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ELIZABETH FRAN9A :'ABDANUR -,;
OS "ILUSTRADOS" E A POL!TICA CULTURAL EM SAO PAULO 0 DEPARTAMENTO DE CULTURA NA GESTA.O MARIO DE ANDRADE
( 1935-1938)
Eal.,. eoxampla.r corr ... spond& b. radcv;ao final. da Disserta.;:l:lo defandi.da. a o.provo.da pala. Julga.dora. am 2/:lZ/PZ.
Di.ssertcu;:ao a._pres&nla.da. d.ao Hi.st6ri.a. Fi..tosofi..a. e
d&
do
da Uni. veorsido.do Campi.nas.
ORIENTADOR: PROF. OR. JORGE COLI \'; \\'\ I - .
hfestro.do D.;;opa.rla.m&nto
Institute de Huma.na.s
ESlla.duo.l d.
AOS MEUS PAIS, JOSS; E ABIGAIL
AO ANTONIO.
.em. q.:ue a.
6M.,
arweq:ubu:.i..a.
.()~ ~~.naL. ~.oM.
4-"'1.1 q n.[.uela..m,.e,ntq n11.b . f!.Qdvl,d,
1NDICE
Introducao ...................................................... 1
Capitulo I: Os "ilustrados" de Sao Paulo
I .1. EducacEio e "democracia necessaria" ..................... 6
!.2. A "nacionalidade" que vem de Piratininga .............. 16
1.3. F6.bio Prado contra os "p.ntanos da mentalidade" ....... 29 1.4 .. 0 Departamento de Cultura e a "mazela espiritual" ..... 45
Capitulo II: A criacao do Departamento -de Cultura
II.l. Entre os "ilustrados" e a modernisrno ................. 53
11.2. A legislacao municipal ............................... 68
11.3. Cultura, lazer e ci6ncia: a cidade sem conflitos ..... 89
Capitulo III: Mlirio de Andrade: a arte e a "humanizaco"
do homem ........................... .. 121
ConclusB.o .................................................... 157
lnstituicOes de Pesquisa .................................... 160
Fontes cte Pesquisa ....................................... 161
Bilbiografia ................................................. 162
Anexos
SUMARIO
Esta pesquisa trata da politica cultural na cidade de
Sao Paulo durante a administracao do Prefeito Fabio Prado
(1934-1938). Especificamente, trata da cria9ao do Departamento Municipal de Cultura e analisa as linhas gerais dos trabalhos
realizados par este 6rg8o durante a gestae de Mario de Andrade,
seu primeiro diretor .
AGRADECIMENTOS
Do meu ingresso no Mestrado em 1985 a finalizaoao deste
trabalho trilhei muitos caminhos e "descaminhos". Motivac5es de
ordem diversa ajudaram-me no entanto a manter uma persistencia minima necessaria. E a muitas pessoas devo agradecer o apoio que
me deram.
Ao Professor Jorge Coli, pela disponibilidade para
orientar urn trabalho que se arrastava ja per algum tempo. Sua
atencao, cuidado e solidariedade no acompanhamento da pesquisa
foram meu maier incentive. A ele devo a possibilidade de concluir
a tese. Infelizmente nao pude corresponder a muitas de suas
preciosas observac5es e sugest5es. Mas os meritos que por acaso
este trabalho venha ter sao tambem seus.
A Professora Tele P. A. Lopez devo a primeira palavra
encorajadorapara iniciar um estudo sabre Mario de Andrade. Algumas conversas rapidas mas precisas pelos corredores do IEB
orientaram-me na busca da documentacao do Arquivo Mario de
Andrade e na elaborac8o das primeiras reflex5es. Sua participacao
no exame de qualificacao foi muito valiosa. Agradeco tambem a
compreens8o nos mementos finais da entrega da tese e sua presenca
na banca examinadora.
A Professora Vavy Pacheco
con vi te para participar do exame de
Borgeb, por ter
qualificacao e
aoeito o
da banca
examinadora, pela leitura cuidadosa da primeira versao da tese e
pelas sugestOea e esolarecimentos que em muito contribuiram para
urn amadurecimento do texto final. Vavy tambem soube compreender
os contratempos de Ultima bora.
Ao Professor Jose Roberto do Amaral
convivencia e amizade ao longo do Mestrado em
Lapa, pela
trabalhos de
pesquisa temporAries no Centro de Mem6ria-Unicamp que me
proporcionaram um saudavel crescimento profissional.
A Professora Jeanne-Marie Gagnebin, pela amizade e
pelas aulas maravilhosas sabre Walter Benjamin que justificaram um ano de Unicamp pouco produtivo para a tese.
A Professora Amn8ris Maroni, .Pela forte presence em
momentos importantes da graduacao e do Mestracto.
Ao Professor D6cio A. M. de Saea, pela primeira
orientacao na minha estr8ia como pesquisadora.
Ao Professor Hector Bruit, pela orientacao inicial
deste trabalho.
Aos funcionarios das diversas instituicOes on de
realizei mintl.a pesquisa, que foram aempre solicitos e encurtaram
muitos caminhos. Em especial, meus agradecimentos & Zelia, bibliotecaria do Arquivo Municipal de Sao Paulo, A Maria Izilda
do IEB/USP e ao Wander do antigo CIDIC/Unicamp.
Aos funcionarios do Centro de Mem6ria-Unicamp, Cidinha,
Beth, Eliana, D. Zenaide, Paula, Sr. Oswaldo, Paula e Barbara,
pela camaradagem em todos eases anos.
Aos funcion
burocraticos resolvidos.
Ao CNPq e a Fapesp, pelas balsas de estudos concedidas
durante a realizaQ8.o deste trabalho. Aos amigos, Jose Auri, Laerte~ Flavia Leao, CS.ssia
I Denise, Dora Isabel, Clercia, Saralivia, Fernando Marcilio,
Eunice, Martinhop Cida e Silvana, imprescindiveis sempre.
Aos meus "irmaos" de Campinas, Ana Paula, Fl8.via
Cristina, Fernando Figueira e Marcos Alberto, pela amizade
incondicional.
Aos meus primos, Maisa, Bethina, Saulo, Hilton e
Nidinha, pela longa amizade e pelos bons mementos de ferias em
Araxa.
Aos meus irmaos, Danilo, Ricardo, Eduardo, Raquel,
Nasser e Maria Tereza (minha irma "postica"), pelo carinho e for9a constantes.
As minhas sobrinhas, Juliana e FlAvia, porque sao
criancas e iluminam a vida.
Aos meus pais, pelo afeto, compreensao, incentive
e apoio sem limites.
Ao Antonio, pelo carinho, solidariedade, confianca e
companheirismo. E tambem porque voce existe .
INTRODU
Paulo, os arquivos das Secretaries Municipals de Culture (em especial do seu Departamento do Patrim8nio Hist6rico), Educacao, Bem-estar Social e Administracao forneceram a documentacao
complementar que permitiu o l~vantamento das informacOes sabre o
Departamento de Cultura naqueles arios. Os documentos do Arquivo
MArio de Andrade, a colecao da Reyista dQ Arguiyo Municipal ~ ZA2 Paulo e a correspondencia de Mario de Andrade constituiram o
.material basico da pesquisa. A partir dai pudemos recompor,
dentro de muitos limites certamente, a hist6ria da criacao do
Departamento de Culture, que se deu durante a administraQao de F
que os divide. JS nease campo que e preciso
foca.lizar- a. a.tencl1o. '
Portanto, a chamada "dissidencia oligArquica", da qual
F&bio Prado foi um dos representantes, compartilhava dos mesmos
principles politicos de seus adversAries e lutava pelos mesmos
interesses. Porem, no que se refere as questOes politicas mais
imediatas, eases liberals "dissidentes", visando a conquista do
governo, em certa medida tentaram formular um "projeto alternativo de dominaolfo social". 2 Part indo do pressuposto de que no regime republicano era inevit6.vel uma maier pariticpacao
poli-tica dos cidados, tomaram para si a bandeira da democracia, procurando ao mesmo tempo definir condicOes "seguras" para o seu
funcionamento. Neste sentido, defenderam uina democracia "em que o
lugar privilegiado deatina.va-se aos grupos ilustrados da
burguesia paulista que estava fora do ciclo do poder", 9 isto e, a prOpria "dissid6ncia olig6.rquica" afastada do PRP. Aos outros
grupos caberia uma participaoao limitada, que deveria ser
garantida por um programa educacional que impedisse as atitudes
maiB" "radicais" . . .
Verificamos entgo que educa~ao e cultura ocuparam um
BORGES, Vavy Pa.ch&co. OETt)LJ:O VAROAS E A OLJ:OARO.UJ:A PAULISTA: Hisl6ria de uma eaper.no;:a. e mui.toso deaenganoa a.lra.v~a doe jorna.ig do. oli..ga.rquia :lP26-1:P32. sao Paulo, Edi..t.orp. Bro.si.li.oEtnae, :ls:>?P. p. 1.2~ z
PRADO, Maria Ligi..a Co&lho. DemocrO.lico p. :1.'74.
do
p. t?9
sao Paulo A DEMOCRACIA
(1P26--1P34). sao
3
ILUSTRADA: Pa.ulo,
0 Ati..ca,
Partido 1906,
imacRectangle
lugar estrategico no projeto politico desses liberals paulistas. AlBm do Departamento de Cultura, eles for am diretamente
responsaveis pela criacao da Escola Livre de Sociologia e
Politica em 1933 e pela criacao da Universidade de sao Paulo em
1934. Por esta razao, consideramos oportuno chamar de
"ilustrados" este gru:Po da elite paulista que depois dos
acontecimentos de 32 esteve representado no governo Armando de
Salles Oliveira e na administracao de F
documentos, optamos pela atualizacao do Portugues, exceto nos
textos escritos por Mario de Andrade que tinha uma gramatica
multo pr6pria que julgamos importante conserver. Utilizamos aspas e italico para todas as citac5es, tanto dos docurorntos como da
bibliografia. Quando alguma expresso retirada dessas citacOes aparecem novamente no texto. o mesmo procedimento foi adotado. Em
alguns casas, porem, estas expressOes estao apenas entre aspas
indicando uma intencao de incorpora-las criticamente ao texto.
5
Capitulo I '
OS "ILUSTRADOS" DE SAO PAULO
1.1 Educa~.llo e "democracia necessAria"
Desde o inicio da RepUblica, o jornal Q Estada ~ S-Paulo se apresentava aos seus lei teres como "um 6rg{Jo de oposi.c!Jo
s.os governos constituidos".'1. Sabemos no entS.nto que as criticas
freg_uentemente veiculadas em suas p
urn doa principals canals de expressS.o dos "ilustrados". Atraves
dele, seu diretor JUlio de Mesquita Filho promoveu uma campanha
contra o que ele chamou de "oligarquias dominantes", isto e, os
grupos organizados nos partidos republicanos regionais. 0 dominic
exercido por eases grupos, segundo JUlio de Mesquita Filho,
restringia a participacao das oposicOes na politica e assim
inviabilizava a consolidacao da "democracia" no Brasil. No
entender do jornaliata, a "democracia" compreendia dais fatores bAsicos: as oposicOes, que garantem a altern&nbia de grupos no
governo, e o federalismo, que contempla as diferencas regionais.
As oposicOes, no entanto, devem se restringir aquelas
que nao ameacam a ordem social estabelecida, enguanto as
diferencas regionais contempladas pelo federalismo dizem respeito
a diversidade dos interesses econOmicos dos proprietAries de cada
estado. Segundo JUlio de Mesquita Filho, a "democracia" deve
resguadar o progresso alcancado pelos estados de economia mais
forte concedendo-lhes maier represe,ntatividade junto ao poder central. A partir dessas concepc5es, JUlio de Mesquita Filho
procurou formular o problema da implantacao da "democracia" no
Bras.il atribuindo um papel de lideranca ao e"stado de So Paulo ..
neste processo.
Num artigo publicado no dia 15 de novembro de 1915,
JUlio de Mesquita Filho responsabilizou as "oligarquias
dominantes" pela "arise nacional ", que segundo ele era uma "crise
politica" gerada pela aboliceto dos escravos e pelo fim do
7
2 Imperio. Para o jornalista, a Lei Aurea de 13 de maio de 1888 havia colocado "em olrcula.
seus aderentes na massa homogBnea de cidadaos
livres, na sua malaria lncultos, mas dotados de
bom sensa suficiente para penetrar a singeleza dos p1incipios em torno dos guais se travavam
OS debates politicos da epoca# " 5
Esta "singeleza dos principios", segundo o jornalista, diz respeito a facilidade com que se formou naquela sociedade
"uma opiniao pUblica esclarecida ", que concordava em manter "tl
dist.ncia a frat;;iio semi-barbara da populat;;o", n8.o trazendo para o debate politico o problema da escravid&o por ser ela urn
oonsenso entre os "cidadilos li .. 6 vres . Assim, apenas questOes
menores ocupavam os politicos, questOes estas .quase sempre
geradas pela "tendencia autocratica do brasileiro, herdada de
Portugal e transmitida de gera~o a gera9o, pelo trato secular .. ? 0 com o escravo .. Imperio, portanto, conheceu apenas estes
conflitos menores neutralizados pelo imperador que. atraves de
seu "espirito liberal e oulto", 9 exerceu um importante papel
unificador.
Assim, segundo a interpretacao de JUlio de Mesquita
Filho, o Brasil do seculo XIX era um pais em "condi90ea
" i.d&m, i.bl.dem.
6i.dem, i.bi.dem.
? i.d&m, i.bi.d6-m.
8i.dem, i.bidom .
9
J.dentJ.ce.s B:s de todos os paises onde vigorava, cheio de
p1eatisio~ o parlB.menta.rismo",P nao conhecendo a. necessidade de implantacao da democracia durante o Imperio. Mas como a abolic8o
doa escravos provocou um enorme desquilibrio na sociedade e o
regime republicano nao s6 nao conseguiu controlar como agravou
esse ai tuacgo, a "democracia .~ se impos enquanto (mica alternativa a reinstaurac8o da estabilidade politica e da paz
social. Neste caso, a ."democracia" nS.o era um principia politico
defendido pelo jornalista. A "democracia" da qual falava JUlio de Mesquista Filho era um mal inevitavel que resultou das mudancas
ocorridas na sociedade brasileira com a substituicao do trabalho
escravo pelo trabalho livre e com a derrubada da Monarquia e o
advento da RepUblica.
A partir desta posicao assumida par seu diretor, Q Estado ~ EaQ Paulo entrou na campanha a favor do veto secreta par entender ser este a primeira condicao para a "moralizaoao dos
costumes pol~ticoa'~1 no Brasil. Esta luta justificou tumbem 0 apoio do jornal ao Partido Democratico fundado em 1926 e cuja principal bandeira era a institucionalizacao do voto secrete.
Segundo os organizadores do novo Partido, seu objetivo era "obter para o povo a livre exercicio da aoberania e da escolha de aeua
representantes . . .t2 Nas eleic5es municipais de 1928, Q Est ado de.
P. tdem, ibidem.
H CPELATO, M. H. e PRADO, M. L. 0 BRAVO MATUTIND. op. oi.t., p. 90
12Jrda.ni.f&alo do Po.rt.i.do D&mocrdt.i.oo''. Ci.ta.do PRADO, M. L. op.
ei.t.., p. "
10
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imacRectangle
EaQ Paulo, apoiando abertamente o Partido Democratico, aguardou o resultado das votav5es com a seguinte avaliacao sabre a disputa
entre o Partido Democratico e o Partido Republicano Paulista:
"Den tro de algumas horas So Paulo terti mostrado se e uma democracia ou UJJJa senzala
( . .. ) . '"
0 PRP foi o grande vitorioso nessas eleiv5es. 0 Partido
Democratico nao conseguiu eleger um Unico vereador e atribuiu
sua derrota a corrupvao e a arbitrariedade do PRP. 14
As criticas do jornal aos republicanos paulistas que controlavam o governo do estado e o governo federal aparecem
tambem em 1922 numa s8rie de artigos de JUlio de Mesquita Filho
intitulada "A Comunhao Paulista". Nesses artigos o jornalista afirma que OS politicos de sao Paulo haviam se afastado da
"comunh8o .~:s porque se mostraram incapazes de solucionar os principals problemas da sociedade brasileira e de manter a
lideranga de'sao Paulo sabre os outros estados. JUlio de Mesquita
Filho explica que esta "comunhao" era a lideranca que sao Paulo
conquistara atraves da acao her6ica de seus bandeirantes que, ao
contrario dos politicos da epoca, possuiram larga "vis a politica" quando juntaram "a.os domini as da. coroa ( . .. ) lire a.
'" . Ct.ta.do pol' N.. H. Ca.peta.to o M. L. Prado. op. cit. p. 94.
Cf.. PRADO, M. L. op cit. p. ?d ..
MESQUITA FILHO, J\lti.o de, "A Comunhao Pautista., i.n: REVISTA DO DRAS::IL, n"" 04, de-ze-mbro do 1922. p. :976
11
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cinco vezes superior B.queles". 16 sao os bandeirantes paulistas,
portanto, os responsaveis pela constituio8o da nacao brasileira.
Como outras liderancas da "oposicS.o democr
0 governo de Sao Paulo, entretanto, foi entregue a um interventor
"tenentista", Joao Alberto Linse Barros. Chamados a compor com
este severna, os "democrB.ticos" ficaram numa posioEio subalterna
em relacao ao interventor e, em abril de 1931, rompem
oficialmente com ele. Segundo a pesquisadora Maria Ligia Prado,
entre varios membros do Partido havia uma "crenoa de que Joo Alberto tinha simpatias pelo comunismo e estava abrindo tWJ
precedente perigoso com suas atitudes muito "paternals" com
relao8o a classe ope~8~ia . . ~ Esta atitude do Partido deu inicio 8 reaproximacao entre os "democrS.ticos" e seus antigos adversaries
politicos do PRP numa ag8o conjunta contra o governo de GetUlio Vargas. "DemocrB.ticos" e "perrepistas", com grande apoio d~Q
Estado de aQ Paulo e a adesao de amplos setores da classe media
paulista, desencadearam um movimento de defesa dos "interesses de
So Paulo" que resultou na luta armada dos "paulistas". contra o governo federal em 1932:
"As divergnoias partiddrias eram entendldas comq temas menores. ( . .. ) Os interesses
eoonOIDicos e socials defendidos pela olasse dominante de So Paulo se transformaram na grande batalha de toda a eooiedade paullsta;
particula~mente BS classes medias
interiorizara.nJ esses valores como se fossem
seus e o gz>i to de "tudo par So Paulo" se
2 . PRADO, M. L., op. Cll. p. !04
13
imacRectangle
espalhou pela sociedade como o Unico caminho de
1 - ~ . i ... sa va~ao e regenera~ao nac~ona B.
Tres meses depois. as forcas paulistas foram derrotadas
pelas forcas federais. Mas a resolucS:o do soverno Vargas de
convocar eleicOes para uma Assembl8ia Nacional Constituinte no
ano de 1933 foi entendida como uma vit6ria dos
"constitucionalistas"de 32. Unidos em torno de uma "Chapa Onica"
e com o apoio d'Q Estado ~ EAQ Paulo, os "revolucion6.rios" elegeram quase toda a bancada paulista na Assembl8ia. Com esta
demonstracS:o de forca politica, os "paulistas" firmaram um acordo
com o governo de GetUlio Vargas em troca da preservacao de seus
principals interesses:
"As recompensa.s sffo certamente tentadora.s: o governo do estado para a Chapa Onica e uma
bancada disposta a colaborar com Vargas 7 ainda
que dentro de certo6 limite6. ,;z2
Este acordo abriu caminho para a nomeacao, em agosto de
1933, do candidate da Chapa Cnica Armando de Salles Oliveira
para interventor federal em sao Paulo. Em 1934, varies
ex-integrantee do Partido Democr&tico, juntamente com seus antigos adverstirios do PRP, organizam 0 Partido
Zt. . . i..dem, i.b~dem. p. :U.4
22 OOME:S:, Ang&la. M. do& Ca.etr-o &l o.tii, REOIONALISMO E: CEN'TRAL.lZACA.O
POL!TICA: Pa.rt.i.dos e Conet.i.tui.nte Nova. Fronl.:.i.ra., t.POO. p. 2aa
noo
14
a nom so. Rio do Jane.i.ro,
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imacRectangle
Constitucionalista sob a lideranca de Armando de Salles Oliveira.
0 novo Partido preservara muitos doe ideals do Partido
Democratico relatives A redefinic8o das bases de dominacao
social. Como os "democrB.ticos", os "constitucionalistas" viram os I
conflitos socials a partir de uma "perspectiva de gue, em certas
circunstBncias~ conceder - dentro de llmites precisos - era mais
efioaz que reprimir . . ~s Esta era a resposta dos "demcrB.ticos" a mobilizacao operaria daqueles anos. Atentos a "luta ideol6gica
que ,jti se travava com o socialismo ", eles incorporaram as ideias de "harmonia social'' e "congrao8111ento das classes~ para anular as id8ias de dominacao e exploracao de classe divulgadas pelos
socialistas. E a "democracia" defendida por eles Beria mais urn
mecanisme desacelerador da mobilizacao politica dos diversos
grupos da sociedade, especialmente os operarios. Era uma
democracia que limitava a participacgo politica da maioria ao
exercicio do direitO de votar e, mesmo_assim, essa participa98o
deveria Ber resguardada por um "projeto politico-pedag6gico gue
pressupfJe a educB.ctro como foro a capaz de reformar a sociedade ". 25
Ao interferir diretamente na consci&ncia do cidadao. a educacao
serviria como instrumento de prevencao nos rumos de sua atuacao
politica.
Portanto, o que caracterizou essencialmente o projeto politico dos "ilustrados" representados pelo Partido DemocrAtico
23 PRADO, ld. L. op. ci.L, p. 1?4
2< idem , p. 165
25 idem, p. 24
15 .
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foi a crenca de que a "democracia", da qual nao poderiamos
prescindir~ deveria se tornar uma realidade no Brasil desde que o
cidadao fosse "educado" para exerce-la dentro de limitee que nao
colocassem em risco a ordem social estabelecida.
1.2. A "nacionalidade'' que vem de Piratininga
Depois do movimento de 32, quando "democraticos" e
"perrepistas" deixavam de lado as antigas divergmcias em nome da
"unidade paulista", o aperfeicoamento das "elites dirigentes"
como solucao para os problemas politicos passou a ser o centro
das preocupac5es doe ''ilustrados". Quando criticou a "politica militante" de sao Paulo em seus artigo's de 1922, JUlio de
Mesquita Filho havia apontado a "reserva" desses politicos em
relacao a Ciencia Social como urn indicador de sua desorientacao e 26 incapacidade para governar. A Esc.ola Livre de Sociologia e
Politica, que seria criada dez anos depois dessa declaracao,
teria par finalidade superar, atraves do conhecimento cientifico
da r.ealidade proporcionado pelas CienciaB Sociais, a acao dos
partidos na solidificacao de governos mais estaveis e mais
habilitados para manter a ordem social.
Fundada a 27 de maio de 1933, a Escola Livre de
Sociologia e Politica foi concebida como a nova arma das "elites
paulistas", naquele momenta "reconciliadas", contra a ascendncia
26 ,. d h ,. . Cf. MESQUITA FJ:LHO, J\l l.O e. "A Oom nao Pa.u l&la.". J>. c\.l.
16
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do governo federal sabre o estado de Sgo Paulo ap6s a derrota do
movimento de 1932. Segundo os idealizadores dessa 27 Escola, ela
foi criada num memento em que Sao Paulo "estava entregue a uma
administra8o est1anl1a ao nosso meio e desconhecedo1a das nossas
neoessidades. ,_;zo Portanto, sua criac-S.o teve por objetivo principal promover o "aperfei9oamento do governo da nossa terra" atraves da "forma98o de uma elite numerosa e disoiplinada~ sobretudo de administradores e funcionlirios tecnicos para o servi9o pUblico". 2 " Ou, segundo Roberto Simonsen, um de seus fundadores, a Escola
teria por finalidade "fomentar a criago de verdadeiras elites administrativas ", 3 isto e, governantes gue realmente
representassem os interess~s das "elites paulistas".
A formacao de tecnicos e administradores especializados
para o exercicio das func5es pUblicae foi a estrat8gia escolhida
por ess~s grupos para 0 restabelecimento da forca politica de sao
Paulo atraves da demonstracao de uma maior "eficiencia" de seus
governapteis:
"J&. se foi o tempo em que o Estado desempenhava ..
27 Eslo.vo.m
o simples papel de policial~
&nlre OS repreeentantes
tal como
Escola., Armando de Sa.Ll.es Oli.vei.ra, Cantldi.o d... Moura
R
fum;:o era encarada sob o liberali.smo absoluto. Hoje os governos precisam tell multo maiores conllecimentos tecnicos . . ::u.
Urn ano depois da criacao da Escola Livre de Sociologia
e Politica e ja com Armando de Salles Oliveira no governo do estado, os "ilustrados" investiram na fundacao da Universidade de
Sao Paulo, cujo projeto fora inicialmente formulado pelo jornalista JUlio de Mesquita Filho e pelo educador Fernando de Azevedo quando procuravam soluc5es para 0 problema da
"democracia" no Brasil. No artigo "A Crise Nacional" de 1915,
JUlio de Mesquita Filho havia apontado como uma das soluc5es para
esta "crise" resolver o "problema educacional" do povo
brasileiro. Para isto, era precise criar universidades para a
formacao de nossas elites intelectuais que se responsabilizariam
entao pela manutenoao do ensino secund
sabre a InstruQ.3.o PUblica em sao Paulo" coordenado por Fernando de Azevedo. Ap6s constatar uma enorme desorganiza9ao do ensino e
atribui-la a ausencia de uma "elite orientadora" do sistema
educacionai, Fernando de Azevedo concluiu haver apenas duas saidas
para solucionar o problema: "ou n6s eduoamos o povo para que dele
Burjam as elites ou formamos elites para oompz~eenderem B . necessidade de educar o povo.
As avaliac5es de Fernando de Azevedo vao ao encontro
das propostas de JUlio de Mesquita Filho. Tanto urn quanta outre
apontam uma inter-relacao entre politica e educacao. Se para o
jornalista a reorganiza9Eio do sistema educacional solucionaria o problema politico brasileiro, no "Inqu&rito" Fernando de Azevedo
concluiu que a desorganizacao do ensino era urn reflexo da
precaria situacBo de nossa vida politica. b pedagogo propOs entao uma "politica de educa98o" a: ser definida por uma "elite
orientadora ", chegando ao mesmo ponte a que chegara JUlio de
Mesquita Filho. Para mudar a situacao politica do pais era
precise educar o povo e elevar 0 nivel cultural dos governantes.
Para isto era precise organizar o sistema de ensino que, por sua
vez, raqueria a formacao anterior de uma "elite orientadora ". A
escolha da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras como centro da vida universitaria constituiu o ponto basico do projeto de criacgo da Universidade de S~o Paulo. A esta Faculdade caberia
former a "elite orientadora" encarregada de organizer, segundo
JUlio de Mesquita Filho, "um ensino secundtirio capaz de susoitar
sa CARDOSO, ll'li'tne. A UNIVERSIDADE DA COMUNHA.O PAULI&TA. op. ci.t.
P- 20
19
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valorea e capacidadea em condioOes de constituir wna a6lida elite
dirigente ". 34
0 projeto da Universidade se concretizou com sua criacao em janeiro de 1934 no governo de Armando de Salles Oliveira. Segundo JUlio de Mesquita Filho, os acontecimentos
antecedentes a nomeacao de Armando de Salles Oliveira foram
decisivos para que os "ilustrados" optassem por uma estrategia de
soverno que tivesse como sustentacao o ensino superior e a
formacao das elites intelectuais, ficando a questao da
participaoao politica levantada nos anos dez e vinte relegada a
segundo plano:
"Quatro anoa de eatreito cantata com os meioa
em gue se moviam as figuras proeminen tes de am bas as facr;:Oes em luta levaram~nos a oonvic980 de que 0 problema brasileLro era,
Bntes de mais nada~ um problema de cultura. Da:I
a funda9lfo da n6saa Universl.dade e oonsequentemente a cria9o da Faculdade de
. . F 'l f' Cl" L t ~' 1. os_o 1.a, r;;:flCl.aa e e rB.s
Mas se os "iluBtrados" elegeram como principal problema
politico do Brasil o "problema cultural", este ficou no entanto
"0 di.ee:ureo do Dr. JUlio de Meequi.t..a Fi.l..ho", REVISTA D-0 ARQ.UZVO
MUNZCZPAL, v. xxx:r:r.
95 i.dem, i bi.dam.
sao J>a.ul..o, nepa.rta.menlo do Culturo., faverei.ro/:l937,
20
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imacRectangle
submetido as necessidades politicas imediatas de controle da
mobilizacao operaria e de contencao do avanco do movimento
comunista naqueles anos. Quando puderam concretizar seu projeto politico ancorado na educacao e no desenvolvimento das Ciencias
Sociais, os "ilustrados" buscaram consolidar uma hegemonia
politico-cultural que, a partir de So Paulo, pudesse depois se
estender a todo o pais.
Durante as comemorac5es do aniversario de sao Paulo em
janeiro de 1936, algumas semanas depois da chamada "Intentona Comunista", Armando de Salles Oliveira pronunciou urn discurso
multo significative a este respeito e deixou clara que a luta
politica contra o comunismo deveria se dar principalmente no
campo ideol6gico e cultural. 96 Dirigindo-se as "classes ermadB.s dB.
na98o" o governador reconheceu o papel dos-militares na repressao
ao levante comunista ocorrido em novembro de 1935. Como candidate
"paulista" a PresidEmcia da RepUblica, procurou anular a imagem
negativa .de Sao Paulo deixada pela derrota do movimento
constitucionalista de 1932. Juetificou ent.o 0 carB.ter separatista do movimento atribuindo ao regionalismo a forca que
mant_em a unidade nacional pols, segundo ele,- se o regionalismo
traz em si o "instinto de plftria" comum a todas as regiOes do
pais, "lange de amorteoer a un.idade nao.ional~
oolorido. ,,9?
36 "Notavel ora.c;;:ao do Ooverna.dor Dr. Armo.ndo do
d.:i-lhe vida e
Sa.tlee no Taa.lro Muni.ci.pa.l", REVJ::S::TA DO ARQUJ:VO MONl:Cl:PAL, Sdo
oli.vai.ra., Pa.ulo.
Papo.rla.manlo da Cultura. G de RacNa36, Tod= a_g ci.ta.:tra.tda.s de.!ilte di.scurao. 37
veja. Co.rlos. MARrO CONTRA
o.n6.li.eao do MACUNAiMA,
mesmo
sao
21
di.o;;acurG~o Po.ulo/Ri.o do
v. XJ:X,
SANDRONl:, Ja.n&i.ro,
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Neste sentido, Armando de Salles Oliveira afirmou que,
ao contr8.rio do movimento de sao Paulo, a "ac-lfo bolclleviata" de
1935 tentou "romper e extinguir" o sentimento "demoorlitioo e
cristo .. que o brasileiro traz "na alma". 0 insucesso do lev ante,
segundo o governador, foi uma prova da debilidade em que se
encontrava o movimento comunista internacional j8. abalado por dois fatores: os desastrosos resultados de sua implantacao na
RUssia e o desaparecimento do capitalismo que havia provocado a
sua emergencia. Para Armando de Salles Oliveira, o ''oapi taliemo
desenvolvido" p6de oferecer a todas as pessoas as condicOes
minimas de sobrevivmcia, e o progresso "material e intelectual ''
proporcionado por ele superou OS desequilibrios e as
desumanidades do "velho capitalismo ".
Nao desamparando os mais necessi'tados, o capitalismo,
segundo o governador, teria realizado o sonho comunista de
promover a igualdade entre os homens, porque "o capi talismo,
perdendo o seu imp
dever social". Os patrOes teriam se convencido de que era precise
"conceder" alguns direitos aos trabalhadores para garantir a
sobrevivencia do sistema capitalista. 0 Estado foi entao chamado
a cumprir novo papel:
"Transformou-se a antiga e espessa mentalida.de do pat1Bo. 0 patro sabe que tem obrigacOes impera.tivas para com os seus oper8rios e deixou
de considerar como principal funcao do Estado a de assegurar a tranguila posse dos seus
privi18gios. E sabe que~ sem concessOes aos
direitos do trabalhador~ o poder lhe escaparia
das mos. "
Na tradic&o dos "democr.B.ticos", Armando de Salles
Oliveira defendeu o "Estado legislador" como solucao para os
conflitos socials. Enalteceu a legislacao trabalhista decretada
por GetUlio Vargas lembrando que nos outros paises a conquista
dos direitos,sociais pelos trabalhadores "no se fez sem uma luta inflamada". Segundo ele, no Brasil isto ocorreu de maneira pacifica gracas a generosidade dos proprietaries e ao born
comportamento das classes trabalhadoras:
"Podemoa dizer com orgulho que as nossas. leis
socials nao so morda9as douradas~ concebidas e aplicadas para sufocal" os gemidos e a revol ta dos deserdados _ "
23
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Armando de Salles Oliveira, porem, estabeleceu os
limites da acgo do Estado no exercicio de func5es reguladoras da
vida social. Se a legislacao social era imprescindivel, nao menos
importante era "evitar o perigo" de uma ident~ficacao com o
Estado comunista. Para o governador, o "ooletivismo ", levado a
sua expressao maxima pelos bolchevistas, ao sufocar os interesses
particulares inviabiliza a "democracia". Era esta a distincS.o
fundamental entre os dais Estados. A superacao de tal diferenca
significaria o fim do conflito entre socialistas e capitalistas:
"Se se considera par outro lado gue o governo
mosca vita se dispOe a renunoiar a ortodoxia de
alguns dos seus preceitos~ no espantar que chegasse o dia em
seria
que
de
nos
encontrassemos todos na mesma estrada. For ela
come(}aria o .pmndo uma nova jornada ( ... ). "
Porem, segundo a avaliacao de Armando de Salles
Oliveira, enquanto Hoscou continuasse propaganda o "coletivismo
marxista" ainda seria precise combater com todo vigor os seus
defensores. Do contrS.rio, em breve o "sol de Moscou passaria a
iluminar o mundo e, na imaginaoao dos povos, o tUmulo de Lenin
tomB.ria o luga.r da. cruz ... " Para que isto n.o ocorresse no Brasil, o governo de Sao Paulo, de acordo com Armando de Salles
Oliveira, contribuiria para "preserva.r a ordem social e B
int.egridade da na980" apoiando o governo federal na defesa de urn
"poder executivo forte~ capaz de domina.r a desordem de.s l'UB.s~ de
24
repara1 as finan(:as e de aniquilar as J.nvestidas bolchevistas." 0 governador elogiou entao a Lei de Seguranca Nacional acrescentada
B. Constituic8o de 1934 instituindo mecanismos ainda mais
autoritarios de repressao a mobiliza9ao politica:
"Altere-se a Constituigio quante.s vezes seja preciso ( ... ). 0 nosso dever e cerrar fileiras em torno do Executivo e procurar garantir 8
naciio a paz que restaure a autoridade. "
Temendo no entanto a perman8ncia de GetUlio Vargas no
poder, Armando de Salles Oliveira manifestou ser contrario a urn
processo politico que levasse 0 pais a optar pela ditadura para
resolver sua "crise ":
''A liviio do que se passe. cpm os povos que
queJem veneer suas crises sem apelar para o
supremorecurso de uma ditadura da direita,
traoa-nos o caminho. "
Segundo o governador, ao permitir as manifestacOes
comunistas em seus paises, esses "povos nos mostraram a face do
comunismo que a repressao policial nao e capaz de combater.
Trata-se da acao "bolchevista" no nivel das consciencias, poi a o
que a caracteriza "& o seu impeto~ o seu entusiasmo, a sua
confianr;:a." Para enfrentar eata fovea do movimento comunista, as democracias burguesas devem tambem agir no nivel das
25
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consciencias. No caso do Brasil, por aer "um pais jovem", o governador propOs como medida a renovacao dos velhos conceitos de
-"pcftria, igualdade e disciplina." A revitalizacao do sentimento de patria neutralizaria o internacionalismo caracteristico do
comunismo. 0 conceito liberal de igualdade, que e a igualdade de
"oportunidades", iria contra a igualdade material propagada pelos
comunistas. A discipline., por sua vez, manteria a "ordem
espiritual" garantindo a internalizacS.o e a fixacao desses
valores contraries ao comunismo. 0 combate ao movimento comunista
portanto, exigia urn novo papel a ser cumprido pelo sistema
educacional, porque segundo o governador "o paliativo de simples
medldas de repress!o" resolve "apenas os embara90S do p.resente ". Neste sentido, Armando de Salles Oliveri.a propOs "um
longo programa de educa980 nacional" para o Brasil a ser
elaborado pel a Universidade de sao Paulo. Ela teria como "mi.sso" renovar a "m~sticB. eterna da ptitria" para combater a
internacional" difundida pelo comunismo:
"(.;.) para i.mprimir novo entusiasmo e dar novo sangue a mocidade7 os nacionalismos de todos os
llJ.stize::;; aseenhoream-se da educa98o, dirigem-na
e fazem deJa uma irresist~vel fore a de disciplina e solidariedade. "
"mistica
Os "naclonalismos de todoa os matizes" aos quais
Arm_ando de Salles Oliveira se referia eram a Inglaterra, os
Estados Unidos, a Franca, a It.S.lia e a Alemanha. Segundo ele,
26
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esses "grandes paises" tinham transformado a educac8.o
instrumento de coeso social forman do OS
"cidadaos-soldados''. Era portanto de grande urg&ncia
num
seus
0
"estreitB.ll1ento doe laoos entre a Escola e o Exercito" no Brasil.
Segundo o governador, as condicoes para que isto ocorresse ja
existiam. A recem-criada Universidade de sao Paulo estava pronta
para elaborar o "programa de educacao nacional" que o pais
precisava. A Universidade era a Unica instituico que naquele
momenta poderia defender a "bandeira da nacionalidade" e impedir
a penetracao do comunismo no Brasil. Restava apenas promover a
sua uni8.o com o Exerc~to para garantir ao programa o carater
militar da educacao.
Q Estado ~ S5Q Paulo tornou-se um dos principals porta-vozes dessa campanha anticomunista aplaudindo todas as
medidas arbitr
sacerdotes e operlirios" para que recebessem "a sauda9fio de SEio Paulo" que, naq_uele memento, as:.sumia "o compromisso de defender com o coraoifo e com o sangue a bandeira da nacionalidade e e.s insignias da civiliZB980 crista". Is to e' sob a lideranca de sao
I Paulo e atraves de seu candidate Armando de Salles Oliveira, o
Brasil finalmente se veria livre da ameaca comunista. Para os
"ilustrados", ao governo federal nao caberia outra atitude senao
apoiar o "projeto alternativo de real iza9fi'o nacional da democracia paulista" que estava sendo "possivel em sao Paulo e
que sezia tambem no resto do Brasil' , se o prOximo presidente
fosse Armando de Salles Oliveira. Num discurso de 1937, JUlio de
Mesquita Filho reiterou esta id6ia da "unidade nacional" como a
tarefa de Sao Paulo naquele memento. Promovendo a "unidade" do
pais, os paulistas continuariam cumprindo seu papel de condutor
do "destine do Brasil":
"( ... ) ao paulists. de hoje o desti110 cometeu uma Unlca tare fa: a de completar a a bra iniciada pelo paulista no ciclo da penetra9ao.
Porque, senhores, o Brasil nada mBis e do que
um problema posto pelas bandeiras e, au n6s
pa.ulistas de lloje e de B.l11anh o reeolve1emos, au teremos L:rremediavelmente falhado ante
t d . 9 nossos an epassa os .
CARDOSO, rrene. op. ci.l. , p. 66
gpo diacurso do Dr. Jllti.o de Meaqui.ta. Fi.lho" op. ci.t. p. 1i7
2B
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!.3. FAbio Prado cont.ra os "p..nlanos da ment.alidade"
Nomeado pelo interventor Armando de S~lles Oliveira,
Fabio Prado tomou posse como prefeito de Sao Paulo no dia 6 de
eetembro de 1934 e permaneceu no cargo ate abril de 1938. Membra
de tradicional familia paulistana, Fabio Prado era sobrinho do
conse'lheiro Antonio Prado, prefeito de sao Paulo entre 1899 e
1910, diretor do Banco de Com8rcio e IndUstria de Sao Paulo e um
dos fundadores do Partido Democratico em 1926. Engenheiro
industrial diplomado pela Escola Polit8cnica de Liege, na
B8lgica, Fabio Prado presidiu, entre outras, a Companhia
Imobiliaria Morumbi, a Companhia Centro Ideal de Materials
FerroviArios, a Companhia de Terrenos e Melhoramentos de Santos e
o Cotonificio Rodolfo.Crespi. Casou-se. com uma das filhas de
Rodolfo Crespi, industrial de origem italiana. Dirigiu ainda a
Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, o Banco Mercantil de sao
Paulo e a Federacao das IndUstries do Estado de Sao Paulo
(FIESP). Em 1933, participou como delegado na fundacao da Confederayao Industrial do Brasil e compOs sua primeira diretoria
como segundo tesoureiro. Entre 1941 e 1943, participou do
conselho t8cnico de economia e financas do Ministerio da Fazenda
e do Conselho da Companhia SiderUrgica Nacional (CSN). 4
Em linhas gerais, a administracao Fabio Prado se
cr. DICIONA.RIO oat.C.Li.o va.rga.n, 1986.
HIS:T6RIC0-BIOORA.FICO.
p.2808-P
29
Ri.o do
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caracterizou pelo mesmo anseio dos "ilustrados" de devolver a SB.o
Paulo o prestigio politico que suas elites julgavam ter perdido ap6s 1932. A Revista dQ Arquiyo Munjcipal ~ liaQ Paulo publicou alguns discursos e uma s8rie de entrevistas de F8.bio Prado
I que
nos permitem conhecer suas posicOes politicas: referentes as
prin~ipais questOes colocadas pela sociedade naquele momenta.
Como prefeito, Fabio Prado procurou defender os interesses da
burguesia paulista apresentando-os como "interesses de sao
Paulo". Para isto, utilizou-se da id8ia de uma "civilizag!Jo
paulista" da qual, segundo ele, teria resultado a "civilizclt;:do
brasileira" para justificar a supremacia dos "interesses de S .. 2io ' i .,41 Paulo" sabre os "intezesses nac.1ona s .
Interpretando o processo evolutivo dessa "civilizti; &"o
paulista", o prefeito avaliou o momenta hist6rico presente,
quando os "ilustradoa" estavam no governo do estado, como o
momenta em que Sao Paulo readquiria toda a sua "foroa civilizttdora" originB.ria do passado dos jesuitas e dos bandeirantes. Segundo Fabio Prado, esses dois personagens legaram
ao paulista urn carater essencialmente conquistador: conquistador
de almas, de territ6rios e de riquezas. 0 jesuita, atraves da catequisacao, realizou uma conquista de raizes mais fortes que a
conquista empreendida pelo colonizador europeu. Este se limitou
ao dominic do territ6rio enquanto o jesuita subjugou OS habi.tantes da terra conquistada. Depois, o bandeirante paulista
., PRADO,
DE sAo Fdbi.o. PAULO,
"Avenida. 9 :S:do PauLo,
juLho/.f..Da5, v, >t:I:V, p. 9-!5
de jutho", REVISTA DO Depa.rlamenlo de cultura.
30
ARO.U:rvo MUNICIPAL do
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conquistou um territ6rio multo mais vasto que aquele conquistado
pelo europeu.
Dessa maneira~ jesuitas e bandeirantes constituiram as "dUB.S fOl'OB.B civilizadoJtts .. do povo paulista. Agindo
separadamente, eles cuidaram ao mesmo tempo do "desbravamento da
terra e do desb1avamento do espirito ". 42 Assim, para Fcibio Prado a
"civiliza98o paulista" realizou por ela o prop6sito a que veio o
colonizador europeu, que n8o foi capaz de fazer da terra
descoberta urn pais, nem de nela formar uma "nova
Superando o europeu, o paulista o substituiu no trabalho de
conquista:
"Niio lui um ponto do Brasil em gue se no ve.:ja um nome paulista deixando no solo o rast1o
indelevel ( . .. ) . -
Ao norte~ 80 sul~ no
ocidente e no oriente~ par onde se volvam os
olhos da Hist6ria Nacional, o nome paulista ai
Segundo F.ibio Prado, a "civiliza98o paulista" continuou
42. tdem, ibidem.
48 "Palavras
REVISTA DO do Dr. ARQUIVO
F35, v. IX.
31
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cumprindo sua missao conquistadora tarnbem na hist6ria mais
recente do pais. sao provas disto a riqueza gerada pelo cafe, a
industrializacao avancada e o pioneirismo da sua Universidade. De
acordo com ele, as plantacOes de cafe tomaram o lugar das matas
selvagens; a indUstria substituiu a aventura pelo trabalho; e a
Universidade levou adiante a missao jesuitica de "cinzelar as i 1 'd 1 '~6 P t d ' t S" P 1 conscienc as e ap.1 ar as a mas. or u o l.S o, oo au o era
naquele memento, e certamente continuaria sendo no futuro,
civlliZB.9ifo novEl para a g_ual no haver. trope9os. ,s4-?
"u1na
Fiibio Prado nao eequeceu de mencionar a "contribuicao"
do imigrante europeu, presenca tao inc6moda na Sao Paulo daqueles
anos, nesse processo de transformacao da "civiliza98o paulista ".
Segundo o prefeito, a integracao do imigrante teria se dado de
maneira harmOnica e pacifica, sendo o italiano urn "simbolo
mal~avilhoso da grande coopera98'o europeia na forma9.Et'o de um povo novo numa terra nova. ,.4a
Avaliando o processo evolutivo da
paulista", Fabio Prado chegou a conclusao de que as duas "for9as
civilizadoras" represontadas pelo jesuita e pelo bandeirante haviam cumprido, no passado, o essencial de suas tarefas na
construcao do pais. Porem, enquanto o "desb~avamento de. terra",
com o objetivo de demarcar os limit.es definitivos do territ6rio,
47"Avenlda. ::> cl
p6de ser cumprido inteiramente, "a luz para os c6rebros", ao
deixar de "iluminar uma aldeia para iluminar uma nactro "~ teve que
ser "perenemente l'eB.vi.vada ""'.
Em 1932, entretanto, OS paulistas tiveram que
interromper o curso natural de sua evolucao. Foram obrigados a
reavivar o adormecido espirito guerreiro dos bandeirantes para
sS:lvar nao s6 sao Paulo mas todo o Brasil ante a ameaca
representada por urn "desvio" da hist6ria. Fcibio Prado referia-se
a atitude do governo federal de "desrespeito" a autonomia
politica de sao Paulo que obrigou os paulistas a reacender o
espirito bandeirante numa guerra que viria novamente colocar o
Brasil no seu "verdadeiro caminho hist6rico":
"Par enquanto~ a tlltima bandeJ.ra foi a de 1932. Abriu ela novas sendas e novas trilhos pela
selva bruta de uma grande desorienta98o.
Iluminou de uma aurora fulgurante uma cegueira ~ profunda.
Segundo o prefeito, a Constituicao aprovada em 1934
consagrou a vit6ria paulista. Como obra de sao Paulo, "elaborada
menos pelos seus deputados do que pelos seus soldados~ menos no
velho largo de Sifo Gongalo do que na.s trincheiras de julho ", ela restituiu ao pais sua unidade nacional. Depois~ vencido este
memento de abalo de nossa "nacionalidade", os paulistas criaram a
Universidade para impedir que fates inesperados pudessem
novamente atingir as bases de unidade do pais. De agora em
diante, a Universidade de Sao Paulo, segundo F&bio Prado, seria o
"elemento aproximador e unifJ.cador de uma grande nacionalidade gue no pode e nt.l'o deve subdl.vidir-se ". 51
A maneira de Armando de Salles Oli.veira, F8.bio Prado
t.omou a Universidade como simbolo m8..ximo do reerguimento politico
de Sao Paulo pelas maos dos "ilustrados". Com eles, sao Paulo
retomava o seu "destine", oferecendo ao Brasil urn. projeto de reconstrucao da nacionalidade atraves do novo sentido que suas
duas "foroas civilizadoras" adquiriam naquele momenta de "restaur8:9ifo de SU8:s energi8:s .rs2 A forca bandeirante, que antes
alargava as fronteiras do pais, agora aterrava os "p.n tanos da
ter1a ", e a forca dos jesuitas, que amansava e conquistava o "gentio", aterrava os "pntanos da mentalidade :!'>3
" o dia. do
52 o di.a. do
59 "Aveni.da.
"As paludes e os brejos florescem-se em culturas ou abrem-se em ruaa. A lama dos paUes
transmuda-se no asfalto de avenidas novas. E o conjunto de tudo isto 6 Sfio Paulo. ( . .. ) 0 Colegio de taipas? ooberto do sape ( . .. )
sao Pa.uto". op. ci.t.
sao Pa.uto", op. cit.
p do jutho, op . ci.t.
34
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dilatou-se ate a Universidade~ cujo foco possante e.tre.ird os que ainda vivem no escuro
( ) . 04
Nesta nova fase da "civilizac!io paulista ", FAbio Prado
vislumbrou a unidade de suas "duas forcas oivilizadoras ", que partiam de Sao Paulo para "pintarem um outro mapa( ... ) que e o mapa da brasi 1 i dade " atraves das "bandeLras de. nova
~entalidade ". 55 Certamente as "bandeiras dB nova menta.lidade" eram as realizayOes do atual governo paulista. Fabio Prado
caracterizou sua prOpria administracao na Prefeitura de sao Paulo
como uma luta contra "um conservador lsmo mal d 'd ,;>6 compreen l. a
demonstrado nos Ultimos anos pelos administradores paulistas,
tanto dos setores pUblicos como dos setores privados. Foi esta
mentalidade ultrapassada que, segundo Fabio Prado, provocou o
enfraquecimento politico de SB.o Paulo e impediu que seu "espirito
renovadar,'f5? ~ontinuasse guiando o Brasil. Um jornalista d~Q Estado ~ ~ Paulo a quem Fabio Prado
concedeu uma,srie de entrevistas apresentou o prefeito aos
lei to res como inaugurador de um "sistema novo de admlnistracfio ".
5< "0 dLa. doEr sao Paulo", op. cil.
55 "'Pa.La.vra.s do Dr. FO..bio Prado no microfona da.
op. cil. 56
A ADMINISTRA9A0 FABIO PRADO NA PREFEITURA de enlravist.a concadida a.o o Departamento Mur.ic~pa.L da cultura., Ra.ro.g da BLbLLot.eca. Canlra.l/Unicamp.
!i? . . ,.Avenl.da. t> de JUlho", op. cit.
Est.a.do de v.
'
35
DE s.
!.936.
Rddio s. Pa.ulo",
SAO PAULO: alrav~e Pa.ulo ...
Seyao de Obrns
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Segundo ele, Fabio Prado em nada lembrava os velhos politicos de
Sao Paulo, pais era "profundamente operoao, de uma coragem B.dmi.ni strati va merecedora d lh 1 .~ o me or ap auao. 0 jornalista estava se referindo a reforma administrativa realizada par Fabio
Prado na Prefei tura de sao Paulo reestruturando todos os services
municipals. Podemos dizer que esta reforma teve urn carater
"modernizante" em virtude de suas propostas de "racionalizacB.o"
das atividades administrativas e de suas preocupacOes em tornar
maie "eficientes" os services pUblicos. 50
Indagado sobre esta reforma, o prefeito fez a apologia
da "c1.8ncia da administra98o ". Conferiu as mudancas efetuadas por
ele urn carater de objetividade destituido de sentido politico, afirmando que seu intuito teria sido o de simplesmente criar um
"sistema 16gico" de organizacao administrativa. 0 prefeito ainda
acentuou o carater "tecnico" das mudancas realizadas usando 0
argumento de que o projeto de reforma teria recebido a apreciacao de var:los "especi.alistas ", 6 como engenheiros, advogados. medicos.
d . 1' t 6 ' pe agogos e JOrna ~s as.
"" A ADMINISTRA9A0 FABIO PRADO .. , op. oil.
59 09 eatudos, 0.9 rninuta.a e- oa ori.ginio.i.gr do. re-forrno.
F6.bio Prado encontram-sa no Arqui.vo Paulo Duarte sob Arquivo Central/SIARQ do. Unica.rnp.
6 A ADMINISTRA9AO FABIO PRADO
6< . V6.1'1oe pe-rtodo
a.utor&a indic:ru-a.rn no. uti.ti.:za.9ao
Q
dos como forma de- "'d&spoLi.ti.:zo.r'' dovoria.m onconlra.r eolu9Bos
. , op. cit.
doo conhec:imentos l~c:ni.c:os oa problemas -..oci.a.i.s ma.is dura.doura.e o
realiza.da a guardo.
por do
govorr.oe d&et.G e cienl tfi.c:os
para. OS efici.&nt .. s.
quais Em
especial. FABRlCAS:
lee& do Goti..dio.no
Ma.ri.a Auxi..liadora. Ou:z:zo Decca, A VIDA FORA DAS Ca.mpina.a,
que .. t.ao :1.!>99, no
Di.eserta9ao cidade de-
do sao
oper4rio 8m Sl!io Paulo (192?-1934-), N&strado,
Paulo l:FCH/UN:ICAMP,
incluindo em
36
lra.t.ou sua. a.n6.tigg. parte da.
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Sobre a questao social, Fabio Prado fez declaracOes
concordando com a necessidade de se a tender muitas das
reivindicac5es dos trabalhadores. Segundo ele, este problema era
um imperative do momenta e "cego ou completamente alheio ao gue
se passa em torno e o administrador que no admi te as profundae modificaoOes na sociedade humana ". Afirmou estar "mui to distanciada de n6s a afirmativa de gue a questo social no Brasil e um caso de policia." Mas o levante comunista ocorrido poucos
meses antes dessas declarac5es, na perspective do prefeito,
ultrapassou todos os limites, inclusive os limites daqueles que
combatiam o "conservadorismo mal compreendido". Segundo Fabio
Prado, o levante era mesmo "tun caso de policia" e, como aquela,
toda "a98o subversive." deveria ser reprimida "com o malar rigor",
nao s6 atraves da repressao policial mas tamb8m atraves da
resoluoao des problemas que levavam muitos trabalhadores a
militancia e a mobilizacao:
"Esta. guesto do operlirio ( . .. ) eu a conheoo profundBJnen te. ( . .. ) Como industrial~ na fcibrica 7 conbeoo-oe com oe eeus defeitos, que sao grandes. Sei-os par demais acessiveis tanto
a desorientaglio como a erva daninha das
demagogias frustradas que se infiltram pelo operaria.do por meio de elementos gue lhe
exploram o idealismo e a mis6ria ( ... ). Paz
o.dmi.nialro.yeto de F
isso mesmo sei quando devo avan9ar com os
beneficios a que tem direlto e guase sempre nlnguem lhea reconhece, bem como quando se
devem repl~lmir-lhes os impe"tos { ... ). ,/S2
Alem da imposicgo de limites a mobilizacao politica, o
acesso do operario as casas de jogo deveria tambem ser dificultado. Atraves de uma lei municipal de regulamentacgo do
funcionamento deBsas casas, elas passariam a existir apenas em
locals "lange do comerclo, em estac6es de turismo e de recreio ".
FS.bio Prado justificou sua proposta afirmando que o objetivo da medida era impedir que o trabalhador gastasse com este "vicio"
seu "mlsercivel saliirio" destinado ao sustento da familia. Por
outre lado, a regulamentacao do jogo geraria recursos para a "manutencdo das casas de assistncia~ de filantropia e ate de cultura". Afinal, o que importava era manter a cidade em ordem: o
trabalhador trabalhando, com seus d:i:reitos minimos garantidos e
os "impetos reprimidos", e o "i.tbastado" podendo se dedicar a
ativid~des ooiosas em locals distantes do mundo do trabalho. 63
Dutra medida de car6.ter "social" adotada pela
Prefeitura, segundo Fabio Prado, foi uma modificacao na tabela do
imposto predial que elevava a taxa a ser paga pelos "gran des
propriete.irios". A resposta do prefeito aos protestos desses
proprietaries incluiu os mesmos argumentos ~tilizados por ele na
op. ci.l.
d9 i.d&m, i. bi.dem.
38
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discuss8o sobre os direitos do trabalhador. Fabio Prado afirmou
que a modificaQ8o no impasto beneficiaria justamente aqueles que .mais reclamaram, isto e, os grandes proprietaries, pois a medida
visava a manutencgo de suas propriedades:
"Provid8ncias como eeta~ de i11iciativa do
prOprio poder pUblico, e que constituem a
verdadeira propaganda e o verdadeilo elemento
estabilizador dos regimes. Tais ideias deveriam
partir mais dos atingidos pela tributa9.?io como
defesa da prOpria estabilidade. Assim me parece que o que sooialmente se deve fazer, solidificar cada vez mais esta mentalidade. Nisto esta, nifo s6 a reconsolidii98o do nosso regime, mas o prOprio equilibria social e ate
pUblico. ,f-54-
A nova lei do imposto predial incluiu tamb&m uma
"sobretaxa de 10% sabre os corti9os e habita9CJes coletivas", onde
vivi~ operarios, desempregados e pobrea em geral. Fabio Prado
mencionou a necessidade de se extinguir este tipo de habitacgo na
cidade e usou um argumento "tecnico" como justificativa. Nesses lugares, segundo ele, "as regras de higiene e de urbaniBmo nem
ouviram falar de e:ua constru98o ". Portanto, a 18m da sobretaxa, o prefeito anuuciou a construcao de habitacOes baratas em bairros
operarios que substituissem os corti9os:
.,. i.dam, i. bi.dam.
39
"Se1ci asaim como uma grande vila, onde o ar e a
luz penetrem plenamente~ OS preceitos
sani tfirios estejam totalmente obedecidos POl' meio de instalcu;:Oes modernas, confo1to etc. '155
A cidade como um todo deveria passar par reformas
durante a administracao FAbio Prado. Segundo o prefeito, a
ignorB.ncia da "ciencia do urbanismo" havia transformado sao Paulo
numa "oidade Bem siBtema". Eo que seria para FB.bio Prado um
"sistema" da cidade? Seria uma ordenaoao do espaco urbana onde o
fluxo de pessoas, de produtos e de veiculos corresse livremente.
Fcibio Prado comparou uma ''cidade sem sistema" a "wn organismo sem
col una vertebral". Este era o caso da cidade de sao Paulo.
Segundo o prefeito, os responsciveis pelo tracado de suas ruas
nunca tiveram nenhuma "ideia de conjunto" e ignoravam o "ponto de
vista urbana". 66
Na defini
negocia~ao para evitar que estas transa~5es fossem transformadas
em "negocia tas ,f5?. Escolhia-se uma pessoa de confian~a para negociar a compra do im6vel a ser desapropriado como se fosse uma
compra particular, evitando os abuses no valor das indenizacOes I
exigidas pelos donas dos im6veis. FSbio Prado fazia questao de
evidenciar sua maneira "empresarial" de administrar a Prefeitura.
A cria~ao da taxa de melhoria e a alteracao na forma de realizer
as desapropriacOes, Fabio Prado lembrou outra iniciativa de sua
administra~ao marcada por esta caracteristica. Trata-se do que
ele mesmo chamou de "moralizaoa.o do servi90 de f1scalizaco".
Segundo o prefeito, a fiscalizacao passou a ser feita pela metade
do nUmero de fiscais que, como funcionarios nao efetivos,
recebiam comissOes pelo nUmero de multas aplicadas. Este
procedimento teria elevado o nUmero de.multas de 300 em 1935 para
700 em 1936, aumentan.do a arrecadac.So de 150 cantos de r8is para
mais de 700 cantos de .. 68 re~s.
Dutro ponte da politica de urbanizacao de FAbio Prado
foi o projeto de cria
Neste caso, o desenho da cidade seria tracado por "t8cnicos" da
urbanizacao conhecedores do "intel~esse comum" nao se subordinando
aos "interesses particulares" indiferentes a qualquer
conjun to". 69 "idida de
Durante sua administracao, FS..bio Prado planejou varias reformas urbanas em sao Paulo: abertura de avenidas, construcao
de tUneis, viadutos, parques e jardins, mudanca do leito natural doe rios etc. Naqueleano de 1936, a Prefeitura ja havia iniciado
vS..rias dessas reformas., como o alargamento da Avenida Reboucas. P.
reforma da Avenida Reboucas era parte de urn grande plano de
avenidas anunciado pelo prefeito:
6~ idem,
"A Avenida Rebouoas desce da colina da avenida
Paulista para a vB.rzea de Pinheiros. Em oima~
,j8. estB. ligada nfio s6 a esta Ultima via, como a Angelica, de que e wn prolongamento. LB. em
baixo, atravesaa o Rio Pinheiros e prossegue
ate aquela pequena risca que se avista daqui,
no morro do outro lado. ( ... ) Isso e uma outra Avenida, a das Acacias, na Cidade Jardim. Para
esta, darB. f:cente o futuro Jockey Clube de Sao Paulo ( ... ). A Avenida das AcB.ci.as termina. .justamente no fim da Rua Augusta. ( . .. ) ali em cima a Reboucas e atravessada pela Avenida
Brasil. Esta vai terminar no Pargue Ibi.rapuera~
42
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tambem em conspru98o. E ainda. a Avenida Brasil
que vai .receber o final da Avenida 9 de julho. Esta atl'avessarci em tiinel a Avenida Paulista~
para terminar no cora9Bo do Jardim America.
( . .. ) no Ibiruapuera desemboca~a tambem a chamada Avenida Itoror6, gue e a verdadeira
AnhangabaU, de trinta metros como a.s outras.
CortarB. os b.airros de Vila Mariana, Paraiso,
Libe~dade ate 0 Piques. N8o e preciso ser
urbanista para compreender 0 valor e d
utili dade de. um conjunto de circula9do como este. .. 7
As obras no Parque Ibirapuera, em construoao desde
1929, tambem foram retomadas neste conjunto de reformas urbanas da administraoao Fabio Prado. Navarro de Andrade chefiava uma
comissao encarregada do projeto de arboriza9ao do Parque que, segundo o prefeito, seria tao belo quanta o "Bois de Bologne"
parisiense construido durante a reforma urbana de Haussmann. 0
embelezamento das outras areas livres da cidade, Fabio Prado
entregou a Manoel Lopes de Oliveira Filho, funcion.S..rio do
Institute Biol6gico cedido A Preieitura e que em pouco tempo
estava transformando, segundo o prefeito, "os gramados ama:relos e
pardos, os troncos, os .:/ardins em ru.inas ( . } em 111aravi.lhoaaa
7. 1.dem, ibidem.
43
estufas floridas .. em captJes vil"'entes .. ?~ Fabio Prado mencionou ainda um projeto para agilizar o
acesso ao Mercado Municipal visando melhorar o transporte dos
alimentos e facilitar o deslocamento dos rnoradores de bairros
distantes ate 1a. 0 alargamento do viaduto da Rua Flor8ncio de
Abreu permitiria a criacao de uma linha de bondes entre o Mercado
e os bairros do !ado oeste da cidade. Uma ponte sabre a Rua Ceres
ligaria as duas margeps do Tamanduatei, atingindo diretamente os
bairros operarios da M6oca, Braze Belenzinho. 72
Ainda com relacao as reformas das vias pUblicas, Fabio
Prado se referiu a um projeto de alargamento da Avenida Rangel Pestana que liga a esplanade do Carmo ao Largo da se. Este Largo,
segundo o prefeito, era outre "problema para o urbanismo
paulista", pois "comecou torto e tol"'to hci de acabar. " Na
esplanade do Carmo, seria construido o futuro Pago Municipal. 73
Os cemit6rios tambem seriam reoordenados, porque de
acordo com F8.bio Prado "as cidades dos mortos foram construidas~
tiveram as ruas tra9adas~ sob o mesmo criteria Ul"'banistico por
que se const.ruiram as puas das cidades dos vivos", ieto e, sem
nenhuma "racionalidade" urbanistica. 7"
A ,cidade planejada por Fabio Prado era uma cidade
7i. b.d tdem. i. t 9m.
72 A . cf. A ADIMINS:TRA9A0 F BIO PRADO . .. , op. ctl.
73 i.dem,
7< i.dem,
i.bi.dem.
i.bi.d&m.
44
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"moderna" que desprezaria os velhos pr&dios do Largo do
Paissandu, a antiga Rua do Seminario, o Largo do Piques, os
antigos bairros da Tabatinguera e do Carmo, por serem "ainda
aquila gue eram no tempo do primeiro imperio au da era colonial".
F
ativamente da organizacao do movimento constitucionalista de
1932. Paulo Duarte e o autor do projeto de reforma administrative realizada por F&bio Prado na Prefeitura de Sao Paulo a qual nos referimos anteriormente. Esta reforma incluiu, a partir de uma
I proposta do pr6prio Paulo Duarte, a criacao do Departamento
Muncipal de Cultura e de Recreacao. Segundo Paulo Duarte:
"Fcibio ( ... ) no queria que eu fosse um simples chefe de gabinete. Ele entendia bem de administraoo, de finanoas, de organizaoo, mas eu entendia de politica, de Dil~eito .. e tambBm
de uma parte cultural gue ele julgava indispens8.vel na administraoo pUblica, ainda
' ~ ' ,;77 que num mun~c~p~o.
Fabio Prado atribuiu ao Dep~rtamento de Cultura uma
significative importancia entre os outros projetos de sua administracao. Segundo ele, o Departamento iria "colocar sao
Paulo numa situaoao de grande evidBncia em relaoao B.s outras
metr6poles ", sendo portanto "uma das mais constantes preocupaofJea da atual admini.strar;:ao. ,;?a FB.bio Prado faria do novo departamento
um. dos marcos da passagem dos "ilustradoi3" pelo governo de sao
Paulo. A id8ia de urn 6rgao como aquele proposto par Paulo Duarte
era uma id8ia que, segundo ele, "ndo podia deixar de ser bem
7? DUARTJ;':, Paulo. M:J;':M6RXAIS, S:ao Po.ulo. Huci.t.ac, v. EX:I. ~~?&.
79--s:ao Pa.ulo va..i. sar dota.do de urn dapa.rta..m9nt.o d& cult.ura.. de
t'&crea..'i'ao"', Dl:ARXO DE S. PAULO, 90 do marco d"" ~~9!:>.
46
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recebida no So PEwlo novo, no S..'o Paulo p6s-revolu980 "7 "', on de "as inlciativas culturais" brotavam com "a" vigor das lavras na
terra roxa." Prova disso era a recem-criada Universidade de sao
Paulo que trouxera ii cidade "um ambiente ensolarado de cultu1a ", I
oferecendo aos paulistas uma alternative "mod~rna" a "vellJa
Faculdade de sao Francisco ( ... ) envolta na garoa de Wlld tradi9._9."o de mais de um s8culo. " Segundo FB.bio Prado, a nova Uni versidade
revigorara o "espirito mental de S.fo Paulo' 13 devolvendo ao estado a lideranca que sempre exerceu em relacao ao restante do pais.
Seguindo portanto o exemplo do governo estadual, a
Prefeitura deveria tambem cumprir sua parte neste processo dando
"8: capital paullsta um 6rgB.'o cultural fundado, sustentado e
amparado pela municipalidade". De acordo com o prefeito, o papel
desse 6rg3o seria o de auxiliar a Universidade, pais ela
precisava de "institutos colaboradores da sua obra formidB.vel" de conduzir o pais no caminho da "verdadeira nacionalidade"~ isto e,
da paz social e da estabilidade politica. Devido a est a
importante funcao, caberia ao governo e aos setores privados a
organizacao e sustentacao desses 6rg8.os. Mas Fabio Prado
acreditava nao poder esperar muita coisa dos particulares, que
segundo ele, sempre souberam praticar a "caridade fisica" e nunca se preocuparam com a "caridade espiritual ", atitude decorrente da
"velha mentalidade" que dominava OS homens ricos de sao Paulo.
79 "A ADMINISTRAQA.O FABIO PRADO NA PREFEITURA DE SAO PAULO. . op.
cit.
tdem, Lbidarn.
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Esses homens nao compreendiam que "a espir ito deve tel' uma
assistencia to e talvez mais ass.idua do que as partes
corporals". Par esta razao, para FB.bio Prado os paulistas
presenciavam naqueles anos "o sucesso da ca.ridade do corpo e o
malogro B.bsoluto da caridade do espirito. ,pt
Depois de responsabilizar os particulares, portadores
de uma "mentalidade ultrapassada", FS.bio Prado criticou os
poderes pUblicos por nao cumprirem sua parte na obra de
"assistencia so espirito". Os governos tambem eram portadores da
"velha mentalidade". Mais que isto, eram "grandee colaboradores e
firmadores dessa noz~ma. se certa quando se lembza dos estabelecimentos de carida~e~ erradssima quando se esguece das
entidades de cultura." Segundo F:ibio Prado, os governos nunca
destinavam as instituicOes culturais uma verba justa. As poucas instituicOes oficiais recebiam apenas a "verba estritamente
necessaria a sua prectiria manutew;~ao" e as instituiyOes culturais
particulares nao podiam esperar em momenta algum qualquer apoio
oficial. 02
Portanto, segundo Fabio Pl"ado, crescia no Brasil "a
mazelCJ espiri.tual ". E contra essa tend6ncia, uma prime ira
iniciativa sua enquanto prefeito da cidade foi alterar a
legislacao municipal relativa aos impastos. For ela, as
instituicOes filantr6picas, os hospitais e as entidades culturais
ficariam isentas de todas as obrigaQ5es municipals mediante a
"' idern,
92 l.dern,
i.bidern.
l.bl.dern.
48
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exigncia de que o produto de suas atividades fosse "todo aplicado na asaiertncia gratuita". FB.bio Prado associou entffo as instituic5es culturais as instituioOes de carater assistencial.
Com esta concepoao, julgou por bern acatar a sugesto de Paulo Duarte e autorizou a elaboracao do projeto de lei para a criacao de urn Departamento Municipal de Cultura para Sao Paulo. De acordo
com FAbio Prado, o novo departamento, ao cuidar das "mazelas do
espirito" do paulistano, estarla contribulndo para a recuperacao
da "for9a civilLzadora" de Sao Paulo, primeiro em seu pr6prio estado para depois atingir o resto do Brasil.
Concordando com a opini.Eio de Fabio Prado segundo a qual
nem os homens ricos nem os governos dispensavam a cultura a
atencao que lhe era devida, Paulo Duarte advertiu aos que se
opunham aos investimentos em cultura afirmando que estes
investimentos representavam uma saida na resoluoao dos problemas
sociais:
. .
83
"No 6 poss.ivel ~ depoiB de quase dez anos de convvlsOes internas~ esses abalos no nos tenham ensinado pelo menos o comeoo. de wna nova
via, estranha 8guela da rotina, de preconceitos
grosseiros e de miserias pol.iticas em gve temos
i id " ag v v 0.
Mas nem o exemplo da Universidade de Sao Paulo,
DUARTE, Pa.ulo. "Conll'a. o va.nda.l~emo e o &)(t&l'mln~o". i.n: DO ARQOlVO MUNl:ClPAL, Sl!l.o Pa.ul.o, Depo.rta.me-nlo de V. XXXVl:l:, p. zg!'5
49
nem a
REV:tS:TA
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compreensao do estrategico papel politico dos 6rgaos culturais
lembrado por Paulo Duarte forarn suficientes para que a decisS.o de
se criar o Departamento de Cultura fosse tomada par F&bio Prado
sem alguma cautela. Segundo o prefeito, ele recebeu a proposta
apresentada por seu gabinete com urn "certo receio" por ser "uma
obra arrojada" para urn pais como o Brasil, onde o "espirito coletitro a.inda. n ...
vulgarizacao da cultura muito atraente para Fabio Prado, que
tentou dar urn eentido "civilizat6rio" a sua atuac8.o na Prefeitura
de Sao Paulo. Este prop6sito de FS.bio Prado teria criado urn
ambiente favor8.vel a incorporacao do Departamento pe Cultura no projeto politico dos "ilustrados". Se para FS.bio Prado as instituic5es de cultura tern por objetivo proporcionar "assistncia espiritual ", esta assistEmcia deve cumprir ainda urn papel na "formacao das consciencias", tal como os jesuitas fizerarn em relac;:ao ao indigena. Era esta a nova "congu:tstR" que
OS paulistas deveriam empreender visando a reposicao de sao Paulo
no seu lugar de "agente civilizador" do resto do pais pols, se
.nos Ultimos anos sao Paulo enfrentou "traumatismos~ vendava.is e
convulsOes", naquele momenta "a brasilidade paulista aparece
vivaz como certas plantas do Nordeste, C[Jjas folhas verdes resiatem ao bochorno das secas mais prolongadaa. '116 Por isto, a
idia do "aper:feicoamento cultural do povo" contida no projeto do Deaprtamento de Cultura foi decisiva para que Fabio Prado
acolhesse a idia de Paulo Duarte. Depois, o novo Departamento tornou-se o projeto de
maier repercussao da Prefeitura de Fabio Prado. Segundo o
prefeito, o Departamento de Cultura, ao lado da Escola de
Sociologia e Politica e da Universidade de sao Paulo, significou
a possibilidade dos paulistas de realizarern "as novae inscursfiea pelo Brasil de hoJe~ com as bandeiras da. nova mentalidade~
86 "Pa.lo.v!'CJ.S do Dr. F6.bi.o Pra.do no mi.crofone do. R6.dio sao Pnulo"
op. ci.l. p . .iD
51
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buscando tWJd cada vez maior a.p:roxima(;d"O de espit~ito ,fl7 , is to e, buscando o fim das desavenoas regionais. das contradiQ5es politicas e socials que abalavam o pais, precisamente quando o
Brasil deixou de ser iluminado pela luz de Piratininga. I
87 idem, ibi..dsm. p. 20
52
Capitulo II
A CRIA~AO DO DEPARTM~ENTO DE CULTURA
II.!. Entre os "Jlustrados" eo modernismo
Segundo testemunho de Paulo Duarte, a origem do
Departamento de Cultura remonta as aspirac5es de urn pequeno grupo
de amigos, artistes, intelectuais e jornalistas, que costumava se reunir com frequncia entre os anos de 1926 e 1931 em seu apartamento na Av. Sao Jo8o. Entre outras pessoas, Paulo Duarte
cita Mario de Andrade, Antonio de Alcantara Machado, Tacite de
Almeida~ SBrgio Milliet, Antonio Carlos Couto de Barros, Henrique
da Rocha Lima, Randolfo Homem de Mello e Rubens Borba de Moraes.
0 mesmo relata e feito par Rubens Borba de Moraes em entrevista
recente ao ser indagado sabre o movimento cultural em sao Paulo
na primeira metade dos anos trinta:
"( ... ) n6s eramos e.migos de 20 anos. Tinahmos feito 22, tinhamos feito a Escola ,de Sociologia e Politica, de manelra gue era um gpupo. ( ... ) N6a nos Peuniamos dlaPiamente em caaa de Paulo
Duarte, para ver o gue ae fazia e dlscutiamos
53
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todos os progrmnas, todos oa projetos, todas as real izar;tJes ( . .. ) ,;
Durante essas reuni5es algo como o Departamento de I
Cultura teria sido planejado. Segundo Paulo Dua~te, o projeto deste grupo de amigos, muitos deles vindos do movimento
modernista seria "a perpetuao-B."o daquela roda numa organizac;:B."o
brasileira de estudos de coisas brasileiras . . ~ Quando Fabio Prado assumiu a Prefeitura de sao Paulo levando com ele Paulo Duarte, a
concretizaoao desse projeto tornou-e um.a possibilidade. Paulo Duarte expOs ao prefeito a "velha id6ia ntwcida no apartamento da
Avenlda S&o Jo&o" e F6.bio Prado concordou em ten tar organizer
"esse insti tuto ". 9
Vimos no capitulo anterior que uma instituicao como o
Departamento de Cultura era bastante adequada a politica dos
"ilustrados" naquele momenta. Depois da Escola de Sociologia e
Politica e da Universidade de Sao Paulo, um 6rgao municipal dessa
natureza viria ccimpletar um quadro politico jA multo favoravel as "iniciativas culturais", para usar as palavras do p:r-6prio F.G.bio
Prado.
Desde 1926, o Partido Democr8.ti.co cri.ou urn ambiente de
Dapo.rtarnenlo de Cullura.: urn .. onho que oompletarnente. " Entrevi.sta de Rubens Borba. Mo.rga.ri.da. Ci.ntra. Oordi.nh0. REVISTA DO ARQ.UIVO do Arquivo Hist6ri.co, Edis:ao oomemorati.va doe t,;:>a4-. p. :t4 2
DUARTE, Pa.ulo. de Andrade" i.n:'
"De,...a.rta.mento MARIO DE
de Cultura., vida. ANDRADE POR
50
EL Hucile/Prefeitura. do Munictpi.o de Sao Po.uto, ,{::>9!5. p. 4::> 9
DUARTI:
aproximacao entre os "ilustrados" e alguns modernistas atraves do
6rg8o oficial do Partido, o Di4rjo Nacional, e atraves de "uma . ' ce.rta oa.Jnal~adagem oposiclonlste. entre tantos mocos como disse
AntOnio Candido. Est a "camaradagem"
autor, na "formaoB.'o, den tro ou na resultou, segundo
periferia do DemocrBtico, de uma especie de esguerda moderada, gue
esse
se
manlfestou sob1etudo como arrojada vanguarda cultural. '~ Antes mesmo do Departamento de Cultura, alguns modernistas haviam
participado da criacB.o da Escola de Sociologia e Polit:.ica e da
fundacao da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras da
Universidade de sao Paulo. Urn dos mais ativos talvez tenha sido
S&rgio Milliet, cujo depoimento explica-nos em que termos se deu a relacao entre esses intelectuais e os politicos do Partido
Democratico. Como AntOnio C&ndido, Sergio Milliet enfatiza a
contribuicao dos "mooos" no memento em que eles e as elites
paulistas entenderam como principal problema politico do Brasil a
questao cultural:
"NB.'o guero fazer hist6ria e no dlrei o gue fol. essa luta entre o Partido Democrlitico, dos
..
mocos, e o PRP. Apenas dlrel gue os mocos
enguadrados por velhos pol.ftlcos, multos deles profl.ssl.onals, logo se desl.ludiram e aos poucos abandona.ram a luta. Antes de compreende1~ que o
Pl'Gofdc~e do Ant6nie candide a.e livre do Pa.ulo DU
problema era puramente educacional, ainda
fizeram com entusiasmo a Revolw;tro de 32. Fol esta que~ afinal, abriu os olhos de todos revelando a nossa carencia terrivel de htJmenS.
Fundou-se entifo a Escola Livre de Sociologia e Politica, para suprir essa falha. Nosso ensino superior exclusivamente formal, anualmente centenas de bachareis inUteis e
nenhum elemen(':o de verdadeira cultura. Nosso ensino superior desumanizava 0 individuo,
afastava-o da vida e dos problemas da vida e enchia-lhe a cabeoa de ret6rica barata. ( . .. ) .
Funda.mos a Esoola de Sociologia e fundamos a Universidade. Mas principalmente a Escola teve
importtincia. renovadora. '15
Neste depoimento, Sergio Milliet concorda com a
avaliacao dos "ilustrados" a repeito das consegu6ncias politicas
do movimento'de 32 oonfirmando o carater pratico da Escola de
Sociologia e Politica criada para suprir a "nossa carencia
terrivel de homens" e dar maior utilidade prAtica ao ensino
superior.
Quanta ao Departamento de Cultura, retomemos palavras de Paulo Duarte ao considera-lo uma ''organizao!!fo brasileira de eatudos de coisa.s bra.sileira.s". Revelando a
6 CAVALilEl:RO, Edgo.r (or-g.). TESTAMENTO DE UMA Por-to
Alegr-&, r;:di.tol'a. olobo, i.94.C.. p. 24:l
56
motivacao do srupo de amigos pelo conhecimento do que poderiamos
chamar de "realidade brasileira", esta afirmacao nos remete a urn
.conjunto de preocupac6es que mobilizaram muitos intelectuais, entre eles varios modernistas, desde os anos vinte ate os anos
trinta. Como exemplo dessas preocupac5es podemos citar algumas
explicao5es contidas no primeiro editorial da Reyista tl.Qyj;l.
publicada em 1931 e 1932. Neste texto, Paulo Prado, AntOnio de
Alcantara Machado e Mario de Andrade, modernistas de primeira
bora, justificam o carater heterogneo dos artigos ali presentee evocando o objetivo da revista:
. -
" ( . .. ) a Revista f!ova nita se cingirtf a pur a literatura de ficcao. Nem mesmo lhe reservara a maior parte do espa9o. 0 canto, 0 romance .. a
poesia e a critica deles nao ocuparao uma linha
mals do que de direito lhes compete numa
publicaco cuJo objetivo e.ser uma espcie de repert6rio do Brasil. Assim o interessado
enoont1~a1~a aqui tudo quanta se refere a um conlwcimento 1 ainda gue sumBrio desta terra~
atraves da contribuicao inedita de ensaistas,
llistoriadores, folcloristas~ tBcnicos, critlcos
e (esta vis to) literatos. Numa dosagem imparcial. "7
7 . C\.ta.do Jo::JO", in: AROUMENTO: do cullura., ano %, n2, novembro/H>70_ P- 29
57
Esses autores propOem uma nova relacao da literatura
com as outras areas do conhecimento. De acordo com eles, entre a
literatura, a hist6ria, o folclore, a critica e a ciencia deveria
haver, a partir dali, uma contribuicao mUtua, I
e na mesma
proporcao, para o "conhecimento ( ... ) desta terra". Eles expressam uma transformacao no interior do modernismo decisiva
para os rumos do movimento nos anos trinta. Vejamos como se deu esta transformacao.
Em 1922 o movimento modernista mudou o curso das artes
no Brasil atraves da "eXperimentaoii"o esttica" e da ruptura com "toda uma visBo do pais que subjazia a produoB.'o cultural". 0 Est a
.e a primeira fase do movimento, "iniciada em 1917" e que se
caracaterizou pela "polmica do modernismo com o passadismo .. P
Nesta fase, buscou-se atualizar a producao artistica brasileira
atraves da inovacao da linguagem e assimilacao dos processos
criativos das vanguardas europ8ias do inicio do seculo. Era
precise aproximar o Brasil da Europa em funcao da "existencia de
uma; ol"dem univel"sal que e a pr6prla modernidade";J.
"Em termos propl'iamente oonstruiivos cabe a
elaboragBo de uma nova postul"a estBtica
adequada a vida moderna. Em outras palavras: e
preclso produzlr linguagens artisticas que
8i.dam. p. 20-~
p MORAES, Eduardo Ja.rdim, A BRAS:ILIDADE fi.toe6f~ca.. R~o cla Ja.nairo, Ora.a.l, .iD?B. p. 49
.iMORAES, Ed>.H~:tr'clo Ja.rdi..m HIS:T0RICOS, 1.908/Z. p. ZZ7
do. "Modarniamo
58
MODERNYSTA: oun
I'G-viai.t.a.clo. in: ESTUDOS
posaam da1 conta da realidade p1esente. IP uma
esp6cie de realismo que o modernismo propCie. No
sentido mesmo da e.degua9ifo do nnmdo e da sua
representa;.'< .. fo. ,.t.t
A nova visfio do Brasil expressa pelo modernismo rompeu
com o prcesso de idealizacao dos elementos latino-americanos
constitutivos da "cultura brasileira". A partir de 1924, OS
modernistas se preocupar...o com "a defesa da nacionaliza98o das fontes de inspira980 do artista brasileiro", pais ele apresenta ''o moderno como necessariamente nac.ional." 0 que procuram 8, na
"ordem universal" da modernidade, definir o lugar do Brasil. Alem
disso, segundo eles, e "nas classes p"opulares que se deve buscar
t ' d 1 t ' 1 '2 os mo 2vos a ou .ura nac2ona . Assim, 0 primitivismo
modernista atribuiu novo estatuto ao indio, ao negro e ao mestico
tomando suas manifestacOes culturais como "fonte de beleza e n.?io maiB impecilho a elabora98."o da cultura. ,,13 Esses elementos for am
mesmo considerados express5es vivas e autenticas da cultura
brasileira:
"( ) o Modernismo estarci~ em 1924~ tentando
filtrar dia.leticamente as vanguardas europ6ias e, na explora98.o do primitivismo 7 partir para a
H idem. p. 22.(
,. descoberta vivida do Brasil. '
Nesta direcao, no decenio de trinta os modernistas
estm.~ao buscando o conhecimento da "realidade" brasileira. Muitos
deles se voltam para os estudos hist6ricos e sociol6gicos. A
prOpria criaQo artistiCa conduz a esta nova atitude presente no movimento geral da 8poca, quando "o real conhecimento do paLs
faz-se sentLt~ como uma necessidade urgente e os artistas silo bastante sensibilizados por essa exigncia. ,,f.!i ~ neste sentido que os modern:Lstas mudam de perspective em rela98o a cultura popular.
Ela deixa de ser apenas "fonte de beleza" para ser tamb8m objeto de estudo, analise e investigay.io:
"Se o que se denuncia e uma s.itua.98.'o de crise~
crise de identi_dade, da consciencia nacional,
g~1e se manifesta 11a existencia do div61cio entre cultuxa e realidade,. a svpePacao deste
estado de coisas exige o eafor9o paJ'a se cbegar
ao cOnhecimento
i 1 . ~ nac ona .
da verda de ira entidade
No julgamento de AntOnio Candido, a geracao modernista, face a esta preocupacao, acabou tendo urn a atuacao no
14LOI:"ES, Tel.~ Ancona.. '"Via.gene Etnografica.s' de Mo:1rio da Andra.de'.
edi..9
desenvolvimento cultural do pais s6 comparavel aos homens que "na
segunda metade do secvlo XVIII e come90 do sBculo XIX p:reparal~am
as bases para a Independncia politica e cul tu1~a1" do Brasil.
Segundo esse autor, os modernistas deixaram "no pais um sulco I
defini tivo - na politica, na educa980~ na li teJatura~ nas artes, no movimento geral das idi:ia.s e ( ... ) no estabelecimento de institvi90es cultwais. ,1--? Uma dessas institui
expressou a tendBncia geral do modernismo nos anos trintu de
"rotiniza98o da cul tu1a" e, especificamente, expressou a
"tentativB coneciente de arranc ...
estrat8gico para OS "ilustrados" que pretendiam fazer de 530
Paulo o irtadiador de uma nova "unidade nacional" atraves da
.conquista de umo hegemonia politico-cultural. Coube a Paulo
Duarte possibilitar o encontro entre "ilustrados" e modernistas
que resultou na criao8o do Departamento de Cultura. Paulo Duarte
e Mario de Andrade elaboraram juntos a proposta do novo 6rgao municipal apresentada a Fabio Prado:
"Passei uma semana coligindo notas. Primeiro
conversei com o entiio governador de sao .Paulo.
Mas este era homem que criara a univerBide.de
pe.ulista.. Viu que ere. bom. Fui a oasa de MB.rio
de Andrade. Fechamo-nos naquele quarto em que
trabalba va. ( ... ) Mario me i:JUVilL ( . .. ) mandou-me uma poryo de dados; dais dias depois; que se somaram aos meus. l1ostrei o
,;
"A oidade gue se est8 l~emode.lando, e tomando
aspectos de uma metr6pole moderJlB,. necessitaria
tambBm ser dote.da de um aparelhamento cultural
em harmonia com o seu progresso mate1ial . . .22
Depois da aprovaoao de Fabio Prado, c6pias do projeto elaborado par Paulo Duarte e M
Cultura. Nessas repor~agens, 0 projeto foi praticamente tranBcrito na integra pelo jornal. Paulo Duarte lembrou as reacOes provocadas pelas reportagens:
"Vieram mais eugest5es e criticas. Umas
construtivas~ mu.i tas xingativas. Mas o que
chegou mesmo em guantidade foram pedidos de ,, 24-
emprego.
Em seguida o projeto foi transformado em lei para ser publicado no Diario Oficial, o que nao ocorreu na data prevista.
Mario de Andrade informou a amiga Oneyda Alvarenga, numa carta
datada de 15 de maio de 1935, o motivo do atraso. Segundo ele, "o
prefeito recebera da Presidencia da RepUblica uma lista enorme de nomes de indiv.Lduos que aeria preciBo coloca:r no Departamento e
que deixara a Prefeitura atrapalhad.Lssima pais o Departamento j8. estava com a sua burocracia completamente organizada. " Mario de
Andrade se dizia bastante inquieto com a situacao "pais em
desespero de causa'' o Prefei to ser-ia "oapaz de lam;a.r mfio dos poucos cargos tecnicos gue deixara dependendo de nomea9Bo para se
aoonselhal' oomigo. ,.2!> Nease mesmo dia, M8.rio escreve tamb&m a
Murilo Miranda e, sem menclonar o Departamento de Cultura, relata
sua ansiedade neste memento de espera:
Z4 id&rn, P !!'iZ
.. ANDRADE,
maio de 1935. M6.rio de. Carta
Arqui vo MCrio do a. Or.&ydo. Alvar&nga.,
Andra.de, IEB/USP.
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sao Paulo, do
"Decerto depoia, que se as.sente este periodo
comp.let
de Cultura, como seu diretor e como chefe da DivisB.o de Expansao
Cultural, MB.rio de Andrade dedicou mais de tr8s anos de trabalho
intense, interrompidos com a 1mplantae-fio do Estado Novo e a
consequente saida de FB.bio Pradc da Prefeitura de sao Paulo e a
inviabilizacao da candidatura de Ai>mando de Salles Oliveira a
Presid&ncia da RepUblica.
Nessas alturas dos acontecimentos, o Departamento de
Cultura, num primeiro momenta considerado par F
porque~ nB"o comportando evidentemente essas
cidades wna .Faculdade .. teriam cantata intima
com esta, at.raves de conferiimcias, cursos~ teatro .. concertos etc.,,::~
II. 2. A 1Gogisl.at;.1i'io municipal
No artigo primeiro do Ate Municipal nQ 86191 estao estabelecidas as finaiidades gerais do Departamento de Cultura e
de Recreacao. Per ele verificamos que a criacao deste 6rgilo
oficial estabelecendo diretrizes para a cultura no municipio de
Sao Paulo teve como principia bcisico "o _aperfeicoamento e extens.ifo da cultura ,F12 a populacao paulistana em geral. Com este
objetivo, o Departamento de Cultura3 :'J foi planejado como urn 6rgao: promotor e organizado