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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS DE SOCIEDADE LIMITADA POR DÍVIDAS CIVIS, TRABALHISTAS E TRIBUTÁRIAS. RAPHAEL BRANCALEONE CORADIN Itajaí, 05 de novembro de 2008

A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS DE SOCIEDADE …siaibib01.univali.br/pdf/Raphael Brancaleone Coradin.pdf · 3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS DE SOCIEDADE LIMITADA POR DÍVIDAS CIVIS, TRABALHISTAS E

TRIBUTÁRIAS.

RAPHAEL BRANCALEONE CORADIN

Itajaí, 05 de novembro de 2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS DE SOCIEDADE LIMITADA POR DÍVIDAS CIVIS, TRABALHISTAS E

TRIBUTÁRIAS.

RAPHAEL BRANCALEONE CORADIN

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Dr. Diego Richard Ronconi

Itajaí, 05 de novembro de 2008.

3

AGRADECIMENTO

Primeiramente gostaria de agradecer ao professor Dr. Diego Richard Ronconi pelas orientações dadas no decorrer da presente monografia, que foram muito úteis e contribuíram enormemente para o correto andamento da pesquisa. Gostaria de agradecer ao amigo e professor Righes pela atenção nos momentos em que precisei, dando sugestões extremamente importantes no que se refere à metodologia científica. Agradeço também a todos os professores do curso de direito da Univali pela disponibilidade e pelo empenho em passar conhecimento aos alunos, pois sem dúvida alguma a boa vontade e a capacidade dos mestres da instituição são de fundamental importância para o crescimento profissional de todos os acadêmicos.

DEDICATÓRIA

Sem dúvida alguma dedico esse trabalho aos meus pais. Não poderia ser diferente, pois foram eles que me deram todo o apoio durante o curso, estando comigo nas horas boas e nas horas ruins. Felizmente posso afirmar com toda a certeza existente no mundo que a maioria dos momentos foram felizes, pois perto de vocês, pai e mãe, me sinto seguro e com uma vontade inenarrável de alcançar meus objetivos. Agradeço todos os dias por ser filho de pessoas tão especiais como vocês, e sempre procuro a forma mais eficaz para demonstrar todo o meu amor, mas não a encontro, porque nem se eu somasse todas as formas existentes eu conseguiria demonstrar o que sinto por vocês, devido ao imenso carinho que sinto. Para dizer o quanto eu os admiro eu precisaria de um número infinito de páginas, sendo assim, para concluir essa dedicatória, mesmo sabendo que vocês merecem muito mais, lhes dedico como todo o meu amor e carinho esse humilde trabalho monográfico.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 05 de novembro de 2008

Raphael Brancaleone Coradin Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Raphael Brancaleone Coradin,

sob o título A Responsabilidade dos Sócios de Sociedade Limitada pelas Dívidas

Civis, Trabalhistas e Tributárias, foi submetida em 18 de novembro de 2008 à

banca examinadora composta pelos seguintes professores: Prof. Diego Richard

Ronconi, orientador e presidente da banca, e Prof. Norival Acácio Engel,

examinador, e aprovada com a nota .

Itajaí, 18 de novembro de 2008.

Professor Dr. Diego Richard Ronconi Orientador e Presidente da Banca

Professor Dr. Norival Acácio Engel Coordenação da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916 CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Sociedade Limitada

Uma sociedade contratual cujos sócios respondem solidária, ilimitada e

subsidiariamente pela integralização do capital social e participam de lucros e

perdas na proporção de sua concorrência para a formação do mesmo capital.

Responsabilidade Civil

Responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, posto que

consiste na obrigação que tem o autor de um ato ilícito de indenizar a vítima pelos

prejuízos a ela causados. A situação amolda-se ao conceito genérico de

obrigação, qual seja, o direito de que é titular o credor em face do devedor, tendo

por objeto determinada prestação. No caso, assume a vítima de um ato ilícito a

posição de credora, podendo, então, exigir do autor determinada prestação, cujo

conteúdo consiste na reparação dos danos causados.

Teoria Da Desconsideração Da Personalidade Jurídica

A teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica consiste em afastar,

momentaneamente, a personalidade da sociedade, de modo a responsabilizar

diretamente o sócio que praticou algum ato ilegal.

SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... IX

INTRODUÇÃO ................................................................................. 02

1.1 CAPÍTULO 1. NOÇÕES GERAIS SOBRE A SOCIEDADE LIMITADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

1.1. Breve introdução histórica sobre a Sociedade Limitada................................05 1.2. Conceitos e objetivos da Sociedade Limitada...............................................06. 1.3. Elementos fundamentais do contrato social da Sociedade Limitada............ 07. 1.3.1. Nome empresarial (art. 997, II, e art. 1.158, do CC)...................................09. 1.3.2. Objeto social (art. 997, II, do CC e art. 56, ll, da Lei nº 8.884, de 11.7.94)..09 1.3.3. Capital Social (art. 997, III e IV, do CC).......................................................11 1.3.4. Responsabilidade dos sócios (art. 1.052, do CC)....................................... 13 1.3.5. Prazo de duração da sociedade (art. 997, II, do CC)...................................15 1.3.6. Administração da Sociedade Limitada.........................................................16 1.3.7. Cessão de quotas (art. 1.003 e 1.056, do CC)...........................................17. 1.3.8. Falecimento ou interdição de sócio (art. 1.028 e 1.031, do CC).................19. 1.3.9. Data do encerramento do exercício social .................................................20. 1.3.10. Participação dos sócios nos lucros e perdas (art. 997, VII, CC)...............22. 1.3.11. Cláusula de impedimento para o administrador (art. 1.011, do CC).........23. 1.4. Direitos e deveres dos sócios na Sociedade Limitada...................................24. 1.5. A fiscalização social nas Sociedades Limitadas.............................................26 1.6. Dissolução Parcial e dissolução total das Sociedades Limitadas.................. 28 Capítulo 2. Considerações sobre alguns princípios de Direito Civil, Direito Tributário e Direito do Trabalho e sua interferência nas Sociedades Empresárias 2.1. Conceito de Sociedade Empresária e sua distinção com relação aos demais tipos de sociedade (Sociedade Simples, Associações, Fundações)....................31 2.2. Conceito e objetivos do Direito Civil...............................................................34 2.3. Princípios essenciais do Direito Civil..............................................................35 2.4. Conceito e objetivos do Direito do Trabalho...................................................39 2.5. Princípios essenciais do Direito do Trabalho..................................................41 2.6. Conceito e objetivos do Direito Tributário.......................................................46 2.7. Princípios essenciais do Direito Tributário......................................................48 Capítulo 3. A responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por

dívidas Civis, Tributárias e Trabalhistas no ordenamento jurídico brasileiro

3.1. Conceito de Responsabilidade......................................................................54.

3.2. O princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica (a personificação da

Sociedade Limitada)..............................................................................................56

3.3.Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica...................................58 3.4. Alguns entendimentos dos Tribunais brasileiros referente a responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas cíveis............................................60

3.5. Alguns entendimentos dos Tribunais brasileiros referente a responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas trabalhistas...................................64 3.6. Alguns entendimentos dos Tribunais brasileiros referente a responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas tributárias. ...................................67 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 70

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 72

RESUMO

O presente trabalho monográfico visa trazer considerações

acerca da Responsabilidade Civil dos Sócios da Sociedade Limitada pelas dívidas

Civis, Trabalhistas e Tributárias.

O primeiro capítulo traz esclarecimentos e colocações

acerca da constituição da sociedade, seus objetivos e dentre outros elementos

relevantes para um melhor entendimento sobre o tema.

No segundo capítulo buscar-se-á trazer conceitos e

explicações referentes à influência dos princípios das áreas analisadas na

presente pesquisa na Responsabilização dos Sócios da Sociedade Limitada.

O terceiro capítulo visa destacar alguns entendimentos dos

tribunais brasileiros, tendo como intuito demonstrar como o assunto tratado nesta

monografia está sendo aplicado na prática.

2

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a responsabilidade

dos sócios de Sociedade Limitada por Dívidas Civis, Trabalhistas e Tributárias.

O seu objetivo geral é colaborar com os acadêmicos e

operadores do direito, visando um melhor entendimento sobre a

Responsabilidade Civil dos sócios da Sociedade Limitada por dívidas Civis,

Trabalhistas e Tributárias.

O seu objetivo institucional é produzir uma monografia para

obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí-

UNIVALI.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de Noções

gerais sobre a Sociedade Limitada no Ordenamento Jurídico brasileiro, trazendo

conceitos sobre a presente espécie de sociedade empresária, sua evolução

história dentre outros temas relevantes para um melhor entendimento do tema.

No Capítulo 2, trata-se de Considerações sobre alguns

princípios de Direito Civil, Direito Tributário e Direito do Trabalho e sua

interferência nas Sociedades Empresárias, relacionando a importância dos

princípios para o devido entendimento da matéria.

No Capítulo 3, trata-se da responsabilidade dos sócios de

Sociedade Limitada por dívidas Civis, Tributárias e Trabalhistas no ordenamento

jurídico brasileiro, trazendo explicações sobre a responsabilidade civil, a teoria da

desconsideração da personalidade jurídica e também alguns entendimentos de

tribunais brasileiros sobre o tema.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre A Responsabilidade Dos Sócios De Sociedade Limitada Por Dívidas Civis,

Trabalhistas E Tributárias.

3

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

perguntas de pesquisa:

� Porque e com que intuito foi criada a Sociedade Limitada? � Qual a relação dos princípios do direito com a responsabilização dos sócios de uma Sociedade Limitada? � Qual a função e o que visa proteger a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica?

Referente às perguntas acima destacadas levantam-se

hipóteses de pesquisas. Relacionada à primeira pergunta retira-se a hipótese no

sentido de analisar por que motivo e com qual intuito foi criada a sociedade

limitada e se realmente teve a intenção de incentivar novos empreendimentos.

No que se refere à segunda pergunta de pesquisa extrai-se

mais uma hipótese, nesse caso, referente à relação dos princípios do direito com

a responsabilização dos sócios. Onde se levanta a hipótese de pesquisa, no

sentido de verificar se realmente os princípios vigentes no ordenamento jurídico

brasileiro influenciam na responsabilização dos sócios da Sociedade Limitada.

Ainda no estudo das perguntas e hipóteses de pesquisa,

com base na terceira pergunta acima destacada, se levanta a hipótese no sentido

de analisar se a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica realmente

protege os interesses e evita abusos por parte dos sócios da Sociedade Limitada.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de

1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

4

Dados o Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa

Bibliográfica7.

3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE,

Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.

CAPÍTULO 1

NOÇÕES GERAIS SOBRE A SOCIEDADE LIMITADA NO

ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

1.1. Breve introdução histórica sobre a Sociedade Limitada

A sociedade limitada era anteriormente chamada de

sociedade por quotas de responsabilidade limitada.

Os ingleses regularam este tipo de sociedade em 1857,

denominando-a como limited by guarantee, atribuindo a responsabilidade dos

sócios, em caso de liquidação da sociedade até o montante estipulado no

contrato.

Logo este novo modelo serviu de exemplo para outros

países que acabaram instituindo este tipo de sociedade, que tinha, diferentemente

dos outros tipos de sociedade, um modo mais simples de constituição.

No Brasil, o primeiro a tentar implantar as sociedades

limitadas foi, o Conselheiro Nabuco de Araújo, por inspiração da lei francesa de

1863, denominada como sociedade anônima simplificada, constituída livremente,

mas este projeto não logrou êxito, pois não contou com a aprovação do Conselho

do Estado que por isso, o rejeitou pela resolução de 24 de abril de 1867.

Após esta tentativa inicial, o Professor Herculano Inglez de

Souza, titulado pelo governo em 1912, para fazer a revisão do código comercial,

tentou aplicá-la sob os entendimentos da lei portuguesa.

Professor Herculano, segundo citado por Rubens Requião,

na sua exposição de motivos citou que “... a limitação de responsabilidade é

6

exceção que precisa ser provada de modo a evitar o engano dos estranhos que

venham a contratar com a sociedade; essa prova faz-se pela publicidade, isto é,

pelo arquivamento e publicação das restrições postas á regra geral de

solidariedade e da ilimitação da responsabilidade dos coobrigados...”.

Baseado no projeto do Professor Herculano Inglez Souza, o

deputado gaúcho Joaquim Luiz Osório encaminhou a Câmara dos Deputados, em

1918, como projeto de lei o destaque da disciplina das sociedades por quotas

apresentado no anteprojeto de Inglez Souza, sendo que este foi aprovado sem

modificações; dele resultando o Decreto 3.708, de 10 de janeiro de 1919.

O decreto acima citado, que contava com apenas 18 artigos

e que era motivo de muitas críticas, vigorou até a edição do Código Civil de 2002,

com a edição do novo código passamos a contar com um conjunto de normas

mais detalhadas a respeito da sociedade limitada.

1.2 Conceitos e objetivos da sociedade limitada

Neste capítulo será tratado sobre os conceitos e objetivos da

sociedade limitada.

Referente à Sociedade Limitada Fábio Ulhoa Coelho8

comenta:

a sociedade limitada deriva, por certo, do contexto em que ela surgiu, como um novo tipo de sociedade, isto é, o da busca de uma alternativa para a exploração de atividades econômicas, em parceria, que pudesse assegurar a limitação da responsabilidade característica da anônima, mas sem as formalidades desta.

8 Coelho, Fábio Ulhoa.Curso de Direito Comercial. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006.p.369.

7

Como visto no histórico das sociedades limitadas, elas

surgiram da necessidade de se criar um tipo societário que permitisse a pequena

burguesia européia, sobretudo a germânica e a inglesa, escapar a

responsabilidade ilimitada e solidária das sociedades em nome coletivo, sem cair

na draconiana e complexa estruturação legal das sociedades por ações.

Ao analisarmos por que a sociedade limitada foi implantada

no mundo jurídico, podemos perceber que foi visando dar mais segurança aos

empreendedores e mais condições para novos investidores montarem ou criarem

uma maior estabilidade em seus negócios.

Na sociedade limitada o tipo não define a sua natureza, são

os sócios que a definem. A sociedade limitada pode ser de pessoas ou de capital,

de acordo com a vontade dos sócios, ou seja, o contrato social define a natureza

de cada limitada.

Para Waldo Fazzio Junior9 a sociedade empresária limitada

é:

por força de lei, uma sociedade contratual cujos sócios respondem solidária, ilimitada e subsidiariamente pela integralização do capital social e participam de lucros e perdas na proporção de sua concorrência para a formação do mesmo capital.

Portanto, entende-se ao analisar o conceito do doutrinador

acima citado, que nas sociedades empresárias limitadas os sócios respondem por

todos os lucros e perdas resultantes do negócio, na proporção da parte que

possuem na sociedade.

Dentre os objetivos, pode-se perceber nitidamente algumas

características peculiares deste tipo de sociedade empresária como a liberdade

2 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

8

contratual de opção entre a maior ou menor transmissibilidade das frações do

capital social, a identificação alternativa por uma denominação ou por uma firma

social, o valor da quota de participação como limite de participação de cada sócio

e o dever legal e contratual de integralização do capital social imposto como

encargo solidário a coletividade societária, como garantia de terceiros, sendo

estas relativas a sua individualização no contexto societário.

Portanto a sociedade limitada possui seus conceitos,

objetivos e características próprias, visando principalmente ser um tipo de

sociedade menos formalista se comparada à constituição dos outros tipos

societários.

No próximo item tratar-se-á de assunto de suma

importância, os elementos fundamentais do contrato social da Sociedade

Limitada.

1.3 Elementos fundamentais do contrato social da Sociedade Limitada

A sociedade limitada é sempre contratual, pois os vínculos

entre os sócios estão regulados segundo as regras do Código Civil.

A natureza da sociedade limitada é matéria de contrato entre

os sócios, cabendo a eles discutir no ato constitutivo, as condições a serem

impostas e obedecidas na futura sociedade a ser constituída. Este contrato escrito

poderá ser lavrado por instrumento público ou privado, devendo este ser inscrito

na junta comercial. Neste contrato será regulado o funcionamento da sociedade,

impondo, em conjunto com o ordenamento jurídico, quais as regras a que se

submeterão a sociedade empresária e seus sócios.

9

O contrato social para adquirir sua efetiva validade deve

obedecer alguns elementos fundamentais, estes previstos no artigo 997 e seus

incisos do Código Civil Brasileiro de 2002.

1.3.1. Nome empresarial (art. 997, II, e art. 1.158, do CC)

Sendo a sociedade limitada uma pessoa, esta deverá

possuir um nome, e isto será mencionado no contrato social, onde se identifica a

sociedade, sendo esta, cláusula essencial, por que dela se concretiza o uso

exclusivo deste nome, independentemente de outra modalidade de registro.

O contrato da sociedade limitada deve mencionar, no que

couber, as indicações previstas para a sociedade simples, e, se for o caso, a firma

social.

O artigo 997, II do Código Civil que normatiza o contrato

social da sociedade simples, também usado para regular as cláusulas da

sociedade limitada, prevê a necessidade de se mencionar no contrato social da

empresa de sociedade limitada, como abaixo destacado:

Artigo 997 do Código Civil Brasileiro:

A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

I - ... II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade.

10

Rubens Requião10 preceitua que “a sociedade atenderá por

seu nome comercial, que pode assumir a forma de denominação ou de firma ou

razão social, conforme constar do contrato”.

Este assunto também está regulado no artigo 1.158 do

Código Civil Brasileiro, que enuncia que as sociedades limitadas podem adotar

uma firma ou denominação particular:

O artigo 1.158 do Código Civil Brasileiro prevê: Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final “limitada” ou a sua abreviatura.

Sobre este artigo o doutrinador Rubens Requião11 comenta

que:

a firma ou razão social, quando não individualizar todos os sócios, pessoas físicas, conterá nome ou firma de um deles; quando se adotar denominação, composta de expressão fantasia, deve-se quanto possível dar a conhecer o objetivo da sociedade. Omitida da firma ou da denominação a palavra “limitada”, serão havidos como solidária e ilimitadamente responsáveis os administradores e os que fizerem uso da firma social ou da denominação, e como se vê essa responsabilidade, no caso, não atinge aos demais sócios, mas apenas os que usarem de firma social irregular, e os sócios gerentes.

Portanto, percebe-se ao analisar os comentários do

doutrinador supra citado a importância do nome empresarial, pois ele identifica a

sociedade, denominando e a individualizando perante as outras empresas

existentes.

3 Requião, Rubens.Curso de Direito Comercial. 26.ed. São Paulo,2005.p. 490. 11 Requião, Rubens.Curso de Direito Comercial. Vol.1. 26.ed. São Paulo,2005.p.490.

11

Após esta contextualização, no próximo item será tratado

sobre o objeto social.

1.3.2. Objeto social (art. 997, II, do CC e art. 56, ll, da Lei nº 8.884, de 11.7.94)

O artigo 997, em seu inciso II, do Código Civil Brasileiro,

prevê que a sociedade se constitui mediante contrato escrito, particular ou

público, que além de cláusulas estipuladas pelas partes mencionará o objeto da

sociedade.

Portanto, além do estipulado pelas partes, deve-se respeitar

o artigo 997 do Código Civil Brasileiro, pois este e seus incisos são considerados

elementos essenciais para a elaboração do contrato, ressaltando-se, que a

inobservância destas claúsulas essenciais implica na impossibilidade de gerar a

pessoa jurídica, pois, sem elas, o contrato da sociedade não pode ser registrado.

O objeto de uma sociedade limitada é a razão de sua

constituição e o que, basicamente a individualiza. Já que se fala em sociedade

empresária, seu objeto é a empresa, recebida pelo direito brasileiro como a

organização da atividade econômica voltada para a produção e/ou circulação de

bens ou serviços.

12

Como cita Waldo Fazzio Junior12

a adjetivação empresarial não enseja dúvidas: pode ser objeto da sociedade limitada, qualquer atividade de fim lucrativo, mas não qualquer empresa, somente a atividade que não afronte a lei, não contrarie o ordem pública ou os bons costumes.Em outros termos, o objetivo lucro deve ser buscado mediante empresa juridicamente lícita e moralmente adequada. A lei não se contenta com a simples legalidade do objeto, reclama sua conformação ética.”

O mesmo doutrinador acima citado segue fazendo

considerações acerca do objeto da sociedade limitada:

A indicação do objeto da sociedade deve ser corretamente redigida em língua portuguesa, apontando no contrato as atividades que os sócios propõem que a pessoa jurídica venha a exercer. Realmente, compete aos sócios deliberar sobre as atividades compreendidas no objeto contratual que a sociedade realmente exercerá, bem como, depois durante o desenvolvimento de suas atividades, sobre a suspensão ou cessação de uma atividade que venha sendo exercida.

Sendo assim, ao se analisar as colocações acima

explanadas, nota-se a extrema importância de se delimitar o objeto social de uma

empresa constituída por sociedade limitada, pois este juntamente com o nome

empresarial a destaca das demais, individualizando-a na sociedade.

5 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

13

1.3.3. Capital Social (art. 997, III e IV, do CC)

Como já citado o artigo 997 do Código Civil Brasileiro traz os

elementos cogentes dos contratos das sociedades, inclusive os da sociedade

limitada.

O presente artigo, em seu inciso III, traz a exigência de se

mencionar o capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo

compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária.

Waldo Fazzio Junior13 comenta que:

A temática do capital social deve ser focalizada de uma perspectiva econômica e de um ponto de vista jurídico. No plano econômico, está relacionado com o contingente de bens devotados a atividade empresarial da sociedade, ou seja, do financiamento da empresa. No plano jurídico, é uma exigência legal derivada da isenção de responsabilidade subsidiária dos sócios, uma vez aperfeiçoada a cifra estatutária nominada no contrato social. Realmente é uma cifra que engloba os valores nominais dos aportes dos quotistas. Referente ao capital o mesmo autor acima destacado cita

que:

Capital é o valor equivalente ao das contribuições efetuadas pelos sócios. É uma expressão de totalidade econômica no pequeno universo de determinada sociedade que explora a empresa, como tal, integra o contrato social, permanecendo intangível até que, nos casos e formas legais, observados requisitos incontornáveis possam ser alterados. Realmente, mantém-se incólume enquanto não ocorra modificação do contrato social para seu aumento ou redução ou, para melhor sintonia, enquanto a atividade econômica e as relações intra-societárias não reclamem sua elevação ou diminuição.

13 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

14

Portanto, o capital social é um valor determinado na

constituição da sociedade, ou seja, nas cláusulas do contrato social, na qual

atribui a determinado sócio um valor, este baseado nas suas contribuições

perante a sociedade limitada.

Neste mesmo sentido, o inciso IV do artigo 997 do Código

Civil, cita que o “contrato social deverá mencionar a quota de cada sócio no

capital social, e o modo de realizá-la”.

Como exige o artigo acima, com a constituição da sociedade

limitada, seus sócios devem obrigatoriamente - por esta exigência ser um

elemento essencial – destacar do patrimônio particular parcela que irá compor o

capital social.

Como cita Marcelo Bertoldi14:

(...) essa destinação pode se dar de forma imediata, com o sócio subscrevendo e integralizando suas quotas no momento da constituição da sociedade, ou então o sócio pode subscrever parte do capital e integralizá-lo posteriormente em uma única ou em várias prestações, conforme constar do contrato social.O capital social deve obrigatoriamente ser estipulado no contrato social e expresso em moeda nacional. As quotas podem ser iguais ou desiguais, cabendo as sócios

deliberarem suas quantias no ato do contrato social.

A doutrina destaca que a natureza jurídica das quotas deve

ser vista por duplo aspecto: como um direito pessoal, na medida em que atribui a

seu titular todos os direitos inerentes aos sócios, e como um direito patrimonial,

14 Bertoldi, Marcelo. Curso avançado de direito comercial. 3.ed. São Paulo. Revista dos tribunais, 2006.p.197.

15

pois confere ao seu dono o direito de participar dos resultados sociais e da

partilha no caso de liquidação da sociedade.

Após a apresentação deste item, no próximo explicar-se-á

sobre a responsabilidade dos sócios.

1.3.4. Responsabilidade dos sócios (art. 1.052, do CC)

A sociedade limitada, em regra, responde na totalidade de

seu patrimônio pelos negócios que assume. Os sócios da sociedade limitada,

responderão pelas dívidas desta, até o limite de suas cotas no capital social da

empresa.

Isto está previsto no artigo 1.052 do Código Civil Brasileiro

que determina que:

a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

Face ao exposto acima, o credor de uma sociedade de

“responsabilidade limitada”, deve considerar que o recebimento dos seus créditos

está limitado ao valor do capital social dela, pois a responsabilidade dos sócios

está limitada a integralizá-lo.

Marcelo Bertoldi15 cita algumas exceções referentes à

limitação da responsabilidade dos sócios.

a) Estabelece o artigo 1.080 do Código Civil que aqueles sócios

que deliberarem contrariamente ao contrato social ou em

15 Bertoldi, Marcelo. Curso avançado de direito comercial. 3.ed. São Paulo. Revista dos tribunais, 2006.p.184.

16

desconformidade com o ordenamento jurídico responderão ilimitadamente pelas obrigações advindas da decisão.

b) Para os créditos relativos as dívidas fiscais ou oriundas da Previdência Social, o legislador criou mecanismos que possibilitam a responsabilização pessoal dos sócios.

c) Quanto aos créditos trabalhistas, surgidos de condenações na esfera da Justiça do Trabalho, freqüentemente verifica-se a inclinação da jurisprudência em permitir a execução dos bens dos sócios, isso quando verificada a impossibilidade dos bens da sociedade suportarem o pagamento.Trata –se de construção jurisprudencial sem respaldo nas regras atinentes a limitação da responsabilidade dos sócios da sociedade limitada.

d) Em todos os demais casos em que se verifique o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, de molde a causar danos a terceiros.

Portanto, ao analisar as considerações acima expostas,

percebe-se que a limitação da responsabilidade dos sócios de sociedade limitada

está relacionada ao cumprimento do estipulado no contrato social e

principalmente a obediência das normas vigentes referentes ao tema.

Na seqüência destaca-se o prazo de duração da sociedade.

1.3.5. Prazo de duração da sociedade (art. 997, II, do CC)

Já que a sociedade pode ser contratada por tempo

determinado ou indeterminado, o prazo de sua duração precisa ser exposto.

Normalmente, devido a dificuldade de estipular o prazo de

duração da sociedade os sócios optam em colocar no contrato social que a

sociedade será por tempo indeterminado.

O artigo 1.029 do Código Civil de 2002 preceitua que:

Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência

17

mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provocando judicialmente justa causa. Parágrafo único. Nos 30 dias subseqüentes a notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.

Waldo Fazzio Junior16 doutrina que: se a sociedade for de prazo de terminado, a saída do sócio não pode ser imotivada. Além dos casos expressos de recesso social, falência e expulsão, só poderá retirar-se provando judicialmente justa causa. Se for sociedade por prazo determinado, vencido prazo de duração, pode prorrogar sua duração, convertendo-se em sociedade de prazo indeterminado. Basta que inexista oposição de sócio e não entre a sociedade em liquidação, portanto a prorrogação pode ser tácita, mas o silêncio deve ser unânime.

Após este relato é necessário discorrer sobre o próximo

item, que trata sobre a administração da sociedade limitada.

1.3.6. Administração da Sociedade Limitada

A sociedade limitada, por ser criação do direito, depende de

pessoas físicas para conduzí-la rumo a cumprir seus objetivos traçados no

contrato social.

O artigo 1.060 do Código Civil Brasileiro prevê:

A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em separado.

No contrato social deve constar, também, se a diretoria é

composta por duas ou mais pessoas, quais são seus poderes de representação.

16 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

18

Estas condições devem estar claramente explicitadas no

contrato social para que terceiros possam saber, nos negócios realizados com a

sociedade, que estão contratando validamente.

Referente ao tema Fábio Ulhoa Coelho17 cita que:

quando a limitada explora atividade econômica de pequena ou média dimensão, são os próprios sócios (ou parte deles) que exercem, indistintamente, os atos da administração, agindo em conjunto ou separadamente. Uma situação corriqueira, aliás, é a do sócio majoritário empreendedor como único administrador. Na medida, contudo, em que a sociedade se dedica as atividades de maior envergadura, a administração da empresa se torna mais complexa, e reclama maior grau de profissionalismo. Então, as tarefas gerenciais ou administrativas tendem a ser repartidas, entre os sócios e profissionais contratados, atuando em áreas compartimentadas da gestão empresarial (administrativa, comercial, de produção, financeira etc.).

Como citado acima à administração da sociedade limitada

pode ser exercida por qualquer pessoa, sendo ela sócia ou não, contanto que

conste no contrato social e que seja aceita por unanimidade pelos sócios

enquanto o capital social ainda não estiver integralizado, e de dois terços no

mínimo, após a integralização do total do capital social.

Fábio Ulhoa Coelho18 sobre este mesmo tema cita que:

os administradores (diretores) da sociedade limitada podem ser sócios ou não. Podem, por outro lado, ser designados no contrato social ou em ato apartado. De acordo com essas variáveis, e, numa hipótese, também em função da integralização do capital social, é diferente o quorum de deliberação para a sua escolha ou destituição.

17 Coelho, Fábio Ulhoa.Curso de Direito Comercial. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006.p.439. 18 Coelho, Fábio Ulhoa.Curso de Direito Comercial. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006.p.439.

19

Nada impede que a sociedade limitada adote uma estrutura

administrativa complexa, semelhante a da anônima, dotada, por exemplo, de

conselho de administração. Basta, para tanto, que a maioria societária o entenda

conveniente ao bom desenvolvimento dos negócios sociais, isto não é muito

usual, pois uma das vantagens da limitada em relação à anônima são os menores

custos de manutenção, derivados da maior informalidade existente na sociedade

limitada.

1.3.7. Cessão de quotas (art. 1.003 e 1.056, do CC)

A cessão de quotas da sociedade limitada se dá mediante a

sua transferência aos demais sócios, a própria sociedade ou a terceiros estranhos

a ela.

Quanto a transferência das quotas entre os sócios, não se

encontra dificuldade alguma, na medida em que a sociedade não está sendo

alterada, mas apenas o montante de participação dos seus sócios no capital

social.

Referente às quotas a própria sociedade, Marcelo M.

Bertoldi19 cita que neste caso deve preencher alguns requisitos, abaixo

relacionados:

a) As quotas adquiridas devem estar liberadas, ou seja,

integralizadas. Em se tratando de quotas do sócio remisso, a integralização deve ser feita imediatamente após a aquisição;

b) Para a aquisição a sociedade somente poderá utilizar reservas e lucros acumulados, impossibilitada a diminuição do seu capital para a realização da operação; e

c) Deverá haver a concordância dos sócios que representem a maioria do capital social. Registre-se que as quotas pertencentes a sociedade, por conta dessa condição especial, perdem obviamente o direito a voto e também não participam dos lucros da sociedade.

19 Bertoldi, Marcelo. Curso avançado de direito comercial. 3.ed. São Paulo. Revista dos tribunais, 2006.p.198.

20

A transferência de quotas para pessoa que não faça parte

da sociedade, ou como nomeada na doutrina pessoa estranha a sociedade,

firmou-se o entendimento que se deve seguir o disposto para as sociedades

anônimas, ou seja, que se pode dispor livremente das quotas, salvo se constar no

contrato social disposição em contrário. Normalmente, para que futuramente não

ocorram transtornos, esta norma contrária a possibilidade de se transferir quotas

a um estranho a sociedade, consta no com trato social, visando impedir que

terceiros venham a ingressar na sociedade sem que os demais sócios queiram.

Por fim, é importante ressaltar, que de acordo com o Código

Civil Brasileiro, o cedente, pelo prazo de dois anos, responde solidariamente com

o cessionário perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como

sócio.

1.3.8. Falecimento de sócio (art. 1.028 e 1.031, do CC)

Com o falecimento de um sócio, a regra geral determina a

liquidação de sua quota, se o contrário não prever o contrato social, ou seja, se o

contrato social for omisso ou dispuser sobre outra solução.

Sobre esta matéria a décima primeira câmara do Tribunal de

Justiça de São Paulo decidiu na Ap.150.847-2, que teve como relator o

desembargador Odyr Porto que:

Embora tratando-se de sociedade comercial composta de dois sócios, a morte de um deles não leva a dissolução plena, mas simplesmente parcial, porquanto deve prevalecer a tendência moderna da preservação da empresa, no resguardo do interesse público, e não a prevalência da vontade individual do sócio ou de seus herdeiros. Mesmo que, no caso concreto, se esteja favorecendo quem jamais colaborou para o engrandecimento da empresa, impõe-se a solução, que consulta o interesse mais relevante: a preservação da empresa.

21

No caso de omissão no contrato social, no caso do artigo

1.028, inciso I, do Código Civil “os sócios supérstites poderão recusar ingresso

aos sucessores do quotista falecido, apurando-se seus haveres’’.

Waldo Fazzio Junior20 cita que “em razão da sucessão,

herdeiros e legatários passarão a titular as cotas de participação do de cujus”.

Sobre esse assunto decidiu a terceira turma do Superior

Tribunal de Justiça no Recurso especial número 248269, que teve como relator o

ministro Eduardo Ribeiro que:

As cotas de sociedade limitada, enquanto representando direito patrimonial de participar dos lucros e da partilha do acerto líquido, em caso de dissolução, integram, em princípio, a comunhão, nada importando que figurem em nome de um dos cônjuges, o que não se comunica é o status de sócio. Falecendo o marido, devem ser trazidas a inventário as cotas que estejam em nome da mulher, só se procedendo a exclusão caso demonstrado que presente alguma das causas que a justifica.

Caso os sucessores não desejem integrar a sociedade

limitada, também podem promover a apuração dos haveres do quotista falecido,

com a resolução social.

A dissolução da sociedade poderá ocorrer por vontade dos

sócios supérstites, caso em que não ocorrerá a liquidação, apenas, da quota de

participação do quotista falecido, mas da própria sociedade. Ainda, poderá não

acontecer a liquidação da quota do sócio falecido, se advier sua substituição, em

razão de acordo celebrado com seus herdeiros.

No próximo subitem será explanado sobre a data do

encerramento do exercício social.

20 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

22

1.3.9. Data do encerramento do exercício social (art. 1.065 e 1.078, § 1 º, do CC).

Neste subitem tratar-se-á sobre a data de encerramento do

exercício social. O artigo 1.065 do Código Civil Brasileiro prevê:

Ao término de cada exercício social, proceder-se-á a elaboração do inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico.

Ricardo Fiuza21 ao comentar este artigo ressalta que: constitui princípio fundamental do direito societário, que os administradores devem prestar contas dos atos da administração, em particular no que tange aos resultados anuais da sociedade para conhecimento aos demais sócios, portanto o levantamento de balanço patrimonial no encerramento de cada exercício anual é obrigatório, devendo ser realizado o inventário físico dos bens do ativo da sociedade e a elaboração das contas de resultado econômico, representado pelas demonstrações financeiras do respectivo exercício.

O parágrafo primeiro do artigo 1.078 do Código Civil Brasileiro prevê:

Até trinta dias antes da data marcada para a assembléia, os documentos referidos no inciso I deste artigo devem ser postos, por escrito, e com a prova do respectivo recebimento, a disposição dos sócios que não exerçam a administração.

Para que seja possibilitada a prévia análise dos relatórios e

dados levados a aprovação da assembléia, a administração deverá colocar a

disposição dos demais sócios as demonstrações financeiras e o balanço do

exercício respectivo, no prazo de trinta dias antes da realização da assembléia,

sob pena de invalidade das deliberações tomadas sem conhecimento dos fatos.

21 Fiuza, Ricardo.Novo Código Civil Comentado. 3 ed. São Paulo. Ed. Saraiva,2004.p.981.

23

1.3.10. Participação dos sócios nos lucros e perdas (art. 997, VII, CC)

Participar de uma sociedade empresária significa

compartilhar o risco de lucrar ou perder. Os sócios participam, isto é, contribuem

para obter lucros, mas estão expostos a arcar também com as perdas. Só pode

lucrar quem se expõe ao risco de perder. Nenhum sócio, por mais diversos que

sejam os níveis de participação societária, pode apenas fazer jus aos lucros, ou

apenas as perdas.

Waldo Fazzio Junior22 comenta que: a lei não cogita de impor distribuição de lucros pactuada com absoluto igualitarismo. Não é da igualdade geométrica que se trata, mas da proporcionalidade. A alocação dos resultados positivos deverá atender a medida da participação de cada sócio. Como declara o artigo 1.007 do Código, que o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas cotas. Quem investe mais ganha mais ou perde mais, conforme o êxito ou insucesso da atividade empresarial. E mais, conforme a compatibilidade de sua atuação no âmbito societário com as cláusulas contratuais e deliberações sociais.

Portanto o que se percebe na sociedade limitada é que a

dimensão dos lucros ou das perdas de cada sócio está relacionada com a

quantidade de quotas que este possui na sociedade.

1.3.11. Cláusula de impedimento para o administrador (art. 1.011, do CC)

Esse subitem terá como foco e intuito explicar a cláusula de

impedimento do administrador. O artigo 1.011 do Código Civil trata sobre tema relacionado

ao tratado neste subitem.

22 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

24

O artigo 1.011 do Código Civil prevê:

O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.

Ricardo Fiuza23 ao comentar esse artigo, cita que: somente pode exercer o cargo de administrador da sociedade a pessoa que não tiver sido condenada por crimes, que por razão do tipo penal e da natureza da infração, possam importar na perda de idoneidade para fins de representação da pessoa jurídica.

Isto por que tais práticas delituosas pressupõem, enquanto

persistirem os efeitos da condenação, a inidoneidade da pessoa em relação a

atos jurídicos que devem ser praticados perante terceiros e que exigem

comportamento probo, digno de boa-fé.

Uma vez que os administradores de sociedade são

investidos de funções pelo respectivo contrato social, poderes estes delegados

pelos demais sócios, suas atribuições são equiparadas ao mandato, para efeitos

de aplicação subsidiária das normas inerentes, no silêncio do contrato de

sociedade.

1.4. Direitos e deveres dos sócios na Sociedade Limitada

A primeira e fundamental obrigação do sócio é o dever de

entrada que consiste no pagamento de sua fração na composição do capital

social.

A segunda obrigação do sócio perante a sociedade limitada

é o dever de lealdade, que impõe que o sócio deve agir perante a sociedade com

ética.

23 Fiuza, Ricardo.Novo Código Civil Comentado. 3 ed. São Paulo. Ed. Saraiva,2004.p.933.

25

O código civil prevê a exclusão de sócio, por maioria de

votos dos demais sócios, se este cometer falta grave no cumprimento de suas

obrigações.

A sociedade limitada não consiste apenas em obrigações

aos sócios, mas também em direitos.

Conforme doutrina de Waldo Fazzio Junior24, “ser sócio é ter

direito a participar ou a deixar de participar nas situações previstas em lei ou no

contrato”.

O doutrinador acima citado relaciona em seu livro Sociedade

Limitada, quais são os direitos dos sócios na sociedade limitada:

a) Participar da administração social, diretamente; b) Participar da administração social, indiretamente; c) Participar do processo deliberativo, pelo exercício do voto; d) Participar da custódia societária; e) Participar, eventualmente, como elemento da empresa; f) Participar dos lucros e das perdas; g) Deixar de participar por dissidência(recesso); h) Deixar de participar por justa causa; i) Deixar de participar por conveniência ou oportunidade

Todo sócio é em princípio, custos da correção

administrativa. Pode fiscalizar propriamente, integrando o conselho fiscal,

configurando ao sócio mais um direito, o direito a custódia societária.

Outro direito garantido ao sócio é o direito de participar dos

resultados financeiros da sociedade.

O sócio também possui o direito de votar nas deliberações

sociais da sociedade limitada, pois o voto é por excelência a manifestação de

vontade do sócio.

24 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

26

Caso a sociedade queira promover o aumento de seu

capital, os sócios têm 30 dias para manifestar sua preferência na participação do

aumento, esta preferência se opera na proporção das quotas que cada sócio

possui.

Outro direito garantido ao sócio da sociedade limitada é o

direito de recesso, que é um remédio alternativo contra a opressão exercida pela

maioria societária, é, portanto, instrumento defensivo dos direitos e interesses da

minoria societária, cujo voto tem pouco peso nas deliberações sociais.

Percebe-se, portanto, com as colocações acima expostas

que os sócios possuem seus direitos e deveres, devendo estes ser respeitados

para que a sociedade funcione de maneira correta.

1.5. A fiscalização social nas Sociedades Limitadas

A sociedade limitada não precisa ter conselho fiscal, mas se

o contrato dispuser sobre sua adoção, será o custos oficial da regularidade

administrativa da sociedade. Sem prejuízo dos direitos de fiscalização

normalmente exercidos pelos sócios, o conselho fiscal te atribuições legais

expressas para exercer o controle fiscal da administração social.

Waldo Fazzio Junior25 cita que:

a função essencial do conselho fiscal é a de exercer permanente fiscalização sobre os orgãos de administração da sociedade, especificamente em relação as contas, e a legalidade e regularidade dos atos de gestão. Sua atuação é instrumental, já que disponibiliza aos sócios as informações necessárias para o exercício de fiscalizar e exara parecer sobre a regularidade das prestações de contas.

25 Júnior, Waldo Fazzio.Sociedades Limitadas.São Paulo:Ed. Atlas S.A, 2003.

27

A eventual aplicação do conselho fiscal entre os órgãos

societários deve ter sempre a finalidade de melhor atender ao interesse da

sociedade limitada, cuja prevalência sobre os interesses menores dos sócios ou

grupos de sócios deve ser preservada e estimulada.

O sócio fiscaliza por direito; o conselho fiscal por dever

funcional.

A composição do conselho fiscal compreende três ou mais

membros, com suplentes em igual número, quotistas ou não, eleitos pela

assembléia anual, sendo o mandato, portanto, de um ano.

Além de outras atribuições determinadas no contrato social,

o Código cìvil enumera em seu artigo 1.069 as seguintes:

a) Examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas;

b) Lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo;

c) Exarar no mesmo livro e apresentar as assembléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o resultado econômico;

d) Denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis a sociedade;

e) Convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes;

f) Praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação.

Como forma de proteção de interesses da minoria é

garantido ao grupo de sócios que detenha no mínimo um quinto do capital social

eleger, em separado, um dos membros do conselho fiscal a seu respectivo

suplente.

28

A responsabilidade dos membros do conselho fiscal é igual a

dos administradores, devendo estes agir com a diligência e o cuidado que o cargo

exige, respondendo solidariamente perante a sociedade e terceiros pelos

prejuízos causados por culpa destes no exercício de suas funções.

1.6. Dissolução Parcial e dissolução total das Sociedades Limitadas

Dissolução é um substantivo que se refere ao ato ou efeito

de dissolver. Pode referir-se a decomposição orgânica resultante da separação de

seus elementos constituintes. Pode aludir também, ao rompimento ou extinção de

um contrato de uma entidade ou orgão coletivo.

O Código Civil de 2002 ao tratar sobre a dissolução das

sociedades, especificamente a das sociedades limitadas em seu artigo 1.087, no

qual remete ao artigo 1.044, no qual remete ao artigo 1.033 cita os casos em que

ocorre a dissolução da sociedade, estes enumerados a seguir:

a) Quando ocorre o vencimento do prazo de duração, salvo se,

vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;

b) O consenso unânime dos sócios; c) A deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade

de prazo indeterminado; d) A falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de

cento e oitenta dias; e) A extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

Estes são os casos que a lei enumera de dissolução total da

sociedade, podendo ocorrer, também a dissolução parcial, que é o que a doutrina

e a jurisprudência moderna buscam, visando preservar o que a sociedade já

evoluiu.

29

Fábio Ulhoa Coelho26 enfatiza ao comentar sobre dissolução parcial que:

o princípio da preservação da empresa, esculpido na doutrina e na jurisprudência principalmente a partir dos anos 1960, recomenda a dissolução parcial da sociedade limitada, como forma de resolver conflitos entre os sócios, sem comprometer o desenvolvimento da atividade econômica nem sacrificar empregos, reduzir o abastecimento do mercado de consumo ou prejudicar pessoas direta ou indiretamente beneficiadas com a empresa.

Este princípio acima prestigia o que já foi construído pela

empresa, inclusive o significado desta para a sociedade, os empregos que ela

gera e os interesses que ela satisfaz. Portanto, a doutrina moderna defende que

deve se preservada a empresa não devendo esta sofrer a dissolução total apenas

por desentendimentos dos sócios, mas sim a dissolução parcial onde se pode

preservar a empresa.

Além da vontade dos sócios, a dissolução parcial pode ter

por causa:

a) Exercício do direito de retirada, nos casos em que a

sociedade é de período indeterminado e vem sofrendo um

período de instabilidade, o sócio pode desligar-se desta,

exercendo o seu direito de retirada.

b) Expulsão, nos casos em que o sócio descumpre seus

deveres com a sociedade.

c) Morte do sócio, nos casos em que falece um dos

sócios da sociedade limitada pode ocorrer a dissolução

parcial.

Portanto, o que se vê é uma espécie de “incentivo”, para que

ocorra a dissolução parcial, nos casos em que a lei permite esta espécie de

26 Coelho, Fábio Ulhoa.Curso de Direito Comercial. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006.p.461.

30

dissolução, visando preservar a empresa e as contribuições sociais que ela traz,

dentre elas a sua produção, os empregos que ela gera e dentre outros mais.

No próximo capítulo far-se-á algumas considerações sobre

alguns princípios de Direito Civil, Direito Tributário e Direito do Trabalho e sua

interferência nas Sociedades Empresárias.

31

CAPÍTULO 2

CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUNS PRINCÍPIOS DE DIREITO

CIVIL, DIREITO TRIBUTÁRIO E DIREITO DO TRABALHO E SUA

INTERFERÊNCIA NAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS.

2.1. Conceito de Sociedade Empresária e sua distinção com relação aos demais tipos de sociedade.

Neste segundo capítulo será abordado sobre as sociedades

empresárias e suas distinções em relação aos outros tipos de sociedade.

Para Fabio Ulhoa Coelho27 “sociedade empresária é a

pessoa jurídica que explora uma empresa”.

Segundo o autor acima citado as atividades econômicas de

pequeno porte podem ser exploradas por uma pessoa apenas sem nenhuma

dificuldade.

Mas com o crescimento desta atividade, a sua realização vai

tornando-se mais complexa exigindo maiores investimentos ou maior capacitação

para o seu controle. Para que o desenvolvimento desta atividade ocorra de

maneira correta, nota-se a necessidade da aglutinação de esforços de diversos

agentes, interessados nos lucros que esta atividade promete propiciar. Isto pode

transformar-se em variadas formas jurídicas, dentre as quais a de uma sociedade.

Torna-se de importante valia, já que se trata de tema

referente às sociedades empresárias, colocar-se em tela o artigo 966 do Código

Civil Brasileiro onde consta o conceito de empresário:

27 Coelho, Fábio Ulhoa.Curso de Direito Comercial.pg. 5 . vol.2.

32

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Com a necessidade do homem se unir, visando buscar

melhores resultados, surgiram algumas formas de se alcançar estes objetivos,

dentre elas as pessoas jurídicas.

Silvio Rodrigues28 refere-se ao tema, na citação abaixo:

as pessoas jurídicas surgiram para suprir a própria deficiência humana. Freqüentemente o homem não encontra em si forças e recursos necessários para uma empresa de maior vulto, de sorte que procura, estabelecendo sociedade com outros homens, constituir um organismo capaz de alcançar o fim almejado.

Referente à natureza das pessoas jurídicas, Fabio Ulhoa

Coelho29 cita que foram duas as soluções tentadas pelos teóricos para organizar

o argumento da questão ontológica da pessoa jurídica:

De um lado, as teorias pré-normativistas, que consideram as pessoas jurídicas seres de existência anterior e independente da ordem jurídica. De outro lado, encontram-se as teorias normativistas sustentando o oposto, isto é, as pessoas jurídicas como criação do direito.

As pessoas jurídicas podem ser classificadas tendo em vista

sua estrutura ou a órbita de sua atuação.

Silvio Rodrigues 30 as classifica da seguinte forma:

a) As que têm como elemento subjacente o homem, isto é, as

que se compõem pela reunião de pessoas, tais como as associações e as sociedades

28 RODRIGUES, Silvio.Direito Civil. 34 ed. São Paulo:ed. Saraiva., 2005. P.86. 29 Coelho, Fábio Ulhoa.Curso de Direito Comercial.pg. 8 . vol.2. 30 RODRIGUES, Silvio Direito Civil. P.90.

33

b) As que se constituem em torno de um patrimônio destinado a um fim, isto é, as fundações.

As pessoas jurídicas podem ser de direito público externo,

como por exemplo, as várias nações, a Santa Sé, a Organização das Nações

Unidas; ou interno, tais como a União, os Estados, o Distrito Federal e cada um

dos municípios legalmente constituídos; e de direito privado.

As de direito privado são as sociedades religiosas, pias,

morais, científicas ou literárias, as sociedades mercantis, as associações de

utilidade pública e as fundações.

Estas formas de realização de determinadas atividades,

dentre elas realização de investimentos comuns para a atividade econômica pode

revestir várias formas jurídicas, dentre as quais “sociedade empresária”.

São cinco os tipos de sociedade empresárias: a Sociedade

por nome coletivo, a Sociedade por Comandita Simples, a Sociedade em

Comandita por Ações, a Sociedade Anônima, a Sociedade por Quotas de

Responsabilidade Limitada.

Sociedade Empresária é um conceito mais amplo que

sociedade comercial, pois abarca uma das maneiras de organizar, a partir de

investimentos comuns de mais de um agente, a atividade econômica de produção

ou circulação de bens e serviços.

As sociedades empresárias são sempre personalizadas, ou

seja, são pessoas distintas dos sócios, titularizam seus próprios direitos e

obrigações (a conta de participação não é a rigor, sociedade, mas um contrato de

investimento comum que a lei preferiu chamar de sociedade).

Buscar-se-á no próximo item, para um entendimento mais

amplo sobre esse tema, explanar sobre os conceitos e objetivos do direito civil.

34

2.2 Conceito e objetivos do Direito Civil

O Direito Civil tem uma importância imensa, pois é o ramo

do direito privado que regula as relações entre particulares. A partir do século XIX

toma um sentido mais estrito para designar as instituições disciplinadas no Código

Civil.

Segundo Maria Helena Diniz, nota-se que o Código Civil

contém duas partes, a geral: onde apresenta normas sobre pessoas, bens em

sentido amplo; e a especial: onde regula o direito das obrigações, o direito de

empresa, o direito das coisas, o direito de família e o direito das sucessões.

Segundo Silvio Rodrigues31

o código civil de 2002, admitiu um novo livro, Do Direito Da Empresa(artigos 966 a 1.195). A presença de tal matéria dentro da lei civil reflete aquele anseio de unificação do direito privado, nítido da elaboração de Anteprojeto e que explica a presença do saudoso Sylvio Marcondes na equipe que o elaborou.

O Direito Civil abrange todas as pessoas da sociedade, pois

este disciplina o seu modo de ser e de agir, sem distinção de raça ou classe

social.

O Direito Civil rege todo e qualquer tipo de relações do

cotidiano das pessoas, dentre elas a compra de algo, uma união entre duas

pessoas, as relações entre um credor e um devedor, dentre outras.

31 RODRIGUES, Silvio.Direito Civil.. P.12. vol.1

35

Segundo Maria Helena Diniz32:

direito civil é, pois, ramo do direito privado destinado a reger relações familiares, patrimoniais e obrigacionais que se formam entre indivíduos encarados como tais, ou seja, enquanto membros da sociedade.

Portanto, nota-se ao analisar o conceito acima destacado, a

grande importância do Direito Civil na vida das pessoas, pois este regula as

relações entre os seres da Sociedade visando mantê-la em equilíbrio, para

sempre se buscar a justiça.

Após esta contextualização, no próximo item analisar-se-á

os princípios essenciais do direito civil.

2.3 Princípios Essenciais do Direito Civil

O Direito Civil destaca-se por ser a ciência que normatiza as

relações entre os seres humanos. De extrema relevância torna-se tratar sobre os

princípios essenciais do direito civil, pois estes dão estrutura para os atos jurídicos

cujo o direito civil regula. Segundo entendimento de Fábio Ulhoa Coelho33:

Os princípios de direito são preceitos revelados, pela doutrina, a partir da natureza do ser humano (direito a vida, a liberdade etc.). Os princípios do direito são regras, expressas ou reveladas, que inspiram todo o ordenamento ou determinada área do direito.

32 DINIZ,Maria Helena.Curso de Direito Civil Brasileiro. 20 ed. São Paulo. Ed. Saraiva. 2003.p. 46.vol.1 33 COELHO,Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 67.

36

Portanto os princípios essenciais do Direito Civil, como

destacado no conceito acima, são derivados do ser humano, ou seja, mais

especificamente de um direito natural, incluindo regras que visam regular o

ordenamento jurídico.

Buscar-se-á abaixo destacar de maneira exemplificativa

alguns cuja influência seja de extrema relevância para as relações reguladas pela

matéria analisada neste subitem. Dentre estes princípios destaca-se:

a) O princípio da personalidade: que possui imensa

importância no ordenamento jurídico, pois defende que todo ser humano tem seus

direitos e deveres, simplesmente por estar participando da Sociedade.

Nesse sentido Maria Helena Diniz34 ao explicitar sua opinião

sobre o presente conceito destaca que configura-se o princípio da personalidade “

ao aceitar a idéia que todo ser humano é sujeito de direitos e obrigações, pelo

simples fato de ser homem”.

Portanto ao se aceitar a idéia do ser humano integrar a

sociedade, surge o fenômeno da personalidade, pois a partir deste princípio ou

deste momento, os seres que compõe a sociedade devem arcar com obrigações

peculiares a um equilíbrio social e usufruir de seus direitos, visando respeitar o

previsto na Constituição da República.

b) Princípio da autonomia da vontade: o presente

princípio destaca a liberdade que os seres de direito possuem de praticar ou

deixar de praticar certos atos, obviamente sempre respeitando as normas

reguladoras da sociedade.

Roberto Senise Lisboa35 enfatiza que “é princípio que

garante a pessoa a prática de atos e negócios jurídicos de acordo com o seu

34 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. P.46. 35 LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2 ed. São Paulo: RT, 2002.p. 74

37

desejo, oportunidade e conveniência”.

Com os conceitos acima destacados verifica-se que o

princípio da autonomia da vontade dá liberdade às pessoas que irão celebrar

determinado ato jurídico, dando-lhes o direito de praticar ou deixar de praticar

determinado ato referente a este, desde que respeitada à lei.

c) Princípio da propriedade individual: garante que o

homem ao adquirir ganhos, fruto de determinada atividade laboral ou demais

permitidas pela lei, pode adquirir bens móveis e imóveis, incorporando-os ao seu

patrimônio.

Maria Helena Diniz36 ao referir-se sobre o presente princípio

destaca que “pela idéia assente de que o homem pelo seu trabalho ou pelas

outras formas admitidas em lei pode exteriorizar a sua personalidade em bens

móveis ou imóveis que passam a constituir seu patrimônio.”

Portanto o Direito Civil, seguindo o princípio da propriedade

individual, garante ao homem incorporar ao seu patrimônio bens com os frutos de

seu trabalho, ou de qualquer outra forma lícita de se acumular ganhos.

d) Princípio da intangibilidade familiar: visa garantir a

existência da família, ou seja, incentiva a sua permanência, salvo nos casos em

que a lei determine.

Maria Helena Diniz37 destaca sobre o princípio da

intangibilidade familiar “ao reconhecer a família como uma expressão imediata de

seu ser pessoal”.

Neste mesmo sentido Roberto Senise Lisboa38 conceitua o

presente primado dizendo que “é princípio que tem por finalidade garantir a 36 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.47. 37 DINIZ. Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. P. 47. 38 LISBOA. Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. P. 75.

38

existência da família como instituição jurídica, buscando-se a sua não extinção,

salvo quando expressamente determinada pela lei”.

Conclui-se assim, que o princípio da intangibilidade familiar

visa prevenir, ou melhor, evitar a extinção da família, destacando que a prioridade

é a sua existência.

e) Princípio da legitimidade da herança e do direito de

testar: consiste no direito que as pessoas possuem de dispor livremente de seus

bens, podendo transmiti-los a seus herdeiros.

Maria Helena Diniz39 refere-se ao presente princípio

destacando que este consiste “na aceitação de que, entre os poderes que as

pessoas têm sobre seus bens, se inclui o de poder transmiti-los, total ou

parcialmente, a seus herdeiros”.

Portanto o presente princípio dá a liberdade ao proprietário

de bens, tanto imóveis quanto móveis, de dispor sobre estes, segundo este

princípio mais especificadamente, de transmiti-los a seus herdeiros, pela herança

propriamente dita ou por testamento.

f) Princípio da Solidariedade Social: o presente

princípio refere-se à dignidade das pessoas, do respeito entre os seres que

compõem a sociedade, buscando o justo para todos. Portanto, visa regular a

sociedade, ou seja, de forma mais objetiva, visa garantir que a propriedade

cumpra a sua função social, que os contratos ou demais negócios jurídicos

respeitem a coletividade, visando alcançar um equilíbrio social.

39DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. P. 47.

39

Roberto Senise Lisboa40 conceitua o princípio da

Solidariedade social da seguinte forma a baixo destacada:

é princípio que objetiva o asseguramento da vida digna em comunidade, mediante o auxílio recíproco das pessoas e o cumprimento de políticas voltadas para garantia de um patrimônio mínimo destinado a manutenção de todos.

Maria Helena Diniz41 na mesma ótica cita que o presente

princípio “ante a função social da propriedade e dos negócios jurídicos, a fim de

conciliar as exigências da coletividade com os interesses particulares”.

Ao se verificar os conceitos acima explanados nota-se que a

função do princípio da solidariedade social é estabelecer um equilíbrio social,

mantê-la de forma estável, visando alcançar o bem de todos os seres que a

integram.

2.4 Conceitos e Objetivos do Direito do Trabalho

O trabalho é inseparável do homem, da pessoa humana,

confunde-se com a própria personalidade, em qualquer de suas manifestações.

Portanto necessita-se de um direito que regule o cumprimento destes afazeres, e

este direito é o direito do trabalho.

Com a necessidade de um instituto para regular o trabalho

surge a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que visa dar mais segurança a

todos os sujeitos que participam da relação de emprego.

40 LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. p. 75. 41 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. P. 47.

40

Segundo Mauricio Godinho Delgado42 “o direito do trabalho

é ramo jurídico especializado, que regula certo tipo de relação laborativa na

sociedade contemporânea”.

Portanto percebe-se com o conceito de direito do trabalho,

que a sua principal função é regular as relações de trabalho na sociedade, tanto

para o trabalhador quanto para o empregador.

Para Mauricio Godinho Delgado43:

Todo direito, como instrumento de regulação de instituições e relações humanas , atende a fins preestabelecidos em determinado contexto histórico. O direito do Trabalho não escapa a essa configuração a que se submete todo fenômeno jurídico. De fato, o ramo justrabalhista incorpora, no conjunto de seus princípios, regras e institutos, um valor finalístico essencial, que marca a direção de todo o sistema jurídico que compõe. Este valor - e a consequente direção teleológica imprimida a este ramo jurídico especializado - consiste na melhoria das condições de pactuação da força de trabalho na ordem socioeconômica.

Portanto, o direito do trabalho tem como intuito regular as

relações de trabalho, visando manter a ordem social, controlando e evitando

excessos por ambas as partes da relação laboral. Visa alcançar o equilíbrio do

contrato de trabalho, para que o exercício de determinada função resulte em

benefícios para ambas as partes.

Após este relato torna-se de extrema relevância discorrer

sobre o próximo item, os princípios essenciais do direito do trabalho.

42 DELGADO, Maurício Godinho.Curso de Direito do Trabalho. 5 ed. São Paulo:LTr, 2006.p. 49 43 DELGADO,Maurício Godinho.Curso de Direito do Trabalho. p.58.

41

2.5 Princípios essenciais do Direito do Trabalho

Neste subitem tratar-se-á sobre os princípios essenciais do

direito do trabalho.

Os princípios gerais do Direito têm como função principal

direcionar as decisões, no sentido de que se cumpra o relevante papel de

assegurar a organização social, dando base para que se alcance a justiça em

uma sociedade.

O direito do trabalho também, além de seguir os princípios

gerais e constitucionais do Direito, possui seus princípios peculiares e essenciais

para que se cumpram as normas trabalhistas.

Dentre estes princípios essenciais do direito do trabalho

pode-se destacar os seguintes:

a) Princípio da imperatividade das normas

trabalhistas, traduz que as normas trabalhistas são imperativas na relação de

trabalho, não podendo estas normas serem desobedecidas ou esquecidas na

pactuação da relação jurídica criada pelas partes.

Sobre este princípio Delgado44 cita que:

Informa tal princípio que prevalece no segmento juslaborativo o domínio de regras jurídicas imediatamente obrigatórias, em detrimento de regras apenas dispositivas. As regras justrabalhistas são, desse modo, essencialmente imperativas, não podendo, de maneira geral, ter sua regência contratual afastada pela simples manifestação de vontade das partes. Portanto, para o princípio da imperatividade das normas

trabalhistas prevalece a proibição contratual, visando fazer com que as partes do

44 DELGADO,Maurício Godinho.Curso de Direito do Trabalho. p.201.

42

contrato de trabalho sigam as normas trabalhistas. Ou seja, para o princípio da

imperatividade no Direito do Trabalho prevalece a restrição a autonomia da

vontade das partes que integram o contrato, tendo como intuito assegurar as

garantias fundamentais dos trabalhadores.

b) O princípio da liberdade de trabalho, que segundo

Amauri Mascaro do Nascimento45:

O trabalho deve ser prestado por deliberação do agente, sendo injurídicas formas coativas destinadas a provocar o constrangimento do trabalhador. É repudiado pelo Direito do Trabalho o trabalho forçado, lamentavelmente ainda na época atual em um ou outro lugar, encontra-se alguém atentando contra a dignidade do ser humano.

Portanto o princípio acima destacado está intimamente

ligado com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, ou seja, faz

com que se respeite o direito do trabalhador, dando-lhe condições de escolher e

executar as tarefas que se sente preparado para desenvolver.

c) O princípio do direito de organização sindical

segundo Nascimento46:

é admitido independentemente do regime político ou econômico, tanto nos países capitalistas como socialistas, alterando-se, contudo, a concepção de sindicalismo em função das ideologias predominantes.Apesar dessas variações, o movimento sindical é uma realidade, qualquer que seja o sistema de direito do trabalho.

Este princípio visa dar condições aos trabalhadores de se

organizarem, ou seja, unirem forças, com o intuito de buscar melhores condições

45 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 20.ed. São Paulo: Saraiva,2005.p.348. 46 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 20.ed. São Paulo: Saraiva,2005.p.348.

43

de trabalho e outros assuntos que considerem necessários para que o

desenvolvimento da atividade seja cumprido de maneira eficiente.

d) Princípio da norma mais favorável ao trabalhador

segundo Delgado47:

O presente princípio dispõe que o operador do direito do trabalho deve optar pela regra mais favorável ao obreiro em três situações ou dimensões distintas: no instante de elaboração de regra (princípio orientador da ação legislativa, portanto) ou no contexto de confronto entre regras concorrentes (princípio orientador do processo de hierarquização de normas trabalhistas) ou, por fim, no contexto de interpretação das regras jurídicas (princípio orientador do processo de revelação do sentido da regra trabalhista).

Neste mesmo sentido Nascimento48 cita que:

É um princípio de tríplice função. É princípio de norma jurídica, influindo nos critérios inspiradores da reforma das legislações e definição das condições de trabalho fixadas pelas convenções coletivas. É princípio de aplicação do direito do trabalho, permitindo a adoção de meios técnicos destinados a resolver o problema da hierarquia e da prevalência, entre muitas, de uma norma sobre a matéria a ser regulada. É, finalmente, princípio de interpretação, permitindo que no caso de dúvida sobre o sentido da norma jurídica venha a ser escolhido aquele mais benéfico ao trabalhador, salvo lei proibitiva do estado.

Face ao destacado acima, o princípio da norma mais

favorável tem como função destinar o legislador a legislar, interpretar e aplicar a

norma no sentido de que esta seja a mais benéfica ao obreiro, obviamente

sempre respeitando a razoabilidade.

47 DELGADO,Maurício Godinho.Curso de Direito do Trabalho. p.199. 48 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho.p.348.

44

Portanto o presente princípio visa proteger a parte mais

fraca no contrato, dando-lhe mais garantias e benefícios, defendendo que caso

existam duas normas no mesmo caso concreto deve-se aplicar a mais favorável

ao trabalhador.

e) O princípio da justa remuneração defende que os

valores recebidos pelo trabalhador devem ser compatíveis com a atividade

realizada, sendo este compensado pelos serviços que prestou e pelos benefícios

que gerou ao estabelecimento onde efetuou a atividade laboral.

Nascimento49 preceitua que de acordo com este princípio “é

função do Direito do Trabalho promover medidas destinadas a garantir aos

trabalhadores adequada retribuição pelos serviços prestados”.

Portanto o presente princípio visa garantir ao trabalhador

uma remunerção justa, dando-lhe uma vida mais digna, conforme preceitua a

própria Constituição da República Federativa do Brasil.

f) O princípio da proteção:

Segundo palavras de Delgado50: “O princípio da proteção,

visa proteger, a parte mais fraca do contrato, tendo como objetivo evitar um

desequilíbrio contratual”.

49 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho.p.349. 50 DELGADO,Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p.199.

45

O artigo 468 da Consolidação das Leis Trabalhistas abaixo

destacado, prevê que as alterações contratuais só podem ser efetuadas com o

consentimento de ambas as partes, contanto que não prejudique o empregado:

Art. 468 CLT – Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e, ainda assim, desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.

Neste mesmo sentido, Sergio Pinto Martins51 preconiza:

Temos como regra que se deve proporcionar uma forma de compensar a superioridade econômica do empregador em relação ao empregado, dando a este último uma superioridade jurídica. Esta é conferida ao empregado no momento em que se dá ao trabalhador a proteção que lhe é dispensada por meio da lei.

Portanto o presente princípio da proteção visa alcançar um

equilíbrio contratual, protegendo a parte hipossuficente do contrato (empregado),

para que ambas as partes contratuais pactuem de forma justa e correta.

g) O Princípio da indisponibilidade dos direitos

trabalhistas refere-se a não disponibilidade do obreiro de se desapossar de seus

direitos trabalhistas no contrato de trabalho por livre e espontânea vontade ou por

pressão do empregador.

51 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 19 ed. São Paulo:Atlas, 2004. P.95.

46

Sobre este princípio Delgado52 traz como conceito

explicativo que:

O presente princípio é projeção do princípio da imperatividade das normas trabalhistas. Ele traduz a inviolabilidade técnico-jurídica de poder o empregado despojar-se, por sua simples manifestação de vontade, das vantagens e proteções que lhe asseguram a ordem jurídica e o contrato.

Da mesma forma ao comentar sobre a indisponibilidade dos

direitos trabalhistas Sergio Pinto Martins53 defende que:

Temos como regra que os direitos trabalhistas são indisponíveis pelo trabalhador. Não se admite, por exemplo, que o trabalhador renuncie a suas férias. Se tal fato ocorrer, não terá qualquer validade o ato do operário, podendo o obreiro reclamá-las na Justiça do Trabalho.

Após a apresentação do rol dos princípios acima citados

cabe ressaltar que este não é exaustivo, devido à gigantesca quantidade de

princípios na órbita jurídica, tendo como intuito apenas demonstrar alguns

identificados como relevantes para este pesquisador.

2.6. Conceito e objetivos do Direito Tributário

Neste subitem comentar-se-á sobre os conceitos e objetivos

do Direito Tributário.

O Direito Tributário surgiu da necessidade do Estado de

arrecadar recursos para realizar os seus objetivos.

52 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p.201 53 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p.96

47

Alexandre Tavares54 ao conceituar Direito Tributário

preceitua que:

Ramo didaticamente autônomo do Direito que abriga um complexo de normas, valores e princípios que lhe são inerentes, disciplinadores do nascimento, fiscalização, exigibilidade e extinção do tributo, fruto de uma relação jurídica de direito público, travada entre fisco e contribuinte.

Segundo conceito de Alfredo Augusto Becker citado por Alexandre Tavares55:

Direito Tributário é o sistema formado pelas regras jurídicas que disciplinam o nascimento, vida e extinção daquele dever, qual seja, o dever de entregar dinheiro ao Estado, a título de tributo, sempre que praticada a respectiva hipótese de incidência tributária.

Portanto o Estado possui o “poder de tributar” perante os

indivíduos que o compõem; contanto que estes pratiquem conduta que seja uma

hipótese de incidência tributária.

Este poder de tributação deve estar sempre vinculado a lei,

como bem preceitua Hugo de Brito Machado56:

A instituição de tributo é sempre mediante lei, e sua arrecadação e fiscalização constituem atividade administrativa vinculada. A própria instituição do tributo há de ser feita nos termos estabelecidos na Constituição, na qual se encontram os princípios jurídicos fundamentais da tributação.

54 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos De Direito Tributário. 2 ed. Florianópolis: Momento Atual,2005. P 05 55 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos De Direito Tributário. p 05. 56 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 27 ed. São Paulo:2006. p.69.

48

O Direito Tributário está amplamente ligado com a

Constituição da República Federativa do Brasil, como comenta José Eduardo

Soares de Melo57:

O sistema tributário, constituído por princípios e normas específicas, encontra-se expressamente disciplinado em capítulo próprio da Constituição Federal, e em demais dispositivos esparsos. Os lineamentos, os contornos, as balizas e os limites de tributação estão previstos na Constituição. O exame da matéria tributária, impõe, necessariamente, a análise e a compreensão dos postulados e regras hauridas na Constituição, como lei fundamental e suprema do Estado, conferindo poderes, outorgando competências e estabelecendo direitos e garantias individuais.

Portanto, de acordo com o doutrinador acima citado

percebe-se nitidamente a relação do Direito Tributário com a Constituição, pois

esta normatiza e regula diversas normas jurídicas, inclusive as de ordem

tributária.

Ao se analisar os conceitos supracitados e analisados,

conclui-se que o Direito Tributário tem como objetivo dar condições ao Estado de

arrecadar valores para realizar e concretizar determinada finalidade.

2.7 Princípios essenciais do Direito Tributário

Neste subitem explanar-se-á sobre os princípios essenciais

do Direito Tributário.

Os princípios visam dar um rumo ao operador do direito,

fazendo com que este legisle ou aplique as normas de forma correta, obedecendo

as premissas jurídicas.

57MELO, José Eduardo Soares. Curso de Direito Tributário. 6 ed. São Paulo: 2005. P.12.

49

No Direito Tributário não é diferente, possuindo este seus

princípios específicos, visando orientar o intérprete para que seja aplicada a

norma da melhor maneira possível.

Abaixo destacar-se-á de maneira exemplificativa alguns dos

princípios essenciais para a aplicação do Direito Tributário.

a) Princípio da legalidade: consiste na exigência de que

para se instituir tributos, estes devem obrigatoriamente serem precedidos de lei.

Como preceitua Paulo de Barros Carvalho58: Qualquer das pessoas políticas de direito constitucional interno somente poderá instituir tributos, isto é, descrever a regra-matriz de incidência, ou aumentar os existentes, majorando a base de cálculo ou a alíquota, mediante a expedição de lei.

Portanto, é vedado aos entes tributantes exigir ou aumentar

tributo sem lei que o estabeleça, seguindo a orientação do princípio da legalidade.

Neste mesmo sentido José Eduardo Soares de Melo59

comenta que:

A instituição, majoração e extinção dos tributos, bem como os casos de subsídio, isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições devem ser sempre previstos em lei, compreendidos como espécie normativa editada pelo Poder Legislativo, contendo preceitos vinculantes.

Conclui-se, mais uma vez, que o princípio da legalidade

prega que os atos devem ser seguidos de lei, só podendo assim serem exigidos

ou aplicados.

58 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 158. 59 MELO, José Eduardo Soares. Curso de Direito Tributário. p.20.

50

b) Princípio da anterioridade: este princípio proíbe que

os entes tributantes cobrem tributos no mesmo exercício financeiro em que haja

sido publicada a lei que os instituiu ou majorou.

Alexandre Tavares60 ao referir-se ao presente princípio,

comenta que:

Trata-se de um princípio que impõe o diferimento da eficácia da norma tributária, a partir do momento que concede ao contribuinte a garantia de só se obrigar ao pagamento do tributo novo ou majorado, a partir do exercício financeiro seguinte aquele em que foi publicado o respectivo diploma legal.

Na mesma ótica Paulo de Barros Carvalho61 ressalta que:

Segundo o princípio da anterioridade, a vigência da lei que institui ou aumenta tributo deve ficar protraída para o ano seguinte ao de sua publicação, momento em que o ato se insere no contexto comunicacional do direito. Portanto, salvo exceções previstas em lei, o tributo majorado

ou novo no ordenamento jurídico, só poderá ser cobrado no seguinte exercício

financeiro, ou seja, no posterior a sua publicação, garantindo ao contribuindo

saber o quanto deverá destinar aos cofres públicos. Referente a esta garantia

José Eduardo Soares de Melo62:

O princípio da anterioridade permite conferir aos contribuintes a certeza do quantum a ser recolhido aos cofres públicos, podendo planejar seus negócios ou atividades, traduzindo diretriz constitucional no sentido de que a lei tributária não pode retroagir em prejuízo do contribuinte, e nem atingir fato impunível que já teve seu início, ou que estava em formação.

60 TAVARES, Fundamentos do Direito Tributário. P. 18. 61 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. p. 159. 62 MELO, José Eduardo Soares. Curso de Direito Tributário. p.23.

51

Desta forma, ao se observar o conceito acima colocado,

percebe-se a importância do presente princípio, pois assim, o contribuinte pode

planejar-se, não sendo pego de surpresa pelo fisco, não tendo que pagar

determinado tributo majorado ou recentemente instituído de forma imediata.

c) Princípio da não-cumulatividade: o presente princípio

defende que os valores cobrados ou já pagos anteriormente devem ser

compensados, evitando que os valores se acumulem a cada cobrança de tributo.

Paulo de Barros Carvalho63 ao falar sobre o princípio da não-

cumulatividade destaca que:

O princípio da não-cumulatividade é do tipo limite objetivo: impõe técnica segundo a qual o valor de tributo devido em cada operação será compensado com a quantia incidente sobre as anteriores, mas preordena-se a concretização de valores como o da justiça da tributação, respeito a capacidade contributiva e uniformidade na distribuição da carga tributária sobre as etapas de circulação e de industrialização de produtos.

Alexandre Tavares64 doutrina da mesma forma, comentando

sobre o presente princípio:

Este princípio é alcançado subtraindo-se do imposto devido na operação posterior o que foi cobrado na anterior, operacionalizado com a técnica da aferição de créditos e débitos por intermédio de um “sistema conta corrente”.

Portanto o presente princípio defende que os valores

decorrentes de tributos anteriormente pagos devem ser compensados,

descontando-os nos futuros tributos a serem pagos.

d) Princípio da Capacidade Contributiva: este princípio

advoga que os valores cobrados a título de tributos não devem ser superiores as

possibilidades econômicas do contribuinte.

63 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. p. 168. 64 TAVARES, Fundamentos do Direito Tributário. P. 28.

52

O presente princípio encontra-se no artigo 145, parágrafo

primeiro do texto constitucional nos seguintes termos:

Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado a administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Portanto a cobrança dos impostos deve ser proporcional a

capacidade do contribuinte de arcar com estes valores, respeitando sempre os

rendimentos e as atividades econômicas do sujeito passivo.

José Eduardo Soares de Melo65 ao comentar sobre este

princípio defende que:

Considerando-se que a tributação interfere no patrimônio das pessoas, de forma a subtrair parcelas de seus bens, não há dúvida de que será ilegítima a imposição de ônus superiores as forças desse patrimônio, uma vez que os direitos individuais compreendem o absoluto respeito a garantia de sobrevivência de quaisquer categorias de contribuintes.

Portanto o legislador deve respeitar as possibilidades do

contribuinte, sob pena de praticar ato inconstitucional, não podendo exigir deste

valores superiores aos seus rendimentos.

e) Princípio do não confisco: dispõe o presente primado

que é vedado aos entes tributantes utilizar tributos com efeitos confiscatórios.

65 MELO, José Eduardo Soares. Curso de Direito Tributário. p.31.

53

De acordo com Alexandre Tavares66:

não se pode decretar a perda da propriedade em caráter impessoal pela via do tributo, pois o texto constitucional declara ser proibida a cobrança de tributo com efeito confiscatório.

José Eduardo Soares de Melo67 ao explanar sobre o

princípio do não-confisco ressalta:

O princípio que veda o confisco no âmbito tributário está atrelado ao princípio da capacidade contributiva, positivando-se sempre que o tributo absorva parcela expressiva da renda, ou da propriedade dos contribuintes, sendo constatado, principalmente, pelo exame da alíquota, da base de cálculo, e mesmo da singularidade dos negócios e atividades realizadas.

Conclui-se assim, que o presente princípio impõe a

impossibilidade dos tributos serem confiscatórios, não podendo estes

ultrapassarem as possibilidades do contribuinte e nem absorver de maneira

injustificada parcela expressiva da renda ou da propriedade dos sujeitos passivos.

No capítulo seguinte tratar-se-á sobre a responsabilidade

dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas Civis, Tributárias e Trabalhistas no

ordenamento jurídico brasileiro.

66 TAVARES, Fundamentos do Direito Tributário. P. 26. 67 MELO, José Eduardo Soares. Curso de Direito Tributário. p.35.

54

CAPÍTULO 3

A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS DE SOCIEDADE LIMITADA

POR DÍVIDAS CIVIS, TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS NO

ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.

3.1. Conceito de Responsabilidade

Neste subitem tratar-se-á do conceito de responsabilidade

suas peculiaridades. Explanar-se-á também sobre sua importância, que visa

responsabilizar as pessoas pelos atos praticados, que venham causar prejuízos a

terceiros.

Sobre o tema Pablo Stolze Gagliano68 ensina:

A palavra responsabilidade tem sua origem no verbo latino respondere, significando a obrigação que alguém tem de assumir com as conseqüências jurídicas de sua atividade, contendo ainda, a raiz latina spondeo, fórmula através da qual se vinculava, no Direito Romano, o devedor nos contratos verbais. A acepção que se faz de responsabilidade, portanto, está ligada ao surgimento de uma obrigação derivada, ou seja, um dever jurídico sucessivo, em função da ocorrência de um fato jurídico lato sensu.

Portanto, conclui-se que a partir do momento em que

alguém invade o direito de outrem, deve ser responsabilizado pelos seus atos.

68 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. 4 ed. São Paulo. Saraiva, 2006. P. 01.

55

Rogério Marrone de Castro Sampaio69 referindo-se ao tema

relata:

Diz-se, portanto, que o instituto da responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, posto que consiste na obrigação que tem o autor de um ato ilícito de indenizar a vítima pelos prejuízos a ela causados. A situação amolda-se ao conceito genérico de obrigação, qual seja, o direito de que é titular o credor em face do devedor, tendo por objeto determinada prestação. No caso, assume a vítima de um ato ilícito a posição de credora, podendo, então, exigir do autor determinada prestação, cujo conteúdo consiste na reparação dos danos causados.

O Código Civil Brasileiro trata da Responsabilidade Civil a

partir do seu artigo 927, do qual este prevê:

Art. 927 Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

No mesmo sentido dos autores acima citados, Maria Helena

Diniz70:

A responsabilidade civil é aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

69 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil. 3 ed. São Paulo. Atlas, 2003. P. 17. 70 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 19 ed. São Paulo. Saraiva, 2005. P. 40.

56

Face aos conceitos acima destacados neste subitem,

conclui-se que a responsabilidade está relacionada aos atos praticados por

determinado sujeito em face de outrem, e no caso deste causar algum dano, seja

material ou moral, este deverá indenizá-lo, visando reparar o dano causado.

Após este relato, falar-se-á sobre o princípio da autonomia

patrimonial da pessoa jurídica no próximo subitem.

3.2. O princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica (a

personificação da Sociedade Limitada).

Neste subitem tratar-se-á de assunto de extrema relevância,

o princípio da autonomia da vontade. O presente tema também chamado de

personificação da Sociedade Limitada, está relacionado com a Teoria da

Desconsideração, que também será comentada em momento oportuno.

Como dito acima o princípio da autonomia patrimonial é uma

assunto de extrema relevância, por decorrência disto é de grande importância

trazer a baila o conceito citado por Rubens Requião71 referente ao tema:

Formada a sociedade comercial pelo concurso de vontades individuais, que lhe propiciam os bens ou serviços, a conseqüência mais importante é o desabrochar de sua personalidade jurídica. A sociedade transforma-se em novo ser, estranho a individualidade das pessoas que participam de sua constituição, dominando um patrimônio próprio, possuidor de órgãos de deliberação e execução que ditam e fazem cumprir a sua vontade. Seu patrimônio, no terreno obrigacional, assegura sua responsabilidade direta em relação a terceiros. Os bens sociais, como objetos de sua propriedade, constituem a garantia de credores, como ocorre os de qualquer pessoa natural.

71 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 26 ed. São Paulo. Saraiva, 2006. P. 384.

57

Conclui-se, portanto, que a intenção da personificação da

Sociedade Limitada é separar os bens particulares dos sócios com os

integralizados na sociedade, ou seja, a sociedade limitada é separada da pessoa

dos sócios, criando sua própria personalidade e respondendo por seus próprios

atos.

Referente ao tema e neste mesmo sentido, Marcelo M.

Bertoldi72 cita:

Em verdade, com a personificação da sociedade, o resultado prático que se busca é justamente a separação do patrimônio dos sócios em relação ao patrimônio da sociedade, pois os sócios contribuem para os fundos sociais com parcela de seus patrimônios. Transferem-se para a sociedade, que passa a ser dela titular, restando aos sócios o direito a participação nos lucros sociais, se houver, e também sobre o acervo social líquido quando da extinção da sociedade.

Portanto, com os conceitos acima ressaltados, nota-se que o

princípio da autonomia patrimonial visa à separação subjetiva entre a sociedade

limitada e seus sócios.

Com essa análise torna-se importante comentar que as

dívidas e os créditos da sociedade não se transmitem aos sócios, nem os valores

em débito ou crédito referente aos sócios se transformam em dívidas e créditos

da sociedade. Essa separação é importante, pois se deve incentivar o

empreendedorismo, visando facilitar a abertura de novas sociedades

empresárias, para buscar um crescimento econômico global que de certa forma

beneficia a todos.

72 BERTOLDI, Marcelo M. Curso de Direito Comercial. 3 ed. São Paulo. RT, 2006. P. 143.

58

Na mesma linha de pensamento Fábio Ulhoa Coelho73

comenta:

Em virtude de sua importância fundamental para a economia capitalista, o princípio da personalização das sociedades empresárias, e sua repercussão quanto a limitação da responsabilidade patrimonial dos sócios, não pode ser descartado na disciplina da atividade econômica.

Após os relatos acima explanados, torna-se importante

comentar sobre a distinção entre os fenômenos da desconsideração da

personalidade jurídica e da despersonificação da pessoa jurídica.

3.3. Da Desconsideração da Personalidade Jurídica

Neste subitem tratar-se-á a desconsideração da

personalidade jurídica.

Inicialmente conceituar-se-á a desconsideração da

personalidade jurídica. Para um melhor entendimento do tema, é de grande valia

trazer o conceito de Vander Brusso da Silva:74

A teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica consiste em afastar, momentaneamente, a personalidade da sociedade, de modo a responsabilizar diretamente o sócio que praticou algum ato ilegal. Na verdade, a teoria não deve ser aplicada em qualquer situação, mas somente nos casos em que os sócios se valeram da autonomia patrimonial da sociedade para prática de atos ilícitos.

73 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 7 ed. São Paulo. Saraiva, 2004. P. 38. 74 SILVA, Vander Brusso. Direito Comercial. 1 ed. São Paulo. Barros, Fischer&Associados.2005.p. 189.

59

No mesmo sentido do conceito acima destacado tem-se o

artigo 50 do Código Civil que prevê:

Art. 50: Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

A Teoria da desconsideração da personalidade jurídica tem

como espécies a Teoria maior da desconsideração, onde se pode aplicar também

a desconsideração inversa, e a teoria menor da desconsideração da

personalidade jurídica da sociedade limitada.

A Teoria maior da desconsideração consiste na

possibilidade de o magistrado tomar um posicionamento no sentido de ignorar a

autonomia patrimonial da sociedade limitada visando evitar abusos eventualmente

praticados através desta sociedade empresária. Já a desconsideração inversa é

aplicada no sentido de se responsabilizar a sociedade e se fazer cumprir

obrigações do sócio, como por exemplo, um dos cônjuges para não incluir um

determinado bem na meação do casamento, o integraliza no patrimônio da

sociedade empresária. Sendo assim, segundo a desconsideração inversa, o

referido bem deverá ser devidamente trazido a meação da sociedade conjugal.

No que se refere à Teoria menor da desconsideração

entende-se que esta é bem menos elaborada que a teoria maior da

desconsideração da personalidade jurídica, pois exige apenas, para ser aplicada,

o descumprimento de um débito e a solvência do sócio.

60

A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica

também está prevista no Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 28 em

que estabelece:

Art.28: O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos do contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade de pessoa provocados por má administração.

Face aos conceitos acima explanados, percebe-se que a

Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica somente poderá ser

aplicada em casos específicos. Um desses casos é quando houver abuso da

autonomia patrimonial, ou seja abuso de poder por parte dos sócios.

Neste mesmo sentido Fábio Ulhoa Coelho75 destaca:

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica não é uma teoria contrária a personalização das sociedades empresárias e a sua autonomia em relação aos sócios. Ao contrário, seu objetivo é preservar o instituto, coibindo práticas fraudulentas e abusivas que dele se utilizam.

75 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial.p. 37.

61

Portanto conclui-se que a intenção da Teoria da

Desconsideração da personalidade jurídica é a de evitar o abuso de poder,

visando evitar que os responsáveis pela sociedade pratiquem atos visando

prejudicar seus credores.

No próximo subitem destacar-se-á alguns entendimentos

jurisprudenciais dos Tribunais brasileiros referente à responsabilidade dos sócios

de Sociedade Limitada por dívidas cíveis.

3.4. Alguns entendimentos dos Tribunais brasileiros referente a

responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas cíveis.

Neste subitem tratar-se-á sobre as dívidas cíveis, trazendo

decisões e ressaltando como os tribunais brasileiros estão decidindo sobre o tema

na prática.

Referente aos entendimentos dos Tribunais Brasileiros

colhe-se a seguinte ementa76:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO - ARRESTO DE BENS - PREJUÍZO A TERCEIROS - HIPÓTESE CARACTERIZADA - DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA - APLICABILIDADE. COMPROVAÇÃO DA PROPRIEDADE - CERTIDÃO EXARADA PELO OFICIAL DE JUSTIÇA - FÉ PÚBLICA - PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. FRAUDE À EXECUÇÃO - CARÁTER

76 www.tj.sc.gov.br

62

EXCEPCIONAL - RESPONSABILIDADE ILIMITADA DOS SÓCIOS - ADMISSIBILIDADE.

O primeiro entendimento a ser destacado é o acórdão em

sede de agravo de instrumento, n. 01.021960-3, prolatado na Comarca de

Araranguá, pelo relator Fernando Carioni, na data de 31/10/2002.

Referente à ementa acima destacada, de acordo com o

acórdão prolatado, ocorreu abuso de direito e fraude a lei por parte dos sócios

causando prejuízo a terceiros, acarretando a responsabilidade ilimitada dos

sócios.

Como analisado anteriormente para se configurar a

desconsideração da personalidade jurídica deve haver abuso de direito dos

sócios.

No caso em tela, temos a desconsideração da personalidade

jurídica e a conseqüente responsabilidade ilimitada dos sócios caracterizada por

fraude a lei e abuso de direito, pois os sócios visaram fraudar a execução e

invalidar ato praticado pelo oficial de justiça, que como destacado no acórdão,

possui presunção de veracidade e fé pública.

Com base na presunção de veracidade e fé pública do oficial

de justiça prolatou-se o entendimento no sentido de executar os bens, visando dar

eficácia a execução e pagar os credores.

O próximo entendimento a ser comentado77 trata-se de

acórdão prolatado no Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, em sede

de agravo de instrumento n. 2002.008421-8 pelo relator José Antonio Torres

Marques na data de 31 de outubro de 2002 onde se colhe a seguinte ementa

abaixo destacada:

77 www.tj.sc.gov.br

63

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - SUSCITAÇÃO DE MATÉRIA NÃO APRECIADA NO PRIMEIRO GRAU - IMPOSSIBILIDADE - SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA - PRECEDENTES - RECURSO NÃO CONHECIDO NESTA PARTE. EXECUÇÃO DE SENTENÇA - PENHORA - DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA - SOCIEDADE QUE ENCERRA SUAS ATIVIDADES SEM SOLVER TODOS OS SEUS DÉBITOS - DISSOLUÇÃO IRREGULAR CONFIGURADA - RESPONSABILIZAÇÃO PATRIMONIAL DOS SÓCIOS - PRECEDENTES - RECURSO PROVIDO.

No acórdão acima colocado, os sócios dissolveram

irregularmente a sociedade, não solvendo seus débitos e não dando baixa em

seus registros.

O simples encerramento das atividades empresariais, sem a

baixa de seus registros, caracteriza dissolução irregular da pessoa jurídica, essa

dissolução irregular da sociedade caracteriza desobediência ao que impõem as

normas legais referente ao encerramento das atividades da pessoa jurídica,

portanto, o mero encerramento das atividades sem a devida baixa dos registros

acarreta infração a lei, cabendo a desconsideração da personalidade jurídica.

Nesse sentido o Tribunal de Justiça de Santa Catarina

prolatou decisão no sentido de permitir que a constrição recaia sobre os bens do

sócio-gerente indicado pelo credor, pois ele deve ser responsabilizado pelos seus

atos. Sendo assim, decidiu-se que a dissolução irregular da pessoa jurídica é

motivo para desconsideração da personalidade jurídica, no sentido de

responsabilizar quem praticou os atos abusivos e visando cumprir os eventuais

débitos e compromissos assumidos pela pessoa jurídica.

64

Referente ao mesmo tema encontrou-se decisão78 do

Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina em sede de agravo de

instrumento com o número 8.520, sob a relatoria do desembargador Napoleão

Xavier do Amarante, que manteve decisão prolatada em primeira instância, como

nota-se na ementa a seguir destacada:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO CONTRA SÓCIO DA FALIDA. SOLIDARIEDADE DO MESMO PERANTE OS CREDORES DESTA DENTRO DE LIMITES ESTABELECIDOS EM SENTENÇA TRÂNSITA EM JULGADO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA. DECISÃO CONFIRMADA.

Na instrução processual verificou-se a solidariedade do

sócio perante os credores da falida e, por conseqüência disso, seus bens

respondem pelos débitos da pessoa jurídica.

No agravo de instrumento foi mantido o entendimento do

juízo a quo, continuando a responsabilizar o sócio da falida, pois se comprovou a

responsabilidade do sócio pela quebra da empresa e também, por sentença

judicial, sua responsabilidade solidária pelas dívidas da empresa.

Nessa esteira decidiu-se que o sócio da falida deve

responder pelos débitos da falida com seus bens pessoais, pois houve abuso de

direito e a responsabilidade deste pela falência da pessoa jurídica.

No próximo subitem analisar-se-ão alguns entendimentos

referente a responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas

trabalhistas.

78 www.tj.sc.gov.br

65

3.5. Alguns entendimentos dos Tribunais brasileiros referente a

responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas

trabalhistas.

Neste subitem comentar-se-á sobre alguns entendimentos

referentes a responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas

trabalhistas.

O primeiro entendimento a ser discorrido é o acórdão79

prolatado pela primeira turma do Tribunal Regional do Trabalho da décima

segunda região, na data de 15 de abril de 2008, sob relatoria da desembargadora

Viviane Colucci, sob o número AP 00500-2007-043-12-00-9 por unanimidade de

votos, com a ementa a seguir destacada:

PENHORA. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS. O desvio de função da pessoa jurídica, caracterizado pelo seu mau uso, seja através do abuso de direito, seja através da fraude, não pode ser acolhido pelo ordenamento jurídico, sob o argumento de que deve prevalecer a distinção da personalidade da pessoa jurídica daquelas dos que a integram. A personalidade jurídica não é absoluta. Havendo o desvio de função deve a sua personalidade ser desconsiderada, sob pena de dar guarida à injustiça. A desconsideração da personalidade jurídica da empresa é instrumento para responsabilizar sócio por dívida formalmente imputada à sociedade.

No acórdão acima, nota-se forte referência aos argumentos

de que a personalidade jurídica não é absoluta. Percebem-se comentários acerca

do mau uso, desvio de finalidade e abuso de poder por parte dos sócios,

acarretando portanto a desconsideração da personalidade jurídica e por

conseqüência disso a responsabilização dos sócios da sociedade limitada,

respondendo esses pelas dívidas da pessoa jurídica com seus bens particulares,

devido ao abuso de poder e não cumprimento do previsto no contrato social.

79 www.trt12.gov.br

66

Com base na tese acima comentada, o Tribunal decidiu por

unanimidade, negar provimento ao agravo, mantendo a execução em face dos

sócios da empresa, por entender que ocorreu abuso de direito.

O segundo acórdão80 a ser analisado é o referente ao

agravo de petição recebido pela segunda turma do Tribunal Regional do Trabalho

da décima segunda região, que teve como relatora a desembargadora Sandra

Marta Wambier, sob o número AP 00558-2007-013-12-01-3, com a seguinte

ementa:

DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA. PENHORA DE BENS DO SÓCIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO OPOSTOS PELA SOCIEDADE. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS. ILEGITIMIDADE.

Referente à ementa, proveniente do acórdão acima

destacado, colhe-se o entendimento de que a pessoa jurídica possui existência

distinta da de seus sócios, cabendo apenas a desconsideração da personalidade

jurídica quando comprovados os requisitos para a configuração desse instituto.

No caso em tela, arguiu-se a ilegitimidade de uma das

sócias da empresa, pois ela estava tendo bens particulares executados, sem que

se respeitasse a distinção da personalidade jurídica, nem sequer comprovado os

requisitos de aplicabilidade da desconsideração da personalidade jurídica.

Nesse diapasão os juízes da segunda turma do Tribunal

Regional do Trabalho, acordaram, por unanimidade de votos, pelo acolhimento da

ilegitimidade da sócia e sua exclusão da execução em questão.

80 www.trt12.gov.br

67

A próxima decisão81 a ser analisada é a proferida pela

terceira turma do Tribunal Regional do Trabalho, da décima segunda região, que

teve como relator o desembargador Roberto Basilone Leite, sob o número AP

00084-2005-040-12-00-8, com a ementa abaixo transcrita:

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS QUE SE RETIRAM DA SOCIEDADE. Conforme o disposto no parágrafo único do art. 1003 e no art. 1032 do CC de 2002, os sócios que se retiram da sociedade têm responsabilidade pelas obrigações por esta inadimplidas por um período de dois anos após o registro da alteração do contrato social na Junta Comercial.

No presente caso o agravante requereu a responsabilização

dos sócios retirantes, pedindo a inclusão desses sócios no pólo passivo, posto

que eles também foram beneficiados pelo seu trabalho.

Alega, que o sócio que se retira da sociedade, responde

solidariamente com o atual pelos próximos dois anos após a alteração contratual

averbada na junta comercial.

A terceira câmara entendeu pelo acolhimento das razões, no

sentido de responsabilizar os sócios retirantes.

Nesse sentido acordaram os juízes, por unanimidade, pelo

provimento do recurso, reconhecendo a responsabilidade solidária dos sócios

retirantes perante os atuais.

No próximo subitem tratar-se-á de alguns entendimentos de

tribunais brasileiros sobre a responsabilidade dos sócios da Sociedade Limitada

por dívidas tributárias.

3.6. Alguns entendimentos dos Tribunais brasileiros referente a

responsabilidade dos sócios de Sociedade Limitada por dívidas tributárias.

81 www.trt12.gov.br

68

Neste subitem comentar-se-á sobre alguns entendimentos

dos Tribunais brasileiros referente à responsabilidade dos sócios de Sociedade

Limitada por dívidas tributárias.

A primeira decisão82 a ser analisada é a proferida pelo

Tribunal Regional federal da quarta região, em sede de agravo de instrumento

sob o número 2006.023285-6 pela relatora Sônia Maria Schmitz, no estado de

Santa Catarina, na data de 31 de outubro de 2006, com a seguinte ementa:

Agravo de instrumento. Dissolução irregular da sociedade. Redirecionamento da ação de execução fiscal. Comprovada a dissolução irregular de sociedade inadimplente perante a Fazenda Pública, é possível a constrição de bens do patrimônio pessoal do sócio que, à época da ocorrência dos fatos geradores, exercia poderes típicos de gerência.

Na decisão acima colocada entendeu-se pela

responsabilização do sócio, inclusive com seus bens pessoais, pois verificou-se

na instrução do processo a dissolução da sociedade de forma indevida,

acarretando abuso de direito, um dos requisitos para a possibilidade de se

desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade.

Comprovada a dissolução irregular da pessoa jurídica

inadimplente, remeteu-se os autos para a execução fiscal, figurando no pólo

passivo o sócio-gerente da pessoa jurídica na época, respondendo, também, com

seus bens particulares.

82 www.trf4.gov.br

69

Essa foi a decisão prolatada pela relatora, que entendeu que

o sócio-gerente deve ser responsabilizado, devido a dissolução irregular da

sociedade e por que na época da ocorrência dos fatos geradores exercia função

de gerência na pessoa jurídica, tendo, portanto, que ser responsabilizado por

seus atos.

O segundo entendimento83 a ser destacado é o proferido

pelo Tribunal Regional Federal da quarta região, pela terceira turma, em sede de

agravo de instrumento, sob o número 2008.04.00.013384-9 que teve como relator

Marcelo de Nardi, na data de 03/06/2008 onde colheu-se a seguinte ementa:

EXECUÇÃO FISCAL. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. REDIRECIONAMENTO. 1. Tratando-se de execução fiscal de multa de natureza administrativa, é inaplicável a regra do inc. III do art. 135 do CTN. 2. A dissolução irregular da pessoa jurídica pode atrair a responsabilidade de seu administrador com fundamento no art. 10 do D3.708/1919. 3. É dever da pessoa jurídica, em hipótese de extinção, promover sua regular liquidação de acordo com os parâmetros legais, que protegem os interesses dos sócios e dos credores. A ausência dessas formalidades autoriza presumir que ocorreu dissipação dos bens da sociedade, em prejuízo dos credores, justificando o direcionamento da execução contra o administrador omisso. 4. Presentes indícios de dissolução irregular da sociedade, cabível a inclusão dos sócios no pólo passivo da execução para satisfação do débito.

No caso em estudo proferiu-se o entendimento no sentido

de que o sócio deve ser responsabilizado pelas dívidas tributárias, devido à

dissolução irregular da sociedade. O relator entendeu que a dissolução indevida

da pessoa jurídica atrai a responsabilidade do sócio, pois ao encerrar as

atividades de uma sociedade deve-se respeitar alguns parâmetros legais, visando

proteger interesses de terceiros, nesse caso os credores e os sócios.

83 www.trf4.gov.br

70

O desrespeito a essas imposições legais permite a

presunção da ocorrência de abuso de direito, o que autoriza a desconsideração

da personalidade jurídica, cabendo, portanto, a inclusão dos sócios no pólo

passivo da presente execução fiscal, respondendo esses, inclusive, com seus

bens pessoais.

Nessa esteira, com base nos argumentos acima citados, o

relator entendeu que os sócios devem figurar no pólo passivo da execução fiscal,

respondendo, também, com seus bens particulares.

O terceiro entendimento84 a ser analisado é o proferido pelo

Tribunal Regional Federal da quarta região, pela primeira turma, em sede de

agravo de instrumento, sob o número 2008.04.00.004453-1 que teve como relator

Joel Paciornik, na data de 30/04/2008 onde colheu-se a seguinte ementa:

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. SUCESSÃO COMERCIAL. INDÍCIOS FORTES ACERCA DA TRANSFERÊNCIA DO FUNDO DE COMÉRCIO. POSSIBILIDADE DE REDIRECIONAMENTO.

Nessa decisão o relator entendeu, no que se refere a

desconsideração da personalidade jurídica, que a sociedade constitui-se pela

vontade de dois sócios. No decorrer da instrução processual apurou-se que um

dos sócios era absolutamente incapaz, pois possuía apenas três anos, e era

representado legalmente por seu outro sócio e genitor. Com base nesses fatos,

entendeu-se que houve a intenção de burlar a exigência legal da pluralidade de

sócios, ficando evidente a nulidade do negócio jurídico.

Nesse sentido, decidiu-se pela não aplicação da

desconsideração da personalidade jurídica, pois nem sequer houve a existência

regular da sociedade. Devido a essa notória irregularidade aplicou-se as regras

84 www.trf4.gov.br

71

vigentes no que se refere a empresa individual, responsabilizando o sócio pelas

dívidas da empresa seja com o seu patrimônio pessoal ou da empresa.

Com base nos fatos acima levantados o relator proferiu

entendimento no sentido de colocar o sócio no pólo passivo, e por se tratar de

nulidade na constituição da sociedade, aplicou as regras da empresa individual

responsabilizando-o, inclusive com seus bens pessoais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do presente trabalho monográfico e com base

na primeira hipótese levantada verificou-se que a Sociedade Limitada foi criada

com intuito de incentivar novos negócios e novas sociedades. Deu-se aos

empresários e futuros empreendedores uma nova opção, com maiores proteções

legais, restando, portanto, comprovada a primeira hipótese levantada.

Obviamente ao ser instituída, a lei que regula o instituto em

análise, a Sociedade Limitada, já previa casos em que se pode desconsiderar a

personalidade jurídica. Essa previsão visa prevenir e evitar abusos por parte dos

sócios, garantindo a correta aplicabilidade e funcionamento dessa opção de

sociedade.

Ao verificar-se o abuso, o ordenamento jurídico brasileiro

permite a desconsideração da personalidade jurídica. Essa desconsideração é

exceção, só devendo ser aplicada em casos em que se verifique o abuso da

autonomia dada aos sócios e uma eventual confusão patrimonial.

Referente a segunda hipótese e a interdisciplinariedade do

ordenamento jurídico vigente percebeu-se a influência dos princípios gerais e

peculiares de cada área do direito, pois demonstram entendimentos coerentes e

fundamentados com relação ao tema em tela, restando comprovada, também, a

segunda hipótese de pesquisa.

A esse propósito e com base na terceira hipótese verificou-

se que comprovado o abuso dos sócios da Sociedade Limitada, esses serão

responsabilizados, cabendo, portanto, a aplicação da Teoria da Desconsideração

da Personalidade Jurídica. Teoria essa que supera a personalidade da pessoa

jurídica, atingindo, também, o patrimônio pessoal dos sócios, podendo seus bens

particulares serem executados, visando fazer justiça e garantindo que se cumpra

73

os direitos e compromissos firmados com eventuais credores dessa sociedade,

comprovando a eficácia da presente teoria e a teceira hipótese levantada.

74

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

BERTOLDI, Marcelo M. Curso de Direito Comercial. 3 ed. São Paulo. RT, 2006. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2005 COELHO,Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. DELGADO, Maurício Godinho.Curso de Direito do Trabalho. 5 ed. São Paulo:LTr, 2006 DINIZ,Maria Helena.Curso de Direito Civil Brasileiro. 20 ed. São Paulo. Ed. Saraiva. 2003.vol.1 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. 4 ed. São Paulo. Saraiva, 2006 LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2 ed. São Paulo: RT, 2002 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 27 ed. São Paulo:2006 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 19 ed. São Paulo:Atlas, 2004 MELO, José Eduardo Soares. Curso de Direito Tributário. 6 ed. São Paulo: 2005 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 20.ed. São Paulo: Saraiva,2005 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 26 ed. São Paulo. Saraiva, 2006. RODRIGUES, Silvio.Direito Civil. 34 ed. São Paulo:ed. Saraiva., 2005. vol.1 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil. 3 ed. São Paulo. Atlas, 2003 SILVA, Vander Brusso. Direito Comercial. 1 ed. São Paulo. Barros, Fischer&Associados. 2005. TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos De Direito Tributário. 2 ed. Florianópolis: Momento Atual,2005