo, foi um marco para o crescimento da questão ambiental na agenda internacional (McCORMICK, 1992).

A conferência contou com a participação de 113 países, 19 órgãos intergovernamentais e diversas organizações governamentais e não-governamentais, tendo como principal objetivo encontrar soluções para os problemas da relação Homem contra Natureza que iam além das fronteiras nacionais. Dessa forma, a conferência chamou a atenção dos governos para a questão meio ambiente, possibilitando a assinatura de convenções e acordos internacionais, além de abrir as portas para conferências futuras com foco no mesmo tema, como a ECO-92 e a RIO +20.

Em meados dos anos 2000, os principais líderes mundiais se reuniram na sede das Nações Unidas para propor uma série de metas que fossem capazes de reduzir a pobreza e desigualdades. Foram oito metas criadas, contando com o apoio de autoridades locais, nacionais e internacionais, na

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busca de estratégias capazes de atingir os objetivos propostos até 2015 (ONU, 2016).

2.1. ODS Ambientais Dando continuidade à importância da agenda global para o

desenvolvimento sustentável, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) visam auxiliar a sociedade civil e as autoridades governamentais na criação de planos e metas que deem continuidade aos trabalhos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ONU, 2016). As dezessete metas criadas pela ONU para a Agenda 2030 baseiam-se nos três pilares fundamentais do desenvolvimento sustentável — o econômico, o social e o ambiental (PNUD, 2016). Dessa forma, seis ODS fazem parte do pilar ambiental:

i. Água potável e saneamento (ODS 6) - garantir o acesso e o uso de água potável e saneamento básico para todos; ii. Energia limpa e acessível (ODS 7) - possibilitar o uso de energia renovável, limpa e de baixo custo para toda a

população; iii. Cidades e comunidades sustentáveis (ODS 11) - tornar cidades e assentamentos urbanos inclusivos, sustentáveis

e resilientes; iv. Ação contra a mudança global do clima (ODS 13) - tomar iniciativas capazes de combater a mudança climática e seus efeitos;

v. Vida na água (ODS 14) - preservar e promover o uso correto de mares, oceanos e recursos marinhos que possam garantir o desenvolvimento sustentável;

vi. Vida terrestre (ODS 15) - proteger e recuperar os ecossistemas terrestres, garantindo seu uso sustentável

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(ONU, 2016, p.01).

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estão conectados entre si de forma a promover estratégias coletivas e eficientes capazes de cumprir os objetivos propostos. Por esse motivo, é necessário que Estados, organizações e sociedade civil atuem em conjunto para implementar novas estratégias de desenvolvimento (ONU, 2016).

Dentro das relações internacionais, atingir as metas para um desenvolvimento sustentável como as propostas pela ONU pode ser um desafio, mas não é impossível. Planos e metas criados em conjunto possibilitam cooperação e responsabilidade dos Estados na busca por atingir um objetivo em comum. Essa foi a ideia seguida pelos ODM para atingir as metas e o esperado a ser feito para que se possa alcançar o desenvolvimento sustentável até 2030 (LE BLANC, 2015).

2.2. 25 Metas da UNEA O surgimento da Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA)

só se tornou possível após a Rio+20 quando a estrutura institucional do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi alterada, a fim de que gozasse de maior autonomia. Desta forma, o PNUMA pôde convocar suas próprias assembleias para definir a pauta ambiental (UNEA, 2017). Até então, as conferências precisavam ser convocadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, medida que culminou com quatro reuniões convocadas em 40 anos: as Grandes Conferências Ambientais.

A UNEA nasce, portanto, no bojo do PNUMA como o foro onde se desenvolve as reuniões multilaterais. Embora recente, trata-se da maior autoridade ambiental global, encargada de "definir a agenda do meio ambiente, promover a implementação do desenvolvimento sustentável de

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maneira coerente dentro do sistema das Nações Unidas e funciona como uma autoridade jurídica para o meio ambiente global" (UNEA, 2015).

As assembleias não possuem periodicidade determinada. Sua primeira edição ocorreu em entre 23 e 27 de junho de 2014. A UNEA-2 ocorreu entre 24 e 26 de maio de 2016, em Nairóbi, com o intuito de auxiliar atores nacionais e internacionais atingirem os ODS ambientais e implementar o Acordo de Paris (UNEA, 2017). 1

Autoridades e ministros do meio ambiente presentes na UNEA-2 aprovaram 25 medidas para reduzir os problemas ambientais, que são de suma importância para que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável possam ser cumpridos até a data limite. As metas propostas estão relacionadas a problemas cotidianos como lixo marinho, poluição do ar e consumo e produção sustentável, que exigem a atenção da sociedade como um todo para serem solucionados (ONU, 2016). As metas são:

i. Alterações do regulamento interno; ii. Papel e funções dos fóruns regionais dos ministros e

autoridades ambientais; iii. Investimento na capacidade humana para o desenvolvimento sustentável através da educação

ambiental; iv. Papel, funções e modalidades de implementação do SAMOA Pathway pelo PNUMA como forma de facilitar 2

o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável;

v. Entregar a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável;

Aprovado por 195 países Partes durante a 21ª Conferência das Partes (COP21), o Acordo de Paris visa a 1

redução da emissão de gases de efeito estufa dentro do contexto de desenvolvimento sustentável.

SAMOA Pathway trata-se de um documento com as medidas propostas durante a Terceira Conferência 2

Internacional para o Desenvolvimento de Pequenas Ilhas. !241

vi. Apoiar o Acordo de Paris;

vii. Gestão racional de produtos químicos e resíduos; viii. Produção e consumo sustentável; ix. Prevenção, redução e reutilização de resíduos

alimentares; x. Mares e oceanos ; 3

xi. Lixo marinho e microplásticos; xii. Gestão sustentável dos recifes de coral;

xiii. Gestão sustentável de capital natural para o desenvolvimento sustentável e para a erradicação da pobreza;

xiv. Tráfico ilegal de animais e produtos silvestres; xv. Proteção do ambiente nas zonas afetadas por conflitos armados; xvi. Integração da biodiversidade com o bem-estar;

xvii. Reforçar o trabalho do PNUMA para facilitar a cooperação, a colaboração e as sinergias entre as convenções relacionadas com a biodiversidade;

xviii. Relacionamento entre o PNUMA e os acordos multilaterais sobre o ambiente para os quais fornece o secretariado; xix. Revisão intercalar do Programa de Desenvolvimento

e revisão periódica do Direito Ambiental (Montevideo Programme IV) ; 4

xx. Estratégia de médio prazo proposta para 2018-2021 e

Oceanos e mares fazem parte essencial na manutenção da vida terrestre. Aliada ao ODS 14 - vida na água, 3

a resolução (x) mares e oceanos tem por objetivo o trabalho conjunto de Estados e organismos internacionais para a proteção e conservação do meio ambiente marinho.

Encontro de autoridades governamentais especialistas em direito ambiental realizado em Montevidéu, 4

Uruguai em setembro de 2015.!242

programa de trabalho e orçamento para 2018-2019;

xxi. Tempestades de areia e poeira ; 5

xxii. Revisão do ciclo de sessões da UNEA do PNUMA; xxiii. Gestão de fundos fiduciários e contribuições

específicas; xxiv. Combate à desertificação, à degradação das terras e à seca e à promoção de pastos e pastagens sustentáveis; xxv. Aplicação do 10° Princípio da Declaração do Rio

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento na Região da América Latina e do Caribe (UNEA, 2016, p.01).

Algumas das metas propostas tratam-se mais de questões administrativas e de regimento interno do Programa das Nações Unidas, enquanto outras tangenciam diretamente problemas ambientais de maior importância na atualidade. No momento, cabe ressaltar a importância das metas 5 e 6, que estão diretamente relacionadas com os ODS. Ambas as metas contêm, em suas responsabilidades, a busca por alianças estratégicas e cooperações que possam diminuir as mudanças climáticas e a ameaça à biodiversidade (UNEA-UNEP, 2016).

Com vista a sanar a falta de repercussão midiática e, consequentemente, a lacuna de informação sobre estes temas, serão abordados no capítulo 5 dois estudos de caso que abarcam em específico as metas (x) mares e oceanos, (xi) lixo marinho e microplásticos e (xxi) tempestades de areia. Devido a seu caráter transdisciplinar, gera implicações das mais diversas, como econômica, social, política, de saúde entre outros, estas metas terão relevo neste artigo.

Tempestades de areia são fenômenos naturais, no entanto práticas não sustentáveis de uso do solo 5

intensificaram suas ocorrências nos últimos anos. Como consequência, elas dificultam o desenvolvimento sustentável de regiões e países afetados. !243

3. Governança Ambiental Global O conceito de governança global surgiu com a criação da Comissão

sobre Governança Global, em 1992. O maior marco da comissão foi a publicação do relatório Nossa Comunidade Global, no qual a governança é definida como:

(...) a totalidade das diversas maneiras pelas quais

os indivíduos e instituições, públicas e privadas, administram seus problemas comuns. É um processo contínuo pela qual é possível acomodar interesses conflitantes e realizar ações cooperativas. Governança diz

respeito não só a instituições e regimes formais autorizados a impor obediência, mas a acordos informais que atendam aos interesses das pessoas e instituições

(COMMISSION ON GLOBAL GOVERNANCE, 1995, p.2).

O surgimento deste conceito vem em sintonia às discussões sobre a responsabilidade pelos danos ao meio ambiente, em voga na Conferência do Rio (1992). Nesta conferência, cunhou-se a expressão “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” para aludir à participação dos países desenvolvidos nos danos causados ao meio ambiente, bem como a necessidade da transferência de recursos para os países em desenvolvimento (LAGO, 2015).

Apesar de o termo ter sido cunhado em momento posterior, a governança ambiental do meio ambiente tem início com a Conferência de Estocolmo (1972). Até então, os debates ambientais a nível global eram de caráter puramente científico, o que relegava a segundo plano as questões políticas que transpassam a questão. Em Estocolmo, realizou-se a primeira conferência mundial a tratar de meio ambiente que contava com

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representações governamentais e membros da sociedade civil. Desde então, o meio ambiente deixou de ser tratado exclusivamente no campo biológico. Este passou a integrar a consciência e a percepção da humanidade para os problemas ambientais, relacionados com o viés econômico-social, reunindo todas as formas de vida bem como a sociedade humana e seus vínculos (SACHS, 1992).

As discussões na esfera ambiental se intensificaram diante da percepção dos problemas ambientais a nível global, como as mudanças climáticas, ameaçando as condições de vida da população. Uma vez caracterizada como uma ameaça, a pauta imiscui-se com os debates de segurança nacional, que sempre foi o motriz dos assuntos do Estado. Tal fenômeno abriu diálogos sobre a inserção da tríade do desenvolvimento moderno (capital, burocracia e ciência) na pauta ambiental. Sachs (1992) levanta duas observações sobre essa reconfiguração: os limites da natureza são constantemente testados; e não se trata de maximização ou minimização da exploração dos recursos naturais, mas sim de otimização, de acordo com as demandas do sistema.

3.1. Institucionalização das pautas ambientais É possível elencar dois fatores que possibilitaram o surgimento da

preocupação com a causa ambiental no século XX. O aumento populacional demandou cada vez mais recursos e atividades na Terra, as quais muitas vezes se pautaram nos recursos renováveis, como água potável ou solo fértil, exaurindo-os regionalmente. A relativa paz lograda no âmbito do pós-guerra, por sua vez, permitiu que novos campos de estudo fossem alicerçados às negociações internacionais (HAAS; SPETH, 2006). O meio ambiente era visto como cenário onde se passavam as relações entre atores internacionais e,

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enquanto cenário, este era estático. Com o fim da guerra e a diminuição do foco bélico, o campo de visão foi aberto, adentrando a pauta ambiental nos estudos internacionais. Desta forma, ao dotar-se de agência, o meio ambiente deixou de ser cenário onde se desenvolve as Relações Internacionais e passa a ser força constituinte dos meios de articulação e poder (SACHS, 2010).

A pauta ambiental surgiu bastante difusa, tendo como primeiro desafio a união de suas demandas bem como agrupar a pluralidade de atores e catalogar seus interesses em prol da causa ambiental, o que foi posteriormente chamado de governança global. O grande repto para o estabelecimento concreto de uma governança ambiental é reunir os diversos atores, como governos, empresas e sociedade civil, em esforços comuns para lograr êxito (HAAS; SPETH, 2006). Ademais, é mister amalgamar a defesa do meio ambiente humano para as gerações presentes e futuras com os propósitos de paz e desenvolvimento econômico e social em todo o mundo (ESTOCOLMO, 1972).

A percepção global quanto à necessidade de se debater meio ambiente pôde ser vista em seu aspecto formal com a Conferência de Estocolmo. Contudo, a visão prática de ambientalismo começou a adensar a agenda política dos países 16 anos mais tarde. Em 1988, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) surge como uma organização técnico-6

científica criada por iniciativa do PNUMA e da Organização Meteorológica Mundial (OMM), reunindo 2500 cientistas em prol da mudança do clima. Suas análises confirmavam cada vez mais que o clima mudava, o que despertou a atenção de diversos países e ONGs diante dos problemas ecológicos, políticos e econômicos que daí sucederiam.

O IPCC, desta forma, foi o primeiro marco no sentido do

Do inglês, International Panel on Climate Change.6

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reconhecimento por parte de instituições políticas sobre as alterações no meio ambiente. Como será mostrado adiante, sua criação impactará para que esse processo de reconhecimento seja levado adiante e culmine para que quatro anos mais tarde, na Conferência do Rio seja criada a Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (CQNUMC).

3.2. Principais conferências ambientais e de desenvolvimento Em uma velocidade surpreendente, o pensamento ambiental evoluiu

de discussões de problemas locais, como saneamento e destino do lixo, para a complexidade da agenda de meio ambiente que permeia as discussões globais. Até a década de 60, as preocupações ambientais ressonavam apenas em alguns setores dos países mais ricos do mundo ocidental. Essa evolução se deu devido às consequências negativas da industrialização, como poluição, tráfego e barulho, que passaram a atingir maior percentagem da população destes países. Para os países em desenvolvimento, a pauta ambiental, ao ser introduzida no início da década de 70, estava sendo colocada em discussão de maneira precipitada (LAGO, 2013).

3.2.1. Conferência de Estocolmo O primeiro marco no sentido de construir uma governança ambiental

se deu em Estocolmo (1972), com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. O próprio nome da Conferência demonstra uma abertura do pensamento ambiental a uma abrangência maior e mais complexa, não se restringindo ao meio ambiente pristino, mas englobando também as modificações antrópicas. O parágrafo primeiro da Declaração de Estocolmo diz:

O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio

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ambiente que o cerca [...] e, graças à rápida aceleração da

ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio

ambiente humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma (ONU, 1972, p. 1, tradução do Ministério do Meio

Ambiente).

A Conferência de Estocolmo teve como ponto marcante a contestação das propostas do Clube de Roma, que na obra intitulada “Os Limites do Crescimento”, teciam restrições ao crescimento econômico de países em desenvolvimento (TOMÉ SILVA, 2011). O Brasil, juntamente com a China, liderou o grupo dos países periféricos, cuja principal reivindicação foi a “responsabilidade comum, mas diferenciada”. Estes defendiam que os países desenvolvidos fossem reconhecidos como os principais poluidores, devido ao seu alto poder de consumo. Os países em desenvolvimento, por outro lado, precisavam garantir o alívio da pobreza, fator que vem atrelado à poluição (NEVES; DALAQUA, 2012)

Os principais resultados da Conferência foram a tessitura da Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, com 26 princípios, a criação de um plano de ação para o meio ambiente com 109 recomendações, uma resolução sobre aspectos financeiros e organizacionais no âmbito da ONU e, por fim, a criação do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (TOMÉ SILVA, 2011). As resoluções da Declaração dão os rumos teóricos que servirão de base para as negociações e tomadas de decisão a nível global sobre política ambiental (HAAS; SPETH, 2006). A criação do Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA), com sede em Nairóbi surgiu com o

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intuito de criar mecanismos físicos e com voz de atuação que dessem procedência às pautas ambientais (HAAS; SPETH, 2006).

A Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) foi criada no âmbito de Estocolmo 72 e, em 1987, esta elaborou o relatório “Nosso Futuro Comum” (Relatório Brundtland) que definiu o conceito de desenvolvimento sustentável como aquele “que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para atenderem também às suas” (TOMÉ SILVA, 2011). Esta sela a união entre meio ambiente e desenvolvimento, pensando não apenas no manejo sustentável dos recursos naturais como também no alívio da pobreza. Desta forma, o maior avanço do relatório foi estabelecer a nível internacional a impossibilidade de se desenvolver de forma insustentável (SACHS, 1992).

Nos anos seguintes, desastres ambientais como derramamento de petróleo na baía de Campeche (1979), o acidente químico ocorrido em Bophal (1984), e a explosão do reator na usina nuclear de Chernobyl (1987) suscitaram o debate da pauta ambiental, aumentando as pressões por maior solidez nos tratados e resoluções mais incisivas. Os desastres ocorridos demonstraram também o caráter transnacional da agenda ambiental, cujos impactos ultrapassam os limites das fronteiras nacionais e se expandem a uma questão internacional.

Os resultados de Estocolmo ainda eram bastante esparsos, a tal ponto que vinte anos após essa reunião, viu-se a necessidade de convocar nova reunião a fim de que se lograsse de verdade o desenvolvimento sustentável na prática. Desta forma, a ONU anuncia para o ano de 1992 a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como ECO-92 ou Cúpula da Terra.

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3.2.2. Conferência do Rio A Conferência do Rio, ou ECO-92, representou a institucionalização

definitiva das pautas ambientais e de desenvolvimento. O próprio nome da Conferência já mostra a mudança na percepção do meio ambiente atrelado intrinsecamente ao desenvolvimento. Seu contexto político se dá quase que imediato ao fim da guerra fria, possibilitando o surgimento das desavenças norte-sul, em substituição ao embate leste-oeste, polarizado nas décadas anteriores. Ademais, a adoção da China a modelos de economia capitalista se traduziu em uma maior interação com o restante do globo, inclusive no âmbito de tratados (TOMÉ SILVA, 2011).

Essa maior institucionalidade fortificou a comunidade acadêmica, que ramificaram diversas áreas do conhecimento para o ramo ambiental, como a economia, que destrinchou em economia ambiental e economia ecológica. A comunidade científica, por sua vez, teve maior ênfase após Estocolmo, com a assinatura da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio (1985), e do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (1987) (LAGO, 2013).

A importância conferida pelos países à agenda ambiental cresceu substancialmente entre Estocolmo-72 e a Conferência do Rio. Nesta, estiveram presentes delegações de 172 países, um avanço em relação aos 113 em Estocolmo. Ademais, o crescimento da pauta possibilitou que 2400 representantes de ONGs somassem às representações durante a Conferência (ONU, 1997).

O maior legado da Conferência foi a adoção de duas convenções multilaterais, são elas: (i) a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CQNUMC); e a (ii) Convenção da Diversidade Biológica (CDB).

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As Convenções supracitadas se reúnem anualmente, no caso da CQNUMC, e bianualmente, para a CDB, nas Conferências das Partes (COP). A COP é o maior corpo de decisão da Convenção, onde os Estados que são Partes da Convenção se reúnem para discutir a implementação da Convenção bem como seus mecanismos institucionais e administrativos (UNFCCC, 2017). Nessas conferências, são discutidos os pontos que vão orientar a agenda global do clima e de biodiversidade, como acordos internacionais. No tangente às mudanças do clima, é possível ilustrar com o Protocolo de Kyoto (1997), firmado na COP-3, e o Acordo de Paris (2015), firmado na COP-21 (ibid). O Protocolo de Cartagena (2000), firmado na COP-3 de biodiversidade, e o Protocolo de Nagoya (2010), fruto da COP-8 são as efemérides da regulação global da biodiversidade.

Além das duas convenções, a Conferência do Rio trouxe a subscrição de documentos de cunho político como a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Agenda 21 e Declaração de Princípios sobre Florestas, bem como a criação de um Fundo Global para o Meio Ambiente, vinculado ao Banco Mundial (TOMÉ SILVA, 2011). Para Haas e Speth (2006), a organização da Conferência foi hábil abranger as diversas pautas que surgiram e não perder o foco na abrangência do tema. Contudo, criticaram a ausência de documentos de adesão vinculatória por parte dos países, dispondo apenas de documentos facultativos. Tal limitação jaz na própria natureza da pauta ambiental, a qual não é munida de poder capaz de impor restrições que possam ir de encontro à questão econômica (HAAS; SPETH, 2006).

A Agenda-21, um dos mais conhecidos documentos de cunho ambiental, mostra como os diversos atores podem construir o desenvolvimento sustentável no dia a dia. Como medida de institucionalização, foi criada a Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (CDS) para

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auxiliar na quantificação e mapeamento dos resultados da Agenda (ONU, 2017).

Em 2012, Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA, reconheceu que a Agenda-21 não foi devidamente implantada (O GLOBO). Isso se deve a fatores tanto externos quanto internos dos países. Em linhas gerais, Lago (2013) elenca a falta de comprometimento das metas por parte dos países ricos como um fator que reduziu a credibilidade internacional da Agenda. No caso brasileiro, Malheiros et al. (2007) menciona o descompasso no direcionamento nacional, o qual teve enfoque na construção dos projetos e apresentou lacunas no monitoramento destes.

A Conferência do Rio logrou êxito ao estender o debate ambiental a outros setores e transversalizar seu estudo. Ao conciliar meio-ambiente com desenvolvimento, problemáticas como o alívio da pobreza passaram a ter caráter central nas discussões. O discurso proferido pela então primeira-ministra indiana Indira Gandhi (1992) sobre a relação estreita da pobreza e mudanças climáticas retrata esta nova abordagem.

A pobreza e a escassez não são os principais poluidores? Como nós podemos falar àqueles que vivem em vilarejos e favelas sobre a preservação dos oceanos, dos rios e do ar

se eles mesmos vivem em locais contaminados? O meio ambiente não pode prosperar em condições de pobreza (ONU, 1992 apud BEYERLIN; MARAUHN, 2011, tradução nossa).

Nos anos precedentes à ECO-92, o cenário ambiental global se viu moldado por diversas convenções e protocolos, como a Convenção no Combate à desertificação (1994), Protocolo de Kyoto (1997), Convenção de Roterdã (1998), Declaração do Milênio (2000), Protocolo de Cartagena (2000) entre outros. O fato de os Estados Unidos não terem se aderido a Kyoto !252

enfraqueceram o surgimento do movimento ambiental.

3.2.3. Cúpula de Joanesburgo Em 2000, a ONU anunciou a realização da Cúpula Mundial sobre

Desenvolvimento Sustentável, a ser sediada em Joanesburgo em 2002. O aparato jurídico institucional das Nações Unidas crescia para as conferências ambientais, sugerindo que Joanesburgo pudesse trazer novos patamares à agenda ambiental (LAGO, 2013). Contudo, a conjuntura mundana vivenciava um período de recessões econômicas. O México, em 1994, foi palco de uma crise econômica, fenômeno que sucedeu na Ásia (1997), Rússia (1998), Brasil (1999) e Argentina (2001). Desta forma, as preocupações da agenda política direcionavam mais à economia e solução de problemas, não oferecendo ampla abertura à pauta ambiental (LAGO, 2013).

Não obstante, o atentado às Torres Gêmeas, ocorrido um ano antes da Cúpula, desviou ainda mais o foco, e afastando de maneira substancial os Estados Unidos do âmbito das discussões. Para Speth (2003, p.8), “o país mais poderoso do mundo liderou a luta por medidas domésticas nos anos 70, mas falhou amplamente no papel de líder internacional no que se refere à agenda global”.

Frente ao cenário atípico, o processo preparatório de Joanesburgo foi menos ambicioso que o ocorrido dez anos antes: não houve ambições de elaborar documentos sólidos como a Agenda 21 e também não houve acordos de adesão vinculatória. Contudo, o principal triunfo de Joanesburgo foi incluir as temáticas de energias renováveis e responsabilidade corporativa na agenda ambiental. De resto, a Conferência reafirmou princípios de proteção ambiental e alívio da pobreza já debatidos em 1992 (TOMÉ SILVA, 2011).

Em Joanesburgo, a noção de meio ambiente é fortemente atrelada à

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posição da população nesse espaço, redirecionando as pessoas ao centro do desenvolvimento. Para Mark Malloch Brown, Administrador do PNUD (apud LAGO, 2013), o velho movimento ambientalista tinha a reputação de elitista. A chave agora era colocar as pessoas em primeiro lugar e o meio ambiente em segundo, mas também lembrar que, quando se esgotam os recursos, as pessoas são destruídas.

As críticas à reunião foram em maior número do que as menções às suas conquistas (LAGO, 2013). Faltou a liderança vista no Rio, não supriu a lacuna de documentos vinculatórios e a conjuntura mundial não estava receptiva à pauta ambiental. Em resumo, o afã do movimento ambientalista foi vivenciado em Estocolmo, sofreu ligeiro desânimo no Rio e declínio em Joanesburgo (HAAS; SPETH, 2006).

Para o jornalista malaio Martin Khor (apud HAAS; SPETH, 2006), o não sucesso advindo dos tratados ambientais, em especial em Joanesburgo, mostrou como o mundo ainda está pautado no conflito e não na cooperação efetiva. Todavia, apesar de suas lacunas, Joanesburgo foi um elo nas discussões internacionais de meio ambiente e desenvolvimento, preservando a discussão da pauta ambiental mesmo em um cenário pouco favorável.

3.2.4. Rio+20 O enfoque de Joanesburgo no desenvolvimento sustentável se manteve

para a conferência ocorrida no Rio de Janeiro em 2012, a Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), sendo esta mais conhecida por RIO+20. Os objetivos primordiais que levaram à realização da conferência foram de reafirmar o compromisso político com o desenvolvimento sustentável, de repensar as lacunas na agência dos atores e de analisar possíveis desafios a serem enfrentados (NEVES; DALAQUA, 2012).

!254

A Rio+20 serviu como ponto de partida para o fortalecimento dos mecanismos de governança nos campos do desenvolvimento sustentável e do meio ambiente. (PATRIOTA, 2013). Os dois temas principais que regeram a Rio+20 foram “economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” e “estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável”, que haviam sido acordados pelos países membros na resolução da Assembleia Geral 64/236. A Conferência discutiu também as lacunas na implementação dos compromissos acordados em Cúpulas anteriores (LAGO, 2013).

O consenso entre os países ao final da Conferência foi materializado por meio do documento final, intitulado "O Futuro que Queremos", que lançou a nova agenda de desenvolvimento sustentável (PATRIOTA, 2013). Outro documento de suma importância criado no âmbito da Rio+20 foram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto de 17 objetivos e 169 metas com vista a guiar o desenvolvimento sustentável global.

A Rio+20 também teve êxito em integrar a sociedade civil ao processo multilateral, por meio dos inovadores “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável”, que engajaram mais de 60 mil pessoas. Ainda no escopo da participação inclusiva, milhares de representantes da sociedade civil se reuniram nos mais de mil eventos paralelos espalhados pelo Rio de Janeiro na data da Conferência, como o “Humanidade 2012” e a “Cúpula dos Povos” (LAGO, 2013).

3.3. Outros mecanismos na ingerência global Sociedade civil é um termo que se remodela constantemente, sendo inviável dar-lhe uma denominação pontual. Grosso modo, é o conglomerado de pessoas que se juntam em prol da defesa de uma causa que lhes é comum e

!255

tem tanto interesse a ponto de não agirem por lucro ou poder político, mas com orientação puramente ideológica. A sociedade civil organizada tem a capacidade de empoderar, representar e defender grupos vulneráveis ou socialmente excluídos (BOUMAN-DENTENER; DEVOS, 2015).

A Seção III da Agenda 21, documento produzido na CNUMAD, ou Eco-92, definiu os nove principais grupos da sociedade civil, sendo: (i) mulheres, (ii) crianças e jovens, (iii) populações indígenas e suas comunidades, (iv) organizações não-governamentais, (v) autoridades locais, (vi) trabalhadores e sindicatos, (vii) comércio e industriais, (viii) comunidade científica, e (ix) agricultores. A sociedade civil é um ator vital para a governança, uma vez que defende os interesses de comunidades locais e angaria maior mobilização para temas específicos. O maior desafio não é moldar a capacidade da sociedade civil, mas criar uma estrutura de governança que possibilite a participação desta em níveis mais relevantes (BOUMAN-DENTENER; DEVOS, 2015).

A participação da sociedade civil nas conferências de desenvolvimento sustentável cresceu com o tempo. Bem incipiente em Estocolmo, alcançou voos maiores na ECO-92 e realçou a importância dos eventos paralelos (TOMÉ SILVA, 2011). Uma vez que não possui poder de voto e tampouco é frequentemente ouvida nas sessões formais das negociações, os eventos paralelos funcionam como a o principal modo de articulação, em uma noção mais ampla e democrática de governança (HJERPE; LINNÉR, 2010).

Os eventos paralelos são espaços para atores intergovernamentais ou representações da sociedade civil discutirem seus modos de participação. Estes são espaços amplamente democráticos que ampliam sobremaneira as possibilidades de articulação da sociedade civil (SCHROEDER; LOVELL,

!256

2012). No âmbito das Conferências, a Rio+20 foi a que trouxe o maior número de eventos paralelos e, consequentemente, maior participação da sociedade civil. Grande parte das avaliações indica que os eventos paralelos podem ter sido mais relevantes que a própria conferência (LAGO, 2015).

Tabela 1: Conferências Ambientais

Ano AbreviaçãoConferências Ambientais Principais pontos

1972Estocolmo-7

2 (Estocolmo)

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano

- Primeiro esforço para integrar a pauta ambiental na agenda internacional.

- Criação do PNUMA - Contestação das propostas

do Clube de Roma, reunidas na obra "Os

Limites do Crescimento". - Escrita da Declaração sobre

o Meio Ambiente Humano.

1992Eco-92 (Rio de Janeiro)

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento

- Alinhamento das discussões com viés ao

desenvolvimento humano. - Criação da CDB e da

CQNUMC - Tessitura da Agenda-21

!257

Fonte: produção nossa.

4. Demandas Nacionais Os desafios trazidos pelos impactos ambientais já não estão mais

restritos às fronteiras nacionais, sendo preciso que Estados atuem em conjunto para tomar medidas e criar estratégias que possam solucionar os desafios que surgem no plano ambiental. Dentro desta perspectiva, desde a Conferência de Estocolmo o Brasil tem participado ativamente das discussões para o desenvolvimento de uma agenda ambiental. No entanto, enquanto assume um papel proativo no cenário internacional, o país tem falhado em tomar ações internas que estejam de acordo com a posição que ele assume externamente (GUIMARÃES; BEZERRA; SIMÕES, 2008).

Em Estocolmo 72, representantes brasileiros reconheceram a importância de buscar uma solução para a poluição climática, no entanto eles afirmaram que

2002Rio+10

(Joanesburgo)

Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento

Sustentável

- Consolidação do termo desenvolvimento

sustentável. - Inclusão das energias

renováveis na agenda internacional.

- Demanda da sociedade civil pela responsabilidade

coorporativa.

2012Rio+20 (Rio de Janeiro)

Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento Sustentável

- Maior solidez nos temas debatidos, como "economia

verde" e "erradicação da pobreza".

- Criação dos ODS. - Maior abertura à sociedade

civil

!258

Era preciso diferenciar os problemas ambientais existentes

nos países periféricos – relacionados com o grande número de pessoas vivendo na pobreza – da poluição gerada por uma falta de planejamento nas grandes

economias industriais. Segundo esta lógica, todos os países tinham responsabilidades para com o meio ambiente. No entanto, os países desenvolvidos, amplamente urbanizados e com elevados padrões de

consumo, deveriam ser considerados os grandes responsáveis pelos altos níveis de poluição (NEVES; DALAQUA. 2012, p.14).

O discurso brasileiro sobre a agenda ambiental pode ser considerado ambíguo. Sua política externa preza pela proteção aos recursos naturais e pela promoção do desenvolvimento nos países do Terceiro Mundo, entretanto as políticas internas encontram obstáculos conservadores que veem o ambientalismo como um dos freios para o desenvolvimento econômico do país. Além do aspecto econômico do discurso contra medidas ambientais, o Norte e o Nordeste do país são exemplos de como as políticas nacionais se mostram contrárias aos discursos ambientais, como visto na violência contra povos indígenas, a exploração da Amazônia e o desmatamento das matas nativas (GUIMARÃES; BEZERRA; SIMÕES. 2008).

No entanto, é possível notar a presença do governo brasileiro nas relações relacionadas à conservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável. O Brasil é conhecido como um dos líderes entre os países em desenvolvimento, demonstrando que é possível aliar desenvolvimento econômico com sustentabilidade (NEVES, DALAQUA, 2012). Além disso, o governo tem diminuído ao longo dos anos os problemas de impacto ambiental negativo no país ao atuar em conjunto com organizações não-governamentais

!259

e sociedade civil. Para as negociações que culminaram nos Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável, o governo brasileiro se comprometeu em implementar as metas e estratégias criadas através do documento “Negociações da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015: Elementos Orientadores da Posição Brasileira”, desenvolvido após palestras, seminários e reuniões com membros da sociedade civil, especialistas ambientais e representantes de organizações não-governamentais (ITAMARATY, 2014).

5. Estudos de Casos 5.1. Poluição de mares e oceanos

A água é um componente essencial para a sobrevivência dos seres no planeta Terra. Elemento em maior abundância no corpo humano, a água representa 65% da composição de uma pessoa. Esse elemento também é a principal matéria prima da indústria. São necessárias 270 toneladas de água para produzir uma tonelada de aço. Diante deste cenário, é quase inconcebível a manutenção da humanidade sem tal recurso (BRUNI, 1994).

Cerca de 70% da superfície terrestre é coberta de água. É difícil imaginar que a atividade humana pode causar consequências graves a esse vasto ecossistema. (VEJA, 2008). Entretanto, as práticas da humanidade são majoritariamente responsáveis pelo risco à biodiversidade marinha, especialmente com relação à grande quantidade de lixo disposta nos mares e oceanos.

A alteração na forma de vida da sociedade em favor da existência, ou não, de água disponível é recorrente. Desde a pré-história, podemos identificar que as comunidades humanas se estabelecem onde há abundância de água. As primeiras grandes civilizações se desenvolveram nos vales dos grandes rios e

!260

sofreram as consequências negativas do esgotamento desse recurso, como no vale do Rio Nilo, no Egito e no vale do Tigre-Eufrates, na Mesopotâmia. (BRUNI, 1994).

Componente essencial para o sistema de suporte à humanidade, o ambiente marinho – oceanos, mares e áreas costais adjacentes – é um aspecto importante para o desenvolvimento sustentável. (UNEA, 2016). Esse ecossistema representa tanto para a comunidade global, que é representado pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14: vida debaixo d’água, sobre o qual foram estabelecidas sete metas (ONU, 2016).

i. Até 2025, prevenir e reduzir significativamente a poluição

marinha de todos os tipos, especialmente advinda de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes;

ii. até 2020, gerir de forma sustentável e proteger os

ecossistemas marinhos e costeiros para evitar impactos adversos significativos, inclusive por meio do reforço da sua capacidade de resiliência, e tomar medidas para a sua

restauração, a fim de assegurar oceanos saudáveis e produtivos;

iii. minimizar e enfrentar os impactos da acidificação dos oceanos, inclusive por meio do reforço da cooperação

científica em todos os níveis; iv. até 2020, efetivamente regular a coleta, e acabar com a

sobrepesca, ilegal, não reportada e não regulamentada e as

práticas de pesca destrutivas, e implementar planos de gestão com base científica, para restaurar populações de peixes no menor tempo possível, pelo menos a níveis que possam produzir rendimento máximo sustentável, como

determinado por suas características biológicas;

!261

v. até 2020, conservar pelo menos 10% das zonas costeiras e

marinhas, de acordo com a legislação nacional e internacional, e com base na melhor informação científica disponível;

vi. até 2020, proibir certas formas de subsídios à pesca, que contribuem para a sobrecapacidade e a sobrepesca, e eliminar os subsídios que contribuam para a pesca ilegal, não reportada e não regulamentada, e abster-se de

introduzir novos subsídios como estes, reconhecendo que o tratamento especial e diferenciado adequado e eficaz para os países em desenvolvimento e os países de menor

desenvolvimento relativo deve ser parte integrante da negociação sobre subsídios à pesca da Organização Mundial do Comércio;

vii. até 2030, aumentar os benefícios econômicos para os

pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países de menor desenvolvimento relativo, a partir do uso sustentável dos recursos marinhos, inclusive por meio de

uma gestão sustentável da pesca, aquicultura e do turismo (ONU, 2016, p.01).

O cenário atual apresenta dois grandes problemas com relação à água: o derretimento das calotas polares em decorrência do aumento da temperatura no planeta e a poluição dos mares e oceanos, por causa da grande quantidade de detritos produzidos pela humanidade. O primeiro, segundo a pesquisa da revista Nature Climate Change¹, publicada em fevereiro de 2016, acarretará em um cenário catastrófico nos próximos séculos. O impacto do carbono presente na atmosfera e as novas emissões podem gerar, nos próximos mil anos, a elevação no nível dos oceanos em 25 metros.

Moradores de cidades litorâneas sentirão os impactos de forma tão !262

severa que uma parcela da população mundial poderá ficar desabrigada (CLARK, 2016). No cenário mais ameno estudado por um dos especialistas responsáveis pela pesquisa, Peter Clark, paleontoloclimatologista da Universidade do Estado de Oregon, estima que ao menos 10% das pessoas que vivem em 122 países serão afetadas pelo aumento no nível do mar (CLARK, 2016).

Sobre a segunda questão, existem duas grandes preocupações com relação à poluição marítima: dispersão de detritos sólidos e vazamento de petróleo. A quantidade expressiva de animais que morrem em decorrência de ingestão de lixo – especialmente o plástico – é crescente e prejudica severamente a preservação das espécies (DERRAIK, 2012). Cerca de oito milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos por ano. Aproximadamente 80% dessa quantidade é responsabilidade de 20 nações. Pesquisadores estimam, com base na média anual analisada, que a quantidade de plástico jogada anualmente nos mares pode alcançar 17,5 milhões de toneladas até 2025. Isso significa que até lá 155 milhões de toneladas chegarão aos oceanos (BBC, 2015).

Essa significativa quantidade de plástico disperso gera severas consequências para a biodiversidade marinha, tanto para os animais que ingerem esse material, que pode levar à asfixia, quanto pela alteração no ecossistema oceânico proveniente da quantidade de detritos plásticos que se acumulam no fundo da superfície marítima, fenômeno que pode impedir ou alterar a troca de gases presentes na água (DERRAIK, 2012).

No Oceano Pacífico encontra-se a maior concentração de detritos dispersos no mar. São 100 milhões de toneladas de lixo localizadas em 680 mil quilômetros quadrados, entre o Havaí e a Califórnia, formada devido aos giros oceânicos – movimento circular produzido pelas correntes marítimas (ARAIA,

!263

2008). Além dos resíduos sólidos, quase 4,5 milhões de toneladas de petróleo vazam nos oceanos por ano (VEJA, 2008). Essa dispersão costuma ocorrer por causa de falhas no processo de extração de petróleo e é tóxica para animais marinhos, aves migratórias e prejudicial ainda para a população que vive em áreas litorâneas (ALONSO, 2016).

Neste cenário, a cooperação e a coordenação internacional são desafiadoras devido às diferentes realidades em que as nações estão inseridas. A importância da contribuição do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente com as organizações internacionais e os fóruns relevantes à questão marítima faz-se necessária para uma entrega coerente da Agenda para 2030 de desenvolvimento sustentável (UNEA, 2016).

5.2. Tempestades de areia e mudanças climáticas Assunto muito discutido na mídia e explorado por pesquisadores são

as mudanças climáticas pelas quais nosso planeta vem passando. De fato, é algo a se preocupar, uma vez que a vida como nós conhecemos acaba por ser ameaçada. Dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), no ponto 13, temos o combate às mudanças climáticas (ONU, 2015). Porém, os impactos mais lembrados das mudanças climáticas são, sem dúvida alguma, o derretimento das calotas polares que, por consequência, causaram o aumento do nível dos oceanos, além do aumento da média global de temperatura causada pelo próprio aquecimento global. Contudo, esses são apenas as primeiras peças que, como em um jogo de dominó, acabam por derrubar outras peças que geram consequências igualmente ou ainda mais catastróficas que são pouco lembradas ou são simplesmente esquecidas pela comunidade internacional. Dentro desse grande escopo de consequências das mudanças

!264

climáticas, existem as tempestades de areia. Primeiro, é preciso lembrar que esse tipo de tempestade é um fenômeno natural, ou seja, sua ocorrência não gera nenhum tipo de anormalidade, o que vem se tornando preocupante é a intensidade dessas tempestades e a sua frequência. Ela ocorre basicamente graças a intensidade dos ventos, fazendo com que as partículas de areia se elevem por suspensão e “soprando” essas rajadas de areia na mesma direção dos ventos (DOLCE, 2013), sendo mais propensas em regiões secas e desérticas. A intensidade desses ventos pode variar bastante, desde um simples levantamento de areia até ventos que podem ultrapassar 100km/h, podendo ter a visibilidade reduzida de 10km até 1,5km, e, quando se chega a esse nível, entende-se que de fato se formou uma tempestade, ou a chamada poeira densa (FARIA, 2013). Entretanto, a perda da visibilidade é o menor dos problemas provenientes de uma tempestade de areia.

Tempestades de areia ou poeira são eventos da atmosfera

baixa que resultam da erosão causada pelo vento de partículas da superfície. Essas tempestades ocorrem relativamente perto da superfície, mas partículas mais

finas podem ser encontradas a quilômetros de altura pela atmosfera, onde ventos fortes transportam para longas distâncias. Como o solo “nu” é mais suscetível ao arrastamento de sedimentos, esses eventos usualmente

ocorrem em regiões semiáridas e lugares em que não existe vegetação (UNEP, 2016, p.01).

As regiões desérticas, onde normalmente ocorre esse fenômeno, também estão sofrendo com a destruição da sua vegetação, o que catalisa a intensidade dessas tempestades. Essa destruição não é só causada diretamente pela ação do homem, a elevação da temperatura do planeta também contribui de maneira significativa para essa perda. Um estudo do US Geological Survey

!265

e a UCLA mostrou que a vegetação rasteira do Arche National Park e do Canyonlands National Park, localizados no estado americano de Utah, decresceu significativamente em um período de 20 anos enquanto a temperatura aumentava. Assim, há evidências fortes que mostram que as mudanças climáticas aumentam a devastação nas regiões desérticas, gerando como consequência uma maior intensidade nas tempestades de areia . 7

Devido a esses fatores, as tempestades de areia passaram a aparecer com mais frequência nos noticiários ao redor do mundo, tanto em países desenvolvidos como em regiões mais pobres, afetando as populações de diversas maneiras. Obviamente, os países com menos recursos sofrem muito mais com esse fenômeno e muitas vezes situações humanitárias que já eram preocupantes se tornam ainda mais alarmantes. Um dos casos mais emblemáticos nessa situação é o que acontece no Sudão, que pode se tornar o primeiro país do globo a ser inabitado por causa das mudanças climáticas e isso está muito relacionado com as tempestades de areia. O país é habitado por cerca de 40 milhões de pessoas, sendo que grande parte delas vive abaixo da linha da pobreza (RIEGER, 2016), além de contar com uma estrutura quase que inexistente para suportar esse tipo de fenômeno natural. O processo de desertificação, segundo cientistas, já foi iniciado e a região vem enfrentando tempestades de areia cada vez mais fortes (SCRIBBLER, 2016). Com base em estudos, foi estimado que a temperatura dessa localidade aumentará em 3 graus célsius até 2060, o que pioraria ainda mais a situação, segundo o climatologista Jos Lelieveld; “o Norte da África já é quente e sua temperatura continua subindo agressivamente. Em algum momento, neste século, uma

O pesquisador e ecologista Seth Munson do USGS complementa dizendo que “o aumento das emissões de 7

poeira gerados pela erosão causada pelo vento tem grande implicação no ecossistema e na própria vida humana, assim, desenvolver um melhor entendimento da relação de como as mudanças climáticas afetam esse fenômeno em regiões desérticas é uma área de estudos importante” (tradução nossa).!266

parte da região se tornara inabitável”. Além de graves consequências a longo prazo, de imediato é possível

observar uma série de impactos na vida das comunidades. Os ventos desse fenômeno são capazes de devastar pequenas cidades em países com pouca estrutura, deixando as populações vulneráveis a própria tempestade e a certos tipos de doenças respiratórias. Vale destacar também que, na maioria das vezes, essas comunidades interioranas de países africanos sobrevivem da agricultura que acaba sendo completamente inutilizada por essas tempestades, ou seja, isso é muito mais que apenas um fenômeno natural, sendo algo que também afeta a via social e econômica . 8

Esse fenômeno também é bastante presente na Austrália, país com estrutura muito diferente do Sudão e do Kuwait, onde também são comuns essas tempestades. A população australiana conta com uma infraestrutura governamental pronta para enfrentar esse tipo de problema, além de um sistema de aviso para alertar os moradores das regiões atingidas. Isso reforça ainda mais a necessidade de uma troca de informação entre os países e um compartilhamento de experiências tanto para diminuir fenômenos que aumentem a intensidade dessas tempestades, mas também como formas de minimizar os efeitos sobre as populações atingidas. O meio ambiente nos lembra que as condições criadas para as tempestades de areia podem ser relacionadas com as mudanças climáticas e certas práticas que destroem a vegetação. Hoje, a Terra é duas vezes mais “empoeirada” do que era no século 19 (GOLD, 2011). Todos esses impactos causados pelo fenômeno das tempestades de areia são discutidos no ODS 13. Em seu ponto 13.1 é tratado sobre a

Sugestão de leitura para o tema: Impacts of sand and dust storms on agriculture and potential agricultural 8

applications of a SDSWS, de Stefanski e Sivakumar.!267

importância de reforçar “a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos relacionados ao clima e às catástrofes naturais em todos os países” (ONU, 2015), deixando claro que, além de combater as mudanças climáticas, é necessário dar meios para que as populações possam sobreviver a possíveis eventos naturais, cada vez mais intensos. O ponto 13.3 também se relaciona bastante com essa questão, colocando como necessário o incremento da educação e, por consequência, a conscientização e o aumento da capacidade humana para adaptação e redução de possíveis impactos das mudanças climáticas, além de trabalhar com um sistema de alerta precoce dessas mudanças. Esses tópicos se tornam ainda mais necessários quando está se tratando de países menos desenvolvidos, sendo preciso “promover mecanismos para a criação de capacidades para o planejamento relacionado a mudanças do clima e à gestão eficaz, nos países menos desenvolvidos, inclusive com foco em mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas” (ONU, 2016) como dito na ODS 13.4.b. . 9

Além do estabelecido pelos ODS, a comunidade internacional tem se articulado para enfrentar esse problema. As ações são baseadas em três grandes pilares – formas de alertar a população sobre a ocorrência desses fenômenos, ajuda humanitária no pós-evento e formas de minimizar as mudanças climáticas que afetam a ocorrência das tempestades de areia. A Organização Meteorológica Mundial criou o Sand and Dust Storm Advisory 10

and Assessment System (SDS-WAS), um sistema de alerta com o objetivo de possibilitar que os países tenham como prever tempestades de areia em tempo

Vale o destaque também para a ODS 13.3.a que consagra o implemento do compromisso assumido pelos 9

países desenvolvidos na Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) para a meta de arrecadar conjuntamente 100 bilhões de dólares por ano a partir de 2021 para atender às necessidades dos países em desenvolvimento, no contexto de ações de mitigação e transparência na implementação e operacionalizar plenamente o Fundo Verde para o clima.

World Meteorological Organization (WMO).10

!268

hábil para alertar suas populações. Com esse sistema, foram criadas áreas de atuações nas regiões mais atingidas como o Norte da África, Oriente Médio, Europa, Ásia, Centro Pacífico e as Américas. Existem também outras iniciativas de sistemas de alerta que ajudam nessa tarefa, como o Centro de Previsões Meteorológicas de Barcelona, o Programa de Observação da Terra da União Europeia (Copernicus) (UNEP, 2016).

Apesar de importante, esses sistemas de alerta não têm muita utilidade depois que a tempestade ocorre, por isso a necessidade cada vez mais expressiva de investimentos em áreas chaves para que exista uma resposta eficaz pós-catástrofe. Setores como serviços de hospitais, vigilância de doenças, transporte de mantimentos e medicamentos, informação são essenciais e minimizam as consequências a curto prazo. Além disso, a tarefa de impedir processos de desmatamento e desertificação nessas áreas assume um caráter especial, principalmente em um pensamento a longo prazo. Países como a China vêm desenvolvendo processos de combate à desertificação e monitoramento da vegetação que têm apresentado resultados bastante significativos (UNEP, 2016).

Toda essa questão de “recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres” (ONU, 2015) é tratada no ODS 15, que também estabelece metas a serem cumpridas pelos países. Vale destacar também a importância da perda da biodiversidade nessas regiões, algo muito importante a ser preservado e que deve ser tratado como prioridade em medidas a longo prazo. Assim, a questão das tempestades de areia não reflete somente uma necessidade de ajuda nos sistemas de alarme e no pós-conflito, mas se relaciona de maneira direta com a preservação e o próprio desenvolvimento sustentável.

!269

6. Conclusão Apesar do tema “meio ambiente” ter se tornado algo bastante comum

na mídia internacional, ainda há muito que se discutir e estabelecer. A passagem de mero coadjuvante para um dos principais atores do nosso século foi algo importante para a conscientização da necessidade de se proteger o meio ambiente e as inúmeras consequências que ações humanas podem causar. Sejam as mudanças climáticas que alteram a temperatura global, diminuindo a vegetação desértica, por exemplo, seja o aumento da poluição dos mares que causa impacto na biodiversidade marinha e na própria existência humana.

Como dito, o primeiro passo para a construção de uma governança ambiental foi a Conferência de Estocolmo. Outras importantes conferências e encontros em que se discutiam questões ambientais, com o intuito de construir e consolidar essa governança ambiental, se deram ao redor do mundo, com destaque para as conferências sediadas no Rio de Janeiro. O mundo, sem dúvidas nenhuma, avançou bastante na questão ambiental, mostrando uma maior preocupação em discutir e chegar a soluções viáveis para preservar o meio ambiente. As tempestades de areia representam, por exemplo, uma grande ameaça às populações dos países norte-africanos e também aos próprios países, já que alguns, como o Sudão, correm o risco de se tornarem inabitáveis (UNEP, 2016), assuntos que ainda preocupam bastante pela sua complexidade e impactos na vida humana.

Além disso, os últimos tempos foram marcados por aumento significativo de troca de informação e experiência entre os países a respeito das formas de proteção do meio ambiente. Os acordos se intensificaram e o mundo começou a pensar cada vez mais em conjunto, o que possibilitou a criação, pelas Nações Unidas, dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e, posteriormente, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Esses

!270

objetivos, uma espécie de agenda para os países, são ao todo 17 e passam por diversos temas como educação de qualidade, igualdade de gênero, ações contra a mudança global do clima, proteção da vida na água e terrestre, energia limpa (ONU, 2015). Todo o movimento de integração dos países em torno dessa causa é justificável pelo fato das mudanças climáticas e ambientais não estarem restritas às fronteiras dos países que mais desmatam e poluem. O mundo todo passou a ser afetado por esses fenômenos, o que aumentou o interesse da comunidade internacional em debater esse tema.

Dessa maneira, discutir esse tema em um ambiente plural, como as Nações Unidas, é essencial para fortalecer essa união e, de fato, colocar em prática tudo aquilo que já foi discutido e pensado. Mais do que chegar a um consenso em determinados pontos, é necessário colocar o meio ambiente como marco base das políticas sociais e econômicas dos países, já que, na maioria dos casos, o meio ambiente é pensado para ser encaixado em nossos padrões econômicos e sociais, o que se mostrou extremamente falho.

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