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A teoria dos paradigmas e das revoluções de Thomas Kuhn Despois do fiasco epistemológico do neopositivismo, ao tentar estabelecer como base do conhecimento científico a observação, e de Karl Popper abandonar o circulo de Viena, formulando posteriormente o falsificacionismo que teve falhas na coerência teórica interna, Thomas Kuhn, percebendo a incoerência entre a historiografia da ciência e as afirmações dos filósofos sobre a essência do conhecimento científico, pretendia formular uma filosofia da ciência que correspondesse à história da mesma. Assim, ele formulou a teoria dos paradigmas e revoluções científicas. A ciência passa, segundo Kuhn, por períodos de ciência normal, os quais antecedem os tempos de crise; estes, por sua vez, são anteriores as revoluções científicas que culminam no estabelecimento de outro paradigma. O processo descrito ocorre várias vezes, de maneira infindável, e, dessa forma, se estabelece, após as revoluções científicas, novos paradigmas provisórios e incomensuráveis em relação aos anteriores. Os tempos de ciência normal são determinados pela hegemonia de um único paradigma, isto é, um conjunto de teoria, técnica e experiências definido como válido pela maioria da comunidade científica - nesse sentido, mesmo que o saber científico seja uma dialética entre o mundo natural

A Teoria Dos Paradigmas e Das Revoluções de Thomas Kuhn

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Thomas Kuhn

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Page 1: A Teoria Dos Paradigmas e Das Revoluções de Thomas Kuhn

A teoria dos paradigmas e das revoluções de Thomas Kuhn

Despois do fiasco epistemológico do neopositivismo, ao tentar estabelecer como base

do conhecimento científico a observação, e de Karl Popper abandonar o circulo de

Viena, formulando posteriormente o falsificacionismo que teve falhas na coerência

teórica interna, Thomas Kuhn, percebendo a incoerência entre a historiografia da

ciência e as afirmações dos filósofos sobre a essência do conhecimento científico,

pretendia formular uma filosofia da ciência que correspondesse à história da mesma.

Assim, ele formulou a teoria dos paradigmas e revoluções científicas.

A ciência passa, segundo Kuhn, por períodos de ciência normal, os quais antecedem os

tempos de crise; estes, por sua vez, são anteriores as revoluções científicas que

culminam no estabelecimento de outro paradigma. O processo descrito ocorre várias

vezes, de maneira infindável, e, dessa forma, se estabelece, após as revoluções

científicas, novos paradigmas provisórios e incomensuráveis em relação aos anteriores.

Os tempos de ciência normal são determinados pela hegemonia de um único

paradigma, isto é, um conjunto de teoria, técnica e experiências definido como válido

pela maioria da comunidade científica - nesse sentido, mesmo que o saber científico seja

uma dialética entre o mundo natural e a teoria, as teorias científicas só se estabelecem

por acordo da maioria de certa comunidade científica.

Dado o estabelecimento de certo paradigma, os cientistas trabalharão a fim de que se

estabeleça maior correspondência entre o construto teórico e o objeto problematizado,

visto que, apesar de existir um paradigma hegemônico, haverá sempre anomalias, a

saber, fenômenos que a teoria não possibilita a explicação. Nesses períodos as tentativas

ineficazes de adequar os problemas existentes serão sempre como falhas do cientista

particular, visto que as potencialidades intelectuais mudam de indivíduo para indivíduo.

Não obstante, as anomalias serão consideradas um apontamento da inexorável falta

correspondência da teoria à realidade (em outras palavras, indicação de um período de

crise na ciência) sobre certas condições: quando surgir necessidades sociais; ou quando

se acumular anomalias que invalidam a base da teoria.

Uma vez estabelecido o período de crise, se tem a oportunidade da disputa entre novos

paradigmas, os quais terão que explicar tanto os fenômenos que o paradigma anterior

não explicava quanto os fenômenos que já eram explicados pela teoria científica que

passou a ser vista como defasada.

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No período de crise, a aceitação de determinado paradigma, por parte dos cientistas,

não é de ordem racional. Já que os paradigmas são incomensuráveis, os motivos da

aceitação ou negação dos paradigmas só podem ser de ordem social e psicológica.

Segundo Kuhn, é na época na qual não há algum paradigma hegemônico que os

cientistas tornam-se filósofos a fim de justificar suas escolhas.

Após o estabelecimento de um novo paradigma, inicia-se novamente um período de

ciência normal no qual cientistas normais trabalharão para explicar um conjunto de

fenômenos, articulando a teoria no momento em que surgirem anomalias.

Posteriormente, com a acumulação de anomalias, o período de ciência normal dará lugar

a um novo período de crise e, desse modo, se dá a continuidade das revoluções

científicas.

Dito isso, convém fazer duas considerações sobre a teoria kuhniana: a primeira é sobre

a incomensurabilidade dos paradigmas; a segunda diz respeito á aparência descritiva da

teoria.

Kuhn define os paradigmas como incomensuráveis entre si porque se tomarmos certo

paradigma como padrão de julgamento, indubitavelmente, ele vai se estabelecer como o

melhor em relação ao paradigma rival, visto que as regras de julgamento são

estabelecidas por ele. Por isso, também acontecerá o mesmo se revertermos a situação e

estabelecermos o paradigma rival como padrão de julgamento.

A teoria kuhniana, apesar de parecer apenas descritiva, é também normativa, visto que

ela indica as funções das estruturas do fazer científico. É tal indicação que dá a

possibilidade de compreensão da natureza da ciência - mesmo que a teoria de kuhn não

consiga aprisionar em conceitos toda a essência do saber científico - aos cientistas, ao

mesmo tempo em que indica como proceder cientificamente tanto nos períodos de

ciência normal como nos períodos de crise dos paradigmas.