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A Rota das Histórias Alunos do Agrupamento de Escolas Artur Gonçalve Ensino Pré-Escolar e 1º/2º/3º ciclos de escolaridade

A rota das histórias

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Estas histórias foram escritas pelos alunos do Agrupamento de Escolas Artur Gonçalves. O objetivo deste projeto foi o de estimular o gosto pela leitura e pela escrita, levando os alunos criarem um texto coletivo a partir de um tema proposto que foi recriado e continuado por outras turmas.

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A Rota das Histórias

Alunos do Agrupamento de Escolas Artur Gonçalves

Ensino Pré-Escolar e 1º/2º/3º ciclos de escolaridade

A Rota das Histórias

1 | P á g i n a

Nota introdutória

Estas histórias foram concebidas no ano letivo de 2014-2015 pelos alunos do ensino

básico das Escolas que constituem o Agrupamento Artur Gonçalves.

O objetivo deste projeto foi o de estimular o gosto pela leitura e pela escrita,

levando os alunos criarem um texto coletivo, a partir de um tema proposto, que foi

continuado e recriado por outras turmas e, assim, conceberam este livro de histó-

rias que ficará nas nossas memórias.

Graças à preciosa colaboração de todos os intervenientes neste projeto, o seu obje-

tivo foi atingido.

Enquanto educadores e professores, estamos convictos de que esta prática

contribuiu para estabelecer a articulação interciclos e também para uma dinâmica

aliciante e enriquecedora que promoveu a criatividade das nossas crianças e dos

nossos jovens.

As professoras responsáveis pelo projeto agradecem a todos aqueles que tornaram

possível a consecução deste livro.

A Rota das Histórias

2 | P á g i n a

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do ensino pré-escolar

A Rota das Histórias

Capítulo I

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

3 | P á g i n a

Pré-escolar

A tua vida acaba de ser salva por um cão.

O que aconteceu?

A Rota das Histórias

4 | P á g i n a

“SE UM CÃO ME SALVASSE A VIDA!...”

Levava-o para casa para brincar com ele, pois o cão era grande e levezinho,

com pêlo amarelo e branco, tinha uma capa com uma estrela e uma coleira laranja

com o nome “Seara”. Era um cão muito simpático.

Um dia, fui jogar à bola para o meu jardim com o Seara. Como era muito

guloso, dei-lhe um grande osso. Quando a minha mãe chegou, perguntou-me onde

tinha encontrado o cão. Eu disse-lhe:

- Mãe! O Seara salvou-me de um grande perigo…

- Qual foi o perigo? - perguntou a mãe.

- O Seara salvou-me de me afundar porque os cães sabem nadar!

A mãe virou-se para o cão e disse:

- Muito bem, Seara!

E voltou a perguntar ao filho:

- Mas onde é que tu estavas para te afundares?

- Estava perto da piscina e caí. - disse o menino.

A Rota das Histórias

5 | P á g i n a

- Eu não tinha braçadeira nem boia!

A mãe não ralhou com o filho João, mas disse-lhe:

- João, não podes estar ao pé da piscina sem um adulto por perto porque é

perigoso.

O João respondeu:

-Está bem, mãe. Mas, podemos ficar com o Seara?

A Rota das Histórias

6 | P á g i n a

– Ó João, veterinário é o senhor doutor que trata dos animais. -disse a mãe.

A mãe e o João levaram então o Seara ao consultório do veterinário Doutor

Pedro.

Depois de o cão ter sido consultado, o doutor Pedro disse:

- João, o Seara precisa de levar uma vacina e também de umas gotinhas no

pêlo porque tem algumas carraças.

A mãe e o João puseram os medicamentos ao Seara e depois, com o

medicamento das gotinhas, as carraças desapareceram. Depois o Seara ficou

melhor e foram para casa e depois a mãe disse ao filho que se ele quisesse podia ir

passear o Seara mas não ao pé da piscina e foram jogar à bola e ao busca.

A Rota das Histórias

7 | P á g i n a

A Rota das Histórias

8 | P á g i n a

O João e o Seara foram para o jardim jogar à bola e encontraram outro cão

que tinha um osso. O cão era pequenino e estava ao pé da mãe que tinha mais dois

filhos bebés. Eles estavam a brincar.

A Rota das Histórias

9 | P á g i n a

O João disse que os cães bebés eram muito bonitos e convidou-os para irem

a sua casa brincar. Ele pediu à mãe para fazer um bolo de ossos para dar aos cães.

Depois de lancharem, foram todos brincar com a bola e os brinquedos para o

jardim. Eles brincaram muito no jardim. Havia canteiros com muitas flores porque

era primavera. Os cães pequeninos pisavam as flores e faziam cocó por todo o lado.

Chegou o senhor jardineiro que semeava as flores e regava. Ele estava

zangado e disse:

- Estes cães não podem andar aqui a estragar as minhas flores!

A Rota das Histórias

10 | P á g i n a

Depois os cães foram-se embora para a casota descansar. Depois de

dormirem, comeram ração, beberam água e foram passear ao parque dos cães.

Escavaram, escavaram e um cão aleijou-se e começou a chorar. Um senhor ouviu o

cão e foi ajudá-lo. Pôs-lhe um penso e viu que era uma cadela com bebés dentro da

barriga. O senhor levou-a para casa dele. Passado um tempo, os bebés nasceram…

Eram quatro cães bebés muito bonitos: dois castanhos, um preto e um outro

castanho com umas manchinhas pretas.

Assim que nasceram, beberam leitinho nas maminhas da mãe e depois foram

dormir.

A Rota das Histórias

11 | P á g i n a

Quando acordaram ficaram felizes, porque o senhor Francisco tinha cuidado

deles.

Ele decidiu ficar com os cãezinhos. Eles comeram muito, muito, muito e

ficaram gordos. Quando já estavam crescidos, foram passear com o senhor

Francisco para o parque dos cães.

A Rota das Histórias

12 | P á g i n a

Um dia, o João foi com a mãe a casa do senhor Francisco e encontraram lá

os cães. Estes ficaram todos amigos e o senhor Francisco e a mãe do João

combinaram encontrar-se no parque para os cãezinhos brincarem com o Seara e o

João.

A Rota das Histórias

13 | P á g i n a

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 1º ano

A Rota das Histórias

Capítulo II

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

14 | P á g i n a

1º Ano

Um dos objetos que usas no teu dia a dia

ganhou vida e começou a falar. O que terá

acontecido depois?

A Rota das Histórias

15 | P á g i n a

A mochila mágica

O Tiago andava muito contente: já tinha seis anos e ia para o primeiro ano.

- Mãe, mãe! Amanhã é o primeiro dia de aulas, não é? – perguntou ele.

- É sim, Tiago, amanhã começam as aulas. – respondeu a mãe.

O Tiago estava tão entusiasmado que já tinha tudo arrumado na sua mochila nova:

cadernos, lápis, marcadores…

Na manhã seguinte, a mãe entrou no quarto do Tiago para o acordar e para seu

espanto ele já estava pronto.

O Tiago pegou na sua mochila nova e…

- Bom dia, Tiago!!! – cumprimentou a mochila.

O Tiago ficou de boca aberta e disse um pouco assustado:

- Mas, mas… tu consegues falar?

- Sim, consigo, porque sou uma mochila mágica.

- Ena que fixe!!!

- Sabes Tiago, eu estou aqui para te ajudar nalgumas regras que vais precisar de

aprender neste teu primeiro dia de escola. - disse a mochila mágica.

- Está bem. - respondeu o Tiago.

- Então tens de saber que não podes pôr muito peso dentro de mim, porque eu fico

cansada e faz muito mal à tua coluna vertebral. Sabias?

- Não, não sabia, mas agora já sei. - disse o Tiago.

- Amiga mochila, sinto-me um bocadinho nervoso!

- Mas não estejas, porque eu estou aqui contigo e vai correr tudo bem. Vais conhecer

muitos amigos e amigas e aprender muitas coisas novas.

- Ah! É? Isso é fantástico!

- Mas para isso tens de tomar muita atenção ao que o professor ou professora te

disser e fazer sempre os trabalhos de casa.

Já no regresso a casa, no fim do primeiro dia de aulas, a mochila pediu:

- Tiago, Tiago! Conta-me tudo o que aconteceu, estou super curiosa!

A Rota das Histórias

16 | P á g i n a

- Ainda bem, porque tenho muitas coisas divertidas para te contar! O dia foi “muita

fixe”! Adorei conhecer a minha escola nova. É grande e tem muitos meninos de Riachos,

da Brogueira, de Alcorochel e da Golegã!

- Ena, Tiago! Tens amigos de quantas cores?

- Cores? Só vi meninos da cor da pele… Sabes? Nós não temos cores como as

mochilas, mas até seria engraçado termos muitas cores! Eh! Eh!

- Não sei porque te ris tanto…

- A minha avó diz que rir faz muito bem. Mas, ainda bem que falaste nisso, porque

vou perguntar à minha professora se é verdade!

- Fazes muito bem… também quero ouvir a resposta.

- Como? Ficas sempre atrás de mim…

- É verdade, mas como estou caladinha ouço tudo muito bem. Até já sei ler frases

“compoletas”!

- “Compoletas”? Daaa! Não se diz assim. Diz-se “frases completas”.

O Tiago perguntou à mochila como é que ela sabia fazer frases completas se nunca

tinha ido à escola.

A mochila respondeu que aprendeu nos cromos do futebol.

O Tiago riu-se muito. “Eh Eh Eh”. Mas a mochila retorquiu:

- De que te estás a rir? O Martim da nossa turma também aprendeu a ler nos cromos

do futebol!

- A sério?!?!

- É verdade! E já consegue ler tudo!

- Então deve ser fácil aprender a ler, já estou mais tranquilo.

- Claro que é fácil! - respondeu a mochila mágica.

O Tiago começou a tirar os livros da mochila e, cheio de curiosidade, foi-se pôr a ler,

mas as letras eram tantas e tão pequeninas que ele adormeceu…

Durante a noite, o Tiago sonhou com letras, palavras, frases e sinais de pontuação.

Quando acordou, correu para os livros para tentar ler, mas, para seu espanto,

continuava sem conseguir.

- Mochila, mochila, ainda não consigo ler. Se calhar é melhor ir comprar cromos de

futebol para aprender a ler como o Martim.

- Ó Tiago, isso não é necessário. Vai mas é para a escola e aprende a ler com a ajuda

da tua professora, vais ver que consegues.

A Rota das Histórias

17 | P á g i n a

O Tiago arrumou a mochila e foi para a escola. Durante todo o dia esteve com muita

atenção para aprender a ler. Quando acabou as aulas foi para casa. Durante o caminho,

foi na conversa com a sua mochila.

- Hoje estive muito atento e já aprendi a ler algumas palavras, mas tenho de

trabalhar mais.

- É verdade Tiago. Se estiveres atento, vais ver que aprender a ler é fácil.

- Pois é, mas eu queria aprender num dia.

- Tens de ter paciência.

Como as aulas tinham acabado e o Tiago não tinha trabalhos de casa, decidiram ir

brincar para o jardim.

O Tiago e a mochila mágica estiveram o resto da tarde a brincar. Quem passava e

olhava para o jardim não entendia com quem o Tiago estava a brincar, pois a mochila

estava bem atenta e, sempre que via alguém, ficava caladinha como uma mochila

normal.

Mas a mãe do Tiago estava desconfiada de que alguma coisa se passava, pois o Tiago

nunca deixava a mochila e ultimamente andava a falar sozinho.

- Com quem estás a falar, Tiago? - perguntou a mãe que estava sentada no jardim a

ler um livro.

- Não é nada, estou só a brincar…

- Mas porque é que não contas à tua mãe que eu sou tua amiga? – perguntou a

mochila com uma voz muito doce e triste.

- Ela não vai acreditar que tu falas e …

- Lá estás tu, Tiago. O que estavas a dizer? – interrompeu a mãe.

- Mãe, a minha professora disse que nós temos de ler todos os dias. Ajudas-me? –

pediu o Tiago, para que a mãe não lhe fizesse mais perguntas.

Mas antes que a mãe respondesse alguma coisa, e para seu grande espanto, a

mochila começou a falar.

- Pssst…! É comigo, com a mochila, que o Tiago estava a falar. Nós tornámo-nos

muito amigos.

- Mas como é possível que uma mochila fale?! – questionou a mãe, muito intrigada,

dando um salto para trás, assustada.

- Eu explico, foi muito simples. Enquanto estive na livraria à espera que alguém me

comprasse, ouvia as pessoas a falarem umas com as outras e aprendi a falar como elas.

A Rota das Histórias

18 | P á g i n a

- Vês, mãe? – perguntou o Tiago muito entusiasmado - A mochila também me contou

que os livros lhe disseram que todos aqueles sons da fala, podiam ser representados por

letras. Depois juntou as letras e como por magia, começou a ler!

- É verdade - disse a mochila - e à noite, a brincar com os livros, eles abriam-se e

ajudavam-me a ler melhor. Foi com eles que eu aprendi cada vez mais. Mas tudo leva o

seu tempo…

- Acho que tens razão. No primeiro dia de aulas, ninguém consegue aprender a ler,

mas se eu continuar a tentar, certamente vou aprender depressa.

Como já estava a ficar tarde, o Tiago pôs a sua amiga mochila às costas e foram para

casa. Durante a noite, voltou a sonhar. Estava deitado numa nuvem feita de letras de

todos os tamanhos, cores e feitios, que o tocavam de uma maneira muito suave. Quando

acordou, reparou que estava um livro em cima da mochila e leu o seu título:

- “Um sonho estranho”… Mas o que me está a acontecer? Estou a ler?!!

- Sim, estás a ler. Valeu a pena acreditares que ias aprender a ler. - interrompeu-o a

mochila. - Eu só dei uma ajudinha com o meu poder de comunicar… Mas atenção, não é

só aprender a ler: é saber ler!

Enquanto iam conversando, saíram para a escola, muito felizes para darem a

novidade à professora. Esta explicou que “saber ler e saber escrever” é importante para

toda a vida.

Na verdade, com a ajuda da mochila mágica, o Tiago percebeu que ainda não

acabou a sua vida de aprendizagem, porque vamos sempre aprender “coisas” até a nossa

vida acabar.

A Rota das Histórias

19 | P á g i n a

O caderno das folhas mágicas

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 2º Ano

A Rota das Histórias

Capítulo III

A Rota das Histórias

20 | P á g i n a

2º Ano

Inventaste uma palavra mágica. Que

palavra foi essa? Que poderes te dá?

A Rota das Histórias

21 | P á g i n a

Era uma vez um caderno mágico. Este caderno, através de palavras mágicas,

dava poderes.

O poder mais forte era o da palavra abracaderno.

Um dia de muito calor, as folhas do caderno mágico começaram a explodir.

Uma a uma, soltaram-se do caderno e voaram para sítios diferentes. Algumas

perderam-se no meio daquela confusão.

A folha mais importante, a que tinha a palavra mágica abracaderno,

também se perdeu. Do caderno só ficou a capa e a contracapa.

Passado muito tempo, um rapazinho, chamado João, encontrou essa folha

junto a uma árvore, na floresta que ficava perto da sua casa. Ele não conhecia os

poderes mágicos que estavam naquela folha e então, muito curioso, tentou apanhá-

-la para descobrir o que estava lá escrito.

Aproximou-se lentamente da árvore e leu a palavra abracaderno que estava

escrita naquela folha que ele encontrou abandonada na floresta.

Quando acabou de ler a tal palavra mágica, o João sentiu-se estranho e

pensou que aquela folha não era uma folha normal, como as dos seus cadernos da

escola.

Então, apanhou-a, sacudiu-lhe o pó e levou-a para sua casa.

À noite, antes de ir dormir, pegou de novo na folha e pronunciou a palavra

mágica em voz alta.

Nesse momento, aconteceu uma coisa extraordinária: a folha mexeu-se e

falou com o João.

Ele assustado perguntou:

- Como é possível uma folha falar? Será que estou a sonhar?

O João esfregou os olhos rapidamente e percebeu que não era um sonho,

aquela folha falava mesmo!

- Mas como é possível uma folha falar? – perguntou o João, espantado.

- Porque eu sou uma folha de um caderno mágico. – disse a folha.

A folha sentia-se muito sozinha. Sentia a falta das suas amigas folhas de

papel.

- João, tens de me ajudar!

- Como é que eu te posso ajudar?

A Rota das Histórias

22 | P á g i n a

- Vamos procurar as minhas amigas, porque um caderno só está completo se

tiver as folhas todas juntas.

Então, no dia seguinte, o João decidiu ajudar a folha e foi para a floresta

perguntar aos animais se tinham visto as folhas do caderno mágico.

Os animais ficaram espantados por conseguirem falar com o João. Era esse o

segredo da palavra abracaderno. Esta palavra tinha o poder de pôr as pessoas e os

animais a falarem a mesma língua.

- Olá, amigo esquilo. Bom dia, como estás?

- Eu estou bem e tu, João?

- Olha, viste por acaso uma folha como esta?

- Sim, eu guardei-a na minha toca, vou já buscá-la!

Deu um salto rapidamente e desapareceu no meio dos ramos das árvores.

Passados alguns minutos, o esquilo voltou com a folha mágica. Nela estava

escrita a palavra CARINHO.

Ao ver uma das suas amigas, a folha, onde estava inscrito abracaderno,

ficou muito contente e abraçou a sua amiga, a tal onde estava inscrito CARINHO!

- Quantas saudades eu tinha de ti! – disse a folha que tinha o poder de pôr

tudo a falar.

A outra, de lágrimas nos olhos, respondeu carinhosamente:

- Olá, amiga! Também tive muitas saudades tuas! Por onde tens andado?

Como vieste aqui parar?

A página estava tão contente que não parava de fazer perguntas à sua

amiga!

Depois de matarem as saudades, decidiram ir procurar as suas outras amigas

folhas.

Enquanto procuravam as outras amigas, foram-se cruzando com vários

animais, a quem perguntavam se tinham visto alguma folha de caderno, mas

obtinham sempre uma resposta negativa.

Depressa chegou a noite e o João disse:

- Já não consigo ver nada!

A folha, onde estava inscrito CARINHO, apressou-se a dizer:

- Não te preocupes! Com o meu poder já vais conseguir ver!

A Rota das Histórias

23 | P á g i n a

Qual não foi o espanto do João, quando de repente tudo à sua volta ficou

iluminado.

- O que é isto? O que aconteceu? – perguntou ele.

- Com o meu poder, o poder da luz, tudo conseguimos ver.

De repente, viram uma folha, timidamente, a espreitar atrás de um arbusto.

Era a folha onde estava inscrito PAZ.

Que alegria, mais uma folha! E tanto que tinham para conversar! Para

contarem as aventuras enquanto andaram perdidas por outros lugares. E eis que o

João lembrou a todas as presentes:

- Agora com a vossa ajuda é mais fácil! Principalmente com os poderes que a

folha Carinho nos concedeu! Não esquecendo também a palavra mágica abra-

caderno.

Entretanto… tanto conversaram que até adormeceram, quando o dia já

raiava.

A primeira preocupação quando acordaram, foi ir para a floresta procurar

novamente as colegas desaparecidas. Foram andando, andando, até que

encontraram muitas borboletas a voarem em bando. Tinham bolinhas amarelas nas

asas e eram tão lindas!

O João ficou tão espantado que lhes perguntou aonde iam tantas borboletas,

ao mesmo tempo? Elas responderam que iam ver um objeto estranho que tinha

aparecido ao pé do lago, provavelmente teria vindo no bico de uma águia e que por

sorte não tinha ido parar à água. Nada sabemos acerca dele apenas tem uns

rabiscos desenhados e parece ser papel velho.

- Boa! - disse o João.

- Assim poderemos acompanhar-vos para confirmar se é uma das folhas que

procuramos!

Assim que chegaram perto, viram uma luz fulgurante que irradiava por todos

os lados em tons de um arco-íris, que se espalhava pelo ar, à sua volta.

O menino correu tanto para apanhar a folha, com cuidado, para não ir parar

dentro do lago e ao levantá-la todos leram em voz alta AMOR.

De repente, a água do lago levantou-se! Ficou tão alta que metia medo!

O João e as folhas esconderam-se. A água falou com uma voz de trovão:

- Quem se atreve a incomodar o meu sono?

A Rota das Histórias

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- Não era essa a nossa intenção…. Nós andamos apenas a procurar as nossas

amigas folhas. Encontrámos aqui a folha do AMOR – explicou, a medo, o João.

- Bem, bem… talvez os possa ajudar. Chamarei o meu amigo Vento. Ele voa

tão alto que poderá ver alguma das vossas amigas folhas.

Então a água do lago, através do arco-íris, comunicou com o Vento.

A cor anil do arco - íris ajudou a água do lago a subir a uma nuvem branca,

fria, enorme e muito ventosa. Espreitou pela janela, borbulhou e utilizou as bolhas

para chamar a atenção do vento.

Muito zangado por ser incomodado, o vento soprou com força empurrando a

água para outra nuvem. A água, com manobras equilibristas manteve-se no ar,

girando à volta da nuvem.

Neste gira-gira, a água do lago ficou mais próxima da nuvem. Espantada,

arregalou as bolhas e nem queria acreditar que dentro daquela nuvem fofa,

pequena, de uma cor de rosa brilhante, estava uma folha abraçada à nuvem que

em grandes letras maiúsculas dizia: ABRAÇO.

Começou a girar com muita rapidez, formando um remoinho e trazendo a

pequena nuvem até ao menino João. Este, cuidadosamente, enfiou a mãozita no

fofo algodão cor de rosa e retirou mais uma folha mágica.

A nuvem sentindo-se desconfortável sem o aconchego do abraço, começou a

chorar.

– Calma, nuvem! Tu podes não me conhecer, mas tens que aprender a fazer

novos amigos. – exclamou o João. E continuou:

– Sabes? Foste uma grande amiga, porque trouxeste uma folha muito

importante para completar um caderno que é mágico.

De repente, sentiram um vento forte e quente que os obrigou a proteger a

folha, fez subir a nuvem e colocou a água no lago.

– Com que então, queriam ver-se livre de mim? – perguntou o vento com

uma voz rouca e zangada.

– Esta estranha história não existirá sem a minha personagem. Também

quero ser importante e participar nela. Vou ajudar-vos!

Então, o vento começou a soprar com quanta força tinha, fazendo abanar

todas as árvores e arbustos ao seu redor. Nesse momento, surgiu de dentro de um

A Rota das Histórias

25 | P á g i n a

pequeno arbusto uma folha do caderno mágico, que tinha escrita a palavra

AMIZADE. De imediato, o João correu para apanhar mais esta folha mágica.

Quando a folha que dizia abracaderno viu a folha que dizia AMIZADE,

abraçou-a tanto, que ambas começaram a chorar, mas de alegria.

Nisto, o arco-íris, que tinha estado a observar os acontecimentos, disse que

também queria ajudar.

- Eu posso ajudar, comunicando com o meu amigo sol, que do alto vê tudo

em redor e pode-nos ajudar também.

O sol que estava a escutar a conversa do seu amigo arco-íris, logo esticou os

seus longos raios para procurar as restantes folhas do caderno mágico.

A folha que tinha escrita a palavra AMIZADE, desvendou o seu poder

especial:

- Olha amigo sol, se me levares na ponta dos teus raios, eu tenho o poder de

atrair todos os seres de bom coração e isso inclui as folhas do nosso caderno

mágico.

Assim que um raio de sol levou a folha da AMIZADE, esta ao passar sobre o

campanário da escola do João, atraiu mais uma folha, que tinha ficado presa no

bico do galo de ferro e nela tinha escrito a palavra ALEGRIA.

O João, muito surpreendido, exclamou:

- Como é que eu não reparei naquele pequeno pedaço de papel, no alto do

campanário? Agora já podemos juntar todas as folhas e ver se o caderno está

completo.- disse o João, entusiasmado.

Ao juntar todas as folhas, a folha da PAZ verificou que ainda faltava uma, a

mais importante. Faltava a folha da BONDADE.

Então, o João decidiu voltar, novamente, à floresta para procurá-la. Ao

chegar viu um bicho muito estranho que lhe disse, com uma voz fina e suave:

- Eu sei o que procuras e sei onde está. Vem comigo, não tenhas medo!

O João, apesar de receoso, seguiu o bicho que o levou ao local mais

escondido e misterioso da floresta, onde estava um mágico. Ele ficou surpreendido,

pois nunca tinha visto um mágico como este, era enorme, tinha uma barba branca

que lhe chegava aos pés, o cabelo era grisalho e comprido e tinha uns óculos

minúsculos apoiados na ponta do nariz.

O mágico virou-se para o João e disse-lhe:

A Rota das Histórias

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- Não tenhas medo! Não te vou fazer mal.

- Então, por que é que me trouxeste até aqui?- perguntou o João.

O mágico explicou-lhe que tinha planeado esta aventura para ver quem tinha

a coragem e a bondade de ajudar o caderno a recuperar as folhas perdidas.

- Eu tenho a última folha, a da BONDADE. - disse o mágico.

- O que tenho de fazer para ficar com ela? - perguntou o João.

- Tens de vencer um último desafio. Vais ter de ordenar todas as folhas do

caderno por ordem alfabética. Se conseguires dou-te a última folha.

O João concordou e até achou o desafio bastante básico. Pegou nas folhas,

que tinha com ele, ordenou-as e mostrou o caderno ao mágico.

- Muito bem! Conseguiste! - disse o mágico.

- Obrigado! – respondeu o João.

- Toma a folha da BONDADE. Mereceste-a, porque conseguiste completar

novamente o caderno mágico. Como recompensa ele será teu e terás todos os

poderes das folhas mágicas que utilizarás para fazer o Bem à Humanidade.

A Rota das Histórias

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 3º ano

A Rota das Histórias

Capítulo IV

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

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3º Ano

Esta manhã, abriste a janela do teu quarto

e tudo tinha mudado! O que foi? E como?

A Rota das Histórias

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A FALHA DOS CIENTISTAS

Esta manhã, abri a janela do meu quarto e tudo tinha mudado! Estávamos no

verão, mas a paisagem estava toda branca de neve, como se fosse inverno. As

folhas das árvores estavam todas caídas. A água dos rios, dos mares e dos lagos

estava congelada. Fiquei assustado, saí para a rua e perguntei às pessoas o que

tinha acontecido, ninguém soube responder.

Entretanto, voltei para casa e fui pesquisar na internet e vi informações de

um cientista que explicava o que estava a acontecer. O planeta Neptuno tinha

trocado de lugar com o planeta Terra e as coisas que aconteciam em Neptuno

estavam a acontecer na Terra. Tentei saber o contacto do cientista e falei com ele

e ele explicou-me que andava a fazer experiências, mas o mais certo era toda a

população do planeta Terra ter de mudar-se para Neptuno.

Fiquei muito assustado e fui para casa sem saber o que pensar. Durante uma

hora nem consegui sair do meu quarto! Mudar para um novo planeta? Como seria

possível? Como é que toda a população do nosso planeta seria transportada? E será

que os meus pais já sabiam? E os meus amigos? E a minha família?

Liguei o computador e escrevi “Neptuno” no Google. Milhares de sites

apareceram, cliquei num deles e fiquei um pouco mais descansado, porque li que

Neptuno é 17 vezes maior que a Terra. Peguei no telemóvel e liguei à minha mãe…

Contei-lhe o que o cientista tinha explicado.

Ela não acreditou naquilo que lhe dizia e resolveu olhar pela janela do hotel

onde estava instalada. Ela encontrava-se no sul do país em viagem de trabalho. A

paisagem que até ali estava verdejante e com um sol radioso começou a ficar

sombria. O sol deixou de brilhar, os pássaros deixaram de se ouvir, os animais

mostraram-se assustados e esconderam-se e as pessoas olhavam à sua volta e

interrogavam-se.

- O que está a acontecer?!

Ninguém sabia! ...

Entretanto os acontecimentos começaram a ser noticiados. As pessoas

estavam apavoradas, houve uma grande corrida a todos os supermercados, todos

procuravam abastecer as suas despensas. As notícias eram alarmantes. As rádios, as

A Rota das Histórias

30 | P á g i n a

televisões e outros meios de comunicação anunciavam que as temperaturas

continuavam a descer. Toda a paisagem se encontrava completamente branca,

devido à intensidade da neve que continuava a cair.

Os governantes tentavam acalmar as pessoas e os cientistas continuavam a

fazer experiências.

Eu permanecia com medo e lá fora as condições climatéricas pioravam: as

temperaturas baixavam e surgiram tempestades e ventos muito fortes. Estes

derrubaram postes de alta tensão e, de repente, houve um «apagão total», isto é,

em todo o planeta.

Todas as pessoas tentavam proteger-se do frio ficando dentro de casa,

agasalhando-se e aquecendo-se da melhor forma. Com os armários mais altos

resguardavam os vidros das janelas e com a lenha que lhes sobrara do inverno,

acendiam as lareiras e faziam fogueiras. E quando se acabava a lenha, as pessoas

recorriam ao seu próprio mobiliário, cortando-o para queimar nas fogueiras…

Enquanto isso, os cientistas fizeram várias experiências e descobriram o “Gás

Troca Tudo” a que deram o nome científico TT2KXD e tentaram trocar os dois

planetas. Mas algo de estranho aconteceu…

Enquanto parte do Planeta Terra continuou a gelar, com os seus habitantes

quase a desfalecer de frio sem nada que os pudesse aquecer, do outro lado a

experiência foi um êxito.

Os cientistas ficaram desesperados, tinham de encontrar rapidamente a

forma de salvar a zona terrestre que não tinha sido abrangida pelo seu gás.

Toda a população se revoltou contra os investigadores. Organizaram várias

manifestações contra o seu trabalho. Levaram cartazes, faixas com mensagens

escritas, tambores, cornetas e outros materiais para chamar a atenção. Os

cientistas já estavam desesperados à procura de alguma solução que pudesse calar

a população revoltada. Uma parte do planeta precisava rapidamente de alguma

solução.

Enquanto não era encontrada uma resolução, os habitantes da parte gelada

do planeta Terra, resolveram mudar-se para a parte em que o ambiente já estava

no seu estado normal.

A Rota das Histórias

31 | P á g i n a

Entretanto, os cientistas continuavam as suas experiências, tentando corrigir

o que tinha falhado. A população estava revoltada e desgostosa por ter abandonado

a sua terra.

Os investigadores fizeram novamente cálculos e descobriram que tinham de

mudar a quantidade de «Gás Troca Tudo». Quando estavam nas suas experiências,

por descuido, o gás libertou-se e saiu pelas frestas das portas e janelas misturando-

se com a neve que caía lá fora.

No mesmo instante, ouviu-se um enorme estrondo, foi o Rafael que caiu da

cama!

Levantou-se do chão atordoado, correu para a janela e viu que nada tinha

acontecido. A paisagem continuava igual e o rio corria calmamente.

Suspirou de alívio e disse:

- Afinal, tudo não tinha passado de um pesadelo.

A Rota das Histórias

32 | P á g i n a

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 4º ano

A Rota das Histórias

Capítulo V

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

33 | P á g i n a

4º Ano

No reino do invisível

Tornaste-te invisível. O que fazes? Onde

vais? Como te comportas em relação aos

outros?

A Rota das Histórias

34 | P á g i n a

TRRRRRIIIIIMMMMMMMMMM… TRRRRRIIIIIMMMMMMMMMM…

- Horas de levantar! – gritou a minha mãe, já na cozinha a preparar o

pequeno-almoço.

Virei-me para o outro lado, à espera de ter coragem para sair do quentinho

da cama. Porque será que custa tanto sair da cama para ir para a escola e, nos fins

de semana, sou sempre o primeiro a levantar-me e correr para a sala? (Nota:

pesquisar na internet o efeito da escola na vontade de ficar na cama…)

- São horas! – repetiu a minha mãe, já com voz de poucos amigos.

Um… dois e… saltei da cama. Calcei os chinelos e fui à casa de banho.

Ocupada, como é costume. Será que a minha irmã não sabe que não é a única a

usar a casa de banho?

- Mariaaaaaaaaa! Despacha-te! – gritei eu, com toda a força.

- Levantasses-te primeiro! – respondeu a Maria, a gozar comigo.

Foi então que aconteceu uma coisa muito estranha… a minha mãe passou por

mim e entrou no meu quarto a dizer para me levantar, porque já estava muito

atrasado. Mas eu estou levantado, pensei. O pior foi quando a minha irmã quase

chocou comigo, quando saiu a correr da casa de banho e não me empurrou, nem

me chamou “paspalho”, com que costuma irritar-me todos os dias.

- Até parece que estou invisível!

Entrei na casa de banho, tomei banho à pressa e ouvi a minha mãe a dizer à

minha irmã que se ia embora para o trabalho. Escutei também a minha mãe a pedir

à minha irmã para confirmar que eu tomava o pequeno-almoço e levava tudo para

a escola. Vesti – me rapidamente e nem tive tempo de me ver ao espelho… até

porque ele estava muito embaciado.

Quando saí da casa de banho ouvi a minha irmã a chamar – me novamente…

não estava a perceber nada…

Cheguei à cozinha já não estava ninguém em casa. Comi os meus cereais

favoritos, lavei os dentes e peguei na mochila. A paragem do meu autocarro era do

outro lado da estrada.

Quando vi o autocarro a aproximar-se, levantei – me do banco e fiz sinal com

a mão… Mas, o condutor não parou!!!!!!

- Até parece que estou invisível! Como é que agora chego à escola, se o

autocarro não parou?

A Rota das Histórias

35 | P á g i n a

Decidi ir a pé para a escola. Ao longo do percurso de casa para a escola,

cruzei-me com vários dos meus vizinhos e dizia-lhes:

- Bom dia!

Mas… todos ficavam a olhar para os lados sem me darem qualquer resposta,

o Sr. Joaquim até coçou a cabeça. Não entendi nada! Até parece que estou

invisível!

Finalmente cheguei à escola, mesmo em cima do toque da campainha. Entrei

no edifício e fui para junto da porta da sala de aula, onde já estavam os meus

colegas de turma. Cheguei e disse, como habitualmente:

- Bom dia!

Ninguém me ligou! Até estranhei os matulões da minha turma não se

meterem comigo e não me darem “carolos” na cabeça, como é costume. Até

parece que estou invisível!

A professora chegou e entrámos todos na sala de aula. Começou a fazer a

chamada e quando chegou a minha vez respondi:

- Presente!

A professora olhou para a turma com cara de poucos amigos e disse:

- Engraçadinhos!

Fiquei intrigado! Com o decorrer da conversa percebi que…

- Afinal, estou mesmo invisível!

Bem… visto que ninguém me vê, vou aproveitar para fazer o que

normalmente vejo nos filmes para me “vingar” dos “matulões” da minha turma.

Comecei por ir à procura de detergente na arrecadação da escola e coloquei

na entrada da porta da sala de aula, pois os “matulões” são sempre os primeiros a

sair para ocuparem o campo de futebol. De seguida pensei: “Quando escorregarem

no detergente vão precisar de ir à casa de banho e, …”. Resolvi ir à procura de um

balde. Coloquei água no balde e, com muito esforço, consegui colocá-lo em cima

da porta do WC. Esperei pelo toque. Na hora da saída era vê-los cair e escorregar.

Parecia que estavam na neve. Fartei-me de rir! Desta vez fui eu que os “tramei”.

- É fixe estar invisível!

O mais engraçado foi chegarem ao WC e ficarem todos molhados e zangados.

- É fixe estar invisível!

- Hum! Com estas partidas, fiquei com um ratinho no estômago!

A Rota das Histórias

36 | P á g i n a

Fui então para o refeitório da escola para almoçar. Sentei-me junto dos

meus colegas. Como estou invisível ninguém me deu o almoço.

- O que fazer agora? Já sei! Vou petiscar dos pratos dos meus colegas.

A ideia até foi boa, mas não correu muito bem. De repente, eles começaram

a gritar com medo, porque começaram a voar dos pratos perninhas de frango,

batatas fritas, arroz, alface… e uma garrafa de água a dançar no ar! Mas que

grande alvoroço provoquei no refeitório! Até pensaram que havia um “fantasma da

comida”.

De barriguinha cheia, saí do refeitório para a aula de ciências. Ao passar

pelo recreio da escola, encontrei as minhas colegas, mais conhecidas pelas

“Betinhas”. Elas são muito vaidosas e niquentas. Abri a mala da mais giraça, tirei-

lhe o batom e comecei a pintar-lhe a cara. Muito assustadas e confusas começaram

a fugir e...

- Ai, ai, ai, ui, ui! Está aqui um fantasma! Fujam! Fujam!

- Mas que bem, estou a divertir-me imenso. É mesmo fixe estar invisível!

Entretanto fui para a aula do professor Pardal, mais conhecido por “cientista

louco”. Estávamos todos no laboratório e no meio de uma experiência, sem querer,

entornei um tubo de ensaio com um líquido gelatinoso e verde.

- Booom! Poof! Pum! Crash! Boom! Crash!

Uma grande explosão de várias cores e de luz! No ar apareceram suspensas

as minhas roupas e no chão as sapatilhas!

- E agora???

Nesse mesmo instante tocou o alarme da escola: en… om… en… om…

Saí da sala de ciências a correr em direção à casa de banho. Entrei,

esquecendo-me do balde de água que tinha enchido de novo. Oh, estou

encharcado! Ai… ai…, que frio! Que faço agora! Tenho de ir com urgência para

casa…

Ao sair da casa de banho… Ai que grande susto! Estavam todos os colegas à

minha espreita…

- Olha, com certeza deve ser o mesmo fantasma da comida!

De repente, pensei:

- Então e agora? Já não estou totalmente invisível! Já me descobriram… Mas,

se eu me despir e descalçar, já não me conseguirão ver…

A Rota das Histórias

37 | P á g i n a

E assim fiz, despi as minhas roupas, descalcei as sapatilhas e corri com toda

a velocidade até ao portão da escola. Mas ao correr senti que pisava algo macio.

Parecia-me farinha…

- Mas… para que será isto no chão?

Pisei, voltei a pisar, cheirei… afinal era mesmo farinha. Escorreguei e caí de

frente no chão, fiquei branco da cara aos pés.

- Ah… não acredito, estou todo enfarinhado!

- Pois estás – disseram todos com ar de … “já foste apanhado”. Estás feito!...

- riram em coro.

As Betinhas da turma disseram:

- Engraçadinho, andas a brincar aos fantasmas, vais ver o que te vai

acontecer!

Levaram-me até ao laboratório do professor Pardal, ele preparou uma poção

colorida para eu beber e zás… catrapás, meteram-me aquela coisa malcheirosa e

borbulhenta pela goela abaixo.

- Então és tu, seu fracalhote! – exclamaram ao mesmo tempo os matulões e

a Betinha mais giraça, ainda esborratada de batom.

Fugi dali a sete pés, atravessei velozmente a floresta negra e dirigi-me à

casa do Mago Merlim. Passava debaixo da sua janela quando, de repente, me cai

em cima da cabeça um líquido azul com cheiro a mirtilos. Todo pegajoso, bato à

porta do Mago, ele abre, olha em redor, volta a olhar, olha de novo e fecha a

porta.

- Boa, estou emporcalhado mas recuperei a invisibilidade.

Saí dali rapidamente, corri por montes e vales até casa e mergulhei na

banheira. Quando terminei de me arranjar fui à cozinha e preparei uma bela tosta,

estava esfomeado. Foi então que ouvi a mãe a perguntar à minha irmã se sabia por

onde eu andava. Ela, em tom jocoso, respondeu:

-Ele nunca chega a horas a casa, só faz disparates, é um grande trapalhão.

Levanto-me rapidamente, já a deitar fumo das orelhas e penso para comigo:

- Estás mesmo a pedi-las!

De qualquer forma tenho tempo para lhe preparar uma “agradável”

surpresa.

- Estou aqui! – respondo calmamente com a voz mais melosa que sei fazer.

A Rota das Histórias

38 | P á g i n a

- Ah, engraçadinha, estás a fazer-te passar pelo teu irmão.

Mas eu estou mesmo aqui e agora? … Ah, já sei! Vou para o meu quarto

pensar no que hei de fazer.

Já no meu quarto lembrei-me de umas quantas surpresas que poderia

“oferecer” à minha irmã.

Entretanto, a minha mãe estava a ficar preocupada por eu não chegar e

resolveu ir, com a minha irmã, até à escola para ver se me encontravam no

caminho. Foram as duas procurar-me. Finalmente fiquei sozinho em casa, e vou ter

tempo para pôr em prática os meus planos.

Fui à gaveta da minha secretária buscar um saco de berlindes. Depois fui à

garagem e procurei um tubo de supercola na caixa de ferramentas. Saí para a rua e

fui apanhar três ratazanas (o que foi muito fácil, porque estava invisível) num

quintal abandonado, mesmo ao lado da minha casa. É muito bom estar invisível! Já

na posse dos meus troféus, voltei para casa e despejei os berlindes por baixo do

tapete da casa de banho. Se bem conheço a minha irmã, assim que entrar em casa,

com a “mania das transpirações”, vai imediatamente tomar banho. Se tudo correr

bem, vai escorregar e cair dentro da banheira. Furiosa (como só ela) vai esfregar-se

com toda a força. O pior será a cola que entretanto misturei no champô. E as

ratazanas? Bem, as ratazanas serão o meu golpe final. Quando a Maria tiver as

mãos colada ao cabelo vou pô-las a nadar na banheira.

Entretanto, a minha irmã e a minha mãe chegaram a casa. Tal como pensei,

a minha irmã foi logo direita à casa de banho. A minha mãe já estava a ficar

desesperada e, depois de me procurar pela casa toda, foi telefonar à GNR para

participar o meu desaparecimento.

Nisto, ouvi o barulho do trambolhão que a minha irmã deu na casa de banho.

Eh eh eh, deve ter doído… Quando percebi que ela já estava na banheira, fui até lá

para pôr as ratazanas a fazer-lhe companhia.

Mas quando cheguei à porta da casa de banho estava lá a minha mãe, a olhar

para mim, com cara de poucos amigos. Será que?!...

“Será que deixei de ser invisível?” - pensei.

- Ratazanas voadoras! – gritou aterrada a minha mãe, que tinha pavor a

roedores.

A Rota das Histórias

39 | P á g i n a

Fiquei preocupado com a sua aflição, mas ela compreendeu rapidamente o

que estava acontecer, até porque tinha visto as pegadas de lama das minhas

sapatilhas, na casa de banho.

- Mãe, desculpa ter-te assustado, mas…

- Filho, nem acreditei, quando me contaram na escola. Como é que tu te

tornaste invisível?

Ia para responder, quando à porta da sala apareceu o meu pai a perguntar o

que se passava. Imediatamente, convocou um conselho de família, no qual, revelou

um segredo de família: na sua juventude também tinha ficado invisível, também o

seu avô, tinha ficado em estado de invisibilidade, enquanto soldado na guerra

colonial e se tinha tornado um herói medalhado. Esta capacidade genética era

transmitida para filhos do sexo masculino e revelava-se em períodos de stress, tal

como a mim, pois estou em vésperas de exames.

- Vais tomar um medicamento, à base de ervas, cultivadas na floresta negra

e depois dormirás durante vinte e quatro horas. Voltarás definitivamente ao

normal. - explicou o meu pai pacientemente.

Naquela noite, eu adormeci com dificuldade. Os deuses do invisível

atormentavam-me, constantemente pois, enquanto visitante daquele mundo, só

tinha feito disparates.

TRRRRRIIIIIMMMMMMMMMM… TRRRRRIIIIIMMMMMMMMMM…

Acordei estremunhado, mas só me levantei, quando a minha mãe entrou no

meu quarto e disse preocupada:

- Levanta-te depressa, hoje é dia de exame!

Levantei-me, à pressa, e fui para a casa de banho. Peguei no champô e lavei

a cabeça. Saí do banho e olhei para o espelho estupefacto. O meu cabelo estava

todo coladinho à testa.

“Teria estado mesmo no mundo do invisível ou tudo não tinha passado de um

horrível pesadelo?”

A Rota das Histórias

40 | P á g i n a

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 5º ano

A Rota das Histórias

Capítulo VI

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

41 | P á g i n a

5º Ano

Encontraste na praia, onde costumas ir,

uma garrafa com uma mensagem. Que

mensagem é essa? O que terá acontecido a

partir daí?

A Rota das Histórias

42 | P á g i n a

Entardecia. O céu mantinha alguns vestígios de uma tremenda tempestade,

ainda que rasgado por alguns raios avermelhados do Sol. Este ia sussurrar ao ouvido

da Lua lembranças de um dia muito turbulento.

Havia um cheiro muito intenso a maresia. As ondas, que pareciam uma

montanha-russa, quebravam-se violentamente sobre a areia onde se iam apagando

as pegadas das últimas pessoas corajosas que por ali tinham passado. As rochas, de

um verde sujo e pegajoso, despiam-se completamente das conchas que o mar

levava ao passar brutamente. Os caranguejos, atrapalhados, tentavam sobreviver a

tanta espuma baça e maciça, espalhada por aquele mar enraivecido.

Agora, com a Lua a observar curiosamente a calma repentina do mar, só se

via um lençol de lixo e de restos de seres vivos e objetos danificados pela intensa

agitação marítima.

Era nestes dias que eu gostava do mar! Era nestes dias que ele trazia até

mim magníficos tesouros e lembranças de grandes aventuras passadas!

Nesse preciso momento, tropecei em algo reluzente que refletia a luz

cintilante da Lua.

Olhei para baixo e, mesmo junto aos meus pés, estava uma garrafa. Mas não

era uma garrafa qualquer! De tamanho anormal e feitio estranho, deixava

transparecer um papel antigo enrolado e, na rolha, estava gravado um símbolo

invulgar.

- Parece que hoje tive mesmo sorte! Será mais um daqueles tesouros que o

meu avô coleciona? Tenho de a levar para casa e ver se consigo decifrar isto com a

ajuda dos livros antigos que ele tem na sua biblioteca!

Como uma seta, corri para casa, cheio de tanta ansiedade e curiosidade por

desvendar aquele mistério que nem reparei no meu avô.

- Então, Afonso!? Isto são maneiras de entrar em casa?! – repreendeu ele.

- Avô, avô, avô, nem imaginas o que te trago aqui!

Ao contrário do que era costume acontecer, surpreendentemente, o

significado daquele símbolo foi logo encontrado. Dizia “S.O.S. Macauá”. Seguiu-se a

tarefa bem mais difícil de abrir a garrafa e ler a mensagem que continha. Foi

preciso que eu e o meu avô recorrêssemos ao Mestre Tesouro, ao Mestre Garrafino

A Rota das Histórias

43 | P á g i n a

e, só depois da rolha bem gasta por passar de mão em mão, demos de caras com

um pedido de ajuda.

O papel encontrava-se bem enroladinho, dificultando a satisfação da minha

curiosidade. Inclinei a garrafa e o mistério deslizou suavemente pelo interior do

recipiente.

Senti o coração a bater “a mil à hora”!... Era a primeira vez que estava

diante de um enigma com a função de detetive!

Desenrolei o papel com muita delicadeza como se se tratasse de uma rara

preciosidade que eu não queria, de maneira nenhuma, perder ou estragar…

A mensagem encontrava-se codificada:

Fiquei ao mesmo tempo desiludido e intrigado. Desiludido, porque

desconhecia aquela linguagem e intrigado porque a vontade de saber o que o texto

dizia, aumentava segundo a segundo!...

- Avô, consegues perceber o que aqui está escrito? - supliquei – Parece-me

um código…

- Deixa-me ver… Acho que os meus conhecimentos de escuteiro me podem

ajudar…

O meu avô passou atentamente os olhos pela mensagem, coçou

demoradamente a cabeça, esbugalhou os olhos e anunciou, com muita segurança,

que se tratava de um código de inversão do alfabeto…

Ele estava mais do que habituado a lidar com mistérios e, afinal de contas,

este até era um dos códigos mais básicos da sua “carreira escutista”. Foi buscar à

prateleira o manual de decifração de códigos enigmáticos e, com os dedos

poeirentos e um ar orgulhoso, anunciou:

- Aqui está ele! Acho que é um pedido de ajuda! Ouve com atenção:

IGTVPFJ UT ZODUZ!

UJPF IPGZEZF NDEZM IJG DM ETFJDGJ HUT TFEZ LDMZ PNQZ Z JTFET UZ JVTZLPZ, Z

FDN UZ ZFPZ T Z TFET UZ ZSGP, J HUT TFEZ Z ITGEDGXZG Z SZDLZ T Z SNJGZ

UTFEZ AJLZ .

CTM ZVJMIZLQZUJ !

CZPF IGTVPFZG UT GTSJGVJF !...

ZFFPLZ: MZGPFVJ ITPBJEJ

A Rota das Histórias

44 | P á g i n a

………..

- Ó avô, vê só… Deviam estar tão aflitos que até trocaram algumas letras! E

não sou só eu que dou erros ortográficos!! O que vale é que não são graves e dá

para percebermos bem a mensagem. Achas que é verdadeira? Se for, podemos

ajudar!

Ele já nem me ouviu até ao fim, pois estava demasiado pensativo. Parecia-

-lhe uma mensagem familiar. Sem hesitar, foi buscar a sua “Caderneta de

Lembranças” e lá estava ela! A mesma mensagem, a mesma pessoa… Só poderia ser

verdade!

- Nunca pensei estar envolvido numa aventura deste calibre! Até agora, só as

tinha vivido nos livros! E… uma novidade: agora que és crescido e tiveste o bom

gosto de sair ao teu avô… levo-te comigo!

- “Fixe”! Brutal! Vamos ter umas férias em grande!

- Férias… Nem pensar! Temos alguém à espera. É sério!

Os dias que se seguiram foram de uma azáfama terrível, atribulados e até

cansativos. Eram imensos os apetrechos necessários para fazermos aquela viagem

em segurança. Mas ainda tivemos tempo para escolhermos os tais reforços de que

falava a mensagem. Imaginem quem nos vai acompanhar! Os meus cinco melhores

amigos e o meu super-cão, que tem uns poderes especiais e será ideal para servir

de “GPS”, nesta nossa missão.

Nessa mesma tarde, começámos a preparar a bagagem, da qual faziam parte

as bússolas, as cordas, as lanternas, os mapas, os sacos cama, alguns cobertores, as

tendas, as roupas, o calçado apropriado, o kit de primeiros socorros, etc, etc…

Eu e o meu avô fomos buscar o “Aventureiro”, um barco antigo que o

acompanhou nas suas aventuras de escuteiro. Era um barco à vela, de cor verde, e

estavam desenhadas esferas armilares nas suas velas brancas.

PRECISO DE AJUDA!

DOIS PIRATAS LUTAM POR UM TESOURO QDE ESTÁ NUMA ILHA A OESTE DA

OCEÂNIA, A SUL DA ÁSIA E A ESTE DA AFRI, O QDE ESTÁ A PERTURBAR A

FAUNA E A FLORA DESTA ZONA.

VEM ACOMPANHADO!

VAIS PRECISAR DE REFORÇOS!...

ASSINA: MARISCO PEIXOTO

A Rota das Histórias

45 | P á g i n a

A viagem estava marcada para 22 de abril de 2015. Na véspera da sua

realização, os meus cinco amigos dormiram em minha casa para acordarmos cedo e

iniciarmos a aventura ao outro lado do mundo.

Foi uma noite intensa de nervosismo, mas conseguimos passar pelas

“brasas”. A imaginação foi fértil perante o que poderia acontecer durante a viagem

e na ajuda ao Marisco Peixoto.

Na manhã da viagem, o sol brilhava intensamente num céu azul e não se

avistavam quaisquer nuvens. Descemos a colina que iria dar ao ancoradouro mas…

não avistámos o “Aventureiro”.

- “Ora bolas!!”- exclamei.

- Se calhar atei mal o barco! Vamos procurá-lo? – propôs o meu avô.

O super-cão, para espanto de todos, desatou a correr desenfreado em

direção a uma falésia, sítio de passagem de golfinhos. Eu, o avô e os meus amigos

dificilmente conseguíamos acompanhar a sua rapidez.

Ouvimos ao longe um latido estranho…

Quando chegámos, ficámos espantados! O super-cão parecia estar a

conversar com um golfinho. Num relâmpago, vimos o meu cão a atirar-se ao mar…

- E agora…?! Que fazemos?? – exclamámos todos.

Para espanto de todos, vimos o cão a seguir o golfinho até ao outro lado da

praia. Passado algum tempo, avistámos o cão e o golfinho a regressarem. O super-

cão saiu da água, dirigiu-se a nós, ladrou, fez vários gestos com a cabeça, andou

para trás e para a frente… até que percebemos que o bichinho queria que o

seguíssemos. Assim fizemos. Foi aí que avistámos o barco do meu avô e percebemos

que o “Aventureiro” se soltara por causa da tempestade.

Sem perdermos nem mais um minuto, transportámos os mantimentos para o

barco, enquanto o meu avô fazia os preparativos para a embarcação partir. Já em

alto mar, pediu-nos para analisarmos o mapa, seguindo as indicações apresentadas

na mensagem. Todos concluímos que o destino só podia ser a ilha de Madagáscar.

Estávamos todos tão entusiasmados, intrigados e ansiosos com a aventura

que estávamos a viver, que nem demos pelo tempo passar até chegarmos ao nosso

destino. Quando lá chegámos, estávamos muito cansados, mas bastante excitados

com o que nos esperava em Madagáscar. Para nos orientarmos, o meu avô propôs:

- Meninos, vamo-nos organizar para encontrar o Marisco Peixoto.

A Rota das Histórias

46 | P á g i n a

Dito e feito. O meu avô acrescentou:

- Que tal, se utilizássemos os super poderes do cão? Vamos dar-lhe a

mensagem a cheirar para mais facilmente encontrarmos o Marisco Peixoto e darmos

rumo a esta viagem.

Mal o cão cheirou a mensagem, ficou inquieto. Colou o focinho ao chão,

rondou a zona envolvente, correndo de um lado para o outro como se fosse um

foguete. Tratava-se de uma zona arenosa, junto ao porto e ao longe avistava-se um

farol. O super-cão correu em direção ao farol e voltou para trás. Repetiu esta ação

várias vezes, até que percebemos que ele queria, mais uma vez, que o

seguíssemos.

Correndo sempre atrás do nosso “GPS doméstico”, entrámos no farol e

subimos as escadas. No cimo das escadas, para além da enorme lâmpada, estava

também um homem que se assustou com toda aquela agitação. Ainda mais

assustado ficou quando o cão o cheirou e ladrou energeticamente sem parar.

Das duas uma, ou aquele indivíduo era o Marisco Peixoto ou o super-cão

tinha endoidecido.

O meu avô, pensando que nos entenderíamos a falar inglês, pois estávamos

num local estrangeiro, começou a fazer perguntas ao pobre homem. Mas este não

percebia nada. Então, ouvindo-nos a comunicar em português, começou a falar

connosco também em português. Ficámos impressionados, contudo aliviados, pois

assim a comunicação seria mais fácil.

- Quem são vocês, que falam português? E o que fazem aqui? – perguntou o

homem muito assustado e admirado por nós falarmos português.

Então, numa breve conversa conseguimos confirmar que aquele indivíduo era

mesmo o Marisco Peixoto. Nem queríamos acreditar na sorte que tivemos ao

encontrar tão rapidamente o nosso homem. Depois de lhe termos contado o que

fomos lá fazer, ele explicou-nos que a situação dos piratas e do tesouro já estava

resolvida há muito tempo.

Relatou-nos que, quando era criança, havia dois piratas na ilha, muito

amigos, que se desentenderam por causa dum simples tesouro. Esse

desentendimento foi tão grave que colocara a segurança da ilha em perigo. Foi por

isso que ele tinha mandado aquelas mensagens nas garrafas. Depois de algum

A Rota das Histórias

47 | P á g i n a

tempo, concluíram que era melhor procurar o tesouro em conjunto e repartirem-

no. Assim fizeram e voltou tudo ao normal.

Ficámos muito felizes ao sabermos que o conflito já estava resolvido e com

uma grande aventura para, na escola, contarmos aos nossos colegas.

A Rota das Histórias

48 | P á g i n a

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 7º ano

A Rota das Histórias

Capítulo VII

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

49 | P á g i n a

7º Ano

Foste a uma grande cidade para te

encontrares e divertires com os teus amigos.

Surgiram situações mirabolantes…

A Rota das Histórias

50 | P á g i n a

Há muito, muito tempo, num país muito distante, na América, vivia um

velho marinheiro humilde e bondoso. Apesar de o seu rosto denotar

envelhecimento, a sua alma resplandecia jovialidade. A sua sabedoria e

experiência eram dons reconhecidos por todos os que o rodeavam. Adorava fazer

viagens a bordo da sua embarcação e conhecia todo o Oceano Pacífico como a

palma da sua mão. Durante anos tinha sido capitão do seu navio.

Agora ali, na casa que pertencera à família, John encontrara um pequeno

baú que fora de seu pai. Na esperança de encontrar algumas fotografias de família,

deparou-se com algo que, de forma dissimulada, estava no fundo do baú.

Cautelosamente, manuseou o objeto e, apesar do seu estado de deterioração,

surpreendeu-se com a inscrição: “Diário de Bordo de James Anchor”. As folhas

envelhecidas relatavam as aventuras do velho marinheiro. A curiosidade de John

levou-o a sentar-se na poltrona junto à janela. Subitamente, levantou-se

apreensivo e, repetidamente, balbuciou as últimas palavras registadas naquelas

páginas: “E assim me despedi das minhas origens”. Então, recuou ao passado para

entender o que terá levado o pai a deixar a sua cidade natal. Afinal, a visita àquele

lugar tornara-se diabólica para James e para o seu grupo de amigos.

Em criança, John ouvira falar de Seanópolis, a cidade cujas ruas eram quase

desenhadas a régua e esquadro, perfeitamente geométricas fazendo lembrar peças

de encaixe e que conduziam ao porto marítimo. Era aqui que James ouvia as

gaivotas e as vozes dos pescadores que chegavam do mar. Frequentemente, junto

ao cais, sentia o cheiro a maresia e esperava por Franklin, Trevor e Michael, para

mais uma aventura.

Certo dia, John decidiu encontrar-se com os seus grandes companheiros num

pequeno café de Seanópolis. Decidido, afirmou que queria descobrir o que levara

seu pai a redigir, naquela última linha tão intensa, aquela frase misteriosa.

Chamara-os, então, para lhes pedir que o ajudassem. Os camaradas aceitaram

prontamente e brindaram assim à sua nova aventura.

Resolveram dirigir-se a uma pequena palafita, onde morava um tal de Simon.

Era um velho marinheiro, que acompanhara o pai de John, nas suas empresas pelos

sete mares.

Quando chamaram pelo velho, este apareceu imediatamente. Tinha um ar

debilitado e moribundo. Perguntou-lhes, arrogantemente, quem eram e o que

A Rota das Histórias

51 | P á g i n a

desejavam dali. Falaram-lhe, então, em James Anchor. O velho estacou, alvo como

a neve que aquela cidade nunca vira… Mandou-os entrar. O chão de madeira rangia

à medida que progrediam naquela habitação rudimentar de uma única divisão.

Quando se acomodaram começou a contar a história de como conhecera aquele

homem corajoso e ousado. «Foi numa manhã de primavera. O James estava no

porto a fumar e eu, ainda de tenra idade, corria de um lado para o outro. A certa

altura, incomodei um mercador rezingão. Quando este se preparava para me dar

um «lambadão», o James interpôs-se no caminho dele. Com medo e com respeito

daquele homem cujos feitos eram admirados, recuou e deixou-me sossegado.

Assim, travámos uma amizade que perdurou até ele deixar as origens…». Os amigos

ficaram intrigados: «Porquê?», perguntaram em uníssono. O velho recetivo em

prestar aquelas informações em detalhe, apenas balbuciou que o mais indicado

seria falarem com Hans, “o Navegador”, que vivia nos arredores da cidade, numa

pequena casa de campo, pintada de um azul marítimo, relembrando os tempos em

que tinha vigor. Apenas ele poderia responder a isso, pois era o marujo mais íntimo

de Anchor. O velho marinheiro somente sabia que existia um plano relacionado com

uma expedição perigosa e audaz…

Então, John e os seus amigos voltaram a casa, para se prepararem, pois

desvendar o mistério ia ser uma longa e difícil jornada, como Simon lhes tinha dito.

Chegaram a casa para se prepararem para a aventura que os esperava, mas

tinham de avisar os seus pais, pois não podiam ir sem a sua autorização. Os seus

pais não os deixaram ir, porque ficaram muito preocupados com o que lhes poderia

acontecer e trancaram-nos nos seus quartos, a sete chaves. Mas, como a

curiosidade era tanta, concordaram todos que iriam na mesma.

Por isso, arrumaram as suas malas com muita cautela, para que seus pais não

suspeitassem e, como agentes secretos, numa noite fugiram.

A Rota das Histórias

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 8º ano

A Rota das Histórias

Capítulo VIII

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

53 | P á g i n a

8º Ano

Exaustos de tanto caminhar, já estavam

prestes a voltar para trás, quando avistaram

uma casa, que parecia abandonada, no alto

do outeiro…

A Rota das Histórias

54 | P á g i n a

Estava uma noite fria e, no céu, a lua cheia iluminava o caminho, o que

facilitava alcançar aquele lugar enigmático mas que permitiria aos jovens

descansar, de forma a recuperar forças para, no dia seguinte, continuarem a sua

viagem que estava ainda longe do seu destino.

Encorajados com a ideia de terem um abrigo, apressaram-se a subir a

encosta.

- João, trouxeste a tua lanterna?

- Para quê? Não vês o caminho?

- Nada disso! Na casa poderá ser necessária, pois não creio que, no seu

interior, consigamos ver alguma coisa! – observou o Miguel.

- Está bem! Vou verificar se não me esqueci dela. Ah, cá está ela! Trouxe

também uma bússola e umas sandes.

- Eu trouxe uns sumos! – disse o António.

- Pelo menos, não passamos fome! – acrescentou a Rita.

E lá foram os cinco amigos explorar a casa abandonada.

Já próximos da entrada, os jovens repararam que também o jardim tinha um

aspeto descuidado: silvas, ervas daninhas…

Bateram à porta. Mas ninguém apareceu.

A casa era antiga, enorme e estava mesmo em elevado estado de

degradação. O sótão, esse, tinha todas as janelas com os vidros partidos.

Bateram de novo à porta. Ninguém!

O Miguel, talvez por ser o mais destemido e aventureiro de todos, entrou de

rompante na casa, enrolando-se no chão, fazendo lembrar um verdadeiro ator de

filmes policiais.

Sentia-se orgulhoso e responsável pelo grupo, pois era o mais velho. Cuidar

dos amigos tornava-o especial.

Os amigos, muito curiosos, espreitaram para dentro da casa. Depararam-se

com uma entrada muito poeirenta e extremamente suja. Em frente havia um

grande móvel antigo. Por cima estava um belo espelho em forma de sol que todos

olhavam atentamente.

Penetraram na casa e depararam-se com a sala de jantar, na qual havia uma

enorme mesa rodeada de cadeiras altas. Naquela sala algo lhes chamava a atenção.

A Rota das Histórias

55 | P á g i n a

Um enorme quadro, pendurado na parede, retratava uma mulher muito bela com

um colar de pérolas pendurado no seu pescoço.

Os cinco amigos tinham imensa curiosidade em relação ao quadro e, por isso,

retiraram-no com todo o cuidado da parede para o poderem limpar e observar

melhor. À Joana, a mais cuidadosa, coube a tarefa de o retirar.

Logo de seguida, ouviram um pequeno barulho e ficaram muito assustados,

até que perceberam que era um pequeno papel que se tinha desprendido do quadro

e ao cair no chão fizera tal barulho. O António pegou logo nele e começou a lê-lo,

mas, rapidamente, percebeu que estava escrito em código. A Rita reparou num

cofre atrás do quadro que tinha uma fechadura.

Todos olharam para o papel durante longos minutos tentando desvendar

aquele estranho código. Joana, que com a sua família fazia percursos de

orientação, descobriu que uma parte da mensagem era uma coordenada que levava

a um lugar desconhecido...

Enquanto Joana, João e Rita tentavam descobrir o sítio onde aquela

coordenada os iria levar, António e Miguel tentavam descobrir a mensagem

encriptada.

- Eureka!!! Descobrimos o código! - disse Miguel com entusiasmo.

Os dois rapazes começaram a desvendar a mensagem que dizia:

- João, já que trouxeste a lanterna, por acaso não trouxeste também um

mapa? - troçou a Joana.

- Por acaso também tenho um! - disse o João rindo-se.

Agora só nos falta descobrir onde é que a coordenada nos vai levar.

Mas, como a noite já ia longa e as emoções vividas tinham sido muitas, os

cinco amigos adormeceram profundamente.

Lá fora, o vento uivava, os corvos crocitavam e os ramos das árvores

chicoteavam tão fortemente as vidraças das janelas que as raparigas acordaram

sobressaltadas.

- Rita, também ouviste estes barulhos assustadores? – perguntou a Joana.

A Rota das Histórias

56 | P á g i n a

- Sim, foram de tal forma fortes que me acordaram – respondeu a Rita –

Estou apavorada! Não seria má ideia acordarmos os rapazes…

- Ótima ideia – concordou a Joana.

Apressaram-se a acordar os rapazes, mas estes ficaram indignados com a

atitude das duas amigas.

- Ah, que parvoíce! Foram acordar-nos só pelo barulho do vento, enquanto

podíamos estar a dormir descansados. – reclamou o Miguel.

- Não estamos a brincar… ficámos mesmo assustadas! – exclamaram elas.

Subitamente, o António vislumbra uma sombra a passar do lado de fora da

janela e, branco como a cal, tremendo como varas verdes, sussurra aterrorizado:

- Não viram aquilo?! Depressa, vamos esconder-nos!

Com pânico, o João começou a transpirar tanto que fazia lembrar a chuva

miudinha de um dia cinzento de outono.

- Rápido! Arrastem esse armário, estou a ver uma fresta na parede…

- Não conseguimos, é muito pesado! – exclamaram as raparigas.

De repente, uma enorme ratazana sai da fresta, fazendo a Rita gritar e

desequilibrar-se, chocando contra um homem velho, gordo e com ar extremamente

sinistro.

Olhando para o homem, ficaram sem um pingo de sangue, até que o

desconhecido quebrou o silêncio:

- Quem são vocês e o que fazem aqui?

- Nós… Nós… Só precisávamos de um local para dormir. - gaguejou o Miguel

cheio de medo.

- E acham que este é o melhor sítio para isso? – interrogou com uma voz

intimidadora.

- Pedimos desculpa. Nós não tínhamos intenção de invadir a sua propriedade.

- Esta propriedade pertenceu, em tempos, a uma família muito poderosa

cuja matriarca escondia muitos segredos. - informou o homem.

- Essa matriarca era aquela senhora muito bela que vimos no quadro

pendurado na sala de jantar? – questionou a Joana, que era a mais curiosa do

grupo.

- Sim… Era a senhora Antónia Salgueiro de Lima que faleceu

inesperadamente, deixando-me em testamento toda a sua fortuna.

A Rota das Histórias

57 | P á g i n a

- E porque é que lhe deixou tudo a si e não à família? – perguntou o António.

- Sempre fui o seu mordomo leal e de confiança. O resto são histórias

antigas…

A Joana, com a sua enorme curiosidade, perguntou ao mordomo que

histórias eram aquelas.

O mordomo mostrou-se relutante em prestar mais informações sobre as

mesmas e, educadamente, pediu-lhes que saíssem da sua propriedade. Entretanto

o Miguel questionou se não podiam passar lá essa noite e no dia seguinte

continuariam o seu caminho. Então, o mordomo concordou em que os jovens

pernoitassem com a condição de partirem ao nascer do sol.

No dia seguinte, abandonaram a casa, decididos a encontrar o tesouro,

seguindo as tais coordenadas.

O dia amanheceu lindo, com um sol muito reluzente e a temperatura amena,

mas ao longe vislumbravam-se já umas nuvens escuras.

Então o João agarrou no seu mapa, no papel encontrado na tal casa e na sua

bússola e com a ajuda destes três elementos foram percorrendo os caminhos de

terra batida, e infiltraram-se numa floresta que estava no sopé da montanha.

De repente, o vento tornou-se forte agitando tanto as árvores que chegava a

meter medo.

- João, despacha-te, pois está a começar a escurecer. – aconselha o António.

- Eu já estou cheia de medo. - diz a Rita.

Ao longe ouvia-se trovejar. A tempestade avançava rapidamente até que

começou a chover torrencialmente.

- Rápido, temos de nos abrigar. – diz a Joana.

- Mas onde? – pergunta a Rita.

- Que tal naquela gruta? – interroga o Miguel

E os jovens dirigiram-se apressadamente em direção à gruta, escura e fria

como um túmulo.

Mal eles chegaram, ouviram um barulho muito estranho que os assustou…

Mesmo assim, entraram na gruta.

Depararam-se então com um indivíduo, de aspeto jovem, que o grupo achou

que tinha parecenças com o mordomo.

A Rota das Histórias

58 | P á g i n a

O senhor estava sentado a ler um papel, rasgado, com um ar muito velho e

sujo. Ao mesmo tempo que lia, batia pensativamente com o lápis que tinha na mão

num dos vagões da antiga mina de carvão. O que causava o tal barulho estranho.

Ouvindo o grupo a aproximar-se, o homem escondeu-se atrás de um dos

vagões.

Então o Miguel decidiu avançar e foi aí que o senhor voltou a aparecer.

- Quem são vocês? – questionou ele.

- Só nos queríamos abrigar da chuva. – respondeu o António.

- O que fazem aqui nesta noite agreste?

- Andávamos a seguir a localização de umas coordenadas, que descobrimos

num papel atrás de um quadro, na casa velha do outeiro.

De repente, o rosto do homem ficou iluminado e contou-lhes o que estava a

fazer:

- Sabem, este papel que tenho na mão, é um pedaço de uma carta escrita

pela minha mãe, a senhora do quadro que vocês devem ter visto na casa do

outeiro.

- Era nesse mesmo quadro que estavam as coordenadas! – exclamou a Joana.

- Faz todo o sentido! - e continuou – Na carta que aqui tenho, está a

informação da existência de um local desconhecido e secreto, onde estaria

escondida uma preciosidade, ou algo muito precioso e importante, pelo menos para

mim.

A Joana, que tinha o papel com as coordenadas, reparou num pequeno mas

importante pormenor: o recorte do papel das coordenadas encaixava

perfeitamente no pedaço da carta que o filho da senhora do quadro possuía.

- Olhem! – gritou a Joana - Isto encaixa!

Rapidamente todos se fixaram nos dois papéis…

E logo Miguel reparou no enigma que resultava da junção de ambas as

metades:

Depois de algum tempo a tentarem decifrar o enigma, o João procurou à

contraluz encontrar a resposta e é nessa altura que Miguel, posicionado à sua

frente, reparou que a mensagem tinha de ser lida ao contrário.

A Rota das Histórias

59 | P á g i n a

Decidiram que no dia seguinte iriam à casa do mordomo e que agora o

melhor seria descansar o resto da noite.

No dia seguinte, pela manhã, o grupo e o Sr. Lima foram ter à casa do

mordomo para começar a procurar a tão desejada pista.

- E agora? Como entramos? – interrogou Rita.

O António repara numa janela aberta e imediatamente, sem pensar duas

vezes, entrou e abriu a porta ao restante grupo.

A casa estava velha, com teias de aranhas em todos os cantos, e os móveis

empoeirados, dando um ar de abandono. Sem reparar muito no seu aspeto, o grupo

continuou a procurar indícios da pista.

De repente todos se concentraram num pequeno quadro no fundo da sala:

uma réplica do grande quadro da matriarca, que se encontrava na casa do outeiro.

A Joana exclamou:

- É muito estranho haver aqui um quadro igual aquele que estava na casa do

outeiro.

- Realmente é esquisito estar aqui um quadro da minha mãe. - referiu o Sr.

Lima.

Intrigado, aproximou-se e, ao procurar agarrar no quadro, este

imediatamente caiu ao chão e partiu-se.

A Rita apanhou o quadro e ao pegar na tela reparou na sua grossura.

- Que estranho, esta tela é mais grossa que o habitual!

O João aproximou-se e confirmou:

- Tens razão…

Com uma navalha, o Sr. Lima fez um pequeno corte na extremidade da parte

de trás da tela e reparou que no seu interior se encontrava um conjunto de papéis.

Era o verdadeiro testamento!... Nele, o verdadeiro herdeiro era o Sr. Lima.

Ao longe, avistava-se uma sombra. Era o mordomo. Ao entrar, de imediato,

reparou no quadro partido e gritou, furioso:

- Quem está aí?!

Miguel e Joana cruzaram os olhares e decidiram aparecer, bem como todo o

grupo.

- O que se passa aqui? – questionou o mordomo, sentindo-se cercado.

- Explique-me isto!... - respondeu o Sr. Lima com o testamento na mão.

A Rota das Histórias

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Ao deparar-se com o verdadeiro testamento, o mordomo decidiu contar as

tais “histórias antigas”. Ele tinha tido uma paixão pela matriarca, o que o levou a

pensar que deveria ficar com toda a sua fortuna, por anos e anos como seu fiel

mordomo. Obrigou-a, por isso, a deixar-lhe tudo em testamento.

No entanto, a matriarca, antes de ser envenenada, conseguiu deixar as

coordenadas no quadro grande e o testamento no quadro pequeno, na esperança

de que alguém os encontrasse.

A paixão intensa tinha levado o quadro pequeno para a casa do mordomo.

As coordenadas levavam até à sua própria casa onde estavam inicialmente os

dois quadros.

A Rota das Histórias

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ARTUR GONÇALVES

Junho de 2015

História criada pelos alunos do 9º ano

A Rota das Histórias

Capítulo IX

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

Agrupamento de Escolas AR T U R G O N Ç AL V E S

A Rota das Histórias

62 | P á g i n a

9 º Ano

Vinte e dois anos depois, lá estava o mesmo

pôr-do-sol resplandecendo para ela. Contemplou-

o, como outrora, sentada na velha varanda que

fora da sua avó Augusta e pensou, desiludida, que

podia ter feito mais pelos seus sonhos…

A Rota das Histórias

63 | P á g i n a

Deixara aquele lugar paradisíaco onde fora tão feliz para ir viver para a

cidade, a fim de arranjar emprego. Ao olhar as árvores centenárias, situadas no

quintal da antiga casa desabitada, lembrou-se dos momentos que vivera naquele

sítio com a sua família. Nunca mais conseguira entrar naquela casa, desde a morte

da sua avó que tanto amara. Esta era uma mulher de estatura baixa, olhos cor de

avelã, cabelos encaracolados, soltos e dourados como as espigas dos campos.

Sentia saudades dos seus carinhos e dos doces que tão bem confecionava,

especialmente o arroz-doce decorado com canela em forma de coração.

Gostaria de regressar ao passado e poder dizer-lhe o quanto a tinha amado e

como estava arrependida de não a ter visitado nos momentos mais complicados de

solidão. Infelizmente, agora era ela que se sentia só, sem família, sem amigos, sem

um trabalho que a fizesse sentir-se realizada.

Nestes pensamentos, apenas a lembrança da casa da avó e da sua infância a

acalentavam. Assim, repentinamente, decidiu regressar às suas origens de modo a

ultrapassar a sua dor.

Anastácia sorriu a esta ideia. Pouco ou nada tinha que preparar para a

viagem. Arrumou os pincéis, os cavaletes, as telas e as tintas, fez as malas, foi

levantar o pouco dinheiro que tinha no banco e partiu. Ao sair, viu o seu reflexo no

espelho da entrada e percebeu como era parecida com a sua avó, com os olhos

grandes cor de avelã e os caracóis dourados caídos sobre os ombros.

De Viena à sua antiga casa de família eram várias horas… muito tempo para

pensar na sua vida enquanto observava a beleza dos alpes austríacos onde se

localizava a propriedade. Lembrou-se da sua avó, a pessoa que a criou após a

morte dos pais e de como a abandonou no desejo de ir para a cidade perseguir o

sonho de se tornar uma famosa pintora.

Quando entrou na abandonada propriedade viu, pela primeira vez, em mais

de duas décadas, as ruínas romanas onde costumava brincar às escondidas. Uma

enorme nostalgia assaltou-a e desmaiou.

Ao acordar do seu pequeno desmaio, Anastácia viu-se nos braços de um belo

jovem sorridente. Por instinto, sorriu-lhe também, envergonhada com o sucedido,

enquanto a sua cabeça girava num turbilhão de pensamentos e sentimentos. Quem

A Rota das Histórias

64 | P á g i n a

era ele? Por que razão aquelas memórias tão vivas dentro de si tinham provocado

um sentimento tão intenso que a levara a desmaiar?

Enquanto se refazia do desmaio, Aníbal Coelho, o salvador desconhecido,

reconheceu de imediato aquele sorriso, emoldurado por uma beleza que só vira na

sua terra natal e que o transportava para momentos tão intensos, de alegria, de

partilha, de amor, mas também de sofrimento e separação. Aquela era a Stácia dos

velhos tempos, o amor inocente da sua infância que se transformou numa paixão

arrebatadora no final da adolescência. Stácia era o nome artístico que o próprio

Aníbal tinha criado para Anastácia, enquanto vocalista da banda de rock “BAD HAIR

DAY”, em que ele próprio era o guitarrista.

Olharam-se, sorrindo, bem no fundo dos olhos de cada um, procurando o

certo e o incerto, a certeza e a dúvida e, naqueles minutos de silêncio, viveram

toda uma vida. Aníbal recordou a nuvem negra que se abateu sobre ambos, quando

ela decidiu seguir a área de Artes e partiu para a grande cidade. Anastácia, por seu

lado, refeita do desmaio, sentiu um misto de emoções por aquele que tinha sido o

seu primeiro amor. Guardava doces lembranças das tardes de verão passadas no

tanque das traseiras da casa da avó, dos passeios ao luar e dos festivais musicais

em que a banda atuava, mas a paixão de outrora parecia, agora, um sonho

distante.

- Stácia, como é bom voltar a ver-te, depois de todos estes anos! - disse

Aníbal.

- Eu, eu… - as palavras teimavam em não sair.

- Vem, acompanho-te até casa. - disse Aníbal, estendendo-lhe a mão.

No caminho, ladeado de acácias, que conduzia até à casa, Anastácia reparou

como aquele rapazola lingrinhas, de óculos e cabelo rebelde estava mudado. O

Nibelinho, como carinhosamente lhe chamava. Só o seu olhar azul, doce e meigo

continuava penetrante. Conversaram ambos sobre passados desfeitos, amores

perdidos, fracassos e sucessos. Stácia contou-lhe do seu casamento, dos seus

sonhos desfeitos, do seu filho morto com uma doença rara e da depressão em que

mergulhara. Esta volta às origens era a sua oportunidade de se reencontrar, de

recomeçar uma nova vida…

Chegando ao velho alpendre de madeira, Stácia abriu a porta, entraram os

dois silenciosos. Os mesmos móveis, o velho canapé, a poltrona de veludo onde a

A Rota das Histórias

65 | P á g i n a

avó tricotava, os mesmos quadros que pendiam das paredes, os retratos de família

com cheiro a pó, trouxeram-lhe memórias felizes da infância.

Era já o fim da tarde, Aníbal partiu, na sua motoreta fumegante, com a

promessa de um reencontro. Anastácia, aproveitando a luz do fim da tarde, pegou

no cavalete, na tela e nos pincéis e, dirigindo-se para o velho alpendre, começou a

pintar… há muito que não o fazia e esquecendo-se do tempo, adormeceu.

Stácia acordou, a meio da noite, com o som de um copo a partir-se. Prestou

atenção, e completamente desperta, levantou-se alarmada e dirigiu-se à cozinha.

Aí, avistou um vulto, que lhe parecia familiar. Intrigada, caminhou até à sala e

apercebeu-se de que a cadeira de baloiço da sua falecida avó Augusta, baloiçava

tranquilamente. O espanta-espíritos da entrada tilintava suavemente.

Anastácia assutada, mas curiosa, questionou:

- Quem és tu?

O vulto retorquiu:

- Sou eu, minha querida…

- Avó, que fazes tu aqui?!

- Não consegui suportar tanto tempo sem te ver e quero tranquilizar-te em

relação à tua vivência futura. Esquece o teu passado triste, não chores mais pelo

teu filhinho. Ele está bem!

- Como sabes isso?

- Porque aqui, onde estou, sei tudo… apenas te posso dizer que deves

aproveitar melhor a vida e lutar para seres feliz…

- Mas… avó? - repentinamente o vulto desaparece.

Stácia decide ir até à varanda e fica a contemplar as estrelas. No silêncio da

noite primaveril ouviu o roncar de uma motoreta. Ficou expectante ao ver que se

tratava de Nibelinho. Então pensou: “Que faria ele àquela hora perto de sua

casa?”. A ansiedade aumentava à medida que o barulho se aproximava.

Subitamente, ouviu-se um estrondo. No meio da confusão e cheia de

curiosidade, Anastácia saiu a correr em direção àquele estranho barulho.

Viu, então, uma luz, vinda do chão. A motoreta, aparentemente, estava

destruída. Ouviu, naquele momento, um pedido de socorro, embora num tom quase

inaudível. Aflita, percebeu que a situação podia ser grave pois o rapaz, ali

estendido no chão, estava a arrefecer de frio, quase inconsciente, naquela noite

A Rota das Histórias

66 | P á g i n a

fresca e estrelada de primavera. Apressou-se, então, a chamar uma ambulância

para socorrer aquele por quem ela tinha uma paixão há muito tempo. Sim! Agora

tinha a certeza! Amava-o! Aterrada com o sucedido, foi ajudando Nibelinho,

conforme pôde, a sair de baixo da sua motoreta e esperou pela ambulância que

demorou apenas alguns escassos minutos. O veículo, assinalando a marcha, em

breve chegou ao hospital.

Pelo caminho, Anastácia, duvidosamente, perguntou a Aníbal o que o levara

até ali. Ele, com uma voz serena, ripostou:

- Tenho um assunto muito importante para te dizer! Mas como ontem estavas

um pouco abalada, não tive coragem para to contar!

Stácia, naquele preciso momento, ficou nervosa e muito receosa.

A sala daquele hospital era fria sombria e Anastácia sentia que aquele podia

ser o último momento que iria poder ver Nibelinho. Naquele instante, Stácia só

queria ter a sua avó a seu lado.

- Anastácia?! – perguntou um médico.

- Sim?... Sou eu! Como é que ele está? Vai sobreviver?

- Aníbal apenas partiu uma perna, mas por razões, ainda desconhecidas, ele

não acorda!

Ao ouvir o médico a proferir estas últimas palavras, as lágrimas escorreram-

lhe pela sua face… Sentia uma dor imensa!... Como iria ela voltar a suportar uma

dor tão dilacerante? O seu pobre coração batia desenfreadamente…

Os dias passaram com demasiada lentidão e foram marcados invariavelmente

pela amargura e pela dúvida. A ansiedade teimava também em não desaparecer.

Passadas algumas semanas, Anastácia recebeu um telefonema do hospital.

- Sim?... Anastácia? Os nossos serviços solicitam a sua comparência nesta

instituição de saúde com a maior urgência possível.

Não foi preciso ouvir mais nada. O coração disparou e tal como ele também

Stácia disparou voando para o hospital.

Chegada à receção, arquejante e transpirando muito nervosismo, sentou-se

numa cadeira a um canto. Não podia mais!

Alguém a viu, fez-lhe um sinal e disse que podia subir ao oitavo piso.

Vacilando, bateu e abriu a porta que dava acesso ao gabinete do médico. Fez-se

um silêncio aterrador.

A Rota das Histórias

67 | P á g i n a

- Infelizmente, vamos ter de desligar as máquinas ao paciente Aníbal.

Diagnosticamos-lhe, uma doença rara para a qual não existe cura e há poucas ou

nenhumas esperanças. Ele tem pouco tempo de vida.

Ela ficou sem palavras… Não conseguia imaginar viver sem ele, agora que o

tinha reencontrado!

- Posso passar a última noite com ele? – perguntou emocionada.

- Iremos fazer o possível e o impossível!... – exclamou o médico.

Nessa noite, já no quarto, onde o odor a medicamentos era o ar que se

respirava, lá estava ela… tão calma e serena mas… com os olhos marejados de

lágrimas. O seu coração batia no peito tão descompassadamente que doía. Sem

saber o que fazer à vida, um pensamento repentino veio sacudi-la, fazendo-a

estremecer… E colocando um fone no ouvido dele e outro no seu, fez soar aquela

música que ele tocava magistralmente e que ela tanto adorava. De olhos

semicerrados, todos os momentos vividos por ambos assomaram à sua memória. No

derradeiro segundo, mesmo no final da música, ela entreabriu os olhos, que se

dirigiram imediatamente para ele. Olhando para ela, ali estava ele observando-a

com aquele olhar tão apaixonado e que ela conhecia tão bem.

Ambos se entreolharam apaixonados, como da primeira vez. Ela, com o seu

doce sorriso, logo se ergueu da cadeira onde se havia sentado e dirigiu-se com

passos rápidos para a campainha de chamada. Anastácia estava incrédula e num

ímpeto de paixão, correu a chamar o enfermeiro:

- Enfermeiro Ambrósio! O doente acordou!!

- Não é o momento certo para sonharmos… mas eu entendo o seu sonho!

- Não!! Venha comigo!... É mesmo verdade!!! – e já Anastácia puxava o braço

do enfermeiro.

O médico de serviço veio juntar-se-lhes e ao chegarem junto de Nibelinho,

confirmou-se a veracidade dos factos. Prontamente tomaram as medidas de

cuidados necessárias. Mas nem tudo era um mar de rosas… porque os momentos de

lucidez dele não iriam durar.

Pediram, então a Stácia que se retirasse por breves momentos do quarto. Ela

assim fez, sentando-se na sala de espera. Como se sentia infeliz!...

O ambiente da sala do hospital mudou quando o médico deu a notícia de que

fora diagnosticada amnésia a Aníbal. Stácia sentou-se, abstraindo-se do lugar onde

A Rota das Histórias

68 | P á g i n a

permanecia, viajando para um espaço vazio. Neste momento, o vulto retornou. A

avó, num gesto de conforto, fez-lhe ver o lado positivo de ele ter regressado à vida

e que tinha o mundo pela frente. Ao que Anastácia respondeu:

- Eu estou disposta a fazer com que ele se relembre de todos os nossos

momentos. E o que mais me preocupa e me deixa muito ansiosa é de não saber o

que ele tinha para me dizer!

Anastácia sentiu o calor dos braços entrelaçados da avó, mas foi acordada

pelo “bip-bip” do equipamento de batimentos cardíacos. De respiração acelerada,

pensou no pior cenário…

De repente, o médico chega de novo junto dela e exclamou sorridente:

- Temos boas notícias! O seu amigo está a recuperar… e com bastante

sucesso! Provavelmente, tudo irá ficar normal, dentro de poucos dias!

Passada uma semana certinha, Aníbal, já restabelecido, teve alta hospitalar

e Stácia, preocupada com o seu estado debilitado, pediu-lhe que ficasse em sua

casa para assim poder cuidar dele e ajudar na sua total recuperação.

Todos os dias, incansavelmente, Stácia tentou ser o mais carinhosa possível

para que o seu apaixonado restabelecesse progressivamente as suas forças.

À medida que o tempo ia passando, Aníbal ia recuperando a memória a olhos

vistos, graças ao carinho e dedicação de Anastácia. Enquanto cuidava do seu bem-

amado, ela ia refletindo sobre a importância de conservarmos na memória a nossa

história de vida.

De súbito e numa inspiração repentina, pegou nos pincéis e registou na tela

as suas lembranças mais queridas. Pintou o retrato da sua avó, com o seu neto

(filho de Anastácia) ao colo.

Admirando a sua pintura, Anastácia admitiu que “a pior morte não é física, é

sobretudo sermos esquecidos por aqueles que amamos”. Sentiu-se orgulhosa dela

própria por ter perpetuado na tela os traços e a fisionomia das pessoas mais

marcantes da sua vida: a avó e o filho. Sempre a impressionou a facilidade com que

algumas pessoas esquecem os seus familiares e amigos por estarem longe ou por já

estarem mortos.

Anastácia não fazia parte de numa sociedade egoísta e materialista onde

muita gente só pensa nos outros enquanto estes lhe podem ser úteis. Os retratos

por ela pintados não se limitavam a transmitir traços de uma fisionomia; eles

A Rota das Histórias

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partilhavam também emoções e estados de alma. Para ela, os sentimentos e as

emoções são fundamentais e foi graças a esta sensibilidade que se viria a

transformar numa pintora famosa.

Surgiu-lhe uma proposta para expor o seu quadro no centro cultural da sua

cidade natal. O retrato que pintara obteve muito sucesso, dando origem, assim, a

uma carreira profissional muito promissora, pois cada vez recebia mais encomendas

de obras de arte.

Aníbal convidou Anastácia para festejar o seu êxito artístico num restaurante

glamoroso da cidade e, voltando-se para ela, disse:

- Chegou o momento de te transmitir a razão pela qual tinha eu ido a tua

casa, naquela noite antes da amnésia. Anastácia, queres casar comigo? – balbuciou

ele, comovido.

Anastácia, emocionada, respondeu:

- Sim, quero, toda a minha vida sonhei com este momento. Mas eu também

tenho uma notícia muito importante para te dar: Estou grávida!...