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Ângela Maria Cavalcanti Ramalho Francisca Luseni Machado Marques Pesquisa e Ensino em Geografia DISCIPLINA Aula Autoras A trajetória da ciência e seus paradigmas 02 Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________________________

A trajetória da ciência e seus paradigmas - PROEAD · ciência e seus paradigmas 02 Material APROVADO (conteúdo e imagens)(g) Data: ___/___/___ ... referência a estes dois pólos

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Ângela Maria Cavalcanti Ramalho

Francisca Luseni Machado Marques

Pesquisa e Ensino em Geografi aD I S C I P L I N A

Aula

Autoras

A trajetória daciência e seus paradigmas

02Material APROVADO (conteúdo e imagens)( g ) Data: ___/___/___

Nome:______________________________________

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Divisão de Serviços Técnicos

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ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPEEliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância – SEDIS/UFRN

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1Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

ApresentaçãoPrezado(a) Aluno(a)!

NEsta aula discutiremos o conceito de ciência e a sua trajetória, com base em alguns autores, como Thomas Kuhn. Neste sentido, destacaremos aspectos da história científi ca da antiguidade à atualidade, tendo em vista a presente crise de paradigma e

as perspectivas antropológicas hoje.

Caminhos a percorrer...

ObjetivosPretende-se, ao fi nal desta aula que você tenha compreendido:

a distinção entre sujeito e objeto na construção da pesquisa;

a trajetória da ciência em função de seus paradigmas;

o signifi cado de “ciência com consciência”.

O Conhecimento é uma Relação.

Atenção!!!

Conhecer é estabelecer uma relação entre a pessoa (sujeito que conhece) e o objeto (fato ou fenômeno) que passa a ser conhecido. No processo de conhecimento, quem conhece acaba se apropriando do objeto que conheceu. Ou seja, forma um conceito desse objeto, reconstituindo-o em sua memória.

Conceito – signifi ca a representação

mental que o sujeito passa a ter sobre o

objeto, decorrente do ato de conhecer.

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2 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Os objetivos da Ciênciacomo resultado da Relação Sujeito e Objeto

A era do conhecimento em que vivemos tem como objeto a ciência, a qual tem a pesquisa científi ca como atividade propulsora. Os objetivos da ciência consistem em afi rmar que é possível o alcance do conhecimento dos objetos reais situados no tempo e no espaço.

Estes objetivos são determinados pela necessidade que o homem possui de compreender e controlar a natureza e as coisas do universo.

A ciência pode ser entendida como busca constante de explicações e soluções, de revisão e de verdades sobre os fenômenos naturais e sociais – daí a permanente necessidade do conhecimento. O conhecimento científi co resulta da interrelação que se estabelece entre o sujeito cognoscente (que tem capacidade de conhecer) com os fenômenos da realidade empírica. Assim, podemos dizer que o ato de conhecer se dá por meio das informações obtidas pelo sujeito, conforme as determinações afetivas, biológicas, cognitivos e sociais, na apreensão do objeto. O conhecimento científi co é o resultado da relação sujeito e objeto mediado pelo processo de pesquisa.

Os fatos que podem ser conhecidos fazem parte do nosso cotidiano, os produzimos na rotina de cada dia. Por vezes, podemos criá-los com a fi nalidade de estudá-los, como ocorre em situações experimentais de laboratórios. “Entretanto uma grande parte dos esforços, realizados pela ciência, destina-se ao conhecimento de fatos que já existem, produzidos pela natureza, e que o homem ainda desconhece ou, pelo menos, não sabe todo o alcance de suas implicações.” (RUDIO, 1999, p. 10, grifo do autor).

O papel do sujeito e a relação com o objeto é discutido pela epistemologia, para fazer referência a estes dois pólos envolvidos na produção do conhecimento. Epistemologia, no sentido etimológico da palavra, signifi ca: discurso ou estudo (logos) sobre a ciência (episteme). Assim, a epistemologia procura estudar a origem do conhecimento científi co e sua validade. Como disciplina fi losófi ca faz permanente refl exão sobre a problemática do conhecimento, das relações entre sujeito e objeto na busca do conhecimento, especialmente do conhecimento científi co.

Da relação do sujeito com os objetos da natureza e da sociedade surgiram várias ciências. As ciências factuais que se dedicam ao estudo dos fenômenos da natureza (físicos, químicos, biológicos...) e dos fenômenos da sociedade (sociais, culturais, econômicos...). Cada ciência dedica-se ao estudo de uma faceta da realidade e, de modo especial, uma particularidade do fato que é observado por meio dos sentidos e da consciência sensível a uma explicação científi ca.

As ciências elaboram suas teorias que, além de apresentar uma explicação científi ca dos fatos, também, podem nos levar a novas inquietações na busca do conhecimento de fatos que ainda não foram sufi cientemente explicados. Tal orientação leva o estudante a focalizar sua atenção sobre determinado enfoque teórico específi co durante a trajetória acadêmica, passando a constituir tema importante para futura pesquisa.

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Atividade 1

3Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

A verdade científi ca objetiva atinge as razões e as causas dos objetos, pois conhecer é pensar, signifi ca não se contentar em ver os objetos do mundo empírico sem questionar ou refl etir. Nós somos capazes de participar do mundo científi co a partir do momento em que ultrapassamos o simples conhecer pelo empenho de pensar e refl etir com críticas objetivas, possibilitando o nascer e o fortalecer de atitudes científi cas.

Assim, podemos defi nir ciência como o saber sobre um objeto determinado construído pela pesquisa. Resulta da utilização adequada de métodos capazes de descrever, analisar, controlar, prever fatos e buscar soluções para os objetos detectados pelo homem nas diversas realidades que o cerca.

Elabore um esquema do texto acima.

Atenção!!!

Realidade Empírica

Signifi ca tudo que existe e que pode ser conhecido através da experiência. Universo material, físico, naturalmente perceptível pelos órgãos dos sentidos, ou mediante a ajuda de instrumentos de investigação, verifi cável na prática por demonstração, observação ou experimentação.

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Atividade 2

4 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Atenção!!!Quem conhece?O que está sendo conhecido?A distinção entre sujeito e objeto é útil na pesquisa.

Figura 1– Relação no processo de conhecimento

Sujeito Objeto

Ser cognoscente, afetivo, biológico,

social, econômico, cultural, religioso,

lingüístico, moral.

Fenômeno da realidade empírica

Pesquisa científi ca

Conhecimento científi co

Interprete a fi gura acima.

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5Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Paradigmas da CiênciaA trajetória da ciência alcança seu apogeu no século XIX, com o domínio das ciências

da natureza, o ritmo e o número das descobertas. Tais descobertas e suas aplicações práticas modifi caram profundamente a fi sionomia do século.

Para alcançar este patamar, podemos pensar a trajetória da ciência com base em três paradigmas: o paradigma teocêntrico, o paradigma antropocêntrico e o paradigma ecocêntrico. Nesses paradigmas norteadores da trajetória da ciência poderemos identifi car as revoluções científi cas.

Carvalho e outros (2000, p. 62, grifo do autor), destacam a relação de paradigma e revolução científi ca, apresentando o seguinte esclarecimento sobre este tema:

Quando a teoria se impõe como adequada, torna-se modelo a partir do qual novas descobertas são realizadas. O conhecimento é, então, acumulado, à medida que os novos resultados são produzidos não se contrapõem aos princípios básicos que constituem o paradigma. Durante muito tempo, por exemplo, pesquisadores da área da física trabalharam a partir do modelo newtoniano, ampliando-o, sem, no entanto, colocá-lo em questão. [...] fase normal da ciência.

Quando resultados diferentes dos esperados – as anomalias – começam a aparecer, o paradigma vigente começa a entrar em crise. [...] o conjunto de anomalias acaba por produzir uma revolução científi ca. A teoria copernicana, que substituiu a explicação geocêntrica pela heliocêntrica, assim como a de Einstein, que rompeu com o modelo newtoniano de física, são exemplos de revoluções científicas, pois apontaram a insufi ciência dos paradigmas ou modelos explicativos anteriores e estabeleceram novos critérios para elaboração de procedimentos de pesquisa da realidade.

A história do conhecimento humano mostra como o interesse e a dominação tem infl uenciado na concepção de ciência. Porém, as mudanças de paradigmas, não signifi cam, necessariamente, que as idéias ou interpretações, ora descartadas ou substituídas, eram essencialmente falsas ou foram elaboradas de forma equivocada ou que os pesquisadores que as produziram não estavam devidamente preparados para reformulá-las.

Mais ainda, elas mostram que os resultados científi cos não são defi nitivos e que os cientistas não param de pensar e discutir consigo mesmo e com seus pares; ou de buscar, ainda, outros modos de formular os conceitos ou interpretações. Isso se aplica para toda a pesquisa, tanto nas ciências da vida quanto nas ciências da terra.

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Atividade 3

6 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Curiosidades!!!

As ciências da Terra, da qual faz parte a geomorfologia, tratam da reconstrução, valendo-se das evidências disponíveis, da sequencia de eventos que ocorreram na superfície da terra, ou debaixo dela, deram origem às formas e materiais que fazem parte dela. Para isso, a Geomorfologia recorre a evidências disponíveis e a partir delas, enuncia sequencia de fatos que os geomorfólos acreditam verdadeiros. Na realidade, não há como provar, de forma conclusiva, que os eventos aconteceram ou se aconteceram à ordem suposta. Desde a época em que a crença na criação divina da Terra foi destruída, nunca mais houve consenso; houve e há discussão, controvérsia e substituição regular de paradigmas ou modelos. Prova disso são os modelos descartados nos últimos trezentos anos, entre eles o catastrofi smo e teorias sobre a formação das montanhas, ciclo de erosão ou a divisão de períodos do pleistoceno (COLTRINARI, 2002, p.116).

A revolução científi ca é um fenômeno semelhante a uma espiral. Enumere, no desenho abaixo em forma de espiral, as fases que podem ocorrer em um paradigma, segundo Kuhn.

Atenção!!!

Paradigmas são “[...] as realizações científi cas reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para a comunidade” (KUHN, 1998, p.13).

Nessa perspectiva, em determinada fase de normalidade da ciência, seu paradigma explica os questionamentos sobre os fatos ou fenômenos (1); surge um fato novo, diferente do já conhecido e o conhecimento atual não consegue dar explicações satisfatórias – aconteceu uma anomalia na ciência normal (2); essa anomalia leva a crise do paradigma vigente (3); com essa crise pesquisas extraordinárias são realizadas na busca de explicação do novo fato (4); quando se conseguir novos conceitos e princípios para explicar o novo fato (a anomalia), emerge o novo paradigma da ciência (5). A ciência, então, retorna a um estado de normalidade (6).

MAIA, I. M. R. L. S.O desenvolvimento da

ciência em Thomas Kuhn.

Disponível em: <HTTP://www.consciencia.

org/kuhmisabel.shtml>. Acesso em: 11 jun. 2009.

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7Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Paradigmas daTrajetória da Ciência

Paradigma TeocêntricoO paradigma teocêntrico foi o primeiro modelo de ciência dominante entre a Antiguidade

e Idade Média. Esse paradigma supõe que a verdade tem como centro o mundo de Deus (Teo), enquanto o conceito de universo era o geocêntrico (Terra).

Este paradigma foi predominante até o fi nal da Idade Média. A concepção da ciência e dos métodos de constituição do saber, no decorrer dos séculos que seguem à Antiguidade Grega, pouco progresso é digno de nota O conhecimento adotado era o meio termo entre religião e ciência que correspondeu à interpretação de Santo Tomás de Aquino, dos preceitos fi losófi cos de Aristóteles, enquanto que as interpretações apresentavam uma conciliação entre razão e fé subordinadas aos dogmas do cristianismo (CARDOSO, 1995).

O renascimento veio contrapor a esse dogmatismo e o início de uma autonomia científi ca até então oprimida pela Santa Inquisição.

Sugestão para ver:

GIORDANO BRUNOO fi lme relata os últimos dias da vida de Giordano Bruno, quando foi perseguido, preso e condenado pela Santa Inquisição, por ter escrito livros contra o dogmatismo da Igreja.

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8 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Paradigma AntropocêntricoNeste paradigma a verdade está, mais especifi camente, com o homem (Antropos). Em

outras palavras, o homem preterido na Idade Média por Deus, passa a ser o centro das atenções dos pensadores e homens da ciência.

Na Idade Moderna conduz a encarar novos pontos de vista que irão fl orescer no século XVII: O homem acumulador de conhecimento oriundo das inquietações do cotidiano se coloca como capaz de descobrir o modo de funcionamento da natureza, como já vinha descobrindo outros povos, continentes e terras.

Assim a construção de um novo conhecimento se impõe com a construção de um método que se constrói a partir da observação da realidade (empirismo) e coloca a explicação à prova (experimentação).

A base das ciências, na visão moderna é a experiência verifi cável. A partir de então o conhecimento não repousa no simples exercício do pensamento, mas na observação, experimentação e mensuração, tendo como fundamento o método científi co em sua forma experimental. Podemos caracterizar a ciência moderna como a aprendizagem de dominação da natureza.

EMPIRISMO

Relaciona-se ao Conhecimento obtido por meio dos sentidos, pela experiência sensível.

Curiosidades

Galileu Galilei (1564 – 1642) - Considerado o pai da ciência moderna, sofreu hostilidade dos sábios de sua época, por acreditar que o cientista deve provar na prática tudo o que afi rma. Para refutar a teoria geocêntrica (aterra como centro do universo) desenvolveu argumentos que encontrou nas obras de Nicolau Copérnico (1473 – 1543). Valendo-se de um telescópio (que inventou ou redescobriu) com a capacidade para aumentar até mil vezes a imagem observada, conseguiu ver as fases de Vênus: isto veio confi rmar a teoria de Copérnico de que esse planeta girava em torno do sol e que a terra não era o centro do universo (concepção heliocêntrica do universo).

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Atividade 4

9Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

A observação da queda da maçã, que teria inspirado Isaac Newton, ao que denominou “lei da gravidade universal”. No lugar das “leis divinas” surgem a noção de leis da natureza e a idéia de que a ciência tem por objetivo defi nir suas leis.

O que mudou na ciência com a transformação do Paradigma teocêntrico para o antropocêntrico?

A observação da queda da maçã

Figura do livro de Laville e Dionne citado nas referências.

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10 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Paradigma Ecocêntrico

Nesse paradigma, o homem passa a ser um fi o na grande teia da vida. Novos conceitos da relação homem e meio ambiente passam a ser considerados para “o fazer” ciência no fi nal do século XIX e início de século XX. A concepção de mundo está fundamentada

no conceito que se tem de universo (ECO).

A ciência experimental desenvolveu-se por meio de inúmeras aplicações ao estudo dos fatos da realidade empírica. Os resultados científi cos em benefício da humanidade levaram a ciência a ter considerável infl uência na sociedade.

As mudanças e os melhoramentos são notáveis a vida humana. Por outro lado, vivemos numa sociedade sem limites para o progresso científi co em que convivemos com “perigos cada vez mais verossímeis da catástrofe ecológica ou da guerra nuclear” (SANTOS, 2003, p. 6).

Soluções são procuradas para a grave crise ecológica que aparece até em nosso cotidiano. Os resultados científi cos tem demonstrado uma prática ecológica associada a atividades utilitárias e pragmáticas, com fi nalidade econômica e, consequentemente, ao particular interesse das classes dominantes.

Vivemos, portanto, uma grande perplexidade sobre os caminhos percorridos pelo homem com os resultados da pesquisa científi ca. Se de um lado nos encantam as façanhas da engenharia genética ou da medicina nuclear, temos de haver-nos com as sombras de desastres dos recursos da ciência contemporânea. Eis porque a ciência e a tecnologia se constituem nas glorias e nas sérias preocupações para o ser humano no presente século.

Sugestão para ver

Ponto de Mutação

Filme em que enfoca três personagens: um cientista, um político e um poeta, que discutem sobre a crise atual da ciência com base no livro de Fritjof Capra que dá nome ao fi lme (ver resenha apresentada no fi nal da aula). Estabelecem-se novas concepções defendidas pela visão holística.

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11Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Uma refl exão sobre a ciência hoje

Estamos diante de uma crise do paradigma atual da ciência: emerge um novo tempo de refl exão e de questionamentos; um tempo de revisão sobre o rigor científi co; de uma nova orientação do pensar científi co, em outras bases conceituais teóricas e epistemológicas

e a noção humanista ética de responsabilidade.

Resta pensar, postas as realizações científi cas irreversíveis do novo mundo, qual o signifi cado contido nelas. Dias (2000) apresenta algumas questões que fazem parte de qualquer arcabouço que se imagine para a educação nos tempos em que vivemos: De que forma a informática é agregada ao cotidiano para a construção de cidadania? Será que o domínio de genoma está propiciando as condições racionais para a intervenção mais profunda do homem na natureza sem cavar sua própria sepultura com a destruição do ecossistema? Estará à engenharia genética a serviço da qualidade de vida de todos, ou do lucro da minoria?

Os resultados das pesquisas científicas que beneficiam o homem não devem ser restritos à academia, mas a todos que não puderam chegar à universidade. O que nos leva ao entendimento de que o mais sofi sticado dos produtos de laboratório deve ser explicado ao mais humilde dos cidadãos. Estamos tratando, agora, da biosfera, da sobrevivência da humanidade.

A evolução da ciência em apenas quatro séculos de experimentalismo conseguiu realizações verdadeiramente assustadoras, numa sociedade sem limites para o progresso científi co. “O momento é o de perguntarmos o que podemos fazer hoje, convivendo com os avanços meio inconscientes de uma ciência que é, em si, maravilhosa, mas em muito se tornou perversa em razão da perda de uma consciência profunda” (MORAIS, 2003, p. 91-92).

O maior desafi o é entender como contribuir para a construção de uma consciência ecológica. Que possa sustentar uma evolução sem desconsiderar os outros seres, reconhecidamente vivos ou não. Uma educação fundamentada nestes princípios, que incorpore a atitude crítica para uma atividade consciente do todo, na formação de uma identidade harmonizada.

É preciso crer na participação do ser humano nas possibilidades de recuperação do mundo, no sentido de refl etir sobre o fazer ciência com consciência, considerando que tem sido vítima de erros ideológicos.

A perspectiva da ciência hoje depende da luta em dois níveis: primeiro, o desafi o de uma política no sentido de levar o conhecimento científi co a todos os cidadãos e não só para alguns e, segundo, a reeducação do homem voltada para atos pequenos e cotidianos, fundamentada na consciência sobre seu mundo. Desse modo, estaremos contribuindo para uma produção de cientistas que recupere o sentido do cotidiano, edifi que uma ciência ética e socialmente comprometida com o impacto das descobertas e o caminho de suas aplicações.

Muitas alternativas já foram tentadas para a recuperação dos caminhos legítimos da ciência. A ciência na modernidade para garantir o status de científi co instituiu a objetividade, utilizando-se do método experimental no ato de conhecer fatos empiricamente verifi cáveis,

Dias

Emanuel Dias, Jornal do Comércio – Recife –PE, Caderno 2, em 11. 01.2000.

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Atividade 5

12 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

atualmente emerge para uma visão compreensiva, holística, dialética da realidade. A concepção de cosmovisão (a parte está no todo e o todo está na parte) e outras tradições espirituais passam a raízes para este novo modelo. O entendimento é o de que no futuro residem todas as possibilidades, as boas e as más, e que aquilo que há de vir depende das ações humanas que preparam esse futuro.

Como poderemos construir Ciência com Consciência? Como vivenciá-la na escola?

Holismo

Termo instituído por Jan Smuts no em 1926,

se refere a uma visão incluente, englobando

o novo, o dinâmico, o fl exível, a evolução,

trazendo a si todos os seus princípios – considerada

concepção norteadora, por muitos estudiosos, para

uma educação ecológica.

Ângela Maria Cavalcanti Ramalho

Professora do DFCS/ UEPB e doutoranda em Educação

Ambiental da UFCG.

Para maior compreensão sobre a crise do paradigma atual, Leia a resenha abaixo:

CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Tradução de Newton Roberval Ejchemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.

Ângela Maria Cavalcanti Ramalho

A obra de Capra A Teia da Vida faz uma refl exão sobre as perspectivas intelectual e espiritual que emerge no mundo na contemporaneidade, delineando a necessidade de se buscar uma nova maneira de pensar mais sensível e signifi cativa; um novo paradigma com uma visão de mundo ecológica. Essa nova concepção de mundo busca superar o paradigma dominante que preside a ciência moderna que se constituiu a partir da Revolução Científi ca do século XVI e desenvolveu-se nos séculos seguintes basicamente á luz das ciências naturais, com total separação entre a natureza e o ser humano.

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13Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Portanto, essa perspectiva paradigmática deve ser coerente com uma mudança fundamental na compreensão humana quanto à natureza do conhecimento científi co. A esfera das ciências físicas, ciências biológicas, sociais e humanas contribuirá para signifi cativa mudança sistêmica e transformação cultural. Com uma visão diferente de mundo e da vida, os protagonistas do novo paradigma conduzem uma luta apaixonada contra todas as formas de autoritarismo e dogmatismo, fazendo-nos crer no limiar de uma sociedade interativa com uma organização social liberta das carências sociais.

Assim, como em outros períodos de transição difíceis de entender e de percorrer se instaura a necessidade de formular novas perguntas. Os questionamentos se encaminham com vistas á compreensão da realidade que se apresenta. O ato de conhecer implica em um modo de interpretação da realidade em função de como esta interpretação afeta nosso comportamento frente a nós mesmos e a natureza.

O novo paradigma que emerge atualmente pode ser descrito de várias maneiras: visão de mundo holística, que enfatiza mais o todo que as suas partes. Também denominado de visão de mundo ecológica - a expressão ecologia tem um sentido mais amplo e profundo do que aquele em que é usualmente empregado. A consciência ecológica, no sentido profundo, reconhece a interdependência essencial de todos os fenômenos e o diálogo profícuo entre os indivíduos e as sociedades nos processos cíclicos da natureza. Essa percepção profundamente ecológica está agora emergindo em vários segmentos da sociedade.

O paradigma ecológico é alicerçado em valores ecocêntricos (centralização na Terra), enraizado numa percepção existencial que vai além do arcabouço teórico-metodológico científi co baseado em valores antropocêntricos (homem como centro do universo), no rumo de sua consciência de íntima e sutil unidade de toda a vida e da interdependência de suas múltiplas manifestações e de seus ciclos de mudança e transformação.

Em última análise, essa profunda consciência ecológica é espiritual. Entendendo o conceito de espírito humano como o modo de consciência em que o indivíduo se sente ligado ao cosmo como um todo. Portanto, não é surpresa o fato de que a nova visão da realidade esteja em harmonia com todas as concepções das tradições espirituais da humanidade.

Sendo assim, à luz dos pressupostos teóricos e da obra em foco que preconiza a importância de um novo paradigma: traduzindo-se em uma compreensão, sabedoria de vida, em harmonia e comunhão com tudo que nos rodeia e que é o mais íntimo de cada um de nós.

Enfi m, acreditamos ser necessário o pronunciamento de um discurso ecocêntrico de cada ser humano para que efetivamente possamos promover mudanças substanciais; baseada na crença de que todo sujeito não é um ser individualizado, é um ser social aprendido em um espaço coletivo compondo a teia da vida... pois, na vida todas as coisas estão interligadas. Uma teia de conexões nos envolve por todos os lados, podendo fazer-nos seres cooperativos e solidários, por causa desta teia chegamos até aqui e poderemos ter futuro.

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Atividade 6

14 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Faça algumas considerações sobre a resenha acima.

Concluindo a aula!Ao término desta aula desejamos que você tenha compreendido: a importância de

conhecer fenômenos do mundo e da teoria científi ca que dá suporte à sua área de saber; a preocupação epistemológica correspondente a relação sujeito e objeto; aspectos que determinaram o surgimento da ciência moderna e o que se questiona sobre a ciência hoje.

Do mesmo modo, esperamos que as explicações dos paradigmas da ciência, tenham levado você à refl exão sobre os modelos de conhecimento estabelecidos e aceitos pela comunidade em determinado momento histórico.

Até a próxima aula!!!

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15Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

Sugestões de leituraPropomos como leituras complementares às discussões apresentadas nesta aula:

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científi cas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.

A obra é clássica ao iniciar um novo capítulo na história da fi losofi a da ciência, aliando as abordagens fi losófi cas ao conhecimento dos procedimentos científi cos. Destacamos os capítulos em que discute a questão epistemológica, quanto a prática real dos cientistas na caracterização do empreendimento científi co, bem como, a noção de paradigma e seus estágios.

TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

Para nossos fi ns, particularmente, destacaríamos a segunda parte do livro Metodologia da Ciência, que apresenta a relação conhecimento e ciência, tendo como ponto central das discussões a trajetória da ciência e seus paradigmas. Neste contexto, a autora destaca aspectos relevantes da história científi ca, da modernidade à atualidade, e chama a atenção para a presente crise de paradigmas.

ResumoNesta aula foi destacado que os objetivos da ciência são determinados pela necessidade que o homem possui de conhecer. Na descrição da relação sujeito e objeto na produção do conhecimento científi co, necessário a compreensão sobre o que está sendo conhecido e o papel de quem conhece mediado pela pesquisa científi ca. O enfoque sobre a trajetória da ciência teve por base três paradigmas: teocêntrico, antropocêntrico e ecocêntrico, em que se identifi cam revoluções científi cas. O questionamento e refl exão sobre as realizações científi cas tem como meta a educação para a construção da ciência, fundamental à concepção de ciência com consciência face a crise do paradigma atual.

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16 Aula 02 Pesquisa e Ensino em Geografi a

AutoavaliaçãoNesta aula, foi apresentada a trajetória da ciência. Elabore um texto contendo uma síntese dos três paradigmas: teocêntrico, antropocêntrico e ecocêntrico. Situe a pesquisa neste contexto e o signifi cado de ciência com consciência.

ReferênciasCARDOSO, Clodoaldo M. A canção da inteireza. São Paulo: Summus, 1995.

CARVALHO, A. M. et al. Aprendendo metodojogia científi ca: uma orientação para os alunos de graduação. 2. ed. São Paulo: Nome da Rosa, 2000.

COLTRINARI, L. A pesquisa acadêmica, a pesquisa didática e a formação do professor de geografi a. In: PONTUSCHKA, N. N.; OLIVEIRA, O. U. Geografi a em perspectiva: ensino e pesquisa. São Paulo: Contexto, 2002.

DIONNE, J; LAVILLE, C. A construção do saber. Tradução de Heloísa Monteiro e Francisco Settineri. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

KUHN, T. A estrutura das revoluções científi cas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.

MORAIS, F. R. de. Ciência e perspectivas antropológicas hoje. In: CARVALHO, Maria Cecília M. de (Org.). Construindo o saber – Metodologia científi ca: fundamentos e técnicas. 15. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.

RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2003.

TEIXEIRA, E. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. Petrópolis: Vozes, 2005.

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