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A AUTOMAÇÃO DA INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA EM INSTITUiÇÃO DE PESQUISA: INTEGRAÇÃO E ESTRATÉGIA * Roque Rabechini Junior ** Milton de Abreu Campanario Ações possíveis para implantação de uma política de automação da informação num instituto de pesquisas tecnológicas. Actions to implement a policy of information in an institute of technological research. PALAVRAS CHAVE: Informação estratégica, auto- mação de informação, política de automação. KEYWORDS: Technological information, rightsizing, strategic informa- tion, automation policy. • Pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de Sis- temas do IPT, Engenheiro de Produção, Mestre em Adminis- tração pela FEAlUSP. •• Diretor de Planejamento e Gestão do IPT, Economista, M.S. Harvard University, Ph.D. ComeUUniversity, Professor do IPElFEAlUSP. 48 Durante a década de 80, os serviços de acesso às bases de dados foram sendo cada vez mais explorados pelas organizações. A imple- mentação desse tipo de serviço foi possível graças aos significativos avanços na área da tecnologia da informação. A pesquisa on line, devido a um extraordinário volume de informações, passou a ser uma atividade quase que rotineira em algumas instituições, nos paí- ses mais desenvolvidos. No Brasil, apesar da criação de serviços de acesso às bases de da- dos, o uso da pesquisa on line em informação tecnológica é ainda muito restrito. O IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Pau- lo S.A. - decidiu, recentemente, pela automação de seus acervos atra- vés da elaboração do Sistema de Automação e Recuperação de Infor- mações Tecnológicas - SAR. Esse projeto, que gerou possibilidades concretas do Instituto se inserir no âmbito das organizações que for- Revista de Administração de Empresas Mar./Abr. 1994 São Paulo, v. 34, n. 2, p. 48-58

AAUTOMAÇÃO DA INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA EM … · rightsizing, strategic informa-tion, automation policy. • Pesquisador da Divisão de Economiae Engenhariade Sis-temas do IPT,

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A AUTOMAÇÃO DA INFORMAÇÃOTECNOLÓGICA EM INSTITUiÇÃO DEPESQUISA: INTEGRAÇÃO E ESTRATÉGIA

* Roque Rabechini Junior** Milton de Abreu Campanario

Ações possíveis para implantação de uma política de automação da informaçãonum instituto de pesquisas tecnológicas.

Actions to implement a policy of information in an institute of technological research.

PALAVRAS CHAVE:Informação estratégica, auto-mação de informação, políticade automação.

KEYWORDS:Technological information,rightsizing, strategic informa-tion, automation policy.

• Pesquisador da Divisão deEconomia e Engenharia de Sis-temas do IPT, Engenheiro deProdução, Mestre em Adminis-tração pela FEAlUSP.

•• Diretor de Planejamento eGestão do IPT, Economista,M.S. Harvard University, Ph.D.ComeUUniversity, Professor doIPElFEAlUSP.

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Durante a década de 80, os serviços de acesso às bases de dadosforam sendo cada vez mais explorados pelas organizações. A imple-mentação desse tipo de serviço foi possível graças aos significativosavanços na área da tecnologia da informação. A pesquisa on line,devido a um extraordinário volume de informações, passou a seruma atividade quase que rotineira em algumas instituições, nos paí-ses mais desenvolvidos.

No Brasil, apesar da criação de serviços de acesso às bases de da-dos, o uso da pesquisa on line em informação tecnológica é aindamuito restrito.

O IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Pau-lo S.A. - decidiu, recentemente, pela automação de seus acervos atra-vés da elaboração do Sistema de Automação e Recuperação de Infor-mações Tecnológicas - SAR. Esse projeto, que gerou possibilidadesconcretas do Instituto se inserir no âmbito das organizações que for-

Revista de Administração de Empresas Mar./Abr. 1994São Paulo, v. 34, n. 2, p. 48-58

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necem serviços de acesso às bases de dados, teve os seguintes objeti-vos básicos:• criação de bases de dados considerando os di-versos tipos de acervos existentes no Instituto;

• integração da informação, pois o Instituto com-põe-se de várias divisões técnicas e

• conecção do Instituto com outros centros de in-formação, nacionais e internacionais.O IPT conta atualmente, no âmbito do SAR,com

cinco unidades documentacionais automatizadas etem como meta para o presente ano integrar maisquatro, de um total de catorze.' O volume de infor-mação envolvido no processo de automação é enor-me, envolvendo, em tomo de um milhão de docu-mentos normativos, nacionais e estrangeiros, amploacervo de informações industriais com cerca de 150mil catálogos,mais de 180mil volumes entre livros, publicações seria-das e obras de referência, além de 4.300 títulos de periódicos e 30milrelatórios técnicos gerados internamente. Uma percepção mais aproxi-mada dos itens que hoje incorporam as bases de dados do IPT são: 100mil referências bibliográficas, em tomo de 50 mil normas técnicas, 50mil catálogos sobre produtos industriais, 2,5mil dados sobre pesquisa-dores, entre outros.

Este estudo apresenta um quadro referencial relativo às experiên-cias adquiridas durante o desenvolvimento do Sistema/Serviço deacesso à base de dados do IPT.

Inicialmente, são discutidas as premissas de seu desenvolvimento:estratégia e integração. Em seguida, tendo-se como base essas pre-missas, serão apresentadas as principais características do Instituto,bem como as ações relevantes que visam ao estabelecimento de umapolítica de implementação e manu-tenção do serviço de busca da in-formação tecnológica, tendo comopano de fundo o instru-mento gerencial doGoverno, denomina-do Contrato de Ges-tão. Por fim, serádiscutido o produ-to, objeto de im-plementação detal política.

A informação teenotógiéo,

1. IPT - Instituto de PesquisasTecnológicas do Estado de SãoPaulo, Contrato de gestão, SãoPaulo, 1991.

© 1994, Revista de Administração de Empresas I EAESPI FGV, São Paulo, Brasil. 49

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jJ~lJCASES

ESTRATÉGIA E INTEGRAÇÃO

Vários fatores são determinantes para o sucesso de um serviço deacesso à base de dados, cujo o conteúdo é a informação tecnológica.Conceitualmente, duas premissas básicas foram consideradas noprocesso de planejamento do projeto do IPT:uma estratégica e outrareferente à integração da informação.

Do ponto de vista estratégico, tem-se que a decisão em automaçãodeve estar sempre alinhada aos objetivos maiores da organização.sAssim, a questão estratégica básica, considerando os objetivos doIPT, é: pretende-se ou não comercializar a informação tecnológica,

utilizando para isso meios eletrôni-cos? Dependendo da resposta à essaquestão, um determinado sistema deinformação poderá atingir alvos dis-tintos. Portanto, se não houver inte-resse na comercialização da informa-ção tecnológica, o sistema deveráatender apenas aos requisitos de de-manda interna - a dos pesquisadores.Caso contrário, o sistema deverá aten-der a uma gama de usuários cujo per-fil certamente difere dos pesquisado-res do Instituto.

A opção do lPT neste caso foiatender tanto o público internocomo comercializar a informação ex-ternamente. Para atender esses doispúblicos, já que seus requisitos nãosão excludentes, realizou-se um pro-

jeto abrangente, que ao mesmo tempo apresentou soluções capa-zes de satisfazer as necessidades das duas vertentes identificadas.Ou seja, atender a uma demanda interna inicialmente, bem comotomar viável a comercialização da informação gerada pelas basesde dados intemalizadas pelo sistema. Dessa forma, o produto fi-nal, resultado da automação, que visa a atender às necessidadesdos pesquisadores, passa a fazer parte da esfera negocial do Insti-tuto, à medida que as informações geradas pelo sistema podemser comercializadas.

Essa transformação da informação em objeto negocial, do pontode vista estratégico, corresponde a uma tendência verificada no cam-po da administração, em particular na área dos sistemas de informa-ção.>No entanto, para satisfazer essa premissa estratégica é necessá-rio atentar para um segundo fator: a integração.'

Para atingir uma integração relevante, um sistema que processainformação tecnológica deve considerar três fases em termos deabrangência que são:• monousuário;• multiusuário ao nível da organização que o sistema atende e• atendimento global.

As duas primeiras tratam a informação pertencente a um ou maissegmentos da organização e são acessadas por pesquisadores que autilizam cornosuporte em seus projetos. A terceira fase - atendimen-to global - representa a tentativa de alinhar o desenvolvimento desistemas aos objetivosda organização, uma vez que o produto resul-tante da automação pode ser comercializado.

2. HENDERSDN, J.C., VENKA-TRAMAN, N. Strategyaligment:a framework for strategic infor-mation tectinotoçy manage-ment. MIT Massachusetts Insti-tute Technoloqy, 1989.

3. WISEMAN, Charles. Strategicinformation systems. Illinois:Richard O Irwin, 1988. 451 p.;PORTER,M. E. , MILLAR. V. E.How Information Gives youCompetitive Advantage. HarvardBusiness Review, Boston, v.63.n.4, p. 149-160, jul./aug. 1985.

4. PUCHAN, Joerg. InformatíonManagement. Mana(}ement ottechnology 111:lhe key to globalcomoetitiveness, Proceedingsof lhe Third International Confe-rence on Management of Tech-noloçy, Miami, Florida, USA,1992.

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A AUTOMAÇÃO DA INFORMAÇÃO TECNOLÓGICAEM INSTITUiÇÃO DE PESQUISA...

TRADUZINDO A ESTRATÉGIA: O CASO DO IPT

o IPT é o maior e mais diversificado órgão de pesquisa tec-nológica do Brasil, com renome internacional. 5 Com 92 anos deexistência, o Instituto atualmente congrega 2.100 funcionários(750 pesquisadores e 650 técnicos) e 78 laboratórios ou seções,agregados em oito Divisões Técnicas: Geologia; Construção Ci-vil; Mecânica e Eletricidade; Química; Metalurgia; Produtos flo-restais, Têxtil e Couros; Tecnologia de Transportes; e Economiae Engenharia de Sistemas. Essa estrutura departamental é hori-zontalmente integrada através de Programas Temáticos e deuma Coordenadoria de Informação e Documentação - CID.

Cada Divisão tem uma unidade documental que, tradicional-mente, não seguia uma política uniforme emanada da CID. Arigor, somente com a implantação do SAR, nos últimos doisanos, é que iniciou-se um processo para estabelecimento de cri-térios e políticas de aquisição, classificação, escolha de palavras-chave etc., em relação aos vários acervos do Instituto. O siste-ma, nesse sentido, trouxe um componente que organiza hori-zontalmente todo o volume de informação tecnológica existen-te, bem como as atividades relacionadas ao seu processamento.

Como no passado, ocorreram iniciativas fracassadas de secriar um processo de automação para todas as Divisões simulta-neamente, optou-se por operar uma unidade piloto típica, ondeas dimensões técnica, administrativa e de pessoal estivessemsob controle. 6

A unidade selecionada foi o Centro de Documentação da Di-visão de Economia e Engenharia de Sistemas - CENDES =, por-que a iniciativa de automatizar partiu dessa Divisão e não dadireção central do Instituto. Pactuou-se, com a direção, que umavez implantado o sistema com sucesso, o mesmo seria levado aoutras unidades.

O ponto de partida estratégico, além da fixação de uma uni-dade piloto, foi o atendimento dos requisitos dos pesquisado-res, com tratamento específico em profundidade das informa-ções pertinentes às áreas de conhecimento em que a Divisão deEconomia e Engenharia de Sistemas atua de forma predomi-nante.? A rigor, esse atendimento é o que marcou a história doInstituto, pouco voltado, na área de informação e documenta-ção, para o atendimento multiusuário, incluindo o meio exter-no. Foi através do Contrato de Gestão IPT /Governo do Estadoque tornou-se possível, a partir dessa base cultural, almejar-seoutros objetivos. 8

O passo inicial para definição de objetivos mais abrangentesfoi o estabelecimento, através de amplo processo participativo,das missões institucionais do IPT. 9 A Missão 1, Instrumento dePolíticas Públicas, fundamenta-se na abrangente atuação do Ins-tituto no âmbito das políticas públicas, através de diagnósticos,estudos, assessorias, pareceres, divulgação de informações e denormas técnicas etc. Ao assumir essa missão, o IPT objetiva me-lhor organizar-se para atender aos desafios tecnológicos presen-tes não só nos Planos do Governo, mas também nos programasde caráter público formulados por entidades da sociedade civile fóruns coletivos.

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5. IPT . Instituto de PesquisasTecnológicas do Estado de SãoPaulo, Relatório Anual 1989,São Paulo, 1990.

6. IPT. Projeto de Desenvolvi-mento do Sistema de Automa-ção e Recuperação de Informa-ções Tecnológicas - SAR, SãoPaulo, 1989.

7. IPT. Projeto de Implantaçãodo Centro de Documentação daDivisão de Economia e Enge-nharia de Sistemas. São Paulo,1978.

8.Op, cit,

Contrado de Gestão.

9. Idem, ibidem.

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10. UNESCO, Medição das Ati-vidades Científicas e Tecnológi-cas, Frascati Manual 1980,OECD,Paris, 1981.

11. IPT. Projeto de Criação doCentro Integrado de Atendimen-to - CIA, São Paulo, 1992.

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A Missão 2, Apoio Tecnológico ao Setor Produtivo Industrial,nasceu do forte respaldo laboriatorial que o IPT oferece, atravésde cerca de 2.600 tipos de ensaios e análises, ao setor produtivoindustrial. Hoje, esse apoio estende-se às áreas de assessorias,estudos técnicos, pesquisas, normas técnicas e informação tec-nológica.

Finalmente, a Missão 3, Acervo Tecnológico, refere-se à me-mória técnico-científica que é retida pelo Instituto através deseu acervo bibliográfico, relatórios técnicos e, principalmente,do seu corpo de pesquisadores.

Os trabalhos do IPT são organizados sob a forma de projetostécnicos, sendo que cada projeto, conforme o seu grau de multi-disciplinariedade, emprega as capacitações técnicas adequadasem uma ou várias de suas áreas de competência. A enormegama de projetos requer a utilização de uma classificação quetorne operacionalizável o seu sistema interno de gerenciamento,controle e avaliação. Para isso, os projetos foram classificadossegundo as seguintes atividades-fim: pesquisa aplicada e desen-volvimento experimental; estudos técnicos especializados; ser-viços técnicos; produção experimental; difusão de conhecimen-to e treinamento." A atividade de difusão de conhecimento in-clui cursos, publicações e os serviços de informação.

A definição de objetivos para cada atividade dá-se através deseu cruzamento com as Missões institucionais. Assim, tradicio-nalmente, assumia-se que a atividade de difusão de conheci-mento, particularmente no tocante aos serviços de informação ede documentação, estava voltada fundamentalmente para aMissão de acervo. Dessa forma, o objetivo era fornecer umabase de informação para o desenvolvimento de outras ativida-des-fim. Recentemente, estabele-ceu-se que o objetivo estratégicopara essa área é voltar-se para omeio externo, visualizando a Mis-são 2, sem obviamente desmere-cer a Missão 3.

Outro aspecto relevante para amontagem do SAR foi a constata-ção de que a atomização dasáreas de documentação e de con-sulta trazem grandes prejuízos aoInstituto. O IPT tem uma estrutu-ra de atendimento onde o usuáriopode dirigir-se a qualquer umadas nove bibliotecas divisionais,biblioteca central, centro de nor-mas técnicas, acervos de catálogos ou de relatórios, sem queexista, de forma estruturada, nenhuma identificação de suas ne-cessidades ou demandas. O acesso direto é eficaz caso o usuáriosaiba exatamente o que procura. Este é o caso do pesquisadordo IPT, mas não do usuário externo.

O SARé um dos instrumentos de um modelo de atendimen-to que, apesar de não inibir o acesso direto do usuário às váriasáreas do lPT, coloca à sua disposição um Centro Integrado deAtendimento - elA 11 com as funções de: atendimento expedito,

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identificação de necessidades, encaminhamento, cadastramentoe acompanhamento.

A rigor, somente com esta forma é que a área de informaçãopoderá, de forma gradual e segura, alavancar os seus serviçosde informação visando à dimensão negociaI. Dentro dessa pers-pectiva é que o SAR foi arquitetado.

CARACTERIZAÇÃO DO MODelO DE ARMAZENAMENTOE BUSCA DA INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA

o Sistema de Automação e Recuperação de Informações Tec-nológicas - SAR foi desenvolvido no IPT tendo-se como plata-forma de hardware o computador da Control Data denominadoCyber /720. Este equipamento (mainframe), cuja capacidade dearmazenamento é de, aproximadamente, 2,62 GBytes, é geren-ciado pelo sistema operacional proprietário denominado Nei-work Operational Systems - NOS2 que, entre outras funções, con-trola todos os terminais instalados nas várias divisões técnicasdo Instituto. A existência dessa configuração de hardware básicafoi essencial no momento de optar pelo desenvolvimento de umsistema de automação, uma vez que os custos de instalação deequipamentos, rede e comunicação já estavam praticamenteamortizados.

Quanto ao software de apoio ao desenvolvimento, estavamdisponíveis o compilador Cobol e o administrador de telasScreen Formatiing. Estrategicamente, optou-se por gerenciar oarmazenamento e acesso às informações dos arquivos gerados,através do próprio sistema, - SAR, uma vez que o software debanco de dados do Cyber (CDCS - Cyber Database ConirolSystems) não atendia às reais necessidades dos usuários. A op-ção escolhida considerou ainda a ocorrência de uma mudançade plataforma no futuro e assim, quanto maior fosse a indepen-dência do sistema de automação em relação ao equipamento esoftware de apoio, menor seria o trauma causado por uma mi-gração (portabilidade).

Partindo dessa estrutura de hardware e software e levando emconta as necessidades dos pesquisadores do Instituto e de ou-tros usuários, em termos de informação tecnológica, é que foiprojetado o SAR. Preocupou-se, portanto, em fornecer ao usuá-rio um nível de serviço adequado em face de suas necessidadesque, de Um lado possibilitasse o armazenamento de um volumerelevante de informações e, de outro, garantisse um desempe-nho adequado durante a busca a essas informações. Ou seja,que o acesso às informações fosse feito de forma "amigável"(user-friendIy) do ponto de vista do usuário e que as informaçõescontidas no banco de dados fossem as mais consistentes possí-veis. Assim, a estratégia inicial, adotada para o desenvolvimen-to do sistema, considerou a seguinte realidade:• existência de terminais nas unidades documentacionais;• falta de software no mercado que atendesse aos requisitos bá-

sicos dos pesquisadores e• disponibilidade de recursos humanos cujo perfil envolvesse

tanto o campO da Ciência da Computação como o da Infor-mação.

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A estrutura do sistema está composta, basicamente, dos mó-dulos de:• entrada de dados;• atualização do banco de dados;• pesquisa e• relatórios.

A entrada de dados é simples, on line, e permite que as uni-dades documentacionais cadastrem toda a informação tecnoló-gica referente a seus relatórios técnicos, acervo bibliográfico,laudos e pareceres técnicos etc.

Uma vez os dados cadastrados, periodicamente, são geradosos diversos índices com o objetivo de otimizar as possíveis bus-cas de informação.

Nestas condições, o sistema está disponível para que o usuá-rio possa acessar as informações do Banco de Dados, obtendorespostas rápidas, facilmente, através de menus. Em termos depesquisa, o sistema poderá responder a consultas como:• dado um termo de pesquisa, quantas referências existem para

esse termo e suas proximidades;• quais referências estão vinculadas a uma determinada pesquisa;• quais pesquisas serão impressas;• quais as referências recuperadas por pesquisa;• quantas pesquisas foram efetuadas e quais as respostas da-

das, entre outras.A caracterização de uma pesquisa envolve, além de sua iden-

tificação, uma expressão escrita em linguagem natural. Atravésdo uso de conectores lógicos e álgebra booleana, o própriousuário se encarrega de gerar expressões de busca de informa-ção que, em geral, podem:• juntar as referências obtidas de dois ou mais termos;• selecionar referências;• eliminar referências de termos indesejados entre outras.

As expressões de busca, naturalmente, podem referir-se amais de um assunto em relação à informação tecnológica.

Assim, por exemplo, se um pesquisador desejar saber quan-tas referências técnicas existem no âmbito do Instituto sobrecompetitividade na área de marketing, ele pode traduzir seu de-sejo, ao sistema, da seguinte forma:

• Nome da pesquisa: Busca1• Informe expressão de busca: +markelin{J+ e +competitiv*+

o resultado de tal pesquisa é uma lista contendo informaçõestecnológicas a respeito do total de referências que apresentemno título as palavras markeiing e competitiva, competitivo, com-petitividade entre outras.

Caso o usuário queira limitar a quantidade de itens dessa lis-ta, é possível que ele faça uma outra pesquisa:

• Nome da pesquisa: Busca2• Informe expressão de busca: Busca1 e <Kotler*>

o resultado dessa segunda pesquisa é uma seleção de todasas referências destacadas da primeira cujo autor é o prof. Kotler.

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Além da consulta on Une, o usuáríopoderá acessar as infor-mações do banco de dados, através das inúmeras listagensque o sistema apresenta e que podem ser requisitadas, nor-malmente, via terminal pelos administradores da informaçãotecnológica de cada divisão técnica.

O sistema é provido de Um manual on line que pode seracionado entre uma pesquisa e outra. Durante o processa-mento, são realizadas, concorrentemente, várias contabiliza-ções ao nível estatístico, baseadas em dados das pesquisas eque, por sua vez, geram informações tais como: total de refe-rências pesquisa das, recupera~das ou impressas, tempo de co-necção do usuário, quantidadede acesso ao banco de dadosentre outras. Essas informações,obviamente, devem ser acessa-das durante o tempo em que ousuário está conectado com osistema.

A realização de uma pesqui-sa considera sempre o conceitode visão de acervos. Este con-ceito permite ao usuário res-tríngir seu escopo de pesquisa(universo de pesquisa), ou seja,selecionar as unidades doeu-mentacionais que comporãouma série de pesquisa. O usuá-rio poderá, então, trabalharcom um universo mais adequado às suas necessidades, atra-vés da geração de acervos típicos, conforme suas pesquisas es-pecíficas, melhorando significativamente a performance do usodo computador. A princípio, se o tema de uma pesquisa forestrutura de concreto não há razões para se fazer uma procuraem todo o acervo do Instituto, envolvendo unidades doeu-mentacionais tão díspares como fertilizantes ou madeiras, porexemplo. Pelo menos a princípio.

O sistema atual, além de atender aos requisitos básicos dospesquisadores do Instituto, está apto a atender, também, a umpúblico externo. Embora não implementado, os acessos exter-nos já foram testados e executados experimentalmente atravésdo uso da RENPAC - Rede Nacional de Pacotes, da Embratel.

Para isso, foi dado um salto tecnológico ao nível do desenvol-vimento, à medida que o sistema pretende atingir mais usuárioscom perfis distintos.

Assim, para possibilitar o atendimento ao público externo,está prevista a inclusão do módulo contabilização de acesso.Esse módulo interno permitirá que, durante execução de umapesquisa, além das estatísticas convencionais, o sistema identifi-que o usuário através de senhas e contabilize suas pesquisastanto para efeito de gerenciamento de seu perfil de busca quan-to para emissão da nota fiscal e controle de cobranças.

O sistema foi desenvolvido, considerando três fases distin-tas, onde em cada fase buscou-se atingir objetivos específicos.

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Fase 1 - Apoio aos pesquisadorese às unidades (monousuário)

Esta fase caracteriza-se pela pos-sibilidade das informações extraí-das do sistema atenderem ao pes-quisador, que, por sua vez, poderárealizar pesquisas considerandoapenas as referências da unidadedocumentacional a que está vincu-lado. A figura 1 mostra a automa-ção de uma unidade documenta-cional.

Fase 2 - Sistema como instrumen-to de pesquisa voltado para todo oInstituto (Multiusuário)

Figura 2: Atendimento Interno (Multiusuário)

Divisão 01

Divisão 02 \ / Divisão 03

Divisão 04

Arquitetura Mainframe do Instituto

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automatizadas.

Figura 1: Monousuário

Arquitetura de cada Divisão Técnica

Fase 3 - Uso do acervo automatizado como produto comercia-lizável do Instituto (Atendimento Global)

As principais características que devem ser incorporadas aosistema, para atender os objetivos desta fase, estendendo-se àsdas fases anteriores são:• geração de cadastro de usuários, satisfazendo níveis para em-

presa/ departamento / funcionário;• geração de senhas para cada nível;• estrutura automatizada de contabilização de pesquisas, entre

outras.

o objetivo básico desta fase foi proporcionar a integração dosacervos das várias unidades documentacionais do Instituto.

A possibilidade de geração de acervos específicos, durante arealização de uma pesquisa, deu ao sistema maior flexibilidade.

Para isso, algumas ino-vações em termos desoftware foram incorpo-radas ao sistema, taiscomo:• possibilidade de pes-

quisar qualquer uni-dade documentacio-nal de qualquer pon-to da rede do Institu-to;

• possibilidade de agru-par unidades doeu-mentacionais segun-do assunto de interes-se e

• eliminar referênciasnão relevantes, re-sultado de uma pes-quisa.

A figura 2 apresenta a estrutura do Sistema de Informaçãoconsiderando o Instituto e suas unidades documentacionais

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A AUTOMAÇÃO DA INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA EM INSTITUiÇÃO DE PESQUISA. ..

A figura 3 mostra a integração do Instituto e seu meio am-biente referente à automação da informação tecnológica.

Figura 3: Atendimento Global

Financiadores

Pesquisa

Universidades

UMA NOVA PLATAFORMA· RIGHTSJIING

A decisão em desenvolver o projeto de automação da infor-mação tecnológica no IPT num ambiente mainfrllme foi acerta-da, uma vez que até hoje o SARestá rodando sob essa platafor-ma. No entanto, como já enfocado anteriormente, vários aspec-tos técnicos foram levados em conta em razão de uma possívelmudança de plataforma.

Seguindo uma tendência mundial, o Instituto prevê a insta-lação de uma rede de comunicação de dados interligando físicae logicamente suas várias divisões técnicas. Esta estratégia nãosignífica uma mudança de plataforma de processamento pro-priamente dita, pois muitos dos sistemas já existentes conti-nuarão sendo operados. Na verdade, a implantação da redevislumbra a criação de uma estrutura computacional adequa-da, daí O nome rigJztsízing.

Essa rede foi definida utilizando-se do padrão Ethernet comprotocolo TCP/IP. Cada divisão técnica (ou cada prédio) serácontemplado com um ou mais segmentos da rede e assim po-derão conectar suas redes locais (ou sub-redes).

Uma vez iniciado o processo de implantação de redes, algu-mas decisões deverão ser tomadas em relação à possível migra-ção do sistema SARpara essa nova plataforma, caso sua estrutu-ra atual de processamento seja uma das que serão descontínua-das. Pelo menos três aspectos devem ser considerados: os de na-tureza técnica, os de nível de serviço e, por fim, os de segurança.

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Os aspectos técnicos se referem ao potencial das novas lin-guagens de programação disponíveis, que devem favorecer oaumento do desempenho do sistema, como um todo, bemcomo a melhoria na comunicação com o usuário (user-friendly).

Em termos de nível de serviço, osistema a ser configurado em (nova)rede deverá:•• atender plenamente ao usuário co-

brindo todos os pontos hoje atendi-dos pelo sistema atual;

" armazenar o mesmo volume de in-formações sem comprometer otempo de respostas e

é dispor de, pelo menos, a mesmaquantidade de equipamentos parapesquisa (terminais) nas divisõestécnicas.Em termos de segurança, será ne-

cessário, por fim, manter e garantir aintegridade e consistência das infor-mações, como é feito atualmente, sobqualquer falha na rede.

GONGL

O 1PT estabeleceu missões e objetivos que tornam a informaçãotecnológica objeto não somente de consulta para o pesquisador, mastambém um serviço passível de tratamento negociaI. Para tanto,passou a centralizar o atendimento ao público e a automatizar seusacervos.

Graças ao desenvolvimento do sistema SAR, que possibilita o ar-mazenamento e a busca de informação, o 1PTpode não apenas se in-serir no âmbito das instituições que detém conhecimento sobre ba-ses de dados, como também almeja adotar práticas comerciais com oserviço gerado.

Desde já, num processo inicialmente rudimentar, sem investimen-tos significativos, as informações tecnológicas podem ser pesquisa-das e comercializadas, à medida que parte significativa do acervo jáestá disponível para acesso e recuperação, pois existe ferramentaadequada para isso.

O impacto imediato da automação deu-se via alteração nas roti-nas de trabalho dos técnicos e pesquisadores que, certamente, foramotimizadas, Com a implantação da rede, tal impacto será maior, poiso usuário poderá ter, no monitor de vídeo, em segundos, respostasàs mais variadas combinações de pesquisa que, pelo processo debusca de informação tradicional, demandariam muito mais tempo.Claro está que o potencial de negócios gerados a partir dessa auto-mação, concebida dentro de uma estratégia global para a instituição,é enorme e ainda não foi devidamente explorado.

* Artigo apresentado na 1~ Jornada USP - Sucesu-SP de Informática e Telecomunicações, em07 de julho de 1993,

58 Artigo recebido pela Redação da RAE em setembro/93, avaliado em 02109/93, 09/11/93, aprovado para publicação em dezembro/93.