Upload
dinhxuyen
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
VÉRA LUCIA DE OLIVEIRA
Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
VÉRA LUCIA DE OLIVEIRA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientadora: Professora Msc. Aparecida Correia da S ilva
Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.
AGRADECIMENTO
Á Deus por sempre está presente na minha vida;
A Nossa Senhora de Fátima e a Santa Paulina, por
estarem sempre me protegendo e iluminando
os meus caminhos;
A minha mãe Terezinha, pelo carinho, paciência e
realização de mais uma vitória de minha
caminhada;
A minha irmã Conceição, pela compreensão,
participação e incentivo de mais uma etapa em
nossas vidas, pois sem ela não teria realizado
mais uma conclusão de curso, minha grande
admiradora, incentivadora e melhor amiga,
muito obrigada eu adoro você;
Ao meu irmão Sandro Luís e minha sobrinha Thais
Pacheco, pela colaboração e compreensão nos
momentos mais necessários e difíceis nessa
trajetória em minha vida;
Aos meus mestres com carinho e que alcançaram o
difícil ministério de me conduzir ao caminho dos
ensinamentos para melhor conhecer o Ordenamento
Jurídico, em especial ao Professor Osmar Diniz
Facchini um grande mestre e sabedor da leis jurídicas
meu mais sincero agradecimento;
A minha Orientadora e Professora Msc. Aparecida
Correia da Silva, que me acolheu com paciência,
dedicação e prestatividade, me orientou na realização
da pesquisa e organização do presente trabalho
monográfico, há você minha querida Professora Cida,
a minha sincera gratidão e carinho, muito obrigada!
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho::
Á Deus, pela concessão de dom da vida, da liberdade, e
por ter-nos permitido mais este percurso com fé, saúde
e perseverança;
Á minha Orientadora e Professora Msc. Aparecida
Correia da Silva, pois com sua atenção, dedicação e
sabedoria foi o principal instrumento para o
desenvolvimento deste trabalho;
À minha querida Mãe Terezinha, que amo de paixão;
Aos meus irmãos, Conceição, Rita e Sandro que sempre
me incentivaram e torceram pelo meu sucesso;
A princesinha Thais Pacheco, minha adorável
sobrinha, está sempre ao meu lado com seu sorriso doce;
Ao meu querido irmão João Batista (in memorian) e
meu querido Pai Esperidião (in memorian) jamais
esquecerei, estarão sempre comigo em meu coração.
Ao meu querido Professor Osmar Diniz Facchini pelo
seu carisma, dedicação e compreensão, e se tornou em
minha vida uma pessoa muito mais que especial; e a
Professora Msc. Mareli Calza Hermann, o pouco
tempo que a conheci tocou em meu coração pela sua
bondade e compreensão dividindo seus conhecimentos
com os acadêmicos, será para sempre a minha
Professora querida;
Em especial ao meu querido Examinador e Professor
Msc. Adilor Danieli jamais esquecerei.
Enfim, a todos os meus familiares e colaboradores da
UNIVALI, que colaboraram com este sonho e mais
esta conquista em minha vida!
“Nunca, jamais desanimeis, “Nunca, jamais desanimeis, “Nunca, jamais desanimeis, “Nunca, jamais desanimeis,
EEEEmbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)mbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)mbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)mbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a
Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.
Véra Lucia de Oliveira Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Véra Lucia de Oliveira, sob o título
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FU NÇÃO
JURISDICIONAL , foi submetida em 16 de Novembro de 2009 à banca
examinadora composta pelos seguintes professores: Msc. Aparecida Correia da
Silva (Orientadora e Presidente da Banca) e Msc. Adilor Danieli (Examinador), e
aprovada com a nota 10,0 (dez).
Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.
Professora Msc. Aparecida Correia da Silva Orientadora e Presidente da Banca
Professor Msc. Adilor Danieli Examinador da Banca
Professor Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Art. Artigo CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002 CPC Código de Processo Civil CNJ Conselho Nacional de Justiça CGT Corregedoria-Geral dos Tribunais CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 DES. Desembargador EC Emenda Constitucional Ed. Editora ed. edição LC Lei Complementar IRP Improcedência do Pedido Recurso desprovido LOMAN Lei Orgânica da Magistratura Nacional Msc. Mestre p. página RT Revista dos Tribunais STF Supremo Tribunal Federal § Parágrafo Trad. Traduzido v. volume
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Atividade Jurisdicional
Atividades, serviços prestados e desempenhados por pessoas que possuem
jurisdição como os juízes1.
Ato jurisdicional
“Todo ato emanado de autoridade judiciária, consistente de despacho, decisão
interlocutória ou sentença”2.
Ato Jurídico
“Todo ato emanado de autoridade juridiciária, consistente de despacho, decisão
interlocutória ou sentença”3.
Ato ilícito
“[...] assim se entende toda ação ou omissão voluntária, negligência, imprudência
ou imperícia que viole direito alheio ou cause prejuízo a outrem, por dolo ou
culpa” 4.
Ato lícito
“Ato praticado sob o amparo da lei, ou seja, toda ação permitida pelas normas
jurídicas que não atente contra interesses alheios ou contra a segurança coletiva,
ou quando os viole, encontre apoio na razão de ter sido praticado por se tornar
absolutamente necessário para a remoção de um perigo” 5.
1 Conceito de categoria elaborado livremente pela autora desta monografia. 2 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 20ª Edição, atualizadores: Nagib Slaib Filho e Gláucia Carvalho. Editora: Forense, Rio de Janeiro, 2002, p.97. 3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.97. 4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.96. 5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.96.
Conduta
“[...] a ação (ou omissão) humana [...] guiada pela vontade do agente, que
desemboca no dano ou prejuízo” 6.
Culpa
“É a violação, por negligência, imprudência e imperícia, do dever de bem
desempenhar as funções públicas”7.
Dano
“É o prejuízo sofrido pela vítima, sendo este elemento objetivo do ato ilícito,
ocasionado pela diminuição de um bem jurídico qualquer do lesado” 8.
Dolo
“Intenção livre e consciente de violar a lei para alcançar interesses ilegítimos”9.
Estado-juiz
“Nomenclatura utilizada para explicitar uma pessoa que, investida da autoridade
pública, administra a justiça em nome do Estado”10.
Estado
“[...] Ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado
em determinado território [...]”11.
Erro Judiciário
6 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil : (abrangendo o Código Civil de 1916 e o Novo Código Civil) / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 31. 7 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . Curitiba: Juruá, 1996, p. 163-164. 8 SAAD, Renan Miguel. O Ato Ilícito e a Responsabilidade Civil do Estado . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1994, p.67. 9 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 167. 10 SILVA, De Plácido e.Vocabulário Jurídico . 2002, p.789. 11 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado . 20ª ed., atual., São Paulo: Saraiva, 1998, p. 118.
“É todo ato jurisdicional que, seja pelo mau enquadramento dos fatos ao mundo
do direito, seja pela errônea aplicação das normas, viola regrar de natureza
processual e material, em qualquer dos ramos do direito”12.
Fraude
“É qualquer ato ilícito que, de má fé, possa ser estelionato, defraudação de texto
ou objeto”13.
Juiz
“Pessoa que, investida de uma autoridade pública, vai administrar a justiça, em
nome do Estado. É assim, de modo genérico, o administrador da justiça, estando,
por isso, a seu cargo, conhecer, dirigir a discussão, deliberar sobre todos os
assuntos, que possam suscitar, e julgar os casos controvertidos submetidos a
seu juízo (sub judice)” 14.
Magistrado
“Vocábulo tecnicamente empregado para designar o juiz, ou seja, a autoridade
judiciária, a que se comete julgar as questões jurídicas”15.
Nexo de causalidade
“É o liame que une a conduta do agente ao dano”16.
Poder Judiciário
“O Poder Judiciário é um poder uno e independente, encarregado de
jurisdicionalmente, administrar a Justiça, aplicando a lei aos casos concretos
trazidos à apreciação e para os quais se requer a respectiva tutela [...]”17.
12 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p. 223. 13 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . Campinas: Bookseller, 2001, Tomo II, p. 86. 14 SILVA, De Plácido e.Vocabulário Jurídico . 2002, p.789. 15 SILVA, De Plácido e.Vocabulário Jurídico . 2002, p.508. 16 VENOSA, Silvio de Salvo. Responsabilidade Civil . 3ª ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 39. 17 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria Geral do Processo . Florianópolis: Momento atual, Tomo 2, 2002, p.72.
Responsabilidade Civil
“A Responsabilidade Civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a
reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela
mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela
pertencente ou de simples imposição legal”18.
Responsabilidade Civil do Estado
“Responsabilidade que encarrega ao Estado o dever de reparar os danos
causados por seus agentes, no exercício de suas funções”19.
Responsabilidade Civil do Juiz
“[...] é diferenciar as atividades praticadas no exercício de suas funções, pois
como representante do Poder Judiciário, poder autônomo e independente, com
estrutura administrativa própria e serviços definidos, o Judiciário, pelos seus
representantes e funcionários, tem a seu cargo a prática de atos jurisdicionais e
de atos não jurisdicionais, ou de caráter meramente administrativo”20.
Responsabilidade Civil Objetiva
“[...] o sistema objetivo de responsabilidade é embasado na idéia de risco da
atividade, respondendo o agente independentemente da existência de culpa”21.
Responsabilidade Civil Subjetiva
“Fundada na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a determinada pessoa”22.
18 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : Responsabilidade Civil. 19ª ed. ver. e atual. De acordo com o Novo Código Civil, (Lei nº 10.406, de 10-1-2002, e Projeto de Lei nº 6.960/2002), São Paulo:Saraiva, 2005, 7 v., p. 34. 19 Conceito de categoria elaborado livremente pela autora desta monografia. 20 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . Editora Max Limonad, São Paulo, 1999, p. 202. 21 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil : Obrigações e Responsabilidade Civil. 3ª ed. Ver. Atual. E ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 545. 22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : Responsabilidade Civil. 2005, p. 117.
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................XIV
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 4
DOS JUÍZES ...................................................................................... 4
1.1 CONCEITO .......................................................................................................4 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FUNÇÕES DO JUIZ ......... ..............................5 1.3 PRINCIPAL FUNÇÃO DO JUIZ ....................... ..............................................10 1.4 O JUIZ EM RELAÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL ......... .............................13 1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS PODERES DO JUIZ .............. ..................................15 1.5.1 PODERES JURISDICIONAIS ...............................................................................16 1.5.1.1 Classificação dos poderes jurisdicionais... ..................................................... 17 1.5.2 PODERES DE POLÍCIA .....................................................................................18
CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 20
A FUNÇÃO JURISDICIONAL ............................. ............................. 20
2.1 CONCEITO .....................................................................................................20 2.2 CARACTERÍSTICAS................................ ......................................................23 2.3 PODERES.......................................................................................................24 2.4 NECESSIDADE DA FUNÇÃO JURISDICIONAL ............ ...............................28 2.5 COMPETÊNCIA PARA EXERCER A FUNÇÃO JURISDICIONAL ................30 2.5.1 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA .....................................................................32 2.5.2 CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ..................................................................33 2.5.2.1 Competência Internacional.................. ............................................................. 34 2.5.2.2 Competência Interna ........................ ................................................................. 35 2.6 ÉTICA PROFISSIONAL DO JUIZ ..................... .............................................36 2.7 DEVERES DO JUIZ........................................................................................39 2.8 DAS GARANTIAS DO JUIZ .......................... .................................................41 2.8.1 VITALICIEDADE ...............................................................................................41 2.8.2 INAMOVIBILIDADE ............................................................................................43 2.8.3 IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS .....................................................................44
CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 46
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL............................... ............................... 46
3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATO JURISD ICIONAL.....46 3.1.1 RESPONSABILIDADE DO JUIZ ...........................................................................51 3.1.2 RESPONSABILIDADES PREVISTAS NA LEI ORGÂNICA DA MAGISTRATURA NACIONAL – LOMAN .............................................. ................................................................55 3.1.3 POSSIBILIDADES DE RESPONSABILIZAÇÃO PERANTE O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ.......................................................................................................57 3.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO JURI SDICIONAL ..59 3.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTAD O POR ATO JURISDICIONAL ...................................... ............................................................61 3.3.1 DANO CAUSADO .............................................................................................61 3.3.2 NEXO DE CAUSALIDADE ...................................................................................62 3.3.3 QUALIDADE DO AGENTE ..................................................................................62 3.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO ..... .....................63 3.4.1 CULPA DA VÍTIMA ...........................................................................................63 3.4.2 FORÇA MAIOR E CASO FORTUITO ....................................................................64 3.4.3 ESTADO DE NECESSIDADE ...............................................................................65 3.4.4 FATO DE TERCEIRO .........................................................................................66 3.4.5 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO .............................................................................66 3.5 ELEMENTOS OBJETIVOS DA RESPONSABILIDADE NO EXER CÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL............................... ...................................................67 3.5.1 INDENIZAÇÃO POR ATO LÍCITO DO ESTADO........................................................68 3.5.2 ERRO JUDICIÁRIO ...........................................................................................69 3.5.3 FUNCIONAMENTO ANORMAL DA ATIVIDADE JURISDICIONAL ...............................72 3.6 ELEMENTOS SUBJETIVOS PARA RESPONSABILIZAÇÃO CIV IL DO JUIZ..............................................................................................................................75 3.6.1 DOLO NA ATIVIDADE JURISDICIONAL .................................................................77 3.6.2 CULPA NA ATIVIDADE JURISDICIONAL ...............................................................78 3.6.3 FRAUDE .........................................................................................................79 3.7 DANO MORAL ..................................... ..........................................................81
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 84
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 86
ANEXO............................................................................................. 89
JURISPRUDÊNCIA ..................................... ..................................... 90
RESUMO
A presente monografia teve como objeto, proceder a um estudo da
Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional e sua
inclusão no Ordenamento Jurídico. Abordando-se inicialmente sob o prisma da
interpretação doutrinária, bem como da legislação pátria, a possibilidade do
Estado e ou do Juiz, ser responsável civilmente por atos jurisdicionais. A análise
do tema é importante, entre outros motivos, pela sua atualidade, devido aos
constantes debates e questionamentos doutrinários sobre o assunto. A presente
monografia está composta de três capítulos, que se destacam pelos seguintes
conteúdos: Buscou-se no primeiro capítulo proceder a uma análise do esboço
histórico das funções do Juiz, desde a sua origem em sociedade até o momento
atual, assim como em relação ao processo judicial e sua classificação nos
poderes do juiz com enfoque nos poderes jurisdicionais e também nos poderes de
policia. No segundo capítulo pesquisou-se acerca da Função Jurisdicional, seus
conceitos e características, com enfoque na divisão dos Poderes, sua
competência, bem como a ética profissional do juiz, finalizando com os deveres e
as garantias fundamentais conferidas aos magistrados. Finalmente no terceiro e
último capítulo, efetuou-se um estudo direcionado à Responsabilidade Civil do
Juiz junto ao Estado, a responsabilidade civil perante o Código de Processo Civil
e a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, suas espécies, pressupostos quanto
ao dano, o nexo de causalidade e a qualidade de agente, também procurou-se
saber sobre as excludentes da responsabilidade do Estado quanto a culpa da
vítima, força maior, estado de necessidade, fato de terceiro e vício de
consentimento, como os seus elementos objetivos da responsabilidade civil do
Estado e elementos subjetivos da responsabilização civil do juiz e o dano moral.
Palavras chave: Juiz. Função Jurisdicional. Responsabilidade Civil.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto, A
Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional.
O seu objetivo investigatório foi o de pesquisar, analisar e
descrever, com base na legislação civil brasileira, bem como, a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional
e o Código de Processo Civil, sobre a Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício
da função jurisdicional; e como objetivo específico foi o de analisar a
responsabilidade civil do Juiz que causem dano à terceiro.
Deve-se ressaltar que o trabalho tem como objetivo
institucional, produzir a monografia para fins de obtenção do Título de Bacharel
em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando-se Dos
Juízes, uma prévia abordagem acerca da figura do juiz, desde sua origem em
sociedade até o momento atual e sua conceituação. Abordar-se-á a Evolução
Histórica das Funções do Juiz e será feito um estudo sobre a sua Principal
Função; abordando também O Juiz em Relação ao Processo Judicial; bem como
a Classificação dos seus poderes, onde são destacados os Poderes Jurisdicionais
e os Poderes de Polícia.
No Capítulo 2, tratando-se da Função Jurisdicional, seus
conceitos, suas características, com enfoque na divisão dos Poderes,
Necessidade da Função Jurisdicional, sua Competência destacando-se a
distribuição da competência e a sua classificação onde é verificada a competência
internacional e a competência interna, abordando-se ainda a Ética Profissional do
Juiz, finalizando com os Deveres e as Garantias fundamentais conferidas aos
magistrados.
No Capítulo 3, tratando-se da, A Responsabilidade Civil do
Juiz no Exercício da Função Jurisdicional, traz de maneira mais aprofundada o
2
estudo do tema. São abordados: Responsabilidade Civil do Estado por Ato
Jurisdicional; a Responsabilidade do Juiz; a Responsabilidade prevista na Lei
Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN; as Possibilidades de
Responsabilização perante o Conselho Nacional de Justiça; abordando Espécies
de Responsabilidade Civil por Ato Jurisdicional, seus Pressupostos e
Excludentes. Também serão abordados os Elementos Objetivos da
Responsabilidade Civil no Exercício da Função Jurisdicional e os Elementos
Subjetivos para Responsabilização Civil do Juiz destacando o Dolo, a Culpa e a
Fraude; e por fim, será abordado o Dano Moral.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre A Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
� O juiz possui responsabilidade civil sobre sua atividade
jurisdicional;
� O Estado pode ser responsabilizado por atos praticados
pelos juízes no exercício de suas funções jurisdicionais;
� A Responsabilidade Civil do Juiz decorrente de seus
atos praticados na função jurisdicional é objetiva ou
subjetiva.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação23 foi utilizado o Método Indutivo24, na Fase de Tratamento de
23 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora. 2008, p. 83. 24 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : teoria e prática. p. 86.
3
Dados o Método Cartesiano25, e, o Relatório dos Resultados expresso na
presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas do Referente26, da Categoria27, do Conceito Operacional28 e da
Pesquisa Bibliográfica29.
25 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A Monografia Jurídica . 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2001, p. 22-26. 26 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. p. 54. 27 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. p. 25. 28 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : teoria e prática. p. 37. 29 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. p. 209.
CAPÍTULO 1
DOS JUÍZES
1.1 CONCEITO
Embora existam muitos conceitos e definições acerca do termo
Juiz, o qual será amplamente debatido ao longo desta pesquisa, de início em seu
vocabulário jurídico, De Plácido e Silva30, nos dar o conceito de juiz:
Derivado do latim judes (juiz, árbitro), de judicare (julgar, administrar a justiça), em sentido lato indica a pessoa, a quem se comete o encargo de dirigir qualquer coisa, resolvendo, deliberadamente e julgando, afinal, tudo que nela se possa suscitar ou debater.
Neste entendimento, juiz é o órgão do Poder Judiciário
encarregado de desempenhar a função jurisdicional.
Amorim31 entende que: “O juiz é sempre recrutado do povo.
Por isto, a sua atuação tem sempre algo de semelhante com aquilo que é o povo de
onde provém. As exigências legais se limitam, apenas, às condições de ser a
pessoa formada em Ciências Jurídicas”.
Além de ser formado na faculdade de Direito, tem que ter
prática forense de pelo menos 3 (três) anos e idoneidade moral, bem como ser
aprovado em um concurso para seguir a carreira da magistratura.
Para Santos32, Juiz: “É o órgão da jurisdição, isto é, o delegado
do Estado no exercício da função jurisdicional. Exerce funções específicas do
Estado”.
30 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 20ª Edição. Atualizadores Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho. Editora Forense. Rio de Janeiro. 2002, p. 459. 31 AMORIM, Edgar Carlos de. O Juiz e a Aplicação das Leis . 3ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1997, p. 1. 32 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de
5
Diante do exposto, o juiz o qual representa o Estado na
aplicação jurisdicional, revela o ponto final, o desfecho do litígio, uma vez
competente, solucionando o caso para que este seja aceito ou não pelas partes.
A princípio, o juiz, como diz Alvin33: “[...] um funcionário público,
no sentido lato da expressão”.
Na mesma linha de pensamento, Lazzarini34, traz o seguinte
trecho em sua obra:
O magistrado é agente público, precisamente, nos primeiros escalões do Governo, isto é, no Poder Judiciário, do qual é membro, agindo com plena liberdade funcional, desempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais.
Considerando os conceitos apresentados, conclui-se que
existem muitas definições para a palavra Juiz, assim, podemos perceber que o Juiz
é considerado um agente público, e sujeito, portanto à aplicação do artigo 37 da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, e que tem a
responsabilidade de julgar demandas judiciais caracterizadas, na maioria das vezes,
por conflito de interesse entre pessoas. É fundamental para esse profissional,
durante um processo, velar pela rápida solução do litígio, prevenir ou reprimir
qualquer ato contrário à dignidade da justiça e tentar a qualquer tempo conciliar as
partes.
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FUNÇÕES DO JUIZ
Para a realização de um estudo acerca da Responsabilidade
Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional, é oportuno tecer previamente,
algumas considerações a respeito da evolução histórica das funções do juiz,
Conhecimento. V.1 – Editora Saraiva, 2009, p. 337. 33 ALVIN, Arruda. Manual de Direito Processo Civil . São Paulo: Revista dos Tribunais. 9ª edição, Ano 2005, p. 17. 34LAZARRINI, Álvaro. Estudos de Direito Administrativo . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. p. 437.
6
mormente em sua concepção procura explicar a origem do juiz, bem como aquelas
que procuram justificar a sua existência no contexto social.
Sobre a matéria entende, Nanni35:
Embora não com os contornos atuais, a função de julgar sempre existiu no decorrer da história, porque as desavenças são inerentes à convivência em sociedade, razão pela qual desde a existência da humanidade houve a necessidade de dirimirem os conflitos.
O autor explica que a função de julgar sempre existiu no
decorrer desses anos, pois o desentendimento sempre ocorreu no meio da
sociedade, mas sempre procuraram esclarecer os conflitos.
Ainda Nanni36, escreve:
Nos primórdios não existia a figura do juiz, sendo que na maioria das vezes as divergências restavam resolvidas pessoalmente entre as partes, sem qualquer participação de um terceiro julgador imparcial. Era a absoluta autotutela de interesses, que tinha como brigas sangrentas, enaltecendo a violência.
Neste entendimento, o autor explica que o juiz, na sua
essência, é uma figura criada, desde os primórdios da civilização, notadamente, no
imaginário dos povos, que entregavam as suas vidas e suas decisões a terceiros, a
quem compreendiam possuírem, mais frequentemente por uma escolha divina, o
poder de vislumbrar o melhor caminho ou solução.
Enfatiza Nanni37, que:
[...] já podia verificar-se a presença de alguma função julgadora nas coletividades pequenas, em que a opinião do líder, seja familiar, espiritual, sacerdotal, etc., predominava quando surgiam dúvidas ou conflitos. Geralmente tais atribuições eram confiadas aos anciões, que supunham, eram seres dotados de maior sabedoria, em que a coletividade curvava-se às suas determinações.
35 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . Editora Max Limonad, São Paulo, 1999, p. 47. 36 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 37 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47.
7
Assim, o autor também configurou nos conselhos dos mais
antigos, onde se reuniam os anciões nas suas respectivas comunidades, quando
eram chamados a decidir sobre determinadas questões de interesse coletivo, na
maioria dos casos e também de um interesse individual que repercutiria como
modelo ou expiação para os demais da coletividade. Assim, gradativamente, foram
se estabelecendo normas de conduta e de convivência que foram norteando o
direito de cada um e do grupo comunitário.
Com o tempo, as sociedades foram crescendo, e as
controvérsias também foram aumentando, assim:
Já existia o rei, que era o soberano e dirimia os litígios. Com este geralmente preocupava-se com outras atividades, tais como guerras com outros povos, viu-se desprovido de disponibilidade para solucionar os dissídios dos súditos38. Neste momento, constituiu um encarregado para cumprir tais funções em seu nome e sob sua dependência 39.
Neste entendimento, o autor explica que já existia o rei, uma
espécie de chefe de tribo, que equilibrava os povos para não entrar em conflitos com
outras comunidades. O rei constituiu um encarregado para que possa cumprir suas
funções em seu lugar, para poder ter mais liberdade e não viver só em função dos
povos. Foi então onde surgiu a idéia da pessoa do juiz, para comandar a paz entre
os povos.
Segundo Guimarães, citado por Nanni40: “Vagarosamente
então vai delineando-se a estrutura de juízes e tribunais, mas de forma muito tímida
e distante da realidade hoje imperante, porque ainda confundiam-se atribuições
judicantes, administrativas e religiosas”.
A organização judiciária da Monarquia portuguesa transportou-
se para o Brasil, como escreve Guimarães citado por Nanni41: “juízes da terra, juízes
38 Entende-se como dissídios dos súbitos as divergências entre os soberanos. 39 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 40 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 41 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47.
8
de fora, almotacés, a Casa de Suplicação do Rio de Janeiro, que compunham a
justiça no Brasil colonial”.
A partir da sistematização, mesmo que precária, dos
normativos de convivência, através dos legisladores ou conselheiros,
paulatinamente, surgiu à necessidade de estruturar de forma organizada o papel do
Juiz.
Nanni42, expõe que:
[...] a Constituição imperial de 1824 e leis subseqüentes extinguiram aqueles cargos, proclamando, de princípio, a independência do Poder Judiciário, ainda que na mera letra da lei, sendo componentes desse poder, tanto o cível como no crime, juízes e jurados, dispondo ainda a Constituição sobre juízes de paz e sobre a instalação de um Supremo Tribunal de Justiça, na Corte, e de Tribunais de Relação, nas províncias.
A respeito dessa concepção, a constituição imperial de 1824 e
as leis posteriores, proclamaram a independência do Poder Judiciário, criando juízes
e jurados responsáveis perante os atos jurisdicionais e criou o Supremo Tribunal de
Justiças.
Diante deste fato, pode-se afirmar que:
[...] o marco fundamental na evolução histórica da função jurisdicional foi a Revolução Francesa de 1789, que trouxe no seu bojo a idéia do Estado de Direito, corroborada pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada em 26 de agosto de 1789 pela Assembléia Nacional da França43.
Foi a partir dessa época que as idéias doutrinárias foram se
integrando ao sistema, formando assim, o Estado de Direito, como a separação de
poderes, a democracia, onde criaram a função jurisdicional em todas as sociedades.
Portanto a função jurisdicional tornou-se exclusiva do Poder Judiciário.
42 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 43 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47.
9
A primeira questão a ser enfrentada para que a figura do juiz
que hoje conhecemos no Brasil se ajustasse a uma forma democrática de atuação,
foi à separação da sua atividade julgadora da tutela do Poder Executivo. Isto quer
dizer que, ao longo da história da humanidade houve a constante interferência do
Estado Governante/Poder Executivo na atuação do Juiz, Magistrado ou Julgador.
Mesmo hoje no Brasil, quando o Judiciário através de seus Ministros Juizes, autoriza
uma extradição, é preciso que haja a interferência do Executivo, na efetiva
realização da medida.
Desde outras épocas, quando os Reis, os Imperadores e
outros dominadores traziam para si o poder de julgar seus súditos44, como
atualmente nas teocracias45 e nos regimes ditatoriais, a figura do Juiz foi manchada,
porque não manteve a necessária imparcialidade daquele que tem o papel
importante de decidir a vida do outro.
Destaca-se também, que a principal condição na figura do Juiz
é a imparcialidade, exatamente para evitar que haja análise subjetiva e pessoal
quando do julgamento de qualquer causa, não se deve acumular a função de Poder
Executivo e Judiciário, sob pena de ferir a imparcialidade tão necessária num
julgamento mais justo. Isto porque o próprio Poder Executivo pode possuir um
interesse sobre determinada demanda ou litígio.
Neste sentido, o Código de Processo Civil Brasileiro, Lei
preponderante que regula as normas e procedimentos processuais, indica que o
Judiciário é um Poder que depende da provocação para que atue na sua função de
dizer o direito.
Está previsto no artigo 2º, do Código de Processo Civil46, in
verbis:
Art. 1º. [...]
44 Endente-se por súditos sendo o que, está submetido a um soberano. 45 Entende-se por teocracia sendo o, sistema de governo em que o poder político está fundamentado no poder religioso. 46 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 387.
10
Art. 2º. Nenhum Juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a
parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais.
Quando se fala de tutela jurisdicional se diz exatamente da
função do judiciário, através do Juiz, de atuar no julgamento dos pedidos e
requerimentos feitos pelos interessados.
Sobre a matéria entende Nanni47:
Na esteira dessas mudanças, alterou-se o quadro de formação do Estado e, frente à separação de poderes, cada órgão passou a ter funções definidas, na elaboração, execução e aplicação das leis, perquirindo-se acomodar os anseios da democracia, cujos interessados eram os cidadãos, na medida em que o povo, em última análise, é quem governa o Estado.
Finalmente, importante destacar sobre a matéria onde Nanni48,
ressalva:
[...] esses conceitos, inclusive no Brasil, a função jurisdicional alcançou as bases indispensáveis para o seu regular exercício, especialmente a separação de poderes e a independência da Magistratura, sendo organizada em primeira e segunda instância, com juízes independentes e imparciais, outorgando-se garantias processuais aos jurisdicionados, surgindo à importância fundamental da função jurisdicional na apaziguação dos conflitos.
Destarte, vê-se que o magistrado é o principal Agente público
do órgão do Poder Judiciário, sendo lhe atribuída uma ampla independência
funcional para o exercício de sua atividade.
1.3 PRINCIPAL FUNÇÃO DO JUIZ
Conforme o entendimento de Amorim49, a respeito da principal
função do juiz, leciona que: “São requisitos imprescindíveis ao juiz no exercício da
47 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 51. 48 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 51 e 52. 49 AMORIM, Edgar Carlos de. O Juiz e a Aplicação das Leis . 3ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1997, p. 22.
11
sua função primordial, que é a de dizer o direito: a) imparcial; b) rápido e consciente
nos despachos e decisões; c) corajoso e, ao mesmo tempo, moderado”.
Neste entendimento, o juiz de direito tem como função decidir
litígios concretos entre pessoas, cujos interesses podem ser de natureza civil ou
criminal, envolvendo quase sempre questões econômicas. Assim os conflitos são
resolvidos de modo conciliatório ou judicial. O juiz pode ser observado como órgão
de jurisdição, ou seja, é o representante do Estado no exercício da função
jurisdicional.
Ainda Amorim50 escreve: “O juiz, apesar de ser uma pessoa
comum, que provém do povo, deve ter um comportamento diferenciado, a fim de
impor respeito aos seus jurisdicionados”.
No entanto, cabe observar que o juiz além de ser uma pessoa
comum, é necessário que seu comportamento seja diferenciado, a fim de manter o
respeito a sua classe e ser respeitado perante o judiciário.
Portanto, o juiz: É o membro da magistratura no Brasil, é
membro do Poder Judiciário que, na qualidade de administrador da justiça do
Estado, não só declara, como ordena [...] o que for necessário a tornar efetiva a
tutela jurídica51.
Neste entendimento, o juiz faz parte como membro do Estado,
é ele que faz funcionar a tutela jurisdicional.
Assim dispõe o artigo 125, inciso III do Código de Processo
Civil52, in verbis:
Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste
Código, competindo-lhe:
50 AMORIM, Edgar Carlos de. O Juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 22 51 Wikipédia, enciclopédia livre. www.http://pt.wikipedia.org/wiki/juiz_de_direito 52 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 396.
12
III – Prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da
justiça.
Sobre o artigo citado, Nanni53, argumenta que: “O juiz deve ser
perseverante na proclamação da justiça, para que possa exercer com presteza sua
função dignificando o Poder Judiciário”.
Neste dilema, são conhecidas as expressões de que o juiz é
“escravo da lei54”.
Então, como definição principal da função do Juiz de Direito, é
preservar a dignidade humana, defender as liberdades públicas e buscar a
pacificação social através da resolução definitiva de conflitos de interesses entre
pessoas e bens da vida, tais como a liberdade, o patrimônio, a honra e outros. Cabe
a ele decidir a demanda judicial com a finalidade de revelar qual das partes tem
razão, ou seja, quem tem o direito, em conformidade com as leis e com os
costumes, visando atender ao fim social da legislação e às exigências do bem
comum.
Nanni55, sobre o tema, traz o seguinte trecho em sua obra: “[...]
Deve, pois, decidir conforme o direito, cujo objetivo é fomentar a paz social, de onde
infere-se que, a princípio, a decisão conforme o direito espelha a justiça, já que se
pressupõe ser aquele o regramento para o justo convívio em sociedade”.
Neste sentido, é o juiz quem decide conforme está escrito na
lei, é ele que faz acontecer à paz social entre a sociedade.
Diante dessa importância no exercício da função jurisdicional
que é aplicar a justiça, o juiz está submetido à lei e, mais profundamente à
Constituição Federal56.
53 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 51 e 52. 54 DALLARI, Dalmo de Abreu. O Poder dos Juízes . São Paulo: Saraiva, 1996, p. 80. 55 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 53. 56 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 54.
13
Portanto, o juiz deve persistir na proclamação da justiça, para
que possa exercer com rapidez e honestidade a sua função jurisdicional perante o
Poder Judiciário.
Para Sampaio57:
A consagrar toda esta evolução sistemática, veio o Código Civil de 2002 a valorizar, de forma genérica, a atuação do juiz no exercício da atividade jurisdicional. A ampliação dos seus poderes vem refletiva em todo seu corpo, adotando-se como instrumento legislativo, as denominadas cláusulas gerais ou normas de conteúdo aberto.
No entanto, o Código Civil de 2002, veio valorizar a função do
juiz na atividade jurisdicional, direcionando na aplicação do direito da melhor forma
possível, razão pela qual dispõe desses mecanismos de integração.
1.4 O JUIZ EM RELAÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL
O juiz é o papel principal em relação ao processo judicial, pois
é ele que analisa o processo antes de ser julgado.
Entretanto, “é verdade que, no processo ordinário, impõe-se a
lavratura do despacho saneador sempre que o juiz não dispõe de provas para o
julgamento antecipado da lide” 58.
Inicialmente, o juiz deverá sempre observar se a petição inicial
traz os requisitos exigidos pelos artigos 282 e 283 do Código de Processo Civil.
Identificada a verdade nos autos, cabe ao juiz prosseguir perante os órgãos
jurisdicionais. A parte mais importante em um processo é a sentença.
Assim escreve Sampaio59:
A firmada a tríplice característica assumida pela jurisdição – poder, função e atividade, interessa, nesta fase, focá-la no âmbito da
57 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. A Atuação do Juiz no Direito Processual Civil Moder no . Editora Atlas, 2008 p. 41. 58 AMORIM, Edgar Carlos de. O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 26. 59 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. A atuação do Juiz no Direito Processual Civil Moder no . 2008, p. 11.
14
atividade desenvolvida pelo Estado e que, via processo, tem por resultado a pacificação dos conflitos de interesses.
Neste entendimento, o Juiz faz parte de uma importante tríplice
que envolve, ele mesmo como o representante do Estado e as partes que vem em
busca de uma solução para seus conflitos, e sendo o “comandante do processo”,
deve agir com total imparcialidade.
O Juiz participa na relação processual, como órgão de poder
jurisdicional, buscando o interesse da coletividade, devendo conforme a lei, fazer
prevalecer à justiça. Com este objetivo, foi dado ao juiz largos poderes para que
possa decidir, se colocando entre e acima das partes, como maneira de
cumprimento do dever jurisdicional.
O artigo 125, e seus incisos I, II, III e IV do Código de Processo
Civil60, dispõe o seguinte:
Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe:
I – assegurar às partes igualdade de tratamento;
II – velar pela rápida solução do litígio;
III – prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça;
IV – tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.
Diante do artigo acima citado, o Juiz deve dirigir o processo de
forma que assegure o andamento rápido do processo, porém sem que seja
prejudicada a defesa dos interessados.
Neste sentido, Amorim61 escreve: “O papel do juiz é examinar
as hipóteses previstas para o caso e concluir pela solução mais justa e acertada”.
60 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 396. 61 AMORIM, Edgar Carlos de; O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 25.
15
Neste entendimento o autor argumenta que o juiz deve analisar
o processo com carinho a fim de verificar qual delas poderá ser a verdadeira
hipótese para chegar-se uma definição.
Ainda Amorim62 dispõe que:
É preciso que o juiz inspire confiança a todos, e esta confiança somente é alcançada se o juiz tiver “pulso” e capacidade intelectual para decidir. Entretanto, nunca decidir a favor do amigo ou contra o inimigo, mas tão-somente visando a atingir o ideal de justiça.
A parte mais importante do juiz em função do processo é a
sentença, que é acompanhada de um relatório, uma motivação e uma conclusão,
sem esses requisitos, é simplesmente nula.
Portanto, “no julgamento do mérito, o juiz deve se limitar ao
pedido, pois se for além deste, a sentença passa a ser nula” 63.
Assim, o juiz deve impor limites no que rege o pedido no
processo, caso contrário, a sentença será nula.
1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS PODERES DO JUIZ
A doutrina nacional trás consigo a divisão ou a classificação
dos poderes processuais do juiz. Essas divergências decorrem não só das
convicções jurídico-processuais, dos doutrinadores, mas principalmente do critério
utilizado para operar a classificação dos poderes do juiz.
Assim escreve Santos64:
Múltiplos e variados são os poderes atribuídos ao juiz. Para se aquilatar a variedade e multiplicidade desses poderes, basta considerar que ele participa ativamente da formação e desenvolvimento da relação processual, não só provendo quanto à regularidade daquela e deste como assegurando-lhe as condições
62 AMORIM, Edgar Carlos de; O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 25. 63 AMORIM, Edgar Carlos de. O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 28. 64 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. V.1 – Editora Saraiva, 2009, p. 340.
16
necessárias para a decisão da lide ou para a realização prática dessa decisão. A multiplicidade e variedade de poderes tornam difícil a harmonia entre os processualistas na tentativa de uma classificação.
O autor, ao tratar da classificação dos poderes do juiz, traz a
seguinte distinção entre poderes jurisdicionais e poderes de polícia.
Por poderes jurisdicionais se entendem os que o juiz exerce no
processo, no exercício da função jurisdicional, como sujeito da relação processual,
desde o instante em que é provocada a sua formação até a sua extinção 65.
O juiz também prever poder de polícia que se constitui o
seguinte: “Poderes de polícia exerce-os o juiz, não como sujeito da relação
processual, mas como autoridade judiciária, assegurando a ordem dos trabalhos
forenses, quando perturbada ou ameaçada por pessoas estranhas ao processo “66.
Neste entendimento, o autor argumenta que os poderes de
polícia que só o juiz tem essa liberdade como autoridade judiciária, mas visando ao
normal e respeitoso desenvolvimento deste, que são os poderes de polícia.
1.5.1 Poderes Jurisdicionais
O artigo 162, §1º, do Código de Processo Civil dispõe quais
são os atos a serem realizados pelo juiz nos processos:
Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões
interlocutórias e despachos.
§ 1º - Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 26767 e 26968 desta lei.
65 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 66 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 67 Art. 267 – Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: I – quando o juiz indeferir a petição inicial; II – quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III – quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV – quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e o de desenvolvimento válido e regular do processo; V – quando o juiz acolher a alegação de perempção,
17
A regra do referido artigo define os poderes jurisdicionais em
que o juiz exerce no processo, no exercício da função jurisdicional ou como sujeito
da relação processual, desde o momento em que é provocada a sua formação até a
sentença, ato pelo qual o juiz põe fim ao processo, encerrando assim a sua atividade
jurisdicional.
1.5.1.1 Classificação dos poderes jurisdicionais
Utilizando-se como critério a finalidade, classificam os poderes
jurisdicionais em poderes ordinatórios ou instrumentais, poderes instrutórios,
poderes finais ou decisórios finais.
Define-se poderes ordinários ou instrumentais, “que se
traduzem em provimento do processo, qualquer que seja o tipo deste – de
conhecimento, executivo ou cautelar” 69.
Assim os poderes ordinários também conhecidos como
instrumentais, é atribuído ao juiz, no uso dos quais dá desenvolvimento ao processo
judicial. Assim se faz os poderes instrutórios, que cabe as partes a indicação das
provas a serem produzidas e tornam-se produtivas para que o juiz possa analisá-las.
Assim define-se poderes instrutórios:
Destinados à colheita da prova dos fatos, isto é, à formação do material de convicção em que há de fundamentar-se a decisão. De tais poderes o juiz se vale, de modo particular, nos processos de conhecimento e cautelar 70.
litispendência ou de coisa julgada; VI – quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; VII – pela convenção de arbitragem; VIII – quando o autor desistir da ação; IX – quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal; X – quando ocorrer confusão entre o autor e réu; XI – nos demais casos prescritos neste Código. 68 Art. 269 – Haverá resolução de mérito: I – quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor; II – quando o réu reconhecer a procedência do pedido; III – quando as partes transigirem; IV – quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; V – quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação. 69 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 70 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341.
18
Sobre os poderes finais, Santos71, escreve:
poderes finais (CARNELUTTI), aos quais FREDERICO MARQUES prefere denominar decisórios finais, e que compreendem: poderes decisórios, que se convertem nas decisões que se proferem nos processos de qualquer tipo; e poderes satisfativos ou executórios, exercidos pelo juiz no processo de execução, na prestação das providências jurisdicionais de execução.
Neste entendimento, os poderes finais, ou decisórios finais,
compreendem no que o juiz exerce na sua função, através das sentenças para
solucionar a lide, ou seja o conflito. Já os poderes satisfativos ou executivos, o juiz
deve pronunciar suas decisões conforme o que diz a lei na prestação jurisdicional.
1.5.2 Poderes de Polícia
Os poderes de polícia são exercidos somente pelo juiz, não
sendo praticado como sujeito em relação ao processo, mais sim como autoridade
judicial respeitando a ordem jurídica.
Santos72, em seu clássico, Primeiras Linhas de Direito
Processual Civil, dispõe:
Poderes de polícia exerce-os o juiz, não como sujeito da relação processual, mas como autoridades judiciária, assegurando a ordem dos trabalhos forenses, quando perturbada ou ameaçada por pessoas estranhas ao processo. A propósito de tais poderes, são de apontar-se, entre outras, as disposições contidas nos arts. 445, 446 e 15, além da já referida no inc. III do art. 125, todas do referido Código. “Art. 445. O juiz exerce o poder de polícia competindo-lhe: I – manter a ordem e o decoro na audiência; II – ordenar que se retirem da sala da audiência os que se comportarem inconvenientemente; III – requisitar, quando necessário, a força policial. Art. 446. Compete ao juiz, em especial: I – dirigir os trabalhos da audiência; [...] III – exortar os advogados e o órgão do Ministério Público a que discutam a causa com elevação e urbanidade”. “Art. 15. É defeso às partes e seus advogados empregar expressões
71 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 72 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341.
19
injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las. Parágrafo único. Quando as expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra”.
Em análise ao entendimento do autor, os poderes de polícia
têm como característica, o fato de o juiz não agir como sujeito da relação
processual, mas como autoridade judiciária, assegurando o devido andamento do
processo e dos trabalhos forenses.
Diante do todo o exposto, e visto o esboço histórico, conceito,
principal função do juiz, sua relação ao processo judicial e sua classificação dos poderes,
segundo a legislação e doutrina, estudar-se-á no próximo capítulo, A Função Jurisdicional.
20
CAPÍTULO 2
A FUNÇÃO JURISDICIONAL
2.1 CONCEITO
A função jurisdicional73 pode ser facilmente constatada a
partir das proporções doutrinárias já consideradas acerca do papel conferido à
magistratura. Não se pode negar que o juiz, no exercício da jurisdição, exerce
atividade política, notadamente quando interpreta a lei em face dos objetivos
estabelecidos na Constituição do Estado.
Guimarães74, no seu clássico O Juiz e a Função
Jurisdicional, escreve: “[...] o fazer justiça é o alvo, a tarefa, a missão, o
sacerdócio. O juiz existe para isso. É o órgão específico mediante o qual exercita
o Estado uma de suas funções essenciais – a função jurisdicional”.
Neste entendimento, o autor argumenta que a decisão
judicial, é, portanto uma das chaves das modernas sociedades burocráticas, em
que influem variados fatores, desde a simples formação do magistrado, até o seu
conhecimento no ordenamento jurídico.
Em suma, conceitua Nanni: “[...] a função jurisdicional é de
atribuição exclusiva do Poder Judiciário, pressupondo a aplicação da lei na
solução de litígios, porque assim reclama a segurança jurídica” 75.
73 Conceitua a Função Jurisdicional “como uma das funções de soberania do Estado. [...] esta consiste no poder de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo os conflitos de interesses e dessa forma resguardando a ordem jurídica e a autoridade da lei”. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 67. 74 GUIMARÃES, Mário. O Juiz e a Função Jurisdicional . Rio de Janeiro: Forense, 1958, p. 34. 75 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 43.
21
Partindo do acima transcrito, verifica-se que a função do
Estado é própria e exclusiva do Poder Judiciário, é ele dentro desta função, que
atua o direito objetivo na composição dos conflitos de interesses ocorrentes.
Na mesma linha de pensamento, Santos76 conceitua que:
[...] a jurisdição se exerce em face de um conflito de interesses e por provocação de um dos interessados. É função provocada. Quem invoca o socorro jurisdicional do Estado manifesta uma pretensão contra ou em relação a alguém. Ao órgão jurisdicional assistem o direito e o dever de verificar e declarar, compondo assim a lide, se aquela pretensão é protegida pelo direito objetivo, bem como, no caso afirmativo, realizar as atividades necessárias à sua efetivação prática.
Neste sentido, a decisão judicial é aquela assimilável pelas
partes interessadas. A legitimação do juiz advém do reconhecimento, primeiro das
partes e depois de todos os demais contextos que prova judicialmente e pelo
ordenamento jurídico, até chegar ao ponto final que é a sentença.
Ainda Santos77, em sua obra conceitua que: “[...] a função
jurisdicional do Estado visa à atuação da lei aos conflitos de interesses
ocorrentes, assim compondo-os e resguardando a ordem jurídica”.
Neste entendimento, a função jurisdicional se realiza por
meio de um processo judicial, aplicando normas em caso de litígios surgidos no
seio da sociedade. Assim os juizes e tribunais devem decidir atuando o direito
objetivo que o próprio Estado criou, compondo os conflitos de interesses sejam
individuais ou coletivos, públicos ou privados, legitimando seus atos de jurisdição,
em regras gerais abstratas (normas) que regulam as condutas no meio social.
Assim, é o Estado o dever de dizer o direito (pela norma) e posteriormente,
declará-lo (pela jurisdição). Os magistrados não podem usar de seu entendimento
76 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 68. 77 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 70.
22
critérios particulares, privados ou próprios, têm que seguir seus conceitos
conforme o ordenamento jurídico.
Na realidade, o que se avalia em matéria de Lide, na
clássica conceituação de Carnelutti citado por Theodoro Júnior78, é: “um conflito
de interesses qualificado por uma pretensão resistida”.
Partindo do princípio de que a função jurisdicional é exercida
apenas quando faltam à obediência á lei e a resolução pacífica dos conflitos, ver-
se-á claramente que a atividade jurisdicional é substitutiva as partes envolvidas
na Lide. Para que possamos, efetivamente, enfrentar a questão proposta, a lide
(litígio) é a característica exclusiva da jurisdição. Ultrapassada a fase de nossa
civilização em que tudo se resolvia através da autotutela, e com o
desenvolvimento da noção de Estado, conseqüentemente de Estado de Direito,
atribuiu-se a este, através de um de seus alicerces, o Judiciário, que tem a
responsabilidade pela resolução dos conflitos.
Ao completar seu raciocínio, Santos79 conceitua ainda que
jurisdição:
É função do Estado desde o momento em que, proibida a autotutela dos interesses individuais em conflito, por comprometedora da paz jurídica, se reconheceu que nenhum outro poder se encontra em melhores condições de dirimir os litígios do que o Estado, não só pela força de que dispõe, como por nele presumir-se interesse em assegurar a ordem jurídica estabelecida.
E sobre as últimas considerações feitas nas citações acima,
a função jurisdicional tem por finalidade resguardar a ordem jurídica, o império da
lei e proteger aquele dos interesses em conflito que é tutelado pela lei, ou seja
proteger o direito objetivo.
78 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. V. 1 – 44ª edição, Editora Forense, 2006, p. 39. 79 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 67.
23
2.2 CARACTERÍSTICAS
As características da jurisdição apresentam-se como
atividade estatal, segundo Theodoro Júnior80 em: “secundária”, “instrumental”,
“declarativa ou executiva”, “desinteressada e Provocada”.
Sobre as características em comento, traz-se ás
considerações de Theodoro Júnior81:
Diz-se que é atividade “secundária” porque, através dela, o Estado realiza coativamente uma atividade que deveria ter sido primariamente exercida, de maneira pacífica e espontânea, pelos próprios sujeitos da relação jurídica submetida à decisão.
É “instrumental” porque, não tendo outro objetivo principal, senão o de dar atuação prática às regras do direito, nada mais é a jurisdição do que um instrumento de que o próprio direito dispõe para impor-se à obediência dos cidadãos.
Exercita de tal sorte, a jurisdição vontades concretas da lei nascidas anteriormente ao pedido de tutela jurídica estatal feito pela parte no processo, o que lhe confere o caráter de atividade “declarativa” ou “executiva”, tão-somente.
É, ainda, a jurisdição “atividade desinteressada do conflito”, visto que põe em prática vontades concretas da lei que não se dirigem ao órgão jurisdicional, mas aos sujeitos da relação jurídica substancial deduzida em juízo.
Analisando-se as características citadas pelo autor, a
atividade secundária apresenta-se como medida em que o Estado é chamado a
intervir, coativamente, na relação de direito material e solucionar o conflito dela
decorrente porque tal resultado não fora obtido, de forma pacífica e espontânea,
pelos próprios sujeitos dessa relação.
80 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 40. 81 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 41.
24
É atividade instrumental porque espera-se a justa
pacificação dos conflitos, frutos da atuação estatal, gerando nova situação
jurídica, adequada à vontade do direito.
Já a atividade declarativa ou executiva , a jurisdição não é
fonte do direito, o órgão jurisdicional é convocado para remover a incerteza ou
para reparar a transgressão, através de um juízo que se preste a reafirmar e
restabelecer o império do direito quer declarando qual seja a regra do caso
concreto, quer aplicando as medidas de reparação ou de sanção previstas pelo
direito.
No que diz a respeito da atividade desinteressada , induz à
imparcialidade com que deve atuar o Estado no desempenho da atividade
jurisdicional. A idéia de justa composição do litígio passa pela necessidade de o
juiz estar eqüidistante das partes.
Depois de verificada a importância das características dentro
do ordenamento jurídico, passa-se doravante a analisar os poderes jurisdicionais.
2.3 PODERES
A jurisdição emana do Poder Judiciário e é uma das funções
da soberania do Estado que possui 3 (três) poderes distintos, independentes e
harmônicos entre si, sendo eles, o Poder Legislativo que cria as normas, Poder
Executivo que administra e Poder Judiciário que julga. Esses poderes são
próprios do sistema constitucionalista e está inserido no artigo 2º da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988 e visa impedir os excessos, abusos
inconvenientes de um poder estatal ilimitado. Esses 3 (três) poderes exercem
cada qual uma função específica e determinada na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.
Neste sentido, o Poder Legislativo está previsto no Capítulo
I, do Título IV, nos artigos 44 á 75 da Carta Magna. A respeito do Poder
25
Legislativo, Nanni82, descreve: “[...] exerce função legislativa que consiste, em
poucas palavras, na edição das leis”.
O autor nos ensina que Poder Legislativo consiste em
estruturar a ordem jurídica formulando leis, em outras palavras, é o poder de criar
leis, para organizar e desenvolver a vida em sociedade.
Já o Poder Executivo, está discriminado no Capítulo II, do
mesmo título IV, nos artigos 76 á 91 da Carta Magna. E sobre o Poder Executivo
em destaque, José Afonso da Silva, citado por Nanni83, sucintamente esclarece
que segundo este pensamento desempenha a função executiva e dispõe:
[...] resolve os problemas concretos e individualizados, de acordo com as Leis; não se limita à simples execução das leis, como às vezes se diz; comporta prerrogativas, e nela entram todos os atos e fatos jurídicos que não tenham caráter geral e impessoal; por isso, é cabível dizer que a função executiva se distingue em função de governo, com atribuições políticas, co-legislativas e de decisão e função administrativa, com suas três missões básicas: intervenção, fomento e serviço público.
Neste entendimento, o Poder Executivo, através da
administração, consiste em executar e regulamentar as leis formuladas pelo
Poder Legislativo. É o poder que resolve os problemas concretos e
individualizados, seguindo os ditames das leis. Não é a simples execução das
leis, e sim, criam também prerrogativas, e nesta, todos os atos e fatos jurídicos
que não tenham caráter geral e impessoal.
A respeito do Poder Judiciário, Gomes84, leciona que:
O Judiciário é o poder naturalmente encarregado de cumprir essa missão de concretizar, densificar e realizar praticamente as mensagens normativas da Constituição. E o constituinte brasileiro de 1988 o proveu de condições para bem se desincumbir da
82 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 32. 83 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 32. 84 GOMES, Luiz Flávio. A Dimensão da Magistratura . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 467.
26
empresa. Dotou-o de independência frente aos demais poderes, de autonomia administrativa e financeira e cometeu ao órgão máximo da Justiça a guarda precípua da própria Constituição.
Este poder, como explica o autor, tem como escopo aplicar o
direito aos casos concretos, a fim de diminuir conflitos de interesses. Serão de
ordem pública quando versarem sobre conflitos entre qualquer Poder Público
contra particulares, ou particulares contra o Poder Público. Do mesmo modo, será
particular, quando versarem sobre conflitos entre particulares.
O Poder é um fenômeno, inerente a um grupo, que se pode
definir como "unir energia capaz de coordenar e impor decisões visando à
realização de determinados fins". O princípio da separação dos poderes
(tripartição) encontra-se sugerido em obras de Aristóteles, John Locke e Russeau,
porém, fora definido e divulgado por Montesquieu85. Teve fundamento positivo
nas Constituições das ex-colônias inglesas da América, concretizando-se em
definitivo na Constituição dos Estados Unidos de 17 de setembro de 1789. Com a
Revolução Francesa, tornou-se um dogma constitucional, a ponto do artigo 16 da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, afirmar que não teria
constituição à sociedade que não assegurasse a separação dos poderes, devido
sua relevância para a Garantia dos Direitos do Homem.
O Poder, como expressão máxima da soberania é única,
pela separação dos poderes, entende-se como divisão funcional do poder, ou
seja, as atividades jurisdicionais que lhe compete a atender. Schlichting86 leciona
a respeito da divisão das atividades jurisdicionais que: “[...] entre diversos órgãos
jurisdicionais que o compõem, de forma de determinadas matérias, áreas e
regiões, processando e julgando uma parcela de atividades jurisdicionais que
cabe ao Poder Judiciário como um todo”.
85 “[...[ Montesquieu, a teoria de separação dos poderes já é concebida como um sistema em que se conjugam um legislativo, um executivo e um judiciário, harmônicos e independentes entre si, tomando, praticamente, a configuração que iria aparecer na maioria das Constituições [...].” (Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado . 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 218). 86 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria Geral do Processo . Florianópolis: Momento atual, Tomo 2, 2002, p.72.
27
O marco inicial da Tripartição dos Poderes, veio com
Montesquieu, onde ele descreve o tipo de Estado ideal, citado por Silva87,
explicita que:
Para um Estado ideal, era necessária a divisão dos poderes em três diferentes grupos, independentes entre si, não dependendo hierarquicamente unido outro, nem precisando de outorga para realizar algum ato, desde que obedecidos suas próprias regras. São eles: poder legislativo, poder executivo e poder judiciário.
A teoria da separação dos poderes alcançou a verdadeira
consagração com a obra “O Espírito das Leis”, elaborada por Montesquieu,
entretanto, mister se faz análise dos antecedentes históricos desta teoria.
Aderindo a este entendimento, que prega a formação dos
poderes, Aristóteles, em sua obra A Política reputava inconveniente a
concentração do poder político nas mãos de um só homem, eis que este estava,
“sujeito a todas as possíveis desordens e afeições da mente humana” e diante
dessas considerações distinguia as funções do Estado em deliberante, executiva
e judiciária88.
Todavia, sobretudo com a evolução política onde passou a
Inglaterra, na Era Moderna, com a edição de Bill of Rights, em 1689, e que John
Locke sistematizou a primeira teoria da separação dos poderes, dividindo suas
funções em Legislativas, Executivas e Federativas, ressaltando que estes últimos
deveriam ser exercidos pela mesma pessoa e subordinados ao primeiro, o qual se
sujeitava somente ao poder do povo. O Legislativo elaboraria as leis que iriam
disciplinar o uso da força na comunidade civil; o Executivo aplicaria as leias aos
membros da comunidade; e o Federativo desempenharia a função de se
relacionar com os demais estados89.
87 SILVA, José Afonso da. Curso do Direito Constitucional Positivo . 16ª ed., São Paulo: Malheiros, 1998, p. 37. 88 ARISTÒTELES, A Política . Ed. Ouro, com introdução de Ivan Lins, Rio de Janeiro, 1965, p. 234. 89 LOEWENSTEIN, Karl. Teoria de La Constitución . Trad. Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Editorial Ariel, 1976, p. 57.
28
Cabe inteirar ainda, que a teoria em questão fundamentou o
pensamento de Montesquieu90 que dispõe:
Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de Magistratura, o Poder Legislativo é reunido ao Executivo, não há liberdade. Porque pode temer-se que o mesmo Monarca ou mesmo Senado faça leis tirânicas para executá-las tiranicamente.
Também não haverá liberdade se o Poder de julgar não estiver separado do Legislativo e do Executivo. Se estivesse junto com o Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário; pois o juiz seria Legislador. Se estivesse junto com o executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.
Estaria tudo perdido se um mesmo homem, ou um mesmo corpo, de principais (sic) ou de nobres, ou do Povo, exercesse estes três poderes: o de fazer as leis; o de executar as resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as demandas dos particulares.
Entretanto, em que pese ter Montesquieu proposto à
contenção do poder político como forma de garantir a liberdade civil, não idealizou
a separação absoluta entre as funções públicas, visto que a relação entre os
poderes é recíproco, com o intuito de prevenir que o exercício de cada um deles
possa servir de pretexto para superar aos demais. O Brasil adotou expressamente
a teoria da separação dos Poderes. Diante disto, importante destacar que cada
um destes poderes possui sua organização regulada em capítulo distinto no Título
IV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, deixando ainda
mais cristalino que o princípio da separação e independência dos Poderes integra
a ordem constitucional positiva brasileira.
2.4 NECESSIDADE DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
O Estado, atribuindo como sua, a tarefa exclusiva de compor
os litígios através do exercício da jurisdição, passou a intervir como terceiro
imparcial, fazendo valer a ordem jurídica e, dessa forma, restabelecer a paz social
90 MONTESQUIEU. Os Espíritos de Leis . Trad. Pedro Vieira Mota, 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 167-168.
29
com a composição da lide. A função jurisdicional é exclusiva em dirimir os
conflitos de interesses individuais, assegurando assim, a ordem jurídica e a paz
social.
À necessidade da função jurisdicional cabe este importante
papel de fazer valer o ordenamento jurídico, de forma coativa, toda vez que seu
cumprimento não se dê sem resistência. O lesado tem de comparecer diante do
Poder Judiciário, o qual, tomando conhecimento da controvérsia, se substitui à
própria vontade das partes que foram impotentes para se autocomporem. O
Estado, através de um de seus Poderes, dita, assim, de forma substitutiva à
vontade das próprias partes, qual o direito que estas têm de cumprir.
Neste sentido, Lopes citado por Nanni91:
O protagonista principal da função jurisdicional é o juiz, que tem o encargo de exercer concretamente a função jurisdicional. É ele quem dá movimento ao Poder Judiciário, exteriorizando a prestação jurisdicional, razão pela qual deve ter consciência da importância da atribuição que lhe é confiada, não podendo olvidar de seus deveres.
Nesse ínterim, é de se mencionar que o juiz delibera, decide,
julga quanto ás atividades das partes, e procede na conformidade da lei. Pois
ninguém pode fazer a autotutela, a justiça feita pelas próprias mãos, somente é
admitida pelo direito em casos excepcionalíssimos, e quando a lei autorizar. Por
exemplo a legítima defesa, o desforço imediato e o direito de cortar galhos
limítrofes.
Ainda Nanni92:
Pensamos que a justiça é a fiel parceira que deve acompanhar o juiz em todos os seus passos dentro do exercício da função jurisdicional. Impõe-se que caminhem de mãos atadas, inexoravelmente unidos, para que o juiz, com o processo em
91 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 52. 92 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 53.
30
mãos, ao decidir, possa aplicar escorreitamente o direito, profetizando sua suprema missão de aplicar a justiça.
Neste entendimento, o juiz deverá conhecer a lide para
então atuar a lei aplicável ao caso. É ele que decide após regular conhecimento.
E após decidir, declara qual a vontade da lei reguladora da espécie litigiosa.
Extraída das crônicas de Calamandrei, citado por Nanni93:
O direito, enquanto ninguém o perturba e o contraria, nos rodeia, invisível e impalpável como o ar que respiramos, inadvertido como a saúde, cujo valor só compreendemos quando percebemos tê-la perdido. Mas quando é ameaçado e violado, então, descendo do mundo astral em que repousa em forma de hipótese até o mundo dos sentidos, o direito encarna no juiz e se torna expressão concreta de vontade operativa através da sua palavra.
Neste sentido o juiz é o direito feito homem, e desse homem
pode esperar na vida prática, aquela tutela que não concretiza a lei. O juiz deve
ser perseverante na proclamação da justiça, para que possa exercer com
presteza sua função, dignificando o Poder Judiciário.
Diante dessa necessidade da função jurisdicional, que é
aplicar a justiça, o juiz está ligado à lei e, mais profundamente a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.
2.5 COMPETÊNCIA PARA EXERCER A FUNÇÃO JURISDICIONAL
Alguns autores conceituam competência como a medida da
jurisdição uma vez que determina e demarca o campo de atribuições dos órgãos
que as exercem. Representa ter a capacidade de fato para exercer cargo ou
função, ainda que provisória ou temporariamente, sendo delegado ou não este
poder por terceiros qualificados.
A respeito de Competência, Santos94, conceitua que:
93 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 53. 94 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de
31
[...] é a função do Estado destinada a compor conflitos de interesses ocorrentes. Tem por finalidade resguardar a ordem jurídica, o império dos interesses em conflito que é tutelado pela lei. Sendo função estatal, e mesmo uma das características da soberania do Estado, é exercida sobre todo o território nacional.
Neste sentido, competência é a função do estado a por em
ordem os conflitos que são tutelados pela lei de interesses ocorridos em todo o
território nacional.
No que tange a Competência para exercer a função
jurisdicional, Santos95, dispõe ainda:
Exercendo-se sobre todo o território nacional, por vários motivos deverá a jurisdição ser repartida entre os muitos órgãos que a exercem. A extensão territorial, a distribuição da população, a distribuição, a natureza das causas, o seu valor, a sua complexidade, esses e outros fatores aconselham e tornam necessária, mesmo por elementar respeito ao princípio da divisão do trabalho, a distribuição das causas pelos vários órgãos jurisdicionais, conforme suas atribuições, que são previamente estabelecidas.
Nesse entender, quando se atribui através de normas de
competência, que a determinado órgão do Judiciário cabe exercer a jurisdição,
este o faz integralmente, plenamente, enquanto órgão jurisdicional e não como
agente. A norma de competência é atribuída ao órgão e não a pessoa do juiz. Em
realidade, todos os agentes têm jurisdição, o que as normas de competência
fazem é determinar em que momento e sob quais circunstâncias devem praticá-la
conforme artigo 8796 e 26397 do Código de Processo Civil. As normas de
competência funcionam como uma "divisão de trabalho" no Judiciário, facilitando Conhecimento. 2009, p. 205. 95 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 206. 96 Art. 87 – Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. 97 Art. 263 – Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado.
32
a prestação da atividade jurisdicional com base no artigo 8698 do Código de
Processo Civil.
Complementa Santos99: “Diz-se que um juiz é competente
quando, no âmbito de suas atribuições, tem poderes jurisdicionais sobre
determinada causa. Assim à competência limita a jurisdição, é a delimitação da
jurisdição”.
A competência é uma divisão de tarefas na quais todos os
órgãos do Poder Judiciário estão envolvidos para exercerem ordenamente suas
funções jurisdicionais. A competência estabelece os limites em que cada órgão
jurisdicional pode legitimamente exercer a função jurisdicional.
2.5.1 Distribuição da Competência
Opondo-se a distribuição da competência, a definição se faz
perante normas constitucionais, de leis processuais e de organização judiciária.
Os critérios legais levam em conta a soberania nacional, o
espaço territorial, a hierarquia de órgãos jurisdicionais, a natureza ou o valor das
causas, as pessoas envolvidas no litígio 100.
A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988,
encontra-se o arcabouço de toda a estrutura do Poder Judiciário Nacional. O
artigo 102 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 define as
atribuições do Supremo Tribunal Federal, sendo que o artigo 105 da mesma lei,
que define as atribuições do Superior Tribunal de Justiça.
A Lei maior em seus artigos 113, 114, 121 e 124, também
regula a competência das denominadas "Justiças" especiais como a do Trabalho,
98 Art. 86 – As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de instituírem juízo arbitral. 99 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 206. 100 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 182.
33
Eleitoral e a Militar da União, delegando às "Justiças" comuns (Federal e dos
Estados) a competência residual, muito embora também à competência da
Justiça Federal seja conferida de uma certa especialidade, conforme os artigos
108 e 109 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
2.5.2 Classificação da Competência
A competência classifica-se em competência Internacional e
Competência interna.
Sobre a competência internacional, Theodoro Junior101,
explica que:
Inicialmente, o legislador seleciona abstratamente algumas espécies de lides que, com exclusividade ou não, são atribuídas à justiça brasileira. Daí resulta o que se chama “competência internacional” (arts. 88 a 90).
No que diz respeito à competência interna Theodoro
Junior102, ressalta:
Assentada a competência da justiça brasileira, passa-se à questão de estabelecer qual o órgão judiciário nacional que há de encarregar-se da solução da causa. Surge, então, o que o Código denomina “competência interna” (arts. 91 a 124).
As normas de “competência internacional” definem as
causas que a justiça brasileira deverá conhecer e decidir, e as de “competência
interna” apontam quais os órgãos locais que se incumbirão especificamente da
tarefa, em cada caso concreto103.
101 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177. 102 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177. 103 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177.
34
2.5.2.1 Competência Internacional
No que tange sobre a competência internacional, o Título IV,
Capítulo II, em seu artigo 88, incisos, I, II e III do Código de Processo Civil104
descreve os casos em que o Brasil tem competência internacional concorrente.
Isto significa que a demanda pode ser ajuizada no Brasil ou perante autoridade
judiciária de outro país que também tenha competência internacional para o caso
em questão. É o caso, por exemplo, do réu estrangeiro domiciliado no Brasil, ou
do cumprimento de uma obrigação cujo lugar do pagamento é o Brasil.
Já o artigo 89, incisos, I e II do Código de Processo Civil105,
descreve os casos em que o Brasil tem competência internacional exclusiva. Isto
significa que a demanda só pode ser ajuizada perante autoridade judiciária
brasileira. É o caso, por exemplo, das questões que envolvem imóveis situados
no Brasil.
Nas matérias previstas no citado dispositivo legal, o
legislador atribuiu ao juiz brasileiro competência exclusiva, não autorizando, pois
o conhecimento da ação por outro juiz, senão o juiz brasileiro. A conseqüência
prática do dispositivo comentado é que não se reconhece sentença de juiz
estrangeiro sobre tais matérias. A regra não permite exceções.
Importante frisar que o Código de Processo Civil, “[...]
quando cuida da “competência internacional” está não apenas tratando de
competência, mas da própria jurisdição, isto é, está determinando quando pode
ou não atuar o próprio poder jurisdicional do Estado”106.
104 Art. 88 - É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III – a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. 105 Art. 89 - Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II – proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional. 106 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177.
35
2.5.2.2 Competência Interna
Em matéria de competência interna, o legislador, definiu
critérios para a determinação da competência dos diversos órgãos da jurisdição,
organizando um sistema de critérios para, no caso concreto, determinar o juízo,
dentre todos igualmente investidos na função jurisdicional que compreende a
competência para processar e julgar determinada causa.
Nessa linha de raciocínio, Theodoro Junior107, esclarece que
a competência interna divide a função jurisdicional entre os vários órgãos da
justiça nacional, levando em conta os principais pontos fundamentais de nossa
estrutura judiciária onde:
1º) existem vários organismos jurisdicionais autônomos entre si, que forma as diversas “Justiças” previstas pela Constituição Federal;
2º) existem, em cada “Justiça”, órgãos superiores e órgãos inferiores, para cumprir o duplo grau de jurisdição;
3º) o território nacional e os estaduais dividem-se em seções judiciárias ou comarcas, cada uma subordinada a órgãos jurisdicionais de primeiro grau locais;
4º) há possibilidade de existir mais de um órgão judiciário de igual categoria, na mesma comarca, ou na mesma seção judiciária;
5º) há possibilidade de existir juízes substitutos ou auxiliares, não-vitalícios, e competência reduzida.
Diante destes dados fundamentais da nossa estrutura
judiciária, torna-se possível determinar a competência interna, diante de cada
caso concreto, que se passa por diversas etapas, cada uma delas representando
um problema a ser resolvido.
107 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 182.
36
2.6 ÉTICA PROFISSIONAL DO JUIZ
Neste título, abordar-se-á o conceito de ética, a sua relação
com a moral, a conceituação de ética profissional, para ao final examinar-se a
relação existente entre o juiz e a ética profissional, com base em ensinamentos
doutrinadores e interessados no assunto, que se dedicam à pesquisa da ética
profissional, não apenas quanto aos atos processuais, mais também com relação
às atividades humanas na área pessoal e as que convivem ao redor no seu dia-a-
dia.
Sobre a ética, perfazem-se necessárias considerações de
Korte108, o qual ensina:
A ética procura estudar as relações entre os indivíduos e o contexto em que está situado. Ou seja, entre o que é individualizado e o mundo a sua volta. Sob este prisma, estuda o homem como ser excluído e relacionado com o universo. Não tem por objeto o estudo de todos os fenômenos, mas, fundamentalmente visa os fenômenos éticos. Deve observar que os fenômenos éticos são enunciados através de idéias, linhas e formas de pensar e tornam-se em atos, fatos, ações, relações e procedimentos.
Para o autor, a ética faz parte de toda ação humana.
Qualquer ação do homem tem um conteúdo moral. O homem é um ser moral,
que antes de agir mede as possibilidades e as conseqüências de suas ações.
Como disciplina, a ética talvez seja o primeiro fundamento da própria filosofia, à
medida que é análise e reflexão sobre os atos humanos e suas conseqüências.
A reflexão de Durant109 traz significativa contribuição ao
entendimento de ética:
[...] vem do grego éthos e se refere aos costumes, à conduta da vida, como também às regras de comportamento, sendo que,
108 KORTE, Gustavo. Iniciação à Ética . São Paulo: Juarez Oliveira, 1999, p. 22. 109 DURANT, Guy. A Bioética : Natureza, princípios, objetivos. São Paulo: Paulus, 1995, p.13.
37
etimologicamente, possui a mesma definição que a palavra moral, conforme esclarecem vários dicionários.
Neste entendimento, a ética não se diferencia da moral, com
a única diferença de que a ética serviria como uma norma para um grupo de
pessoas e a moral seria mais geral, representando a cultura de uma determinada
nação, religião ou época.
Entende-se por ética profissional, aquele que age de acordo
com as normas deontológicas110 que regem a sua profissão e também de acordo
com os princípios morais que conduzem determinada sociedade.
Sendo assim, a ética profissional surge quando se escolhe
uma profissão e passa-se a ter obrigações profissionais obrigatórias. É a ação
reguladora da ética que age no desempenho das profissões, fazendo com que um
determinado profissional respeite o próximo quando se encontrar no exercício de
suas funções.
Assim, a ética profissional estuda e regula o relacionamento
do profissional com os seus clientes, objetivando a preservação da dignidade
humana e da construção do bem-estar em um contexto sócio-cultural onde
desempenha a sua profissão. Ela atinge todas as profissões e refere-se a um
caráter normativo e jurídico que regulamenta certa profissão diante dos estatutos
e códigos específicos111.
E sobre a ética do juiz, Nalini112 em sua obra Ética Geral e
Profissional explica que:
110 Deontológicas: Foi criado por Bentham, materialista, positivista e fundador do utilitarismo inglês e é usado com o significado de estudo empírico dos deveres, isto é, baseado apenas na experiência, mas não é suficiente para desatar o núcleo da ocupação ética, pois, sabe-se que esse nome apresenta a vantagem de designar, sem especificar se ele apresenta um caráter jurídico ou um caráter moral, a todos os deveres que se impõem in concreto numa situação social definida. 111 ÈTICA PROFISSIONAL. Ética Profissional . Disponível em: www.http://tpd 2000. vilabol.uol.com.br/etica2.htm>. Acesso em: 27 de Setembro de 2009. 112 NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional . Editora RT, 3ª ed., 2001, p. 285-286.
38
O juiz brasileiro não tem um código de ética específico. A codificação das normas éticas ainda sofre algumas objeções. Nem por isso os mandamentos éticos inspiradores de sua conduta, residem somente na doutrina. Existem normas éticas positivadas, a partir da Constituição da República. O constituinte emitiu comandos destinados ao juiz, dos quais se pode extrair o lineamento básico de sua conduta ética.
Neste entendimento, o autor fala que o juiz não possui um
código de ética próprio, deve-se levar em consideração, além da observância
doutrinária e o fundamento constitucional previstos sobre a ética, está relacionado
no artigo 93, inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
que é específico nos preceitos éticos do juiz. Como por exemplo, sobre o
merecimento, a partir observância dos critérios de presteza e segurança no
exercício da jurisdição e da freqüência e aproveitamento, pelo juiz, em cursos
reconhecidamente em aperfeiçoamento.
E sobre a ética profissional do juiz, Nanni113, explana que:
A lei elenca os deveres básicos do juiz, de atuar ou de comportamento, sem entretanto esgotá-lo, por si só. A relevância cabe ao juiz moderno no exercício de suas atividades, pautado por um modo de conduzir atrelado aos mais precípuos princípios de áreas de atuação, seja no Poder Público ou não.
Neste entendimento, o juiz no desenvolvimento de suas
atividades exerce poderes com aplicação estritamente vinculada à função
jurisdicional, ou ao processo, que é seu instrumento de trabalho, agindo assim
eticamente no dever de sua função.
Portanto, antes mesmo que se fale em responsabilidade do
juiz, é exigido dele um comportamento ético, sujeito a um atuar deontológico114.
Segundo os padrões da Deontologia da Magistratura, que
Lazzarini, citado por Nanni115 conceitua:
113 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 162. 114 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.163.
39
[...] como um conjunto de regras de conduta dos magistrados, necessárias ao pleno desempenho ético de sua atividade profissional, de modo a zelar não só pelo seu bom nome e reputação, como também da instituição a que serve, no seu múnus estatal de distribuir a Justiça na realização do bem comum.
Neste entendimento, a ética dos magistrados exige
celebridade na prestação jurisdicional, visando, sobretudo, atender os reclamos à
sociedade imposta ao nosso judiciário brasileiro.
Ainda sobre a ética do juiz, Nanni116 explica:
A integra-se a uma carreira, o juiz assume o compromisso de se portar de acordo com inúmeras posturas disseminadas nos códigos, nos regimentos e nos comandos correcionais, adotando um estatuto ético não inteiramente codificado, mas não menos cogente.
Neste sentido, o juiz está alçado a tal altura na ordem social,
que a sua atividade científica pode dar o tom dessa mesma ordem. E pode fazê-lo
porque o seu desempenho decide a vida das sociedades, não apenas nas
relações entre os particulares, mas também, entre o estado, e o que é primordial,
dá à diretriz da cidadania na interpretação da lei e do estado soberano, no mundo
globalizado, enquanto particulariza a ordem jurídica nacional, tendo por base a
interpretação constitucional.
2.7 DEVERES DO JUIZ
O Juiz possui o dever á prestação jurisdicional, ou seja, tem
o dever de processar e decidir as causas que lhe são trazidas.
A respeito dos deveres do juiz, Santos117 leciona:
115 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.163. 116 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 163-164. 117 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341.
40
Assim, dever do juiz é usar dos seus poderes, movimentando a relação processual e, desde que regular, decidir da ação e do mérito, não lhe sendo lícito, como já dissemos, eximir-se de proferir despachos ou sentenças, sob pretexto de lacuna ou obscuridade da lei (Cód. Proc. Civil, art. 126).
Neste entendimento, o autor argumenta sobre o artigo 126
do CPC, em que o juiz não pode deixar de pronunciar a sentença onde á falhas
na lei.
Ademais, os deveres do juiz estão expressos na
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em seu artigo 93118, em
seus principais incisos VII, IX e X, e na Lei Orgânica da Magistratura Nacional
está previsto no artigo 35119. O juiz também tem o dever de respeitar os prazos
para despachos e sentenças, pois como já foi citado, o artigo 125, inciso II, do
CPC, prevê que o magistrado tem o dever de velar pela rápida solução do litígio e
o dever de não recusar, omitir ou retardar providências que deva ordenar de ofício
ou a requerimento da parte conforme o artigo 133, inciso II do CPC.
O Código de Processo Civil, também se destacam outras
disposições relativas ao dever do juiz, que deve obedecer aos prazos legalmente
118 Art. 93 – Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...), VII – o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal; IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros. 119 Art. 35 - São deveres do magistrado: I - Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os atos de ofício; II - não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar; III - determinar as providências necessárias para que os atos processuais se realizem nos prazos legais; IV - tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público, os advogados, as testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, e atender aos que o procurarem, a qualquer momento, quanto se trate de providência que reclame e possibilite solução de urgência. V - residir na sede da Comarca salvo autorização do órgão disciplinar a que estiver subordinado; VI - comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a sessão, e não se ausentar injustificadamente antes de seu término; VIl - exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente no que se refere à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja reclamação das partes; VIII - manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.
41
impostos para pronunciar-se conforme o artigo 189120 em seus incisos I e II, do
CPC, e sob pena de sanções disciplinares está discriminado no artigo 198121 do
CPC.
Enfim, o rol dos deveres é extenso, de forma geral,
basicamente, os deveres dos magistrados estão descritos no artigo 35 da Lei
Orgânica da Magistratura Nacional, como já foi citado anteriormente.
Entretanto, muitos desses deveres, além de relacionados ao
juiz, expressam verdadeiras regras de conduta. O juiz, mais do que qualquer
outro agente estatal, está vinculado exclusivamente aos seus deveres, regras de
conduta e regras éticas, pois decorrem de um encargo natural da função
desempenhada por ele exercida.
Após a realização desta breve explanação sobre os deveres
do juiz, necessário se faz o estudo sobre as garantias conferidas aos
magistrados, as quais propiciam a independência da função jurisdicional.
2.8 DAS GARANTIAS DO JUIZ
Para que os Juízes possam manter sua independência e
exercer sua função jurisdicional com dignidade, imparcialidade e desvinculada de
qualquer outro órgão, são revestidos de garantias, nas quais se destacam: 1)
vitaliciedade; 2) inamovibilidade; e 3) irredutibilidade dos subsídios.
2.8.1 Vitaliciedade
Sendo esta a primeira garantia, serve essencialmente para
conservar o Magistrado no cargo. Não é um privilégio, e sim, uma condição para o
exercício da função judicante que exige condições especiais definitivamente no
120 Art. 189 – O juiz proferirá: I – os despachos de expediente, no prazo de 2 (dois) dias; II – as decisões, no prazo de 10 (dez) dias. 121 Art. 198 – Qualquer das partes ou o órgão do Ministério Público poderá representar ao presidente do Tribunal de Justiça contra o juiz que excedeu os prazos previstos em lei. Distribuída a representação ao órgão competente, instaurar-se-á procedimento para apuração da responsabilidade. O relator, conforme as circunstâncias, poderá avocar os autos em que ocorreu excesso de prazo, designando outro juiz para decidir a causa.
42
cargo. Não é prerrogativa da pessoa do juiz e sim da instituição judiciária, ou seja,
do cargo que aquela pessoa exerce.
A Vitaliciedade visa assegurar a independência do juiz e
está definida no artigo 95, em seu inciso I da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, in verbis:
Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:
I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda de cargo nesse período, de deliberação, do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado.
O legislador argumenta sobre um período de estágio depois
de aprovado em concurso da Magistratura, trata-se de um período de
comprovação da sua adequação ao cargo, levando-se em consideração
qualidades morais e atributivas. Esse estágio é de dois anos de exercício, em
primeira instância, após esse período, o Magistrado que continuar no cargo, já
será investido de vitaliciedade. Nos Tribunais, a regra é diferente, a vitaliciedade
ocorre com a posse.
O juiz vitalício, ou seja, titular do cargo por toda a vida, só
pode ser afastado por vontade própria e apenas o perderá por sentença judiciária,
com trânsito em julgado, ou aposentadoria compulsória ou disponibilidade.
Assim, os Juízes tornam-se vitalícios as quais se destacam:
a) A partir da posse, se já não o eram: os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, os Juízes dos
Tribunais Regionais Federais, os Ministros e Juízes togados do Tribunal Superior
do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho, os Ministros do Superior
Tribunal Militar, os desembargadores dos Tribunais de Justiça, e os Juízes de
Segunda instância dos Tribunais Militares dos Estados;
43
b) Após dois anos de exercício: Juízes togados de primeiro
grau, dependendo a perda do cargo, neste período, de deliberação do tribunal a
que estiverem vinculados.
2.8.2 Inamovibilidade
Esta segunda garantia do juiz está elencado no artigo 95,
em seu inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que
assim dispõe:
Art. 95. [...]
II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público,
na forma do art. 93, VIII.
Neste entendimento, o legislador ressalva que essa garantia
refere-se em não poder o Juiz ser removido de um lugar para o outro, exceto nas
hipóteses de promoção e remoção, e, assim mesmo, se ele estiver de acordo e
desejar tal mudança. Para promoção por merecimento, existem condições
impostas no artigo 93, inciso II, letra “b”, da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, sendo 2 (dois) anos de exercício na respectiva entrância e
integrar a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, e o juiz que figurar
por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em listas de promoção terá
direito a promoção.
Quando se tratar de promoção por antiguidade, contada na
entrância, decidirá preliminarmente o tribunal, secretamente, se deverá ser
promovido o juiz mais antigo.
Não há restrições, para que os pedidos de Juízes de mesma
entrância se removam de uma para outra. Note-se que as Comarcas ou Varas
deverão ser de mesma entrância, e sempre a pedido do juiz interessado.
Importante notar para este trabalho, que em casos excepcionais, admite-se que
um Juiz de Direito e até mesmo um Juiz do Tribunal ser posto em disponibilidade,
44
isto está descrito no artigo 93, VIII da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, que, in verbis:
Art. 93. [...]
VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do
magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto de dois terços do respectivo tribunal, assegurada ampla defesa.
Neste sentido o legislador argumenta que, quando um Juiz
de Direito não estiver indo de acordo com o que se exige dele era sua Comarca
ou Vara, praticando atos não recomendáveis, o Tribunal, secretamente,
assegurando o direito de defesa, decidirá por voto de maioria absoluta sobre sua
remoção ou disponibilidade. Deve-se notar que todos esses atos visam interesse
público. Se os atos praticados por tais Juízes revelarem sua incapacidade moral
ou se tratar de infração que enseja a perda do cargo, será destituído da função de
juiz após processo com ampla defesa.
2.8.3 Irredutibilidade de subsídios
A irredutibilidade de subsídios é a terceira e ultima garantia
do juiz, e está previsto também no artigo 95, em seu inciso III da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 que assim dispõe:
Art. 95. [...]
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos
art. 37, X e XI, 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I.
Esta garantia protege o magistrado da redução de seus
vencimentos (padrão e vantagens), nem mesmo em virtude de medida geral.
Essa garantia é conferida aos Juízes, assim, o Estado pode diminuir os subsídios
de todos os cargos públicos, menos dos Juízes, porém, a Constituição determina
que fiquem sujeitos aos limites impostos no artigo 37 e ao imposto de renda,
como qualquer contribuinte, com a aplicação do disposto nos artigos.
45
Entretanto, a remuneração de um Juiz deve ser digna, uma
vez observada a importância e o prestígio social dessa função. O Magistrado
deve ter condições de uma vida, que lhe permita viver com um mínimo de
dignidade.
Além das garantias acima mencionadas, a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, estabeleceu em seu parágrafo único do
artigo 95, algumas proibições ao juiz, chamadas também de garantias às partes, e
seu objetivo é preservar a imparcialidade do juiz.
Segue a redação do citado artigo em seu parágrafo único:
Art. 95. [...]
Parágrafo único - Aos juízes é vedado:
I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação
em processo;
III – dedicar-se à atividade político-partidária;
IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.
A respeito dos incisos IV e V do parágrafo acima citado,
foram incluídos pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004, aumentando ainda
mais o rol de vedações anteriormente estabelecido.
Após as considerações colacionadas neste segundo capítulo
sobre a Função Jurisdicional, passa-se a principal abordagem desta monografia
referente “A responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional”.
46
CAPÍTULO 3
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATO JURISD ICIONAL
No Capítulo anterior, observou-se que no direito pátrio as
funções de administrar, legislar e jurisdicionar são constitucionalmente atribuídas
ao Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, respectivamente.
Estes órgãos se utilizam de pessoas físicas regularmente
constituídas para tanto, são os chamados “agentes públicos”122. Estes por sua vez
exteriorizam as funções do Estado pela prática de atos.
Ao tempo em que esta atividade estatal resulta em dano,
prejudicando terceiros, nasce aqui a discussão quanto à possibilidade de
responsabilização do Estado por atos jurisdicionais.
Atualmente, existem divergências doutrinárias e
jurisprudenciais123 no sentido de não admitirem a Responsabilidade Civil do
Estado por atos jurisdicionais, à doutrina pátria vem adotando a corrente a qual
reconhece a incidência da responsabilidade do Poder Público em decorrência de
atos dos juízes no exercício de suas funções jurisdicionais, porém sempre em
caráter excepcional. Quanto ao tema, uma das correntes nega a viabilidade de
122 “[...] Pessoas físicas que sob qualquer liame jurídico e algumas vezes sem ele prestam serviços ao Estado ou realizam atividades que estão sob sua responsabilidade”. GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo . 9ª ed., São Paulo: 2004, p. 924. 123 Neste entendimento, acórdãos publicados nas RTJ 39/190, 56/273, 59/782, 94/423 etc.
47
responsabilizar o Estado por atos jurisdicionais124, embora se encontre
gradativamente sendo superada.
Essas corrente doutrinárias que ainda defendem a
irresponsabilidade pelo exercício da Atividade Jurisdicional, se fundamentam em
várias conceituações alegando inexistir Responsabilidade Civil do Estado, pois
isso ofende a soberania estatal, e sobre este assunto, Laspro125, argumenta: “[...]
a jurisdição, como atividade essencial do Estado, é produto de sua soberania, não
se podendo criar uma situação de responsabilização daquele em razão de
eventual prejuízo causado”.
Diante da irresponsabilidade do Estado, Di Pietro126, traz os
seguintes argumentos:
[...] os atos do Poder Judiciário (órgão soberano) não podem ensejar responsabilidade ao Estado. Além disso, os seus magistrados possuiriam independência funcional, sendo que a indenização por dano decorrente de decisão judicial infringiria a regra da imutabilidade da coisa julgada.
Neste entendimento o último argumento, induziria o
reconhecimento de que a decisão foi proferida com violação a lei. Serrano
Junior127, ressalva que: “[...] faz alusão à irresponsabilidade estatal ante a
potencialidade de se violar a independência dos magistrados no exercício da
judicatura”.
Laspro128, todavia contesta esse posicionamento, alegando
que a garantia de:
124 “Assim se domina todo ato emanado de autoridade judiciária, consistente de despacho, decisão interlocutória ou sentença. Entende-se, também, como ato de julgar”. Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.97. 125 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 101. 126 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo . 19 ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 74. 127 SERRANO JUNIOR, Odoné.Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 125. 128 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 122.
48
[...] independência externa e interna dos juízes, bem como criticando a potencialização que é feita pela doutrina a essas garantias, esquecendo que a principal delas é a moral e esta deve ser inerente ao juiz que, se a tiver, saberá garantir as demais.
Ademais, acrescenta que a independência e a
responsabilidade, ao invés de repelirem, se complementam, visto que, através da
responsabilização, o juiz estaria se utilizando da independência como garantia
não de pessoas, mas dos próprios jurisdicionados.
Para Cahali129: “[...] a responsabilidade civil do Estado como
sendo a obrigação legal, que lhe é imposta, de ressarcir os danos causados a
terceiros por suas atividades”.
Após as considerações acima, mostra-se oportuna à
referência ao magistério de Cretella Júnior130, que sintetiza a matéria dizendo:
a) responsabilidade do Estado em razão da atividade por atos jurisdicionais é espécie do gênero responsabilidade do Estado, por atos decorrentes do serviço público; b) as funções do Estado são funções públicas, exercendo pelos três poderes; c) o magistrado é órgão do Estado; ao agir não age em seu nome, mas em nome do Estado, do qual é representante; d) o serviço público judiciário pode causar Dano às partes que vão a juízo pleitear direitos, propondo ou contestando ações (cível) ou na qualidade de réus (crime); e) o julgamento, quer por crime, quer no cível, pode consubstanciar-se Erro Judiciário, motivado pela facilidade humana na decisão; f) por meios dos institutos rescisórios e revisionista é possível se o Erro Judiciário, de acordo com as formas e modos que a lei prescrever, mas se o equívoco já produziu Danos, cabe ao Estado o dever de repará-los; g) voluntário ou involuntário, o erro de conseqüências Danosas exige reparação, respondendo o Estado civilmente pelos prejuízos causados.
129 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado e o Erro Judiciári o. São Paulo, Síntese Editora, 1999, p.09. 130 CRETELLA JÚNIOR, José. O Estado e a Obrigação de Indenizar . São Paulo. Saraiva, 1980, p. 95.
49
Antes da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, tratava-se apenas da Responsabilidade Civil do Estado, através de atos
praticados por seus funcionários públicos, e o juiz não era responsabilizado,
porque não era considerado um funcionário público.
Outro posicionamento de Serrano Junior131, que refuta a
responsabilidade civil do Estado seria o magistrado não sendo considerado
funcionário público.
Este fator já foi superado, existe uma norma constitucional
no artigo 37, §6º, que trata da responsabilidade civil do Estado praticado pelos
seus agentes, ou seja, pelos magistrados132, que prestam serviços aos Estados
inclusive os órgãos judiciários.
Por outra linha, ao cuidar da Atividade Jurisdicional133,
Laspro134, enfatiza:
[...], é um serviço político e os juízes, seja considerando-os como servidores, seja como agentes públicos, estão abrangidos pelas condições exigidas para a responsabilização objetiva do Estado, em conformidade com o §6º do artigo 37 da Constituição Federal.
Assim sendo, no que tange à Responsabilidade Civil do
Estado no contexto jurisdicional, constata-se que o Ordenamento Jurídico
Brasileiro é irradiado pelo artigo 37, §6º, da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, notadamente, ao considerar o Magistrado um Agente Público e
aceitar seu erro judiciário.
No mesmo raciocínio, encabeça esta lista, o já mencionado
artigo 37, §6º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, pois
131 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.125. 132 Nesta pesquisa o termo magistrado é utilizado em seu sentido estrito, sendo: “Vocábulo tecnicamente empregado para designar o juiz, ou seja, a autoridade judiciária, a que se comete julgar as questões jurídicas”. Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p. 508. 133 Atividade Jurisdicional neste contexto, serviços desempenhados por pessoas que possuem jurisdição como os magistrados. 134 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 98.
50
este, segundo Serrano Junior135: “[...] expressa, de forma, abrangente, a
responsabilidade estatal, assegurando o direito de regresso do Estado contra o
Agente Público autor da conduta danosa, nos casos de dolo ou culpa”.
Ainda na Responsabilidade Civil do Estado, no que tange o
Ato Jurisdicional, o preceito do artigo 5º, em seu inciso LXXV da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988136, reza:
Art. 5º. [...]
LXXV – O Estado indenizará o condenado por Erro Judiciário,
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.
Na esfera cível, consagrou-se também no artigo 43137 do
Código Civil138, a regra da Responsabilidade civil objetiva do Estado.
O texto legal do artigo 43 do Código Civil Brasileiro
menciona que “As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente
responsáveis [...]”, já a norma constitucional no seu mencionado artigo 37, §6º,
preconiza que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros. Observa-se depois que na Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988, a responsabilidade civil objetiva do
Estado encontra-se melhor evidenciada.
135 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 77. 136 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 10. 137 Preconiza o artigo 43 do Código Civil: “Art. 43 – As pessoas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo”. 138 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 147.
51
Destarte, após apresentados alguns posicionamentos sobre
o assunto verifica-se que existe a Responsabilidade Civil do Estado por atos
judiciais, e portanto está em conformidade com o artigo 37, §6º da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.
3.1.1 Responsabilidade do Juiz
A responsabilidade civil do juiz no exercício da função
jurisdicional distancia-se da responsabilidade dos demais agentes públicos, visto
que possui disciplina especial.
Por essa razão, Nanni139, dispõe seus pensamentos a
respeito:
Enquanto os agentes públicos em geral são civilmente responsáveis em caso de dolo ou culpa, a responsabilidade civil do juiz decorre daquelas hipóteses previstas em lei. Adentra-se e demonstra-se as facetas que circundam a responsabilização do juiz. O primeiro aspecto a ser observado é que o juiz não pode ser imune, devendo responder pelos danos causados. Entretanto, não se pode ignorar que a imunidade do juiz é defendida pela doutrina, como forma de preservar sua independência e liberdade de julgamento.
Assim, a responsabilidade do juiz é diferenciar as atividades
praticadas no exercício de suas funções, pois como representante do Poder
Judiciário, pode ser autônomo ou independente, e tem a seu cargo a prática de
atos jurisdicionais.
No entanto, Pereira citado por Nanni140, conclui que: “O fato
jurisdicional regular não gera responsabilidade civil do juiz, e, portanto a ele é
imune o Estado”.
139 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.210. 140 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.211.
52
Guimarães, citado por Nanni141, contraria o entendimento de
Pereira e defende:
Em princípio, não são os juízes responsáveis pelos danos que decisões erradas acaso venham a produzir. Com amarga finura já se disse que o poder de julgar envolve o de praticar injustiças. Pretendem, todavia, alguns autores que o magistrado, em sendo responsável pelos seus atos, se elevaria em prestígio e independência. As suas decisões teriam mais força e ofereceriam, à crítica, flanco menos vulnerável. Talvez assim o fosse. Razões mais fortes, porém, aconselham a irresponsabilidade. Primeiramente, uma de política social: porque são homens. Se obrigados a ressarcir, de seu bolso, os na sua liberdade de apreciação dos fatos e aplicação do Direito. Nem se coadunaria com a dignidade do magistrado, coagi-lo, a descer à arena, após a sentença, para discutir, como parte, o acerto de suas decisões.
Nem todo juiz tem a mesma conduta de aplicar seus atos.
Há verdadeiros juizes, que levam a sua conduta ao pé da letra, e são verdadeiros
representantes do Estado a aplicar a tutela jurisdicional prestada na sua função
de representante de um dos três poderes.
Assim, para Alvin, citado por Nanni142: “[...] a intenção
permanente e fundamental do juiz é aplicar a lei, exclusivamente, e jamais a de
lesar direitos, inexistindo, ou devendo inexistir, outra motivação e outro fim, no
agir normal do juiz”.
O Código de Processo Civil, por sua vez, enumera em seu
artigo 133, caput e incisos, as hipóteses da responsabilidade do juiz no exercício
de sua função. Consoante dispõe o texto legal, o juiz poderá ser responsabilizado
quando agir com dolo ou fraude (inciso I), ou quando recusar, omitir ou retardar,
sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da
parte (inciso II).
141 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.211. 142 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 211.
53
O caput do artigo determina a responsabilidade do juiz por
perdas e danos quando cometer uma das condutas tipificadas em seus incisos,
consideradas como causas faltosas143.
Em contrapartida pode-se dizer, “[...] que o juiz tem o dever
de, no exercício de suas funções, não proceder com dolo ou fraude e também tem
o dever de não recusar, omitir ou retardar as providências inerentes à sua função
ou requeridas pela parte” 144.
Neste entendimento, se descumprir um desses deveres,
responde pelo dano causado. Assim, no inciso I do artigo 133 do CPC, conforme
o exemplo de Nanni145, responde por dolo ou fraude se, “consumar um ato
mediante dolo”. E no inciso II do mesmo artigo, onde discrimina recusar, omitir ou
retardar, se o agente infringir uma dessas hipóteses, onde Nanni146, da seu
exemplo, “retardamento do dever de ofício, [...], quando se poderá dizer, mutatis
mutandis147, que ocorre mora do juiz, frente ao retardamento na execução da
obrigação, passível de purgação”.
As primeiras definições a respeito da responsabilidade civil
do juiz encontram-se disponibilizadas no inciso I, do art. 133 do Código de
Processo Civil, onde menciona que se o juiz proceder com dolo ou fraude no
exercício de sua atividade jurisdicional responde por esses atos praticados.
Entretanto, o inciso II do artigo 133 do Código de Processo
Civil, “prevê outra forma passível de responsabilização do juiz, recusando-se,
143 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 144 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 145 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 146 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223-224. 147 Entende-se por Mutatis Mutandis:“Locução latina empregada com as significação de que se deve mudar o que é para mudar”. Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.545.
54
omitindo-se ou retardando, sem justo motivo, providência que deva ordenar de
ofício ou a requerimento da parte” 148.
No que se refere ao parágrafo único do Artigo 133 do CPC,
Nanni explica que: “[...] a configuração dessas hipóteses ao prévio requerimento
ao juiz, por meio do escrivão, para que determine a providência, conferindo-lhe
um prazo de dez dias para tanto”149.
Neste sentido, Saad150, esclarece que:
[...] quando o artigo 133, do Código de Processo Civil, aponta a responsabilidade civil do juiz pelos danos decorrentes de seus atos, está reafirmando a responsabilidade do Estado, pois este e a magistratura são um todo, sendo o magistrado instrumento da execução na prestação jurisdicional.
Assim, o autor discrimina que a responsabilidade do juiz é
passível de erros, contudo, em razão da função que exerce pode vir a prejudicar a
terceiros com seus erros, e, ainda em razão desta sua função, deve procurar ao
máximo evitá-los, e se mesmo assim ocorrerem, deverá ser penalizado
civilmente, e, se conforme o caso, ser responsabilizado até mesmo penalmente.
Cabe salientar que o artigo 49 da Lei Orgânica da
Magistratura Nacional – LOMAN é idêntica à contida no artigo 133 do Código de
Processo Civil corroborando a responsabilidade civil do Estado, no âmbito
jurisdicional.
A responsabilidade civil dos magistrados não constitui uma
desmoralização da classe, mas, ao inverso, as possibilidades de se punir aqueles
que se aproveitam de sua condição como julgador para desprezarem a ordem
legal.
148 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 149 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 150 SAAD, Renan Miguel. O Ato Ilícito e a Responsabilidade Civil do Estado . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1994. p. 233.
55
3.1.2 Responsabilidades previstas na Lei Orgânica d a Magistratura Nacional
– LOMAN
Nesse contexto, as normas que regulam o exercício da
magistratura é a Lei Complementar nº 35 de 14 de Março de 1979, conhecida
como LOMAN, Lei Orgânica da Magistratura Nacional, dispõe sobre os deveres e
a responsabilidade civil dos magistrados.
Assim dispõe a Lei Complementar nº 35/79, no seu artigo
49, incisos I e II:
Art. 49. Responderá por perdas e danos o magistrado, quando:
I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude.
II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que
deva ordenar de ofício, ou a requerimento das partes.
Esta lei reproduziu tal enunciado em seu artigo 49, e incisos,
estendendo sua incidência também aos atos praticados nas demais jurisdições
como a criminal, eleitoral, trabalhista e militar. Esta lei que também é o estatuto na
magistratura nacional, também regula a aposentadoria do juiz por negligência e
incapacitação para o serviço conforme o artigo 56, inciso III151, da mesma lei.
Neste entendimento, o inciso II da Lei complementar nº
35/49, age com dolo o juiz, no exercício de sua função, quando pratica ato que
sabe indevido e assim o fez com o fim de violar a lei e causar direta e
indiretamente dano à parte.
Neste caso, a conduta do juiz, por exemplo, pode ser
suficiente para produzir o resultado danoso, através da sentença ou de outro ato
no processo. Pode acontecer se bem com menor freqüência, a espécie de dolo
151Art. 56 - O Conselho Nacional da Magistratura poderá determinar a aposentadoria, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, do magistrado: I - manifestadamente negligente no cumprimento dos deveres do cargo; Il - de procedimento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções; III - de escassa ou insuficiente capacidade de trabalho, ou cujo proceder funcional seja incompatível com o bom desempenho das atividades do Poder Judiciário.
56
consistente em induzir maliciosamente alguém à prática de ato que o prejudica na
mediação de um litígio, induzindo maliciosamente a parte a celebrar acordo
prejudicial.
O artigo 49 da LOMAN, “é reprodução na essência, com
pequena alteração do art. 133, do Código de Processo Civil, razão pela qual todas
as considerações externadas ao disposto no código processual são a esse
extensíveis”152.
Sobre o caso em menção, Carvalho Neto153, lembra que:
“[...] se houve dolo ou culpa por parte do agente, a pessoa jurídica terá contra ele
ação de regresso, sub-rogando-se no direito da vítima de cobrar a indenização
paga”.
Meirelles154 menciona ainda que: “[...] enquanto que para
administração a responsabilidade independe da culpa, para o servidor a
responsabilidade depende da culpa: aquela é objetiva, esta é subjetiva e se apura
pelos critérios gerais do Código Civil”.
Neste raciocínio, considerando-se que o juiz é um agente do
estado, este deve ser responsabilizado pelos seus atos danosos a que der causa
por dolo ou culpa se observados no artigo 133 do Código de Processo Civil e o
artigo 49 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN.
Corroborando o exposto, Nunes155 pondera que:
Primeiramente, só poderá aplicar-se a norma constitucional (art. 37, §6º, da CRFB/88) se os atos do Magistrado forem considerados abusivos ou eivados de alguma ilegalidade, pois
152 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.246. 153 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade do Estado por Atos dos seus Agente s. São Paulo: 2000, p. 152. 154 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro . 20ª ed. São Paulo, Malheiros. 1995. 155 NUNES, Rômulo José Ferreira. Responsabilidade do Estado por Atos Jurisdicionais . São Paulo: LTr., 1999, p. 136.
57
suas simples omissões ou comissões praticadas conforme a lei, não poderiam ser consideradas danosas.
Pertinente anotar também o que dispõe o artigo 37, §6º da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, dispõe:
Art. 37. [...]
§6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Neste entendimento, o legislador ressalva que só pode
aplicar o §6º do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, se os atos dos juízes forem considerados abusivos ou demonstrados
alguma ilegalidade, se comprovada a sua atitude dolosa ou culposa.
3.1.3 Possibilidades de Responsabilização perante o Conselho Nacional de
Justiça – CNJ
O Conselho Nacional de Justiça – CNJ, foi criado e instituído
pela Emenda Constitucional nº 45 em 31 de Dezembro de 2004, sendo composta
por 15 conselheiros e presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, assim
descrito no artigo 103-B, da Constituição da República Federativa do Brasil. Foi
formalmente instalado no dia 14 de Junho de 2005.
Trata-se de Órgão Administrativo auxiliar do Poder Judiciário
encontrando-se na mesma linha da hierarquia do Supremo Tribunal Federal.
Com fulcro no artigo 103-B, §4º, da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988156, o Conselho Nacional de Justiça, tem
as seguintes atribuições:
156 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009, p. 41.
58
Art. 103-B. [...]
§4º. Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura.
Neste sentido, o legislador explica que é de competência ao
CNJ, a responsabilidade de controlar a administração, o financeiro do Poder
Judiciário e o cumprimento funcional dos juízes.
O Conselho Nacional de Justiça surgiu em virtude das
pressões dos Poderes Executivo e Legislativo, bem como da sociedade civil, uma
fiscalização das atividades administrativa e financeira do Poder Judiciário.
A missão do CNJ é, “contribuir para que a prestação
jurisprudencial seja realizada com Moralidade, Eficiência e Efetividade em
benefício da sociedade”157.
A visão do CNJ é “ser um instrumento efetivo de
desenvolvimento do Poder Judiciário”158.
As Diretrizes, conforme o Conselho Nacional de Justiça são
as seguintes: “Em linhas gerais, o trabalho do Conselho Nacional de Justiça
compreende”159:
� Planejamento estratégico e proposição de políticas judiciárias;
� Modernização tecnológica do judiciário;
� Ampliação do acesso à justiça, pacificação e responsabilidade
social;
� Garantia de efetivo as liberdades públicas e execuções penais.
157 www.cnj.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8850&Itemid=1052 158 www.cnj.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8850&Itemid=1052 159 www.cnj.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8850&Itemid=1052
59
A Corregedoria Nacional de Justiça é órgão responsável
pelo recebimento e apuração das reclamações disciplinares, podendo determinar
instauração de sindicâncias, correições ou inspeções de qualquer Tribunal, por
iniciativa própria ou requerimento do Plenário.
Compete ainda, à Corregedoria do CNJ, avocar processos
disciplinares que se encontra em tramite, em qualquer Corregedoria-Geral dos
Tribunais, o país e expedir instruções e provimentos.
3.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO JURI SDICIONAL
Com o escopo de prover um melhor entendimento acerca do
tema, se fará neste primeiro item uma breve abordagem acerca da
Responsabilidade Civil do Estado por Ato Jurisdicional, onde trás consigo
espécies de responsabilidade.
E para melhor entender, Alves160, mostra quatro caminhos
que podem ser tomados quanto a esta responsabilização:
a) a responsabilidade estatal exclusiva, dado que os juízes são órgãos integrantes do Estado além do que, monopolizando a prestação da tutela jurisdicional, assumira o Estado os riscos inerentes à deficiente ou insuficiente atuação de seus órgãos, b) a responsabilidade somente dos juízes, e não do Estado, c) a responsabilidade, que somente na hipótese de falta dos juízes poderia exercer pretensão regressiva contra eles, e d) a responsabilidade simultânea do Estado e dos juízes.
Diante dos fatos expostos, tanto o Estado como o Juiz
respondem civilmente pelos atos jurisdicionais.
Sobre a abordagem da Responsabilidade Civil do Juiz,
podemos encontrar ainda a responsabilidade política.
O juiz é um participante político, o que não significa
partidário, devendo observar-se que a participação política é um direito e dever de 160 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 68.
60
todo cidadão, na qual está inserido o juiz. Ocorre que a admissão de
responsabilidade política de juízes é mais coerente nos sistemas nos quais os
juízes cumprem funções expressamente políticas, no sentido de serem eleitos.
A responsabilidade política subdivide-se em duas espécies
sendo:
A primeira forma de responsabilidade política questiona o juiz em sua atividade jurisdicional, exigindo que tenha um posicionamento político, não limitando a atividade jurisdicional à mera aplicação da lei, mas sim que corresponda a uma vontade política a ser atingida161.
Neste sentido, a primeira espécie, questiona o juiz em sua
atividade exigindo dele uma posição e não pondo limites na sua prestação
jurisdicional, assim o artigo 37, §6º da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, questiona a ação de regresso do juiz quando age com dolo ou
culpa.
No que se refere à segunda espécie, Laspro162 ressalva:
A segunda resulta do controle dos juízes, através de um outro órgão do Estado, que não tem natureza jurisdicional e julga a violação dos deveres funcionais, bem como o comportamento pessoal.
A segunda espécie não tem muito que falar, haverá sempre
a Responsabilidade Civil do Estado, pois esta é objetiva e o juiz agindo com
culpa, dolo ou frade, cabe a este a ser responsabilizado.
Portanto, “a responsabilidade do Estado está consagrada no
artigo 37, §6º, e somente na hipótese de dolo ou culpa de seus agentes, -
portanto, também os juízes – pode exercer pretensão regressiva contra eles”163.
161 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 137. 162 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 137. 163 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 69.
61
3.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTAD O POR ATO
JURISDICIONAL
Levando-se em conta que a responsabilidade civil do Estado
é objetiva, para a sua incidência em relação aos atos jurisdicionais, há que se
observar os seguintes pressupostos: dano, nexo de causalidade e qualidade do
agente que praticou o ato.
3.3.1 Dano Causado
Sendo o dano um dos pressupostos da responsabilidade
civil do Estado, também se mostra como o principal elemento para a existência da
Responsabilidade Civil e do dever de indenizar.
Sob esse prisma Laspro164, leciona que: ”Na atividade
jurisdicional, existindo um litígio entre as partes, é natural que, no momento em
que o juiz decide a favor do autor ou do réu, a parte que sucumbiu entenda que
sofreu um prejuízo, que está sendo injustiçada”.
Analisando o entendimento de Lapro, verifica-se que na
atividade jurisdicional quando se estiver diante de um litígio entre as partes, é
natural que na oportunidade em que o juiz decidir em favor do autor ou do réu, a
parte sucumbente sinta que sofreu um prejuízo.
O dano conforme menciona Saad165: “[...] é o prejuízo sofrido
pela vítima, sendo este elemento objetivo do ato ilícito, ocasionado pela
diminuição de um bem jurídico qualquer do lesado”.
Ainda assim, para que um dano seja ressarcível, é
necessário que, “por ação ou omissão do juiz, tenha a parte sofrido uma violação
de seu direito subjetivo, que não possa ser revertida no próprio processo” 166.
164 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 174. 165 SAAD, Renan Miguel. O Ato ilícito e a Responsabilidade Civil do Estado . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1994, p. 67. 166 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 174.
62
Neste sentido, o dano somente poderá ser reconhecido
quando a decisão judicial já tiver sido realizada através da ação rescisória ou da
revisão criminal, garantindo-se assim a independência do juiz em sua função
jurisdicional.
3.3.2 Nexo de causalidade
O nexo de causalidade é o segundo pressuposto de elevada
importância para a Responsabilidade Civil.
E diante deste pressuposto, Laspro argumenta que: “[...] a
vítima deverá demonstrar a existência do chamado nexo de causalidade, isto é,
que a origem do dano está na ação do agente do Estado”167.
Ainda Laspro acrescenta: “Comprovado o nexo de
causalidade, entre a atividade jurisdicional e o dano, nasce o dever de repor o
ofendido em sua situação anterior via ressarcimento”168.
3.3.3 Qualidade do agente
Finalizando os pressupostos da Responsabilidade Civil do
Estado, temos o terceiro pressuposto no qual se refere à qualidade do agente.
Sendo assim o Estado é considerado, “[...] uma pessoa
jurídica, não tem vontade própria do ponto de vista fático”169.
Neste sentido, a responsabilidade civil surgirá do ato
praticado por um representante do Estado, independentemente de sua
qualificação no órgão público.
167 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 77. 168 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p.176. 169 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 80.
63
3.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO
Há que se salientar, outrossim, que, “[...] dentro de um
sistema que adota a responsabilidade objetiva do Estado, este somente não será
responsabilizado, total ou parcialmente, se for rompido o nexo de causalidade”170.
Neste entendimento, trata-se de excludentes de
responsabilidade, as quais têm o poder de romper o nexo de causalidade.
Pelo ensinamento de Laspro171, podem-se relatar várias
excludentes da responsabilidade do Estado, dentre as quais se destacam: a
Culpa da Vítima, a Força Maior e caso fortuito, o Estado de Necessidade e o Fato
de Terceiro.
3.4.1 Culpa da Vítima
Sobre a primeira excludente da Responsabilidade do
Estado, é indispensável se verificar o fenômeno das concausas. “Isso significa
que precisamos examinar se a culpa da vítima constitui a causa fundamental e
exclusiva do dano ou se, por algum modo, subsiste o nexo causal com ação do
agente estatal” 172.
Nesse raciocínio Laspro173, ressalva:
Dessa maneira, sempre que o dano não for resultado somente da culpa da vítima, mas também da ação do agente estatal, não temos a exclusão completa do dever de ressarcir, mas sim, uma redução do valor a ser pago, de modo proporcional à responsabilidade de cada um dos envolvidos.
170 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 81. 171 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 81. 172 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 83. 173 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 83.
64
Neste entendimento, o autor argumenta que sendo a culpa
exclusiva da vítima não haverá o dever de indenizar pelo Estado, mas sendo a
culpa dos dois não haverá a isenção, e sim, a redução da indenização.
Partindo desses ensinamentos, Laspro174 esclarece:
Ainda, deve-se recorrer a uma valorização proporcional das causas do dano, para concluir se efetivamente a responsabilidade é exclusiva da própria vítima ou, de certa forma, existiu uma concorrência de culpas e, portanto, o Estado ou o juiz devam responder na proporção de seu ato.
Neste sentido, tanto o Estado quanto o Juiz tem a mesma
proporcionalidade em responder por seus atos.
3.4.2 Força Maior e Caso Fortuito
Em relação a segunda excludente da responsabilidade
estatal, refere-se a força maior e caso fortuito.
Laspro175 realiza as seguintes considerações a respeito:
Como se pode ver, a força maior é individualizada na condição de fato externo, razão pela qual alheia ao ato ou omissão do agente estatal. Por esse motivo, quando ocorre, rompe-se o nexo causal e exclui-se a responsabilidade objetiva do Estado.
Laspro176, ainda argumenta:
De fato, somente vislumbramos a aplicação dessa excludente naquelas situações em que o dano foi produzido pela ausência da atividade jurisdicional ou seu exercício defeituoso, em razão de um fato estranho, completamente imprevisível. Em outras palavras, não teremos a aplicação dessa excludente nas hipóteses de erro judiciário.
174 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 178. 175 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 86. 176 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 186.
65
O autor explica que essa excludente, o Estado não responde
por ser um fato estranho e imprevisível, neste caso, não é considerado um erro
judiciário.
Para Gagliano177:
[...] característica básica da força maior é a sua inevitabilidade, mesmo sendo a sua causa conhecida (um terremoto, por exemplo, que pode ser previsto pelos cientistas); ao passo que o caso fortuito, por sua vez, tem a sua nota distintiva na sua imprevisibilidade, segundo os parâmetros do homem médio. Nessa última hipótese, portanto a ocorrência repentina e até então desconhecida do evento atinge a parte incauta, impossibilitando o cumprimento de uma obrigação (um atropelamento, um roubo).
Neste entendimento, o autor explica que a força maior,
(provocada pela natureza) pode ser previsto, mas não pode ser evitado, como por
exemplo: enchente, terremoto. Já o caso fortuito (provocada pelo homem) é
imprevisível, é atuado por uma força que não se pode evitar. Como exemplo: um
Acidente de carro, não tem como prevê que vai acontecer.
3.4.3 Estado de necessidade
Sendo esta a terceira excludente, o estado de necessidade,
conforme explica Lisboa178: “[...] é a situação em que o sujeito viola o direito
alheio, com a finalidade de remover perigo iminente de um direito seu”.
Laspro179 pontifica que: “O estado de necessidade
caracteriza-se pela ausência de responsabilidade em razão do bem maior a ser
tutelado, como própria finalidade e razão de ser do Estado”.
177 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil : abrangendo o Código Civil de 1916 e o novo Código Civil. / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 123. 178 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil : Obrigações e responsabilidade civil. 3ª ed. Ver. Atual. E ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 600. 179 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 85.
66
Assim, Laspro180 exemplifica situações em que ocorre o
estado de necessidade: “Exemplos clássicos são aquelas situações de guerra,
convulsão social, em que são causados prejuízos a indivíduos em nome da
proteção da sociedade, razão de se afastar o nexo de causalidade”.
Diante dos exemplos acima citado pelo autor, não há que se
falar em responsabilidade, pois são considerados excludentes.
3.4.4 Fato de terceiro
Finalmente a ultima excludente da Responsabilidade do
Estado que se refere o fato de terceiro, ou seja, quando o dano foi produzido por
um terceiro e não pelo agente.
Ao tratar do fato de terceiro, Venosa181 esclarece sobre o
assunto: “Terceiro é, em síntese, alguém que ocasiona o dano com sua conduta,
isentando a responsabilidade do agente indigitado pela vítima”.
Ademais, se o Estado concorreu para o dano com culpa ou
omissão estatal, nesta situação o Estado responde pelo dano cometido.
3.4.5 Vícios de consentimento
Cumpre ressaltar ademais disso, que, em sendo o ato
jurisdicional considerado um ato jurídico, também deve tratar-se como excludente
da responsabilidade do Estado os vícios de consentimento que porventura
ocorrerem, quais sejam uma dessas hipóteses como, o erro182 ou a ignorância183,
dolo184, coação185 ou violência.
180 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 85. 181 VENOSA, Silvio de Salvo. Responsabilidade Civil . 3ª ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 56. 182 No tocante ao erro é importante notar a diferença existente entre aquele erro substancial e o acidental. O erro substancial é aquele que atinge o objeto principal da relação, ou seja, sem a ocorrência o ato não se realizaria. Já o acidental envolve elemento secundário, que não é considerado determinante do ato. Somente o erro substancial vicia o ato. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p.188.
67
Laspro186 acrescenta ainda: “[...] que, ocorrendo uma dessas
hipóteses, a princípio, nem o juiz nem o Estado responderão pelos prejuízos
causados, a menos que se verifique que, de algum modo, poderiam ter evitado o
dano”.
Visto então, uma breve análise acerca dos excludentes da
responsabilidade do Estado, estuda-se a seguir, os elementos objetivos da
responsabilidade no exercício da função jurisdicional.
3.5 ELEMENTOS OBJETIVOS DA RESPONSABILIDADE NO EXER CÍCIO DA
FUNÇÃO JURISDICIONAL
Neste tópico aborda-se-á primeiramente os elementos
objetivos da responsabilidade no exercício da função jurisdicional, no próximo
tópico serão abordados os elementos subjetivos da responsabilização civil do juiz.
Sobre os elementos em destaque, Alcântara citado por Di
Pietro187, relaciona várias hipóteses em que o ato jurisdicional deveria causar a
responsabilidade civil do Estado:
183 No tocante a ignorância, como regra, a resposta é negativa. O juiz pode ser considerado culpado diante de seu desconhecimento, ainda que em matéria específica do direito. A bem da verdade, enquanto a divisão de normas cogentes e dispositivas é válida para o homem médio, no tocante ao juiz, salvo melhor juízo, a regra é inadmissível. O juiz tem que conhecer todo o direito, a menos que exista norma em sentido contrário. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p.191-192. 184 No que fere o dolo, o juiz não poderá ser responsabilizar civilmente, quando ocorrer o dolo essencial. De igual modo, somente poderá ser alegado o dolo essencial, ou seja, a conduta da parte deve ser a responsável direta e efetiva pelo resultado produzido. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p. 200-201. 185 Na coação, a situação é absolutamente diversa, na medida em que o ato praticado vai em sentido oposto à vontade da parte. A coação pode ser absoluta e relativa. Absoluta é a denominada violência física em que, efetivamente, não existe qualquer manifestação concreta da vontade da vítima. Relativa, por outro lado, é a coação moral, caso em que existe uma manifestação de vontade da vítima, já que pôde optar entre se submeter ou não à coação. Ressalta-se ainda que na atividade jurisdicional a respeito da coação absoluta, não há dúvidas a não responsabilização do juiz. Quanto a coação relativa existem questionamentos sobre a responsabilização. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p.194-195. 186 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 187. 187 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo . São Paulo: Atlas, 2004, p. 559.
68
[...] prisão preventiva decretada contra quem não praticou crime, causando danos morais; a não concessão de liminar nos casos em que seria cabível, em mandado de segurança fazendo parecer o direito; retardamento injustificado de decisão ou despacho interlocutório, causando prejuízo à parte. A própria concessão de liminar ou de medida cautelar em casos em que não seriam cabíveis pode causar danos indenizáveis pelo Estado.
Neste entendimento, o autor argumenta de várias hipóteses
em relação entre as pessoas e o Estado prestador da tutela jurisdicional.
Portanto, faz-se-á uma breve explanação em relação aos elementos necessários
para que surja a responsabilização estatal.
3.5.1 Indenização por ato lícito do Estado
Dada a devida abordagem à Indenização por ato lícito do
Estado, traz-se a presente investigação sobre o assunto, em que a atuação lícita
e regular dos serviços judiciários que ocasionarem danos a terceiros poderá ser a
causa da indenização estatal.
Ao adentrar no tema, Serrano Junior188, corrobora que, “[...]
a atuação lícita e regular de tais serviços, que ao ocasionar um dano injusto –
grave e especial, em face do princípio da igualdade dos cargos públicos, merece
ser indenizado”.
Exemplo clássico a respeito destas atuações lícitas do
Estado, pode-se citar, “[...] a desapropriação, a servidão, a ocupação temporária
[...]” 189, determinadas por entes estatais.
188 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.148. 189 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 210.
69
3.5.2 Erro Judiciário
Dentre os principais resultados da atividade jurisdicional
danosa190, encontra-se o chamado Erro Judiciário. Portanto cumpre ressaltar que
o erro judiciário pode acarretar tanto na esfera civil como na esfera penal.
Ao tratar do Erro Judiciário Nanni191, assevera que:
[...] é aquele oriundo do Poder Judiciário e deve ser contido no curso de um processo, visto que na consecução da atividade jurisdicional, ao sentenciarem, ao despacharem, enfim ao externarem qualquer pronunciamento ou praticarem qualquer outro ato, os juízes estão sujeitos a erros de fato ou de direito, pois a pessoa humana é falível, sendo, portanto inerente a possibilidade de cometer equívocos.
Neste sentido, o erro judiciário ocorre por equivocada
apreciação de fatos ou do direito aplicável, o que leva o juiz a proferir a sentença
passível de revisão ou de rescisão. Pode ocorrer de dolo ou culpa do juiz, de falha
do serviço ou, até mesmo, se produzir fora de qualquer falta do serviço público.
Na mesma linha de pensamento, Laspro192, conceitua erro
judiciário como:
[...] todo ato jurisdicional que, seja pelo mal enquadramento dos fatos ao mundo do direito, seja pela errônea aplicação das normas, viola regras de natureza processual e material, em qualquer dos ramos do direito.
O legislador quis dizer que o erro judiciário, muitas das
vezes, é praticado através de erros perante as normas jurídicas aplicadas
indevidamente, desobedecendo assim o devido processo legal.
190 Expressão utilizada por Odoné Serrano Junior. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.148. 191 NANNi, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 122. 192 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 223.
70
O artigo 5º, inciso LXXV193, da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, dispõe:
Art. 5º. [...]
LXXV - O Estado indenizará o condenado por erro judiciário,
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.
Assim o legislador explica que o Erro Judiciário é resultado
de um juízo estabelecido pelo agente do Estado, viciando a sua manifestação. E
se deste fato denota dano ao particular, cabe ao Estado o dever de indenizá-lo.
Outra premissa a ser destacada em relação ao erro judiciário
é a que este se classifica em erro lato sensu e erro stricto sensu.
Segundo Figueira Junior194:
[...] o erro judiciário stricto senso enquadrar-se-ia naquelas figuras descritas no artigo l33 do Código de Buzaid (procedimento culposo – culpa grave – ou doloso; recusa, omissão ou retardamento sem justo motivo de providências que deveria tomar de ofício ou a requerimento da parte) e naquelas outras do artigo 630 do Código de Processo Penal, em sintonia com o estatuído no inciso LXXV do art. 5º da CRFB/88 (direito à indenização, após a obtenção de decisão judicial determinando a sua cassação – revisão criminal; condenação errada e prisão por tempo superior ao fixado no decisium). [...] De outra parte, o erro judiciário lato sensu estaria enquadrado nas hipóteses de mau funcionamento da máquina administrativa.
Neste sentido, o erro judiciário stricto senso, responde pelos
seus atos diante do artigo 133 do Código de Processo Civil. Já o erro judiciário
193 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009, p.10. 194 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Responsabilidade Civil do Estado-juiz . Curitiba: Juriá Editora, 1995, p. 56.
71
lato sensu, responde pelos danos causados na demora de um processo a ser
analisado.
Como antes ficou visível, a pesquisa dos três poderes no
segundo capítulo desse trabalho de conclusão do curso de direito, sendo cada um
desses poderes independentes e harmônicos entre si, onde o Judiciário julga, o
Legislativo cria as normas e o Executivo administra.
Por essas e outras razões, o Poder Judiciário não só cuida
da função jurisdicional, como também desenvolve atividades administrativas e
legislativas, pois todas são consideradas judiciárias.
Importante ressaltar também, o error in procedendo195 e o
error in judicando196, “[...] ou seja, o erro pode ser fruto do descumprimento ou má
aplicação, tanto das normas materiais, como das processuais; pode ser oriundo
da decisão que extingue o processo, como pode ter ocorrido durante o
desenvolvimento deste” 197.
Neste sentido, o erro judiciário pode ocorrer tanto no ato de
julgar, conforme o dispositivo do artigo 133, inciso I, do Código do Processo Civil,
como no ato de proceder, que também se encontra no dispositivo do artigo 133,
inciso II da mesma lei.
Alves198, ao tratar do ato de julgar, define que, “o erro de
direito não responsabiliza civilmente os juízes, porque essa responsabilidade civil
do juiz só se dá se ele julga com dolo ou fraude”.
Neste entendimento, no que diz respeito quanto ao erro de
direito ocorrido no ato de julgar, não há responsabilização direta dos juizes, se 195 Error in procedendo significa: Erro no processar, erro no processo. Erro ou omissão na aplicação de lei processual ao caso sub judice. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p. 313. 196 Error in judicando significa: Erro no julgar, ou seja, de aplicação da lei de direito material ao caso concreto. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p. 313. 197 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 221. 198 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 108.
72
não houver a comprovação da existência de dolo ou fraude. Neste caso, pode se
dizer indenização do erro puro, aquele sem dolo, fraude ou culpa.
Ainda Alves199, define quanto ao ato de proceder sendo:
[...] o erro de direito – hipótese excepcional, frise-se – pode responsabilizar civilmente os juízes, uma vez que essa responsabilidade civil se dá com a culpa, e esse error iuris, consubstanciaria modalidade empírica de imperícia, subsumida nas modalidades culposas.
Neste entendimento, “percebe-se que os princípios que
norteiam a responsabilidade civil pessoal do magistrado não são os mesmos da
responsabilidade objetiva geral do Estado”200. Para que haja a responsabilização
do juiz, é necessário que se comprove sua atuação dolosa, culposa ou que tenha
agido mediante a utilização por meios fraudulentos.
Embora, a responsabilidade do Erro Judiciário é
primeiramente do Estado, sendo um meio de proteção da imparcialidade do juiz,
que a princípio não só protege o magistrado, mas envolve toda uma coletividade.
Destarte, apura-se que o Erro Judiciário é resultado de um
juízo estabelecido pelo agente do Estado, viciando a sua manifestação. E se
deste fato denota dano ao particular, cabe ao Estado o dever de indenizá-lo.
Por fim, só haverá a responsabilidade civil do juiz, nos casos
em que forem constatados elementos subjetivos para responsabilização civil do
mesmo.
3.5.3 Funcionamento Anormal da Atividade Jurisdicio nal
Neste subtítulo refere-se à demora na prestação da tutela
jurisdicional que caracterizam mau funcionamento ou funcionamento anormal do 199 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 109. 200 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Responsabilidade civil do Estado-juiz . 1995, p.68.
73
serviço judiciário que não funciona, ou funciona mau, ou até mesmo tardiamente
como passo de tartaruga desde do início da ação até os atos executórios da
sentença final.
Ao tratar do tema, Serrano Junior201, esclarece que, “o
funcionamento do serviço judiciário deve obedecer a determinados prazos legais”.
E ainda acrescenta que “o dever do Estado de prestar a tutela jurisdicional dentro
dos prazos previamente fixados decorre do princípio da legalidade, hoje elencado
em nossa Constituição entre os direitos e garantias fundamentais”.
No mesmo raciocínio, Diniz202, esclarece sobre o assunto:
O art. 5º, XXXV, da Constituição Federal de 1988 não permite que a lei exclua da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito individual. Se ao Estado compete assegurar o pronunciamento judicial sobre qualquer conflito jurídico, ele deve responder por prejuízos oriundos da má atuação em fazer aplicar aquele dispositivo constitucional. O escopo da tutela jurisdicional é garantir que o direito objetivo material seja obedecido, por isso o Estado estabelece a obrigatoriedade do magistrado cumprir certos prazos fixados pelo direito formal [...].
A autora argumenta a respeito do artigo 5º, inciso XXXV da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, onde o acesso à justiça
constitui direito fundamental, sendo assegurado também, o direito de petição aos
poderes públicos em defesa de direitos ou contra a ilegalidade ou abuso de
poder. De fato, o particular possui o direito de exigir do Poder Judiciário a tutela
jurisdicional específica à sua pretensão.
Entretanto, a realidade social nem sempre reflete a do texto
do comando da lei. Como é de conhecimento público nos meios jurídicos, os
serviços judiciários apresentam falhas, e é nesse contexto que surge a chamada
201 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.148. 202 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : Responsabilidade Civil. 2005, p. 647.
74
do Funcionamento anormal da atividade jurisdicional, onde Serrano Junior203,
comenta a respeito:
[...] significa toda deficiência na organização ou exercício da função jurisdicional que implique numa falta do Estado, quanto ao seu dever de proteção judiciária. Verifica-se nela um inadimplemento da obrigação que tem o Estado de manter um certo grau de qualidade tanto na organização quanto no funcionamento do serviço judiciário.
Nessa esteira, Nunes204, descreve que o funcionamento
anormal da atividade jurisdicional pode erguer-se de duas formas básicas: a) pela
dificuldade de acesso ao judiciário (presença de obstáculos e falta de medidas
que agilizem a resolução dos conflitos); b) manifesta desídia do juiz (não exercício
do impulso oficial, demorando-se injustamente a praticar os atos de ofício).
Nessas oportunidades diante o que o autor coloca, produz-
se prejuízo que comporta a responsabilidade civil do Estado, pois sob o que tange
da falta do serviço, ocorreu o mau funcionamento, conforme o autor dispõe: “[...] a
má organização, o funcionamento defeituoso ou intempestivo do serviço
judiciário”.
Na mesma linha de pensamento, Jucosky205, argumenta:
[...] há décadas, o Supremo Tribunal Federal decide pela Responsabilidade Civil do Estado quando o não provimento adequado para o bom funcionamento do serviço da justiça. Nessas decisões restou caracterizada a qualidade negativa do serviço, ou seja, pela ausência deste ou por sua prestação ruim (tardia ou defeituosa).
203 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.160. 204 NUNES, Rômulo José Ferreira. Responsabilidade do Estado por Atos Jurisdicionais . São Paulo: LTr, 1999, p.130. 205 JUCOSKY, Vera Lucia. R. S. Responsabilidade Civil do Estado pela Demora na Pre stação Jurisdicional : Brasil-Portugal. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 70-71.
75
Neste sentido, vê-se que o funcionamento anormal da
atividade jurisdicional, é mais uma das causas que responsabilizam o Estado no
meio jurisdicional. Portanto quando o serviço judiciário é negativo ou defeituoso
ou quando ocorre desleixo do magistrado, nasce o funcionamento anormal da
atividade jurisdicional, trazendo grave lesão ao particular, visto que não foi
garantido o ideal acesso à tutela jurisdicional. Assim, os danos ocasionados por
este mau funcionamento da justiça, acaba gerando um dever de indenizar, e
quem responde por esses atos é o Estado ou o Juiz.
Neste viés, importante também são as considerações de
Laspro206, ao afirmar que:
Na verdade, podemos dividir os casos de funcionamento anormal da Atividade Jurisdicional em dois grandes grupos: o anormal funcionamento singular e o anormal funcionamento estrutural. Essa divisão é fundamental, na medida em que, no primeiro grupo, podemos encontrar hipóteses de responsabilidade do juiz e do Estado e, no segundo, normalmente será do Estado.
Neste entendimento, o anormal funcionamento singular
configura-se a atividade desenvolvida pelo juiz, admitindo-se neste caso a
responsabilização tanto para o juiz como para o Estado. E sobre o anormal
funcionamento estrutural configura-se a estrutura geral do Poder Judiciário, na
qual a responsabilidade normalmente será do Estado.
3.6 ELEMENTOS SUBJETIVOS PARA RESPONSABILIZAÇÃO CIV IL DO JUIZ
Cumpre abordar, nesta oportunidade, os elementos
subjetivos para responsabilização pessoal do juiz.
Contudo disserta Laspro207:
206 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 227. 207 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 227.
76
A bem da verdade, não se pode confundir o responsável pelo dano com aquele legitimado à sua reparação. De fato, a regra geral é de que o erro judiciário e o ato jurisdicional lícito indenizável são causados pela ação do juiz, enquanto o anormal funcionamento da atividade jurisdicional pode ser produto da omissão do Estado, em fornecer os meios necessários, ou do juiz, em razão de sua inércia. No entanto, ainda que a responsabilidade pelo dano seja do juiz, a tendência é no sentido da responsabilização do Estado, restando verificar que outros requisitos deverão estar presentes para que a responsabilidade recaia sobre o juiz.
Neste entendimento, mesmo existindo os elementos
subjetivos da responsabilidade civil do juiz, o Estado ainda responde, mediante
ação regressiva contra o juiz que agiu com dolo, culpa ou fraude.
Considerando que o magistrado é um agente do Estado,
este deve ser responsabilizado pelos atos danosos a que causa dolo, culpa ou
fraude, alguns desses elementos subjetivos necessários para a responsabilização
civil do juiz pelo ato jurisdicional estão elencados no artigo 133 do Código de
Processo Civil.
Neste raciocínio, Alves208, ressalva:
[...] além da criminal, a civil, prevista no artigo 121 do mesmo código, no código de 1973, artigo 133, se incorrer em dolo ou fraude no exercício de suas funções, ou quando, sem justo motivo, recusar, omitir ou retardar providências que deva ordenar, de ofício ou a requerimento da parte, a segunda hipótese somente verificável se decorridos dez dias do requerimento ao juiz, feita pela parte por intermédio do escrivão da causa [...] Nesse douto julgamento externou o emérito relator que responsabilidade é toda pessoal do juiz, por ela não podendo responder o Estado.
208 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 24.
77
Neste entendimento, se for comprovado que o juiz cometeu
dolo ou fraude na sua atividade jurisdicional, responde sozinho sem intervenção
do Estado.
3.6.1 Dolo na atividade jurisdicional
Para a compreensão do dolo, destaca-se que o juiz somente
será responsabilizado civilmente se este elemento estiver ligado à efetiva lesão
sofrida pela vítima.
Para uma melhor compreensão sobre o dolo, vejamos o que
diz a doutrina de Alves209:
O dolo, aí tem o conceito do direito comum, notadamente civil, e nessa acepção evidencia a direção da vontade para contrariar o direito, in casu, a intenção do juiz de prejudicar a parte, seja para beneficiar a parte contrária seja para beneficiar terceiro, seja para benefício próprio, seja pela simples vontade de causar o mal para satisfazer intuito de vingança, ou de mero capricho decorrente de antipatia, situações essas que, pela gravidade que suscitam, de nenhum modo se podem inferir quando se caracterize erro in judicando.
Neste sentido, o juiz que em qualquer momento dentro do
processo fere sua imparcialidade, mesmo não tendo a intenção de prejudicar as
partes, assume de forma consciente o risco causado, sendo obrigado a reparar o
dano e responder pela conduta dolosa.
Ainda no mesmo raciocínio, Alves210, ressalva que:
[...] se constitua suficientemente o suporte fático de incidência das regras jurídicas do Código de Processo Civil, art. 133, I, coextensivas em seu teor à regras jurídicas da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, art. 49, I, é imprescindível o compósito
209 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 84. 210 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 84.
78
lesividade e dolosidade da conduta judicial. [...] Somados esses elementos, o objetivo da lesividade da vítima e o subjetivo da dolosidade do juiz, tem-se a caracterização da responsabilidade civil dos juízes [...].
Neste entendimento o dolo, como detalha Serrano Junior211,
“é o chamado dolus malus, consiste na intenção livre e consciente de violar a lei
para alcançar interesses ilegítimos”.
3.6.2 Culpa na atividade jurisdicional
Um dos elementos subjetivo da responsabilização pessoal
do magistrado reside na atuação desenvolvida de culpa. Diante desse elemento,
é necessário identificar os requisitos que fazem parte da culpa, nos quais são: a
negligência, imprudência ou imperícia.
Sobre o tema Serrano Junior212, dispõe: “[...] representa a
violação por negligência, imprudência ou imperícia, do dever de bem
desempenhar as funções públicas”, e ainda acrescenta que, “a culpa do juiz pode-
se dar por negligência quanto ao exercício dos poderes de direção do processo,
quando causar uma delonga procedimental desnecessária, que vem atrasar a
prestação da tutela jurisdicional”.
Haverá negligência, “sempre que o juiz agir de forma
desidiosa213, omitindo-se que se refere ao cumprimento de normas de Conduta
inerentes à Atividade Jurisdicional” 214.
Considera-se imprudente o juiz que “age de forma
precipitada sem as devidas precauções” 215.
211 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.167. 212 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 163-164. 213 Entende-se por desidiosa: descaso pelos serviços funcionais, negligência. MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa . São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998, p.690. 214 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 241.
79
No que tange a imperícia, há vários entendimentos
doutrinários que fundamentam no sentido de que o juiz não poderia ser
enquadrado como imperito no caso de ter prestado concurso público para seguir
carreira na magistratura, sendo que o juiz é capaz no exercício da atividade
jurisdicional.
Ilustrando o acima colacionado, menciona Gagliano216, que a
culpa: “[...] ocorre quando o agente falta com o dever geral de cautela, seja de
maneira omissiva (negligência ou imperícia) ou comissiva (imprudência)”.
O artigo 133 do Código de Processo Civil, que reafirma o
disposto no artigo 49 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, conceitua não só
a reparação do juiz com base em dolo ou fraude, mas na culpa como conceitua
Camargo217, “contribui em desfavor do litigante, em função de recusa, omissão ou
retardamento na prática de ato de sua competência jurisdicional”.
Neste entendimento, no caso de recusa, a única hipótese de
culpa seria se caracterizar imperícia do juiz. Se houver omissão do juiz a parte
conforme o parágrafo único do artigo 133 do CPC, o juiz vai requerer ao escrivão
para que possa tomar as devidas providências. No caso da omissão ou
retardamento, o juiz pode ser responsabilizado, caso contrário quem responde é o
Estado.
3.6.3 Fraude
A responsabilidade civil do juiz tem como o terceiro elemento
subjetivo a fraude, que segundo Alves218: “[...] é qualquer ato ilícito que, de má-fé,
possa ser estelionato, defraudação de texto ou objeto”.
215 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 242. 216 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil : (abrangendo o Código de 1916 e o novo Código Civil) / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 144-145. 217 CAMARGO, Luis Antonio de. A Responsabilidade Civil do Estado e o Erro Judiciá rio . São Paulo, Síntese Editora, 1999, p. 93. 218 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 86.
80
Segundo Nanni219: “A fraude conecta-se ao comportamento
malicioso do juiz, com intuito de fraudar a lei ou as partes, mediante engano”.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Alves220
complementa:
A fraude, conceito de direito comum, a que se reporta o artigo 133, I, 2ª parte, do CPC e, com ele, o artigo 49, I, 2ª parte, da Lei Orgânica da Magistratura, é elemento conceptualmente mais largo do que o dolo, uma vez que, supondo o dolo com fraude, existe ato doloso não fraudulento.
Nesse entendimento, verifica-se nas hipóteses em que o
magistrado agir com fraude poderá ser diretamente responsabilizado conforme a
responsabilidade civil subjetiva.
Entretanto, afirma Nanni221:
A idéia de fraude, ao reverso, já envolve a ligação do juiz com uma das partes, ou, eventualmente, com pessoa estranha ao processo, fraude esta praticadas pelo juiz. Os atos através dos quais se possam exteriorizar a responsabilidade, por dolo ou interlocutórias ou também as sentenças, em que se decidam, ou não, o mérito da causa.
Observando a doutrina acima mencionada, faz-se mister
dizer que o juiz não é um mero conhecedor da lei, sendo o papel principal em
julgar e saber julgar sem fraudar, ir até nos limites aonde a lei maior pode chegar.
Entretanto, o nosso universo jurisdicional, é constituído por
vários juízes sérios, honestos e esforçados, que procuram defender a legalidade,
a moral e o senso de justiça, frente a enorme demanda de processos jurídicos.
São juízes que lutam por uma sociedade justa e perfeita, dentro dos ditames
legais.
219 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 227. 220 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 86. 221 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 227.
81
3.7 DANO MORAL
No que diz respeito ao dano moral, também chamado de
extrapatrimonial, é estritamente ligada com a sensação da pessoa ofendida.
Segundo Dias222, afirma que o Dano Moral:
Consiste na penosa sensação de ofensa, na humilhação perante terceiros, na dor sofrida, enfim, nos efeitos puramente psíquicos e sensoriais experimentados pela vítima do dano, em conseqüência deste, seja pela atitude de repugnância ou reação ridícula tomada pelas pessoas que se defrontam com ela.
Portanto o dano moral há preceito constitucional que protege
tal direito, conforme ressalta o artigo 5º, incisos V e X da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, os quais expressamente estabelecem:
Art. 5º. [...]
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por Dano material, moral ou à imagem;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo Dano material ou moral decorrente de sua violação.
Neste entendimento o dano moral consiste na lesão de
direitos cujo conteúdo não é dinheiro, em outras palavras pode-se afirmar que o
dano moral é aquele que leciona os direitos da personalidade, violando, por
exemplo, sua intimidade, sua vida privada, sua honra e imagem.
Felipe223, magistrado mineiro, excerta a ementa do
julgamento ocorrido na Apelação Cível 140.330-7, da 5ª Câmara Cível do Tribunal
de Alçada de Minas Gerais, cujo teor é o seguinte:
222 DIAS, José de Aguiar. Responsabilidade Civil . São Paulo. 223 FELIPE, j. Franklin Alves. Indenização nas Obrigações por Ato ilícito . Del Rey. Belo Horizonte-MG.
82
Para a fixação do quantum 224 em indenização por danos morais, devem ser levados em conta a capacidade econômica do agente, seu grau de dolo ou culpa, a posição social ou política do ofendido, a prova da dor, sendo, no entanto, irrelevante a demonstração do prejuízo material sofrido pela vítima.
Assim o dano moral no caso em análise, entende-se que o
valor da condenação deva ser estipulado, tendo como base a remuneração do
magistrado. Portanto, a ação de responsabilidade civil por danos morais a ser
desferida contra o magistrado não exime a responsabilidade do agressor, que
também responderá dentro dos mesmos critérios. Diante desta análise, fica, no
entanto, ao livre arbítrio do magistrado a apuração dos fatos e o monte pecuniário
de indenização.
O dano moral deve ser ressarcido não somente o prejuízo
econômico que o indivíduo foi submetido, mas também aqueles relacionados à
dor, à aflição, diante de uma determinada situação concreta225.
[...] o ressarcimento pelo dano moral nada mais é do que a
busca da reparação de direitos às quais, a vítima faz jus e que são integrantes de
sua personalidade, ainda que, violados, não reflitam em uma diminuição de seu
patrimônio226.
Existem algumas teorias que explicam o dano moral e que
convém trazer-se as considerações, as quais são: Teoria da irreparabilidade,
Teoria da não cumulação e Teoria da cumulação.
E sobre a teoria da irreparabilidade, Lisboa227 dispõe: “[...] é
impossível à mensuração pecuniária da dor, que seria o fundamento da
Responsabilidade Civil a este título”.
224 Quantum é uma palavra em latim que significa quantia. 225 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 76. 226 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 76. 227 LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil : Obrigações e Responsabilidade Civil. 2002, p. 210.
83
A segunda teoria trata da impossibilidade de cumulação dos
danos morais com os danos patrimoniais, por tutelarem direitos totalmente
diferentes.
Segundo Lisboa228:
[...] entendeu-se que a vítima poderia ser ressarcida por danos morais, desde que ela não viesse a obter indenização por danos patrimoniais e estivessem presentes os elementos autorizativos da indenização extrapatromonial.
Enfim a teoria da cumulação, e que deve-se adotar, pois
eles tutelam direitos diferentes, podendo existir violação desses dois direitos a
partir de um mesmo fato, podendo, portanto serem perfeitamente cumulados.
228 LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil : Obrigações e Responsabilidade Civil. 2002, p. 210.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente monografia buscou investigar, à luz da
legislação nacional e da doutrina brasileira, a Responsabilidade Civil do Juiz no
Exercício da Função Jurisdicional.
O interesse do tema abordado deu-se em razão dos
estudos, ao longo do Curso de Direito, acerca da responsabilidade civil das
pessoas em geral. Porém, em nenhum momento houve abordagem sobre a
responsabilidade dos magistrados, no exercício de sua função precípua, assim
como do próprio Estado.
Nessa perspectiva nasce este trabalho dividido em três
capítulos, que permite algumas considerações, merecendo especial atenção.
No capítulo primeiro verificou-se o juiz, conceituação,
evolução histórica das suas funções assim como a especificação dos seus
poderes.
O segundo capítulo descreveu a função jurisdicional,
necessidade e competência de sua atribuição. Demonstrou-se também a
necessidade da ética do juiz no exercício de sua atividade profissional, assim
como os deveres do juiz e suas garantias a eles concedidas, para que possa
livremente judicar sem sofrer qualquer pressão externa.
No terceiro capítulo é possível verificar, o que já vinha sendo
delineado ao longo da pesquisa, ou seja, a necessidade de responsabilização do
juiz no exercício da função jurisdicional. Realizou-se uma análise das
possibilidades de responsabilização, pressupostos necessários, elementos
objetivos e subjetivos necessários e o dano moral.
Através desta pesquisa se constatou o seguinte quanto às
hipóteses levantadas:
85
a) quanto à primeira hipótese restou confirmada: verificou-se
que os magistrados possuem responsabilidade civil sobre sua atividade
jurisdicional, tendo em vista, expressos nos termos do artigo 133 do Código de
Processo Civil, bem como no artigo 49 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional
– LOMAN.
b) quanto à segunda hipótese restou confirmada: pela
pesquisa realizada, ficou claro que o Estado pode ser responsabilizado por atos
praticados pelos juízes no exercício da função jurisdicional.
c) quanto à terceira hipótese restou confirmada: Verificou-se
que a responsabilidade civil do juiz decorrente dos seus atos praticados no
exercício da função jurisdicional é subjetiva e objetiva.
Com efeito, esta monografia venceu o seu propósito
investigatório, eis que analisou cientificamente as hipóteses previstas acima
mencionadas.
Ao final desta pesquisa, verificou-se que o Estado possui
responsabilidade civil sobre seus atos. No caso desta monografia, em especial a
função jurisdicional, não foge à regra.
Verificou-se que o tema é de grande complexidade. Não se
pretende esgotá-lo, mas tão somente trazer informações úteis aos profissionais e
acadêmicos do direito e sociedade em geral, considerando-se que a atividade
jurisdicional interessa a todos, devido à sua importância.
86
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
AMORIM, Edgar Carlos de. O juiz e a Aplicação das Leis . 3ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1997.
ARISTÒTELES, A Política . Ed. Ouro, com introdução de Ivan Lins, Rio de Janeiro, 1965.
ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agentes dos Poderes Legislativo, Executivo e Judici ário . Campinas: Bookseller, 2001, Tomo II.
ALVIN, Arruda. Manual de Direito Processo Civil . São Paulo: Revista dos Tribunais. 9ª edição, Ano 2005.
BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009.
CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado e o Erro Judiciári o. São Paulo, Síntese Editora, 1999.
CAMARGO, Luis Antonio de. A Responsabilidade Civil do Estado e o Erro Judiciário . São Paulo, Síntese Editora, 1999.
CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade do Estado por Atos dos seus Agentes . São Paulo: 2000.
CRETELLA JÚNIOR, José. O Estado e a Obrigação de Indenizar . São Paulo: Saraiva, 1980.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado . 20 ed., atual., São Paulo: Saraiva, 1998.
DIAS, José de Aguiar. Responsabilidade Civil . São Paulo.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : Responsabilidade civil. 19ª ed. ver. e atual. De acordo com o novo Código Civil, (Lei nº 10.406, de 10.-1-2002, e Projeto de Lei nº 6.960/2002, São Paulo:Saraiva, 2005, 7 v.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo . 19 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
87
DURANT, Guy. A Bioética : Natureza, princípios, objetivos. São Paulo: Paulus, 1995.
FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Responsabilidade Civil do Estado-Juiz . Curitiba: Juriá Editora, 1995.
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil : (abrangendo o Código de 1916 e o novo Código Civil) / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2003.
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo . 9ª ed., São Paulo: 2004.
GOMES, Luiz Flávio. A Dimensão da Magistratura . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
GUIMARÃES, Mário. O Juiz e a Função Jurisdicional . Rio de Janeiro: Forense, 1958.
JUCOSKY, Vera Lucia. R. S. Responsabilidade Civil do Estado pela Demora na Prestação Jurisdicional : Brasil-Portugal. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999.
KORTE, Gustavo. Iniciação à Ética . São Paulo: Juarez Oliveira, 1999.
LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000.
LAZARRINI, Álvaro. Estudos de Direito Administrativo . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996.
LEITE, Eduardo de oliveira. A Monografia Jurídica . 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil . Obrigações e responsabilidade civil. 3ª ed. Ver. Atual. E ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
LOEWENSTEIN, Karl. Teoria de La Constitución . Trad. Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Editorial Ariel, 1976.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro . 20ª ed. São Paulo, Malheiros. 1995.
88
MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa . São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.
MONTESQUIEU. Os Espíritos de Leis . Trad. Pedro Vieira Mota, 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional . Editora RT, 3ª ed., 2001.
NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . Editora Max Limonad, São Paulo, 1999.
NUNES, Rômulo José Ferreira. Responsabilidade do Estado por Atos Jurisdicionais . São Paulo: LTr. 1999.
PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. 11ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008.
SAAD, Renan Miguel. O Ato ilícito e a Responsabilidade Civil do Estado . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1994.
SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. A Atuação do Juiz no Direito Processual Civil Moderno . Editora Atlas, 2008.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. V.1 – Editora Saraiva, 2009.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 20ª Edição. Atualizadores Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho. Editora Forense. Rio de Janeiro. 2002.
SILVA, José Afonso da. Curso do Direito Constitucional Positivo . 16ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996.
SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria Geral do Processo . Florianópolis: Momento atual, Tomo 2, 2002.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. V. 1 – 44ª edição, Editora Forense, 2006.
VENOSA, Silvio de Salvo. Responsabilidade Civil . 3ª ed., São Paulo:Atlas, 2003.
90
JURISPRUDÊNCIA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ – ATO PRATICADO
POR JUIZ NO EXERCÍCIO DE SUA FUNÇÃO – IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
– SENTENÇA CONFIRMADA.
Ação de indenização contra Magistrada Marilena Soares
Reis Franco, por atuação em processo contra os autores José Eduardo de
Azevedo e Outros. Os Artigos 49 da LOMAN e 133, inciso I, do Código de
Processo Civil. Inocorrência de dolo ou fraude. Aplicabilidade aos Magistrados,
nesta parte, do que dispõe a Lei nº 8.112 de 11/12/90 (Regime Jurídico dos
Servidores Públicos da União) – artigo 122, parágrafo 2º. Improcedência do
pedido. Confirmação. Recurso desprovido. (IRP)
Tipo de Ação: APELAÇÃO CÍVEL
Número do Processo: 1998.001.5956
Registrado no Sistema em 04/09/1998
Folhas: 46059/46064
Origem: COMARCA CAPITAL 10ª VARA CIVEL
Órgão Julgador: QUINTA CÂMARA CÍVEL
Votação: Unânime – DESEMBARGADOR ROBERTO
WIDER – Por unanimidade de votos, negou-se provimento ao recurso.
Data da sessão: Julgado em 30/06/1998