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Mito, Histria e Filosofia
Ou a reflexo cultural na obra de Eduardo Loureno
Maria Manuel Baptista1
(...) o mito (...) no anti-histria, mas tempo
que confere vida a pouca ou inesgotvel eternidade que comporta
Eduardo Loureno, 1999
A obra de Eduardo Loureno tem ocupado um lugar peculiar no contexto da Cultura
Portuguesa, sobretudo nas ltimas trs dcadas, e, em particular desde a publicao de O
Labirinto da Saudade (1978), poderamos mesmo dizer central. No , no entanto, por
culpa do autor que ela no tenha originado os estudos crticos e o debate cultural de que
explcita ou implicitamente sempre quis ser o rastilho. Em nosso entender, as razes
devemos antes procur-las precisamente no panorama acrtico, celebratrio ou indiferente,
de onde parte e ao qual se dirige, e que o autor to argutamente descreve nos seus ensaios.
De qualquer forma, so diversos os problemas que a obra suscita, aos mais diversos nveis
e que se encontram ainda por estudar e esclarecer. Na presente reflexo propomo-nos
abordar as relaes epistemolgicas que na obra se estabelecem entre os registos
conceptuais mtico, histrico e filosfico, especificamente quando a questo cultural
tratada pelo autor. Para o efeito, utilizaremos um dos textos-smbolo da obra (Psicanlise
Mtica do Destino Portugus) que, aquando da sua publicao em 1978, deu origem a
1 Em Eduardo Loureno - Estudos I, Porto, Ver o Verso, 2006
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algumas (pouqussimas, se se tiver em conta a natureza e contedo polmicos do texto em
questo) reflexes crticas e reservas epistemolgicas, precisamente porque o registo
hermenutico em que funciona este ensaio se encontra algo obscurecido, at pela
importncia e brilhantismo do prprio contedo.
Em primeiro lugar, este ensaio suscitou crticas de Joo Benard da Costa e Antnio Jos
Saraiva e, que se pronunciam sobre uma parte do ensaio que deveria sair, na revista Raz e
Utopia, como pr-publicao do texto que integraria O Labirinto da Saudade2. A verdade
que a pr-publicao torna-se em ps-publicao (O Labirinto da Saudade acaba por sair
antes da revista Raz e Utopia3) e a Loureno solicitado que aproveite tal facto para
responder, (nas prprias pginas de Raz e Utopia) s crticas que imediatamente suscitou o
seu livro.
Por essa altura produziu Eduardo Loureno um dos dois textos que lhe conhecemos4 cujo
objectivo consiste principalmente no debate da sua prpria dmarche epistemolgica.
Intitulado Contra o previsvel Post-Scriptum, responde no s aos comentrios de
Antnio Jos Saraiva mas tambm a Joo Benard da Costa, que fazem publicar as suas
Notas Margem de um excerto Psicanlise Mtica do Destino Portugus, tudo
publicado ainda em 1978, na revista Raiz e Utopia5.
()
2 Eduardo Loureno, O Labirinto da Saudade - Psicanlise Mtica do Destino Portugus. Lisboa: D. Quixote, 1978 1. 3 Eduardo Loureno, Psicanlise Mtica do Destino Portugus (1978) Raz e Utopia (1978): 2-14. 4 O outro texto de que falamos uma entrevista a que Eduardo Loureno respondeu por escrito em (Loureno, 1998) 5 (Loureno, 1978)
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Bibliografia: Loureno, Eduardo. (1978). Psicanlise Mtica Do Destino Portugus. Raiz e Utopia, 2-14. Loureno, Eduardo. (1998). Eduardo Loureno: 'a Perspectiva Sociolgica Mais Comum Em Relao
Questo Da Identidade Cega Porque O Indivduo No O Seu Sujeito'. Ciberkiosk (3).