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A Suficiência Da Morte de Cristo Para Nossa Salvação, Por João Calvino

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Em mais este querido Sermão da série sobre a paixão e morte de nosso Senhor Jesus Cristo, Sr. Calvino considera as ricas misericórdias decorrentes da entrega de Jesus Cristo como sacrifício perfeito e suficiente a Deus Pai por nossos pecados; e docemente aponta a Cristo como o Descanso de todo Cristão, desde que Ele consumou tudo o que era necessário para a nossa salvação, que vem do SENHOR. ‘E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona. E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Este chama por Elias,E logo um deles, correndo, tomou uma esponja, e embebeu-a em vinagre, e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber. Os outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo. E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras; E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos. E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era o Filho de Deus’ (Mateus 27:45-54) ‘Assim, então, é como a nossa fé deve ser fixada em nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso, que conheçamos acima de tudo, quando Ele foi oferecido como um sacrifício isso foi para nos absolver para sempre e para nos santificar perpetuamente, como diz a Escritura. (Apocalipse 13:8) Que possamos, então, não ter outro sacrifício além deste. É verdade que, no Papado, essa abominação diabólica da missa é chamada de sacrifício diário; e eles dizem que Jesus Cristo certamente uma vez Se ofereceu como sacrifício para obter para nós a remissão de nossos pecados, mas que ainda é necessário que Ele seja oferecido diariamente, o que é blasfêmia plenamente manifesta, na medida em que usurpa o ofício que foi dado ao nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele foi ordenado único Sacrifício eterno, de fato, com um juramento que Deus jura que seria perpétuo. Quando, então, os homens mortais encarregam-se ainda de vir a apresentar e oferecer Jesus Cristo a Deus, será que eles não roubam a honra que Deus reserva para Si mesmo, e que não pode ser atribuída a qualquer criatura? Já que é assim, então, vemos como estes pobres cegos, supondo manterem a designação de Deus, provocam a Sua ira e Sua vingança, renunciando a morte e a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. E muito mais nos convém ampliar a graça de Deus, pela qual Ele nos retirou de tal abismo, que quando afirmamos nos aproximarmos dEle, é para desafia-lO abertamente. Pois, nos privamos dEle e do fruto de Sua morte e paixão quando buscamos outro sacrifício além daquele que Ele ofereceu em Sua pessoa.’ Creia no Senhor Jesus e seja salvo.Cristo seja louvado! Amém e Amém.

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A SUFICIÊNCIA DA MORTE DE

CRISTO PARA NOSSA SALVAÇÃO

JOÃO CALVINO

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Traduzido do Inglês

Um sermão em Mateus 27:45-54, por João Calvino

Via: Monergism.com

Tradução por Camila Almeida

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Fevereiro de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative

Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

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desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

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A Suficiência da Morte de Cristo Para Nossa Salvação

Por João Calvino

“E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona. E perto da

hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é,

Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam,

ouvindo isto, diziam: Este chama por Elias, e logo um deles, correndo, tomou uma

esponja, e embebeu-a em vinagre, e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber. Os

outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo. E Jesus, clamando

outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou

em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras; E abriram-se os

sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; E, saindo

dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e

apareceram a muitos. E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o

terremoto, e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram:

Verdadeiramente este era o Filho de Deus” (Mateus 27:45-54)

Vimos ontem que as zombarias e blasfêmias dos inimigos de Deus não impediram a morte

e a paixão de nosso Senhor Jesus de produzir e mostrar o Seu poder em meio a tanto des-

prezo e ingratidão do mundo. Por aqui vemos todos aqueles que eram de alguma reputação

e dignidade entre os judeus, que abertamente zombaram do Filho de Deus, mas isso não

O impediu de ter compaixão de um pobre ladrão e recebê-lo para a vida eterna; todavia, de

modo algum, é necessário que alguém obscureça ou diminua a glória do Filho de Deus. Se

é argumentado que um pobre ladrão não é de modo algum comparável com aqueles que

governam a Igreja, que eram mestres da lei; não é apropriado, quando falamos da salvação

que foi adquirida por nós através da bondade gratuita de Deus; para buscar excelência em

qualquer de nossas pessoas, antes devemos voltar para o que São Paulo diz:

“Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para

salvar os pecadores” (1 Timóteo 1:15).

Então, quando viermos a considerar o fruto da paixão e morte de nosso Senhor Jesus Cristo,

todos os homens têm que ser humilhados, e ali terão que ser encontradas neles apenas a

pobreza e vergonha, a fim de que Deus possa por este meio derramar sobre eles os tesou-

ros da Sua misericórdia, não tendo outra consideração para fornecer para nós, a não ser

na medida em que Ele vê que estamos laçados nas profundezas de todas as misérias. Des-

de então, esse ladrão era um homem desaprovado por todos, e Deus o chamou assim re-

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pentinamente, quando o nosso Senhor tornou eficaz a Sua morte e paixão que Ele sofreu

e suportou [...], isso deve muitíssimo nos confirmar. Isso não é em absoluto, então, uma

questão da demonstração de Deus como Ele estende a mão para aqueles que parecem

ser dignos dela e que têm algum mérito em si, ou que eram respeitáveis e de boa reputação

entre os homens, mas quando Ele retira pobres almas condenadas das profundezas do in-

ferno, quando Ele se compadece daqueles de quem toda a esperança de vida havia sido

perdida, aqui é onde a Sua bondade resplandece. Isso também é o que deve nos dar a en-

trada para a salvação. Pois os hipócritas, embora professem ser de alguma forma limitados

pela graça de Deus, mas fecham a porta contra si mesmos, por sua arrogância. Pois eles

são tão inflados com orgulho que não podem conformar-se ao nosso Senhor Jesus Cristo.

Então, primeiro, nós podemos estar muito certos de que Jesus Cristo chama a Si mesmo

os miseráveis pecadores que têm apenas confusão em suas pessoas, e que Ele estende

os braços para recebê-los. Porque, se não temos certeza, nunca seremos capazes de tomar

coragem para vir a Ele. Mas quando nós estamos bem convencidos de que é para aqueles

que são os mais miseráveis que Ele envia a salvação que Ele adquiriu, desde que eles se

reconheçam como tais, e se humilhem, e estejam completamente confundidos, fazendo-se

censuráveis (como eles de fato o são), perante o julgamento de Deus; é assim que devemos

ser assegurados, é assim que teremos fácil participação na justiça que aqui nos é oferecida,

e pela qual nós obtemos a graça e favor diante de Deus.

Ao que se diz, “E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona”; em

nossa língua comum diríamos das doze horas até às quinze horas. Mas o escritor do Evan-

gelho seguiu a maneira comum de falar daquele tempo. Pois, quando diz a terceira hora,

não está querendo dizer três horas, mas que essa é a primeira parte do dia. Em resumo,

há aqui duas coisas a observar. Uma delas é que eles contavam as horas de forma diferente

do que fazemos hoje, pois eles contavam o dia de sol a sol, e havia as doze horas do dia,

ao passo que nós medimos o dia por 24 horas, calculando a partir da meia-noite à meia-

noite seguinte. Os relógios tiveram que ser feitos de forma diferente, de modo que as horas

eram mais longas no verão do que no inverno, e de acordo com isso os dias eram mais lon-

gos ou mais curtos, por isso, as horas eram longas ou curtas. O outro ponto é que eles divi-

diam o dia em quatro quartos de três horas, e cada parte foi nomeada pela primeira hora

do quarto. Então, desde o raiar do sol até à segunda parte do dia foi chamado de a primeira

hora. A segunda parte do dia começava às nove horas e se estendia até ao meio-dia, esta

era por eles chamada de a terceira hora. E a hora sexta, começava a partir do meio dia e

ia até às quinze horas. A última, durava até o pôr do sol e o dia estava terminado. É por

isso que é dito por um dos escritores do Evangelho que Jesus Cristo foi crucificado por volta

da terceira hora. E aqui é dito que isto aconteceu na sexta hora. O escritor do Evangelho

quis dizer que a partir da sexta hora até a hora nona, houve trevas. Pois nosso Senhor

Jesus foi crucificado entre às nove horas e meio dia, Ele havia sido condenado acerca de

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nove horas por Pilatos. E São Marcos que dizer o fim da terceira hora, não o começo,

quando ele descreveu o tempo em que Jesus Cristo foi levado ao Gólgota. Agora, Ele ficou

na cruz até a hora nona, quando já o final do dia estava se aproximando. Por isso, é mais

provável que o nosso Senhor Jesus não permaneceu em agonia na cruz por mais de três

horas.

Durante esse tempo, é dito que houve trevas sobre toda a terra, isto é, a Judéia. Pois o

eclipse não foi geral por todo o mundo. Na verdade, isto teria obscurecido o milagre que

Deus quis mostrar. Porque eles, então, poderiam ter atribuído este eclipse às forças da na-

tureza. Por outro lado, não há muitas pessoas que falaram dele no sentido de que isso a-

conteceu em outros países. Na verdade, aqueles que fazem menção disso são justamente

conjecturados. Mas eis que a terra da Judéia é que foi coberta pela escuridão. E a que ho-

ras? Por cerca de três horas depois do meio-dia, quando o sol ainda não estava prestes a

se por, como se costuma dizer. Mas, para além das forças comuns da natureza devia haver

escuridão para causar medo e espanto a todos. Muitos consideram que isso foi feito, como

sinal de repulsa, como se Deus quisesse chamar os judeus a prestarem contas, a fim de

que eles pudessem ter algum sentimento em relação ao crime tão hediondo que eles havi-

am cometido, e como se Ele significasse para eles por este sinal visível que até mesmo to-

das as criaturas deveriam, como que esconderem-se de uma coisa tão horrível, quando

Jesus Cristo foi, assim, entregue à morte. Mas temos que observar que de uma maneira a

morte de nosso Senhor Jesus Cristo teve que ser realizada como um crime terrível, isto é,

no que diz respeito aos judeus. Deus detestou também sua iniquidade e demasiada vilania,

pois estas superaram a todos os outros. Na verdade, se nós odiamos o assassinato e essas

coisas, o que isso será quando chegamos à pessoa do Filho de Deus? Em relação a Quem

os homens foram tão loucos a ponto de quererem aniquilar Aquele que era a Fonte da Vida,

de modo que eles se levantaram para destruir a memória dAquele por Quem fomos criados,

e no poder de Quem nós subsistimos!

No entanto, a morte de nosso Senhor Jesus não permaneceu meramente como um sacrifí-

cio de cheiro suave. Pois devemos sempre lembrar que [esta ocorreu para] a reconciliação

do mundo, como já declarado anteriormente. Além disso, a escuridão veio a fim de que o

sol desse testemunho da majestade Divina e celestial de nosso Senhor Jesus. Embora,

então, por esse minuto Ele não foi apenas humilhado e se tornou desprezível diante dos

homens, até mesmo esvaziando-Se de tudo, como diz São Paulo; ainda assim, mesmo o

sol O homenageia, e como um sinal disso ele permaneceu escondido. Já que é assim, en-

tão, saibamos que Deus, para tornar o perverso ainda mais indesculpável, quis que Jesus

Cristo em Sua morte fosse declarado Rei soberano de todas as criaturas, e que este triunfo

do qual fala São Paulo no segundo capítulo de Colossenses já começou, quando ele diz

que Jesus Cristo triunfou na cruz (Colossenses 2:14-15). É verdade que Ele aplica isso ao

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fato de que Ele riscou a cédula que nos era contrária, e que Ele nos absolveu diante de

Deus, e por causa disso Satanás foi derrotado; o que foi mostrado por este eclipse do sol.

No entanto, os judeus estavam convencidos de sua ignorância, mesmo de sua ignorância

maliciosa e fanática, como se tivesse sido visto com seus olhos que Satanás os possuía, e

que eles haviam, por assim dizer, se tornado monstros contrários à natureza. Isso, em resu-

mo, é o que temos que lembrar quando se fala da escuridão que ocorreu.

É verdade que hoje estamos iluminados pela morte e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo.

Pois, como é que o Evangelho nos mostra o caminho para a salvação? Como somos ilumi-

nados para chegar a Deus, a não ser uma vez que o Filho de Deus nos é apresentado com

o fruto e do poder da Sua morte? Jesus Cristo é realmente o Sol da Justiça, porque Ele ad-

quiriu para nós a vida, por Sua morte. Mas os judeus foram privados de tal benefício. E, em

que o sol foi obscurecido, eles foram convencidos que de todas as pessoas, eles eram re-

provados, e a doutrina não mais lhes seria proveitosa, nem lhes seria útil para a salvação,

uma vez que por sua malícia haviam tentado extinguir e abolir tudo o que podia dar-lhes

esperança, pois esta esperança estava inteiramente na Pessoa do Mediador, a quem

tentaram destruir por sua malícia e ingratidão. Era certo, então, que eles estavam completa-

mente destituídos de toda a luz da salvação, a fim de que a ira de Deus se declarasse de

forma visível sobre eles.

Segue-se que o nosso Senhor Jesus clamou, dizendo: “Deus meu, Deus meu, por que me

desamparaste?”. São Mateus e São Marcos recitam em língua Siríaca estas palavras de

nosso Senhor Jesus, que são extraídas de Salmo 22. E as palavras não são assim pronun-

ciadas por todos os escritores dos Evangelhos como o texto do Salmo apresenta. Mesmo

nesta palavra “Eli”, que é “Meu Deus”, vemos que São Marcos diz: “Eloí” (Marcos 15:34).

Mas isso é uma distorção da linguagem, como vimos antes; pois os judeus que retornaram

da Babilônia nunca tiveram uma língua totalmente pura, como antes. Ademais esta excla-

mação é tirada do Salmo 22:1. Deus quis especialmente que isto fosse recitado em duas

línguas, para mostrar que era algo importante, e para o qual devemos atentar. Na verdade,

a menos que queiramos imaginar (como fazem muitas pessoas irracionais) que o nosso

Senhor Jesus falou de acordo com a opinião de homens e não de acordo com Seu sentido

e Seu sentimento, nós certamente devemos ser movidos por isto, e os nossos sentidos

devem maravilharem-se, quando Jesus Cristo queixa-se de ser desamparado e abandona-

do por Deus Seu Pai. Pois é uma coisa muito sem graça e muito tola, dizer que o nosso

Senhor Jesus não foi de todo tocado com a angústia e ansiedade em Seu coração, mas

que Ele houvesse simplesmente dito: “Eles dizem que estou abandonado”. Isso mostra que

aqueles que olham para tais glosas, não são apenas ignorantes, mas são totalmente zom-

badores. Além disso, eles nunca deixam de blasfemar, como cães mastim, contra Deus. E

todos aqueles que falam assim, é certo que eles não têm mais religião do que os cães e os

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animais irracionais, pois eles não sabem o quanto a sua salvação custou ao Filho de Deus.

E o que é pior, eles zombam dEle apenas como os vilões que são.

Então, temos que manter como um fato conclusivo que o nosso Senhor Jesus, que está

sendo trazido para tal extremo e angústia, clamou com grande voz: (sim, como aqueles que

são atormentados ao extremo), “Deus meu, Deus meu, por que que me desamparaste?”

Na verdade, nós já dissemos que seria uma declaração fria a partir da história de Sua morte,

se não considerarmos a obediência que Ele prestou a Deus, o Pai. Esta, então, é a principal

coisa que temos que considerar se quisermos ter certeza de nossa salvação. É que, se co-

metemos muitas faltas e rebeliões e iniquidades contra Deus, tudo isso será enterrado, na

medida em que o nosso Senhor Jesus por Sua obediência nos justificou e nos tornou acei-

táveis a Deus, Seu Pai. Agora esta obediência, no que consiste, a menos que Jesus Cristo,

embora a morte fora difícil e terrível a Ele, ainda assim, não recusou estar sujeito a ela?

Pois se Ele não tivesse experimentado nisto nenhuma dificuldade ou contradição, isto não

teria sido obediência. Mas, apesar de que nosso Senhor Jesus, por natureza, morreu em

horror, de fato foi um fardo terrível para Ele o ser encontrado diante do tribunal de Deus,

em nome [...] dos miseráveis pecadores (pois Ele estava ali, como se tivesse que sustentar

todos os nossos fardos), no entanto, Ele não deixou de humilhar-Se a tal condenação por

nossa causa, nós sabemos que houve nEle uma obediência perfeita, e nisto nós temos

boas razões para glorificá-lO, como diz o Apóstolo na Epístola aos Hebreus,

“Nosso Senhor Jesus foi ouvido quanto ao que temia” (Hebreus 5:7).

Embora isto tenha sido assim, ainda que Ele teve que suportar algo tão duro e penoso, de

fato, totalmente contrário a todo o afeto humano, isto era necessário, pois:

“Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hebreus 5:8).

Vemos, então, o Apóstolo, que especifica particularmente que o nosso Senhor Jesus teve

que ser assombrado pelo medo; pois, sem isto nós não saberíamos quão precioso foi esse

sacrifício pelo qual fomos reconciliados. Na verdade, São Pedro também mostra que o nos-

so Senhor Jesus sofreu não só em Seu corpo, mas na alma, quando Ele diz que Ele lutou

contra as dores da morte.

É verdade que a Escritura muitas vezes diz que nós somos redimidos pelo sangue de Jesus

Cristo, na medida em que Ele ofereceu Seu corpo como um sacrifício. É também por isso

que se diz que a Sua carne é para nós comida e Seu sangue é para nós bebida espiritual.

Mas isso é dito concernente à nossa insensatez. Porque somos rudes, o Espírito Santo nos

traz de volta ao que é visível na morte de Jesus Cristo, a fim de que possamos ter uma cer-

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teza absoluta do penhor de nossa salvação. No entanto, não devemos rejeitar o que é mos-

trado em todas as outras passagens, para não invalidarmos o fato de que a morte e a paixão

de nosso Senhor Jesus não serviriam para tirar as iniquidades do mundo, exceto na medida

em que Ele obedeceu verdadeiramente humilhando-Se até uma morte assustadora. E Ele

obedeceu, e não em tudo o que Seus sentidos foram levados, mas, apesar de que Ele tives-

se que sofrer terrores e extremos terrores, ainda assim Ele colocou a nossa salvação acima

de qualquer outra consideração. Isso, então, é o que temos que observar nesta passagem,

isto é, que o Filho de Deus não somente suportou em Seu corpo uma morte tão cruel, mas

que Ele foi comovido imediatamente, tendo que suportar terríveis assombros como se Deus

O tivesse abandonado. Pois, na verdade, Ele também sofreu por nossa causa, e teve que

experimentar a condenação que era devida aos pobres pecadores.

Por nossos pecados nós estamos, por assim dizer, alienados de Deus, e Ele deve apartar-

Se de nós, e nós temos que saber que Ele tem, por assim dizer, nos rejeitado. Essa é a coi-

sa certa para os pecadores. É certo que Jesus Cristo nunca foi rejeitado por Deus, Seu Pai.

No entanto, Ele teve de sofrer essas angústias e Ele teve que lutar bravamente para repeli-

las, a fim de que hoje o fruto da vitória pudesse ser nosso. Portanto, devemos lembrar que,

quando o Senhor Jesus foi colocado em tal situação, como se Deus Seu Pai tivesse tirado

dEle toda a esperança de vida, na medida em que Ele estava ali em nossa pessoa, supor-

tando a maldição de nossos pecados que nos separavam de Deus. Pois onde repousa a

nossa felicidade, a não ser no fato de que somos vivificados pela graça de Deus e ilumi-

nados pela Sua luz? Ele é a fonte da vida e de todo o bem, e os nossos pecados colocam,

por assim dizer, uma longa distância entre Ele e nós. Jesus Cristo, então, teve que experi-

mentar isso. Vejamos agora o que alguém poderia dizer. “É possível que Jesus Cristo tenha

experimentado esses terrores, uma vez que nEle há somente perfeição completa? Pois

parece que isso afasta a fé de que Ele deveria ter e de tudo o que nós devemos crer sobre

Ele. Isto é, Ele era totalmente imaculado. Ora, a resposta para isso é muito fácil, pois quan-

do Ele foi tentado por Satanás, é certo que Ele tinha que ter essa apreensão de que Ele

estava, por assim dizer, em cima de uma torre e que Ele estava sujeito a tal ilusão de acordo

com a Sua natureza humana. No entanto, isso não tirou nada de Seu poder Divino. Em vez

disso, temos a oportunidade de magnificar Sua bondade para conosco, na medida em que

Ele assim humilhou-se a Si mesmo por nossa salvação.

Agora, é dito que clamou: “Deus meu, por que me desamparaste?”. Em primeiro lugar, é

muito certo que Jesus Cristo, na medida em que Ele era Deus, não poderia ter tal apreen-

são. Não, não. Mas quando Ele sofria, Sua Divindade teve que dar lugar à Sua morte e pai-

xão, as quais Ele teve que suportar. Isso, então, é o poder de nosso Senhor Jesus que foi

mantido, por assim dizer, oculto por um tempo, até que Ele tivesse obtido tudo o que era

necessário para a nossa redenção. Ainda de acordo com o homem, notemos que esta quei-

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xa, e esse sentimento de terror dos quais falamos agora, de maneira nenhuma prejudicaram

a fé de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois uma vez que Ele era homem Ele tinha toda a Sua

confiança em Deus, como já vimos, e ontem isso foi suficientemente tratado. Isto foi então

um o verdadeiro padrão de verdade, perfeição e inteira confiança. Diz-se agora que Ele

estava em tal angústia que Ele parecia estar abandonado por Deus, Seu Pai. No entanto

Sua fé sempre foi perfeita, não foi nem abatida nem abalada de qualquer forma que seja.

Como, então, Ele diz: “Por que me desamparaste?”. Isso foi por apreensão natural. Eis, en-

tão, o nosso Senhor Jesus Cristo, que de acordo com a fraqueza da Sua carne, foi, por as-

sim dizer, abandonado por Deus, e ainda assim não deixou de confiar nEle. Como, de fato,

vemos duas partes nestas palavras que são superficialmente contrárias, ainda que, de fato,

concordem muito bem. Quando Ele diz: “Deus meu, Deus meu”, e Ele repete a palavra de

tal forma a demonstrar a constância de Sua fé. Ele não diz: “Onde está Deus? Como é que

Ele pode ter me deixado?”, Mas se dirige a Ele. Ele devia estar inteiramente persuadido e

certo de que Ele sempre encontraria acesso favorável, a Deus Seu Pai. Eis aqui (digo eu)

um certo e infalível testemunho da fé de nosso Senhor Jesus Cristo. Quando no meio da

calamidade e angústia em que Ele se encontrava, Ele não deixou de clamar a Deus seu

Pai, e não de forma presunçosa, mas porque Ele estava certo de que iria encontrá-lO propí-

cio ao invoca-lO. Eis no que (digo eu) a fé de nosso Senhor Jesus Cristo é suficientemente

declarada. No entanto, Ele repete a palavra, porque esta luta é difícil, como se Ele desa-

fiasse todas as tentações que Satanás preparou para Ele, e Ele procurou a confirmação da

fé para que Ele pudesse sempre persistir clamando a Deus.

Agora Ele disse ainda: “Por que me desamparaste?”, Claro que isto estava de acordo com

o que Ele poderia conceber como homem. Porque Ele deveria passar por esta experiência,

sem, contudo, ser vencido por ela. Pois São Pedro diz:

“Soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela” (Atos 2:24).

Ou seja, que Ele fosse apreendido como um homem pobre que foi totalmente entregue e

esmagado, “Era impossível”, diz São Pedro. E assim, a vitória estava no meio da luta. E is-

so é para glorificar ainda mais o nosso Senhor Jesus Cristo. Davi tinha experimentado isso

em parte. Pois é certo que, no meio de suas aflições, por maiores que fossem, ele insistiu

em clamar a Deus, de fato esperando nEle. Mas desde que ele era um homem frágil, a sua

fé foi abalada, muitas vezes, como ele confessa. Mas em nosso Senhor Jesus, houve uma

consideração especial (que foi tratada no último Dia do Senhor), isto é, que Ele tinha todas

as Suas emoções bem controladas, por causa da integridade que havia nEle e por que não

havia nEle nenhuma corrupção natural. Como às vezes acontecerá conosco que nossas

dores prosseguirão a partir de um motivo justo, na verdade, os nossos medos e nossas an-

siedades. Mas, mesmo assim sempre haverá vícios misturados nisso, uma vez que a cor-

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rupção está em todas as nossas paixões. Mas em nosso Senhor Jesus não havia nada de

problemático ou desordenado. Segue-se, então, que Ele não estava tão tomado de angus-

tia, que Ele sempre teve sua esperança posta corretamente em Deus, que Ele clamou ape-

nas por Ele e permaneceu firme e constante nisso, sabendo muito bem que Ele seria o

Salvador até o fim.

Ao que se diz que alguns dos que estavam perto dEle O zombavam. “Ele chama por Elias,

deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo”. Alguém supôs que os guardas, como ignorantes da

Lei, falaram assim. Mas isso é muito abuso e tolice, pois eles não sabiam quem era Elias.

Não há dúvida, portanto, que esta blasfêmia foi pronunciada por nenhuns outros além dos

sacerdotes que eram versados na Lei. E eles mesmos não estavam enganados no que

Jesus disse? Nem um pouco. Pois o profeta a quem chamavam de Elias não é assim pro-

nunciado. O nome, então, não os havia enganado. Pois não há dúvida implícita, uma vez

que a palavra “Elias” é pronunciada de forma completamente diferente da palavra “Eli”, isto

é, “Meu Deus”. Isso não pode causar qualquer ambiguidade. Isso ocorreu, então, por certa

malícia e ousadia por meio da acusação de que “Ele chama Elias” fora colocada sobre o

nosso Senhor Jesus Cristo. E se nós achamos isso estranho, quisera Deus que não hou-

vesse tais exemplos hoje. Pois alguém verá hoje os papistas que pervertem e depravam,

por meio de suas calúnias, o que nós ensinamos, isto é, o que é extraído da pura verdade

de Deus, e eles conscientemente blasfemam para tornar nossa doutrina odiosa para muitas

pessoas ignorantes e pessoas que não ouvem o que pregamos todos os dias. Eles depra-

vam, então, falsamente aquilo que dizemos e o levam totalmente para o lado errado, a fim

de dar plausibilidade à sua mentira e entreter as pobres pessoas ignorantes com isso. É

assim foi que os inimigos de Deus, possuídos por Satanás, perverteram por malícia as pala-

vras de nosso Senhor Jesus Cristo, e hoje entre os papistas se vê a mesma coisa. E isso

não apenas é percebido no Papado, mas mesmo entre nós há beligerantes que dirão que

queremos fazer crer que Jesus Cristo foi desprovido de toda a esperança quando vemos

que Ele sofreu a angústia da morte, como se Ele tivesse sido lançado para as profundezas,

na medida em que Ele estava ali em nosso nome e Ele sofreu o peso de nossos pecados.

Mas isso de maneira alguma tira a constância da Sua fé, que esta possa não ter perma-

necido sempre em sua totalidade. E esses tratantes que fazem profissão do Evangelho,

nunca deixam de blasfemar com conhecimento de causa, por que eles mostram que eles

são piores do que aqueles de quem se fala aqui. Havendo, pois, o diabo hoje aguçado as

línguas dos seus agentes, e que cada um por tal atrevimento brutal trata de vomitar seu

veneno contra a pureza da doutrina, não achemos estranho que o nosso Senhor Jesus

tenha sido caluniado assim. Mas podemos suportar com paciência essas blasfêmias, oran-

do a Deus (como se diz no décimo segundo Salmo) para que Ele possa destruir essas lín-

guas lisonjeiras (Salmos 12:3), que são tão cheias de vilania e de execração, e as quais

tendem a blasfemar do Seu Nome e obscurecer a Sua verdade.

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Diante disso, os registros do escritor do Evangelho dizem que havia ali um vaso cheio de

vinagre (de fato, como já vimos, que foi misturado com fel), e que eles levaram uma cana,

ou melhor, (como diz São João) um hissopo, a fim ter uma longa vara, e no fim de tudo isso

eles colocaram uma esponja para fazê-la chegar à boca do nosso Senhor Jesus. São João

fala aqui mais claramente, pois ele diz que Jesus Cristo, sabendo que todas as coisas foram

cumpridas, disse que ele estava com sede, e por isso Ele declarou mais uma vez “Está con-

sumado”. Isso, então, é o que temos que observar aqui, quando esta bebida foi dada ao

Filho de Deus, a saber, que Ele não pediu para beber porque Ele estava com sede, pois

Ele se recusou, como já vimos acima. Então, por quê? Por que esta bebida foi dada a fim

de encurtar a vida. Ora, nosso Senhor Jesus desejou em tudo e por tudo esperar pela hora

de Deus Seu Pai em paciência e descanso. Isso, então, é o motivo pelo que Ele não queria

apressar a Sua morte, mas tornara-Se pacífico e obediente, até que tudo fosse cumprido

— embora, de fato, Ele ainda não houvesse entregado o espírito e nem ressuscitado dentre

os mortos. Pois Ele quer dizer que até esta hora Ele tinha mostrado uma obediência com-

pleta, de modo que nada agora O impedia de entregar a Sua alma a Deus, Seu Pai. Isso,

então, é como devemos abordar esta passagem: É que o nosso Senhor Jesus declarou

que nada mais faltava para a nossa redenção, exceto o afastar-Se do mundo, o que Ele es-

tava pronto e preparado para fazer, e entregar a Sua alma a Deus. Vendo, então, que Ele

mesmo havia cumprido todo o Seu dever como Mediador, e que Ele havia feito tudo o que

era necessário para apaziguar a ira de Deus em relação a nós, e que a satisfação pelos

nossos pecados fora cumprida, Ele estava disposto a pedir por esta bebida.

Agora temos aqui uma frase muito notável e excelente, quando se diz: “Está consumado”.

Pois é certo que o Senhor Jesus não fala em absoluto de quaisquer coisas pequenas ou

comuns. Mas Ele intenciona que pela Sua morte, temos tudo o que precisamos para ter

acesso a Deus e obter a graça dEle. Não que Sua ressurreição seja excluída por isso, mas

é como se Ele dissesse que Ele realizou Seu ofício fielmente, e que Ele não veio a ser um

Salvador parcial, mas que até o último momento Ele executou o fardo que Lhe fora comis-

sionado, e que Ele não havia omitido nada de acordo com a vontade de Deus, Seu Pai.

Desde que é assim, nós somos instruídos a fixar totalmente a nossa confiança em nosso

Senhor Jesus Cristo, sabendo que todas as partes da nossa salvação são cumpridas no

que Ele fez e sofreu por amor a nós. É também por isso que a Sua morte é chamada de

sacrifício perpétuo, pelo qual os crentes e os eleitos de Deus são santificados. Não que-

remos, então, ter certeza de que Deus é um Pai para nós? Não queremos ter liberdade de

clamar por Ele? Não queremos ter descanso em nossas consciências? Não queremos ser

mais totalmente seguros de que somos considerados justos, a fim de sermos aceitáveis a

Deus? Permaneçamos em Jesus Cristo e não andemos aqui ou ali, e reconheçamos que é

nEle que repousa toda a perfeição. Aqueles, pois, que desejam outros adereços, e quem

olham de um lado para o outro para suprir o que deve faltar na morte e paixão de nosso

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Senhor Jesus Cristo, renunciam inteiramente o poder de que estamos falando agora. Resu-

midamente eles pisoteiam o sangue de Jesus Cristo, pois eles O desonram. Agora, em todo

o Papado, o que há ali exceto a renúncia da morte e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo?

Por que eles pensam em fazer boas obras, porque eles as chamam de méritos, pelo que

eles confiam adquirir graça diante de Deus, é certo que eles repudiam o que foi declarado

por nosso Senhor Jesus Cristo: “Está consumado”. E uma vez que é assim, quando eles

pensam obter a salvação diante de Deus, e eles desejam ter a remissão dos seus pecados,

para onde vão, a não ser para as suas tolas devoções? Pois cada um realizará o seu peque-

no dever em seu posto, de modo que todas as chamadas devoções no Papado tanto blasfe-

mam quanto anulam o que foi pronunciado quando o nosso Senhor Jesus disse: “Está con-

sumado”. O que se segue, então? Que saibamos que não há uma única partícula de virtude

ou mérito em nós, a menos que nos apossemos desta Fonte onde está toda a plenitude

dos méritos.

Assim, então, é como a nossa fé deve ser fixada em nosso Senhor Jesus Cristo. Além dis-

so, que conheçamos acima de tudo, quando Ele foi oferecido como um sacrifício isso foi

para nos absolver para sempre e para nos santificar perpetuamente, como diz a Escritura

(Apocalipse 13:8). Que possamos, então, não ter outro sacrifício além deste. É verdade

que, no Papado, essa abominação diabólica da missa é chamada de sacrifício diário; e eles

dizem que Jesus Cristo certamente uma vez Se ofereceu como sacrifício para obter para

nós a remissão de nossos pecados, mas que ainda é necessário que Ele seja oferecido di-

ariamente, o que é blasfêmia plenamente manifesta, na medida em que usurpa o ofício que

foi dado ao nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele foi ordenado único Sacrifício eterno, de

fato, com um juramento que Deus jura que seria perpétuo. Quando, então, os homens mor-

tais encarregam-se ainda de vir a apresentar e oferecer Jesus Cristo a Deus, será que eles

não roubam a honra que Deus reserva para Si mesmo, e que não pode ser atribuída a

qualquer criatura? Já que é assim, então, vemos como estes pobres cegos, supondo man-

terem a designação de Deus, provocam a Sua ira e Sua vingança, renunciando a morte e

a paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. E muito mais nos convém ampliar a graça de Deus,

pela qual Ele nos retirou de tal abismo, que quando afirmamos nos aproximarmos dEle, é

para desafiá-lO abertamente. Pois, nos privamos dEle e do fruto de Sua morte e paixão

quando buscamos outro sacrifício além daquele que Ele ofereceu em Sua pessoa. Isso,

então, é o que temos que lembrar.

Agora é dito: “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito”. E este grito

foi: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” [Lucas 23:46]. Nisto nós vemos como o

nosso Senhor Jesus Cristo tanto lutou contra as dores da morte, e que a partir de então Ele

foi vencedor sobre ela e Ele poderia ganhar Seus triunfos como tendo superado o que era

o mais difícil. E isso diz respeito a nós, ou seja, devemos aplicá-lo para o nosso uso. Pois

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temos a certeza não somente que o Filho de Deus lutou por nós, mas que a vitória que Ele

adquiriu para nós nos pertence, e que hoje não devemos estar em qualquer juízo assus-

tados com a morte, sabendo que a maldição de Deus, que era terrível para nós, é abolida,

e que a morte, em vez de ser capaz de ferir-nos como uma praga fatal, nos serve como

remédio para nos dar passagem para a vida. Agora, como anteriormente com o exemplo

de Davi, Ele disse:

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Salmo 22:1)

Assim, agora, Ele toma a oração feita por Davi, no trigésimo primeiro Salmo,

“Nas tuas mãos encomendo o meu espírito” (Salmo 31:5).

É verdade que Davi disse isso estando em meio a perigos. Como se ele dissesse: “Senhor,

sustenta-me na Tua proteção; pois a minha alma é como se estivesse entre as minhas

mãos; ela está ali como que trêmula. Pois eu me vejo exposto a todos os perigos; minha

vida é como se estivesse pendurada em um fio. Ela não permanecerá, então, a menos que

Tu me tomes em Tua proteção”. É assim que Davi, por esta oração, constituiu a Deus como

o seu protetor. No entanto, ele não a usa para clamar a Deus até [chegar o momento de

Sua] própria morte, e para ter certeza de que Deus sempre é o Salvador dos Seus eleitos,

não somente ao mantê-los e guardá-los neste mundo, mas também quando Ele os toma

para Si mesmo. Pois, a principal proteção que Deus mantém sobre nós é que, sendo retira-

dos deste mundo, somos escondidos debaixo das Suas asas para nos alegrarmos em Sua

presença, como São Paulo fala disto em 2 Coríntios 4:3. E o nosso Senhor Jesus também

pronunciando esta oração declara que Ele morre pacificamente, tendo conquistado em to-

dos os combates o que Ele teve de sustentar para nós, e já alcança Seus triunfos em nosso

nome e para nosso proveito e salvação. Ele declara totalmente por este mesmo meio que

Deus é o Seu Salvador e que Ele guarda a Sua alma com uma firme confiança. A isso é

que implica este pedido que Ele faz a Ele, quando Ele diz: “Meu Deus, sê Tu o guardião da

Minha alma, mesmo após a morte”.

Quando nosso Senhor Jesus fala assim, é como se Ele assegurasse a nós todos que não

podemos deixar de nos comprometer com o nosso Deus, pois Ele certamente condescende

em se encarregar conosco, a fim de sustentar-nos, e que nós jamais pereceremos, estando

assim sob a Sua mão. Agora, especialmente devemos notar que Jesus Cristo ao dizer:

“Meu Deus, nas tuas mãos encomendo o meu espírito”, adquiriu o privilégio que é atribuído

a Ele por São Estevão em Atos 7. Isso é que Ele foi constituído Guardião de todas as nos-

sas almas. Pois como é que são Estêvão fala em sua morte?

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“Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (Atos 7:59).

Assim, então, é como são Estevão mostra o fruto desse pedido que foi feito por Jesus

Cristo: a saber, que agora podemos nos dirigir a Ele, e devemos fazê-lo, declarando que

uma vez que Ele nos foi dado como Pastor por Deus Pai, nós não precisamos ter dúvidas,

mas, sim, estarmos em paz, tanto na vida como na morte, sabendo que tudo nos beneficiará

e será voltado para nosso proveito. Como diz são Paulo, que com Jesus Cristo, ele encon-

trará ganho em tudo, que ele não carecerá de nada na vida ou na morte, pois tudo será útil

para ele (Filipenses 1:20-24).

Então, aprendamos agora, quando formos assediados pela morte, que Jesus Cristo tirou o

ferrão que poderia nos ferir fatalmente no coração, e que a morte não será mais prejudicial

para nós, e que quando o nosso Senhor Jesus entregou a Sua alma a Deus, Seu Pai, isso

não foi apenas para ser preservado em Sua Pessoa, mas, a fim de adquirir esse privilégio

que é inteiramente preservado para nós em virtude deste pedido; na verdade, quando nós

teremos os nossos recursos nEle, como Aquele sob a proteção de Quem não podemos

perecer, pois Ele o declara. Há ainda este triunfo do que fizemos menção, que já nos bene-

ficia. Pois nosso Senhor Jesus mostra quão preciosa é a Sua morte, quando Ele parte com

tanta confiança para Deus, Seu Pai, para nos conduzir a Ele e para nos mostrar o caminho

para Ele. Mas a coisa principal é que podemos saber que o fruto disso vem até nós, na

medida em que Ele riscou a cédula que nos era contrária, enquanto Ele adquiriu para nós

a plena satisfação pelos nossos pecados, para que possamos comparecer diante de Deus,

Seu Pai, de tal forma que até mesmo a morte já não mais fará qualquer mal ou dano a nós.

Embora ainda vemos em nós muitas coisas que podem nos assombrar, e nós experimen-

tamos a nossa pobreza e miséria, ainda assim, não deixemos de nos gloriar nAquele que

foi assim humilhado por nós, a fim de elevar-nos com Ele.

Na verdade, embora do lado humano só exista a completa vergonha, no entanto, quando

Jesus Cristo foi pendurado ali na cruz, Deus já desejava naquele momento, pela boca de

Pilatos que Ele fosse declarado Rei. Assim, embora o reino de nosso Senhor Jesus Cristo

seja difamado perante o mundo, nós não podemos, contudo, deixar de mantê-lo como a

base de toda a nossa glória, e que possamos saber que estando em opróbrio sob Sua dire-

ção, temos, no entanto, do que nos alegrar; posto que a que a nossa condição sempre será

abençoada, porque todas as misérias, aflições e ignomínias que nós suportamos são mais

honrosas e preciosas diante de Deus do que são todos os cetros, toda a pompa e coisas

honrosas, com que os homens estão viciados. Isso, então, é como devemos chegar ao

nosso Senhor Jesus Cristo, e nos apegar de tal modo a Ele que possamos conhecer que a

riqueza que Ele traz para nós é preciosa, e acima de tudo, quando Ele nos conduz por Seu

Evangelho, que nós possamos rejeitar todas as conveniências e confortos deste mundo; de

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fato, que os mantenhamos em ódio quando eles nos desviam do bom caminho. Resumida-

mente, que o nosso Senhor Jesus obtenha a honra que Ele merece, e de nossa parte que

não sejamos como canas agitadas por cada vento, mas que estejamos fundamentados

nEle, que clamemos a Deus, e na vida e na morte que a vitória seja dada a nós visto que

Ele já triunfou. E enquanto nós ainda estamos aqui abaixo que possamos dar-Lhe honra ao

reconhecer que é Ele Quem nos sustenta. Isto é o que Ele fará quando realmente tivermos

o nosso refúgio nEle: Ele fará isso, eu digo, não de uma forma comum, mas milagrosamen-

te. Pois, quando formos lançados até o fundo do abismo da morte, é o Seu ofício retirar-

nos dali e nos levar à herança celestial que Ele adquiriu com tanta afeição para nós.

Agora, prostremo-nos em reverência humilde diante da majestade do nosso Deus.

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use este sermão para trazer muitos

Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

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Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

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Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.