112
ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA MANOEL FERNANDO ABBADI SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E SEGURANÇA PÚBLICA Rio de Janeiro 2012

ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

  • Upload
    hacong

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

MANOEL FERNANDO ABBADI

SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E SEGURANÇA PÚBLICA

Rio de Janeiro 2012

Page 2: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

MANOEL FERNANDO ABBADI

SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E SEGURANÇA PÚBLICA

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Juíza Dra. HELOÍSA CORRÊA DA

COSTA E PAULA.

Rio de Janeiro 2012

Page 3: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

C2012 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________

MANOEL FERNANDO ABBADI

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Abbadi, Manoel Fernando

Sistema penitenciário brasileiro e segurança pública / Delegado de Polícia Federal Manoel Fernando Abbadi. Rio de Janeiro: ESG, 2012.

45 f.

Orientador: Juíza Dra. Heloísa Corrêa da Costa e Paula Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2012.

1. ONU. 2. Prisioneiro. 3. Ressocialização. 4. Polícia. 5. Conselho da Comunidade I. Título.

Page 4: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

AGRADECIMENTO

Manuel Henriques e Eva, meus pais.

Vilma Regina, minha mulher.

Manius, Misiane, Marlus e Mayad, meus filhos.

Page 5: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

RESUMO

O presente trabalho aborda o Sistema Penitenciário Brasileiro, bem como o atual

Sistema de Segurança Pública. Descreve a estrutura sugerida pela ONU –

Organização das Nações Unidas para os sistemas prisionais dos países filiados,

abrangendo a parte física dos prédios destinados ao recolhimento de apenados e

custodiados, a parte relativa ao tratamento das pessoas recolhidas ao sistema. O

trabalho também foca nos Conselhos da Comunidade, essenciais à ressocialização

do egresso. Na segunda parte, analisa o Sistema de Segurança Pública, com ênfase

na instituição Polícia. Por fim, explicita a necessária integração dos dois Sistemas

estudados, com sugestão de alterações na política do atual Sistema Penitenciário,

tendo como meta a desconcentração das casas prisionais e a progressiva

municipalização do Sistema para a efetiva participação dos Conselhos da

Comunidade.

Palavras chave: ONU. Prisioneiro. Ressocialização. Polícia. Conselho da

Comunidade.

Page 6: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

ABSTRACT

This paper discusses the Brazilian Penitentiary System, as well as the

current public security system. Describes the structure suggested by the

UN – United Nations Organization for the prison systems of Member States,

covering the physical of de buildings intended for the collection of inmates

and custodians, and the part concerning the treatmente of persons taken

into the system. The work also focuses on Community Councils, essential

to the re-socialization and integration of former inmates. The second part

analyzes the public security system with emphasis on Police institution.

Finally, it explains the necessary integration of the two systems studied,

with suggested policy changes to the current prison system, having as goal

the devolution of correctional homes and the progressive decentralization of

the system for the effective participation of Community Councils.

Key words: UN. Prisoner. Re-socialization. Police. Community Council.

Page 7: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CADH CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS CONANDA CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE CREA-RS CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA DO RIO

GRANDE DO SUL CREMERS CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL ECA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FIOCRUZ FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ LEP LEI DE EXECUÇÃO FISCAL OAB-RS ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL CONSELHO SECCIONAL

DO RIO GRANDE DO SUL ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SUS SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE SUSEPE SUPERINTENDÊNCIA DOS SERVIÇOS PENITENCIÁRIOS DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Page 8: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS ........................................................... 10 3 REGRAS MÍNIMAS DA ONU PARA O TRATAMENTO DE PRISIONEIROS .. 15 4 A LEI DA EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL .................................................... 23 5 OS CONSELHOS COM A PARTICIPAÇÃO DE MEMBROS DA

SOCIEDADE ...................................................................................... 26 5.1 SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ................................................................ 26 5.2 OS CONSELHOS TUTELARES ....................................................................... 28 5.3 OS CONSELHOS DA COMUNIDADE .............................................................. 30 6 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍCIA NO BRASIL ....................................... 33 6.1 A POLÍCIA NA HISTÓRIA ................................................................................. 33 6.2 A POLÍCIA NO BRASIL COLÔNIA .................................................................... 33 6.3 A POLÍCIA NO IMPÉRIO .................................................................................. 35 7 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO

BRASIL ............................................................................................................ 37 8 CONCLUSÃO ................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 45 ANEXO A – RELATÓRIO DO CREA-RS SOBRE INSPEÇÃO NO PRESÍDIO

CENTRAL DE PORTO ................................................................ 46 ANEXO B – RELATÓRIO DE VISITA DE FISCALIZAÇÃO DO CREMERS –

RESUMO – REALIZADA NO PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE ...................................................................................... 65

ANEXO C – PARECER DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, SECCIONAL DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE A VISTORIA REALIZADA NO PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE .............................. 86

Page 9: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

8

1 INTRODUÇÃO

“O pior da violência é quando nos habituamos a ela, passamos a considerá-la um fenômeno natural, como a chuva, a noite, a lei da gravidade e da dilatação dos corpos. O mesmo podemos dizer da miséria – não da

pobreza, que tem a sua dignidade e é considerada uma virtude”.1

A ideia deste trabalho foi gestada no ano de 2007, mais precisamente no

mês de outubro, oportunidade em que diversas comunidades do Estado do Rio

Grande do Sul se manifestaram pela não construção de presídios em seus

municípios. Tais manifestações são constantes em todos os cantos do território

nacional e completamente dissonantes com o que prega a nossa Carta Magna no

artigo 144, quando diz que: “A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da

incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos;” (gn).

Verifiquei que a Constituição Federal de 1988, a chamada “Constituição

Cidadã” havia regrado praticamente todos os passos da vida nacional, deixando de

fazê-lo com relação ao sistema penitenciário, visto que não há capítulo específico.

Ressalto que, no Título II da Carta Magna, estão estabelecidas as regras

relativas aos Dos Direitos e Garantias Fundamentais, sendo que no artigo 5º, incisos

XLV, XLVI,XLVII,XLVII, XLIX e L temos a parte relativa à pessoa do condenado no

âmbito penal, conforme transcrito abaixo:

(...) “XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

1 CONY, Carlos Heitor, Economia e Violência, artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, Edição

de 24 de julho de 1997, 1º Caderno, página 2.

Page 10: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

9

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;” (...)

Antes disso, a Organização das Nações Unidas editou as regras mínimas

para o tratamento de prisioneiros, adotadas pelo 1º Congresso das Nações Unidas

sobre Prevenção do Crime e Tratamento de Delinquentes, realizado em Genebra,

em 1955, e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social da ONU, através da sua

resolução 663 C I (XXIV), de 31 de julho de 1957, aditada pela Resolução 2076

(LXII) de 13 de maio de 1977. Em 25 de maio de 1984, através da Resolução

1984/47, o Conselho Econômico e Social aprovou treze procedimentos para a

aplicação efetiva das Regras Mínimas.

Em consonância com a Resolução da Organização das Nações Unidas o

Estado Brasileiro editou a Lei das Execuções Penais, Lei nº 7.210, de 11 de julho de

1984, que tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e

proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do

internado, ou seja, proporcionar a ressocialização do apenado a fim de integrá-lo ao

convívio social após o cumprimento da pena.

Referida Lei trata da matéria de forma clara e fornece o caminho para que a

sociedade trate do seu “doente social” adequadamente e este volte ao convívio

social recuperado e capacitado a participar do cotidiano e contribuir para a evolução

da comunidade, o que nos faz indagar o que motiva os altos índices de reincidência

no Brasil, fato que causa impacto na segurança pública e na sensação de

insegurança dos cidadãos.

Page 11: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

10

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS

No princípio Deus criou a Terra, a qual nos foi dada como morada. Na Bíblia,

em Gênesis, temos a Origem do Mundo e da Humanidade, onde diz: “No princípio,

Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o

abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas”.

“Deus disse: “Que exista a luz!” E a luz começou a existir. Deus viu que a luz

era boa. E Deus separou a luz das trevas: a luz Deus chamou “dia”, e às trevas

chamou “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia. (...)

Nesta parte o Livro Sagrado traz na nota explicativa: “A narrativa da criação

não é um tratado científico, mas um poema que contempla o universo como criatura

de Deus. Foi escrito pelos sacerdotes no tempo do exílio na Babilônia (586 – 538

a.C.) e procura salientar vários pontos. (...) Terceiro, que o ponto mais alto da

criação é a humanidade: homem e mulher, ambos criados à imagem e semelhança

de Deus. A humanidade é chamada a dominar e a transformar o universo,

participando da obra da criação. (...)

Quando Javé Deus fez a terra e o céu, ainda não havia na terra nenhuma

planta do campo, pois no campo ainda não havia brotado nenhuma erva: Javé Deus

não tinha feito chover sobre a terra e não havia homem que cultivasse o solo e

fizesse subir da terra a água para regar a superfície do solo. Então Javé Deus

modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e

o homem tornou-se um ser vivente.

Javé Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para que

cultivasse e guardasse. E Javé Deus ordenou ao homem: “Você pode comer de

todas as árvores do jardim. Mas não pode comer da árvore do conhecimento do bem

e do mal, porque no dia em que dela comer, com certeza você morrerá.

Javé Deus disse: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para

ele uma auxiliar que lhe seja semelhante. Formou do solo todas as feras e todas a

aves do céu e as apresentou ao homem (...).

Então Javé Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou

então uma costela do homem e no lugar fez crescer carne.

Depois, da costela que tinha tirado do homem, Javé Deus modelou a mulher,

e apresentou-a para o homem. Então o homem exclamou: “Esta sim é osso dos

Page 12: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

11

meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do

homem!”

Para os povos da cultura ocidental – judaico/cristã, a primeira transgressão

do ser humano ocorreu no jardim do Éden, foi quando Adão e Eva comeram o fruto

da árvore proibida. A Bíblia também nos informa que o primeiro crime foi quando

Caim matou Abel.

Ao passarmos pela mitologia grega temos o furto do fogo dos céus realizado

por Prometeu, o qual foi condenado por Zeus a ser acorrentado em um rochedo e ter

seu fígado arrancado por abutre, infinitamente, pois o fígado se renova

continuamente. Há também na mitologia grega a narrativa acerca de Pandora, sendo

que esta recebeu uma caixa que continham os males do mundo e fora advertida

para não abri-la. Ao desobedecer a ordem abriu a caixa e espalhou por sobre a

humanidade todos os pecados.

No médio Oriente, mais especificamente no Egito antigo, há a narrativa do

assassinato de Osíris, pelo motivo de inveja por parte de irmão.

Na história de Roma, em sua fundação, consta que Rômulo mata Remo.

Em suma, nos mais diversos registros da história da humanidade os ilícitos

fazem parte da natureza humana, embora o conceito de crime dependa da época,

dos usos e costumes de cada lugar.

Se há transgressões, também há as punições para elas: A própria Bíblia

registra que Deus não perdoou Adão e Eva, sendo que eles foram expulsos do

paraíso. Caim foi exilado, saiu da presença de Javé e habitou na terra de Nod, a

leste de Éden.

Na antiguidade o chefe da família era também o chefe religioso e também

era ele que determinava os castigos a ser aplicado a quem quebrasse o tabu. Vale

registrar que a pena de morte era largamente aplicada. Dizia-se que a pena/castigo

era para aplacar a cólera divina.

Num passo adiante nota-se a ocorrência da vingança de sangue, ou seja, se

um membro de um grupo fosse agredido por elemento de outro grupo, os membros

do primeiro grupo se sentiam todos ofendidos e a vingança era coletiva, sendo

atingidos todos os integrantes do grupo opositor. A vingança de sangue ocasionava

conflitos infindáveis entre as famílias, em prejuízo do agrupamento, que ficava

enfraquecido para enfrentar os inimigos externos, por isso, pouco a pouco, o

Page 13: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

12

particular foi impedido de exercer a vingança pessoal e, fazer justiça por mãos

próprias, passou a ser crime. A aplicação das penas passou a ser monopólio estatal.

Mas, mesmo com o monopólio estatal, as penas infringidas aos condenados

ultrapassavam a racionalidade, como bem nos ensina Michel Foucault em sua obra

Vigiar e Punir, ao relatar no Capítulo I, acerca do corpo dos condenados: “[Damiens

fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente diante da porta

principal da Igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça,

nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida],

na dita carroça, na praça de Grève, e sobre um patíbulo que aí será erguido,

atenazado nos mamilos, braços, coxas e barriga das pernas, sua mão direita

segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre,

e às partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente,

piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será

puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao

fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.”

Segue a narrativa do suplício imposto a Damiens, cujo corpo acabou em

cinzas em cumprimento a sentença.

Foucault transcreve alguns artigos do regulamento da Casa dos Jovens

Detentos em Paris redigido por Léon Faucher, os quais disciplinam a permanência

dos detentos na prisão, tais como:

“Art. 17. - O dia dos detentos começará às seis horas da manhã no inverno, às cinco horas no verão. O trabalho há de durar nove horas por dia em qualquer estação. Duas horas por dia serão consagradas ao ensino. O trabalho e o dia terminarão às nove horas no inverno, às oito horas no verão. Art. 18. - Levantar. - Ao primeiro rufar de tambor, os detentos devem levantar-se e vestir-se em silêncio, enquanto o vigia abre as portas das celas. Ao segundo rufar, dever estar de pé e fazer a cama. Ao terceiro, põem-se em fila por ordem para irem à capela fazer a oração da manhã. Há cinco minutos de intervalo entre cada rufar. Art. 19. - A oração é feita pelo capelão e seguida de uma leitura moral ou religiosa. Esse exercício não deve durar mais de meia hora. Art. 20. - Trabalho – Às cinco e quarenta e cinco no verão, às seis e quarenta e cinco no inverno, os detentos descem para o pátio, onde devem lavar as mãos e o rosto, e receber uma primeira distribuição de pão. Logo em seguida, formam-se por oficinas e vão ao trabalho, que deve começar às seis horas no verão e às sete horas no inverno. Art. 21. - Refeições – Às dez horas os detentos deixam o trabalho para se dirigirem ao refeitório; lavam as mãos nos pátios e formam por divisão. Depois do almoço, recreio até às dez e quarenta e cinco. Art. 22. - Escola – Às dez e quarenta, ao rufar do tambor, formam-se as filas, e todos entram na escola por divisões. A aula dura duas horas, empregadas alternativamente na leitura, desenho linear e no cálculo.

Page 14: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

13

Art. 23. - Às doze e quarenta, os detentos deixam a escola por divisões e se dirigem aos seus pátios para o recreio. Às doze e cinquenta e cinco, ao rufar do tambor, entram em forma por oficinas. Art. 24. - À uma hora, os detentos devem estar nas oficinas: o trabalho vai até às quatro horas. Art. 25. - Às quatro horas, todos deixam as oficinas e vão aos pátios onde os detentos lavam as mãos e formam divisões para o refeitório. Art. 26. - O jantar e o recreio que segue vão até às cinco horas: neste momento os detentos voltam às oficinas. Art. 27. - Às sete horas no verão, às oito horas no inverno, termina o trabalho; faz-se uma última distribuição de pão nas oficinas. Uma leitura de um quarto de hora, tendo por objeto algumas noções instrutivas ou algum fato comovente, é feita por um detento ou algum vigia, seguida pela oração da noite. Art. 28. - Às sete e meia no verão, às oito e meia no inverno, devem os detentos estar nas celas depois de lavarem as mãos e feita a inspeção das vestes nos pátios; ao primeiro rufar de tambor, despir-se, e ao segundo deitar-se na cama. Fecham-se as portas das celas e os vigias fazem a ronda nos corredores para verificarem a ordem e o silêncio.”

Foucault apresentou inicialmente o suplício, bem como a utilização do tempo

dos detentos e explica que eles não sancionam os mesmos crimes, não punem o

mesmo gênero de delinquentes, mas definem bem, cada um deles, um estilo penal.

O tempo entre os dois modelos não chega a um século. Também explica que

à época em que foi redistribuída, na Europa e nos Estados Unidos, toda a economia

do castigo. Época de grandes “escândalos” para a justiça tradicional, época dos

inúmeros projetos de reformas; nova teoria da lei e do crime, nova justificação mora

ou política do direito de punir; abolição das antigas ordenanças, supressão dos

costumes; projeto ou redação de códigos <<modernos>>: Rússia, 1769; Prússia,

1780; Pensilvânia e Toscana, 1786; Áustria, 1788; França 1791, Ano IV, 1808 e

1810. Para a justiça penal, uma era nova. É o fim dos suplícios.

Em sua obra “Dos Delitos e Das Penas”, Cesare Beccaria registra a origem

das penas e diz: “Leis são condições sob as quais homens independentes e isolados

se uniram em sociedade, cansados de viver em contínuo estado de guerra e de

gozar de uma liberdade inútil pela incerteza de conservá-la.”

Prossegue, “Parte dessa liberdade foi por eles sacrificada para poderem

gozar o restante com segurança e tranquilidade. A soma de todas essas porções de

liberdades, sacrificadas ao bem de cada um, forma a soberania de uma nação e o

Soberano é seu legítimo depositário e administrador. Não bastava, porém, formar

esse repositório. Era mister defendê-lo das usurpações privadas de cada homem,

em particular, o qual sempre tenta não apenas retirar do escrínio a própria porção,

mas também usurpar a porção dos outros.”

Page 15: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

14

Prossegue o mestre italiano: “Toda pena, que não derive da absoluta

necessidade, diz o grande Montesquieu, é tirânica, proposição esta que pode ser

assim generalizada: todo ato de autoridade de homem para homem que não derive

da absoluta necessidade é tirânico. Eis, então, sobre o que se funda o direito

soberano de punir os delitos, sobre a necessidade de defender o depósito da

salvação pública das usurpações particulares. Tanto mais justas são as penas

quanto mais sagrada e inviolável é a segurança e maior a liberdade que o soberano

dá aos súditos.”

Page 16: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

15

3 AS REGRAS MÍNIMAS DA ONU PARA O TRATAMENTO DE PRISIONEIROS

Como dito acima, a Organização das Nações Unidas – ONU, no 1º

Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e Tratamento de

Delinquentes, realizado em Genebra, em 1955, editou as Regras Mínimas para o

Tratamento de Prisioneiros, as quais foram aprovadas pelo Conselho Econômico e

Social da Organização através da sua Resolução 663 C I (XXIV), de 31 de julho de

1957. Tal Resolução foi aditada pela Resolução 2076 (LXII) de 13 de maio de 1977.

Em 25 de maio de 1984, através da Resolução 1984/47, o Conselho

Econômico e Social aprovou treze procedimentos para a aplicação efetiva das

Regras Mínimas.

Convém reproduzir parte das observações preliminares editadas então:

“1. O objetivo das presentes regras não é descrever detalhadamente um sistema penitenciário modelo, mas apenas estabelecer – inspirando-se em conceitos geralmente admitidos em nossos tempos e nos elementos essenciais dos sistemas contemporâneos mais adequados – os princípios e as regras de uma boa organização penitenciária e da prática relativa ao tratamento de prisioneiros. 2. É evidente que devido a grande variedade de condições jurídicas, sociais, econômicas e geográficas existentes no mundo, todas estas regras não podem ser aplicadas indistintamente em todas as partes e a todo tempo. Devem, contudo, servir para estimular o esforço constante com vistas à superação das dificuldades práticas que se opõem a sua aplicação, na certeza de que representam, em seu conjunto, as condições mínimas admitidas pelas Nações Unidas. 3. Por outro lado, os critérios que se aplicam às matérias referidas nestas regras evoluem constantemente e, portanto, não tendem a excluir a possibilidade de experiências e práticas, sempre que as mesmas se ajustem aos princípios e propósitos que emanam do texto das regras. De acordo com esse espírito, a administração penitenciária central sempre poderá autorizar qualquer exceção às regras”.

As três primeiras observações demonstram que o Estados Nações não

estão engessados e podem adotar novas regras, em consonância com o espírito da

Resolução, que visem a melhorar o trato para com os prisioneiros e facilitem a

ressocialização, na medida em que as condições jurídicas, culturais, econômicas,

geográficas, dentre outras, têm influências determinantes na política criminal.

É bom registrar que a primeira parte das regras da citada Resolução trata de

matérias relativas à administração geral dos estabelecimentos penitenciários e é

aplicável a todas as categorias de prisioneiros, criminais ou civis, em regime de

Page 17: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

16

prisão preventiva, ou já condenados, incluindo aqueles que tenham sido objeto de

medida de segurança ou de medida de reeducação ordenada por um juiz.

Já a segunda parte contém regras que são aplicáveis somente às categorias

de prisioneiros a que se refere cada seção. Entretanto, as regras da seção A,

aplicáveis aos presos condenados, serão igualmente aplicáveis às categorias de

presos a que se referem as seções B, C e D, sempre que não sejam contraditórias

com as regras específicas dessas seções e sob a condição de que sejam

proveitosas para tais prisioneiros.

Desde já fica esclarecido que as regras não estão destinadas a determinar a

organização dos estabelecimentos para delinquentes juvenis (estabelecimentos

Borstal, instituições de reeducação, etc...). todavia, de modo geral, pode-se

considerar que a primeira parte destas regras mínimas também é aplicável a esses

estabelecimentos.

Salienta-se, também, que na Resolução está definido que: “A categoria de

prisioneiros juvenis deve compreender, em qualquer caso, os menores sujeitos à

jurisdição de menores. Como norma geral, os delinquentes juvenis não deveriam ser

condenados a pena de prisão”.

Na parte I da Resolução das Nações Unidas, das regras de aplicação geral,

há 49 (quarenta e nove) itens, com alguns subitens. Inicia no item 6 que nos dá o

princípio fundamental, qual seja: “As regras que se seguem deverão ser aplicadas

imparcialmente. Não haverá discriminação alguma baseada em raça, cor, sexo,

língua, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, origem nacional ou social,

fortuna, nascimento ou em qualquer outra situação”. No subitem seguinte, reafirma:

“Ao contrário, é necessário respeitar as crenças religiosas e os preceitos morais do

grupo a que pertença o preso”.

No decorrer dos demais itens são tratadas as seguintes questões: registro

dos presos, a separação por categorias, dos locais destinados aos presos

(instalações), higiene pessoal, roupas de vestir, camas e roupas de cama,

alimentação, exercícios físicos, serviços médicos e de odontologia, disciplina e

sanções, instrumentos de coação, informação e direito de queixa dos presos,

contatos com o mundo exterior, biblioteca, religião, depósitos de objetos

pertencentes aos presos, notificação de morte, doença e transferências, sobre a

transferência de presos, do pessoal penitenciário e da inspeção.

Page 18: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

17

Chamou especial atenção o item 9 desta parte I, que trata dos locais

destinados aos presos, onde está previsto que as celas ou quartos destinados ao

isolamento noturno não deverão ser ocupadas por mais de um preso. Se, por razões

especiais, tais como excesso temporário da população carcerária, for indispensável

que a administração penitenciária central faça exceções a esta regra, deverá evitar-

se que dois reclusos sejam alojados numa mesma cela ou quarto individual.

Quando se recorra à utilização de dormitórios, estes deverão ser ocupados

por presos cuidadosamente escolhidos e reconhecidos como sendo capazes de

serem alojados nessas condições. Durante a noite, deverão estar sujeitos a uma

vigilância regular, adaptada ao tipo de estabelecimento prisional em que se

encontram detidos.

Todos os locais destinados aos presos, especialmente aqueles que se

destinam ao alojamento dos presos durante a noite, deverão satisfazer as

exigências de higiene, levando-se em conta o clima, especialmente no que concerne

ao volume de ar, espaço mínimo, iluminação, aquecimento e ventilação.

Nos locais onde os presos devam viver e trabalhar as janelas deverão ser

suficientemente grandes para que os presos possam ler e trabalhar com luz natural,

e deverão estar dispostas de modo a permitir a entrada de ar fresco, haja ou não

ventilação artificial. A luz artificial deverá ser suficiente para os presos poderem ler e

trabalhar sem prejudicar a visão.

Com relação à higiene as instalações sanitárias deverão ser adequadas para

que os presos possam satisfazer suas necessidades naturais no momento oportuno,

de um modo limpo e decente.

As instalações de banho deverão ser adequadas, para que cada preso

possa tomar banho a uma temperatura adaptada ao clima, tão frequentemente

quanto necessário à higiene geral, de acordo com a estação do ano e a região

geográfica, mas pelo menos uma vez por semana em um clima temperado.

Todos os locais de um estabelecimento penitenciário frequentados

regularmente pelos presos deverão ser mantidos e conservados escrupulosamente

limpos.

Nos anexos A, B e C deste trabalho temos: cópia do Relatório de Inspeção

no Presídio Central de Porto Alegre realizado pelo CREA-RS; da Visita de

Fiscalização – Resumo – pertinente ao Presídio Central de Porto Alegre,

apresentado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul –

Page 19: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

18

CREMERS; e, cópia do Parecer da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos

Advogados do Brasil – Seccional Rio Grande do Sul - sobre a vistoria realizada pela

entidade no Presídio Central de Porto Alegre/RS em 19 de abril de 2012.

Além do relatório, do laudo e do parecer, apresento as fotografias do local,

as quais falam por si só. Se quisermos acrescentar algo, resumimos em três

palavras: “circo dos horrores”

Apresento o presídio de Porto Alegre, mas o fato é idêntico aos dos demais

presídios do País.

Outra faceta peculiar é a parte que trata do Pessoal Penitenciário, algo

desconhecido da maioria da população, visto que a administração deverá escolher

cuidadosamente o pessoal de todas as categorias, posto que, da integridade,

humanidade, aptidão pessoal e capacidade profissional desse pessoal, dependerá a

boa direção dos estabelecimentos penitenciários.

Também está previsto que a administração penitenciária esforçar-se-á

constantemente por despertar e manter no espírito do pessoal e na opinião pública a

convicção de que a função penitenciária constitui um serviço social de grande

importância e, sendo assim, utilizará todos os meios apropriados para ilustrar o

público.

Para lograr tais fins, será necessário que os membros trabalhem com

exclusividade como funcionários penitenciários profissionais, tenham a

condição de funcionários públicos e, portanto, a segurança de que a estabilidade em

seu emprego dependerá unicamente da sua boa conduta, da eficácia do seu

trabalho e de sua aptidão física. A remuneração do pessoal deverá ser adequada, a

fim de se obter e conservar os serviços de homens e mulheres capazes. Determinar-

se-á os benefícios da carreira e as condições do serviço tendo em conta o caráter

penoso de suas funções. (g.n.)

A regra acima, como se vê, determina que membros trabalhem com

exclusividade como funcionários penitenciários profissionais, mas o que vemos são

os desvios de função, na medida em que encontramos policiais civis, militares e até

federais cuidando de presos, algo que não está na função destes, uma vez que a

profissionalização destes funcionários seguiu em direção oposta, na medida em que

foram treinados para investigar, identificar e prender os infratores e não vigiá-los e

prepará-los para o regresso ao meio social.

Page 20: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

19

A parte II da Resolução diz respeito a regras aplicáveis a categorias

especiais – presos condenados, com os seguintes princípios mestres.

Os princípios mestres têm por objetivo definir o espírito segundo o qual

devem ser administrados os sistemas penitenciários e os objetivos a serem

buscados, de acordo com a declaração constante no item 1 das Observações

preliminares das regras.

A prisão e outras medidas cujo efeito é separar um delinquente do mundo

exterior são dolorosas pelo próprio fato de retirarem do indivíduo o direito à

autodeterminação, privando-o da sua liberdade. Logo, o sistema prisional não

deverá, exceto por razões justificáveis de segregação ou para a manutenção da

disciplina, agravar o sofrimento inerente a tal situação.

O fim e a justificação de uma pena de prisão ou de qualquer medida

privativa de liberdade é, em última instância, proteger a sociedade contra o crime.

Este fim somente pode ser atingido se o tempo de prisão for aproveitado para

assegurar, tanto quanto possível, que, depois do seu regresso à sociedade, o

delinquente não apenas queira respeitar a lei e se auto-sustentar, mas também que

seja capaz de fazê-lo.

Para alcançar esse propósito, o sistema penitenciário deve empregar,

tratando de aplicá-los conforme as necessidades do tratamento individual dos

delinquentes, todos os meios curativos, educativos, morais, espirituais e de outra

natureza, e todas as formas de assistência de que pode dispor.

O regime do estabelecimento prisional deve tentar reduzir as diferenças

existentes entre a vida na prisão e a vida livre quando tais diferenças contribuírem

para debilitar o sentido de responsabilidade do preso ou o respeito à dignidade da

sua pessoa.

É conveniente que, antes do término do cumprimento de uma pena ou

medida, sejam tomadas as providências necessárias para assegurar ao preso um

retorno progressivo à vida em sociedade. Este propósito pode ser alcançado, de

acordo com o caso, com a adoção de um regime preparatório para a liberação,

organizado dentro do mesmo estabelecimento prisional ou em outra instituição

apropriada, ou mediante libertação condicional sob vigilância não confiada à polícia,

compreendendo uma assistência social eficaz. (g.n.)

No tratamento, não deverá ser enfatizada a exclusão dos presos da

sociedade, mas, ao contrário, o fato de que continuam a fazer parte dela. Com esse

Page 21: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

20

objetivo deve-se recorrer, na medida do possível, à cooperação de organismos

comunitários que ajudem o pessoal do estabelecimento prisional na sua tarefa de

reabilitar socialmente os presos. Cada estabelecimento penitenciário deverá contar

com a colaboração de assistentes sociais encarregados de manter e melhorar as

relações dos presos com suas famílias e com os organismos sociais que lhes

possam ser úteis. Também deverão ser feitas gestões visando proteger, desde que

compatíveis com a lei e com a pena imposta, os direitos relativos aos interesses

civis, os benefícios dos direitos da previdência social e outros benefícios sociais do

preso.

Os serviços médicos do estabelecimento prisional se esforçarão para

descobrir e deverão tratar todas as deficiências ou enfermidades físicas ou mentais

que constituam um obstáculo à readaptação do preso. Com vistas a esse fim, deverá

ser realizado todo tratamento médico, cirúrgico e psiquiátrico que for julgado

necessário.

Tais princípios exigem a individualização do tratamento que, por sua vez,

requer um sistema flexível de classificação dos presos em grupos. Portanto, convém

que os grupos sejam distribuídos em estabelecimentos distintos, onde cada um

deles possa receber o tratamento necessário.

Ditos estabelecimentos não devem adotar as mesmas medidas de

segurança com relação a todos os grupos. É conveniente estabelecer diversos graus

de segurança, conforme a que seja necessária para cada um dos diferentes grupos.

Os estabelecimentos abertos – nos quais inexistam meios de segurança física contra

a fuga e se confia na autodisciplina dos presos – proporcionam, a presos

cuidadosamente escolhidos, as condições mais favoráveis para a sua readaptação.

É conveniente evitar que, nos estabelecimentos fechados, o número de

presos seja tão elevado que constitua um obstáculo à individualização do

tratamento. Em alguns países, estima-se que o número de presos em tais

estabelecimentos não deve passar de quinhentos. Nos estabelecimentos abertos, o

número de presos deve ser o mais reduzido possível.

Ao contrário, também não convém manter estabelecimentos

demasiadamente pequenos para que se possa organizar neles um regime

apropriado.

O dever da sociedade não termina com a libertação do preso. Deve-se

dispor, por conseguinte, dos serviços de organismos governamentais ou privados

Page 22: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

21

capazes de prestar à pessoa solta uma ajuda pós-penitenciária eficaz, que tenda a

diminuir os preconceitos para com ela e permitam sua readaptação à comunidade.

Nos itens 65 e 66, a Resolução aborda o tratamento a ser dispensado aos

condenados. O tratamento dos condenados a uma punição ou medida privativa de

liberdade deve ter por objetivo, enquanto a duração da pena o permitir, inspirar-lhes

a vontade de viver conforme a lei, manter-se com o produto do seu trabalho e criar

neles a aptidão para fazê-lo. Tal tratamento estará direcionado a lhes fomentar o

respeito próprio e a desenvolver seu senso de responsabilidade.

Para lograr tal fim, deverá se recorrer, em particular, à assistência religiosa,

nos países em que ela seja possível, à instrução, à orientação e à formação

profissionais, aos métodos de assistência social individual, ao assessoramento

relativo ao emprego, ao desenvolvimento físico e à educação do caráter moral, em

conformidade com as necessidades individuais de cada preso. Deverá ser levado

em conta seu passado social e criminal, sua capacidade e aptidão físicas e mentais,

suas disposições pessoais, a duração de sua condenação e as perspectivas depois

da sua libertação.

Em relação a cada preso condenado a uma pena ou medida de certa

duração, que ingresse no estabelecimento prisional, será remetida ao diretor, o

quanto antes, um informe completo relativo aos aspectos mencionados no parágrafo

anterior. Este informe será acompanhado por um médico, se possível especializado

em psiquiatria, sobre o estado físico e mental do preso.

Os informes e demais documentos pertinentes formarão um arquivo

individual. Estes arquivos serão mantidos atualizados e serão classificados de modo

que o pessoal responsável possa consultá-los sempre que seja necessário.

A questão da classificação e individualização do preso também é importante,

visto que os mesmos deverão ser separados por seu passado criminal ou sua má

disposição, a fim de se evitar uma influência nociva sobre os companheiros de

detenção.

A administração penitenciária tem a obrigação de repartir os presos em

grupos, a fim de facilitar o tratamento destinado a sua readaptação social, e haverá,

se possível, estabelecimentos prisionais separados ou seções separadas dentro dos

estabelecimentos para os distintos grupos de presos.

Tão logo uma pessoa condenada a uma pena ou medida de certa duração

ingresse em um estabelecimento prisional, e depois de um estudo da sua

Page 23: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

22

personalidade, será criado um programa de tratamento individual, tendo em vista os

dados obtidos sobre suas necessidades individuais, sua capacidade e suas

inclinações.

Nos itens 70 a 95 da Resolução são abordados temas pertinentes ao

tratamento dos presos, qualquer que seja a situação destes, iniciando-se com os

privilégios, o trabalho do preso, a educação e o recreio, as relações sociais e

assistência pós-prisional, presos dementes e mentalmente enfermos, pessoas

detidas ou em prisão preventiva, pessoas condenadas por dividas ou à prisão civil

(nos países em que a legislação prevê a possibilidade) e pessoas presas, detidas ou

encarceradas sem acusação.

A Resolução ainda é contemplada com um anexo que aborda os

procedimentos para a aplicação efetiva das Regras Mínimas para o Tratamento de

Prisionais, composto de treze comandos.

Page 24: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

23

4 A LEI DA EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL.

No dia 11 de julho de 1984 foi promulgada, no Brasil, a Lei nº 7.210, mais

conhecida como Lei de Execução Penal. Esta Lei seguiu as diretrizes gerais

constantes nas Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas para o

tratamento de presos, com alguns pontos adequados a nossa realidade e mais

evoluídos.

No Título I está disciplinada a questão do Objeto e da Aplicação da Lei de

Execução Penal e pela relevância é transcrito o seu artigo 1º, onde diz:

“Art. 1º - A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições da

sentença ou decisão criminal e proporcional condições para a harmônica integração

social do condenado e do internado”.

No artigo seguinte determina que a jurisdição dos Juízes ou Tribunais da

Justiça ordinária, em todo o território nacional, será exercida, no processo de

execução, na conformidade da citada Lei e do Código de Processo penal.

O parágrafo único do artigo 2º prevê que a Lei será aplicada igualmente ao

preso provisório ou ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido

a estabelecimento sujeito a jurisdição ordinária.

A Lei também estabelece que ao condenado e ao internado serão

assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela Lei, não podendo

ocorrer qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.

No artigo 4º temos um dispositivo de suma importância que prevê que: O

Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da

pena e da medida de segurança.

No Título II é tratado da pessoa do condenado e do internado, trazendo no

Capítulo I a classificação, sendo que no artigo 5º temos que:

“Art. 5º – Os condenados serão classificados, segundo seus antecedentes e

personalidade, para orientara individualização da execução penal”.

Ao longo do texto legal estão elencados os diversos pontos que devem ser

observados e cumpridos ao longo da execução penal, tais como: assistência,

compreendidas a material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa, sendo

cada uma delas minuciosamente abordadas e disciplinadas. Há também a previsão

de assistência ao egresso no sentido de apoiá-lo e orientá-lo objetivando reintegrá-lo

à vida em liberdade.

Page 25: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

24

No Capítulo seguinte, a Lei trata da questão do trabalho, tanto o interno,

quanto o externo, do apenado.

No Capítulo IV temos a parte que disciplina os deveres, os direitos e da

disciplina a que está sujeito o condenado, bem como as faltas disciplinares, as

sanções e as recompensas. Neste mesmo Capítulo temos a parte relativa a

aplicação das sanções, a que trata do processo disciplinar.

No Título III temos os Órgãos da Execução Penal, os quais estão

discriminados no artigo 61, quais sejam:

“Art. 61 - São órgãos da execução penal: I – o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária; II – o Juiz da Execução; III – o Ministério Público; IV – o Conselho Penitenciário; V – os Departamentos Penitenciários; VI – o Patronato; VII – o Conselho da Comunidade; VIII – a Defensoria Pública (incluído pela Lei nº 12.313, de 2010)”.

Nos capítulos seguintes temos as atribuições de cada um dos órgãos

elencados acima, cabendo ressaltar a específica do Conselho da Comunidade,

conforme o previsto nos artigos 80 e 81 da Lei, ora transcritos.

“Art. 80 – Haverá, em cada Comarca, um Conselho da Comunidade,

composto, no mínimo, por 1 (um) representante da associação comercial ou

industrial, 1 (um) advogado indicado pela Seção da Ordem dos Advogados do Brasil,

1 (um) Defensor Público, indicado pelo Defensor Público Geral e 1 (um) assistente

social escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional dos assistentes

sociais. (redação dada pela Lei nº 12.313, de 2010)”.

“Art. 81 – Incumbe ao Conselho da Comunidade: I – visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos penais existentes na comarca; II – entrevistar presos; III – apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução e ao Conselho Penitenciário; IV – diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor assistência ao preso ou internado, em harmonia com a direção do estabelecimento.”

No Título IV são enumerados e definidos os estabelecimentos penais, tais

como: as penitenciárias, as colônias agrícolas, industrial ou similar, as casas de

Page 26: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

25

albergado, os centros de observação, o hospital de custódia e tratamento

psiquiátrico e a cadeia pública.

A partir do Título V temos da execução das penas em espécie, sendo

abordado: as penas privativas de liberdade, dos regimes, das autorizações de

saídas (permissão de saída e saída temporária), remição da pena, o livramento

condicional, a monotorização eletrônica (incluído pela Lei nº 12.258, de 2010), as

penas restritivas de direitos, a prestação de serviços à comunidade, a limitação de

fim de semana, a interdição temporária de direitos, a suspensão condicional, a pena

de multa, a execução das medidas de segurança e a cessação da periculosidade.

No Título VII são tratados os incidentes de execução, tais como as

conversões de penas, o excesso e o desvio na execução e a anistia e o indulto.

A Lei na sua parte final também prevê o processo judicial para tratar das

questões pertinentes ao seu ordenamento e correrá no Juízo da execução, bem

como as disposições finais e transitórias.

Page 27: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

26

5 OS CONSELHOS COM A PARTICIPAÇÃO DE MEMBROS DA SOCIEDADE

5.1 SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O Sistema Único de Saúde, mais conhecido por SUS, foi criado com a

Constituição Federal vigente e a regulamentação adveio com as Leis nº 8080/90 e a

de nº 8142/90, que são as Leis Orgânicas da Saúde, cuja finalidade foi a de alterar o

quadro caótico da saúde, bem como a situação de desigualdade na assistência à

saúde da população. Com referidas leis o atendimento público de qualquer cidadão

é obrigatório, sendo vedada a cobrança sob qualquer pretexto.

Centros e postos de saúde, hospitais, laboratórios, hemocentros, bancos de

sangue, fundações e institutos de pesquisa, como a FIOCRUZ – Fundação Osvaldo

Cruz, o Instituto Vital Brazil, dentre outros, fazem parte do Sistema Único de Saúde.

Assim, todos os cidadãos que estiverem no Brasil (brasileiros ou estrangeiros) têm

direito a consultas, exames, internações e tratamentos nas Unidades de Saúde

vinculadas ao SUS, tanto na esfera municipal, estadual e federal, sejam públicas ou

privadas, contratadas pelo gestor público de saúde.

O SUS é destinado a qualquer cidadão e é financiado com recursos

públicos, arrecadados mediante o pagamento de tributos - impostos e contribuições

sociais, pagos pela população.

Com a criação do Sistema Único de Saúde o Estado brasileiro teve por meta

o oferecimento de um importante mecanismo de promoção da equidade no

atendimento das necessidades de saúde da população, ofertando serviços

adequados às necessidades da população, independente do poder aquisitivo do

cidadão. O objetivo é promover a saúde, priorizando as ações preventivas,

democratizando as informações relevantes para que a população conheça seus

direitos e os riscos à sua saúde.

Também está afeto ao SUS o controle da ocorrência de doenças, o

incremento das mesmas e propagação - Vigilância Epidemiológica, assim como o

controle da qualidade de remédios, de exames, de alimentos, higiene e adequação

de instalações que atendem ao público, onde atua a Vigilância Sanitária.

De forma suplementar o setor privado participa do SUS, mediante contratos

e convênios de prestação de serviços ao Estado, na medida em a demanda nas

Page 28: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

27

unidades públicas de assistência a saúde for superior à capacidade, com a

finalidade de garantir o atendimento a toda a população de uma determinada região.

A Lei Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990, que é a Lei Orgânica da

Saúde, dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da

saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras

providências.

No Título I – parte que trata das disposições gerais, temos no parágrafo 2º,

do segundo artigo a seguinte previsão:

“Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1 º. O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. § 2 º. O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.” (g.n.)

Tal qual a Segurança Pública o provimento da saúde também é dever do

Estado e da sociedade.

A outra Lei referida acima, a de n° 8.142, de 28 de dezembro de 1990,

dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde

(SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na

área da saúde e dá outras providências, interessando ao estudo a parte da

participação da comunidade na gestão do Sistema.

O segundo parágrafo do artigo 1º trata do Conselho de Saúde, conforme

transcrito abaixo:

“Art. 1°. O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: I - a Conferência de Saúde; e II - o Conselho de Saúde. § 1°. A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde. § 2°. O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas

Page 29: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

28

decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.” (g.n.)

5.2 OS CONSELHOS TUTELARES

A Lei nº 8.248, de 12 de outubro de 1991, que criou o Conselho Nacional

dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), também inseriu em nosso

ordenamento o Conselho Tutelar, previsto no artigo 131 do referido diploma legal,

popularmente conhecido por Estatuto da Criança e do Adolescente, que é órgão

permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar

pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos da citada Lei.

São atribuições dos Conselhos Tutelares, dentre outras, o atendimento às

crianças e adolescentes em caso de violação dos seus direitos por ação ou omissão

do Estado ou da sociedade, por abuso, omissão ou em razão da conduta dos pais

ou responsáveis. Receber obrigatoriamente as comunicações referentes aos casos

suspeitos ou confirmados de maus tratos, bem como nos casos de faltas

injustificadas, evasão escolar ou repetência em níveis elevados de ocorrência,

esgotadas as vias de recursos escolares.

Atendimento aos pais e responsáveis, sendo possível a aplicação de

algumas medidas, exemplo: tratamento especializado e encaminhamento a

programas de orientação familiar. Encaminhar a notícia de fatos que constituem

infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente aos

órgãos competentes

O artigo 136 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nos traz as

atribuições dos Conselhos Tutelares.

Diz o artigo:

“Art.136 - São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;

Page 30: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

29

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; VII - expedir notificações; VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário; IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; XI - representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda ou suspensão do pátrio poder.”

A aplicação das medidas protetivas elencadas no artigo 101, itens I a VII do

Estatuto também é da atribuição do Conselho, sempre que ocorrer qualquer das

situações descritas nos artigos 98 e 105 do ECA, ou seja, criança ou adolescente

em situação irregular ou que tenha cometido ato infracional.

O artigo 101 referido determina que verificadas quaisquer das situações

previstas no artigo 98, (situação irregular) a autoridade competente poderá

determinar, dentre outras, as seguintes medidas: (g.n.)

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade.

As hipóteses de situação irregular estão disciplinadas no artigo 98 do ECA.

Diz o referido artigo:

Page 31: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

30

“Art.98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta.”

Diante do que foi estudado, percebe-se que os Conselhos Tutelares, são

órgãos de grande importância no sentido de democratizar o atendimento às crianças

e adolescentes, e está em total acordo com a diretriz trazida pelo ECA de que são

solidariamente responsáveis pelo cumprimento do quanto disposto no Estatuto, a

família da criança ou adolescente, a sociedade e o Estado.

Muitas críticas são feitas ao instituto, já que este não foi totalmente

disciplinado pelo ECA, que deixou ao legislador municipal a tarefa de definir como

funcionará o órgão em seu município, mas, temos por certo que se nesses 16 anos

de vigência do Estatuto, os Conselhos Tutelares não alcançaram os objetivos para

os quais foram criados(a maioria dos municípios brasileiros sequer criou seus

Conselhos), não foi por barreiras na legislação, e sim, falta de vontade política e pela

ausência de comprometimento dos agentes políticos com a realização dos direitos

fundamentais das crianças e adolescentes previstos na Constituição Federal e no

Estatuto da Criança e do Adolescente.

5.3 OS CONSELHOS DA COMUNIDADE

A mídia brasileira diariamente tem noticiado e mostrado as condições físicas

dos presídios país afora, e o que fica demonstrado é exatamente a omissão e a

indiferença da sociedade no trato da questão penitenciária e principalmente a

pessoa do condenado e do internado.

Linhas acima há os exemplos de conselhos atuantes. Há clara distinção no

próprio ordenamento jurídico que os regula, sendo que os Conselhos de Saúde e

Tutelar estão plenamente regulamentados e seus membros com atribuições

definidas, enquanto que aquele - o Conselho da Comunidade – tem apenas previsão

de cunho geral nos artigos 80 e 81 da Lei de Execução Penal. Não se vislumbra

participação popular tal qual a dos conselhos tutelares com campanhas, eleições,

mandatos, remuneração, etc...

Page 32: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

31

Os Estados têm suprido esta deficiência com Provimentos e Portarias dos

Tribunais de Justiça com orientações para a instituição e atuação dos Conselhos da

Comunidade nas comarcas subordinadas.

No Estado do Rio Grande do Sul, onde a situação dos presídios está

caótica, principalmente o Presídio Central de Porto Alegre, conforme se vê nas

fotografias do ANEXO I, a Superintendência dos Serviços Penitenciários – SUSEPE

vem incentivando uma maior participação da sociedade na recuperação de presos. A

instituição quer que todas as cidades do Rio Grande do Sul que possuam

estabelecimentos penais tenham um Conselho da Comunidade. A função deste

órgão é dar assistência ao detento para que ele seja tratado e que a sociedade

receba um indivíduo recuperado, que não volte a cometer crimes novamente.

Os Conselhos da Comunidade estão previstos na Lei de Execução Penal

(LEP). Todos os municípios que têm Juízo de Execução e, principalmente, aqueles

que possuem uma casa prisional, devem ter órgão semelhante a este.

Como já dito, nos últimos anos a SUSEPE está tentando sensibilizar a

população gaúcha para que todos os municípios tenham o conselho, visto que, nos

municípios onde os conselhos estão presentes, muitas melhorias têm ocorrido para

fazer com que o preso não reincida no crime.

Hoje, das 110 casas prisionais do Rio Grande do Sul, em apenas 35 a

comunidade acompanha o período de cumprimento da pena e do processo de

ressocialização do detento.

Na LEP está previsto a composição dos Conselhos, cujos componentes

devem visitar os estabelecimentos penais pelo menos uma vez por mês e entrevistar

os presos para verificar quais necessidades imediatas eles têm. Outra atribuição é

oferecer recursos materiais e humanos para melhorar a assistência ao detento na

educação, saúde e nas atividades de trabalho.

Os conselhos também servem como um órgão regulador cobrando do

Estado que haja condições dignas de sobrevivência e trabalho. Todas as ações

devem ser informadas em relatórios mensais ao Juiz e à SUSEPE.

Os textos dos artigos 80 e 81 da LEP não esgotam o rol de atribuições do

Conselho da Comunidade. Nada impede, por exemplo, que a assistência ao

apenado se amplie e que haja um acompanhamento quando ele sair da prisão,

como encaminhá-lo para uma atividade profissional.

Page 33: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

32

Um dos maiores exemplos de como a comunidade pode contribuir para

ressocializar um preso e diminuir a reincidência de crime acontece na Penitenciária

Estadual de Torres. Desde o início de 2001 a casa conta com um Conselho. O órgão

conseguiu que várias obras fossem realizadas no presídio.

Mediante a solicitação de recursos feitos à SUSEPE e de doações da

comunidade de Tores, a sala da administração do presídio foi ampliada, o refeitório e

a cozinha foram reformados e um albergue para detentos do regime aberto e semi-

aberto foi construído.

Por meio de convênio com uma universidade do Litoral Norte do Estado não

há mais analfabetos no estabelecimento e, do total de 86 presos, 35 estão

estudando. Segundo o diretor do presídio, IVAN CARLOS DA SILVA, mais da

metade dos presos também trabalha, fora ou dentro do estabelecimento penal. “O

Conselho fez com que muitas coisas mudassem, e os presos confiam e colaboram

com o trabalho que é feito para eles próprios”, confirma o diretor.

Page 34: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

33

6 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍCIA NO BRASIL

6.1 A POLÍCIA NA HISTÓRIA

A Polícia, como instituição, nasce de uma necessidade social e de forma

paralela ao desenvolvimento da sociedade humana e, como no caso desta, não é

possível designar uma data para seu surgimento.

A evolução da Polícia pode ser observada pelos testemunhos escritos

deixados pelos povos antigos. Os egípcios e os hebreus foram os primeiros povos a

incluírem medidas policiais em suas legislações. O termo polis, de onde deriva a

palavra "polícia", surgiu na antiga Grécia, com o significado de cidade,

administração, governo. No entanto, somente em Roma, ao tempo do Imperador

Augusto (63 a.C. a 14 d.C.), adquiriu organização de fato. Em Roma, havia um chefe

de polícia denominado "Edil", que usava uma indumentária de magistrado, que

possuía ampla soberania para decidir seus atos.

Dessa época em diante, seguiram-se períodos de obscurantismo, com o das

invasões bárbaras, até surgir o sistema anglo-saxão de organização policial, na

Inglaterra.

6.2 A POLÍCIA NO BRASIL COLÔNIA

No site da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo2 é

apresentada a instituição Polícia e está registrado que a instituição policial brasileira,

conforme documentação existente no Museu Nacional do Rio de Janeiro, data de

1530, fato ocorrido com a chegada de D. Martin Afonso de Souza, enviado ao Brasil-

Colônia por D. João III.

A pesquisa histórica revela que, no dia 20 de novembro daquele ano, a

Polícia brasileira iniciava as suas ações, promovendo Justiça e organizando os

serviços de ordem pública, como melhor entendesse nas terras conquistadas do

Brasil.

2 www.ssp.sp.gov/institucional/default.aspx.

Page 35: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

34

A partir de então, a Instituição Policial brasileira passou por seguidas

reformulações nos anos de 1534, 1538, 1557, 1565, 1566, 1603, e, assim,

sucessivamente, até a chegada do Príncipe D. João ao Brasil.

Registre-se que a Polícia do Brasil Colônia era executada inicialmente por

militares do exército português e é por este motivo que alguns historiadores só

consideram criada a Instituição Polícia quando da chegada do Príncipe D. João em

nosso País. Logo, no meu entender, a semente da instituição foi lançada e

germinada por Martin Afonso de Souza.

Encontramos, também, no site da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do

Sul3 que o surgimento da Polícia Civil no Brasil remonta à época da chegada de D.

João VI, em 1808, quando criou ele o cargo de "Intendente Geral da Polícia da Corte

e Estado do Brasil", que era desempenhado por um desembargador do Paço, com

um delegado em cada Província.

A infração penal e sua autoria sempre foram apuradas pela Instituição

Policial Civil, mesmo antes de no Brasil haver sido criado o Inquérito Policial. A

legislação vigente no Brasil era a mesma de Portugal, baseada na herança romana

e nas Ordenações Afonsinas (1446 a 1521), Manuelinas (1521 a 1603) e Filipinas

(1603 a 1867). O processo criminal brasileiro era, nessa época, tripartido,

compreendendo a "Devassa", a "Querela" e a "Denúncia".

No Brasil houve duas fases, a dos Donatários, de 1534 a 1549, e a dos

Governadores-Gerais, de 1549 a 1767, com o Vice-reinado e a organização

judiciária, a estilo do Livro Primeiro das Ordenações, em que os serviços policiais

eram exercidos por "alcaides" e "almotacés" sob a fiscalização dos "Juízes de Vara

Branca", ou "de Fora". Posteriormente a legislação previa o cargo de "Quadrilheiro"

que "em todas cidades e vilas" prendiam os malfeitores. Cada "quadrilheiro" tinha

vinte homens para manter a ordem”.

A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo registra que:

“No dia 10 de agosto de 1808 foi criado, mediante Alvará Régio, o cargo de

Intendente Geral de Polícia, ocupado pela primeira vez pelo Desembargador Paulo

Fernandes Viana, incumbido imediatamente de criar suas diversas secções”.

3 www.pc.rs.gov.br/deic/htm/hist.htm

Page 36: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

35

6.3 A POLÍCIA NO IMPÉRIO

Ainda com a pesquisa realizada na Instituição Policial Civil do Rio Grande do

Sul temos que: “Em 1824, com a Independência do Brasil ocorrida em 1822, foi

promulgada a Constituição do Império do Brasil, que previa que a prisão só poderia

ser em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente. Às

Assembleias Legislativas Provinciais era outorgada a competência para legislar

sobre polícia. Nas freguesias e capelas curadas as atribuições policiais eram

conferidas aos Juízes de Paz por lei de 15 de outubro de 1827. Em 1835 era criado,

pela lei nº. 29, o Código de Processo Criminal. Esta Lei outorgava à polícia uma

organização descentralizada, conferindo autoridade policial aos Juízes de Paz e

atribuindo a um juiz de Direito o cargo de Chefe de Polícia”.

Então, em 03 de dezembro de 1841 foi editada a Lei nº 261, regulada pelo

Decreto nº 120, de 31 de janeiro de 1842, modificando o Código de Processo

Criminal. Essa Lei criou no município da Corte e em cada Província um Chefe de

Polícia e respectivos Delegados e Subdelegados, nomeados pelo Imperador ou

pelos Presidentes de Província, sendo o primeiro Chefe de Polícia da Província de

São Paulo o Conselheiro Rodrigo Antônio Monteiro de Barros, figura de alta projeção

no cenário jurídico do País.

Em 20 de setembro de 1871, pela Lei nº 2033, regulamentada pelo Decreto

nº 4824, de 22 de novembro do mesmo ano, foi reformado o sistema adotado com a

Lei nº 261. A instituição Polícia foi separada da Justiça trazendo algumas inovações

que perduraram até os nossos dias, como por exemplo, a criação do Inquérito

Policial”.

Em seu sitio a Polícia Civil gaúcha esclarece que “no Estado do Rio Grande

do Sul, fundado em 19 de fevereiro de 1737, a polícia inicialmente passou pela

época das "comandanças", havendo, nesse período, os chamados "Corpos

Policiais". A legislação obedecida era a do Brasil Colônia, já anteriormente citada.

A organização das policias provinciais, prevista no Código de Processo

Penal de 1832, somente teve efetivação com a Lei n. 261, de 3 de dezembro de

1841. Com essa lei estavam criadas as Polícias Civis das Províncias. Nela estavam

previstos os cargos de Chefe de Polícia, Delegados e Subdelegados e, pelo

Regulamento de 31 de janeiro de 1842, era previsto ainda o cargo de "Inspetor de

Quarteirão".

Page 37: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

36

O primeiro Chefe de Polícia do Rio Grande do Sul foi o Dr. Manoel Paranhos

da Silva Vellozo, que tomou posse em 18 de maio de 1842, administrando até 11 de

março de 1844. Era o nascimento da Polícia Civil gaúcha, com estrutura e

organização próprias.

É salutar a transcrição do documento histórico relativo a nomeação do

primeiro Chefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul:

Carta Imperial do Chefe de Polícia desta Prov. do Dr. Manoel Paranhos da Silva Vellozo. Arquivo Histórico do R.G.S Livro B 9 P g. 75 Dom Pedro por Graça de Deos e Unanime Acclamação dos Povos, Imperador constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil faço saber todas as authoridades e mais pessoas a quem conhecimento desta Carta pertencer, que Hey por bem, em conformidade do artigo primeiro do Título primeiro da lei de tres de dezembro do anno próximo passado, nomear o Bacharel Manoel Paranhos da Silva Vellozo para Chefe de Polícia da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. E este lugar exercer depois de lhe ser dada a posse pela Authoridade competente, com toda jurisdição marcada na referida lei, e conforme os Regulamentos respectivos, ficando obrigado a satisfazer os devidos direitos logo que for arbitrada a gratificação, que por este mesmo lugar lhe compettir. E por firmeza de tudo que lhe mandei passar a presente Carta por Mim assignada que, sendo sellada com o sello pendente da Chancellaria do Império, se cumprir como nella se contem. Dada no Palácio do Rio de Janeiro em 12 de Abril de mil oitocentos e quarenta e dous, vigessimo primeiro da Independência do Império. Imperador com rubrica e guarda. Paulino Jose Soares de sousa - Carta pela qual Vosssa Magestade Imperial ha por bem nomear o Bacharel Manoel Paranhos da Silva Velloso, para Chefe de Polícia da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul na forma acima declarada. Para Vossa Magestade Imperial ver. Por Decreto de 17 de março de 1842, e despacho do Ministro Secretário do Estado dos Negócios da Justiça, Antonio Alvares de Miranda Varejão a fêz. Paulino José Soares de sousa, sellada na Chancellaria do Império em 18 de abril de 1842, João Carneiro de Campos. Registrado. Registrada a fls 50 do livro competente. Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça em 18 de abril de 1842 Vicente Ferreira de Castro e Silva. N. 99 Pg quatro mil oitocentos e quarenta e seis de sello. Rio 18 de abril de 1842, Oliveira cumpra-se e registre-se. Palacio do Governo na leal e valorosa cidade de Porto Alegre 20 de maio de 1842. Saturnino de Sousa e Oliveira. Posse dia 18 de maio de 1842 Relatório do presidente da Província - Duque de Caxias ou Secretaria do Interior.

Page 38: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

37

7 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO BRASIL

ARTIGO 144 DA CARTA MAGNA

A Constituição da República do Brasil promulgada em 05 de outubro de 1988

trata, no capítulo III, da Segurança Pública e podemos ver do texto transcrito abaixo

que não faz qualquer menção à Polícia Comunitária, senão vejamos:

Capítulo III

Da Segurança Pública

Artigo 144

A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é

exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado

em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento

de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e

empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão

interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em

lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o

contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos

públicos nas respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira,

destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira,

destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

Page 39: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

38

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,

incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a

apuração de infrações penais, exceto as militares.

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da

ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em

lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e

reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos

Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos

responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas

atividades.

§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à

proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

Além das Instituições elencadas na Carta Magna o Governo Federal, com o

Decreto nº 5.289, de 29 de novembro de 2004, em observância ao princípio de

solidariedade federativa que serve de orientação para o desenvolvimento de

atividades conjuntas no Sistema Único de Segurança Pública, regulou o Programa

de Cooperação Federativa denominado Força Nacional de Segurança Pública, o

qual pode ser empregado em qualquer parte do nosso País, mediante solicitação do

Governador de Estado ou do Distrito Federal.

A determinação do emprego da Força Nacional de Segurança Pública

compete ao Ministro de Estado da Justiça.

O efetivo mobilizável da Força Nacional de Segurança Pública será

composto por servidores com treinamento especial para atuação conjunta,

vinculados às polícias federais e aos órgãos de segurança pública dos Estados.

Assim, diante do que contém o Artigo 144 da Constituição Federal podemos

verificar que o mesmo descreve tão somente as atribuições de cada órgão vinculado

à segurança pública.

Sabe-se que a Constituição não pode ser vista isoladamente em seus

capítulos e artigos, mas sim de forma interligada e o artigo 144 conjugado com os

artigos 5º e 37 teremos a forma de proceder das Polícias e seus Agentes junto à

comunidade.

Page 40: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

39

É do conhecimento de todos que o Estado deve assegurar ao cidadão

(brasileiro ou estrangeiro) residente ou em trânsito pelo país, o respeito a sua

integridade física e patrimonial. Para cumprir essa função o Estado tem a sua

disposição os órgãos que compõem a Segurança Pública, com maior destaque aos

órgãos policiais, que também podem ser denominados Forças de Segurança.

Os agentes policiais atuam na preservação da ordem pública, garantindo à

coletividade os direitos assegurados pela Constituição Federal, e nos acordos e

tratados internacionais que foram subscritos pelo Brasil, entre eles, a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, o Pacto de São José da Costa Rica, a Convenção

de Palermo, a Convenção Americana de Direitos Humanos – CADH, dentre outros.

Para um melhor entendimento da matéria se faz necessário conceituar o que

é ordem pública e segurança pública, que são os campos de atuação dos policiais,

que devem respeitar o cidadão, assim como também deverão ser respeitados pelos

integrantes da coletividade a que servem.

A ordem pública é a situação de tranquilidade e normalidade que o Estado

assegura, ou deve assegurar, às instituições e aos membros da sociedade,

consoante as normas jurídicas legalmente estabelecidas. A Segurança pública é a

garantia relativa da manutenção da ordem pública, mediante a aplicação do poder

de polícia, encargo do Estado.

A missão das Policias, como bem traduz o lema SERVIR E PROTEGER, é

assegurar ao cidadão o exercício dos direitos e garantias fundamentais previstos na

Constituição Federal e nos instrumentos internacionais subscritos pelo Brasil. Essa

atividade exige dedicação, especialização e preparo dos servidores das

Organizações Policiais, que devem se afastar do arbítrio, da prepotência, do abuso

ou excesso de poder, em respeito à lei, que deve ser observada por todos em

respeito ao Estado democrático de Direito.

O ex-Secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça,

Ricardo Balestreri, assevera que: “O policial, pela natural autoridade moral que

carrega, tem o potencial de ser o mais marcante promotor dos Direitos Humanos,

revertendo o quadro de descrédito social e qualificando-se como um agente central

da democracia. Direitos Humanos também é coisa de policial”.

Os órgãos policiais servem justamente para garantir o efetivo cumprimento

das normas e respeito ao Estado democrático em claro respeito a previsão da nossa

Lei Maior, a Constituição Federal.

Page 41: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

40

As atividades desenvolvidas pelas organizações Policiais são da maior

relevância; tanto é verdade que o legislador constituinte as elevou a categoria

constitucional, onde delimitou o campo de atuação de cada órgão policial. A

competência prevista no texto constitucional é funcional, tendo por objetivo

assegurar à coletividade a prestação de serviço qualificado, em atendimento aos

princípios do art. 37, caput, da CF, principalmente o da eficiência e não descuidando

do dever funcional do bom atendimento.

A criminalidade, não só no Brasil como no resto do mundo, vem aumentado,

e diversas espécies de crimes como furto, roubo, roubo seguido de morte

(latrocínio), homicídio, além dos crimes de informática, do tráfico de seres humanos,

do tráfico de drogas, o terrorismo, dentre outros, assustam a população que se sente

como medo e insegura. O Estado brasileiro tem se esforçado para dar uma resposta

eficaz a essas questões, mas, por motivos os mais diversos, a sociedade não se

sente satisfeita com os serviços de segurança pública.

A falta de uma Lei Orgânica Nacional que possa ser aplicada de forma

uniforme aos órgãos policiais tem levado a conflitos de atribuições entre as

instituições responsáveis pela preservação da ordem pública. Essa situação tem

sido agravada pela Guarda Municipal que não possui legitimidade para exercer atos

de polícia judiciária ou mesmo atos de policiamento ostensivo e preventivo, mas

insiste em exercer atos privativos de outros órgãos, o mesmo ocorrendo com as

Polícias Militares que prestam um deficiente serviço de Polícia Administrativa

ostensiva, cuja finalidade é a da maior importância junto a população, qual seja a de

evitar que o crime ocorra, mas da mesma maneira que as Guardas Municipais

querem realizar atos de polícia judiciária. Outra corporação que também exerce atos

privativos de outros órgãos é a Polícia Rodoviária Federal que deixa de fiscalizar as

estradas, o que proporciona verdadeira carnificina no trânsito de nossas estradas,

mas realiza segurança de dignitários, segurança de fiscais do trabalho junto às

ações de combate ao trabalho escravo, como também realiza grampos telefônicos

para o Ministério Público, fato divulgado em nossa imprensa escrita.

Se as Polícias Militares e a própria Polícia Rodoviária Federal exercessem

realmente suas atribuições como Polícias preventivas, agindo para evitar que o

crime ocorra teríamos o incremento da criminalidade constatado nos últimos

tempos? Creio que não.

Page 42: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

41

Outro fato que gostaria de ver realizado é a quarentena, a exemplo dos

juízes e promotores, para policiais em empresas cujo ramo de atividade é a venda

da segurança particular. Será que tais profissionais não estariam prestando um

péssimo serviço na segurança pública para obter facilidades com a atividade da

segurança privada? É algo que devemos pensar. Aos nossos legisladores para

discussão.

Será que também não deveremos discutir os vários gabinetes com policiais

militares junto aos governos estaduais, tribunais de conta, assembleias legislativas,

tribunais de justiça, foruns e varas judiciais? No Estado do Pará é voz corrente na

corporação estadual que há um policial militar que está prestes a se aposentar e

nunca entrou em uma viatura policial, visto que só prestou serviços para outras

instituições que deveriam ter sua segurança orgânica. É dessa maneira que serão

prestados serviços de segurança com eficiência?

As corporações sempre apontam o déficit de contingente para justificar as

falhas da prevenção, mas, por razões políticas, deixam de apontar os diversos

desvios a que são submetidos os profissionais da segurança pública.

A adoção de uma política nacional de segurança pública, com investimentos

nos setores operacionais dos órgãos policiais e no sistema prisional, são essenciais

para que os direitos básicos do administrado, direito à vida, à liberdade, à igualdade,

à segurança, à propriedade sejam efetivos e não mera peça decorativa em uma

Constituição.

Page 43: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

42

8 CONCLUSÃO

Na legislação pátria não encontramos qualquer vinculação entre Sistema

Penitenciário e Sistema de Segurança Pública, embora exista, na prática, uma

correlação entre ambos, visto que o Sistema de Segurança Pública é o maior

abastecedor de “clientes” ao Sistema Penitenciário e este, na medida em que não

consegue ressocializar seus internos para retorno ao convívio social, também

abastece o Sistema de Segurança Pública com o retorno de “clientes costumeiros”.

A legislação brasileira pertinente ao Sistema Penitenciário Brasileiro deixou

de observar o comando existente nas Regras Mínimas da ONU para o Tratamento

de Prisioneiros em seu artigo 46, e subitens, transcritos acima, o qual diz que a

administração penitenciária escolherá cuidadosamente o pessoal de todas as

categorias, posto que, da integridade, humanidade, aptidão pessoal e capacidade

profissional desse pessoal dependerá a boa direção dos estabelecimentos

penitenciários.

Cabe ressaltar o contido no subitem 3, que diz que para lograr tais fins, será

necessário que os membros trabalhem com exclusividade como funcionários

penitenciários profissionais, tenham a condição de funcionários públicos e, portanto,

a segurança de que a estabilidade em seu emprego dependerá unicamente da sua

boa conduta, da eficácia do seu trabalho e de sua aptidão física. A remuneração do

pessoal deverá ser adequada, a fim de se obter e conservar os serviços de homens

e mulheres capazes. Determinar-se-á os benefícios da careira e as condições do

serviço tendo em conta o caráter penoso de suas funções.

O que vemos em nosso País, em algumas unidades Federadas, é o

descumprimento de tal ordenamento, na medida em que encontramos policiais civis,

federais, militares e até terceirizados cuidando de presos, sem qualquer formação no

quesito tratamento para ressocializar. Temos já neste descumprimento um dos

fatores dos altos índices de reincidência no País.

Da mesma forma os Conselhos da Comunidade não estão estabelecidos em

todos os municípios brasileiros, quer tenham casas prisionais ou não, visto que onde

houver vara criminal referido conselho é obrigatório, uma vez que as penas

alternativas também devem ser acompanhadas por citados Conselhos.

A falta de pessoal realmente qualificado para o exercício da atribuição, bem

como a não atuação dos complementos previstos na Lei de Execução Penal

Page 44: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

43

brasileira são pontos que julgamos responsáveis pelos elevados índices de

reincidência e a concordar com o Mestre Cezar Roberto Bitencourt que afirma a

falência da Pena de Prisão.

Quem não atua junto aos Sistemas Penitenciário e de Segurança Pública,

pelo que vê na mídia, pode até presumir que durante o tempo de reclusão os

internos são submetidos a tratamento reabilitador. Ledo engano.

Cezar Bitencourt apresenta índices de reincidência que oscilam entre 40 e

80% nos Estados Unidos. Na Espanha entre os anos 1957 e 1973 o percentual

médio de reincidência foi de 60,3%, sendo que na Costa Rica foi encontrado, mais

recentemente, o percentual de 48% de reincidência. Afirma também que os países

latino-americanos não apresentam índices confiáveis, sendo esse um dos fatores

que dificultam a realização de uma verdadeira política criminal.

Muitas modificações hão de ser feitas ao longo dos próximos anos se

quisermos mudar a atual situação do nosso sistema penitenciário, se realmente

desejamos a paz social e termos plena sensação de segurança, tão clamada pela

população.

Primeiro passo, a profissionalização do pessoal encarregado da questão

penitenciária e do trato para com o prisioneiro, com a retirada total dos profissionais

de outras áreas, tais como policiais civis, federais ou militares das casas prisionais,

visto que suas formações são diametralmente opostas a ressocialização dos

apenados.

Segundo passo, descentralização total das casas prisionais e construção de

pequenas unidades em cada município brasileiro, com atuação direta dos Conselhos

da Comunidade, visto que o “doente social” deve ser tratado junto a sua comunidade

de origem. Neste caso deverão ser adotados os mesmos critérios utilizados para a

constituição dos conselhos de saúde o tutelares. Da mesma maneira os

mecanismos utilizados para indicação e nomeação dos Conselheiros da

Comunidade deverão ser idênticos aos daqueles, ou seja, eleição, mandato e

remuneração.

Efetiva separação dos detentos contemplando o tipo de personalidade de

cada um e pela análise do delito cometido. Num primeiro momento poderíamos ter

três classificações afora a dos condenados a penas alternativas, sendo a dos presos

sem periculosidade e primários, os quais receberiam tratamento junto as suas

comunidades. Os presos reincidentes ou primários, mas com média periculosidade,

Page 45: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

44

seriam tratados em presídios regionais, contando com maior aparato, quer seja de

profissionais, quanto de especialistas no trato do ser humano, objetivando a

ressocialização. Por último as penitenciárias de segurança máxima, local destinado

aos presos de alta periculosidade e de difícil recuperação e ressocialização.

Page 46: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

45

REFERÊNCIAS

BALESTRERI, Ricardo Brisolla, Direitos Humanos: Coisa de Polícia. 3ª edição. Passo Fundo, Berthier, 2003.

BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de Direito Constitucional, 17ª edição. São Paulo. Saraiva, 1996.

BECCARIA, Cesare, Dos Delitos e das Penas. 5ª edição. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2011.

BITENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão – Causas e Alternativas. 4ª edição. São Paulo. Saraiva. 2012/2ª tiragem.

BRANCO, P.J.A. Natureza jurídica do conselheiro tutelar. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1239, 22 nov. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9192>. Acesso em: 04 dez. 2006.

BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil03/constituicao/constituicao htm>. Acesso em: 21 mar. 2012.

BRASIL. Lei n. 7210, de 11 de julho de 1984. Institui a lei de execuções penais. Brasília, DF, Diário Oficial da União de 13/07/1984. pag. 10227

CAVALLIERI, A. Falhas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

DALLARI, Dalmo de Abreu, Elementos de Teoria Geral do Estado. 11ª edição. São Paulo, Saraiva,1985.

ELIAS, R.J. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2004.

FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir – nascimento das Prisões. 13ª edição. Petrópolis, Vozes, 1996.

ISHIDA, V.K. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2005.

ONU. Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros. Adotadas pelo 1º Congresso das Nações Unidas sobre prevenção do Crime e Tratamento de Delinquentes, realizado em 1955 e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social da ONU, através da sua resolução 663 C I (XXIV), de 31 de julho de 1957, aditada pela resolução 2076 (LXII) de 13 de maio de 1977. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/lex52.htm> Acesso em: 03 abr. 2012.

PEREIRA, T.da.S. Direito da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Renovar, 1996.

SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Prático. 5ª Edição, São Paulo. Revista dos Tribunais, 1989.

Page 47: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

46

ANEXO A: RELATÓRIO DO CREA-RS SOBRE INSPEÇÃO NO PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE

Page 48: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

47

Page 49: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

48

Page 50: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

49

Page 51: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

50

Page 52: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

51

Page 53: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

52

Page 54: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

53

Page 55: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

54

Page 56: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

55

Page 57: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

56

Page 58: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

57

Page 59: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

58

Page 60: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

59

Page 61: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

60

Page 62: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

61

Page 63: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

62

Page 64: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

63

Page 65: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

64

Page 66: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

65

ANEXO B: RELATÓRIO DE VISITA DE FISCALIZAÇÃO DO CREMERS – RESUMO – REALIZADA NO PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE

Page 67: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

66

Page 68: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

67

Page 69: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

68

Page 70: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

69

Page 71: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

70

Page 72: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

71

Page 73: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

72

Page 74: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

73

Page 75: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

74

Page 76: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

75

Page 77: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

76

Page 78: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

77

Page 79: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

78

Page 80: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

79

Page 81: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

80

Page 82: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

81

Page 83: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

82

Page 84: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

83

Page 85: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

84

Page 86: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

85

Page 87: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

86

ANEXO C: PARECER DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, SECCIONAL DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE A VISTORIA REALIZADA NO PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE

Page 88: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

87

Page 89: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

88

Page 90: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

89

Page 91: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

90

Page 92: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

91

Page 93: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

92

Page 94: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

93

Page 95: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

94

Page 96: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

95

Page 97: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

96

Page 98: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

97

Page 99: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

98

Page 100: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

99

Page 101: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

100

Page 102: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

101

Page 103: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

102

Page 104: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

103

Page 105: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

104

Page 106: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

105

Page 107: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

106

Page 108: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

107

Page 109: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

108

Page 110: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

109

Page 111: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

110

Page 112: ABBADI, Manoel Fernando. Sistema penitenciário brasileiro e

111