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n A saúde pública bucal como política de uma nação. Ontem, durante o Encon- tro de Coordenadores de Saúde Bucal do Estado de São Paulo, o debate focou- -se na ampla defesa do direito à saúde, no Sistema Único de Saúde (SUS) e es- pecificamente na saúde bucal assegu- rada a todos os brasileiros, conforme prevê a Constituição. “Precisamos as- segurar esses direitos. Nenhum direito a menos”, afirmou Paulo Capel Narvai (FSP/USP), que coordena o projeto jun- tamente com Paulo Frazão (FSP/USP), Marco Manfredini (CROSP), Celso Zil- bovícius (USP) e Helenice Biancalana (APCD). “A política de saúde nacional é do país, não é de um governo, e deve ser decidida em conferências, em debates públicos. Ela ganha expressão nos mais de seis mil municípios, estados”, afirma Paulo Capel. “Como se expressa a polí- tica nacional nos estados e municí- pios?”, indagou, lembrando que neste momento, após as eleições municipais, as prefeituras estão definindo novos se- cretários e diretores de Saúde. Durante a mesa de abertura do evento, intitulada “Municípios: para onde vai a saúde bucal no SUS”?, Paulo Capel salientou a necessidade da classe odontológica discutir o papel do SUS e dos municípios no âmbito da saúde, pro- porcionando aos gestores públicos con- dições de tomarem decisões importan- tes sobre a saúde bucal. “Este é o projeto de Saúde Coletiva”. O papel dos municípios também foi salientado por Doralice Severo da Cruz, coordenadora técnica de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. “Em tempos de transforma- ção dos repasses em custeio, nós coor- denadores temos que ter uma ação mais firme para garantir os investimen- tos. Que ações temos que ter quando muitos municípios vão discutir seus planos de ação?”, questionou. Marco Antonio Manfredini, do Con- selho Regional de Odontologia de São Paulo salientou que o conselho integra essa luta de melhoria de qualidade da saúde bucal da população. Juntamente com outros conselhos regionais da área de Saúde o conselho tem participado de uma série de eventos, inclusive na As- sembleia Legislativa, em defesa do SUS. “Tivemos um momento de expansão da política de saúde púbica entre 2003 e, após esse período, tivemos uma estag- nação do setor. E agora vemos o fecha- mento de serviços”. Segundo ele, o Fó- rum de Defesa do SUS e da Seguridade da Saúde tem como proposta justa- mente defender, entre outras questões, que não haja perdas de investimento no setor. “Estamos vivendo um processo de muitas mudanças na coordenação na- cional. Houve pressão para extinguir número de pessoal”. A situação atual exige pronta ação das entidades da Odontologia, explicou. “Os momentos de crise são aqueles em que mais se usa o SUS. E recentemente 2 milhões de pessoas perderam seus empregos e dependem do sistema pú- blico. É importante a gente resistir e manter um projeto de saúde pública para o Brasil”. A importância do debate sobre saúde pública levou o CIOSP a integrar o Encontro de Coordenadores de Saúde Bucal do Estado de São Paulo à pauta oficial do congresso. “Precisamos conti- nuar acreditando. A discussão de Saúde coletiva vai continuar como evento ofi- cial, ou seja, mesmo que mude o presi- dente da APCD, o tema continua. Vamos incentivar nos próximos anos maior participação”, enfatizou Adriano For- ghieri, presidente da entidade. Conforme o presidente da APCD, a primeira ação a ser tomada em tempos de crise é o corte de “supérfluos’. “Mas Odontologia é fundamental. E os Conse- lhos de Saúde nos municípios são um espaço de luta pela saúde bucal”, refor- çou. Segundo ele, o fato de o MEC ter inserido na grade curricular dos estu- dantes de Odontologia a vivência no SUS diz respeito ao aprendizado de uma prática de saúde mais humanizada. Resta, agora, saber gerir os recursos que foram diminuídos com os cortes da PEC. Ele aposta na articulação de lide- ranças de bairros e de conselhos de Saúde para conseguir fazer cumprir os planos diretores e para que os cirurgi- ões-dentistas aprendam a trabalhar co- letivamente em prol do respeito à saúde nacional. E garantiu o papel das entida- des odontológicas nessa luta: “Se preci- sar iremos a Brasília, iremos”, afirmou, destacando que o Brasil é referência na Europa em termos de saúde pública co- letiva. Ação em rede, articulação para preservação de direitos No encontro, a primeira mesa de de- bate, intitulada “Saúde no Brasil – di- reito ou mercadoria?” convidou o pú- blico a refletir sobre o compromisso nacional com o bem-estar de mais de 200 milhões de pessoas que têm direito à saúde bucal. Quais os mecanismos de A saúde pública como direito garantido pela Constituição Debate sobre a defesa dos investimentos no SUS conduziu o Encontro de Coordenadores de Saúde Bucal do Estado de São Paulo na manhã de ontem 03 de fevereiro 2017 AD ¨ 5 Da Esquerda: Doralice Severo da Cruz Teixeira, Paulo Capel Narvai, Marcos Capez, Adriano Forghieri e Marcos Manfredini.

A saúde pública como direito garantido pela Constituição · A saúde pública como direito garantido pela Constituição Debate sobre a defesa dos investimentos no SUS conduziu

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n A saúde pública bucal como política de uma nação. Ontem, durante o Encon-tro de Coordenadores de Saúde Bucal do Estado de São Paulo, o debate focou--se na ampla defesa do direito à saúde,no Sistema Único de Saúde (SUS) e es-pecificamente na saúde bucal assegu-rada a todos os brasileiros, conformeprevê a Constituição. “Precisamos as-segurar esses direitos. Nenhum direitoa menos”, afirmou Paulo Capel Narvai(FSP/USP), que coordena o projeto jun-

tamente com Paulo Frazão (FSP/USP), Marco Manfredini (CROSP), Celso Zil-bovícius (USP) e Helenice Biancalana (APCD).

“A política de saúde nacional é do país, não é de um governo, e deve ser decidida em conferências, em debates públicos. Ela ganha expressão nos mais de seis mil municípios, estados”, afirma Paulo Capel. “Como se expressa a polí-tica nacional nos estados e municí-pios?”, indagou, lembrando que neste momento, após as eleições municipais, as prefeituras estão definindo novos se-cretários e diretores de Saúde.

Durante a mesa de abertura do evento, intitulada “Municípios: para

onde vai a saúde bucal no SUS”?, Paulo Capel salientou a necessidade da classe odontológica discutir o papel do SUS e dos municípios no âmbito da saúde, pro-porcionando aos gestores públicos con-dições de tomarem decisões importan-tes sobre a saúde bucal. “Este é o projeto de Saúde Coletiva”.

O papel dos municípios também foi salientado por Doralice Severo da Cruz, coordenadora técnica de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde de

São Paulo. “Em tempos de transforma-ção dos repasses em custeio, nós coor-denadores temos que ter uma ação mais firme para garantir os investimen-tos. Que ações temos que ter quando muitos municípios vão discutir seus planos de ação?”, questionou.

Marco Antonio Manfredini, do Con-selho Regional de Odontologia de São Paulo salientou que o conselho integra essa luta de melhoria de qualidade da saúde bucal da população. Juntamente com outros conselhos regionais da área de Saúde o conselho tem participado de uma série de eventos, inclusive na As-sembleia Legislativa, em defesa do SUS. “Tivemos um momento de expansão da

política de saúde púbica entre 2003 e, após esse período, tivemos uma estag-nação do setor. E agora vemos o fecha-mento de serviços”. Segundo ele, o Fó-rum de Defesa do SUS e da Seguridade da Saúde tem como proposta justa-mente defender, entre outras questões, que não haja perdas de investimento no setor. “Estamos vivendo um processo de muitas mudanças na coordenação na-cional. Houve pressão para extinguir número de pessoal”.

A situação atual exige pronta ação das entidades da Odontologia, explicou. “Os momentos de crise são aqueles em que mais se usa o SUS. E recentemente 2 milhões de pessoas perderam seus empregos e dependem do sistema pú-blico. É importante a gente resistir e manter um projeto de saúde pública para o Brasil”.

A importância do debate sobre saúde pública levou o CIOSP a integrar o Encontro de Coordenadores de SaúdeBucal do Estado de São Paulo à pautaoficial do congresso. “Precisamos conti-nuar acreditando. A discussão de Saúdecoletiva vai continuar como evento ofi-cial, ou seja, mesmo que mude o presi-

dente da APCD, o tema continua. Vamos incentivar nos próximos anos maior participação”, enfatizou Adriano For-ghieri, presidente da entidade.

Conforme o presidente da APCD, a primeira ação a ser tomada em tempos de crise é o corte de “supérfluos’. “Mas Odontologia é fundamental. E os Conse-lhos de Saúde nos municípios são um espaço de luta pela saúde bucal”, refor-çou. Segundo ele, o fato de o MEC ter inserido na grade curricular dos estu-dantes de Odontologia a vivência no SUS diz respeito ao aprendizado de uma prática de saúde mais humanizada. Resta, agora, saber gerir os recursos que foram diminuídos com os cortes da PEC. Ele aposta na articulação de lide-ranças de bairros e de conselhos de Saúde para conseguir fazer cumprir os

planos diretores e para que os cirurgi-ões-dentistas aprendam a trabalhar co-letivamente em prol do respeito à saúde nacional. E garantiu o papel das entida-des odontológicas nessa luta: “Se preci-sar iremos a Brasília, iremos”, afirmou, destacando que o Brasil é referência na Europa em termos de saúde pública co-letiva.

Ação em rede, articulação para preservação de direitos

No encontro, a primeira mesa de de-bate, intitulada “Saúde no Brasil – di-reito ou mercadoria?” convidou o pú-blico a refletir sobre o compromisso nacional com o bem-estar de mais de 200 milhões de pessoas que têm direito à saúde bucal. Quais os mecanismos de

A saúde pública como direito garantido pela ConstituiçãoDebate sobre a defesa dos investimentos no SUS conduziu o Encontro de Coordenadores de Saúde Bucal do Estado de São Paulo na manhã de ontem

03 de fevereiro 2017

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5 Da Esquerda: Doralice Severo da Cruz Teixeira, Paulo Capel Narvai, Marcos Capez, Adriano Forghieri e Marcos Manfredini.

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noticias

35º CIOSP2

n A estética ganha, a cada ano, um pa-pel importante nos tratamentos odon-tológicos, dado o crescimento de técni-cas e soluções de vanguarda que transformam o sorriso e a vida de mi-lhares de pessoas. Nesta edição em que o Congresso Mundial de Estética Orofacial também foi incorporado à grade científica do congresso, profis-sionais da mais alta formação estarão reunidos discutindo temas cruciais para a área, com enfoque principalmente nos tratamentos de harmonização facial.

Entre as discussões abordadas es-tarão as técnicas avançadas em preen-chimento facial, a apresentação de di-ferentes marcas de toxinas botulínicas disponíveis no Brasil, a harmonização da face de pacientes especiais com to-xina botulínica e preenchedores fa-ciais, o uso de fios de sustentação fa-cial, as técnicas combinantes para otimização de resultados e o uso de la-zer nos tratamentos.

Um novo tema que tem chamado a atenção da estética orofacial é a bi-chectomia, já que o procedimento em-pregado pelas clínicas de cirurgia plástica para remoção das bolas de Bi-chat – estrutura de gordura no inte-rior da bochecha – é também atribui-ção e competência do cirurgião-dentista, conforme as normas do CFO (Conselho Federal de Odontologia).

Já a toxina botulínica é um assunto tradicionalmente presente nas discus-sões do CIOSP. “Toxina botulínica e preenchedores faciais: indicações, pre-venção e tratamento das complica-ções” é o tema a ser conduzido por Lu-ciano Artioli Moreira, que já acumula vinte e oito anos de docência em gra-

duação e pós-graduação. Com douto-rado na área, é presidente da Acade-mia Brasileira de Estética Orofacial e coordenador científico da Corporación Internacional de Atención y Educación en Salud Oral (Chile), além de profes-sor dos cursos de Toxina Botulínica e Preenchimento Facial da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas – APCD. Nesta entrevista o coordenador do módulo cientifico de Estética Orofa-cial fala sobre o desenvolvimento do evento e os principais atrativos dessa edição:

Fale sobre o desenvolvimento do evento ao longo dos últimos anos.

O CIOSP inovou há anos quando in-cluiu a estética orofacial em sua pro-gramação científica. Lembro com enorme satisfação do auditório comple-tamente lotado quando tive a honra de ministrar o primeiro curso de Toxina Botulínica e Preenchimento Facial de um congresso de grande porte e impor-tância no Brasil. No CIOSP do ano se-guinte repetimos o feito, ampliando para uma atividade com demonstração prática. Depois, ano após ano, o CIOSP

vem proporcionado aos Cirurgiões--Dentistas oportunidades de atualiza-ção com os principais ministradores dessa área, brasileiros e estrangeiros.

O congresso esse ano foi incorporado ao evento principal do CIOSP. O que isso representa para o evento e a classe odontológica?

Demostra uma integração ainda maior com a rotina da Odontologia bra-sileira, incluindo essa temática lado a lado com as demais áreas da prática odontológica.

Qual a importância da Estética Orofa-cial para a Odontologia hoje?

Os procedimentos odontológicos em face, utilizando toxina botulínica, ácido hialurônico e outros recursos têm evoluído rapidamente e proporcio-nado uma verdadeira revolução na prática odontológica, oferecendo solu-ções inovadoras que atendem à princi-pal demanda dos pacientes na atuali-dade. Um tratamento odontológico completo, hoje, trata a harmonização facial com a mesma seriedade e impor-tância que a saúde intraoral.

Além do uso da toxina botulínica e dos recursos para o preenchimento, que outras técnicas vêm surgindo para a área facial e que têm trazido avanços significativos que a prática da Odonto-logia?

São diversos recursos que vão do Laser aos fios de sustentação, pas-sando pela bichectomia. Os pontos fundamentais são a boa qualificação dos profissionais e o correto diagnós-tico e indicação terapêutica para cada caso.

Nesta edição do congresso quais são os principais destaques? Quais as ex-pectativas para esse ano?

Os principais destaques ficam por conta da ampliação e evolução de téc-nicas e recursos para a solução dos tratamentos de harmonização facial. Após anos de crescimento e amadure-cimento, a estética orofacial está em um patamar mais elevado, e o CIOSP certamente irá superar as expectati-vas dos congressistas com a excelên-cia dos ministradores e temas ofereci-dos. 7

Estética Orofacial – Novo módulo científico do CIOSPAmpliação e evolução de técnicas e recursos para a solução dos tratamentos de harmonização facial é um dos principais temas abordados

5 Luciano Artioli Moreira

recursos para garantir esse direito e como evitar a mercantilização da saúde foi o grande questionamento da mesa. Deste debate participaram Marília Lou-vison, professora da USP e presidente da Associação Paulista de Saúde Pú-blica, e Francisco Funcia, professor da PUC-SP e representante do Conselho Nacional de Saúde.

“Saúde no Brasil: principais desa-fios – Direito ou mercadoria” foi a tô-nica da fala de Marília Louvison, que trouxe a reflexão sobre a saúde como uma regulação pública ou privada. Ela enfatizou a necessidade de se criar no Brasil um projeto ético público envol-vendo a sociedade, o Estado e o mer-cado. “O quanto este Estado aceita o pri-vado, o mercado? O que estamos vendo não é um projeto social de garantia do SUS, do direito à saúde”, alertou, expli-cando que o ajuste fiscal não privilegia as políticas públicas, mas o âmbito pri-vado. “É um modelo ultraliberal, priva-tista e que não defende a política pú-blica social”.

A falta de investimento no SUS tem afastado os usuários do sistema, devido à precarização do atendi-mento, afirmou. “Que valo-res são meus ou da socie-dade, e quais têm mais ou menos poder? As narrati-vas de poder construídas vão ganhando sentido in-clusive para os mais po-bres”, alertou.

Discutir saúde é, por-tanto, discutir política pú-

blica. “Ao reforçar o discurso de que a política é sinônimo de corrupção, abre-se mão da política e assim esvazia-se a im-portância dos serviços públicos de saúde, sucateando-os e deixando-os ape-nas para o atendimento das camadas mais pobres da população”, afirmou, ex-plicando sobre o imaginário criado em torno do SUS. Ao privatizar um serviço, mercantiliza-se a saúde injetando nela a lógica do privado e esquece-se o coletivo, que humaniza. Precisamos de contra narrativas, de fazer uma disputa contra hegemônica. “A lógica é beneficiar quem

precisa, não quem precisa vender”, enfa-tizou. “O mercado tem que existir para a lógica e o interesse público”. Cabe aos representantes dos órgãos públicos e conselhos que atuem em rede pensar a saúde a partir da lógica do combate à de-sigualdade social, pontuou.

Encontro de coordenadores é evento oficial do CIOSP

Há quase duas décadas o CIOSP abriga o Encontro de Coordenadores de Saúde Bucal do Estado de São Paulo e o Projeto Saúde Coletiva, com a intenção de debater a política de saúde bucal em âmbitos nacional e estadual. Para o co-ordenador executivo organizacional do CIOSP, Marcos Capez, os debates preci-sam continuar ativos: “que essa inicia-tiva não pare. Que tenhamos essa dis-cussão sempre presente no CIOSP”.

Os debates no CIOSP sobre saúde pública continuam amanhã também durante o Encontro Nacional de Coorde-nadores de Saúde Bucal – Ministério de Saúde Bucal (leia matéria na pá - gina 5). 7

©© Fernanda Carvalho

Helenice Biancalana (APCD) Participantes debatem sobre os desafios da Odontologia no setor público.

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35º CIOSP4

n Problemas de saúde geral podem ter início nas enfermidades bucais e trazer riscos à saúde do atleta e ao seu desem-penho. Uma das grandes responsabili-dades do Cirurgião-Dentista especia-lista em Odontologia do Esporte é justamente perceber o atleta como um paciente que requer cuidados espe-ciais, motivo que levou o CIOSP a se-diar, desde 2015, um meeting sobre o tema. Nesta edição de 2017, o meeting foi incorporado à grade científi ca do CIOSP, tornando-se módulo científi co.

Por conta do seu metabolismo mais acelerado, os danos causados pelos mi-cro-organismos provenientes de infec-ções bucais ocorrem de maneira muito mais rápida no corpo do atleta. Além disso, um desequilíbrio da microbiota na cavidade oral pode desencadear do-enças cardíacas, respiratórias, articula-res, diabetes e comprometimento na re-cuperação de lesões musculares.

A importância dessa especialidade levou à elaboração do livro Odontologia do Esporte: Uma abordagem multidiscipli-nar por dois nomes que são referência no tema: o Cirurgião-Dentista Reinaldo Brito e Dias, chefe do Departamento de Cirur-gia, Prótese e Traumatologia Maxilofa-ciais da Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP), em que também atua como professor responsável pela disciplina de Odontologia do Esporte e membro da Co-missão Científi ca da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte; e Neide Pena

Coto, professora do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxi-lofaciais da FOUSP. Os dois profi ssionais também atuam juntos na organização do módulo científi co de Odontologia do Es-porte no CIOSP, ele como presidente e ela como coordenadora.

Como titular da FOUSP há mais de dez anos e há muito tempo se dedicando à área, Reinaldo é um dos profi ssionais brasileiros que mais tem contribuído para dar base científi ca à Odontologia do Esporte, até que ela se tornasse uma especialidade. Ele avalia o crescimento e a importância da Odontologia do Es-porte como um novo campo de trabalho, altamente promissor e amplo nas várias modalidades e segmentos.

Prova disso foi o sucesso da última edição de 2016 do meeting no CIOSP, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos. “Em 2017, a proposta do módulo científi co é valorizar aspectos multiprofi ssionais e multidisciplinares a partir da presença de fi siologistas, fi -sioterapeutas, médicos, nutricionistas, colegas da área da saúde que possam trazer expertise e base científi ca para a Odontologia do Esporte”, explica Rei-naldo. “A Engenharia, por exemplo, é uma das ciências imprescindíveis para o tema, pois nos ajuda a entender a bio-mecânica e a dinâmica dos impactos e a otimizar a proteção do atleta, umas das funções da Odontologia do Esporte. Pensamos não só na proteção, mas na

saúde bucal do atleta, na sua integri-dade orofacial”, ressalta Neide.

Quem participar do meeting deste ano no CIOSP terá, portanto, uma grande oportunidade de se atualizar so-bre o assunto com profi ssionais respon-sáveis por importantes estudos. “Em 2017 um dos temas é fraturas faciais no esporte, com um estudo sobre a biome-cânica, da professora Larissa Drie-meier, da Escola Politécnica da USP, feito em parceria conosco, que mostra como funciona mecanicamente a fra-tura de face, sendo complementada pela fala do cirurgião-dentista José Benedito Dias Lemos, especialista em Cirurgia e Traumatologia, que aponta a

atuação cirúrgica das fraturas orofa-ciais. Sobre gestão, um tema tão impor-tante, teremos o professor Marco Aure-lio Cunha, coordenador da seleção bra-sileira feminina de futebol, e o profes-sor Gabriel Mastrodomênico, que abordarão a gestão nas categorias de base” e sua relação com a Odontologia do Esporte, destaca Neide.

Em termos de qualidade de pes-quisa o Brasil alcança excelência mun-dial: “Japão, EUA e Inglaterra são refe-rências e não deixamos nada a desejar em relação a estes países. No Brasil, te-mos centros especialistas, como a USP, onde desenvolvemos muitas pesquisas na área”, explica Neide, que preside a

Câmera Técnica de Odontologia do Es-porte do CROSP e também atua junto à Academia Brasileira de Odontologia do Esporte.

Reinaldo acredita que a grande ten-dência da área é justamente a sua inter-nacionalização. E neste quesito o Brasil tem despontado com destaque, come-mora. Propostas apresentadas pela APCD e pela ABCD, da qual Reinaldo participou ao lado de outros renomados profi ssionais brasileiros, incluíram a adoção de importantes cuidados com a saúde dos atletas, como o uso do prote-tor bucal, facial, e demais cuidados odontológicos que trazem impacto ao rendimento do atleta. “As diretrizes fo-ram aprovadas na assembleia geral do Congresso da Federação Dentária Inter-nacional (FDI) em setembro do ano pas-sado, na Polônia, e foram aceitas pelo Comitê Olímpico Internacional. Elas vão servir de referencia para comitês e bases internacionais”.

As boas novas sobre o setor não pa-ram por aí. As expectativas são grandes, já que ocorre em 2017, logo após o CIOSP, o segundo Congresso Internacional da Odontologia do Esporte, que ele preside, contando também com a coordenação de Neide. Realizado com apoio da APCD, o evento acontece nos dias 18 e 19 maio e já tem a presença confi rmada do cana-dense Patrick Girouard, entre outros im-portantes profi ssionais da Odontologia nacional e internacional e áreas afi ns. 7

Odontologia do Esporte no Brasil desponta como referência internacionalA saúde bucal do atleta e seus resultados é a proposta do módulo “Odontologia do Esporte”, que faz parte da grade científi ca do CIOSP. Palestras ocorrem no dia 4 de fevereiro

5 Profs. Reinaldo Brito e Dias, e Neide Pena Coto

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n Um importante debate de interesse público ocorrerá no Encontro Nacional de Coordenadores de Saúde Bucal – Ministério de Saúde Bucal, que ocupa o Auditório do congresso nesta sextafeira, às 9h. O evento inicia-se com a mesa “Política Na-cional de Saúde Bucal: atualizando seus desafios”, com a participação de representantes do Ministé-rio da Saúde, da Coordenação Geral de Saúde Bu-cal (CGSB), CONASS (Conselho Nacional de Secre-tários de Saúde), CONASEMS (Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde), CISB (Con-selho Nacional de Saúde) e da APCD.

O encontro discutirá os desafios e as pers-pectivas da Política Nacional de Saúde Bucal e

abrigará rodas de conversa com a proposta de realizar amplas trocas de experiências sobre as políticas públicas da Odontologia praticadas no país, a exemplo da “Estruturação da atenção hos-pitalar na Rede de Atenção à Saúde Bucal”, tema apresentado por Jaqueline Webster (Hospital da Conceição), e da “Experiência da Coordenação Estadual de Saúde Bucal de Alagoas na condu-ção da política de saúde bucal”, com a presença de um representante da equipe alogoana. Tam-bém serão discutidas aquisições no âmbito da saúde bucal e suas ofertas atuais, com participa-ção de um representante do Ministério da Saúde. 7

Encontro Nacional de Coordenadores de Saúde Bucal – Ministério de Saúde Bucal coloca a saúde pública odontológica em debate

n Vacinas importantes contra doen-ças corriqueiras no Brasil, como – sa-rampo, caxumba e rubéola (SCR) são oferecidas ao público do CIOSP pelo posto de vacinação gratuita da Prefei-tura de São Paulo durante os quatro dias do congresso. Além disso, o posto realiza o teste rápido para HIV, uma forma rápida e eficiente de cuidar da saúde.

Qualquer pessoa que estiver pre-sente no CIOSP pode ter acesso aos bene-fícios oferecidos pelo posto. No ano pas-sado cerca de 1.500 pessoas, entre Cirur-giões-Dentistas, expositores e visitantes foram vacinadas durante o evento.

Mesmo quem comparece ao posto sem do documento de vacinação pode usufruir o benefício, bastando relatar sobre seu histórico de saúde. 7

Posto de vacinação gratuita da Prefeitura previne

doenças e realiza teste de HIV durante o CIOSP

© Image Point Fr/Shutterstock.com

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Presidente/CEOTorsten Oemus [email protected]

Diretora ComercialWeridiana Mageswki [email protected]

Gerente de EdiçãoSuelyn Melo Range [email protected]

JornalistaMárcia Rodrigues da Costa

Editor do GrupoDaniel Zimmermann [email protected]

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Todos os Direitos Reservados.

Presente durante o 35º CIOSP-Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo, 1 a 4 de fevereiro de 2017.

A Tribune America toma todas as possíveis atitudes para re-portar informações clínicas e sobre produtos dos fabricantes de forma minuciosa, porém não pode assumir responsabilidade sobre a eficácia do produto, ou por erros tipográficos. O editor também não assume responsabilidade sobre nomes de produ-tos ou afirmações feitas pelo anunciante. Opiniões de autores são próprias dos mesmos e não refletem as opiniões da Tribune America ou da Dental Tribune International.

Sobre o Editor

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reabsorção cervical

35º CIOSP6

Introduçãon A reabsorção dental cervical externa é caracterizada por uma perda irrever-sível de tecido dentinário devido à ação de odontoclastos (Patel et al. 2007). Ela pode também ser chamada de reabsor-ção cervical invasiva (RCI). Tem caráter infl amatório dos tecidos de suporte do dente. Inicialmente não tem nenhum envolvimento pulpar (Mavridou AM, Pyka G, Kerckhofs G, et al. 2016). Geral-mente, este tipo de reabsorção se inicia imediatamente abaixo do epitélio de união, na região cervical do dente. En-quanto não ocorre invasão bacteriana na cavidade pulpar, a polpa tem a sua vitalidade mantida. Consequente-mente, a camada de pré-dentina estará presente. A RCI não avança para dentro da cavidade pulpar possivelmente de-vido à presença de fatores inibitórios presentes nesta camada pré-dentinária (Wedenberg 1987, Mavridou et al. 2016, Mavridou AM, Pyka G, Kerckhofs G, et al. 2016). Seu diagnóstico e tratamento nem sempre são fáceis e o prognóstico é dependente da localização e grau de severidade da lesão quando diagnosti-cada.

Vários fatores etiológicos podem estar envolvidos na RCI. Entre eles pode-se citar:

– Físicos: traumatismo dental, procedi-mentos cirúrgicos, movimentações or-todônticas, raspagens periodontais e bruxismo (Heithersay 1999).

– Químicos: clareadores internos, espe-cialmente nos casos de aquecimento e alta concentrações de peróxidos de hidrogênio (Harrington & Natkin 1979, Cvek & Lindvall 1985, Schroe-der & Scherle 1988, Gold & Hasselgren 1992, Neuvald and Consolaro 2000).

– Variação anatômica: o tipo de junção amelo-cementária parece ter um pa-pel fundamental na reabsorção cervi-cal externa. Em 10 % dos dentes, não existe a justaposição do cemento ao esmalte (Schroeder & Scherle 1988). Assim sendo, uma área de dentina permanece desnuda de cemento ou esmalte (Cvek & Lindvall 1985, Neu-vald and Consolaro 2000). Esta expo-sição dentinária é um fator de risco para o desenvolvimento de uma RCI (Neuvald and Consolaro 2000).

Nos casos em que a junção ameloce-mentária não é contínua, agentes irritan-tes físicos e/ou químicos podem causar um dano ao osso e à dentina. Esta agres-são pode levar a alterações bioquímicas nos tecidos afetados dando início à forma-ção de células gigantes multinucleadas. Estas células são células clásticas. Nestas

situações clínicas, elas podem atuar rea-bsorvendo a dentina. No processo reab-sortivo estão também presentes monó-citos e macrógagos além de complexos eventos enzimáticos e hormonais.

A reabsorção cervical se inicia na superfície externa da raiz e caminha em direção à polpa. Entretanto, quando esta ainda apresenta vitalidade, a camada de pré-dentina é mantida e a RCI não in-vade a cavidade pulpar. A pré-dentina, que é um tecido não mineralizado, muda a direção de progressão da reabsorção fazendo com esta se estabeleça circunfe-rencialmente à cavidade pulpar (Figura 5, Figura 6, Figura 7, Figura 8).

O diagnóstico da RCI pode ser reali-zado por exame clínico quando esta encontra em estágio mais avançado per-mitindo a sua visualização direta. Clini-camente, no início do processo, o dente apresenta-se assintomático uma vez que nenhuma alteração fi siopatológica pul-par está envolvida. Nestes casos o diag-nóstico por imagem é o método mais efe-tivo. Por este motivo, nas fases iniciais o diagnóstico clínico visual direto não é possível. Exames imaginológicos como radiografi as periapicais e/ou tomogra-fi as são métodos efi cientes de diagnós-tico. Entre estes, a tomografi a de feixe cônico é mais precisa do que a radiogra-fi a periapical (Patel et al. 2016, Vaz de Souza D et al. 2017).

O tratamento das RCIs tem como ob-jetivo proteger a dentina afetada de sua exposição ao sistema imunológico do pa-ciente. Para tanto, está indicado o trata-mento de limpeza da área afetada e res-tauração da cavidade com material bio-compatível. Estas áreas, por estarem em contato direto com fl uídos tissulares e sa-livares, são úmidas e também irregulares devido à característica destrutiva do pro-cesso reabsortivo. Assim sendo, o mate-rial de escolha para o fechamento desta cavidade, além de ser biocompativel, deve ser capaz de preencher cavidades irregulares e ter bom comportamento fí-sico-químico em ambiente úmido.

Ao longo da história da Odontolo-gia, vários materiais como resinas, amálgama, ionômero de vidro modifi ca-dos por resina, hidroxiapatita e cimen-tos endodônticos foram utilizados para esta fi nalidade. Entretanto, nenhum destes apresentou as características e resultados desejáveis. A única classe de materiais que possuem as característi-cas desejáveis para esta fi nalidade é a classe dos biocerâmicos. Entre os bioce-râmicos, o MTA é o material mais utili-zado e com a maior comprovação cien-tífi ca de seus resultados (Pitt Ford et al. 1996, Torabinejad & Parirokh M 2010, Parirokh M & Torabinejad 2010).

Caso clínicoPaciente do gênero feminino, 52 anos

de idade, ASA I, compareceu ao consultó-rio com queixa de dor espontânea exa-

cerbada com alimentos quentes e gela-dos na maxila direita. No exame clínico, o dente 16 respondeu aos testes térmicos com dor de alta intensidade, latejante e com demora para cessar (Figura 1). Não apresentou respostas positivas aos testes de percussão lateral e vertical, tão pouco à palpação apical. O diagnóstico clínico foi de pulpite irreversível sintomática com periápice normal. Além disso, no exame radiográfi co foi visualizada uma imagem radiolúcida envolvendo a região cervical e coronária do dente 16 levando à suspeita de uma Reabsorção Invasiva Cervical (Figura 2, Figura 3, Figura 4). Com a intenção de confi rmação diagnós-tica e mensuração da extensão da lesão, foi realizada uma tomografi a computado-rizada de feixe cônico.

Na tomografi a foi possível observar a extensão tridimensional da RIC ao re-dor da cavidade pulpar. Conforme des-crito anteriormente, a RIC não invade a cavidade pulpar quando a polpa encon-tra-se viva devido à presença da ca-mada de pré-dentina. Esta caracterís-tica imaginológica está presente nos ca-sos de reabsorções dentais externas onde a polpa ainda encontra-se viva com consequente preservação da ca-mada não mineralizada de pré-dentina (Figura 5, Figura 6, Figura 7, Figura 8).

Devido ao diagnóstico pulpar, o tra-tamento endodôntico foi realizado. Toda-via uma abordagem complementar foi necessária na região da reabsorção (Fi-gura 9, Figura 10, Figura 11). A curva-

tura acentuada da raiz mesial levou à seleção de um instrumento reciprocante de níquel titânio com controle de memó-ria de forma (Reciproc Blue – VDW) para o preparo mecânico (Figura 3).

Após o acesso à câmara pulpar, 5 ml de Hipoclorito de Sódio foram uti-lizados para irrigação inicial (Figura12, Figura 13, Figura 14). Logo após, um ins-trumento Reciproc Blue 25 foi progres-sivamente introduzido em cada um dos canais, em ciclos de 3 pequenos movi-mentos de entrada e saída dos canais seguidos da irrigação de 3 ml de Hipo-clorito entre cada ciclo, até que atingis-sem 2/3 do comprimento radiográfi co do dente. Neste momento foi estabele-cido o comprimento real de trabalho através do uso de um localizador fora-

Manejo Clínico de um Primeiro Molar Superior com Reabsorção Cervical Invasiva e Pulpite Infl amatória Irreversível.

Prof. Dr. Leandro A. P. Pereira

AD

Informações do autor

O Prof. Dr. Leandro A. P. Pereira é pro-fessor de Endodontia da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic. Mestre e Doutor em Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica Medica-mentosa pela UNICAMP, é também especialista em Endodontia – Micros-copia Operatória – Sedação Inalatória.

cido o comprimento real de trabalho através do uso de um localizador fora-

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reabsorção cervical

35º CIOSP 7

minal eletrônico. Na sequência, o ins-trumento Reciproc Blue 25 foi levado até o comprimento de trabalho. Com um instrumento Reciproc Blue 40, au-mentou-se o diâmetro dos preparos api-cais (Figura 15, Figura 16, Figura 18). Devido ao controle de memória de forma das limas Reciproc Blue, foi pos-sível realizar o preparo apical da raiz mesio vestibular com curvatura acentu-ada, mesmo com um instrumento de di-âmetro apical 40 e conicidade 5 %.

O protocolo de irrigação, de 3 ml de solução por canal a cada 3 movimentos de entrada e saída do instrumento reci-procante, foi mantido até o final do pre-paro. Após a finalização do preparo quí-mico/mecânico dos canais, foi realizada a irrigação do mesmo com EDTA 17 % associado à irrigação passiva ultrassô-nica em 3 ciclos de 20 segundos por ci-clo em cada canal. Os canais foram en-

tão novamente irrigados com Hipoclo-rito de Sódio a 2.5 %.

Para a obturação endodôntica por técnica de compactação vertical a frio, foram selecionados o cimento MTA Fillapex (Angelus – Londrina Brasil) e cones de guta percha pré-calibrados.

Na região da reabsorção optou-se por uma abordagem seladora intra-co-ronária (não cirúrgica). Esta opção foi devida à pequena extensão da área de comunicação entre a reabsorção e a su-perfície dental externa (Figura 12, Fi-gura 13, Figura 17). Para o selamento da área de reabsorção inclusive da comu-nicação entre a superfície externa/in-terna, o material de escolha foi o MTA--HP e não o MTA convencional. O MTA convencional, por conter como radiopa-cificador o Óxido de Bismuto, pode le-var a um escurecimento da coroa do dente quando utilizado próximo à re-

gião cervical ou na coroa dental. O Óxido de Bismuto pode reagir com o co-lágeno dentinário acarretando em um acinzentamento da estrutura dental (Marciano MA et al. 2014). Esta altera-ção cromática também pode ocorrer de-vido à interação entre o Óxido de Bis-muto e o Hipoclorito de Sódio (Camilleri et al 2014, Marciano MA et al 2015). Desta maneira, o uso de materiais bio-cerâmicos contendo o Óxido de Bismuto como radiopacificador deve ser evitado.

Com a preocupação na preservação da estética dos casos clínicos tratados com materiais biocerâmicos, novas for-mulações destes materiais vêm sendo propostas pela indústria. Como exem-plo, o MTA HP Angelus tem como radio-pacificador o Tungstato de Cálcio. Esta nova formulação não leva às alterações cromáticas na estrutura dental (Mar-ciano Ma et al. 2014). Assim sendo, o

MTA HP pode ser utilizado em áreas próximas à coroa dos dentes sem o com-prometimento cromático ao dente tra-tado. Além disso, o acréscimo de um plastificante orgânico ao componente lí-quido deste novo material melhorou significantemente o seu manejo clínico. Como este caso clínico envolve a coloca-ção do material biocerâmico nas proxi-midades da área cervical coronária do dente 16, optou-se pelo MTA HP para preservar a cor original do dente. No controle clínico de 8 meses é possível observar a manutenção da cor original do dente 16 (Figura 21, Figura 22) bem como a normalidade dos tecidos peria-picais (Figura 23, Figura 24).

ConclusãoAs reabsorções cervicais invasivas

são patologias de caráter imunológico. Quando diagnosticadas precocemente,

onde a extensão da destruição dental ainda é pequena e de fácil acesso, o prognóstico é favorável. Os materiais reparadores biocerâmicos são indica-dos para selar a comunicação entre o endodonto e a superfície externa da raiz. Como as reabsorções cervicais in-vasivas envolvem áreas estéticas, mate-riais biocerâmicos contendo Óxido de Bismuto devem ser evitados por causa-rem alteração cromática na coroa do dente envolvido. Portanto, os MTAs tra-dicionais não estão indicados. Já novas formulações de MTA como o MTA-HP, não possuem Óxido de Bismuto. Esta ca-racterística, não leva a alteração da cor do dente, portanto é o material mais in-dicado para o selamento destas áreas de reabsorção. 7

Nota editorial: O editor disponibiliza uma lista completa de referências.

5 Fig. 1 – Aspecto clínico inicial. 5 Figura 2 – Radio-grafia periapical inicial. 5 Fig. 3 – Radiografia peria-pical inicial em angulação horizontal dife-rente. 5 Fig. 4 – Radiografia interproximal. 5 Fig. 5 – Tomografia evidenciando a forma da reabsorção contornando a câmara pulpar. 5 Fig. 6 – Tomografia evidenciando a Reaborção Cervical Invasiva. 5 Fig. 7 – Reabsorção Cervical Invasiva contornando a câ-mara pulpar. 5 Fig. 8 – Área e Localização da RCI. 5 Fig. 9 – Remoção de Amálgama Oclusal. 5 Fig. 10 – Acesso à câmara pulpar. 5 Fig. 11 – Polpa viva. 5 Fig. 12 – Tecido conjuntivo preenchendo a área de reabsorção. 5 Fig. 13 – Reabsorção Cervical pró-xima aos canais mésio-vestibulares. 5 Fig. 14 – Iní-cio da remoção do tecido conjuntivo da área de RCI. 5 Fig. 15 – Localização do canal mésio-vestibular 2. 5 Fig. 16 – Canais radiculares preparados com Reciproc Blue 25. 5 Fig. 17 – Área da reabsorção limpa. 5 Fig. 18 – Canais radiculares preparados com Reciproc Blue 40. 5 Fig. 19 – Radiografia final. 5 Fig. 20 – Ra-diografia final. 5 Fig. 21 – Aspecto clínico 8 meses depois – preservação da cor. 5 Fig. 22 – Vista oclusal 8 meses depois. 5 Fig. 23 – Radiografia periapical de controle (8 meses). 5 Fig. 24 – Variação de angulação horizontal de radiografia periapical de controle (8 meses).

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3 Fig. 4 Fig. 5

Fig. 6 Fig. 7 Fig. 8 Fig. 9 Fig. 10

Fig. 11 Fig. 12 Fig. 13 Fig. 14 Fig. 15

Fig. 16 Fig. 17 Fig. 18 Fig. 19 Fig. 20

Fig. 21 Fig. 22 Fig. 23 Fig. 24

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