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    associação brasileira de engenharia e ciências mecâni

    volume 18 . número 1 . 2013 . ISSN 2237

    ENADEum instrumentode avaliaçãoPaulo P. KenediÁlvaro Chrispino

    Engenhariano BrasilLuiz Bevilacqua

    Caspar ErichStemmer(1930-2012)Arno Blass

    Stemmerno PremesuSérgio Gargioli

    Stemmer e WEGMoacir Rogério Sens

    Stemmer e o MCTErnesto Costa de Paula

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    editorialContinuação e Renovação

      A Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas possui uma história de sucesso econtínua consolidação já de quase quatro décadas. É a principal sociedade cientíca da América Latinaem sua área de atuação, e isso se deve à participação voluntária e dedicada de seus membros. Comcapilaridade nacional e inserção internacional, sua elevada reputação está diretamente vinculada àqualidade de seus membros. Nossas publicações técnicas e cientícas, nossos congressos, nossasescolas, nossas divisões regionais e nossos comitês técnicos, tantas oportunidades de participação

    ativa de nossos membros, são motivos de orgulho para todos.

      Além de todos os benefícios e oportunidades que a ABCM proporciona a seus associados,alguns de nós temos a honra e o privilégio de participar diretamente de sua gestão. A responsabilidadeé enorme. Dirigir uma associação de tanto prestígio exige muita dedicação e atenção, mas o trabalho

    é facilitado pela participação de tantos colegas que abrem mão de seus interesses imediatos paratrabalhar em benefício de toda a comunidade cientíca.

      Desde 1975 diversos grupos de colegas vêm conduzindo a ABCM. Cada grupo realizando omelhor possível, e passando para o grupo seguinte, que se esforça para elevar nossa associação para

    um patamar ainda mais elevado.

      As palavras continuação e renovação são frequentemente empregadas em sentidosantagônicos, mas acreditamos que isso não se aplica à ABCM. Cada grupo de prossionais que participada gestão da ABCM busca dar continuidade à trajetória de sucesso da associação, e neste processosempre busca renovar as ideias e métodos. Cada nova diretoriatraz uma expectativa de que novas iniciativas e ações irão sersomadas a tantas outras já implantadas com sucesso. Deve-se

    ressaltar que, de fato, a ABCM não é sua diretoria e sim todosos seus membros, que participam em diversas instâncias damesma. A diretoria tem por obrigação catalisar e proporcionaros instrumentos para que as ações de seus membros

    frutiquem plenamente.

      Este texto sobre continuação e renovaçãotem uma motivação especial para os presidentesda ABCM nos períodos 2009-2013 e 2013-2015. Nósnos conhecemos e mantemos laços de amizade há30 anos. Em 2009, um de nós assumiu a presidênciada ABCM no COBEM presidido pelo outro. Agora,um de nós deixa a presidência da ABCM e o outro a

    assume.

      Esta transição é motivo de grandealegria para nós, pelos nossos laços de amizadee pela certeza da continuidade dos ideais quenos levaram as dedicar boa parte de nossas vidas

    prossionais à ABCM.

    A n tô n io J. S i l va Ne to

    Pres iden te a bcm

     b iên io 2009 -20 13

    Sé rg io  V. Mö l le r 

    Pres iden te a bcm

     b iên io 20 13 -20 15

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       E   n   g   e   n    h   a   r    i   a   n   o   B   r   a   s    i    l

       L   u    i   z   B   e   v    i    l   a   c   q   u   a

       E   N   A   D   E ,   u   m    i   n   s   t   r   u   m   e   n   t   o

        d   e   a   v   a    l    i   a   ç    ã   o

       P   a   u    l   o   P   e    d   r   o   K   e   n   e    d    i    |    Á    l   v   a   r   o   C    h   r    i   s   p    i   n   o

       C   a   s   p   a   r   E   r    i   c    h   S   t   e   m   m   e   r    (   1   9   3   0  -   2   0   1   2    )

       A   r   n   o   B    l   a   s   s

       S   t   e   m   m   e   r   e   W   E   G

       M   o   a   c    i   r   R   o   g    é   r    i   o   S   e   n

       s

       S   t   e   m   m   e   r   e   o   M   C   T

       E   r   n   e   s   t   o   C   o   s   t   a    d   e   P   a   u    l   a

       S   t   e   m   m   e   r   n   o   P   r   e   m

       e   s   u

       S    é   r   g    i   o   G   a   r   g    i   o   n    i

       C   O   N   E   M   2   0   1   2

       D   a   v    i    d   C .   Z    i   m   m   e   r   m   a   n

       O    b    i   t   u    á   r    i   o

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        O    Q   u   a

        l    i   s

        d   a   s   E   n   g   e   n

        h   a   r    i   a   s   I   I   I   :   E   s   t   r   a   t    i

        fi   c   a   ç

        õ   e   s   e

       I   m   p   a   c   t   o   s   n   a   A   v   a    l    i   a   ç    ã   o   T   r    i   e   n   a    l

       I   I   I   E   n   c   o   n   t   r   o   N   a   c    i   o   n   a    l    d   e

       C   o   o   r    d   e   n   a    d   o   r   e   s    d   e   E   n   g   e   n    h   a   r    i   a

       M   e   c    â   n    i   c   a

       A   B   C   M   o   r   g   a   n    i   z   a   t   r    ê   s   e   v   e   n   t   o   s   s   o    b   r   e   :

        i   n   s   t   a

        b    i    l    i    d   a

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     ,   t   r   a   n   s    i   ç

        ã   o   e   t   u   r    b   u

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       L   a   g   r   a   n   g   e   :   u   m   a   n   o   t   a

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       A   g   a   m   e   n   o   n   R .   E .    d   e   O    l    i   v   e    i   r   a

       E   x   p   e    d    i   e   n   t   e

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    Engenharia no BrasilLuiz Bevilacqua

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    Um projeto recente que reete o complexo deinferioridade subjacente à nossa cultura e quese expressa nas decisões políticas é o programa

    “ciência sem fronteiras” . Independentementedos benefícios que possa trazer e que certamentetrará, é uma demonstração de fraqueza nãoreconhecendo o esforço desenvolvido no Brasil nosúltimos cinquenta anos no setor de P&D. A atitudecorajosa e certamente arriscada, mas que reetiria ocaminho para a maturidade cientíca e tecnológicacom benefícios extraordinários, teria sido abriras fronteiras para imigração de engenheiros epesquisadores que se juntariam aos nossos nasuniversidades e institutos de pesquisa. A utilizaçãodos recursos na direção oposta à que tem sido usadaseria uma demonstração de capacidade de inserçãointernacional. Aliás, os movimentos de inserçãointernacional que hoje tem sido motivo de grandeatividade nas nossas universidades precisa ter fococorreto. Ser realmente internacional, no sentido departicipar efetivamente da comunidade cientíca,não é propriamente procurar e ser aceito peloscentros reconhecidos, mas ser procurados e atrair acooperação dos centros reconhecidos. Vamos evitara todo custo a inserção do complexo de inferioridadenesse processo. Nós não seremos “internacionais”por sermos capazes de atrair ganhadores do prêmioNobel a vir ao Brasil, seremos “internacionais” na

    medida em que dermos condições de pesquisadoresradicados no Brasil ganharem o prêmio Nobel.

    Outro aspecto que prejudica muito o desenvolvimentodo Brasil, particularmente no que se refere àengenharia, é a opção cultural associada ao sucessoprossional. Infelizmente aqui se valoriza mais ocomércio do que a indústria. O que poderíamoschamar de indústria brasileira é dominada pelaatitude comercial e não propriamente industrial. Umexemplo emblemático foi a reserva de mercado nosetor de informática que depois de dez anos não nosdeixou um milímetro de desenvolvimento industrialefetivo na área.

    O sucesso é medido pelos critérios da bolsa devalores quase que exclusivamente. O orgulhode se ter produzido um bem de alta qualidadetecnológica, que tenha grande impacto na “bolsa depatentes” , não conta. Nas empresas, os gerentesde projeto tem muito mais importância do que osengenheiros e cada vez mais ganham prestígioe poder. O número de projetos de engenharia

    Vou abordar três aspectos da evolução e do estadoatual da engenharia no Brasil que, de acordo comminha avaliação, são essenciais para a denição de

    uma política que possa tentar reverter o estado deinvolução que ameaça nos deixar mais dependentesdo que jamais fomos. São eles:

    1. A imersão cultural

    2. O ensino superior e a formação do engenheiro

    3. Projetos que desaem engenho e arte

    O primeiro aspecto muitas vezes ignorado é talvezo maior obstáculo ao nosso desenvolvimento. Ocomplexo de “cachorro vira-lata”, como já foi batizadaa nossa atitude no contexto universal, que reete anossa baixa autoestima, é um obstáculo que precisa

    ser superado. No caso especíco da engenharia,isto se traduz na falta de coragem de enfrentar umproblema novo cuja solução não se encontra nemnos livros nem na prática do exercício prossional.A solução frequentemente adotada, tanto porempresas de engenharia como pelos órgãos públicosde scalização, é a contratação de “consultoresestrangeiros” como se tem constatado em várioscasos de colapsos quer de obras de grande porte queroriginados por fenômenos naturais. Para enfrentar umproblema um pouco mais complexo, os responsáveispreferem ignorar a competência existente no Brasile acovardam-se diante da responsabilidade de tomaruma decisão com base na análise técnica feita pelosengenheiros brasileiros. Preferem esconder-seatrás de uma suposta competência contratada forado país pretensamente eximindo-se de qualquerresponsabilidade. Mesmo na área acadêmica existeessa contradição quando os cientistas e engenheirosencaminham os seus melhores trabalhos parapublicação em periódicos estrangeiros esquecendo-se de prestigiar as boas revistas brasileiras. Ora, umpaís com as dimensões do Brasil, se não for capazde assumir a sua potencialidade, se não for capaz deassumir riscos, se não for capaz de sacudir esse absurdo

    complexo de inferioridade, permanecerá eternamentea ser o país do futuro, isto se for capaz de se mantercomo uma nação indivisível. É impossível alcançar 100%de rendimento; para acertar uma vez são necessáriasvárias tentativas e muitos insucessos. De fato, umfracasso não é um recuo ou mergulho na ignorânciamas um indicador de vias que devem ser evitadas. Ofracasso não gera ignorância mas o conhecimento doque não deve ser feito. Ajuda a progredir. Infelizmenteessa não é a atitude que prevalece na nossa sociedade.

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    encomendados fora do Brasil vem aumentando,a dependência de códigos computacionais quenos aprisionam a normas técnicas e produtosfabricados fora também cresce. Enquanto osheróis dos jovens engenheiros forem aqueles quese destacam nas listas das pessoas mais ricas domundo jamais seremos um país verdadeiramenteindustrializado. Por isso as associações tecnológicase cientícas e o poder público, Congresso Nacionale Ministérios, particularmente os de Ciência eTecnologia, do Desenvolvimento, da Indústria eComércio, de Minas e Energia, dos Transportes,da Defesa, da Comunicação, do DesenvolvimentoAgrário, do Meio Ambiente, da Saúde entre outrosdeveriam valorizar com prêmios e reconhecimentopúblico as conquistas tecnológicas produzidas noBrasil. Embora não esteja estritamente ligado àengenharia é preciso que se diga que a indústriafarmacêutica no Brasil tem seguido caminho bemdistinto, assumindo riscos e recolhendo sucessos

    com impacto verdadeiramente internacional. Umexcelente exemplo para indústria brasileira que estáà espera do poder de compra do Estado.

    Com respeito ao ensino superior, embora muito sepossa dizer, quero focalizar aqui dois aspectos defundamental importância. O primeiro é a perversavalorização do diploma em confronto com acompetência. Vale mais o papel do que a capacidadetécnica. Inclusive os níveis salariais, particularmenteno serviço público, não premiam a competência.A distorcida valorização do diploma, inclusive,prejudica a correta estrutura da rede de produção e

    de competências no setor tecnológico. É preciso quese entenda que formação universitária e formaçãotecnológica não distinguem níveis de capacidadeintelectual, mas sim de opção de atividade. Existemtécnicos brilhantes e engenheiros medíocres.A formação obtida em Escolas Técnicas não éinferior à formação oferecida nas Universidades.É diferente. É urgente romper a diferenciação quehoje prevalece na nossa sociedade estabelecendoníveis de competência prossional subordinados auma hierarquia de formação superior. Isto é, tudoo que um técnico faz um engenheiro é capaz defazer, mas nem tudo o que um engenheiro faz um

    técnico é capaz de fazer. Este é um conceito falso.São opções, tarefas e competências distintas. Éabsurdo estabelecer escalas salariais baseadas emtítulos e diplomas sem considerar competências.Estou certo de que vários dos leitores já tiverama oportunidade de encontrar técnicos que bemvalem vários engenheiros. Então este é outroponto a considerar, valorizar a formação técnicae reformular a política salarial fundamentada nacompetência e desvinculada do tipo de diploma.Inclusive no setor universitário romper as barreiras

    de progressão salarial. Um excelente técnico delaboratório é às vezes mais precioso do que umdoutor e merece galgar os mesmos níveis salariaisdo que os estabelecidos na carreira docente.

    O segundo aspecto é o descuido na formação quantoao exercício da independência intelectual. Esta críticavale tanto para escolas de formação tecnológica

    como para as universidades. Falta na nossa formaçãoa abertura para que os estudantes façam suaspróprias escolhas. As carreiras são denidas dentrode barreiras tão estreitas que não permitem aosestudantes o exercício da liberdade de escolhas.Eles se limitam a seguir trilhas pré-determinadas,são proibidos de ousar, de seguir novos caminhos,de errar e de corrigir os erros. A universidade, assimcomo as escolas técnicas, são lugares onde é quaseque vedado aprender. É obrigatório ouvir e sertreinado. Os professores ensinam e raramente abremjanelas para novos conhecimentos. A formaçãotolhe, portanto, a independência intelectual e a

    capacidade de andar com as próprias pernas. Assimgera os futuros prossionais suplicando socorro às“consultorias internacionais” diante de problemascomplexos. Ora, hoje mais que nunca vivemos umaoportunidade única de reformular o projeto deformação tanto tecnológica como universitária. Anova era tecnológica está repleta de problemas cujasolução requer a convergência de várias disciplinas.Necessitamos, pois, capacitar prossionais com aexibilidade que exige o nosso tempo e sobretudocapazes de aprender autonomamente e de enfrentarnovos desaos. Menor aversão ao risco, maior

    ousadia e vontade de superar obstáculos, sabendoque uma vitória segue-se a várias frustações.

    Em terceiro lugar é necessário que se dena e quese encomendem projetos de dimensões nacionais.Projetos desse tipo ultrapassam o período de umagestão administrativa e portanto devem por princípioser projetos de Estado e não de Governo. É evidentea pressa que se tem em se completar grandes obrasem um período limitado a uma gestão administrativa.Isso tem gerado equívocos muito prejudiciais aodesenvolvimento do país inclusive por forçarem acontratação de serviços no exterior para favorecera vitrine eleitoral com prejuízos a longo prazo para onosso desenvolvimento tecnológico. Isso para nãodizer da tragédia maior que causam os governantesque não acreditam no próprio país. Essa é a razãosubjacente que está na base da política infantil deabertura de mercado que trouxe um enorme prejuízoao nosso desenvolvimento industrial na década de 90.Esses são os vilões do nosso progresso e independênciatecnológica, os descendentes ideológicos dos que seopuseram ao desenvolvimento industrial do Brasil notempo do Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza,

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    um herói que deve ser constantemente relembradonas nossas escolas.

    Mas de qualquer forma não basta que se inverta essaatitude e simplesmente se afirme a credibilidadena nossa potencialidade. É necessário que se criemoportunidades, que se proponham projetos com asdimensões requeridas para o avanço tecnológico

    de porte. Gostaria de batizá-los de “ProjetosVernesianos” em homenagem a Jules Verne.Alguns já foram adotados e realizados por algunspaíses como “Da Terra à Lua”. A característicaprincipal de projetos desse tipo é a total falta dereferência em qualquer país do mundo. Devem serprojetos tais que nenhuma parte essencial já tenhasido resolvida e implementada fora do Brasil. Játivemos oportunidade de enfrentar esse tipo dedesafio com a exploração de petróleo em águasprofundas. Mas o que começou bem acabou porsucumbir à pressa e hoje ficamos com as águasprofundas e com pouca tecnologia e os outros

    sem águas profundas mas com a tecnologia paraexplorá-las. Os desafios da região amazônicaoferecem grandes oportunidades para ProjetosVernesianos mas é preciso que sejam definidos,projetados e resolvidos com os engenheiros ecientistas que trabalham aqui, comprometidoscom o progresso do país. São grandes projetosencomendados pelo Estado e como qualquerprojeto do tipo Vernesiano devem estar acima dasvaidades pessoais dos dirigentes e dos políticos.Exigem portanto uma atitude política própriaaos grandes estadistas, capazes de ver além dos

    horizontes que limitam o alcance de seu própriomandato. Sem a proposta de novos desafios degrandes dimensões estaremos arriscando a nossaindependência e o compromisso que temos com odesenvolvimento do país. Sem a implementação degrandes projetos nacionais Vernesianos os cursode pós-graduação em engenharia no Brasil setornarão incapazes de contribuir para o verdadeiroprogresso tecnológico do país, transformando-se numa fábrica de trabalhos para publicação emperiódicos científicos e formação de doutoressuper-qualificados para as empresas brasileiras,exceto no que se refere à gestão de projetos

    executados no exterior.Certamente outros desvios da nossa políticacientíca e tecnológica necessitam ser corrigidos,principalmente no que se refere à prestação decontas, que deve ir além da contabilidade degastos de modo a não prejudicar o m último comexigências absurdas de contratações de serviçosque trazem muito mais prejuízos que benefícios.Além disso, vivemos no meio de grandes problemasa clamar por soluções: educação básica, violência

    urbana, transportes, corrupção, e muitos outros.No entanto, temos que começar por alguns delese aproveitar o que existe de mais qualicadopara iniciar o processo de desenvolvimentoindependente. A comunidade universitária, pelasua qualicação e dedicação, é talvez a que tenhamaior potencialidade para implementar algunsprojetos concretos. Nos três pontos levantados

    acima, pesquisadores e professores universitáriospodem ter um papel decisivo se forem convocadosa cooperarem num esforço conjunto para umamudança de rumo na trajetória do processo dedesenvolvimento. Essa tarefa de agregação cabeao mais alto escalão do executivo. O sucessode uma operação como essa, que se encaixa noconjunto Vernesiano, requer de todos humildade,superação de diferenças politico-ideológicas e visãode Estado em benefício do afastamento do risco demediocrização do nosso povo, particularmente danossa juventude.

    A tarefa é difícil, mas também é possível que umavez encetadas algumas iniciativas o desenrolardos acontecimentos siga um processo deretroalimentação positiva e nos surpreenda abrindoportas com mais facilidade do que prevíamos.

    Se fui radical em alguns pontos, que me desculpeo leitor, mas em certas ocasiões não existe umaterceira via. É assim que vejo o Brasil de hoje, numabifurcação, ou dá um salto para frente ou regridepara uma posição relativa no contexto internacionalmuito inferior à que estava na década de 60.

    Arrisco um sinal, quando a nossa juventude sair dastrincheiras e em lugar das legendas “em defesade...” proclamar “em favor de...” nas demonstraçõespúblicas estaremos saindo do poço.

    Prof. Dr. Luiz Bevilacqua  é Engenheiro Civil pela UFRJ(1959), tem especialização em Pontes e Grandes Estruturaspela TH Stuttgart (1961) e doutorado em Mecânica Teóricae Aplicada pela Stanford University (1971). É ProfessorEmérito da COPPE-UFRJ (2008).

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    Resumo

    O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes(ENADE), foi instituído para avaliar a performance dosalunos de graduação e compõe o Conceito Preliminarde Curso (CPC). O resultado desta avaliação posicionaas instituições de ensino superior no ranking  do qualderivam facilidades e/ou restrições das mais diversas

    no mercado educacional brasileiro, bem como naimagem dessas perante a Sociedade. A avaliaçãoexterna tem sido comumente utilizada pelosalunos como ferramenta de crítica a sua instituiçãoformadora e como manifestar discordância quantoà política instituída desta avaliação. A inexistênciade procedimentos e rotinas que vinculem a notado estudante ao seu diploma – como busca pelaresponsabilização do processo - tem permitido quea Instituição de Ensino seja penalizada, apesar de

    ENADE, um instrumento de avaliação?Paulo Pedro Kenedi | Álvaro Chrispino

    seus esforços para manutenção e melhoria dosíndices que lhe são próprios. Este trabalho pretendedemonstrar a relação entre a ação do aluno e osresultados institucionais, propondo uma espécie de“accountability” educacional para os estudantes, nabusca de aprimoramento do processo de avaliaçãoexterna.

    Introdução 

    A avaliação dos alunos do Ensino Superior começouem 1996 com o Exame Nacional dos Cursos (ENC),também chamado de Provão, que perdurou até 2003.Em 2004, a Lei n˚ 10.861, de 14 de Abril de 2004 [1], emseu Art. 1º instituiu o Sistema Nacional de Avaliação daEducação Superior (SINAES). Em seu Art. 2º descreve

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    Segundo [9], todas estas parcelas antes de seremsomadas para gerar o CPC passam pelo empregodo afastamento padronizado para que todas asmedidas originais, referentes ao Conceito ENADEe aos componentes do CPC, sejam padronizadas etransformadas em notas entre 0 e 5.

    O BoicoteUm ponto muito importante, que não é mostradoexplicitamente, nem no cálculo do ENADE, nem nocálculo do CPC, é que o INEP não impõe nenhumanota mínima para o aluno ser considerado aprovadono ENADE. Atualmente, se os alunos de ensinosuperior inscritos por sua Instituição para fazer oENADE responderem ao questionário de estudante,estiverem presentes no dia, local e hora designadospelo INEP, e entregarem a prova do ENADE embranco, eles são considerados aprovados (ou aptos?)pelo INEP. Este fato, que provoca grande distorção

    dos resultados do ENADE, e, portanto do CPC, échamado pela imprensa de Boicote. Basta entrarem um programa de pesquisa, como por exemplo oGoogle, com a frase: “Boicote ao ENADE 2011”, paraacessar dezenas de sites que pregam o Boicote aoENADE, disponibilizando material para o Boicote,como adesivos, cartilhas, panetos, opiniões,matérias de jornais, entre outros.

    Na realidade, o próprio Governo criou as condiçõespara a efetividade do Boicote, ao restringir adivulgação da nota do ENADE apenas ao próprioaluno, impedir que esta nota conste em seu históricoescolar e, o mais absurdo não impor uma notamínima de corte, abaixo do qual o aluno não passariano ENADE. Nega, pois, ao aluno a experiência daresponsabilização pelo que faz ou deixa de fazercomo parte do sistema de avaliação.

    A seguir apresenta-se um estudo que visa mostrar oefeito Boicote em diversas situações.

    Um Estudo sobre o Efeito do Boicote (B)no desempenho dos alunos no ENADE

    (NC)A gura 1 mostra um gráco, onde a abscissa é opercentual de boicote (B) na prova do ENADE (NC)de uma determinada turma. O ENADE é a provafeita pelo aluno e o (NC) são as notas no ENADEdos concluintes no cálculo do CPC. A ordenada estádividida em cinco faixas, e representa os conceitosENADE (NC) (faixa), conforme a Tabela 1[5]. As linhasrepresentam cinco casos particulares de médias deturma de alunos.

    as atribuições do SINAES, de assegurar processonacional de avaliação das instituições de educaçãosuperior, dos cursos de graduação e do desempenhoacadêmico de seus estudantes. Os Art. 3º, 4º e 5º,desta lei, tratam como as avaliações do SINAESdevem ser conduzidas, respectivamente, em relaçãoàs instituições de educação superior, aos cursos degraduação e ao desempenho dos estudantes doscursos de graduação. Especicamente, o Art. 5º,desta Lei, informa que o desempenho dos estudantesdos cursos de graduação será avaliado através daaplicação do Exame Nacional de Desempenho dosEstudantes (ENADE), que em seu §6º faz referênciaao INEP como responsável por sua aplicação. Paraas Engenharias, o ENADE começou a ser aplicadoem 2005, e já teve mais duas edições até esta data,a de 2008 e a de 2011. No ENADE de 2005 os alunosingressantes e concluintes eram inscritos pelaInstituição para fazer o ENADE, mas apenas umafração destes eram escolhidos através de sorteio

    para fazer a prova [2]. Este procedimento foi mantidono ENADE 2008 [3]. Já no ENADE 2011 os alunosingressantes foram substituídos pelo resultado doENEM e todos os concluintes inscritos pela instituiçãozeram a prova, sem a realização de sorteio [4].

    O que é o CPC e como o CPC é formado

    Segundo [5], o Conceito Preliminar de Curso (CPC), foiinstituído pela Portaria Normativa n˚4, de 05 de Agostode 2008 [6-7] e trata de um indicador preliminar dasituação dos cursos de graduação. Fazem dele parte

    diferentes variáveis que traduzem resultados daavaliação de desempenho de estudantes (o ENADE),da infra-estrutura e instalações, dos recursos didático-pedagógicos e do corpo docente. Segundo [8-9], naversão de 2011 o cálculo do (CPC) é composto pelasoma de sete parcelas. As primeiras três parcelas sãodeterminadas diretamente pelos alunos: as Notasdos Concluintes (NC), que corresponde ao resultadodo ENADE, 20% do CPC, a opinião dos estudantessobre a Infraestrutura do curso (NF), 7,5 % do CPC e aopinião dos estudantes sobre a Organização Didático-Pedagógica do curso (NO), outros 7,5 % do CPC,totalizando 35% do CPC. O curso atua diretamente em

    três outras parcelas, a saber: a nota de ProfessoresDoutores (NPD), 7,5% do CPC, a nota de ProfessoresMestres (NPM), 7,5% do CPC e a nota de Professorescom Regime de Dedicação Integral e Parcial (NPR),15% do CPC, totalizando 30% da nota do CPC. A parcelanal, correspondendo aos 35% restantes da nota doCPC é obtida através do Indicador de Diferença entreos Desempenhos Observado e Esperado (NIDD), queé um cálculo que leva em conta todas as parcelasanteriores e outras parcelas referentes a outrasopiniões dos alunos.

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    As linhas para alunos de média 1 a 5, para todas as possibilidades de boicote (de 0 a 100 %), são mostradas emtons de azul.

    Figura 1 – Efeito do percentual de boicote (B) na nota da prova do ENADE (NC).

    O conceito de alunos de uma determinada média é uma simplicação usada neste modelo e considera que osalunos de um determinado curso têm um desempenho médio classicado em cinco níveis possíveis, a saber: 1, 2,3, 4 ou 5. Na tabela 1 os percentuais em que turmas de uma determinada média mudam de conceito ENADE (NC)(faixa) do ano de 2011 [5], estão mostrados.

    Tabela 1 – Distribuição do Conceito Enade

    Analisando a Figura 1, em conjunto com a Tabela 1, pode-se gerar a Tabela 2, que mostra o que acontece com oresultado de um turma, de alunos de determinada média, em função do percentual de boicote (B).

    5

    4

    3

    2

    1

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    percentual de boicote (B)

    Para todas as possibiliddes

    de boicote (de 0 a 100%)

    NC

    Alunos de média 5

    Alunos de média 4

    Alunos de média 3

    Alunos de média 2

    Alunos de média 1

    5

    4

    3

    2

    1

    Conceito Enade (Faixa) NC (Continua)

    1

    2

    3

    4

    5

      0 < NC < 0,945

      0,945 < NC < 1,945

      1,945 < NC < 2,945

      2,945 < NC < 3,945

    3,945 < NC < 5

    i

    i

    i

    i

    i

    i

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    O exemplo a seguir mostra bem como o boicote (B)pesa no desempenho de uma turma de alunos em suanota no ENADE (NC):

    Por exemplo, para alunos de média 3, dependendodo boicote (B), a turma de alunos pode tirar osseguintes conceitos do ENADE: Para um boicoteextremamente baixo, em torno de 1%, tira-se a nota4. Para um boicote de até aproximadamente 1/3da turma, tira-se a nota 3, para um boicote entreaproximadamente 1/3 a 2/3 da turma, tira-se a nota 2e para boicote de 2/3 a toda a turma, tira-se a nota 1.

    Esta simulação mostra que o boicote (B) é umavariável fundamental no desempenho dos alunosinscritos por um dado curso no ENADE, e não pode serdesprezada quando é feito o cálculo do ENADE (NC).Neste exemplo uma turma alunos de desempenhomediano 3, podem ter um resultado de ENADE (NC)que varia desde 4 até 1. Se o boicote fosse inexistenteou muito pequeno, o resultado no ENADE (NC) seria4 ou se o boicote fosse muito grande ou mesmo total,o resultado no ENADE (NC) seria 1.

    Esta variação do resultado, em função da extensãodo boicote, sobre o qual o curso onde os alunos

    são formados não tem nenhum controle, tornao resultado do ENADE (NC) inconsistente, ondecursos reconhecidamente de bom nível técnico eque formam bons prossionais para o mercado detrabalho podem ter desempenho pío, em função deque percentual de uma determinada turma adere aoBoicote.

    A seguir lista-se alguns dos principais problemasidenticados em relação ao ENADE e ao CPC, epropõe-se alguns caminhos para solucioná-los.

    Problemas, Comentários e PropostasCom o intuito de apresentar de forma organizada osvários problemas do ENADE e do CPC, nesta seçãoapresentamos em tópicos, onde se apresenta oproblema, são tecidos comentários e são sugeridaspropostas para resolvê-los.

    Não há nota mínima para o aluno“passar” no Enade. O aluno pode tirarzero e ainda assim “passar” no Enade.

    O ENADE não avalia corretamente o aluno, pois nãohá média mínima para “passar”. Independente seo aluno entregar a prova em branco, “chutar” asrespostas, zer a prova apenas durante a primeirahora, em que são obrigados a permanecer na sala,colar um adesivo do boicote na prova, ou mesmozer a prova com atenção durante as quatro horas,terão o mesmo resultado: aprovado. Deveria serestabelecida uma nota mínima de aprovação, quefosse pelo menos superior a 20 % de acertos na prova,para evitar quem “chutasse” a mesma letra na provatoda passasse. Além disso, os cursos não deveriamser penalizados pela prática do boicote. As notas

    de alunos abaixo da nota mínima não deveriam serutilizadas para o cálculo da nota do ENADE (NC).

    O Enade não abrange todos os alunosque estão se formando, pois para cadacurso, tem aplicação apenas trienal.

    Se o ENADE se propõe a avaliar o desempenhodos alunos de cursos superiores do Brasil, precisafazê-lo para todos eles e não de forma amostral,

    Tabela 2 – Efeito do percentual de boicote (B) na nota da prova do ENADE (NC) – valores limites.

    Média das turma 1 2 3 4 5

      1 5,5 < B ≤ 100 B ≤ 5,5

    2 52,75< B ≤ 100 2,75 < B ≤ 52,75 B ≤ 2,75

    3 68,5< B ≤ 100 35,167< B ≤ 68,5 1,833< B ≤ 35,167 B ≤ 1,833

    4 76,375< B ≤ 100 51,375< B ≤ 76,375 26,375< B ≤ 51,375 1,375 < B ≤ 26,375 B ≤ 1,375

      5 81,1< B ≤ 100 61,1< B ≤ 81,1 41,1< B ≤ 61,1 21,1< B ≤ 41,1 B ≤ 21,1

    NC

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    como sempre foi feito. Atualmente os alunos deum determinado curso fazem o ENADE de três emtrês anos. Isto provoca uma distorção, pois para ummesmo curso, pode haver variações signicativas dedesempenho dos estudantes no que diz respeito àassimilação dos conhecimentos. mas principalmenteno que diz respeito à postura do aluno perante oENADE.

    O grande período de tempo quepassa entre a realização da prova e adivulgação do resultado do Enade e doCPC.

    O último ENADE dos cursos de Engenharias foirealizado em 6 de Novembro de 2011 e seu resultadosó foi divulgado em 8 de Fevereiro de 2013. Os cursossó caram sabendo do desempenho de seus alunos15 meses depois destes terem feito o ENADE, quase

    um ano e meio depois. Isto interfere na possibilidadedos cursos conseguirem implementar medidas atempo de inuir no desempenho do próximo ENADE.Talvez fosse o caso da prova do ENADE constarapenas de questões de múltipla escolha para quea sua correção fosse rápida. Além disso, como éum conceito preliminar, não deveria ser divulgadopara a Mídia enquanto o conceito efetivo não fosseconrmado pela visita de Professores treinados peloINEP em visitas “in loco”.

    O resultado do CPC, caso sejam 1 ou 2,

    ser usado para intervir no curso.O CPC é majoritariamente formando pela prova doENADE e pelas respostas dos alunos a um questionário.Segundo a Lei 10.861, de 14 de Abril de 2004, em seuArt. 4˚, arma que “Para avaliação dos cursos sãoutilizadas visitas por comissões de especialistas dasrespectivas áreas do conhecimento”.

    Em outras palavras, o conceito do Curso é dado apósvisitas in loco de professores treinados pelo INEP, queconhecem a realidade de outros cursos da mesmaárea, e estão capacitados a emissão deste conceito.

    Parece que o CPC foi criado com intuito de diminuir aquantidade de visitas dos professores treinados peloINEP e não faz sentido que o curso seja penalizadopor um conceito que é formado majoritariamentepela opinião de alunos e pelo resultado do ENADE queé altamente inuenciado pelo existência do Boicote.

    Algumas respostas dadas pelo alunono Questionário do Estudante sãotransformados em notas e entram na

    composição das parcelas (NF), (NO) e(NIDD), que compõem o CPC.

    A opinião dos estudantes deve ser levada em contaqualitativamente, mas apenas os professorestreinados pelo INEP, em visita de avaliação externa “inloco”, deveriam poder avaliar de forma quantitativa

    questões como a Infraestrutura e a OrganizaçãoDidático-Pedagógica do curso, até porque já virama realidade de outros cursos e teriam parâmetroscomparativos para realizar tal quanticação. Jáa parcela NIDD tem cálculo complexo, poucotransparente e altamente não linear; e leva mais umavez em conta as parcelas que compõem o CPC, alémde notas atribuídas a outras respostas dadas peloaluno.

    Por conta destas questões, propomos que sejaaplicado o conceito de accountability  educacional,na rendição de contas pelos alunos também, frente

    às responsabilidades que possuem no processo departicipação no processo avaliativo.

    Se assim tem que ser, que venha oaccountability educacional

    É certo que accountability  é “um conceito distantede ser consensual. De fato, o signicado deaccountability  é tão obscuro quanto os conceitossão nas ciências sociais” [10]. Para nós, na falta deuma palavra própria na língua portuguesa, pode sertraduzida como “rendição de contas”, não por uma

    deciência linguística mas, antes de tudo, por umalacuna conceitual como bem informa [11]:

    Faltava aos brasileiros não precisamentea palavra, ausente na linguagem comumcomo nos dicionários. Na verdade, o quenos falta é o próprio conceito, razão pelaqual não dispomos da palavra em nossovocabulário (p. 31)

    [...]

    O grau de accountability  de uma

    determinada burocracia é explicadopelas dimensões do macroambiente daadministração pública: a textura políticae institucional da sociedade; os valores eos costumes tradicionais partilhados nacultura; [...] há uma relação de causalidadeentre o desenvolvimento político e acompetente vigilância do serviço público[...] não surpreende que, nos países menosdesenvolvidos, não haja tal preocupação.Nem mesmo sente-se falta de palavra quetraduza accountability (p. 47)

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    Para os ns que buscamos aqui, accountability  teráuma relação direta com rendição de contas a umapessoa ou grupos externos ao sistema em análise,como propõem [12]:

    [...] a accountability  é sinônimo deresponsabilidade objetiva, isto é, trata-se da responsabilidade de uma pessoa

    ou organização perante outra, fora desi mesma. Tal responsabilidade temconsequências, implicando em prêmiospelo seu cumprimento, e castigos, quandoo inverso é vericado. (p. 1347-1348)

    Um exemplo recente de accountability no Brasil é aLei de Acesso à Informação, Lei nº 12.527, sancionadaem novembro de 2011 e que propõe incisivasmudanças no paradigma de acesso à informação pelasociedade, contribuindo com uma visão de isonomiade acesso de informação. Sobre isso, escreve [13] que“é necessário que representantes e representadossejam idealmente considerados como possuidoresde um patamar mínimo de igualdade no nível doconhecimento e da informação”.

    A responsabilização de contas no campo educacional,por mais que seja um assunto pouco tratado nocampo da educação brasileira, já é algo discutidodesde antes em alguns vizinhos da América Latina.Em 2006, o Centro de Investigación y Dessarollo de laEducación (CIDE) e a PREAL, sob os auspícios da UnitedStates Agency for International Development (USAID),organizaram o Seminário Accountability educacional:possibilidades y desafos para a América Latina partir de

    la experiência internacional, em Santiago do Chile. Oevento produziu uma publicação com o mesmo título[14] cujos trabalhos dão conta do que se está fazendona região para concretizar esta ideia.

    No Brasil, temos pouca produção, mas pode-seindicar [15, 16, 17, 18, 19, 20] e o recente esforço pelaLei de Responsabilidade Educacional, que tramita noCongresso Nacional como Projeto de Lei 7.420/2006.

    A tese defendida é que, ao serem chamados aparticipar por meio de avaliação de setores oufunções da Instituição de Ensino Superior, comoocorre nas pontuações apresentadas pelosestudantes concluintes, por coerência e por isonomia,deveriam eles também ser responsabilizados pelasconsequências de seus atos avaliativos.

    Assim como devem responder por suas ações eomissões os professores e gestores educacionais,devem, por isonomia, também responder osestudantes a m de não tornarem as IES reféns deseus boicotes.

    Uma maneira objetiva seria apor no Diplomade Conclusão as notas da instituição formadorae do estudante, co-responsabilizando-se pelasconseqüências de suas análises e pontuações. Talproposta estava (sic) contida no PL que o ExecutivoFederal remeteu ao Congresso e que resultou na Lei9131/965, sem este recurso protetivo previsto.

    Conclusões

    A avaliação dos alunos de cursos superiores é bemvinda. A implementação atual do ENADE é falha einjusta. É falha pois para um aluno de ensino superiorser aprovado no ENADE basta ele responder oquestionário do estudante e estar presente no dia,local e horário marcado pelo INEP, independentedo que ele zer na prova do ENADE, inclusive seele “zerar” a prova do ENADE será consideradoaprovado.

    É injusta pois pune o curso em que o aluno estudou,considerando na média do conceito (NC) todas asprovas feitas pelos alunos de determinado curso,que é uma mistura de alunos que se esforçam paraterem um bom desempenho no ENADE e alunos queo boicotam, que após a primeira hora entregam aprova do ENADE sem fazê-la.

    O ENADE precisa ser aperfeiçoado. A implementaçãode uma nota mínima é de fundamental importânciapara a prova do ENADE poder ser chamada deavaliação. Esta nota mínima precisa ser maior quea probabilidade do “chute” do cartão de resposta

    das questões de múltipla escolha com uma só letra,das cinco possíveis. Ou seja esta nota mínima devecorresponder a um pouco mais que 20 % da escalatotal. Esta nota deveria, ainda, constar no históricodo aluno, pois os alunos que o fazem com seriedadepossam mostrar a efetividade do ensino do seucurso, enquanto aqueles que preferem o boicote quetambém que registrado que assim o zeram.

    O CPC precisa ser repensado, pois a opinião dosestudantes sobre o seu curso deve ser levada emconta, mas não de forma quantitativa, e sim comoopinião que deve ser checada através de visitas“in loco”, de professores treinados pelo INEP,que conhecem a realidade de outros cursos damesma área, e estão capacitados para julgar deforma quantitativa itens como a Infraestrutura e aOrganização Didático-Pedagógica dos cursos. Certasparcelas do CPC como o NIDD deveriam ser extintas,dada a complexidade, a falta de transparência de seucálculo e a utilização repetida de parcelas já utilizadasno cálculo do CPC.

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    Pelo exposto, propõe-se objetivamente:

    1. O registro da nota do aluno e a nota da instituição no verso do Diploma de Graduação.

    2. Não obtendo sucesso nas rotinas educacionais, a criação de Exame Prossional pelo órgão de classe nosmoldes da OAB e da Medicina (já em discussão).

    Referências[1] Lei 10.861, de 14/04/2004, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.861.htm, acessado em 03/03/2013.

    [2] Manual do Ex. Nac. de Desempenho dos Estudantes ENADE -2005, http://portal.inep.gov.br/manual-do-enade, acessado em 03/03/2013,

    [3] Manual do Ex. Nac. de Desempenho dos Estudantes ENADE -2008,http://portal.inep.gov.br/manual-do-enade, acessado em 03/03/2013,

    [4] Manual do Ex. Nac. de Desempenho dos Estudantes ENADE -2011, http://portal.inep.gov.br/manual-do-enade, acessado em 03/03/2013,

    [5] Manual dos Indicadores de Qualidade - 2011, http://portal.inep.gov.br/notas-tecnicas, acessado em 03/03/2013,

    [6] Portaria Normativa 4, de 05 de Agosto de 2008, http://meclegis.mec.gov.br/documento/view/id/17, acessado em 03/03/2013,

    [7] Portaria Normativa 40, de 12 de Dezembro de 2007, http://portal.inep.gov.br/enade, acessado em 03/03/2013,

    [8] Aplicação do Conceito Preliminar de Cursos de Graduação (CPC) na Avaliação do Sistema Nacional de Avaliação da EducaçãoSuperior - SINAES, 2008, http://portal.inep.gov.br/notas-tecnicas, acessado em 03/03/2013,

    [9] Nota Técnica nº 029, de 15 de Outubro de 2012, http://portal.inep.gov.br/notas-tecnicas, acessado em 03/03/2013,[10] MAINWARING, S. Introduction: democratic accountability  in Latin America. In: MAINWARING, S; WELNA, C. Democraticaccountability in Latin America. Nova Iorque: Oxford University Press, 2003. p.6.

    [11] CAMPOS, Anna Maria. Accountability: Quando poderemos traduzi-la para o português?. Revista de Administração Pública. Rio deJaneiro, v. 24, n. 2, p. 30-50, fev./abr. 1990.

    [12] PINHO, José Antonio Gomes de; SACRAMENTO, Ana Rita Silva. Accountability: já podemos traduzi-la para o português?. Revistade Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 6, p. 1343-1368, 2009. Disponível em: . Acesso em: 03 mar. 2012.

    [13] HIRANO, Ana Carolina Yoshida. Accountability no Brasil: os cidadãos e seus meios institucionais de controle dos representantes. SãoPaulo. 2007. 243 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Faculdade de Filosoa, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,São Paulo, 2007. Disponível em: . Acessoem: 13 mar. 2012.

    [14] CORVALÁN, J. &McMEEKIN, R.W. Accountability educacional:posibilidades y desaos para América Latina a partir de laexperiência

    internacional. Santiago de Chile: CIDE; PREAL, 2006.[15] WATHIER, V. P. ACCOUNTABILITY  E EDUCAÇÃO: O Sistema de Gestão de Prestação de Contas do FNDE. Mestrado em educação.Universidade Católica de Brasília, 2013.

    [16]BONAMINO, A.and SOUSA, S. Z..Três gerações de avaliação da educação básica no Brasil: interfaces com o currículo da/na escola.Educ. Pesqui.,Jun 2012, vol.38, no.2, p.373-388.

    [17] AFONSO, A.J..Para uma conceitualização alternativa de accountability  em educação .Educ. Soc., Jun 2012, vol.33, no.119, p.471-484.

    [18] ANDRADE, E.de C.. Alternativa de política educacional para o Brasil: School  Accountability. Rev. Econ. Polit., Dez 2009, vol.29,no.4, p.454-472.

    [19] ANDRADE, E.de C.. “School accountability” no Brasil: experiências e diculdades. Rev. Econ. Polit., Set 2008, vol.28, no.3, p.443-453.

    [20] ADRIÃO, T.and GARCIA, T.Oferta educativa e responsabilização no PDE: o Plano de Ações Articuladas. Cad. Pesqui., Dez 2008,vol.38, no.135, p.779-796.

    Prof. Dr.Paulo Pedro KenediPrograma dePós-Graduação emEngenharia Mecânica eTecnologia de Materiais(PPEMM) do CEFET|RJ

    Prof. Dr.Álvaro ChrispinoPrograma dePós-Graduação emCiência, Tecnologia eEducação (PPCTE) doCEFET|RJ

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    O docente e administrador universitário

    Retornando a Porto Alegre, encontrou uma novarealidade. Juscelino Kubitschek, eleito presidenteda nação, desencadeara seu amplo Plano de Metas,consubstanciado no lema “Cinquenta anos em cinco”.Por isso mesmo, criou-se no país a demanda por recursoshumanos qualicados em áreas ainda fracamenteatendidas pelas universidades, que de prontocomeçaram a responder, mesmo que debilmente, aosestímulos da conjuntura. Na URGS seria criado o cursode engenharia mecânica, em que lhe caberia ministraruma cadeira. Face ao que havia observado na Alemanha,ele via lacunas no currículo do novo curso. Procurou, porisso, fazer recomendações a respeito, mas não logrouêxito em vê-las acolhidas. Converteu então a cadeiraque lhe era destinada, Construção de Máquinas, numrepositório de conteúdos que considerava faltantes nocurrículo geral do curso.

    Quando a Universidade de Santa Catarina, criada em1961 (o qualicativo Federal só seria introduzido em1964), se dispôs a implantar sua Escola de EngenhariaIndustrial, começando com o curso de engenhariamecânica, foi buscar o apoio de sua coirmã do estadovizinho. Atuando como consultor, Stemmer conseguiuver aprovada uma proposta de currículo para o novocurso, que começou a funcionar em 1962, com aparticipação de docentes da URGS, encarregadosde implantar as cadeiras, especicar laboratórios,selecionar e treinar os futuros docentes locais. Em 1965,quando do início da quarta série do curso, Stemmerpassou a ser o diretor da Escola de Engenharia Industrial.

    E, num período de apenas dois anos, desencadeou umamplo programa de inovações que deram ao curso e àescola características ímpares para a época, em muitospontos se antecipando à Reforma Universitária que viriaalguns anos depois: estágios obrigatórios, formaçãohumanística para os alunos, interação sistemática como segmento industrial, treinamento e qualicação dedocentes, regime de dedicação exclusiva, interiorizaçãodo vestibular, criação de uma fundação de apoio, tudoisso culminando com a implantação, em 1969, doprimeiro curso de pós-graduação da UFSC: o mestradoem engenharia mecânica. Paralelamente, criou novoscursos de graduação (engenharias elétrica e civil).

    Sobre estas realizações, já discorri nestas páginasem outra ocasião (“Stemmer, um precursor”, ABCMEngenharia, vol. 10, no. 1, pgs. 21/22, outubro de 2005).A pós-graduação criou novas necessidades, e Stemmerse voltou agora para a busca de apoio nanceiro ede know-how  internacionais. Recursos do BID e doGTZ (Alemanha) viriam a permitir a implantação delaboratórios e professores visitantes, principalmentealemães, orientariam a implantação de linhas depesquisa.

    Em poucos anos, Stemmer se tornou conhecido nocenário nacional. Seu nome era frequentementemencionado em conjunto com o do saudosoLynaldo Cavalcanti de Albuquerque, que tambémtivera atuação destacada como diretor da Escola deEngenharia da UFPB. Falando às Páginas Amarelasda revista VEJA, em meados da década de 70,perguntaram a Cláudio de Moura Castro quais seriamos requisitos para uma boa escola de engenharia.Em sua resposta ele indagou: “quem esperaria veruma escola de engenharia mecânica se destacar emFlorianópolis, onde não existe parque industrial?”

    Não é surpresa, pois, que Stemmer viesse a serconsiderado para a reitoria da UFSC, que exerceu de1976 a 1980, com igual dinamismo, com um vigorosoprograma que objetivou trazer a universidade,espalhada pela cidade, para o campus. Paralelamentecriou novos cursos, disciplinou o crescimento da pós-graduação, concluiu as obras do Hospital Universitário

    e o pôs em operação. Através de convênio rmadocom a Marinha e o Iphan, trouxe para a universidadea tutela e a guarda da Ilha de Anhatomirim, ondecavam ruínas de forticações portuguesas do século18, num projeto que previa a instalação de uma basede pesquisas oceanográcas de ecologia marinha eoutros empreendimentos.

    Mas a intensa atividade administrativa que Stemmerexerceu praticamente ao longo de toda sua vidaprossional não obscureceu os méritos do docente,na sua atividade em sala de aula e extraclasse.Preocupava-se (e incutia essa preocupação naqueles

    que com ele trabalhavam) com a qualidade didáticade suas aulas, para as quais preparava exaustivosroteiros (mimeografados e distribuídos aos alunos),com indicações de bibliograa, inclusive paraaprofundamento do assunto. Era defensor ardentedo estabelecimento de uma terminologia técnicana língua portuguesa, que não se limitasse ao meroempréstimo de termos da língua inglesa.

    Escrevia continuamente sobre os assuntos queministrava. De sua atividade em Porto Alegre,inicialmente resultaram diversas apostilas decirculação restrita, que viriam a culminar no texto

    “Projeto e Construção de Máquinas”, inicialmentepublicado no “Manual do Engenheiro”, da EditoraGlobo, e posteriormente como obra avulsa (1974,reedição em 1980). Coordenou, de 1966 a 1973,um programa de traduções de textos técnicos deengenharia mecânica para a Editora Polígono deSão Paulo, tendo pessoalmente realizado quatrodelas. De sua passagem por Florianópolis resultaramos textos didáticos “Ferramentas de Corte I” e“Ferramentas de Corte II”, publicados pela Editorada UFSC em 1987 e 1992, respectivamente, ambos

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    com várias edições; neles, Stemmer faz a críticadas normas brasileiras para ferramentas de corte,argumentando que, ao desprezar premissas básicasque caracterizam as normas DIN e ISO, as normasbrasileiras dão margem a conitos de universalidadee de lógica nos conceitos geométricos. Por isso, diz-se forçado a usar terminologia própria, que justica,por vezes detalhadamente.

    Em 1999, já aposentado, o Conselho Universitárioda UFSC outorgou a Stemmer o título de ProfessorEmérito, reconhecimento que se juntou a outrostantos que recebeu, dentre os quais os graus deComendador e de Grã-Cruz da Ordem Nacional doMérito Cientíco, assim como de Cidadão Honoráriode Florianópolis, título concedido em 1999. Era,também, membro da ABCM e da Academia Nacionalde Engenharia.

    Recentemente, em 2009, Stemmer recebeua condecoração Anita Garibaldi, concedidapelo Governo do Estado de Santa Catarina, emreconhecimento a sua brilhante e bem-sucedidatrajetória prossional. No mesmo ano, a FAPESC,Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação doEstado de Santa Catarina homenageou-o dando seunome ao “Prêmio Prof. Caspar Erich Stemmer deInovação Catarinense”.

    Além do ambiente universitário

    Premesu

    Ainda antes disso, porém, Stemmer já fora

    convidado por Edson Machado de Sousa, diretor doDepartamento de Assuntos Universitários (DAU) doMEC, para assumir a direção do Premesu (Programade Expansão e Melhoramento das Instalações doEnsino Superior), criado em 1974 em substituiçãoa uma comissão especial pré-existente, com asatribuições de administrar convênios internacionaisvisando à implantação dos campi e ao reequipamentodas universidades públicas brasileiras.

    O Professor Sérgio Luiz Gargioni, que atualmenteé o Diretor Presidente da Fundação de Amparo àPesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina, foi

    seu Gerente de Equipamentos. No artigo “Stemmerno Premesu” ele nos dá um breve depoimento domomento histórico em que esta agência foi criada eda ação de Stemmer em sua direção.

    Na iniciativa privada

    Em ns de 1960, Stemmer foi procurado por umgrupo de cerca de vinte alunos que pretendiamconstituir uma empresa e queriam aconselhamento.Cada um deles seguiria com sua vida, mas destinaria,

    durante um período de dez anos, o equivalente a5% de seu salário à constituição de um fundo parananciar o empreendimento. Falando do processo deindustrialização que varria o país, Stemmer lembrouque à época, ainda não existiam tornos automáticosem Porto Alegre, indispensáveis à produção depeças em grandes séries. Um rápido levantamentocomprovou a existência de um mercado em potencialpara tais produtos.

    O grupo resolveu arriscar e convidou Stemmer aparticipar do empreendimento. Criaram a empresaProdutec Engenharia. O pai de um dos alunos, técnicoindustrial, também se associou e ofereceu galpõesde sua propriedade, ao lado da Escola de Engenharia,para alojar inicialmente a rma, na qual exerceria aatividade de mestre de ocina. Tornos mecânicos eoutras máquinas foram sendo adquiridos na medidadas disponibilidades nanceiras, e o sucesso doempreendimento foi imediato.

    Stemmer, que participava ativamente daespecicação, seleção e aquisição dos equipamentosque iam sendo adquiridos, lá costumava levar seusalunos e ministrar aulas ao pé das máquinas. Aempresa cresceu, e teve de procurar acomodaçõesmais consentâneas, tendo chegado a possuir trintatornos automáticos, além de retícas, laminadorasde roscas, tornos revólver, furadeiras e prensas. Noseu auge, chegou a ter 150 empregados. Stemmerafastou-se ao transferir residência para Florianópolis,mas continuou como sócio. Já beirando os 40 anos, arma foi vendida a um grupo industrial.

    Stemmer retornaria à iniciativa privada, por umbreve período, em 1986, quando foi criada a rmaWEG Automação, com sede em Florianópolis, umasubsidiária da WEG Motores, de Jaraguá do Sul (SC).Sobre sua participação neste empreendimento, oartigo “Stemmer e WEG” apresenta o depoimentodo Engenheiro Moacir Rogério Sens, Membro doConselho de Administração da WEG, que com eleatuou naquele período.

    O Tecnópolis

    Em 1991 Stemmer foi convidado a assumir a secretariaexecutiva do Conselho das Entidades Promotorasdo Polo Tecnológico da Grande Florianópolis, oTecnópolis. A primeira parte do empreendimento, oParqTec Alfa, começava a ser construída e implantadanuma área de cerca de 60.000 m2, próxima a duasuniversidades, e destinada a abrigar pequenas emédias empresas das áreas de instrumentação,telecomunicações, mecânica na e informática.

    O governo do estado assegurava a infraestrutura

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    necessária: telecomunicações, abasteci-mento, saneamento e sistema viário.Aos interessados em se estabelecer noTecnópolis eram oferecidos: terreno cominfraestrutura, nanciamento para terrenoe construção, incentivos scais e reduçãode impostos estaduais e municipais.O detalhamento da conceituação dopolo cabia ao Centro Empresarial paraa Elaboração de Tecnologias Avançadas(Celta), um spin-o da Certi (FundaçãoCentros de Referência em TecnologiasInovadoras), a quem cabiam, também, aexecução das quatro primeiras propostasde parques tecnológicos de Florianópolis.

    Stemmer permaneceu neste posto atéprincípios de 1992, quando o Celta assumiua coordenação operacional de todas asatividades relacionadas ao funcionamento

    do ParqTec Alfa. Atualmente o Celta éresponsável pela administração do parque.

    Ministério de Ciência eTecnologia

    O PADCT (Programa de Apoio aoDesenvolvimento Cientíco e Tecnológico),lançado em 1985, previa a participaçãocoordenada de 04 agências governamentais(Capes, CNPq, Finep e STI/MIC) na aplicaçãode recursos nacionais e do Banco Mundialno nanciamento de projetos de pesquisa

    distribuídos em dez subprogramas emáreas consideradas prioritárias para odesenvolvimento cientíco e tecnológico do

    país. A um Grupo Especial de Acompanhamento (GEA), constituídode quinze especialistas de destaque (oito nacionais e seteestrangeiros) competiria exercer o acompanhamento e auditoriada execução do programa para o governo brasileiro e o BancoMundial. Stemmer foi indicado para ser um desses especialistas.

    Em 1989, contudo, face ao pedido de demissão do titularanterior, Stemmer foi convidado a assumir a secretaria executiva

    do programa, que exerceu durante cerca de um ano. Em abrilde 1990 assumiu a Diretoria de Coordenação de Programas, daSecretaria de Ciência e Tecnologia (à época do governo Collor deMello), de que se exonerou em julho de 1991. Em fevereiro de 1995voltou ao (agora) Ministério de Ciência e Tecnologia dirigindoa Secretaria de Coordenação de Programas, que, após umareformulação administrativa passaria a denominar-se Secretariade Desenvolvimento Cientíco, na qual permaneceu até janeirode 1999. Nestas posições, teve como seu adjunto o Dr. ErnestoCosta de Paula, que hoje é Diretor de Gestão e Tecnologia daInformação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientícoe Tecnológico – CNPq. No artigo “Stemmer e o MCT” o Dr. Costa

    de Paula dá um testemunho de sua convivência com Stemmerno período em que trabalharam juntos.

    Prof. Dr. Arno BlassEx-presidente da ABCM emembro da Academia Nacio-nal de Engenharia. É o autorde “Caspar Erich Stemmer,Administração, Ciência e Tec-nologia”, sexto volume daBiblioteca Anísio Teixeira, daCAPES, publicado em 2002,

    pela Editora Paralelo 15, deBrasília.

    Stemmer no PremesuSérgio Gargioni

    Conheci o Professor Stemmer em março de 1967,

    quando iniciei meu curso de Engenharia Mecânica.Lembro-me dele no corredor do primeiro prédio daEngenharia no campus da UFSC, novinho em folha,recepcionando o grupo de três alunos aprovados novestibular feito em Lages.

    No ano seguinte fui eleito Presidente do CentroAcadêmico da então Escola de Engenharia Industrial.Dali em diante passamos a ter forte interação nomovimento para a criação dos cursos de EngenhariaElétrica e Civil, dentre outros projetos. Em 1969,

    Stemmer cria um grupo de seis alunos para operar

    o primeiro computador da UFSC, IBM 1130, e minharelação com ele se ampliou.

    Em 1970, agora já no quarto ano, manifestei meudesejo de fazer Mestrado no Exterior. Como CAPESe CNPq não concediam bolsas em razão da existênciade cursos no Brasil, Stemmer encaminhou-mepara concorrer a uma bolsa da Fundação Rotária,disponível para Santa Catarina. Regressando dosEstados Unidos em junho de 1973, voltei às atividadesde professor.

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    Em junho de 1974, Professor Stemmer foi convidadopelo então Diretor Adjunto do DAU (Departamentode Ensino Superior do MEC, hoje SESU), o saudosoparaibano Professor Lynaldo Cavalcanti deAlbuquerque, para assumir a direção do PREMESU(Programa de Expansão e Melhoramento dasInstalações do Ensino Superior). O Ministro daEducação era o paranaense Ney Braga e o Diretor doDAU, Edson Machado de Souza, também paranaense.O PREMESU funcionava no Rio de Janeiro, na Ruada Assembleia 16, Palácio da Educação, endereçotambém da CAPES.

    Stemmer convidou o catarinense e amigo ProfessorTheodoro Rogério Vahl para cuidar da área deadministração e a mim, então professor doDepartamento de Engenharia Mecânica da UFSC,para ser Gerente de Equipamentos. Rogério Vahlfoi logo para a Secretaria Executiva do Conselho deReitores das Universidades Brasileiras, CRUB, que

    também funcionava no Rio.Já no início de 1975, estávamos, PREMESU eCAPES, em Brasília, ocupando um pequeno edifícioalugado na L2 Sul 607. Somente três dos quase30 funcionários do PREMESU foram para Brasília.Iniciava-se ali o primeiro desao: montar uma equipe.Cinco recém-formados da UFSC (Laudir Schmidt, AnaMaria Pereira, Avelino Sardagna e Antônio Carlos deNovaes e Silva e Nelson Prügner) foram convidados econtratados. Alguns estagiários, também, entre elesReinaldo Ferraz, hoje executivo no MCTI.

    A grande missão do PREMESU era nanciar aconstrução dos campi das universidades federais,então em grande expansão. Diferentemente da CAPES,não era um órgão independente, era um programado DAU. Recursos volumosos foram disponibilizadospela Caixa Econômica Federal, do Fundo de ApoioSocial (FAS), e pelo BID (Banco Interamericano deDesenvolvimento). Havia, ainda, uma substancial linhade crédito para importação de equipamentos do LesteEuropeu (Hungria e Alemanha Oriental, então sob oregime comunista), através dos chamados ¨Convêniosdo Café¨ (O Brasil trocava café por equipamentos). Aotodo, mais de 150 milhões de dólares (equivalentes)

    alimentavam esta linha. Cada universidade tinhaseu projeto e os recursos eram liberados depois deavaliação de consistência técnica pela equipe internado PREMESU e por vários consultores especialistas.De todos, os mais detalhados eram os projetosnanciados pelo BID.

    O Programa Leste Europeu já vinha sendo executadohá mais tempo, sem o devido controle. O equivalentea 30 milhões de dólares em equipamentos estavamespalhados por todo o Brasil sem o devido

    registro. Enormes caixas de equipamentos, muitosdeles totalmente inadequados para os objetivosuniversitários, encontravam-se espalhadas, emportos, em galpões ou ao relento ou, simplesmente,¨sumidas¨. Uma das caixas, por exemplo, estava noPorto do Rio de Janeiro. Continha uma guilhotinapara corte a frio de chapas de aço de até 3 polegadasde espessura, destinada à Universidade Federal doEspírito Santo. A caixa estava semiaberta, o motor jánão existia e ali habitava um morador de rua. Colocaristo em ordem e ainda executar mais 30 milhões dedólares disponíveis foi, de longe, o maior desao doPREMESU, à época. Stemmer e eu fomos vistoriarin loco  as instituições beneciadas, para localizar eavaliar a situação; fomos, mais de uma vez, à Hungriae à RDA (Alemanha Oriental). para visitar as fábricase empresas responsáveis pela operacionalização dasimportações. Foi uma verdadeira operação de guerra.

    Stemmer, obstinado, procurava encontrar soluções

    criativas para todas as situações, mesmo dentro daslimitações que a burocracia pública impunha. Valeressaltar que, em comparação com os dias de hoje,tudo era muito mais fácil. A guilhotina da UFES emuitos outros equipamentos de grande porte foramalienados. Um conjunto de vinte máquinas operatrizes- uma verdadeira fábrica - depositadas em um galpãona Universidade de Caxias do Sul, foram alugadaspara uma indústria emergente de máquinas da cidadeao custo de 1% ao mês, calculado sobre o valor dosequipamentos, com a obrigação de abrigar estagiáriose estudantes para aulas práticas. Em minha opinião,foi esta a solução mais inteligente que poderia ser

    encontrada. Todos ganharam: a Universidade e aeconomia local. Hoje aquela empresa é uma grandeindústria de máquinas. A operação legal foi viabilizadapor uma simples portaria do Ministro Ney Braga e umcontrato entre as partes.

    Com o dinheiro apurado com a venda deequipamentos inservíveis, Stemmer criou um projetopara desenvolvimento e aquisição de equipamentosde laboratório nacionais. Microscópios, instrumentosde física, equipamentos odontológicos e deinstrumentação médica, a maioria produzida porempresas nascentes tendo como base protótipos

    desenvolvidos em universidades e centros depesquisa, foram alguns exemplos. Lembro-me quez uma missão para a Inglaterra, nanciada peloConselho Britânico, com o objetivo de conhecerempresas do gênero que pudessem servir dereferência para as pequenas indústrias nacionais.

    Stemmer cou à frente do PREMESU por dois anos,de junho de 1974 a maio de 1976, quando assumiua Reitoria da UFSC. Foi o suciente para “colocarordem na casa” e deslanchar programas de grande

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    Stemmer e Gargioni, visitando uma indústria fornecedora de equipamentos, à época do PREMESU.

    Prof. Dr. Sérgio Luiz GargioniDiretor Presidente da Fundação

    de Amparo à Pesquisa eInovação do Estado de SC

    envergadura. Dali em diante, foi só dar andamento ao que foi estruturado. Seu substituto foi o gaúcho RubensSüert, e eu continuei no PREMESU por mais três anos.

    Quem conheceu Stemmer e, especialmente, os que tiveram o privilégio de ser liderados por ele, concordamque ele foi único. Único pela sua capacidade de trabalho, pela sua inteligência criativa, pela sua honestidadea toda prova e pela sua humildade. Por exemplo, não havia carro ocial e motorista em Brasília. Ele ia da L2Sul para a Esplanada despachar com o Ministro no seu fusca 61 (já com 15 anos de idade) e quando falhava apartida, ele mesmo abria o capô e o consertava, correndo o risco de não ter tempo suciente para fazer uma boa

    higiene nas mãos antes do despacho. Quando fomos para Hungria pela primeira vez, Stemmer não aceitou queas passagens fossem fornecidas pela trading  estatal Metrimpex, nem qualquer ajuda para hospedagem. Comohavia um evento grande em Budapest, os hotéis estavam lotados, então camos na casa de uma senhora muitosimpática de origem alemã.

    Esta foi mais uma das grandes contribuições do Professor Caspar Erich Stemmer para a educação superior brasileira.

    Stemmer e WEG

    O relacionamento do Prof. Stemmer com a empresa

    WEG, uma das maiores fabricantes de motoresdo mundo, iniciou em maio de 1968, quando oPresidente da Empresa, Eggon João da Silva, visitoua Faculdade de Engenharia da UFSC à procura doprimeiro engenheiro a ser contratado para seuquadro de funcionários, uma vez que tinha sidocontratada tecnologia de uma empresa alemã parao desenvolvimento de uma nova linha de motoreselétricos.

    Eu, como bolsista da faculdade, trabalhava com

    o Prof. Stemmer como desenhista na elaboração

    de apostilas, o que me valeu a recomendação paratrabalhar na WEG. Em julho, z meu estágio de fériasna WEG e saí contratado como primeiro engenheiroda empresa. Desde então o relacionamentoentre a WEG e Stemmer se intensicou atravésda recomendação para a contratação de outrosengenheiros e estagiários, além de visitas periódicasde grupos de formandos para conhecer a WEG. Em1968 a WEG tinha cerca de duzentos colaboradores.

    Em 1985 a WEG decide entrar na área da automação

    Moacir Rogério Sens

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    para diversicar suas atividades industriais. Em 1986,o Prof. Stemmer escreve, em um artigo na revistaDados e Ideias, que em Florianópolis sobram enge-nheiros, enquanto nós em Jaraguá do Sul tínhamosdiculdades em reter este tipo de prossional. Le-vei este artigo parao conhecimento dosenhor Eggon e a dire-toria decidiu construira WEG Automação emFlorianópolis, candoeu o responsável pelanova empresa. Foi aíque novamente recor-remos à ajuda do Prof.Stemmer para nos au-xiliar no recrutamentode prossionais, assimcomo na busca dolocal mais adequado

    para a construção danova fábrica.

    Stemmer, como sem-pre, responde pronta-mente, indicando osmelhores engenhei-ros que estavam emformação, e se pron-ticando a me ajudara procurar o terre-no. Em setembro de1986, localizamos um

    terreno com 64 milmetros quadrados naSC 401, que dá acessoàs praias de Florianó-polis, onde hoje é asede do governo doEstado de Santa Cata-rina. Neste terreno foiconstruído o primeiroprédio da WEG Auto-mação, com uma áreade 3250 m2 e com uminvestimento de US$ 3

    milhões.

    Em novembro desteano, Stemmer nosacompanha numa via-gem de quinze dias àAlemanha e Itália em busca de tecnologia para a fa-bricação de servomotores e de sistemas de automa-ção industrial. Nesta viagem tive a grata satisfaçãode conhecer o lado humano do Prof. Stemmer, a suacordialidade e bom humor e a gentileza de sempre

    me socorrer nas traduções ao vivo do alemão parao português durante as reuniões de negócio com asempresas. Também me ajudou na compra de um re-lógio Omega automático que uso até hoje. O últimosábado desta viagem dedicamos a um passeio pela

    cidade de Munique e à noitenos divertimos, cantando emalemão e tomando chopeno “Bierhalle” de Munique.Durante a viagem, inclusive,ventilamos a possibilidadede ele se tornar consultorda nova empresa recém-fun-dada. Stemmer pede licençanão remunerada da UFSC eassume o cargo de Diretor In-dustrial da WEG Automaçãopor quatro meses.

    Em outubro de 1987, a WEG

    Automação se instala na in-cubadora da Fundação CER-TI e novamente Stemmerca encarregado de recrutaros melhores engenheirospara dar início ao treinamen-to e estágios no exterior,principalmente na empre-sa Hauser da Alemanha, daqual havíamos contratadotecnologia de automação in-dustrial.

    Caspar Erich Stemmer foimeu professor, meu diretor,meu colega de diretoria naWEG e meu guru de quemguardo gratas lembrançasde profundo respeito e ad-miração e muitas saudades...

    Tendo como meta a contí-nua evolução de sua linhade produtos, a WEG Auto-mação consolida-se comoimportante fornecedora de

    produtos para a automaçãoindustrial, contribuindo paraa modernização de parquesindustriais no Brasil e no ex-terior e integra o Grupo WEGque tem como atividade a

    produção e comercialização de bens de capital, taiscomo, motores elétricos, equipamentos elétricos,equipamentos para a geração, transmissão e distri-buição de energia, automação industrial e tintas evernizes.

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    A partir do ano 2000, a empresa adotou uma forteestratégia de conquista do mercado internacional, ad-

    Um líder nato, homem de caráter e personalidadeilibados, dos melhores princípios, nacionalistaardoroso, um grande mestre, de hábitos espartanos,metódicos e rotineiros, desprovido de vaidades,partidário da simplicidade e da disciplina, dehonestidade acima de qualquer suspeita, partidárioda busca do consenso e avesso ao dissenso.

    Chefe de família exemplar, el aos melhores princípiosgermânicos e brasileiros, lho de pai alemão e demãe italiana, era avesso ao desperdício, ensinou-me muito nos dois períodos em que tive a honra deatuar como seu adjunto no Ministério da Ciência e

    Tecnologia, primeiramente nos anos de 1989, 1990e 1991 no Programa de Apoio ao DesenvolvimentoCientíco e Tecnológico - PADCT e depois nos anosde 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999 na Secretaria deDesenvolvimento Cientíco - SEDEC/MCT, época emque, entre outras muito importantes, lideramos aimplantação do Programa Piloto para a Proteção dasFlorestas Tropicais do Brasil - PPG7 com investimentosvultosos, a título de doação pelos países membros doG7, para a pesquisa cientíca e tecnológica ambientalda Amazônia brasileira.

    Tive a grata oportunidade de acompanhá-lo em

    grandes empreitadas, como na batalha peladiscussão, elaboração e aprovação da Lei 8.010,também conhecida como Lei Stemmer ou Lei Áureada Ciência Brasileira, por libertá-la dos entravespara a importação de equipamentos para odesenvolvimento cientíco e tecnológico do nossopaís, bem como nas longas negociações em Brasíliae Washington, ao longo de 1990, para a contrataçãode novo empréstimo junto ao Banco Mundial, BIRD,para a segunda fase do PADCT.

    Prof. Dr.Moacyr Rogério SensEngenheiro mecânico e

    Membro do Conselhode Administração

    da WEG | Motores,Automação, Energia,

    T&D e Tintas >WEG Brasil

    Stemmer e o MCTErnesto Costa de Paula

    Em 1996 estivemos na Alemanha participando dareunião dos países doadores do PPG7, buscando agarantia de novos recursos para o programa, o que defato veio a ocorrer em 1998, em Bruxelas na Bélgica,quando foi rmado o primeiro acordo de doação diretoentre a FINEP e a Comissão das Comunidades Europeias,sem a exigência de garantias do Tesouro Nacional, parauma nova etapa do Subprograma de C&T do PPG7.

    Em 1998, também em outro grande marco de suagestão no MCT, coordenamos a participação do MCTe seus institutos na EXPO 98, em Lisboa, Portugal,quando nos responsabilizamos pela montagem e

    implementação da EXPOMAR BRASIL no âmbitodessa mega exposição internacional.

    Hábil e convincente negociador, o Prof. Stemmersabia os momentos exatos em que se devia recuarpara poder novamente avançar, em seguida,com segurança, obtendo o convencimento dosnegociadores do outro lado da mesa.

    Por tudo isso e muito mais o Prof. Stemmer fez grandesadmiradores e discípulos por onde passou no Brasil,entre os quais me incluo com muito orgulho, seja emSanta Catarina, em Brasília, nos demais estados da

    federação e em diversos países no mundo.

    quirindo empresas já estabelecidas em países alvo ouconstruindo atividades fabris nestes países. Atualmen-te a WEG conta com liais em cerca de 25 países, dosquais, oito possuem unidades produtivas (Argentina,México, EUA, Portugal, Áustria, Índia, China e África doSul) e os outros 17 países têm escritórios comerciais.

    Em 2012 o Grupo teve uma Receita Operacional

    Líquida (ROL) de 6,2 bilhões de reais e atualmenteemprega mais de 28.000 colaboradores nos cincocontinentes, dos quais cerca de quatro mil trabalhamna WEG Automação.

    Prof. Dr.Ernesto Costa de PaulaDiretor de Gestão e

    Tec. da Informação,

    Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Cientíco e

    Tecnológico|CNPq, Ministério

    da Ciência, Tecnologia e

    Inovação > MCTI.

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    “O Auditório do Centro de Convenções Pedro Neivade Santana foi palco da solenidade de abertura do VIICongresso Nacional de Engenharia Mecânica (Conem2012), realizada na noite do dia 31 de agosto, em São

    Luís (MA). O evento, que acontece a cada dois anos,foi realizado pela Associação Brasileira de Engenhariae Ciências Mecânicas e contou com o apoio doInstituto Federal do Maranhão e UniversidadeEstadual do Maranhão.

    Na oportunidade o professor do IFMA e presidentedo Congresso, Keyll Martins, apresentou a ilha de SãoLuís, cidade que abriga o Instituto – espaço de ensinoque há quinze anos oferta o curso de EngenhariaMecânica Industrial, ressaltando que, juntamente

    com a UEMA, contribuem para o desenvolvimentodo estado. “Atualmente ambas possuem parceria emMinter e Dinter, o que consolida os conhecimentosna região e abre janelas para o futuro, haja vista

    a necessidade de ampliação e modernização dainfraestrutura aeroportuária, ferroviária, rodoviária eenergética”, disse.

    A reitora do IFMA, Valéria Martins, foi representadapelo pró-reitor de Extensão e Relações Institucionais,Marco Antônio Torreão, que recordou a participaçãocentenária e ativa do Instituto na formação deprossionais voltados, principalmente, para as áreasde indústria, o que favorece a qualicação da mão-de-obra nas áreas automotivas e de petróleo e gás.

    CONEM 2012

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    Gás e petróleo

    Um dos destaques do VII Congresso Nacional deEngenharia Mecânica (Conem), realizado em SãoLuis, no Centro de Convenções Governador PedroNeiva de Santana, foi o debate sobre a indústria dopetróleo e gás, no cenário do pré-sal. Especialistasda área discutiram sobre a qualicação de recursos

    humanos e formação da cadeia de fornecedores paraessa indústria.

    O professor do IFMA, Raimundo Barroso, alertapara o fato de que o período de implantação deuma renaria é de, aproximadamente, 10 anos eque o Maranhão deve aproveitar esse tempo paraformar seus prossionais e estruturar a cadeiade fornecedores. “Uma renaria envolve todauma cadeia que vai desde produção de válvulas,passando pelo fornecimento de água e chegandoaté a alimentação dos funcionários. Nós precisamosaproveitar cada um desses espaços para gerar

    desenvolvimento para o Maranhão”, ponderou

    Avaliação trienal

    Na noite do mesmo dia 01, pesquisadores da área deengenharia de todo o país debateram o “Processo deavaliação trienal dos programas de pós-graduação”,após palestra proferida pelos professores NeyYoshiro Soma (CTA/ITA) e Hélcio Rangel BarretoOrlande (UFRJ/COPPE).

    David C. ZimmermanO Prof. Dr. David C. Zimmerman, faleceu em Houston, TX, USA,na Terça-feira 10 de Abril de 2012, em sua casa. Prof. Zimmermannasceu em 11 de Maio de 1960, em North Tonawanda, NY (USA).Recebeu o título de PhD em Engenharia Mecânica da Universityof Bualo e nos últimos 20 anos era Professor da Universityof Houston no Mechanical Engineering Department. O Prof.Zimmerman era uma pessoa comprometida com o ensinoe a pesquisa, onde deixa um legado de formação de muitosMestres e Doutores, bem como, importantes contribuiçõespara a Engenharia Mecânica nas áreas de Dinâmica Estrutural,Análise Modal, Processamento de Sinais, Ajuste de Modelos,Otimização, Detecção de Falhas e Controle de SistemasMecânicos. O Prof. Zimmerman manteve uma estreitacolaboração com alguns colegas brasileiros, Prof. Dr. JoséMaria Campos dos Santos (Unicamp) e o Prof. Dr. Nivaldo B. F.Campos (Unifesp) em trabalhos de pesquisa e orientações deDoutorado e Pós-Doutorado.

    O prof. Ney Soma destacou a evolução das publicaçõesem revistas e o decréscimo de publicações emcongressos. Segundo ele, o importante no processoavaliativo do curso é que o orientando faça aprodução cientíca. “É necessário que os alunospubliquem”, sentenciou. Para o coordenador doevento, prof, Keyll Martins, é importante que todosos pesquisadores tenham essa meta. “Temos queenvolver o aluno, ele tem que estar presente naprodução cientíca”, armou.

    Encerramento

    A realização do Conem em São Luis foi umaforma de homenagear os 400 anos que a capitalmaranhense comemora este ano. “Esse congressofoi uma grande oportunidade para o Maranhãofazer parte dos debates mais atuais da área daengenharia”, disse Keyll Ribeiro, presidente doConem.

    De acordo com a organização, 1.190 artigoscientíficos foram publicados nos anais docongresso. “Tivemos excelentes resultados eem nome da organização do Conem, gostaria deagradecer aos nossos parceiros e, principalmente,ao IFMA e a UEMA, que deram todo o apoio para arealização do nosso evento”, afirmou Keyll.”

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    O sistema de avaliação da pós-graduação brasileira éexemplo de uma ação eciente, que colocou o Brasilnuma condição de destaque no cenário internacionalquanto ao desenvolvimento e crescimento de seusprogramas. Mesmo diante de desaos permanentese do alto grau de complexidade, tem-se conseguidoestabelecer parâmetros que atendem, em termos

    gerais, expectativas e perspectivas de quem avaliae de quem é avaliado, permitindo equilíbrio. Nesteponto, cabe ressaltar que na maioria dos trabalhosapresentados sobre o tema é comum referir-se aoscritérios de avaliação da Capes e, neste aspecto,o certo é que a Capes é o órgão que implantou eguarda com muito zelo, o “sistema de avaliação”da pós-graduação, demandado pela própriacomunidade cientíca, que teve a percepção deque conhecimento, ciência e tecnologia seriam econtinuam sendo o bem maior das nações. Sendoassim, a Capes expressa de forma abrangente elegítima um sistema eciente e bem sucedido.

    Portanto, ao se falar de avaliação e avaliados emtermos de pós-graduação no Brasil deve-se ter acerteza de que estar-se-á falando de semelhantesem postos diferentes, sendo a Capes um exemplo deinstituição democrática, que equaciona expectativasde crescimento da sociedade cientíca, considerandoao mesmo tempo as metas de crescimento de nossopaís e da sociedade como um todo, com destaquepara o fortalecimento da indústria e tecnologiaquando o foco são as Engenharias.

    Dentre os vários critérios para atribuição de notasno processo de avaliação dos Programas de Pós-Graduação (PPG), observando-se quantidades,qualidade, coerência e consistência de ações eproduções com a proposta do curso e distribuiçãodentre os docentes que constituem determinadoprograma, o Qualis é o conjunto de procedimentos,

    utilizados pelo sistema de avaliação que leva àestraticação dos veículos de divulgação da produçãointelectual dos programas de pós-graduação strictosensu. Foi aplicado pela primeira vez na avaliaçãotrienal de 1998 a 2000 e trouxe consigo o desao doaperfeiçoamento constante e adaptativo1,2. Diversosajustes e modicações foram feitas, sempre na buscapor eciência e critérios de classicação claros, quevalorizassem os programas e o próprio sistema deavaliação dos PPG, mas, ainda assim, o Qualis despertacuidados especiais por ser um item de fundamentalimportância para avaliação.

    Desafios e Impactos do QualisAinda existem muitos mitos e falta de entendimento arespeito do Qualis. Desde sua concepção, o Qualis deveexpressar, no entendimento das comissões de cadaárea, a relevância que traz a divulgação de trabalhosnum determinado veículo de divulgação cientíca paraevolução do conhecimento na área em questão2. Essalosoa se torna ainda mais clara lendo-se os documentosde área das Engenharias III, onde consta o seguintetexto: “ A Lista Qualis se aplica tão somente à Avaliação de

    O Qualis das Engenharias III:Estratificações e Impactos na Avaliação Trienal

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    Programas de Pós-Graduação, não devendo ser utilizada

    para a avaliação do desempenho individual de docente oupesquisador ”.

    Após esta advertência, o primeiro critério deestraticação estabelece que somente periódicos dosquais docentes dos Programas de Pós-Graduação dasEngenharias III já publicaram, integram o Qualis desta

    área. Portanto, apesar de algumas queixas, a losoado Qualis, no sentido de avaliar programas e procurarlevar ao desenvolvimento das áreas de conhecimento éum critério extremamente positivo, que inevitavelmentetem sido utilizado com outras nalidades. Neste aspecto,vêm os desaos antigos

    1, que precisam ser exercitados

    por todos, na busca por soluções que aprimorem ocritério Qualis ou que leve ao desenvolvimento de novoscritérios que possam ser utilizados conjuntamente.

    As diculdades de estabelecimento de critérioshomogêneos, numa mesma área de conhecimento,é sem dúvida um grande desao. As Engenharias IIItêm programas de Mestrado, Doutorado e MestradoProssional nas áreas de Engenharia Mecânica,Automotiva e Automobilística, Aeroespacial, Aeronáutica,Oceânica, Naval, Petróleo, Energia e PlanejamentoEnergético, Produção e Pesquisa Operacional. Semdúvida, à primeira vista parece inviável a busca porcritérios que atendam as áreas individualmente. Noentanto, a pergunta é: Até que ponto seria bom para a Pós-Graduação a criação de critérios que causem dispersãoe perda de foco? Essa pergunta é extremamenteimportante porque muitas outras variáveis fazem partedo problema. Oliveira (2005), apresentou os seguintes

    desaos para o sistema Qualis das Engenharias III: i) Comovalorizar publicações de impacto nas transformaçõesindustriais; ii) Como estimular o desenvolvimento deperiódicos fortes no Brasil; iii) Como evitar que o Qualisrepresente um estímulo exagerado à concentração desubmissões aos mesmos periódicos A1, A2 e B1; iv) Comopodemos melhorar os critérios de classicação?

    Além destes, temos que considerar que os critérios deavaliação como um todo, buscam garantir a expansão edesenvolvimento dos PPG por caminhos que contemplemsimultaneamente demandas da sociedade, crescimentosustentável do país, redução de desigualdades sociais,

    progresso da ciência e desenvolvimento tecnológico eredução de desequilíbrios do próprio Sistema Nacionalde Pós-Graduação3.

    Conclusões

    O Qualis, assim como qualquer outro critério deavaliação, gera tendências e, inevitavelmente, acabasendo utilizado para além do que se pretende avaliarde fato, sendo necessário um acompanhamentopermanente de todos para garantir sua contínuaevolução sem a criação de entraves que impeçam osurgimento de novos horizontes. Uma vez que estescuidados vêm sendo tomados desde sua criação, temse mostrado eciente e, assim, existe a necessidadebásica de uma maior compreensão do Qualis paraque se tenham proposições que contribuam paraaperfeiçoar os critérios de estraticação. Apesarde queixas por parte da comunidade cientíca,dentro de suas nalidades e objetivos, o Qualistraz impactos positivos para as Engenharias III, namedida que cumpre a nalidade clara de promovera concentração de divulgação cientíca de áreasans em determinados veículos, contribuindo para o

    fortalecimento e autoconhecimento da própria área.Neste aspecto, o surgimento de periódicos fortes noBrasil ainda não é o que esperávamos, ao contráriodo que se poderia imaginar, como uma tendênciapromovida pelo Qualis, no sentido de haver umacorrida para publicação nos periódicos