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A SELEÇÃO DO LIXO DOMÉSTICO COMO PRÁTICA … · a melhoria do ambiente local por meio de atividades interativas e ações que estimulem os alunos a serem multiplicadores dos conhecimentos

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A SELEÇÃO DO LIXO DOMÉSTICO COMO PRÁTICA AMBIENTAL EDUCATIVA

Nilza Aparecida Guerra Sgorlon1

Jeani Delgado Paschoal Moura2

RESUMO

Esse trabalho discute os possíveis caminhos para melhorar a qualidade de vida e a relação com o meio ambiente. Parte-se do pressuposto que somos agentes multiplicadores do conhecimento, mediante o desenvolvimento de valores, habilidades e formação de atitudes para o exercício da cidadania. Visamos, portanto, a formação de uma população consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhes dizem respeito, unindo a adoção de conhecimentos com a competência, a motivação e a participação tanto no trabalho individual quanto no coletivo. A metodologia de trabalho se pautou em situações da vida real na cidade onde os alunos vivem, abrindo-se novas perspectivas para a compreensão da educação ambiental. No desenvolvimento do projeto procuramos envolver todas as parcelas da comunidade escolar, especialmente os alunos do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual de Jandaia do Sul, Paraná. Como resultado, foi possível compreender que no processo de formação do cidadão é fundamental levar em conta a sua experiência de vida e a escola, como geradora e promotora destas experiências, precisa ser transformada em um espaço pedagógico pelo qual o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado com suas práticas sociais.

Palavras-chave: Lixo. Coleta Seletiva. Ensino de Geografia. Prática Ambiental

Educativa.

1 Professora de Geografia da Rede Estadual de Educação do Paraná, participante do PDE/2010.

2 Professora orientadora - Universidade Estadual de Londrina

1 INTRODUÇÃO

Um dos assuntos mais emergentes de atualidade são as questões

relacionadas ao equilíbrio ambiental e ao papel do ser humano nesta inter-relação.

Tomando como base esta discussão, o presente trabalho, desenvolvido no

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Educação do

Estado do Paraná (SEED/PR), tem como tema a educação ambiental para jovens

escolares e as consequências decorrentes da implantação de um novo olhar sobre

suas antigas práticas ambientais. Investir na educação dos adolescentes e em sua

formação como cidadão é semear e cultivar o pensamento crítico sobre o mundo

onde vive. É nesta época em que os jovens absorvem valores e dão significados às

suas experiências, as quais carregarão e transmitirão em forma de atitudes pelo

resto de suas vidas.

Pensando nisto, a escola tem o papel complementar de participar da

formação cidadã mediante o desenvolvimento de práticas de reflexão e

conscientização sobre o meio vivido. Compreender a Educação Ambiental como um

processo participativo é preparar o aluno para ser agente multiplicador de práticas e

costumes, mediante o desenvolvimento de valores, habilidades e formação de

atitudes, condizentes ao exercício da cidadania.

Este programa de educação ambiental promoveu simultaneamente o

desenvolvimento de conhecimento de atitudes e de habilidades necessárias à

preservação e melhoria da qualidade ambiental por meio de documentários, visitas,

palestras e oficinas realizadas. Utilizou-se como laboratório a sociedade em sua

relação com a natureza, iniciando pela escola, expandindo-se pela circunvizinhança,

cidade até abranger o meio ambiente como um todo. A série escolhida para

encabeçar esta prática foi o segundo ano do ensino médio devido a maturidade e a

possibilidade de dar continuidade ao processo no ano seguinte.

Como objetivo maior da conscientização e da prática ambiental no contexto

escolar está a preocupação em proporcionar aos alunos ferramentas que contribuam

no processo de desenvolvimento de noções conceituais sobre o meio ambiente;

diagnosticar os problemas ambientais no entorno da escola e buscar soluções para

a melhoria do ambiente local por meio de atividades interativas e ações que

estimulem os alunos a serem multiplicadores dos conhecimentos sobre o meio

ambiente em sua comunidade por meio da prática da seleção do lixo doméstico.

Esta preocupação em fazer com que o aluno alcance uma nova visão sobre o

meio ambiente justifica-se pelas crescentes catástrofes que grandes metrópoles

sofrem cujas causas se dão, em parte, pela poluição e produção desenfreada de

lixo. Assim torna-se imprescindível desenvolver com os alunos projetos que

maximizem a discussão e a reflexão sobre os caminhos possíveis para melhorar a

qualidade de vida por meio do exercício da cidadania.

2 A SEPARAÇÃO DO LIXO DOMÉSTICO

Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o

indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,

atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem como

de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida e sua sustentabilidade (Art. 1º

da Lei nº 9795/99).

Conforme estipulado pela UNESCO na Carta de Belgrado (1975, p. 4), a finalidade

da Educação Ambiental é:

Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais e impedir que se.

O resgate dos valores intrínsecos do trabalho em equipe em que as crianças

possam realmente sentir o valor que este hábito trará para a sua família e para a

grande família intercontinental a qual pertencemos é que será possível criar uma

população realmente engajada com a sustentabilidade mundial.

A questão socioambiental sob o ponto de vista geográfico permite uma

abordagem complexa porque não se restringe aos estudos da flora a da fauna, mas

da interdependência das relações entre sociedade, elementos naturais, aspectos

econômicos, sociais e culturais.

[...] O termo “sócio‟ aparece, então, atrelado ao termo “ambiental‟ para enfatizar o necessário envolvimento da sociedade como sujeito, elemento, parte fundamental dos processos relativos à problemática ambiental contemporânea. (MENDONÇA, 2001 apud PARANÁ,

2008, p. 117)

O pensamento geográfico a respeito das questões ambientais é marcado por

dois períodos distintos, são eles: no primeiro, o ambiente era tomado como sinônimo

de natureza, conceito que prevaleceu desde a estruturação científica da Geografia

até meados do século XX. No segundo momento, alguns geógrafos passaram a

considerar a interação entre a sociedade e a natureza, o que tornou ultrapassada a

idéia, majoritariamente, descritiva do ambiente natural. A partir dos anos de 1950, o

ambiente – muitas vezes já degradado – passou a ser objeto de estudo com vistas à

sua recuperação e para melhorar a qualidade de vida (MENDONÇA 2001, apud

PARANÁ, 2008).

Os impasses ambientais que inquietam o mundo de maneira mais explícita,

desde os anos de 1960, custaram a ganhar espaço no pensamento geográfico. Essa

dificuldade se deu, de acordo com Mendonça (2001, apud Paraná, 2008), em função

de alguns fatores como:

A secundarização dos aspectos físicos do espaço geográfico, a partir da década de 1970, com a emergência da idéia da Geografia como ciência social; A conseqüente recusa da importância da dinâmica da natureza “na constituição do espaço, do território e da sociedade”; A fé na ciência e na tecnologia como potencialmente capazes de resolver os problemas ambientais gerados pelo modo de produção capitalista. (MENDONÇA 2001, apud PARANÁ, 2008, p.72)

A partir dos anos de 1980, tanto o acirramento dos problemas ambientais

quanto o engajamento de geógrafos físicos na militância de esquerda, no Brasil e no

mundo, levaram a Geografia a rever as suas concepções, o que resultou na busca e

na formulação de novas bases teórico-metodológicas para a abordagem do tema.

Uma delas é que a crise ambiental contemporânea não pode ser compreendida nem

resolvida, segundo perspectivas que isolam a sociedade da natureza ou que

ignoram uma delas.

A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na

condição humana. Estamos na era planetária, uma aventura comum conduz os

seres humanos, onde quer que se encontre. Estes devem reconhecer-se em sua

humanidade e, ao mesmo tempo, reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo

que é humano. Conhecer o humano é, antes de tudo, situá-lo no universo, e não

separá-lo dele. Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para ser

pertinente. “Quem somos?” é inseparável de “onde estamos?”, “de onde viemos?”,

“para onde vamos?” Pertencemos ao destino cósmico, porém estamos

marginalizados, nossa Terra é o terceiro satélite de um sol destronada de seu posto

central, convertido em astro pigmeu errante entre bilhões de estrelas em uma

galáxia periférica de um universo em expansão. A Terra auto-produziu-se e auto-

organizou-se na dependência do Sol, constituiu-se em complexo biofísico a partir do

momento em que se desenvolveu a biosfera (MORIN, 2004).

Segundo Morin (2004) somos, a um só tempo, seres cósmicos e terrestres. A

vida nasceu de convulsões telúricas e sua aventura correu perigo de extinção ao

menos por duas vezes (no fim da era primária e durante a era secundária).

Desenvolveu-se não apenas em diversas espécies, mas também em ecossistemas

em que as predações e devorações constituíram a cadeia trófica de dupla face: a da

vida e a da morte. Nosso planeta Terra no cosmo. Devemos assumir as

consequências da situação marginal, periférica que é a nossa. Como seres vivos

deste planeta, dependemos vitalmente da biosfera terrestre; devemos reconhecer

nossa identidade terrena física e biológica.

O conhecimento é, pois, uma aventura incerta que comporta em si mesma,

permanentemente, o risco de ilusão e erro. A concepção de meio ambiente não

exclui a sociedade, antes, implica compreender que em seu contexto econômico,

político e cultural estão os processos relativos às questões ambientais

contemporâneas, de modo que a sociedade é componente e sujeito dessa

problemática.

A natureza, que teve em a sua gênese uma dinâmica autodeterminada, hoje sofre alterações em muitas de suas dinâmicas devido à ação humana. Basta lembrarmos as alterações climáticas, as obras de engenharia que modificam os rios (curso, vazão, profundidade, etc.) e transpõem montanhas e cordilheiras (estradas, túneis), os desmatamentos que criam desertos ou, em encostas de morros, causam desmoronamentos. Dessa forma, torna-se fundamental compreender tanto a gênese da dinâmica da natureza quanto às alterações nela causadas pelo homem, como efeito de participar na construção do espaço geográfico físico (PARANÁ, 2008, p. 73).

Conforme Antunes (2008), educação é definida pelo ato ou efeito de educar;

processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do indivíduo,

civilidade, polidez. É uma área muito nobre onde há uma troca de saberes, pois

tanto alunos quanto professores aprendem. Para a autora a prática educacional é

uma prática “humanizadora” que tem como primazia a transmissão da cultura

acumulada e construída historicamente pela humanidade. Porém não podemos

resumir a nossa concepção de educação à disciplina escolar, a educação mais do

que qualquer outro termo ou expressão, remete a uma idéia subjetiva a qual todos

os seres humanos sofrem mudanças ao longo de sua vida, esta ideia é da

moralidade.

De acordo com Sgorlon (2012), não é benéfico que a educação seja restrita a

um período da vida de uma pessoa ou, então, responsabilizada a um grupo limitado

de pessoas, pois a educação é vitalícia, acompanha e muda com o “eu” de um

indivíduo. Como fator chave à adoção ou aprimoramento da educação temos a

escola. Podemos pensar na escola como um instrumento cuja função principal é

disciplinar os alunos e disseminar conhecimento científico. É na escola onde as

crianças começam a ter um convívio social diferente do convívio familiar, seus

conceitos então passam a modificar-se bem como sua moral. Sendo a escola um

local onde o conhecimento científico é transmitido, e esta transmissão é feita por

pessoas e suas pré-concepções, a instituição escolar não está livre destas

influências de seus membros, então torna-se coerente afirmar que os professores e

membros das instituições escolares também são responsáveis por influenciar e

direcionar modificações no caráter de um indivíduo. Por ser uma das instituições

onde as crianças passam quase que “obrigatoriamente” maior parte de suas vidas a

escola assume caráter fundamental para a democratização e estabelecimento da

ideia de cidadania, revelando-se condição necessária para a construção de uma

sociedade igualitária e justa.

A educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a

assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão. Um

cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade

em relação a sua pátria. O que supõe nele o enraizamento de sua identidade

nacional. A consciência e o sentimento de pertencermos a Terra e de nossa

identidade terrena são vitais atualmente. A progressão e o enraizamento desta

consciência de pertencer a nossa pátria terrena é que permitirão o desenvolvimento,

por múltiplos canais e em diversas regiões do globo, de um sentimento de religação

e intersolidariedade, imprescindível para civilizar as relações humanas (MORIN,

2010).

Existe uma correlação entre o desenvolvimento de nossa consciência de

humanidade e a consciência de nossa pátria terrena. A pátria terrena comporta a

salvaguarda das diversas pátrias, que podem, muito bem, enraizar-se em uma

concepção mais profunda a mais vasta de “a pátria”, desde que sejam alertas; e a

condição necessária a essa abertura é a consciência de pertencer à Terra – Pátria.

Solidariedade e responsabilidade seria então o desafio para contribuir na

autoformação do cidadão consciente (MORIN, 2010).

Há uma grande diferença entre sermos cidadãos locais e cidadãos mundiais,

mesmo que algumas políticas públicas tenham em sua raiz o propósito de

beneficiamento individual, ou apenas das elites minoritárias, não podemos pensar

em nossa sociedade como apenas o nosso bairro, o município ou a região, temos

que despertar a nossa consciência global, a qual traz como base de nossas ações, o

beneficiamento e a conservação mútua, tanto da população a qual habita o planeta,

quanto do próprio nicho ao qual vivemos.

Assim a grande perversão do nosso tempo repousa no papel que o consumo

veio representar na vida coletiva e na formação do caráter dos indivíduos. A

glorificação do consumo se acompanha da diminuição gradativa de outras

sensibilidades, como a noção de individualidade que, aliás, constitui em um dos

alicerces da cidadania. Enquanto constrói e alimenta um individualismo feroz e sem

fronteiras, o consumo contribui ao aniquilamento da personalidade, sem a qual o

homem não se reconhece como distinto, a partir da igualdade entre todos (SANTOS,

1987).

A moda é manivela do consumo pela criação de novos objetos que se impõe

ao indivíduo. O sistema de produção para o mercado cria fenômenos históricos

condicionados pelos seus próprios interesses específicos. Um desses é o sistema

de consumo correspondente, gerador do que Riú (1968, apud SANTOS, 1987),

considera como direitos racionais, mas despersonalizados. Essa ruptura do homem

na armadilha constituída pelos bens e serviços de mercado, na expressão de

Braveran (1974 apud SANTOS, 1987) esse aprisionamento do indivíduo pelas

coisas que ele cria é que conduz a alienação, um “processo de fragmentação do

conhecimento e, consequentemente, uma distorção da realidade humana” (BRITO,

1977 apud SANTOS, 1987). Alienado, o homem subutiliza suas energias intelectuais

(SALVATI; BECALLI,1972 apud SANTOS, 1987).

E como relacionar educação ambiental e cidadania? Cidadania está

entrelaçada com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação

ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de

encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que

pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os

homens (GUERRA, 2009).

A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente

aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos

com consciência local e planetária (JACOBI, 2003).

Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais

relevante e instantâneo devido a criação dos ciberespaços, multimídias, internet etc,

a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as

pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da

qualidade de vida. Nesse sentido, cabe destacar que a educação ambiental assume

cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos

indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de

desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável (JACOBI, 1999).

Entende-se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para

modificar um quadro de crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é

suficiente, o que, no dizer de Tamaio (2000, apud Jacobi 2003), se converte em

“mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos

diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção das transformações

desejadas”

O planeta está chegando num ponto cada vez mais crítico, observando-se

que não pode ser mantida a lógica prevalecente de aumento constante do consumo.

Já se verificam os seus impactos no plano ecológico global. Sabemos que se trata

de um tema muito complexo, pois as possibilidades de fixar limites são politicamente

problemáticas, em qualquer parte do planeta. Será que estamos numa

encruzilhada? (JACOBI, 2004).

O caminho existente é mais do que problemático em termos ecológico, quase

sem saída pelos métodos convencionais. A exploração crescente dos recursos

naturais dessa maneira coloca em risco as condições físicas de vida na Terra, na

medida em que a economia capitalista exige um tipo de produção e consumo que

são ambientalmente insustentáveis. O que significa, portanto, promover uma política

de consumo sustentável que leve em conta três eixos – a realidade dos limites

ecológicos da Terra, de um lado, que promova justiça social e seja politicamente

viável. Nos últimos anos, houve alguns avanços na forma de pensar e agir. O grande

desafio é de influenciar e modificar o pensamento das pessoas em relação ao

consumo (JACOBI, 2003).

E o que dizer do meio ambiente na escola? Tomando-se como referência

Vygotsky (1991), pode-se dizer que um processo de reconstrução interna (dos

indivíduos) ocorre a partir da interação com uma ação externa (natureza, reciclagem,

efeito estufa, ecossistema, recursos hídricos, desmatamento), na qual os indivíduos

se constituem como sujeitos pela internalização de significações que são

construídas e reelaboradas no desenvolvimento de suas relações sociais. A

educação ambiental, como tantas outras áreas de conhecimento pode assumir,

assim, “uma parte ativa de um processo intelectual, constantemente a serviço da

comunicação, do entendimento e da solução dos problemas” (VIGOTSKY, 1991).

Trata-se de um aprendizado social, baseado no diálogo e na interação em

constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e

significados, que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da

experiência pessoal do aluno. Assim, a escola pode transformar-se no espaço em

que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de

práticas sociais, parte componente de uma realidade mais complexa e multifacetada.

O mais desafiador é evitar a simplificação de que a educação ambiental poderá

superar uma relação pouco harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente

mediante práticas localizadas e pontuais, muitas vezes, distante da realidade social

de cada aluno. Cabe sempre enfatizar a historicidade da concepção de natureza

(CARVALHO, 2001), o que possibilita a construção de uma visão mais abrangente

(geralmente complexa, como é o caso das questões ambientais) e que abra

possibilidades para uma ação em busca de alternativas e soluções.

A escola é lugar privilegiado para implementação de atividades que propiciem

a reflexão sobre Educação Ambiental, com ações orientadas em projetos e

processos de participação desenvolvendo nos alunos atitudes positivas e

comprometimento pessoal com a proteção ambiental (DIAS, 1992). É fundamental

que cada aluno desenvolva potencialidades e adote posturas sociais construtivas. É

na escola, com os conteúdos ambientais permeando todas as disciplinas e

contextualizados com a realidade da comunidade, que os alunos terão uma visão

mais clara da importância da preservação do meio ambiente. O educador tem

função mediadora na construção de referenciais ambientais e saber usá-los como

instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da

natureza.

3 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO: A SELEÇÃO DO LIXO DOMÉSTICO COMO

PRÁTICA AMBIENTAL EDUCATIVA

O projeto foi apresentado à comunidade escolar durante a Semana

Pedagógica no início do ano de 2011, momento em que foi demonstrado o que seria

desenvolvido com os alunos passo a passo para que os profissionais da educação

pudessem colaborar com o trabalho a se realizado. O resultado foi significativo, a

aceitação foi unânime e o envolvimento da equipe se deu com grande entusiasmo.

Conversei com os alunos sobre a possibilidade de participarem do projeto, os

mesmos mostraram interesse e assim seguimos em frente.

3.1 CINEGEO

Hoje o processo tradicional não é mais capaz, sozinho, de realizar a tarefa de

ensinar.

A inclusão de novas formas de construir o processo de ensino aprendizagem, é uma medida necessária para uma formação integral e adequada às características culturais do cidadão das sociedades modernas. O cinema torna-se uma proposta educativa evidente, quando representa um instrumento de mudança social, pelas vias das técnicas e da ciência. Considerado como uma ferramenta educacional, tem a oportunidade de inserir na sala de aula como possibilidade do processo educacional e percorre etapas: impressão da realidade, identificação e interpretação. (ARAÚJO, 2007, s/p)

O Cinegeo trata-se, portanto, de assistir filmes com a intenção pedagógica,

visando desenvolver uma opinião mais crítica sobre o entendimento da realidade a

qual pertencemos.

Dando início ao processo, foram confeccionados cartazes dos documentários

que seriam assistidos e distribuídos nos murais da escola. Foram 4 aulas para

assistir os documentários listados abaixo, dividindo-os em duas sessões, para que

os alunos não se cansassem e não perdessem o interesse. Para criar um clima

descontraído e motivador, os alunos levaram refrigerantes e a escola cedeu a

pipoca.

Figura 1 – Foto dos cartazes de divulgação do CineGeo.

Foto: Nilza Guerra, 2011

Sessão 1 - Uma verdade inconveniente

Nesta primeira sessão apresentado o documentário: “Uma verdade

inconveniente” (An inconvenient truth) – Dirigido por: Davis Guggenhein. Produzido

por: Lawrence Bender, Scott Burns, Laurie Lennard e Scott Z. Burns. Elenco: Albert

Arnold Gore Junior. Estados Unidos: Lawrence Bender Productions/Participant

Production, 2006. Filme (100min), DVD, Color, 35mm.

O presente documentário mostrou aos alunos uma visão global da atual

questão ambiental, pela qual passa o planeta e algumas previsões para o futuro.

Assim, aliando o poder das imagens e sons, os alunos puderam “sentir na pele” a

devastação causada pela prática do consumismo exacerbado da sociedade no meio

ambiente. Puderam ver que existem seres muito mais frágeis que estão definhando

em razão de nosso “mau uso” dos recursos terrestres, e que se alguma providência

em massa não for tomada a situação piorará a cada segundo.

Figura 2 – Cartaz produzido para a divulgação do documentário “Uma verdade inconveniente” (An

inconvenient truth) (Fonte: GENERATION EXE, 2007).

Sessão 2 - Lixo extraordinário

Nesta sessão os alunos assistiram o documentário: “Lixo extraordinário”

(Waste Land). Dirigido por João Jardim, Karem Harley e Lucy Walker. Produzido por

Fernando Meirelles. Elenco: Vik Muniz. Brasil e Reino Unido, 2009. Filme (99min),

DVD, Color.

Neste documentário os alunos puderam observar e analisar uma realidade

regional da questão ambiental. Puderam perceber que existe uma saída para esta

circunstância calamitosa e que a própria sociedade tem buscado alternativas.

Mesmo o que pode ser considerada uma das piores situações, um aterro sanitário

abarrotado de expurgos sociais, é possível retirarmos coisas valiosíssimas, como as

obras de arte de Vik Muniz. Esse foi um exemplo que devolveu aos alunos a

esperança de lutar pelo meio ambiente.

Figura 3 – Cartaz produzido para a divulgação do documentário “Lixo Extraordinário” (Waste Land) (Fonte: TERRITÓRIO MASCULINO, 2011).

Com base na apreciação destes dois documentários, em pequenos grupos,

os alunos discutiram, confrontaram-se e lançaram hipóteses sobre os verdadeiros

“culpados” dos problemas ambientais. Todos queriam falar ao mesmo tempo para

não se esquecerem do comentário, mas não conseguiram chegar a uma conclusão.

Enfim, foi um “bate-papo” organizado por mim. Na realidade era esta a intenção:

provocar e instigar os alunos.

Apresentei aos alunos o material didático multimídia destinado à exposição de

conteúdos curriculares, os quais foram disponibilizados em CD-ROM, na forma de

aulas expositivas dialogadas em quatro momentos, devido a quantidade de temas e

também como possibilidade de abrir um espaço para o diálogo por meio de

perguntas, questionamentos e sugestões. Os conteúdos apresentados foram:

A seleção do lixo doméstico;

Educação ambiental;

Brasil: produção de lixo;

Catástrofes Causadas pelo acúmulo indevido de Lixo;

A Grande Questão;

Educação ambiental um processo participativo;

A questão socioambiental é um sub-campo da Geografia;

O termo “sócio” atrelado ao termo “ambiental”;

Educação e Cidadania;

Consciência Global;

A grande perversão do nosso tempo;

Como relacionar educação ambiental à cidadania?

Educação ambiental um processo de permanente aprendizagem;

O grande desafio;

O papel da escola e do professor;

A questão do lixo;

Principais impactos socioambientais na produção do lixo;

Principais formas de disposição de lixo:

Aterro controlado;

Incineração;

Compostagem;

Usina de lixo;

Central de triagem;

Classificação dos resíduos Sólidos;

Coleta Seletiva;

Etapas da coleta seletiva.

Estes conteúdos são muito importantes, pois, sabemos que o Brasil produz,

atualmente, cerca de 228,4 mil toneladas de lixo por dia, segundo a última pesquisa

de saneamento básico consolidada pelo, em 2000. O chamado lixo domiciliar

equivale a pouco mais da metade desse volume ou 125 mil toneladas diárias. Do

total de resíduos descartados em residências e indústrias, apenas 4.300 toneladas

ou aproximadamente 2% do total, são destinadas à coleta seletiva. Quase 50 mil

toneladas de resíduos são despejadas todos os dias em lixões a céu aberto, o que

representa um risco à saúde e ao meio ambiente (IBGE, 2000).

Atualmente, a maioria concorda que a população humana mundial, hoje com

cerca de sete bilhões, irá dobrar nos próximos 30-40 anos (FγFE, 1997). Levando-se

em consideração este fato aproximadamente 100 mil toneladas de dejetos, que

equivalem ao peso de um avião Boeing 787 serão diariamente abandonados em

locais não apropriados.

O termo lixo, etimologicamente analisado, tem origem controversa ou

obscura. Do latim, significa lixa “água misturada com cinza”. Lixívia, lixius, água de

coagem (SUDAN, et al., 2007). Ao lixo quase sempre é relacionada a ideia de tudo

aquilo que não desejamos ter por perto, que deve ter um fim e que deve

desaparecer, sair das vistas das pessoas e ser levado para longe. Porém, este lugar

fica longe de quem? Será que ele fica perto de alguém quando levado para “longe”?

Ou queimado (oferecendo a ilusão de desaparecimento) o lixo ainda sim causará

impactos socioambientais para uma dada comunidade, para um dado ecossistema

(SUDAN, et al., 2007).

Estima-se que se produzam, diariamente, no mundo em torno de 2 milhões de

toneladas de lixo, o que significa um montante anual 730 milhões de toneladas por

ano. É difícil imaginarmos o quanto isso significa em termos de volume, de espaço e

de impactos. E onde colocar tanto lixo? (SUDAN, et al., 2007).

Hoje, cada brasileiro gera, em média, de 0,5 a 1,0 quilos de lixo por dia e

sabemos que há uma forte tendência de aumento desses dados. Décadas marcadas

pela difusão dos materiais descartáveis e supérfluos associado à praticidade e à

melhor aparência do produto. Esta “parceria” remete ao consumo e ao uso daquilo

que “facilita a vida” do indivíduo sem ocupar tempo no cotidiano apressado (SUDAN,

et al., 2007).

Neste contexto, os serviços de fast-food ganharam terreno inclusive em

países pobres, pois são rápidos e padronizados no atendimento. Os inúmeros

pacotes, caixas, copos, tampas, canudos, guardanapos e papeis de bandeja,

acompanham uma alimentação muitas vezes não saudável (SUDAN, et al., 2007).

As sacolinhas de plástico e outras embalagens descartáveis, da mesma forma

facilitam as compras de impulso, rápidas e sem planejamento. Neste sentido,

também são adotadas embalagens em diversos produtos, como legumes, frutas e

verduras acondicionados em uma bandeja de isopor cobertas por um plástico filme.

As embalagens estão se tornando um produto em si, consideradas tão ou mais

importante que o próprio conteúdo, como se acrescentassem um valor “a mais” a um

objeto. Provocam a ilusão, inclusive, de que não é possível dar um presente sem

embrulho.

A adoção de embalagens supérfluas e descartáveis poupa trabalho no

momento de adquirir um produto e depois jogá-lo no lixo, mas gera um trabalho

muito maior para a “recuperação” do ambiente e para a vida no futuro. Aquilo que

faz economizar alguns segundos na vida aumenta a extração de recursos nobres

para a produção de materiais, aumenta os custos para os cofres públicos e exige

milhares de anos para a sua absorção pelo planeta (SUDAN, et al., 2007). Diante

disto podemos observar que as grandes metrópoles sofrem catástrofes gigantescas

causadas por essa poluição e produção de lixo. Sabe-se que a falta de informação,

a negligência, a falta de fiscalização e o descomprometimento do poder público

contribui para esse caos.

Torna-se coerente supor que nenhuma atividade que use intensivamente

materiais que serão transformados indiscriminadamente em lixo pode ser

considerada saudável. Conhecendo a questão global e regional, através dos

documentários e conhecimento dos conceitos relacionados à temática, os alunos,

estavam preparados para iniciar o trabalho de campo.

3.2 TRABALHO DE CAMPO

De acordo com Silva (2002, apud SILVONE; TSUKAMOTO 2006, p. 88),

o trabalho de campo constitui-se um instrumento fundamental por ele é possível desvendar o entorno e estabelecer a mediação entre o registro, o conhecimento sistematizado e o seu significado. Este auferido por meio de um processo dinâmico e dialético que gera o entendimento da realidade, especialmente, naquilo em que ela se apresenta como inexplicável, por isso mesmo instigadora.

Foi proposto aos alunos um trabalho de campo com o objetivo de analisar a

realidade local, investigar a sua constituição histórica e fazer uma comparação com

outros lugares. Este trabalho de campo realizou-se em três etapas: “pré-campo”,

“trabalho de campo” e “pós-campo”.

1º Momento: Pré-Campo

Com educação ambiental trabalhada por meio de projetos, várias ações

puderam ser desenvolvidas e na verdade precisamos da “sala de aula” para a

organização destas ações, sendo assim, trabalhamos o primeiro momento, o pré-

campo em sala.

Delimitamos o trajeto a ser percorrido com mapas impressos e distribuídos a

cada aluno, expliquei com detalhes como seria cada etapa do trabalho de campo.

Deixando claros os objetivos a serem atingidos, definindo o elemento integrador de

nossa saída a campo (em nosso caso a questão ambiental), porém, anteriormente,

já havíamos estabelecido contato com a Prefeitura Municipal, com o encarregado do

aterro sanitário, além de ter comunicado o diretor da escola. O diretor por sua vez,

colocou à nossa disposição um ônibus com o objetivo de zelar pela segurança dos

alunos e para que os horários previstos fossem cumpridos não prejudicando o bom

andamento da escola.

2 º Momento: Trabalho de Campo

Levamos os alunos no aterro sanitário de Jandaia do Sul, durante o trajeto

estimulamos os mesmos a contextualizarem a realidade local, investigando a sua

constituição histórica por meio de comparações com outros lugares próximos ou

distantes.

Os alunos foram observando o espaço percorrido no trajeto e ao chegar no

destino, registraram informações por meio de relatórios, fotos, filmagens, entrevistas,

utilizaram também os vários sentidos (olfato, visão e audição), para perceber a

paisagem. Durante a visita e no retorno, pudemos observar que o conceito de Silva

(2002, apud SILVONE: TSUKAMOTO, 2006, p. 62) sobre o trabalho de campo

estava correto porque os estudantes demonstraram um entusiasmo tão grande e

uma satisfação natural por aquilo que tinham acabado de fazer. Assim pudemos

analisar que este comportamento é inerente às pessoas que tem a informação e o

conhecimento e mediante leitura do campo foi possível unir teoria e prática, fazendo-

se entender a realidade.

Um programa de educação ambiental para ser efetivo deve promover

simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atitude e de habilidades

necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental. Utilizam-se como

laboratório, a sociedade, os seus recursos naturais e físicos, iniciando pela escola,

expandindo-se pela circunvizinhança e sucessivamente até a cidade, a região, o

país, o continente e o planeta. A aprendizagem será mais efetiva se a atividade

estiver adaptada às situações de vida real da cidade, ou do meio em que vivem

aluno e professor.

3 º Momento: Pós-Campo

De volta à escola os alunos, em posse das fontes que explicam a paisagem

do aterro (local), fizeram relatórios que serviram de apoio para fazerem uma análise

das transformações ocorridas de acordo com as ações realizadas pelo homem, e

uma comparação da nossa realidade com aquelas que assistiram nos

documentários. Em domínio de muitas ações, os alunos se reuniram em grupos e

discutiram sobre a temática ambiental em diferentes contextos e escalas geográficas

(a global, a regional e a local). Após a utilização, os relatórios não foram

descartados, pois serviram para complementar uma ação futura em que foram

desenvolvidas as chamadas “Oficinas do Futuro”. Atividades lúdicas elaboradas pelo

Instituto Ecoar que estimularam a reflexão sobre os problemas socioambientais,

buscando soluções e promoção da melhoria da qualidade de vida local, como

analisado a seguir.

3.3 OFICINAS DO FUTURO

Oficina 1 – “Muro das lamentações”

O Muro das Lamentações fica na cidade velha de Jerusalém e é visitado até

os dias atuais por peregrinos que vão colocar, entre os vãos das pedras, bilhetinhos

com seus sonhos e sofrimentos. Este foi o momento em que os participantes foram

estimulados a expressarem tudo àquilo que desgostavam, o que os incomodava ou

atrapalhava a qualidade de vida, na forma de desenhos, poesias, textos, frases,

palavras, dobraduras etc.

Assim, foi construído o Muro, tendo como fundo uma cortina de TNT, doada

pelo diretor, o qual escolheu a cor vermelha, pois a seu ver “combinava mais com as

lamentações”. Os alunos então escolheram o melhor lugar do pátio da escola e

começaram a trabalhar: escada, cola, tesoura, papeis, régua, carteiras, cadeiras,

pistolas de cola quente, extensões de fios elétricos, câmera man e repórter

entrevistando professores e outros profissionais da educação, alunos trabalhando,

outros observando, música ao fundo, muita conversa, alegria, sugestões, sobe e

desce, enfim, algo diferente estava sendo produzido por eles, foi uma movimentação

que mexeu com a escola toda naquela manhã. Estavam tão felizes que aquele

sentimento contagiou os alunos das outras séries, que não sabiam ao certo o que

estava acontecendo, mais faziam questão de ajudar e participar daquele momento.

Observando o comportamento dos estudantes, percebemos que estava no caminho

certo e assim foi construído o muro.

Figura 04 – Foto do Muro das Lamentações. (Foto: Nilza Guerra, 2011)

Os alunos ficaram orgulhosos com a sua primeira produção, começaram

então a ler, dar opiniões, enquanto os demais se juntaram a eles. Foi um trabalho

gratificante, pois além da aprendizagem trouxe valorização aos participantes e

informação à comunidade escolar. Passados alguns dias, começamos a elaborar,

junto aos alunos, material para a nossa próxima ação (Árvore dos sonhos).

Oficina 2 - Árvore dos sonhos

A árvore dos sonhos tem a sua origem no início da Eco-92, quando pessoas

do mundo todo escreveram seus sonhos de futuro em papeis em forma de folhas.

Essas folhas foram penduradas nos galhos de árvores gigantes, que foi instalada na

praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, como símbolo de um futuro mais feliz para

todos. Este momento os participantes foram estimulados a imaginar como gostariam

que fosse a sua rua, a sua escola, a sua cidade e o planeta. Estes sonhos foram

escritos, desenhados e/ou pintados em folhas confeccionadas anteriormente pelos

alunos em sala, em Office7 verde, com a orientação da professora.

Estas folhas foram, posteriormente, entregues aos alunos na quantidade

desejada, para a confecção dos sonhos. O tronco, conforme previsto no projeto teria

que ser construído com materiais reutilizáveis, como, por exemplo, garrafas PET,

galhos de podas de árvore etc. No nosso caso, achamos melhor construir com papel

Office7 marrom. Devido ao fato de ter uma parede ao lado do muro das lamentações

que daria para expor os dois trabalhos simultaneamente. Feito com mesmo

entusiasmo e alegria, os alunos fizeram a montagem da árvore dos sonhos em uma

cortina de TNT em azul celeste, que além de destacar-se, trouxe uma paisagem

privilegiada vista de longe, onde todos que ali chegavam ficavam com a curiosidade

aguçada e impeliam-se a aproximar-se para descobrir o que era aquilo.

Figura 05 – Foto do painel da Árvore dos Sonhos.

Foto: Nilza Guerra, 2011

Oficina 3 - Temática

Esta oficina foi realizada para o aprofundamento das demandas mais

significativas da comunidade escolar. Tendo como foco a aplicação dos conceitos

assimilados por meio da prática da seleção do lixo doméstico. Conversamos com os

alunos e acolhemos as sugestões para montarmos a oficina temática. Depois de

muita discussão, chegamos à conclusão que uma palestra seria um fechamento

adequado para os trabalhos. A pessoa indicada a ser convidada foi a coordenadora

dos catadores de lixo que os receberam durante a visita ao aterro sanitário

municipal. Resolvemos a questão enviando um oficio aos órgãos competentes. No

dia determinado, montamos um espaço para a palestra e selecionamos além dos

alunos participantes do projeto, somente mais algumas outras salas, devido ao

espaço físico.

A palestra transcorreu normalmente, foram destacados alguns assuntos que

relatavam como era e como estava hoje o aterro sanitário, sobre a organização de

cooperativas, como deve ser feita a seleção do lixo doméstico, diferenciação dos

veículos para coleta, seus dias e horários, como é feita a seleção no aterro, os

resíduos de valor comercial, quais as empresas responsáveis para a coleta do lixo e

sua destinação. Outros pontos também foram destacados, como por exemplo, a falta

de conhecimento e respeito da sociedade, em relação ao funcionamento do aterro,

tratamento do chorume, entre outros. Os alunos gostaram e aprenderam muito com

as informações, questionamentos e respostas que obtiveram da palestrante, em

agradecimento, foi recíproco o respeito e admiração. A palestrante apresentou

desenvoltura, educação, respeito por eles e, acima de tudo, conhecimento prático,

que impressionou muito os alunos.

Uma gincana seria a última ação com o objetivo de arrecadar com a venda

dos materiais recicláveis o dinheiro para a compra de lixeiras padronizadas para a

coleta seletiva na escola. No entanto, os planos foram mudados, a gincana foi uma

atividade bem estruturada, mais contou com um imprevisto, o número de alunos era

pequeno e a quantidade de lixo acumulado em apenas três semanas (prazo

estipulado para a realização da gincana), não seria suficiente para arrecadar o

dinheiro destinado à compra das lixeiras. Então entrou novamente em ação o diretor

que pediu uma autorização especial à Secretaria de Educação para utilizar uma

verba do “Fundo rotativo” (como o projeto é voltado ao meio ambiente, foi

prontamente liberado) e então as lixeiras foram compradas, e também foi adquirido

um banner, fixado próximo às lixeiras.

Figura 06 – Foto da Lixeira conseguida para o Colégio Estadual de Jandaia do Sul.

Foto: Nilza Guerra, 2012

Figura 07 – Aluna usando corretamente a lixeira de coleta seletiva.

Foto: Nilza Guerra, 2012

Entendemos por coleta seletiva o recolhimento diferenciado de materiais

recicláveis, já separados nas fontes geradoras por catadores, sucateiros, entidades,

prefeituras etc., geralmente em dia e horários pré-determinados, com o intuito de

encaminhá-los para reuso, reciclagem, tratamento e outras destinações alternativas.

Portanto, não é a separação dos recicláveis ou a reciclagem de materiais em si, mas

sim a sua coleta diferenciada (SUDAN et al., 2007).

De acordo com Cinquetti e Logarezzi, (2006), a alternativa da coleta seletiva,

associa o descarte seletivo dos resíduos recicláveis secos (preservados, nesse ato,

como resíduo) a seu encaminhamento para a reciclagem, passando pela triagem e

pelo recondicionamento, na rota dos resíduos. Nesse caso, há o reaproveitamento

de insumos incorporados e diminuição dos impactos ambientais negativos da coleta

comum, na medida em que o resíduo da coleta seletiva deixa de compor o lixo da

coleta comum, diminuindo o volume que chega aos aterros ou lixos, e, assim, seus

problemas, custos etc. Além disso, essa rota também gera oportunidade de trabalho

e renda para populações excluídas do mercado de trabalho, o que é bastante

significativo. Incluem-se aqui as coletas seletivas, formal e informal

Figura 08 - Lixeiras com as diversas cores estabelecidas para cada tipo de resíduos sólido

coletado (Fonte: UTFPR MEDIANEIRA, 2011).

Os estudantes do segundo ano passaram a fazer a divulgação para os

demais alunos cumprindo assim, com muito êxito, o nosso objetivo. Assim,

chegaram à conclusão que nós somos responsáveis pelo meio ambiente, cada um

de nós, deve fazer a sua parte, por menor que seja, pois contará muito no final,

fazendo a diferença.

Quanto à gincana, a nossa escola realiza a cada dois anos uma grande

gincana com a participação de toda a comunidade escolar e a sociedade local, ficou

decidido então, que a coleta e venda dos materiais recicláveis, entraria como uma

das provas. Um projeto como este realizado na escola é de grande importância e

não deve cair em esquecimento, ou seja, o conhecimento e os hábitos adquiridos

com ele devem perdurar ao longo do tempo. No início do ano de 2012, os alunos

que participaram, agora no Terceiro Ano, tomaram a iniciativa de passar a

informação adiante aos que chegaram e reforçar aos que porventura esqueceram.

Para finalizar, fizemos uma exposição das fotos de todas as ações

desenvolvidas no projeto: “Seleção do lixo doméstico como prática ambiental

educativa”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tornou-se evidente a importância de encontrar meios de solucionar os

problemas da atualidade para que eles não se perpetuem no futuro, e para isto

torna-se indispensável que aprendamos a lutar por aquilo que é politicamente

correto. “A conscientização possibilita ao aluno inserir-se no processo histórico;

reconhecer que o homem faz a história e que é capaz de mudar o seu rumo”

(MAGALHÃES et al, 2005, p. 06). Assim podemos mudar o mundo para melhor se

cada um conscientizar-se de que tem que fazer a sua parte.

Pensar no futuro implica em cuidar do presente, e pensando nisso torna-se

fundamental que, para a correção de determinados fatores, deve-se interferir na

educação de quem está passando por este processo agora, ou seja, os jovens

escolares.

Ao final deste trabalho, evidenciamos a mudança atitudinal e

comprometimento na continuidade do processo por parte dos alunos, corpo docente

e comunidade envolvida. O trabalho trouxe resultados satisfatórios atendendo a

todas as expectativas. A integração entre Geografia, Biologia, Ecologia, Química

etc. presente no projeto, deu subsídio aos alunos para que eles pudessem olhar de

forma mais crítica para realidade e assim compreenderam o significado da cidadania

comprometida com um ambiente saudável.

REFERÊNCIAS

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