11
II Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR ISSN 2178-8200 A (RE)CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS IMIGRANTES ALEM ÃES ATRAVÉS DE MÚSICAS POPULARES ALEMÃS DAMKE, Ciro (UNIOESTE) RESUMO: No presente trabalho discutimos aspectos da identidade dos imigrantes alemães através de textos musicais. De um lado está o fato de serem novos brasileiros com suas relações linguísticas, socioculturais, políticas, econômicas etc com a nova pátria, do outro está a sua forte ligação sentimental com a alten Heimat (antiga pátria). Diversos autores tratam destes dois lados da identidade do indivíduo, ficamos com uma citação de Meliá (2006, p. 6) que justamente contempla estes dois aspectos: “A identidade não é só a busca das raízes; tão pouco a permanência em um modo de ser. Há uma identidade em movimento”. No caso dos imigrantes alemães, e ainda de seus descendentes hoje, esta identidade em movimento fica mais clara quando se acompanha sua trajetória de vida desde a época da imigração no século XIX, passando, segundo Roche (1969, p. 339-340) e Damke (1997, p. 31-32), pelas diversas fases da colonização e expansão da colônia, até os tempos de hoje. Esta identidade em movimento vai desde seus sonhos da contrução de uma vida melhor aqui no Brasil e do desejo de se tornarem verdadeiros brasilióna (brasileiros) até seus sentimentos de saudade da terra natal, da Heimat. Analisaremos este aparente paradoxo com base em músicas populares alemãs que tratam do tema saudades da Heimat. PALAVRAS-CHAVE: Identidade; imigrantes alemães; músicas populares alemãs, Heimat. 1 - Introdução Muito se tem discutido, principalmente nos últimos anos, sobre o tema identidade. Desde o início é necessário esclarecer que não se pode partir, no que, aliás, a maioria dos autores estudados concorda, de uma identidade pura. Geralmente terá que falar-se de identidades híbridas, mescladas e compostas de diversos elementos sócio-históricas e culturais. Moita Lopes (2002, p. 138-139), sob o enfoque das identidades fragmentadas afirma: “As identidades sociais têm sido descritas como fragmentadas, portanto, complexas, no sentido de que não são homogêneas. (...) Elas estão sempre sendo construídas ou reconstruídas através dos esforços de construção de significado nos quais nos engajamos. De forma idêntica, Meliá (2006, p. 6) define este tipo de identidades como

A Reconstrucao Da Identidade Dos Imigrantes Alemaes Atraves de Musicas Populares Alemas

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A RECONSTRUCAO DA IDENTIDADE DOS IMIGRANTES ALEMAES ATRAVES DE MUSICAS

Citation preview

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    A (RE)CONSTRUO DA IDENTIDADE DOS IMIGRANTES ALEMES

    ATRAVS DE MSICAS POPULARES ALEMS

    DAMKE, Ciro (UNIOESTE)

    RESUMO: No presente trabalho discutimos aspectos da identidade dos imigrantes

    alemes atravs de textos musicais. De um lado est o fato de serem novos brasileiros com suas relaes lingusticas, socioculturais, polticas, econmicas etc com a nova ptria, do outro est a sua forte ligao sentimental com a alten Heimat (antiga ptria).

    Diversos autores tratam destes dois lados da identidade do indivduo, ficamos com uma citao de Meli (2006, p. 6) que justamente contempla estes dois aspectos: A

    identidade no s a busca das razes; to pouco a permanncia em um modo de ser. H uma identidade em movimento. No caso dos imigrantes alemes, e ainda de seus descendentes hoje, esta identidade em movimento fica mais clara quando se acompanha

    sua trajetria de vida desde a poca da imigrao no sculo XIX, passando, segundo Roche (1969, p. 339-340) e Damke (1997, p. 31-32), pelas diversas fases da colonizao e expanso da colnia, at os tempos de hoje. Esta identidade em

    movimento vai desde seus sonhos da contruo de uma vida melhor aqui no Brasil e do desejo de se tornarem verdadeiros brasilina (brasileiros) at seus sentimentos de

    saudade da terra natal, da Heimat. Analisaremos este aparente paradoxo com base em msicas populares alems que tratam do tema saudades da Heimat.

    PALAVRAS-CHAVE: Identidade; imigrantes alemes; msicas populares alems, Heimat.

    1 - Introduo

    Muito se tem discutido, principalmente nos ltimos anos, sobre o tema

    identidade. Desde o incio necessrio esclarecer que no se pode partir, no

    que, alis, a maioria dos autores estudados concorda, de uma identidade pura.

    Geralmente ter que falar-se de identidades hbridas, mescladas e compostas de diversos

    elementos scio-histricas e culturais.

    Moita Lopes (2002, p. 138-139), sob o enfoque das identidades fragmentadas

    afirma: As identidades sociais tm sido descritas como fragmentadas, portanto,

    complexas, no sentido de que no so homogneas. (...) Elas esto sempre sendo

    construdas ou reconstrudas atravs dos esforos de construo de significado nos quais

    nos engajamos.

    De forma idntica, Meli (2006, p. 6) define este tipo de identidades como

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    identidades em movimento: A identidade no s a busca das razes; to pouco a

    permanncia em um nico modo de ser. H uma identidade em movimento, na qual nada

    perde seu rosto, mas capaz de dizer uma palavra diferente, em vista da construo de

    algo novo.

    A afirmao de Woodward (2000, p.24-25) confirma as idias do autor acima:

    As identidades em conflito esto localizadas no interior de mudanas sociais, polticas e

    econmicas, mudanas para as quais elas contribuem.

    Apesar de concordarmos com a idia de que todas as culturas so de fronteira,

    no se pode esquecer nunca, que o indivduo que faz parte de uma minoria est dentro

    de um contexto maior ao qual pertence, ao qual deve respeito em primeiro lugar.

    Isto fica claro, para o nosso contexto, nas palavras de Schneider in Damke

    (1997, p. 277), quando ele diz: somos brasileiros, este o contexto maior, descendentes

    de imigrantes alemes, esta a minoria. neste sentido que defendemos o direito ao

    pluralismo lingustico e cultural, aqui especificamente no que se refere s msicas

    populares alems. O reconhecimento da diversidade lingustica e cultural um dos

    pressupostos da sociolingustica e , justamente, nele que fundamentamos as nossas

    anlises.

    2 - Anlise da identidade atravs de textos musicais

    Esclarecemos que desenvolvemos dois projetos sobre o tema msicas

    populares alems. No primeiro coletamos, junto a corais, principalmente da Terceira

    Idade, conjuntos musicais ou junto a famlias, em torno de 150 letras de msicas das

    quais selecionamos 100 das mais cantadas.

    Os temas que mais frequentemente esto presentes no repertrio so: a

    saudade da terra natal que ficou longe, o sentimento de amor, paixo, desejos de

    felicidade, o esprito aventureiro do povo alemo, a saudade da juventude, etc. No

    entanto, o tema que mais se destaca nas msicas o da saudade da Heimat. Por isso,

    analisaremos, a seguiur, a questo da identidade em movimento dos descendentes de

    imigrantes alemes, em especial, na sua relao com a alten Heimat (antiga ptria) em

    alguns textos musicais que tratam deste tema.

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    2.1 - O tema Heimat

    A mensagem que mais est presente nos textos musicais e que, portanto, os

    cantores querem transmitir com maior nfase o sentimento da saudade da terra natal

    que os imigrantes tiveram que deixar, da ptria distante. Este um fato totalmente

    compreensvel, e at seria anormal se assim no fosse. Deixar a terra natal, amigos, a

    prpria famlia ou parte dela, talvez alguma pessoa mais especial ainda, deixar um pas

    inteiro com seus aspectos culturais, histricos, geogrficos, polticos diferente da nova

    terra para onde haviam migrado, quem no sentiria saudade?

    Mey in Signorini (1998, p. 70), j define Heimat como aquele intraduzvel

    conceito germnico que engloba desde os quitutes maternos at as sepulturas dos

    ancentrais e a rvore sob a qual beijamos o nosso primeiro amor. Tanto o termo

    literalmente no traduzvel que Biase (2004, p.73), num texto em portugus e italiano,

    usa a forma LHeimat traduzindo-a como terra natal, enquanto usa Vaterland com o

    significado de ptria ideolgica. Na viso dos imigrantes, Heimat era tudo que ficou

    para trs na Europa, diferente de tudo que encontraram na nova terra. Com certeza, foi

    este sentimento que manteve o esprito de unio e at de solidariedade dos imigrantes

    nos primeiros e difceis tempos aqui no Brasil. Todos os autores que tratam da

    imigrao alem descrevem com detalhes as dificuldades que os imigrantes passaram no

    incio da colonizao na regio da Colnia Velha e, depois seus descendentes, nas

    outras regies para onde se dirigiram as novas levas de descendentes dos imigrantes

    pelo Brasil inteiro.

    De um total de 100 msicas coletadas, mais de uma dezena destaca, de forma

    direta ou indireta, o tema da saudade da Heimat. Das 15 msicas mais cantadas por

    corais da regio oeste do Paran, 8 destas tratam, justamente, deste tema. A definio de

    Heimat podia ser a terra natal, a ptria, o pas como um todo, quanto algum aspecto que

    fizesse parte deste todo, como: Wiesengrunde, o vale, como sinnimo da localidade, da

    terra natal, Alternhaus, a casa paterna, Stedtele, cidadezinha na variedade regional

    subio, Tirol, Tirol, a regio do Tirol como terra natal que, na verdade hoje faz parte

    (norte) da Itlia, as montanhas, algum rio etc.

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    Devido aos limites deste trabalho somente apresentaremos a primeira estrofe de

    algumas msicas, com a traduo, que tratam da saudade da Heimat e provam, portanto,

    que a identidade dos imigrantes estava em constante movimento, em construo,

    desconstruo e reconstruo.

    Lieb Heimatland, ade!

    Nun ade, du mein lieb Heimatland,

    Lieb Heimatland, ade!

    Es geht jetzt fort zum fremden Strand,

    Lieb Heimatland, ade!

    /:Und so sing ich denn mit frohem Mut,

    Wie man singet wenn man wandern tut:

    Lieb Heimatland, ade!:/

    Querida ptria, adeus

    Agora adeus, minha querida ptria,

    Querida ptria, adeus!

    Seguimos agora por mares desconhecidos,

    Querida ptria, adeus!

    /:E assim eu canto com nimo alegre,

    Como se canta quando se emigra:

    Querida ptria, adeus!:/

    Com relao ao texto em si, h pequenas variaes entre a traduo de Hbner-

    Flores (1983, p. 112-113) e a nossa verso. J a traduo de Krey (1974, p. 14) traz

    diferenas bastante significativas, traduz Heimat por torro natal, e querncia minha.

    Nota-se a presena de diversos regionalismos/gauchismos e traduo bastante livre.

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    A msica seguinte, tambm uma das mais cantadas no sul do Brasil entre as que

    coletamos e que analisaremos, fala da saudade da terra natal Die Schwalben ziehen

    fort (As andorinhas vo embora), tambm conhecida pelo ttulo Tirol, Tirol, du bist

    mein Heimatland (Tirol, Tirol, voc minha terra natal), que o estribilho da primeira

    estrofe.

    Tirol, Tirol, Tirol

    /:Tirol, Tirol, Tirol, du bist mein Heimatland,

    weit ber Berg und Tal das Alphorn schallt.:/

    /:Die Schwalben ziehn fort, sie kehren wieder her,

    der Mensch lebt einmal nur und dann nicht mehr.:/

    Tirol, Tirol, Tirol

    /:Tirol, Tirol, Tirol, voc minha terra natal,

    Longe sobre vales e montanhas, a trombeta dos Alpes soa.:/

    /:As andorinhas vo embora, mas elas voltam para c,

    O homem s vive uma vez, e ento no mais.:/

    O texto da PROVOPAR-Missal (2004, p. 22) e Seibt (2004, p. 33) traz o ttulo

    Die Schwalben ziehen fort (As andorinhas vo embora), enquanto o texto de Munz

    (1962, p. 161), traz Die Wolken ziehen dahin (As nuvens vo para l), em aluso

    direo do Hunsrck.

    A terra natal, a que o texto alude, a regio do Tirol no norte da Itlia.

    Interessante notar que justamente a regio do Hunsrck donde, segundo Grothe (1936,

    p. 47), veio a maioria dos imigrantes alemes no aparece em nenhuma msica por ns

    coletada. J um compndio desta regio, editado pela CDU-Kreisverband Rhein-

    Hunsruck (2002) sob o ttulo RheinHunsrcker singen gerne: beliebte Lieder unserer

    Heimat (Os moradores do Hunsrck renano gostam de cantar: canes preferidas da

    nossa terra natal), traz um total de 126 textos, dos quais nada menos que 51 falando da

    regio do Hunsrck. No entanto nenhuma delas conhecida por ns e pelos cantores

    entrevistados.

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    Ao lado do tema especfico da Heimat, tambm a volta, ou mais a no-volta do

    soldado para a Heimat, tema recorrente nas msicas populares alems. Diversas

    msicas abordam esta temtica: Wir sitzen so frhlich beisammen (Ns estamos felizes

    juntos), Ich hatt einen Kameraden (Eu tinha um camarada), so algumas que

    encontramos rapidamente. A explicao est na prpria histria, o povo alemo esteve

    constantemente envolvido em guerras. Muitos pais de famlia ou rapazes solteiros eram

    dizimados pelas guerras e no voltavam para sua Heimat. Em muitas localidades da

    Alemanha, ustria, Sua, geralemnte ao lado da igreja da comunidade, h um

    monumento com a lista em memria dos Gefallenen (cados/tombados/mortos) nas

    guerras. A msica Wir sitzen so frhlich beisammen (Ns estamos felizes juntos),

    segundo Seibt (2004, p. 176), trata desta temtica.

    Os textos mostram que o tema soldado/guerra/morte e a relao com a

    Heimat/Heimatland, no sentido da terra natal, como localidade onde se nasceu ou a casa

    paterna, esto recorrentemente presentes nas msicas. O texto seguinte mostra,

    justamente, esta saudade relacionada com a Heimat, como sinnimo da casa paterna.

    Das Elternhaus

    Nach meiner Heimat da ziehts mich wieder

    Es ist die alte Heimat noch,

    Die selbe Luft, die selben frohen Lieder,

    Und alles ist ganz anders doch.

    A casa paterna

    minha casa paterna quero voltar,

    Ainda minha velha terra natal,

    O mesmo clima, os mesmos belos cantos,

    Mesmo assim, tudo diferente.

    A saudade da casa paterna, das ferramentas, utenslios, instrumentos, dos

    parentes, dos amigos, da igreja da localidade, de tantas coisas que os imigrantes tiveram

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    que deixar, deve ter marcado presena constante e forte no dia a dia dos primeriso

    imigrantes. Esta dor, como a histria mostra, foi agravada pelas dificuldades pelas quais

    tiveram que passar nos primeiros tempos da colonizao na Colnia Velha e depois

    repetida nas novas localidades para onde migraram os descendentes dos imigrantes.

    Extramos de Seibt (2004, p. 36) a letra da msica Im schnsten Wiesengrunde

    (No mias belo vale), tambm conhecida por Das stille Tal (O vale calmo). O autor

    atribui a autoria a Wilhem Ganzhorn e data o surgimento um 1850 (em torno de 1850).

    Im schnsten Wiesengrunde

    Im schnsten Wiesengrunde, ist meiner Heimat Haus,

    Da zog ich manche Stunde, ins Tal hinaus.

    Dich, mein stilles Tal, grss ich tausendmal!

    Da zog ich manche Stunde, ins Tal hinaus.

    No mais belo vale

    No mais belo vale, a fica minha casa paterna,

    A eu passeava muitas vezes, pelo vale a fora,

    A voc, meu vale querido, eu saudo mil vezes,

    A eu passeava muitas vezes, pelo vale a fora.

    A idia da morte presente e o desejo de ser enterrado perto da casa paterna, na

    terra natal, misturadas com o prprio sentimento de saudade da terra natal, esto

    presentes recorrentemente nos textos musicais.

    A msica que analisaremos a seguir, Heimatlos (Sem ptria), bastante

    conhecida e apreciada e est entre as mais cantadas das msicas que coletamos. O

    cantor popular Fredy, com sua voz de bartono, a imortalizou no sculo passado,

    tornando-a ainda mais conhecida entre os apreciadores de msicas populares alems. O

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    texto fala da dor pela falta, ausncia ou perda da ptria, de amigos, dos pais ou de um

    grande amor.

    Heimatlos

    Heimatlos sind viele auf der Welt,

    Heimatlos und einsam wie ich.

    berall verdiene ich mein Geld,

    Doch es wartet keiner auf mich.

    Sem ptria

    Sem ptria so muitos no mundo,

    Sem ptria e sozinho como eu.

    Em qualquer lugar eu ganho minha vida,

    Mas ningum espera por mim.

    A lista das Heimatlieder (msicas sobre a saudade da terra natal) poderia se

    estender bem mais ainda, porm o nmero j suficiente para mostrar o quanto a

    saudade, a falta da ptria distante, as lembranas da terra natal com tudo o que faz parte

    dela devem ter dodo na alma dos imigrantes e de seus descendentes. Por isso, no

    difcil entender porque estas msicas eram, e ainda so, as mais cantadas at hoje.

    3 - Consideraes finais

    Mesmo que se reconhea, que o uso da lngua e a prtica da cultura alems

    estejam em fase de regresso no sul do Brasil, como o caso de outros contextos de

    lnguas e culturas em contato pelo mundo afora, descritos por Ammon (1973, p. 11-29),

    Borstel (2003, p.144) e Woodbury (2003, p. 39), necessrio reconhecer que a lngua

    materna e a cultura trazidas do bero fazem, e faro parte, sempre, da prpria identidade

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    do indivduo. Novas polticas que incluam situaes de bilingismo deveriam ser

    definidas no Brasil, como preconiza Savedra (2003, p. 40) e Damke (2009, p. 8-11).

    No pode haver dvidas quanto identidade destas pessoas, afinal

    defendemos sempre a ideia de quem se dispe a emigrar para um outro pas, deve trazer

    consigo tambm, a predisposio de se tornar um cidado da nova ptria. Tentar

    conservar sempre a lngua e cultura maternas, este o direito, mas ao lado do dever de

    assumir a identidade de cidados da nova ptria, esta , em resumo a bandeira que

    defendemos ao longo de nossos estudos.

    As palavras de Schneider, in Damke (1997, p. 277) resumem com

    propriedade o sentimento dos imigrantes e seus descendentes com relao cultura e a

    identidade destes:

    Ns somos brasileiros, e sobre isto no h dvida. Assim como os filhos e

    netos de portugueses se tornaram brasileiros, assim tambm ns nos

    tornamos brasileiros... Ns amamos esta terra, pois, nossa ptria... Ao

    nosso modo de ser, aos nossos costumes, pertence, em primeiro lugar

    tambm a lngua alem. Ns queremos cuidar dela, sem esquecer nossa

    grande ptria brasileira. Ns temos que cuidar para que nossos filhos

    tambm sejam bons brasileiros... Nossa gratido e nossa honra nos obrigam

    a, em primeiro lugar, honrar a lngua da nova ptria, o portugus, em

    segundo a lngua e cultura alems dos nossos antepassados. (DAMKE,

    1997, p. 277).

    nesse sentido que defendemos o respeito e direito ao pluralismo lingustico

    e cultural, um dos pressupostos da sociolingustica, e que vem de encontro afirmao

    de Napolitano (2005, p. 90-91) que diz que a msica popular, e por extenso a cultura

    brasileira ... lugar de mediaes, fuses, encontros de diversas etnias, classes e

    regies que formam o grande mosaico nacional onde os vrios brasis se encontram.

    Referncias bibliogrficas

    AMMON, Ulrich. Dialekt und Einheitssprache in ihrer sozialen Verflechtung. Weinheim/Basel: s. e., 1973.

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    BIASE, Alessia de. Danas gachas em So Marco: antropologia da cosmogonia identitria vneto-gacha. In: RIBEIRO, Cleodes Maria P. J. e POZENATO, Jos

    Clemente (orgs.). Cultura, imigrao e memria: percursos & horizontes: 25 anos do Ecirs. Caxias do Sul: Educs, 2004.

    BORSTEL, Clarice N. Von. Identidades tnicas e situaes de uso de lnguas. In: SAVEDRA, Mnica e HEYE, Jrgen. Palavra PUC/Rio. Volume temtico: Lnguas em contato, n. 11. Rio de Janeiro: Trarepa, 2003.

    CDU-KREISVERBAND Rhein-Hunsrck. RheinHunsrcker singen gerne: Beliebte Lieder

    DAMKE, Ciro. Sprachgebrauch und Sprachkontakt in der deutschen Sprachinsel in Sdbrasilien. Frankfurt am Main/Berlin/Bern/New York/Paris/Wien: Peter Lang, 1997.

    DAMKE, Ciro. Polticas lingusticas e a conservao da lngua alem. Madri: Especulo, n. 40, 2009.

    GROTHE, Hugo. Im Kamp und Urwald Sdbrasiliens. Berlim: Weisenhaus, 1936.

    HBNER-FLORES, Hilda Agnes. Cano dos Imigrantes. Porto Alegre: EST; Caxias: EDUCS, 1983.

    KREY, Leonido. Cancioneiro teuto-brasileiro. Porto Alegre: Faculdade Porto-Alegrense de Educao, Cincias e Letras, 1974.

    MELI, Bartolomeu. Identidad en movimiento: substituciones y transformaciones. In: BRANDL, Carmen Elisa Henn, DUARTE, Geni Rosa, FROTSCHER, Mri (orgs.). Anais do Simpsio Nacional de Cincias Humanas Universidade e sociedade.

    Cascavel: Scussiatto, 2006.

    MEY, Jacob L. Etnia, identidade e lngua. In: SIGNIRINI, Ins (Org) Lngua(gem) e

    identidade. Campinas: Mercado de Letras; So Paulo: Fapesp. 1998.

    MOITA LOPES Luiz Paulo da. Identidades fragmentadas: a construo discursiva de raa, gnero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002.

    MUNZ, E. Alle singen mit. Welzheim: s.e., 1962.

    NAPOLITANO, Marcos. Historia&Msica: histria cultural da msica popular. 2. ed.

    Belo Horizonte: Autntica, 2005.

    PROVOPAR-Missal. Grupo de Cantos 3 Idade. Missal: Provopar, 2004.

    REISERT, Karl. Kleiner Liederschatz fr die Deutsche Jugend. Freiburg im Bresgau: s.e., 1826.

    ROCHE, Jean. A colonizao alem e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1969.

    SAVEDRA, Mnica. Poltica Lingstica no Brasil e no Mercosul: o ensino de primeiras e segundas sries em um bloco regional In: Palavra PUC/Rio. Volume

    temtico: Lnguas em contato, v. 11, p. 39-54.

    SCHNEIDER. In: GLOBUS, n. 3, 1984.

  • II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR

    ISSN 2178-8200

    SEIBT, Renato Urbano. Frohe Runde. Porto Alegre: Amstad, 2004.

    WOODBURY, Anthony. Lnguas em extino. In: HEYE, Jrgen. (org.) Lingsticas:

    panorama da Lingstica Contempornea. Rio de Janeiro: PUC (Texto em CD), 2001.

    WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferena: uma introduo terica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.) Identidade e diferena. A perspectiva dos estudos culturais. 3. ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 2000.