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Maurício Tragtenberg " 1. o "Modo Asiático de Produção". 2. A Evolução da Emprêsa Industrial sob o Capitalismo e a Teoria Geral da Administração como Ideologia. 3. Terceira Fase da Industrialização. 4. Conclusão. R, Adm. Emp., Rio de Janeiro, A Teoria Geral da Administração é uma Ideologia? A administração, enquanto or- ganização formal burocrática, realiza-se plenamente no Esta- do, antecedendo de séculos ao seu surgimento na área da emprêsa privada. O segrêdo da gênese e da estru- tura da teoria geral da admi- nistração, enquanto modêlo explicativo dos quadros da em- prêsa capitalista, deve ser procurado onde "certamente seu desenvolvimento mais pujante se dá: no âmbito do Estado". 1 Enquanto o capitalismo indus- trial, estruturando a emprêsa burocrática, encontrou, nos vários modelos da teoria geral da administração de Taylor aos estruturalistas ou sistêmicos, um modêlo explicativo, no século XX, a transição das so- ciedades pré-industriais a indus- triais gerou um modêlo re- corrente do "modo de produção asiático", neste século unido à máquina. Daí, a emergência da burocracia como poder funcional e polltlco." elemento típico das civilizações orientais, 3 em plena era ciber- nética. Foi Hegel que, no plano lógico, operacionalizou o conceito "burocracia" em nível do Estado e da emprêsa. 11(4) :7-21, Hegel é um dos primeiros estu- diosos da burocracia, enquanto poder administrativo e po- Iftico, formulando o conceito: "onde o Estado aparece como organização acabada",« conside- rado em si e por si /; "que se realiza pela união íntima do universal e do individuai". e " Professor de polltica da Escola de Sociologia e Polltica de São Paulo. 1 Touraine, Alain. Historia general dei trabajo. México, Ed. Grijalbo, 1965. vol. 4. Marx, Karl. EI capital. Madrid, Ed. Agui!· lar, 1930. v. ünlco e Weber, Max. Economia y sociedad. México, Ed. Fondo de Cultura Econ6mica, 1944. v. 4, capo 7, p. 176-78. O "modo asiático de produção" fõra enunciado inicialmente por John Stuart Mil! em 1848 e MontesQuieu no seu L'esprit des loi5, posteriormente desenvol· vido sistemàticamente por Marx, Karl. In: EI capital. v. ünlco, capo 11, p. 244; Weber, Max, Economia y sociedad. v. 4, capo 7, p. 176-78; Godelier. EI modo de produccl6n asiático. Argentina, Ed. untverst- taria de C6rdoba: Witfogel, Karl. Wirtschaft un Gesselchaft China's. v. 1, desenvolvendo sistemàticamente o tema em Oriental despotism, a comparative study of total power. Vale, 1951. 3 "~sse modo de produção aplica-se em geral a países com grandes extensões desérticas, onde as condições climáticas obrigavam, a um atendimento particular, à organização da irrigação artificial pelos canais; essa área estende-se pelo Saara aos plateaux mais elevados: o Egito Antigo, Mesopotamia, Arábia, Pérsia, fndia e Tartária". Baizacou, Hélêne Antoniadis. Byzance et le mode de production aslatlque, La pensée. p. 49. Hegel. Principes de la philosophie du droit. Paris, Ed. Galimard, 1940. 5 Hegel. op. cito p. 190. Hegel. op, cito p. 191. out./dez. 1971

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Maurício Tragtenberg "

1. o "Modo Asiático de Produção". 2.A Evolução da Emprêsa Industrial

sob o Capitalismo e a TeoriaGeral da Administração como Ideologia.

3. Terceira Fase da Industrialização.4. Conclusão.

R, Adm. Emp., Rio de Janeiro,

A Teoria Geral da Administração

é uma Ideologia?A administração, enquanto or-ganização formal burocrática,realiza-se plenamente no Esta-do, antecedendo de séculosao seu surgimento na área daemprêsa privada.O segrêdo da gênese e da estru-tura da teoria geral da admi-nistração, enquanto modêloexplicativo dos quadros da em-prêsa capitalista, deve serprocurado onde "certamente seudesenvolvimento mais pujantese dá: no âmbito do Estado". 1

Enquanto o capitalismo indus-trial, estruturando a emprêsaburocrática, encontrou, nosvários modelos da teoria geralda administração de Tayloraos estruturalistas ou sistêmicos,um modêlo explicativo, noséculo XX, a transição das so-ciedades pré-industriais a indus-triais gerou um modêlo re-corrente do "modo de produçãoasiático", neste século unidoà máquina. Daí, a emergênciada burocracia como poderfuncional e polltlco." elementotípico das civilizaçõesorientais, 3 em plena era ciber-nética. Foi Hegel que, no planológico, operacionalizou oconceito "burocracia" em níveldo Estado e da emprêsa.

11(4) :7-21,

Hegel é um dos primeiros estu-diosos da burocracia, enquantopoder administrativo e po-Iftico, formulando o conceito:"onde o Estado aparece comoorganização acabada",« conside-rado em si e por si /; "que serealiza pela união íntima douniversal e do individuai". e

" Professor de polltica da Escola deSociologia e Polltica de São Paulo.

1 Touraine, Alain. Historia general deitrabajo. México, Ed. Grijalbo, 1965. vol. 4.• Marx, Karl. EI capital. Madrid, Ed. Agui!·lar, 1930. v. ünlco e Weber, Max. Economiay sociedad. México, Ed. Fondo de CulturaEcon6mica, 1944. v. 4, capo 7, p. 176-78.O "modo asiático de produção" fõraenunciado inicialmente por John StuartMil! em 1848 e MontesQuieu no seuL'esprit des loi5, posteriormente desenvol·vido sistemàticamente por Marx, Karl.In: EI capital. v. ünlco, capo 11, p. 244;Weber, Max, Economia y sociedad. v. 4,capo 7, p. 176-78; Godelier. EI modo deproduccl6n asiático. Argentina, Ed. untverst-taria de C6rdoba: Witfogel, Karl.Wirtschaft un Gesselchaft China's. v. 1,desenvolvendo sistemàticamente o temaem Oriental despotism, a comparativestudy of total power. Vale, 1951.3 "~sse modo de produção aplica-se emgeral a países com grandes extensõesdesérticas, onde as condições climáticasobrigavam, a um atendimento particular, àorganização da irrigação artificial peloscanais; essa área estende-se pelo Saaraaos plateaux mais elevados: o EgitoAntigo, Mesopotamia, Arábia, Pérsia, fndiae Tartária". Baizacou, Hélêne Antoniadis.Byzance et le mode de productionaslatlque, La pensée. p. 49.• Hegel. Principes de la philosophie dudroit. Paris, Ed. Galimard, 1940.

5 Hegel. op. cito p. 190.

• Hegel. op, cito p. 191.

out./dez. 1971

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Para Hegel, o Estado como "reali-dade morai", como "síntesedo substancial e do par-ticular, 7 contém o interêsseuniversal enquanto tal, que ésua substância, 8 deduzindo-seentão, ser o Estado, a "instânciasuprema que suprime tôdasas particularidades no seio desua unidade". 9

Sendo o Estado para Hegel a"realidade em ato" da liberdadeconcreta 10 que se "conhece",pensa e realiza pelo fato desê-lo, 11 sua finalidade é a inte-gração dos interêsses par-ticulares e individuais. Essa in-tegração não suprime aantinomia (interêsse geral) ea sociedade (conjunto de inte-rêsses corporativos e particula-res). Essa antinomia manifesta-se na existência de interêssesparticulares das coletividadesque pertencem à sociedade civile que estão fora do "universalem si mesmo e por si doEstado" e são administradospelas "corporações nas comu-nas e em outros sindicatos eclasses por suas autoridades:presidentes, administradores.~sses negócios, que êles cuidam,representam a propriedade eo interêsse dessas esferas par-ticulares", 12 o que não impedea transitividade do espíritocorporativo da burocracia em-presarial privada, à pública doEstado, na medida em queela "nasce da legitimidadedas esferas particulares e trans-forma-se internamente, aomesmo tempo, em espírito doEstado, pois encontra nêle o .meio para atingir seus fins par-tlculares".w

Hegel procura sintetizar nacorporação (entendida como bu-rocracia privada) e no Estado(entendido como burocraciapública acabada), as múltiplasdeterminações que levam àtensão entre o interêsse par-ticular e o universal do Estado;na existência da burocraciaque pressupõe as corporações,ela, enquanto burocracia estatal,é o formalismo de um conteúdosituado fora dela: a corpora-ção privada. 14

O objetivo do Estado torna-seo objetivo da burocracia, cujo

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espfrito é o segrêdo mantido noplano interno pela rigidezhierárquica no fluxo de comu-nicação, e pelo seu caráterde corporação fechada, no planoexterno. Encontramos assimem Hegel as determinaçõesconceituais que permitem aanálise da burocracia do Estado,da burocracia enquanto poderpolftico que antecede emséculos a emergência da buro-cracia determinada pelas con-dições técnicas da emprêsacapitalista, oriunda daRevolução Industrial.

A burocracia, enquanto classedominante (detentora dos meiosde produção) elemento demediação com a sociedadeglobal, exercendo o poder polí-tico, perfila-se ante a históriacomo uma forma de dominaçãoburocrático-patrimonial ou"modo asiático de produção".No modo asiático de produção,o déspota oriental representaa confluência de um processosocial que se inicia com aburocracia surgindo das necessi-dades técnicas (irrigação daterra arável) finalizando comopoder de exploração, efetuando-se assim a transitividade daburocracia cumprindo funçõesde organização e supervisão parao monopólio do pOder polftico. 15

O modo de produção asiáticosurge na sociedade quandoaparece o excedente econômi-co, que determina uma divisãomaior de trabalho separandomais rIgidamente agricultura eartesanato, que reforçam aeconomia consuntlva.w àqual sobrepõe-se o poder repre-sentado pelo chefe supremo ouuma assembléia de chefesde família. Dá-se a apropriaçãodo excedente econômico poruma minoria de indivíduossem retribuição à sociedade.Daí a exploração assume aforma de dominação, não de umindivíduo sôbre outro, masde um indivíduo que personificauma função sôbre a comuni-dade. 17 A necessidade dacooperação simples, onde a má-quina tem papel secundárioe a divisão de trabalho é in-cipiente para a realização deobras que sobrepassam ascomunidades, vai requerer uma

direção centralizada para co-ordenar os seus esforços. Namedida em que isso se dá,unido à eficiência do trabalho,é posslvel a transformaçãodo sentido funcional da autori-dade superior em instrumentode exploração das comunidadessubordinadas, quando se dáa apropriação da terra peloEstado, que mantém a proprie-dade comunal. O indivíduocontinua na posse da terra comomembro de sua comunidadeparticular.

Assim, a cultura de irrigaçãojunto com a horticultura e a ir-rigação pelos grandes rioscriam a necessidade de umasupervisão centralizada que irárecrutar mão-de-obra rela-tivamente ampla.

• Hegel. op. cito p. 196.

• Hegel. op, cito p. 200.

• Hegel. op. cito p. 218.

10 Hegel. op. cito p. 195.

11 Hegel. op. cit. p. 190.li Hegel. op. cito p. 220.la Hegel. op. cito p. 226.•• Para Hegel, na medida em que seestrutura a carreira burocrática no Estado,êste passa a constituir finalidadeprivada do funCionário; para prevenir essadisfunçlo, Hegel apela à "formaçãomoral dos funcionários pCíblicos".16 "Os efeitos da cooperaç!io simples nomodo asiático de produção, aparecem emseu aspecto colossal nas gigantescasobras dos antigos asiáticos, eglpcios eetruscos. Na antiguidade, tais estadosasiáticos, depois de empregarem a maioriade seus recursos na área civil e militar,possuíam um excedente de produtos paraconverter em obra de ornamento eutiliaade. O domlnio que, sObre mão-de-obrade tal populaç!iO nlo ocupada naagricultura e o pOder exclusivo paradispor de tal excedente, possutarn o rei eos sacerdotes, o'erecla-Ihes os meiospara levantar aquêles ingentes monumentosque cobria o pais. Utilizou-se quaseexclusivamente a fOrça humana paraconstruç!io e transporte daquelas estátuascolossais e daquelas enormes massascuja possibilidade de terem sido transpor-tadas ainda hoje nos assombra. Paratanto, bastou concentrar uma multid!iode trabalhadores e unificar seu esfOrço."Marx, Karl. EI capital. Madrid, Ed.Aguillar, 1931. V. Cínico, capo I, p, 244.1. Para Max Weber, economia consuntivaé sinônimo de economia natural; noentanto "não se conhece ainda nos séculosXIV e XV, por exemplo, entre os Médici,a separaçlo sistemática do regime deeconomia consuntiva (natural e economialucrativa)." Weber, Marx. Historia econ6.mica leneral. México, Ed. Fondo deCultura Econ6mica, 1956. p. 8.lT Conforme pesquisa do jurista-historiadorMaitland, F. W. The survival of archalccomunities, In: Collected papers.Cambridge, 1911. 2 v., e ainda Weber, Marx.Der Srat un den Charakter deraltgermanischen Sozial-verfassung. In:Jahrbf, Nationalokonomie un Statistik,v. 83, 1904, idêntico processo, acentuaMax Weber, deu-se na formação da Iugoslá-via e Croácia contrariando a tese dePeisker J., Die serbische Zadruga.Zeistschrf, Sozial un Wirtschaft2eschichte.V. 7, 1900, que vê nessa estrutura oresultado da organizaçlo tributária deBizêncio.

Revista de Administração de Emprêsa8

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~ sorte dos judeus no Egito estáligada a êsse processo; sãorecrutados à fôrça para asexpedições dos reis assírios ebabilônicos que, com seus séqui-tos, procuram reunirmão-de-obra para construçãode canais e cultivo das zonasdesérticas. Nesse sentido avia fluv!al do Nilo desempenhoupapel vital na centralização bu-rocrática.P atuando como fatord~cisivo .na formação de umahierarquia de clientes subor-dinada diretamente ao Estadopatrimon ia I-burocrático. 19

o contrôle da água em grande es-cala é dirigido pelo Estado eseu caráter centralizado e des-pótico no Egito repetia-sena antiga Mesopotâmia 20eC.hina o~de os cultivadores pas-SIVOSe Ignaros estão "sobdireção de uma classe letradade funcionários que planejame executavam o plano. Incapazde. organizar-se, o camponêschinês sofre a dominação tirâni-c~ d~ AE~tado.,21Daí a suprema-era tlrãnica da burocraciaestatal chinesa", 22 reforçadapela ausência ainda maior dossenhorios territoriais, queapesar dela ainda existiam noEgito, tendo sido substituídospela burocracia construtorade canais, de depósitos para ar-mazenamento de tributos innatura, de onde os funcionáriosretiravam suas congruasou emolumentos, abastecendoo. Exé.rcito. No. início da épocahistórica da China, dar-se-áa regularização das águasatribuída às qualidades ~aris-máticas de um soberanodemiurgo, o grande YU.23

O modo de produção asiáticonão é confinado ao Egito anti-go. A Mesopotâmia, Chinaou o Império incaico conhe-ciam-no. ~Ie aparece na Rússiapor ocasião da invasão hunadeterminando a longo prazo '"certos aspectos da vida sociale econômica que a nós ocidentaispodem parecer impostospela Revolução Autoritária(1917), mas que são de fato pro-longamentos de instituiçõespreexistentes, desenvolvimentosdecorrentes de pensamento daantiga Rússia", 24 fornecendo

A teoria geral da administração

a chave para a compreensão darealidade russa contemporânea.

Na Rússia antiga, a comuni-dade de aldeia (ebchtchins)posse coletiva do solo, é 'uma criação do govêrno, impos-ta aos camponeses por razõesadministrativo-fiscais, onde,c?n~orme o Ruskaya Pravda (odireito russo) o "proprietárioeminente de tôda a terra é oGrão-Principe. Os boiardosconstituem um exército móvel":Ian~ido pelo Príncipe que 'con-vida sua gente" para recolhertributos em gêneros, mel,cêra, cereais, etc.; o mesmo sefaz nas cidades organizadascomunalmente. Os "homensdo Príncipe" aparecem comoproprietários rurais comterras para sua subsistência esobretudo domínios florestais.Em 1326, o Metropol ita deVladimir instala-se em Moscoucolocando, assim tôda a influên-cia de um clero a serviço doGrão-Príncipe, fornecendo,qu~dros, à burocracia estatal. OGrao-Príncipe distribuiu do-mínios aos camponeses(pomestye) a título precário, emrec0":lp~nsa pelos seus serviços,constituindo uma nova aristo-cr~cia ligada ao poder, osbolardes. ~stes submetiam-seao Grão-Príncipe e participavamdo seu Conselho, a Duma. 25

~ste Estado onipotente, funda-do nas prestações forçadasde serviço, exercendo um con-trôle máximo sôbre a propriedadeterritorial, constitui-se numelemento básico para explicaçãoda persistência do mesmo,através do tempo, conformeexplica Summer.

Modernamente na URSS o modoasiático de produção predominade forma recorrente, no seuaspecto mais significativo: orealce ao domínio da burocraciaenquanto poder político noregime do capitalismo do Esta-do. 2U ~sse regime é umacombinação inédita 27 de ini-ci~ti~a individual no plano eco-norruco com a economia doEstado. 28

O capitalismo de Estado, oumelhor, o processo de moderni-zação levado a efeito por umaelite, industrializante sob a

direção de um partido único im-plica. nos seus inícios, já na buro-cracia. 29 Essa burocratizaçãojá ameaça, três anos após atomada do poder por Lênin 30. 'o regime na sua totalidade. Omonopólio do poder, pelopartido único, é o elemento queassegura a seleção da elite

'" •"Sem ela (11via fluvial do Nilo) nãetena I! centrallzaç!io burocrática alcançado,no Egito, o grau que efetivamentealcl!nçou". Weber, Marx, Economia ysocledad. v. 4, capo 6, p, 602.10 No Egito antigo deu-se "a submlssãoda povoaç!io a prestações pessoais numaproporçl!! que ante~ não fOra posslvele. conduziram o Antigo Império a umaSltua~o em que tllda povoaç!io estavaorganizada numa hierarquia de clientes(dep~ndentes), na qual o homem sempre foico.n~lderado boa prêsa; ~m alguns casosfOI Incorporado as quadnlhas de escravosde Faraó". Weber, Marx, op. cito V. 4, capo 7,p. 128."" A respeito, o magistral estudo deRustow, Alexander. Ortsbestimmuung derGegenwlrt. Zurich, Erlenbach, 1950-52. 2 v.li!. Weber, Max. op. cito vol. 4, capo 7,p. 178."" Maspero, H. & Balazs. E. Histoire etInstitutions de la Chinne ancienne.France, td. PUF, 1967, capo 1, 4.8 partep. 169-70, retomando uma tese idêntica 'desenvolvida por Witfogel, Karl, Orientaldespotism, Vale, 1951.os Conforme Maspero, H. & Balazs E.op, cito p. 170, idêntico processo dera-se naAmérica com os incas, onde, num nlvelde tecnologia neolltica, a burocracia"governava teocràticamente sObre umasociedade hidráulica simples". Witfogel K.op, cito p. 117. Tal ponto de vista é 'reforçado por um cronista incaico daépoca, Vega, Garcilaso de la. Comenta riosreales de los Inca •• 1945, v. 1, capo 1,p. 2~2 observara "a falta de retribuição pelosserviços prestados no trabalho obrigat6riodas estradas, construção de pontescanais de irrisaçlo e nas terras d'OEstado".•• Meyer, Monique. L'entreprisa industrielled'~tat en Union Sovietique. Paris, Ed.CUJas, 1964. p. 11.m "f'< !nfluência mong6lica na transmissãoà Russla dos métodos despóticos doestatismo da China, aparece com clarezana Rús.sia de Moscou. eis que os mongóisconheciam êsses métodos nuandosubmeteram a Rússia (1273-40) poiSanteriormente haviam conquistado a China(1211-22) e o Turq uestão em 1219-20.Desde 1215. Gengis Khan tinha umconselheiro chinês de alto nlvel Yeh-Iú-Ch'u-Ts'ai. Em 1253, o Grande Khán Mongke,no rruuuo ae um contrOle racional daárea sob seu domlnlo, ordenou aPieh-~rh-ke Que fizesse um censo naR~ssla". Ame,rican Philosophical Society.Hlstory of Chmese society. Philadelphia1949. v. 36. '"". ~ão hé nenhum livro que fale do Ca-pitalismo do Estado na época do comunis-mo. !VIarx mesmo não escreveu nada ar~spelto. morreu sem deixar nenhumacttacão exata. nenhum argumento irrefutá-vel.:' Lênin. La révolution bolcheviste.Pans, Ed. Payot, p. 279.••. "O Capitalis'!l0 de Estado, tal como éVISt!! por "~s. nao é analisado em nenhumateona ou literatura." Lênin. op. citop. 279.•• "Um tipo misto, em que a iniciativaprivada limitada pela estatização -o Estado somos n6s". Lênin. op, cit., p. 279.se "Fala!,"os d,o renasclmento parcial dabur~cracla no. ,"~enor do regime soviético."!-ênln. O capitalismo de estado e o~~~~~to em espécie. Curitiba, Gualra, s/d.

80 "Vemos apresentar-se êsse mal diantede n6s. ainda mais claramente maisameaçador e .mais nltido", (Lê';in. op. cit.p. 47) c~nclUlndo Que na Rússia "aburo.cracla não, está no Exército. mas nosserviços". Lênln. op, cito p, 47.

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dirigente.v' onde a ascenção naescala partidária asseguraigual subida na burocracia doEstado.32 Esta burocracia possuio Estado como propriedadeprivada, dirigindo coletivamen-te os meios de produção, 33

é a tecnoburocracia dirigente,que persiste de Lênin até hoje, 34

mas, vigiada pelo partido, nãopossui nem os meios deprodução como apropriação pri-vada, nem a hereditariedadede fortuna.

Nesse contexto, o administradorde emprêsa cumpre a funçãode realizar no nível de micro-emprêsa os objetivos do plano.Se êle atinge as cifras do planorecebe bonificação, 35 issoimplica uma correlação entre olucro planejado e o efetiva-mente conseguido.Se o lucro planejado é conse-guido, uma parte dêle fica retidano fundo da emprêsa, as bo-nificações constituem parteimportante na remuneração dosdirigentes; 36 no entanto, o mé-todo no pagamento das bonifica-ções é o maior responsávelpela malversação dos recursos.

A irracionalidade do sistema debonificações leva os diretoresde emprêsas a dissimularsua capacidade produtiva, aacumular inutilmente equipa-mentos, matérias-primas, evitarinovações e produzir bens semutilização .. Um dos vícios dosistema é encorajar a direção daemprêsa a dissimular suacapacidade produtiva, na medi-da em que a superação dosobjetivos quantitativos é acondição básica para atri-buição de bonificação. 37

Isso leva a competição entre osdiretores no sentido de esto-carem matérias-primas, e osque têm mais prestígio têm maiorsucesso. A bonificaçãoconstitui-se em freio à inovaçãona medida em que essa provocauma perturbação na produção,significando menor bonificaçãopara o gerente e o operário.Se houver maior produçãodevido à inovação, os planeja-dores retificam as metas,tornando-as mais difíceis deatingir. A emprêsa é sempre in-citada nesse sistema a produzir

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bens inúteis ou com poucademanda, conduzindo a mal-versação no âmbito dos bens deconsumo, pois a direção limi-tará a variedade dos artigospara atingir maior produçãoquantitativa. 38

A emprêsa trabalha sob contrôlehipercentralizado.w complanos confirmados trimestral-mente pelo Estado russo.A grande maioria das emprêsasdependia de comissários e mi-nistérios setoriais.Em 1957, a indústria é dirigidacentralizadamente e setorial-mente, gerando a proliferação deórgãos administrativos e osmales da departamentalização,estudados por Selznick, onde sedá a bifurcação de interêssesentre as subunidades comobjetivos próprios. A especifi-cação de zonas geoeconômicaslevava ao encarecimento dotransporte e à falta de coordena-ção entre as emprêsas daindústria local. Na medida emque os setores industriais de-pendiam de um ministérioespecífico, cada um procuravaassegurar seu aprovisionamento,enquanto cada ministérioficava preocupado com seusetor, mais do que com osoutros; isso coexistia com umacentralização direcional rígida noâmbito da ernprêsa.w Nessaestrutura, os comitês de emprê-sa limitam-se a reforçar adecisão que lhes foi transmitidapelos órgãos centrais. 41

O fenômeno da centralizaçãoburocrática da direção daemprêsa, gerida no nível maisalto pelo partido que detém omonopólio do poder, não se dásomente na URSS, Hungria ouTcheco-Eslováquia, é persistentena Iugoslávia também.

~ o ressurgimento do modo asiá-tico de produção, aliado ao altonível de tecnificação com omonopólio do poder pelo parti-do único.

Assim, a nova classe emergecomo elite industrializante, comouma conseqüência do de-senvolvimento gradual da eliteclandestina que constituía aestrutura do partido nos anosde luta pelo poder. "Troquepor nova classe o têrmo

31 "Pois ainda que haja poucas exceções,os quadros de direção não podem chegargeralmente ao nlvel de diretor defábrica sem a condiçlio prévia de seremmembros do P.C." Granick, David. EIhombre de empresa soviético. Madrid, Ed.Revista do Ocidente, 1966. p. 40.•• "Assim em 1958 a delegação norte-americana mencionava que o Diretor damaior usina siderúrgica de ChelyabinskfOra antes Secretário do Partido naquelazona," Granick, D. op. cito p. 44.•• "Caracteriza-se essencialmente pelaapropriação dos instrumentos de produçãopelo Estado." Portal, R., Os eslavos.Lisboa, 1968. p. 408.•• "A tecnoburocracia industrial, adminis-trativa militar e planeladora, emboramuito poderosa sob a ditadura de Stalin,manteve-se após sua morte e liquidaçãode seu mito, obediente ao Estado eao seu órgão supremo: o P.C." Gurvitch, G.Les cadres sociaux de la connaissance.Paris, td. PUF, 1966. p. 222.M "Essa proporção pode atingir a 30%ou 40% do salário prõprlamente dito.t necessário esclarecer que essa estruturaobserva-se na indústria na URSS." Lewit.Rev. Sociologie du Travail, (2): 127, 1970.Onde o exemplo por excelência de remune-ração é o salário por tarefa (p. 158)que corre o risco de ser dividido poratraso ou falta ao trabalho; neste caso"recomenda-se destinar aos bonstrabalhadores a parte devida aos mauscomo recompensa por sua fidelidade".Lewit. cito p. 167.•• "A luta pela tabela diferencial deremuneração leva impllcita a noção de queo igualitarismo é estranho à sociedadesocialista. Os organismos sindicais devemlutar sem cessar contra as tendênciasigualitárias (Hungria)." Lewit. op, citop, 175; daI na Tcheco-Eslováqula - segundoo diário Obdoran, n. 21, 1968 - ossalários dos manobristas representam 10%dos do diretor adjunto (Lewit. op. citop, 154).:n Tal forma de remuneração arcaica fOradefinida por Taylor no inIcio do séculoonde "a tarefa e a gratificação constituemum dos mais importantes elementos dofuncionamento da administração cientlfica".Taylor. Administraçlo cientlfica dotrabalho. p. 110. No século passado porocasião da Revolução Industrial, analisandoas condições inglêsas, K. Marx acentuava:"o trabalho por tarefa é um sistema arcaicoque tem na Inglaterra um nome muitoeloqüente, sweating-system (sistema-suador)". Marx, K. EI capital. v. único.p, 410.•• "Há necessidade de elaborar em caráterexperimental para futuro próximo formasde salário que correspondam às condiçõesde trabalho modernas, da mesma formaque o sal6rio por unidade correspondeua uma realidade da geração anterior."Christian, Dejean, La salaire aurendemene, un exemple belge. Rev.Soe. du Travail, (2), 1961.311 Especialmente por ocasião da 11 GrandeGuerra "o traço caracterlstico daorganização é a centralização feroz detOda direção econOmica". Dudorine.Planification et programation lineaire deI'aprovisionnement matériel et téchnique.Ekonomizdat. Moscou, 1961. p. 19.•• "No ápice de tOda emprêsa, oficina eseção, acha-se um chefe investido detodo poder para direção, impondo umadisciplina de ferro durante o trabalhosujeito a vontade de um só: do dirigentesoviético." Meyer, M. op, cito p. 90. "Odiretor de emprêsa é o fundamento doPoder Socialista". Kaminster. Manual deI'entreprise industrielle. Moscou, 1961,sendo "nomeado e liberado de suas funçõespelos õrgãos superiores, cf. parágrafo 89do Regulamento sObre a EmprêsaProdutiva Socialista do Estado." Meyer, M.op, cito p. 900. O § 94 da Lei investe ocontramestre de plenos podêres e organi-zação direta da produção e do trabalho,responsável pela execução do plano.Sua transferência, nomeação ou licencia-mento são efetuados pelo diretor daemprêsa; essa "burocratização" dadireção, fruto do centralismo, engendraa burocracia. Dudorine. Planification etprogramation lineaire de I'aprovisionnementmatériel et téchnique. Ekonomizdat.Moscou, 1961. p. 18.41 "A participação é formalmente assegura-da mas os trabalhos não têm nenhum

Revista de Administração de Emprêsas

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aparelho e tudo ficará maisnítido." 42

A concentração do poder nafigura carismática de Tito leva-oao papel de "Grande Animador"do sistema, único possuidor decrítica; êle abre a campanhade crítica com observações erecomendações que caracteri-zam periodicamente a vida daIugoslávia. Aí também osórgãos de autogestão represen-tam a burocracia dominante. 43Isso nos permite definir as for-mações econômicas e deemprêsa na URSS e no âmbitoda Europa Oriental, comoformas de modo de produçãoasiático recorrentes ao capitalis-mo do Estado, onde a buro-cracia, não só é o elementooriundo das necessidades funcio-nais da técnica, mas é acimade tudo poder político total.

Isso tem implicação no plano dasidéias: êsse sistema cria auto-màticamente a valorizaçãono primeiro plano do conheci-mento polftico doutrinário e oconhecimento filosófico res-trito ao marxismo interpretadopelos detentores do poder; suadogmatização é acompanhadado monopólio do poder pelopartido único do qual emerge olíder carismático. Em segundoplano aparece o conhecimentocientífico e, em último, oconhecimento técnico, comoelementos de refôrço do sistema.Vimos que a emergência daburocracia patrimonial comopoder político nas sociedadesorientais e pré-colombiana ante-cede de muito o aparecimentoda burocracia funcional daindústria moderna, confirmandoo aforismo hegeliano que asubstância do Estado é a rea-lização do interêsse universal en-quanto tal (da burocracia).Isso se dá na URSS, EuropaOriental e nos países de autocra-cia modernizante. O Estado apa-rece como um triunfo da "razão"hegelíana, onde a maturidadepolítica é conquistada por media-ção da burocracia, que intro-duz a unidade, na diversidadeda sociedade civil. O Estadocomo "burocracia acabada" geraa sociedade civil, o regressode Marx a Hegel.

A teoria geral da administração

2. A EVOLUÇAO DA EMPR~SAINDUSTRIAL SOB OCAPITALISMO E A TEORIAGERAL DAADMINISTRAÇAO COMOIDEOLOGIA

A análise da teoria geral daadministração como ideologiaimplica o estudo do "fenômenodo pensamento coletivo que sedesenvolve conforme interêssese as situações sociaisexistentes". 44

As premissas gerais para aemergência do capitalismo fun-damentam-se na contabilidaderacional como norma para em-prêsas que satisfazem as ne-cessidades diárias. Elas seestruturam na propriedade pri-vada dos meios de produção,técnica racional, direito racio-nal, estrutura administrativa daburocracia e um ethos dotrabalho e esfôrço contínuo.Em suma, o capitalismo foi oproduto "da emprêsa, contabili-dade e direito racional unidosà ideologia racional e ética ra-cional na economia". 45

A primeira Revolução Industrialencontra respostas ideológicassob a forma de teorias sociaisglobais: Saint-Simon, Fouriere Marx. ~Ies elaboraram modelosmacrossociais, tendo em vistaas condições institucionaisda sociedade industrial global;a segunda Revolução Industrial,que se inicia com a introdu-ção da eletricidade, a formaçãodos grandes holdings industriais,encontra como resposta in-telectual a teoria clássica daadministração, nos estudos deTaylor e Fayol. Fundamentadasistemàticamente num pe-ríodo de acumulação de capitais,isso conseguido, surge à tonao problema humano na emprêsaindustrial, e a elaboraçãoda Teoria das Relações Humanascom Elton Mayo.46Os dilemasda sociedade industrial, bemcomo as inconsistências dospostulados da Escola dasRelações Humanas são retrata-dos criticamente pela EscolaEstruturalista que aparece naAlemanha, baseando-se em algu-mas indicações de Marx, sis-tematizadas por Max Weber.47

2.1. A primeira RevoluçãoIndustrialA emergência da revolução in-dustrial implica uma alteraçãodas condições de produção,

poder efetivo. Houve centralismoexacerbado e participação simbólica."Meyer, M. op, cito p. 22; idêntico fenômenoLewit constatou estudando uma emprêsametalúrgica no Oeste da Hungria, e maisdo que isso, que os assalariadosrejeitam os fins propostos pela direção.Lewit. Revue Soclologie du Travail, p. 27..2 DjiJas, MiJovan. La nouvelle classedirigéante. p. 48·48; ponto de vista confiromado por pesquisas na Iugoslávia porAlbert Meister, que constata o paisdirigido por quadros com formação tecno-crática (cf. Meister, A. op. cito p. 261).A análise a respeito da concentraçãodas responsabilidades confirmam a tesede Djilas - de que o poder é monopolizadopelos apparatchks (os profissionais dacúpula do parttdo), ativistas e gestionáriosda propriedade coletiva. Meister, A.Socialisme et autogestion. Paris, PressesUniversitaires de France, 1953. p. 274-75.•• "Os órgãos de autogestação nãoconquistam nada, êles recebem, sãobeneficiários, são-lhas atribufdas compe-tências, liberdades e feudos. Sua criaçãonão é o produto de reivindicação popular,mas foi doada ao povo pelos seusdirigentes." Meister, A. op. cito p. 316.•• Manheim, Karl. Ideologia e utopia.Ed. Globo, 1950. p. 115.4J; Weber, Max. Historia econ6mica general.p. 298.•• "t de lembrar-se que nas sociedadesonde há escassez, ou seja, em que amaioria dos cidadãos está de braços com osproblemas do subconsumo, os fatosmateriais tendem a assumir excessivarelevincia na conduta. Resolvido porém,socialmente, o problema do consumo,graças a alta produtividade do sistematecnicoeconômico, os motivos fundamentaisda conduta humana estilizam-se,perdendo relevância o fator econômico,ao mesmo tempo em que outros motivos,antes subsidiários, aumentam sua influên-cia. O atraso moral é, em certo sentido,uma seqüela crônica do complexo deescassez. Inversamente, o elemento éticoé inseparável da síndrome de abundância.Tais correlaçlies slo tanto maispertinentes, quando nos cingimos li esferada organizaçlo." Ramos, G., Administraçãoe estratégia do desenvolvimento. Rio,Fundação Getúlio Vargas, 1960. p. 115.<7 Foi na Alemanha que se deu a reaçãoà Escola das Relações Humanas, vistacomo desenvolvendo uma atitudemanipulativa para com o operário emfunção dos interêsses da Administração.Neste aspecto, Elton Mayo continuaTaylor e Fayol; a critica alemã mostraraque a Escola de Relações Humanassubestimava o conflito, negara o pêso dosfatôres econômicos determinantes dapaz industrial; tinha a tendência aencarar as relações industriais como rela-ções interindividuais. A Alemanha foi oberço da reação intelectual à Escoladas Relações Humanas, pelo fato deque, industrializando-se tardiamente emrelação à Inglaterra e França, a elarestará pensar no plano crftico o que aprimeira realizou na Economia (Rev.Industrial) e a segunda no político(Rev. Francesa). Nos EUA, apesar dodesenvolvimento econômico, não se tomaratal postura crltlca, porque "onde asclasses já constituidas mas não fixas,ainda se modificam e substituem freqüen-temente, ao contrário dOS seus elementosconstitutivos, onde os métodos deprodução moderna, em lugar de correspon-der a uma superpopulação constante,compensam muitas vêzes a falta relativade braços e cabeças, e onde por fim,o n6vo e febril movimento de produçãomaterial que tem um mundo n6vo aconquistar, nllo possui nem tempo nemocasilo para destruir o velho mundoespiritual". Marx, Karl. Le 18 brumaire deLouis Napole6n. tditions Soeiales, 1928.p, 33.

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substituição da manufatura pelafábrica, absorção do êxodorural na nova mão-de-obra in-dustrial, transferência de ca-pitais do campo à cidade eaproveitamento dos resultadosdas ciências naturais no universoindustrial.

O desenvolvimento da máquinaa vapor dependia bàsicamentedos estudos dos gases deBoyle, das investigações sôbrea física do calor de Blach eCarnet e dos trabalhos sôbre aconservação da energia deHelmholtz. Sem as experiênciasde Faraday, a respeito dasbases físicas da eletricidade edo magnetismo, não teríamos odínamo ou o motor elétrico; aspesquisas sôbre os gases e aeletricidade permitiram osurgimento do motor de com-bustão interna. A química é aprecursora dos progressos daindústria do ferro, aço e petróleo.As investigações de Ampêrepermitiram o surgimento do te-légrafo e o trabalho de Hertzdeu a possibilidade a Marconide inventar o telégrafo semfio. A máquina a vapore o motor de combustãointerna superaram o boi e ocavalo, como fôrça motriz.

A Revolução Industrial iniciou-sena Inglaterra porque fôra o paísmais afetado pela RevoluçãoComercial; 48 eis que o sistemaindustrial medieval fundadonas guildas desapareceu emprimeiro lugar na Inglaterra, noséculo XI, no ramo têxtil, já fôrasuplantada pelo trabalho do-méstico, permitindo o incre-mento do processo de indus-trialização.

No século XVIII, a classe co-merciai inglêsa suplantara a ho-landesa, e com a acumulaçãode capital inglês possibilitou acriação de uma marinha mer-cante, que por sua vezreforçou a acumulação.

O incremento da demanda de ar-tigos têxteis, em 1700, demons-trara a escassez de artesãos;daí a necessidade dos meios me-cânicos.

O "cercamento" das terras paracriação de pastagens destina-das a manter o rebanho for-

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necedor de lã à manufatura têxtilurbana liberou mão-de-obrapara a indústria.

No plano continental, a Françafoi o primeiro país que sofreuas conseqüências das transfor-mações na ordem industrial. ARevolução Industrial na Françainiciou-se em 1825 com aderrota napoleônica, que fêz comque desaparecessem da Françaas máquinas têxteis de algodãoe metalúrgicas modernas, tor-nando a agricultura predominan-te, Iigada à escassezde alguns produtos in natura,à falta de mão-de-obraespecializada e escassez de ca-pital.

Sob influência de Turgot (1774-1776) tendem-se a destruir osprivilégios das guildas para li-beralizar a indústria. Com a leiChapelier, de 14 de junho de1791, declarando ilegais asreuniões dos operários, "pois pre-tendiam restabelecer os pri-vilégios das antigas corporaçõeseliminadas pela RevoluçãoFrancesa", criam-se as condi-ções ao desenvolvimento docapitalismo liberal.

A Revolução Industrial na Alema-nha deu-se de forma incomple-ta e gradualmente devido àpredominância do trabalho ma-nual e a persistência das peque-nas oficinas. Até a segundametade do século XIX, a Ale-manha estava industrialmenteretardatária, a agricultura cons-tituía a principal ocupação dapopulação. Até 1850, as má-quinas eram escassas, pois pre-dominava o sistema de trabalhodomiciliar; o país era pobredevido à persistência de um sis-tema de guildas e à falta de umEstado centralizado. A Alema-nha estava dividida em 39estados diferentes, o que impediaseu desenvolvimento industrial.Ela carecia de mercado inter-no e não possuia colônias.A invasão francesa ofereceu àAlemanha a possibilidade depassar do estágio do monopóliodas guildas ao sistema indus-trial liberal; entre 1868 e 1869,surge uma legislação quelegaliza a liberdade industrial; ostrabalhadores tiveram então li-berdade para oferecer sua

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mão-de-obra no mercado, sendoremovidos todos os obstáculosao desenvolvimento industrial.

A União Aduaneira Alemã per-mitiu a ampliação do mercado.Com o surgimento do sistemaferroviário estendiam-se maisos limites do mercado alemão.A Alemanha, além de importarmáquinas da Inglaterra, impor-tara mão-de-obra com aemigração de trabalhadoresespecializados inglêses integra-dos nas áreas industriais daAlemanha.

Na Inglaterra, a primeira indús-tria totalmente mecanizada foia têxtil, no seu ramo algodoeirocom a introdução da máquinade fiar automática de Hargreaves,a máquina hidráulica deArkright, a mule de SamuelCoompton, que permitia a pro-dução de um fio duro e finoe Cartwright inventara o tear me-cânico; isso levou ao declíniodo artesanato e ao aumentodo contingente operário. Acres-ce o invento de Whitney que, em1794, conseguiu por meiosmecânicos a separação da se-mente de algodão da fibraque, por via manual, era lenta ecomplicada. Whitney obtevepor meios mecânicos essa sepa-ração, determinando uma re-volução na indústria algodoeirae do setor agrícola, conduzindo aespecialização do Sul dosEUA nesse ramo, estimulandoassim a expansão da escravidão.

A máquina têxtil e a máquinaa vapor produziam a fôrça mo-triz. Tôda essa maquinarianecessitava de grande quanti-dade de ferro a preço baixo, fatoque levou a substituição docarvão de madeira que desfi ores-tava grandes áreas, pelo carvãocoque aliado ao alto forno deSmeaton com o método Besse-mero Paralelamente, a extraçãode carvão tornou-se maissegura quando Davy inventaa lâmpada de segurança nasminas, diminuindo a freqüênciadas mortíferas explosões de gás

•• Num sentido contrário. defendendo atese do incremento da Revolução Industrialpor trans.erêncla de renda do setoragrário ao industrial. Bairoch, Paulo. Larevoluti6n industrial y el subdesarrollo.México, Ed. Siglo XXI, capo 5, p. 79.

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no interior das minas, tendo ométodo Siemens-Martin supera-do o método Bessemer no fabricode aços finos.Essa infra-estrutura tecnoló-gica acompanha a emergênciado sistema fabril, que consistena reunião de um grande númerode trabalhadores numa só fá-brica, disciplinando o operário.A inspeção realizada pelo capi-talista atua na fábrica, disci-plinando o operário. De iníciotemporária e esporádica, porocasião da distribuição de maté-ria-prima e recolhimento doproduto acabado, transforma-sena presença constante no pro-cesso fabril. Assim, o tecelãoque chegasse cinco minutosapós o, último sinal ou que dei-xasse algum resíduo nos fusos,assobiasse ou deixasse abertaa janela era multado em 1 xelimpor cada contravenção. 49

As condições de habitação igua-lavam nos seus aspectos ne-gativos às condições de tra-balho, onde o parcelamento dasoperações produzia a fadiga,tédio e surmenage. Os novoscentros industriais abrigavamtrabalhadores em choças prepa-radas precipitadamente. 110Trêsquartas partes dos trabalha-dores de fábrica de algodão erammulheres e crianças que tra-balhavam nas máquinas, osaprendizes mendigos que abun-davam na Inglaterra eram em-pregados como arrendados pelas

. autoridades às manufaturas,com jornadas de trabalho de 14a 16 horas diárias.Os fiadores de algodão deManchester, em 1806, ganhavampor semana em média 24xelim; só em 1897, alcançaram37 xelim. Isso representa umdesnível em relação ao in-cremento da renda da emprêsacapitalista inglêsa. No séculoXIX, "embora subissem ligeira-mente os salários, os trabalha-dores não especializados naInglaterra mantinham-se na basedo salário mínimo vital, e, àsvêzes, abaixo do mesmo, abran-gendo 31% da população lon-drina, vivendo abaixo da linhada pobreza".1I1

A situação nas minas não eramelhor; mulheres e crianças

A teoria geral da admintstraç40

eram empregadas, de 12 a 16horas por dia, em poços subter-râneos. Isso obrigou o Estadoa intervir nas relações industriais,regulamentando as horas detrabalho: no ano de 1874, aidade mínima de trabalho erade 10 anos e a jornada máxima de10 horas. Na Alemanha, a partirde 1891, tornou-se ilegal acontratação de uma criança quenão tinha terminado sua es-colaridade mínima aos 13 anos.A partir de 1901, a idade mí-nima de uma criança apta aotrabalho era de 14 anos e a jor-nada máxima, de meia jor-nada de trabalho de um totalde 12 horas.52A resposta à Revolução Industrialna Inglaterra, França e Alema-nha será fornecida pelos teóri-cos, Saint-Simon, Proudhon,Fourier e Marx que contestarãoa nova ordem de coisas numnível global, ou seja, na procurade um modêlo de sociedadeglobal que seja a negação da-quela que emergiu com a Revo-lução Industrial.Saint-Simon, na sua obraL'organizateur (1819-20) pre-nuncia a noção de uma direçãocientífica confiada a um govêrnoconstituído de três câmaras:Invenção, Exame e Executiva,constituída de líderes indus-triais, capitalistas e banqueiros."A inoculação política de vastamaioria da sociedade existepara ser governada da maneiramais barata possível, quandopossível; governada pelos ho-mens mais capazes e de maneiraque se assegure a mais com-pleta tranqüilidade pública.Ora, os mesmos meios de satis-fazer nestes vários aspectos, aodesejo da maioria, consistemem conferir poder aos maisimportantes industriais, que sãoos mais interessados na econo-mia das despesas públicas,os que são os maiores interessa-dos em restringir o poderarbitrário; finalmente, de todos osmembros da sociedade são osque mais têm dado prova decapacidade na administraçãopositiva, tendo sido evidenciadoo sucesso que obtiveram emseus vários empreendimentos". 118Saint-Simon elabora a primeiracrítica de conteúdo a respeito

da emergência do modêloliberal, ao enunciar que a "De-claração dos Direitos do Homeme do Cidadão, vista como asolução do problema social,na realidade era o seu primeiroenunciado". 114~Ie não perdede vista que o desenvolvimentoindustrial leva a superar umtipo de saber jurídico - formal,que desconhece o econômico,"a inferioridade dos legistas ésua ignorância do econômico,isto é, da produção, partindodos interêsses que são os damaioria de um regime modernoque é industrial". 55

Após definir que os produtoresconstituem a sociedade legí-tima, postula a afinidade dosinterêsses da indústria com asociedade, na medida em quea sociedade global tem por basea indústria. A indústria é umagarantia de sua existência.O contexto mais favorável à in-dústria será o mais favorável àsociedade. 56 A sociedademoderna "só dá direito de per-tencer a eia, os trabalhado-res"; 117eis que a classe traba-lhadora "deve ser a única". 58

Saint-Simon, "o cérebro maisuniversal de seu tempo, comHegel",1I9enunciava que é "peloestudo direto e positivo da so-ciedade que se descobrirão essasregras (da vida social); nelas

'" Hamon, J. L. B.; & Barbara. Tha townlabourar. Longmans, 1925. p. 19-20.

10 Hammond, B. Tha rise of modernindustry. Harcourt Brace, 1926, capo 3,The age of the Chartists.

••. Booth, Charles. Life and labor of thepeople of London. MacMillan, 1891/1903.

a Hegel notara os aspectos negativosIntroduzidos pela divisão do trabalho naindústria moderna: "Pela universalizaçãoda solidariedade entre os homens, porsuas necessidades e técnicas que permitemsatisfazê-Ias. a acumulação de riquezasaumenta de um lado, pois essa duplauniversalidade produz os maiores lucros;mas de outro lado, a divisão e limitaçãorestrita do trabalho e por conseguintea dependência e angústia da classe depenodente dêsse trabalho aumenta por suavez. e ao mesmo tempo, a incapacidadede sentir e desenvolver certas aptidõese faculdades, particularmente as vantagensespirituais da sociedade civil". Hegel.Principes da philosophia du droit.Gallimard, p. 183.

a Gray, Alexander. Tha socialist tradition.London, Longmans, Greed and Co., 1947.

•• Simon, S. Oeuvres, v. 19, p, 84.

•• Simon, S. op. cit. p. 124.

•• Simon, S. OP. cito V. 18, nota X·A.

••• Simon, S. op. cit. p. 128.

•• Simon, S. ep, cito v. 20, p. 74.

•• Engels, F. Anti Dhurin,. Paris, 1931.capo I, P. 13.

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é que é necessário descobrir asbases da política". 60

Saint-Simon ocupa uma posição-chave entre os teóricos dasideologias totais na época ime-diatamente posterior à Revo-lução Industrial, pois êle "aju-dou a transformação da socieda-de nessa arte que se chamaráo socialismo, nessa ciênciapopular em que Adam Smithe David Ricardo definiram suafórmula básica: o valor tem pormedida o trabalho". 61

Fourier, teórico socialista, éconsiderado atualmente um pre-decessor das técnicas de di-nâmica de grupo, considerandoa emprêsa como "grupo".Tendia Fourier a ver, na marchada sociedade, o caminho parao estabelecimento de umaharmonia universal, a partir docontrôle das paixões humanas.Estabelece Fourier uma solida-riedade básica entre a sociedadeglobal e os padrões educacio-nais, ao admitir que um coleti-vismo social leva a uma pe-dagogia não individualista.Inicialmente, Fourier ataca adeclaração dos Direitos do Ho-mem e do Cidadão, oriunda daRevolução Francesa, ao de-nunciá-Ia como "uma Carta in-completa e desprezível, porqueomitiu o Direito ao Trabalho, semo qual todos os outros sãoinúteis".62 Teve ela o condãode "produzir um tal caos políticoque é de se admirar se o gê-nero humano pôde regredirmuitos milhares de anos nasua evolução social". 63concluin-do Fourier que "não há nadaa esperar de tôdas as luzes ad-quiridas; é necessário procuraro bem social em alguma novaciência".64 Só ela trará afelicidade à humanidade, pois éevidente que "nem os filósofos,nem seus rivais sabem remediaras misérias sociais e, sob osdogmas de uns e outros, vê-sea perpetuação das chagas maistristes, entre outras, a indigên-cia".65 Combatendo a po-breza como "a mais escandalosadesordem social", 66visualizandoa civilização como "a guerrado rico contra o pobre" 67e para sair dêsse estado decoisas, Fourier apresenta umafórmula e antecipa o fato de que

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"é a mim sàmente que as ge-rações presentes e futuras de-verão a iniciativa de sua imensafelicidade; venho dissipar asnuvens políticas e morais esôbre os dogmas das ciênciasnaturais, eu fundamento a teo-ria da harmonia universal". 68

A sociedade futura, que irá su-ceder à "incoerência" civili-zada, não admite "moderação,igualdades, nem pontos de vistafilosóficos. Ela quer aspaixões ardentes e fecundas;desde que a associação está for-mada, elas se articulam maisfàcilmente, quanto mais vivasforem, mais numerosas". 69Fourier antevê uma sociedadeonde "as jornadas de trabalhoserão curtas, o trabalho serávariado, parcelado't.w Surgiráuma sociedade natural onde"os Falanstérios (comunidades)se agruparão por influência desuas paixões, gostos e caracteres.A ordem nascerá naturalmente,espontânea mente do [ôgo dasatrações". 71

Na sua teoria social total, Fouriervê o elemento afetivo comofator de solidariedade social,estruturando "a concepção socialdas paixões hurnanas't."> Elasdesenvolverão o espírito dosagrupamentos sociais, levando"a economia de tempo, matérias-primas, maior rendimento,menor fadiga, desaparecimentodo desprêzo do rico pelopobre. Não haverá vagabundos,nem pobres, as antipatias so-ciais desaparecerão com ascausas que as engendram". 73O estabelecimento de tal socie-dade perfeita demanda, paraFourier, um prazo curto, "doisanos para sua organizaçãocomo cantão societário - suaexpansão pelo mundo levarámais tempo - seis anos para or-ganizá-lo pelo globo". 74

Fourier com Saint-Simon é umdos últimos representantes dospropugnadores por soluçõessociais globais a curto prazo.Sua descrição paradisíaca dofuturo liga-se à crítica acreda sociedade de sua época, le-vando-o à concepção de que"uma sociedade só pode decairem função do progresso so-cial".75 .

2.2 A teoria de Karl Marx

O marxismo aparece como fi-losofia da ação, 76 onde a von-tade humana tem um papelcriativo, superando as determi-nações ambientais, 77 paraconseguir a constituição doproletário como classe, derruba-da da supremacia da burguesiae conquista do Poder. 78

Eis que, para Karl Marx, a con-dição essencial de existênciada burguesia é a formação ecrescimento do capital, condiçãobásica para a luta de classes,que caracteriza o processo dahistória,79 no qual a burguesiadesempenhou um papel revolu-cionário. Ela liquidou as relaçõesfeudais e patriarcais, definiu,pela exploração do mercadomundial, um caráter universalàs relações de produção e troca,submeteu a área rural à urbanae efetuou a centralização po-Iítica.80

Denunciando porém, Karl Marx,a estreiteza das estruturas cria-das pela burguesia para contera riqueza em seu seio, 81 a

o. Simon, S. Producteur. v. 2, p, 59.61 Leroy, M. Histoire des idt1es sociales enFrance. Paris, 1962. v. 1, p. 238.62 Fourier. Oeuvres complêtes. v. 6, p. 193.•• Fourier. op, cito p. 37.M Fourier. op. cito V. 1, p. 39.•• Fourier. op, cito p. 38.•• Fourier. op, cito p. 185.67 Fourier. op. cito p. 199,•• Fourier. op. cito p. 13.•• Fourier. op. cito p. 9.'10 Fourier. Noveaux monde industrial. p. 54.71 Fourier. Traité de I'association. 1922.t. 5, p. 249.•• Fourier. op. cito p. 135.•• Fourier. Traité de I'association. t. 1.p. 135.•• Fourier. Oeuvres complêtes. v. 1, p. 17.75 Fourier. op. cito p. 91.•• "Os filósofos têm apenas interpretado omundo, de diversas maneiras; o queinteressa é mudar o mundo." Engels, F.Teses sObre Feuerbach. Ludwig Feuerbachet la philosophie classique allamande.~d. Sociales.77 "A hist6ria não faz nada, nãe possuiimensas riauezas, nlo trava batalhas. Sãohomens vivos, reais que fazem tudo isso,possuem coisas e armam combates.Não é a história que utiliza os homens,como meio de alcançar, com" se fOsse tam-bém uma pessoa - seus próprios fins.A história não é nada senão a atividade,homens perseguindo seus objetivos."MEGA. V. 1, capo 3, p.265.•• Marx. Karl. Manifesto do Partido Comu-nista. Ed. Vitória, p. 327.•• Marx, K. cp, cit., Ed. Vitória, p. 22.ao Marx, K. op, cit., p. 27. "Constituindoem uma só nação, com uma só lei, um sóinterêsse nacional de classe, uma sóbarreira alfandegária".•• Marx, K. op. cito p. 29.

Revista de Administração de Emprêsaa

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própria burguesia criou seus opo-sitores: os operários, concluin-do que a queda e a vitóriadêstes são igualmente inevi-táveis.82

Karl Marx elaborou, em suasgrandes linhas, uma filosofia deconflito social, estruturando umavisão da sociedade global cujaspremissas são os homens, no seuprocesso de vida em sociedade. 83Nela, o trabalho aparece comogrande fator de mediação queenriquece o mundo de objetostornado poderoso, ao lado doempobrecimento "em sua vidainterior" de trabalhador, ondeêste não é dono "de si pró-prio".84 O fruto do trabalho apa-rece como um "ser estranho comum poder independente do pro-dutor",85 onde as relaçõesmútuas dos produtores tomam aforma de uma "relação socialentre coisas". 86

A industrialização promove novaestratificação social: as classesmédias aparecem como elemen-to conservador do sistema. 87O lúmpen proletariado, embo-ra sujeito a acompanhar oproletariado, por suas condiçõesde vida "predispõe-se maisa vender-se à reação'';» "crista-lizam uma formação social ondea emancipação do operáriocomo classe, implica a liberta-ção da sociedade global". 89

Karl Marx fornece uma visãosociológica finalista, que perpas-sa seu pensamento no nível demodelos macrossociais, surgin-do como reação ao desafio daRevolução Industrial inglêsa,onde a divisão manufatureira dotrabalho como combinação deofícios independentes, implicaa concentração do processoprodutivo, criando estruturas"reificadoras" do homem. Aolado da importância atribuída àfábrica como instituição decisi-va da sociedade industrial,Marx incidentalmente aborda oprocesso de burocratização daernprêsa.w a patologia indus-trial,91 sem porém, desenvolversistemàticamente uma teoria daorganização.

A teoria geral da adminiStração

3. TERCEIRA FASE DAINDUSTRIALIZAÇÃO

Ela se inicia com a decadênciados ofícios tradicionais. Os ofí-cios qualificados subdividem-se, especializam-se, emboraoutros ofícios, quecontinuam qualificados, percamparte de seus valôres. Os novosofícios estão na dependênciade uma máquina que sofre aper-feiçoamento contínuo.w Amaquinaria específica dessanova divisão de trabalho é o tra-balho coletivo, como continui-dade dos trabalhos parciais.

A especialização impede que oaprendiz passe a ajudante eêste a companheiro; o trabalhocomo elemento de ascensãosocial implicará a "educaçãopermanente".

A equipe de trabalhadores emrerno de uma pessoa, um oficialcom experiência, desaparece,na medida em que o cálculosubstitui a experiência, medianteanálise no Departamento deMétodos; efetua-se assim a se-paração entre concepção eexecução do trabalho na em-prêsa. A indústria têxtil adotainicialmente êsses métodos;paralelamente, a indústria deconstrução naval conserva o sis-tema profissional de trabalho.

O aumento da dimensão da em-prêsa no período da segundaRevolução Industrial, além deocasionar uma mutação, ondeas teorias sociais de caráter to-talizador e global (Saint-Simon,Fourier e Marx) cedem lugaràs teorias microindustriais dealcance médio (Taylor, Fayol),implica, no plano da estrutura daernprêsa, a criação "em graumaior ou menor de uma direçãodeterminada, que harmonizeas atividades individuais e querealize as funções gerais quederivam da atividade do corpoprodutivo no seu conjunto".93 Ocrescimento da dimensão daemprêsa irá separar funções dedireção, de funções de exe-cução.w Dá-se assim, a substi-tuição do capitalismo liberalpelos monopólios. Entre1880/90, nos Estados Unidos,

instala-se a produção em massa,o número de assalariados au-menta em 1.500 mil, é necessá-rio evitar-se o desperdício eeconomizar mão-de-obra.

3.1 Os fundamentos quakerdo sistema Taylor

Taylor, oriundo de uma famíliade quakers,95 foi educado naobservação estrita do trabalho,disciplina e poupança. Edu-cado para evitar a frivolidade

82 Marx, K. op, cito p. 37.83 "A consciência jamais poderá seralguma coisa além da existência conscientee a existência dos homens é o seuprocesso de vida atuante." MEGA. v. 1.capo 5, p, 15-17.

•• MEGA. v. 1, capo 3, p. 83-84.

•• MEGA. V. 1, capo 3, p. 83.

56 Marx, K. EI capital. V. 1, p. 7778.87 Marx, K. Manifesto... p. 34.

88 Marx, K. Manifesto... p. 34.

89 ••••• Pois ela é uma perda total dahumanidade, em suma, ela, a classe operáriasó pode redimir-se por uma redençãototal da humanidade." MEGA. v. I, capo 1,p. 617-21.

DO Marx, K. EI capital. v. único, capo 12.p. 244 e 261.

01 Marx, K. op. cito capo 12, p. 266-67.•• "A manufatura desenvolve a produçãoem série, cada trabalhador tem uma funçãoparcial, ela se decompõe em inúmerosantigos oficios." Marx, K. EI capital.capo 12, p. 255.

•• "Um violinista não precisa diretor,precisa-o o conjunto." Marx K. EI capital.p. 242.

•• A função inspetora direta e continuado trabalhador ou grupos de trabalhadorespassa a ser agora a função de uma classeespecial de assalariados. O trabalho devigilância transforma-se em função executivadessas pessoas." Marx, Karl. op, citocapo 11, p, 243.

•• "Ainda mais notável, pois apenas deveser lembrada a relação entre umafilosofia religiosa de vida com o maisintenso desenvolvimento da mentalidadecomercial, justamente no rol. daquelas seitascujo alheamento da vida se tornou tãoproverbial Quanto sua riqueza, princi-palmente entre os quakers e menonitas.O papel que os primeiros tiveram naInglaterra e América do Norte, coube aossegundos, nos Palses Baixos e Alemanha."Weber, Max. A ética protestante e oesplrito capitalista. Ed. Pioneira, 1967,p. 26. Max Weber constata que a tendênciadas minorias religiosas, privadas de poderpolftico, é "envolverem-se em atividadeseconômicas". Isto se deu "com os não-conformistas e quakers na Inglaterra".(Weber, M. op, cito p. 22) No fundamentodo ascetismo protestante, parte importanteao lado de outras seitas como "osbatistas, menonitas, coube principalmenteaos quakers". Weber, Max., op, cito p. 102.A idéia de que Deus fala sõmentequando as criaturas silenciam significouuma formação tendendo "para atranqüila ponderação dos negócios, paraorientação dêstes em têrmos de cuidadose justificação da consciência individual."Weber, Max. op. cito p. 106.

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mundana, 96 converteu o trabalhonuma autêntica vocação. 97

Iniciou sua vida profissionalcomo operário da Midval SteelCo., passando a capataz, contra-mestre e chefe de oficina, daía engenheiro.

o estudo do tempo, a cronorne-tragem definem-se como pedraangular de seu sistema de"racionalização" do trabalho.

Cada operação é decompostaem "tempos elementares"; au-xiliado pelo cronômetro, Taylordetermina o tempo médio paracada elemento de base do tra-balho, agregando os temposelementares e mortos, para con-seguir o tempo total do trabalho,com a finalidade messiânica 98

de evitar o maior dos pecados- a perda de tempo. A finali-dade maior do sistema é edu-cativa e manifesta-se pelaintensificação do ritmo de tra-balho. 99 Para introduzir seusistema, Taylor promove umacruzada contra as "idéias falsas",o empirismo, 100 preconizandoa prioridade do sistema sôbre oindivíduo, criticando, em nívelquaker, o pecado da idolatria do"grande iluminado".lOl Aprioridade do seu método abri-rá um ciclo de prosperidade. 102

O messianismo administrativode Taylor parte da função pro-videnciai do empresário, 103 queexiste para satisfazer os inte-rêsses gerais da sociedade e oparticular do consumidor. Issomotiva a coletividade ao apro-veitamento intensivo de suas ri-quezas, que a Providênciacolocou sob seu poder, racionali-zando sua conduta, sua vidadiária. 104

Há em Taylor, uma paideia, umideal de formação humana deum tipo de personalidade,conseqüência lógica da aplica-ção e vivência do sistema daAdministração Científica do Tra-balho. Tem seu sistema o mé-rito de acentuar a virtude doascetismo, lOGa mentalidade en-

16

tesouradora no que se referea dinheiro, 100 a abstinência deálcool, 107 trabalho constante 108

com "a figura do chefe enérgico,paciente e trabalhador" (Taylor)que incita a ambição do su-bordinado, condena anegligên-cia e dissipação. 109 No planosalarial, mercê de sua atitudepessimista ante a naturezahumana, 110 Taylor manifesta-sefavorável a baixos salários, ou,melhor, seu aumento deve serdosado gradativamente.

No plano de sua Teoria da Ad-ministração, Taylor define a bu-rocracia como emergente dascondições técnicas de trabalho,pela separação entre as funçõesde execução e planejamento,predominando a organizaçãosôbre o homem, acentuando

•• Evitar a "vaidade mundana, seja tOdaostentação, frivolidade, e uso das coisassem propósitos práticos, ou que forem valio-sas apenas por sua raridade, qualqueruso não consciencioso da riqueza, talcomo gastos excessivos para necessidadesnão muito urgentes, e acima da provisãonecessária das reais necessidades davida e do futuro". Weber, Max. op, cit.p. 218-19.

•• A gravidade de sua vida, seu entusiasmoreformista pela substituição do empirismopela ciência (Taylor. op, cito p. 94)têm profundas raizes na sua formaçAofamiliar, onde encontrou "ambiente de pu-reza de vida sA de ideal de emancipaçãohumana não só no aspecto moral, comotambém no intelectual, polltico e social".Mallat y Cutó, José. Organizacióncientl.ica dei trabajo. Espanha, Ed. Labor,1942, p. 11-12.

•• "Indicar por meio de uma série deexemplos a enorme perda que o pais vemsofrendo com a ineficiência de quasetodos os nossos atos diários". Taylor.op. cito p. 11.

•• "Aperfeiçoar o pessoal da emprêsa paraque possam executar' em ritmo maisrápido e mais eficiente, os tipos maiselevados de trabalho, conforme suas aptl-dões naturais." Taylor. op, cito p. 15.

101 "Os conhecimentos e métodos clentffl-cos a serviço da administração,substituirão em tõda parte mais cedo oumais tarde, as regras emplricas, porquantoéimposslvel o trabalho cientifico comos antigos sistemas de administração."Taylor. op, cito p. 94.

101 "O remédio para essa ineficiênciaestá antes na administração que naprocura do homem eXDepcional ou extra·ordinário." Taylor. op, cito p. 11. Essaatitude antiidolátrica transportada para osistema politico é que explica como oprotestantismo na medida em que condenaa idolatria das pessoas, constitui-seem antldoto à obediência passiva alideres carismáticos totalitários, cria umethos democrático com base nessa descon-fiança do grande IIder.

101 Sob "a administração cientffica, asfases intermediárias serão mais prósperase mais felizes, livres de discórdia edissensões. Também os perlodos deinfort(mio serlo em menor nOmero, maiscurtos e menos atrozes". Taylor. op. citop.29.

1011 Em Taylor dá-se a valorizaçllo positivada indOstria, da funçAo do trabalho e doempresário no sistema social global.Isso se deve à sua formação quaker.Pertencendo a uma das inOmeras seitas daIgreja Reformada que auto-excluiu-se dacidadania polltica ao "recusar-se aprestar serviço m ifita r, Inabilitando-se,portanto, à nomeação para os cargos pO-blicos" (Weber, Max. op, cito p. 107),ela acompanha assim "o destino dasseitas marginalizadas, ao fortalecer a ten-dência a envolver-se com particularempenho nas atividades econllmicas".Weber, M. op. cit., p. 22. Dal a emergênciade um quaker preocupado com a adminis-tração cientlfica da ernprêsa, onde oempresário tem uma função providencial:"sua prosperidade é conseqüência deuma vida santa" (Weber, M. op, citocapo 5, p. 21), onde se concifia "auferirlucros e conservar-se piedoso" (Weber, M.op, clt. capo 5, p. 209, nota 39); comose dá a conciliação da administraçãocientlfica com o misticismo "a administra-ção cientlfica não pode existir se não existeao mesmo tempo um certo estado deesplrito, o qual o engenheiro (Taylor)define em têrmos quase mlsticos", Taylor.L'organization sCientifique dans I'industrieamericaine. Societé Taylor, Paris, td.Dunod, 1932, Taylor, p. 11.

1" O escrúpulo de sua conduta é para obatista função da "maior glória deDeus" (Weber, M. op. cito p. 79-80),"pertence especialmente ao quaker aconduta do homem tranqüilo, moderadoe eminentemente consciencioso" (p. 106).

101 "O ascetismo quaker desenvolveré osentimento religioso da vida com o maisintenso desenvolvimento da mentalidade co-merciai" (Weber, M. op. cito p. 26);isso levou-o a dar um "significadoreligioso ao trabalho cotidiano secular"(p. 53) onde êle aparece como a maisalta expressão de "amor ao próximo"(p. 54).

••• "O carregador de lingotes de ferrotinha fama oe ser seguro" (Taylor. op, citop. 66), isto é, "dé muito valor ao dinheiro,um centavo parece-lhe tão grande comouma roda de uma carroça". (Taylor.op, cito p. 42). Os operérios que foramaumentados "começaram a economizardinheiro" (p. 66), cumprindo os preceitospuritanos de Benjamin Franklin queenunciara: "Lemb{a-te que o dinheiroé por natureza prollfica, procriativa. Odinheiro pode gerar dinheiro e seu produtopode gerar mais e assim por diante".Weber, Max. op, cito p. 30.

"" A condenação do álcool é um doselementos do puritanismo; por essa razão,"os escoceses estritamente puritanos eos independentes inglêses foram capazesde manter o principio de que o filhode réprobo (de bêbado) não devia ser ba-tizado". Weber, Max. op. cito p. 167.nota 21.

108 "De acOrdo com a ética quaker a vidaprofissional é uma prova de seu estadode graça que se expressa no zêlo emétodo, fazendo com Que cumpra suavocação. Não é um trabalho em si, masé um trabalho racional, uma vocação queé pedida por Deus". Weber, M. op. citop. 115.

lCO Para o quaker a vida profissional dohomem define seu estado de graça, parasua consciência que se expressa no zêlo".Weber. OP. cito p. 115. Nesse contexto,"a vadiação é o maior mal". Taylor. p. 74-

no "Quando recebiam mais de 60% doseu salário muitos dêles trabalhavamirregularmente e tendiam a ficar negligen-tes, extravagantes e dissipadores. Emoutras palavras, nossas experiênciasdemonstraram que para a maioria doshomens não convém enriquecer depressa"(Taylor. op. cito p, 68), confirmando asafirmações contidas no calvinismo secula-rizado pelo protestantismo holandês "aoafirmar que as massas s6 trabalhamquando alguma necessidade a isso asforce" (Weber. op. cito p. 128).

B.etJlBtade Admfni8traçilo de Empr~(U

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como fator motivacional único, omonetário. 111

Taylor parte de um ponto devista segundo o qual o interêssedos trabalhadores é o da admi-nistração, desconhecendo astensões entre a personalidade ea estrutura da organizaçãoformal.

A análise de tempos e movimen-tos, base do taylorismo, se porum lado foi recebida comagressividade pelos operáriosda indústria em geral e pelosda American Federation of Labor,por outro foi entusiàsticamentedefendida por Le Chatellerque compara Taylor a "Descartes,Bacon, Newton e ClaudeBernard".112

Taylor procura fazer com que osoperários possam executar em"ritmo mais rápido, os maispesados tipos de trabalho". 113Para isto seleciona para seustestes, dois dos melhores traba-lhadores, isto é, atípicos que"por sua robustez física tinham-se revelado dedicados e efi-cientes", 114 sendo, porém, osde menor "nível mental". 115Estáclaro que Taylor não toma comobase o operário médio, valorizan-do um tipo de fadiga, a muscular,desconhecendo a fadiga maissutil, a nervosa.

Quanto aos tempos, verificou-seposteriormente ser impossíveldecompor minuciosamente umaoperação em seus elementos, deforma que os tempos corres-pondentes sejam sempre úteis.O chamado tempo "morto" temum papel positivo, qual seja,de restabelecer a energiaperdida para a continuidade doprocesso produtivo. Por outrolado, o aumento de produtivida-de, apresentado por Taylorcomo um dos resultados do sis-tema nôvo, na medida em queêle tem como elemento moti-vador o aumento salarial, é di-fícil saber se êste se deve à novatécnica de trabalho ou aoprêmio.

A teoria geral da administração

O estudo dos movimentos de-pende das dificuldades indivi-duais e a velocidade não é omelhor critério para medir a fa-cilidade com que o operáriorealiza a operação. Seu métodorepresenta uma intensificação enão racionalização do processode trabalho. 116 Hoje, solicitam-se rendimentos ótimos, nãomáximos.

Taylor estudou o trabalho pesa-do, não qualificado, com apá,117 trabalho de fundição 118e de pedreiro, 119daí sua pre-ocupação com a fadiga musculare seu desconhecimento dafadiga nervosa. Alie-se a umavisão negativa do homem, ondeos indivíduos nascem preguiço-sos e ineficientes, 120infantili-zados 121e com baixo nível decompreensão.w- Com essavisão do homem, êle define opapel monocrático do adminis-trador.123

A separação entre direção e exe-cução, autoridade monocrática,acentuação do formalismo naorganização, a visão da adminis-tração, como possuidora deidênticos interêsses ao operário,definem o ethos burocráticotaylorista, complementado porFayol.

Fayol, seguindo a linha de Taylor,defende a tese segundo a qualo homem deve ficar restrito aseu papel, na estrutura ocupa-cional parcelada. 124

No plano da remuneração, ma-nifesta-se contra a ultrapassagemde certos limites, 125comparan-do a disposição estática dasferramentas na fábrica com ospapéis das pessoas na organi-zação social, 126reafirmandoa monocracia diretiva, 127combi-nada com um tratamento pater-nalista do operário, 128concluin-do que administrar é prever,organizar, comandar e controlar.

Elemento básico na teoriaclássica da administração, emTaylor e Fayol, é o papel con-ferido à disciplina copiada dos

modelos das estruturas mlll-tares.129

Os modelos administrativosTaylor-Fayol correspondem à di-visão mecânica do trabalho(Durkhein), onde o parcelamen-to de tarefas é a mola do sis-tema. Daí ser importante nessesistema que o operário saibamuito a respeito de pouca coisa.No referente à remuneração,Fayol continua a tradiçãoquaker de Taylor - não pecarpor excesso.

UI "t preciso dar ao trabalhador o queêle mais deseja: altos salários" (Taylor.op, cito p. 14).

lU Ramos, G. Sociologia industrial. p. 127.

U3 Taylor. op. cito p. 15.

1Uo Taylor. op. cito p. 51.

m "Um dos requisitos para que o individuopossa carregar lingotes como ocupaçãoregular é ser tão estúpido e fleumático"(Taylor. p. 58).Há precedente históricoa respeito da utilização nd indústria depessoas de baixo nlvel mental: "nosmeados do século XVIII, algumas manufa-turas empregavam para certas operaçõesSimples, que constitufam segredos deprodução, de preferência pessoas seml-idiotas". Tucker, J. D. A history of lhepast and present state of the labourinll:population. London, 1846. v. I, p. 149.tsse perlodo oferece material para elabora-ção de uma pato'ogla industrial queserá desenvolvida sistemàticamente porMeignez. La patologie seeíate de I'entreprise.Paris, td. G. Villars.

118 Taylor. op. cito p, 106

UT Taylor. op. cito p. 61.

U8 Taylor. op. cit. p. 44.

U8 Taylor. op. cito p. 77.

UI) Taylor. op. cito p. 29.

m Taylor. op, cito p. 89.122 Taylor.op. cito p. 89.

toa Taylor. op, cito p. 75. "A atribuiçãode impor padrões e forçar a ccoceraçãocompete exclusivamente à direção".

12< Fayol, H. Administração industrial geral.São Paulo, Editôra Atlas, 1960. p. 31."Cada mudança de ocupação, de tarefasimplica num estôrço de adaptaçãoque diminui a produção."

1JII5 Deve-se "evitar o excesso de remunera-ção, ultrapassando o limite razoável".Fayol. op, cito p. 39.1JII5 "Um lugar para cada coisa, cada coisae cada pessoa no seu lugar". Fayol.op, cito p. 51.

127 Fayol. op, cito p. 51.

lJI8 Fayol. op, cito p. 54.,.. "Não necessita de demonstração espe-cial o fato de que a disciplina militar"foi o padrão ideal das antigas implantações,como das emprêsas industriais capitalistas"modernas". Weber. Economia y sociedad.vol. 4, capo 5, p. 80. Essa visão éintegrada no corpo da Teoria Clássicada Administração quando Fayol defineque "isso tem sido eXlJreSSOcom grandevigor" na área da emprêsa. Fayol. op. cit.p. 51.

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Ao enfatizar a função exemplardo administrador êle define aslinhas essenciais do burocratis-mo de organização formal.

No fortalecimento dos chefesde oficina e contramestre porum Estado Maior,130enfatiza êleo papel da disciplina estrita naorganização fabril. Define êlea linha de pensamento que oCoronel Urwick irá acentuar noparalelismo entre a organizaçãomilitar e a industrial.

~sse paralelismo já fôra obje-tivo de estudo de Max Weber.131Com efeito, a guerra criou, àsua maneira, um tipo de diretorindustrial, integrando o engenhei-ro civil, mecânico e marítimo.Por outro lado, o exame topo-gráfico, o uso dos mapas,planos de campanhas, prefigurao conceito atual de "campanha"publicitária. As condições detransporte, intendência, divisãode trabalho entre cavalaria, in-fantaria e artilharia, a divisão dosprocessos produtivos entre essastrês armas,define que a me-canização se dera antes naárea militar e posteriormentena manufatura industrial. Amecanização industrial comosistema permanente, sempretendeu a copiar os modelosmilitares. Por influxo de um mi-litar, Napoleão 111, foi oferecidauma recompensa a quem in-ventasse um processo baratopara o aço, capaz de suportar afôrça explosiva de novasbombas. Daí surgiu o processoBessemer.

Não é necessário acentuar quea demanda de uniformes parao exército - realçada porSombart - foi a primeira emgrande escala de mercadorias pa-dronizadas.

'I

Porém, isso implica um alto nívelde burocratização e formalismoorganizacional.

o esquema Taylor-Fayol apare-ce como um processo de impes-soalização, definida esta peloenunciado de tarefas 132e espe-cialização das mesmas: as

18

pessoas se alienam nos papéis,êstes no sistema burocrático.

A decisão burocrática é absolu-tamente monocrática, só háum fluxo de comunicação. Oempregado adota os mitos dacorporação, que constitui umaatribuição de status e ao mesmotempo cria-se um jargão admi-nistrativo esotérico. 133

Conclusivamente os esquemasTaylor-Fayol fundam-se na justa-posição e articulação de de-terminismos lineares, fundadosnuma lógica axiomática que criaum sistema de obrigação devidoà 'lógica interna.

Daí operar uma racionalidadeem nível de modêlo, onde asoperações de decomposição eanálise, fundadas em aspectosmicroeconômicos, criam umsistema de coordenação de fun-ções, donde emerge uma estru-tura altamente formal. Seucomando é centralizado, fundadonuma racionalidade burocráti-ca, baseada na racionalização

.das tarefas, sua simplificação eintensificação do trabalho.

A mudança das condições detrabalho leva à mudança dosmodelos administrativos.

A evolução do trabalho especiali-zado, como situação transitóriaentre o sistema profissionale o sistema técnico de trabalho,a desvalorização progressivado trabalho qualificado e a va-lorização da percepção, atenção,mais do que da habilidade pro-fissional, inauguram a atualera pós-industrial.

O conjunto volta, na emprêsa, ater prioridade sôbre as partesquando ela alcança alto nível deautomação. Efetua-se a mu-dança do operãrío "produtivo"para o de "contrôle". A novaclasse operária vai caracterizar-se pelo predomínio de funções decomunicação, 134sôbre as deexecução.

Numa fábrica automatizada tor-na-se impossível manter a ficçãode uma hierarquia linear sim-ples (modelos Taylor, Fayol):são necessários especialistas

funcionais que devem comuni-car-se entre si. O princípioorganizacional não se estruturana hierarquia de comando: êlese define na tecnologia que re-quer a cooperação de homens devários níveis hierárquicos equalificações técnicas.

O operário de contrôle, nessesistema, só poderá ser conside-rado um elemento qualificado,na medida em que lograr desco-dificar os sinais observados. Osistema técnico de trabalho li-ga-se às formas de organização.Daí a possibilidade de uma di-visão de funções mais dinâmica.

A elevação do nível de cultura eo abandono do nível tayloristaque separa radicalmente notrabalho, concepção de execução,são os fatôres que permitirãomaior utilização da mão-de-obra.

No plano da dimensão da em-prêsa desenvolvem-se as grandescorporations como na Grã-Bre-tanha e EUA, após a I GuerraMundlal: ampliam-se as socieda-des por ações que produzema quase totalidade dos benspúblicos, como eletricidade,água e gás.

Passandoa sociedade norte-ame-ricana da fase inicial de subcon-sumo e acumulação para a faseda abundância e alta produtivi-dade, resolvidos os problemaseconômicos mais imediatos,têm lugar, na emprêsa, os pro-nlemas humanos que começam aser atendidos. ~ quando se dáo surgimento da Escola das Re-lações Humanas com EltonMayoj é quando no quadro damicroemprêsa, a direção não

130 Fayol. op. cito p. 134.

131 Weber, Max. Economia y sociedad.México, Ed. FEC, V. 4, capo 5, p. 80. "Nãoobstante, a disciplina do exército é ofundamento da disciplina em geral. O se-gundo grande instrumento disciplinador é agrande emprêsa econômica". Weber, M.Economia y sociedad. v. 4, capo 5, p. 80.

180 Taylor. op. cito p. 75.

1lI3 Fayol. op. cito p. 39.

1M Já E. Mayo acentua a importânciada comunicação na administração, mascoube a Chester Barnard elevar a categoriaa uma noçllo de sistema. Na indústriacibernetizada constitui a realidadeacabada do modêlo "sistêmico".

Revista de Administração de Emprêsas

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é função unificada de organl-ção e coordenação, mas sim,ponto de união em que se com-binam as exigências políticase funcionais da emprêsa.

o esquema de Mayo deveu-se afatôres empíricos. Convidado aestudar agudo turnover, no de-partamento de fiação de um fá-brica de tecidos em Filadélfia,calculado em 250%, solucionouMayo os problemas, criandoum sistema alternativo de des-canso a cada grupo, determinan-do o método e alternativa dosperíodos, de modo que cada umdêles tivesse quatro períodos

. de repouso por dia. O sucessodeveu-se ao fato de as pausasterem permitido transformar,num grupo social um gruposolitário de trabalho.

A atitude do empregado, em facede seu trabalho, e a naturezado grupo do qual êle participasão fatôres decisivos da produ-tividade para Mayo. 135

Elton Mayo aparece como umprofeta secular, que critica a va-lidade dos métodos democráti-cos para solucionarem os pro-blemas da sociedade in-dustrial.P" na medida em que asociedade industrial burocra-tizada procura criar a cooperaçãoforçada pela intervenção es-tatal.137

Na linha da Escola Clássica daAdministração (Taylor, Fayol),Mayo não vê possibilidades deutilização construtiva do conflitosocial, que aparece para êlecomo a destruição da própriasociedade. 138

Mayo vê na competição um siste-ma de desintegração social, namedida em que não leva àcooperação, acentuando êsseprocesso pelo conflito dos parti-dos polítlcos. 139 ~Ie nos colocadiante de um ideal medievalde corporativismo: o cumprimen-to dêsse ideárlo corporativocabe à elite dos administradoresda indústria. 140

Mayo partiu da análise de pe-quenos grupos segmentados doconjunto fabril, êste isolado dasociedade industrial, valorizandoo papel do consenso do peque-no grupo para produzir mais,minimizando o papel da auto-ridade na indústria, o que levao administrador da Escola deRelações Humanas a um "huma-nismo verbal" e à necessidade,às vêzes, de recorrer à autoridadeformal para satisfazer as quotasde produção exigidas.

Para Elton Mayo a cooperaçãodos operários reside na aceita-ção das diretrizes da adminis-tração, representando umescamoteamento das situaçõesde conflito industrial. Nessesentido, êle continua a linhaclássica taylorlsta.w' êste acen-tuava o papel da contenção di-reta, aquêle a substitui pelamanipulação.

Há uma incompatibilidadelógica no esquema de Mayo,qual seja, a luta pela cooperaçãoespontânea e a luta por suaorganização, incompatível coma existência de associaçõesvoluntárias.

Na sua crítica à Escola de Re-lações Humanas, a EscolaEstruturalista já mostrara queo conflito industrial não é ummal em si, cabe manejá-loconstrutivamente.

No plano institucional, Mayoatribui ao administrador umpapel que êle dificilmente poderácumprir, pois confunde conheci-mento especializado (adminis-trativo) com poder; daí propora noção de uma eliteadministradora dominante. 142

Apesar dos esforços de Mayopara tornar agradável o trabalho,as máquinas não evitam que omesmo se torne satisfatórioem nível absoluto. Embora Mayoveja o conflito como algoindesejável, o mesmo temfunção, às vêzes, de conduzir auma verificação de poder e doajustamento da organização àsituação real e, portanto, à paz.Acentuando o pêso do informal

no trabalho, desmentido pelofato de a ma ioria de operáriosnão pertencer a grupos infor-mais, Mayo cria condições parao aparecimento de uma críticaao seu sistema: a abordagemestruturalista das organizaçõesinicia-se assistemàticamentecom algumas perspectivas lan-çadas por Marx, analisando aemprêsa oriunda da primeirarevolução industrial e continua-das sistemàticamente por MaxWeber na análise da emprêsa,produto da segunda RevoluçãoIndustrial.

A crítica estruturalista emergiuna Alemanha, embora não fôsseo país-modêlo da emprêsaburocrática, sob pressão doalto nível político em que osassuntos sociais eram definidos,permitindo tornar a sociologia

'35 Mayo, E. In: Sociologia de la industriay de la empresa. México, Ed. Uthea,1965. "Sem dúvida muitos dos resultadosnão eram 'novos'. Ch. Cooley nos EUAe W. Hellpech na Alemanha assinalaramcom muita antecedência a importânciada formação de grupos". Dahrendorf.Sociologia de la industria y de la empresa.p. 50.

136 "Os métodos da democracia, longe deproporcionarem os meios de solução doproblema da sociedade industrial, provaramser inteiramente inadequados para atarefa." Mayo, E. Democracy and freedom,an essay in social logic. Australia, 1919.

'37 Mayo, E. op, cito p. 48. "O Estadonão pode produzir a cooperação por meioda regulamentação; a cooperação apenaspode ser o resultado do crescimentoespontâneo."

138 "O conflito é uma chaga social, acooperação é o bem-estar social." Mayo, E.op, cito p. 48.

139 "Em tôda a literatura dos séculos XIXe XX, apenas os defensores do EstadoCorporativo sugeriram que a satisfaçãono trabalho pode ser reconquistada apenaspela integração do operariado, nacomunidade da fábrica, sob a liderançada Administração." Bendix, R. & Fisher, L.As perspectivas de Elton Mayo. In:Etzioni, A. Ora:anizapiSes complexas.p. 126.

,<O "Se tivéssemos uma elite capaz derealizar tal análise dos elementos lógicose irracionais na sociedade, muitas dasnossas dificuldades seriam pràticamentereduzidas a nada." Mayo, E. op. cito p. 18.

1<1 "Ela (a abordagem das relações huma-nas) representa um adôrno da cooperaçãoantagônica entre operários e administra-dores". Bendix, R. In: Etzioni, A. Organiza-piSes complexas. Ed. Atlas, 1962. p. 129.

'" A idéia de que a revolução do séculoXX será "não dos operários, mas simdos funcionários" explicitada por Weber,Max. In: Ensaios de sociologia. Ed. Zahar,1946. p. 67, enunciada por Elton Mayoneste contexto, foi explorada sistemàtica-mente por James Burnham em sua obraclássica The manaa:erial revolution. NewYork, John Day Company, 1941.

A teoria geral $ administração 19

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alemã uma resposta intelectualà Revolução Industrial, ao níveldo Ocidente.

O esquema global de Elton Mayofundamenta-se numa aproxima-ção existencial (Hawthorne), aprocura de uma compreensãodinâmica e global, valorização doinformal, portanto da comunica-ção afetiva e simbólica levandoa noção das dinâmicas degrupos, acentuando o papel danegociação e do compromisso,elaborando uma visão otimistado homem, uma pedagogia emnível grupal e uma ação que visamais à "formação" do que à"seleção". Negativamente, aEscola das Relações Humanasaparece como uma ideologiamanipulatória que acentua apreferência do operário pelosgrupos informais fora do traba-lho, quando na realidade, ooperário sonha com a maiorsatisfação: largar o trabalho e irpara casa.143 Valoriza êstesistema símbolos baratos deprestígio, quando o trabalhadorprefere a êstes, melhor salário.Essa escola procura acentuar aparticipação do operário no pro-cesso decisório, quando a de-cisão já é tomada de cima, a qualêle apenas reforça.

4. CONCLUSÃO

No presente artigo abordamos oconceito de burocracia, desen-volvimento no plano lógico porHegel, 144 no histórico, pelasformações estatais definidascomo o "modo asiático de pro-dução". Nessas formações aburocracia detém o poder doEstado e constitui a própriaclasse dominante, cuja recorrên-cia histórica situa-se nasformações dos Estados: chinês,russo, egípcio, babilônico, e naforma atual, a URSS e os paísesque constituem o Bloco Oriental,China atual e Cuba.145

O artigo enunciou as determina-ções histórico-sociais quepresidiam a Revolução Industrialna França, Inglaterra e Alema-nha fonte geradora das teoriasexplicativas de caráter "total"e global: Saint-Simon, Fouriere Marx.

20

A passagem da máquina a vaporà eletricidade, ocasiona asegunda Revolução Industrial eo surgimento das teorias deTaylor e Fayol. Enquanto asteorias sociais totais abordavamos processos macroindustriais,Taylor e Fayol têm, como pontode partida, os aspectos micro-industriais, um método detrabalho adequado a umacivilização em fase acumulativade escassez e procura de rendi-mento máximo.

O taylorismo não se constituisàmente num estudo técnico detempos e movimentos, mas éinfluenciado pelo ethos puritanode origem quaker. Taylor desen-volve tôda uma paideia, ou seja,um ideal formativo de persona-lidade humana, em suma, umavisão do mundo.

Abordamos também a transposi-ção das formas de disciplinassurgidas inicialmente na áreamilitar para a área fabril,integradas na Escola Clássica daAdministração. 146

Por outro lado, a formação deholdings, a passagem da escas-sez à abundância, levará àenfatização do "fator humano"no trabalho com os estudos deElton Mayo e a Escola dasRelações Humanas.

A partir dos enunciados assiste-máticos de Marx no séculopassado, posteriormente àsistematização de Max Weber,aparece uma atitude crítica antea Escola das Relações Huma-nas, vista como ideologia demanipulação da administração.

A ênfase de Elton Mayo naespontaneidade, no grupalismo,levarão posteriormente à forma-ção das teorias administrativasfundadas nas técnicas de dinâ-mica de grupo. Essas técnicasacentuando a importância dacomunicação na emprêsa, ondeela aparece como um "sistema"interligado e o operário umdescodificador de sinais, criaas condições para a atual "teoriados sistemas". Ela apresentaum máximo de formalização, em

detrimento dos elementoshistóricos contingentes do pro-cesso industrial.

Em suma, as categorias básicasda teoria geral da administraçãosão históricas, isto é, respondema necessidades específicas dosistema social.

A teoria geral da administraçãoé ideológica, na medida em quetraz em si a ambigüidade básicado processo ideológico, queconsiste no seguinte: vincula-seela às determinações sociaisreais, enquanto técnica (detrabalho industrial, administra-tivo, comercial) por mediaçãodo trabalho; e afasta-se dessasdeterminações sociais reais,compondo-se num universo sis-temático, organizado, refletindodeformadamente o real, enquantoideologia.

Assim como as teorias macroin-dustriais do século passado deSaint-Simon, Fourier e Marxrepresentaram a resposta in-telectual ante os problemasoriundos da revolução industrial,as teorias microindustriais deTaylor-Fayol responderão aosproblemas da era da eletricidadee a Escola das Relações Huma-nas, Estruturalista e Sistêmicarefletirão os dilemas atuais.

140 Chinoy, E. Auto mobile workers andthe AmerJcan dreams. New York, Ed.Dubleday, 1955.

'" "A filosofia do direito, a peça maisgrandiosa do pensamento hegeliano, contémum sabor tão profundo das realidades domundo social e moral que nela resideuma sociologia concreta. A reflexão sõbreo sistema da scclotogla é reconduzida asua fonte, quando se liga à filosofia dodireito de Hegel." Freyer, Hans. Lasociologia, ciencia de la realidad. BuenosAires, Ed. Losada, 1944. p. 244.

,.5 "A burocracia estatal reinaria absolutase o capitalismo prlvado fõsse eliminado.As burocracias, pública e privada, queagora funciona lado a lado, e potencial-mente uma contra outra, restringindo-seassim mutuamente até certo ponto, fundir·se-iam numa única hierarquia. ~steEstado seria então semelhante à situaçãono Antigo Egito, mas ocorreria de umaforma muito mais racional e por issoindestrutfvel." Weber, Max. Parliamentand government in Germany. Economy andsociety. New York, Ed. Bedminster Press,1968. v. 3, p. 1402.

148 Tal transposição jã fõra notada noséculo passado por K. Marx quandoenunciava que "a guerra se desenvolveantes que a paz: é necessãrio demonstrarcomo, pela guerra e nos exércitos, certasrelações econõmicas como o trabalhoassalariado e o maquinismo surgiram nessaãrea, disseminando-se posteriormentece'o interior da sociedade burguesa."Marx, K. Contribution à la critique deI'economie politique. Paris, tditionsSociales, 1957. p. 172-73.

Revista .de Administração de EmprêslU

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As teorias administrativas sãodinâmicas, elas mudam com atransição das formações socio-econômicas, representando osinterêsses de determinados seto-res da sociedade que possuemo poder econômico-político, sobo capitalismo ocidental e o poderpolltlco-econôrnlco nas socie-dades que descrevemos, comoformas recorrentes do modoasiático de produção.

No sentido operativo, elas cum-prem a função de elementomediador entre a macrossocie-

dade e a microorganização peloagente, o administrador. Nosentido genético, constituem-seem repositório organizado deexperiências, cuja herançacumulativa é uma condicionantedas novas teorias, por exemplo,a persistência de aspectotayloristas em Elton Mayo e naEscola Estruturalista.

taylorismo de 1918 até hoje,definindo-o com uma funçãodiversa da que possui na socieda-de norte-americana originária,atuando na URSS como uma téc-nica stakhanovista de intensifi-cação do trabalho, num "sistemaasiático de produção", queexiste recorrentemente.

Pode acontecer uma "reinter-pretação cultural" - área deestudo da antropologia aplicadaà administração ~ de modelosadministrativos. Assim a assimi-lação que a URSS efetuou do

No próximo artigo concluiremoso tema, com a abordagem criticados modelas de Drucker, Katz& Kahn, Max Weber e JamesBurnham, ainda no âmbito dateoria geral da administraçãocomo ideologia.

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A teoria geraZ da aãmin1.stração 21