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CADERNO PEDAGÓGICO
Londrina 2008
1
Estrutura Organizacional
Governo do Estado do Paraná
Secretaria de Estado da Educação do Paraná
Núcleo Regional de Educação de Londrina
Universidade Estadual de Londrina
Programa de Desenvolvimento Educacional
Autoria
Cristiane Sanches de Medeiros Deliberador
Márcia Bastos de Almeida
(Orientadora)
Área de Atuação
Pedagogia
Londrina
2008
2
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO....................................... ............................................................... 4
UNIDADE 1 ................................................................................................................ 5
1.1 Aprofundamento Teórico ...................................................................................... 5
1.1.1 Texto 1............................................................................................................... 5
1.1.2 Texto 2............................................................................................................... 7
1.1.3 Texto 3............................................................................................................... 8
1.2 Sugestão de Vídeo ............................................................................................... 9
1.3 Atividades Para Reflexão...................................................................................... 9
UNIDADE 2 .............................................................................................................. 11
2.1 Aprofundamento Teórico .................................................................................... 11
2.1.1 Texto 1............................................................................................................. 11
2.1.2 Texto 2............................................................................................................. 14
2.1.3 Texto 3............................................................................................................. 15
2.3 Atividades Para Reflexão.................................................................................... 17
UNIDADE 3 .............................................................................................................. 19
3.1 Aprofundamento Teórico .................................................................................... 19
3.1.1 Texto 1............................................................................................................. 19
3.1.2 Texto 2............................................................................................................. 20
3.1.3 Texto 3............................................................................................................. 22
3.1.4 Texto 4............................................................................................................. 27
3.2 Atividades Para Reflexão.................................................................................... 29
UNIDADE 4 .............................................................................................................. 31
4.1 Aprofundamento Teórico .................................................................................... 31
4.1.1 Texto 1............................................................................................................. 31
4.1.2 Texto 2............................................................................................................. 33
4.2 Atividades Para Reflexão.................................................................................... 33
UNIDADE 5 .............................................................................................................. 34
5.1 Aprofundamento Teórico .................................................................................... 34
5.1.1 Texto 1............................................................................................................. 34
5.1.2 Texto 2............................................................................................................. 35
3
5.1.3 Texto 3............................................................................................................. 36
5.1.4 Texto 4............................................................................................................. 37
5.2 Atividades Para Reflexão.................................................................................... 38
UNIDADE 6 .............................................................................................................. 39
6.1 Aprofundamento Teórico .................................................................................... 39
6.1.1 Texto 1............................................................................................................. 39
6.1.2 Texto 2............................................................................................................. 40
6.1.3 Texto 3............................................................................................................. 42
6.2 Propostas Diferenciadas..................................................................................... 43
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... ...................................................... 48
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 49
4
APRESENTAÇÃO
Este caderno é um trabalho realizado de acordo com uma das
propostas do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná, que é um
programa inovador de capacitação continuada, estruturado em três grandes eixos de
atividades: atividades de integração teórico-práticas, atividades de aprofundamento
teórico e atividades didático pedagógicas.
Através de importante pareceria com o Ensino Superior, oferece a
possibilidade dos educadores voltarem à academia e terem condições de
atualização e aprofundamento de seus conhecimentos teórico-práticos. Tal iniciativa
permitirá a reflexão teórica sobre a prática escolar, a promoção de debates e de
espaços para a construção coletiva do saber, bem como a possibilidade de
mudanças nesta prática.
Neste processo dialético de construção: prática-teoria-prática, este
material pedagógico foi elaborado dentro da concepção da pedagógica Histórico-
Crítica, e pretende discutir a temática das práticas pedagógicas, com o objetivo de
aprofundar a teorização e influenciar a práxis docente. Este material não deve ser
tomado como um guia, um manual, mas como uma iniciativa de se discutir e
produzir coletivamente conhecimentos capazes de intervir na realidade e possibilitar
uma transformação social, necessária à melhoria na qualidade do ensino público.
Cristiane Sanches de Medeiros Deliberador
5
UNIDADE 1 Qual é a função social da escola, e que tipo de ser humano deve formar?
1.1 Aprofundamento Teórico
1.1.1 Texto 1
Educação como formação humana SAVIANI, N. Escola, conhecimento científico e formação humana. Elementos para a discussão do currículo da educação básica.
Num sentido amplo a educação é manifestação da ação social do
homem, voltada para a formação da personalidade em seus múltiplos aspectos. É
um fenômeno social historicamente determinado, compreendendo relações sociais e
formas de comportamento social. Relaciona-se diretamente com a prática e com o
conhecimento dessa prática.
A educação diz respeito à formação do homem. Mas, o que é o
homem? O que define a existência humana? Enquanto os outros animais têm sua
vida garantida pela natureza (por isso, se adaptam a ela), o homem necessita
adaptar a natureza a si: ele se constitui como humano no ato de produzir
continuamente a sua existência, pelo trabalho, agindo sobre a natureza e
transformando-a. Mas não se trata de ação individual. Os homens se relacionam
entre si, nesse processo, criam símbolos, representações, acumulam experiências,
transmitem-nas a outros. Comunicam-se. É isso que define a existência histórica dos
homens – a criação da cultura, a criação de um mundo humano, que se amplia
progressivamente. A formação do homem deve levar em conta o grau atingido pelo
desenvolvimento da humanidade. (SAVIANI, 1989). Ou, como diria José Martí (apud
ICCP, 1981): educar é elevar o homem a nível de sua época.
Genericamente, a educação se dá nas próprias relações sociais, no
ato mesmo de produção da existência, isto é, na relação dos homens com a
6
natureza e entre si, pela satisfação de suas necessidades, cada vez mais
numerosas e complexas, no âmbito material e não-material;
[...] o processo de produção da existência humana implica, primeiramente, a garantia de sua subsistência material com a conseqüente produção, em escalas cada vez mais amplas e complexas, de bens materiais; tal processo nós podemos traduzir na rubrica “trabalho material”. Entretanto, para produzir materialmente, o homem necessita antecipar em idéias os objetivos da ação, o que significa que ele representa mentalmente os objetos reais. Essa representação inclui o aspecto de conhecimento das propriedades do mundo real (ciência), de valorização (ética) e de simbolização (arte). Tais aspectos, na medida em que os objetos de preocupação explícita e direta, abrem a perspectiva de uma outra categoria de produção que pode ser traduzida pela rubrica “trabalho não-material”. Trata-se aqui da produção de idéias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades. Numa palavra, trata-se da produção do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o conjunto da produção humana (SAVIANI, 2003, p. 12).
A educação escolar vem a ser manifestação da educação no sentido
amplo, consiste numa esfera especial da atividade humana e tem por campo
principal o ensino. Para atender à necessidade de harmonização da educação com
os progressos científicos e tecnológicos, o ensino deve constituir-se como processo
consciente, deliberado, sistemático e metódico, voltado para uma dupla função:
servir como fonte de informação e contribuir para organizar a atividade cognoscitiva
dos estudantes. Defendo a elevação do nível de pensamento como um dos
requisitos fundamentais para colocar as gerações atuais no nível do nosso tempo e
vejo a educação escolar como a principal responsável por essa tarefa. No meu
entender, a escola deve ser criadora o suficiente para, além de transmitir os
conhecimentos científicos, dotar o aluno da capacidade de buscar informações,
conforme as exigências de sua atividade principal e de acordo com as necessidades
do desenvolvimento individual e social. Mas, acima de tudo, a escola deve ser
pensada como espaço de cultura, isto é, espaço que propicia o acesso às múltiplas
manifestações culturais, e, ao tempo, de produção e reprodução da cultura:
A escola não é apenas local onde circulam fluxos humanos, onde se investem e geram riquezas materiais, onde se travam interações sociais e relações de poder, ela é também um local, local por excelência nas sociedades modernas, de gestão e de transmissão de saberes e de símbolos (FORQUIN, 1992).
Portanto, torna-se necessário que a escola possibilite a apropriação
dos múltiplos elementos culturais, a vivência da cultura nas suas múltiplas
manifestações. Mas não se pode ignorar que ela é também um espaço limitado, na
7
medida em que não tem condições de permitir o acesso a tudo o que foi acumulado.
Importa, pois:
Saber quais são estes aspectos da cultura, estes conhecimentos, estas atitudes, estes valores que justificam o investimento de toda natureza que supõe um ensino sistemático e sustentado por um aparelho institucional complexo (FORQUIN, 1992).
Ou seja, importa distinguir a natureza e a especificidade da
educação escolar – o seu objeto – que, para Saviani, (2003):
Diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (p.13).
1.1.2 Texto 2
Educação escolar: socialização do saber elaborado. E ducação como formação humana. SAVIANI, N. Escola, conhecimento científico e formação humana. Elementos para a discussão do currículo da educação básica.
Compartilho da posição dos que atribuem escola o papel de
mediação na apropriação, sistematizada, da cultura em suas múltiplas
manifestações. E entendo tal apropriação como elaboração ativa do sujeito, em
interação com o objeto de conhecimento e outros sujeitos. Com efeito, vejo como
ponto chave da educação escolar o processo de socialização do saber elaborado.
O conhecimento compreende as esferas da representação
(apreensão dos dados objetivos) e da imaginação (atividade criadora). Contraditórias
e complementares, essas esferas formam uma unidade dialética. Sua separação
implica reducionismos, que enfatizam ora a simples descrição de dados da
realidade, ora a livre associação de idéias. Na educação escolar, isso tem se
traduzido tanto no enciclopedismo acadêmico quanto ao esvaziamento do conteúdo
do ensino, subestimando-se ou até negando-se a importância do acesso ao
conhecimento científico.
8
A especificidade da educação escolar é lidar com o conhecimento
sistematizado, cuja apropriação exige – e ao mesmo tempo possibilita – o
desenvolvimento do raciocínio lógico, metódico, sistemático, próprio do pensamento
teórico, científico, que não é somente representação, descrição, mas que também
não se restringe à imaginação, à especulação. Assim, o ensino refere-se tanto ao
processo de busca, de descoberta, na apreensão da realidade objetiva, quanto à
assimilação dos resultados das investigações – o saber sistematizado. Sem o
acesso a ele é impossível a descoberta que se traduza em produção de novos
conhecimentos.
O processo de ensino caracteriza-se pela atividade consciente de
professores e alunos a fim de desenvolver-se o trabalho intelectual orientado para o
desvendamento da realidade, tanto no que se refere à apropriação dos
conhecimentos acumulados, quanto no concernente à formação da capacidade de
investigação e interpretação, necessária à produção de novos conhecimentos.
1.1.3 Texto 3
Parem de preparar para o trabalho: Reflexões acerca os efeitos do neoliberalismo sobre a gestão e o papel da escola PARO, V. In: FERRETI, CJ. ; JUNIOR, J.R.S.; OLIVEIRA, M.R.(org.) Trabalho Formação e Currículo : para onde vai a escola? São Paulo: Xamã, 1999.
Sendo o local onde se dá (ou deveria dar-se) a educação
sistematizada, a escola participa da divisão social do trabalho, objetivando prover os
indivíduos de elementos culturais necessários para viver na sociedade a que
pertence. A própria constituição Federal reconhece a imprescindibilidade de um
mínimo de educação formal para o exercício da cidadania, ao estabelecer o ensino
fundamental gratuito e obrigatório. Isto significa que há um mínimo de conteúdos
culturais de que todo cidadão deverá apropriar-se para não ser prejudicado no
usufruto de tudo aquilo a que ele tem direito por pertencer a esta sociedade.
[...] É preciso que se coloque no centro das discussões (e das
práticas) a função educativa global da escola. Assim, se entendemos que educação
é atualização histórico-cultural dos indivíduos e se estamos comprometidos com a
superação do estado geral de injustiça social que, em lugar do bem viver, reserva
9
para a maioria o trabalho alienado, então é preciso que nossa escola concorra para
a formação de cidadãos atualizados, capazes de participar politicamente, usufruindo
daquilo que o homem histórico produziu, mas ao mesmo tempo dando sua
contribuição criadora e transformando a sociedade. Só assim a escola estará
participando de forma efetiva como elemento da necessária “reforma intelectual e
moral”, de que nos fala Gramsci (1978b).
1.2 Sugestão de Vídeo
Vídeo apresentado pela TV Paulo Freire – Programa “Nós” da
educação. Temática : Gestão escolar e as várias facetas do espaço escolar, tendo
como convidado o Prof. Vitor Henrique Paro; Livre – docente em Gestão escolar
pela USP. Disponível em:
<http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/programas/tv.htm>. Acesso
em: dez. 2008.
1.3 Atividades Para Reflexão
Após a leitura dos textos e de assistirem o vídeo sugerido, debater e
responder às seguintes questões:
1) O que é educação?
2) O que é cultura?
3) Qual é a função social da escola?
4) Que tipo de homem a escola deverá formar?
5) Segundo SAVIANI, N., a escola tem duas funções: servir como
fonte de informação e contribuir para organizar a atividade
cognoscitiva dos estudantes. Refletindo sobre a prática em sua
realidade escolar, de que maneira a escola pode se empenhar,
ainda mais, para elevar o nível do pensamento dos alunos?
6) Para SAVIANI, N. o conhecimento compreende as esferas da
representação (apreensão dos dados objetivos) e da imaginação
10
(atividade criadora). Contraditórias e complementares, essas
esferas formam uma unidade dialética. De que maneira a
atividade criadora sem sido estimulada em sua realidade
escolar?
7) Em seu texto, e através do vídeo, PARO expõe seu ponto de
vista em relação à formação para o mercado de trabalho. Qual é
a função da escola em relação a este aspecto, segundo PARO?
8) Como trabalhar a democracia na escola?
9) PARO, através de sua fala, expõe sobre vínculos, interações
que devem ser estabelecidos. Quais são eles?
10) De acordo com PARO, a escola deve levar o aluno a querer
aprender, não por estímulos externos, mas ser capaz de levá-lo
a desejar pela própria aprendizagem em si. Que sugestões ele
aponta para que isso aconteça?
11
UNIDADE 2
Que currículo deverá ser adotado?
2.1 Aprofundamento Teórico
2.1.1 Texto 1
Elementos constitutivos do currículo escolar SAVIANI, N. Escola, conhecimento científico e formação humana. Elementos para a discussão do currículo da educação básica.
O currículo diz respeito a seleção, seqüência e dosagem de
conteúdos da cultura a serem desenvolvidos em situações de ensino-aprendizagem.
Compreende conhecimentos, idéias, hábitos, valores, convicções, técnicas,
recursos, artefatos, procedimentos, símbolos entre outros, impostos em conjuntos de
matérias/disciplinas escolares e respectivos programas, com indicações de
atividades/experiências para sua consolidação e avaliação.
Há quem o considere mera transposição dos saberes/fazeres de
referência para a sala de aula, mas é sabido que o modo como os elementos
culturais são organizados em situações escolares apresenta certa singularidade, que
constitui um tipo peculiar de saber – o saber escolar. Na prática, o currículo tem se
revelado uma espécie de reinvenção da cultura. Estudos sobre a história do
currículo e a história das disciplinas escolares demonstram que a produção e
veiculação do saber escolar seguem trajetórias sinuosas e tumultuadas, num
processo de lutas de diversas dimensões.
Enquanto seleção de elementos de cultura, a definição dos
contornos de um currículo é sempre uma, dentre muitas escolhas possíveis. Assim a
elaboração e a implementação do currículo resultam de processos conflituosos, com
decisões necessariamente negociadas. E, como tenho insistido, a principal
negociação é a que ocorre na relação pedagógica propriamente dita, quando
professores/as redefinem a programação, segundo as peculiaridades de cada turma,
nas condições (possibilidades e limites, seus e dos alunos/as) para desenvolvê-la e
12
vão e vão frequentemente alterando-a, a partir do modo como os discentes a ela
respondem.
A organização curricular consiste, portanto, no conjunto de
atividades desenvolvidas pela escola, na distribuição das disciplinas/áreas de estudo
(as matérias, ou componentes curriculares), por série, grau, nível, modalidade de
ensino e respectiva carga-horária – aquilo que se convencionou chamar de “grade
curricular”. Compreende também os programas, que dispõem os conteúdos básicos
de cada componente e as indicações metodológicas para seu desenvolvimento. Por
conseguinte, a organização curricular supõe a organização do trabalho pedagógico.
Isto que dizer que o saber - escolar – organizado e disposto especificamente para
fins de ensino-aprendizagem – compreende não só os aspectos ligados á seleção
dos conteúdos, mas também os referentes a métodos, procedimentos técnicas,
recursos empregados na educação escolar. Consubstancia-se, pois, tanto no
currículo quanto na Didática.
De acordo com Gimeno Sacristan (1998) – pesquisador espanhol,
estudioso de questões curriculares e preocupado com problemas escola pública – o
currículo deve ser entendido como processo, que envolve uma multiplicidade de
relações, abertas ou tácitas, em diversos âmbitos, que vão da prescrição à ação,
das decisões administrativas às práticas pedagógicas, na escola como instituição e
nas unidades escolares especificamente. Para compreendê-lo e, principalmente
para elaborá-lo e implementá-lo de modo a transformar o ensino, é preciso refletir
sobre grandes questões, relacionadas
a: objetivos do ensino; valores, atitudes e conhecimentos implicados nos objetivos; tipos de participação dos diversos segmentos sociais nas decisões sobre o conteúdo da escolaridade; justificação do conteúdo definido, da seleção realizada; democratização do acesso ao conhecimento; a quais interesses servem os conhecimentos selecionados; processos de transformação das decisões tomadas em prática real; inter-relação dos conteúdos selecionados; seleção de recursos metodológicos e de material didático adequados; organização de turmas e de grupos de alunos, bem como de professores para acompanha-los; organização do tempo e do espaço; definição e controle do que é êxito e do que é fracasso no ensino; questionamento das formas dominantes de avaliação do processo de ensino e mudança das práticas escolares questionadas. (SACRISTAN, 1998, p. 124-125).
Para esse autor, o currículo como processo se expressa em diversos
âmbitos de decisões e realizações, intimamente relacionados e interdependentes,
quais sejam:
13
a) o âmbito de decisões políticas e administrativas: o currículo prescrito e regulamentado; b) o das práticas de desenvolvimento, modelos em materiais, guias: o currículo planejado para professores e alunos; c) o das práticas organizativas: o currículo organizado no contexto de uma escola; d) o da reelaboração na prática – transformações no pensamento e no plano dos professores/as, e nas tarefas escolares: o currículo em ação; e) o das práticas de controle internas e externas: o currículo avaliado. (SACRISTAN, 1998, p. 139).
Este é (ou deveria ser) o ponto de convergência de todos os outros
âmbitos, por constituir-se espaço de consolidação do processo de ensino –
aprendizagem, a razão de ser da própria instituição escolar.
Infelizmente, temos assistido à predominância de práticas
hierarquizantes, burocráticas, de cunho altamente autoritário, que compreendem a
elaboração curricular como algo adstrito a especialistas, em gabinete, nos níveis
mais elevados dos sistemas, relegando-se às demais instâncias papel meramente
executivo e colocando professores no final da linha, desprovidos do domínio dos
fundamentos das decisões tomadas em outros patamares e sem o controle dos
aspectos relativos à avaliação, ultimamente marcada por averiguações externas.
Urge superar essa lógica e garantir maior espaço de participação dos professores
nas decisões, o que requer, necessariamente, investimento efetivo na sua formação,
para permitir-lhes igualdade de condições nas negociações: fundamentação teórica
sobre os diversos aspectos constituintes do desenvolvimento do processo
pedagógico; domínio das concepções de currículo e suas implicações práticas; visão
de conjunto do sistema educacional, diagnóstico preciso de seus principais
problemas e acesso às possibilidades de solução.
Um dos principais aspectos a se considerar, currículo em ação, é a
organização do tempo e espaço escolares, que diz respeito ás condições de ensino-
aprendizagem. Pólos indissociáveis de um mesmo processo, o ensino e a
aprendizagem precisam ser vistos nas suas necessidades essenciais, que
ultrapassam as paredes da sala de aula e os muros da escola. O tempo de ensino
supõe a formação (inicial e continuada) do professor e inclui o preparo, a execução e
a avaliação das atividades. O tempo de aprendizagem exige que se considerem os
diferentes ritmos e experiências, carecendo de diferentes oportunidades, para a
devida mediação entre o que o aluno consegue realizar sozinho e aquilo que exige a
mediação pedagógica. Relacionados aos diferentes tempos, há que se forjar os
adequados espaços, com os imprescindíveis recursos.
14
O tratamento dispensado à relação tempo/espaço/recursos funciona
como um “termômetro”, indica a concepção da escola e trabalho pedagógico que
alimenta as políticas educacionais adotadas, fornece a dimensão de
proximidade/distanciamento entre os objetivos educacionais proclamados e os
efetivamente perseguidos e realizados. Na lógica do mercado, a educação é tratada
como mercadoria, cujo valor se determina pelo tempo socialmente necessário para
sua produção. Predomina a busca por melhor relação custo benéfico, que se situa
no menor dispêndio de tempo possível, com o máximo de “eficiência”. A formação
do professor é tão mais desejável quanto mais breve, menos acadêmica. Aos
alunos, prefere-se destinar cursos rápidos, em turmas grandes, buscando-se o uso
racional dos espaços e equipamentos. Medidas compensatórias são tomadas para
“!recuperação” do tempo perdido. Numa visão de formação plena, ao contrário, as
demandas educacionais são infinitas e a tendência deve ser a de aumentar o tempo
destinado ao acesso à cultura, nas suas múltiplas manifestações – o que exige
diversificação de espaços e recursos.
2.1.2 Texto 2
Vicissitudes da organização do saber escolar: proble mas da elaboração do currículo e da constituição das disciplinas escolar es. SAVIANI, Nereide, Saber escolar, currículo e didática problemas da unidade conteúdo/método no processo pedagógico 3 ed. CAMPINAS, SP. Autores Associados, 2000. (Coleção Educação contemporânea)
Se, por um lado, elas são constituídas a partir de valores e
necessidades sócio-culturais, por outro lado, contribuem para certa “aculturação de
massa”. Para Cherval (1990), as disciplinas escolares “são criações espontâneas e
originais do sistema escolar:” revelam seu “caráter eminentemente criativo” e seu
duplo papel - o de formar indivíduos, ao mesmo tempo em que forma uma cultura.
Por não restringir á transmissão de saberes - isto é, por voltar-se
também para a formação de hábitos, atitudes, habilidades, valores, convicções, etc.
é que a escola exerce esse poder criativo de, encarnando os conteúdos culturais,
traduzi-los nas disciplinas escolares, que os transformam num tipo peculiar de saber,
o saber escolar, capaz de interferir na cultura da sociedade.
15
Tal “saber escolar” constitui uma linguagem que adquire
imediatamente sua autonomia, tornando-se um objeto cultural em si e, apesar de
certo descrédito que se deve ao fato de sua origem escolar, ela consegue, contudo
se infiltrar sub-repticiamente na cultura da sociedade global (CHERVAL, 1990, p.
200).
2.1.3 Texto 3
Currículo - Projeto Político – Pedagógico da escola : uma construção coletiva VEIGA, I. P. O. Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, Ilma Passos de Oliveira (org). Projeto político pedagógico da Escola : uma construção possível. Campinas, SP: Papirus, 1995.
Currículo é um importante elemento constitutivo da organização
escolar: Currículo implica, necessariamente, a interação entre sujeitos que têm um
mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente.
Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a
sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos
conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto,
produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia
de construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente
dito. Neste sentido, o currículo refere-se à organização do conhecimento escolar.
O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera simplificação
do conhecimento científico, que se adequaria à faixa etária e aos interesses dos
alunos. Daí a necessidade, de se promover, na escola, uma reflexão aprofundada
sobre o processo de produção do conhecimento escolar, vez que ele é ao mesmo
tempo processo e produto. A análise e a compreensão do processo de produção do
conhecimento escolar ampliam a compreensão sobre as questões curriculares.
Na organização curricular é preciso considerar alguns pontos
básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O currículo
passa ideologia, e a escola precisa identificar e desvelar os componentes
ideológicos do conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a
manutenção de privilégios. A determinação do conhecimento escolar, portanto,
16
implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto da
cultura popular. O currículo expressa uma cultura.
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser separado do
contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e culturalmente
determinado.
O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização curricular que a
escola deve adotar. Em geral, nossas instituições têm sido orientadas para a
organização hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Com base em
Bernstein (1989), chamo a atenção para o fato de que a escola deve buscar novas
formas de organização curricular, em que o conhecimento escolar (conteúdo)
estabeleça uma relação aberta e interrelacione-se em torno de uma idéia
integradora. A esse tipo de organização curricular, o autor denomina de currículo
integração. O currículo integração, portanto, visa reduzir o isolamento entre as
diferentes disciplinas curriculares, procurando agrupa-las num todo mais amplo.
Como alertou Domigos (1995, p. 153), “cada conteúdo deixa de ter
significado por si só, para assumir uma importância relativa e passar a ter uma
função bem determinada e explícita dentro do todo de que faz parte”.
O quarto ponto refere-se à questão do controle social currículo
formal (conteúdos curriculares, metodologia e recursos de ensino, avaliação e
relação pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle social é
instrumentalizado pelo currículo oculto, entendido este como as “mensagens
transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar” (CONBLETH, 1992, p. 56).
Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os valores dominantes são
passados aos alunos no ambiente escolar, no material didático e mais
especificamente por intermédio na relação pedagógica, nas rotinas escolares.
O resultado do currículo oculto”estimulam a conformidade e ideais
nacionais e convenções sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades sócio-
econômicas e culturais” (CONBLETH, 1992, p. 56).
Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle social que têm
permeado as principais tendências do pensamento curricular, procurou defender o
ponto de vista de que o controle social não envolve, necessariamente, orientações
conservadoras, coercitivas, e de conformidade comportamental. De acordo com o
autor, subjacente ao discurso curricular crítico, encontra-se uma noção de controle
17
social orientada para a emancipação. Faz sentido, então, falar em controle social
comprometido com fins de liberdade que dêem ao estudante uma voz ativa e crítica.
Com base em Aronowitz e Firoux (1985), o autor, chama a atenção,
para o fato de que a noção crítica de controle social não, pode deixar de discutir:
O contexto apropriado ao desenvolvimento de práticas curriculares que favoreçam o bom rendimento e a autonomia dos estudantes e, em particular, que reduzam os elevados índices de evasão e repetência de nossa escola de primeiro grau. (1992, p. 22).
A noção de controle social na teoria curricular crítica é mais um
instrumento de contestação e resistência à ideologia veiculada por intermédio dos
currículos tanto do formal, quanto do oculto.
Orientar a organização curricular para fins emancipatórios implica,
inicialmente, desvelar as visões simplificadas de sociedade concebida como um todo
homogêneo, e de ser humano, como alguém que tende a aceitar papéis necessários
à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social, na visão crítica é uma
contribuição e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideologia veiculada
por intermédio dos currículos escolares.
2.2 Sugestão de Vídeo
Vídeo apresentado pela TV Paulo Freire – Programa “Nós” da educação. Temática:
Currículo e formação de professores, tendo como convidada a Profa. Dra. em
Educação pela UEC - Maria Aparecida da Silva. Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/programas/tv.htm.
2.3 Atividades Para Reflexão
Após a leitura dos textos e de assistirem o vídeo sugerido, debater e
responder às seguintes questões:
1) Qual o entendimento sobre currículo?
2) Como se daria em sua realidade escolar um currículo integrador?
18
3) SILVA, em sua fala, enfatiza pontos importantes. Destaque alguns
deles.
4) Proponham sugestões práticas para sua realidade escolar, de
forma a aproximar-se ao que a Profa. Maria Aparecida da Silva,
sugere como sendo adequado em termos de proposta curricular
(ação).
19
UNIDADE 3
Que concepção pedagógica e teoria epistemológica es tarão
embasando estas práticas?
3.1 Aprofundamento Teórico
3.1.1 Texto 1
As pedagogias contra-hegemônicas SAVIANI, D. História das idéias pedagógicas no Brasil . Campinas: São Paulo, Autores Associados, 2007.
Pedagogia histórico-crítica
[...] Numa síntese bastante apertada, pode-se considerar que a
pedagogia histórico-crítica é tributária da concepção dialética, especificamente na
versão do materialismo histórico, tendo fortes afinidades, no que se refere às bases
psicológicas, com a psicologia histórico-cultural, desenvolvida pela escola de
Vigotski. A educação é entendida como o ato de produzir, direta e intencionalmente,
em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente
pelo conjunto dos homens. Em outros termos, isso significa que a educação é
entendida como mediação no seio da prática social global. A prática social põe-se,
portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática educativa. Daí
decorre um método pedagógico que parte da prática social em que professor e aluno
se encontram igualmente inseridos, ocupando, porém, posições distintas, condição
para que travem uma relação fecunda na compreensão e no encaminhamento da
solução dos problemas postos pela prática social.
Aos momentos intermediários do método, cabe identificar as
questões suscitadas pela prática social (problematização), dispor os instrumentos
teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentalização) e
viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos
(catarse).
20
A fundamentação teórica da pedagogia histórico-crítica nos aspectos
filosóficos, históricos, econômicos e político-sociais propõe-se explicitamente a
seguir as trilhas abertas pelas agudas investigações desenvolvidas por Marx sobre
as condições históricas de produção da existência humana que resultaram na forma
da sociedade atual dominada pelo capital. É, pois, no espírito de suas investigações
que essa proposta pedagógica se inspira. Frise-se: é de inspiração que se trata e
não se extrai dos clássicos do marxismo uma teoria pedagógica. Pois, como se sabe
nem Marx, nem Engêls, Lênin ou Gramisci desenvolveram teoria pedagógica em
sentido próprio. Assim, quando esses autores são citados, o que está em causa não
é a transposição de seus textos para a pedagogia e, nem mesmo, a aplicação de
suas análises ao contexto pedagógico. Aquilo que está em causa é a elaboração de
uma concepção pedagógica em consonância com a concepção de mundo e de
homem própria do materialismo histórico.
3.1.2 Texto 2
Teoria Histórico-Cultural
A teoria histórico-cultural, ou sócio-histórica elaborada por Vygotsky
procurou baseado no materialismo dialético, construir uma “nova psicologia”, com o
objetivo de integrar “numa mesma perspectiva, o homem enquanto corpo e mente,
enquanto ser biológico e social, enquanto membro da espécie humana e participante
de um processo histórico” (OLIVEIRA apud REGO, 1995, p.40-41).
Buscava a compreensão do aspecto intelectual humano.
Um dos pontos centrais de sua teoria é que as funções psicológicas
superiores são de origem sócio-cultural e emergem de processos psicológicos
elementares. Para Vygotsky a complexidade da estrutura humana deriva do
processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas relações entre história
individual e social, possibilitando a apropriação da cultura elaborada pelas gerações
precedentes.. (REGO, 1995).
Pretendia através desta abordagem descrever e explicar as funções
psicológicas superiores, que são modos de funcionamento psicológicos tipicamente
humano, tais como: capacidade de planejamento, memória voluntária, imaginação.
São consideradas superiores porque são mecanismos intencionais, ações
21
conscientes, controladas. São processos voluntários que dão a possibilidade de
independência.
Para Vigotsky estes processos não são inatos, mas se originam nas
relações entre os indivíduos e se desenvolvem ao longo do processo de
internalização de formas culturais de comportamento. As funções psicológicas
superiores diferem das elementares, tais como: ações automáticas, ações reflexas,
associações simples, que são de origem biológica.
Principais idéias de Vygotsky, conforme Rego (1995, p. 40-41):
1) Refere-se à relação indivíduo/ sociedade
2) Origem cultural das funções psíquicas - a cultura é parte
constitutiva da natureza humana.
Vigotsky afirma que características tipicamente humanas não estão presentes deste o nascimento do indivíduo, nem são meros resultados de pressões do meio externo., mas resultam da interação do homem com o seu meio, através de um processo dialético. Ao mesmo tempo que o ser humano transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo (apud REGO, 1995).
3) O cérebro é a base biológica do funcionamento psicológico,
produto de uma longa evolução, “sistema aberto de grande plasticidade”.
4) Diz respeito à característica mediação existente em toda a
atividade humana. A linguagem é um signo mediador por excelência.
5) Os processos psicológicos superiores se diferenciam dos
elementares.
Para Vigotsky o aprendizado é um aspecto fundamental, necessário
no processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
Ele identifica dois níveis de desenvolvimento:
1) Zona de desenvolvimento real ou efetivo – se refere às conquistas
já efetivadas, consolidadas , refere-se a funções ou capacidades que o indivíduo já
domina, consegue utilizar sozinho.
2) Nível de desenvolvimento potencial – se relaciona às capacidades
em vias de serem construídas. Refere-se àquilo que o indivíduo é capaz de realizar,
só que mediante ajuda.
A distância entre o que é capaz de fazer com autonomia – nível de
desenvolvimento real e aquilo que realiza em colaboração - nível de
22
desenvolvimento potencial, caracteriza o que Vigotsky chamamos de “zona de
desenvolvimento potencial ou proximal”. Define funções que ainda não
amadureceram que estão em processo de maturação (REGO, 1995, p. 40-41).
Conforme Rego (1995, p.40-41):
O aprendizado é o responsável por criar a zona de desenvolvimento proximal, na medida em que, em interação com outras pessoas, a criança é capaz de colocar em movimento que, sem a ajuda extrema, seriam impossíveis de ocorrer. Esses processos se internalizam e passam a fazer parte das aquisições do seu desenvolvimento individual. É por isso que Vigotisky afirma que, “aquilo que é a zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã”. (VIGOTSKY, 1984, p. 98)
Na perspectiva de Vygotsky, construir conhecimentos implica numa
ação partilhada, já que é através dos outros, das trocas efetivas que as relações
entre sujeito e objeto de conhecimento são estabelecidas.
Quando ampliamos nossas redes de interações, maior nossas
possibilidades de aprendizagem.
Em seus trabalhos Vygotsky integra aspectos cognitivos e afetivos,
dedicando a ambos uma significativa preocupação, pois ele, segundo Rego (1995, p.
120). “Concebe o homem como ser que pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas
também alguém que sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza.”
3.1.3 Texto 3
Pedagogia histórico-crítica e teoria histórico-cult ural num
processo dialético de aprendizagem
As três fases do método dialético de construção do conhecimento
escolar - prática, teoria, prática, que parte do nível de desenvolvimento atual dos
alunos, trabalhando na zona de desenvolvimento imediato, para chegar a um novo
nível de desenvolvimento atual de acordo com a Teoria Histórico-cultural, de
Vigotsky, constituem as três partes que se desdobram nos passos da pedagogia
histórico-crítica, propostos por Saviani.
Gasparin (2007) em seu livro “Uma Didática para a Pedagogia
Histórico-Crítica” explicitou este processo dialético da aprendizagem escolar.
23
Neste processo ele expõe teoria, método e procedimentos
operacionais da ação docente-discente.
A implementação prática da pedagogia histórico-crítica segundo a
proposta de Gasparin (2007), divide-se em cinco passos: prática-social inicial do
conteúdo, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final do
conteúdo.
1) Prática-social - é um momento de mobilização do aluno para a
construção do conhecimento, de sensibilização e desafio. Neste momento cria-se
uma predisposição para o que será aprendido. O professor anuncia os conteúdos
que irá trabalhar e em seguida estabelece um diálogo com os alunos para que esses
identifiquem a relação entre os conteúdos e a vida cotidiana. Através deste diálogo
estabelecido os alunos mostram a vivência que têm. Contextualiza-se o conteúdo.
Conhecer a realidade dos educandos implica em fazer um mapeamento, um levantamento das representações do conhecimento dos alunos sobre o tema de estudo. A mobilização é o momento de solicitar a visão/concepção que os alunos têm a respeito do objeto (senso comum, “síncrese”) (VASCONCELOS, 1993, p. 8).
È fundamental que o professor valorize esta visão de mundo que o
aluno apresenta em geral visão sincrética, caótica, percepção de senso-comum.
Totalidade empírica.
Essa prática social aqui referida não consiste apenas naquilo que o aluno, enquanto indivíduo, faz ou sabe, em seu dia-a-dia, relativo ao conteúdo. Essa prática social traduz a compreensão e a percepção que perpassam todo o grupo social (GASPARIN, 2007, p. 22).
Segundo a teoria histórico-cultural, neste momento o aluno estaria
no nível de desenvolvimento atual, podendo atuar com autonomia.
A partir da prática social – inicial, o professor começa com a
teorização, que será trabalhada a partir dos passos seguintes.
2) Problematização - procura identificar os principais problemas
colocados pela prática e pelo conteúdo. Se no primeiro momento, o da prática-inicial,
a realidade foi tomada de maneira consciente, verificando-se sua relação com o
conteúdo, neste momento a realidade será questionada, juntamente ao conteúdo.
Ao se questionar o conteúdo, o professor necessita definir as
diversas dimensões que irão orientar sua análise e sua apropriação; dimensões:
24
conceitual, histórica, científica, política, econômica, estética, religiosa, social e
cultural.
Para Gasparin (2007, p. 22) é necessário definir quais os conteúdos
os docentes e discentes precisam dominar para solucionar tais problemas, ainda
que, inicialmente, na esfera intelectual.
As perguntas elaboradas nesta etapa serão respondidas na fase da
instrumentalização.
3) Instrumentalização - realizam-se ações didático-pedagógicas para
a construção do conhecimento científico, a partir da sistematização do conteúdo e
das respostas dadas durante a problematização. Neste estágio o professor age
sobre a zona de desenvolvimento imediato do educando. Cria desafios e
necessidades que o leve a investigar, solucionar as questões. Utiliza perguntas-
guias. Sendo o seu raciocínio estimulado, diz-se que a aprendizagem tornou-se
significativa, pois o aluno introjeta, incorpora o conhecimento. Os conceitos
científicos se estruturam.
Na instrumentalização uma das operações mentais básicas para a
construção do conhecimento é a análise, neste estágio o aluno aproxima-se da
síntese, pois mentalmente, intelectualmente torna-se capaz de relacionar cotidiano e
científico, prático e teórico.
Para Masetto (2000, p.144-145), a mediação pedagógica é:
a forma de se apresentar e tratar um conteúdo ou um tema que ajuda o aprendiz a coletar informações, relacioná-la, organizá-las, manipulá-las, discuti-las, debatê-las, com seus colegas, com o professor e com outras pessoas (interaprendizagem), até chegar a produzir um conhecimento que seja significativo para ele, conhecimento que se incorpore ao seu mundo intelectual e vivencial, e que o ajude a compreender sua realidade humana e social, e mesmo a interferir nela.(grifo do autor) (apud GASPARIN, 2007, p.110).
Segundo Castro (apud GASPARIN, 2007, p.110-112), a mediação
pedagógica pode ser desenvolvida utilizando-se de técnicas convencionais de
ensino, que são de grande importância e existem há muito tempo, como se
utilizando de novas tecnologias, representadas pelo uso recente do computador, da
informática. Ambas são processos ativos, procedimentos dinâmicos. Castro divide
as técnicas convencionais em três grupos, que são:
a) primeiro grupo -dinâmicas utilizadas para expressar problemas e
expectativas;
25
b) segundo grupo - técnicas de simulação, dramatização,
desempenho de papéis, jogos, estudo de caso, técnicas que
desafiam o aluno a buscar soluções para problemas, preparando
o aluno para lidar com situações reais.
c) terceiro grupo - põem o aluno em contato direto com situações
reais: excursões, aulas práticas, visitas. São um excelente meio
para que o aluno verifique concordância e divergência entre
teoria e prática.
Há ainda os atos didáticos-pedagógicos mediadores da
aprendizagem: trabalhos em grupo e individuais, seminários, entrevistas, palestras,
análise de vídeos, exposição dialogada, leitura do mundo, leitura orientada de textos
selecionados, discussões, debates, trabalhos experimentais , painel integrado,
demonstração, tarefas de assimilação de conteúdos, tarefas de elaboração pessoal,
grupo de verbalização e grupo de observação, ensino com pesquisa, uso de
recursos audio-visuais. Para Castro todas estas técnicas são importantes por
possibilitarem a aprendizagem significativa, conduzindo ao desenvolvimento.
A escola deve, portanto, ser um centro de experiência permanente.
Para Gasparin (2007) as técnicas pedagógicas são um dos elementos do processo
de mediação estabelecido, os demais são: a ação e a atitude profissional do
professor, a maneira de tratar o conteúdo, os relacionamentos entre professor e
alunos e entre os próprios alunos, as ligações do conteúdo com a vida real dos
alunos e com o contexto social mais amplo.
4) Catarse - na catarse a operação fundamental é a síntese. É a fase
em que o aluno sistematiza o que assimilou, traduzindo-o oralmente ou por escrito.
O aluno passa do sincretismo à síntese, pois estrutura de uma nova forma o seu
pensamento. Passa a perceber que a realidade que conhecia como sendo “natural”,
é na verdade “histórica”, produzida pelos homens com intenções implícitas ou
explícitas. Percebe que o novo conteúdo apropriado, produto da ação humana, não
sendo, portanto neutro nem natural, mas construído socialmente atendendo
interesses se classes ou de grupos sociais determinados (GASPARIN, 2007).
O que era antes disperso passa a ser percebido de maneira
integradora. O aluno então percebe que não aprendeu apenas um novo conteúdo,
mas algo com significado, resultado e resultante de uma transformação social.
26
De acordo com Gasparin (2007, p. 136) esta fase por ser traduzida
em dois momentos.
1) Elaboração teórica da nova síntese - o aluno mostra a si o nível
de compreensão do tema.
2) Expressão prática da nova síntese - o aluno exterioriza, manifesta
de forma pública sua aprendizagem, possibilita a avaliação. “A
expressão material do conhecimento faz parte do proc esso
pedagógico escolar, como forma de interação social .” (grifo do
autor)
Novamente nesta etapa os instrumentos são citados, podendo ser
os mais variados possíveis: verificações orais, debates, seminários, dramatizações,
realização de experiências, elaboração de textos, redações, provas escritas
objetivas ou dissertativas, confecção de cartazes, maquetes ou objetos específicos.
5) Prática-social final do conteúdo - implica neste momento um novo
olhar à prática-inicial, agora modificado devido ao estudo teórico, ao confronto entre
o senso-comum e o conhecimento científico.
São mostrados os compromissos sociais do aluno por ter aprendido
o conteúdo novo, permitindo-lhe um novo agir.
Para Saviani (1999):
Não basta, porém, atuar intelectualmente, possibilitando ao aluno a compreensão teórica e concreta da realidade. É mister, ainda que em pequena escala, possibilitar ao educando as condições para que a compreensão teórica se traduza em atos, uma vez que a prática transformadora é a melhor evidência da compreensão da teoria (apud GASPARIN, 2007, p.146).
Nesse sentido, Gasparin (2007, p. 146) expõe que desenvolver
ações reais e efetivas, uma ação concreta a partir do momento em que o aluno
atingiu o nível do concreto pensado, não significa somente realizar atividades que
levem a um fazer predominantemente material, como plantar uma árvore, é também
todo o processo mental que dará condições para análise e compreensão mais
amplas e críticas da realidade, “determinando uma nova maneira de pensar, de
entender e julgar os fatos, as idéias. É uma nova ação mental”.
Esta fase final, alcançada após transcorrer todos os passos,
possibilitará ao aluno agir de forma autônoma. O trabalho efetuado na zona de
27
desenvolvimento imediato termina com a obtenção de um novo nível de
desenvolvimento atual, quando o aluno demonstra que se superou.
Vigotsky afirma que: “[...] na escola a criança desenvolve uma
atividade que a obriga a colocar-se acima de si mesma.” (apud GASPARIN, 2007, p.
148).
O ensino escolar produz desenvolvimento e superação. “Há que se
descobrir em conseqüência, maneiras de como os conhecimentos escolares têm
força e peso nas mudanças sociais e pô-los em prática em função disso”
(GASPARIN, 2007, p. 149).
3.1.4 Texto 4
Promover a atividade mental auto-estruturante. As relações interativas em sala de aula: o papel do s professores e dos alunos . ZABALA, A. A. Prática Educativa : como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Aprender significa elaborar uma apresentação pessoal do conteúdo
objeto da aprendizagem, fazê-lo seu, interiorizá-lo, integrá-lo nos próprios esquemas
do conhecimento. Esta representação não inicia do zero, mas parte dos
conhecimentos que os alunos já têm e que lhes permitem fazer conexões com os
novos conhecimentos, atribuindo-lhes certo grau de significância. As relações
necessárias a estabelecer não se produzem automaticamente - são o resultado de
um processo extremamente ativo realizado pelo aluno, o que há de possibilitar a
organização e o enriquecimento do próprio conhecimento. Atividade que não
significa fazer coisas indiscriminadamente, quer dizer, fazer por fazer - erro que
cometem muitas propostas progressistas baseadas na simples realização de
atividades em que o aluno está em constante movimento -, mas ações que
promovam uma intensa atividade de reflexão sobre o que propõem as
aprendizagens, diretamente proporcional a sua complexidade e dificuldade de
compreensão. No entanto, é óbvio que para que esta atividade possa ter lugar, e
segundo o nível de conhecimento cognitivo, os meninos e meninas terão que ver,
tocar, experimentar, observar, manipular, exemplificar, comparar, etc., e a partir
destas ações será possível ativar os processos mentais que lhes permitam
28
estabelecer as relações necessárias para a atribuição de significado. Atividade
mental que não pode se limitar à ação compreensiva exclusiva, pois para que esta
aprendizagem seja o mais profunda possível, será necessário que, além disso,
exista uma reflexão sobre o próprio processo de aprendizagem.
Para poder realizar este processo mental auto-estruturante, os
meninos e meninas necessitam de uma série de estratégias metacognitivas que lhes
possibilite assegurar o controle pessoal dos conhecimentos que vão construindo,
assim como dos processos que se realizam na aprendizagem. Poderemos
considerar que existe um controle pessoal quando se dispõem de estratégias que
lhes oferecem a oportunidade de planejar as atividades, regular as atuações, a partir
dos resultados que obtêm durante sua realização, e revisar e avaliar a afetividade
das ações desenvolvidas.
Esta intensa atividade mental não se realiza facilmente. É preciso
que os meninos e meninas sintam a necessidade de se fazer perguntas, de
questionar suas idéias, de estabelecer relações entre fatos e acontecimentos, de
revisar suas concepções. E para promover todas estas ações será necessário
propor aquelas atividades que possibilitem este intenso processo mental. Aqui é
preciso considerar a complexidade do conteúdo objeto de aprendizagem e as
capacidades de que dispõem os alunos para compreendê-lo e dominá-lo, para
planejar as atividades que favoreçam e promovam o esforço mental necessário para
estabelecer vínculos entre suas concepções e o novo material de aprendizagem.
Conforme as dificuldades do novo conteúdo, haverá que oferecer atividades nas
quais os meninos e as meninas se sintam cômodos em relação ao processo de
compreensão e, portanto, será necessário partir das situações problemas o mais
próximas possível do seu mundo experiencial, através de atividades que apresentem
referenciais que favoreçam este processo de compreensão. Convém levar em conta
que em muitos casos não poderão ser unicamente atividades passivas, serão
necessários o debate e o diálogo, quando não os trabalhos de observação,
experimentação e observação.
Atividades que exigem dos alunos, além do mais, aplicar, analisar,
sintetizar e avaliar o trabalho realizado e a eles mesmos; que promovam a reflexão
conjunta dos processos seguidos, ajudando-os a pensar, para que sejam
constantemente partícipes das próprias aprendizagens. Atividades que fomentem a
tomada de decisões quanto às aprendizagens que devem ser realizadas, levando
29
em conta o ponto pessoal de partida; que tornem possível pôr sobre a mesa as
habilidades que utilizarão ou requererão; que orientem seus pensamentos mediante
a interrogação e a formulação de hipóteses, solicitando aos alunos explicações
sobre seus próprios processos e sobre o processo a partir do qual chegam ao
conhecimento e utilizando a linguagem para a generalização em diferentes situações
e contextos e a reconceitualização das experiências vividas. Verbalização também
em situações de atividade compartilhada com os outros e na resolução de
problemas de maneira cooperativa, que permitam a confrontação de idéias, a
resolução de dúvidas e o uso funcional em outras ocasiões que seja necessário.
3.2 Atividades Para Reflexão
Após a leitura dos textos, debater e responder às seguintes questões:
1) Durante a Unidade 1, discutiu-se sobre concepções de homem,
cultura, educação, e sobre a função social da escola. De que forma a
Pedagogia Histórico Crítica, abordada no texto de SAVIANI D. (texto 1)
e posteriormente apresentada em forma de metodologia através da
proposta desenvolvida por GASPARIN (texto 3) estariam contribuindo
para a efetivação destas concepções tidas como ideais?
2) A metodologia de GASPARIN utiliza-se das três fases do método
dialético de construção do conhecimento escolar - prática, teoria,
prática. Em sala de aula o professor tem a possibilidade de
desenvolver sua aula de acordo com esta metodologia, seguindo os
cinco passos e planejando seus conteúdos valorizando as diversas
dimensões. Que considerações você faria em relação a esta
metodologia?
3) Comente sobre a Interaprendizagem, segundo Masetto, associada à
seguinte colocação de Gasparin: “A expressão material do
conhecimento faz parte do processo pedagógico escolar, como forma
de interação social”.
4) Aponte pontos importantes da teoria epistemológica de Vigotsky.
30
5) Em relação ao processo mental, Zaballa defende que é preciso que os
meninos e meninas sintam a necessidade de se fazer perguntas, de
questionar suas idéias, de estabelecer relações entre fatos e
acontecimentos, de revisar suas concepções. Para ele a atividade
mental não se realiza facilmente, é decorrente também de situações de
verbalização em atividade compartilhada com os outros e na resolução
de problemas de maneira cooperativa, que permitam a confrontação de
idéias, a resolução de dúvidas e o uso funcional em outras ocasiões
que seja necessário. Aponte pontos comuns em relação à idéia de
Zaballa, a concepção histótico-crítica, à metodologia de Gasparin e à
teoria de Vigotysky.
6) Em seu ambiente escolar, desenvolve-se a contento práticas
educativas com incentivo e valorização de situações onde ocorra a
verbalização e a confrontação de idéias? De que formas acontecem?
7) Que sugestões você daria para que estas práticas acontecessem: em
pequenos e em grandes grupos?
8) Zaballa comenta ainda em relação à atividade mental, que esta se
desenvolve quando aplicada ao uso funcional em outras ocasiões que
seja necessário. Dê exemplos de uso funcional na prática pedagógica.
Este aspecto tem sido utilizado frequentemente nas práticas em sua
realidade escolar?
31
UNIDADE 4
Que tipos de interações humanas e pedagógicas possi bilitarão que
a escola seja este espaço de incentivo e valorizaçã o destas
práticas diferenciadas?
Assim, tomando como ponto de partida a palavra ensinar, na sua acepção de “gravar um sinal em”, a função do professor é marcar o aluno, imprimindo em sua inteligência, em sua vontade, em sua memória, em suas emoções, um sinal distintivo, caracterizador, que o torna diferente dos demais, especialmente dos que não passaram pela escola (GASPARIN, 1994, p. 67).
Fonte: LUGOSI, 2008 (Disponível em: < http://clubedamafalda.blogspot.com/>).
4.1 Aprofundamento Teórico
4.1.1 Texto 1
As relações interativas em sala de aula: o papel do s professores e dos alunos . ZABALA, A. A prática educativa : como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Estabelecer um ambiente e determinadas relações que facilitem
a auto-estima e o autoconceito.
Para aprender é indispensável que haja um clima e um ambiente
adequado, constituídos por um marco de relações em que predominam a aceitação,
a confiança, o respeito mútuo e a sinceridade. A aprendizagem é potencializada
32
quando convergem as condições que estimulam o trabalho e o esforço. É preciso
criar um ambiente seguro e ordenado, que ofereça a todos os alunos a oportunidade
de participar, num clima com multiplicidade de interações que promovam a
cooperação e a coesão do grupo. Interações essas presididas pelo afeto, que
contemplem a possibilidade de se enganar e realizar as modificações oportunas;
onde convivam a exigência de trabalhar e a responsabilidade de realizar o trabalho
autonomamente, a emulação e o companheirismo, a solidariedade e o esforço;
determinadas interações que gerem sentimentos de segurança e contribuam para
formar no aluno uma percepção positiva e ajustada de si mesmo.
E isto é assim porque na aprendizagem intervêm numerosos
aspectos do tipo afetivo e relacional, de maneira que o processo seguido e os
resultados obtidos adquirem um papel definitivo na construção do conceito que se
tem de si mesmo, na maneira de ser e de ver e se avaliar e, em geral, no
autoconceito. Ao mesmo tempo, este autoconceito influi na maneira de se situar
frente à aprendizagem: com mais ou menos segurança, ilusão, expectativas.
Uma das tarefas dos professores consistirá em criar um ambiente
motivador, que gere o autoconceito positivo dos meninos e das meninas, a confiança
em sua própria competência para enfrentar os desafios que se apresentem na
classe. Estas representações serão o resultado do grau de adequação dos desafios
que são propostos aos alunos e da avaliação que se faz de seu trabalho. Como já se
disse, as características das atividades que se propõem serão essenciais, mas o
que determina em maior ou menor grau a imagem serão os tipos de comentários de
aceitação ou de rejeição por parte dos professores durante as atividades e,
sobretudo, o papel que se atribui à avaliação. Assim, pois, as avaliações centradas
exclusivamente nos resultados, e especialmente em relação a alguns objetivos
gerais ou à média da classe, não ajudarão em absoluto a melhorar a auto-imagem
de todos aqueles que, apesar do esforço realizado, não conseguem superar esta
média. Para manter e melhorar uma auto-imagem que facilite a atitude favorável À
aprendizagem, será necessário que estas avaliações sejam feitas conforme as
possibilidades reais de cada um dos meninos e meninas, para que a aceitação das
competências pessoais não ocorra em detrimento de uma auto-imagem positiva.
33
4.1.2 Texto 2
Interações dialógicas
Para Moraes (2008) o conhecer e o aprender são processos de co-
participação que se dá na interação entre sujeitos, numa perspectiva sócio-cultural.
Aprendemos e damos significado ao mundo no intercâmbio com nossa cultura e com
nosso ambiente social. Também aprendemos a argumentar e sustentar nossos
pontos de vista a partir destas interações estabelecidas com os outros. Ao
produzirmos novos argumentos, estamos aprendendo com os outros e, ao mesmo
tempo, ensinando a eles O que conseguimos propor e falar relaciona-se com nossas
interações sociais e culturais anteriores. Tudo é reconstruído a partir de algo
anteriormente elaborado. No mesmo movimento também participamos da
transformação das realidades em que estamos inseridos.
Para Freire e Fagundes (1985) uma educação de perguntas é a
única educação criativa e apta a estimular a capacidade humana de assombrar-se,
de responder ao seu assombro e resolver seus verdadeiros problemas essenciais,
existenciais. E o próprio conhecimento.
4.2 Atividades Para Reflexão
Após a leitura dos textos, debater e responder às seguintes
questões:
1) Há pontos comuns em relação à fala de PARO, unidade 1 e às
“falas” destes educadores abordados nesta Unidade. Quais são
estes pontos?
2) Que tipos de interações humanas e pedagógicas deverão ser
incentivadas no ambiente escolar?
3) As interações tomadas como necessárias à prática pedagógica,
se aplicam à prática da Pedagogia “Histórico-crítica”?
34
UNIDADE 5
Que espaços precisam ser criados ou recriados? E qu e práticas
pedagógicas incentivadas?
5.1 Aprofundamento Teórico
5.1.1 Texto 1
A escola como um grande grupo. A organização social da classe. ZABALA, A. A prática educativa : como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
As características da organização grupal neste âmbito estão
determinadas, em primeiro lugar, pela organização e pela estrutura de gestão da
escola e, em segundo lugar, pelas atividades que toda a escola realiza de forma
coletiva, as quais, apesar de serem bastante limitadas, são cruciais para o
sentimento de identificação pessoal com a escola, tanto por parte dos alunos como
dos professores.
Portanto, são instrumentos ou ferramentas formativas de todo o
grupo/escola as atividades vinculadas à gestão da escola, que configuram
determinadas relações interpessoais, uma distribuição de papéis e
responsabilidades e um diferente grau de participação na gestão. E também o são
as atividades gerais da escola, de caráter cultural, social e esportivo, de natureza
interna e de difusão exterior, quer dizer, dirigidas aos familiares dos alunos ou
abertas a setores mais amplos da comunidade, do bairro, ou cidade. Assim, pois, é
preciso distinguir entre as atividades com participação de toda a escola e as que são
conseqüência da maneira de gerir esta escola comunidade.
35
5.1.2 Texto 2
Atividades gerais da escola. A organização social d a classe ZABALA, A. A prática educativa : como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Durante o ano, a maioria das escolas organiza uma série de
atividades que em geral são de caráter social, cultural, lúdico ou esportivo. As
principais diferenças entre as escolas estão associadas à abrangência e à finalidade
destas atividades. Portanto, há algumas que são do grupo e para o grupo, quer
dizer, de caráter interno, e outras que estão abertas a outras coletividades. Em
relação à função ou finalidade, encontraremos atividades para o prazer, a
motivação, a promoção externa, a demonstração e o compromisso.
Todas as atividades do grupo/escola, se, são satisfatórias,
potencializam o sentimento de pertinência e de identificação com o grupo, a auto-
estima coletiva. Portanto, promovem atividades de compromisso e responsabilidade
para com os demais e também reforçam o estímulo e a motivação em relação aos
projetos da escola, entre eles os que estão relacionados com a formação e o estudo.
Esta identificação também envolve a adoção ou rejeição dos valores do grupo,
constituindo então um dos meios mais valiosos para promover a aprendizagem de
conteúdos de caráter atitudinal.
Esta potencialidade obriga a avaliar com muita atenção as
características das atividades que se propõem. Em muitas escolas existe uma
contradição paradoxal: algumas a exemplo, apesar de terem uma declaração de
intenções não-consumistas, promovem festas, representações ou comemorações,
em que é imprescindível a compra de fantasias ou vestidos caros e inúteis para
outras atividades, outras fazem manifestações cooperativas e anticompetitivas e, em
troca seguindo organizam concursos, competições e jogos com prêmios; há as que,
apesar de se definirem como não-sexistas, não levam em conta este aspecto ao
atribuir papéis de ambos os sexos nas representações, nas atuações ou nos
brinquedos e também há as que fazem declarações de “humildade” e organizam
grandes atos que basicamente são manifestações publicitárias.
Também encontraremos escolas em que muitas destas atividades
gerais ocorrem no exterior ou estão dirigidas para o exterior: atividades de
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participação em festas ou atividades culturais de bairro, visita em campo de trabalho,
atividades de pesquisa social, serviços para a comunidade (coleta e reciclagem de
papel, oferecimento das instalações escolares, entre outras). Trata-se de atividades
que demonstram o compromisso social da escola e que constituem a forma mais
coerente e, portanto mais formativa, de responder a certas finalidades educacionais
vinculadas a valores como solidariedade, o respeito, o compromisso, etc.
Que critérios utilizaremos para avaliar estas atividades? Como em
todas as experiências que os alunos vivem, deveremos nos perguntar que
conteúdos conceituais, procedimentais e, sobretudo atitudinais são trabalhados em
cada uma das atividades e relacioná-los com as finalidades educacionais que
promovem. Uma vez mais, a análise dos conteúdos da aprendizagem deve nos
permitir chegar a conclusões sobre a função social do ensino que a escola tem e
sobre a capacidade de incidência formativa que estas atividades têm.
5.1.3 Texto 3
Promover canais de comunicação. A organização socia l da classe ZABALA, A. A prática educativa : como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Entender a educação como um processo de participação orientado,
de construção conjunta, que leve a negociar e compartilhar significados, faz com que
a rede comunicativa que se estabelece na aula, quer dizer, o tecido de interações
que estruturam as unidades didáticas, tenha uma importância crucial. Para construir
esta rede, em primeiro lugar é necessário compartilhar uma linguagem comum,
entender-se, estabelecer canais fluentes de comunicação e poder intervir quando
estes canais não funcionem. Utilizar a linguagem da maneira mais clara e explícita
possível, tratando de evitar e controlar possíveis mal-entendidos e incompreensões.
Para facilitar o desenvolvimento do aluno é preciso utilizar o grupo-
classe, potencializando o maior número de intercâmbios em todas as direções. Para
isso será imprescindível promover a participação e a relação entre professores e os
alunos e entre os próprios alunos, para debater opiniões e idéias sobre o trabalho a
ser realizado e sobre qualquer das atividades que se realizam na escola, escutando-
os e respeitando o direito de intervirem nas discussões e nos debates. É importante
37
aceitar as contribuições dos meninos e meninas, mesmo que se expressem de
forma pouco clara ou parcialmente incorreta, e estimular especificamente a
participação dos alunos com menor tendência espontânea a intervir, através do
oferecimento de espaços de trabalho em pequenos grupos ou através ou da relação
e de contato pessoais com alguns alunos em momentos pontuais. A diversidade dos
tipos de atividades para tornar possível que num momento determinado os alunos
possam escolher entre atividades diferentes e a proposição, em alguns casos, de
atividades com opções ou alternativas diferentes para possibilitar a participação do
conjunto de alunos no maior grau possível.
A rede comunicativa será mais ou menos rica conforme as
possibilidades veiculadas pelas diferentes seqüências didáticas e as que se
decorrem do tipo de estruturação do grupo e do papel que outorga aos diversos
membros do grupo. Pode se escolher uma estrutura praticamente linear, cujas
relações sejam fundamentalmente unidirecionais de professor a aluno e cujos níveis
de comunicação se limitem a uma aceitação acrítica das exposições e critérios do
primeiro. Ou também se pode promover que os canais comunicativos e, portanto da
aprendizagem, se amplie graças a modelos cuja estrutura organizativa obrigue a co-
responsabilizar todo o grupo-classe com o objetivo de conviver e aprender e, assim,
abrir o leque de possibilidades de relações entre os diferentes membros do grupo.
Atividades comunicativas que fomentem a bidirecionalidade das
mensagens e aproveitem a potencialidade educativa que oferece a aprendizagem
entre iguais. (grifo do autor)
5.1.4 Texto 4
A elaboração conceitual: a dinâmica das interlocuçõ es na sala de aula. FONTANA R.A.C. In. Ana Luiza Smolka, Maria Cecília Rafael de Góes (orgs.) A Linguagem e o outro no espaço escolar – Vygotsky e a construção do conhecimento . 5. ed. Campinas: Papirus, 1996 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
A apreensão do discurso do outro, analisa Baktin, é um processo
dialógico de confrontação entre as palavras “alheias” e as palavras já elaboradas
pelo sujeito. A palavra enunciada provoca uma contrapalavra, uma réplica.
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O processo de elaboração conceitual, considerado à luz do “princípio
dialógico” de Bakhtin, configura-se como um processo de articulação, pelo confronto,
de múltiplas vozes historicamente definidas, em condições de interação -
compreensão/expressão - determinadas. Configura-se como um processo
discursivo.
5.2 Atividades Para Reflexão
Após a leitura dos textos, responda:
1) Segundo Zaballa desenvolver atividades gerais “são cruciais para
o sentimento de identificação pessoal com a escola, tanto por
parte dos alunos como dos professores.” Comente esta
afirmação.
2) Na Unidade 1, vimos segundo Saviani, N. que “É necessário que
a escola possibilite a apropriação dos múltiplos elementos
culturais, a vivência da cultura nas suas múltiplas manifestações”.
Sabendo desta necessidade, dê sugestões de atividades a serem
desenvolvidas pela escola..
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UNIDADE 6
SUGESTÕES
6.1 Aprofundamento Teórico
A práxis educativa deve significar a emergência de novas formas de se lidar com o processo de ensino-aprendizagem: com os conteúdos, métodos e técnicas, planejamento e avaliação, relação professor-aluno e a gestão escolar; processos interativos como, por exemplo: gestão participativa, trabalhos em grupo, debates, seminários etc., enfim, discussões e experimentos que proporcionem a troca, o intercâmbio, o avanço solidário. (CAPARELLI, 2008).
Para as propostas das práticas pedagógicas diferenciadas,
partirei da fundamentação teórica já exposta nas unidades anteriores, das diretrizes
curriculares das disciplinas de Língua Portuguesa e Arte da Pesquisa realizada pela
professora Baraúna Tãnia Márcia Teixeira “Dimensões sócio-educativas do teatro do
oprimido de Augusto Boal – uma proposta de intervenção” - e do tema inicial do
“Projeto de Intervenção a ser desenvolvido: a escola enquanto espaço cultural”, que
tem como objetivos: tornar a escola um ambiente culturalmente diversificado; criar
um espaço de incentivo e valorização de práticas pedagógicas diferenciadas.
6.1.1 Texto 1
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio . Governo do Estado do Paraná, Secretaria do Estado da Educação, Superintendência da Educação, Curitiba, 2008.
[...] O trabalho com gêneros orais deve ser consistente. Isso significa
que as atividades propostas não podem ter como objetivo simplesmente ensinar o
aluno a falar, por meio da emissão de opiniões,ou em conversas com os colegas de
sala de aula. O que é necessário avaliar, juntamente com o falante, por meio da
reflexão sobre os usos de linguagem, é o conteúdos de sua participação oral. O ato
de apenas solicitar que o aluno apresente um seminário não possibilita que ele
desenvolva bem o trabalho. É preciso esclarecer os objetivos, a finalidade dessa
apresentação, e explicar, por exemplo, “que apresentar um seminário não é
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meramente em voz alta um texto previamente escrito. Também não é colocar-se a
frente da turma e bater um papo com os colegas. [...]” (CAVALCANTE e MELO,
2006, p.184) (p.30).
[...] A ação pedagógica referente à linguagem, portanto, precisa
pautar-se na interlocução, em atividades planejadas que possibilitem ao aluno a
leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão e o uso da linguagem em
diferentes situações. Desse modo, sugere-se um trabalho que priorize práticas
sociais.
[...] Tradicionalmente, a escola tem agido como se a escrita fosse a
língua, ou como se todos que nela ingressam falassem da mesma forma. No
ambiente escolar, a racionalidade se exercita com a escrita, de modo que a
oralidade em alguns contextos educacionais, não é muito valorizada, entretanto, é
rica e permite muitas possibilidades de trabalho a serem pautadas em situações
reais de uso da fala e na produção de discurso nos quais o aluno se constitui como
sujeito do processo interativo. (p. 21)
6.1.2 Texto 2
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio . Governo do Estado do Paraná, Secretaria do Estado da Educação, Superintendência da Educação, Curitiba, 2008.
[...] Pretende-se que os alunos adquiram conhecimentos sobre a
diversidade de pensamento e de criação artística para expandir sua capacidade de
criação e desenvolver o pensamento crítico. (p.20)
[...] Nestas diretrizes, entende-se cultura como sendo toda produção
humana resultante do processo de trabalho, que envolve as dimensões artísticas,
filosóficas e científicas do fazer e do conhecer. (p.24)
[...] Nos conteúdos estruturantes: Música, Arte Visual, Teatro,
Dança, serão trabalhados os elementos formais, composição movimento e períodos.
[...] Dessa forma, devem-se contemplar, na metodologia do ensino
de Arte, três momentos da organização:
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Teorizar: fundamenta e possibilita ao aluno que perceba e aproprie a
obra artística, bem como desenvolva um trabalho artístico para formar conceitos
artísticos.
Sentir e perceber: são as formas de apreciação, leitura e acesso à
obra de arte.
Trabalho artístico: é a prática criativa, o exercício com os elementos
que compõem uma obra de arte. (p.40)
[...] Sentir e perceber
No processo pedagógico, os alunos devem ter acesso às obras de
Música, Teatro, Dança, Artes Visuais para que se familiarizem com as diversas
formas de produção artística. Trata-se de envolver a apreciação e a apropriação dos
objetos da natureza e da cultura em uma dimensão estética. (p.41)
[...] Dança
Para o ensino da dança na escola, é fundamental buscar no
encaminhamento das aulas a relação dos conteúdos próprios da dança como
elementos culturais que compõem. (p.45)
[...] Teatro
Dentre as possibilidades de aprendizagem oferecidas pelo teatro, na
educação, destacam-se: a criatividade, socialização, memorização e coordenação,
sendo o encaminhamento metodológico, proposto pelo professor, o momento para
que o aluno os exercite. (p.49)
[...] Com o teatro, o aluno tem a oportunidade de se colocar no lugar
de outros, experimentando o mundo sem correr risco.
Existem diversos encaminhamentos metodológicos possíveis para o
ensino de teatro, no entanto se faz necessário proporcionar momentos para teorizar,
sentir e perceber e para o trabalho artístico, não reduzindo-o a um mero fazer.
Para o trabalho de sentir e perceber é essencial que os alunos
assistam peças teatrais, de modo a analisá-las. (p.50)
[...] Para que a presença do teatro na escola seja coerente à
concepção de Arte adotada nas diretrizes, busca-se superar a idéia do teatro
somente como atividade espontânea ou de espetáculo comemorativo. (p.51)
[...] Na escola, as propostas do enredo e das ações dos
personagens podem ser valorizados com espaços alternativos para a cena, afora o
anfiteatro e o salão nobre. Dessa maneira, locais inusitados como uma escadaria ou
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uma simples sala sem qualquer móvel são transformadas em locais que exerçam a
intenção da cena e ou das personagens. Tais relações dão ênfase a um espaço
pensado como signo: um espaço cênico. (p.52)
6.1.3 Texto 3
Dimensões sócio-educativas do teatro do oprimido de Augusto Boal – uma proposta de intervenção . Pesquisa realizada pela professora TEIXEIRA, Baraúna Tãnia Márcia. 2008.
[...] os dois objetivos do Teatro do oprimido definidos por Boal são:
Transformar o espectador, de um ser passivo e depositário, em protagonista da ação
dramática.
Nunca se contentar em refletir sobre o passado, mas se preparar
para o futuro.
[...] No Teatro do Oprimido, através das práticas de jogos, exercícios
e técnicas teatrais, procura estimular a discussão e a problematização de questões
do cotidiano, com o objetivo de fornecer uma maior reflexão das relações de poder,
através da exploração de histórias entre opressor e oprimido.
[...] Entre técnicas do teatro do Oprimido estão:
Teatro Imagem: Teatro Jornal, Teatro invisível, Teatro Legislativo e
Teatro Fórum.
Teatro Imagem – é um conjunto de técnicas que transformam
questões, problemas e sentimentos em imagens concretas. Busca-se a
compreensão dos fatos através da linguagem das imagens.
O teatro Jornal é um conjunto de nove técnicas que dinamizam
notícias de jornal, dando-lhes diferentes formas de interpretação.
Teatro Legislativo é uma experiência sócio-cultural que visa a
produção de propostas: legislativas e/ou jurídicas, a partir da intervenção do público
em espetáculos do Fórum. É uma forma de implantar o conteúdo político do Teatro
do Oprimido. A partir dos problemas cotidianos da população, é feito um
levantamento de informações para a elaboração das leis. Os grupos populares
montam peças de Teatro Fórum e as apresentam para diversos políticos. As
43
intervenções realizadas pela platéia no Teatro Fórum são anotadas em relatórios. As
análises destes relatórios são a base para a formulação de novas leis.
No Teatro Fórum, como técnica teatral, é uma pergunta feita pelo
elenco aos espectadores. É apresentado um problema objetivo, através de
personagens opressores, que entram em conflito por causa de seus desejos e
vontade contraditórios. Nesta luta por seu objetivo, o oprimido, necessariamente,
fracassa e os esct-atores devem ao representar suas alternativas para os problemas
encenados, através da intervenção direta no espetáculo, substituindo o personagem
oprimido.
[...] Os resultados alcançados pelo trabalho do Teatro do Oprimido
são referentes à educação para a cidadania e participação popular nas discussões
públicas. Esse grupo de técnicas ajuda a sensibilizar as pessoas em torno de um
tema, favorecendo a desinibição, e estimulando as pessoas a apresentarem suas
idéias a propostas para o grupo do qual participam.
6.2 Propostas Diferenciadas
Criação de um espaço cultural permanente.
Os professores e alunos precisam sentir que a escola é um espaço,
por origem, cultural.
Nestas diretrizes, entende-se cultura como sendo toda produção humana resultante do processo de trabalho, que envolve as dimensões artísticas, filosóficas e científicas do fazer e do conhecer’. (DIRETRIZES CURRICULARES DE ARTE, p.24).
Se a escola é um espaço onde o aluno deve se apropriar da cultura
historicamente construída, e se ele é um sujeito capaz de produzir conhecimentos,
isto é, produzir cultura, então a escola é um espaço vital de cultura.
É, portanto, democraticamente, um espaço o qual os alunos devem
se apropriar para expandirem-se em ações que levem às duas funções as quais
Saviani. N. se refere:
No meu entender, a escola deve ser criadora o suficiente para, além de transmitir os conhecimentos científicos, dotar o aluno da capacidade de buscar informações, conforme as exigências de sua atividade principal e de acordo com as necessidades do desenvolvimento individual e social. Mas,
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acima de tudo, a escola deve ser pensada como espaço de cultura, isto é, espaço que propicia o acesso às múltiplas manifestações culturais, e, ao tempo, de produção e reprodução da cultura (SAVIANI, 2005).
‘’As mostras, os eventos culturais serão incentivados, e como todas
as atividades, com maiores atribuições possíveis aos alunos. Nas Universidades há
os Diretórios, os Centros Acadêmicos onde os alunos por si propõem atividades
acadêmicas e culturais as mais diversas. Na escola sugere-se que o Grêmio
Estudantil seja envolvido nestas realizações, com a diferença que terão um
acompanhamento de professores.
Os trabalhos tão conhecidos como Feira de Ciências, ou Feira
Cultural têm sua validade, porém a estrutura da exposição não favorece a visitação
dos próprios alunos, que por estarem envolvidos em seus trabalhos, deixam de
aproveitá-los. Contudo são importantes, pois, além da realização pelos alunos, há a
exposição para familiares e comunidade, que podem acompanhar e avaliar. A
escola, no entanto, necessita coordenar e propor estruturas que possibilitem o maior
aproveitamento destes momentos, visto que eles centralizam objetivos importantes
em relação à aquisição do saber, à criação e à sua divulgação.
Quanto ao teatro, uma das propostas será, além de um trabalho
mais direcionado à prática teatral, segundo orientações contidas nas Diretrizes de
Arte, um trabalho que envolva alunos em práticas teatrais utilizando-se as técnicas
do Teatro do Oprimido.
Criação de canais de comunicação .
É preciso incentivar atividades em que os alunos tenham
oportunidade de expor trabalhos desenvolvidos nas diversas disciplinas. Estes
trabalhos seriam compartilhados, em arranjos com uma ou mais turmas. Os
professores poderiam definir conteúdos pertinentes para serem trabalhados, ou
partir de sugestão dos próprios alunos. O grupo pode ser uma turma que se divide
em grupos com funções específicas, ou pode ser composto, por exemplo, por mais
de uma turma: as alunas de duas oitavas se reunirem para prepararem um Fórum
onde recebessem alunas de outras séries para exporem um trabalho e discutirem.
A integração entre turmas, entre turnos é favorável. Os alunos
geralmente demonstram um amadurecimento maior quando se envolvem com
turmas de alunos mais velhos, por terem boas expectativas em relação a estes.
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Ficaria estabelecido que ao final da unidade, ou do bimestre, a critério do professor,
a turma encarregada iria sedear a sala de debates (salão nobre). Poderia se chamar
de Fórum de Debates.
Para que este encontro aconteça muitos preparativos deverão ser
realizados, desde a confecção de materiais, cartazes de divulgação e didáticos,
maquetes, vídeos, música, enfim tudo que fosse necessário para a apresentação da
abertura do Fórum, que deveria iniciar com uma apresentação geral sobre o assunto
por uma equipe de alunos. Em seguida abre-se para debates. Esta turma estará
recebendo outra turma que posteriormente coordenará o próximo Fórum. Ao abrir o
debate um coordenador chamará alunos que irão fazer os esclarecimentos das
questões levantadas, antes comporão a mesa com professores convidados. O(s)
professor(es) da(s) disciplina(s) envolvida(s). A princípio poderá ser o professor da
disciplina, mas o ideal é que aos poucos vá envolvendo outros professores, através
de um trabalho integrado.
Durante o debate é interessante formar grupo de alunos das duas
turmas para debaterem sobre o conteúdo, sobre o tema. A idéia é que não seja uma
seqüência de sabatina, mas um trabalho coordenado de proposições a respeito de
uma situação problema, um tema polêmico.
As possibilidades poderão variando conforme o desenrolar dos
trabalhos. Alunos de sexta-série poderão sedear quintas-séries para discutirem
fatos, temas, conteúdos de conhecimentos gerais. Há ainda a possibilidade dos
alunos aos poucos irem ampliando para visitantes, caso o tema seja de interesse,
por exemplo: debater sobre a Dengue e convidar alguns moradores e
representantes do bairro. Os professores irão coordenar os trabalhos.
Outra atividade seria a exposição de trabalhos, de experimentos
individuais ou em grupo. Os alunos poderiam também sugerir temas.
Todo um trabalho de divulgação, de estudo, de preparo será
acompanhado pelos professores envolvidos.
Este trabalho resgataria o sentido de pertencimento ao grande grupo
que é a escola. Resgataria também o que ZABALLA (1998) afirma em relação à
atividade mental: “esta se desenvolve quando aplicada ao uso funcional em outras
ocasiões que seja necessário.” Isto caracterizaria a prática social. É importante
também que os alunos tenham como referência que por ser a escola um espaço
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público e que se o deseja: democrático, é necessário que haja atribuições e
responsabilidades.
Criação de um Jornal
Além de ser considerado uma produção significativa, o Jornal é
também um valioso e interessante canal de comunicação e instrumento pedagógico.
Excelente instrumento para se desenvolver o trabalho de equipe, a parceria e a
colaboração entre os envolvidos.
Desenvolve no aluno a capacidade de organizar, investigar,
pesquisar, estabelecer relações entre os fatos. Incentiva a leitura crítica e o
desenvolvimento da fluência na escrita. Possibilita integrar disciplinas e conteúdos.
Os alunos aprenderão sobre a linguagem e a formulação, próprias na elaboração do
jornal (manchete, editor, lead, editorial, notícia, reportagem, entrevista, diversão,
esportes, cultura, classificados, charge), e adequadas ao objetivo da comunicação.
Sua elaboração implica vários momentos, visita a uma redação para
conhecerem os processos de elaboração, composição, impressão, distribuição. O
jornal poderá ter uma composição diferenciada. Poderá envolver professores de
Língua portuguesa e demais disciplinas.
Projetos individuais
Uma das propostas é o incentivo aos Projetos individuais, em que os
alunos desenvolveriam projetos de interesse individual, por um período maior, com a
orientação de professores da disciplina mais relacionada ao tema escolhido, ou
mesmo a orientação de mais professores, conforme a abrangência de seu trabalho.
Este trabalho concluído também seria exposto ao coletivo.
Segundo Castro (apud GASPARIN, 2007, p.110-112),
a mediação pedagógica pode ser desenvolvida utilizando-se de técnicas convencionais de ensino, que são de grande importância e existem há muito tempo, como se utilizando de novas tecnologias, representadas pelo uso recente do computador, da informática.
Há inúmeras sugestões de práticas com utilização tecnológica que
podem ser consideradas diferenciadas e de estimável valor pedagógico. Dentre elas:
� Webquest
� Como criar um Podcast
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� Rádio Escola
Disponíveis em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/verVideosaction
As escolas precisam buscar parcerias com universidades, através de
seus projetos de extensão, centros de cultura, grupos de teatro, rádios, jornais,
enfim, entidades que desenvolvam projetos correlatos.
Na escola em que será desenvolvido o Projeto de Intervenção
Pedagógica: A escola enquanto espaço de incentivo e valorização de práticas
pedagógicas diferenciadas - haverá o apoio da Casa de Cultura da UEL, o apoio do
Grupo de Teatro do Oprimido – de Londrina, que desenvolverá oficinas de teatro
com os alunos do ensino médio, que terão a oportunidade de conhecerem e
vivenciarem artisticamente a metodologia do teatrólogo Augusto Boal.
Em relação ao rádio, a escola buscará envolver-se no Projeto de
Extensão da Universidade Estadual de Londrina - Projeto Rádio Ação que pretende
ser reativado em 2009.
Além da criação de um Jornal, há a possibilidade dos alunos serem
envolvidos no Projeto de Extensão da Universidade Estadual de Londrina, em
parceria com a Folha de Londrina: Folha Cidadania em que os alunos recebem
semanalmente exemplares para serem trabalhados em sala de aula, e têm a
oportunidade de participarem do Caderno Cidadania enviando opiniões sobre os
temas abordados.
É Importante também que as escolas busquem envolver sua
comunidade escolar, professores, alunos, pais, e que ao lançar propostas
diferenciadas aproveitem potencialidades existentes. Muitos de nossos alunos
demonstram muito mais familiaridade com recursos tecnológicos que nós
professores, o que diversas por vezes nos desestimula de ações pretendidas. Sendo
que, se soubermos envolvê-los e atribuir responsabilidades, muito poderá ser
alcançado, para benefício deles, da escola, da educação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente material é resultado de uma idealização que é a de
construir na escola um espaço cultural permanente. Um espaço de aprendizagens
significativas.
Trata-se de um recurso para reflexões e sugestões de práticas
pedagógicas consideradas diferenciadas por trazerem em sua essência a prática
social, a valorização dos conteúdos historicamente construídos, portanto, culturais.
Busca-se atrelar à função específica da escola uma nova maneira de propor
atividades, novos métodos, novas aprendizagens.
O objetivo maior deste material é o de servir de subsídio para estas
reflexões e análises, e a partir disto se propor coletivamente uma prática inovadora,
diferenciada, mesmo que não totalmente estas.
Que surjam novas idéias, adaptações. O importante é que a escola
se reconheça como um espaço cultural com inúmeras possibilidades e
potencialidades - tanto por parte de professores quanto de alunos, para
redimensionar seu fazer pedagógico. Conforme Paro (2008), a escola deve propor
condições para que o aluno queira aprender, acredite naquilo que está sendo
proposto, através de uma relação dialógica que o torne sujeito de seu processo
educativo.
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