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5/27/2018 ABCDoEspiritismo-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/abc-do-espiritismo 1/87  ABC do Espiritismo Victor Ribas Carneiro 1  ABC DO ESPIRITISMO Victor Ribas Carneiro Edição Federação Espírita do Paraná C.G.C.76.544.741/0001-03 - I.E. Isento Alameda Cabral, 300 80.410-210 - Centro Curitiba - Paraná 1996 5.ª edição 10.º ao 15.º milheiro © Copyright 1996 by Federação Espírita do Paraná Alameda Cabral, 300 80.410-210 - Curitiba - PR - Brasil Capa de Stella Maris I. Martins Copidesque: Antônio Moris Cury Revisão: Antônio Moris Cury Diagramação: Eliane Gonçalves Olivieri Impresso no Brasil Presita em Brazilo Catalogação-na-fonte Biblioteca Pública do Paraná Carneiro, Victor Ribas, 1915- ABC do Espiritismo/Victor Ribas Carneiro.- Curitiba : Federação Espírita do Paraná, 1996. 223 p. ISBN: 85-7365-001-X 1. Espiritismo. I. Título. CDD(19.ª ed.) 133.9 Federação Espírita do Paraná Alameda Cabral, 300 80.410-210 - Centro Curitiba - Paraná 1996 Aos abnegados Instrutores do plano espiritual, que me inspiraram para a realização deste modesto trabalho que se destina, principalmente, aos principiantes espíritas, dedico esta página, em sinal de humilde homenagem.

ABC Do Espiritismo

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  • ABC do Espiritismo Victor Ribas Carneiro

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    ABC DO ESPIRITISMO

    Victor Ribas Carneiro Edio Federao Esprita do Paran C.G.C.76.544.741/0001-03 - I.E. Isento Alameda Cabral, 300 80.410-210 - Centro Curitiba - Paran 1996 5. edio 10. ao 15. milheiro Copyright 1996 by Federao Esprita do Paran Alameda Cabral, 300 80.410-210 - Curitiba - PR - Brasil Capa de Stella Maris I. Martins Copidesque: Antnio Moris Cury Reviso: Antnio Moris Cury Diagramao: Eliane Gonalves Olivieri Impresso no Brasil Presita em Brazilo Catalogao-na-fonte Biblioteca Pblica do Paran Carneiro, Victor Ribas, 1915- ABC do Espiritismo/Victor Ribas Carneiro.- Curitiba : Federao Esprita do Paran, 1996. 223 p. ISBN: 85-7365-001-X 1. Espiritismo. I. Ttulo. CDD(19. ed.) 133.9 Federao Esprita do Paran Alameda Cabral, 300 80.410-210 - Centro Curitiba - Paran 1996 Aos abnegados Instrutores do plano espiritual, que me inspiraram para a realizao

    deste modesto trabalho que se destina, principalmente, aos principiantes espritas, dedico esta pgina, em sinal de humilde homenagem.

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    NDICE

    Apresentao ............................................................................................................................... 7 Primeira parte .............................................................................................................................. 8 Captulo 1 - DA DIFERENA ENTRE ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO .................. 8 Captulo 2 - DOUTRINAS ESPIRITUALISTAS .................................................................... 9

    1 - OS VEDAS........................................................................................................................ 9 2 - KRISHNA........................................................................................................................ 10 3 - BUDA .............................................................................................................................. 11 4 - SCRATES E PLATO................................................................................................ 12

    Captulo 3 - FENMENOS MEDINICOS DENTRO DA BBLIA .................................. 13 1 - VOZ DIRETA ................................................................................................................. 14 2 - MATERIALIZAO..................................................................................................... 14 3 - PNEUMATOGRAFIA OU ESCRITA DIRETA.......................................................... 14 4 - TRANSPORTE ............................................................................................................... 14 5 - LEVITAO .................................................................................................................. 14 6 - TRANSE.......................................................................................................................... 14 7 - MEDIUNIDADE AUDITIVA ....................................................................................... 15 8 - MEDIUNIDADE CURADORA .................................................................................... 15 9 - OUTRAS FORMAS DE MEDIUNIDADE .................................................................. 15

    Captulo 4 - AS IRMS FOX E OS FENMENOS DE HYDESVILLE............................ 15 Captulo 5 - ALLAN KARDEC E SUA OBRA..................................................................... 17 Captulo 6 - FLAMMARION, DENIS E DELANNE, FIIS CONTINUADORES DA OBRA DE KARDEC................................................................................................................ 19 Captulo 7 - SNTESE DE O LIVRO DOS ESPRITOS ................................................... 23 PARTE PRIMEIRA DAS CAUSAS PRIMRIAS ............................................................ 23 CAPTULO I DE DEUS ....................................................................................................... 23

    1. DEUS E O INFINITO...................................................................................................... 23 2. PROVA DA EXISTNCIA DE DEUS .......................................................................... 23 3. ATRIBUTOS DA DIVINDADE..................................................................................... 23 4. PANTESMO.................................................................................................................... 23

    CAPTULO II DOS ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO........................................ 24 1. CONHECIMENTO DO PRINCPIO DAS COISAS .................................................... 24 2. ESPRITO E MATRIA.................................................................................................. 24 3. PROPRIEDADES DA MATRIA ................................................................................. 24 4. ESPAO............................................................................................................................ 24

    CAPTULO III DA CRIAO ............................................................................................ 25 1. FORMAO DOS MUNDOS ....................................................................................... 25 2. FORMAO DOS SERES VIVOS ............................................................................... 25 3. POVOAMENTO DA TERRA. ADO........................................................................... 25 4. DIVERSIDADE DAS RAAS HUMANAS ................................................................. 25 5. PLURALIDADE DOS MUNDOS.................................................................................. 25 6. CONSIDERAES SOBRE A CRIAO................................................................... 26

    CAPTULO IV DO PRINCPIO VITAL............................................................................. 26 1. SERES ORGNICOS E INORGNICOS .................................................................... 26 2. A VIDA E A MORTE...................................................................................................... 26 3. INTELIGNCIA E INSTINTO....................................................................................... 26

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    PARTE SEGUNDA DO MUNDO DOS ESPRITOS........................................................ 27 CAPTULO I DOS ESPRITOS........................................................................................... 27

    1. ORIGEM E NATUREZA DOS ESPRITOS................................................................. 27 2. MUNDO NORMAL PRIMITIVO .................................................................................. 27 3. FORMA E UBIQIDADE DOS ESPRITOS............................................................... 27 4. PERISPRITO................................................................................................................... 27 5. DIFERENTES ORDENS DE ESPRITOS..................................................................... 27 6. ESCALA ESPRITA........................................................................................................ 28 7. PROGRESSO DOS ESPRITOS .................................................................................... 28 8. ANJOS E DEMNIOS.................................................................................................... 28

    CAPTULO II DA ENCARNAO DOS ESPRITOS .................................................... 28 1. OBJETIVO DA ENCARNAO................................................................................... 29 2. A ALMA ........................................................................................................................... 29 3. MATERIALISMO............................................................................................................ 29

    CAPTULO III DA VOLTA DO ESPRITO, EXTINTA A VIDA CORPREA, VIDA ESPIRITUAL ............................................................................................................................ 29

    1. A ALMA APS A MORTE............................................................................................ 29 2. SEPARAO DA ALMA E DO CORPO..................................................................... 30 3. PERTURBAO ESPIRITUAL .................................................................................... 30

    CAPTULO IV DA PLURALIDADE DAS EXISTNCIAS ............................................ 30 1. A REENCARNAO ..................................................................................................... 30 2. JUSTIA DA REENCARNAO................................................................................. 30 3. ENCARNAO NOS DIFERENTES MUNDOS ........................................................ 31 4. TRANSMIGRAES PROGRESSIVAS...................................................................... 32 5. SORTE DAS CRIANAS DEPOIS DA MORTE......................................................... 32 6. SEXO DOS ESPRITOS.................................................................................................. 33 7. PARENTESCOS E FILIAO ...................................................................................... 33 8. PARECENAS FSICAS E MORAIS ........................................................................... 33 9. IDIAS INATAS.............................................................................................................. 34

    CAPTULO V CONSIDERAES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTNCIAS.................................................................................................................................................... 34 CAPTULO VI DA VIDA ESPRITA................................................................................. 36

    1. ESPRITOS ERRANTES ................................................................................................ 36 2. MUNDOS TRANSITRIOS .......................................................................................... 36 3. PERCEPO, SENSAO E SOFRIMENTO DOS ESPRITOS ............................. 37 4. ENSAIO TERICO DA SENSAO NOS ESPRITOS............................................ 38 5. ESCOLHA DAS PROVAS ............................................................................................. 39 6. AS RELAES NO ALM-TMULO......................................................................... 40 7. RELAES DE SIMPATIA E ANTIPATIA METADES ETERNAS ....................... 41 8. RECORDAO DA VIDA CORPREA..................................................................... 42 9. COMEMORAO DOS MORTOS FUNERAIS ......................................................... 42

    CAPTULO VII DA VOLTA DO ESPRITO VIDA CORPORAL.............................. 43 1. PRELDIO DA VOLTA................................................................................................. 43 2. UNIO DA ALMA E DO CORPO ................................................................................ 43 3. FACULDADES MORAIS E INTELECTUAIS DO HOMEM .................................... 44 4. INFLUNCIA DO ORGANISMO ................................................................................. 44 5. IDIOTISMO E LOUCURA............................................................................................. 44

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    6. A INFNCIA.................................................................................................................... 45 7. SIMPATIAS E ANTIPATIAS TERRENAS.................................................................. 45 8. ESQUECIMENTO DO PASSADO ................................................................................ 45

    CAPTULO VIII DA EMANCIPAO DA ALMA......................................................... 46 1. O SONO E OS SONHOS ................................................................................................ 46 2. VISITAS ESPIRITUAIS ENTRE PESSOAS VIVAS .................................................. 46 3. TRANSMISSO OCULTA DE PENSAMENTO......................................................... 46 4. LETARGIA, CATALEPSIA, MORTE APARENTE.................................................... 47 5. SONAMBULISMO.......................................................................................................... 47 6. XTASE............................................................................................................................ 47 7. DUPLA VISTA ................................................................................................................ 48

    CAPTULO IX DA INTERVENO DOS ESPRITOS NO MUNDO CORPORAL... 48 1. FACULDADE QUE TM OS ESPRITOS DE PENETRAR OS NOSSOS PENSAMENTOS ................................................................................................................. 48 2. INFLUNCIAS EM NOSSOS PENSAMENTOS ATOS............................................. 48 3. POSSESSOS..................................................................................................................... 48 4. CONVULSIONRIOS.................................................................................................... 49 5. AFEIO QUE OS ESPRITOS VOTAM A CERTAS PESSOAS............................ 49 6. ANJOS DE GUARDA, ESPRITOS PROTETORES, FAMILIARES OU SIMPTICOS....................................................................................................................... 49 7. PRESSENTIMENTOS..................................................................................................... 50 8. INFLUNCIA DOS ESPRITOS NOS ACONTECIMENTOS DA VIDA ................ 50 9. AO DOS ESPRITOS NOS FENMENOS DA NATUREZA .............................. 50 10. OS ESPRITOS DURANTE OS COMBATES ........................................................... 50 11. PACTOS ......................................................................................................................... 50 12. PODER OCULTO TALISMS, FEITICEIROS......................................................... 51 13. BNOS E MALDIES......................................................................................... 51

    CAPTULO X DAS OCUPAES E MISSES DOS ESPRITOS................................ 51 CAPTULO XI DOS TRS REINOS.................................................................................. 52

    1. OS MINERAIS E AS PLANTAS ................................................................................... 52 2. OS ANIMAIS E O HOMEM........................................................................................... 53 3. METEMPSICOSE............................................................................................................ 54

    PARTE TERCEIRA DAS LEIS MORAIS.......................................................................... 54 CAPTULO I DA LEI DIVINA OU NATURAL ............................................................... 54

    1. CARACTERES DA LEI NATURAL............................................................................. 54 2. ORIGEM E CONHECIMENTO DA LEI NATURAL.................................................. 54 3. O BEM E O MAL............................................................................................................. 55 4. DIVISO DA LEI NATURAL....................................................................................... 55

    CAPTULO II DA LEI DE ADORAO........................................................................... 55 1. OBJETIVO DA ADORAO........................................................................................ 56 2. ADORAO EXTERIOR .............................................................................................. 56 3. VIDA CONTEMPLATIVA............................................................................................. 56 4. A PRECE........................................................................................................................... 56 5. POLITESMO................................................................................................................... 57 6. SACRIFCIOS .................................................................................................................. 57

    CAPTULO III DA LEI DO TRABALHO.......................................................................... 57 1. NECESSIDADE DO TRABALHO ................................................................................ 57

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    2. LIMITE DO TRABALHO REPOUSO........................................................................... 58 CAPTULO IV DA LEI DE REPRODUO .................................................................... 58

    1. POPULAO DO GLOBO ............................................................................................ 58 2. SUCESSO E APERFEIOAMENTO DAS RAAS................................................. 58 3. OBSTCULOS REPRODUO............................................................................... 58 4. CASAMENTO E CELIBATO ........................................................................................ 59 5. POLIGAMIA .................................................................................................................... 59

    CAPTULO V LEI DE CONSERVAO.......................................................................... 59 1. INSTINTO E CONSERVAO .................................................................................... 59 2. MEIOS DE CONSERVAO........................................................................................ 59 3. GOZO DOS BENS TERRENOS .................................................................................... 60 4. NECESSRIO E SUPRFLUO ..................................................................................... 60 5. PRIVAES VOLUNTRIAS MORTIFICAES................................................... 60

    CAPTULO VI DA LEI DE DESTRUIO ...................................................................... 61 1. DESTRUIO NECESSRIA E DESTRUIO ABUSIVA.................................... 61 2. FLAGELOS DESTRUIDORES...................................................................................... 61 3. GUERRAS ........................................................................................................................ 62 4. ASSASSNIO ................................................................................................................... 62 5. CRUELDADE .................................................................................................................. 62 6. DUELO ............................................................................................................................. 62 7. PENA DE MORTE .......................................................................................................... 62

    CAPTULO VII DA LEI DE SOCIEDADE........................................................................ 63 1. NECESSIDADE DA VIDA SOCIAL ............................................................................ 63 2. VIDA DE ISOLAMENTO VOTO DE SILNCIO ....................................................... 63 3. LAOS DE FAMLIA..................................................................................................... 63

    CAPTULO VIII DA LEI DO PROGRESSO ..................................................................... 63 1. ESTADO DE NATUREZA............................................................................................. 63 2. MARCHA DO PROGRESSO......................................................................................... 64 3. POVOS DEGENERADOS.............................................................................................. 64 4. CIVILIZAO................................................................................................................. 64 5. PROGRESSO DA LEGISLAO HUMANA ............................................................. 64 6. INFLUNCIA DO ESPIRITISMO NO pROGRESSO................................................. 65

    CAPTULO IX DA LEI DE IGUALDADE ........................................................................ 65 1. IGUALDADE NATURAL .............................................................................................. 65 2. DESIGUALDADE DAS APTIDES............................................................................. 65 3. DESIGUALDADES SOCIAIS........................................................................................ 65 4. DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS ............................................................................ 66 5. AS PROVAS DA RIQUEZA E DA MISRIA.............................................................. 66 6. IGUALDADE DOS DIREITOS DO HOMEM E DA MULHER ................................ 66 7. IGUALDADE PERANTE O TMULO ........................................................................ 66

    CAPTULO X DA LEI DE LIBERDADE .......................................................................... 67 1. LIBERDADE NATURAL............................................................................................... 67 2. ESCRAVIDO................................................................................................................. 67 3. LIBERDADE DE PENSAR ............................................................................................ 67 4. LIBERDADE DE CONSCINCIA ................................................................................ 67 5. LIVRE-ARBTRIO .......................................................................................................... 67 6. FATALIDADE ................................................................................................................. 68

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    7. CONHECIMENTO DO FUTURO ................................................................................. 68 8. RESUMO TERICO DO MVEL DAS AES HUMANAS .................................. 69

    CAPTULO XI DA LEI DE JUSTIA, DE AMOR E DE CARIDADE.......................... 69 1. JUSTIA E DIREITOS NATURAIS ............................................................................. 69 2. DIREITO DE PROPRIEDADE ROUBO....................................................................... 70 3. CARIDADE E AMOR DO PRXIMO.......................................................................... 70 4. AMOR MATERNO E FILIAL........................................................................................ 70

    CAPTULO XII DA PERFEIO MORAL ...................................................................... 71 1. AS VIRTUDES E OS VCIOS........................................................................................ 71 2. PAIXES.......................................................................................................................... 72 3. O EGOSMO..................................................................................................................... 72 4. CARACTERES DO HOMEM DE BEM........................................................................ 72 5. CONHECIMENTO DE SI MESMO............................................................................... 72

    PARTE QUARTA DAS ESPERANAS E CONSOLAES ......................................... 72 CAPTULO I DAS PENAS E GOZOS TERRESTRES..................................................... 72

    1. FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS ......................................................... 73 2. PERDAS DOS ENTES QUERIDOS .............................................................................. 73 3. DECEPES. INGRATIDO AFEIES DESTRUDAS........................................ 73 4. UNIES ANTIPTICAS................................................................................................ 74 5. TEMOR DA MORTE ...................................................................................................... 74 6. DESGOSTO DA VIDA - SUICDIO.............................................................................. 74

    CAPTULO II DAS PENAS E GOZOS FUTUROS .......................................................... 75 1. O NADA VIDA FUTURA .............................................................................................. 75 2. INTUIO DAS PENAS E GOZOS FUTUROS ......................................................... 75 3. INTERVENO DE DEUS NAS Penas E RECOMPENSAS .................................... 75 4. NATUREZA DAS PENAS E GOZOS FUTUROS....................................................... 75 5. PENAS TEMPORAIS...................................................................................................... 76 6. EXPIAO E ARREPENDIMENTO............................................................................ 77 7. DURAO DAS PENAS ............................................................................................... 77 8. RESSURREIO DA CARNE ...................................................................................... 77 9. PARASO, INFERNO E PURGATRIO ...................................................................... 78

    ALGUNS MDIUNS FAMOSOS DO PASSADO ............................................................... 80 1 - EMMANUEL SWEDENBORG.................................................................................... 80 2 - ANDREW JACKSON DAVIS ...................................................................................... 82 3 - DANIEL DUNGLAS HOME ........................................................................................ 83 4 - EUSPIA PALADINO .................................................................................................. 84 5 - MADAME DESPERANCE.......................................................................................... 85 6 - WILLIAM STAINTON MOSES................................................................................... 86

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    APRESENTAO

    O motivo que nos levou a escrever a presente obra foi o de sentirmos a necessidade de enfeixar, em um s volume, de modo sinttico, parte da matria indispensvel aos conhecimentos preliminares da Doutrina Esprita.

    Procuramos fazer a sntese de cada assunto tratado, tendo em vista facilitar seu estudo, de modo que qualquer pessoa, mesmo no possuindo letras primrias, mas sabendo ler, convenientemente, possa compreender o fundamento do Espiritismo.

    Sabemos que nosso despretensioso trabalho no preencher, a contento, as necessidades gerais no tocante ao complexo campo de saber esprita, mas, de qualquer forma, tentamos, embora em parte, a soluo desse importante problema. Assim pensando, achamos conveniente falar, inicialmente, sobre algumas das doutrinas espiritualistas da antigidade, tendo em vista sua semelhana, em muitos pontos, com o Espiritismo. Falamos, tambm, sobre os fenmenos medinicos dentro da Bblia, para mostrar que, desde a mais remota antigidade, j se estabelecia a comunicao entre os vivos e os chamados mortos. Depois, inserimos ligeiros dados biogrficos sobre alguns mdiuns famosos do passado, bem como a opinio de diversos sbios e cientistas, que realizaram precioso trabalho no campo experimental da Doutrina.

    O esforo realizado por esses grandes vultos da cincia de inestimvel valia, uma vez que provaram, atravs da pesquisa sria e honesta, a sobrevivncia do Esprito aps a morte do corpo fsico.

    Por outro lado, queremos acentuar aos leitores que somos constantemente consultados por pessoas desejosas de conhecer o Espiritismo, sobretudo perguntando qual obra devem ler em primeiro lugar. Costumamos recomendar a leitura das obras bsicas de Kardec, aliadas a alguns romances de Emmanuel, como Paulo e Estvo, por exemplo.

    H outros que indicam logo as obras de Andr Luiz. De qualquer forma, todos procuramos encaminhar o nefito ansioso por aprender alguma coisa sobre a Doutrina dos Espritos.

    Todavia, no esqueamos de que nem todos se encontram em condies de compreender, com facilidade, os ensinos contidos nessas obras, uma vez que os mesmos vm de encontro aos mais variados preconceitos religiosos, no s do passado como tambm do presente.

    preciso, para maior clareza, se faa um estudo metodizado, pois devemos nos comparar ao jovem estudante que, antes de ingressar num curso superior, prepara-se devidamente, a fim de poder assimilar os ensinos que ir receber nas faculdades correspondentes.

    Com o principiante esprita geralmente ocorre o mesmo fenmeno: a falta de preparo prvio para apreender a sublimidade dos ensinamentos que nos so trazidos pelos Espritos Superiores, pode gerar confuso. E no de se estranhar que isso acontea, pois, ao recebermos muita luz, quase sempre nossos olhos se ofuscam. Da porque aconselhamos a leitura de obras que facilitem ao iniciante compreender, desde logo, o que o Espiritismo face s demais doutrinas espiritualistas, bem como suas bases.

    Objetivando, ento, dar aos leitores conhecimentos preliminares sobre o Espiritismo, que abordamos vrios assuntos considerados indispensveis formao de uma cultura doutrinria, que, embora generalizada, sirva de base para estudos mais aprofundados.

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    No livro de exibio cultural, mas para atender necessidades da vida prtica observadas em nossas andanas difundindo a Doutrina dos Espritos.

    Por esse motivo, como dissemos, que procuramos sintetizar a matria contida na primeira obra de Kardec, ou seja, O Livro dos Espritos; que falamos sobre um pouco do muito que realizaram os sbios e cientistas, atravs da pesquisa dos fenmenos produzidos pelos mdiuns seus contemporneos, e que, finalmente, trouxemos, tambm nestas pginas, notcia daqueles que foram baluartes do Espiritismo, principalmente no Brasil, neste Brasil que, com muita propriedade, foi cognominado pelo Esprito de Humberto de Campos, de Corao do Mundo e Ptria do Evangelho.

    Esses foram os propsitos que nos levaram a escrever o presente livro. Esperamos, agora, seja til a quantos perlustrarem suas pginas, assimilando seu contedo e, sobretudo, pondo-o em prtica.

    Por outro lado, estimaramos que a crtica se pronunciasse: com ela, ou prosseguiremos com novas edies, naturalmente melhoradas, ou ficaremos apenas na primeira edio, se nossos propsitos no forem atingidos.

    Muito obrigado. Curitiba, agosto de 1972.

    O Autor.

    PRIMEIRA PARTE

    CAPTULO 1 - DA DIFERENA ENTRE ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO

    muito comum afirmar-se que ser espiritualista a mesma coisa que ser esprita ou espiritista. Aqueles que assim pensam do prova de que desconhecem os fundamentos da Doutrina Esprita. H outros que, ao serem interrogados sobre a religio a que pertencem, embora sejam espritas militantes, vacilam e do esta resposta: Sou espiritualista.

    De duas uma: ou respondem assim porque desconhecem a diferena que h entre a Doutrina Esprita e as doutrinas espiritualistas, ou porque temem confessar a qualidade de esprita convicto. Acham que, afirmando serem espiritualistas, eximem-se de quaisquer responsabilidades, no tocante religio, diante da sociedade a que pertencem. a isto que se chama covardia moral.

    preciso que se saiba que todo esprita necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas so espritas.

    Embora seja a Doutrina Esprita uma doutrina espiritualista, por excelncia, necessrio fazer-se distino das demais correntes espiritualistas.

    Para exemplo, tomemos a Umbanda, seita muito divulgada no Brasil. Ser a Umbanda doutrina espiritualista? Sim, doutrina espiritualista, porquanto

    estabelece a comunicao entre os vivos e os chamados mortos, admitindo, conseqentemente, a sobrevivncia do Esprito aps a morte do corpo fsico; admite sua evoluo atravs das vidas sucessivas e cr no resgate, pela dor, das faltas cometidas em existncias anteriores.

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    Por essas caractersticas, no h dvida alguma tratar-se a Umbanda de uma doutrina essencialmente espiritualista. Mas, por outro lado, ser ela Doutrina Esprita ou Espiritismo?

    No. A Umbanda no pode ser considerada Doutrina Esprita porque admite cerimnias litrgicas, entre elas a do casamento e a do batizado; litlatra, porque adota nos seus trabalhos imagens dos chamados santos (a palavra litlatra vem de litolatria, que a adorao das pedras), e tambm fitlatra, porque faz uso de ervas para defumaes, alm de outros ritos (a palavra fitlatra vem do grego phyton planta; o segundo elemento, latra, provm do verbo grego latrein adorar). Mas o Espiritismo no tem ritos de espcie alguma.

    Como se v, por estas observaes ficou demonstrado a diferena existente entre a Doutrina Esprita e uma das doutrinas espiritualistas, que a Umbanda, doutrina esta que tem, face aos seus dogmas e ritos, bastante afinidade com o Catolicismo, tambm considerado espiritualista, porque admite a existncia de Deus e de entidades espirituais que sobrevivem aps a desencarnao.

    CAPTULO 2 - DOUTRINAS ESPIRITUALISTAS

    Falar sobre todas as doutrinas espiritualistas existentes no mundo tarefa dificlima, pois seu nmero bastante elevado, o que exigiria muito espao e tempo.

    Como nosso trabalho limita-se apenas a apresentar alguns ensinos principais, mas resumidos, objetivando, dessa forma, facilitar mais queles que no dispem de tempo e nem mesmo de muitas obras de consulta, que resolvemos abordar um pouco de cada assunto que, sobremaneira, interessa aos que desejam formar cultura generalizada no campo espiritual.

    Assim, considerando que as doutrinas espiritualistas, notadamente as da antigidade, vm trazer aprecivel subsdio para o leitor no que diz respeito aos seus conhecimentos espirituais, que achamos conveniente citar algumas dessas doutrinas, que serviram para o desenvolvimento dos chamados iniciados de antanho.

    Quando falamos em iniciados, lembramo-nos logo de Moiss o salvo das guas do rio Nilo segundo narrativa bblica.

    Moiss fora educado na corte dos Faras, tornando-se um grande iniciado daquela poca.

    Seus livros, que constituem o chamado Pentateuco, deixam transparecer, claramente, que ele era dotado de grandes conhecimentos das cincias secretas, daquele tempo.

    Ao que estamos informados, muitas eram as fontes de consulta de ento, as quais teriam servido para aprimorar seu conhecimento no terreno da filosofia espiritualista, tornando-se, dessa forma, um dos grandes iniciados da poca.

    1 - OS VEDAS No podemos precisar a data em que foram escritas estas obras, mas Souryo

    Shiddanto (em snscrito tratado do deus do sol), obra de astronomia, cuja composio remonta, em sua parte mais antiga, ao sculo IV a.C., j nos fala dos Vedas.

    Estas obras constituem a Bblia da ndia e nelas encontramos preciosos ensinos espiritualistas, como a comunicabilidade dos espritos, a reencarnao, a pluralidade dos

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    mundos, alm de sbios conselhos, muitos deles semelhantes aos que nos foram legados pelo Cristo.

    Quanto comunicabilidade dos espritos, lemos nos Vedas que, no sacrifcio do fogo, muito usado na antigidade, compareciam os Espritos denominados Assouras, que no panteo indiano constituem divindades do mal, e os Pitris, que eram almas dos antepassados, e dele tomavam parte.

    Como se v, desde as mais remotas eras j se estabelecia a comunicao entre os dois mundos, dando prova, assim, da sobrevivncia do Esprito aps a morte do corpo fsico.

    Devemos citar, ainda, para maiores esclarecimentos, que os Vedas encerram preciosos ensinos no campo do amor e do perdo.

    O que se segue um exemplo de sua sublimidade: S, para o teu inimigo, o que a terra que devolve farta colheita ao lavrador que lhe rasga o seio. S, para aquele que te aflige, o que o sndalo da floresta que perfuma o machado do lenhador que o corta.

    Os ensinos da pluralidade das existncias, ou seja, da reencarnao da alma, eram conservados na tradio oral dos cnticos vdicos; foram divulgados somente aps a compilao dos Vedas pelo sbio brmane, Vyasa, cerca de 14 sculos a.C., e fixados definitivamente entre os sculos XII e XI, quando a escrita foi introduzida na ndia pela influncia dos fencios.

    2 - KRISHNA Continuando nosso estudo em torno de algumas doutrinas espiritualistas da

    antigidade, devemos lembrar o grande pensador brmane, Krishna, que foi o inspirador das crenas dos indus. Atravs de sua doutrina, verificamos que a imortalidade da alma, as vidas sucessivas, a lei de causa e efeito, faziam parte dos seus ensinos.

    A doutrina de Krishna se contm inteirinha no Bhagavad-Gita, que um dos hinos do Mahabhrata e, por sinal, a mais bela e profunda mensagem de filosofia que nos legou a antigidade.

    O corpo dizia ele envoltrio da alma que a faz sua morada, uma coisa finita; porm a alma que o habita imortal, impondervel e eterna.

    Esses ensinos nos mostram a imortalidade da alma como princpio bsico, e que a vida do corpo transitria.

    Todo renascimento, feliz ou desgraado, uma conseqncia das obras praticadas em vidas anteriores. A est patente a lei de causa e efeito.

    Colhemos o fruto oriundo da semente que lanamos. Com referncia reencarnao, dizia ele: Tanto eu como vs temos tido vrios

    nascimentos. Os meus, s de mim so conhecidos, porm vs nem mesmo os vossos conheceis.

    Ao que parece, Krishna, em decorrncia de sua evoluo, lembrava-se das encarnaes pretritas.

    Ainda, sobre reencarnao, devemos citar mais este ensinamento: Como a gente tira do corpo as roupas usadas e as substitui por outras novas e melhores, assim, tambm, o habitante do corpo (Esprito), tendo abandonado a velha morada mortal, entra em outra nova e recm-preparada para ele.

    Sobre a moral, pregava Krishna: Os males com que afligimos o prximo nos perseguem, assim como a sombra segue o corpo.

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    As obras inspiradas pelo amor dos nossos semelhantes so as que mais pesaro na balana celeste.

    O homem virtuoso semelhante a uma rvore gigantesca, cuja sombra benfica permite frescura e vida s plantas que a cercam.

    Se convives com os bons, teus exemplos sero inteis; no temas habitar entre os maus para os reconduzir ao bem.

    So ensinamentos que muito se assemelham aos de Jesus, porquanto fora Krishna um de seus enviados.

    3 - BUDA Outro missionrio que veio ao mundo para trazer ensinos de amor e de perdo foi

    Buda, cujo nome verdadeiro era Gautama Squia Muni (Gautama o nome tnico e designa o cl a que pertencia Buda. Quanto a Squia Muni designa o santo oriundo dos Squias famlia de guerreiros).

    Buda viveu cerca de 600 anos a.C. Renunciou s grandezas, vida faustosa para isolar-se nas florestas, s margens dos grandes rios asiticos, em profunda meditao e estudo, durante sete anos, reaparecendo, depois, para pregar a necessidade de se praticar o bem, porque o bem dizia ele o fim supremo da natureza.

    Sobre reencarnao disse: O que que julgais, discpulos, seja maior: a gua do vasto oceano, ou as lgrimas que vertestes, quando, na longa jornada, errastes ao acaso, de renascimento em renascimento, unidos quilo que odiastes, separados daquilo que amastes? Uma vida curta, uma vida longa, um estado mrbido, uma boa sade, o poder, a fraqueza, a fortuna, a pobreza, a cincia, a ignorncia... tudo isso depende de atos cometidos em anteriores existncias.

    As almas no penetram no mundo das formas seno para trabalhar no complemento da sua obra de aperfeioamento e elevao. Podem realizar isso pelos Upanichades e complet-lo pelo Purana ou amor. (Os Upanishades so tratados de mstica hindu, que se reportam aos Vedas, especialmente ao Yadjur-Veda).

    A cincia e o amor so dois fatores essenciais do Universo. Enquanto no os adquirir, o ser est condenado a prosseguir na srie de reencarnaes terrestres.

    Sobre os males decorrentes da ignorncia, devemos citar este outro ensino, que est sempre atualizado: A ignorncia o mal soberano de que decorrem o sofrimento e a misria humana. O conhecimento o principal meio para se adquirir a elevao da vida material e espiritual.

    interessante notar haver Buda colocado o conhecimento como base da elevao espiritual, o que atesta a importncia dada, j naquela poca, ao estudo das cincias da alma e, conseqentemente, do princpio das coisas, para a realizao desse desiderato.

    Podamos falar ainda mais sobre este grande missionrio, mas, dada a exigidade de espao, limitamo-nos, apenas, a estas citaes, concluindo com a afirmativa de que a doutrina de Buda toda de amor e caridade, oferecendo, assim, profunda analogia com os ensinos legados por Jesus.

    Devemos lembrar, tambm, de trs outras figuras importantes no mundo Oriental, que foram Lao-Tseu, Mncio e Confcio. O primeiro, apresenta o Livro da Razo Suprema, estabelecendo elevados princpios morais; o segundo, em seu Tratado de Moral, concita os homens boa conduta, e, o terceiro, trouxe a grande mxima: No faais aos outros o que no quereis que eles vos faam.

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    4 - SCRATES E PLATO Scrates, como o Cristo, nada escreveu. O que sabemos, hoje, a respeito de sua

    doutrina, foi escrito por Plato, seu discpulo. Morreu condenado a tomar cicuta, por haver atacado as crenas da poca e colocado a virtude acima da hipocrisia. Combateu, de corpo e alma, os preconceitos religiosos como o fez Jesus, a quem os fariseus tambm acusaram de corromper o povo.

    Como nosso objetivo principal trazer, atravs destas pginas, um pouco de conhecimento, no s do Espiritismo, mas tambm de mais algumas doutrinas espiritualistas, que nos foram legadas por aqueles que antecederam o Cristo, no podemos deixar de inserir, aqui, alguns tpicos da doutrina de Scrates e Plato, que serviro para mostrar a grande semelhana com os ensinos que nos do os Espritos.

    Vejamos: O homem uma alma encarnada. Antes da sua encarnao, existia unida aos tipos primordiais, s idias do verdadeiro, do bem e do belo; separa-se deles encarnando, e, recordando seu passado, mais ou menos atormentada pelo desejo de voltar a ele.

    Aqui vemos a distino entre o esprito e a matria, o que nos mostra o princpio da preexistncia da alma antes de reencarnar, guardando intuio do mundo espiritual. Est, desta forma, bem expressa a reencarnao. E, continuando, vamos citar vrios outros trechos desta doutrina, que servem para aclarar nosso esprito na compreenso de que h um grande paralelo entre ela, a do Cristo e o Espiritismo, embora seja esta mais completa, mas, de qualquer forma, Scrates e Plato, no dizer de Kardec, pressentiram a idia crist atravs de seus escritos.

    A alma diziam eles se transvia e perturba, quando se serve do corpo para considerar qualquer objeto; tem vertigem como se estivesse bria, porque se prende a coisas que esto, por sua natureza, sujeitas a mudanas; ao passo que, quando contempla sua prpria essncia, dirige-se para o que puro, eterno, imortal, e, sendo ela dessa natureza, permanece a ligada, por tanto tempo quanto possa. Cessam, ento, os seus transviamentos, pois est unida ao que imutvel e a esse estado da alma que se chama sabedoria.

    Aps a morte, o gnio (daimon, demnio), que nos fora designado durante a vida, leva-nos a um lugar onde se renem todos os que tm de ser conduzidos ao Hades, para serem julgados. As almas, depois de haverem estado no Hades o tempo necessrio, so reconduzidas a esta vida em mltiplos e longos perodos.

    Os demnios ocupam o espao que separa o cu da terra; constituem o lao que une o Grande Todo a si mesmo. No entrando nunca a divindade em comunicao direta com o homem, por intermdio dos demnios que os deuses entram em contato e se entretm com eles, quer durante a viglia, quer durante o sono.

    A preocupao constante do filsofo a de tomar o maior cuidado com a alma, menos pelo que respeita a esta vida, que no dura mais que um instante, do que tendo em vista a eternidade. Desde que a alma imortal, no ser prudente viver visando eternidade?

    Se a alma imaterial, tem que passar, aps esta vida, a um mundo igualmente invisvel e imaterial, do mesmo modo que o corpo, decompondo-se, volta matria. Muito importa no entanto distinguir bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se alimente, como Deus, de cincia e pensamentos, da alma mais ou menos maculada de impurezas materiais, que a impedem de elevar-se para o divino e a retm nos lugares da sua estada na terra.

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    Se a morte fosse a dissoluo completa do homem, muito ganhariam com a morte os maus, pois se veriam livres, ao mesmo tempo, do corpo, da alma e dos vcios. Aquele que guarnecer a alma, no de ornamentos estranhos, mas com os que lhes so prprios, s esse poder aguardar tranqilamente a hora da sua partida para o outro mundo.

    O corpo conserva bem impressos os vestgios dos cuidados de que foi objeto e dos acidentes que sofre. D-se o mesmo com a alma. Quando despida do corpo, ela guarda evidentes os traos de seu carter, de suas afeies e as marcas que lhe deixaram todos os atos de sua vida. Assim, a maior desgraa que pode acontecer ao homem ir para outro mundo com a alma carregada de crimes. Vs, Clicles, que nem tu, nem Plux, nem Grgias podereis provar que devamos levar outra vida que nos seja til quando estejamos do outro lado. De tantas opinies diversas, a nica que permanece inabalvel a que mais vale receber do que cometer uma injustia e que, acima de tudo, devemos cuidar, no de parecer, mas de ser homem de bem.

    De duas uma: ou a morte uma destruio absoluta, ou passagem da alma para outro lugar. Se tudo tem que se extinguir, a morte ser como uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma conscincia de ns mesmos. Porm, se a morte apenas uma mudana de morada, a passagem para o lugar onde os mortos se tm de reunir, que felicidade a de encontrarmos l aqueles a quem conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e de distinguir l, como aqui, os que so dignos dos que se julgam tais e no o so. Mas, tempo de nos separarmos, eu para morrer, vs para viverdes,

    Nunca se deve retribuir com outra injustia, nem fazer mal a ningum, seja qual for o dano que nos hajam causado. Poucos, no entanto, sero os que admitem este princpio e os que se desentenderem a tal respeito nada faro mais, sem dvida, do que votarem uns aos outros mtuo desprezo.

    pelos frutos que se conhece a rvore. Toda ao deve ser qualificada pelo que produz: qualific-la de m, quando dela provenha o mal; de boa, quando d origem ao bem.

    A riqueza um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza no ama a si mesmo, nem ao que seu; ama a uma coisa que lhe ainda estranha do que o que lhe pertence.

    disposio natural em todos ns a de nos apercebermos muito menos dos nossos defeitos, do que nos de outrem.

    Se os mdicos so mal sucedidos, tratando da maior parte das molstias, que tratam do corpo sem tratarem da alma. Ora, no se achando o todo em bom estado, impossvel que uma parte dele passa bem.

    Todos os homens, a partir da infncia, muito mais fazem de mal do que de bem. Conforme acabamos de ver, estes ensinos, que foram difundidos quase quinhentos

    anos antes do Cristo, encerram grandes verdades que, no sculo XIX, foram confirmadas pelo Consolador Prometido, personificado na Doutrina Esprita, a qual representa, h mais de um sculo, o Cristianismo Redivivo.

    CAPTULO 3 - FENMENOS MEDINICOS DENTRO DA BBLIA

    Desde que os Espritos alcanaram condio para prosseguir na sua caminhada evolutiva, atravs das mltiplas reencarnaes, na espcie humana, o homem h recebido,

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    pela intuio ou por outros meios que lhe facultam os sentidos, comunicaes do plano espiritual.

    Quando manuseamos a Bblia, livro considerado sagrado pelas religies crists, encontramos nela expressos inmeros fenmenos medinicos, fenmenos esses classificados, hoje, nas mais variadas categorias.

    1 - VOZ DIRETA Este fenmeno encontramos relatado em xodo, 20:18, que diz: Todo o povo,

    porm, ouvia as vozes e via os relmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando: e amedrontado e abalado com o pavor parou longe.

    Em Apocalipse, 1:10, lemos: Eu fui arrebatado em esprito um dia de domingo, e ouvi por detrs de mim uma grande voz como de trombeta...

    2 - MATERIALIZAO A luta de Jacob com um Esprito um fenmeno tpico de materializao, pois esta

    s poderia realizar-se na condio do relato bblico, se o Esprito contendor se encontrasse materializado (Gen. 32:24).

    3 - PNEUMATOGRAFIA OU ESCRITA DIRETA Por ocasio em que se realizava um banquete oferecido pelo rei Balthazar, ao qual

    compareceram mais de mil pessoas da corte, no momento em que bebiam vinho e louvavam os deuses, apareceram dedos que escreviam de fronte do candieiro, na superfcie da parede da sala do rei, o qual via os movimentos da mo que escrevia (Daniel, 5:5).

    4 - TRANSPORTE O profeta Elias alimentou-se, graas a um anjo que lhe depositava, ao lado, po

    cozido debaixo de cinza (Reis III, 19:5,6).

    5 - LEVITAO Em Ezequiel, 3:14, lemos o seguinte: Tambm o Esprito me levantou e me levou

    consigo; e eu me fui cheio de amargura, na indignao do meu Esprito; porm a mo do Senhor estava comigo, confortando-me.

    Felipe levado, tambm, pelo Esprito do Senhor, aps receber o batismo (Atos, 5: 39).

    Estes fatos enquadram-se, perfeitamente, na classe dos fenmenos de levitao e transporte, obtidos, no sculo passado, pelo notvel mdium Daniel D. Home e outros.

    6 - TRANSE No cap. 15:12 e 13, do Gnese, encontramos o seguinte fato: Ao pr do sol, vem

    um profundo sono sobre Abraho, e um horror grande e tenebroso o acometeu, e lhe foi dito: saiba desde agora que tua posteridade ser peregrina numa terra estrangeira, e ser reduzida escravido, e aflita por quatrocentos anos.

    Daniel tambm cai em transe e tem viso (Daniel 8:18). Saulo, a caminho de Damasco, cai em transe e ouve a voz do Senhor (Atos, 9:3 e

    seguintes).

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    7 - MEDIUNIDADE AUDITIVA Moiss, no monte Sinai, ouve a voz dos Espritos, julgando ser a do prprio Deus.

    (xodo, 19:29,20). Jesus, por ocasio do batismo no rio Jordo, ouve uma voz que lhe diz: Tu s

    aquele meu filho especialmente amado; em ti que tenho posto toda a minha complacncia.

    Em Joo, 12:28, lemos: Pai glorifica o teu nome. Ento veio esta voz do cu Eu no s o tenho j glorificado, mas ainda da segunda vez o glorificarei. glorificarei.

    Todos esses fatos comprovam a mediunidade auditiva, to comum em nossos dias.

    8 - MEDIUNIDADE CURADORA Ao tempo do Cristo, a mediunidade curadora disseminou-se por entre os discpulos,

    que produziam curas, algumas, pela imposio das prprias mos, outras, atravs de objetos magnetizados.

    Em Atos, 19:11 e 12, encontramos o relato de que lenos e aventais pertencentes a Paulo eram aplicados aos doentes e possessos, e, graas a ao magntica desses objetos, ficavam curados. As curas distncia tambm foram realizadas. O criado do Centurio de Cafarnaum e o filho de um rgulo foram curados (Mateus, 8:5,13; e Joo, 4:47, 54).

    Jesus recomendara, quando esteve entre ns, que curssemos. Dizia ele: Curai os enfermos, expulsai os maus Espritos, dai de graa o que de graa recebestes. (Mateus, 10:8, Lucas 9,2 e 10:9).

    em cumprimento desse preceito que o Espiritismo, alm de ser uma obra de educao, procura dar atendimento aos enfermos do corpo e da alma, com a ajuda dos abnegados irmos espirituais, que se servem dos mdiuns passistas, receitistas, doutrinadores e de todos os que, de boa vontade, trabalham em prol da construo de um mundo melhor.

    9 - OUTRAS FORMAS DE MEDIUNIDADE Encontramos, ainda, na Bblia, Saul consultando o Esprito de Samuel, na gruta de

    Endor. Moiss conduzia o povo hebreu, no deserto, acompanhado por uma labareda que

    seguia sua frente. Jeremias o profeta da paz era mdium de incorporao. Quando o Esprito o tomava, pregava contra a guerra aos exrcitos de Nabucodonosor.

    interessante notar que as prticas medinicas, daquele tempo, eram semelhantes s de nossos dias. Para a formao do ambiente, alguns profetas (mdiuns) exigiam a msica. Assim o profeta Eliseu, para profetizar, reclamava um bom harpista. David afasta os Espritos obsessores de Saul, tangendo sua harpa.

    Podamos citar ainda muitos outros fatos, que se acham registrados no antigo Testamento, os quais provam, de sobejo, que os fenmenos medinicos sempre ocorreram, desde a mais remota antigidade, mas no necessrio; estes j bastam para provar que a Bblia um repositrio de mediunismo.

    A vontade dos guias era, naquele tempo, transmitida ao povo atravs dos profetas videntes, audientes e inspirados, que vieram Terra na qualidade de missionrios do Cristo.

    CAPTULO 4 - AS IRMS FOX E OS FENMENOS DE HYDESVILLE

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    Foi num pequeno vilarejo do estado de New York que se deram, no sculo XIX, os mais extraordinrios episdios, provocados pelo plano espiritual.

    Trata-se de Hydesville, que fica situada cerca de vinte milhas de Rochester. Naquela poca, era constituda por grupos de casas de madeira, quase todas de tipo humilde.

    No dia 11 de dezembro de 1847, John Fox, pertencente igreja Metodista, alugou uma dessas casas, para residir com a famlia, que se compunha, alm da esposa Margareth Fox, de mais trs filhas: Kat, de onze anos; Margareth, de quatorze, e Leah, que residia em Rochester, onde lecionava msica.

    No ano seguinte, isto , em 1848, comearam os rudos de arranhaduras, que se foram intensificando, cada vez mais, a ponto de a famlia Fox no ter mais sossego, dentro de casa.

    Esses raps comearam a ser notados, com mais freqncia, a partir de meados de maro daquele ano.

    As meninas, diante de tanto barulho, ficavam to alarmadas que no queriam mais dormir sozinhas. Investigaes de toda natureza foram realizadas por seus pais, mas nada conseguiram descobrir. Os fenmenos eram mesmo estranhos.

    Finalmente, na noite de 31 de maro, houve uma saraivada de sons muitos altos e continuados. Kat Fox, na sua inocncia de criana, desafiou a fora invisvel para que repetisse os estalos de seus dedos, no que foi imitada. Depois, Kat dobrou os dedos, sem fazer rudo, e o arranho respondia. Ficou, dessa forma, constatado que, aquela fora estranha, no s ouvia, como tambm via. Sua me teve ento a idia de fazer algumas perguntas, cujas respostas foram dadas por meio de pancadas.

    Sois um ser humano? perguntou Mrs. Margareth. No houve resposta. Sois um Esprito? Se sois batei duas pancadas. Duas pancadas foram dadas pelo Esprito. Estava, assim, estabelecida a telegrafia espiritual, naquela memorvel noite de 31 de

    maro de 1848. Foi um vizinho dos Fox, de nome Duesler, que teve, pela primeira vez, a genial

    idia de usar alfabeto para obter as respostas por meio de arranhes nas letras. Dessa forma, revelou-se que o Esprito batedor fora Charles B. Rosma, mascate assassinado, havia cinco anos, pelo antigo inquilino daquela casa, e que seu corpo se encontrava sepultado no poro.

    Mais tarde, pelo depoimento prestado por Lucretia Pulver, que fora empregada de Mr. e Mrs. Bell, que ocuparam a casa, havia quatro anos, soube-se que, realmente, ali esteve um mascate, o qual passou a noite com suas mercadorias. Nessa noite seus patres disseram-lhe que podia ir para casa. Diz ela: Eu queria comprar apenas umas coisas do mascate, mas no tinha dinheiro comigo; ele disse que me procuraria em nossa casa na manh seguinte e mas venderia. Nunca mais o vi. Cerca de trs dias depois eles me procuraram para voltar. Assim voltei...

    Pouco tempo depois Mrs. Bell me deu um dedal, que disse haver comprado do mascate. Cerca de trs meses depois eu a visitei e ela me disse que o mascate havia voltado e me mostrou outro dedal, que disse ter comprado a ele. Mostrou-me outras coisas que disse tambm tinham sido compradas a ele.

    Como se v pelo depoimento de Lucretia Pulver, Charles B. Rosma foi, realmente, o mascate assassinado e sepultado naquela casa.

    Cinqenta e seis anos mais tarde, isto , em 1904, encontrou-se o esqueleto de um homem na parede da casa que fora ocupada pelos Fox.

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    Primitivamente, o criminoso teria sepultado Rosma no poro, mas temendo fosse descoberto, transportou-o para a parede, lugar que julgava mais seguro. Da porque, nas escavaes procedidas na sepultura original, foram encontrados apenas alguns vestgios deixados pelo cadver.

    Quanto a identidade do morto, paira certa dvida. possvel que seu verdadeiro nome fosse outro. Como sabemos, muitas vezes so transmitidas mensagens corretas, associadas a nomes trocados. No caso em questo, os Espritos que dirigiam esses fenmenos no teriam permitido fosse pelo Esprito de Rosma revelada sua verdadeira identidade, como se depreende pelas respostas dadas a algumas perguntas a ele formuladas.

    Quando Duesler perguntou: Foi assassinado? Resposta afirmativa. Seu assassino pode ser levado ao tribunal? Nenhuma

    resposta. Pode ser punido por lei? Nenhuma resposta. Se seu assassino no pode ser punido por lei, d sinais. As batidas foram claras. Isto significa que nem tudo os Espritos podem revelar. Possivelmente, o nome dado pelo Esprito, Charles B. Rosma, fosse puramente

    convencional para que no levassem seu verdadeiro assassino barra dos tribunais. De qualquer forma, o fato chamou a ateno dos homens de cincia da poca,

    constituindo-se, em 1851, em New York, uma comisso, sob a presidncia de John Worth Edmonds, para estudar os fenmenos.

    A 1. de agosto de 1853, o New York Courier publicava os primeiros trabalhos dessa comisso, o que provocou grande espanto nos meios culturais de ento. Cinco dias depois, isto , a 6-8-53, declarava o juiz Edmonds no jornal New York Herald, o seguinte:

    Comecei a investigao convencido do insucesso e disposto a torn-la pblica no caso de uma impostura. Mas chegando a concluso diferente, mostro-me no dever de declarar os resultados seguros de minhas pesquisas.

    interessante observar que o prprio juiz Edmonds tornou-se tambm mdium. Sua filha Laura, de apenas nove anos de idade, desenvolveu a rara faculdade denominada poliglota ou xenoglossia, chegando a falar nove ou dez lnguas, que lhe eram desconhecidas.

    Dos Estados Unidos, o movimento espiritualista espalhou-se pela Europa, recrutando, preferentemente, os homens mais ilustres da poca.

    Estava, assim, lanada, pelo plano espiritual, a base para a Codificao do Espiritismo, que seria, dentro de poucos anos, realizada pelo insigne missionrio Allan Kardec.

    CAPTULO 5 - ALLAN KARDEC E SUA OBRA

    Hippolyte Lon Denizard Rivail Allan Kardec nasceu na cidade de Lyon, na Frana, a 3 de outubro de 1804.

    Iniciou os estudos na sua terra natal. Aos doze anos de idade foi para Yverdun, na Sua, onde, sob a direo do clebre professor Pestalozzi, aprimorou seus conhecimentos, chegando mesmo a substituir, muitas vezes, o grande mestre, quando este se afastava do instituto, para atender a outros compromissos, fora.

    Kardec fez, tambm, um curso de lnguas. Conhecia o alemo, o ingls, o italiano, o espanhol, o holands e possua ainda slida cultura cientfica.

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    Publicou vrios trabalhos importantes, na poca, tais como: Curso Prtico de Aritmtica, Gramtica Francesa Clssica, Manual de Exames para os ttulos de capacidade, Programa dos cursos usuais de Qumica, Fsica, Astronomia e Fisiologia, Catecismo Gramatical da lngua francesa para os iniciantes do idioma e outros trabalhos didticos.

    Alm dessas obras, citaremos as da Codificao esprita, que so as seguintes: Em 18 de abril de 1857 O Livro dos Espritos. Em janeiro de 1861 O Livro dos Mdiuns. Em abril de 1864 O Evangelho Segundo o Espiritismo. Em agosto de 1865 O Cu e o Inferno. Em janeiro de 1868 A Gnese. Estas cinco obras constituem o chamado Pentateuco esprita. Kardec escreveu, ainda, O que o Espiritismo, O Principiante Esprita e Obras

    Pstumas, que foram publicadas aps sua morte. Fundou tambm a Revue Spirite, em janeiro de 1858, que editou at o ano de 1869.

    Os Espritos revelaram que Allan Kardec vivera, em uma de suas encarnaes, na Glia, e seu nome era o pseudnimo por ele usado agora, e que em outra encarnao, fora Joo Huss, condenado a 6 de fevereiro de 1415 e executado nas fogueiras da inquisio, porque pregava contra a injustia daqueles que detinham o poder nas mos.

    Em 1854, Kardec ouvira falar das chamadas mesas girantes. Seu amigo Fortier, que estudava magnetismo, disse-lhe que acabava de descobrir uma nova propriedade magntica: as mesas, alm de girarem, tambm respondiam perguntas a elas formuladas.

    Kardec revida esta afirmativa, dizendo: S acreditarei se me provarem que as mesas tm um crebro para pensar e nervos para sentir. Enquanto isso, permita-me considerar esse fato como uma histria fabulosa.

    Carlotti, outro amigo seu, faz-lhe referncia sobre a comunicao dos Espritos; o Mestre torna-se, agora, interessado no assunto. Vai a casa da Sra. Planemaison e, atravs de sua mediunidade de efeitos fsicos, verifica que, realmente, as mesas falam.

    Rende-se ele evidncia dos fatos. Mas no parou a. Viu nesse passatempo alguma coisa de importante. Precisava investigar e descobrir as causas que davam origem a esses interessantes fenmenos.

    Atravs da faculdade das meninas Baudin, viu a escrita por intermdio da cesta. Por esse processo eram dadas respostas, com exatido, s perguntas formuladas aos Espritos.

    No havia dvida: estava mesmo diante de um fato novo, que merecia carinhoso estudo. Passou, ento, a fazer observaes atravs do mtodo experimental, pois havia percebido que os fenmenos eram produzidos pelos Espritos dos que j viveram na Terra.

    E, assim, pelas informaes prestadas por essas entidades comunicantes, Allan Kardec escreveu O Livro dos Espritos, obra bsica da doutrina Esprita.

    Acresce esclarecer, ainda, que essa monumental obra no foi concebida por um filsofo ou ditada por um Esprito: ela o resultado das revelaes de muitos Espritos, todas concordantes, vindas por diferentes mdiuns, em lugares diversos.

    Essas comunicaes passavam pelo crivo da razo do Codificador, que as analisava, comparava, discutia e s as aceitava depois de verificar que se achavam isentas de quaisquer dvidas.

    Allan Kardec recebeu a notcia de que estava encarregado da Codificao, pela mdium Srta. Japhet, tendo seu guia lhe dito: No haver diversas religies nem h mister

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    seno de uma, que a verdadeira, grande e digna do Criador... Seus primeiros fundamentos j foram lanados...

    Haver muitas runas e desolaes; so chegados os tempos para a renovao da humanidade.

    Como se v, Kardec fora, realmente, escolhido pelo Cristo para o cumprimento da sublime misso de codificar o Espiritismo.

    E a escolha no poderia deixar de ser esta, uma vez que o Mestre possua todas as qualidades indispensveis ao cumprimento dessa grande e rdua tarefa.

    Alm de filsofo, benfeitor e idealista, era dotado de um corao bonssimo, o que lhe dava condio para o cumprimento do lema da Doutrina nascente: Fora da caridade no h salvao.

    Por motivo de um aneurisma e esgotado pelo exaustivo trabalho realizado em to pouco tempo, o grande missionrio de Lyon veio a desencarnar no dia 31 de maro de 1869.

    beira da sua sepultura, Flammarion, seu fiel seguidor, pronunciou estas palavras: Ele porm era o que eu denominarei simplesmente o bom senso encarnado. Concluindo este captulo, em o qual apreciamos rapidamente a obra incomparvel

    de Kardec, lembremos de que ele no morrera, passara para a espiritualidade aps cumprir a gloriosa misso que lhe fora confiada, legando posteridade a imortal obra da Codificao, segundo os planos traados por Jesus, diretor de nosso Orbe.

    CAPTULO 6 - FLAMMARION, DENIS E DELANNE, FIIS CONTINUADORES DA OBRA DE KARDEC

    Na segunda edio da presente obra, deliberamos acrescentar, nesta sua Primeira Parte, mais um Captulo, o 6, e, para integr-lo, escolhemos trs personagens que, pelos trabalhos por eles realizados em prol da ento Doutrina nascente, trabalhos esses que abrangem o campo filosfico-cientfico-religioso, do Espiritismo, merecem destaque especial, no s pela vasta produo literria, desses trs abnegados missionrios do Cristo, mas, principalmente, por terem sido eles fiis continuadores da obra de Allan Kardec.

    Camille Flammarion o explorador e revelador dos cus foi quem popularizou a Astronomia, tendo recebido, na poca, o Prmio Motion, da Academia Francesa. Suas obras foram traduzidas em quase todas as lnguas, existindo, tambm, na Frana, centenas de Grupos Espritas, que levam seu nome.

    No Brasil, onde sua figura, como esprita e astrnomo, bastante conhecida, existe um Observatrio localizado na cidade de Matias Barbosa (MG), que tem seu nome. Flammarion foi, sem dvida alguma, um desses espritos que, de quando em vez, reencarnam em nosso orbe, a fim de auxiliar seus irmos em experincia a darem mais um passo rumo ao infinito. Mas, no seu caso, temos mais alguma coisa a acrescentar: ele fazia parte, tambm, do mesmo grupo de Espritos que integrava Kardec e, por isso, sua vinda Terra se deu na mesma poca em que viera o mestre lions, a fim de tomar parte, aqui, da equipe da Terceira Revelao liderada por ele, desempenhando tarefa definida no campo da astronomia. Eis por que, no seu trabalho, notadamente no que versa sobre a Uranografia Geral, procurou demonstrar que Deus no criara mundos somente para adornar o espao infinito ou para deleitar nossas vistas, mas tambm para servir de habitat a outras criaturas que passam por eles, na trajetria infinita de sua evoluo.

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    Desde muito cedo Flammarion j se interessava pelo estudo dos astros. Quando ainda jovem, pois contava apenas vinte anos de idade, publicou seu primeiro livro intitulado A pluralidade dos mundos habitados, que chamou a ateno dos sbios e cientistas da poca. Mas no parou a. Escreveu muitos outros trabalhos, quase todos abordando assuntos ligados sobrevivncia da alma aps sua desencarnao, trabalhos esses que atestam ter sido ele, realmente, um dos fiis continuadores da monumental obra de Kardec.

    Para o conhecimento dos leitores, citamos, ainda, Deus na Natureza, que um estudo profundo de todos os fenmenos naturais; O Desconhecido e os Problemas Psquicos, Urnia, As Casas Mal Assombradas, A Morte e seus Mistrios, dividida em trs volumes, que foi terminada quando o autor completava oitenta anos de idade, alm de Sonhos Estelares e outros trabalhos referentes Astronomia, que foram, tambm, traduzidos para lnguas estrangeiras.

    beira do tmulo de Kardec, quando o mestre baixava sepultura, Flammarion proferiu o clebre discurso, que se acha inserido no livro Obras Pstumas, exaltando a figura incomparvel daquele que legara posteridade a consoladora Doutrina ditada pelos Espritos, pronunciando, na oportunidade, a conhecida frase: Ele, porm, era o que eu denominarei simplesmente o bom senso encarnado.

    Camille Flammarion nasceu no dia 21 de fevereiro de 1842, em Montigny, Frana, e desencarnou em junho de 1925, com a idade de 83 anos.

    Lon Denis o apstolo do Espiritismo contava apenas onze anos de idade quando Kardec publicou a primeira edio de O Livro dos Espritos. Ele fazia parte, tambm, da equipe da Terceira Revelao, e viera Terra para complementar e divulgar os ensinos j enfeixados na Codificao Kardequiana.

    Suas obras, quase todas de cunho filosfico-religioso, sintetizam, de maneira extraordinria, seus conhecimentos, embora tenha sido um autodidata, de origem modesta, sem nenhum curso regular.

    Quando ainda muito moo, revelou-se inclinado para a Filosofia e as letras, tendo estudado todas as obras de Allan Kardec, nas quais encontrou subsdios para o aprimoramento de seu Esprito, preparando-se, dessa forma, para o fiel cumprimento da meritria misso que trouxera como seu continuador, de quem se tornou fiel discpulo.

    Vale a pena transcrever, aqui, o belo trecho de sua obra O Problema do Ser, do Destino e da Dor, atravs do qual diz ele:

    Dia vir, em que todos os pequenos sistemas acanhados e envelhecidos, se fundiro numa sntese abrangendo todos os reinos da idia. Cincias, filosofias, religies, divididas hoje, reunir-se-o na luz, e ser ento a vida, o esplendor do Esprito, o reinado do Conhecimento. Neste acordo magnfico, as cincias fornecero a preciso e o mtodo na ordem dos fatos; as filosofias, o rigor de suas dedues lgicas; a poesia, a irradiao de suas luzes e a magia de suas cores; a religio juntar-lhe- as qualidades do sentimento e a noo da esttica elevada. Assim, realizar-se- a beleza na fora e na unidade do pensamento. A alma orientar-se- para os mais altos cimos, mantendo ao mesmo tempo o equilbrio de relao necessrio para regular a marcha paralela e ritmada da inteligncia e da conscincia na sua ascenso para a conquista do Bem e da Verdade.

    Lon Denis, durante sua preciosa existncia terrestre, proferiu inmeros discursos doutrinrios, de rara beleza, em Congressos Internacionais.

    Em 1889, tomou parte no II Congresso Esprita Internacional, tendo participado, tambm, do Congresso Esprita de Bruxelas Blgica onde representou o movimento

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    esprita da Frana e do Brasil. Em 1925, foi aclamado Presidente do Congresso Esprita Internacional, realizado em Paris, do qual saiu a Federao Esprita Internacional, transferida para Inglaterra, em 1948.

    Lon Denis deixou, ainda, numerosos trabalhos esparsos, tais como conferncias, artigos, declaraes, etc., muitos dos quais no foram publicados alm de seus nove livros, que alinhamos a seguir: No Invisvel, Depois da Morte, O Porqu da Vida, O Grande Enigma, Cristianismo e Espiritismo, Joana DArc, Mdium, O Mundo Invisvel e a Guerra, O Gnio Celta e o Mundo Invisvel e O Problema do Ser, do Destino e da Dor, obras essas que se vinculam Codificao de Kardec, porquanto estava ele profundamente identificado com o mestre lions.

    Assim, atravs dessa preciosa literatura esprita que nos legara, o Espiritismo foi amplamente divulgado, no s nos pases da Europa, mas principalmente entre os povos latino-americanos.

    Antes, porm, de encerrarmos estas ligeiras notas sobre o apreciado escritor esprita francs, convm esclarecer, ainda, que Lon Denis teve estreita ligao com a Federao Esprita Brasileira, tendo sido, a partir de 1901, aprovada, por unanimidade, sua indicao para scio Distinto e Presidente Honorrio da FEB, passando a responder, tambm, pela representao permanente da Casa de Ismael na Frana e em outros pases do continente europeu.

    Lon Denis nasceu em Foug, Frana, no dia 1. de janeiro de 1846 e desencarnou no dia 12 de abril de 1927, em Tours, com 81 anos de idade.

    Gabriel Delane o gigante do Espiritismo cientfico nasceu exatamente no ano em que Allan Kardec publicava a primeira edio de O Livro dos Espritos. Seu pai, Alexandre Delane, era esprita e amicssimo de Kardec, motivo por que foi ele grandemente influenciado pela idia nascente. Sua me trabalhou como mdium, cooperando, assim, com o mestre de Lyon na codificao do Espiritismo.

    Delane foi um dos maiores propagadores da sobrevivncia e comunicabilidade dos Espritos, tendo escrito vrias obras de cunho cientfico, tais como O Espiritismo Perante a Cincia, O fenmeno Esprita, A Evoluo Anmica, Pesquisas sobre a mediunidade, As Aparies Materializadas de Vivos e Mortos, alm de outros trabalhos esparsos.

    Um dos temas que mais preocuparam o engenheiro Delane, foi o perisprito, por ser a base de todos os fenmenos medinicos e anmicos. Procurou, ele, fazer a diferena entre o animismo e o mediunismo, atravs de acurados estudos e pesquisas sobre to importante assunto, sempre com muita prudncia, qualidade que lhe era peculiar, merecendo, por isso, a alcunha de gigante do Espiritismo cientfico.

    Comentar, neste Captulo, cada um de seus livros, no nosso objetivo, mesmo porque, se quisssemos abordar, embora em sntese, tudo quanto Delane enfeixou na sua obra, no seria possvel num pequeno trabalho como este, cujo ttulo bem demonstra tratar-se de um ABC da Doutrina Esprita.

    Portanto, quem quiser se aprofundar mais nos estudos do Espiritismo, sob o aspecto cientfico, a esto seus livros, conforme citao j feita, todos traduzidos para a lngua portuguesa. Todavia, no podemos deixar de transcrever, para este Captulo, a interessante entrevista concedida por ele, nos planos espirituais, ao Esprito Andr Luiz, inserida na obra Entre Irmos de Outras Terras psicografada por Francisco Cndido Xavier e Waldo Vieira (2. Edio da FEB, 1967), em data de 20 de agosto de 1965, atravs da qual

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    respondeu a vrias questes, que bem demonstram ter sido ele, realmente, um dos mais destacados continuadores de Allan Kardec.

    Eis as seis perguntas mais expressivas: 1) Admite que os princpios espritas esto caminhando lentamente no mundo? R No penso assim... As atividades espritas contam pouco mais de um sculo e um

    sculo perodo demasiado curto em assuntos do esprito. 2) Muitos amigos na Terra so de parecer que os Mensageiros da Espiritualidade

    Superior deveriam patrocinar mais amplas manifestaes de mediunidade de efeitos fsicos para benefcio dos homens, como sejam materializaes e vozes diretas. Que pensa a respeito?

    R Creio que a mediunidade de efeitos fsicos serve convico, mas no adianta ao servio indispensvel na renovao espiritual. Os Espritos Superiores agem acertadamente em lhe podando os surtos e as motivaes, para que os homens, nossos irmos, despertem luz da Doutrina Esprita, entregando a conscincia ao esforo de aprimoramento moral.

    3) Conquanto tenha essa opinio, julga que o Espiritismo precisa atender ao incremento e melhoria da mediunidade?

    R No teramos o Evangelho sem Jesus Cristo e no teramos Jesus Cristo sem o socorro aos sofredores pelos processos medinicos que lhe caracterizaram a presena na Terra.

    4) Para que regio devemos ns, a seu ver, conduzir a pesquisa cientfica na Terra, de vez que a conquista da paisagem material de outros planetas no adiantar muito ao progresso moral das criaturas?

    R Devemos estimular os estudos em torno da matria e da reencarnao, analisar o reino maravilhoso da mente e situar no exerccio da mediunidade as obras da fraternidade, da orientao, do consolo e do alvio s mltiplas enfermidades das criaturas terrestres...

    5) Onde os percalos maiores para a expanso da Doutrina Esprita? R Em nossa opinio, os maiores embaraos para o Espiritismo procedem da atuao

    daqueles que reencarnam, prometendo servi-lo, seja atravs da mediunidade direta ou da mediunidade indireta, no campo da inspirao e da inteligncia, e se transviam nas sedues da esfera fsica, convertendo-se em mdiuns autnticos das regies inferiores, de vez que no negam as verdades do Espiritismo, mas esto prontos a ridiculariz-las, atravs de escritos sarcsticos ou da arte histrinica, junto dos quais encontramos as demonstraes fenomnicas improdutivas, as histrias fantsticas, o anedotrio deprimente e os filmes de terror.

    6) Como v semelhantes deformaes? R Os milhes de Espritos inferiores que cercam a Humanidade possuem seus

    mdiuns. Impossvel negar isso. Em sntese, a est, caro leitor, o que foi o eminente cientista francs, nascido aos 23

    de maro de 1857 e desencarnado a 15 de fevereiro de 1926, com a idade de 69 anos, aps haver cumprido sua misso na Terra, tambm como integrante da equipe de colaboradores do mestre Kardec, que veio para ampliar os conhecimentos humanos concernentes ao aspecto cientfico do Espiritismo e, agora, continuando seu trabalho nos planos mais altos, em prol desta humanidade sofredora.

    Ao finalizar, pois, este Captulo, afirmamos, mais uma vez, que estes trs missionrios, que mais se dedicaram na produo de obras consideradas subsidirias s de Allan Kardec, ocupam, certamente, lugar relevante no mais alto conceito dos valores culturais da nossa amada Doutrina Esprita.

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    CAPTULO 7 - SNTESE DE O LIVRO DOS ESPRITOS

    PARTE PRIMEIRA DAS CAUSAS PRIMRIAS

    CAPTULO I DE DEUS

    1 Deus e o infinito. 2 Provas da existncia de Deus. 3 Atributos da Divindade. 4 Pantesmo.

    1. DEUS E O INFINITO Deus a inteligncia suprema, causa primria de todas as coisas. Ser Deus o

    infinito? Tudo o que desconhecido infinito, mas essa definio incompleta. A linguagem humana insuficiente para definir o que est acima de seus conhecimentos.

    2. PROVA DA EXISTNCIA DE DEUS A prova da existncia de Deus se encontra nas obras da Criao. O Universo existe,

    logo tem uma causa. Essa causa Deus. A sua obra o efeito. O sentimento ntimo que temos da existncia de Deus uma

    prova de que ele existe. Esse sentimento inato tambm nos povos selvagens. Nas propriedades ntimas da matria no se pode encontrar a causa primria de

    todas as coisas, pois se assim fosse estaramos tomando o efeito pela causa, porquanto essas propriedades so tambm um efeito que h de ter uma causa. Atribuir a formao primria a uma formao fortuita da matria ou ao acaso, outro absurdo. Pela obra se conhece o autor. No podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, h de se atribuir a causa primria a uma inteligncia superior Humanidade Deus.

    3. ATRIBUTOS DA DIVINDADE O homem no pode compreender a natureza ntima de Deus, pois falta-lhe, para

    isso, o sentido prprio. Quando alcanar a perfeio, isto , quando no tiver mais seu Esprito obscurecido pela matria, poder ele ver e compreender Deus. Sabemos que Deus eterno, porque no teve princpio; que imutvel, porque no est sujeito a mudanas; que imaterial, pois difere de tudo o que matria, e, finalmente, que nico, onipotente, soberanamente justo e bom. Se muitos deuses houvesse deixaria de ser onipotente, pois algo haveria mais poderoso. A sabedoria providencial das leis divinas se revela em todas as coisas, o que nos permite no duvidar da justia, nem da bondade de Deus.

    4. PANTESMO Dizer-se que Deus a resultante de todas as foras e de todas as inteligncias do

    Universo, reunidas, negar a sua existncia, porquanto seria efeito e no causa. Admitindo-se que todos os seres e todos os mundos so partes da Divindade, est se

    fazendo de Deus um ser material, sujeito a evoluo, o que vem de encontro ao atributo imutabilidade. A escola Pantesta, confunde o Criador com a criatura, como o faria quem pretendesse que engenhosa mquina fosse parte integrante de quem a construiu.

    A inteligncia de Deus se revela em suas obras, mas, as obras de Deus no so o prprio Deus, como o quadro no o pintor que o executou.

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    CAPTULO II DOS ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO

    1. Conhecimento do princpio das coisas. 2. Esprito e matria. 3. Propriedades da matria. 4. Espao universal.

    1. CONHECIMENTO DO PRINCPIO DAS COISAS O conhecimento do princpio das coisas dado ao homem gradativamente,

    medida que ele se depura e que outras faculdades vo surgindo nele. Pelas investigaes cientficas, o homem vai penetrando nos segredos da natureza. s vezes, Deus permite revelaes que esto alm dos conhecimentos normais da cincia. Por essas revelaes o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro.

    2. ESPRITO E MATRIA Se a matria existe desde toda a eternidade, ou se foi criada depois, s Deus o sabe.

    Mas, de uma coisa estejamos certos: Deus nunca esteve inativo. Criou e cria sempre. A matria no somente o que tem extenso, o que capaz de nos impressionar os

    sentidos; ela existe em estado ainda desconhecido. Embora seja etrea e sutil, que nenhuma impresso cause aos nossos sentidos, no deixa de ser matria. A matria o agente, o intermedirio com o auxlio do qual e sobre o qual atua o Esprito, exercendo sua ao. O Esprito, princpio inteligente do Universo, independe da matria.

    So distintas uma da outra. Entretanto, pode se conceber o Esprito sem a matria e a matria sem o Esprito, isto , pelo pensamento. No Universo h dois elementos gerais: a matria e o Esprito. Deus, Esprito e matria constituem o princpio de tudo o que existe a trindade universal. O fluido eltrico e o magntico so modificaes do fluido universal, que a matria mais sutil e que se pode considerar independente.

    A matria e o princpio inteligente esto subordinados a uma inteligncia suprema Deus.

    3. PROPRIEDADES DA MATRIA A ponderabilidade no considerada atributo do fluido universal. Este

    impondervel, mas nem por isso deixa de ser o princpio da matria pesada. As modificaes que sofrem as molculas elementares da matria do origem s diversas propriedades destas, cujas modificaes se do por efeito da sua unio, em circunstncias especiais.

    O oxignio, o carbono, o azoto, enfim todos os corpos considerados simples, so meras modificaes de uma substncia primitiva. A fora e o movimento so duas propriedades inerentes matria. As demais propriedades so efeitos secundrios, que variam conforme a disposio das molculas: um corpo opaco pode se tornar transparente e vice-versa. A forma das molculas pode ser constante ou varivel. A das molculas elementares primitivas constante, porm a das molculas secundrias, que so aglomeraes das primeiras, varivel. Da porque h diversidade na natureza.

    4. ESPAO O espao universal no tem limites. Supondo-se limitado, o que haver alm de seus

    limites? No h vazio em a natureza. Em parte alguma do espao universal h vcuo absoluto. O que parece vazio est ocupado por matria que escapa aos nossos sentidos e instrumentos.

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    CAPTULO III DA CRIAO

    1. Formao dos mundos. 2. Formao dos seres vivos. 3. Povoamento da Terra. Ado. 4. Diversidade das raas humanas. 5. Pluralidade dos mundos. 6. Consideraes e concordncias bblicas no tocante criao.

    1. FORMAO DOS MUNDOS O Universo abrange todos os mundos, visveis e invisveis, todos os seres animados

    e inanimados, todos os astros e os fluidos que enchem o espao infinito. O universo foi criado pela vontade de Deus, atravs da condensao da matria. No se pode conhecer o tempo que dura a formao dos mundos, nem quando desaparecero, mas certo que Deus os renova como renova os seres vivos.

    2. FORMAO DOS SERES VIVOS Quando a Terra atingiu as condies necessrias ao aparecimento da vida, surgiram

    ento os primeiros seres vivos que aguardavam em estado de germens. Os princpios orgnicos se congregaram e se multiplicaram, cada um segundo sua espcie. Esses elementos orgnicos se encontravam em estado fludico, no espao ou em outros planetas, espera da criao da Terra para comear a existncia nova. A espcie humana tambm veio a seu tempo. A poca do aparecimento do homem e de outros seres vivos no se pode determinar com exatido.

    3. POVOAMENTO DA TERRA. ADO A espcie humana no comeou por um nico homem. Kardec, comentando a

    resposta dada pelos Espritos sobre o povoamento da Terra e a poca em que viveu Ado (4000 anos a.C.), entre outras coisas diz: As leis da Natureza se opem a que os progressos da humanidade, comparados muito tempo antes do Cristo, se tenham realizado em alguns sculos, como houvera sucedido se o homem no existisse na Terra seno a partir da poca indicada para a existncia de Ado. Muitos, com muita razo, consideram Ado um mito ou uma alegoria que personifica as primeiras idades do mundo.

    4. DIVERSIDADE DAS RAAS HUMANAS O clima, a vida e os costumes influram na diversidade das raas. Em vrias pocas

    o homem surgiu em diferentes pontos do globo, mas constituindo sempre a mesma espcie. Da porque se diz que todos os homens so irmos em Deus.

    5. PLURALIDADE DOS MUNDOS Em todos os mundos, quando alcanam condies favorveis vida, ela aparece. H

    mundos inferiores e superiores Terra. Dizer-se que somente a Terra habitada, duvidar-se da sabedoria de Deus, que no faz coisa alguma intil. A constituio fsica dos diferentes mundos no se assemelha. Cada ser que os habita possui uma organizao prpria ao ambiente, como os peixes possuem um organismo adequado vida debaixo das guas. Os mundos mais afastados do Sol no ficam privados da luz e do calor. H outras fontes, como a eletricidade, por exemplo, que exercem importante papel nesse sentido.

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    6. CONSIDERAES SOBRE A CRIAO Diz a Bblia que o homem foi o ltimo a ser criado. Com efeito, pelos arquivos

    encontrados na Terra, a cincia descobriu a ordem em que surgiram os seres vivos, ordem essa mais ou menos de acordo com o que relata o Gnese de Moiss. Por outro lado, h profunda divergncia na maneira miraculosa como foi executado o trabalho da criao, pois ao invs de ser realizado em alguns dias, levou alguns milhes de anos, conforme as leis que regem os fenmenos da natureza. Mas, de qualquer forma, Deus no ficou sendo menos poderoso. Sua vontade se fez sentir para a realizao da grande obra, embora o prazo tenha sido dilatado, grandemente. E o homem, de acordo com a cincia, realmente surgiu em ltimo lugar.

    CAPTULO IV DO PRINCPIO VITAL

    1. Seres orgnicos. 2. A vida e a morte. 3. Inteligncia e instinto.

    1. SERES ORGNICOS E INORGNICOS Os seres orgnicos nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem. A

    essa classe pertencem o homem, os animais e as plantas. Os inorgnicos no tm vida prpria e se formam pela agregao de matria. So os minerais, a gua, o ar, etc. a mesma fora que une os elementos dos corpos orgnicos e inorgnicos. Essa fora regida pela lei da atrao. Nos corpos orgnicos, a matria se acha animalizada, atravs de sua unio com o princpio vital, que d vida a todos os seres que o absorvem e assimilam. Esse fluido se modifica segundo a espcie a que constitui. ele que lhe d movimento e atividade e o distingue da matria inerte.

    2. A VIDA