72

Click here to load reader

A vitória da ONSA

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Pesquisa FAPESP - Ed. 55

Citation preview

Page 1: A vitória da ONSA
Page 2: A vitória da ONSA
Page 3: A vitória da ONSA

8 Artigo científico sobre o seqüenciamento genético da Xylella fastidiosa, publicado pela Nature, é destaque na imprensa internacional e revela importantes descobertas científicas

16 FAPESP cria o Programa para Inovação em Ciência e Tecnologia Aeroespaciais, influindo na decisão da Embraer de escolher São Paulo como local de sua nova fábrica

Capa: Hélio de Almeida, sobre foto

de Fabio Colombini /Kino Fotoarquivo

30 Estudo busca compatibilizar

as principais teorias da Física para explicar as forças do Universo

34 Pesquisador adiciona moléculas modificadas de ácido linoleico conjugado à ração das vacas e obtém leite com mais proteína e menos gordura

EDITORIAL

MEMORIAS

OPINIÃO

POLITICA CIENTÍFICA E TECNOLOGICA

CIÊNCIA

TECNOLOGIA

HUMANIDADES

LIVRO

LANÇAMENTOS

ARTE FINAL

5 6 7 8

30 44

54 60 61 62

44 Equipe da USP ganha prêmio internacional com pesquisa sobre superfícies ópticas capazes de modificar as propriedades de um feixe de luz

54 Pesquisa analisa as transformações ocorridas na Zona Leste de São Paulo nas últimas décadas e traça o novo perfil econômico e urbano da região

PESQUISA FAPESP · JUlHO DE 2000 • 3

Page 4: A vitória da ONSA

Pesqüisa PESQUISA FAPESP

É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA

DO ESTADO DE SÃO PAULO

PROF. DR. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ PRESIDENTE

PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO VICE-PRESIDENTE

CONSELHO SUPERIOR ADILSON AVANSI DE ABREU ALAIN FLORENT STEMPFER

CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTO

FLÀVIO FAVA DE MORAES JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA MAURÍCIO PRATES DE CAMPOS FILHO

MOHAMED KHEDER ZEYN NILSON DIAS VIEIRA JUNIOR

PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO RICARDO RENZO BRENTANI

VAHAN AGOPYAN

CONSELHO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO PROF. DR FRANCISCO ROMEU LANDI

DIRETOR PRESIDENTE

PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER DIRETOR ADMINISTRATIVO

PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ DIRETOR CIENTÍFICO

EQUIPE RESPONSÁVEL CONSELHO EDITORIAL

PROF. DR. FRANCISCO ROMEU LANDI PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER

PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ

EDITORA CHEFE MARILUCE MOURA

EDITORA ADJUNTA MARIA DA GRAÇA MASCARENHAS

EDITOR DE ARTE HÉLIO DE ALMEIDA

EDITORES CARLOS FIORAVANTI (CI~NCIA)

MARCOS DE OLIVEIRA (TECNOLOGIA) MÀRIO LEITE FERNANDES (ENCARTES)

DIAGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA T ÃNIA MARIA DOS SANTOS

COLABORADORES ADILSON AUGUSTO ANA MARIA FlORI CLAUDIA IZIQUE CRISTINA DURÁN

EDUARDO STOPATO LUCAS ECHIMENCO

MARIA LIGIA SANCHES MAURÍCIO TUFFANI OITO FILGUEIRAS

ROBERTO MEDEIROS WILSON MAR/N/

ENCARTE ESPECIAL MAPA GENÉTICO DA XYLELLA FASTIDIOSA

FOTOLITOS E IMPRESSÃO GRAPHBOX-CARAN

TIRAGEM: 22.000 EXEMPLARES

FAPESP RUA PIO XI, N" I SOO, CEP 05468-90 I ALTO DA LAPA- SÃO PAULO - SP

TEL (O- 11) 3838-4000- FAX: (O- 11) 3838-4117

ESTE INFORMATIVO ESTÃ DISPONÍVEL NA HOME-PAGE DA FAPESP:

http://www.fapesp.br e·mail: [email protected]

SECRETARIA DA CI~NCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO

ECONÓMICO

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

4 · JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

SOO anos de C&T no Brasil Causou-me espanto que o suple­

mento especial da revista Pesquisa FA­PESP, comemorativo dos SOO anos de ciência e tecnologia no Brasil, não te­nha dado a devida referência ao livro de Márcia Helena Mendes Ferraz, As ciências em Portugal e no Brasil (1772-1822): o texto conflituoso da química (São Paulo; Educ/FAPESP, 1997). Em um suplemento dedicado à história da ciência no Brasil, não deveria haver referência a uma obra seminal sobre a implantação dos cursos de química em Minas Gerais e no Rio de Janeiro?

PROF. DION DAVID MACEDO

Universidade Metodista de São Paulo São Paulo, SP

De acordo com o professor Shozo Motoyama, coordenador do Suplemen­to, os livros relacionados na publicação são apenas indicações bibliográficas. O critério para a indicação foi o de serem livros clássicos que tratam da história da ciência e da tecnologia no país. Dos títulos relativos a temas ou áreas espe­cíficas, foram apenas assinalados os ci­tados no corpo do texto sobre os 500 anos de C&T no Brasil ou os que foram utilizados como material de consúlta.

Pesquisadores mais citados

Li com interesse recente reporta­gem da revista Pesquisa FAPESP em que se fala dos "mais citados autores brasileiros de 1990 até hoje", seguido de lista de trabalhos. Gostaria de sa­ber qual foi exatamente o critério usado para a feitura desta lista.

SIORGIO P. TOLEDO

São Paulo, SP

A lista foi elaborada pelo Informa­tion Scientific Institute (ISI). O critério foi especifico para a premiação e elabora­do exclusivamente pelo ISI. O Instituto escolheu os trabalhos com mais de 50 citações, levando ainda em considera­ção as áreas do conhecimento e as regiões

brasileiras mais representativas, chegan­do, ao final, àqueles 27 artigos, assina­dos por 104 pesquisadores brasileiros.

Revista

Parabenizo a revista Pesquisa FA­PESP pelos temas abordados. Tive a oportunidade de ler pela primeira vez o exemplar do mês de abril, de núme­ro 52, cujos temas vieram contribuir na resolução das questões do Provão/ 2000, realizado no dia 11 de junho. Sou pesquisadora da Universidade Regional do Cariri- URCA, pelo pro­grama Funcap, e aluna do curso de Ciências Biológicas.

DANIELLE lNACIO MAGALHÃES

Crato, Ceará

Gostaria de parabenizar toda a equipe da revista Pesquisa FAPESP pelo excelente trabalho que vem de­senvolvendo.

HWO P EDRINI

Araçatuba, SP

Parabenizo-os pela revista Pesquisa FAPESP. Sou professor universitário e me interesso pelos assuntos tratados.

CARLOS NABIL GHOBRIL

São Paulo, SP

Tenho acomparihado os artigos pu­blicados na revista Pesquisa FAPESP e gostaria de demonstrar minha ad­miração. São artigos de grande im­portância científica, os quais nos proporcionam um maior conheci­mento nas diferentes áreas de pesqui­sa em nosso país. Como trabalho com pesquisa, a revista tornou-se in­dispensável aos meus estudos.

VALESCA PANDOLFI

CNPT/Embrapa- Passo Fundo, RS

Correção

A capa da edição n° 54 da Pesquisa FAPESP saiu, incorretamente, como sendo do mês de maio. É de junho.

Page 5: A vitória da ONSA

EDITORIAL

Boa ciência, boa tecnologia e boa divulgação

Apublicação na Nature do artigo sobre o ge­noma da Xylella fastidiosa representa um marco na história da ciência no Brasil. A

equipe de quase 200 pesquisadores realizou um trabalho de primeira qualidade e colocou a ciên­cia no Brasil nas manchetes internacionais. O NY Times destacou a entrada de "um surpreendente novo ator num campo dominado pelas nações desenvolvidas" e a Nature elogiou a "determina­ção do Brasil de entrar na era pós-genoma de igual para igual com os cientistas dos países mais ricos". O

O programa da FAPESP, dirigido a quaisquer em­presas do setor aeroespacial, foi fator importante para a Embraer decidir instalar sua nova planta em Gavião Peixoto, São Paulo, estado que é o locus na­tural desse tipo de atividade no Brasil. Além do Ins­tituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e do CTA, que deram origem à Embraer, há no estado o INPE, e as universidades paulistas têm atividades destacadas nesse campo. Em comum com o exem­plo da Xylella, a Embraer é resultado de décadas de

esforços cumulativos de formação de pessoal, sempre com referenciais

The Economist afirma que agora o Brasil passa a ser conhecido por "Samba, football and ... genomics". Poucas vezes boas notícias sobre o Brasil foram motivo de tanto des­taque internacional. Ao lado de con­tribuir para a recuperação da auto­estima dos cientistas brasileiros, a realização demonstra o acerto da

"Poucas vezes boas notícias sobre o Brasil foram motivo

de excelência internacionais e apoio do Estado. Parece que Francis Ba­con tinha alguma razão ao destacar que "nenhuma ação do bom gover­no é mais valiosa do que o enrique­cimento do mundo com conheci-de tanto destaque

internacional, mento confiável e fértil ': Quando se discutia a criação da

FAPESP, em 1955, José Reis desta­cou em artigo na Revista Anhembi (V. XVIII, n. 50, p. 278- citado em S. Motoyama, FAPESP- Uma Histó­ria de Política Científica e Tecnológica) que seria "preciso que a Fundação faça ponto de honra da necessidade de apresentar relatórios sinceros ao

política de pós-graduação no país, voltada à formação de quadros cien-tíficos com qualidade determinada por referenciais internacionais. Sem isso, como seria possível jun-tar um time de mais de 200 para esse empreendimento? O papel da FAPESP foi decisivo ao vislumbrar o momento cer­to para criar uma nova maneira de se organizar a atividade científica no país. Igual importância tive­ram as agências federais, apoiando a formação desses pesquisadores, ex-bolsistas da Capes e do CNPq, e as universidades públicas que abrigam a quase totalidade dos pesquisadores. O resultado destaca a importância do investimento estatal con­tinuado em ciência e tecnologia, do apoio à ciên­cia fundamental e à formação de pessoal. Coisas que requerem décadas de esforço, no qual o papel do Estado é insubstituível.

Aliar ciência fundamental à sua aplicação tem sido um desafio constante para a FAPESP. A Fun­dação acaba de criar o programa Parceria para Inovação em Ciência e Tecnologia Aeroespaciais. Aproveitando a oportunidade da iminência da decisão da Embraer de instalar uma nova planta para produção e desenvolvimento de tecnologia e, ainda, o desejo da empresa de intensificar suas par­cerias com universidades e institutos de pesquisa.

·público ... E esses relatórios não de­veriam ser amontoados de cifras ou nomes, mas exposições vivas dos planos e projetos desenvolvi­dos, para que se percebesse a existência de um ver­dadeiro espírito de amparo à ciência .. . ". Pois o grande José Reis estava descrevendo quase que exa­tamente a revista Pesquisa FAPESP, que faz exata­mente aquilo que o mestre recomendou: divulgar as ações da Fundação para o público, de maneira clara e acessível. Por isso foi maior ainda a nossa alegria ao vermos a Pesquisa FAPESPser premiada exatamen­te com o Prêmio José Reis de Divulgação Científica, outorgado pelo CNPq. Está de parabéns a equipe responsável pela Pesquisa FAPESP mais do que tu­do por ter construído nestes cinco anos uma revista ágil e de alta visibilidade, que destaca de maneira "vi­va os planos e projetos apoiados pela Fundação".

Oaa:l L~'yv &(gÔYl..tt~ . CARLOS H EN RI QUE DE BRITO CRUZ

PRESIDENTE DA FA PESP

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 2000 • 5

Page 6: A vitória da ONSA

Pela ciência A e amazon1ca

O INPA firmou-se como centro gerador do nosso conhecimento da Amazônia

A importância de um centro como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) ressalta numa época em que volta a discussão sobre a posse da biodiversidade -acirrada pelo recente acordo entre outro orgão do Ministério da Ciência (Bio-Amazônia) e uma multinacional de medicamentos (Novartis) para a bioprospecção na região. Surgido como reação brasileira à proposta da Unesco de criar um centro internacional de estudos da floresta amazônica, o INPA foi fundado

Torre de pesquisa e observação do INPA em reserva florestal

em 1952 por decreto do presidente Getúlio

Filhote de peixe-boi da Amazônia e laborató~io flutuante de pesquisa

Vargas e instalado precariamente em 1954. Com o tempo, consolidou-se como centro de excelência em pesquisas amazônicas. Com a implantação do planejamento estratégico em 1993, sua finalidade inicial de promover "o estudo científico do meio ambiente e das condições da vida da região" foi mais especificada: o INPA tem hoje a missão de "gerar, promover e divulgar conhecimentos científicos e tecnológicos da Amazônia, para a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais, em benefício principalmente

6 · JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

da população regional". Assim, além do estudo da fauna, da flora e do ambiente, seus mais de 200 pesquisadores dedicam-se a um amplo trabalho de desenvolvimento de produtos e de tecnologia. Os conhecimentos acumulados pela instituição compõem o maior e mais importante banco de informações científicas sobre a Amazônia. Ocupando três quintos do Brasil e abrigando cerca de SOo/o da biodiversidade mundial, a Amazônia tem a maior floresta e um quinto da água doce do mundo. Só a xiloteca do INPA tem 3.500 espécies de árvores, das cerca de 5.000

existentes na região (contra apenas 650 em toda a América do Norte). O instituto tem cadastradas ainda 40o/o das cerca de 3.000 espécies de peixes da região. Além de atrações existentes na área que ocupa, como os tanques do peixe-boi, as trilhas educativas e as coleções botânicas e zoológicas, o INPA mantém reservas biológicas, estações experimentais e barcos equipados com laboratórios. Dirige ainda a Fundação Djalma Batista, que surgiu no início da década de 90 para dar mais agilidade ao trabalho dos cientistas.

Page 7: A vitória da ONSA

OPINIÃO

]OSÉ CARLOS CAVALCANTI

Projeção internacional, expansão nacional Novo modo de produção de conhecimento se estabeleceu no país

Na semana entre os dias 9 a 15 de julho de 2000 a Revista Nature, uma das mais con­ceituadas publicações científicas do mun­

do, publicou (com capa e tudo) um artigo sobre as descobertas do grupo de cientistas paulistas que seqüenciou completamente o genoma da bactéria Xylella fastidiosa. Trata-se de um grande aconteci­mento para a comunidade científica do Estado de São Paulo, e, por extensão, para o próprio país.

Muito já se escreveu recente­mente sobre este feito, o que é bas­tante compreensível. Num país que

çado. E o artigo publicado internacionalmente na Nature é apenas o primeiro dos produtos gerados por este novo modo de produzir conhecimentos.

A conclusão do primeiro genoma de fitopató­geno no mundo pelos cientistas paulistas não apenas coloca o Brasil na fronteira da Genômica internacional (os outros genomas que estão sendo feitos com financiamento da FAPESP garantirão esta posição), mas traz consigo a constatação de

que um novo paradigma de produ­ção de conhecimento foi estabele­cido no país.

se acostumou a observar o sucesso da ciência e tecnologia ( C&T) dos países desenvolvidos, observar que também é possível ter sucesso com a C&T nacional é motivo para or­gulho e muitas celebrações.

"o país está percebendo

E foi exatamente isto que atraiu a atenção da comunidade científica de Pernambuco. Quando a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe) formali­zou, pioneiramente, seu convênio com a FAPESP para a participar da Rede Onsa no Genoma da Cana-de­Açúcar, havia tanto o interesse em dominar a tecnologia de seqüencia-

O que gostaríamos de dar des­taque não é o feito em si, mas sim o que acreditamos tenham sido os seus determinantes e seus impactos. Em primeiro lugar, salientar as "con-

que tem potencial, tem recursos humanos, tem tecnologia e muita riqueza a ser explorada,

dições gerais da produção" deste feito, o que aqui denominaremos de "um novo modo de produção de conhecimento novo': Neste sentido, o fator que consideramos mais mar-cante foi a existência de um estoque de capital hu­mano altamente qualificado na área das ciências biológicas no território do Estado de São Paulo.

A partir da introdução de uma inovação ge­rencial proposta pela FAPESP, como foi a da es­trutura de trabalho em rede de laboratórios (a Rede Onsa), esse estoque de capital humano foi estimu­lado a viabilizar - numa escala e escopo sem pre­cedentes na história da pesquisa nacional - um fluxo massivo de novas informações acerca do ma­terial que estava sendo pesquisado. Esse fluxo pro­porcionou, por meio da bioinformática, a acumu­lação de uma nova forma de capital (bancos de dados) que, tendo sido transformado em conhe­cimento novo (o mapa genético do organismo es­tudado), possibilitou que seu genoma fosse alcan-

mento genético automático, quan-. to em dominar este novo modo de produção de conhecimento novo (fundamentalmente pelo fato de a Genômica ser uma ciência nova, in­terdisciplinar e portadora de futu-

ro) . Outros estados da federação também já per­ceberam este novo dado da realidade da pesquisa biológica nacional e estão expandindo esta rede, como é o caso de Alagoas e do Rio de Janeiro.

A grande lição que se pode tirar de um feito co­mo este é a de que o país está se encontrando con­sigo mesmo. Está percebendo que tem chances, tem potencial, tem recursos humanos, tem tecno­logia, e tem muita riqueza a ser explorada. Com o devido equilíbrio, com o foco adequado, com ciên­cia de excelência internacional e tecnologia de rele­vância nacional, o Brasil pode ainda ir mais longe.

]OSÉ C ARLOS CAVALCANTI é professor do Departamento de Economia da UFPE e presidente da Facepe

PESQUISA FAPESP • JULHO DE 1000 • 7

Page 8: A vitória da ONSA

IIII II 28

) 9 770028 083057 I

Page 9: A vitória da ONSA

O s achados científicos originais da equipe de pesquisadores do Brasil responsáveis pelo seqüenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa tanto quanto o significado cultural e político, para o país, do sucesso desse projeto mundialmente pioneiro de genoma de um microrganismo causador de doença em plantas

- um fitopatógeno - ganharam uma nova e maior visibilidade internacional com a edição da Nature que começou a circular em 13 de julho último. O ar­tigo científico de sete páginas sobre a Xylella- o paper, como se diz no jargão dos pesquisadores - com contribuições novas para a pesquisa genômica, ela­borado e assinado por 116 dos 192 cientistas que concluíram em janeiro pas­sado a decodificação genética da bactéria, forneceu nada menos que a capa da edição número 6.792, volume 406 da revista, uma das mais prestigiosas e res­peitadas publicações científicas do mundo.

Em 131 anos de existência da Nature, jamais um artigo produzido por um grupo de pesquisa brasileiro chegara à capa da revista. Mas não bastasse isso, a decifração do genoma da bactéria causadora da Clorose Variegada de Citros ( CVC) ou praga do amarelinho, pelos pesquisadores ligados à Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos-Onsa (a rede virtual de labo-

Depois de uma capa na Nature, a pesquisa genômica feita

ratórios criada pela FAPESP em 1997 e que tem uma onça em sua logomarca), foi festejada em editorial da publicação inglesa e detalhádamente explicada em linguagem jornalís­tica em sua seção News and Views.

no país atrai a atenção do mundo No editorial (ver íntegra no box), destacou-se que o se­qüenciamento bem-sucedido do patógeno de planta "é uma realização política tanto quanto científica': E, ainda, que a concepção corrente de que somente os países mais industria­

M ARILU C E MOURA lizados têm o potencial e o pessoal qualificado necessários para realizar pesquisa de ponta foi desmentida pelo projeto brasileiro. Para finalizar, o editorial afirma que o sucesso do projeto da X. fastidiosa somado ao fato incomum de uma agên­cia do mundo avançado e industrializado- o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - ter contratado a pesquisa genômica de uma variante da Xy­lella de um país em desenvolvimento "endossam a determinação do Brasil de en­trar na idade pós-genômica de mãos dadas com os cientistas dos países mais ricos':

Em termos de divulgação, os efeitos desse destaque concedido ao projeto brasileiro por um dos maiores ícones da comunidade científica internacional não se fizeram esperar. Ainda na noite da quarta-feira, 12 de julho, findo o em­bargo de publicação de notícias sobre o material semanal da Nature veiculado pela Internet, a versão on line do New York Times noticiava "Genes of plant di­sease mappeâ', e a BBC News Online relatava "Brazil hails scientific firsi: Mais tarde, em 18 de julho, o caderno de ciência do jornal NYTpublicaria a matéria "Agriculture takes its turn in the genome spotlighi'.

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • 9

Page 10: A vitória da ONSA

A matéria da BBC infor­mava que a pesquisa do ge­noma da Xylella está sendo saudada como "um triunfo da ciência brasileira" e, com base em entrevista do coor­denador de DNA do proje­to, Andrew Simpson, apre­sentava alguns resultados da pesquisa que represen­tam contribuições novas à ciência e estavam sob sigilo até a publicação do paper pela Nature. Um deles é que muitos dos 2.900 genes da X. fastidiosa (cerca de um terço) são totalmente novos para a ciência, ou seja, são genes jamais descritos an­tes, enquanto outros são análogos a genes encontra­dos em outros organismos. Outro resultado fundamen-tal da pesquisa, destacado pela BBC, foi a identificação de genes na X. fastidiosa que codificam moléculas cuja exis­tência só estava descrita em patógenos de seres humanos e animais, caso em que servem para sua adesão às células do hospedeiro. Ora, o que aí se apresenta é uma clara e importante indicação de identidade dos mecanismos de patogenicidade das bactérias, afetem elas plantas, seres humanos ou outros animais.

P or sua vez, a matéria publicadada no New York Times on line, produzida pela agência interna­cional de notícias Associated Press, destacava o caráter pioneiro do mapeamento genético de um fitopatógeno e o situava como um avanço

capaz de levar a novas abordagens na luta contra "um fla­gelo bacteriológico que devasta laranjais e outras planta­ções". Na seqüência também informava que o trabalho lança luzes sobre o modo pelo qual bactérias infectam igualmente plantas e seres humanos e neutralizam suas defesas, e abria espaço para comentários entusiasmados de Charles J. Arntzen, presidente do Instituto Boyce Thompson, da Universidade de Cornell, sobre essa e ou­tras contribuições científicas importantes apresentadas no artigo de capa da Nature.

Na quinta-feira, 13, uma nova amostra da repercussão internacional da capa da revista científica britânica acon­teceria nas páginas de Le Figaro. Sob o título "Les méca­nismes de la virulence dévoilés", o jornal francês publicou uma matéria entusiasmada, escrita uma oitava acima, di­gamos, do tom que boa parte da imprensa brasileira acha recomendável para noticiar conquistas nacionais fora da

I O • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

arena esportiva. Nela resumiam-se os resultados científicos do projeto da X. fastidiosa, explicava-se como foi montada a estrutura da Onsa que permitiu seu desenvolvimento e apresentava-se um quadro da praga do amarelinho no Brasil. Le Figaro concedeu espaço, é claro, para observar que foram os pesquisadores franceses Joseph Bové e Mo­nique Garnier que identificaram a Xylella como agente causador da'cvc, no começo dos anos 90. E para lembrar que quando a FAPESP, em 1997, lançou o projeto de se­qüenciamento da X. fastidiosa, Bové se dispôs a fornecer os clones da bactéria produzidos pelo Inra (Instituto Na­cional de PesquisaAgronômica) em Bordeaux, ao mesmo tempo em que Frédéric Laigret, pesquisador na Universi­dade Bordeaux 2, dava apoio à constituição de um banco de DNA da bactéria para fornecimento dos fragmentos a serem seqüenciados. Mas, em meio a tudo isso, o que pode soar como música a ouvidos brasileiros é o título do box da reportagem, "Le Brésil parmi les grands", que co­meça afirmando que o Brasil se alçou ao nível das potên­cias "biológicas" do planeta: Estados Unidos, Grã-Breta­nha, França, Japão, Alemanha" (ver íntegra na página 14).

Na quinta-feira seguinte, 20 de julho, reportagem da conceituada revista inglesa The Economist completava a avaliação positiva de alguns dos mais importantes órgãos da grande imprensa internacional sobre a ciência praticada no Brasil. "Samba, futebol e .. . genômica. A lista de coisas pelas quais o Brasil é reconhecido subitamente ampliou-se", dizia na abertura a matéria sob o título "Fruits of co-opera-

Page 11: A vitória da ONSA

A Xylella fastidiosa e a laranjeira

A bactéria tem 2.904 genes e os pesquisadores da ONSA conseguiram identificar as funções de 47% deles.

I Um grupo de genes produz e libera a goma xantana, que permite à bactéria aderir à parede celular

dos vasos que transportam a seiva e a outras bacterias

3 A planta reage liberando substâncias tóxicas (oxidantes) , mas a X. fastidiosa

2 Outros genes produzem substâncias que atacam a parede celular da planta

tem um mecanismo de defesa s116

• que as neutraliza ~t.incias ox·d

----~~a~n~ce~s .... ~~r

4 Outro grupo de genes também colabora na defesa, desarmando drogas potencialmente nocivas, como o antibiótico penicilina

5 Além da externa, a bactéria tem uma membrana interna, em que se concentram os transportadores de substâncias, que cu idam de expelir ou "importar" certos compostos

6 A Xylella fastidiosa também tem genes para produzir toxinas, "armas químicas" contra outras bactérias, por exemplo

7 Um grupo de pêlos, as fímbrias, também servem para a adesão da bactéria, provavelmente ao aparelho bucal da cigarrinha, o inseto transmissor da praga do amarelinho

8 Entre outros genes ligados à adesão, alguns são similares com os de micróbios que causam infecções em seres humanos

Metais

9 Um grupo de genes absorve certos metais, como o cobre

lO Um conjunto de 67 genes é especializado na absorção de ferro, um nutriente importante para a Xylella

Roteiro elaborado pelo jornalista Ricardo Bonalume I Versão original publicada pela Folha de São Paulo em 1310712000

PESQUISA FAPESP • JULHO DE 2000 • li

Page 12: A vitória da ONSA

tion". Explicava em seguida que, ape­nas poucos dias depois de publicar o primeiro genoma de um fitopatóge­no, cientistas ligados à FAPESP pre­paravam-se para anunciar, no dia 21 de julho, "um outro sucesso": a iden­tificação de 279 mil seqüências gené­ticas humanas, número, segundo a revista, só inferior ao de seqüências identificadas pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha. A referência nes­se ponto é aos resultados do projeto Genoma Humano do Câncer, que de fato seriam divulgados em entre­vista coletiva no Palácio dos Bandei­rantes no dia 21 (a cobertura do evento estará na próxima edição de Pesquisa FAPESP).

O texto de The Econo­mist dá a partir daí uma série de detalhes sobre o Programa Genoma da FAPESP e sobre a própria Fundação, para concluir dizendo que "a li­

ção a retirar de tudo isso é que não há razão pela qual paí­ses como o Brasil não possam competir em ciência de ponta se se empenharem nesse sentido". Para finalizar, considerando "os benefícios da cooperação demonstra­dos por São Paulo, a fonte segura de financiamento à pes­quisa existente neste Estado e os mais de 200 cientistas treinados como resultado apenas do projeto da X. fasti­diosa", a matéria faz um prognóstico luminoso de cresci­mento da participação brasileira na produção científica mundial, que, em número de papers publicados, saltou de 0,4% para 1,2% do total mundial, de 1985 a 1999.

Contribuições significativas

No front interno, onde a atenção da mídia para os projetas de pesquisa genômica feitos no Brasil intensifi­cou-se muito a partir do anúncio da conclusão do se­qüenciamento da X. fastidiosa em fevereiro passado, o significado da conquista da capa da Nature por essa pes­quisa foi informado para dezenas de milhões de brasilei­ros. Ainda na quarta-feira, as emissoras de rádio e de te­levisão, a começar pela Globo em seu Jornal Nacional, deram ampla repercussão ao assunto e, na quinta-feira, 13, os principais jornais brasileiros noticiaram com deta­lhes o que a revista britânica publicara. Não raro o noticiá­rio situou o fato nas esferas de um brilhante gol de placa da pesquisa feita no país. Na quarta, também a novíssima mídia eletrônica nacional juntara-se à difusão do "deu na Nature", idéia inevitável de título para traduzir o fato em questão com um laivo de humor genuinamente nacional, e que terminou sendo efetivamente usado pela revista Isto

12 · JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

É, na sexta-feira, 14 de julho. No sábado, 15, a Época mos­trou os rostos de alguns dos principais responsáveis pelo sucesso do projeto da X. fastidiosa. Foram dias de tamanha exposição da pesquisa brasileira em genômica na mídia que, de repente, parecia aberto o caminho para mostrar a ciência não só como espaço privilegiado de resolução de inumeráveis problemas que afetam o indivíduo e a socie­dade, mas t~mbém como um campo capaz de contribuir para a elevação da combalida auto-estima nacional.

Na verdade, uma amostra especial do fascínio exerci­do pelo êxito reconhecido dos pesquisadores brasileiros, na área científica hoje mais em evidência no mundo, já ocorrera na terça-feira, 11 de julho, durante a 523 Reu­nião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que reuniu em Brasília cerca de 15 mil pessoas, entre cientistas seniores, jovens pesquisadores e estudan­tes que ainda estão definindo seus caminhos profissionais. Ali, num auditório superlotado sobretudo por jovens, Andrew Simpson recebeu uma ovação impressionante depois de mostrar por que o projeto da X. fastidiosa ape­nas em cerca de dois anos fez o Brasil dar um salto de 10 anos em sua competência científica.

Durante a palestra o pesquisador expôs por poucos segundos a capa da Nature que ainda estava sob embargo e declarou que ter um artigo publicado naquela revista era o sonho de todo pesquisador- ele e os demais pesqui­sadores que assinaram o paper, ressaltou, estavam vendo esse sonho materializado. Essa mesma declaração Simpson

Page 13: A vitória da ONSA

repetiria em estado de graça no dia seguinte, já em São Paulo, durante a entrevista coletiva à imprensa organiza­da pela FAPESP para que, junto com João Setúbal, um dos dois coordenadores de bioinformática do projeto (o outro é João Meidanis) explicassem os novos achados ci­entíficos que logo se tornariam públicos no mundo intei­ro. Participaram da coletiva também o presidente da FA­PESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, o diretor científico da Fundação, José Fernando Perez, a secretária adjunta de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Betty Abramowicz, o pró-reitor de pesquisa da USP, Hernan Chaimovich, o vice-reitor da Unicamp, Fer­nando Galembeck e o pró-reitor de pós-graduação e pes­quisa da Unesp, Fernando Mendes Pereira.

Biologia decifrada

A seqüência do genoma da X. fastidiosa é o 24° geno­ma completo de bactéria agora conhecido para a ciência e o primeiro de um fitopatógeno. A Xylella possui quase 2,7 milhões de pares nitrogenados ou nucleotídeos em seu cromossoma (mais precisamente, 2.679.305), o que mostra que ela é um terço maior do que os pesquisado­res imaginavam quando iniciaram seu seqüenciamento no começo de 1998.

Dentro desses pares de base estão 2.904 genes, regiões codificadoras de proteínas, dos quais um terço é novo pa­ra a ciência e 47% têm as funções precisamente descritas.

Esse percentual está um tanto abaixo do que outros gru­pos de pesquisa de genoma de bactéria obtiveram - por exemplo, ele chegou a 54% na Thermotoga marítima, a 52,5% na Deinococcus radiodurans e a 53,7% na Neisseria meningiditis. Os pesquisadores brasileiros atribuem esse resultado um tanto menor à inexistência prévia de qual­quer outra seqüência completa de genoma de bactéria fi­topatogênica antes da Xylella, que em princípio facilitaria o trabalho de definição funcional dos genes, ou seja, tra­ta-se de um custo do próprio pioneirismo.

Âtéria se multiplica na cigarrinha e esse inseto to r a introduz diretamente nos vasos de trans­·orte da seiva da planta, o chamado xilema. Aí instalada, ela se multiplica e, fastidiosa como o nome indica, age lentamente. Os

sintomas da Clorose Variegada dos Citros vão demorar a aparecer, mas o resultado final é o entupimento dos va­sos, a perda de clorofila, o amarelamento, as manchas das folhas e a produção precoce de frutos pequenos e duros, imprestáveis portanto para consumo. O resultado econô­mico desse processo, no Brasil, produtor de quase meta­de do suco de laranja concentrado posto no mercado in­ternacional, são prejuízos estimados em US$ 100 milhões anuais. Lembre-se que a receita nacional com a citricultu­ra é de quase US$ 2 bilhões anuais, e que em São Paulo essa atividade gera 400 mil empregos, entre diretos e indiretos.

A X. fastidiosa tem um metabolismo refinado. Ela é adaptada para o uso de açúcares encontrados livres na seiva do xilema e para a utilização da glicose derivada da quebra da celulose, principal componente das paredes das células vegetais. Os carboidratos fornecem energia para todas as reações biossintéticas dessa bactéria que não apresenta genes codificadores das enzimas necessárias

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 2000 • 13

Page 14: A vitória da ONSA

para produção de açúcares a partir de aminoácidos e outros metabólitos.

Outra descoberta dos pesquisadores: 67 genes da X. fastidiosa são dedicados à retirada de ferro e outros metais da seiva da planta, o que, segundo eles, contribui para alguns sintomas típi­cos da CVC.

Mais um achado cientí­fico importante: a X. fasti­diosa apresenta dois dife­rentes sistemas de adesão celular. O primeiro deles compreende uma matriz de polissacarídeos extracelula­res sintetizados e liberados pelos chamados genes de goma, que grudam a bacté­ria na parede celular do xi­lema e em outras bactérias, e terminam por entupir os vasos, bloquear a seiva e levar a planta ao estresse de água. Justamente para o operon ou conjunto de genes que sintetizam essa goma xantana é que a FAPESP solicitou no ano passado o registro de pa­tente nos Estados Unidos. O outro sistema de adesão, es­pecificado por 26 genes que codificam as chamadas pro­teínas frmbriais, serve provavelmente para grudar a bactéria no aparelho digestivo da cigarrinha.

Ara descoberta de grande alcance, já citada, 1 a identificação dos genes que codificam

moléculas envolvidas na adesão da célula an­teriormente só identificadas em patógenos de seres humanos e de animais. São molé­

culas diretamente associadas à superfície celular da bacté­ria, que respondem pela aderência ao tecido epitelial nos hospedeiros, cujo encontro na X. fastidiosa aumenta a evi­dência de que os mecanismos de patogenicidade das bac­térias, ou seja, seu mecanismos para causar doenças são os mesmos, infectem elas plantas, animais ou seres humanos.

O que os pesquisadores organizados na Onsa fizeram está bem descrito nas conclusões finais do paper da Nature. Eles determinaram "não só o metabolismo básico e as ca­racterísticas de replicação da bactéria, mas também nu­merosos mecanismos potenciais de patogenicidade. Al­guns jamais tiveram sua ocorrência antes postulada para fitopatógenos, fornececendo novas percepções para a ge­neralidade desses processos:' Os resultados obtidos permi­tirão agora, diz o artigo, o começo de uma detalhada compa­ração entre patógenos animais e vegetais. Para completar, as novas informações deverão fornecer bases para uma investigação experimental, acelerada e racional das inte-

14 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

f : LE FIGARO

1 O Brasil entre os grandes I

; c om o seqüenciamento da bactéria Xylella fas-tidiosa, o Brasil se alça ao nível das potências

"biológicas" do planeta: Estados Unidos, Reino Unido, F~ança, Japão, Alemanha. A iniciativa sur­giu, há três anos, na Fundação de Amparo à Pes­quisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Desejosa de desenvolver a biologia molecular, essa instituição que administra o produto da arrecadação estadual destinado à pesquisa, lançava assim uma espécie de plano keynesiano de crescimento aplicado à ciên­cia. A FAPESP forneceu a cada um dos trinta labo­ratórios que responderam à sua convocação um se­qüenciador cujo preço unitário se avizinha de 700.000 francos. Esses esforços foram recompensa­dos. Melhor, os Estados Unidos acabam de enco­mendar aos brasileiros o seqüenciamento de uma variante da X. fastidiosa que infesta seus vinhedos. E que poderá perfeitamente ameaçar a Europa e a França algum dia. Não causa espanto que esse grande país tenha sido convidado, juntamente com a China, a Índia e o México, para participar da reunião dos ministros da Pesquisa do GB, no final de junho, em Bordeaux.

Page 15: A vitória da ONSA

Seqüenciamento de genoma para todos O bem-sucedido seqüenciamento de um patógeno de planta por

pesquisadores brasileiros é uma realização tanto política quanto científica

H á um equívoco comum de que somente na­ções avançadas e industrializadas têm o po­tencial e o pessoal qualificado necessários

para realizar ciência de ponta eficaz. Essa concepção equivocada tem sido adotada pelos pesquisadores de países em desenvolvimento que acham necessário ob­ter seu treinamento de pesquisa no exterior - e deci­dem não voltar, alegando a falta de oportunidade ci­entífica. Mas isso foi desmentido por um artigo publicado nesta edição que descreve o resultado de um projeto realizado por um consórcio de centros de pes­quisa do Estado de São Paulo, no Brasil, para seqüen­ciar a bactéria Xylella fastidiosa. Esta bactéria causa uma doença que afeta frutas cítricas e outras impor­tantes culturas vegetais, resultando num prejuízo de muitos milhões de dólares por ano.

Como primeira seqüência pública de um patóge­no de planta de vida livre, o artigo representa um marco científico significativo. Mas também envia um claro sinal político, notadamente o desejo e a capaci­dade de países como o Brasil de jogar na grande liga. O projeto de seqüenciamento foi escolhido delibera­damente pela sua principal agência financiadora, a FAPESP, para desempenhar um papel catalisador ajudando grupos de pesquisa a se prepararem eles mesmos para o desafio da era pós-genômica. Também se pretendeu enviar um sinal aos jovens cientistas do Brasil de que eles não precisam deixar o país para to­mar parte da ciência de nível mundial. Em ambos os aspectos parece que houve sucesso.

É claro que o seqüenciamento do genoma da bac­téria é só o primeiro passo no sentido do controle dos

rações entre a X. fastidiosa e seus hospedeiros, que devem conduzir a novos achados nas abordagens para o contro­le da CVC, a famosa praga do amarelinho.

São conclusões que, além de um sucesso, marcam também o começo de uma fase nova, "em que o Brasil passa a participar da definição da agenda mundial da ci­ência", como destacou o presidente da FAPESP, Brito Cruz. "Em que o país já revela uma competência científi­ca na fronteira do conhecimento, em pé de igualdade com os países mais desenvolvidos", como assinalou Perez. Uma fase em que já pode prever a ampla utilização de co­nhecimento de ponta pelo setor produtivo no país, ressal­tou Betty Abramowicz, para a produção de riqueza.

danos que ela causa. O próximo é aplicar a genômica funcional para entender como operam os genes da bactéria, abrindo caminhos para uma possível inter­venção para restringir sua disseminação por insetos. Com isso, o conhecimento do genoma poderia forne­cer a informação necessária para gerar variantes re­sistentes para as plantações afetadas. Isso levanta um outro conjunto de desafios- convencer o público bra­sileiro de que plantas transgénicas podem desempe­nhar um papel econômico importante e, ao mesmo tempo, dar passos firmes para evitar conseqüências sociais e ambientais indesejáveis.

Tecnicamente, muito disso de certa forma é coisa para o futuro. Mas o sucesso do projeto da X. fasti­diosa já atraiu manifestações importantes de interesse por projetas semelhantes de outras áreas da comuni­dade agrícola - uma proposta que está na ordem do dia é a de que os mesmos centros de seqüenciamento voltem sua atenção para as etiquetas de seqüência ex­pressa (ESTs) de frango. O sucesso também foi respon­sável pelo bem-vindo e relativamente incomum fenô­meno de uma agência do mundo industrializado e avançado- neste caso, o Departamento de Agricultu­ra dos EUA, preocupado com o impacto de uma va­riante da X. fastidiosa nos pomares de citros* da Califórnia - contratar pesquisa de um país em desen­volvimento. Esses dois feitos endossam a determinação do Brasil de entrar na idade pós-genômica de igual para igual com os cientistas de países mais ricos.

*Na verdade, a variante da X. fastidiosa afeta as vinhas da Califórnia

* Autores:A.J. Simpson. F. C. Reinach. P.Arruda, F.A.Abreu, M.Acencio, L. M. C. Alves, J. E. Araya. G. S. Baia, C. S. Baptista, M. H. Barros, E. D. Bonaccorsi, S. Bordin,J. M. Bové, M. R. S. Briones. M. R. P. Bueno,A.A. Camargo, L. E. A. Camargo, D. M. Carraro, H. Carrer, N. B. Colauto, C. Colombo, F. F. Costa, C. M. Costa-Neto, L. L. Coutinho, M. Cristofani, E. Dias-Neto, C. Docena, H. EI-Dorry, A. P. Facincani,A.J . S. Ferreira. V. C. A. Ferreira,J .A. Ferro,J. S. Fraga, S. C. França, M. C. Franco, M. Frohme, L. R. Furlan, M. Garnier, G. H. Goldman, S. L. Gomes, A. Gruber, P. L. H o, J. D. Hoheisel, M. L. Junqueira, E. L. Kemper. J. P. Kitajima, J. E. Krieger, E. E. Kuramae, F. Laigret, M. R. Lambais, L. C. C. Leite, E. G. M. Lemos, S. A. Lopes. C. R. Lopes,J.A. Machado, M.A. Machado, A. M. B. N. Madeira, H. M. Madeira, C. L. Marino, M.V. Marques, E. A. L. Martins, E. M. F. Martins,A.Y Matsukuma, C. F. M. Menck, E. C. Miracca, C.Y. Miyaki, C. B. Monteiro-Vitorello, D. H. Moon, M.A. Nagai ,A. L.T. O. Nascimento, L. E. S. Netto,A. Nhani Jr, F. G. Nobrega, L. R. Nunes, M.A. Oliveira, M. C. de Oliveira, R. C. de Oliveira, O. A. Palmieri, A. Paris, B. R. Peixoto, G. A. G. Pereira, H. A. Pereira Jr, J. B. Pesquero, R. B. Quaggio, P. G. Roberto, V. Rodrigues,A.J . de M. Rosa, V. E. de Rosa Jr, R. G. de Sá, R. V. Santelli, H. E. Sawasaki,A. C. R. da Silva, A. M. da Silva, F. R. da Silva,W.A. Silva,J. F. da Silveira, M. L. Z. Silvestri,WJ. Siqueira,A.A. de Souza, A. P. de Souza, M. F.Terenzi, D.Truffi, S. M.Tsai, M. H.Tsuhako, H.Vallada, M.A.Van Sluys, S. Vejovski-Aimeida,A. L.Vettore, M.A. Zago, M. Zatz, J. Meidanis & J. C. Setubal •

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • IS

Page 16: A vitória da ONSA

POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AERONÁUTICA

Programa da FAPESP apoiará projetas de desenvolvimento do setor aeroespacial

CLAUDIA IZIQUE E

LU CAS E C HIMEN CO

as asas

aConselho Superior da FA­PESP aprovou a implantação

do programa Parceria para Inovação em Ciência e Tecnologia Aeroespa­ciais (PICTA) para apoiar projetos desenvolvidos por universidades e instituições de pesquisas em conjun­to com empresas do setor aeroespa­cial. O novo programa contará com recursos da ordem de R$ 18 milhões anuais, de acordo com Carlos Henri­que de Brito Cruz, presidente do Conselho Superior da entidade.

O programa vai funcionar nos mesmos moldes do Programa de Inovação Tecnológica em Parceria (PITE): os projetos serão apresenta-

16 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

raer dos por universidades ou instituições, avaliados pela FAPESP, que, se apro­vada a proposta, contrata com o pes­quisador o financiamento de 50% da pesquisa. Os outros 50% serão apar­tados pela empresa interessada no desenvolvimento do projeto.

A criação do PICTA pesou, e mui­to, na decisão da Embraer de instalar no Estado de São Paulo, no municí­pio de Gavião Peixoto, uma nova fábri­ca de aviões e uma pista de ensaio em vôo, com investimento total de R$ 340 milhões e criação de 3 mil empregos. "Vamos procurar estudar projetos em parceria com o curso de Engenharia Mecânica e Aeronáutica de São Carlos

e com outras instituições de pesquisa que tenham utilidade para a Em­braer': afirma Satoshi Yokota, vice­presidente industrial da Embraer.

A fábrica e a pista de ensaio em vôo da Embraer começam a ser cons­truídas em outubro para operar em 2001, e a empresa, provavelmente, se­rá um dos principais clientes do PICTA. Mas a expectativa é que a região ve­nha a se constituir num pólo aeroespa­cial, reunindo fornecedores nacionais e internacionais de produtos, proces­sos e serviços na área de aeronáutica. A TAM, por exemplo, já adquiriu a área da extinta Companhia Brasileira de Tratores (CBTA), onde pretende

Page 17: A vitória da ONSA

exigiu a construção de nova fábrica para produção de

jatos militares e comerciais

instalar um centro de manutenção de aeronaves. De acordo com Yokota, a Embraer faz gestões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Eco­nômico e Social (BNDES) e Ministé­rio da Indústria e Comércio (Mine), no sentido de atrair alguns de seus fornecedores para o Brasil. "Nos inte­ressa tê-los por perto", diz o vice-pre­sidente da Embraer.

Pólo aeroespacial - O governo do es­tado aposta na formação desse novo pólo de desenvolvimento. Investe R$ 27 milhões na aquisição de uma área de 14,5 quilômetros quadrados no município, que será cedida à Em-

braer por um período de 35 anos, re­nováveis por mais 35; na infra-estru­tura básica do terreno, como forneci­mento de energia, água e tratamento de efluentes; e na pavimentação dos acessos rodoviários. "Antevemos uma nova fronteira para São Paulo, tanto do ponto de vista geográfico, já que se está expandindo para a região de Araraquara uma fronteira tecnológi­ca até então articulada no Vale do Pa-

raíba, Campinas e na capital, como do ponto de vista estritamente tecnoló­gico, o que permitiu fazer esse enten­dimento com a FAPESP para o finan­ciamento de pesquisadores que apresentem projetos na área aeroes­pacial", diz o secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Eco­nômico, José Aníbal. Ele lembra que a região tem uma forte tradição em pesquisa em torno da Universidade de São Paulo (USP) e da Universida­de Federal de São Carlos (UFSCar) e ga­rante que as escolas técnicas estaduais da rede Paula Souza, assim como a Faculdade de Tecnologia de Taquari­tinga, deverão desenvolver cursos de Engenharia Aeronáutica, com especia­lização em Engenharia Espacial.

Aeronaves militares -A proximida­de das universidades e dos institutos

de pesquisa contou pontos na deci­são da Embraer de se instalar na re­gião. Mas também pesou o fato de Gavião Peixoto possibilitar a cons­trução de uma pista de teste distante de áreas urbanas e das rotas aéreas com intenso tráfego de aviões co­merciais, além de permitir um re­querido sigilo, já que a nova fábrica vai produzir jatos militares como o AL-X, conhecido como Supertuca-

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • 17

Page 18: A vitória da ONSA

no, e o AM-X, aeronaves de combate de alto desempenho cujos testes exi­gem ampla disponibilidade de espa­ço aéreo para manobras. Atualmen­te, os aviões militares produzidos pela empresa, em São José dos Cam­pos, são testados na base de Moses Lake, no Estado de Washington, nos Estados Unidos.

A topografia plana de Gavião Pei­xoto permitirá a construção de uma pista de ensaio em vôo de 3 quilôme­tros de extensão com mais 2 quilô­metros de faixa de segurança para manobras. "A região se situa além da Serra da Mantiqueira e as condições meteorológicas são adequadas para testes durante todo o ano': ressalva Yokota.

Em função das demandas do mercado, a Embraer também poderá fabricar em Gavião Peixoto aerona­ves comerciais, das famílias de jato ERJ 145/135/140 e ERJ 170/190.

Além de condições meteorológi­cas e geográficas adequadas, a região em torno de Gavião Peixoto apre­senta uma vantagem adicional para a Embraer: a nova fábrica estará insta­lada em área próxima a cidades com população entre 100 mil e 150 mil habitantes, onde a empresa poderá recrutar funcionários. De acordo com o vice-presidente, é regra da empresa contratar, no máximo, de 3% a 5% da população dos municí­pios da região onde a empresa está instalada "para que a relação entre empresa e a cidade não seja de de­pendência vital".

Ampliação de contratos - A fábrica de Gavião Peixoto será a quarta uni­dade de produção da empresa no Es­tado de São Paulo. A Embraer tem duas plantas em São José dos Cam­pos e uma em Botucatu. A decisão de ampliação decorre da expansão dos negócios da empresa no mercado in­ternacional e das limitações dos par­ques industriais já existentes. A Em­braer cresceu uma média de 50% ao ano, nos últimos cinco ano, e já ocu­pa o 4° lugar no ranking dos maiores fabricantes de aviões comerciais. No

18 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

ano passado, o faturamento da empre­sa foi deUS$ 1,8 bilhão ante os US$ 300 milhões registrados em 1995.

Crescem as vendas externas para empresas do porte da British Air­ways, Alitália e American Eagle. A empresa acaba de fechar um contra­to deUS$ 3 bilhões com a Continen­tal Express e conta com a possibili­dade de retomar contratos com o governo federal, que autorizou a For­ça Aérea Brasileira (FAB) a investir US$ 3,35 bilhões nos próximos oito anos para reaparelhar sua frota.

Uma das prioridades do progra­ma de recuperação da FAB é a com­pra de 76 aviões AL-X, produzidos pela Embraer, no valor de US$ 420 milhões, que substituirão os velhos Xavantes utilizados no Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). A Embraer deverá ser responsável pela modernização de 53 jatos AM-X, cuja reforma está orçada em mais US$ 285 milhões, e de outros 47 jatos americanos F-5, que integram afro­ta da FAB. Tudo indica que, a partir de 2001, a fábrica de Gavião Peixoto estará funcionando a plena carga.

Gavião Peixoto reescreve sua história

Quando os jatos AL-X e AM-X cortarem os céus de Gavião

Peixoto, talvez dona Neiva se con­vença de que as coisas mudaram na cidade de 36 ruas e 4.500 habitantes. Há 30 anos, desde a porta do peque­no bar que herdou do marido, ela observa o vaivém matinal dos ôni­bus carregados de bóias-frias que partem para o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar e nos laranjais da região. Ela passa o resto do dia aten­dendo a uma clientela formada basi­camente por aposentados, mulheres e crianças ainda sem idade para o trabalho na lavoura, que compra menos que o estritamente necessá­rio. Dona Neiva passa o ano espe­rando a primavera, quando começa a temporada de pesca do lambari no Rio Jacaré-Açu. Só então ela ganha um pouco de dinheiro vendendo minhocas. "Os pescadores são a sal-

Page 19: A vitória da ONSA

Gavião Peixoto espera superar dependência

crônica do setor agrícola

vação da lavoura: nunca pedem fiado e gastam bem", justifica. Cética, dona Neiva afirma sem muita convicção: "Se a fá­brica vier mesmo, acho que vou poder descansar':

A fábrica de aviões da Embraer talvez não mude muito a vida de dona Neiva, nem a do paranaense Milton Apoloni ou a da alagoana Quitéria Costa, que integram o contingente de 1.600 trabalhadores rurais responsá­veis pelo cultivo de 18 mil hectares ocupados pelas lavouras de cana e la­ranja, quase 75% da área total do município. Afinal, trata-se de uma mão-de-obra sem qualificação e por­tanto dispensável num empreendi­mento de alta tecnologia.

Mas há quem aposte na possibili­dade de obter uma vaga entre as 3 mil anunciadas pela empresa. Sandra Fernandes conta que ela e o marido, sócio numa carreta utilizada no

transporte de laranja, andaram pen­sando em ir embora da cidade. "Mas, quando ele ouviu falar na fábrica, de­cidiu ficar para ver se consegue um cargo de motorista."

Especulação imobiliária - Por en­quanto, o único efeito que a fábrica produziu na vida da cidade foi a es­peculação imobiliária. Comenta-se que um terreno que custava R$ 10 mil saltou para R$ 90 mil. O aposen­tado Vavi Sampaio confidencia que o prefeito estava precisando de uma

casa boa para hospedar o pessoal da Embraer e ficou assustado. "O dono pediu R$ 15 mil de aluguel."

O prefeito Alexandre Marucci Bastos faz as contas antes de fazer planos para superar as carências de um município cujo orçamento não passa de R$ 3 milhões. A renda men­sal per capita oscila entre R$ 300 e R$ 400 nos seis meses da safra de cana e laranja. A cidade tem uma escola es­tadual, um posto de saúde com seis médicos, não tem ônibus direto para São Paulo, tampouco cinema, hotel ou pousada. Para o viajante, o abrigo mais próximo fica na cidade de Nova Europa, a 12 quilômetros de Gavião Peixoto. "Primeiro vamos esperar.

Está tudo na mão do governo do esta­do. Quando estiver sacramentado, co­meçaremos a pensar nisso", afirma o prefeito, precavido.

Para Gavião Peixoto, a fábrica de aviões pode ser a grande oportunida­de de superar a crônica dependência da atividade agrícola, agravada nos anos em que preços pagos ao produ­tor ficam deprimidos. Os indicadores do município mostram estar em curso um perigoso cruzamento de cenário. A laranja, que ocupa 40% da área cultivada, geralmente em pequenas

propriedades, responde por 73,5% da receita municipal, enquanto a ca­na, que abrange 45% da área, responde por uma fatia bem menor, algo em torno de 18% da receita líquida. Em termos produtivos, o cenário é preo­cupante, já que o cultivo da cana depen­de de novos investimentos no solo e até na tecnificação da lavoura. Mas isso requer um capital que não existe e aponta para o risco do desemprego rural. ''A cidade tem absorvido prati­camente sozinha a mão-de-obra ru­ral", diz o prefeito Alexandre Bastos.

Vocações regionais - A perspectiva de instalação da nova fábrica da Em­braer na região também mobiliza as

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • 19

Page 20: A vitória da ONSA

esperam a fábrica de aviões com ceticismo e desesperança

cidades de São Carlos, Araraquara e Matão. Nesses municípios a substitui­ção da base agrária pela atividade co­mercial e industrial já lavrou tentos irreversíveis, e eles agora se preparam para desempenhar papéis diferencia­dos nesse rearranjo regional. Acenam com vantagens estratégicas para atrair as empresas fornecedoras que a fábrica de aviões certamente atrairá.

"Houve uma adequação de voca­ções': avalia José Galizia Tundisi, se­cretário de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Carlos, município que tem um orça­mento de R$ 110 milhões e uma ima­gem fortemente ligada às duas uni­versidades locais: a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Fe­deral de São Carlos (UFSCar).

Na opinião de Tundisi, as univer­sidades darão respaldo técnico às ati­vidades da Embraer na região, seja por meio de cursos de nível superior, seja pela possibilidade real de treina­mento e reciclagem de mão-de-obra. "Mesmo que a cidade não seja a sede da Embraer, creio que teremos um papel importante a desempenhar", avalia Tundisi.

20 • JULHO OE 1000 • PESQUISA FAPESP

Estão em São Carlos, por exem­plo, o Centro de Caracterização e De­senvolvimento de Materiais, admi­nistrado pela UFSCar e Universidade Estadual Paulista (Unesp ), e o Núcleo de Manufatura Avançada (Numa), um pólo que une pesquisa básica e aplicada, mantido pelas universida­des Estadual de Campinas (Uni­camp), Metodista de Piracicaba (Unimep) e USP. "Haverá ainda um respeitável pacote orçamentário para investimento em pesquisa, fator dife­renciador dessa iniciativa", diz, refe­rindo-se ao programa Parceria para

Inovação em Ciência e Tecnologia Ae­roespaciais (PICTA), da FAPESP.

Crescimento estratégico - Em Arara­quara, os projetos da Embraer servi­ram aos planos de crescimento estra­tégico, implementado no município desde a década de 90. Uma série de levantamentos realizados ao longo dos últimos 20 anos pela Divisão de Socioeconomia da Secretaria de Pla­nejamento e Meio Ambiente aponta para um crescimento vigoroso do parque industrial, hoje com mais de

600 empresas, e um orçamento municipal de R$ 97 milhões.

' :ii ~ Mas na Divisão de Socioeco-§

nomia da Prefeitura prevalece :>

~ a cautela diante da promessa de número de empregos, insta­lação de empresas fornecedoras da Embraer e da possibilidade de uso da sua rede hoteleira e de serviços. "Talvez não redun­de em grande quantidade de empregos", diz Maria Rita, che­fe da divisão.

Parque tecnológico- Na cida­de de Matão as contas estão sendo feitas com base na ex­pansão da vocação industrial da cidade. "Temos o maior parque tecnológico da região", diz o prefeito Adauto Scardorelli. Nos seus planos, além de pro­curar investimentos que possi­bilitem às indústrias locais a capacitação para atender à no­va fábrica, outras medidas estão

em estudo. Uma área de 6 alqueires está sendo liberada para a instalação dos novos fornecedores.

As culturas de café, cana e laranja e as indústrias processadoras de suco de laranja contribuem anualmente com cerca de R$ 25 milhões, mais da metade da receita total do município, de R$ 43,4 milhões. Outros setores reforçam o orçamento municipal, co­mo a pecuária de corte, com um plantel de mais de 15 mil cabeças. "A Embraer representará um marco no desenvolvimento tecnológico da re­gião': prevê o prefeito. •

Page 21: A vitória da ONSA

POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

ENTREVISTA

Um novo perfil para a Fapergs Renato Oliveira fala sobre os planos de reestruturação da fundação

AFundação de Amparo à Pesqui­sa do Rio Grande do Sul (Fa­

pergs), criada em 1964, está se rees­truturando para poder melhor atender às demandas e necessidades de desenvolvimento das pesquisas cien­tíficas implementadas nas universida­des e institutos de pesquisa do Esta­do. Depois de atravessar um período marcado por grave crise orçamentá­ria e perda de pessoal, a Fapergs está redefinindo sua estrutura organizacio­nal e buscando eficiência para respon­der às demandas da comunidade cien­tífica e da sociedade, assumindo ativo papel no processo de desenvolvimen­to econômico e social. Renato Oliveira, recém-empossado no cargo de di­retor-presidente da fundação, e o di­retor-científico da entidade, Dalcídio Moraes Cláudio, visitaram a FAPESP, cujo modelo organizacional deverá pautar a reforma. A meta da nova gestão é apoiar e fortalecer os grupos de pesquisa já consolidados, fomen­tar a atuação de grupos emergentes e induzir a demanda em algumas áreas e instituições consideradas estratégi­cas para o desenvolvimento do estado. Em sua passagem por São Paulo, Re­nato Oliveira - sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio Gran­de do Sul e ex-presidente da Associa­ção Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes) - concedeu entre­vista a Maria da Graça Mascarenhas.

• Qual é a atuação da Fapergs, hoje, no fomento a projetas e programas de pesquisa no Rio Grande do Sul?

-A Fapergs é uma das mais antigas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) no País. Foi criada em 1964, por iniciativa de pesquisadores do Rio Grande do Sul, e muito marcada, na sua origem, pelo modelo da FA­PESP. Em 1989, conseguimos a inclu­são da obrigatoriedade de repasse de 1,5% da arrecadação líquida do Esta­do para o orçamento da fundação, que tem uma presença muito importante no desenvolvimento da ciência e tec­nologia. Nos últimos anos, porém, a Fapergs não conseguiu acompanhar o crescimento da pesquisa no estado, sobretudo por falta de apoio político do governo. O repasse nunca foi ga­rantido. Isso implica um déficit orça­mentário muito grande e uma limi­tação operacional da fundação.

• Esta situação pode mudar a curto prazo?

-A nossa convicção é que está mu­dando. É comum no país que o apoio à ciência e à tecnologia seja uma es­pécie de concessão retórica dos go­vernos ao discurso da modernidade, sem ser acompanhado de nenhuma medida prática. O Rio Grande do Sul não foi exceção. Mas essa situação está mudando. Ciência e tecnologia constituem hoje preocupação central nas políticas de governo, que assume essa área como fazendo parte de suas políticas estratégicas. Há uma cres­cente consciência de que, sem investimento forte em ciência e tecnologia, em inovação tecnológica, certos objetivos de política econômica e de desenvolvimento social são

O estado tem tradição de pesquisa em

engenharia e é pioneiro no setor de informática

irrealizáveis, e isso deve refletir-se numa mudança de atitude em rela­ção à Fapergs.

• A Fapergs, então, está se preparando para intensificar sua atuação?

-Assumimos a direção da fundação há dois meses e meio, praticamente, junto com o atual conselho técnico e administrativo. Estamos finalizando o encaminhamento de algumas me­didas que já haviam sido tomadas pela gestão anterior para, então, po­dermos nos ocupar do redesenho estratégico da Fapergs, com o apoio do governo estadual. A nossa idéia é redimensionar a fundação, aumen­tando o quadro de pessoal, mas, so­bretudo, redefinindo a estrutura or­ganizacional, de forma a adequá-la às demandas do estado. No Rio Grande do Sul, é necessário que uma funda­ção de fomento à pesquisa não só apóie e fortaleça os grupos já con­solidados, mas, também, fomente o desenvolvimento de grupos emergen­tes, atuando como fator de indução

Page 22: A vitória da ONSA

de demanda em algumas áreas e jun­to a algumas instituições que não têm experiência na área de pesquisa.

• Como o senhor avalia o atual estágio de desenvolvimento da pesquisa no Rio Grande do Sul?

-O estado conta com uma infra-es­trutura de pesquisa desenvolvida e uma comunidade de pesquisadores de alta qualificação. Ao mesmo tem­po, apresenta uma saudável hetero­geneidade institucional, com distin­tas vocações. O Rio Grande do Sul tem peculiaridades pelo fato de con­tar com quatro universidades fede­rais e algumas universidades privadas importantes, como a Pontifícia Uni­versidade Católica (PUC) e a Univer­sidade Vale dos Sinos (Unisinos), que começam a investir na área da pes­quisa. Isso sem falar nas universida­des comunitárias, uma experiência típica do nosso estado, que são priva­das, leigas e administradas por orga­nizações comunitárias regionais.

• Qual a característica delas?

- Elas têm forte inserção regional e são voltadas para a problemática de sua região. Na área de pesquisa, todas são emergentes, mas muitas já desen­volvem atividades importantes, espe­cialmente na área de agronomia ou de biomédicas. Temos, então, gran­des universidades, que poderemos chamar nacionais, convivendo com sólidas e fortes universidades de vo­cação regional. Ao lado disso, há um conjunto de instituições de pesquisas ligadas à administração estadual. Elas sofreram desgaste grande, nos últi­mos anos, mas estão em processo de recuperação. A Fapergs, aliás, está com um programa específico de re­cuperação dessas instituições.

• No estado, há áreas de pesquisa de mais destaque?

- Uma área tradicional de pesquisa no Rio Grande do Sul é o setor agro­pecuário. Mais recentemente, ga-

22 • JULHO OE lODO • PESQUISA FAPESP

nharam destaque outras áreas de pes­quisa, como a de biomédicas. Na área de cardiologia, atualmente está sendo formado um centro de terapia gêni­ca. O estado também tem tradição de pesquisa na área das engenharias e é pioneiro na pesquisa do setor de in­formática. Já contamos com um ca­pital de recursos humanos de alta formação e com uma infra-estrutura de pesquisa extremamente impor­tante. Aliás, o desenvolvimento desse setor viabilizou a formação de convê­nio envolvendo as três principais universidades da região metropolita­na de Porto Alegre, os governos do estado e da capital, além de um con­junto de empresas da área de infor­mática e microeletrônica, com apoio da Motorola, para a formação de um centro de excelência em microeletrô­nica, um projeto que alia pesquisa e desenvolvimento. Te-

ção política e social que caracteriza o modelo político do Rio Grande do Sul e que envolve os vários grupos or­ganizados da sociedade civil. Há um apelo a que esses grupos participem da formulação das políticas públicas. Isso deve recolocar a pesquisa no con­texto da cultura política do estado.

• A fundação mantém programa de bolsas?

- A Fapergs tem programa de bol­sas. Concedemos 1.200 bolsas de ini­ciação científica este ano, quase 50% a mais que no ano passado. Temos também programa de bolsa-estágio para estudantes do nível técnico e um programa de bolsas que visa a atrair pesquisadores seniores de ou­tras regiões do país ou de outros paí­ses. E há o programa muito restrito

mos, ainda, uma área de ciências humanas bastante desenvolvida.

''A nossa idéia é redimensionar

• Quais os programas de apoio à pesquisa imple­mentados pela Fapergs?

a fundação e redefinir a estrutura organizacional para adequá-la

-Há dois ou três anos, consolidou-se uma prá-

as demandas do estado,,

tica de lançamento pe-riódico de editais temáticos que acompanham um edital de nível de demanda. São lançadas duas séries de editais por ano, no início e no meio do ano. Essa prática acabou canali­zando toda a demanda por financia­mento de projeto de pesquisa para os editais. A vantagem óbvia é a canali­zação de investimento para setores que respondem mais diretamente aos interesses do estado. A desvantagem é que se corre o risco de cercear a li­berdade acadêmica, de alguma ma­neira. Estamos preocupados com isso e vamos buscar um meio-termo, ten­tando fortalecer temas de livre de­manda, possivelmente com fluxos contínuos, e também os editais temá­ticos. Com relação a esses, o nosso projeto é vincular os temas que serão escolhidos ao processo de delibera-

de bolsa de apoio emergencial ao mestrado e doutorado, implementa­do pelo estado. Os projetos que já fo­ram credenciados pela Coordenado­ria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e que já con­tam com cota de bolsa, podem rece­ber uma cota emergencial da Fapergs. O nosso propósito é criar um progra­ma de bolsas para estudantes de mes­trado e doutorado. Há, ainda, um programa de apoio a recém-doutores vinculados a instituições públicas ou privadas, que pretendemos ampliar por meio de convênios com organi­zações do chamado setor produtivo. O objetivo é a inserção de recém­doutores em empresas onde eles pos­sam tocar projetos de pesquisa. Também estamos começando a defi­nir um projeto mais ambicioso, que é

Page 23: A vitória da ONSA

o estabelecimento de convênios com organizações ligadas a atividades eco­nômicas específicas, para o estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento. Uma possibilidade concreta é um convê­nio com uma cooperativa de peque­nos agricultores do extremo noroeste do estado, com mais de 6 mil associa­dos, 50% dos quais têm proprieda­de com menos de 30 hectares. Es­tá sendo ar­ticulado e detalhado

o modelo do convênio que visa ao desenvolvimento de tecnologias na área de agricultura orgânica, no con­texto da agricultura familiar, com o objetivo de desenvolver metodologias de rastreamento da produção e certifi­cação do produto final. Isso vai agre­gar valor ao produto agrícola e pode viabilizar econômica e socialmente as atividades de milhares de famílias. Esse modelo de convênio poderá ser reproduzido em outras áreas, inclusi­ve em setores de atividades econômi­cas mais tradicionais, que poderiam obter ganhos de escala, de qualidade e agregação de valor, se passassem por processo de incorporação de tec­nologia. Pode também ser alternativa para os setores de desenvolvimento tecnológico como, por exemplo, o de informática. Com esse modelo, abre-

se um novo perfil para as atividades da Fapergs, com a orientação de re­cursos para o desenvolvimento tec­nológico de setores específicos.

• E como se daria o apoio da Fapergs?

-Nesse convênio com a cooperativa de pequenos agricultores, a Fundação entra com um determinado volume de recursos, ao longo de três anos, com contrapartida dos parceiros. O con­vênio deixa aberta a possibilidade de apoio de outras instituições, ao longo da sua implementação. Os projetos que forem apresentados no contexto des­

se programa devem ser aprovados por um comi­tê técnico montado pa­ra esse fim, com repre­sentantes da fundação, da instituição convenia­da e de pesquisadores da área de abrangência do convênio.

• Na sua opinião, qual a importância das FAPs no sistema de ciência e tecnologia?

- A FAPESP provou que a existência de um sistema de ciência e tec­

nologia que tenha autonomia de fun­cionamento, de gestão, e financiamen­to constante assegurado é vital para o desenvolvimento econômico e social de uma região e para o sucesso de po­líticas de governo. A Fapergs já deu passos importantes nessa direção. Acreditamos que a articulação e o fortalecimento do Fórum Nacional de Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais poderia assegurar a institu­cionalização de políticas estáveis de ciência e tecnologia em todo o país, atendendo às peculiaridades das diver­sas regiões. É compreensível que em algumas regiões do país as fundações sofram ingerências constrangedoras por parte dos governos estaduais. Muitos estados do Norte e Nordeste, o Paraná e Santa Catarina nem se­quer têm fundações organizadas. Se

conseguíssemos articular iniciativas de algumas instituições importantes, como a FAPESP, a Fapergs, a Funda­ção de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) e a Funda­ção de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), daríamos uma dimensão nova à discussão sobre ciência e tecnologia no país. E isso se­ria importante no momento atual, já que a instituição dos fundos setoriais está gerando expectativa forte e pode fazer com que a dinâmica regional se­ja simplesmente suprimida em algu­mas regiões, já que o modelo de gestão é muito centralizador. Além disso, os fundos adotam um modelo que prio­riza os setores econômicos geradores de recursos. Isso pode se constituir um vício de origem que comprome­te toda a eficácia do programa.

• Convênios e parcerias entre as FAPs para o desenvolvimento de projetas con­juntos de pesquisa não fortaleceriam o sistema?

- Sim, dividiria a experiência das regiões que estão na frente com as outras áreas do país. Exemplo disso é a experiência da participação de ou­tras FAPs em alguns projetos Geno­ma da FAPESP. Nós pretendemos de­senvolver trabalho de parceria em algumas áreas. Estamos consideran­do a possibilidade de desenvolver um programa especial nas áreas de infor­mática e de biotecnologia, que são áreas onde temos capacidade instala­da, talento, massa crítica e que se constituem numa das fronteiras do desenvolvimento tecnológico e eco­nômico. A partir da definição de um programa, pensamos em iniciar al­gumas atividades conjuntas com FAPs de regiões que já possuam gru­pos de trabalho naquelas áreas e que possam aportar recursos para um trabalho comum. A criação de um sistema nacional que garanta estabi­lidade não pode ser só política, tem de ter um trabalho conjunto de com­partilhamento de experiência. •

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 23

Page 24: A vitória da ONSA

POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

Encontro reuniu I 5 mil pessoas e movimentou o câmpus da Universidade de Brasília entre os dias I O e 14 de julho

O lugar da ciência e da tecnologia Pesquisadores debatem o Brasil na sociedade do conhecimento

Aúltima reunião anual da Socie­dade Brasileira para o Progres­

so da Ciência (SBPC) do século 20, em torno do tema O Brasil na Socie­dade do Conhecimento, movimentou o câmpus da Universidade de Brasília durante a semana de 10 a 14 de julho. "Os países que não entrarem na socie­dade do conhecimento vão ficar mar­ginalizados", disse a presidente da SBPC, Glaci Zancan, bioquímica da Universidade Federal do Paraná.

No encontro foram avaliados os ru­mos da política de ciência e tecnolo­gia no Brasil, os avanços da pesquisa e a sua relação com empresas, entre

24 • JULHO OE 2000 • PESQUISA FAPESP

outras questões como mercado de tra­balho, meio ambiente e políticas so­ciais. As grandes estrelas dos debates, no entanto, foram o projeto de seqüen­ciamento genético da Xylella fastidio­sa, realizado por cientistas brasileiros, a implantação dos fundos setoriais pa­ra o financiamento de pesquisas e a polêmica em torno da liberação dos alimentos transgênicos no país.

Andrew Simpson, coordenador do Projeto Genoma Xylella, foi aplaudi­do por uma platéia de 400 pessoas quando anunciou a publicação do artigo sobre o seqüenciamento da bactéria na capa da revista Nature do mês de julho, fato inédito para a ciên­cia brasileira. "Agora vamos concluir o seqüenciamento de outros genomas, tanto na área da saúde (Genoma Câncer), como na área da agricultu­ra ( Genoma da bactéria Xanthomo­nas citri e Genoma Cana).

Fundos setoriais - A aprovação pelo Congresso de cinco fundos setoriais para o financiamento de pesquisa nas áreas de energia, recursos hídricos, mi­neral, espacial e de transportes reu­niu platéia de centenas de pesquisa­dores e suscitou polêmicas. Outros quatro fundos, de interação universi­dade e empresa, informática, teleco­municações e infra-estrutura, estão sendo analisados pela Câmara dos Deputados. Esses fundos terão uma receita estimada de R$ 1 bilhão por ano e serão formados por impostos pagos por empresas de vários setores da produção e destinados a pesquisas nas suas respectivas áreas de atuação.

Parte da comunidade científica teme que a implementação desses fundos resulte em redução de recur­sos orçamentários da União para pesquisa. "É importante garantir que eles sejam recursos adicionais", afir-

Page 25: A vitória da ONSA

ma a presidente da SBPC. "A maior vantagem dos fundos é que eles criam uma regularidade no repasse de ver­bas para a ciência", diz Humberto Brandi, professor do Instituto de Fí­sica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da So­ciedade Brasileira de Física.

O secretário-executivo do Ministé­rio da Ciência e Tecnologia, Carlos Amé­rico Pacheco, garantiu que "os fundos setoriais não irão substituir outras formas de financiamento da pesquisa" e, para reforçar seu argumento, dis­tribuiu entre os presentes exemplares

ca", diz. Ou seja, poderá haver excesso de oferta de recursos em áreas nas quais a demanda é ainda pequena e, inver­samente, escassez de recursos para áreas que exigem mais investimentos.

''A parte da pesquisa fundamental deveria ser mais impulsionada': aler­tou o físico Roberto Salmeron, um dos fundadores da Universidade de Brasília, que há quase 30 anos traba­lha na École Polytechnique, em Paris. Salmeron lembrou que os novos re­cursos provenientes dos fundos equi­valem ao que a França destina ao Centro Nacional de Pesquisa Cientí-

técnica da transgenia': mas defende a realização de testes locais para avaliar o impacto da produção de alimentos modificados sobre o meio ambiente. "Por causa das diferenças existentes entre os ecossistemas, os testes feitos em outros países não são válidos para a realidade biológica brasileira:'

Ciência, política, economia - Defen­dendo um dos únicos pontos de con­senso entre cientistas, tecnólogos, di­rigentes de instituições de pesquisa, professores e estudantes, o de que o Brasil precisa ampliar a capacidade de

a::: 2A R ·- ANuAl dA SBPC / E~,~,~~~?. li "' jl IIHl dt J(l{)()

G;Df Ó; J ((

Projeto Genoma, fundos setoriais e alimentos transgênicos foram as estrelas dos debates

investir em educação bási­ca para não comprometer os avanços significativos conseguidos no nível da pós-graduação, o ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, afir­mou que a chamada "dé­cada perdida", como tem sido referenciado os anos 90, merece uma reflexão mais profunda. Neste perío­do em que se acentuou a cri­se do Estado, o Brasil con­seguiu melhorar índices específicos da área de ciên­cia e tecnologia. Ele lem­brou que, no período, qua­druplicou o número de doutores formados no Bra­sil e aumentou rapidamen-

de uma cartilha sobre a ação dos fun­dos e os resultados esperados.

Reinaldo Guimarães, da Universi­dade Estadual do Rio de Janeiro, ad­verte que o modelo de gestão esboça­do para gerenciar os fundos pode significar a perda da governabilidade do Ministério da C&T. Estudioso do perfil dos grupos que fazem pesquisa e desenvolvimento tecnológico no Brasil, Guimarães chamou a atenção para o fato de que 70% dos recursos de cada fundo irão para o desenvolvi­mento tecnológico e 30% serão para o desenvolvimento científico. "Quem demandará estes 30% serão os 90% de pesquisadores que representam a ca­pacidade instalada de pesquisa bási~

fica, o CNRS. "Se este mecanismo dos fundos funcionar será importante, mas tudo deveria ser feito com calma e uma melhor planificação científica, com prioridades estabelecidas em ní­vel nacional", critica Salmeron.

Plantas transgênicas - O cultivo, co­mercialização e consumo de produtos geneticamente modificados continua a dividir a comunidade científica em torno de questões de saúde, éticas e ambientais. A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a SPBC defendem posições distintas, mas a presidente da SBPC nega qualquer divergência em relação aos transgênicos. Ela argumen­ta que "ninguém pode ser contra a

te o número de artigos cien­tíficos indexados. "Isto não ocorreu por acaso': disse Sardenberg. ''Afinal, ciência e tecnologia é um setor vital, estratégico, central para o Brasil", dis­se, durante uma mesa-redonda no último dia da reunião da SBPC.

Uma prova da melhora do de­sempenho brasileiro são os resultados preliminares do Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil, do CNPq. O pesquisador Reinaldo Guimarães, da Universidade Estadual do Rio de Ja­neiro, mostrou que há hoje em ativi­dade regular no Brasill1.613 grupos de pesquisa, baseados em 224 insti­tuições. A versão de 1999 do Diretório de Grupos de Pesquisa registrava a existência de 8.544 grupos de pesqui-

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • 25

Page 26: A vitória da ONSA

sa atuando no Brasil. Mais da metade dos grupos bra­sileiros de pesquisa - 56% - realiza suas atividades na região Sudeste, dos quais 6.581 estão localizados no Estado de São Paulo. As três universidades públicas estaduais abrigam exatos 2.014 grupos de pesquisa (1.118 na USP, 537 na Uni­camp, 359 na Unesp ). Os dados, obtidos em pesqui­sa direta junto aos grupos de pesquisa, revelam que a região Sul abriga 20% dos grupos, que totalizam 2.317. A região Nordeste registra a presença de 1.719 grupos, ou seja, 15% do total de grupos em ati­

FAPESP esteve presente na s• Expociência, uma mostra paralela à reunião da SBPC

vidade regular. Na região Centro­Oeste estão 669 grupos, representan­do 6% do total. Na região Norte atuam 327 grupos de pesquisa, 3% do total. "Mas é evidente que a con­centração de grupos nas regiões mais fortes economicamente é uma reali­dade que se perpetua em nosso país", afirmou Reinaldo Guimarães.

Investimento em tecnologia - A ca­pacidade de desenvolver pesquisa tecnológica das universidades brasi­leiras fica, no entanto, comprometida pela falta de recursos para transfor­mar projetas em produtos. "Isso só acontecerá quando houver uma forte ligação entre universidades e empre­sas, reforçada pelo interesse dos go­vernos estaduais e municipais em trabalhar em parceria com as institui­ções", avaliou Eduardo Krieger, presi­dente da Academia Brasileira de Ciên­cias no debate sobre os desafios da inovação no país. Do lado das em­presas, há uma certa inibição para o investimento em novas tecnologias, constata o presidente do Conselho Superior da FAPESP, Carlos Henri­que de Brito Cruz, que coordenou a sessão na SBPC onde se discutiram os retornos de investimentos de em­presas. "O Brasil desenvolveu uma excelente capacidade de fazer ciência,

26 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

mas ainda não produz muita tecno­logia. O ambiente econômico é hostil aos investimentos empresariais rela­cionados com pesquisa e desenvolvi­mento, que demoram para apresen­tar resultados." E também é precária a cultura de inovação tecnológica en­tre o empresariado. "O Brasil tem 77 mil pesquisadores e só 11% estão

dentro das empresas. Nos Estados Unidos, há 1 milhão, mas 80% estão pesquisando na iniciativa privada", comparou. "E lugar de produzir ino­vação é na empresa", concluiu.

Recursos e distribuição regional - O papel das Fundações Estaduais de Am­paro à Pesquisa (FAPs) esteve dentre

FAPESP recebe Prêmio José Reis na SBPC

A Fundação de Amparo à Pes­quisa do Estado de São Paulo foi a vencedora do 20° Prêmio José Reis de Divulgação Científica, do CNPq, concorrendo com outras 33 insti­tuições. O prêmio reconhece o tra­balho de disseminação de infor­mações sobre ciência e tecnologia realizado pela Fundação, ao produ­zir material informativo para distri­buir à imprensa em geral e editar a revista Pesquisa FAPESP. O Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), do Rio de Janeiro, recebeu menção honrosa.

O prêmio foi entregue em sole­nidade realizada no dia 10 de ju­lho, presidida pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sar-

denberg, na 52a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Pro­gresso da Ciência (SBPC). Foi a primeira vez que a entrega do prê­mio contou com a presença do mi­nistro de C&T.

"Por intermédio do jornalismo científico, o governo e a comunida­de acadêmica podem prestar contas à sociedade do uso dos recursos pú­blicos aplicados em ciência e tecno­logia, dos progressos alcançados e o que isso implica na vida cotidiana de cada um, de cada família, de ca­da grupo social", destacou Ronaldo Sardenberg.

Ao receber o diploma e a meda­lha do Prêmio José Reis, o presiden­te da FAPESP, Carlos Henrique de

Page 27: A vitória da ONSA

os desafios relacionados ao desenvol­vimento de pesquisa e tecnologia. Dentre as moções votadas e aprova­das pela assembléia da SBPC, uma delas pede que seja criada a FAP de Goiás e recriada a FAP do Mara­nhão, extinta em 1998. Para Ennio Candotti, ex-presidente da SBPC e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, "nos Estados, em ge­ral, prevalece a visão de que ciência e tecnologia é coisa do governo fede­ral': Candotti lembrou que já se pas­saram 12 anos desde o início do fun­cionamento dos sistemas estaduais de C&T e, mesmo com o esforço do Ministério da Ciência e Tecnologia

em implementar ações conjuntas, es­tes organismos "patinam à espera dos partidos políticos e das associações efetivamente empenhadas em sua implementação local':

São Paulo continua sendo a soli­tária exceção na questão das Funda­ções de Amparo à Pesquisa. "No Es­tado, para cada real investido pelo governo federal há um aporte de um real estadual", lembrou o diretor­científico da FAPESP, José Fernando Perez, numa mesa-redonda da SBPC destinada a debater o financiamento da pós-graduação no Brasil. Nos últi­mos anos, disse Perez, 8 mil bolsistas têm sido atendidos pela FAPESP. Este

Brito Cruz: a divulgação do conhecimento científico necessita do apoio do Estado

Brito Cruz, lembrou que este pes­quisador e divulgador científico, que continua em atividade aos 91 anos, escrevendo todas as semanas na Folha de S. Paulo, foi um dos que defenderam a existência de uma Fundação dotada de autonomia e orçamento estável, em artigos pu­blicados nos anos 50 e 60.

"A preocupação da FAPESP em divulgar o conhecimento reconhece que a ciência necessita do apoio do Estado, ou seja, utiliza recursos do contribuinte. Uma agência pública

deve ser, portanto, capaz de cons­tantemente divulgar e demonstrar à sociedade e aos Poderes Executivo e Legislativo as realizações propicia­das por este apoio."

O Prêmio José Reis de Divulga­ção Científica é o mais importante do Brasil na área de divulgação e jornalismo científico. Mantido pelo CNPq desde 1978, o prêmio é con­cedido anualmente, de maneira in­tercalada, a uma das seguintes ca­tegorias: instituição, jornalistas e divulgadores científicos.

quantitativo está no limite das dire­trizes estabelecidas pela Fundação, "que não pode se transformar numa agência de bolsas, o que comprome­teria o apoio à pesquisa". Este núme­ro recorde de bolsas no Estado de São Paulo é conseqüência, em parte, da impossibilidade de agências federais, como o CNPq e a Capes, atenderem a esta demanda específica.

Nove moções foram aprovadas na assembléia-geral dos sócios da SBPC, realizada dia 12. A SBPC quer a con­tinuidade do Programa Especial de Treinamento (PET), que permite a participação de universitários em 314 grupos de pesquisa. Mantido

pelo Ministério da Educação, o PET foi modificado, após a ameaça de extinção, e a deci­são governamental desagra­dou à comunidade científica.

A assembléia da SBPC quer também a anulação do contrato assinado pela Bio­amazônia, uma organização social mantida com recur­sos do governo federal, e a empresa Novartis, para ex­ploração da biodiversidade na Amazônia. "O Congres­so Nacional precisa exami~ nar os projetos de lei sobre o acesso à biodiversidade", afirmou Glaci Zancan. Três projetos sobre o tema estão no Congresso, um de auto­ria da senadora Marina Sil­va (PT/Acre), outro do de­

putado Jacques Wagner (PT/Bahia) e o terceiro de iniciativa do Poder Executivo.

Durante os quatro dias de encon­tro, os anfiteatros da UnB ficaram lo­tados com cerca de 15 mil pessoas, de acordo com a direção da SBPC. Qua­tro mil trabalhos científicos foram apresentados e a SBPC-Jovem, volta­da especificamente para acolher o trabalho de estudantes de primeiro e segundo graus, atraiu a atenção de 3 mil participantes. A 533 Reunião Anual da SBPC, em 2001, será no câmpus da Universidade Federal da Bahia, em Salvador. •

PESQUISA FAPESP · JULHO OE 2000 • 27

Page 28: A vitória da ONSA

POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

llllllltr';:~:"'""'~--------, to! a autores e leitores. ~

Uma briga pela Internet

No começo de julho, 120 líderes de publicações e de biomedicina reuniram-se em Nova York para discutir o efeito da Internet sobre as revistas científicas. Não demorou muito para se desentenderem, porque os dois grupos têm visões muito diferentes sobre o futuro: o primeiro prevê que as empresas privadas vão continuar fazendo as publicações mais legíveis e confiáveis, e o outro, que os cientistas logo abandonarão as publicações tradicionais para partilhar seus resultados diretamente com outros pesquisadores, via Internet. Segundo a Science de 14 de julho último, as sementes desse debate foram lançadas há 16 meses, quando Harold Varmus, então diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), e o geneticista Patrick Brown, da Universidade de Stanford, lançaram um plano radical para um arquivo biomédico e uma publicação correspondente, antecipando-se aos que

28 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

seriam bancados pelos NIH. A partir daí, o alcance da venture de publicação eletrônica dos NIH - agora chamada PubMed Central­vem sendo reduzido e o arquivo público tem demorado para deslanchar. David Lipman, diretor do Centro para Informação de Biotecnologia dos NIH, que está dirigindo o PubMed Central, relatou no encontro que seu pessoal está fazendo francos progressos na colocação de artigos on-line a partir das 20 publicações que aceitaram, até agora, fornecer papers para o arquivo. Mas sua equipe "se chocou com problemas técnicos", disse ele, em especial com um dos mais ilustres contribuintes, o Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Segundo a Science, essas dificuldades não desencorajaram Vitek Tracz, diretor da editora londrina Current Science Group. Em maio, Tracz- cuja empresa patrocinou o encontro de Nova York- iniciou sua própria publicação na Internet, a Central BioMed, que dará acesso gratuito

~ Apesar de Tracz 3 dizer que não tem

nenhum plano comercial para o Central BioMed, ele pretende usá-lo para ganhar credibilidade junto aos cientistas e, dessa forma, desenvolver outras publicações e serviços noticiosos lucrativos.

Reação pesada no encontro de Nova York teve Pieter Bolman, presidente da Academic Press de San Diego, Califórnia, que classificou os esquemas de publicação gratuita de utópicos, a ponto de lembrar trabalho de "acadêmicos sem ter o que fazer" ou "armação comunista': Colocar todos os dados da pesquisa biomédica num único arquivo aberto é "procurar problemas", disse, porque é pedir que os editores existentes abram mão de seus arquivos e "cometam suicídio econômico': As publicações não o farão, previu Bolman, a menos que sejam forçadas pelo governo. Bolman elogiou uma alternativa, uma venture chamada CrossRef, iniciada por uma editora e lançada em junho. Ainda este ano, ela vai abrigar um índice eletrônico com links para 3 milhões de arquivos em 4 mil publicações. Diferentemente dos usuários do PubMed Central, os do CrossRef, na maioria dos casos, terão de pagar uma tarifa para

obter um texto completo. Enfurecido, Brown disparou contra os "parasitas" que recebem o trabalho de cientistas de graça, levam uma eternidade para publicá-lo e cobram dos leitores um alto preço por um produto que freqüentemente pioram ao editar. Terminou exortando os cientistas a darem seu apoio a iniciativas gratuitas como o PubMed Central. Apesar de os participantes do encontro terem divergido fortemente sobre o modo como a Internet vai afetar a atividade editorial, todos pareceram concordar com o comentário de Varmus de que a experiência da publicação eletrônica mal começou e de que "estamos navegando para um porto distante" com ventos que às vezes favorecem e outras dificultam o avanço.

Transgênicos para o terceiro mundo

Um painel independente de lideranças científicas tanto de países industrializados quanto em desenvolvimento, aprovou, na primeira quinzena de julho, o uso de plantas geneticamente modificadas para atender às necessidades de alimentação dos pobres do mundo, informou a Nature, de 13 de julho último. Entretanto, o painel, formado por sete academias nacionais de ciência, também pediu que a indústria privada compartilhe a tecnologia dos transgênicos com "cientistas responsáveis" para aliviar o problema

Page 29: A vitória da ONSA

da fome nos países em desenvolvimento. O painel foi instalado no ano passado pela Sociedade Real Britânica, academias nacionais de ciência dos Estados Unidos, Brasil, China, Índia e México, e mais a Academia de Ciências do Terceiro Mundo, com o objetivo de oferecer "perspectivas científicas" sobre o papel da tecnologia de transgênicos na agricultura mundial. Segundo a nota da Nature, José Fernando Perez, um dos membros do painel e diretor científico da FAPESP, disse que os cientistas sentiram que "essa era uma boa oportunidade para oferecer uma reflexão técnica ao debate dos trângenicos". No Brasil, acrescentou, o tema tem sido discutido quase que exclusivamente em termos políticos. "Jamais tivemos um debate técnico:' O relatório defende que, entre outras metas,

a tecnologia transgênica deveria ser usada para reduzir o impacto

ambiental da agricultura. Propõe, também, que os países implantem sistemas para monitorar os potenciais efeitos das plantas transgênicas sobre a saúde humana. Na questão das patentes, o relatório diz que se certas tecnologias de alteração de plantas não forem extensivamente

licenciadas ou fornecidas sem custo ao mundo em desenvolvimento, "dificilmente elas beneficiarão as nações menos desenvolvidas do mundo, por longo tempo." Críticos, diz a Nature, reclamam que o relatório dá legitimidade a soluções de alta tecnologia, como os transgênicos, sem dar a devida importância a soluções locais mais apropriadas. "Mesmo que a ciência tenha peso, não se pode considerá-lo isoladamente sem questionar o poder da mentira por trás da abordagem de mercado em relação à fome global", diz Mark Curtis, da agência internacional de desenvolvimento ActionAid. Mas os integrantes do painel

dizem que o relatório tem a preocupação de estabelecer a dimensão técnica de culturas transgênicas num contexto mais amplo. Isso requer, por exemplo, "isenções especiais" para agricultores pobres, a fim de protegê-los de "restrições inadequadas à propagação de suas culturas."

Frutos do Projeto Resgate

O Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto de Documentação Histórica da Universidade do Porto, com o apoio da FAPESP e do Instituto de Cooperação Científica e Tecnológica Internacional de Lisboa, vão realizar de 25 a 27 de setembro, um colóquio de história luso-brasileira, cujo título é Perspectivas da Historiografia Luso-Brasileiras: Agenda do Milênio. O encontro pretende fazer um balanço da historiografia dos dois países e reforçar a colaboração futura. Há mesmo uma forte expectativa de que, a partir dele, surjam grandes projetas liderados por pesquisadores de ambos os países.

Presidente assina lei dos fundos setoriais

O presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou no dia 25

de julho os projetas que criam quatro dos lO fundos setoriais destinados a financiar pesquisa científica e tecnológica com recursos privados. A proposta de criação dos fundos para os setores de Energia Elétrica, Espacial, Recursos Hídricos e Minerais e Transportes Terrestres havia sido aprovada pelo Congresso Nacional no começo do mês. Os fundos, formados por percentuais de faturamento de empresas, deverão somar cerca de R$ l bilhão para o investimento em Ciência e Tecnologia.

Uma única saída

Pressionada pela Lei de Genéricos, desenvolver a capacidade de inovação tecnológica parece ser a única saída para a indústria brasileira de medicamentos. "Ou a indústria nacional acaba de uma vez ou se posiciona de modo mais firme no mercado, desenvolvendo sua capacidade de inovação", disse Gonzalo Vecina Neto, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, durante a 52a reunião da SBPC. Ele aposta que as empresas que se apoiam nas universidades conseguirão assegurar avanços científicos e tecnológicos nos próximos quatro anos.

PESQUISA FAPESP · JUlHO DE 1000 • 29

Page 30: A vitória da ONSA

CIÊNCIA

FÍSICA

Em busca de uma teoria final MAURI C IO TUFFANI

Pesquisa pretende unificar as forças básicas da natureza

U m dos maiores desafios da Fí­sica moderna é desenvolver

uma teoria que descreva de forma unificada todos os fenômenos do Uni­verso. O grande obstáculo é a incom­patibilidade entre duas das principais teorias físicas deste século, a relativi­dade geral e a mecânica quântica. Esse desafio é o tema da pesquisa de Victor de Oliveira Rivelles, profes-

sor do Instituto de Física da Univer­sidade de São Paulo (Ifusp) e dedi­cado ao problema desde os anos 80.

Cada uma dessas teorias desem­penha perfeitamente seu papel quan­do é aplicada no contexto em que foi criada. Mas cada uma fracassa ao ser aplicada aos fenômenos descritos pela outra. Por que, então, modificá­las em vez de deixá-las como estão?

A idéia de unificação é a mola pro­pulsora dos principais avanços da Físi­ca desde seus primórdios. Até o século 17, o movimento dos corpos terrestres e celestes era considerado distinta­mente. Os corpos terrestres tenderiam a parar depois de se movimentar por algum tempo, devido à sua natureza terrena. Já os corpos celestes, como o sol, a lua e os planetas, se moveriam

eternamente- o que seria uma de­monstração de seu caráter divino.

A mecânica clássica, formu-lada pelo físico inglês Isaac Newton (1642-1727), mostrou que os corpos terrestres e ce­lestes obedecem às mesmas leis de movimento, ao dar uma descrição unificada para am­bos. Suas idéias causaram uma mudança filosófica e re­

ligiosa profunda, pois mos-traram, matematicamente, que

o movimento dos corpos nos céus era puramente material.

Isaac Newton: unificador

das leis do movimento

Ao sintetizar teorias que pareciam antagônicas, os cientistas conseguem descrever um número maior de fe­nômenos com menos hipóteses e também prever fenômenos futuros. Newton, por exemplo, baseado em sua teoria, previu a data exata do re­torno do cometa Halley.

O físico alemão Albert Einstein (1879-1955), segundo seu biógrafo Abraham Pais (em Einstein Viveu Aqui, Nova Fronteira, 1997, Rio de Janeiro), disse que a teoria física tem dois anseios: "Englobar o máximo possível de fenômenos e suas cone­xões" e "alcançar isso com base no

Duas teorias incompatíveis

A mecânica quântica nasceu em 1900, com a teoria de Max Planck (1858-1947), segundo a qual a energia não se propaga num fluxo contínuo, mas por meio de pequenos pacotes de energia, os quanta. Isso permitiu dois avan­ços: a proposição de Albert Eins­tein, em 1905, de que a luz tam­bém se propagaria por meio de pacotes de energia e o modelo atô­mico do dinamarquês Niels Bohr (1892-1987).

Ainda em 1905, Einstein for­mulou a teoria da relatividade res­trita, baseada na proposição de que nenhum corpo pode alcançar velocidade superior à da luz no vá­cuo (300 mil km/s). Depois, mos­trou a equação E=md (energia é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz). E, em 1915, lançou a teoria da relati­vidade geral, mostrando que a gravidade de um corpo deforma o espaço e o tempo a seu redor. Essa

Page 31: A vitória da ONSA

menor número possível de conceitos independentes e relações arbitraria­mente pressupostas':

O objetivo fundamental da unifi­cação de teorias físicas é, portanto, obter modelos mais eficazes para ex­plicar e controlar a natureza. Foi o que Einstein obteve em 1915 ao for­mular a relatividade geral: uma teoria da gravitação mais abrangente que a de Newton.

No Departamento de Física Mate­mática do Instituto de Física da USP,

'Rivelles e mais oito físicos (pós-dou­tores e pós-graduandos) trabalham há três anos e meio no projeto Gravi­tação Quântica, com financiamento de R$ 3,4 mil da FAPESP. Além da USP, há estudos nessa área nas uni­versidades estaduais Paulista (Unesp) e do Rio de Janeiro (UERJ), nas fede­rais do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Rio

tese foi comprovada alguns anos depois num eclipse solar em Sobral, no Ceará: comparando-se posições de estrelas ao redor do sol antes e durante o eclipse, constatou-se que, vistas daqui, elas pareciam estar mais próximas devido à passagem dos raios de luz delas perto do cam­po gravitacional do sol.

A relatividade geral inspirou ou­tras teorias, como a da expansão do Universo, pelo norte-americano Ed­win Hubble (1889-1953), em 1929, e a da formação dos buracos negros pelo indiano-norte-americano Su­brahmanyan Chandrasekhar (1910-1995), em 1931. Em 1997, Wei Cui, do Instituto de Tecnologia de Mas­sachusetts, e colaboradores da Nasa, a agência espacial dos Estados Uni­dos, anunciaram a descoberta de buracos negros arrastando o espa­ço-tempo ao seu redor, o que com­provava previsões feitas a partir da relatividade geral 80 anos antes, quando ainda não havia incompati­bilidade com a teoria quântica. Em 1924, o francês Louis-Victor de Bro­glie (1892-1987) propôs a dualida­de onda-partícula, o que lhe va-

Grande do Sul (UFRGS) e no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

Eles não têm dúvidas: o resultado a ser obtido pode revolucionar a Físi­ca. Mas não é fácil chegar lá. Afinal, os dois extremos dessa conciliação são justamente os principais pilares da Física moderna.

Micro versus macro - A mecânica quântica pode parecer para o leigo um amontoado de conceitos que fe­rem o bom senso: aquilo que ora pa­rece ser uma partícula, comporta -se como uma onda e vice-versa. Além desse aparente contra senso, há uma perda definitiva do que restava da Fí­sica clássica. Após séculos de tranqüi­lidade com as equações deterministas do movimento, os cientistas tiveram de encarar o terrível princípio da in­certeza, formulado pelo físico alemão

leu o Prêmio Nobel de Física cinco anos depois: mostrou que o elétron pode apresentar comportamento de onda e também de partícula.

Três anos depois foi a vez de Werner Heisenberg, com o princípio da incerteza. Contrariando toda a tradi­ção da mecânica clássica, em que a posição e a velo­cidade de um corpo sempre poderiam ser determinadas precisamente, Heisenberg mos­trou que no domínio quântico é impossível determinar ambas com precisão simultaneamente. Eins­tein jamais aceitou essa formulação.

Einstein: rejeição permanente ao

princípio da incerteza

Werner Heisenberg (1901-1976), para o qual é impossível determinar simul­taneamente a posição e a velocidade de uma partícula. "Quando tentamos aplicar os conceitos da mecânica quântica à relatividade geral, somos conduzidos a resultados absurdos, que contradizem os próprios funda­mentos dessas teorias", diz Rivelles.

Deus joga dados?- Apesar de ter con­tribuído para o nascimento da mecâ­nica quântica, Einstein jamais aceitou sua interpretação probabilística. Na Física clássica, toda quantidade física tem um valor determinado. No mun­do quântico, passou a vigorar a proba­bilidade. "Deus não joga dados com o Universo': disse Einstein. O físico bri­tânico Stephen Hawking (1942-), que ocupa o mesmo posto de Newton na Universidade de Cambridge, rebate Einstein: "Deus joga dados, sim!".

Instaurou-se assim o conflito en­tre mecânica quântica e relatividade

Page 32: A vitória da ONSA

Os vários conceitos para explicar a natureza

Al bert Einste in demonstra que a gravidade dos corpos deforma o espaço e o tempo ao seu redor e que a teoria da gravitação de Isaac Newton não

z ,.--.!.._----,

~ ~~~~------0 :;)

2

1l z Louis-Victor de Broglie ( 1892-1987) mostra que o elétron pode apresentar características tanto de um corpúsculo quanto de uma onda. Foi um avanço essencial

para a formu lação da mecânica quântica.

ri ,--'--:=""""'---, ~ ~~~~------;;: o

propõe seu princípio da incerteza, mostrando ser impossível medir com precisão, simultaneamente, a posição e a velocidade de uma partícula.

A mecânica quântica Um grupo de físicos -entre eles o austríaco Erwin Schrodinger ( 1887-1961 ), ao lado, e o alemão Max Born (1882-1970, Nobel de Física de 19 54) - finaliza os métodos matemáticos de

da teoria de cordas Os físicos chegam ao consenso de que a relatividade geral não é compatível com a mecânica quântica. O físico japonês Yoichiro Nambu, hoje no Enrico

Fermi lnstitute, da Universidade de Chicago, propõe a teoria de cordas dentro do contexto das partículas elementares.Ainda não se suspeitava que as cordas descrevessem a gravitação.

32 · JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

geral. Muitos físicos segui­ram os passos de Einstein e propuseram mudanças na mecamca quântica. O próprio Hawking deu os primeiros passos nessa di­reção. O holandês Ge­rard't Hooft ( 1946-) -prêmio Nobel de Física de 1999 por seu trabalho so­bre a unificação das forças fraca e eletromagnética -e o norte-americano Leo­nard Susskind (1940-) -cujo aniversário foi come­morado no final de maio na Universidade de Stan­ford, nos Estados Unidos, onde leciona, com um se­minário sobre gravitação quântica - propõem a manutenção da mecânica quântica e modificações na relatividade geral. As primeiras evidências de que a relatividade geral deve­ria mesmo ser modificada vieram com a proposta das supercordas, em meados de 80.

A motivação para as supercordas baseia-se na constatação de que o conceito de uma partícula idealizada como um ponto material é inade­quado para formular a quantização da relatividade geral. "As teorias tle cordas são radicalmente diferentes das teorias usuais. Os objetos funda­mentais não são mais partículas pontuais, mas sim objetos estendi­dos, unidimensionais, que são as chamadas cordas", diz Rivelles. "Por terem tamanho muito pequeno, elas parecem comportar-se como partí­culas." A teoria de cordas é objeto de estudo, em São Paulo, dos pesquisado­res Nathan Berkovits, do Instituto de Física Teórica da Unesp, e Élcio Ab­dalla, do Instituto de Física da USP.

As teorias de cordas, no entanto, precisam ser formuladas de modo a descrever todos os tipos de partículas elementares conhecidos. Uma das te­orias de cordas considera a existência de uma partícula com todas as pro­priedades do gráviton e que, embora

ainda não comprovada experimen­talmente, seria capaz de conduzir a força da gravidade. É um resultado que Rivelles considera surpreenden­te. Outra partícula prevista pela teo­ria de cordas tem a propriedade de mover-se com velocidade superior à da luz. A existência dessa partícula, o táquion, é proibida pela relatividade especial de Einstein.

É aí que entra o conceito de su­persimetria, que resolve o problema ao eliminar essa partícula indesejada. A supersimetria - tema que Rivelles abordou em sua tese de doutoramen­to de 1982 no King's College de Lon­dres, Reino Unido - é um artifício teórico que unifica todas as partícu­las e forças da natureza simplesmen­te por considerar em pé de igualdade dois tipos de partícula bastante dis­tintos, os bósons e os férmions.

Com a aplicação da supersime­tria, as teorias de cordas se transfor­mam em teorias de supercordas, uni­ficando de forma adequada todos os tipos de partículas fundamentais.

Page 33: A vitória da ONSA

Uma das surpresas da teoria das su­percordas, segundo Rivelles, é que ela pressupõe um espaço de dez dimen­sões, sendo nove de espaço e uma de tempo. A explicação para o fato de nosso espaço-tempo só revelar qua­tro dimensões é que no início da for­mação do Universo, logo após o Big Bang, seis dessas dimensões se torna­ram extremamente pequenas.

Nessa área, a comprovação práti­ca é considerada praticamente im­possível, por lidar com distâncias ín­fimas, bilhões de bilhões de vezes menores que as distâncias investiga­das nos mais modernos aceleradores de partículas em uso (nos quais se chega à distância de um bilionésimo de um bilionésimo de centímetro). É uma situação análoga à do Big Bang, a explosão que teria originado o Universo e igualmente não é passí­vel de comprovação.

A teoria de supercordas, segundo Rivelles, poderá prever relações des­conhecidas entre as partículas ou mesmo a existência de novas partícu-

Rivelles: persistente na busca da teoria geral das forças do Universo

las e, portanto, de forças ainda não detectadas. À medida que a teoria de su­percordas se for consoli­dando, poderá até resolver questões que intrigam fí ­sicos e filósofos, tais co­mo: por que o Universo existe em quatro dimen­sões (as três dimensões es­paciais de comprimento, largura e altura, mais a di­mensão temporal) e não em mais ou em menos di­mensões? Por que a maté­ria só aparece na fo rma de quarks e léptons?

Rivelles não desanima ao lembrar que só se co­nhecem alguns pedaços da teoria de supercordas. As dúvidas se acumulam, mas essa teoria, que deve

descrever todas as forças do Univer­so, ainda está na infância e sua for­mulação completa levará muito tem­po, lembra o pesquisador. O próprio Einstein levou dez anos para formu­lar a teoria da relatividade geral, que descreve apenas a gravitação. O físico norte-americano Edward Witten co­mentou há anos - e seus colegas do mundo todo concordam- que a teo­ria de supercordas é uma teoria do sé­culo 21 que, por acidente, foi desco­berta no final do século 20. •

PERFIL:

• V ICTOR DE ÜLIVEIRA R!VELLES, 48 anos, graduado em 1974 pelo Insti­tuto de Física da Universidade de São Paulo (USP), com mestrado em 1977 na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), doutorado em 1982 no King's College de Londres, é professor do Instituto de Física desde 1987. Projeto: Gravitação Quântica Investimento: R$ 3.452,00

1973 Supersimetria

O alemão Julius Wess, da Universidade

de Munique (na foto), e o italiano

Bruno Zumino, da Universidade

da Califórnia, aplicam o conceito

de supersimetria à teoria das partículas elementares.

Embora a supersimetria tenha sido introduzida

na teoria de cordas em 1971, era pouco

conhecida pelos físicos .

1974 Cordas e gravitação O inglês John Schwarz

(na foto) , atualmente no California lnstitute

ofTechnology (Caltech) , e o norte-americano Joel Scherk {falecido

no início dos anos 80) descobrem que a teoria

de cordas inclui a relatividade geral. As teorias de cordas, ainda nos seus primórdios,

mostram-se inconsistentes e são deixadas de lado.

Poucos fís icos continuam a estudá-las.

1984 A primeira revolução:

supercordas As inconsistências

da teoria de supercordas são superadas pelos

ingleses Michael Green, da Universidade

de Cambridge, e J. Schwarz.

São encontradas cinco teorias de supercordas.

Essa é a chamada primeira revolução das supercordas.

O físico norte-americano Edward Witten,

do Caltech, propõe que as teorias

de supercordas formam uma pequena parte

de uma teoria mais geral , a teoria M,

que inclui cordas, membranas e teorias de gravitação

supersimétricas. As membranas são uma

das extensões mais simples do conceito de cordas,

o equivalente à superfície de uma bolha de sabão.

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • 33

Page 34: A vitória da ONSA

CIÊNCIA

NUTRIÇÃO ANIMAL

Diretamente da vaca, um

34 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

leite dietético Molécula adicionada à ração reduz o teor de gordura, aumenta o de proteínas e acentua efeito anticancerígeno

Com a infinita calma dos bovi­nos, um grupo de vacas alimenta­

se de capim e de ração no estábulo da fazenda experimental da Embrapa em Vassouras, RJ. Elas são especiais: seu leite tem 30% a menos de gordu­ra e 10% a mais de proteína, além de propriedades anticancerígenas. Pro­vavelmente dentro de três anos os pe­cuaristas brasileiros poderão distribuir esse leite, obtido a partir de estudos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba.

Esse leite, equivalente a um semi­desnatado, é o mais recente experi­mento do engenheiro agrônomo Dante Pazzanese Lanna, da Esalq, que trabalhou em parceria com pes­quisadores dos Estados Unidos (EUA) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Este mês, o engenheiro agrônomo Sérgio Raposo de Medeiros, doutorando orientado

Dante Pazzanese Lanna, formulador da nova ração: leite já sai da vaca semidesnatado

)

Page 35: A vitória da ONSA

por Lanna, apresenta a novidade na reunião da Sociedade Americana de Ciência Animal, nos EUA. Em agosto, é a vez de Lanna mostrá-la no Con­gresso da Associação Européia de Produção Animal em Haia, Holanda.

Para obter o leite sonhado pelos nutricionistas, Lanna formulou uma ração com moléculas modificadas de ácido linoléico conjugado (CLA), um ácido graxo que forma os lipídios (gorduras). Adicionado à alimenta­ção animal, o ácido modificado fun­ciona como um composto farmacêu­tico, alterando a síntese de gordura na glândula mamária.

Lanna começou a estudar há qua­tro anos as propriedades do CLA, que é produzido naturalmente no es­tômago dos ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos) e encontrado em alimentos de origem animal, sobre­tudo o leite. Seus efeitos biológicos e anticancerígenos têm sido reiterados em pesquisas internacionais. Em 1996, o Conselho Nacional de Ciên­cias dos Estados Unidos confirmou que o CLA é capaz de inibir a forma­ção de tumores. Além de prevenir o câncer, ataca células tumorais pre­sentes no organismo e reduz tumores já formados. Em experimentos com ratos no Roswell Park Institute de Nova York, Estados Unidos, o CLA, mesmo em concentrações muito bai­xas, propiciou uma redução signifi­cativa no número de tumores ma­mários. Com doses da ordem de 0,25% da dieta, reduziu à metade o número de tumores em relação a ani­mais que não o receberam.

Variações - A molécula de CLA tem 18 átomos de carbono e existe sob várias formas - os isômeros - em que esses átomos se agrupam diferente­mente, o que altera seus efeitos no organismo. Um dos isômeros é o CLA 18:2 eis 9, trans 11 (c9,tll)- as abreviações indicam que o CLA con­tém uma dupla ligação no carbono 9 na forma eis, isto é, no mesmo plano da molécula, e outra dupla ligação no carbono 11 na forma trans, ou seja, em outro plano, como se a molécula

virasse sobre seu eixo. Pesquisadores norte-americanos confirmaram re­centemente em ratos que o CLA c9, tll impede a formação de células tu­morais. A formação de placas de gor­dura (aterosclerose) nas paredes dos vasos sanguíneos é aparentemente reduzida por outro isômero, o CLA 18:2 tlO,cl2. "Procura-se agora saber a quantidade necessária para otimi­zar a proteção contra o câncer e adi­cionar essa molécula aos alimentos consumidos pela população em ge­ral", diz o pesquisador da Esalq. Sabe­se que o isômero CLA 18:2 trans 10, eis 12 é o que inibe a síntese de gor­dura no leite e tem, portanto, um efei­to antiobesidade.

Lanna imaginou um desafio: seria possível elevar o teor de proteína no leite? Para isso, a maior dificuldade foi obter uma combinação do ácido linoléico conjugado, contendo prin­cipalmente o isômero t10,cl2, somado a um suplemento de aminoácidos. A hipó­tese de que seria preciso pôr mais aminoácidos na dieta para a vaca produzir mais caseína (a proteína do leite) provou-se correta e ocorreu um notável aumento no teor protéi­co. A equipe de Lanna patenteou o efeito do CLA na redução da gordura do leite. Agora, os pesquisadores ·da Esalq, da Embrapa, da Universidade de· Idaho e a FAPESP estão requeren­do o registro da descoberta de que o CLA aumenta o teor e a produção de proteína do leite em até 10% e 20%, respectivamente. Não é o único feito que se mostra inédito. "Também de­monstramos, pela primeira vez, um aumento na produção de leite a pas­to e o aumento da persistência da lac­tação, fazendo com que a vaca mante­nha altas produções de leite ao longo do seu período de lactação, de cerca de dez meses", diz ele.

Já em contato com o setor priva­do, os pesquisadores querem oferecer a suplementação a baixo custo, o que parece viável porque o ácido linoléi­co, matéria-prima do CLA, pode ser facilmente obtido de alimentos como

os óleos de oliva e de soja. Pode ser um caminho para ampliar tanto a produção, hoje de 20 bilhões de li­tros, quanto o consumo de leite no Brasil, estimado em 137litros por ha­bitante/ano, o equivalente a um copo por dia ou um terço do recomendável para evitar problemas como osteo­porose (ver Pesquisa FAPESP no 52).

Influência do avô - Com seu traba­lho, Lanna prossegue na linha do avô materno, o médico mineiro Dante Pazzanese, que dedicou a vida ao tra­tamento e à cura de doenças cardía­cas. Filho de imigrantes italianos, ele

Uma das produtoras do novo leite light, na

fazenda de Vassouras (RJ)

trouxe ao Brasil o primeiro aparelho de eletrocardiograma e em 1954 criou em São Paulo o Instituto de Cardio­logia, uma das primeiras instituições do gênero no país, que hoje leva seu nome. Ao se aposentar, em 1974, de­dicou-se à fazenda do norte do Para­ná onde plantava café e soja e criava gado. A convivência com o neto, que passava lá as férias, foi curta - o mé­dico morreu no ano seguinte, aos 75 anos - , mas intensa, e despertou no garoto o interesse por agronomia. Outro empurrão para a universidade veio do pai, Amadeu Duarte Lanna, professor de antropologia da Univer­sidade de São Paulo (USP) e autor de um dos primeiros projetos de ciências humanas financiados pela FAPESP, com índios do Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso.

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 2000 • 35

Page 36: A vitória da ONSA

Recém-concluída, a pesquisa de Dante Lanna Ácido Linoléico Conju­gado: Efeito da Suplementação por Longo Período sobre Vacas Lactantes teve financiamento de R$ 48,8 mil da FAPESP e a colaboração de pesquisa­dores das universidades de Cornell e Idaho, nos Estados Unidos, e de Hel­sinque, na Finlândia. Logo no início, um resultado animador veio de Cor­nell: quatro vacas leiteiras que recebe­ram suplemento alimentar de 50 gra­mas de CLA por quatro dias tiveram redução de mais de 50% no teor de gordura do leite. "Após três dias de tratamento, os animais passaram a produzir leite com menos de 1,5% de gordura, portanto, mais magro do que o leite se­midesnatado (com 2% de gordura) vendido nos supermercados", comenta Lanna, que verificou aqui os mes­mos resultados num grupo de 32 animais.

Com base nessa descoberta, Lanna e seu ex-colega de Cor­nell, Mark McGuirre (hoje em Idaho), ini­ciaram experimentos com suplementação de CLA por período mais longo (dois meses), em condições de pro­dução comercial. "Não sabíamos nem se os animais poderiam ter pro­blemas metabólicos ao produzir leite tão magro por tanto tempo': diz o pes­quisador da Esalq. Nos Estados Unidos, McGuirre trabalhou com va­cas holandesas puras e de alto poten­cial produtivo (mais de 50 kg de leite por dia) em sistemas intensivos con­finados. Por aqui, Lanna e Luiz Aroeira, da Embrapa, usaram vacas cruzadas holandesas de menor poten­cial produtivo (18 kg/dia) e mantidas em pasto. Comiam em média 4 kg/dia de concentrado com CLA e uma su­plementação de proteínas que forne­cem aminoácidos.

Os estudos levaram a resultados semelhantes nos dois países. Na fase

36 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

inicial, quando se procurou verificar se o CLA prejudicaria os animais, com­provou-se que, mesmo por períodos prolongados, ele não causa nenhum problema digestivo, metabólico, re­produtivo ou sanitário. Mais tarde, os dois estudos atestaram que o CLA aumentou a produção de leite e man­teve a produtividade após o início da lactação. No experimento brasileiro, o efeito de melhora na persistência da lactação continuou mesmo após a suspensão do fornecimento de CLA na décima segunda semana.

Tanto nos Estados Unidos como

CLA modificado: composto adicionado à ração especial é responsável pelo "milagre"

no Brasil, confirmaram-se os resultá­dos iniciais de laboratório, com redu­ções no teor de gordura de cerca de 26%. Por reduzir a gordura do leite, o CLA também reduz as exigências de energia da vaca. Isso faz com que seu organismo direcione mais nutrientes à reposição da gordura perdida no início da lactação, melhorando sua condição corporal e as taxas reprodu­tivas. As vacas pesquisadas passaram a produzir diariamente 20 litros de leite, mesmo em regime de pasto, que fornece menos energia que a obtida com dietas de milho, por exemplo.

Ganho extra - As pesquisas indica­ram outro efeito benéfico: a adição controlada de CLA à alimentação animal inibe a síntese de ácidos gra­xas saturados de cadeia curta, entre

Alternativas para engordar o gado

Outro trabalho coordenado por Dante Pazzanese Lanna no Labo­ratório de Nutrição e Crescimento Animal da Esalq e pronto há qua­se um ano é o programa de nutri­ção de bovinos Ração de Lucro Máximo. Feito por quatro pesqui­sadores da Esalq - Lanna, Luis Gustavo Barioni, Luis Orlindo Te­deschi e Celso Boin -,teve a cola­boração de especialistas de Cornell e financiamento de R$ 6 mil da FAPESP.

O coordenador calcula que o programa já seja usado por cerca de 200 fábricas de ração, consulto-

eles o mirístico e o láurico - os mais perigosos à saúde, por aumentarem os níveis de colesterol. E, ao mesmo tem­po, aumenta a proporção de ácidos de cadeia longa, como o palmítico, que tem menos efeito no teor de co­lesterol e provavelmente reduz a pro­babilidade de doença cardiovascular.

Houve diferenças nos experimen­tos. Nas vacas tratadas nos Estados Unidos, o teor de proteína do leite aumentou 4%, enquanto nas brasi­leiras o aumento foi de 11%. Motivo: os animais daqui receberam quanti­dades maiores de proteína e de mine­rais que o considerado necessário para as vacas cruzadas holandesas em lactação. A dieta que o pesquisador formulou incluiu farinha de peixe e farelo de soja com tratamento térmi­co, o que evita a degradação excessiva das proteínas durante a digestão pe­las bactérias do rúmen (primeiro compartimento do estômago bovi­no) . Assim, sobra proteína, que a glândula mamária pode usar para se­cretar no leite. Além de o leite das va­cas alimentadas com essa dieta, na proporção de 5 gramas de CLA por quilo de alimento, ter o aumento de 11% no teor de proteína, o aumento da produção de leite fez a produção

Page 37: A vitória da ONSA

res e pecuaristas sul-americanos e envolva ao menos 250 mil do 1,3 mi­lhão de cabeças de gado confinado do país. Até há pouco tempo, não havia um modelo semelhante para a reali­dade brasileira.

O trabalho integra o conheci­mento de nutrição de gado num programa de computador, que in­clui uma biblioteca de alimentos disponíveis no Brasil. Simula meta-

holismo de nutrientes, quantidade de alimento, conteúdos de proteína e gordura da ração e ganho de peso.

Adaptado à criação tropical bra­sileira e ao gado de raças zebuínas (85% do rebanho nacional de 160 milhões de cabeças, o maior do mundo), o programa permite um gerenciamento compatível com cada propriedade. Para análises eco­nômicas, conta com um sistema de

RLM 2.0

total de proteína crescer 19% (ver gráficos).

Segundo Lanna, a molécula de ácido linoléico conjugado que inibe a síntese de gorduras pelas vacas é a CLA tlO,cl2, que atua como um mo­dificador metabólico ou repartidor de nutrientes: ela redireciona os nu­trientes, reduzindo a proporção dos usados na síntese de gordura e au­mentando a dos direcionados à síntese de proteína. Os dois processos ocor­rem simultaneamente nas células. Co­mo se verificou, o CLA inibe a síntese de gordura no leite e permite que mais nutrientes sejam redirecionados para a síntese de proteínas na mama.

Havia um risco, entretanto: as bactérias no rúmen podem transfor­mar o CLA em ácido linoléico, que não tem efeitos metabólicos. Para

evitar isso, os animais receberam ~a ração um CLA protegido por sais de cálcio. Deu certo: o composto das moléculas do CLA t10,cl2 e tl1,c9 e o suplemento com proteínas meta­balizáveis não degradaram no rúmen, foram absorvidos pela vaca e altera­ram o metabolismo da glândula ma­mária, como se esperava.

Em resumo - A execução do projeto conduzido pelo engenheiro agrôno­mo e bioquímico Dante Pazzanese Lanna pode ser resumida em quatro fases: 1. O ácido linoléico conjugado

( CLA) é protegido da degradação ruminai (no primeiro comparti­mento do estômago da vaca) por meio da adição de sais de cálcio.

2. O CLA com cálcio é adicionado à

otimização não-linear proposto por Lanna e Barioni, publicado recente­mente no International Congress of Modelling and Simulation, da Nova Zelândia. Quando se dispõe de mi­lho, sorgo e polpa de citrus, por exemplo, basta fornecer os preços de cada produto para que o programa aponte a alternativa mais vantajosa. Depois, ele faz todas as formulações possíveis desses alimentos e identifi­"' ca a mais econômica, estimando ê o consumo e o ganho de peso. o fi1 Custa R$ 180 e é distribuído pela ~ Fundação de Estudos Agrários

Luiz de Queiroz (Fealq).

Novo software: balanceamento ideal da ração para cada caso, em condições tropicais

ração destinada às vacas, junta­mente com um suplemento de aminoácidos.

3. O isômero CLA t10,c12 absorvi­do pelo organismo da vaca chega às células de suas glândulas ma­márias, onde reduz a influênciê dos genes das enzimas FAZ e ACC, que são responsáveis pela síntese da gordura do leite.

4. A vaca passa a produzir leite em maior quantidade, com menos gordura, mais proteína e conten­do ainda o isômero CLA c9,tl1, que exerce uma forte ação anti­cancerígena e anti-aterosclerose (formação de placas de gordura que podem obstruir as artérias). O impacto da descoberta deve

ser grande. Afinal, esse leite semi­desnatado e com importantes efei­tos terapêuticos é um produto intei­ramente natural, cuja obtenção não requer a passagem por nenhum pro­cesso industrial. E, como o leite é a matéria-prima de muitos alimentos, toda a cadeia de produção dos laticí­nios deve ser atingida.

Entre produtores e beneficiadores de leite, a pesquisa merece ser come­morada, por reavivar o interesse por um produto cujo consumo se tem li-

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • 37

Page 38: A vitória da ONSA

Mais proteína no leite ... ... e maior volume de produção

Efeito do CLA na composição do leite de vaca em pasto no Brasil Efeito do CLA na quantidade total de proteína e gordura do leite

% • CONTROLE • CLA

3,00

2,75

2,50

2,25

2,00

1,75

1,50

1,25

1,00

0,75

0,50

0,25

o J GORDURA

Fonte: Dante Pazzanese Lanna

mitado a crianças e adolescentes. "Na última década", diz o pesquisador, "houve uma considerável redução no consumo de manteiga e, simultanea­mente, um aumento no consumo de leite desnatado, porque a gordura tem sido apontada como uma das principais vilãs em doenças do cora­ção': Ele acrescenta que "a pesquisa permitirá o controle da produção dos componentes do leite de acordo com as necessidades do mercado".

Estábulo e laboratório - Lanna de­senvolve outro projeto apoiado pela FAPESP - Efeito do Hormônio do Crescimento na Expressão Gênica de Enzimas Reguladoras da Lipogênese e Lipólise - com financiamento de R$ 171,6 mil e término previsto para 2001. Desta vez, a meta é entender os mecanismos celulares e moleculares da ação do CLA e de hormônios nos tecidos mamário e adiposo das vacas. Esses mecanismos podem explicar mais profundamente a inibição da produção de gordura no leite.

A redução no teor de gordura ocorre devido à menor atividade de certos genes. Esses genes codificam as enzimas sintetase dos ácidos graxas FASe acetil CoA carboxilase (ACC), responsáveis pela síntese da gordura. As duas enzimas são os motores da transformação em gordura dos nu­trientes que chegam pelo sangue. A

38 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

kg/cab. dia

0,600

0,500

0,400

0,300

0,200

0,100

0,000

CLA CONTROLE

0,504

0,436

PROTEÍNA GORDURA PROTEÍNA

partir de uma amostra do tecido da mama da vaca que recebeu o CLA, os pesquisadores extraem moléculas de ácido ribonucléico (RNA)- que levam para o restante das células as infor­mações dos genes contidos no DNA. Alterações na expressão desses genes são determinadas por meio de uma téc­nica que permite saber quantas cópias desse RNA mensageiro são feitas.

Inicialmente, a equipe de Lanna, em conjunto com o grupo do proje­to Genoma Xylella na Esalq, fez a clo­nagem e o seqüenciamento de alguns desses genes, desconhecidos para os bovinos. O objetivo é conhecer ós mecanismos envolvidos na regulação da secreção do leite para, por exem­plo, desenvolver animais transgêni­cos que produzam mais leite - na composição considerada ideal para o consumidor- e sejam mais eficientes na conversão de alimentos.

O pesquisador Sérgio Medeiros, por sua vez, está avaliando a presença das diferentes formas de CLA nos ali­mentos consumidos pelos freqüenta­dores do restaurante da Esalq. Quer saber quanto do composto é preciso acrescentar para enriquecer os alimen­tos e proteger contra o câncer. E o zootecnista Dimas Estrásulas de Oli­veira, em outro projeto de doutora­do, avalia se as vacas comem mais ou menos capim quando suplementadas com o CLA. Seu trabalho poderá de-

tinir quantos quilos de ração a menos a vaca alimentada com CLA requer para produzir um litro de leite.

A equipe tem o mesmo objetivo: produzir leite com menos gordura e mais eficiência. Chegando cada vez mais perto da composição ideal e de uma compreensão clara do modo de atuação do CLA, Dante Pazzanese Lanna procura reduzir a incidência de problemas de coração - o sonho do avô com quem aprendeu a gostar de pesquisa e de agronomia. •

P ERFIL:

• DANTE PAZZANESE LANNA, 36 anos, formou-se engenheiro agrônomo em 1985 na Escola Superior de Agri­cultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), onde fez mestrado e leciona desde 1996. Doutorou-se em Bioquímica Nutricional em 1993 na Universi­dade de Cornell, EUA. Projetos: Ácido Linoléico Conjugado: Efeito da Suplementação por Longo Período sobre Vacas Lactantes; Efeito do Hormônio do Crescimento na Ex­pressão Gênica de Enzimas Regula­doras da Lipogênese e Lipólise; e De­senvolvimento de Modelos do Uso de Nutrientes em Ruminantes e de Deter­minação da Exigências Nutricionais Investimentos: R$ 48.872,80, R$ 171.661,60 e R$ 6.000,00

g ~ z <( u ,;

Page 39: A vitória da ONSA

CIÊNCIA

gelo e cristais de silicatos, en-tre outras.

Arqueologia no interior de Alagoas

Maravilha: fósseis de mastodonte, preguiça e tatu gigantes

Nunca antes escavado, o mu­nicípio de Maravilha, no in­terior de Alagoas, se revela muito promissor para a pa­leontologia e a arqueologia. Ali, o biólogo Jorge Luís Lo­pes, do Centro de Tecnologia e Geociências da Universida­de Federal de Pernambuco (UFPE) encontrou fósseis de mastodonte, de preguiça-gi­gante e de um tatu-gigante, de aproximadamente 1 O mil anos. Estavam em depressões natu­rais das rochas chamadas cal­deirões ou tanques, para onde devem ter sido trazidos pelas chuvas. Outros municípios de riqueza arqueológica compro­vada são Ouro Branco, Poço das Trincheiras e Santana do Ipanema, em Alagoas, e Águas Belas, em Pernambuco. •

Sinal orgânico no espaço interestelar

O telescópio espacial infraver­melho (ISO) da Agência Espa­cial Européia (ESA) detectou a presença do radical meti! -CH3, formado por um átomo de carbono e três de hidrogé­nio- nas nuvens de gás e poei­ra entre as estrelas. Já regis­trado em 1998 pelo ISO em Saturno e, um ano depois, em Netuno, o CH3 é produto in­termediário nas reações que formam hidrocarbonetos - o grupo de compostos orgâni­cos do petróleo e seus deriva­dos. É um radical chamado livre por ser muito reativo -combina-se facilmente para formar substâncias orgânicas - e isoladamente, não existe por mais que milionésimos de segundo. Agora foi detec­tado no centro de nossa galá­xia, numa nuvem de tempe­ratura estimada em -256°C e densidade de cerca de 1 mi­lhão de moléculas por centí­metro cúbico. Anunciada em The Astrophysical Journal de 1 o de junho, a descoberta fora prevista pelo alemão Gerhard Herzberg (1904-1999, Nobel de Química de 1971),masnão

de forma tão abundante- 13 CH3 para cada milhão de mo­léculas de hidrogénio - indi­cando que os atuais modelos teóricos terão de ser revistos. Segundo Helmut Feuchtgru­ber - do Instituto Max­Planck de Física Extraterrestre e um dos autores da desco­berta, junto com holandeses, espanhóis e australianos - o ISO está mostrando a singu­laridade dos processos quími­cos que ocorrem no espaço. Operando desde 1995 e já com cerca de 30 mil observações feitas, o ISO também detectou no espaço moléculas de água,

Para entender os ecossistemas

É difícil explicar a multipli­cação desenfreada de algas

Imagem do espaço: muito mais CH3 do que era previsto

planctônicas em águas po­luídas, com excesso de fosfa­tos e nitratos. Insatisfeitos com os modelos atuais- que supõem o ecossistema como uma cadeia linear de três ní­veis tróficos homogéneos (produtores primários, her­bívoros e carnívoros)- fran­ceses do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) e da Universidade de Paris VI criaram uma al­ternativa: em vez de uma su­cessão, nos ecossistemas ha­veria uma rede de eventos. Para eles, em cada nível tró­fico há de um a três grupos funcionais, conforme o regi­me alimentar e a vulnerabili­dade das espécies. O modelo de rede rompe com a idéia de que a abundância de nu­trientes beneficiaria os níveis tróficos mais elevados, nor­malmente os carnívoros, em detrimento dos herbívoros. Ele identifica, no primeiro nível, três grupos de produ­tores primários: algas planc­tônicas mais comestíveis, algas planctônicas pouco co­mestíveis e perífiton (não consumidas e auto-regula­das). O segundo nível seria formado por pequenos e grandes herbívoros consu­midores de algas. O terceiro, por carnívoros invertebra­dos que consomem peque­nos herbívoros e, eventual­mente, por peixes que se alimentam de todos os her­bívoros e também de carní­voros invertebrados. Os re­sultados que o novo modelo prevê ficaram bem próximos dos verificados empirica­mente - em experimentos com manipulação de nu­trientes no lago de Créteil -mas distantes do modelo clássico. •

PESQUISA FAPESP · JUlHO DE 1000 • 39

Page 40: A vitória da ONSA

CIÊNCIA

IMUNOLOGIA

Antiofídico de cascavel fica mais leve Nova imunoterapia permitirá tratamento menos agressivo contra veneno da serpente

A cascavel é a serpente cuja pica­da causa mais mortes no Bra­

sil. Duas pesquisas do Instituto Bu­tantan (São Paulo) mostram que é possível usar fr-agmentos de anticor­pos anti-veneno de cascavel que agi­riam especificamente sobre o vene­no, diminuindo os sérios efeitos adversos da soroterapia. Essa possibi­lidade de tratamento, menos agressi­vo que o convencional - adotado há mais de 100 anos e cuja aplicação é muitas vezes comprometida pelas reações adversas - tem mostrado bons resultados em laboratório, em testes com camundongos.

O veneno da cascavel ( Crotalus durissus terrificus) tem 65% de croto­xina, proteína que é seu principal componente ativo. Ela inibe os movi­mentos musculares: por isso, a vítima pode até parar de respirar se não tiver socorro adequado em tempo hábil, algo em torno de 2 a 6 horas. As con­seqüências do envenenamento são bem conhecidas, mas pouco se sabe do efeito do veneno sobre as células e do desenvolvimento da resposta imune do organismo. Foi justamente a isso que se dirigiu o projeto Efeito do Veneno da Crotalus durissus terri­ficus (cascavel) sobre o Sistema Imu­ne, do professor Ivan da Mota e Al­burquerque, Liderança Científica do Laboratório de Imunopatologia do Instituto Butantan.

40 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

A crotoxina age na região de con­tato entre o nervo e o músculo, ini­bindo a liberação de acetil-colina ao nível das junções neuromusculares. Com isso, impede a transmissão do estímulo nervoso para o músculo se contrair: "Um dos primeiros sinais de que o veneno está agindo é a ptose pal­pebral- a pessoa não consegue abrir a pálpebra': diz o professor Ivan.

Quando o organismo percebe a entrada de proteínas estranhas, reage contra elas produzindo anticorpos, formados por células sangüíneas cha­madas linfócitos. Os linfócitos B pro­duzem anticorpos que neutralizariam o efeito tóxico do veneno. Resultados anteriores obtidos no Laboratório de Imunopatologia mostraram que a crotoxina do veneno da cascavel di­minui consideravelmente a resposta imune, de modo que o sistema imu­nológico da vítima produz menos an­ticorpos, sobretudo anticrotoxina, que neutraliza os efeitos da crotoxina.

Como a resposta dos linfócitos B é muito influenciada pelas citocinas (substâncias também produzidas por eles), a pesquisadora Diva Fer­reira Cardoso, Ivan da Mota e sua equipe decidiram injetar em ca­mundongos (Mus musculus) tanto o veneno de cascavel quanto a crotoxi­na isolada. Então, acompanharam a produção de citocinas e anticorpos pelo animal, para estudar a ação do

Extração do veneno é tradição secular, mas

tratamento mudará

veneno sobre o sistema imunológi­co. Verificaram que tanto o veneno como a crotoxina isolada inibem a produção de citocinas e de anticor­pos, mas que esse efeito supressor no sistema imunológico ocorre ape­nas sobre os linfócitos B (produto­res de anticorpos), e não sobre os linfócitos T (responsáveis pela imu­nidade celular).

O projeto, iniciado em fevereiro de 1997 e terminado em 1999, recebeu financiamento da FAPESP e resultou na tese de doutorado de Diva Cardo­so, além de um artigo na mais impor­tante revista científica sobre venenos animais, Toxicon (Vol. 35: 607, 1997), assinado por Mota e Diva.

Um legado importante

Formada em Ciências ( 1982) pe­la Universidade Mackenzie, de São Paulo, Diva Ferreira Cardoso fez mestrado em Microbiologia e Imu­nologia (1992) na antiga Escola Paulista de Medicina (atual Uni­versidade Federal de São Paulo) e doutorado em Imunologia (1999) no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Des­de 1987 era pesquisadora científica

Page 41: A vitória da ONSA

A partir de então, ambos decidiram continuar os estudos sobre o veneno, em busca de uma alternativa para o soro anticrotálico produzido em ca­valos ou ovelhas. Eficiente na neutra­lização dos componentes tóxicos do veneno, esse soro retirado de animais imunizados com o veneno total causa, em 30% a 84% dos casos, as reações indesejáveis, que vão desde a chama­da doença do soro até o choque anafi-

Em relação ao mecanismo de ação do veneno, os pesquisadores também queriam responder a novas indagações. Uma delas era descobrir qual a dosagem de citocinas produzi­das pelos linfócitos B e qual o efeito da crotoxina sobre a produção de ci­tocinas por esses linfócitos.

No relatório de seu projeto, Mota já apontava, como objetivo futuro, a obtenção de "anticorpos monoclo-

Professor Ivan, do Instituto Butantan: orientador previu uso de anticorpos humanos

lático. A doença do soro produz reações cutâneas que, em casos graves, causam insuficiência renal. Além disso, ocorre a diminuição de imunidade provoca­da pelo próprio veneno, o que resulta num quadro de resolução complicada.

no Laboratório de Imunopatologia do Instituto Butantan. Assinou dez tra­balhos em publicações internacionais, sobretudo sobre veneno de cascavéis.

Foi a grande responsável pela obtenção do fragmento de anticor­po que poderá ser a diferença entre tratamento mais ou menos agressivo para as vítimas de picadas de casca­vel. O importante trabalho da dra. Diva, interrompido por sua morte trágica, em dezembro de 1999, foi retomado por sua orientanda de mestrado Edna Cristina dos Santos sob a orientação do prof. Ivan Mo-

nais de origem humana para fins te­rapêuticos': que inibissem os efeitos colaterais. Então, sua equipe iniciou novo projeto, no decorrer do qual a pesquisadora Diva Cardoso conse­guiu um grande avanço: sintetizou um

ta. Segundo a apresentação do pro­jeto, a "alternativa proposta para o melhoramento da soroterapia é a possível utilização de anticorpos ho­mólogos (de origem humana), es­pecíficos para as principais toxinas do veneno, que possam evitar essas reações adversas. Anticorpos huma­nos recombinantes já vêm sendo usados com sucesso no tratamento de tumores, rejeição de transplan­tes, artrites reumatóides e alergias, sugerindo que sua utilização tam­bém é possível no tratamento dos acidentes crotálicos."

fragmento de anticorpo humano, exatamente a parte que se liga ao antí­geno (o veneno). Esse pedaço do an­ticorpo com especificidade para o vene­no (reconhece o veneno) é chamado anticorpo humano recombinante ou scFv. "Diva mostrou que as molécu­las scFvs anti-crotoxina são capazes de neutralizar, potencialmente, a ati­vidade enzimática e letal da crotoxi­na in vitro e in vivo, com animais de experiência': revela Ivan da Mota.

O novo projeto - Caracterização do Potencial de Neutralização de An­ticorpos Humanos Recombinantes (scFv) Anti-Crotoxina do Veneno do C. d. terrificus frente à Crotoxina dos Venenos de C. d. collineatus e C. d. cascavella - foi tema da tese de Diva e continua a ser desenvolvido pela biomédica Edna Cristina dos Santos, que tem bolsa da FAPESP para tese de mestrado, sob orientação de Ivan da Mota e com a colaboração do Hybridolab, do Instituto Pasteur, da França. Os pesquisadores têm pela frente um longo trabalho, que inclui mais testes com animais e humanos, até que o scFv possa ser usado na ro­tina de atendimento. •

PERFIL:

• IVAN DA MOTA E ALBUQUERQUE, 79 anos, formou-se em 1947 pela Fa­culdade de Medicina da Universi­dade Federal de Pernambuco. Foi professor de Histologia na Faculda­de de Medicina da USP e de Imu­nologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Trabalha desde 1970 no Laboratório de Imunopa­tologia do Instituto Butantan. Projetas: 1. Efeito do Veneno da Crotalus durissus terrificus (casca­vel) sobre o Sistema Imune. Investimento: R$ 12.091,76 e US$ 36.200,37 2. Caracterização da Reatividade Cruzada e do Potencial de Neutrali­zação de Anticorpos Humanos Re­combinantes (scFv) Anti-Crotoxina do Veneno da Crotalus durissus terrificus frente à Crotoxina de ou­tros Venenos Crotálicos

PESQUISA FAPESP • JULHO DE 2000 • 41

Page 42: A vitória da ONSA

CIÊNCIA

ZOOLOGIA

Peixes do século passado Pesquisadora resgata desenhos inéditos do inglês Alfred Wallace

Quase cem anos depois, uma carta chega ao devido destino.

Em 1904, o naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823-1913) escreveu a George Albert Boulenger, curador de répteis e peixes do Museu de His­tória Natural de Londres. Perguntava se a instituição teria interesse em abrigar a coleção de 212 gravuras de peixes que havia feito ao longo de sua expedição pela Bacia do Rio Negro, na Amazônia, entre 1850 e 1852. Ao despedir-se, perguntava se "não ha­veria um estudante disponível, dis­posto a organizar um catálogo sobre as ilustrações':

O material foi aceito pelo Museu de História Natural e um ano depois outro curador, Charles Tate Regan, publicou uma lista onde identificou cerca de metade das espécies ilustra­das. Mas o desejo de publicar as ilus­trações não pôde ser atendido. Em fevereiro do ano passado, a carta che­gou às mãos da bióloga paulista Mô­nica de Toledo-Piza Ragazzo, pesqui­sadora de 35 anos do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP) . Ela agora providen­cia a identificação dos peixes e prepa­ra um catálogo completo com as 212 gravuras, das quais pelo menos 180 são inéditas, que constituem uma pe­quena amostra da diversidade de pei­xes da Amazônia. O livro com os de­senhos e a carta deve ser publicado no início do próximo ano pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp ), com apoio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp ).

Autodidata, Wallace foi um dos primeiros naturalistas a percorrer a

42 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

Bagre-sapo (Asterophysus batrachus), uma das 212 gravuras reunidas ISO anos depois

região do Rio Uaupés, um afluente do Rio Negro só explorado nova­mente muitos anos depois. As obser­vações que fez durante a viagem pela Amazônia contribuíram para a for­mulação das idéias sobre evolução, depois apresentadas em co-autoria com o inglês Charles Darwin ( 180~-1882). Wallace chegou a Belém em 1848 acompanhado pelo seu amigo e também naturalista Henry Walter Bates (1825-1892). Percorreram jun­tos o Rio Amazonas até 1850, quan­do Wallace preferiu seguir sozinho pelo Rio Negro.

As plantas e os animais coletados na Amazônia que Wallace levava à In­glaterra perderam-se quando o navio Helen se incendiou e naufragou, três semanas após deixar a costa brasileira. As gravuras de peixes e de palmeiras e anotações da viagem foram o que ele pôde salvar. Em 1853, um ano de­pois de retornar a Londres, publicou A Narra tive of Traveis on the Amazon and Rio Negro, traduzido em 1979 pe­la Edusp. Em 1854, seguiu para a Ma­lásia, onde ficou durante oito anos.

Riqueza de detalhes - Em 1994, Mô­nica fazia o doutoramento na City University e no Museu de História Natural, em Nova York, quando, ao selecionar a bibliografia que susten­taria seu trabalho, tomou conheci­mento da publicação de Regan que citava duas espécies do grupo de pei­xes que estava estudando, a subfamília Cynodontinae, chamados peixes-ca­chorro, com três gêneros e oito espé­cies, da ordem Characiformes, que inclui também piranhas e lambaris.

Em julho de 1995, Mônica viajou a Londres para examinar o material da coleção de peixes do Museu de Histó­ria Natural. Aproveitou para ver as gra­vuras de Wallace. Ficou impressionada com a riqueza de detalhes dos dese­nhos, feitos a lápis, em três tipos dife­rentes de papel, com cerca de 15 centí­metros de largura por 5 de altura. Entre as gravuras de Cynodontinae havia uma espécie nova que ela estava descre­vendo e chamou de Hydrolycus walla­cei, em homenagem ao naturalista.

Atribulada para concluir o douto­ramento, Mônica não pôde, na época,

Page 43: A vitória da ONSA

Acará-bandeira (Pterophylum a/tum), no desenho preciso a lápis do autodidata Wallace

ater-se às gravuras. Mas não as esque­cera. Em 1998, enviou um projeto ao Museu de Londres prontificando-se a organizar o acervo e resgatar o traba­lho de Wallace. Proposta aceita, voltou a Londres, com um apoio da FAPESP para passagens e estadia, no valor de US$ 3.841,00, e pôs-se a pesquisar a história das gravuras e cuidar da iden­tificação das espécies retratadas nos desenhos, para a posterior publicação de um catálogo. Foi nessa viagem que descobriu o texto em que o pesquisa­dor inglês expressava seu desejo de ver as gravuras publicadas. "Lendo a carta, fiquei emocionada por saber que Wal­lace não só aprovaria o catálogo, como na verdade estava à espera de alguém que realizasse sua vontade", diz ela.

Para montar o catálogo, a pesqui­sadora examinou os relatos da viagem e as anotações do naturalista inglês, com as características morfológicas e as localidades de coleta da maioria das espécies dos peixes ilustrados. "Walla­ce era muito minucioso e os desenhos muito fiéis, mesmo ele não sendo um especialista", diz a pesquisadora.

Mônica: descobriu e vai publicar

Contou também com a vasta cole­ção de espécies amazônicas deposi­tadas no Museu de Zoologia da USP.

Após identificar as espécies, Môni­ca enviou cópia das gravuras, para con­firmação, aos especialistas dos diferen­tes grupos de peixes de água doce da América do Sul, que trabalham em ins­tituições de São Paulo, Rio de Janeiro

e Paraná, além de museus da Suécia, Estados Unidos e França. Desse mo­do, a pesquisadora está atualizando o trabalho de Regan, que havia tra­balhado com a coleção no início do século. "Ainda hoje nosso conheci­mento é insuficiente para identificar todas as espécies ilustradas", diz a pesquisadora. Outra dificuldade é que as gravuras nem sempre contêm os elementos necessários para chegar a uma conclusão satisfatória.

Agora, com quase todas as espécies identificadas, pelo menos até gênero, ela comprova que há cerca de 190 es­pécies diferentes. Cerca de 40 das es­pécies foram formalmente descritas somente depois do retorno de Walla­ce a Londres, das quais metade so­mente nas últimas décadas. Algumas das ilustrações representam espécies novas, ainda não estudadas.

Há um detalhe: as gravuras estão todas numeradas, de 1 a 215, mas não numa ordem cronológica completa. Mônica procura descobrir o critério que as organiza. "Wallace aparente­mente não deixou qualquer indício do motivo da numeração", diz ela. Faltam as gravuras de número 10 a 14,53 e 210. Outras estão numeradas duas vezes. Mesmo com as dúvidas, a coleção e as anotações reiteram ova­lor das observações de Wallace sobre a diversidade e a distribuição das es­pécies, que certamente influenciaram no desenvolvimento das idéias sobre a evolução das espécies. Darwin, ao publicar A Origem das Espécies, em 1859, recebeu a maior parte dos cré­ditos sobre a formulação dessa teoria. Não deixou, porém, de reconhecer as descobertas de Wallace. •

PERFIL:

• MONICA DE TOLEDO-PIZA RAGAZZO

é graduada em Biologia pela USP, com doutoramento pela City Uni­versity/Museu de História Natural, em Nova York. É pós-doutoranda do Museu de Zoologia da Universi­dade de São Paulo. Projeto: Peixes do Rio Negro - Alfred Russel Wallace Investimento: US$ 3.841

PESQUISA FAPESP • JULHO DE 2000 • 43

Page 44: A vitória da ONSA

TECNOLOGIA

ÓPTICA

Controle fino das ondas luminosas

Equipe da USP ganha prêmio internacional com pesquisa inédita

OBrasil começa a desempenhar um papel relevante na pesqui­

sa em óptica difrativa. Esse segmento da Física usa técnicas que modificam um feixe de luz para criar uma nova fonte luminosa. Com z

isso é possível desenvolver ~ iil

tecnologias para fabricar no- '" ::>

vos microcircuitos optoele- ~ trônicos, como fotodetectores de câmaras fotográficas digi­tais, além de confeccionar ho­logramas impressos em car­tões de crédito, por exemplo, ou ainda criar imagens artís­ticas e publicitárias.

O reconhecimento inter­nacional nessa área foi para um trabalho em conjunto de dois grupos de pesquisadores, um da Escola de Engenharia Elétrica de São Carlos (EESC)

meio do atraso de sua propagação no espaço. O controle da luz, nesse caso, é realizado pelos microrrelevos gra­vados na superfície do EOD que fun­cionam como obstáculos para o feixe luminoso. Essa é a principal diferen­ça entre elas e as lentes comuns que têm superfícies lisas produzidas por abrasão ou polimento.

O dispositivo mostrado no Cana­dá proporcionou as melhores ima­gens geradas até aquele evento com

com a utilização de um feixe de luz laser. Elas chamaram a atenção do público especializado presente na mostra, provocando até a formação de uma fila para a observação das imagens. Depois desse sucesso no Canadá, Gonçalves começou a pre­parar um pedido de patente para os novos EODs e a publicação dos re­sultados nas revistas Optics Photonics News e Applied Optics, editadas pela Optical Society of America.

e outro da Escola Politécnica, ambos da Universidade de São Paulo (USP). Eles ganha­ram, em junho, o primeiro lugar na categoria Divisão Artística da versão 2000 do Diffractive Beauty Contest (Concurso de Beleza Difrati­

A qualidade dessa imagem apresentada no Canadá foi inédita e valeu um primeiro lugar

va), realizado em Quebec, no Canadá, e promovido pela Optical Society of America (OSA). O trabalho intitulado Elemento Óptico Difrativo com Modu­lação de Amplitude Complexa foi coor­denado pelo professor Luiz Gonçal­ves Neto, docente das duas escolas.

Os dois grupos estudam os Ele­mentos Opticos Difrativos (EODs), que são superfícies ópticas com mi­crorrelevos capazes de modificar as propriedades de um feixe de luz por

44 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

essa tecnologia, além de a equipe ter demonstrado capacidade intelectual e tecnológica para elaborar os EODs. No evento, o grupo também apresen­tou novas propostas de cálculos para a confecção desses dispositivos.

Entre filas e patentes · A inovadora técnica desenvolvida e reconhecida no concurso da OSA foi materializa­da na projeção de duas imagens, uma borboleta e uma cabeça de águia,

O desenvolvimento de todo esse processo conta com recursos da FA­PESP para o projeto Implementação de Miroelementos Ópticos Difrativos, que se desenvolve no âmbito do Programa Jovens Pesquisadores, com o aporte fi­nanceiro de R$ 32 mil e US$ 33 mil. &se programa oferece financiamento para auxílio de infra-estrutura e bolsas para pesquisadores recém-saídos do dou­torado que demonstrem competência para conduzir projetos de pesquisa.

Page 45: A vitória da ONSA

Outra função do Programa é abrir novas áreas de pesquisa e ajudar a in­serir o novo pesquisador nas tradicio­nais instituições acadêmicas. Com isso o programa possibilita a criação de novos núcleos de estudo, como os dois grupos que estudam óptica di­frativa em São Carlos e na Poli, em São Paulo.

Gonçalves chefia há três anos o Grupo de Microóptica, da EESC. Ali, sob sua orientação, um grupo de pes­quisadores iniciou, há dois anos, pro­jetas de pós-graduação nessa área. Entre eles, Patrícia Cardona e Giu­seppe Cirino. Participam também como coordenadores os professores Ronaldo Domingues Manzzano e

A luz laser (à esquerda) atravessa os Elementos Ópticos Difrativos (à direita) onde ela é modificada para formar imagens desejadas

Patrick Verdonck, do Laboratório de Sistemas Integráveis da Poli-USP.

Alumínio nas placas - Foi trabalhan­do com técnicas e ferramentas que possibilitam o controle dessas ondas que Gonçalves chegou à formulação de algo novo. "Elementos Opticos Di­frativos são conhecidos há pelo me­nos 25 anos. A novidade que desco­brimos foi a formulação de um jeito novo de aplicar alumínio nas placas dos EODs. Essa inovação provocou uma grande diferença com as tecno­logias existentes até aqui. Consegui-

mos uma forma de controlar não apenas a modulação da fase de uma frente de luz, mas também, de forma simultânea, a modulação de sua am­plitude (modulação da intensidade luminosa)", informa Gonçalves.

Frente de luz ou frente de onda é um conceito em óptica que descreve as superfícies formadas pela junção de pontos no espaço com uma mes­ma fase (atraso da luz em relação a uma referência no espaço). Já a difra­ção é a interação (desvio) das frentes de onda com obstáculos, que são os microrrelevos existentes na superfí­cie dos EODs, de dimensões próxi­mas a um comprimento de onda. Uma aplicação potencial desses con-

ceitas que se materializam nas pes­quisas dos dois grupos da USP é a possibilidade de melhorar a qualida­de dos telescópios ópticos.

A ampliação do estudo e da apli­cação da óptica difrativa no desen­volvimento tecnológico industrial tem causado uma procura crescente por pesquisadores e por projetas saí-

. dos de núcleos avançados de pesquisa. Uma grande empresa multinacional, por exemplo, procurou o Laborató­rio do Grupo de Optica da EESC­USP para estudar possíveis aplica­ções dos novos métodos de difração das ondas de luz. Uma boa idéia nes­sa área é capaz de economizar alguns milhares de dólares. ''A óptica difrati­va contém tecnologias novas que eli­minam etapas no processo de cons-

trução de elementos ópticos", afirma o professor.

Razão estratégica - O primeiro tra­balho nesse campo foi publicado, em 1965, pelo norte-americano Alfred Lohman, que utilizou esses princí­pios na realização de hologramas por computador. Mais tarde, o governo americano decidiu investir recursos nessa área por razões estratégicas, so­bretudo bélicas, na adoção de visão artificial mais precisa para a intercep­tação de alvos por meio de mísseis. "Hoje, a indústria óptica e a eletrôni­ca de uma maneira geral começam a utilizar essa tecnologia", diz Patrícia. Detectores de distância a laser e até

"visão de robôs" estão sendo imple­mentados com essa tecnologia.

Há centenas de usos para as técni­cas de difração, explica Gonçalves. To­das dependem de um Elemento Op­tico Difrativo. Na forma bruta, esse dispositivo parece uma bolacha re­donda de vidro. Mas são muito mais do que aparentam conter. São lâminas redondas de dióxido de silício, com espessura de 1 milímetro, sobre as quais são gravadas informações em medidas extremamente reduzidas, que obedecem a especificações deter­minadas em mícrons, proporcionais ao comprimento de onda utilizado. "Por ser necessário introduzir apenas um atraso de fase em cada região da frente de luz incidente, os Elementos Opticos Difrativos são mais finos e

PESQUISA FAPESP • JULHO DE 1000 • 45

Page 46: A vitória da ONSA

leves do que todo material com ca­racterística refrativa, como as lentes comuns que utilizamos nos óculos e nos aparelhos fotográficos", explica

Essas características tornam o pro­cesso de produção de uma bolacha dessas em algo muito parecido com o que ocorre na fabricação de circuitos eletrônicos digitais, que são sempre processados em minúsculas estruturas, como os diversos tipos de chips farta­mente utilizados, por exemplo, nos computadores. As técnicas de grava­ção das microinformações sobre os revelos existentes num EOD são basi­camente as mesmas usadas na mon­tagem daqueles circuitos, ou seja, li-

evento em Quebec saímos do zero. Eu tinha o conceito escrito e alunos de doutorado trabalhando no proje­to. Montar tudo, testar, remontar no Canadá e fazer tudo de novo foi um belo trabalho de equipe. Fizemos todo o trabalho em duas semanas': Trabalhar com esses dispositivos controladores da onda de luz repre­senta um desafio extra porque a ima­gem resultante sempre foi irregular, com um padrão baixo em termos de definição, principalmente se compa­rada ao conceito de imagem gerada pelo cinema ou pela televisão. No concurso ganho pela equipe brasilei­ra, o dado diferenciador, em relação à

Patrícia e Gonçalves: estudo tem amplas

perspectivas

tografia óptica, corrosão por plasma e litografia por feixe de elétrons.

Um dos pontos de apoio da Escola de Engenharia da USP é a Fundação Centro Tecnológico para Informáti­ca (CTI), localizada em Campinas, que fabrica as máscaras necessárias para a materialização dos microele­mentos ópticos. A CTI tem três ins­titutos (computação, automação e microeletrônica) nos quais são reali­zadas etapas cruciais no processo, tais como prototipagem (desenho) de circuitos integrados e microssiste­mas, microusinagem e máscaras fo­tolitográficas e o empacotamento eletrônico, entre outros.

Vitória da equipe - O próprio Gon­çalves reconhece: "Para participar do

46 • JUlHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

imagem, foi justamente o padrão de qualidade que nunca havia sido obti­do em tal medida.

Mais do que o uso correto de bons equipamentos, os microelementos di­frativos também dependem de inú­meros cálculos. Esse ponto também constitui uma dimensão especial do avanço conseguido. "Na verdade, não revolucionamos os cálculos, pelo con­trário, quanto mais conseguirmos tor­nar o processo funcional e flexível, mais simples eles se tornam. Sempre digo aos meus alunos que se eles não sabem cálculo e o processo de fabricação a fundo para saber onde podemos in­troduzir uma simplificação, podem esquecer o assunto", relata Gonçalves.

Dominada a técnica de constru­ção dos EODs, o país se capacita a

realizar processos como filtragem óptica, modelagem da luz laser e até mesmo a construir hologramas por computador de melhor qualidade. En­tretanto, segundo os estudos da equi­pe, os custos, hoje, representam um entrave respeitável nesse campo. Os investimentos industriais são altos. ''A montagem de um laboratório de pes­quisa de porte, equipado para proce­der a caracterização dos materiais utilizados, além da fabricação, dos testes e da mão-de-obra especializa­da, atinge a cifra de US$ l milhão."

Separar canais - A correção de teles­cópios ópticos talvez seja a mais come­zinha das possibilidades de uso des­sas novas técnicas difrativas, afirma o professor. "É um campo de trabalho que está sempre se ampliando", acre­dita Gonçalves. Uma das áreas be­neficiadas é a indústria de teleco­municações. Elas precisam usar dispositivos como demultiplexadores em redes de fibras ópticas, para tor­nar mais segura e eficiente a separa­ção de informações ao longo desses tipos de rede. Os demultiplexadores são dispositivos que separam vários canais de informação existentes num determinado meio. Servem para se­parar os vários comprimentos de onda transmitidos por uma fibra, por exemplo.

Após esse primeiro reconheci­mento internacional, os dois grupos da USP voltam a se embrenhar nos estudos de óptica difrativa, uma área que está apenas começando a se de­senvolver. •

PERFIL:

• Lurz GONÇALVES NETO, 38 anos, formou-se em Engenharia Elétrica na Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Fez mestrado no Instituto de Física de São Carlos, também da USP. Doutorou-se na Universidade Laval, em Quebec, Canadá. Projeto: Implementação de Micro­elementos Ópticos Difrativos Investimento: R$ 32 mil e US$ 33 mil

Page 47: A vitória da ONSA

TECNOLOGIA

LINHA DE PRODUÇÃO

Audiência garantida: sem rodas e levitando sobre um trilho

materiais alternativos e mais baratos para a construção civil. O mais recente vem da Bahia e utiliza a reciclagem de entu­lho resultante de atividades de construção e demolição na fabricação de novos materiais. Os resultados apontam uma economia de 65% quando o entulho reciclado é utilizado em pavimentação e 30% no uso de argamassa. Na fabrica­ção de tijolos, o ganho é am­biental, pois esse material é prensado, não necessitando a queima de combustível para sua produção. A iniciativa é do Grupo de Estudos em Mate­riais de Construção (Gemac) da Escola Politécnica da Uni­versidade Federal da Bahia (UFBA), que elaborou um plano de utilização do entu­lho da região metropolitana de Salvador. "Em testes de la­boratório, nós provamos a via­bilidade técnica e econômica da reciclagem de entulho, mes­mo que esse material apresen­te grande mistura de elemen­tos como restos de cimento, pedra e cerâmica", explica Alex Carneiro, coordenador do projeto. O Gemac tem a cola­boração da Limpurb, empre­sa de limpeza da capital baiana que está implantando 27 pon­tos de coleta de entulho. •

Trem que levita é sucesso em Brasília

Um miniprotótipo de trem que levita e transita a 400 quilômetros por hora na pre­sença de campo magnético foi um dos sucessos de públi­co na 8• Expociência, feira paralela à 52• Reunião Anual da SBPC, acontecida em julho, em Brasília. O Laboratório de Aplicações de Superconduto­res (Lasup) da Coordenação dos Programas de Pós-gradua­ção de Engenharia (Coppe) e da Escola de Engenharia da UFRJ desenvolveu esse trem durante dois anos. Ele corre a cinco centímetros, em média, de distância de um trilho úni­co composto de um ímã co­mum feito de ferrita. A levita­ção acontece porque existe um campo magnético que se for­ma entre o trem e o trilho. Pa­ra criar esse campo, as rodas são substituídas por pastilhas supercondutoras compostas de ítrio, bário e cobre que re­cebem uma carga de nitrogê­nio líquido, deixando-as res­friadas a uma temperatura de -196°C. Esse tipo de tecnolo­gia é mais avançado que outras experimentadas por países co­mo Japão e Alemanha, que têm

protótipos em tamanho real prontos para entrar em ope­ração comercial. O projeto brasileiro está agora na fase de captação de recursos para a construção de uma pista de 30 metros e um protótipo de laboratório. A concepção do projeto, financiado pela Faperj e Fundação José Bonifácio (UFRJ), foi de três professo­res da universidade, Richard Stephan, da Coppe, Rubens de Andrade Júnior, da Escola de Engenharia, e Roberto Nicol­sky, do Instituto de Física. •

Entulho reciclado é mais econômico

Multiplicam-se por todo o pais os experimentos que buscam

Em Salvador estão previstos 27 pontos de coleta de entulho

Antena simula energia dos raios O desenvolvimento tecnoló­gico ainda não eliminou por completo os perigos milena­res das descargas elétricas at­mosféricas mais conhecidas como raios. Ao contrário, hoje, há uma grande preocu­pação em fazer com que esses raios não "queimem" a profu­são de equipamentos eletrô­nicos existentes em qualquer prédio ou residência. Ao con­trário de carros e aviões, por exemplo, os edifícios não têm total garantia contra os raios. "Pela norma brasileira que regulamenta os pára-raios, eles protegem as pessoas e evitam incêndios, mas não eliminam a possibilidade de descargas elétricas atingirem os aparelhos eletrônicos, in­cluindo os computadores", afirma o professor José Os­valdo Paulino, da Escola de Engenharia Elétrica da Uni­versidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele orientou a tese da doutoranda Maria Luiza Grossi, que projetou uma antena capaz de gerar descargas elétricas similares aos raios. "Com essa antena instalada no alto de um pré­dio, podemos fazer uma des­carga elétrica com o auxílio de um gerador que, ao mes­mo tempo, testa o pára-raio e cria um campo magnético próximo ao dos raios, pro­porcionando medições do ní­vel de tensão elétrica suporta­do pelos equipamentos." A antena está quase pronta e os pesquisadores preparam o processo de patente. Eles es­peram, em breve, fazer uma parceria com uma empresa que se interesse em fabricar o equipamento. •

PESQUISA FAPESP · JULHO DE lODO • 47

Page 48: A vitória da ONSA

TECNOLOGIA

QUÍMICA

Equipamentos bem calibrados Pequena empresa busca a excelência na produção de materiais de referência

As indústrias químicas brasilei­ras terão em breve uma nova

fonte para obtenção de materiais de referência, usados na calibração e controle de seus equipamentos. A novidade vem de São José dos Cam­pos, da empresa Quimlab, que está fi­nalizando um laboratório de metro­logia química adequado às normas internacionais. Instalada na Incuba­dora de Base Tecnológica Polovale II, dentro da Universidade do Vale do Paraíba (Univap ), a empresa já pro­duz algumas substâncias de uso in­dustrial para medição das chamadas grandezas químicas. Essas grandezas, em geral, estão ligadas à quantidade de matéria em uma determinada subs­tância, líquida ou sólida. Por exem­plo, a porcentagem de chumbo ou ferro encontrada em uma liga metá­lica é uma grandeza química. Da mesma forma, o valor de pH de um alimento ou líquido indica se a subs­tância é ácida, neutra ou básica.

A Quimlab elabora e vende solu­ções-padrão de pH fundamentais pa­ra empresas químicas que produzem matérias-primas utilizadas na indús­tria de alimentos, no tratamento de água de piscina e até na análise de urina. Se a indústria usa ou fabrica uma substância que deve ter acidez correspondente a pH 4 (a escala é de O a 14), o aparelho no qual rotineira­mente são analisadas as amostras des­se material é ajustado e calibrado por comparação com a solução-padrão de pH 4 produzida pela Quimlab. Como não há fabricantes de padrões de pH

48 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

com certificação no Bra­sil, grande parte desse material é importada. A fabricação desses pro­dutos beneficia as em­presas usuárias que pa­gam preços menores que os importados.

Para desenvolver o projeto Laboratório de Metrologia Química, a Quimlab recebe finan­ciamento da FAPESP, dentro do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), desde 1997. São R$ 71,7 mil e mais US$ 149,8 mil que a empresa deve receber até março de 2001. Embora com tempo para en­cerrar o projeto, o laboratório está pra­ticamente pronto e com uma ampla lista de clientes.

Padrão convencional - O químico e proprietário da empresa, Nilton Pe­reira Alves, relaciona alguns clientes como Alcan Alumínio, Petrobrás, Henkel, Texaco, Tintas Renner, Cry­lor e Leiner Davis Gelatin. São 30 empresas da região de São José dos Campos que compram padrões quí­micos da Quimlab e recebem consul­taria no desenvolvimento de mate­riais específicos para cada uma delas. O gerente técnico da Crylor, Elson Garcia, compra da Quimlab os pa­drões mais convencionais, como os de pH e de condutividade, e contra­tou a empresa para ajudar no desen­volvimento de novos equipamentos.

Outra empresa, a Leiner Davis Ge­latin, produtora de gelatina utilizada como ingrediente na indústria alimen­tícia, compra da Quimlab soluções-pa­drão para calibração de equipamentos que medem o pH de seus produtos. ''A Leiner possui ISO 9001 e, quando

passamos por auditorias para manu­tenção dessa certificação, um dos itens verificados pode ser o certificado da solução-padrão': explica Eduardo Apa­recido Stephano, assistente de pes­quisa e desenvolvimento da empresa.

O próximo passo da Quimlab é ter o Laboratório de Metrologia Quí­mica reconhecido e credenciado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A empresa de certa forma sai na frente. "Estamos pedindo o credenciamento pela Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios do Inme­tro - por meio da norma internacio­nal ISO Guia 25- porque a instituição ainda não tem normas específicas para nos certificar como produtores de materiais de referência", diz Alves.

Conceito mundial - A Quimlab foi criada em 1997, depois que Alves desligou-se da Kodak Brasileira, onde trabalhou durante 11 anos no desen­volvimento de padrões. Mestre em Química Inorgânica, ele viu a opor­tunidade de não sair de sua área de atuação, ao abrir uma empresa própria com as facilidades de infra-estrutura oferecidas pela incubadora. Como estratégia técnica, a empresa garantiu a qualidade das soluções-padrão ao

Page 49: A vitória da ONSA

comparar as substâncias fabricadas por ela com os materiais de referência do National Institute of Standards and Technology (Nist), uma espécie de Inmetro dos Estados Unidos, que atua nessa área desde 1905 e hoje é o labo­ratório mais conceituado no mundo na área de metrologia química.

A outra área de atuação da Quim­lab é a consultaria para desenvolver materiais de referência específicos, uti­lizados apenas por uma determinada indústria. É o caso, por exemplo, da produção de fibras sintéticas. As indús­trias têm uma fórmula para esse produ­to que confere à fibra propriedades como maciez e capacidade de receber corantes. Para calibrar o equipamento que rotineiramente analisa as amos­tras e verifica os componentes da fór­mula na proporção ideal, a indústria precisa de um material de referência. Nesse caso, pode ser um disco de fi­bra, produzido em escala de laborató­rio de acordo com a patente industrial. É uma fibra perfeita, que ajusta o apa­relho na medida certa e serve de com­paração para a produção do dia-a-dia.

A Crylor, por exemplo, fabrica 1200 t/mês de uma fibra sintética cha­mada de poliacrilonitrila, feita com matéria-prima derivada do petróleo. "Chamamos a Quimlab para calibrar

Fabricar soluções-padrão para o mercado brasileiro evita que as indústrias químicas instaladas aqui importem esses produtos

os aparelhos que medem o teor de acetato de po­livinila durante a produ­ção dessa fibra , explica Garcia, da Crylor"

Alves esclarece que existem inúmeros ma­teriais de referência uti­lizados nas mais diver­sas indústrias químicas. Para delimitar um pou­co o raio de atuação da Quimlab, a empresa de­dica-se, basicamente, à fabricação de materiais

de referência de íons (por exemplo, pH) e de padrões espectroquími­cos. Esses últimos calibram os espec­tofotômetros, aparelhos que medem quantidades de elementos e com­postos químicos nas mais diversas substâncias.

Conquista de mercado - A Quim­lab tem sete funcionários, um com doutorado concluído, to­dos vinculados ao projeto La­boratório de Metrologia Quí­mica. Alves acredita que o faturamento atual, de cerca de R$ 18 mil por mês, pos-sa atingir em dois anos ci-fras de cerca de R$ 300 mil reais mensais. "Estamos na fase de pesquisa e desenvolvi-mento e, terminado o projeto, teremos a fase de conquista do mercado, com aumento gradati-vo do faturamento", ele explica.

No momento, a empresa também participa de uma parceria com a Uni­versidade de São Paulo (USP) e a Uni­vap, na construção da primeira célu­la de hidrogênio da América Latina

para o desenvolvimento de materiais de referência de pH. O equipamento consiste de um sensor eletroquímico capaz de perceber e quantificar a va­riação na concentração do íon hidra­gênio numa solução qualquer. A pre­cisão da análise chega a milésimos de unidade de pH, algo como 0,001 pH.

O desenvolvimento dessa célula de hidrogênio segue as normas do Co­mitê Internacional de Química Pura e Aplicada (lupa c) e, de acordo com Alves, após sua conclusão, os mate­riais de referência de pH produzidos estarão no mesmo nível de confiabili­dade dos materiais do Nist. Um futu­ro que ajudará a Quimlab a desenvol­ver novos materiais de referência. •

PERFIL:

• NILTON PEREIRA ALVES é químico formado pelas Faculdades Oswaldo Cruz, de São Paulo. Fez mestrado em Química Inorgânica no Institu­to de Química da USP. Projeto: Laboratório de Metrologia Química Investimento: R$ 71.716,00 e US$ 149.878,00

\

Alves: de olho na produção de materiais específicos utilizados

apenas por uma indústria

Page 50: A vitória da ONSA

TECNOLOGIA

ENGENHARIA ELÉTRICA

Vigia eletrônico a distância

Empresa de São Carlos elabora um sistema inédito de acesso remoto

U m aparelho capaz de funcio­nar como um guardião que

controla temperatura, pressão, umi­dade e mau funcionamen-

"Imagine uma célula de telefonia fora do ar por incêndio, sabotagem ou um raio. Quantos aparelhos fica­rão mudos? E qual o prejuízo dis­so?", pergunta Paulo Giglio, sócio da Incon junto com Vanberto Nave. "A solução desse problema está cada vez mais no sensoriamento a distân­cia", afirma Durval Makoto Akama­tu, professor aposentado na Univer-

Disca

mais próximos de Akamatu são os professores Paulo Rogério Politano, chefe do Departamento de Compu­tação da UFSCar, e Orides Morandin Júnior, do mesmo departamento, que resume a importância do traba­lho que vem sendo feito: "Pesquisa­mos no mercado nacional e não en­contramos nada parecido com o que é desenvolvido aqui em São Carlos':

to de sistemas e equipa­mentos. Essa é a proposta do Modcon, um controla­dor eletrônico a distância desenvolvido pela Incon, uma pequena empresa de São Carlos que produz 18 tipos de aparelhos volta­dos para o controle de processos. São contadores, tacômetros, temporizado­res, termostatos micro­processados, codificadores, sensores, transmissores, conversores de sinais, fon­tes de alimentação e relés. Da central de supervisão, controla-se, por telefone e computador, a temperatura de outro ambiente

O novo aparelho usa a linha telefônica comum como via de transmissão de informações dis­cando automaticamente, se preciso, o número do telefone de uma cen­tral de supervisão da empresa que o está utilizando, durante as 24 horas do dia. Ele será muito útil para to­dos os tipos de empresas da área de telefonia, por exemplo, que mantêm estações isoladas de transmissão. O Modcon permite também que se atue a distância nos equipamentos, modificando desde o funcionamen­to de uma máquina até a temperatu­ra do ar-condicionado por meio de softwares próprios. Mais do que in­terligar dados, esse aparelho infor­ma o que acontece no ambiente, di­minuindo, assim, o drama que ronda a cabeça de quem dirige companhias que operam dia e noite.

50 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

sidade Federal de São Carlos (UFS­Car) e coordenador dos cursos de informática da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação de Lins. Ele é o coordenador do projeto Desen­volvimento de um Controlador Mi­croprocessado de Propósito Geral de Baixo Custo com Capacidade de Co­municação de Dados Remota em Rede Multiponto, do Programa Ino­vação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP. Por esse projeto, que deve encerrar-se no início de 2001, a Incon está rece­bendo R$ 258 mil da Fundação ao longo de três anos.

Ao todo, entre funcionários e proprietários da Incon, além de estu­dantes da UFSCar que colaboram no projeto, mais de 20 pessoas estão mobilizadas. Dois dos colaboradores

Testes práticos - Até agora foram realizados diversos testes de campo com bons resultados. "Todos os passos necessários para a efetivação do controlador foram dados", afir­ma o coordenador. Grandes empre­sas abriram portas e máquinas para que o engenho saído da Incon fosse testado no dia-a-dia. É o caso da Uniklima, empresa localizada na ci­dade de Embu, na Grande São Pau­lo, que fornece equipamentos de ar-condicionado para grandes em­presas. "Nós fornecíamos termosta­to e controladores para a Uniklima e, quando a empresa passou a insta­lar máquinas de ar-condicionado nas salas dos transmissores das com­panhias de telecomunicação, sur­giu o interesse pelo Modcon", expli­ca Nave.

Page 51: A vitória da ONSA

Hoje, o principal desafio da ln­coo é desenvolver protocolos que interliguem os diversos sistemas de acesso que envolvem o funciona­mento do Modcon. Um primeiro es­tudo está sendo iniciado agora em agosto para permitir a conexão do Modcon com a Internet. Tal estudo deverá ser desenvolvido juntamente com alunos de graduação e pós-gra­duação do Departamento de Com­putação da UFSCar.

Tanto na Incon quanto na uni­versidade a contagem regressiva para interligação do Modcon à ln-

Akamatu, da lncon: diversos testes de campo comprovaram

a eficiência do Modcon que deve ganhar, em breve,

a interconexão com a Internet

foi "tropicalizar" componentes de má­quinas largamente compradas fora do país, tais como temporizadores para tratares compactadores de asfalto.

Para crescer, a Incon foi amplian­do seu leque de produtos. Assim, foram lançados controladores de temperatura, contadores digitais, instrumentos para avião e sistemas de controle para incubadoras, além de sensores, dos mais variados mo­delos, para uso em ambientes diver­sos, rurais e industriais. Dez anos depois de lançar a Incon no merca­do, Nave e Giglio perceberam que

z ~

§ ~

~

" l' v;

.............................................................. ê

ternet está acionada. Para a empre­sa, essa nova técnica será o incre­mento que falta para agregar valor a seus produtos, capacitando-a para atender a novos segmentos de mer­cado, até do exterior. Com isso, Gi­glio e Nave esperam, com o Modcon, elevar em pelo menos 20% o fatura­mento da empresa.

Sociedade acadêmica- A Incon ini­ciou suas atividades em 1987, com o objetivo de substituir alguns produ­tos eletrônicos importados. Nave e Giglio, então professor e aluno na Es­cola Técnica de Mococa, juntaram suas economias, cerca de R$ 4 mil, e fun­daram a empresa que teve como ber­ço o Centro de Desenvolvimento de Indústrias Nascentes (Cedin) de São Carlos. O empreendimento inicial

sonhar mais alto não era apenas uma necessidade imperiosa trazida pela globalização. Eles perceberam a necessidade de entrar na área de equipamentos para acesso remoto. Nesse caminho, Nave saiu a campo, associou-se à UFSCar e pediu finan­ciamento à FAPESP. "Tudo o que está sendo feito é fruto do programa PIPE", reforça Nave.

O novo controlador usa uma di­minuta placa com um chip-modem, menor mas muito parecida com as que existem nos computadores, res­ponsáveis, por exemplo, pelo acesso à Internet. "Tivemos de desenvolver todo o hardware e o software, além dos protocolos de comunicação", explica Paulo Giglio. O Modcon é um equi­pamento que potencializa um conjun­to de tecnologias já existentes. São

mais de 150 componentes num apa­relho que pesa em torno de 350 gra­mas, fácil de instalar e de monitorar.

Diferença de custos - O desenvolvi­mento do produto forçou a Incon a trabalhar sistematicamente em mi­crocomponentes. Por exemplo, utili­zando técnicas que permitem uma redução das dimensões desses pro­dutos eletrônicos. Para esse traba­lho, foi preciso adquirir uma estação de solda e lentes que ampliam 30 ve­zes o material a ser gravado nos cir­cuitos integrados.

A Incon tem concorrentes para o novo produto, todos importados, a um custo próximo deUS$ 1,2 mil. E com uma diferença importante. "Equipamentos de controle existem muitos no mercado, é lógico, mas com as características e para as fina­!idades indicadas para o Modcon não existe nada igual no País", co­menta Nave. Além disso, os contro­ladores importados precisam de ajustes para funcionar nas condições e sistemas brasileiros. E isso certa­mente vai torná-los muito mais caros. Para Nave, além da tecnologia avan­çada do Modcon, uma outra ques­tão deve garantir o sucesso desse aparelho. Ele deve custar cerca de R$ 300,00. Um preço baixo e atraente para um vigia eletrônico •

P ERFIL:

• DURVAL MAKOTO AKAMATU é pro­fessor aposentado do Departamen­to de Computação da UFSCar. For­mou-se em Engenharia Civil na Escola de Engenharia de São Car­los da Universidade de São Paulo (USP), onde também fez mestrado. Doutorou-se em Engenharia de Sistemas e Computação na Univer­sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Projeto: Desenvolvimento de um Controlador Microprocessado de Pro­pósito Geral de Baixo Custo com Ca­pacidade de Comunicação de Dados Remota em Rede Multiponto Investimento: R$ 258.240,40

PESQUISA FAPESP · JULHO DE 1000 • 51

Page 52: A vitória da ONSA

TECNOLOGIA

MEDICINA

Alternativa para falar melhor

Prótese mostra-se eficaz para corrigir malformações labiais

A reabilitação de pessoas com fis­suras e malformações no lábio

e no céu da boca já pode ser realiza­da com próteses especiais. A solução é inédita no país e foi desenvolvida por uma equipe multidisciplinar do Hos­pital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da Universi­dade de São Paulo (USP), mais co­nhecido como o Centrinho de Bauru. A nova técnica substitui a cirurgia no tratamento de alguns casos desse que é um dos problemas congênitos mais comuns do mundo. No Brasil, cha­mada popularmente pelo nome de lábio leporino, essa anomalia atinge uma em cada 750 crianças que nas­cem, acrescentando 16 novos bebês por dia à população de 240 mil pes­soas que têm fissuras labiopalatais.

O lábio leporino seria suficiente­mente ruim se fosse apenas um pro­blema estético. Mas não é. As fissuras labiopalatais são a principal causa da disfunção velofaríngea, uma situação capaz de prejudicar de tal maneira a fala que a pessoa atingida não conse­gue comunicar-se normalmente. "Ela pode levar o indivíduo a um desajuste psicológico e até mesmo ao afastamen­to social': afirma a fonoaudióloga Ma­ria Inês Pego raro-Krook, coordenado­ra do projeto de pesquisa Tratamento de Pacientes Fissurados de Palato (Con­gênita ou Adquirida) por Meio de Pró­tese de Fala, que recebeu financiamen­to da FAPESP no valor de R$ 12,4 mil.

Normalmente, esse problema é tra­tado com uma intervenção cirúrgica. No entanto, os especialistas perceberam, há muito tempo, que um grande núme­ro de pacientes fissurados, inclusive

52 • JULHO DE 2000 • PESQUISA FAPESP

em função de acidentes, não podia ser tratado com cirurgias e, portanto, apresentava indicação para uma pró­tese de palato. Para identificar essas si­tuações, a equipe do Centrinho realizou o estudo que envolveu 71 pacientes.

Alto nível - A adoção de prótese aju­da as pessoas a superar um sério pro-

muscular situada entre o nariz e a boca. Sua função é a de controlar a passagem do ar. Nas pessoas com fis­suras labiopalatais, a válvula não efe­tua automaticamente o movimento de abrir ou fechar, por falta de tecido ou por incapacidade de fazer os mo­vimentos adequados. Se a válvula não funciona perfeitamente, a pes-

Maria Inês: na seleção dos pacientes util iza-se o exame dos sons da boca e do nariz

blema de exclusão social. "A angústia de ser incompreendido e de não con­seguir se expressar reprime a criativi­dade e a capacidade de aprender", lembra Maria Inês. Para o sucesso do estudo contou o fato de o Centrinho unir o atendimento de pessoas de todo o país a pesquisas acadêmicas de alto nível, com o objetivo de apri­morar as técnicas de tratamento não só das fissuras labiopalatais, mas de problemas como dismorfias cranio­faciais, como são chamadas as mal­formações da cabeça que também apresentam deficiências auditivas, vi­suais e de linguagem de modo geral.

Uma das próteses desenvolvidas no Centrinho corrrige a disfunção velofaríngea, que atinge uma válvula

soa, mesmo tendo boa articulação, não consegue emitir os sons da fala de forma natural. Há uma perda de ar pelo nariz durante a fala caracterizan­do a hipernasalidade, ou voz fanhosa.

Análise acústica - Os pesquisadores de Bauru começaram o projeto iden­tificando algumas situações nas quais, pelas indicações existentes, o uso da prótese seria preferível à inter­venção cirúrgica tradicional. As situ­ações escolhidas foram: quando as fissuras são tão grandes que não exis­te tecido suficiente para o reparo ci­rúrgico, quando não há tecido sufi­ciente para fechar o palato duro, a parte óssea do céu da boca, com teci­dos do próprio local ou quando há

Page 53: A vitória da ONSA

deficiências neuromusculares no pa­lato ou na faringe.

Foram escolhidos 71 pacientes com fissura do palato, congênita ou adqui­rida depois do nascimento. O princi­pal instrumento usado na pesquisa foi um equipamento de avaliação acústi­ca chamado nasômetro. O aparelho capta separadamente, por meio de dois microfones direcionais, separados por uma barra horizontal colocada acima dos lábios, os sons emitidos pe­lo nariz e pela boca. Os sinais, filtrados e digitalizados por módulos eletrôni­cos e processados num computador, indicam o grau de nasalân­cia, ou intensidade da hi­pernasalidade do paciente.

59 pacientes, 41, ou 69,49%, apresen­taram melhoras significativas quanto à compreensão da fala com o uso da prótese. Dos restantes, três, ou 5,08%, não apresentaram diferença e 15, ou 25,42%, mostraram uma leve piora.

Quanto à avaliação nasométrica, realizada com 62 pacientes, houve melhora em 43 pacientes, ou 69,36%, piora em 18, ou 29,03%, e igualdade de condições em um, ou 1,61 o/o. A avaliação da ressonância da fala, feita em 55 pacientes, mostrou redução da hipernasalidade com o uso da próte­se em 38, ou 69,09%, nenhuma dife-

Serviço de Prótese de Palato do Cen­trinho. Ela dirige também um convê­nio entre a USP e a Universidade da Flórida, nos Estados Unidos.

Esse projeto de pesquisa foi assi­nado em 1992 e tem o objetivo de comparar os resultados obtidos na fala e na função da velofaringe em pacientes com fissura unilateral de lábio e palato submetidos à palato­plastia, ou fechamento cirúrgico da fissura palatina por meio de duas técnicas cirúrgicas, a de Von Langen­beck e a de Furlow. O projeto, que começou em fevereiro de 1996, pre­

o vê a participação de 352 o

~ o '" Q,

pacientes. Para fazer a pesquisa, a

Universidade da Flórida recebeu uma verba de US$ 1 milhão do Instituto Na­cional de Saúde dos Esta­dos Unidos. O projeto foi aprovado em 1995, incluin­do o repasse de parte do auxílio para o Centrinho, por meio da USP. Não é pouca coisa. "Somos a pri­meira universidade brasi­leira a ter um projeto apro­vado por esse respeitado e concorrido órgão do go­verno americano", comen­ta Maria Inês. •

No final, a pesquisa usou os dados de 59 pacien­tes. Os outros foram elimi­nados por estarem resfria­dos ou porque as gravações apresentaram problemas técnicos. Todos os pacien­tes leram um texto padro­nizado, constituído por 73 palavras em oito frases, chamado A História do Urso Preto. Em seguida, o paciente era solicitado a discorrer sobre um fato qualquer, para o registro do que é chamado de sua "fala espontânea". O uso de prótese obteve a melhora da fala em 69% dos pacientes

O projeto não ficou aí. Alguns dos pacientes com prótese passaram por programas intensivos de fonoterapia no próprio hospital ou em suas cidades de origem. No final, passavam por novas gravações e os resultados eram confrontados. Isso le­vou a conclusões importantes não só com relação à prótese, mas também quanto ao tratamento de fonoterapia e ao conhecimento das alterações ocor­ridas no bulbo faríngeo. Ainda como parte do projeto, alguns pacientes fo­ram filmados com e sem a prótese.

Melhora significativa - Os pesquisa­dores chegaram à conclusão que existem realmente situações indi­cadoras da prótese como o tratamen­to mais indicado para a fissura. Dos

rença em seis, ou 10,9%, e um au­mento ligeiro na hipernasalidade em 11, ou 20%.

Acordo com a Flórida - Os resulta­dos do projeto ampliaram os conhe­cimentos adquiridos pelo Hospital de Reabilitação, que, em 32 anos de existência, já atendeu quase 50 mil pessoas e é considerado centro de ex­celência nacional pelo Ministério da Saúde e centro de referência mundial pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Maria Inês, além de profes­sora do Departamento de Fonoau­diologia da Faculdade de Odontolo­gia de Bauru da Universidade de São Paulo (USP), é responsável pelo La­boratório de Fonética Acústica e pelo

PERFIL:

• MARIA INÊS PEGORARO-KROOK tem 38 anos e formou-se em Fonoau­diologia pela Pontifícia Universida­de Católica de Campinas, em 1982. Fez mestrado e doutorado na Uni­versidade Federal de São Paulo (Unifesp) e está concluindo o pro­grama de pós-doutorado no Cen­tro Craniofacial da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Tem cursos de especialização na Univer­sidade de Copenhague, na Dinamar­ca, e no Hospital Geral de Malmõ, da Universidade Lund, na Suécia. Projeto: Tratamento de Pacientes Fis­surados de Palato ( Congênita ou Ad­quirida) por Meio de Prótese de Fala Investimento: R$ 12.430,70

PESQUISA FAPESP · JUlllQ DE 2000 • 53

Page 54: A vitória da ONSA

HUMANIDADES

URBANISMO

Zona Leste de São Paulo enfrenta ~ .... ~ o novo milênio Pesquisa traça origens e destinos da região paulistana

Aarquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora e coorde­

nadora do mestrado de urbanismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, acaba de com­pletar Reestruturação Urbana da Me­trópole Paulistana: Análise de Territó­rios em Transição. Resultado de 10 meses de pesquisa, o trabalho faz uma análise profunda das transfor­mações ocorridas na Zona Leste de São Paulo, neste final de século, e traça o novo perfil econômico e ur­bano da região. Patrocinado pela FA­PESP, o trabalho é fundamental para a consulta de quem se preocupa com o reordenamento territorial urbano de São Paulo.

54 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

Com o auxílio de pesquisa da FAPESP - R$ 40 mil para a aquisição dos equipamentos necessários, entre computado­res, software e scanners -, uma verba de R$ 30 mil proveniente

::>

" L------"------'""---=----'---- l'

Raquel Rolnik com o mapa da cidade: o novo espaçoo urbano

do Sesc Belenzinho e do projeto Arte Cidade e em parceria com o Instituto Polis (organização não-governamen­tal que trabalha com políticas urba­nas e municipais), Raquel coordenou uma equipe de cinco pessoas, entre estudantes da PUC de Campinas e pós-graduandos da Faculdade de Ar­quitetura e Urbanismo (PAU) da Uni­versidade de São Paulo (USP), de mar­ço de 1999 e janeiro deste ano.

"Observamos os sinais da transfor­mação econômica e comercial e das formas de trabalho, na passagem da industrialização de São Paulo para a terceirização e quisemos verificar o impacto dessas mudanças em lugares tomados pela indústria': conta Raquel.

"Nos centramos na Zona Leste para trabalhar em uma escala menor e mais detalhada e porque é ali que estão acontecendo as principais mudanças."

Em mais de 200 páginas, documen­tadas com tabelas, mapas e fotografi­as aéreas, Raquel radiografou a região baseada na observação das indústrias, comércio e mercado imobiliário resi­dencial. "Cartografamos esse novo es­paço, fizemos cartas temáticas como uma espécie de atlas da Zona Leste." Raquel e sua equipe utilizaram os ca­dastros do Senai sobre a estrutura in­dustrial de São Paulo, de 1968 e 1993, e os registras de lançamentos imobiliá­rios do município paulista, de 1985 a 1999, arquivados pela Embraesp.

Page 55: A vitória da ONSA

Igreja Universal baixada do Glicério

Estação do Metrô Pedro 11

Praça da Sé

"Para cada tema que focalizamos, usamos uma base de dados; depois, sobrepusemos as planilhas e cruza­mos informações até verificar o que permaneceu e o que já não existe na região." Na etapa final, Raquel tam­bém utilizou os resultados da Pes­quisa da Atividade Econômica Pau­lista (Paep ), feita pela Fundação Seade. A urbanista traçou, assim, o novo perfil daquele território forma­do pelo conjunto de distritos situa­dos a leste do centro histórico e do eixo Tamanduateí.

O resultado final surpreendeu. "Tomamos um susto porque a con­clusão é bem diferente daquela que imaginamos no início: além de a in­dústria continuar existindo, ela cres­ceu, embora tenha se modificado", observa ela. "O que mudou foi sua inscrição territorial, antes implanta­da ao longo das ferrovias, hoje espa­lhada por toda a cidade."

Outra mudança verificada sobre aquele território é que as grandes in­dústrias manufatureiras deram lugar às pequenas e médias empresas in­dustriais. "Antes elas empregavam até SOO trabalhadores, hoje não usam a mão-de-obra de mais de 100 pesso­as." De acordo com Raquel, isso não se deve às novas máquinas e à tecno­logia de ponta, mas sim à terceiriza­ção que, hoje, domina a economia da

cidade. "As empresas são prestadoras de serviços para a indústria."

Perfil histórico- Na introdução de seu trabalho, a urbanista recorre à histó­ria para localizar a formação do per­fil anterior da Zona Leste. Recorda que no final do século 19, tempos áureos do café, a cidade viveu seu primeiro surto industrial, baseado principalmente na indústria têxtil e alimentícia. "Ocupando as várzeas por onde passavam as ferrovias, constituiu a grande região operária de São Paulo: sua Zona Leste-Sudes­te", escreve Raquel. O primeiro dos 114 mapas que a urbanista apresenta mostra a cidade em 1877. Demonstra que, enquanto a colina histórica- ou centro velho - encontrava-se já ocu­pada e arruada, a várzea inundável do Tamanduateí a leste permanecia despovoada.

"Conforme a cidade cresce e au­menta a concorrência pelo solo urba­no, instala-se a segregação no espaço, e nesse ponto inicia-se a história da ocupação das terras de várzea." Em paralelo aos trilhos do bonde e do trem, em um plano horizontal, come­çaram a surgir os galpões de tijolos, vilas e cortiços, oficinas e vendas, po­voados por milhares de trabalhado­res que chegavam à cidade, ocupan­do-a de maneira intensa e rápida.

Palácio das Indústrias

Por outro lado, as colinas a sul e oeste, secas e ventiladas, eram procu­radas pelas elites, para uso residencial. Surgiram, assim, os Campos Elíseos, primeiro, e Higienópolis, Paulista e Jardins em seguida. "A cidade forte­mente dualizada entre as terras altas ricas e qualificadas e as terras baixas pobres e insalubres é uma das domi­nantes por meio da qual se poderia descrever São Paulo durante todo o século 20", prossegue Raquel.

"A barreira representada pelas ferrovias- a Santos/Jundiaí, ao longo da várzea do Tamanduateí, e a Cen­tral do Brasil, ao longo da várzea do Tietê - e pelas indústrias (que até os anos 30 ocuparam todo o território da orla ferroviária em busca de uma situação favorecida do ponto de vista do escoamento da mercadoria), com suas poucas possibilidades de trans­posição, era a muralha que dividia claramente o território da cidade." Com base nos mapas que apresenta para comprovar a evolução da ocu­pação da cidade, Raquel conclui que o poder público atua historicamente no sentido de reforçar a barreira e as diferenças.

A identidade dominante da re­gião Leste foi se constituindo a rebo­que da industrialização e da habita­ção operária, consolidando-se em um ponto que a urbanista chama de

PESQUISA FAPESP · JUlHO DE 2000 • 55

Page 56: A vitória da ONSA

RHÓDIA divisão química

"Posição Leste": "É a posição das vár­zeas industriais ferroviárias e proletá­rias, dos conjuntos habitacionais, das baixadas e sua relação com as áreas de consumo e moradia de alta quali­dade do outro lado da cidade." É, também, de acordo com ela, a posi­ção dos investimentos públicos ape­nas funcionais - e não urbanísticos -chegando muito após os lugares te­rem sido povoados. "É a luta contí­nua por espaços de vida e cidadania por parte daqueles que fazem da re­gião a sua casa".

As mudanças ocorridas na cidade traçaram o novo perfil da Zona Les­te, agora retratado por Raquel. "É de onde se sente com mais contundên­cia a transformação industrial, pelo desaparecimento do emprego, da identidade operária e pela desinte­gração do próprio espaço urbano an­teriormente estruturado pela indús­tria': escreve. E é, segundo diz, de onde se assiste ao surgimento aleató­rio de focos de dinamismo econômi­co e poder de consumo, provocando a concentração do comércio em sho­pping centers e hipermercados e a verticalização imobiliária da região. "A verticalização da periferia, com o surgimento de novos edifícios de dois dormitórios e até de quatro dor­mitórios de alta renda em bairros como Tatuapé, Mooca e Vila Pru­dente, é um fenômeno residencial intenso", diz.

56 • JULHO OE 2000 • PESQUISA FAPESP

Raquel observa também que o termo "desindustrialização" não se aplica ao atual estágio do parque in­dustrial da capital. "A concentração de empresas de potencial inovador, a exportação de plantas menos dinâ­micas e a grande dispersão das pe­quenas e micro novas indústrias pela cidade indicam que se trata de um amplo processo de reconversão in­dustrial." Em outras palavras, as in­dústrias de hoje na Zona Leste aboli­ram as chaminés e o maquinário pesado e foram substituídas por ou­tras mais enxutas. "Houve uma mu­dança radical da indústria e o empre-go industrial sumiu", diz ela. ·

Ordenamento futuro - A estrutura urbana que se insinua a partir daí ca­racteriza-se por dispor de um capital que se comporta de forma menos di­recionada do que já foi. "Isso não sig­nifica que esteja se produzindo uma cidade melhor ou mais homogênea, já que mesmo megainvestimentos em regiões de urbanização incom­pleta não repercutem em melhora al­guma em seu entorno: sua forma de inserção tem sido de forma a recortar e fragmentar o tecido circundante e, sobretudo, não estabelecer qualquer relação com este': escreve Raquel.

A urbanista conclui que uma in­tervenção pública no sentido de diri­gir o reposicionamento da Zona Les­te é fundamental. "Por enquanto,

todo o crescimento urbano da região é pautado pelo mercado. Seu futuro dependerá da política urbana adota­da na cidade de São Paulo, onde o mercado lidera e a intervenção do poder público é escassa."

Apesar do trabalho minucioso que a urbanista realizou para analisar a Zona Leste, para ela, sua pesquisa apenas dá uma "pincelada" na nova realidade da região. Assim, ela plane­ja novo projeto para desenvolver pes­quisa detalhada do atual perfil de suas indústrias.

De acordo com as observações que a urbanista fez sobre dados da pes­quisa da Paep utilizados em seu traba­lho, hoje em São Paulo predominam empresas de alta tecnologia. "É a indús­tria do software, programas produtivos de qualidade e informatização da ges­tão, que têm um impacto muito gran­de e economizam mão-de-obra."

O conteúdo de Reestruturação Ur­bana da Metrópole Paulistana: Análise de Territórios em Transição, também pode ser encontrado em CD para con­sulta, posterior distribuição e possí­vel venda.

Raquel utilizou o mesmo método em outra pesquisa patrocinada pela FAPESP, em 1997, sobre o impacto da aplicação de instrumentos urba­nísticos em cidades do Estado de São Paulo com mais de 20 mil habitantes. Em tempo de eleições municipais, o documento pode ser de extrema im­portância para um projeto de gover-no sério. •

PERFIL:

• RAQUEL ROLNIK é arquiteta forma­da pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Douto­rou-se em História Urbana na Universidade de Nova York. Foi di­retora de Planejamento do muníci­pio (1989 a 1992). É coordenadora do mestrado em Urbanismo da PUC de Campinas. Projeto: Reestruturação Urbana da Metrópole Paulistana: Análise de Ter­ritórios em Transição Investimento: R$ 40 mil

Page 57: A vitória da ONSA

HUMANIDADES

ARTES PLÁSTICAS

Corpos femininos vestidos de tintas Estudo analisa como artistas brasileiros pintaram as mulheres

A representação da figura da mulher na obra de Candido

Portinari sugere a afirmação de um papel feminino preconizado pelos ideais políticos/governamentais. Já em Di Cavalcanti (tomando, por exemplo, o quadro O Mangue, 1926), a mulher surge no papel da prostituta e, portanto, apesar do modernismo, sob o olhar masculi­no vindo do século anterior. Tarsi-la do Amaral traz em A Negra ( 1923) a mescla das experiências da vivência na fazenda onde cres­ceu, a estética cubista e o aspecto de seu compromisso "político". Es­tas e outras informações pertinen­tes ao estudo sobre o tratamento dado à representação do corpo fe­minino pelos artistas modernistas brasileiros instigaram os cinco anos de pesquisas feitas pela pro­fessora Giulia Crippa durante o desenvolvimento de sua tese de doutorado Imaginário e Constru­ção da Experiência; as Representa­ções do Corpo Feminino nas Artes Plásticas Brasileiras (1900/1940 ). Desenvolvida com o apoio da FA­PESP, sob a orientação do professor Nicolau Sevcenko, e concluída em maio de 1999, a tese foi apresentada em novembro ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Uni­versidade de São Paulo (USP).

Italiana, 31 anos, formada em Le­tras pela Universidade de Bolonha, Giulia, que trabalhava em uma ONG ligada ao movimento feminista de seu país, partiu para esse trabalho em 1995. "Eu já tinha interesse nesse es-

tudo e queria dar a ele um aspecto acadêmico. Então elaborei um proje­to que me permitisse pesquisar no Brasil. Propus uma revisão do tema modernista, levando em conta a lei­tura que vinha sendo dada a certos artistas latino-americanos do perío­do, entre eles alguns brasileiros, como porta-vozes políticos. A minha inda­gação é sobre o que não aparece. Eu queria verificar no contexto, na in­serção social dos artistas, que elabo-

Mangue, de Di Cavalcanti: mitologia da mulata

ração tinha sido feita sobre a mulher. Se os dois lados tinham coisas em co­mum e de que forma esses artistas expressam para o imaginário coletivo o masculino e o feminino."

Imaginário e Construção da Expe­riência ... está dividida em dez capí­tulos: Análise do conceito de moder­nidade através de uma interpretação filosófica; Corpos vestidos/Corpos despidos; Oswald e Zola; Pistas para uma leitura de gênero na obra de Tarsila; Espelho, espelho meu, existe

alguém mais bonita do que eu?; Os difíceis percursos de uma expressão; A Natureza da mulher e a mulher na natureza: uma visão européia; Café: o ventre da mulher, origem da vida; O corpo como sucata; e Algumas consi­derações finais entre epistemologia e metodologia.

A autora valeu-se de farta base de estudos, tanto no que diz respeito à forma como a mulher é apresentada

nas artes como na literatura. Para o começar, lembra que a representa­·~ ção da mulher no imaginário social o i do Ocidente sempre a colocou no

âmbito da vida privada, do lar, re­forçando as imagens de boa mãe, boa esposa, boa dona de casa e as­sim por diante. Também não igno­ra que, a partir do século 20, hou­ve uma mudança no papel social da mulher em várias partes do mundo, que alterou a sua representação nas artes. O que, entretanto, não ocor­reu de maneira homogênea, per­manecendo a leitura do feminino delimitada pelo discurso médico do final do século anterior.

Como São Paulo é a base irra­diadora do modernismo nacional, ganha destaque no texto a cidade que cresce a partir das décadas fi­nais do século 19, graças à expan­são da cultura cafeeira, à implan­tação da estrada de ferro e à chegada de novas levas de imigran-

tes europeus - que movimenta e dá importância à Hospedaria dos Imi­grantes, no bairro do Brás. E também o fato de o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (fundado em 1883) apon­tar para uma necessidade de institu­cionalizar o papel do artista e do ar­tesão num momento de transição técnica (o escultor Victor Brecheret foi "descoberto" por modernistas que visitavam o Palácio das Artes.)

Não passa despercebido o fato de que, em 1914, uma modernista emer-

PESQUISA FAPESP • JULHO DE 2000 • 57

Page 58: A vitória da ONSA

gente, Anita Malfatti (1896/1964), expôs suas telas no chique magazine Casa Mappin, construido em frente ao Teatro Municipal. A mostra, instala­da ali, aponta muito mais a interesses de consumo que propriamente artís­ticos. Naquele momento, inspirados mais pelo futurismo italiano que pelo pensamento francês Anita, Os­wald de Andrade e Lasar Segall co­meçavam a produzir algo que assina­laria o caminho do modernismo. Dez anos mais tarde, pinturas de Tar­sila do Amaral (1897/1973) como São Paulo, Estrada de Ferro Central do Brasil (ambas de 1924) e A Gare (1925), que trazem em sua elabora­

(1903/1962). O primeiro, pela cons­tante atenção a "sujeitos femininos" claramente associados à mitologia da mulata. O segundo por ser represen­tativo das temáticas sociais e políticas que, conforme a autora, "especialmen­te nos anos 30, utilizavam de forma peculiar certa imagem da mu­lher inextricavelmente ligada à questão público/privado, em relação à construção de uma 'identidade nacional'".

O Mangue, de Di Cavalcanti, com cinco figuras masculinas e cinco femininas, apresenta três pla­nos: no primeiro, uma das três mu­lheres; no segundo, outras duas (la-

ção o sistema representativo cu- --:=-.:-- -:--;o-.:=7'1"-::---:::---=-:-~ "" bista trazido da Europa, indi- ~ ~

cam sintonia com essa nova c: o

cidade, epicentro de um movi- g r-W~'-I~Ill~\lf~l~~ menta - a Semana de 22 - que § iria motivar, também em outros ~ g pontos do país, acaloradas dis- c: cussões e propostas estéticas re- ~

o lativas à arte, poesia, arquitetura ~

z e literatura. iii

'5 l:

~ 'Leituras' do feminino - O pro- ~ 8

jeto teve como meta a busca dos traços essenciais expressos na construção iconográfica do cor­po e da imagem da mulher, visan­do a identificar nesse percurso as diferenças na linguagem figu­rativa entre os aspectos da auto­representação e da representa­

O Café, de Portinari: imagem clássica e politizada da mulher na década de 30 ção do desejo masculino. "Em outros termos, tentar individu­alizar na obra dos artistas os traços de uma diferença sexual como pro­duto do meio social na construção das representações", esclarece o tex­to. Para isso, a pesquisadora partiu para um cotejamento com a produ­ção literária brasileira e estrangeira, além de considerar a produção artís­tica nas suas relações internacionais. Entre as grandes questões levantadas e observadas estavam a moderniza­ção e a tecnologização presentes no Brasil, a construção do "nacional" e a condição feminina da época.

Entre os artistas plásticos moder­nistas estão Emiliano Di Cavalcanti (1897/1976) e Candido Portinari

58 • JULHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

deadas por um bêbado, pouco per­ceptível ao primeiro olhar); no ter­ceiro, outras figuras indistintas nas feições. Conforme análise da pesqui­sadora, o centro real e simbólico do quadro está nas três mulheres, cujas linhas de olhares são paralelas, cru­zando-se do lado externo da tela com o espectador. O quadro, de claro teor crítico social, evidencia ao mesmo tempo a formação de marco europeu do artista e os ecos revolucinários so­cialistas e influências de peso (Apol­linaire, Picasso, De Chirico, Léger). E traz à discussão a figura da "mulher perdida", da "mulher perigosa" (no­vamente a herança do século 19),

sintomaticamente explorada em uma obra localizada no mangue - a região úmida, de água parada e aces­so difícil - e o Mangue, zona de pros­tituição carioca.

Em outra investida - a tela Café (1934), a primeira de Di Cavalcanti onde surge a mulher sentada -, Giu­lia lembra que a interpretação do quadro sempre se deteve sobre a re­presentação do trabalho humano. O "esquecimento" para o papel da mu­lher retratada ali lhe pareceu grave, uma vez que este é funcional em dois níveis: "Primeiro, na construção de uma figura solidamente clássica, de um pintor capaz de transpor em uma

Page 59: A vitória da ONSA

linguagem nacional a tradição euro­péia ( ... ) Portanto, a referência à deu­sa da fertilidade ( Ceres) caberia aqui. Segundo, o trabalho da mulher seria reconhecido não só como participa­ção direta da coleta, mas no que mais sublime era considerado na época, isto é, na própria geração de homens, ou seja, dos braços e corpos que tra­balham na lavoura':

Entre as mulheres, figuram Tarsi­la do Amaral e Anita Malfatti. A pri­meira tem sua obra comparada com a de outra pintora, Tamara deLem­picka. Contemporâneas, estudaram com André Lothe, em Paris, e segui­ram a "formulação estética no senti­

tura que poderia ser definida como 'nacional": conclui a pesquisadora.

Contemporâneo, porém diferente de todos, é Ismael Nery (1900/1934). O artista à margem da "turma" moder­nista, que se recusa a entrar no deba­te sobre arte nacional, não apresenta uma obra que se encaixe no pacote da "oficialidade". Nery traz um outro ti­po de discurso pictórico (quando a moda sugere um corpo feminino me­nos arredondado), no qual os limites entre o masculino e o feminino são tê­nues. Em sua obra- até 1927 com forte influência cubista, sendo depois mar­cada pelo surrealismo ( especialmen­te Chagall)- muitas vezes é difícil es-

do da poética derivada do cubismo 'maquinista' de Fernánd Legér", considera Giulia. Finalmente Anita, a artista, conforme artigo de Mário de Andrade, "origi­nal e corajosa", cujas obras eram "pesquisas duma exa­cerbação romântica formi­dável, em que poucos pu­deram perceber o enorme temperamento apaixona­do, dramático ... " A ela é di­rigida a pergunta: "Mas o que realmente aconteceu à pintora após os ataques fe­rozes de Monteiro Loba- Tropical, de Anita Malfatti: olhar "desviante" da figura

to?" Após o que cita a me-xicana Frida Kahlo (que, como Anita, tinha um defeito físico), que fez de seu corpo devastado um emblema fí­sico/metafísico da própria pintura.

Anita é estudada por meio do quadro Tropical (1916), no qual fo­ram feitos alguns "recortes", como o olhar desviante da figura feminina (lição do expressionismo alemão) e o cesto de fruta, sugerindo a natureza morta como tema privilegiado na produção artística e um sistema so­bre o qual é possível refletir levando em conta as questões nacionalistas da época. "A tela Tropical é um produto da fase mais rica da artista, quando, ainda fresca sua influência alemã, tenta procurar um caminho que per­mita uma fusão da experiência no ex­terior e, contemporaneamente, uma busca mais abrangente de uma pin-

tabelecer o gênero. Tomando o quadro Duas Figuras (1925), a autora afirma: " ... impossível definir o gênero, atra­vés das características narrativas das figuras. Se na figura da frente os traços e as roupas são femininas, o cabelo cur­to é o mesmo que aparece nos auto-re­tratos. A outra figura ( ... ) tem cabelos longos mas não é dado saber se trata­se de um homem ou uma mulher':

O estudo da arte é precedido por uma análise da atuação de escritores. Machado de Assis, José de Alencar e Francisco Ferraz de Macedo estão pre­sentes em fragmentos de textos que apontam uma "leitura" da figura da mulher marcada pela moral segundo a qual "o corpo feminino é perigoso vestido porque esconde suas verdadei­ras formas, e despido porque revela o que realmente é':

Chegando aos modernistas, temos nomes como Menotti Del Picchia, e sua Salomé (livro iniciado em 1926 e só completado em 1939).Aqui é a mu­lher "alegoria': o fascínio da mulher com "M" maiúsculo, como escreviam literatos de finde siecle. Oswald de An­drade, com sua personagem Alma, a prostituta de luxo comparada à Na­na, de Zola. Mário de Andrade com Amar, Verbo Intransitivo (1923/1924) e a ousadia de sua Elza, a friiulein, a prostituta/educadora, limpa, alemã e que remete à teoria da eugenia, ante­cipando o que viria com o nazismo.

"Nas primeiras décadas do século, dos anos 30 em diante, temos um

momento de modernidade, o mundo procura uma nova ordem. Na Europa surgem o fascismo, o nazis­mo. O Brasil e os artistas brasileiros - estamos no governo Getúlio Vargas -, portanto, estão colocados dentro desse contexto do mundo ocidental. Veja Por­tinari, por exemplo, ele faz uma pintura oficial para Vargas e em sua obra a mulher tem uma tarefa cla­ra. Os artistas falam a lin­guagem do seu público para serem reconhecidos mas, ao mesmo tempo, co­

locam um indício do seu tempo, isso é inevitável", diz Giulia. Assim, Imagi­nário e Construção da Experiência ... "acrescenta mais um tijolinho em uma grande construção, para que se possa fazer novas associações, veri­ficar se os aspectos tratados são satis­fatórios e procurar novos caminhos de pesquisa. •

PERFIL:

• GIULIA CRIPPA é graduada em Le­tras Modernas pela Universidade de Bolonha e doutora em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Projeto: Imáginario e Construção da Experiência; as Representações do Corpo Feminino nas Artes Plásticas Brasileiras

PESQUISA FAPESP · JULHO OE 1000 • 59

Page 60: A vitória da ONSA

OSCAR CESAROTTO

Uma aventura do espírito O tratamento psicanalítico não é apenas um processo terapêutico

Em Porque a psicanálise?, último livro de Eli­sabeth Roudinesco, o "homem trágico" des­crito por Freud é contraposto ao "homem

comportamental" definido pelo discurso da ciên­cia, mesmo que esta última nada queira saber do inconsciente. Doravante, fica previsto que o sécu­lo 21 será o palco onde ambas concepções irão se confrontar para dirimir o mal-estar da civilização.

Enquanto isso, um tratamento psicanalítico nunca seria apenas um processo terapêutico; an­tes, talvez, mereceria ser valorizado como uma verdadeira aventura do espírito. Nesta perspectiva, qual­quer paciente enfrenta um percur­so incerto que só quando concluí­do a contento oferece a evidência de quanto teria valido a pena. Para po­der chegar a ser de um jeito como -até então- nunca foi na vida, pre­cisará passar por provas e provações, frustrações, lutos e elaborações. Como um herói destemido - apesar das angústias, inibições e sintomas - terá de arcar com seus medos e quereres, suas ansiedades e volúpias; enfim, lidar com seus fantasmas e se sair bem na empreitada.

Nada garante, a priori, um futu-ro promissor. O passado, entretanto, sobredeter­mina, e seus efeitos no presente parecem ter a for­ça e o peso de um karma. Com maior precisão, digamos que a trama estrutural da própria histó­ria, subordinada ao desejo do Outro, faz do sujei­to uma marionete do destino, cobrando um alto preço pela sua liberdade, tanto existencial quanto desiderativa. Exatamente disto uma análise seria capaz de curá-lo, para permitir-lhe a possibilida­de - ainda que difícil- de ser feliz.

Neste sentido, todo analisante é um Édipo, um Hamlet, um Romeu, ou algum personagem de Nelson Rodrigues. E se fosse mulher, poderia ser uma Ofélia, uma Antígona, uma Julieta, ou uma "bonitinha mas ordinária". Pois viver é sempre

60 • JUlHO DE 1000 • PESQUISA FAPESP

um risco, um drama, uma comédia, e também uma tragédia, entanto sina inevitável.

Portanto o trágico, considerado de forma am­pla, não se restringe a um mero gênero teatral, na medida em que aponta a uma dimensão essencial da condição humana. E, pelas razões acima ex­postas, acaba por constituir um parâmetro capital da experiência analítica.

Neste particular, o excelente livro de Mauro Mei­ches, A Travessia do Trágico em Análise (Casa do Psi-

cólogo Livraria e Editora/FAPESP), oferece uma contribuição relevan­te, aludindo simultaneamente à psicanálise em intenção e em ex­tensão. Assim como o trágico diz res­peito ao âmbito do teatro, lido des­de a teoria freudiana, sua presença na prática fica explicitada nos momen­tos considerados cruciais das análi­ses, ao se atingirem certas questões irredutíveis. São estes os rochedos que devem ser transpostos, contor-

. nados e superados, num processo constante, ao longo de anos. Daí a idéia de travessia: um périplo não linear, cuja meta previamente ine­xiste, sendo construída no trajeto, e onde o happy end - para além da

catarse - conduz a uma posição subjetiva inédita. A vivência trágica na clínica concerne, embora

de forma diferente, não só ao paciente, como tam­bém ao analista. O primeiro, colocando em pala­vras seus afetos, faz do seu discurso uma verdade inaudita e, dependendo de como é escutado, recu­pera para si a dimensão antes desconhecida do seu fado. O segundo, ciente de tal responsabilida­de, sabe que suas palavras, na interpretação, terão sempre conseqüências. Como Lacan dizia, o hor­ror do próprio ato não lhe é alheio.

OscAR CESAROTTO - Psicanalista. Doutor em Comuni­cação e Semiótica pela PUC-SP.

Page 61: A vitória da ONSA

LANÇAMENTOS

[iência na periferia: a luz sínrrotron brasileira

Ciência na Periferia

O livro de Marcelo Burgos (um lançamento da Editora UFJF) disseca o longo processo de construção do LNLS. O estudo também traça um painel extenso da evolução das ciências físicas no país, desde a implantação intermitente da matéria nos tempos da República Velha até

a implementação do portentoso laboratório síncrotron no Brasil, passando pela delicada questão nuclear e as tentativas de criação do organismo científico durante o regime militar. Burgos deixa claro as dificuldades enfrentadas pelos cientistas para a criação do Projeto Síncrotron em um país que carece de tradição científica.

Médicos e Clientela

O subtítulo do livro de Marina Cardoso (lançamento da editora da Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, com apoio da FAPESP), Da Assistência Psiquiátrica à Comunidade, esclarece a intenção da autora: mostrar como se verificam as mudanças no atendimento

clínico a partir da inclusão da assistência psiquiátrica na prática médica local. Não sem razão, a obra inicia-se, inusitadamente, com o relato de um dia de consulta numa pequena cidade do Vale do Jequitinhonha. O estudo de Marina Cardoso explicita a evolução do sistema, daquele primórdio (um bom recurso estilístico) até hoje, passados 12 anos.

Retroviroses Humanas

Reunindo uma equipe de profissionais, coordenados pelo dr. Ricardo Veronesi, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Retroviroses Humanas: Doenças Associadas ao HTVL - Etiologia, Patogenia, Patologia Clínica, Tratamento e Prevenção é um estudo inédito,

pelo seu porte, no Brasil. São pesquisas sobre os retrovírus HTVL isolados no país, sua epidemiologia e quadro clínico. O estudo analisa a incidência do retrovírus em bancos de sangue, na população indígena e examina as suas origens na América do Sul.

REVISTAS

Novos Estudos

A revista mensal do CEBRAP chega ao no 56 (referente a abril de 2000), com 208 páginas (R$ 20,00), no momento em que o Centro Brasileiro

=-~-~--·-- de Análise e Planejamento chega ~~~:=:~=s...::_- aos seus 30 anos de existência. "':::""'...==:=-'~".::::::-=---

~§§::.~~ O dossiê desta edição traz "Leituras de Gilberto Freyre",

uma homenagem ao centenário do autor de Casa Grande e Senzala, com textos de Fernand Braudel, Frank Tannenbaum, entre outros. Franco Montoro tem a sua trajetória política relembrada por Eduardo Muylaert e Paulo Sérgio Pinheiro. E José Nun analisa o futuro do trabalho sob a perspectiva da "massa marginal", a população à margem do capitalismo contemporâneo.

C"'ADF.RNOS DF li!STÓRIA E FILOSOFIA !>A ( It:"!YCIA

Naoo.Iismo~

Cadernos de História e Filosofia da Ciência

Editado pelo Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a revista chega ao volume 8 trazendo

[5 artigos sobre Naturalismo Epistemológico.

Entre os estudi?sos que tratam da matéria: Paulo Abrantes com "Naturalismo Epistemológico: Apresentação"; Philip Kitcher em "O Retorno dos Naturalistas"; Alvin Goldman discutindo "Epistemologia Naturalista e Confiabilismo"; e L. Bonjour, "Contra a Epistemologia Naturalizada"

IRliE'W~i~

~!Fil~~o .r~o!Fil~ [J)~ @~~~O~INJ(ÇO~~

volume29numet03sete:Tt1ro 1999

Revista Brasileira de Geociências

Este é o volume 29, número 3, de setembro de 1999, do órgão da Sociedade Brasileira de Geologia (com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq). Neste número: "O Diamante na Bacia

do Rio Santa Rosa", de Paulo C. Soares; "Classificação de Recursos Minerais usando a Variância de Interpolação", de Rita Conde; ''América do Sul: Quatro Fusões, Quatro Fissões e O Processo Acrescionário Andino", de Benjamim Bley de Brito Neves; entre outros.

PESQUISA FAPESP · JULHO DE lODO • 61

Page 62: A vitória da ONSA

GuiO LACAZ

z z z

. . . .

62 • JULHO OE 2000 • PESQUISA FAPESP

Page 63: A vitória da ONSA
Page 64: A vitória da ONSA

..

Page 65: A vitória da ONSA

Xylella fastidiosa Main Chromosome Gene Map

32 15 9~ ~~ ~ 9, @~~ ~ .... 19 23M

24

270001 =~~~~c:~~jj~~~-~J==:;;=3~::;;:JJ~l<=iC::~~~-!I~:=::;:;=;;~~~:;;ii!~;;:t:JQ~!!!~c;;;--.l!! I!! () • li> o o 2( 61 <:==J~ Q ~ pd IIIi> .... < I ~> rr-:::=-:J..........-ntl ~ Ç:::::J ... 259 26o z61 26'3 26'4 6 267 268 269 fl 1 273 274 m 276 m 218 21~ 2sl"fsi~fs4 285 286 287

262 265 270 272 283

810001 o no 848 849 851 852 853 863 <=::;8;;;68;;::J]c ::;;;86;;;9::J] 8~p -,4!r~ ~ ~~ •

850 871 878 ~

945001 .

1i?~9 9fo> L§§? ~-=-TsP"=- 999 •• 1001 1002 10o3 ~-=-~8o;no 1011 ~ 991 997 1007 1009 1013

1269 mo ~6 ~829~ 1~8~3G I 1286 1271 1273 1277 1284

1275 1285

1350001 =·~~~~~--~~~~~;?~!D~ç:~~~~~~~~~~~~~~~~~~----~~----~~~~~~!1.~~~~~~~~~;; ~ ó-~ ~<:il~~í>....-Dtl\J .-i!Y\~ 1- 1424 .. 1425 - 1426 - 1427 émlll'> b<::::' 139 399 1401 1402 1403 1405 1406 1 4of14iiil í4o9~~'14i3"i4 i414i5i41f 141814i9" 14Z2 1423 1428 14291431 14:

1400 1404 14 10 1412 1417 1420 1430 1433

2025001--~ 2134 íi352136 2137

I 2

1~9 1 285

1421 1432

~ ~ 1~5~~ 1554 ~ 1547

Si?~ 1716 I Si=f ~~ 1723 17241~~1 1728 • . 171 4 1720 1722 1726

1851 19521~~~1~ ~q63-~65 ~ ~7~1~7~

12~3~ ~ ~~~11,.. 71~ 71U

2149

Plasmid pXF51 Gene Map REPJ'Af2

REPj:/if-2

1-P'~~ 14 1 15 1 16

10

Plasmid pXF1 .3 Gene Map

17

185!1 1861 1864 1866 1868 1872 1862

~5 ~cg 2157 159216 M4 R6~ 2153 215!1 2162

2163

> ~ ~ ffi? ~fl ~16 9 9~1? ~I 37 21 23 28 35

Page 66: A vitória da ONSA

~ ~ ~5~ ~t~9 Si r5 '~ ?, g~~~ ~ ~ • • k59 ~~ ~ !!!!!!!!! 45 50

41 55 57 59 rANA·QQerQn

-rP991~8~ - t ~,S? ~ ~ ~~~S? ~ ~ fi~ ~~~Í88 ) > ~ 1!!!!11 189 190 1 1 11

3 179 181

~8 !?9 190 ri1 191 ! > 1~~ ~ I ! 91 195 1.1981~9 El1?1 303 t~ 307 308 30 310 311 311 31 314 315 317 318 ~~· 301 304 306 315

!•; 44 415 /{;~49\-!'J"""!'!!~ 439 457 417

608 > 609 610 611 611 614 ) <=f,?~6 ~~8 610 617619

-~-0~ ~·I )rr-:-i r. 760 761 'i62 163 "754165~767~ 769ho m rf3----ns' i l6 777 778 779 í?o (~1~-P 7~60~8c) 790 791 766 771 774 G 787 789

LR-7

881 83 884 ~8 889 cg~~~cg~~ ~ 90 899

~6~~~11 ~~4 1015 1016 1~17 (1 1019 1031 1~3~~35 1036 1037 I!!!!!!!!!!!!I! M . ...

1038 1039 1041 1041 1043 1045 1046 CToi?~1~51 1017 1019 1011 1013 1018 1033

1034 1040 1044 1051

~6~7·~es~~7 1~80 ~) 1 ~84SiJ ~~~ ~~ -1181 1181 1183 1189 119 151 1154 1156 1158 1160 1154 1166 1168 1170 1174 v

1161

1198 ~9~ 1303 1304 > 1~ófl 1306

1307

1311 -- ~ ! 1313 1314 115 1316

D

:ffii"Di? 2,9~~8:" ~ 1330 1310 1316 1328

r 1~P~~~ 1440 t'1~l 1443 :~49~ ~1t9 1450 > c::===::) o ,------',r-')

1451 145'1 ~1454 r=='laüi&,~ n l!!!!!!!!!llt c:::;;;) I I <'I _. 1468 I <==e:=:=J1469 147o 1~47~ ~145'6í4sl~fi460 i461 1461 1463 1464 1465 14661467 1436 1445 REPEAT-IN-X!P3-AND-X!P4 1

~ cg 1~~~~~~ 28~9~2?1~~0~1~03~ ~ 1556 1560

1558 1563 1565 1567 1573 1579 1581 1585 1589 1591 1593 1595 1597

1599

1739 •: 1 740 ·~~~~1~~o 1?s?~P9,~g4 1756 1758 1760 1763

1608

~9 1875 l=i?1~ ~ 1~p,~8~ 1887 ~~0~· 189~~ 1 1898 t~901 1 902 '~~4~1~7P<=ii? ~1 ~~ 1914 1915 1874 1879 1883 1886 1905 1909

~ 1167

1168

2169

1880 1884

1176

1016 1019 10311033 1036

~~~R831184 1185 ~(1 1~ 1~ hl? 19 1180 1181 1187 11891191 1194

1049 .. 1 M

2048 1 R-7

1196 8R19P ~TI6PiiS~õ? 1198 1100 1103

(a5 • ~~82~~2~12e~=x:~ii:(>goo 1911~•• ~~11 13311333 1?~0~~~~~~~~8c

=:::) ..... _ < 1441 244:! 1444

G 1315 1317 1319 1321 1323 1335 1337 13451347 1310

1445

1713

- 1446,- 1447 1 1448 <====1449 o ~ h .... .-rd~---'>0 .... - li (h~ t::Jc::::j~ llllltJ') • 1450 1451 1451 1453 i45424551456245l'2459~2461246'3 1465 ~1467 '2469 14701471 1471 W3 1474 '24752476 247'7~ 1 2456 1461 1464 1468 1478

1591 ~5 ~ ~ ~1~00 ~~311t15 . 2607 ~ ~1~10~11 ~13~'1?~

tm~A~5~ lr1?1f1! 1718

1719

1711 ! 1111 I 1713 1714 1715

1501 1504

1716 .. 91~PCffi? 2717 2730 1731

- lntermediarymetabo lism ~ Energymetabolism

c;] Regulatory func!IOns

2734

- Biosynthesis of small molecules - Aminoacidbiosynthesis I!!III Nucleotidebiosynthesis

1----------i lkb

1611 1616

:~~ 2737

2738

CJ Macromolecule metabolism - DNAprocess1ng

- RNA processing g cellstructure - Undefined Category D Cellularprocesses

Page 67: A vitória da ONSA

rRNA-operon

81 ~~ ~4~ ~~~~~t~ Poo 1~ 102 1o3 1 ~~ c 98

204 2~8ó7z?c::::m=>~ ~~1!!!!!!!!12.251!!!!!!~-~~2·26· E~..,. 219

~ 1 32p 323 >~l9317~go3~2~~ 339 ~39?3~1 1 352 354

329 331 333 336 334337

475 47~7.7

341 345

478

349 350

. 89 9 cg~~~~ 6~~ ~6~P~l!F~ ~~ ~5-=-~6~~6~p ~ JP~6; 637 639 643 646 649 663 666

793 794 795 796 797 798 806 167~~~p8~~ 816 808 813 815

920 9~19~p~~rg~ ~~2 933 916 918 923 931

L

506 508 I ~ 511

668 669

I~ ~o ~56· 1~6~~ e~ 1063 1064 1065 1066 1067 ~ 1069 1071 1070

1072 1073~ 1078 1

10tl : 1081 I, 1~83~1~88ó@o Poo? ~3 ~ ~ 1055 1057 1059 LE 1074 1080 1084 1086 1089 1092 1095

al

1196 1213 ,9} ~ R,P ,~,9 1220 1224 1229 1199 1203 1205 1207 1215 1218

1208

1~1~~1~3~~ 134}·~ 13471 ~~5~ 1353 ~,r~~ 1363 864~~ 1369 1 1~7~~ 1336 1340 1342 1349 1352 1356

1343

l l l 1473 1 1474 ~~7° 1,12 1478

1479

~~ 1613

1~ 5Si?1~1 ~ ~.-1616 1619

s:- 14~2~ 1488 1481

1~22 ~~~~9~ 1~3~·1~31ó . 1635

1636

1496 1497

1640

:g/;:lg2<:;m l t!IOUflHIUIIIUI/Ut/IU/,. 1

~ ~1~~~~~'8Ss1 ~8~~9~9p ~~ l 1797

1: 1798 *fflr ~~\sõ1

1771 1778 1780 1789 1793 1795 1801 1791

1367

1498

1641

1501

~ 16451646 1644

1924 ~ 1926

! ?>~<'1 ...., _ _ 1 2 i932i933 19341935

1929 9 1 1936 ~1~8 ~01 ~42 ~3

1939 1941 1944 ~I

9 )55 2058 2056

2059 ~60 2061 2083 2084 ' Í085 To?6 2091

-=--=-~~~ 22171

2218 1 2219 .~ ~ ~ 2224 2225 •;22~ 12~29 2230 2931 2232 2210 2212 2221 2228

~2~50~2~5~}";~7..-~·~ ~6~ 2365 2366 ~6t 2369 ~ 2971. @1-~ 23~~2~1 SE. 2351 2353 2356 2374 2377 2380

XIP2 2378 2382

2093 2094

2235 2237

2385 2386 ~~ 2388 .I 2482 ~~ .. @? Z492 _}4942496 2497 2498 2499 2500 ~ ~4 2505 ~~~~Ts?2 ~Ef4~2~2~212522 113 2524 1

2481 2484 2489 2491 2493 2495

-2~~ 2624 • 2~26~ 9s 2629 2621

2622

- Transpor!

•>ono 2742 2543 i745 2746

2744

- Mobilegeneticelements 1!!!!!!!!!1 PathogeniCityandadaptation O Conservedhypothetical C] Hypothetical

2627

X Frameshift/Point MutationiFSPM) 'flllll1 1ntron ~ tRNA (letter indicates aminoac1d) A

2503 2508 2513 2515 2517 2519 2509 2520

• 2632 2633 ~~ ··i~~~~~~t 2647 2648 264 2631 2635 2637 2639 G

2759 2775

Page 68: A vitória da ONSA

~,r.,~ ~~p~~l~7-r~ 1~0~ ~ lllP 124 ,~t 1~6 127 ~fuf 132 133 108 113 130

235 ~-.~8 239 ~CT.?292 243 244 2~~2~ 246 248

• 368 369 37 371 37 373 ~396 .. ·~o 381 3~p 384, fs1 3~9~~ 379

~ 383

8 ~~ 521 )

522 )

523 :ó)

524 526 ;~~8Tzt~o~ $J@ ~5 ~59Fi'Rg6~8 549 514 517 520 525 533 538 541 543 545 547

LR-5 XIPl

·- 1 -.~t..SJ ?,I I 684 1 1 686 6~7 m~5~7iCl?~' 7~6 674 675 680 683 705

682 688 692 694 698 700 702 678 690

826 ~~ 30 831 832 ~ 834 835 ai 837 838 ., ~~4 845

829

135000

134

270000

258

~1 405000 -392

540000

550

( 10800)()

L 1119 1120

====i:~1;9~;:~;954~!;~~19~~~1~95.-C~;19~--~1~95~9--...... ~1~950~.-~19~61 .. J1 ~9~1 ~4~~~19~65~:~~1;~;6:==,~iagil•,~~~1~~9~19~7~0 ~~5.7~1~~19l2~~~~~~19~75 .. ~~~~====-19;78;:2>~1~97":B~ 1955 1963 1974

~50~g? ~~~ 2663 )Ts20 S02~6p2~1t 2671 2677 2680 2653 2656 2658 2661 2665 2667 2669

2654

o

~ UJ o o :r: --' ::>

< o

"' f-z < "" lJ UJ f­z

Page 69: A vitória da ONSA

Table 3. Putative identification of Xyfella fastidiosa genes. Gene numbers correspond to those in Fig. 1. Percentages represent per cent identities relative to the most relevant data base hit. Conserved hypotheticals and per cent identities of genes with frameshift/stop codon in trame are not shown.

INTERMEDIARY METABDLISM/ DEGRADATION/Deg"dation XF0187 sulfite synthesis pathwayprotein XF1535 citrate synthase(gltA) 61% XFOB53 two-component system. sensor protein (phs) 37% of small molecules (cysO/amtA) 45% XF1548 dihydrolipoamide dehydrogenase (lpd) 58% XF0973 two-component system. sensor protein {flhS) 35%

XF1549 dihydrolipoamide S-succinyltransferase XF1625 two-component system. sensor protein {algZ) 40% XF2395 acetylxylan esterase (axeAJ 34% INTERMEDIARY METABOLISM/ENERGY METABOLISM. (sucB) 53% XF1849 two-component system. sensor protein (ntrB) 37% XF1250 arginine deaminase{rocf) 45% CARBON/Aerobic respiration XF1554 fumarate hydratase {fumC) 58% XF2535 two-component system. sensor protein {caiS) 34% XF1472 benzene 1.2-dioxygenase. XF1855 fumarate hydratase [fumBJ 30% XF2546 two-component system. sensor protein [pi IS) 37%

ferredoxin' protein[bedBl 37% XF0347 0-lactate dehydrogenase (dld1) 38% XF2596 isocítratedehydrogenase (icd) 49% XF2577 two-component system. sensor protein [actS) 25% XF0840 beta-galactosidase (bga) 71% XF1802 glycerol-3-phosphate XF2700 isocitrate dehydrogenase (icd) 75% XF2592 two-component system. sensor protein [phoA)38% XF0439 beta-glucosidase (bgiXI 41% dehydrogenase(gpsA) 46% XF1211 ma latedehydrogenase(mdh) 62% XF0846 beta-mannosidase precursor 35% XF2266 glycerol-3-phosphate XF0942 malate:quinone oxidoreductase (yojHI 57% BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/AMINO ACIOS XF1234 ca rboxyphosphonoeno lpyruvate dehydrogenase lglpO) 54% XF1550 oxoglu tarate dehydrogenase (odhA) 54% BIOSYNTHESIS/Giutamate familylnitrogen assimilation

phosphonomutase (prpB) 62% XF0310 NADH-ubi quinone oxidoreductase. XF1073 succinate dehydrogenase iron-sul fur XF2210 dioxygenase 4B% N001 subunit (nuoF) 53% protein(sdhB) 70% XF1 001 acetylglutama te kinase (a rgB) 30% XF1743 esterase(est) 46% XF0314 NADH-ubiquinone oxidoreductase. XF1072 succinate dehydrogenase. XF1000 acetylorni thine deacetylase(argE) 28% XF1610 fructokinase 36% N0010 subunit(nuoJ) 45% flavoproteinsubunit(sdhA) 69% XF1003 argin inosuccinate lyase (asl) 35% XF1740 glucose dehydrogenase 8 (ylil) 44% XF0315 NADH-ubiquinone oxidoreductase. XF1070 succinate dehydrogenase. XF0999 argininosuccinate synthase(argG) 36% XF1064 glucose kinase{glk) 41% N0011 subunit(nuoK) 69% membrane anchor subunit (sdhC) 38% XF1005 gamma-glutamyl phosphate reductase (proA) 51% XF1460 glucose kinase{glk) 35% XF0316 NADH-ubiquinone oxidoreductase. XF1071 succinatedehydrogenase. membrane XF1 004 glutamate 5-kinase 46% XF1965 haloalkane dehalogenase (dhaA) 30% N0012 subunit{nuol) 42% anchor subunit{sdhD) 36% XF2710 glutamatesymhase. alpha subunit XF2677 l·ascorbate oxidase {aao) 29% XF0317 NAOH-ubiquinone oxidoreductase. XF2548 succinyi-CoA synthetase. lgi1B/aspBI 53% XF1253 hpase (lipP) 46% N0013 subunit (nuoM) 50% alpha subunit{sucO) 71% XF2709 glutamate synthase. beta subunit(gltD/asp8)55% XF0781 lipase/esterase{estA) 25% XF0318 NADH-ubiquinone oxidoreductase.' XF2547 succinyi-CoA synthetase. beta subunit {sucC) 58% XF1842 glutamine synthetase{glnA) 64% XF1825 NAO(P)H steroid dehydrogenase (cdh) 35% N0014 subunit(nuoN) 43% XF1002 N-acetyl-gamma-glutamyl-phosphate XF1201 phosphoglycolate phosphatase (yfbT) 35% XF0309 NAOH-ubiquinone oxidoreductase. INTERMEDIARY METABOLISM/ENERGY METABOLISM. reductase 33% XF2470 phosphoglycolate phosphatase (cbbZC) 37% N002 subuOII(nuoE) 41% CAABON/ATP-proton motive force interconversion XF0998 ornithine carbamoyltransferase {argF) 36% XF2259 polyvinylalcohol dehydrogenase 22% XF0311 NAOH-ubiquinone oxidoreductase. XF2712 pyrroline-5-carboxylate reductase{proC) 49% XF0366 ribokinase{rbsK) 38% N003 subunit {nuoG) 38% XF1149 ATP synthase. A chain (atp8/unc8/pap0) 46% XF1427 succinylornithine aminotransferase XF0379 rubredoxin{rubA) 54% XF0308 NAOH-ubiquinone oxidoreductase. XF1145 ATPsynthase.alphachain/atpNuncA) 74% {argM/astC/cstC) 48% XF1819 threonine dehydratase catabolic (tdcB) 39% N004 subunit (nuoD) 58% XF1147 ATPsynthase. 8 chain (atpF/uncF) 45% XF11B1 triacylglycerollipase precursor {lip) 56% XF0307 NAOH-ubiquinone oxidoreductase. XF1 143 ATP synthase. beta chain {atpD) 78% BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/AMINO ACIOS XF0610 UDP-glucose 4-epimerase {galE) 27% N005 subuni t {nuoC) 63% XF1 148 ATP synthase. C chain (a tpE/uncE) 56% BIOSYNTHESIS/Aspartate family, pyruva te family XF2432 UTP-glucose-1-phosphate XF0306 NADH-ubiquinone oxidoreductase. XF1 146 ATP synthase. delta chain (atpH/uncH) 37%

uridylyltransferase (gta8) 82% N006 subuni t (nuo8) 87% XF1 142 ATP symhase. epsilon chain(atpC) 46% XF0114 2.3.4.5-tetrahydropyridine-2-carboxyla te XF0305 NADH-ubiquinone oxidoreductase. XF1 144 ATPsynthase.gammachain N-succinylt ransferase (dapD) 60%

INTERMEOIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEOIARY N007 subunit [nuoA) 53% (atpG/uncG/papC) 57% XF1818 2-isopropylmalate synthase(leuA) 47% METABOLISM/Amino sugars XF0312 NADH-ubiquinone oxidoreductase. XF2375 3-isopropylmalate dehydratase large

NOOB subunit (nuoH) 56% INTERMEOIARY METABOLISM/REGULATORY FUNCTIONS subunit (leuA) 63% XF0141 glucosamine--fructose-6-phosphate XFD313 NAOH-ubiquinone oxidoreductase. XF2374 3-isopropylmalatedehydratasesmall

aminotransferase(glmS) 54% N009 subunit{nuol) 60% XF1241 aconitate hydratase l(acnA/acn) ---% subunit (leuD) 79% XF1464 glucosamine--fructose-6- XF1316 ATP:GTP 3'-pyrophosphotranferase (reiA) 42% XF2372 3-isopropylmalate dehydrogenase (leuB) 78%

phosphateaminotransferase 47% INTERMEOIARY METABOLISM/ENERGY METABOLISM. XF0125 carbon storage regulator{csrA) 84% XF1121 5,10-methylenetetrahydrofolate XF2355 N-acetyl-beta-glucosaminidase (exo) 45% CAABON/Anaerobic respiration and fermentation XF2352 cold shock protein{scoF) 69% reductase{metF) 37% XF1465 N-acetylglucosamine-6-phosphate XF2476 extragenic .supressor {suhB/ssyA) 44% XF2272 5-methyltetrahydropteroyltriglutamate··

deacetylase (nagA) 39% XF1746 alcohol dehydrogenase {yahK) 81% XF2342 heat-inducible transcriptional homocysteine methyltransferase {metEI 56% XF2389 alcohol dehydrogenase {yahK) 78% repressor {hrcA) 40% XF1821 acetolactate synthase isozyme 11.

INTERMEOIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEDIARY XF1136 NADP-alcohol dehydrogenase 56% XF0122 le•A repressor{lexA) 76% large subunit{ilvG) 56% METABOLISM/Emner-Oouderoff XF1727 NADP-alcohol dehydrogenase {adh) 42% XF1182 lipase modulatm{act) 53% XF1473 aminotransferase (nifS) 47%

XF1734 NADP-alcohol dehydrogenase 56% XF1813 methanol dehydrogenase regulatory protein 53% XF2396 aminotransferase (aspC) 45% XFI 061 2-keto-3-deoxy-6-phosphogluconate XF1830 nitrile hydrataseactivator 46% XF0118 asparagine synthase 8 (asnB) 60%

aldolase (eda/hga/kdgA) 41% INTERMEOIARY METABOUSM/ENERGY METABOLISM. XF1843 nitrogen regulatory protein P-11 (glnB) 87% XF1371 aspartate-B-semialdehyde XF1062 6-phosphogluconate dehydratase (edd) 58% CAA80N/Eiec tron transpor! XF0352 pentaphosphate guanosine-3'· dehydrogenase(asd) 59%

pyrophosphohydrolase(spoT) 47% XF2100 asparty!/asparaginyl beta-hydroxylase (aspH) 28% INTERMEOIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEDIARY XF2460 c-type cytoch rome biogenesis XF21 45 phospha te regulon transcriptional XF2443 beta-alanine synthetase 62% METABOLISM/Giuconeogenesis membraneprotein(cycK) 52% regula tor(phoUI 43% XF2225 bilunctional aspartok inase/homoserine

XF2459 c·type cytochrome biogenesis protein (cycJ) 39% XF1275 poly(hydroxyalcanoa te) granule dehydrogenase I (thrA/thrA1/thrA2) 40% XF0977 ma late oxidoreductase (mae8) 57% XF2462 c·typecytochrome biogenesis protein(cycl) 52% associa ted protein (phaF) 20% XF11 16 bilunctional diaminopimelate XF1259 phosphoenolpyruvate synthase (ppsA/pps) 64% XF0620 c-typecytochrome biogenesis XF2691 ANA polymerase sigma-32 factor (rpoH) BD% decarboxylase/aspartatekinase(tysA) 33%

protein(coppertolerance)(dsbD) 32% XF1408 ANA polymerase sigma-54 factor (rpoN) 64% XF1999 branched-chain amino acid INTERMEDIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEOIARY XF2461 c-type cytochrome biogenesis XF1 350 ANA polymerase sigma-70 factor (rpoD) 63% aminotransferase{ilvE) 55% METABOLISM/Non-oxidative branch, pentose pathway protein/thioredo•in (dsbE/ccmG) 39% XF2239 ANA polymerase sigma-H factor (algU/algT) 56% XF0864 cystathionine gamma-synthase (metB) 57%

XF1328 cytochrome 8561 (yod8) 34% XF1407 sigma-54 modulation protein 44% XF1481 diaminopimelate epimerase (dapF) 45% XF0208 0-ribulose-5-phosphate XF1360 cytochrome C oxidase assembly factO! (cox0)41% XF0911 stringent starvation protein A XF1105 dihydrodipicolinate reductase{dapB) 34%

3-epimerase(rpe/dod) 76% XF1389 cytochrome O ubiQuinol oxidase. lsspA/ssp/pogl 46% XF0099 dihydroxy-acid dehydratase {i IvO) 73% XF2015 ribose-5-phosphate isomerase A {rpiA) 57% subunit I {cyoB) 69% XF0912 stringent starvation protein B (sspB) 42% XF0963 dihydroxydipicolinate synthase (dapA) 42% XF1936 transketolase 1 !tktNtkt) 63% XF1390 cytochrome O ubiQuinot oxidase, XF2165 llanscription-related protein(te•) 59% XF2211 enolase-phosphatase {masA) 50%

subunit ll{cyoA) 56% XF0962 transcriptional regulator {gcvA) 26% XF2224 homoserine kinase{thrB) 33% INTERMEDIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEOIARY XF1388 cytochrome O ubiquinol oxidase. XF1749 1/anscriptional regulator{opdE) 77% XF0863 homoserine 0-acetylllansferase {met2) 30% META80USM/Nucleotide interconversions subunit III {cyoC) 63% XF1858 llanscriptional regul~tor{exsB) 49% XF2465 homoserine 0-acetyltransferase 34%

XF1387 cytochrome O ubiquinol oxidase. XF2038 transcriptional regulator{paiB) 31% XF1822 ketol-acid reductoisomerase {ilvC) 59% XF1288 CTP synthetase {pyrG) 65% subunit IV(cyoD) 41% XF2228 transcríptional regulator(algH) 45% XF0116 succinyl-diaminopimelate XF1058 uridylate kinase (pyrH) 54% XF0253 electron transfer 1\avoprotein alpha XF2085 transcríptional regulator (AcrR family) 23% desuccinylase{dapE) 52%

subunit(etfA) 51% XF1254 !lanscriptional regulator {AraC family) {ara L) 34% XF2223 threonine synthase(thrC) 38% INTERMEDIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEOIARY XF0254 electron transfer flavoprotein beta XF0767 transcriptional regulator (ArsR family)(hlyU) 34% META80LISM/Phosphorus compounds subun it(etfB/etiS) 54% XF1540 transcriptional regula~o r (Crp/Fnr family) {clp) 85% BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/AMINO ACIDS

XF1298 electron trans fer flavoprotein XrDB21 transcriptíonal regulator (Fur fami ly)(zurl 38% BIOSYNTHES!S/Giyc ine-serine fam ilylsulfur metabolism XF0657 alkat ine phosphatase{phoA) 32% ubiquinone oxidoreductase (etf-00) 46% XF2344 transcriptional regulato r (Fur fami ly)(fur) B5% XF0904 ATP-binding protein (ybeZ) 55% XF0557 electron trans fer protein azurin I {azl) 49% XF1463 transcríptional regulator {lacl family) 32% XF0603 cystathionine beta-synthase (cysB) 31% XF2590 exopolyphosphatase(ppx) 42% XF0983 ferredo~in 56% XF0972 transcriptional regulato r XF0128 cysteine syn thase 27% XF2591 polyphosphate kinase (ppk) 33% XF1964 ferredoxin (ykgJ) 47% (luxA/UhpA family)(agmR/glpA) 38% XF0831 cysteine synthase{cysK) 51%

XF2601 ferredoxin 70% XF2608 transcriptional regulator XF2206 0-3-phosphoglycerate dehydrogenase (ser A) 62% INTERMEDIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEOIARY XF0547 ferredoxin ll(ydgM) 54% (luxA/UhpA family)(gacA) 44% XF2326 phosphoserine aminotransferase {serC) 49% METABOLISM/Pool, multipurpose conversions XF0053 flavohemoprotein {fhp) 40% XFOB33 transcriptional regulator (lysA family) {cysB) 39% XF0946 serine hydroxymethyftransferase (glyA) 71%

XF2082 oxidoreductase 31% XF1132 transcriptional regulator{lysA family){act) 33% XF2255 acetyl coenzyme A synthetase {acs) 61% XF1990 thioredoxin{yneN) 30% XF1 730 llanscriptional regulator /LysA family) {yafC) 35% BIOSYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/AMINO ACIDS XF1037 adenosylhomocysteinase (ahcY) 65% XF0909 ubiquinol cytochrome C oxidoreductase, XF1752 llanscriptional regulator{lysR family) 80% BIOSYNTHESIS/Aromatic amino acid family XF0880 carbonic anhydrase {yadf) 46% cytochrome 8 subunit {petB) 56% XF1768 llanscriptional regulator (lysR family) {ycjZ) 45% XF2095 carbonic anhydrase 32% XF0910 ubiquinol cytochwme C oxidoreductase, XF0216 transcriptional regulator {MarR family)(prsX) 22% XF1334 3-dehydroquinate synthase {aroS) 47% XF2249 deoxyxylulose-5-phosphate synthase (dxs) 55% cytochrome Cl subunit (petC) 48% XF1354 transcriptional regulator{MarR family)(yybAl28% XF2324 3-phosphoshikimate XF1889 ferredoxin-NAOP reductase {fpr) 59% XF0908 ubiquinol cytoch10me C oxidoreductase. XF1490 transcriptional regulator {MarR/EmrR family) 26% 1-carboxyvinyltransferase(aroE) 46% XF2268 glycerol kinase{glpK) 59% iron-sulfursubunit{petA) 52% XF1996 transcriptional regulator {PbsX family) 35% XF0212 anthranilate phosphoribosyltransferase {trp0)48% XF0181 glycine cleavage H protein (gcvH) 48% XF0061 transcriptional repressor {korB) 28% XF0210 anthranilatesynthasecomponent I (trpE) 57% XF0183 glycine cleavage T protein{gcvT) 55% INTERMEDIARY METABOLISM/ENERGY METABOLISM. XF2062 transcríptional repressor {korC) 69% XF0674 anthranilate synthasecomponent I (trpE) 36% XF1385 glycine decarboxylase (gcvP) 57% CARBON/Giycolysis XF1920 Trp operon transcriptional rep ressor (trpA) 36% XF1914 anthranilate synthasecomponent I (trpE) 37% XF2160 hydroxyacylglutathione hydrolase (gloB) 45% XF1094 tryptophan repressor binding XF0211 anthranilate synthasecomponent 11 (trpG) 67% XF2171 inorganicpyrophosphatase(ppa) 59% XF0274 6-phosphofructokinase {pfkA) 31% protein(wrbA) 39% XF1915 anthranilate synthasecomponent 11 (trpG) 43% XF1399 lactoylglutathione lyase {gloA) 63% XF 1291 enolase (enol 63% XF1133 llyptophan repressor binding protein 33% XF0036 aromatic-amino-acid aminotranferase {tyrB) 55% XF0392 methionineadenosylt ransferase(metK) 70% XF0826 fruc tose-bisphosphate aldolase 52% XF1733 llyptophan repressor binding protein 31% XF0047 catabolic dehydroquinase (aroO) 65% XF0913 tropinone reductase 43% XF0232 glucose-6-phospha te isomerase (pgi) 79% XF1455 two-component system. hybrid XF1141 chorismatemutase 25%

XF0457 glyceraldehyde-3-phosphate sensor/regu!atory protein 28% XF2338 chorismatemutase 29% INTERMEDIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEOIARY dehydrogenase(gapA) 6B% XF0322 two-component system. regulatory XF1369 chorismate synthase{aroC) 62% METABOUSM/Sugar-nucleotide biosynthesis. conversions XFOB23 phosphoglycerate kinase {pgk) 60% proteinUctD) 45% XF0213 indole-3-glycerol phosphate synthase (trpCl 63%

XF1893 phosphoglyceromutase (gpmNgpml 56% XF0389 two-component system. regulatory XF1374 N-{5'-phosphoribosyl) anthranilate XF0609 GDP-mannose 4.6 dehydratase (gmd) 50% XF0824 pyruvate kinase type ll(pykA) 50% protein{popP/IeuP/phoP) 54% isomerase (trpF) 43% XF2279 nucleotidesugarepimerase{wbnF) 51% XF0303 triosephosphate isomerase {tpiNtpi) 48% XF0450 two-component system. regulatory XF2325 P-protein{aroO/pheA) 75% Xf0260 phosphoglucomutase/ protein{piiH) 50% XF0026 phospho-2-dehydro-3-deoxyheptonate

phosphomannomutase{xanA) 84% INTERMEDIARY METABOLISM/ENERGY METABOLISM. XF1113 two-component system. regulatory protein 30% aldolase{aroGI 61% XF1468 phosphomannomutase (mrsA) 55% CARBON/Oxidat.ve branch. pentose pathway XF1626 two-component system. regulatory XF0624 shikimate 5-dehydrogenase {aroEI 43% XF0259 phosphomannose isomerase-GDP- protein(algR) 47% XF1335 shikimate kinase (aroK) 40%

mannose pyrophosphorylase{xanB) 84% XF1063 6-phosphogluconolactonase {pgl) 35% XF1848 two-component system. regula!Ory XF1376 tryptophan synthase alpha chain {trpA) 46% XF1606 UDP-glucose dehydrogenase [ugd) 63% XF1065 glucose-6-phosphate 1-dehydrogenase (zwf) 46% protein{glnG/ntrC/glnT) 51% XF1375 tryptophan synthase beta chain (trpB) 65%

XF2336 two-component system. regulatory INTERMEDIARY METABOLISM/CENTRALINTERMEDIARY INTERMEDIARY METABOUSM/ENERGY METABOLISM. protein{coiR) 51% BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/AMINO ACIDS METABOLISM/Sulfur metabolism CAABON/Pyruvate dehydrogenase XF2534 two-component system. regulatory BIOSYNTHESIS/Histidine

protein{coiR) 59% XF1497 3'-phosphoadenosine XF0869 dihydrol ipoamide acetyltranferase(pdhB) 52% XF2545 two-component system. regulatory XF2216 amidotransferase lhisH) 43%

5'-phosphosulfate reductase(cysH) 57% XF0868 dihydrol ipoamidedehydrogenase(lpdA/Ipd) 57% proteinlpi iR) 58% XF2220 ATP phosphoribosyl transferase (hisG) 43% XF150 1 ATPsulfurylase.la rge subunit [nodO) 55% XF0669 pyruvate dehydrogenase (aceE) 56% XF2578 two-componen t system. regulato ry XF2214 cyclase lhisF) 61% XF1500 ATP sulfurylase. small subun it (cysD) 67% proteinlactR) 40% XF2219 histidinol dehydrogenase(hisO) 50% XF1499 NADPH-sullite reductase. flavoprotein INTERMEDIARY METABOLISM/ENERGY METABOLISM. XF2593 two-componen t system. regulatory XF2218 histidinol-phosphate aminotransferase (hisC) 42%

subunit(cysJ) 40% CARBON/TCA cycle protein(phoB) 56% XF2217 imidazoleglycerolphosphate XF1 498 NADPH-sulfite reductase. iron -sulfur XF0323 two-component system. sensor protein {tctEJ 31% dehydratase/histidinol-phosphate phosphatase

protein (cysl) 52% XF0292 aconitate hydratase 2{acn8) 72% XF0390 two-component system. sensor protein {pho0)36% bifunctional enzyme(hisB) 50%

Page 70: A vitória da ONSA

XF2213 phosphoribosyi·AMP cyclohydrolase/phosphoribosyi-ATP pyrophosphatasebifunct ional enzyme(hisl/hisiE) 56%

XF2215 phosphoribosylformimino-5-aminoimidazole carboxamideribotideisomerase(hisA) 44%

81DSYNTHESIS DF SMALL MDLECULES/NUCLEDTIDES BIOSYNTHESIS/Purine ribonucleotides

XF0587 5'-phosphoribosyl-5-aminoimidazole synthetase(purM/purGI 59%

XF0585 5'-phosphoribosylglycinamide transformylase(purN) 43%

XF0275 adenylate kinase (adk) 47% XF1553 adenylosucc inate lyase(purB) 57% XF0455 adenylosucc inate.s',lll thetase(purAI 59% XF1949 amidophosphoribosyltransferase(purF) 61% XF1975 bifunctiona l purine biosynthesis

protein (purH) 59% XF2429 glutamine amidotransferase (guaA) 68% XF1976 glycinamide ribonucleotide synthetase (purO I 64% XF0560 GMP synthase 37% XF1503 guanylatekinase(gmk/spoR) 52% XF2430 inosine-5'-monophosphate

dehydrogenase(guaB) 64% XF0458 nucleosidediphosphatekinase(ndk) 68% XF2644 phosphoribosyl pyrophosphate

synthetase(prsA/prs) 60% XF2671 phosphoribosylaminoimidazole

carboxylase, ATPase subunit(purK) 50% XF2672 phosphoribosylaminoimidazole

carboxylase.catalyticsubunit(purE) 66% XF0205 phosphor ibosylaminoimidazole-

succinocarboxamidesynthase(purC) 53% XF1423 phosphoribosylformylglycinamid ine

synthetase(purl/purl) 50%

81DSYNTHESIS DF SMALL MDLECULES/NUCLEDTIDES BIOSYNTHESIS/Pyrimidine ribonucleotides

XF2226 aspartatecarbamoyltransferase(pyrBI 52% XF1107 carbamoyl-phosphate synthase

largechain(carB/pyrA) 68% XF1106 carbamoyl-phosphate synthase small

chain(carA) 68% XF2439 cytidylatekinase(cmkA) 48% XF0988 dihydrooro tase (pyrC) 30% XF2571 dihydroorotatedehydrogenase(pyrO) 51% XF0153 orotate phosphoribosyl transferase (pyrE) 51% XF0034 orotidine5'-phosphatedecarboxylase(pyrF) 41%

81DSYNTHESIS DF SMAll MDLECULES/NUCLEDTIDES Bl OS YN TH E SI S/2 '-Deoxyr i bonuc I e o ti des

XF0762 deoxycytidinetriphosphatedeaminase(dcd) 65% XF1441 phosphohydro lase(orfUll 45% XF1196 ribonucleoside-diphosphate reductase

alphachain(nrdA) 44% XF1197 ribonucleoside-diphosphate reductase

betachain(nrdB) 34% XF1448 thioredoxin reductase(trxB) 70% XF0580 thymidylate kinase 39%

81DSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/NUCLEOTIOES BIOSYNTHESIS/Salvage of nucleosides and nuc leotides

XF2089 5'-nucleotidase 42% XF2150 diadenosine tetraphospha tase (apaH) 44% XF0150 dUTPase(dut/dnaS/sof) 59% XF1831 formyltetrahydrofolate deformylase (purU) 47% XF2354 hypoxanthine-guanine

phosphoribosyltransferase(hpt) 27% XF2599 phosphodiesterase-nucleotide

pyrophosphataseprecursor 39% XF2353 purinenucleosidephosphorylase 45% XF2332 thymidylatesynthase(thyA) 70%

810SYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/SUGARS ANO SUGAR NUCLEOTIOES 810SYNTHESIS

XF1297 gluconolactonase precursor XF0608 mannosyltransferase (mtfAI

37% 38%

BIDSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Biotio

XF1357 8-amino-7-oxononanoate synthase (bioF) 42% XF0189 adenosylmethionine-8-amino-7-oxononanoate

aminotransferase(bioA) 47% XF1356 biotin biosynthesis protein (bioH/bioB) 36% XF0064 biotin synthase(bioB) 60% XF2099 biotin synthesis protein (bioC) 36% XF0356 cytochrome P-450 hydroxylase 37% XF0377 cytochrome P450-like enzyme (biol) 37% Xf2477 dethiobiotin synthetase (bioD) 44%

BIDSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/ COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Folic acid

XF0228 2-amino-4-hydroxy-6-hydroxymethyldihydropteridine pyrophosphok inase(foiK) 50%

XF1456 2·amino-4 -hydroxy-6-hydroxymethyldihydropteridine pyrophosphokinase(foiK) 35%

XF2431 bifunctional methylenetetrahydrofolate dehydrogenase/methenyltetrahyOrofolate cyclohydrolase (foi O) 58%

XF2331 dihydrofolate reductase type III 43% XF0436 dihydroneopterin aldolase (foiBI 50% XF0091 dihydropteroate synthase(foiP) 52% XF1946 folylpolyglutamate synthase/dihydrololate

synthase(loiC/dedC) 44% XF1983 GTPcyclohydrolase I (folE) 52%

BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/lipoa te

XF1270 lipoate biosynthes is protein B(lipB) 55% XF1269 lipoic acid synthetase (lipA/Iip) 60%

810SYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Molybdopterin

XF0466 molybdopterin biosynthesis protein (moeBI 53% XF1545 molybdopterin biosynthesis protein 42%

BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/CDFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Pantothenate

XF0229 3·methyl-2-oxobutanoate hydroxymethyltransferase(panB) 55%

XF0231 aspartate l·decarboxylase precursor lpanO) 53% XF0230 pantoate--beta-alanine ligase lpanC) 46%

810SYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Pyridoxme

XF0060 pyridoxal phosphate biosynthetíc proteinlpdxJI 49%

XF0839 pyridoxal phosphate biosynthétic protein(pdxA) 50%

XF1337 pyridoxamine 5'-phosphate oxidase lfprA) 52%

BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/COFACTORS PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Pyridme nucleotides

XF1924 L·aspartateoxidase 40% XF1961 NH3·dependen t NAO synthetase lnadE/adgA)47% XF1097 nicotinate phosphoribosyltransferase (pncB) 43% XF1925 nicotinate-mononucleotide

pyrophosphorylase(nadC) 54% XF1923 quinolinatesynthetaseAlnadA) 42%

BIOSYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS 810SYNTHESIS/Thiamio

XF1048 1-deoxy-0-xylulose 5-phosphate reductoisomerase(dxr) 46%

XF0621 phosphomethylpyrímidine kinase 45% XF0378 thiamin-phosphatepyrophosphorylaselthiE) 41% XF0594 thiamine biosynthesis lipoproteinApbE

precursor(apbE) 33% XF0783 thiamine biosynthesisproteinlthiG) 57% XF1888 thiamine biosynthesis proteín lthiC/thiA) 67% XF0956 thiamine-monophospha tekinase(thil) 44%

810SYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS, CARRIERS BIOSYNTHESIS/Riboflavin

XF1748 5-amino-6-(5-phosphoribosylamino)uracil reductase 21%

XF0954 6}-d imethyi·B-ribityllumazine synthase (ribH) 45% XF0953 GTPcyclohydrolase 11/3.4-dihydroxy-2-butanone

4-phospha tesynthase(ribA) 52% XF1992 riboflavin biosynthesis protein (r ibA) 35% XF2419 riboflavin biosynthesis protein (r ibF) 43% XF0952 riboflavinsynthasealphachain(r ibE) 45% XF0950 riboflav in-specific deaminase (ribD/r ibG) 51%

810SYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS, CARRIERS BIOSYNTHESIS/Thioredoxin, glutaredoxin,glutathione

XF0984 gamma-glu tamyltranspeptidase (ggt) 39% XF1428 glutamate-cysteine ligase precursor(gshll 57% XF2595 glutaredoxin(grxq 53% XF2394 glutaredoxin-likeprote in 54% XF1956 glutathione syn thetase (gshB/gsh-11) 53% XF1199 thioredoxin( trxA) 34% XF2174 thioredoxin(ybbN) 31% XF2698 thioredoxin (trxA/tsnC/fipA) 49%

810SYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Menaquinone. ubiquinone

XF0835 2·octaprenyl-6·methoxyphenol hydroxylase (ubiH/visB) 34%

XF2471 3-demethylubiquinone-93-methyltransferase (ubiG/pufX) 49%

XF0661 geranyl transt ransferase (farnesyl-diphosphate synthase)(ispA) 54%

XF0068 hydroxybénzoate octaprenyltransferase (ubiA/cyr) 52%

XF1391 octapreny l·diphosphate synthase (ispB/cel) 49% XF1538 ubiquinone biosynthesis protein (coq7) 29% XF1833 ubiquinone biosyn thesis protein(aarF) 43% XF1487 ubiquinone/menaquinonetransferase(ubiE) 58%

810SYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Heme. porphyr in

XF0017 coproporphyrinogen III oxidase. aerobic [hemFI 63%

XF2306 delta-aminolevulinic acid dehydratase [hemBI 65%

XF0566 lerrochelatase(hemH) 48% XF2302 glutamate-1·semialdehyde 2, 1-aminomutase

[hemll BD% XF2648 glutamyl·tRNA reductase (hemA) 76% XF1627 hydroxymethylbilane synthase (hemC) 52% XF1797 porphyrin biosynthesis protein (hemY) 20% XF1512 protoporphyrinogenox idase(hemK) 45% XF0832 sirohemesynthase(cysG) 45% XF1332 uroporphyrinogendecarboxylase(hemEI 54% XF1799 uroporphyrinogen-11 1 synthase(hemD) 27%

BIOSYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Cobalamio

XF1886 phosphoglycerate mutase (pgmA) 32%

810SYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/8iopterm

XF0193 6-pyruvoyl tetrahydrobiopterin synthase [ygcMI 63%

XF1457 pteridine reductase 1 (ptrl/ltdH) 37% XF2604 pterin-4-alpha-carbinolamine

dehydrataselphhB) 34%

BIOSYNTHESIS DF SMALL MOLECULES/COFACTORS. PROSTHETIC GROUPS. CARRIERS BIOSYNTHESIS/Others

XF1916 coenzyme F390 synthetase 25%

BIOSYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/FATTY ACID ANO PHOSPHATIOIC AGI O BIOSYNTHESIS

XF1 044 (3r)-hydroxymyristoyl ACP dehydrase (labZ) 49% XF2269 3-alpha-hydroxysteroid dehydrogenase 34% XF0173 3-oxoacyi-[ACP] reductase 42% XF0671 3-oxoacyi-[ACP] reductase (labG) 66% XF0673 3-oxoacyi-[ACP] synthase ll(fabF) 60% XF1970 3-oxoacyi-!ACP] synthase III 24% XF0319 acetoacetyi·CoA redu c ta se (phbB) 65% XF0203 acetyl-coenzyme Acarboxylase carboxyl

transferasesubunitalpha(accA) 64% XF1467 acetyl-coenzyme A carboxylase carboxyl

transferasesubunitbeta(accD/dedB/usg) 62% XF0672 acyl carrier protein (acpPI 72% XF0771 acyl carrier protein (acpC) 40% XF0572 beta-hydroxydecanoyi-ACPdehydratase

~~ ~% XF1639 beta-ketoacyi-[ACP) syn thasell (fabF/fabJ) 34% XF1817 beta-ke toacyi-[ACP] synthase III (fabHI 62% XF0048 biotin carboxyl carrier protein ol

ace tyi-CoA carboxilase (accB/fabE) 53% XF0049 biotin carboxylase subunitof

acetyl CoA carboxylase (accC/fabG) 76% XF1087 cardiolipinsynthase 33% XF1209 cardiolipinsynthase(cls/nov) 34% XF2716 ketoreducta~e 29% XF0670 malonyl CoA· ACP transacylase (fabO) 51% XF1049 phospha ti date cytidylyltransferase (cdsA/cds)36% XF1365 phosphat idylserinedecarboxylase(psd) 44%

810SYNTHESIS OF SMALL MOLECULES/POLYAMINES 810SYNTHESIS

XF0144 biosyntheticar9ininedecarboxylase(speAI 45% XF1539 S-adenCisyl methionine decarboxylase

proenzyme(speO) 66% XF0143 spermidinesynthase(speE) 41%

MACROMOLECULE METABOLISM/DNA METABOLISM/Replication

XF2680 ATP-dependent DNA helicase (rep) 43% XF0882 ATP·dependenthelicase(yoaA) 43% XF1229 ATP-dependenthelicase 43% XFOOOl chromosomal replication initiator (dnaA) 53% XF2552 DNA gyrase subunit A (gyrA) 57% XF0005 DNA gyrase subunit B (gyrB) 60% XF2556 DNA ligase (ligA/Iig/dnal/pdeC/Iop) 46% XF1103 DNA polymerase I (poiA/resA) 52% XF0136 ONA polymerase III holoenzyme chi subunit

[hoiCI 34% XF1807 ONA polymerase III subunit

(dnaX/dnaZ/dnaZXI 40% XF0204 DNA polymerase III, alpha chain

[doaE/poiCI 48% XF0002 ONA polymerase III. beta chain (dnaN) 51% XF0676 ONA polymerase III. de lta subunit (hoiB) 35% XF2178 DNA polymerase III, delta subunit (hoiA) 29% XF2157 DNA polymerase III, epsilon chain (dnaO) 49% XF0430 DNA pr imase (dnaG/dnaP/parB) 46% XF2025 DNA primase ltraC) 56% XF0920 ONA topoisomerase l(topA) 41% XF1776 ONA topoisomerase II I (topB) 48% XF0149 DNA/pantothenate metabolism

flavoprotein(dfp) 51% XF1935 glucose inhibited division protein (gidB) 45% XF2106 glucose inhibited division protein A (gidA) 65% XF1383 helicase. ATPdependen t (hrpA) 50% XF2689 primosomal protein N' (priA) 44% XF0361 rep licative DNA helicase (dnaB/groP/grpA) 53% XF1127 TidO protein (tidO) 61% XF1353 topoisomerase IV subunit(parC) 61% XF1286 topoisomerase IV subunrtB(parE) 64%

MACROMOLECULE META80LISM/DNA METABOLISM/Structural ONA binding proteins

XF2558 chromosome segregation protein (smc) 27% XF0446 ONA-binding protein (bbh3) 33% XF1998 DNA-binding protein (fis) 58% XF1190 histone-like protein(hbs/hbsU) 64% XF1943 histone-likeprotein 54% XF0482 single-stranded ONA binding protein (ssb) 49% XF1392 single-stranded DNA binding protein (ssb) 56% XF1558 single·s tranded DNA binding protein (ssb) 36% XF1644 single-stranded DNA binding protein (ssbl 54% XF1778 single-stranded DNA bind ing protein (ssb) 25%

MACROMOLECULE METABOLISM/ONA METABOLISM/Recombination

XF0354 ATP-dependent DNA helicase (recG) 55% XF1381 ONA helicase 54% XF2248 ONA repa ir prote in RecO (recO) 35% XF0003 DNA rephcation and repa ir RecF protein

(recF/uvrF) 32% XF1892 endonuclease V (deoxyinosine

3'endonuclease)(nfi) 53% XF0425 exodeoxyribonuclease V alpha cha in (recO) 38% XF0423 exodeoxyribonuclease V beta chain

(recB/rorA) 30% XF0422 exodeoxyribonuclease V gamma cha in (recC) 29% XF1425 integrase/recombinase (xerD/xprBI 53% XF0743 integration host factor, alpha subunit (himAI 73% XF2437 integration host factor, beta subunit (himD) 72% XF1809 recomb ination protein (recR) 54% XF2343 recombinat ion protein N (recN) 38% XF0123 recombination protein RecA (recAI 91% XF1110 single-stranded ONA exonuclease (recJ) 45% XF1483 site-specific recombinase (sss/xerC) 53% XF2028 site-specific recombinase(rin) 81%

MACROMOLECULE METABOLISM/DNA METABOLISM/Repair

XF2598 6-0-methylguanine-ONA methyltransferase (dal/dat1) 46%

XF1262 7,8-d ihydro-8-oxoguanine-triphosphatase (mutX) 38%

XF1909 A!G-specific adenine glycosylase (mutY /mutB) 46%

XFOOSO ONA helicase ll(uvrD/mutU/pdeB/rad/recl) 56%

XF0760 DNA mismatch repa ir protein Mutl (mutU 42% XF0148 ONA repair protein (radC) 41% XF1378 DN/\ repair protein (radA/sms) 61% XF1299 ONA repa ir system specific for alkylated

ONA [alk81 28% XF1326 DNA-3-methyladenine glycosidase (mag1) 35% XF1806 DNA-dama~e-inducible protein (dinD/pcsA) ---% XF2081 DNA-damage-inducible protein (dinJ) 57% XF0647 endonuclease III (nthl 67% XF2426 excinuclease ABC subunit A (uvrA) 70% XF0967 excinuclease ABC subunit B (uvrB) 83% XF2311 excinuclease ABC subunit C (uvrC) 50% XF0164 exodeoxyribonuclease 43% Xf2022 exodeoxyribonuclease I (sbcB/xonA/cpeA) 43% XF1933 exodeoxyribonuclease III (xthA) 46% XF0660 exodeoxyribonuclease small subunit (xseBI 39% XF0755 exodeoxyribonuclease Vlllarge subunit

(xseA) 41% XF0071 formamidopyrimidine DNA glycosylase

(mutM/fpg) 51% XF0170 formamidopyrimidine DNA glycosylase

(mutM/fpg) 51% XF1902 holliday junction bind ing protein,

ONA helicase (ruvB) 69% XF1904 holliday junction bind ing protein,

DNA helicase (ruvA) 42% XF1905 holliday junction reso lvase.

endodeoxyribonuclease(ruvC) 52% XF1716 misma tch repair protein (mutSI 54% XF0045 transcription-repair coupling factor (mfd) 49% XF2692 uracii-DNA glycosylase (ung) 55%

MACROMOLECULE METABOLISM/DNA METABOLISM/Restriction, modilication

XF1368 adenine-specilicmethylase 46% XF2297 DNA methylase 40% XF0641 DNA methyltransferase (sliiM) 31% XF1774 DNA methyltransferase --·% XF0924 DNA processing chain A (smf/dprA) 37% XF0935 methyltransferase 37% XF1968 methyltransferase(kpniM) 33% XF1804 site-specific DNA-methyltransferase (sphiM) 39% XF2313 site-specific DNA-methyltransferase 41% XF2724 type I restriction-modification system (hsdM) 25% XF0297 type I restriction-modificationsystem

DNA methylase ·--% XF2723 type I restriction-modification system

DNA methylase (hsdM) 44% XF2728 type I restriction-modification system

DNA methylase 61% XF2742 type I restriction·modificationsystem

DNA methylase (hsdM) 53% XF0295 type I restriction-modification system

endonuclease ··-% XF2721 type I restriction-modification system

endonuclease(hsdR1) 20% XF2725 type I restriction-modification system

endonuclease 53% XF2739 type I restriction-modificationsystem

endonuclease(hsdR) 42% XF0296 type I restriction-modilicationsystem

specificitydeterminant 27% XF2722 type I restriction -modificationsystem

specificityde terminant 21% XF2726 type I restriction-modificationsystem

specificityde terminant(hsdS) 24% XF2741 type I restriction-modilicationsystem

specificityde terminant(hsdS) 24%

MACROMOLECULE META80LISM/RNA METABOLISM/Ribosomal proteins

XF2438 30S ribosomal protein Sl (rpsA/ssyF) 67% XF1151 30S ribosomal protein S10 (rpsJ) 72% XF1174 30S ribosomal protein Sll(rpsK) 86% XF2631 30S ribosoma l protein S12(rpsl) 81% XF1173 30S ribosomal protein S13(rpsM) 85% XF1165 30S ribosoma l protein S14 (rpsN) 62% XF0238 30S ribosoma l protein S15 (rpsO/secC) 62% XF0107 30S ribosoma l protein S16 (rpsP) 65% XF1161 30S ribosomal protein S17 (rpsO) 51% XF2560 30S ribosomal protein S18 (rpsRI 70% XF1156 30S ribosoma l protein S19 (rpsSI 60% XF2580 30S ribosomal protein S2 (rpsB) 60% XF2421 30S ribosomal protein S20(rpsT) 54% XF0434 30S ribosomal protein S21(rpsU) 67% XF1158 30S ribosomal protein S3 (rpsCI 67% XF1175 30S ribosomal protein S4 (rpsD) 84% XF1169 30S ribosoma l protein S5(rpsE/spc) 71% XF2561 30S ribosoma l protein S6 (rpsF) 67% XF2630 30S ribosomal protein S7 (rpsG/rps7) 60% XF1166 30S ribosomal protein SB (rpsH/rps8) 56% XF1536 30S ribosoma l protein S9(rpsl/rps9) 68% XF2636 50S ribosomal protein l1 (rp iA/rpl1) 64% XF2635 50Sribosomal protein L10(rpiJ) 43% XF2637 50S ribosomal protein L 11 (rpiK/reiC) 69% XF1537 50S ribosomal protein L13 (rpiM) 71% XF1162 SOS ribosoma l protein L14 (rpiN) 80% XF1171 50S ribosoma l protein L15(rpl0) 48% XF1159 50S ribosoma l protein L16(tp1PI 69% XF1177 50S ribosoma l protein L17(rpl0) 80% XF1168 50S ribosomal protein L18(rp1Rl 53% XF0110 50S ribosoma l protein L19(rpiSI 65% XF1155 50S ribosoma l protein L2 (rp!B) 69% XF0740 50S ribosoma l protein L20 (rpiT) 72% XF2424 50S ribosoma l protein L21 (rpiU) 53% XF1157 50S ribosoma l protein L22(rpiV) 63% XF1154 50S ribosoma l protein L23 (rpiW) 52% XF1163 SOS ribosomal protern L24 (rpiX) 48% XF2643 50S ribosomal protelO L25 (rpiYI 48% XF2423 50S ribosoma l protein L27 (rpmA) 64% XF1206 SOS ribosoma l protein L28 (rpmB) 71% XF1160 50S ribosoma l protein L29 (rpmC) 50% XF1152 50S ribosoma l protein L3(rpiC/rpl3) 61% XF1170 50S ribosomal protein L30 (rpmO) 47% XF1534 50S ribosomal prote inl31 (rpmE) 57% XF1816 50S ribosomal proteinl32(rpmF) 75% XF1207 50S ribosomal protein L33 (rpmG) 73% XF2782 50S ribosomal protein L34 (rpmH) 76% XF0739 50S ribosomal protein L35 (rpml) 60% XF2440 50S ribosomal proteinl36(rpmJ) 65% XF1153 SOS ribosomal protein L4 (rpiDI 54% XF1164 50S ribosomal protein L5 (rp1E/rpl5) 63% XF1167 50S ribosomal proteinl6(rpiF) 52% XF2634 50S ribosomal proteinl7/L121rpll) 67% XF2559 50Sribosomal proteinl9(rpll) 52%

Page 71: A vitória da ONSA

MACROMOLECULE METABOLISM/RNA XF1940 peptide methionine sulfoxide reductase XF1046 outer membrane antigen (orna) 37% XF2538 fimbrial assembly protein (piiCl 56% METABOLISM/Ribosomes- maturation and modification {msrA/pms) 59% XF0384 outer membrane hemin receptor (phuR) 11% XF2539 fimbrial protein 48%

XF2642 peptidyl tRNA hydrolase {pth) 49% XF0343 outer membrane protein (mopB) 31% XF2542 fimbrial protein 53% XF0108 16S r RNA processing protein (rimM) 36% XF0644 peptidyl-prolyl cis.trans isomerase (mip) 38% XF0872 outer membrane protein {ompW) 30% XF0083 fimbrial subunit precursor 42%

XF2607 ribonuclease E (rne/ams/hmpl) 43% Xf0652 peptidyl-prolyl cis-trans isomerase (slyD\ 43% XF0873 outer membrane protein 43% XF0487 fimbrillin 37% XF1125 ribonuclease G !cafA/rng) 53% XF0838 peptidyl-prolyl cis-trans isomerase (surA) 32% XF1053 outer membrane protein (ompPl) 28% XF0538 fimbrillin 37% XF0939 ribosomallarge subunit pseudouridine XF1191 peptidyl-prolyl cis-trans isomerase (ppiO) 25% XF1123 outer membrane protein 34% XF0539 fimbrillin(fimA) 38%

synthase O (rluO/sfhB) 54% XF1212 peptidyl-prolyl cis-trans isomerase (ppiB/ppi) 60% XF1739 ou ter membrane protein (ramAl 43% XF1791 frmbrillin 48% XF2201 ribosomal protein lll methyltransferase XF1605 peptidyl-protyl cis-trans isomerase 36% XF2345 ou ter membrane protein (smpA) 38% XF0081 outer membrane usher protein precursor

(prmA) 46% XF0442 phosphatidyltransferase (ptr) 37% XF1024 outer membrane protein H.B precursor 42% lf1mDI 36% XF2532 ribosomal protein S6 modification protein XF0926 polypeptide deformylase (def/fms) 55% XF1811 outer membrane protein Slp precursor (slp) 31% XF1953 pilus biogenesis protein (piiJ) 46%

(rimK) ---% XF2156 protein phosphatase(yloO) 35% XF1547 peptidoglycan-associated outer membrane XF1954 pilus biogen"esis protein (pill) 33% Xf1200 ribosomal small subunit pseudouridine XF1446 protein transferase (aat) 51% lipoproteinprecursor(pcp/lpp) 29% XF2544 pilus biogenesis protein (piiB) 55%

synthase(rsuA) 42% XF2585 protein-l-isoaspartate XFOOJJ PilE protein (pilEI 37% XF1955 pilus protein (piiG) 82% XF0236 ribosomal-binding factor A (rbfA) 35% 0-methyltrans ferase (pcm) 34% XF0975 polyphosphate-selective porin O (oprO) 23% XF0031 PiiX protein(piiX) 28% XF0441 ribosomal-protein-alanine XF1051 ribosome recycli ng factor(frr) 58% XF0321 porin O precursor (oprO) 23% Xf0032 PiiYl gene product (piiYl) 32%

acetyltrans ferase(riml) 38% XF2244 signal peptidase I !lepB) 40% XF0028 pre-pilin like leader sequence (fimT) 37% XF1224 PiiYl gene product (piiYl) 30% XF2358 ANA methyltransferase (ygcA) 38% XF1437 thiol:disulfide interchange protein(dsbA) 39% XF1363 so luble lytic murein transglycosylase XF2537 pre-pilin leader peptidase(xpsO) 76% XF1972 tRNA/rRNA methylase (yibK) 57% XF0353 translation initiation inhibitor 54% precursor (s!t/sltYl 25% XF0029 pre-pilin leader sequence (pi IV) 33% XF1985 tRNA/rRNA methyltransferase !yjfH) 50% XF1632 twitching motility protein (piiU) 60%

MACROMOLECULE METABOLISM/PROTEIN CELL STRUCTURE/MUREIN SACCULUS. PEPTIDOGLYCAN XF1633 twitching motility protein (piiT) 74%

MACROMOLECULE METABOLISM/RNA METASOLISM/Chaperones XF0677 type 4 fimbriae assembly protein (piiZ) 62% METABOUSM/Aminoacyl tRNA synthetases. XF0852 alanine racemase !a Ir) 45% XF0479 type IV pilin (pilE) 35% tRNA modification XF0616 10k0a chaperonin (groES/htpA) 59% XF0799 0-alanine--0-alanine ligase B (ddiB/ddl) 51%

XF0615 60k0a chaperonin !mopA/groEL) 77% XF0855 lipoprotein {nlpD/IppB) 39% CEllULAR PROCESSES!TRANSPORT/Amino acids, amines XF0124 alanyl-tRNA synthetase !alaS/IovB) 56% XF1452 chaperone!loiA) 32% XF0416 lipoprotein precursor(vacJ) 36% XF0147 arginyl-tRNA synthetase {argS) 40% XF2233 OnaJ protein{dnaJ) 41% XF1715 monofunctional biosynthetic XF0408 amino acid transporter {yhdG) 43% Xf2563 asparaginyl-tRNA synthetase (asnS/tss) 66% XF2339 OnaJ protein{dnaJ) 59% peptidoglycan transglycosylase(mtgA) 50% XF2730 amino acid transporter{rhtC) 28% XF1856 aspartyl-tRNA synthetase (aspS) 53% Xf2340 OnaK protein (dnaK/grpF/groP/seg) 72% XF0759 N-acetylmuramoyl -l-alanine amidase XF2207 cationic amino acid transporter 43% XF0995 cysteinyl-tANA synthetase {cysS) 46% Xf0991 DnaK supressor 48% precursor(amiC) 45% XF2208 catronic amino acid transporter 41% XF1338 glutaminyl-tRNA synthetase {ginS) 54% XF0978 heat shock protein G {htpG) 58% XF2646 outer membrane lipoprotein precursor XF1891 di-tripeptide ABC transpor ter membrane XF0822 glutamyl-tRNA symhetase (gltX) 54% XF2341 heat shock protein GrpE(grpE) 38% (loiB/hemMI 29% protein(yciF) 35% XF1960 glycyl-tANA synthetase alpha chain XF1186 peptidyl-prolyl cis-trans isomerase(tig) 32% XF1896 outer membrane protein P6 precursor XF0656 glutamate symport protein {gltT) 28%

(glyO/glySIAII 74% (pal/ompP61 37% XF1937 proton glutamate symport protein {gltP) 35% XF1959 glycyl-tANA synthetase beta chain MACROMOLECULE METABOLISM/PROTEIN XF1614 penicillin binding protein(pbp4) 39%

(glyS/glySIBII 39% METABOLISM/Protein degradation XF0368 penicillin-binding protein 1 A (mrcA/ponA) 39% CELLULAR PROCESSES/TRANSPORT/Amons XF2222 histidyl-tRNA syn thetase (hisS) 36% XF0884 penicillin-binding protein 18(ponB) 41% XF2418 isoleucyl-tRNA synthetase (ileS/i lvSJ 54% XF2260 alanyl dipept idyl peptidase 30% XF1312 penicillin-binding protein 2(mrdA/pbp2) 38% XF0411 ABC transporter nitrate permease (nrtB) 26% XF2176 leucyl- tRNA synthetase (teuS) 58% XF0138 aminopeptidase A/1 (pepA/xerB/carP) 47% XF0792 penicillin-binding protein 3 (hsl/pbp8) 43% XF2141 ABC transporter phosphate binding protein XF1112 lysyl-tRNA synthetase (lysU) 56% XF1488 aminopeptidase N 36% XF0795 phospho-N-acetylmuramoyl-pentapeptide· (phoXI 67% XF2555 lysyl-tRNA synthetase {yjeA/genX) 47% XF2009 aminopeptidase P(pepP) 46% uansferase{mraY/murX) 59% XF2142 ABC transporter phosphate permease XF0927 methmnyl-tRNA formyltransferase (lmt) 56% XF1188 ATP-dependent Clp protease ATP XF2185 rare lipoprotein A(rlpA) 30% (pstC/phoWI 50% XF0549 methionyHRNA synthetase (metG) 54% binding subunit Clpx (clpX/IopC) 73% XF1309 rod shape-determining protein XF2143 ABC transporter phosphate permease XF0742 phenylalanyl-tRNA sinthetase beta chain XF1187 ATP-dependent Clp protease proteolytic (mreB/envB/rodY) 77% lpstA/phoTI 53%

(pheTI 42% subunit(clpP/IopP) 73% XF1311 rod shape-determining protein (mreO) 32% XF1344 ABC transponer sulfate binding protein (sbpl 64%

XF0741 phenylalanyl-tRNA synthetase alpha XF0381 ATP-dependent Clp protease subunit XF0907 soluble lytic murein uansglycosylase XF1345 ABC transponer sulfate permease chain (pheS) 59% (clp8/htpMI 69% precursor(yjbJ) 42% {cysU/cysT) 50%

XF0445 prolyl-tRNA synthetase {proS/drpA) 55% XF1443 ATP-dependent Clp protease subunit XF0797 UDP-N-acetylgtucosamine--N-acetylmuramyt- XF1346 ABC transpor ter sulfate permease {cysW) 49% XFD751 ribonuclease O (rnd) 31% (clpA/IopOI 61% {pentapeptide)pyrophosphoryt-undecaprenol XF0412 nitrate ABC transponer ATP-binding XF2781 ribonuclease P(rnpA) 37% XF1189 ATP-dependent serine proteinase la (murG) 47% protein{nrtO) 46%

XF1314 S-adenosylmethionine: tRNA (lon/capA/deg/muc/lopA) 64% XF0798 UDP-N-acetylmuramate--alanine ligase XF2144 phosphate ABC transpor ter ATP-binding ribosyltransferase-isomerase (queA) 52% XF2704 carboxyl-terminal protease {ctpA) 41% (murC) 53% protein (pstB/phOT) 65%

XF2286 seryHANA synthetase (serS) 59% XF1282 carboxypeptidase related protein 33% XF0276 UOP-N-acetylmuramate-l-alanine ligase XF1347 sulfate ABC transporter ATP-binding XF0736 threonyHANA synthetase (thrS} 59% XF0156 cysteine protease(cpr6) 28% (mpll 50% protein(cysA) 61% XF0109 tRNA (guanine-Nl-)-methyltransferase (trm0)51% XF0015 dipeptidyl-peptidase 28% XF1118 UOP-N-acetylmuramoylalanine--0-glutamate XF1362 tANAadenylyltransferase (cca) 52% XF1484 heat shock protein (hsiV/htpO) 65% ligase(murO) 29% CELLULAR PROCESSES/TAANSPORT/Carbohydrates, organic

XF0090 tANAde lta(2)-isopentenylpyrophosphate XF1485 heat shock protein (hsiU/htpl) 66% XF0793 UOP-N-acetylmuramoylalanyl-0-g lutamate·- acids.alcohols transferase (miaA/trpX) 49% XF0452 in tegral membrane protease (hf iK/hfiA) 33% 2.6-diaminopimelateligase(murE) 43%

XF1440 tRNA methyltransferase (trmU/asuE) 55% XF0453 integral membrane proteinase(hfiC) 36% XF0794 UOP-N-acetylmuramoyla lanyi-O-glutamyl·2,6 XF2446 ABC transporte r sugar permease 40%

XF1373 tANA pseudourid ine synthase A XF0280 leuc ine aminopeptidase (pepA) 34% diaminopimelate--0-alanyl-0-alanyl XF2447 ABC transporter sugar permease (lacF) 37% (truA/hisT/asuC/IeuK) 52% XF0435 0-sialoglycoprotein endopeptidase (gcp) 63% ligase(murF/mra) 41% XF2448 ABC transporter sugar-binding protein (mal E) 24%

XF0237 tRNA pseudouridine synthase B (truB) 42% XF0127 oligopeptidase A (priC/opdA/optAI 50% XF2572 UOP-N-acetylpyruvoylglucosamine XF0087 alpha-ketoglutarate permease symporter XF2475 tRNA/rANA methyltransferase 41% XF1479 peptidase(ptrB/tlp) 44% reductase{murB) 43% (kgtP/wiiAI 64% XF0428 tryptophanyl-tANA synthetase 34% XF1944 peptidyl-dipeptidase{dcp) 53% XF1050 undecaprenyl pyrophosphate synthetase XF0976 C4-dicarboxylate transpor! protein (dctA) 66% XF0169 tyrosyl-tRNA synthetase {tyrS) 53% XF2241 periplasmic protease {mucO) 47% (uppS/<thl 51% XF1462 glucose/galactose transporter (gluP) 31% XF0134 valyl-tRNA synthetase (vaiS) 51% XF0220 prolinedipeptidase(pepO) 33% XF1609 glucose/galactose transporter (gluP) 48%

XF1510 proline imino-peptidase{pip/xap) 81% CELL STRUCTURE/SURFACE POLYSACCHARIOES. XF2267 glycerot uptake facilitator protein(glpf) 39% MACROMOLECULE META80LISM/RNA META80LISM/RNA XF2330 proteinase{slpO) 22% LIPOPOLYSACCHARIOES, ANO ANT1GENS XF1406 HPr kinase/phosphatase {ptsK) 36% synthesis. modification, DNA transcription XF0267 serine pmtease (pspB) 28% XF0320 Mg++/citrate complex transporter

XF1026 serine protease !pspB) 27% XF1289 2-dehydro-3-deoxyphosphooctonate {citN/citH) 60% XF0192 ATP-dependent ANA helicase (rhiE) 52% XF1851 serine protease 25% aldolase{kdsA) 44% XF1402 phosphotransferase system enzyme I (phbl) 40% XF0252 ATP4-dependent ANA helicaSe (deaO) 55% XF1823 tail-specific protease(prc/tsp) 39% XF0105 3-deoxy-0-manno-octulosonic acid XF1403 phosphotransferase system HPr enzyme XF2696 ATP-dependent ANA helicase {rhiB/mmrA) 52% XF0816 zinc p10tease 40% transferase (kdtA/waaA) 44% lphbHI 52% XF0234 N utilization substance protein A {nusA) 56% XF2299 3-deoxy-manno-octulosonate XF1067 sugar ABC transporter ATP-binding protein 53% XF0227 polynucleotide adenyltransferase (pcnB) 48% MACROMOLECULE META80LISM/OTHER MACROMOLECULES cytidylyltransferase(kdsB) 50% XF2606 pseudouridy!ate synthase (riu C) 48% METABOLISM/Polysaccharides XF1419 acetyltransferase (tpxD/firA/omsA) 26% CELLULAA PROCESSES/TRANSPORT/Cations XF1176 ANA polymerase alpha subunit (rpoA) 87% XF0918 acyi·[ACP)-UDP-N-acetylglucosamine (lpxA) 32% XF2633 ANA polymerase beta subunit XF2714 alpha-l-fucosidase (fucAl) 36% XF1994 beta 1,4 glucosyltransJerase 29% XF2328 ABC transporter sodium permease (natB) 27%

(rpoB/groN/nitB/rif/ron) 67% XF2278 dolichol-phospha te mannosyltransferase XF0612 dolrchol-phosphate mannosyltransferase XF1844 ammonium transporter (amtB) 57% XF2632 ANA polymerase beta' subunit (rpoC/tabB) 71% (dpml) 24% (dmt) 24% XF0395 bac terioferritin (b!r) 61% XF1502 ANA polymerase omega subunit (rpoZ) 43% XF0887 mannosyltransferase (mtfA) 31% XF1638 dolichyl-phosphate mannose synthase XF2140 cation:proton antiporter(ybal) 57% XF2638 lfanscr iption antitermination factor (nusG) 60% related protein 34% XF2134 ferric enterobactin receptor {bfeA) 22%

XF0955 transcription termination factor (nusB/ssyB) 49% MACROMOLECULE METABOLISM/OTHER MACROMOLECULES XF0257 dTOP-4-dehydrorhamnose 3,5-epimerase XF2137 ferric enterobactin receptor (bfeA) 22%

XF2699 !fanscription termination factor Aho METABOLISM/Phospholipids ldbOI 75% XF0932 ferrous iron transpor! protein 47% {rho/nitA/psuA/rnsC/tsu) 72% XF0258 dTDP-4-keto-l-rhamnose reductase {rfbC) 54% XF0933 ferrous iron transpor! protein B (feoB) 52%

XF1108 transcriptional elongation factor{greA) 62% XF2310 CDP-diacylglycerol-glycerol-3-phosphate 3- XF0255 dTOP-glucose 4.6-dehydratase {rfbB) 76% XF1426 ion transporter 48% phosphatidyltransferase{pgsA) 49% XF0611 dTDP-glucose 4-6-dehydratase (rfbB) 63% XF0900 magnesium and cobalt transpor!

MACROMOLECULE METABOLISM/RNA META80LISM/RNA XF1031 glycerol-3-phosphate acyltransferase {plsB) 37% XF1637 glycosyl transferase{spsO) 29% protein(corA) 33% degradatmn XF1082 lipid A4'-kinase(lpxK) 38% XF1015 manganese transpor! protein (mntH2) 64%

CELL STRUCTURE/MEM8RANE COMPONENTS/Inn" XF0104 lipid A biosynthesis lauroyl acyltransferase Xf1401 Mg++ transporter (mgtE) 26% XF1257 otigoribonuclease !orn) 58% membrane {htrB/waaM) 40% XF1398 Na-+/H+ exchange protein 24% XF0239 polynucleotide phosphorylase {pnp) 64% XF1348 lipid A biosynthesis lauroyl acyltransferase Xf2019 Na+:H+ antiporter (yjcE) 42% Xf2615 ribonuclease 44% XF2780 60k0a inner-membrane protein 40% (htrB/waaM) 26% XF0324 periplasmiciron-bindingprotein{afuA) 24% XF2158 ribonuclease H (rnhA/rnh) 60% XF1640 ankyrin-like protein(ank2) 26% XF1042 lipid A disaccharide synthase (lpxB/pgsB) 45% XF0901 polaramino acid transporter (ybeX) 46% XF104\ ribonuclease Hll (rnhB) 55% XF2235 bifunctionat penicillin-binding XF0879 lipopolysaccharide biosynthesis protein (rfbU)26% XF1903 potassium uptake protein (kup/trkO) 48% XF2246 ribonuclease III (rnc) 50% protein IC precursor (pbpC) 47% XF2434 lipopolysaccharide core biosynthesis protein 37% Xf2329 sodium ABC transporter ATP-binding XF1505 ribonuclease PH (rph) 63% XF0082 chaperone protein precursor (ecpO) 40% XF0980 lipopolysaccharide synthesis enzyme (kdtB) 56% protein (natA) 47% XF2146 ribonuclease T (rnt) 47% Xf0851 D-aminoacid dehydrogenase subunit XF0778 0-antigen acetylase (oafA) 26% XF0599 TonB-dependent receptor for iron

ldadA/dadRI 54% XF1413 polysialic acid capsuleexpression protein transport(ybil) 47% MACROMOLECULE META80LISM/PROTEIN XF2334 diacylglycerol kinase (dgkA) 54% (kpsFI 45% XF1496 TonB-dependent receptor for iron METABOUSM/TranSiation and modification XF0340 disulf ide bond formati on protein B(dsbBI 33% XF2154 saccharide biosynthesis regutatory protein transpor t (yncD) 23%

XF2433 epim'erase/dehydratase protein (capO) 37% (opsXI 73% XF0367 voltage-gated potassium channel beta XF1018 arginine-tRNA-protein transferase (atei) 25% XF0256 glucose-1-phospha te thymidylyltransferase XF0176 sugar transferase 43% subunit 50% XF1436 disulfide oxidoreductaseldsbA) 38% (rfbAI 78% XF1045 UDP-3-0-!R-3-hydroxymyristoy!)-glucosamine Xf1834 disulphide isomerase 30% XF0375 inner membrane protein (yjdB) 36% N-acyltranslerase (lpxD/fir A/ssc) 41% CELLULAR PROCESSES/TRANSPORT!Protein. peptide secretion Xf2629 elongation factor GlfusA) 70% XF0103 membraneprotein 25% XF1646 UOP-3-0-(R-3-hydroxymyristoyl)-glucosamine XF2203 elongation factor P{yeiP! 39% XF0764 membrane protein 36% N-acyltransferase(lpxO/firA) 28% XF2455 heme ABC transporter ATP-binding XF2473 elongation factor P{efp) 63% XF0777 membrane protein {actll-3) 22% XF0486 UOP-3-0-13-hydroxymyristoyl] glucosamine N- protein(ccmA) 41% XF2579 elongation factor Ts {tsf) 50% XF2230 penicillin-binding protein 6 precursor (dacC) 47% acyltransferase{lpxD) 31% XF2456 heme ABC transporter membrane protein XF2628 elongation factor Tu (tufA) 82% XF0151 phosphomannomutase (algC) 45% XF0803 UOP-3-0-13-hydroxymyristoyl] N- !ccmB) 50% XF2640 elongation factor Tu (tufB) 82% XF1183 polysaccharide biosynthetic protein acetylglucosamine deacetylase {lpxC) 59% XF2457 heme ABC transporter mE!mbrane protein XF2553 initiation factoreiF-28. atpha 1vipA/tvi8) 52% XF1415 UOP-N-acetylglucosamine 1- !ccmC) 48%

subunit-related 50% XF2333 prolipoproteindiacylglyceryl transferase carboxyvinyltransferase (murA/murZ) 62% XF2261 oligopeplide transporter 40% XF1445 initiation factor IF-1 (infA) 73% (lgt/umpAI 48% XF1043 UOP-N-acetylglucosamine acyltransferase XFOB06 preprotein translocase SecA subunrt XF0235 initiation factor IF-2 {iniBI 49% XF1310 rod shape-determining protein (mreC) 37% (lp•AI 44% {secA/priD/azi/pea) 60% XF0737 initiation factor IF-J(infC) 60% XF1313 rod shape-determining protein (mrdB/rodA) 48% XF1172 preprotein translocase SecY subunrt XF0857 l·isoaspartate 0-methyltransferase {pcm) 47% XF1979 transmembrane protein lampE) 28% CELL STRUCTURE/SURFACE STRUCTURES lsecY/priAI 55% XF2417 lipoprotein signal peptidase{lspA) 45% XF1140 UDP·N-acetylglucosamine XF2639 preprotein translocase subunit{secE) 33% XF2298 low molecular weight phosphotyrosine pyrophosphorylase(glmU) 49% XF0077 fímbria! adhesin precursor (mrkO) 30% XF0224 preprotein translocase YajC subunit (yajC) 36%

protein phosphatase{stpl) 40% XF0078 fimbrial adhesin precursor (mrkD) 32% XF2685 protease IV(sppA) 40% XF0576 metallopeptidase 37% CELL STRUCTURE/MEM8RANE COMPONENTS/Outer XFOOSO fímbria i adhesin precursor (limA/pilA) 29% XF0225 protein-export membrane protein (secO) 44% XFOlll methionineaminopeptidase(map) 60% membraneconstituents XF0369 fimbrial assembly membrane protein (pi iM) 61% XF0226 protein-export membrane protein (secf) 38% XF2649 peptidechain release factor 1 XF0370 fimbrial assembly membrane protein(pi iN) 44% XF0304 protein-export membrane protein (secG) 43%

(prfA/sueB/uar) 61% XF2392 autolytic lysozyme llyc) 30% XF0371 fimbfial assembly membrane prote in (pi lO) 43% Xf1801 protein-export protein (secB) 43%

XF1111 peptide chain release factor 2(prf8) 66% XFOB47 beta-hexosaminidase precursor (nahAl 37% XF0372 fimbrial assembly protein (pi lP) 38% XF0562 sec-independent protein translocase XF0174 peptide chain release factor 3(prfC) 62% XF2184 membrane-bound lytic XF0373 fimbrial assembly protein(piiQ) 34% (tatC/mttBl 47%

transglycosylase (mltB) 36% XF0478 fimbrial assembly protein {piiYI) 33% XF0073 signal recognition particle protein(ffh) 63%

Page 72: A vitória da ONSA

XF1913 type V secretory pathway proteín (mttC) 46% XF2127 phage-related protein 24% XF1827 organic hydroperoxide resistance XF0591 virulence factor 48% XF2132 phage-related protein 34% protein{ohr) 70% XF2420 virulence factor (mviN) 39%

CELLULAR PROCESSES/TRANSPOR! /Othe< XF2290 phage-related protein 57% XF2586 ou ter membrane export factor XF0754 virulence protein (acvB) 39% XF2291 phage-rela ted protein 47% {toiC/mtcB/mukA/refl) 33% XF2679 virulence protein (acvB) 28%

XF0875 ABC transpor ter ATP-binding protein (yusC) 48% XF2292 phage-rela ted protein 50% XF2550 ou ter membrane hemolysin actívator XF0749 virulence regulator (xrvA) 47% XF0944 ABC transporter ATP-binding protein (yjjK) 69% XF2294 phage-related proteín 32% protein(hecB) 26% XF1493 virulence regulator (xrvA) 46% XF1077 ABC transporter ATP-binding proteín (ycfV) 55% XF2295 phage-related protein 53% XF1532 oxidative stress transcriptional regulator XF0506 virulence-assocíated protein E (vapE) 31% XF1081 ABC transpor ter ATP-binding protein (msbAl 41% XF2479 phage-related protein 32% (oxyR) 81% XF2121 virulence-associated protein E (vapE) 32% XF1223 ABC transporter ATP-binding protein {yadG) 54% XF2482 phage-related protein 21% XF1038 peptide synthase 13% XF1302 ABC transporter ATP-binding protein 41% XF2484 phage-related protein 41% XF2276 peptide synthase 26% ORFS WlTH UNOEFlNEO CATEGORY XF1409 ABC 11anspor1er ATP-binding protein 60% XF2501 phage-related protein 27% XF0619 periplasmic divalent cation tolerante XF1475 ABC 11anspor1er ATP-binding protein (ynhD) 63% XF2504 phage-related pmtein 44% protein lcutNcycY/cutA 1) 37% XF2149 ApaG protein {apaG/corO) 45% XF1602 ABC transporter ATP-binding protein 31% XF2505 phage-related protein 34% XF1729 phenylacetaldehyde dehydrogenase 61% XF1828 ATPase 28% XF2133 ABC transporter ATP-binding protein {yheS) 45% XF2511 phage-related protein 18% Xf1131 PmbA protein (pmbA/tldEJ 45% XF0961 bacterioferritin comigratory protein (bcp) 51% XF2568 ABC transporter ATP-binding protein (rfbE) 45% XF2522 phage-related protein 41% XF2135 polyketide synthase (PKS)(frnE) 35% XF1120 bifunctional OGTP-XF2582 ABC transporte r ATP-binding protein 41% XF2523 phage-related protein 52% XF2093 precursor of drug resistance protein pyrophosphohydrolase/thiamine phosphate XF2617 ABC transporte r ATP-binding protein {uup) 49% XF2524 phage-related protein 43% (acrA/mtcA/Iir) 41% synthase(mutT/thiEll 43% XF2695 ABC transporter ATP-binding protein (ltsE) 47% XF2526 phage-related protein 50% XF0769 pteridine-dependent deoxygenase {rapK) 34% XF1796 bifunctional transcriptional repressor of XF1474 ABC transporter membrane protein (ynhC) 33% XF2527 phage-related proteín 11% XF1530 subunit C of alkyl hydroperoxide reductase the biotin operon/bimin acetyi-CoA·carboxylase XF1476 ABC uansporter membrane protein 69% XF2528 phage-related protein 56% lahpCI 70% synthetase {birA/bioR/dhbB) 40% XF0874 ABC transporter permease protein 48% XF0500 phage-related repressor protein (racR) 50% XF1531 subunit F of alkyl hydroperoxide reductase XF1624 carboxylesterase {estB) 37% XF2567 ABC transporter permease protein (rfbO) 35% XF0696 phage-related repressor protein (rpcl) 19% lahpfl 77% XF0063 competente protein F (comF) 37% XF1604 ABC transporter vitamin 812 uptake XF1658 phage-related repressor protein (CI) 14% XF2614 superoxide dismutase IMN] {sodNsod) 78% XF1179 competente related protein {comMJ 52%

permease{btuEJ 44% XF1706 phage-related ta ii fiber proteín {gp37) 25% XF1921 superoxide dismutase IMN] precursor XF1078 ONA uptake protein {comA) 35% XF0406 export protein(ygjT) 54% XF0725 phage-related ta ii protein (gpl) 35% lsodA/sodMI 57% XF2243 GTP binding protein{lepA) 69% XF0039 large-conductance mechanosensitive XF0730 phage-related tail protein (gpT) 11% XF2778 thiophene and furan oxida tion protein XF1213 GTP-binding elongation factor protein (typA) 69%

channel(mscl) 51% XF0731 phage-related ta ii protein (gpU) 40% ithdF/,.mEI 47% XF0088 GTP-binding protein{hfiX) 54% XF0589 permease 18% XF0732 phage-related ta ii protein (gpX) 41% XF189B TolA protein {tolA) 21% XF0465 GTP-binding protein(yfgK) 46% XF2301 polysaccharide export protein (mrp) 63% XF0733 phage-related ta ii protein (gpO) 31% XF1897 ToiB protein precursor (toiB) 40% XF1430 GTP-binding protein(yihA) 51% XF12SB small conductance mechanosensitive XF2480 phage-related ta ii pmtein (gpX) 41% XF1900 TolO protein {tolO/Iii) 48% XF2422 GTP-binding protein(yhbZ) 55%

ion channel {yggB) 35% XF2481 phage-related ta ii protein (gpU) 40% XF1899 TolA protein {tolA) 34% XF1641 GTP-binding protein 68% XF2251 solute:Na+ symporter{ppa) 58% XF2487 phage-related tail protein (gpl) 35% XF0009 TonS protein (tonB) 71% XF1668 HicB-related protein 38% XF0281 transportprotein(yuef) 14% XF0508 phage-related terminase large subunit (gp2) 15% XF1957 TonS protein (tonS) 16% XF1192 integral membrane protein 49% XF0651 transpor! protein{yxaH) 33% XF0711 phage-related terminase targe subunit{gp2) 18% XF2287 TonS protein (tonS) 19% XF1927 integral membrane protein ---% XF1728 transpor! protein 17% XF2500 phage-related termina se large subunit {gp2) 28% XF2327 TonB protein (tonS) 18% XF2645 isopentenyl monophosphate kinase (ipk) 50%

XF2605 TonB protein (tonS) 36% XF0145 oxidoreductase {ydfG) 50% CELLULAR PROCESSES/CELL OIVISION MOBILE GENETIC ELEMENTS/PLASMIO-RELATEO FUNCTIONS XF2397 toxin secretion ABC transporter ATP-binding XF1744 oxidoreductase 71%

protein (hlyB) 61% XF1723 sugar-phosphate dehydrogenase (yrpG) 55% XF0659 celt cycle protein{mesJ) 41% XF2045 conjugal transfer protein{trbN) 76% XF1841 undecaprenol kinase (bacA) 38% XF1724 sugar-phosphate dehydrogenase (yrpGJ 55% XF0286 cell division inhibitor{suiA) 39% XF2046 conjugal transfer protein{trbl) 45% XF1322 cell division inhibitor {minC) 35% XF2048 conjugal transfer protein{trbJ) ---% PATHOGENICITY. VIRULENCE. ANO AOAPTATION/HOST CELL XF0093 cell division protein {hiiB/ItsH/mrsC/toiZ) 64% XF2049 conjugal transfer protein{trbl) 53% WALL OEGRAOATION pXF51 genes XF0094 cell division protein {ftsJ/mrsF) 51% XF2050 conjugal transfer protein {trbH) 45% XF0791 cell division protein{ltsl) 30% XF2051 conjugaltransfer protein!trbG) 65% XF1267 1.4-beta-cellobiosidase (cbhA) 46% INTERMEOIARY METABOLISM/REGULATORY FUNCTIONS XF0796 cell divisionproteinUtsW) 44% XF2052 conjugal transfer protein{trbF) 49% XF0818 endo-1.4-beta-glucanase {engXCA) 64% XFOBOO cell division protein{ltsO) 31% XF2053 conjugaltransfer protein{trbE) ---% XF2708 endo-1.4-beta-glucanase{egl) 47% XFaOOOI transcriptional regulator 31% XF0801 cell division protein{ltsA/divA) 45% XF2054 conjugal transfer protein {trbO) 68% XF0810 extracellularendoglucanase precursor XFa0057 transcriptional regulator {korA) 40% XFOB02 cell division protein {ftsZ) 59% XF2055 conjugal transfe r protein {trbC) 51% lengXCAI 33% XF1450 cell division protein {ltsK) 50% XF2056 conjugal transfer protein{trb8) 69% XFDB45 family 3 glycoside hydrolase {xyiA) 45% MACROMOLECULE METABOLISM/ONA XF1910 cell division protein (ltsY) 45% XF2058. conjugaltransfer protein(traF) 59% XF2466 polygalacturonase precursor (pgiA) ---% METABOLISM/Replication XF2557 cell division protein (zipA) 17% XF2059 conjugal transfer protein {traE) 73% XF2694 cell division protein (ltsX/ftsS) 31% XF2060 conjugal transfer protein {traO) 43% PATHOGENICITY, VIRULENCE. ANO XFa0061 single-strandbindingprotein(ssb) 54% XF1320 cell division topological specificity factor XF1759 conserved plasmid protein 35% AOAPT A TI ON/EXOPOL YSACCHAR I O ES XFaOOOJ topoisomerase I (topA/supX) 35%

(minEI 48% XF2066 conserved plasmid protein (yacB) 35% XF1657 cell filamentation protein(fic) 38% XF2161 conserved plasmid protein 30% XF2370 GumB protein (gumB) 67% MACROMOLECULE METABOLISM/ONA XF2281 chromosome partitioning protein 43% XF1061 DNA primase {traC) 44% XF2369 GumC protein (gumC) 62% METABOLISM/Recombination XF2282 chromosome partitioning protein {parA) 49% XF2444 pheromoneshutdownprotein(traB) 31% XF2367 GumO protein (gumO) 73% XF1785 chromosome partitioning related XF1589 plasmid stabilization protein 50% XF2366 GumE protein (gumE) 61% XFa0019 si te·specific recombinase{rin) 91%

protein{soj) 17% XF1590 plasmid stabilization protein 61% XF2365 GumF protein{gumF) 44% XF2247 GTP binding protein (era) 51% XF2031 plasmid stabilization protein (parO) 81% XF2364 GumH protein (gumH) 64% MOBILE GENETIC ELEMENTS/PLASMIO-RELATEO FUNCTIONS XF1084 partition protein{parA) 31% XF2032 plasmidstabilízationprotein{parE) 75% XF2362 GumJ protein{gumJ) 65% XF1321 septum site-determining protein (minO) 68% XF1574 plasmid-related protein {traN) 34% XF1361 GumKprotein(gumK) 69% XFa0001 conjugal transfer protein{tral/vir81) 46%

XF1679 plasmid-related protein (traN) 34% XF2360 GumM protein {gumM) 69% XFa0005 conjugal transfer protein(trbC/vu82) 31% CELLULAR PROCESSES/CHEMOTAXIS ANO MOBILITY XF1945 VirK protein (virK) 35% XFa0006 conjugaltransferprotein{traA/virB3) 39%

PATHOGENICITY. VIRULENCE. ANO AOAPTATION/SURFACE XFa0007 conjugal transfer protein (traB/vir84) 43% XF1952 chemotaxis-related protein kinase (chpA) 41% MOBILE GENETIC ELEMENTS/TRANSPOSON- ANO INTRON- PROTEINS XFa0008 conjugaltransfer protein (traC/virB5) 18%

RELATEO FUNCTIONS XFa0011 conjugal transfer protein {traD/virB6) 13% MOBILE GENETIC ELEMENTS/PHAGE-RELATEO FUNCTIONS XF0889 hemagglutinin-like secreted protein (pspA) 15% XFa0011 conjugal transfer protein (traE/VirBS) 33% ANO PROPHAGES XF2063 ONA-invertase (rin) ---% XF2196 hemagglut inin-like secreted protein (pspA) 35% XFa0013 conjuga l transfer protein (tra0/vir89) 34%

XF1930 resolvase{tnpR) ---% XF2775 hemagglutinin-like secreted protein (pspA) 35% XFa0014 conjugal transfer protein (traF/vir810) 40% XFOOB9 host factor·l protein(hfq) 91% XF1775 reverse transcriptase ---% XF1529 surface protein{hsf) 11% XFa0015 conjugaltransferprotein XF0719 phage-related baseplate assembly protein XF1931 transposase(tnpA) ---% XF1981 surface protein{hsf) 14% (traG/vir811) 41%

19PVI 31% XF2303 transposase (tnpA) 71% XF1516 surface-exposed outer membrane pr01ein XFa0016 conjugal transfer protein {traG/vlr04) 35% XF0723 phage-related baseplate aSsembly proteín XF032S transposase OrlA 64% (uspA1) 18% XFa0036 conjugaltransferprotein{trbN) 76%

lgpWI 40% XF0535 transposase OrlA 64% XFa0037 contugaltransferprotein(trbl) 45% XF0724 phage-related baseplate assembly protein XF0326 transposase Or!B ---% PATHOGENICITY. VIRULENCE. ANO XFa0039 con1ugal transfer protein (trbJ) 54%

lgpJI 46% XF0536 transposase OrfB 35% AOAPTATION/AOAPTATION. ATYPICAL CONOITIONS XFa0040 conjugal uansferprotein (trbl) 51% XF24BB phage-related baseplate assembly protein XFa0041 conjugal transferprotein (trbH) 44%

igpJI 46% PATHOGENICITY. VIRULENCE, ANO AOAPTATION/TOXIN XF0432 BrkB protein (brk) 33% XFa0042 conjugal transfer protein (trbG) 65% XF2489 phage-related baseplate assembly protein PROOUCTION ANO OETOXIFICATION XF0866 cobalt-zinc-cadmium resistance protein XFa0043 conjugal transfer protein(trbF) 47%

igpWI 40% (czcO) 53% XFa0044 conjugal transfer protein{trbE) ---% XF2492 phage-related baseplate assembly protein XF1726 2,5-dichloro-2,S-cyclohexadiene-1,4·diol XF0285 heat shock protein (htrA/degP/ptd) 43% XFa0047 nickase (taxC) 30%

igpVI 31% dehydrogenase{linC) 39% XF2625 heat shock protein (htpX) 53% XFa0027 plasmid maintenance protein {pemK) 48% XF0727 phage-related contractile ta ii sheath XF0243 acriflavin resistance protein (yerP) 13% XF2234 low molecular weight heat shock protein XFa0060 plasmid replication protein {incC) 34%

protein{fiR2) 46% XF2386 acriflavin resistance protein (yegN) 41% lhspAI 38% XFa0059 plasmid replication/partition protein 31% XF2485 phage-related contractile ta ii sheath XF2385 acriflavin resistance protein O {yegN) 50% XF1379 luciferase 31% XFa0029 plasmid stabilization protein{parE) 76%

protein{fiR2) 46% XF2407 bacteriocin 17% XF0837 organic solvem tolerante precursor XF0728 phage-related contractile ta ii tube protein XF0165 beta-lactamase induction signal transducer (imp/ostA) 29% PATHOGENICITY. VIRULENCE. ANO AOAPTATION/OTHER

lfiiR11 41% protein{ampG) 38% XF1623 periplasmic glucan biosyn thesis protein XF0683 phage-related DNA polymerase {dpol) 50% XF1611 beta-lactamase-likeprotein(pbp) 14% lmdoHI 37% XFa0052 virulence-associated protein O (vapO) 64% XF2525 phage-related DNA polymerase {dpol) 49% XF0010 biopolymer transpor! ExbB protein (exbB) 81% XF2682 periplasmic glucan biosyn thesis protein XF0513 phage-rela ted endolysin (lycV) 46% XF0011 biopolymer transpor! Exb01 protein{exb01) 78% lmdoGI 36% XF0631 phage-related integra se (int) 18% XF0012 biopolymer transpor! Exb02 protein {exb02) 81% XF0785 sulfur deprivation response regulator (sac1) 21% pXF1.3 genes XF0678 phage-related integra se (int) 17% XF2232 catalase/peroxidase (cpeB) 66% XF085B survival protein{surE) 60% XF1642 phage-related integrase{int) 18% XF2083 cation efflux system protein (czcA) 14% XF2622 tem per ature acclimation protein 8(tap8) 85% MOBILE GENETIC ELEMENTS/PtASMIO-RELATEO FUNCTIONS XF1718 phage-related integra se (int) 91% XF0262 colicin V precursor (cvaC) 36% XF0418 toluene tolerante protein (ng20) 14% XF2288 phage-related integrase(int) 16% XF0263 colicinV precursor (cvaC) 31% XF0419 toluene tolerance protein (ttg2C) 41% XFbOOOl replicationprotein 41% XF2530 phage-related integra se (int) 18% XF1948 colicin V production protein (cvpA) 31% XF0420 toluene tolerance protein (ttg28) 41% XF1564 phage-related lysozyme (lycV) 43% XF1220 colicin V secretion ABC transporter XF0421 toluene tolerante protein{ttg2A) 50% XF1669 phage-related lysozyme (lycV) 43% ATP-binding protein (cvaB) 40% XF2314 phage-related lysozyme (lycV) 42% XF1216 colicinV secretion protein{cvaA) 15% PATHOGENICITY, VIRULENCE. ANO AOAPTATION/OTHER XF0713 phage-related portal protein {gp4) 25% XF2084 component of multidrug efflux system (mexEI 28% XF2498 phage-related portal protein{gp4) 15% XF1341 copper homeostasis protein {cutC) 47% XF0290 aconitase(rpfA) 79% XF0485 phage-related protein 34% XF0132 copper resistance protein A precursor {copA) 61% XF1424 chitinase{chi) 43% XF0680 phage-related protein 56% XF0133 copper resistance protein B precursor (copBJ 38% XF1527 general secretory pathway protein O XF0682 phage-related protein 50% XF17"4] d11unorubicin C-13 ketoreductase (dnrU) 31% precursor(xpsO/pefO) 68% XF0684 phage-related protein 49% XF2148 dimethyladenosine transferase (ksgA/rsmA) 48% XF1517 general secretory pathway protein E XF0685 phage-related protein 53% XF2416 drug tolerance protein (lytB) 64% {xpsE/pefE) 81% XF0686 phage-related protein 41% XF0993 ctrug:proton antiporter (tetVl 14% XF1518 general secretory pathway protein F {xpsFJ 66% XF0704 phage-related protein 31% XF1765 drug:proton antiporter (mmr) 33% XF15l9 general secretory pathway protein G XF0705 phage-related protein 31% XF1029 glutaryi-7-ACA acylase precursor {gaa) 60% precursor{xpsG/pefG) 78% XF0707 phage-related protein 44% XF1890 glutathione perox idase-like protein{gpo) 50% XF1520 general secretory pathway protein H XF0710 phage-related protein 17% XF1210 glutathione S-transferase (gst) 38% precursorlxpsH) 67% XF1555 phage-related protein 34% XF0175 hemolysin III protein 48% XF1521 general secretorypathwayprotein I XF1570 phage-related protein 19% XF2398 hemolysin secretion protein D {hlyO) 39% precursor{xpsl/pefl) 55% XF1573 phage-related protein 17% XF0668 hemotysin-type calei um binding protein {frpC) 32% XF1522 general secretorypathwayproteinJ XF1645 phage-related protein 31% XF1011 hemolysin-type calcium binding protein (frpC) 30% precursor !xpsJ/pefJ) 56% XF1663 phage-related protein 47% XF2759 hemolysin-type calcium binding protein (frpCJ 35% XF1523 general secretory pathway protein K {pefK) 60% XF1675 phage-related pmtein 19% XF1934 Hetl protein (hetl) 35% XF1524 general secretory pathway protein L (pefl) 60% XF1678 phage-related protein 17% XF0244 membrane fusion protein (mexC) 15% XF1020 pathogeniclty-related protein 48% XF1763 phage-related protein 30% XF2384 membrane fusion proteín precursor (mtrC) 37% XF0720 prateie ki11er active proteín (higB) 33% XF1786 phage-related protein 41% XF2686 multidrug efflux protein{ydhE) 34% XF0711 prateie kil!er suppression protein {higA) 40% XF1864 phage-related protein 48% XF2094 multídrug-efflux transporter{acrF/envO) 50% XF0223 queuine tRNA-ribosyl transferase (tgt/vacC) 61% XF1869 phage-related protein 37% XF1732 NAD{P)H·dependent 2-cyclohexen-1-one XF0287 regulator of pathogenicityfactors (rpfB) 71% XFl870 phage-related protein 35% reductase{ncr) 40% XF1114 regulator of pathogenicitylactors{rpfC) 59% XF1875 phage-related proteín 36% XF1137 NonF-related protein{nonF) 34% XF1115 regulator of pathogenicityfactors(rpfFJ 67% XF1876 phage-related protein 36% XF1987 VacB protein (vacB) 46%