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CARLOS ANTONIO TEIXEIRA
A TRAJETRIA HISTRICA DO JORNAL DA PAULISTA (1987-2003):
UMA APROXIMAO DIVULGAO CIENTFICA
Tese apresentada Universidade
Federal de So Paulo Escola Paulista
de Medicina para obteno do Ttulo de
Mestre em Cincias.
Orientador: Prof. Dr. Dante Marcello Claramonte Gallian
Co-Orientadora: Prof. Dr. Mrcia Regina Barros da Silva
SO PAULO
2007
Teixeira, Carlos Antonio
A trajetria histrica do jornal da paulista (1987-2003): uma aproximao divulgao cientfica/ Carlos Antonio Teixeira. So Paulo, 2007.
xix, 215f. Tese (Mestrado) Universidade Federal de So Paulo. Escola Paulista
de Medicina. Programa de Ps-graduao em: Ensino em Cincias da Sade.
Ttulo em ingls: The historical track of the Jornal da Paulista (1987-2003): an approach to the public communication of science.
1. Jornal universitrio. 2. Cultura cientfica. 3. Divulgao cientfica.
4. Comunicao pblica das cincias da sade. 5. Jornalismo Cientfico.
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICNA
CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO ENSINO SUPERIOR EM SADE
MESTRADO ACADMICO
A TRAJETRIA HISTRICA DO JORNAL DA PAULISTA (1987-2003):
UMA APROXIMAO DIVULGAO CIENTFICA
Diretora do CEDESS
Profa. Dra. Maria Ceclia Sonzogno
Coordenador do Curso de Ps-Graduao
Prof. Dr. Nildo Alves Batista
http://www.unifesp.br/centros/cedess/http://www.unifesp.br/centros/cedess/
iv
CARLOS ANTONIO TEIXEIRA
A TRAJETRIA HISTRICA DO JORNAL DA PAULISTA (1987-2003):
UMA APROXIMAO DIVULGAO CIENTFICA
Presidente da Banca: Prof. Dr. Dante Marcello Claramonte Gallian
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Maria Ceclia Leite de Moraes__________________________________
Profa. Dra. Maria Ceclia Sonzogno _______________________________________
Prof. Dr. Paulo Rogrio Gallo____________________________________________
Aprovada em: 28 de maio de 2007
v
DEDICATRIA
Dedico este estudo a todos aqueles que estiveram envolvidos com o Jornal da
Paulista (JP). queles que fizeram parte da equipe de redao e queles que
passaram pelo jornal e deixaram a sua colaborao ainda que espordica. Amplio
esta minha dedicatria grande equipe que fez parte do Departamento de
Comunicao da UNIFESP/EPM durante a trajetria do JP e que tambm
colaboraram direta ou indiretamente com a produo do jornal. Homens e mulheres
de viso que trataram o conhecimento cientfico produzido na universidade como um
bem pblico. Incluo nesta dedicatria todos os especialistas que possibilitaram a
divulgao cientfica de suas pesquisas pelas pginas do JP.
In memorian de Dona Laly e Din, me e irm.
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus por Suas misericrdias que se renovam a cada manh e que oportunizam novas possibilidades de aprendizagem e de vida; Ao Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Sade CEDESS, que me recebeu como mestrando. Espero que este estudo possa unir-se aos trabalhos que bem representam o nome deste Centro; Ao Professor Doutor Dante Marcello Claramonte Gallian, meu orientador, pelas cobranas sempre necessrias, aprendizado acadmico, importante referencial de pesquisador e pela liberdade de trabalho; Doutora Mrcia Regina Barros da Silva, minha co-orientadora, pelas fundamentais sugestes, pacincia, pertinentes correes e gentileza em disponibilizar o acervo do JP na Biblioteca do Centro de Histria e Filosofia das Cincias da Sade (CeHFi); Aos componentes que integraram meu exame de qualificao, Professor Doutor Dante Marcello Claramonte Gallian, Professora Doutora Maria Ceclia Leite de Moraes e a Professora Doutora Mrcia Regina Barros da Silva pelas importantes contribuies para elaborao final deste trabalho; Aos estimados Professores componentes da banca de exame de mestrado, Professor Doutor Dante Marcello Claramonte Gallian, Professora Doutora Maria Ceclia Leite de Moraes e a Professora Doutora Maria Ceclia Sonzogno e Professor Doutor Paulo Rogrio Gallo; amiga, Professora Dra. Mrcia Dbora dos Santos agradeo as sugestes por ocasio da elaborao da proposta do projeto primrio de mestrado. amiga, Professora Mestre Janne Maria Batista Silva Erickson pela expresso de sua concepo educacional em acreditar que este trabalho poderia ser concludo. Sou grato tambm pelas horas empreendidas na leitura do texto e pelo desafio da problematizao que proporcionou a reflexo e possibilitou o encontro do caminho no momento de fechamento do texto final; Aos Professores e Professoras do Programa de Ps-Graduao Mestrado Ensino em Cincias da Sade, pela contribuio na minha formao acadmica; Aos colegas de Mestrado, pelo apoio e convvio; Aos funcionrios do CEDESS, especialmente a secretria do programa de Mestrado, Suely Pedroso, pelo apoio, pacincia, gentileza e amizade, to imprescindveis finalizao deste trabalho; Ao corpo administrativo e acadmico Centro Universitrio Adventista de So Paulo (UNASP). Aos coordenadores dos cursos, particularmente ao Professor Hlvio Carvalho de Araujo, pelo apoio, compreenso e concesses;
vii
minha famlia, pela compreenso da minha ausncia; especialmente minha irm Cida Teixeira, pelos conselhos como jornalista; Aos Professores Doutores Martin Bauer da London School of Economics, Svein Kyvik da Norwegian Institute for Studies in Research and Education e Bruce V. Lewenstein da Cornell University, pela troca de correspondncia e envio de material.
viii
No mundo em que vivemos hoje, a universidade tem no s o dever mas tambm a responsabilidade social de produzir sua pesquisa, de forma aberta, a toda a sociedade. No se justifica mais uma produo cientfica enclausurada em arquivos e prateleiras, com restrito acesso de uma minoria privilegiada. preciso democratizar a universidade. Um servio de comunicao o melhor caminho para a abertura de novos canais de dilogo e a democracia dentro e fora da universidade. Esta uma misso inadivel da universidade (KUNSCH, 1991).
ix
RESUMO
Este estudo teve como objetivo descrever e analisar a trajetria histrica do Jornal
da Paulista (JP), jornal da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP/EPM), que
circulou entre os anos de 1987 a 2003, de modo a identific-lo como um instrumento
de divulgao cientfica das cincias da sade. Para tal, utilizou-se como referencial
terico, dentre outros, a proposio de Eric Landowiski de se estudar o jornal como
um sujeito semitico. O estudo do JP contextualizou-se dentro de um panorama
global do desenvolvimento da divulgao cientfica a partir da II Guerra Mundial,
bem com dentro do cenrio brasileiro a partir do perodo da dcada de 1980 que
sucedeu ditadura militar. Tambm se procurou contextualizar o estudo do JP a
partir das implicaes sociais, intelectuais e educacionais decorrentes da dcada de
1980. Considerando que a histria do JP foi recente, esta pesquisa fundamentou-se
na tcnica da Histria Oral, tendo sido realizadas entrevistas com as principais
pessoas que fizeram parte da histria do jornal. A trajetria do JP foi dividida em trs
fases, sendo que na primeira a sua identificao esteve mais prxima de um jornal
que respondia necessidade de comunicao interna da ento Escola Paulista de
Medicina e a uma forte vinculao como instrumento de divulgao institucional.
Com o incio de sua segunda fase, o JP foi se configurando cada vez como um
instrumento de divulgao cientfica, embora essa caracterstica j se encontrasse
incipiente em sua primeira fase. Finalmente na sua terceira fase, principalmente com
o envolvimento da universidade com um movimento pr-divulgao cientfica, o JP
alcanou a sua identificao plena com a divulgao cientfica das cincias da
sade. No entanto, no auge de sua veiculao como instrumento de divulgao
cientfica o JP deixou de ser publicado em dezembro de 2003, quando entrava no
seu 17 ano de circulao.
Palavras Chaves: Jornal universitrio; Cultura cientfica; Divulgao cientfica;
Comunicao pblica das cincias da sade; Jornalismo Cientfico.
x
ABSTRACT
The present study aims at describing and analyzing the historical track performed by
the Jornal da Paulista (JP), the newspaper issued by the Universidade Federal de
So Paulo (UNIFESP/EPM), which was put forth in the period between 1987 and
2003. The idea is to identify it as a tool for public communication in the health
science in the health science area. With this purpose, the theoretical referential
assumed was, among others, the proposal by Eric Landowiski, suggesting the
newspaper to be studied as a semiotic subject. The analysis considered JP in the
context of a global panorama of the scientific communication development from
World War II on, as well as the Brazilian setting starting at the 80s, the decade
following the military dictatorship. The study also intended to place JP in the context
of the social, intellectual and educational implications arising from de 80s. Once JPs
history is quite recent, the present research was also based on the Oral History
technique, with a number of interviews with the most remarkable characters in that
history. JPs historical track was divided into three phases, the first one identified
more closely to a newspaper meant to fulfill the need of internal communication of
the Escola Paulista de Medicina (EPM), as it was known at the time the
UNIFESP/EPM, along with a strong institutional approach. Starting at the second
phase, JP increasingly became an instrument for public communication of science,
although such feature could also be slightly identified in the previous phase. Finally,
at the third phase, counting basically on the involvement of the university in a
movement in favor of scientific communication toward to the society, JP reached its
full identification with public communication in the health science area. Nevertheless,
as of December 2003, about to start its 17th year of existence and at its best moment
as an instrument of public communication of science, JP editorial project was
discontinued.
Key-Words: University newspaper; Scientific Culture; Scientific Divulgation; Public
Communication of Science; Scientific journalism.
xi
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
AAAS - American Association for the Advancement of Science
ABSW - Association of British Science Writers
ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
BIREME - Centro Latinoamericano e do Caribe de Informao em Cincias da
Sade
CAPB Centro Acadmico Pereira Barreto
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea
FDA Food and Drug Administration
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos Brasileira
HSP Hospital So Paulo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INRA - Institut National de la Recherche Agronomique
ISI - Scientific Information Institute
JCR Journal Citation Report
LABJOR Laboratrio de Jornalismo Cientfico UNICAMP
LILACS - Literatura Latino-americana em Cincias da Sade
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MEC Ministrio da Educao e Cultura
NASW - National Association of Science Writers
NAT Teste de cido Nuclico
NJR Ncleo Jos Reis de Divulgao Cientfica ECA/USP
OMS - Organizao Mundial da Sade
OPAS - Organizao Pan-americana da Sade
PCLA Pensamento Comunicacional Latino Americano
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
SciELO Scientific Eletronic Library Online
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - As dez universidades que mais concederam doutorados no Brasil e nos Estados Unidos em 2003............................................................... 54 Quadro 2 - Fases do JP....................................................................................... 71
Quadro 3 - Edies do JP por nmero de pginas........................................... 72 Quadro 4 - Entrevistas Tcnica Histria Oral.................................................... 75
Quadro 5 - Expediente......................................................................................... 76 Quadro 6 - Sntese dos Editoriais do JP............................................................ 93
Quadro 7 - Colunas JP: Segunda Fase.............................................................. 119 Quadro 8 - Divulgao de Pesquisa................................................................... 121
Quadro 9 - Textos de Divulgao Cientfica Categoria "Pesquisa"................ 122 Quadro 10 - Coluna Debate................................................................................. 132
Quadro 11 - Coluna Entrevistas......................................................................... 138 Quadro 12 - Colunas da 2 Fase que Circularam na 3 Fase do ..................... 154
Quadro 13 - JP 3 Fase: Novas Colunas............................................................ 155 Quadro 14 - Coluna Comunicao..................................................................... 158
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa Conceitual: Divulgao Cientfica.......................................... 11
Figura 2 - A Hora do Recreio 1........................................................................... 112 Figura 3 - A Hora do Recreio 2........................................................................... 113
Figura 4 - A Hora do Recreio 3........................................................................... 113 Figura 5 - Seo Lavao.................................................................................... 113
Figura 6 - Cartun 1: Seo Vibrio..................................................................... 114 Figura 7 - Cartun 2: Coluna Saudvel................................................................ 114 Figura 8 - Dez Dicas para Divulgar Cincia....................................................... 127 Figura 9 - Cincia a golpes de vontade............................................................. 140
Figura 10 - Prs e contras do NAT.................................................................... 179
xiv
ANEXOS
Anexo 1
Quadro H.Q. e Cartuns ...................................................................................... 203
Anexo 2
Quadro PubMed ................................................................................................. 205
Anexo 3
Quadro Coluna Reportagens ............................................................................ 208
Anexo 4 Quadro Colunas / Sees do JP ....................................................................... 211
Anexo 5
Textos de Divulgao Cientfica (Sinttico) .................................................... 213
Anexo 6
JP 115, janeiro de 1998, p. 5 ............................................................................. 214
xv
SUMRIO
1. APRESENTAO ................................................................................................. 1
1.1 Objeto de Estudo .............................................................................................. 1
1.2 Justificativa da Pesquisa ................................................................................... 3
1.3 Problematizao do Estudo .............................................................................. 4
1.4 Objetivo ............................................................................................................. 4
1.5 Hiptese ............................................................................................................ 5
1.6 Trajetria do JP .................................................................................................. 5
2. FUNDAMENTOS TERICOS/METODOLGICOS ............................................... 8
2.1 Referencial Terico ........................................................................................... 8
2.2 Cultura Cientfica ............................................................................................. 12
2.3 Comunidade Cientfica .................................................................................... 14
2.4 Campo Cientfico ............................................................................................. 16
2.5 Comunicao Cientfica .................................................................................. 17
2.6 Difuso, Disseminao e Divulgao Cientfica .............................................. 24
2.7 Jornalismo Cientfico ....................................................................................... 27
2.8 Delineamento Metodolgico da Pesquisa ....................................................... 28
3. CONTEXTUALIZAO DO ESTUDO ................................................................. 32
3.1 A Cincia e a Divulgao Cientfica Ps-Segunda Guerra Mundial ................ 32
3.2 Implicaes da Ditadura Militar Brasileira na Cincia e Divulgao Cientfica . 34
3.3 A Dcada de 1980 no Brasil ............................................................................ 36
3.4 A Legislao do Ensino Superior e o JP ......................................................... 39
3.4.1 A Constituio de 1824 ......................................................................... 40
3.4.2 A Constituio de 1891 ......................................................................... 40
3.4.3 A Constituio de 1934 ......................................................................... 41
3.4.4 A Constituio de 1937 ......................................................................... 42
xvi
3.4.5 A Constituio de 1946 ......................................................................... 43
3.4.6 A Constituio de 1967 ......................................................................... 43
3.4.7 A Constituio de 1988 ......................................................................... 44
3.4.8 A Lei de Diretrizes e Bases de 1961 ..................................................... 47
3.4.9 A Lei de Diretrizes e Bases de 1971 ..................................................... 48
3.4.10 A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 ................................................... 49
3.5 Exemplos da Produo Cientfica Brasileira: A Contribuio da Universidade e
a Divulgao Cientfica .......................................................................................... 52
3.6 Discusso Histrica da Divulgao Cientfica na PubMed .............................. 56
3.7 O JP Enquanto Elemento Contributivo para o Empoderamento em Sade .... 58
3.8 O JP e os Jornais das Universidades Pblicas do Estado de So Paulo ........ 59
3.9 Jornal Universitrio, o JUSP e o JP ............................................................... 61
3.10 O Jornal Universitrio Discutido por Intelectuais ................................................. 63
3.11 A Comunicao Pblica por Parte de Professores Universitrios e as
Diferenas entre Cientistas e Jornalistas .............................................................. 65
4. CARACTERSTICAS DO JP ................................................................................ 70
4.1 Precursores do JP ............................................................................................ 77
5. DESCRIO E CARACTERIZAO DA PRIMEIRA FASE DO JP - (NOV/1987 A
JUL/AGO/1994) ........................................................................................................ 81
5.1 Escritrio Representativo da EPM em Braslia ................................................ 88
5.2 Evidncias Textuais de Divulgao Institucional e de Veculo de Comunicao
Interna ................................................................................................................... 92
5.3 Evidncias a Partir dos Editoriais da Primeira Fase do JP .............................. 92
5.4 Primeiro Editorial ............................................................................................. 94
5.5 Divulgao Cientfica na Edio Nmero Um ................................................. 97
5.5.1 Prmio Nobel de Medicina .................................................................... 98
5.5.2 Michel Prize ........................................................................................ 100
5.5.3 Tudo sobre a Radiao ....................................................................... 104
xvii
5.6 Informaes Adicionais da Primeira Fase do JP ........................................... 109
5.7 Histrias em Quadrinhos (H.Q.) e Cartuns como exemplos de Divulgao
Cientfica e de Empoderamento .......................................................................... 111
6. DESCRIO E CARACTERIZAO DA SEGUNDA FASE DO JP -
(SETEMBRO DE 1994 A MAIO DE 1999) .............................................................. 117
6.1 Coluna Pesquisa ........................................................................................... 119
6.2 Coluna Debate .............................................................................................. 129
6.3 Coluna Entrevista . ......................................................................................... 136
6.3.1 Cincia a Golpes de Vontade ............................................................. 139
6.3.2 Diviso de Poder no Consultrio ......................................................... 142
7. DESCRIO E CARACTERIZAO DA TERCEIRA FASE DO JP - (JUNHO DE
1999 A NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2003) ......................................................... 150
7.1 Colunas 3a Fase do JP .................................................................................. 153
7.2 Coluna Comunio ........................................................................................ 156
7.3 Coluna Reportagens ..................................................................................... 176
7.4 O Fim do JP .................................................................................................. 180
7.4.1 Descontinuidade das Aes ................................................................ 180
7.4.2 Possibilidade de Continuidade das Aes: Algumas Reflexes ......... 184
8. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 187
9. REFERNCIAS ................................................................................................... 196
10. ANEXOS .......................................................................................................... 203
11. APNDICE
CAPTULO 1 - APRESENTAO
No ano de 1999 iniciei minhas atividades como professor do Centro
Universitrio Adventista de So Paulo (UNASP), instituio da qual fora aluno do
Seminrio Latino-Americano de Teologia. As caractersticas do bairro do Capo
Redondo onde est localizado o Unasp mudou muito desde o ano de 1915 quando a
instituio foi ali estabelecida. O bairro do Capo Redondo, juntamente com os bairros
do Campo Limpo e Vila Andrade compem o contingente de 500 mil habitantes
(MORATO et al, 2005) sob administrao da Sub-Prefeitura do Campo Limpo. Foi
pensando em como estender a esta populao o conhecimento cientfico que permeia
o UNASP, utilizando os jornais de bairro e as rdios comunitrias, que passei a me
interessar pela divulgao cientfica, e isto me levou ao curso de Especializao em
Divulgao Cientfica do Ncleo Jos Reis (ECA-USP). Como o UNASP tem uma longa
tradio na formao de profissionais da sade, veio da meu interesse em estudar a
divulgao cientfica no mbito das cincias da sade, o que me encaminhou ao
programa do mestrado oferecido pelo Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior
em Sade (CEDESS). Minha passagem como aluno pela Faculdade de Educao da
USP (FEUSP), que se orienta pela doutrina do conhecimento como um bem pblico
tambm subsidia meu interesse pela democratizao do conhecimento.
1.1 OBJETO DE ESTUDO: O JP
Em 1987, na Escola Paulista de Medicina (EPM), foi criado o Departamento de
Comunicao, cujo primeiro produto institucional foi um jornal universitrio o Jornal
da Paulista (JP) com publicao a partir de novembro do mesmo ano.
O JP circulou em forma impressa at o ms de dezembro de 2003. Durante o
perodo de 16 anos de circulao, sete anos como jornal da EPM e nove anos como
jornal da UNIFESP/EPM, foram publicadas 185 edies mensais, compondo um total
de 2.554 pginas de material informativo.
Por tratar-se de uma publicao ligada UNIFESP/EPM, o JP foi o nico jornal
universitrio dedicado veiculao de informaes cientficas especficas no campo
2
das cincias da sade, caracterizando-o como um meio de divulgao cientfica deste
campo do conhecimento.
Pelas caractersticas particulares da UNIFESP/EPM, de ser uma universidade
voltada, no perodo abrangido pela circulao do JP, exclusivamente para a rea das
cincias da sade, o JP foi o nico jornal universitrio dedicado veiculao de
informaes e divulgao cientfica, relacionadas tambm exclusivamente rea das
cincias da sade, majoritariamente no campo da medicina.
Em 1987 quando foi iniciada a publicao do JP, a EPM oferecia quatro cursos
de graduao, a saber, Medicina, Cincias Biolgicas modalidade mdica,
Enfermagem e Fonoaudiologia. Em 1997, j como universidade, passou tambm a
oferecer o curso de Tecnologia Oftlmica. A universidade oferece atualmente 43
programas de ps-graduao (40 de mestrado, 38 de doutorado e oito de mestrado
profissionalizante), que em sua maioria foram credenciados entre 1973 e 1984. A
produo cientfica gerada pelos cursos de graduao, ps-graduao e por
pesquisadores docentes era a mais importante fonte de informao para as matrias
veiculadas pelo JP.
semelhana dos jornais convencionais, ou da grande mdia, que apresentam
as novidades do dia, circularam pelas pginas do JP informaes sobre as ltimas
novidades na rea da medicina e sade. Os mais recentes tratamentos, novos
procedimentos e tcnicas, cirurgias inovadoras bem-sucedidas, entre outras, foram
objeto de divulgao pelo JP. Divulgao esta, particularmente, mas no
necessariamente restrita, do conhecimento cientfico que era elaborado nas bancadas
de pesquisa dentro do campus universitrio.
Ao mesmo tempo em que o JP registrava as ltimas notcias na rea das
cincias da sade, por suas pginas circulavam tambm informaes acerca da
memria da instituio.
A trajetria do JP, descrita e analisada sob a perspectiva de se um instrumento
de divulgao cientfica, foi o objetivo que circunscreveu o resgate de sua histria. Este
resgate permitiu compreender a identidade do jornal e suas caractersticas principais,
bem como identificar os principais atores envolvidos em sua gnese e trajetria e a
contribuio dos mesmos para a constituio do jornal.
3
1.2 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
Os jornais universitrios tm sido pouco explorados como documentos
depositrios de informaes acerca da produo cientfica nacional, que
majoritariamente desenvolvida dentro das universidades pblicas. Trazer a lume a
histria do JP representa uma contribuio aos estudos da comunicao cientfica pelo
vis da divulgao cientfica, sendo que esta, em territrio nacional apenas em anos
recentes tem se tornado mais efetivamente objeto de reflexes e aes regulares
visando democratizao do conhecimento e a participao popular.
Durante o perodo de reviso bibliogrfica, foram analisados trabalhos que
apresentavam os resultados de pesquisas de mestrado e doutorado e que discutiam a
comunicao cientfica, tendo sido particularmente considerados aqueles que tratavam
da comunicao pblica de cincia ou divulgao cientfica. Alguns desses trabalhos
analisavam produtos comunicacionais como jornais e revistas. No entanto, s foi
localizado um trabalho que discutia especificamente o jornal universitrio, no caso, a
tese de doutorado de autoria de Laurindo Leal Filho1, A Universidade no Jornal,
defendida no ano de 1990, que apresentava o resultado do estudo que tinha como
objeto o Jornal da USP. Como a histria dos jornais universitrios relativamente
recente, isso talvez explique a falta de estudos especficos sobre os mesmos.
A importncia de estudar o jornal universitrio sob a perspectiva da
comunicao pblica ou divulgao cientfica pode ser constada a partir das
concluses de trabalhos como o de Santos (1999), cuja dissertao de mestrado, ao
estudar as assessorias de imprensa/comunicao das universidades USP, UNICAMP e
UNESP, apontou falhas no processo de comunicao que prejudicavam a divulgao
da produo cientfica daquelas instituies. Mendes (2002) constatou, em sua
dissertao de mestrado, que a Faculdade de Cincias Agrrias (FAAG) da
Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) no possua uma poltica de divulgao
cientfica. Carneiro (2004), ao fazer o diagnstico do processo de comunicao e das
aes de divulgao cientfica da Universidade Federal de Uberlndia (UFU), em sua
dissertao de mestrado, apontou lacunas no processo comunicacional daquela
universidade. Por sua vez, Carvalho (2003) discutiu, em sua tese de doutorado, a
1 Por sua participao na elaborao do projeto inicial do JP, Leal Filho integra o rol das personalidades
que foram entrevistadas para melhor elucidao da histria do JP.
4
adoo de estratgias de marketing da cincia por parte de instituies de pesquisa
brasileiras que misturavam propaganda institucional e divulgao cientfica.
Esses estudos indicam a necessidade da discusso de uma poltica
universitria de comunicao, da qual o jornal universitrio parte integrante.
Como o JP deixou de circular no final de 2003, esta pesquisa tem tambm a
sua relevncia no apenas quanto ao resgate da histria de sucesso deste jornal, mas
oferece ao mesmo tempo um convite para a reflexo sobre a descontinuidade de aes
que vinham sendo desenvolvidas dentro da universidade, reveladas nas comunicaes
feitas nas pginas do jornal, que estavam pioneiramente promovendo aquilo que passa
a ser cada vez mais requisitado globalmente nas sociedades do conhecimento: o
compartilhamento do conhecimento cientfico com a sociedade visando a sua
participao decisria sobre os rumos da cincia moderna.
Em conformidade com o que ser constatado neste trabalho, entre as muitas
contribuies do JP, a principal foi, sem dvida, a de ter-se ocupado com a divulgao
do conhecimento cientfico das cincias da sade, comunicado numa linguagem
acessvel ao leitor do jornal, que pertencia comunidade local bem como
comunidade amploiada. O aval para esta comunicao advinha da UNIFESP/EPM,
uma instituio de notrio reconhecimento cientfico e educacional.
1.3 PROBLEMATIZAO DO ESTUDO
Este estudo pretende responder ao seguinte problema: em que medida o JP,
em sua gnese e desenvolvimento (trajetria), enquanto veculo de comunicao
pblica das cincias da sade constituiu-se como um instrumento de divulgao
cientfica.
1.4 OBJETIVO
Esta pesquisa teve como objetivo descrever e analisar a trajetria histrica do
JP enquanto instrumento de divulgao cientfica, tendo como elementos norteadores
para atingir esse objetivo as seguintes questes: qual era a identidade do JP?; quais
5
eram as suas principais caractersticas?; quais foram os principais atores envolvidos na
sua trajetria?; como se deu a comunicao pblica de cincias da sade durante a
sua trajetria no perodo de novembro de 1987 a novembro/dezembro de 2003?
1.5 HIPTESE
A principal hiptese que norteou este estudo a de que, embora o JP em sua
origem tivesse a caracterstica de um veculo de comunicao interna, com uma
substancial nfase na veiculao de notcias referentes instituio e com um objetivo
de divulgao da prpria instituio, desde a sua gnese era um veculo de divulgao
cientfica, cuja identidade de divulgador cientfico se constituiu e consolidou ao longo de
sua trajetria.
1.6 TRAJETRIA DO JP
Para melhor compreender a trajetria do JP, este trabalho foi dividido em
captulos, como segue:
No captulo dois, apresentamos os fundamentos tericos/metodolgicos que
nortearam este estudo, a justificativa do estudo e seus objetivos. Inclumos neste
captulo os conceitos, as definies e a reviso bibliogrfica.
O captulo trs procura contextualizar o estudo do JP dentro de uma
perspectiva histrica, social, poltica, econmica e educacional.
As caractersticas gerais do JP so apresentadas no captulo quatro. Essas
caractersticas so discutidas com mais detalhes nos captulos cinco, seis e sete, nos
quais discorremos acerca das trs fases em que dividimos a anlise do JP, a saber:
gnese e desenvolvimento inicial do jornal; fase intermediria, na qual o JP est
intensificando sua identidade como veculo de divulgao cientfica; e fase final,
quando o jornal se consolida como um instrumento de divulgao cientfica. Na
primeira fase gnese e desenvolvimento inicial do jornal , discorrida no captulo
cinco, analisamos as caractersticas primrias e a identidade inicial do JP. Tambm
identificamos os principais atores envolvidos no processo de criao e desenvolvimento
6
do jornal. Esta fase abrangeu o perodo compreendedido entre a publicao das
edies nmero 1 77 (novembro de 1987 a julho/agosto de 1994). Nesse perodo,
calcado em evidncias internas apoiadas por depoimentos orais, entendemos que
prevaleceu uma concepo de jornal com nfase na divulgao institucional e no
atendimento s necessidades de comunicao interna. Conquanto ainda que de forma
incipiente, pudemos constatar, nessa fase, a perspectiva do jornal como um
instrumento de divulgao cientfica.
A seguir, no captulo seis descrevemos a trajetria histrica do JP na sua
segunda fase, compreendida entre as edies de nmero 78 130 (setembro de 1994
a maio de 1999). Identificamos trs episdios pontuais para caracterizar esta fase: a
introduo, nas edies 78, 114 e 118 das colunas Pesquisa, Debate e Entrevista,
respectivamente. Com estas colunas, o JP passou a se ocupar mais efetivamente da
comunicao pblica das cincias da sade. Nesta fase, que consideramos como
intermediria, identificamos um jornal que est desvelando sua identidade de
instrumento de divulgao cientfica em cincias da sade.
O ciclo de caracterizao e identificao do JP encerra-se com a apresentao
do stimo captulo, no qual descrevemos a trajetria histrica do jornal em sua terceira
e ltima fase, cujo incio deu-se com a publicao da edio nmero 131 e foi
encerrada com a ltima edio impressa do JP, a de nmero 185 (junho de 1999 a
novembro/dezembro de 2003). Nessa fase, destacamos a criao do Jornal da Paulista
Informa (JPInforma ou JPI), que circulou pela primeira vez no ms de junho de 1999, e
que tomamos como referncia para o incio da terceira fase do JP, isto porque o
JPInforma, criado para ser um jornal interno (house-organ) da Instituio, permitiu que
o JP se dedicasse totalmente comunicao pblica de cincias da sade.
Quando o JP adentrava em sua terceira fase, a equipe de Comunicao da
universidade trouxe para dentro da instituio, discusses, workshops e pelo menos
um curso documentado sobre a divulgao cientfica de cincias da sade, eventos
esses direcionados para profissionais da sade e para jornalistas e divulgadores
cientficos. Nesse captulo encerramos a discusso da caracterizao das fases do JP,
tentando comprovar a identidade do jornal como instrumento de divulgao cientfica
de cincias da sade.
Na concluso, apresentamos as consideraes finais acerca da trajetria do
JP, incluindo suas limitaes bem como sugestes para novos estudos a partir do que
foi possvel identificar, constatar e analisar.
7
Hoje, como nunca aconteceu em toda a histria, fala-se em comunicao cientfica e tecnolgica; hoje, como nunca, h governos nacionais ou regionais que apiam a criao e as atividades no campo da cultura cientfica e tecnolgica; e hoje, como nunca, as prprias instituies cientficas e as universidades consideram que a divulgao no uma desonra, mas faz parte de sua obrigao. Os meios de comunicao de massa j no tm medo de tratar da atualidade das cincias e das tecnologias e recorrem a essas para esclarecer a atualidade em geral. Nunca como neste momento a investigao e o desenvolvimento das cincias e das tecnologias exerceram to grande influncia no nosso modo de vida e de trabalho, nas nossas concepes de espao e tempo, nas nossas capacidades de intercmbio e de comunicao em todo o planeta (VOGT, 2006, p. 19).
8
CAPTULO 2 - FUNDAMENTOS TERICOS/METODOLGICOS
Neste captulo so apresentados os fundamentos tericos/metodolgicos que
nortearam este estudo, a justificativa do estudo e seus objetivos, comeando com sua
problematizao.
2.1 REFERENCIAL TERICO
Levando em considerao o problema deste estudo e a hiptese estabelecida,
a demanda pela busca em conhecer a identidade do JP em sua trajetria e suas
caractersticas essenciais conduziu a pesquisa para as discusses propostas pelo
semilogo Eric Landowiski, em seus estudos com os jornais Le Monde e Libration, a
partir dos quais discorre acerca da identidade de um jornal.
Landowiski (1992), ao estudar teoricamente o veculo de comunicao jornal,
inicia suas proposies questionando a objetividade na fabricao e na difuso da
informao por parte das diferentes modalidades do que chama de grande mdia na
prtica da comunicao social, pela constatao da dificuldade primria quanto a uma
definio clara de objetividade. Apesar disso, prope que seja possvel avanar na
compreenso do que um jornal, admitindo que o discurso da mdia realmente
informa. Restando, contudo, um outro questionamento: aquilo que est escrito pode
no ser necessariamente e sempre verdadeiro. Ainda assim, Landowiski entende que o
discurso da mdia imprime uma forma maneira como concebemos e vivemos o
presente.
Apesar de sofrer a concorrncia de outros canais de comunicao, Landowiski
considera que o jornal preserva sua caracterstica de in-formar acerca de tudo e
dessa forma saturar todas as dimenses da presena humana no mundo. Assim, o
jornal caracteriza-se como um poderoso instrumento integrador dos mltiplos universos
de referncia que toma como objeto.
Conquanto o jornal tenha um discurso plural, prestando-se a uma variada
diversidade de abordagens, pode ser recortado por diferentes rubricas pela opo
particular de cada leitor. Landowiski sugere a identificao do jornal enquanto
9
totalidade de significao, que est associada considerao de tempo, espao e
pessoa.
A originalidade de sua proposta est em considerar o jornal como pessoa
uma verdadeira pessoa, moral , que diferente da personalidade jurdica que todo
jornal tem. O jornal constri uma imagem de marca que est relacionada
episodicidade de sua narrativa e periodicidade de seu discurso. Esta marca o
identifica no plano da comunicao social. Todo jornal recebe um ttulo, sendo que por
detrs dele toma corpo uma entidade figurativamente reconhecvel que se afirma
socialmente no que Landowiski chama de sujeito semitico.
O jornal, enquanto sujeito semitico detentor de estilo, tom e perfil. Estas
caractersticas o definem e fazem dele uma figura social que pode gerar atrao ou
repulsa. No entanto, Landowiski declara que diferentemente do imperativo social pela
variao, a exemplo da indumentria e cardpio, com o jornal ocorre uma compulso
inversa, a do favorecimento do hbito. A eleio de um jornal e a fidelidade a ele
corresponde a permanecer fiel a si mesmo.
O jornal, afirma Landowiski, tem duas faces complementares a episodicidade
e a periodicidade associadas, respectivamente, narrativa e ao discurso. Ao
desenvolver uma relao com o seu pblico, este, enquanto leitor, tambm se constri
nessa relao. O jornal possui ainda duas dimenses: a de proclamar o que h de novo
hoje no mundo e a de ocupar-se com o cotidiano, ao aqui e agora.
Landowiski encerra suas consideraes questionando se os jornais, de resto
os mais numerosos, que no pertencem nem imprensa de prestgio nem de
vanguarda, tambm podem ser tratados com os critrios que propomos (p. 124). Ele
mesmo responde acreditar que sim.
A anlise do JP luz dessas proposies permitiu a anuncia com Landowiski,
como pode ser constatado ao longo deste estudo.
Alguns conceitos e definies de ancoragem que subsidiam a compreenso da
comunicao pblica das cincias da sade so apresentados e discutidos na
seqncia a partir de um modelo que foi elaborado utilizando o recurso grfico dos
mapas conceituais2, que so representaes grficas semelhantes a diagramas que
2 Mapas conceituais uma tcnica para estabelecer relaes entre conceitos e sistematizar
conhecimento significativo. Foi desenvolvida pelo Prof. Joseph D. Novak, na Universidade de Cornell, na dcada de 60. Seu trabalho foi fundamentado a partir da teoria de David Ausubel que destacou a importncia da aprendizagem significativa decorrente da assimilao de novos conceitos e proposies atravs de estruturas cognitivas j existentes. Esta abordagem est embasada tambm na teoria
10
indicam relaes entre conceitos (palavras) atravs de setas descritivas. Seu contedo
parte de uma estrutura que vai desde os conceitos mais abrangentes at os mais
especficos. Podem contemplar as diversas reas do conhecimento. So utilizados
para auxiliar a ordenao hierarquizada (OKADA et al., 2005, p. 79).
construtivista. O sujeito constri seu conhecimento e significado a partir das relaes entre diversos elementos. Tais relaes facilitam a sistematizao de conceitos novos em contedo significativo para o aprendiz (Okada et al., 2005, p. 79).
11
Figura 1 Mapa Conceitual Divulgao Cientfica
12
Conforme se observa no mapa conceitual, so apresentados os referenciais
tericos e definies que associamos ao contexto da discusso da hiptese deste
estudo de que o JP foi, desde o seu incio, um instrumento de divulgao cientfica das
cincias da sade.
Cada um dos conceitos constantes no mapa conceitual, e empregados ao longo
deste estudo poderia ser estudado isoladamente como um objeto especfico de
pesquisa, o que no , contudo, intencionado neste estudo. O propsito aqui de
deixar o mais claro possvel os significados dos mesmos de modo que possibilite
compreender como o JP inseria-se no contexto em que os conceitos do mapa
referencial so empregados, levando em considerao para isso a contribuio de
alguns estudiosos do assunto.
2.2 CULTURA CIENTFICA
Este estudo delimita a discusso de cultura ao mbito da cultura cientfica.
Embora no se tenha objetivado discutir propriamente a cultura, que em seu sentido
amplo aqui compreendida como um sistema de valores e normas de comportamento
que orientam a prtica humana (SETTON, 2005, p. 336), uma aproximao ao
contexto de cultura perpassa pela compreenso de que a cada momento histrico
corresponde certa abordagem do conceito de cultura, com repercusses no campo
sociopoltico e, em decorrncia, educacional (FISCHMANN, 2000, p. 12). Levando isto
em considerao, o momento presente no qual se insere a trajetria do JP o de
uma sociedade reconhecida como do conhecimento, na qual a cultura cientfica
desempenha um papel preponderante.
O conceito de cultura cientfica adotado neste estudo apia-se na proposio
da UNESCO, exemplificada no livro Cultura cientfica: um direito de todos (MACEDO,
org. 2003). Embora este livro esteja focado ao carter formal da educao cientfica no
ensino secundrio, compreendida como uma importante contribuio para o
estabelecimento de uma cultura cientfica, Jorge Werthein3 ao prefaciar o volume,
amplia o escopo da cultura cientfica, estendendo-a a todos os membros da sociedade:
3 Representante da UNESCO no Brasil.
13
Paradoxalmente, em meio s novas tecnologias, ensinar cincias se torna processo desafiador para os educadores. Como ento interessar crianas, adolescentes, jovens e adultos num mundo fascinante, porm ainda escondido por trs de uma casca de erudio e estranheza, como se no fosse atinente ao dia de hoje e ao momento de agora? (WERTHEIN in: Cultura Cientfica: um direito de todos, 2003, p. 8).
De maneira particular, o livro objetiva alcanar os pases emergentes
caracterizados pela democratizao e imersos numa diversidade social e cultural,
ressaltando, neste contexto, uma importante implicao da cultura cientfica que
abrange a concepo de educao cientfica como um meio de educar cidados
conscientes, preocupados com a preservao ambiental e com o desenvolvimento
sustentvel (Idem, p. 11), uma necessidade premente desses pases.
Em semelhante linha de interesse quanto a uma educao cientfica, a
Organizao dos Estados Iberoamericanos para a Cincia e a Cultura (OEI4), promove,
h cerca de 30 anos, estudos sobre Cincia, Tecnologia e Sociedade (CTS5), um
campo de estudo que discute a regulao democrtica da cincia e da tecnologia, e
objetiva, entre outras coisas, a promoo da alfabetizao cientfica6 como parte
integrante da cultura geral, procurando tambm diminuir a distncia entre a cultura
humanstica e a cultura cientfico-tecnolgica.
Cultura cientfica insere-se no contexto da busca por uma equanimidade social
e as aes efetivas para seu estabelecimento contribuem para responder ao desafio de
Calvo Hernando7: se queremos realmente uma sociedade democrtica, preciso que
todos entendam a cincia. Para este conceituado divulgador de cincia e jornalista
cientfico, a resposta encontra-se naquilo que est abrangido pela cultura cientfica:
[...] o ponto-chave a divulgao para todos. Depois, preciso criar uma conscincia pblica sobre o valor da cincia. As pessoas sabem muito pouco [...] h uma falta de conscincia cientfica na sociedade [...] A cultura cientfica deveria fazer parte da cultura popular (CALVO HERNANDO, 2005, p. 18).
4 Entre os dias 14 a 18 de novembro de 2005 participei como bolsista da OEI do II Seminrio de
formacin: Cultura cientfica, participacin social e desarrollo, realizado na cidade de Lima, Peru. Na fundamentao deste Seminrio estava a preocupao com as dimenses emergentes da cincia e da tecnologia, e, em vista disso, a necessidade de promover uma cultura de cincia socialmente apropriada e de faz-la acessvel aos cidados. O seminrio objetivava a discusso de cultura cientfica no mbito de pases iberoamericanos, bem como a busca de uma definio regional para cultura cientfica. 5 O portal da OEI fornece maiores informaes sobre os estudos CTS: Disponvel em
www.oei.es/cts.htm. 6 Por alfabetizao cientfica, entendemos o conjunto de conhecimentos que facilitariam aos homens e
mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem (CHASSOT, 2000, p. 19). 7 Manuel Calvo Hernando. Jornalista espanhol. Atua h cinco dcadas como divulgador cientfico.
Representa um dos cones do jornalismo cientfico na Amrica Latina.
14
A discusso acerca do conceito de cultura cientfica concludo com a
concepo apresentada por Carlos Vogt no seminrio Estratgias para a Divulgao
Cientfica na Sociedade do Conhecimento8 e que integra ainda o livro, Cultura
Cientfica: Desafios, especialmente preparado para aquele seminrio:
Melhor do que alfabetizao cientfica (traduo para scientific literacy), popularizao/vulgarizao da cincia (traduo para popularization/vulgarization de la science), percepo/compreenso pblica de cincia (traduo para public understanding/awareness of science), a expresso cultura cientfica tem a vantagem de englobar tudo isso e conter ainda, em seu campo de significaes, a idia de que o processo que envolve o desenvolvimento cientfico um processo cultural, quer seja ele considerado do ponto de vista de sua produo, de sua difuso entre pares ou na dinmica social do ensino e da educao, ou ainda, do ponto de vista de sua divulgao na sociedade, como um todo, para o estabelecimento das relaes crticas necessrias entre o cidado e os valores culturais de seu tempo e de sua histria (VOGT, 2006, p. 25)
Assim, diante do que foi apresentado e do que ser ainda exposto acerca do
JP, entende-se aqui que esse jornal representou uma importante contribuio em prol
do estabelecimento de uma cultura cientfica pelo vis da comunicao pblica de
cincias da sade.
2.3 COMUNIDADE CIENTFICA
Um dos conceitos presente no mapa conceitual o de comunidade cientfica.
Diferente da comunidade geral, composta pelo grande contingente de cidados que
desempenham papis sociais diversos, a comunidade cientfica constituda pelos
cientistas. A comunidade geral e a comunidade dos cientistas conjugam-se na
composio da sociedade.
Dados de um estudo comparativo acerca da concepo de Robert Merton e
Thomas Kuhn sobre a natureza social da cincia feito por Kropf e Lima (1999), trazem
subsdios para melhor compreender o significado de comunidade de cientistas.
Quando Merton e Kuhn discutem o ethos cientfico e o paradigma/cincia
normal, respectivamente, conferem uma centralidade noo de comunidade
8 O seminrio Estratgias para a Divulgao Cientfica na Sociedade do Conhecimento foi realizado
entre os dias 19 e 20 de outubro de 2006, na Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo (FMVZ-USP), com apoio institucional da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) e do Centro Franco-Brasileiro de Divulgao Tcnica e Cientfica (CenDoTec).
15
cientfica. Para Kropf e Lima, na anlise que Merton e Kuhn fazem da cincia, esta
vista como prtica que se define e processa a partir de um conjunto de crenas,
princpios e normas compartilhados por uma determinada coletividade (KROPF e
LIMA, 1999, p. 567).
Esta coletividade de cientistas, ou comunidade cientfica, segundo as autoras
entendida por Merton da seguinte maneira:
[...] como uma coletividade social dotada de um sistema de valores prprio e relativamente autnoma... que no se define pela concentrao geogrfica de grupos locais de pesquisa reunidos em torno de alguma especialidade ou tema de pesquisa, mas sim pela adeso a normas e valores comuns. O que une os cientistas numa comunidade o fato de que, "embora estejam afastados espacialmente, respondem, em grande medida, s mesmas foras sociais e intelectuais que sobre eles incidem". essa coletividade que fornece os critrios e mecanismos de validao social do trabalho cientfico, atravs de um sistema de controle institucionalizado (p. 568).
Quando discutem Khun e a sua concepo de comunidade cientfica, as
autoras entendem haver uma proximidade com a concepo de Merton, conforme pode
ser constatado:
A comunidade cientfica, enquanto unidade produtora e legitimadora do conhecimento cientfico, a noo que permite conferir operacionalidade tanto ao conceito de paradigma quanto ao de cincia normal... Ser membro da comunidade cientfica, ter sido formado e estar inserido numa slida e estvel rede de compromissos compartilhados, compromissos que envolvem tanto aspectos cognitivos quanto valores e crenas sociais... a comunidade cientfica o grupo dos indivduos reunidos por elementos comuns em sua educao e aprendizado e caracterizados pela relativa plenitude de sua comunicao profissional e relativa unanimidade de seu julgamento profissional. Portanto, as comunidades cientficas devem ser empiricamente identificadas no pela adeso a certos temas da pesquisa, mas, sobretudo, pelo exame dos padres de educao e comunicao atravs dos quais se constri e se sustenta um sistema de convenes norteador de uma determinada maneira comum de perceber e praticar a cincia (p. 569).
A implicao do conceito de comunidade cientfica no estudo do JP decorre do
produto gerado pela atividade da comunidade cientfica que o conhecimento cientfico
e a sua difuso. O conhecimento cientfico gera uma informao, e esta, por sua vez,
elaborada na forma de uma comunicao cientfica, cujo conceito a seguir discutido.
Antes, porm, faz-se necessrio discorrer acerca do campo cientfico.
16
2.4 CAMPO CIENTFICO
Este estudo est inserido dentro de um contexto no qual as relaes cincia e
sociedade, as formas de organizao, o investimento em tecnologia de ponta, a
delimitao de grupos de especialistas, a produo modular, a informao, a gerao
de servios e a produo e transmisso da informao, so caractersticas da
sociedade que se moderniza a partir da dcada de 1950 (CARVALHO e KANISKI,
2000, p. 34) e ganha ttulos como sociedade ps-moderna, sociedade da informao e
sociedade do conhecimento.
Embora a sociedade do conhecimento possa ser caracterizada pela difuso do
conhecimento e aqui o JP insere-se como instrumento de divulgao cientfica , a
cincia especializa-se cada vez mais em subnveis de reas do conhecimento,
tornando o campo cientfico cada vez mais restrito e especializado, e convertendo o
cdigo de linguagem em algo cada vez mais hermtico, cognoscvel apenas aos pares
pertencentes ao mesmo campo. Como em qualquer outra rea de atuao humana, o
campo cientfico tambm envolve questes de manuteno do controle e do poder, e
compreensvel o enfrentamento de dificuldades para a comunicao pblica da cincia
e tecnologia.
Vasconcellos (2002, p. 82, 83), ao discorrer sobre a obra de Pierre Bourdieu,
lembra que foi esse socilogo que introduziu a noo de campo social, no artigo Le
march ds biens savants (1971), no qual propunha a anlise do campo da produo,
distinguindo entre uma produo erudita e restrita de uma produo destinada ao
pblico em geral. Em 1975, no artigo La spcificit du champ scientifique et les
conditions sociais du propre de la raison, Bourdieu introduziu os conceitos de campo
cientfico e capital cientfico, mostrando que a mesma lgica de mercado, presente em
todo tipo de produo, tambm se encontra presente no campo cientfico. No ano de
1980, lembra Vasconcellos, Bourdieu discorreu sobre o campo universitrio, o campo
do jornalismo e o campo literrio, sempre no contexto da noo de campo como um
espao social de dominao e de conflitos, onde cada campo possui certa autonomia e
regras prprias de organizao e de hierarquia social.
Em 1997, Bordieu proferiu, no Institut National de la Recherche Agronomique
(INRA), a conferncia intitulada Os usos sociais da cincia, na qual retoma os
conceitos de campo e campo cientfico. Destacamos a assertiva que Bourdieu faz,
particularmente acerca do grau de autonomia de um campo ou subcampo cientfico:
17
O campo cientfico um mundo social e, como tal, faz imposies, solicitaes etc., que so, no entanto, relativamente independentes das presses do mundo social global que o envolve. De fato, as presses externas, sejam de que natureza forem, s se exercem por intermdio do campo, so mediatizadas pela lgica do campo. Uma das manifestaes mais visveis da autonomia do campo sua capacidade de refratar, retraduzindo sob uma forma mais especfica as presses ou as demandas externas (BOURDIEU, 2004, p. 21 e 22).
Ao correlacionar essas colocaes de Bourdieu com a demanda social pela
divulgao cientfica, consideramos que no foi de pouca relevncia o que significou a
produo do JP dentro de uma universidade que se dedicava exclusivamente s
cincias da sade, com inmeros campos cientficos e, ainda assim ter conseguido a
adeso dos seus diferentes especialistas. Este estudo no objetivou discutir as
particularidades dos campos cientficos das cincias da sade, nem tampouco as
especificidades da UNIFESP/EPM enquanto campo universitrio com os seus vrios
departamentos e disciplinas, que conforme estabelecido por Bourdieu tem o
envolvimento de questes de dominao, poder e lutas. No entanto, a partir do
pensamento desse socilogo, reforamos a opinio de que as aes do Departamento
de Comunicao da UNIFESP/EPM, como reveladas na anlise do JP, representaram
uma importante conquista, um vez que se desenvolveram num ambiente bastante
cooperativo.
2.5 COMUNICAO CIENTFICA
A fonte de referncia para discutir a comunicao cientfica pautada pelos
escritos do fsico e socilogo ingls John Ziman.
No livro A fora do conhecimento (1981), Ziman dedica um captulo inteiro para
discutir a comunicao cientfica. Ele inicia sua discusso abordando que os cientistas
agregam-se no apenas numa comunidade cientfica, mas formam uma comunidade
intelectual independente de uma instituio. Essa comunidade sem instalaes cria
elos entre seus membros por meio da comunicao de informaes e conhecimentos.
Essa comunidade intelectual tambm conhecida pelo nome de Colgio
Invisvel, conceito que Derek J. C. Price (1973) reelaborou a partir da expresso Novos
Colgios Invisveis, que foi empregada por Robert Boyle, ainda no sculo 17, para
descrever um grupo de pesquisadores, que viriam formar a Royal Society of London e
18
que, embora trabalhassem em diferentes instituies, mantinham contato entre si
(MUELLER, 1994, p. 310).
Ziman assevera que a Cincia depende da palavra impressa, essencial tanto
para o registro de resultados que sero referncias para os membros do Colgio
Invisvel, quanto necessria por oferecer uma oportunidade crtica, refutao e ao
aperfeioamento do dado cientfico.
A cincia, de acordo com esse autor, por natureza um conjunto de
conhecimentos pblicos no qual o pesquisador acrescenta a sua contribuio pessoal a
uma atividade que coletiva, e que em suas palavras significa colaborao
competitiva com contemporneos (ZIMAN, 1981, p. 105).
A comunicao cientfica compreendida por Ziman como vital para a prpria
cincia dada a sua relevncia no prprio mago cientfico, j que acompanha o avano
cientfico foi primeiramente realizada por meio da troca de cartas entre colegas
cientistas.
Na pgina 106 de A fora do conhecimento, Ziman ilustra esses primeiros
exemplos de comunicao cientfica com a cpia da carta de Isaac Newton relatando
os progressos obtidos com seu telescpio enviada para Henry Oldenburg, datada de
16 de maro de 1671.
Posteriormente, e at a Revoluo Cientfica do sculo XVII, segundo Ziman,
os livros eram a nica maneira de tornar pblicas as novas idias cientficas, at que, a
partir do final do mesmo sculo, surgiram os peridicos especializados9.
Os peridicos especializados possibilitaram uma agilidade no trfico das idias,
imprescindvel para a Cincia moderna, que ao mesmo tempo altamente cooperativa
e competitiva. Ziman entende que os membros do Colgio Invisvel so devedores
tanto a seus predecessores quanto a seus contemporneos, e isso devido circulao
da informao cientfica possibilitada pela utilizao de meios geis como os peridicos
especializados.
Dentro do mbito da comunicao cientfica, Ziman aborda ainda dois outros
subtemas que tem uma aproximao direta no contexto do estudo do JP. Um destes
9 Segundo Poblacin et al. (2003, p. 498), as publicaes especializadas tiveram incio h quatro
sculos, quando, em 1655, foi criada a Royal Society of London, que deu incio primeira publicao cientfica: Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Dias (1999, pp. 269-277), no artigo Hipertexto: evoluo histrica e efeitos sociais faz uma exposio cronolgica dos avanos tecnolgicos que permearam a histria da escrita, do papiro ao hipertexto, possibilitando a comunicao da informao e, conseqentemente, a comunicao cientfica.
19
subtemas a comunicao informal. O conhecimento cientfico comunicado por
escrito e pela palavra falada. A comunicao cientfica realizada informalmente por
meio de seminrios, palestras e congneres. Ziman cita o exemplo das reunies para a
leitura de uma comunicao cientfica, que acontecem h 300 anos, todas as quintas-
feiras, depois do ch das 16h30 na Royal Society of London. Modernamente, a
comunicao informal acontece tambm na forma de intercmbios. As idias se
difundem por intermdio das pessoas, declara Ziman (ibid, p. 123).
Finalmente, Ziman discorre sobre a comunicao cientfica na forma de
popularizao da cincia, que ele entende como o problema das comunicaes dentro
da comunidade cientfica [...] trazer o conhecimento cientfico ao grande pblico (p.
127).
Possibilitar o alcance do conhecimento cientfico para o grande pblico,
segundo Ziman, no tarefa banal, tampouco nova. No banal porque a cincia tem
uma implicao relevante na sociedade. No nova porque os livros de cincia popular
j circulavam no final do sculo XIX. Antes mesmo da ascenso dos livros de cincia
popular, o Instituto Real em Londres fundado em 1799, pelo fsico Benjamin Thompson,
conde de Rumford, apresentava conferncias cientficas populares (ibid, p. 124).
Quase na concluso do captulo Comunicao Cientfica, Ziman aborda outra
forma de comunicao cientfica: o jornalismo cientfico que, embora compartilhe da
mesma fonte dos outros meios que constituem a comunicao cientfica cartas, livros,
peridicos especializados e comunicao informal , difere quanto ao destinatrio, que,
ao contrrio da intencionalidade primria da comunicao na comunidade cientfica,
pretende atingir o cidado comum.
O jornalismo cientfico, para Ziman, uma decorrncia do fato de que os
cientistas, particularmente os de alto prestgio, encontram-se por demais
[...] absorvidos em seus assuntos especficos, muito envolvidos competitivamente, demasiado ocupados com assuntos referentes a administrao, viagens, etc., para se
empenharem em interpretar suas descobertas para o grande pblico (ibid, p. 133).
Dessa forma, essa responsabilidade passada s mos de jornalistas
cientficos, escritores de livros populares e produtores de TV, aos quais Ziman chama
de grupo de profissionais da comunicao e peritos de comunicao. Quanto a este
particular consideramos que a divulgao cientfica tambm realizada por outros
profissionais no mencionados por Ziman. A experincia do JP, por exemplo, revela
20
que alm dos jornalistas que se especializaram na divulgao cientfica, profissionais
da sade da prpria UNIFESP/EPM que receberam treinamento para utilizar os meios
de comunicao tambm faziam divulgao cientfica.
Ziman tambm discorre acerca de outro tipo de publicao que faz
comunicao pblica de cincia, mas no necessariamente para toda a sociedade, e
que, em nossa opinio, tem uma relao indireta com o JP. Ele se refere s revistas do
gnero da Scientific American que, embora exponham os trabalhos cientficos mais
recentes, numa linguagem no especializada, so consideradas, por ele, como
peridicos especializados e, portanto, portadoras de uma Cincia popular de alto
nvel [...] algo elevada para o cidado comum (ibid, p.133).
A pesquisa desenvolvida Tatiana Scalco Silveira (2000), que estudou a Cincia
Hoje (CH) em sua pesquisa de mestrado, empregada aqui como um exemplo daquilo
que apontado acima por Ziman. Em seu estudo Silveira se reportou ao carter
erudito da divulgao cientfica, com informaes no necessariamente direcionadas
populao em geral, contido nas matrias publicas pela CH, revista editada pela
Sociedade Brasileira Progresso da Cincia (SBPC).
Silveira observa que a revista CH, durante o perodo estudado (19821998),
cumpriu os trs objetivos bsicos da atividade de popularizao da cincia:
educacional, informacional e de mobilizao popular. Confirmou ainda sua hiptese de
utilizao do espao da CH como ferramenta de ao poltica da comunidade cientfica,
identificou, contudo que a linguagem da revista no era uma linguagem totalmente
acessvel:
[...] rudos de comunicao foram fortalecidos e a revista (teve) dificuldades em atingir seu pblico-alvo. Ao manter uma linguagem difcil, como disseram alguns entrevistados, a CH contribuiu para manter a imagem clssica, e mtica, da Cincia (SILVEIRA, 2000 p. 140 e 141).
Tendo por base o que est acima exposto, conjecturamos que a linguagem
utilizada para a divulgao cientfica em revistas do gnero da Cincia Hoje e nas
pginas de cincia dos grandes jornais no de todo cognoscvel para o pblico em
geral, e sim para uma populao mais escolarizada que a mdia dos cidados, ou com
interesses mais especficos.
21
Contudo, ressaltamos aqui um elo entre divulgao e comunidade cientfica,
como representado no mapa conceitual, defendendo a idia de que a divulgao
cientfica importante tambm para a comunidade cientfica.
A afirmao de Ziman de que a cincia popular de alto nvel inestimvel
como leitura de base para o prprio cientista em atividade (p. 133) permite uma
aproximao com o estudo acerca do JP, que era lido por especialistas e
pesquisadores da rea da sade, que representavam, por sua vez, um significativo
segmento de leitores do jornal.
Ziman fala de uma atividade comum a todo pesquisador que a tarefa de
manter-se a par da literatura relativa s pesquisas no campo de cada especialidade, e
que esta atividade vai-se transformando [...] num trabalho de tempo integral (p.133). A
atualizao sistemtica algo muito importante para todo pesquisador. Em vista disso,
embora o JP no pudesse ser considerado como uma literatura cientfica popular de
alto nvel, ainda assim, entendemos que, ao veicular os resultados das mais recentes
pesquisas na rea das cincias da sade, como fazia, e ao publicar regularmente uma
lista de todas as teses de mestrado e doutorado defendidas na UNIFESP/EPM no ms
anterior da edio vigente, entendemos que ele representou um importante
instrumento de consulta mesmo para os especialistas.
Um exemplo de que esse tipo de literatura pode funcionar como uma fonte de
divulgao cientfica vem do prprio JP, edio 165, maro de 2002.
Em entrevista10 concedida ao jornalista Rodrigo Pena Majela, o oncologista
Chris Williams11, editor-chefe do Grupo de Oncologia da Colaborao Cochrane
Seo Oxford (Reino Unido), entidade que desenvolve pesquisas sobre a medicina
baseada em evidncias, deu o seguinte depoimento:
Uma importante fonte de atualizao para os mdicos pode estar na sala de espera do prprio consultrio pacientes que lem tudo sobre a doena que possuem (WILLIAMS, 2002, p. 165).
Mais adiante, no artigo em questo, Williams continua:
10
O objetivo principal da matria era ressaltar a relevncia da Colaborao Cochrane que ao realizar e divulgar revises sistemticas de pesquisas mdicas de todo o mundo fornece subsdios para uma medicina baseada em evidncias. 11
Esta entrevista pode ser lida na ntegra na pgina da Internet do JP que continua disponvel no portal da UNIFESP/EPM. Disponvel em http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed165/entrev.htm
22
[...] muitos profissionais tm tomado decises inspiradas apenas na interpretao pessoal de uma ou duas pesquisas. Lem um artigo numa publicao respeitada e pensam: Saiu nesta revista, deve ser verdade. Vamos ignorar as experincias que apontaram outros resultados (WILLIAMS, 2002, p. 165).
Na linha do raciocnio de Williams abstrai-se a idia de que a divulgao
cientfica em cincias da sade, no contexto de uma medicina baseada em evidncias,
pode ser mais um elemento a contribuir para a conduta mais adequada no atendimento
ao paciente.
Como o JP era um jornal publicado sob o patrocnio e o conselho de uma
universidade altamente especializada na pesquisa cientfica na rea das cincias da
sade, consideramos que os profissionais da rea podiam acessar pelas pginas do
jornal informaes cientficas j revisadas por especialistas. Essas informaes,
seguindo o ritual da publicao cientfica levariam um tempo considervel para serem
veiculadas em peridicos cientficos. Embora tais informaes fossem veiculadas como
matrias que empregavam uma linguagem mais direcionada ao grande pblico e
dessa forma o JP cumpria seu papel de divulgador cientfico sugerimos que ainda
assim, representavam uma importante contribuio para a comunidade especializada
dos profissionais da sade.
H outra informao trazida das pginas do JP, que mostra uma importante
contribuio da equipe de comunicao, que, segundo entendemos, colocava a
UNIFESP/EPM como um centro de referncia tambm para a comunicao de cincia
popular de alto nvel. Fazemos referncia informao noticiada na edio 153, de
maro de 2001, sobre o lanamento da revista Sade Paulista.12
Para encerrar a discusso sobre o conceito de comunicao cientfica,
resgatamos o pensamento de Ziman sobre o problema da comunicao na
popularizao da cincia, entendida aqui como divulgao cientfica e neste estudo
particularizada rea das cincias da sade. Primeiramente pelo fato de que
[...] a linguagem na qual a maior parte das idias cientficas modernas expressa e explicadas leva anos para ser aprendida, no podendo ser parafraseada com vistas a uma compreenso mais fcil. (ibid, p.133)
12 A revista Sade Paulista produzida pelo Departamento de Comunicao da UNIFESP/EPM, destinava-se a atingir um publicado especfico, o dos profissionais da sade. Esta revista juntava-se aos produtos comunicacionais da universidade, a saber, ao prprio JP, ao Jornal da Paulista Informa (JPInforma ou JPI), ao Manual Corra que a imprensa vem a, ao site Sade Brasil (este ficou mais como um projeto do que como uma ao efetiva) e s palestras, workshops e pelo menos um curso que discutiam a divulgao cientfica em cincias da sade.
23
Num outro aspecto a dificuldade est na falta de instruo:
virtualmente impossvel discorrer sobre as novas descobertas mais elementares, para gente que nem sequer possui os rudimentos dos conhecimentos anteriores acerca do assunto (p. 133).
Como solucionar esta grande dificuldade com relao comunicao pblica
de Cincia? Propomos que o estudo do JP apresenta uma possvel resposta13.
Nesse sentido, no decorrer da anlise do jornal, o quadro Coluna
Comunicao14 criado com informaes extradas de matrias que foram veiculadas
na coluna Comunicao do JP, publicada da edio 131, de maio de 1999, at a
edio 157, de julho de 2002, discutido a seguir, indica como no nosso entender,
buscava-se na UNIFESP/EPM a diminuio da distncia entre pesquisadores e
divulgadores cientficos visando uma comunicao mais efetiva entre a universidade
produtora do conhecimento cientfico e a populao.
A equipe de comunicao da UNIFESP/EPM, assessorada por especialistas da
sade, passou a promover na universidade, encontros, workshops e em pelo menos
um curso (documentado) de aperfeioamento em sade, para jornalistas, divulgadores
cientficos e para os especialistas da rea da sade. Essas aes objetivavam diminuir
distncias, tratadas por Ziman como incompatibilidade de gnios entre o pesquisador
e o jornalista (p. 134).
Essas aes que nos planos da equipe de comunicao da universidade
deveriam perdurar, mas que acabaram ao mesmo tempo em que o JP deixou de
circular promoveriam encontros regulares com pesquisadores da sade e divulgadores
cientficos, melhorando o dilogo entre ambos, e principalmente fornecendo subsdios
cientficos para os no-especialistas da rea da sade que se propunham a divulgar a
informao cientfica gerada na universidade, com garantias de que no incorreriam em
erros que pudessem prejudicar aqueles que lessem as informaes divulgadas.
A assessoria especializada esteve presente tambm no quadro da equipe
direta do JP, como pode ser verificado no Expediente do jornal que trouxe por muitas
edies o nome do mdico Cludio Csillag, como editor de texto do jornal.
13
Retomamos o assunto ao discutir a terceira fase do JP, no capitulo 7 deste estudo. 14
Melhor explicao quando, neste estudo, discuto a terceira fase do JP.
24
O JP pode ser entendido como um veculo de comunicao cientfica que,
pelas informaes acima discutidas atendia s prerrogativas de uma divulgao
cientfica feita com acurcia.
Na seqncia apresentada a discusso sobre os conceitos presentes no
mapa conceitual de difuso do conhecimento, disseminao cientfica e divulgao
cientfica, com vistas a atender hiptese inicial deste estudo acerca da considerao
do JP como um instrumento de divulgao cientfica.
2.6 DIFUSO, DISSEMINAO E DIVULGAO CIENTFICA
O JP, em seu sentido amplo de veculo de comunicao, a exemplo de outros
jornais, era um instrumento de difuso de informaes. Pelo fato de ser um jornal
universitrio, lidava com a especificidade das informaes cientficas, e, consoante s
caractersticas da UNIFESP/EPM no perodo correspondente sua trajetria, tais
informaes circunscreviam-se rea das cincias da sade. Pelo teor do projeto
editorial do jornal, a informao cientfica veiculada em suas pginas no era publicada
com o mesmo cdigo de linguagem utilizado pelos pesquisadores e cientistas em suas
comunicaes oficiais e sim utilizando a linguagem da divulgao cientfica.
Quando pesquisadores e cientistas comunicam os resultados de suas
pesquisas a seus pares, empregam uma terminologia lingstica exclusiva. Com
relao ao JP, contudo, os jornalistas coletavam essas mesmas informaes, advindas
da comunidade cientfica e, de volta editoria do jornal, reelaboravam o material
coletado formatando-o em textos jornalsticos jornalismo de divulgao , utilizando
uma linguagem acessvel ao pblico leigo, constituindo assim as matrias para
publicao no jornal. Exemplos desses textos, enquanto produtos dessa elaborao
jornalstica podem ser verificados nas cpias de pginas do jornal que constam nos
anexos e apndices deste trabalho.
Depois de impresso, o jornal difundia informaes que em primeira instncia
destinavam-se disseminao para a comunidade cientfica, e que no formato de
textos jornalsticos possibilitavam a apreenso pela comunidade ampliada porque
constituiam-se como material de divulgao cientfica.
Difuso, disseminao e divulgao so [termos], muitas vezes, utilizados sem
rigor conceitual declara Hernndez Caadas (1987, p. 25). Por isso, para estabelecer
25
melhor qual conceito cada uma dessas palavras carrega neste trabalho, este estudo
apoia-se nas definies propostas por Wilson da Costa Bueno, um dos primeiros
tericos da divulgao cientfica no Brasil, particularmente do Jornalismo Cientfico, que
referenda muitos dos trabalhos pesquisados durante o processo de estudo do JP,
dentre esses o de Massarani (1998), Silveira (2000), Pietri (2003), Carneiro (2004) e
Aldifoni (2005).
Bueno, que defendeu sua tese de doutorado, Jornalismo Cientfico no Brasil:
os compromissos de uma prtica dependente, no ano de 1985, em entrevista
concedida revista Pensamento Comunicacional Latino Americano (PCLA), lembra
que no existia, no Brasil, nenhum especialista em jornalismo cientfico que pudesse
orientar sua pesquisa, mas que seu orientador aceitou o desafio tornando-se este,
posteriormente, tambm um especialista na rea (BALDO, 2002 s/data). Essa
entrevista revela o seu pioneirismo na rea.
No mesmo ano da defesa de seu doutorado, Bueno escreveu um texto que,
entendemos poder ser considerado um clssico, que utilizado na maioria dos
trabalhos consultados por ocasio da reviso bibliogrfica deste estudo, e que
procuram, por sua vez, definir os termos difuso, disseminao e divulgao. Desse
texto em questo so apresentados a seguir os conceitos-chave deste estudo.
DIFUSO:
O conceito de difuso tem limites bastante amplos. Na prtica, faz referncia a todo e qualquer processo ou recurso utilizado para a veiculao de informaes cientficas e tecnolgicas. A extenso do conceito permite abranger os peridicos especializados, os bancos de dados, os sistemas de informao acoplados aos institutos e centros de pesquisa, os servios de alerta das bibliotecas, as reunies cientficas (congressos, simpsios e seminrios), as aes especializadas das publicaes de carter geral, as pginas de cincia e tecnologia dos jornais e revistas, os programas de rdio e televiso dedicados cincia e tecnologia, o cinema dito cientfico e at mesmo os chamados colgios invisveis (BUENO, 1985, p. 1420).
DISSEMINAO:
O processo de disseminao da cincia e da tecnologia pressupe a transferncia de informaes cientficas e tecnolgicas, transcritas em cdigos especializados, a um pblico seleto, formado por especialistas (BUENO, 1985, p. 1421).
26
DIVULGAO:
A divulgao cientfica pressupe um processo de recodificao, isto , a transposio de uma linguagem especializada para uma linguagem no especializada, com objetivo de tornar o contedo acessvel a uma vasta audincia [...] compreende a utilizao de recursos, tcnicas e processos para a veiculao de informaes cientficas e tecnolgicas ao pblico em geral (BUENO, 1985, p. 1422).
Bueno no foi necessariamente original no esclarecimento dos termos em
questo porque segundo Massarani baseou-se em Pasquali15, (MASSARANI, 1998, p.
18).
Pasquali (1978) atribui a seguinte conceituao aos termos:
DIFUSO:
o envio de mensagens elaboradas em cdigos ou linguagens universalmente compreensveis para a totalidade das pessoas.
DISSEMINAO:
o envio de mensagens elaboradas em linguagens especializadas, ou seja, transcritas em cdigos especializados, a receptores selecionados e restritos, formado por especialistas. Pode ser feita intrapares (especialistas da mesma rea) ou extrapares (especialistas de reas diferentes).
DIVULGAO:
o envio de mensagens elaboradas mediante a transcodificao de linguagens, transformando-as em linguagens acessveis, para a totalidade do universo receptor.
Uma ressalva pessoal enquanto pesquisador, neste estudo do JP, feita
quanto conceituao de disseminao elaborada por Pasquali, que fala de uma
disseminao extrapares, significando a comunicao cientfica dirigida a especialistas
de reas diferentes da fonte original da informao. No mapa conceitual propomos que
este aspecto particular da conceituao de Pasquali pode ser entendida como uma
forma de divulgao cientfica, diferenciada da divulgao cientfica dirigida para o
15
O Venezuelano Antonio Pasquali foi pioneiro a partir da dcada de 1960 na formao do pensamento e estudo latino-americano de comunicao (CARVALHO, 2000. PCLA, vol. 1, n. 2, jan-mar, 2000).
27
grande pblico. A revista Sade Paulista, tomada como exemplo. Ela no era uma
revista de disseminao cientfica, estrito senso, mas sim, segundo seus editores, uma
publicao voltada principalmente para um pblico interessado por questes da rea
de sade: mdicos, enfermeiros, alm de professores e alunos universitrios (JP,
2001:153, p. 2). Entendemos que a revista Sade Paulista era uma revista de
divulgao cientfica destinada a especialistas, escrita numa linguagem um pouco mais
sofisticada que a do JP, mas que no empregava como norma de escrita a linguagem
cientfica oficial.
2.7 JORNALISMO CIEntfico
Concluindo esta sesso de definies dos termos16 constantes no mapa
conceitual preparado para sintetizar a referncia ao JP como um instrumento de
divulgao cientfica, cabe ainda conceituar Jornalismo Cientfico, que feito a partir do
referencial de Marques de Melo, que foi o orientador da tese de doutorado de Bueno.
Para Marques de Melo o jornalismo cientfico:
Deve ser uma atividade principalmente educativa. Deve ser dirigido grande massa da nossa populao e no apenas sua elite. Deve promover a popularizao do conhecimento que est sendo produzido nas nossas universidades e centros de pesquisa, de modo a contribuir para a superao dos muitos problemas que o povo enfrenta. Deve utilizar uma linguagem capaz de permitir o entendimento das informaes pelo cidado comum. Deve gerar o desejo do conhecimento permanente, despertando interesse pelos processos cientficos e no pelos fatos isolados e seus personagens. Deve discutir a poltica cientfica, conscientizando a populao que paga impostos para participar das decises sobre a alocao de recursos que significam o estabelecimento de prioridades na produo do saber. Deve realizar um trabalho de iniciao dos jovens ao mundo do conhecimento e de educao continuada dos adultos ( MARQUES DE MELO, 1982, p. 21).
16
Do mapa conceitual foram conceituados apenas os termos que tm uma relao direta ao objeto deste estudo e que fornecem subsdios para responder hiptese original do JP ter sido um instrumento de comunicao cientfica em cincias da sade, difusor de informaes articuladas como divulgao cientfica em cincias da sade.
28
2.8 DELINEAMENTO METODOLGICO DA PESQUISA
Esta tese foi organizada de modo a responder questo central acerca da
identidade do JP ao longo de sua trajetria. De acordo com o que Rey (1993, p. 21)
preconiza como pesquisa, este estudo props-se a investigar de forma sistematizada e
minuciosa o JP com a finalidade de descobrir e estabelecer fatos e princpios relativos
hiptese central proposta e ao seu objetivo precpuo. A busca deste estudo para
definir a identidade, as caractersticas e o que representou o JP coadunam-se com o
que Gil (2002, p. 17) estabelece como intencionalidades da atividade de pesquisa que
procura, por meio de procedimentos racionais e sistemticos, oferecer respostas a
problemas previamente propostos.
Devido sua prpria natureza, o objeto de estudo foi analisado sob a
perspectiva da pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (1998),
[...] incorpora a questo do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, s relaes, e s estruturas sociais [e] trabalha com um universo de significados, motivos, aspiraes, crenas, valores e atitudes, o que corresponde a um espao mais profundo das relaes, dos processos e dos fenmenos que no podem ser reduzidos operacionalizao de variveis (p. 21).
Godoy (1995, p. 62) e Serapioni (2000, p. 191), por sua vez, entendem que a
pesquisa qualitativa caracteriza-se pela anlise exploratria, descritiva e indutiva.
Este estudo enquanto pesquisa qualitativa, possibilitou desvelar o JP e sua
contribuio como veculo democrtico de comunicao pblica de cincias da sade,
mas, acima de tudo, revelou sua contribuio na divulgao cientfica da rea de
sade.
A pesquisa qualitativa pode apresentar dificuldades maiores do que a pesquisa
quantitativa, como ressaltam Falco17 (2003) e Oliveira18 (2004). Isso porque, na
pesquisa qualitativa, a organizao e a anlise do material coletado demandam um
determinado tempo para criar uma sistematizao de anlise dos dados coletados, o
que coloca em risco a consecuo desta tarefa.
17 FALCO, M.T.C. Pesquisa Qualitativa: Potencialidades e Limites. Trabalho apresentado no Frum Regional de Pesquisa em Enfermagem: Novas abordagens terico-metodolgicas e respectivos resultados. Escola de Enfermagem - Universidade de So Paulo/ 15 e 16 abril 2003 (slide 15). 18 OLIVEIRA, F. A. de. Metodologia Cientfica em Ateno Primria Sade no Brasil. Trabalho apresentado no 6 Congresso Brasileiro de Medicina de Famlia e Comunidade Rio de Janeiro, RJ - abril de 2004 (slide 19).
29
Lakatos e Marconi (2001, p. 175) discorrem sobre a possibilidade de diferentes
tcnicas serem empregadas pela cincia para buscar seus propsitos pr-
estabelecidos, e Godoy (1995, p. 21) discute trs diferentes abordagens da pesquisa
qualitativa: a pesquisa documental, o estudo de caso e a etnografia.
Embora esta pesquisa no tenha adotado exclusivamente uma nica tcnica,
sendo a sua nfase associada anlise histrica da trajetria do JP, ela foi orientada
pelos princpios fundamentais da pesquisa documental. Para Gil (2002, p. 45-47),
embora haja semelhanas entre pesquisa documental e bibliogrfica, na essncia a
diferena entre ambas est na natureza das fontes,
[...] enquanto a pesquisa bibliogrfica se utiliza fundamentalmente das contribuies dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que no receberam ainda um tratamento analtico... (p. 45).
A anlise documental do JP representava em si uma grande tarefa, levando em
considerao que o jornal circulou durante 16 anos e foram impressas 185 edies
mensais, configurando um total de 2.554 pginas de informaes a serem analisadas.
Devido sua natureza de divulgao cientfica inserida tanto no contexto universitrio
quanto no de democratizao do conhecimento e de empoderamento19 em sade, o
estudo do JP de