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Abraão & Ló, Uma Sombra Profética do Cistianismo Atual

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Fazem parte da série Tocai a Trombeta as seguintes obras:

Missões (Entre a compaixão divina e o oportunismo humano)

Vampiros Evangélicos

Elias, o Último Idiota

Laodicéia

A Fortaleza da Fé

Faça parte da cruzada pela restauração do cristianismo bíblico.

Distribua esse livro entre parentes e amigos.

Cristo Breve Vem!

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Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso

nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. (I Coríntios. 10. 11)

E conduziu a subversão as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas, e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente. (II Pedro. 2. 6)

O Vale de Sidim afundou e se transformou em mar, sempre fumegante e sem peixe, exemplo de vingança e morte para os ímpios. (Sanchuniathon – Sacerdote fenício)

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Sumário:

Introdução.......................................................................09

1

Até que a ganância os separe......................................19

2

A generosa Sodoma......................................................31

3

De volta à velha vida...................................................39

4

E agora, para que servem os pastores?....................45

5

O último pôr-do-sol.....................................................55

6

Desamparado e impotente..........................................63

Conclusão

Lembrai-vos da mulher de Ló...................................73

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Introdução

Prezado leitor, fico contente que tenha se interessado pelo

título de nosso trabalho, mas receio que esse livro não tenha sido escrito para você. No entanto não serei eu a decidir nem pelo sim nem pelo não.

Os livros da série “Tocai a Trombeta” foram preparados para aquele pequeno e específico número de fiéis servos de Deus que fizeram profissão de jamais se conformarem com esse mundo e que por isso se têm tornado a minoria das minorias. Não sou tolo nem alimento a vã pretensão de mudar o mundo através de uma proposta que já está fadada ao fracasso. O que tenciono é oferecer alento e apoio espirituais à viva esperança da qual participam uns poucos seres humanos que estão espalhados pelos quatro cantos do planeta. São eles os que peregrinam pelo mundo, mas que não são do mundo e que por essa razão não fazem o menor esforço para firmarem aqui as suas moradas. Estranhos na terra e desprezados até mesmo pelos “seus”, eles às vezes podem se sentir desamparados, perseguidos, humilhados e postos como escória entre os homens.

Mas eles são os verdadeiros cidadãos do Céu e legítimos herdeiros da glória que jamais fenecerá, e se não têm se adap-

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tado à vida profana dos homens de aquém, é porque mantêm viva a certeza de que em breve deverão retornar para a sua pátria eterna. Porque o Deus de todo amor prometeu jamais deixá-los sozinhos enquanto durar a peregrinação neste mun-do, e em razão disso Ele tem preparado uns poucos atalaias que entre uma batalha e outra vão dando o toque de alerta, avisando-lhes de que a hora dourada se aproxima.

Esse livro é, portanto, uma mensagem de apoio e enco-rajamento aos crentes verdadeiramente salvos, àqueles que com dores e lágrimas têm assistido a degradação moral e es-piritual de um cristianismo que já desistiu do Céu. Caso você seja um dos tais, ótimo. Pode prosseguir com a leitura, pois aqui hás de encontrar deleite para a tua alma. Mas se és um cristão morno e estás conformado com a religiosidade me-díocre e podre que se alastra, então não percas o teu tempo. Esse livro não foi escrito para você.

Aqueles que leram o meu livro “Vampiros Evangélicos” sa-bem que somente depois de muita relutância é que me dei ao labor de escrever a cerca de tão desafiadores assuntos, e os meus motivos ficaram ali devidamente esclarecidos. E eu sabia que estava pisando em solo minado e que a minha ousada atitude haveria de atrair maldições, tanto humanas quanto demoníacas, e esse na verdade seria apenas o princípio da

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minha glória; porque o máximo do contentamento foi saber que algumas pessoas estavam recebendo o meu trabalho como uma verdadeira bênção do Céu, um conforto espiritual do qual muito precisavam, pois na atual condição em que se en-contram as nossas lideranças, elas já começavam a se sentir sozinhas e sem terem alguém que, desprezando o desprezo que o próprio clero tem lhes dispensado, se desse ao trabalho de acionar o primeiro sinal de alerta.

Eu precisava ser responsável e não dar vazão às emoções, nem me apegar a informações errôneas que pudessem desqua-lificar o meu trabalho, porque se tivesse seguido o caminho dos bem-intencionados, porém fanáticos proclamadores, a mi-nha missiva, ainda que audaciosa, não teria atraído a fúria daqueles cujas faltas tenho denunciado.

Não irei dar maiores detalhes, mas não me esquivarei de informar que durante alguns meses a minha esposa e eu fomos atormentados dentro de casa por espíritos malignos que que-riam me fazer retroceder da luta. No começo, eles agiam como se fossem pessoas físicas, mas depois revelaram a sua ver-dadeira face. Por várias noites fomos despertados com fortes estrondos do que pareciam pedradas na porta de nossa sala; outras vezes éramos arrancados do sono pelo barulho de te-lhas sendo revolvidas no teto da cozinha. Pessoas corriam

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pelos fundos de nossa casa em plena madrugada e até podía-mos escutar o som de pés a se chocarem com o chão depois de haverem pulado para dentro dos muros. No princípio acre-ditávamos que se tratasse de algum ladrão, mas nunca há-víamos encontrado sequer uma marca de pegada ao redor de nossa morada. Chegamos até a comentar com os vizinhos e já estávamos dispostos a comunicar os fatos perante a polícia. O problema era que não tínhamos a menor prova de que esti-véssemos sendo vítimas de tentativas de arrombamento.

Mas acima de tudo, eu não desejava acionar a polícia porque já estava consciente de que não se tratavam de ações humanas. Eu estava bem certo do que estava se passando em nosso lar; só não sabia como comunicar o fato a minha esposa e nem podia prever a atitude que ela iria tomar frente à coisa.

Foi então que tudo começou a ficar esclarecido. Passei al-gumas madrugadas de prontidão no sofá da sala a fim de dar alguma tranqüilidade à minha senhora. Em conseqüência dis-so, faltei alguns dias ao trabalho, pois precisava tirar algumas horas de sono e me recompor diurnamente. Certa madrugada, surgiu algo cuja natureza devia estar entre o bestial e o sobre-comum. Era algo que pisava forte e que viera se esfregar freneticamente na parede lateral do quarto em que dormí-amos. Naquela madrugada apenas eu testemunhei o acon-

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tecimento e só contei o ocorrido à minha esposa depois de alguns dias.

Seria o caso de alguém desejar saber: Você não teve medo? Não se sentiu apavorado ante a presença de males que podiam estar acima dos perigos terrenos? A verdade é que cheguei a ficar nervoso, para não dizer assustado. Mas eu já estava esperando por algo dessa natureza, afinal de contas eu havia assanhado um ninho de vespas. Por outro lado, quando pe-queno fui morar com meus avós paternos em uma chácara mal-assombrada e lá tive experiências horripilantes das quais não consigo me esquecer.

Que duvidem os céticos e que zombem os incrédulos, mas é inegável que existam casas mal-assombradas. Aliás, foi justamente por esse motivo que os meus avós haviam se mu-dado para aquela chácara. A propriedade tinha sido adquirida pelo esposo de minha tia Lourdes e no princípio parecia um lugar maravilhoso para se viver. Mas depois de alguns dias começaram a acontecer coisas espantosas que estavam levando a minha tia à loucura e isso obrigou o seu esposo a comprar outra casa com urgência. Como a propriedade não pudesse ficar desocupada, vieram os meus avós e se mudaram para lá. Eu tinha muita amizade com o tio Régis, que tem a minha

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mesma idade, e assim fui morar com eles, embora sabendo que ali aconteciam assombrações.

E esse era o meu único receio: temia que a minha esposa reagisse da mesma forma que a tia Lourdes reagiu, e que assustada, sugerisse que abandonássemos a nossa casa. Nou-tra madrugada, despertei de supetão como se estivesse sendo impulsionado por uma força interior. Fazia frio horrendo no quarto e, olhando eu para a janela, notei que as cortinas esvoaçam ao vento. Foi quando notei que havíamos adorme-cido com a janela aberta. Duvidoso, acordei a minha senhora e lhe perguntei se tinha conferido bem as janelas antes de se retirar para a cama e ela me respondeu com o habitual “sim”. Isso me deixou bastante preocupado, mas o pior ainda estava por vir.

Dias depois, minha esposa outra vez me acordou no meio da noite para dizer que havia alguém andando com um ca-chorro pelo nosso quintal. Acendi as luzes de fora e fiquei atento para ver o que ia acontecer. E era exatamente como ela tinha descrito; parecia que lá fora havia alguém sendo arras-tado pela força de um enorme cão de raça. Aquela coisa se dirigiu até a parede atrás da qual estava a nossa cama e ali ficou a produzir sons que não sei descrever ao certo. Ora pare-ciam gemidos, outras vezes se assemelhavam a grunhidos de

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uma fera em grande agonia. Urrava, dava pigarros, vomitava, rugia, choramingava; era como se o seu estômago fosse uma centrífuga. O som da sua garganta era grave e assustador, fazendo-me lembrar daquelas cenas de cinema quando um lobisomem está se transformando. Parece tudo tão ridículo, mas era exatamente assim.

Enfim o show terminou e nós conseguimos dormir. Pela manhã me dirigi ao local para ver se ali havia ficado alguma marca do espetáculo noturno, mas não encontrei coisa alguma. Então tomei coragem e fui dizer para a minha esposa que es-távamos sendo importunados por espíritos enviados de Sa-tanás. E qual não foi a minha surpresa quando ela me olhou e despreocupadamente disse: “Ainda bem que é apenas coisa do demônio. Sendo assim eu não tenho com que me preocupar”.

Fiquei profundamente aliviado e desde aquele dia os espantos noturnos não mais retornaram à nossa casa. Então começaram os ataques de caráter humano e, como eu já havia imaginado, fui consultar a minha conta de e-mail e não a pude acessar. Tentei várias vezes e não obtive sucesso, então entrei em comunicação com o provedor de internet e me disseram que era possível que alguém tivesse roubado a minha senha e que estivesse usando a conta no exato momento em que eu tentava acessá-la. Dois ou três dias depois, recebi outra noti-ficação: eu precisava tomar cuidado com as minhas corres-

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pondências eletrônicas, pois a minha conta de e-mail podia estar sendo “vigiada”.

Não dou a mínima importância ao fato e não me sur-preenderia se descobrisse que o meu telefone também esteja sendo grampeado. Conheço perfeitamente as táticas dos ini-migos da Cruz de Cristo e não me admiraria saber que entre eles despontam alguns que estão travestidos de pastores evan-gélicos. Lamentavelmente, é assim que alguns deles operam e fazem pensar que estão agindo dentro da mais pura lega-lidade, e eu não sou melhor do que Elias ou Jeremias, mas como estes eu também quero manter-me fiel a Deus até o fim, dando o toque da trombeta e perturbando àqueles que estão a perturbar o Israel do Senhor.

Preste bastante atenção nestas palavras de Emílio Conde, um santo homem de Deus que já há trinta anos havia nos aler-tado dos perigos que na época eram apenas uma sombra negra no horizonte da igreja, mas que hoje tem se tornado uma realidade tão dura quanto inegável. Esse discurso deve tra-duzir toda a repulsa do verdadeiro povo de Deus e expressar o seu sentimento em ralação à postura duvidosa de algumas lideranças evangélicas de nossos dias:

“Há forças ocultas interessadas em negar a realidade dos acontecimentos; há o comodismo criminoso a justificar os

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desvios e aceitar todas as facilidades iníquas do caminho largo. Contrariar essas forças é expor-se a sofrer perseguições e desprezo; porém, o estado de alarme deve ser proclamado, antes que seja demasiado tarde.

A verdade inegável é que nem tudo corre placidamente na vida das igrejas. Se é certo que nem todas as igrejas apostataram da fé, também é certo que muitas servem a dois senhores, e outras já estão acorrentadas pelo formalismo e pelo mundanismo.

Em alguns países há igrejas cuja luz são trevas: aceitaram e adotaram todos os hábitos do mundo, inclusive jogos, diversões e linguagem mundana. A única diferença é que essas coisas são praticadas por seus membros, à sombra da própria igreja, no seu patrimônio, o que agrava ainda mais o pecado diante de Deus: são a vergonha da Cruz”. (Igrejas Sem Brilho – CPAD)

Essas coisas ele disse no final dos anos setenta, quando a igreja1 ainda vivia sob os ventos do poderoso avivamento tra-zido pelos nossos dois grandes pioneiros, e parecia estar no

1 Aqui a alusão é à minha própria denominação, a Assembléia de Deus. N.A

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apogeu da graça divina. Naqueles dias, apenas as almas verda-deiramente santas e libertas poderiam levantar a voz para anunciar que nem tudo era como parecia ser. Era Abraão retornando do Egito para avançar sobre a terra da promissão, mas no oculto já começavam a despontar os primeiros sinais de desentendimento entre os pastores do gado. Ló também já começava a se enfadar da peregrinação e da vida simples sob as tendas, e elevava o olhar para as cidades, tão confortáveis e convidativas.

Aquilo que há trinta anos era apenas uma sombra, hoje passou a ser uma irreversível realidade. Agora Ló está moran-do entre os abomináveis cidadãos de Sodoma, e o que é pior: passou a ser um deles! Abraão tem uma missão: orar, mas não pela salvação de Sodoma, pois a sua culpa já se tornou irre-versível e a condenação também será inevitável; ele deve inter-ceder para que Ló, sob pena de perder todos os bens terrenos e até mesmo a sua família, abandone a cidade antes que seja tarde demais.

A mensagem divina para os cristãos além dessa sombra profética é a seguinte: retornar imediatamente para a vida peregrina sob as tendas, ou então ficar na cidade e incorrer na sua condenação. Quem tem ouvidos ouça!

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1Até Que a Ganância os Separe

E houve contenda entre os pastores do gado de Abraão e os pastores do gado de Ló; e os cananeus e os perizeus habitavam na terra. (Gênesis 13. 7)

Tudo começou da maneira mais óbvia e, por isso mes-

mo, a menos provável. Ao deixar a verdejante Mesopotâmia para ir habitar em Canaã, Abraão já era um homem de posses, mas para todos os efeitos não podia ser considerado como um fazendeiro rico. Ló era órfão, e sem que apresentasse aparentes razões, empreendeu com ele nessa arriscada jornada a uma terra de gente selvagem e impiedosa; talvez alimentando o secreto sonho de que o tio Abraão, sendo já idoso e não tendo filhos, fizesse dele o seu legítimo herdeiro.

Se comparada com a garbosa Mesopotâmia, a terra de Canaã não passaria de paupérrima (que o diga Golda Meir), mas esse seria o menor dos problemas de Abraão e sua gente. Havia uma ameaça contra a qual era preciso estar precavido:

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tribos nômades se espalhavam por toda parte. Eram povos bárbaros e sem princípios morais, que costumavam se con-federar com a finalidade de promover guerras e pilhagens sobre comunidades menos preparadas. Eles apareciam de repente,como nuvens de gafanhotos no horizonte e num instante cobriam a terra, matando, destruindo, pilhando os bens físicos, fazendo escravos e arrebatando o fruto das colhei-tas.

Nas cidades, geralmente pequenas e protegidas por fortes muralhas, as pessoas se reuniam sob as égides de um rei. Nos campos estavam as tribos, sempre lideradas por um pai de família que possuía várias mulheres, das quais também gerava muitos filhos a fim de fortalecer os seus domínios. Estes lí-deres tribais também viviam sob constantes ameaças, e para que não viessem a ser dizimados por inimigos mais fortes, eles usavam de alianças, realizando casamentos com membros de outras tribos. Não era raro aparecer algum notável guerreiro para desafiar o chefe da família a um duelo mortal onde o vencedor se apropriava de todas as posses do derrotado. Era a verdadeira lei da selva. Foi com base neste princípio tão rudi-mentar que o gigante Golias desafiou a casa de Israel.

Canaã tornara-se a principal rota comercial entre as terras do norte e o Egito, mas os viajantes desavisados e mercadores

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pouco prevenidos eram presas fáceis para os salteadores que abundavam na região. Que dizer de uma família de peregrinos vindos da rica Mesopotâmia com todas as suas posses de gado, prata, ouro e escravos? Que chances teriam eles de se dar bem na selvagem Canaã?

Havia uma maneira de evitar alguns infortúnios, mas era necessário unir as famílias por meio de casamentos, algo que Abraão sabia que jamais poderiam fazer. Então o único jeito se proteger contra a ganância dos moradores da terra era manter--se unido a Ló, somando escravos a escravos e mercenários a mercenários. A união faz a força, e naqueles tempos a força impunha respeito. Sendo assim, enquanto se mantivessem unidos como um bloco compacto a segurança estaria garantida para ambos.

Ao regressar de sua viagem ao Egito, as riquezas de Abra-ão tinham se multiplicado grandemente, tanto em prata e ouro quanto em gado e servos. Abraão enfim havia se tronado um homem reconhecidamente poderoso e já podia estar com mais segurança na terra de sua peregrinação. Em Canaã houvera ocorrido grande seca e isso tinha provocado calamidades entre aqueles povos cujas condições de vida sempre foram precárias

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em relação às civilizações mais modernas; isso porque Canaã parecia se orgulhar da pecha de ser um buraco no deserto2.

Em tais condições as almas daqueles povos, infames por natureza e por opção, já haviam despertado o máximo de sua impiedade. Maldições eram pronunciadas sobre cada monte; vilarejos inteiros estavam sendo massacrados e reduzidos ao pó; crianças eram sacrificadas aos milhares às divindades lo-cais; havia fome e desolação na terra! As comunidades meno-res foram as que mais sofreram; nem tanto pela seca e pela fome, mas em conseqüência da selvageria dos mais fortes. Era assim que funcionava. E foi justamente para escapar da impiedade (que parecia natural aos cananeus) que Abraão se retirou para o Egito em plena época de sequidão. Aliás, essa era uma das poucas vantagens de ser um peregrino na terra.

Até que as chuvas voltaram a cair sobre o solo, e Abraão, não sei sede boa vontade, regressou para dar continuidade ao plano original que Deus havia traçado para ele e sua família. Agora era um homem definitivamente rico, e desde que pu-desse manter a unidade do seu povo, não teria que se pre-ocupar com vãos espantos.

2 Uma alusão às terras que Salomão tinha oferecido ao rei Hirão. N.A

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Acontece que o ser humano vale apenas aquilo que ele tem e quanto maior for o seu patrimônio, tanto maior cuidado de-verá ter com a vida. As riquezas de Abraão não demorariam acender a cobiça dos moradores da terra, os quais além de se-rem convencionalmente ladrões e pilhadores, ainda não esta-vam completamente refeitos dos estragos causados pelos anos ruins da seca. Abraão e sua gente precisavam estar dupla-mente alertas contra os olhos famintos da vizinhança.

Um fato insólito enfim aconteceu, e já podia ser esperado, pois com o aumento das riquezas de Abraão surgiu o orgulho entre os pastores do seu gado e estes passaram a contender com os guardadores dos rebanhos de Ló; porque a terra que deveria abrigar uma numerosa nação de repente se tornava pequena para os rebanhos de apenas dois homens! E embora o motivo da contenda pareça justificar-se, o escritor de Gênesis faz questão de esclarecer que a ruptura entre as duas famílias poderia ser no mínimo desastrosa e, com toda certeza, era exatamente isso que os gananciosos habitantes de Canaã estavam desejando que acontecesse. E apesar do real e imi-nente perigo que os rodeava, eles optaram por quebrar o vínculo da paz. E desde já estavam vulneráreis às investidas de seus inimigos.

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Mais inusitada ainda foi a resolução tomada por Abraão a fim de acabar de vez com as contendas entre os pastores, por-que, usando de uma generosidade pouco habitual, ele per-mitiu a Ló decidir qual parte daquela terra desejaria possuir. Agora eles se encontravam nas cercanias de Betel, no exato local onde o Senhor anteriormente tinha aparecido ao pai da fé e lhe prometido como herança. Ou seja, Abraão momenta-neamente abria mão de sua divinal dádiva para deixar tudo na palma de Ló, não se importando com a possibilidade de o seu sobrinho se decidir pela posse do pedaço de chão que estava sendo pretendido pelos pastores de ambos.

Não sei precisar se Ló agiu respeitosamente em relação aos direitos que prioritariamente eram de seu tio, ou se no fundo do coração ele nutria outras ambições, mas é certo que não fez nenhum caso da terra que fora motivo da grande contenda e, em vez disso, dirigiu o olhar para o maravilhoso Vale de Sidim, tão verde e tão tentador. Foi para lá que pendeu o seu coração e assim partiu, levando sua família e sua fazenda. Ora, naquela época o Vale de Sidim era a melhor parte de toda a terra prometida!

Mas vamos entrar no segredo da coisa. Abraão representa a igreja cristã; não necessariamente o cristianismo, mas a igreja espiritual, o corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, a

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Noiva do Cordeiro. Ló, por outro lado, é a igreja no seu sentido de instituição física e denominacional. No princípio era um só povo, unido e a peregrinar em uma terra estranha e cheia de perigos mil. No mundo desafiador que tinham de conquistar eles contavam apenas com a proteção da fé e com a força da comunhão que mantinham entre si. Foi então que os rebanhos se multiplicaram e os pastores de ambos os lados co-meçaram a disputar para ver quem tinha mais direito à melhor parte do pasto. Esta briga entre os pastores foi, portanto, o princípio da grande tragédia, pois fez romperem-se os sagrados laços da comunhão, enfraquecendo o povo, fazendo-os reféns e submetendo-os a toda sorte de danos. Eis aí a sombra profética do que estaria por acontecer à igreja de Cristo nos dias que antecedem o fim.

Acredito que nenhum expositor verdadeiramente sincero ousará admitir o contrário do que estou a sustentar: a vida de Ló definitivamente é uma sombra profética do cristianismo final. Não sou apenas eu a afirmá-lo, mas o próprio Cristo o declarou em Lucas 17. 29, 30. Mas antes do seu cumprimento cabal, esta sombra profética já previa uma tragédia para os dias do cristianismo primitivo. Observe como as peças se en-caixam.

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Devido ao desentendimento gerado entre os pastores, Abraão e Ló tiveram de se separar. Este foi habitar na fértil planície de Sodoma, e aquele optou em morar nas cercanias de Hebrom e aparentemente tudo havia ficado resolvido e, a família, embora dividida, estava em paz. Mera ilusão. Os reis que dominavam naquela região eram vassalos de Quedor-laomer e seus confederados e em tal condição estavam obri-gados a pagar-lhes tributos que iam desde metais préciosos, cereais, óleo de olivas e vinho até a escravização de seus cidadãos. E de fato eles estiveram sob tal submissão por mais de doze anos, até que se rebelaram e a guerra se tornou inevitável. Resultado: os reis de Sodoma e de Gomorra foram derrotados e toda a sua gente foi submetida à escravidão. Todas as suas fazendas foram saqueadas e como não podia ter sido diferente, Ló e sua família foram feitos reféns, perdendo tudo o que possuíam. Falido e transformado em escravo, Ló pôde enfim perceber que não tinha sido uma boa idéia o ter abandonado a companhia de Abraão.

Mas nem tudo estava perdido. Abraão, a igreja espiritual e intocável, saiu em seu socorro para resgatá-lo, e mesmo munido de armas tão precárias como eram a funda e o arco, típicas dos guerreiros nômades, ele e seus servos conseguiram desbaratar os poderosos exércitos de quatro reinos. No final,

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Ló e toda a sua família foram postos em liberdade com tudo o que possuíam.

Figura e símbolo da crise espiritual enfrentada pela igreja nos anos do cristianismo primitivo. Ora, Abraão, a igreja espiritual, não pode ser corrompida e nem depende dos pode-res temporais para triunfar sobre o mundo mal (Canaã) no qual vive a peregrinar. Quanto a Ló, é a instituição congre-gacional, sempre propensa às influências do presente século e, portanto, corruptível. Ao dissociar-se de sua origem espiritual e peregrina (cuja sombra é Abraão) para ir morar à sombra de Sodoma e assim desfrutar de seus favores, Ló estava abrindo mão da presença do Onipotente e, por conseguinte, da mesma proteção que Ele dispensava ao pai da fé.

O grande problema de Ló foi se deixar crer que pela opulência adquirida junto de Abraão estivesse ele já fortale-cido e bastante seguro para enfrentar os perigos da terra. Ló estava enganado, pois deixara a proteção do Deus das pro-messas para ir se amparar junto a um povo ímpio e imoral que apesar de já estar em degradante estado ainda fora se fazer vassalo de homens tiranos.

Os apóstolos que edificaram a igreja sobre o firme fun-damento que é Cristo, jamais ostentaram a menor das pre-tensões humanas, mas fazendo-se escravos Daquele que a to-

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dos liberta, dedicaram as suas vidas a mais digna de todas as ocupações: transformar o mundo pelo poder da Palavra de Deus e pelo testemunho de Cristo. Eles eram o modelo do cris-tianismo original, mas desde que foram partindo para estar com o Senhor e novas gerações de obreiros começaram a surgir, havendo também se multiplicado os números do reba-nho em todo o mundo romano, apareceram pastores ganan-ciosos que passaram a disputar a primazia sobre a bendita grei do Santíssimo Senhor.

Estes se reuniram em convenções e passaram a questionar a autoridade apostólica e todos os padrões morais e espirituais que tinham determinado sobre os santos; exatamente como havia acontecido com os pastores que pleitearam pela “justa” causa de seus senhores Abraão e Ló, quando para a infe-licidade do rebanho a unidade foi quebrada. O que aconteceu daí em diante foi que, sem o compromisso com o evangelho apostólico, mas inebriados com o vinho da cultura secular, estes pastores da divisão foram se amparar sob as égides de Roma (tal como Ló em Sodoma). O resultado disso foram os séculos de escravidão e a perda temporária dos bens espiri-tuais.

E assim como Abraão agiu para trazer de volta Ló e sua gente, Deus também interferiu na história terrena e preparou

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um poderoso reavivamento espiritual para devolver a líber-dade e a herança eterna à cristandade. A libertação de Ló resultou em grandiosas bênçãos para aqueles cinco reinos diante dos quais ele habitava; agora, além de não mais terem de ir para o cativeiro, eles teriam todos os seus pertences de volta, e o que era mais importante: haviam se libertado da hu-milhante escravidão sob a qual viveram por doze anos.

Isso nos remete à poderosa transformação moral e espi-ritual que o mundo presenciou após o grande reavivamento da Rua Azuza, quando a igreja temporal reacendeu e a huma-nidade foi grandemente impactada pela Mensagem da Cruz. Mas até isso não deveria durar por muito tempo. Ló parece não ter aprendido a lição...

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2A Generosa Sodoma

Então o rei de Sodoma disse a Abraão: Dá-me as almas, e a fazenda toma para ti. (Gênesis 14. 21)

Perniciosa barganha. A igreja espiritual jamais nego-

ciará com o mundo. Abraão não movera um só dedo pela li-bertação de Sodoma; tudo o que fizera foi pela vida de Ló e sua família, mas o rei daquela cidade quis acreditar que podia retribuir os favores recebidos e por essa razão foi oferecer ao patriarca todos os bens materiais que Quedorlaomer lhes tinha saqueado por ocasião da guerra.

Abraão se negou a recebê-los e deve tê-lo feito por duas boas razões. A primeira razão se restringe ao fato de o pai da fé não ser um mercenário, tal como a verdadeira igreja nada fará pela expectação de ser recompensada neste mundo. A segunda razão diz respeito à vigilância que é típica dos santos peregrinos; Abraão conhecia bem aquela gente abominável e

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tinha consciência de que cedo ou tarde os seus presentes lhes causariam muitos males.

Mas Ló, a igreja temporal e muitas vezes mundana, não via problema algum em aceitar a gratidão e generosidade de Sodoma. Porque não demorou para que fosse divulgado entre todos que Ló, um sobrinho do homem que os havia libertado dos aguilhões de Quedorlaomer, era forasteiro e que já a al-gum tempo estava habitando em tendas diante das portas da sua cidade. Alguma coisa precisava ser feita, pois não era justo que aquele por cuja causa foram salvas tantas vidas viesse a ficar sem as devidas honras.

Esse é o ponto crítico de todo o simbolismo em questão, porque vem surgindo como um marco da secularização do cristianismo atual. Até aquele dia Ló havia habitado em sua tenda, pois assim como Abraão, ele era peregrino na terra. Deve ter ocorrido uma enorme transformação na sua cabeça, algo que tenha lhe turvado a visão e a compreensão das coisas. Deus não prometera coisa alguma a Ló, e agora ele sabia que toda aquela terra tinha sido dada ao seu tio e que a condição de peregrino exigia permanente habitação sob tendas.

Fisicamente ele já havia se apartado de Abraão, mas espiri-tualmente os dois ainda permaneciam ligados pela esperança, ou seja, de certa forma Ló também anelava as mesmas bênção

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que o Senhor estava preparando para o seu tio. Mas para des-frutá-las era necessário cumprir os divinais propósitos. Habi-tar em tendas e ser peregrino em uma terra estranha era parte indissolúvel da missão abraâmica e seria um dos sinais do seu compromisso com o Deus que o havia chamado.

A repentina transformação da mente de Ló e a sua mudan-ça das tendas para os confortáveis palácios de Sodoma são por demais sugestivas e mexem profundamente com a minha ima-ginação. Julguemos dessa maneira: a missão que Deus deu a Abraão não era outra coisa senão o Seu plano mestre para a eterna redenção da raça humana. É óbvio que no princípio de sua vocação, lá em Ur da Caldéia, Abraão desconhecia a grandeza desse propósito divino, mas à medida que ama-durecia o relacionamento entre ambos, o Senhor ia acrescen-tando revelações à consciência daquele que viria ser o pai espiritual de todos os crentes.

O livro de Aos Hebreus é enfático quando afirma que Abraão, Isaque e Jacó habitaram em tendas todos os dias de suas peregrinações porque tinham a consciência de que ao pé da letra jamais tomariam posse daquela terra; Deus os havia escolhido para que fossem peregrinos em Canaã, querendo que por meio desse rústico simbolismo a futura igreja de Jesus Cristo compreendesse a sua verdadeira missão e condição

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neste mundo mal. A isso a Bíblia chama de viver genuína-mente pela fé. Aqueles patriarcas sabiam muito bem que apenas os seus descendentes da quarta geração é que iriam possuir aquele pedaço de solo (Gênesis 15. 16) e que a verda-deira terra que o Senhor Deus lhes tinha prometido era a Jeru-salém Celeste, sonho e morada da legítima descendência de Abraão, ou seja: todos os santos redimidos, vindos de todas as partes do mundo e em todas as eras.

Abraão, Isaque e Jacó abraçaram o plano divino e deci-diram viver segundo a vontade Daquele que os havia chama-do. Podiam contrariar esse “capricho” divino e irem habitar nas cidades que eles mesmos construíssem; se desejassem, também podiam retornar para a linda Harã de onde tinham saído. No entanto, eles decidiram ficar, e peregrinaram como estranhos em uma terra da qual não possuiriam sequer um palmo de chão (Atos 7. 5), morando em cabanas, porque enten-deram o verdadeiro sentido da vida, que é passar por esse mundo e viver como num preparo para a eternidade. Eles receberam visões proféticas e literalmente contemplaram a Canaã Celestial, podendo enfim testificar que eram peregrinos no mundo e forasteiros na terra. Glória a Deus! Benditos aqueles que pela fé podem anelar às mesmas bênçãos e dar igual testemunho de que têm deixado o mundo para trás!

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Mais tarde os seus descendentes poderiam edificar cidades para nelas habitar; mas eles mesmos, a fim de poderem cum-prir a vontade do Altíssimo, não deviam jamais trocar as ten-das pelas habitações da cidade.

E Ló, morando em tendas à entrada de Sodoma, tinha plena consciência do maravilhoso plano divino consoante a Abraão, e mesmo assim parece não ter oscilado quando foi convidado a fazer parte da sociedade sodomita. Corta-me o coração imaginar o marcante momento em que ele abriu mão das prerrogativas divinas para abraçar a recompensa mun-dana que o transformaria em um cidadão de Sodoma, porque em outras palavras Ló estava desistindo definitivamente do Céu! Eis aí a proposta que faz o mundo; eis aí a generosidade de Sodoma.

A vida na sociedade antiga era exclusivista e bastante diversa da atual. As suas cidades eram muradas e o habitar dentro dos seus termos estava reservado apenas aos seus cidadãos. Forasteiros e mercadores vindos de outras partes só podiam passar para além das suas portas se recebessem antecipada aprovação e mesmo assim essa visita já tinha prazo de validade predeterminado. Além das vantagens de morar em uma cidade e de ser membro de sua sociedade, o cidadão ainda podia contar com o benefício das leis locais, o que lhe

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garantiria maior segurança e comodidade. Eis alguns dos privilégios que se reservavam aos membros de uma sociedade: antes de tudo ele teria o seu nome escrito naquele que a poesia veio a chamar de o livro da vida, o qual não era mais do que o rol contendo todos os registros de nomes daqueles cidadãos que ainda não haviam morrido; ademais, esse cidadão teria uma boa casa que seria só sua; teria o direito de votar e de tomar parte em todas as deliberações importante da cidade; tinha o direito de concorrer aos cargos públicos e em caso de guerra, escassez ou falência, podia se beneficiar das reservas locais e até receber assistência que o livrasse da mendicância; e se acontecesse de ser seqüestrado, seus concidadãos pagariam pelo resgate.

Em suma, não havendo nascido em berço sodomita, só havia uma maneira de Ló se tornar cidadão daquela socieda-de: sendo convidado pelo regente local. Um privilégio tão grande que apenas uns poucos felizardos chegariam a obter. E Ló só conseguiu essa “dignidade” porque o arrogante rei de Sodoma não quis ficar devendo favores a Abraão.

Foi dessa maneira que Ló deixou de ser herdeiro do Céu e para se tornar cidadão do mundo. Trocou a Jerusalém Celeste pela ignominiosa Sodoma. Abandonou a humilde cabana pelo luxuoso palácio e deixou a providência divina pela proteção

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das muralhas. Mas desde o momento em que ele aceitou os privilégios mundanos em detrimento da vida simples do no-madismo e o seu nome passou a constar no rol dos cidadãos de Sodoma, uma estrela se apagou no céu, porquanto a lista do verdadeiro livro da vida estava agora diminuída.

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3De Volta à Velha Vida

E se, na verdade, se lembrassem da terra de onde haviam saído, teriam oportunidade de tornar. (Hebreus 11. 15)

O saudoso pastor Valdir Bícego costumava parafrasear

o profeta Amós3 ao dizer que duas pessoas não poderão andar juntas se não estiverem de acordo, e que se isso acontece é por-que alguém está influenciando, enquanto o outro é influen-ciado. Seu testemunho é verdadeiro, mas não pode ser aplica-do ao caso da união entre Ló e os cidadãos de Sodoma.

Exegetas há que procuraram dar um parecer mais poético à convivência de Ló em Sodoma, especulando talvez que ele tenha se tornado legislador daquele povo e que a pedido de seu rei ele teria aceitado o convite de aderir àquela sociedade sob pretexto de ensinar-lhe leis justas e costumes pudicos.

3 Amós. 3. 3

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Um estudo detalhado da vida de Abraão tem revelado que ele não apenas era conhecedor das leis antigas, mas um fiel executor das mesmas. As tradições existentes a seu respeito, quer entre os povos que saíram de seus lombos, quer em cita-ções de parcos historiadores do mundo primevo, de fato nos fazem saber que ele foi um persuasivo pregoeiro da moral e da civilidade. A sua história, mesmo aquela que é contada na Bí-blia, está marcada por episódios que refletem princípios já descritos no Código de Hamurabi, o qual é o conjunto de leis escritas mais antigo de que se tem conhecimento. Abraão cer-tamente o conhecia de memória, pois se tem acreditado que Hamurabi era o mesmo Anrafel de Gênesis 14. 1. E ainda que esse rei de Babilônia não tivesse sido contemporâneo ou mes-mo conterrâneo4 do nosso Abraão, as leis prescritas no seu có-digo eram famosíssimas na Mesopotâmia e podiam, portanto, estar de contínuo na mente e nos lábios do grande pai dos hebreus.

Há alguns textos na Bíblia que parecem indicar que Ló tenha se tornado juiz em Sodoma5. Se isso foi verdade, então

4 Hamurabi era rei de Uruque, vizinha de Ur, a terra natal de Abraão. N. A

5 Gênesis 19. 1, 9; II Pedro 2. 7,8.

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não estaremos exagerando se dissermos que a sua missão naquela cidade era a de doutrinar àquela gente ímpia e sem princípios morais; uma ocupação tão altruísta e nobre quanto infrutífera e arriscada. Altruísta, porque era humanitária e visava melhorar o caráter reprovável de uma sociedade moral-mente morta; infrutífera, pois o feito estava muito acima das capacidades de Ló; nobre, porque se tratava da mais digna ocupação que um homem podia ter; arriscada, porquanto o legislador apostava muito e corria o perigo de botar tudo a perder.

Mas ele estava realmente decidido a correr o risco, pois ao se tornar cidadão de Sodoma, a primeira coisa que fez foi dar suas duas filhas em casamento aos filhos daquela cidade e com isso cometera um erro ao qual jamais conseguiria corrigir.

Fiel retrato de uma igreja que se casou com o sistema desse mundo. Ló se nutria com a doce ilusão de que estava contri-buindo para a evolução moral de Sodoma, quando na verdade tornava-se escravo de um sistema perverso que iria lhe causar muitos danos, podendo até consumir-lhe a vida. Todos os seus esforços eram em vão, já que Sodoma em nada evoluía senão na culpa perante Deus e os homens. Isso serve para nos fazer lembrar de que o evangelho moderno com todos os seus en-

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feites não funciona. Porque Deus não tem compromissos com a cristandade mundana. Apenas os filhos de Abraão (a igreja das cabanas) é que herdarão as promessas do Senhor.

O evangelho de Ló, digo a mensagem que se acomoda ao presente século, não possui o verdadeiro poder transformador. Às vezes ele até consegue modificar a vida das pessoas, con-vertendo-as em seres humanos melhores: viciados saem da sarjeta; moças abandonam a prostituição; homens largam as bebidas; mulheres deixam a vida dissoluta; famílias são restau-radas e filhos se libertam das drogas. Tudo isso é muito bom, mas ainda está abaixo da verdadeira proposta do Evangelho que peleja para arrancar os homens dos malhos do inferno e transformá-los em legítimos cidadãos do Céu.

Do pontos de vista espiritual e real, o evangelho moderno está falido e não pode cumprir os propósitos divinos, por-quanto seja puramente humano e carnal, não conseguindo estar acima de religiões como o espiritismo e o budismo, igual-mente úteis para tornar os homens em pessoas melhores, mas que são incapazes de prepará-los para o encontro com Deus.

É igualmente tolice imaginar que essa porcaria de evan-gelho mundano seja suficiente para salvar a humanidade. Mesmo assim os donos de igrejas podem ficar ufanados pelo fato de os seus templos estarem cheios. Eles podem se gabar

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dos magníficos palácios de Sodoma, cheios de gente fina, mas que não deixam de ser um coito de demônios, com seus cultos de prostituição permitida. Assim eles são sepulcros caiados que se preservam para o dia da destruição. Eis que a sua igno-mínia há de ser manifesta!

Ló nem imagina o risco que ele e a sua família estão cor-rendo dentro dos muros de Sodoma. Seus genros são homens abomináveis que cedo converterão as suas filhas em prosti-tutas da mais baixa qualidade. Os filhos que dessa união nascerem serão iniciados nos cultos de Satanás e não temerão ao Deus de Abraão. Cachaceiros, prostitutos, mentirosos, in-cestuosos, pederastas, pedófilos, maldizentes, idólatras, eles serão um opróbrio e uma nódoa eterna em sua história. Até a sua esposa já está infectada pela influência daquele povo, e estudiosos acreditam que ela tenha “uma” amante em Sodoma e que essa será a verdadeira causa de sua transformação em uma estátua de sal.

Ainda assim Ló está orgulhoso de pregar para uma comu-nidade enorme, composta pela gente rica e refinada da cidade grande, enquanto Abraão persiste em sua “mediocridade”, apascentando míseras ovelhas do deserto entre espinhos e pe-dras. Contudo, todos aqueles que nascem nas humildes tendas

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de Abraão hão de entrar para a vida eterna. Quanto aos filhos das pregações de Ló...

Essa estagnação reflete a presente condição da cristandade. É uma maneira que os crentes encontraram para disfarçada-mente retornarem à velha vida sem ter que assumir que já têm negado o Senhor que os chamou.

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4E Agora, Para que Servem os Pastores?

Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos e tuas filhas, e todos quantos tens nesta cidade; tira-os fora deste lugar. (Gênesis 19 12)

Quando o Senhor edificou a sua igreja, deu-lhe pastores

para que por meio destes fossem os santos aperfeiçoados6. Mas está acontecendo algo diabolicamente nefasto em nossas igre-jas, e sob o olhar de seus líderes, de modo que se não for pela excelência da misericórdia divina, ninguém se salvará ante o toque da trombeta. Estou me referindo ao conformismo dos nossos pastores e à falta de espiritualidade daqueles que lidam com o rebanho do Senhor. Ultimamente tenho me ocupado em vigiar o avanço das heresias e das influências mundanas entre o povo de Deus, e em conseqüência disso me deparei com a triste realidade de que as ovelhas estão espiritualmente de-samparadas, pois as igrejas evangélicas já não oferecem seguro

6 Efésios 4. 11, 12.

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abrigo contra as investidas de Satanás e seu vil pecado. E a explicação (doa em quem doer) é apenas uma: os pastores abaixaram a guarda; não atacam nem se defendem. E para a nossa infelicidade é chegada a época do “salve-se quem pu-der!”

Foi em decorrência das brigas entre os pastores que Ló e sua família se apartaram da companhia de Abraão e daí até pular para dentro dos muros de Sodoma foi apenas um passo. Mas agora que ele havia se tornado um cidadão do mundo e penava a mercê de sua imundícia pela decadência moral e espiritual da própria família, onde foram parar os pastores do seu gado? Foi buscando privilégios, comodidade e segurança que Ló e sua família se transportaram para dentro das mura-lhas de Sodoma; mas que infortúnio o surpreende agora! To-dos eles espontaneamente vieram a se tornar reféns daquele sistema iníquo. Agora Ló, ainda que seja um bom homem, está pagando pelos erros de uma decisão. O apóstolo Pedro afirma que Ló havia se tornado infeliz todos os dias em que vivera em Sodoma. Mas por que não tomava as suas coisas e não partia dali?

Era a vil insipiência que o estava dominando. Ló jazia pre-so àquela cidade e por mais consciente que estivesse da sua miserável condição, ele não conseguia tomara a decisão de dar

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o primeiro passo rumo à liberdade. É o que está acontecendo a muitos crentes na atualidade. A consciência de muitos pasto-res tem denunciado a letargia espiritual em que eles mesmos e suas igrejas se encontram nesse momento. Alguns deles reco-nhecem que estão desviados dos princípios bíblicos que nor-teiam a vida e que são os adornos da salvação, indispensáveis para o testemunho de nossa peregrinação por esse mundo. Mesmo assim, eles não conseguem reagir por si próprios nem pela integridade dos rebanhos que lhes foram confiados. Assim, calmamente assistem a degradação espiritual do povo de Deus e deixam que nesse conformismo igrejas inteiras ru-mem para a eterna perdição.

Ló até que deseja se libertar de Sodoma, mas não encontra forças para reagir; talvez não esteja conformado com o pecado da cidade, mas presenciado os estragos que a influência da-quele povo está a exercer sobre a sua família inteira e isso tem lhe causado muitos dissabores. A Bíblia menciona os filhos de Ló apenas de passagem e isso quer significar que eles já tinham se casado com as prostitutas de Sodoma e que já há-viam se tornado tão abomináveis quanto os moradores dessa cidade. Ele ainda possuía duas filhas virgens ali dentro, mas até quando?

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Será que você, prezado leitor, consegue imaginar a com-plexidade do estado moral dos filhos de Ló e do tipo de vida que eles estavam levando entre os moradores de Sodoma? Pare por um instante e tente imaginar seus próprios filhos praticando os pecados mais abomináveis que a condição hu-mana já pôde conceber. Consegue imaginá-los drogados e lançados nas sarjetas da vida? Pode ao menos pensar que as suas filhas adolescentes estão nuas na praça, fazendo orgias bestiais com uma interminável fila de rapazes, um após o ou-tro? Imagine que os seus filhos se tornaram pederastas e que realizam o próprio coito em plena rua e perante os olhos de quem quiser ver. Eles agora são pedófilos e estupradores e se dão às inimagináveis orgias com animais.

E quanto aos seus netinhos, que dizer deles? Será que você consegue pensar que estas tão inocentes almas serão arras-tadas para o homossexualismo mesmo antes de atingirem os cinco anos de idade e que serão sexualmente exploradas por homens cujos corações você ajudou a corromper? Você, Ló, tem consciência de que esse sistema é podre, mas nem imagina que a sua família inteira, inclusive a sua esposa, tenha o coração preso a esse antro de iniqüidades. E acredite-me, Ló, parte da culpa é sua. Você mesmo os entregou a esse lastimá-vel estado de perdição.

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Agora você, amigo leitor, já sabe que esse é apenas um pálido retrato da sociedade sodomita, e de como estava viven-do a família de Ló no meio daquela gente. Pobre coitado, o sobrinho de Abraão se deixou imaginar que ao entrar em So-doma iria transformar o modo de viver de seus habitantes! Mas nada disso aconteceu, e o que é pior, ele acabou se descui-dando da proteção espiritual e moral de sua própria casa!

Agora seja sincero consigo mesmo e me responda: você realmente acredita nesse evangelho fajuto que é pregado em nossos púlpitos e que todos os dias vai à televisão para ser vendido? Você é tolo o bastante para imaginar que alguns pastores engomadinhos estejam mesmo preocupados com a eterna salvação da sua alma? E o que dizer de nossas luxuosas e abarrotadas igrejas? Será que elas têm oferecido verdadeiro amparo espiritual àqueles que a estão procurando? Seria você tão tonto e inconseqüente a ponto de acreditar que essa multi-dão de denominações mundanas, com seus milhares de mem-bros espiritualmente mortos, esteja preparada para a vinda de Nosso senhor Jesus Cristo?

É lamentável ter de admitir, mas nós estamos correndo verdadeiro perigo, e o pior de tudo é que a grande maioria dos nossos líderes de igrejas tem se fortalecido para que com uma só e forte voz possam negar que o cristianismo atual esteja

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falido, e que assim como aconteceu à comunidade cristã de Laodicéia irá o Senhor igualmente nos vomitar da sua boca. Isso é bastante para que entendamos que a cegueira é coletiva e que já tenha se tornado irreversível. E ai daqueles que levantarem a voz para dizer que as coisas não andam às mil maravilhas! A estes estão reservadas maldições, perseguições e muitas dores.

Mas é verdade que as nossas igrejas têm se tornado mun-danas e já não podem agradar a Deus. Nossos líderes são ho-mens espiritualmente mortos e vazios da graça divina. Todos os seus esforços (inclusive aqueles que parecem estar dirigidos exclusivamente à evangelização do mundo) se resumem apenas em arrecadar dinheiro. Acho uma abominação que em nossos cultos a palavra da moda seja a “oferta”. Em nossos dias é praticamente impossível encontrar cristianismo e culto evangélico sem que se inclua algum tipo de coleta.

E esse não é o nosso principal problema. O que está acon-tecendo é que os novos pastores evangélicos estão se esfor-çando para lançar a última pá de cal sobre a memória da santa igreja para que em seu lugar seja implantada a teologia do conformismo e do relativismo doutrinário, ensinando que a santidade é algo relativo e que a perfeição jamais poderá ser atingida e que por essa razão deve ser posta de lado. Agora

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eles já pregam que Deus não está interessado em “convenções” e que o importante mesmo é que o homem tenha um “bom” relacionamento com Ele.

Essa atitude criminosa deixará um lastimável legado á igreja do amanhã, pois o projeto de Satanás é transformar o mundo inteiro, inclusive as suas igrejas, em uma Sodoma. E tal coisa está acontecendo bem diante de nossos olhos, com a permissão e até participação de muitas lideranças cristãs. Mas meus irmãos, não se deixem enganar: atualmente as nossas igrejas estão tão afeiçoadas ao mundo que os verdadeiros cristãos já não sentem mais prazer em freqüentar as suas reu-niões e o motivo de tal repúdio se explica pelo fato de que os seus cultos têm se transformado em genuínas badernas.

Na verdade, se tentássemos enxergar as coisas com os olhos do espírito, admitiríamos que os cultos que atualmente se fazem em nossos templos não são dirigidos a Deus, mas a Belial. Eles contêm todos os ingredientes comuns às cele-brações que se fazem no inferno: danças, gritos, assobios, cho-carrices, contendas, sensualidade, música profana, brincadei-ras, irreverências, palhaçadas, anedotas, apresentação de fil-mes, linguagem impura, rixas, vaidades mil, namoros, aza-rações, encontro amorosos, rifas, bingos, jogos, artes marciais, apresentações teatrais, desfiles de moda, cachorro quente,

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refrigerante, pipoca, goma de mascar etc. Tá do jeitinho que o diabo gosta! E tendo em vista que haja tantas abominações em uma reunião que deveria ser uma assembléia de santos que cultuam a Deus em temor e reverência, como não admitir que apenas um vagabundo pastor é que se daria ao trabalho de presidi-la?

Eis aí o evangelho de Sodoma. Mas a mensagem divina através da imagem da família de Ló está dirigida aos crentes e não ao mundo. Esse é um segredo que o Senhor quer partici-par a todos aqueles que o invocam nessa hora final. Quem irá dar ouvidos a Sua voz? O Senhor Jesus nos alertou que assim como foi nos dias de Ló,7 há de ser também na ocasião do Seu maravilhoso regresso. Lembremo-nos de que Ele nos disse: “Um será tomado e outro será deixado”. Notemos ainda que embora as igrejas estejam lotadas de membros, apenas uns poucos é que serão arrebatados. O Vale de Sidim era enorme, mas nos seus termos não se achou nem cinco justos. Assim também acontecerá nessa presente geração de crentes.

A mensagem é pessimista e contraria a lógica dos pastores de nossos dias, mas eles nada farão para que as suas ovelhas se

7 Lucas 17. 28- 36

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salvem. Todos os pastores de Ló estão prestes a perecer, e os seus rebanhos com eles. Que isso sirva de alerta para todos.

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5O Último Pôr - do Sol

E aconteceu que, tirando-os fora, disse: Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti, e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte,

para que não pereças. (Gênesis 19. 17)

O Senhor Jesus nos disse que até ali aquele havia sido um dia igual a todos os outros para os moradores de Sodoma. E como sempre, Ló estava na execução do seu ofício na entrada da cidade, quando avistou que dois distintos vultos caminha-vam em sua direção. Ele saiu a encontrá-los e insistiu para que permanecessem na sua casa durante aquela noite. Eram dois santos anjos e o bom anfitrião nem imaginava que o sol estava se pondo pela última vez sobre a pervertida cidade.

Abraão, porém, já estava ciente de tudo. Ele é a igreja espiritual, à qual Deus não ocultará jamais o seu eterno propó-sito, afinal Ele tem anunciado que não fará coisa alguma a este mundo sem antes comunicar aos seus servos. Portanto, Abraão sabia que aquele podia ser o último dia de vida para os habi-

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tantes de Sodoma. Ele orou, pleiteou, insistiu com Deus para que pelo amor de alguns justos aquelas cinco cidades das pla-nícies fossem poupadas da destruição.

Na verdade, era pela família de Ló que ele estava supli-cando. Seu primeiro pedido a Deus foi que por amor a cin-qüenta justos todos os habitantes do reino fossem perdoados. Era um número pouco significante se levarmos em conta que se tratava de cinco cidades. Mas Deus prontamente aceitou a proposta de Abraão, ao passo que o patriarca, receoso da jus-tiça daquela região, temeu que a vida de Ló ainda estivesse em perigo. Então ele insistiu com o anjo e fez nova proposta. Dessa vez orou pelas vidas de quarenta e cinco justos. O Senhor novamente atende ao seu pedido, mas Abraão ainda estava inseguro. Nisso ele intercedeu para que Deus perdoasse às cinco cidades se por feliz ventura ali fossem encontrados quarenta justos.

Sem pestanejar Deus ainda escuta a sua petição. Contudo, aos olhos humanos esse ainda parece um número elevado para a justiça de toda aquela planície. Abraão não podia confiar na piedade dos moradores da terra, pelo que a vida de Ló ainda estava em apuros. Assim ele arriscou propor outra saída, e apelou pelas vidas de trinta justos. Que maravilhoso alívio: Deus o atendeu sem reclamar! Mas devido à facilidade com

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que o Senhor o atendia, Abraão começou a temer que já não houvesse como reverter aquele quadro. Mesmo assim ele se expõe ao perigo de estar interferindo na justiça divina e resol-ve suplicar mais uma vez. Agora iria pedir que pelo amor de vinte justos aquelas cidades não fossem destruídas. E para a sua surpresa, o anjo o escutou com paciência.

Abraão fez seus cálculos mentais e entendeu que vinte po-dia ser um número razoável, afinal de contas nem todos os habitantes daquela planície podiam ser igualmente dignos de condenação. Mas para que a vida de Ló ficasse totalmente livre do perigo, ele se humilhou diante do Senhor e suplicou-lhe pela vez final. Dez justos. Ele implorou para que Deus pou-passe as cinco cidades da planície se em seus termos existis-sem dez pessoas cujas almas não estivessem maculadas pelo pecado de Sodoma. Felizmente o Senhor atentou para o seu ousado pedido e garantiu-lhe que não destruiria as cidades se por ventura ali habitassem dez justos. Abraão também tinha dado a sua palavra e desde então não tocou mais no assunto. Agora era apenas ficar em estado de vigília até o amanhecer, torcendo para que ao menos a família de Ló não houvesse en-veredado pelos caminhos de Sodoma.

As igrejas evangélicas já foram mais espirituais, porquanto aqueles que as lideravam eram homens espirituais. Viver na

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escuridão da ignorância e estar alheia ao eterno propósito de Deus não pode ser normal à igreja em época alguma, porém, nos dias de hoje não é difícil encontrarmos líderes de grandes igrejas que afirmam desconhecer os caminhos da escatologia bíblica e que por essa razão não ousam arriscar qualquer tipo de “especulação” concernente ao glorioso futuro do povo de Deus.

Portar-se dessa maneira é justificar a própria ignorância, é cair de pára-quedas e não estar devidamente preparado para orientar e guiar o rebanho do Senhor ao seu eterno fanal. Nenhum pastor, seja ele doutor ou leigo, pode se dar ao direito ou à desculpa de desconhecer o maravilhoso futuro da igreja, pois se este, sendo ignorante a respeito do glorioso amanhecer do povo de Deus, vive aquém das expectativas escatológicas, como poderá conduzir os santos à vitória final?

Mas assim como estes, Ló também estava alheio e não sabia que o tempo do pecado havia se esgotado para as cidades da planície. Ao entrar para aquele povo o seu intuito era o de convertê-lo à verdade e transformar-lhe a vida, mas o evangelho por ele anunciado era puramente humano, social e filantrópico, desprovido da verdadeira fé que salva, justifica, santifica e glorifica ao mais vil pecador. Por vários anos esse sobrinho de Abraão estava laborando inutilmente em Sodoma,

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até que chegou o dia do acerto de contas. Ló ainda não sabia, mas agora só lhe restavam menos de doze horas para evan-gelizar e resgatar aquela multidão de gente perdida.

Ah! Se pelos esforços dessa igreja mundana pudessem ser transformadas ao menos dez vidas, então todo aquele reino seria poupado da destruição! Mas agora o seu tempo se esgota e estas coisas também lhe são ocultadas.

As últimas horas de Ló em Sodoma foram também as mais difíceis da sua vida, pois ali ficaram manifestam todas lou-curas de sua humana escolha, quando aflorou-lhe o máximo do desespero pela expectação do iminente fim. Era já cerca de meia-noite quando os anjos lhe revelaram que aquela cidade seria totalmente destruída e que o tempo que lhe restava era demasiado curto para concertar as coisas, ordenar a família, organizar uma fuga e salvar o máximo de tudo o que possuía em casa ou no campo.

O drama de Ló se tornou ainda mais intenso quando os anjos lhe disseram para agir rapidamente e ajuntar toda a família a fim de que não perecessem na condenação de So-doma. Além de sua esposa e de duas filhas solteiras, ele devia ter pelo menos dois filhos casados e mais uma filha que já havia contraído matrimônio na cidade. Somando as noras, os genros e os netos, teríamos uma família composta de pelo

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menos quinze pessoas. Mas havia outro problema ao qual Ló não teria mais tempo para resolver: aqueles que tinham se casado na cidade não queriam deixar a vida ali constituída. Ele então foi procurar os noivos de suas duas filhas, mas estes não acreditaram “nesse papo de fim do mundo” e até zombaram das palavras do desesperado evangelista. Nessa situação dra-mática, Ló esmoreceu e ficou sem ação. Como aceitar que os seus queridos filhos e todos os seus netos fossem sim-plesmente condenados na destruição de Sodoma? Como fe-char os olhos e fingir que nada daquilo estivesse acontecendo? Ló desanimou e por alguns instantes chegou a imaginar que não conseguiria deixar aquela perversa cidade. Era a mani-festação de sua impotência frente à triste realidade.

O tempo se abrevia e chegada é a hora da partida. Em que condições espirituais estamos nós nesse momento crítico? Não nos resta tempo para fazermos muita coisa e as evidências dão provas de que as nossas veste já não estão limpas e que em muitas mãos as lamparinas já se apagaram. Humanamente falando, teríamos grande chance de salvar nossos parentes, amigos e vizinhos caso contássemos com o apoio dos pastores, mas é certo que eles não moverão um só dedo nesse sentido, pois os mesmos também estão fascinados por Sodoma e não se darão ao trabalho de alertarem aos seus rebanhos. Muito pelo contrário, eles irão protestar contra a mensagem de Ló; com

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desdém hão de dizer que estou exagerando e que não mere-cem crédito as coisas que aqui tenho afirmado. Eles mesmos é que conformarão as ovelhas a destruição que se aproxima, e dirão aos que por desprendimento, coragem e verdadeiro amor cristão chamarem as igrejas ao arrependimento: “Quem é você para julgar os outros?” Mas esse é exatamente o argu-mento mais comum aos estúpidos. Os cidadãos de Sodoma disseram o mesmo diante das portas de Ló e vejam o fim que eles tiveram.

A trágica e infeliz realidade é que já não podemos contar com a maioria dos líderes evangélicos. Se alguém realmente deseja salvar a si à sua família terá de fazer muito mais do que simplesmente orar ou entregar tudo “nas mãos de Deus”. É preciso tomar uma ousada postura e protestar por si, por seus filhos e por toda a sua família. Essa é a hora em que todo pai de família deve tomar as vestes sacerdotais e se esforçar no sentido de preparar aos seus entes mais queridos para o glo-rioso instante do arrebatamento. Inútil é esperar que os pas-tores ajudem nessas horas tão críticas. A experiência e a própria Bíblia nos asseguram que eles devem fazer exatamente o oposto. Eles já nos abandonaram e agora resta-nos “apenas” a grande compaixão de Deus.

Mantenhamo-nos, pois fiéis a Ele.

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6Desamparado e Impotente

Ele porem demorava-se, e aqueles varões lhe pegaram pela mão, e pela mão de sua mulher, e pela mão de suas duas filhas, sendo-lhe o Senhor misericordioso,

e tiraram-no, e puseram-no fora da cidade. (Gênesis 19. 16)

Não fazia parte do plano divino tirar Ló e sua família dos

termos de Sodoma na época daquela destruição. O acordo que Ele fez com Abrão foi o de poupar aquelas cinco cidades se por ventura nelas se achassem ao menos dez almas justas, e isso provou ser impossível. Mas devido às orações do pai dos crentes, o Senhor achou por bem ordenar aos seus anjos a que arrancassem Ló e sua família de dentro daquele lugar antes de destruí-lo.

Ló havia crido na pregação dos anjos e estava disposto a abandonar a cidade tão logo lhe fosse possível, mas entendeu que não podia salvar aos seus filhos, então as forças lhe fal-taram e ele passou a agir com lentidão. Agora chamarei a atenção do leitor para esse ponto em particular, pois me parece

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que temos aqui a sombra de nosso próprio dilema. Que devemos fazer para mantermos a salvo as nossas famílias perante a destruição que se aproxima? Tem você pensado a respeito disso? Possui você a visão celestial capaz de revelar que esse evangelho que estamos a ouvir todos os dias em nos-sas igrejas não passa de palha e que não nos oferece meios de estarmos preparados para a vinda de Nosso Senhor?

A Bíblia sem rodeios nos declara que no fim dos tempos a iniqüidade se multiplicará e que o amor de muitos crentes es-friará. Não sei se é do seu interesse, mas quando o Senhor dis-se que a iniqüidade se multiplicará, Ele obviamente estava se referindo ao crescimento exacerbado do pecado entre os cris-tãos por ocasião da Sua vinda. E só para lembrar: a palavra iniqüidade encerra todos os tipos e categorias de pecados.

Ora, para que haja uma multiplicação do pecado, é neces-sário que estejamos nos referindo a um crescimento de pelo menos cem por cento. Isso exige significar (e que ninguém ou-se argumentar o contrário) que a igreja evangélica dos últimos dias terá se transformado em um aglomerado de gente “des-convertida” nunca visto antes. Mas se algum pastor é estúpido o bastante para resistir a essa verdade, logo estará se opondo diretamente à palavra de Deus.

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O segundo ponto para o qual desejo chamar a sua atenção é o fato de o amor de muitos estar se esfriando. Afinal, o que significa a expressão “o amor de muitos” para você? Seria o caso lembrá-lo que o Senhor Jesus costumava aplicar a palavra “muitos” à escatologia quando queria se referir ao número daqueles crentes que não terão parte no Seu Reino? Observe os exemplos a seguir:

“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” Mateus 7. 13;

“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” 8 Mateus 7. 22, 23;

“Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” Mateus 20. 16;

“Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos”. Mateus 24. 4;

“Nesse tempo muitos serão escandalizados9.” Mateus 24. 10;

8 A palavra iniqüidade, novamente em evidência!

9 A palavra escândalo, nesse particular, denota propensão espontânea para uma vida desregrada.

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“E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.” Mateus 24. 11;

“E por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.” Mateus 24. 12;

Por todos esses exemplos, podemos concluir que o Senhor Jesus usou a expressão “muitos” com o sentido de “a maioria”.

Assim vemos muitos (a maioria) que são chamados, enquanto poucos (a minoria) são escolhidos; muitos (a maioria) que en-tram pela porta larga, enquanto apenas uns poucos (a minoria) é que encontram e passam pela porta estreita. E em todos os supracitados casos o Senhor não nos deixa enganados a res-peito da grande verdade: pouquíssimas serão as pessoas que se salvarão dentre todas as denominações e segmentos evan-gélicos existentes no mundo por ocasião do arrebatamento. Isso equivale a dizer sem medo de errar, que o cristianismo dos dias finais há de ser um composto de hipócritas que não darão ouvidos às solenes recomendações do Senhor.

O Divino Mestre no afã de orientar os seus santos escolhi-dos da última hora, alerta-nos de que o cristianismo final será marcado por três fatos extraordinários que servirão de indícios de que o tempo da Sua vinda se aproxima. A saber:

1- Os crentes se odiarão e mutuamente se trairão;

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2- Dessas contendas surgirão muitos falsos profetas que com oportunismo provocarão rachaduras na igreja, enganarão a muitos crentes e fundarão seus próprios ministérios;

3- A conseqüência imediata ao surgimento desses falsos lide-res e suas igrejas, será o crescimento exacerbado da iniqüidade e o abandono da verdadeira fé.

Seriam tão estúpidos os nossos pastores a ponto de não admitirem que a grande maioria (mais de noventa por cento) dos donos de igrejas seja composta de falsos profetas que amolecem a doutrina, toleram o pecado e conformam seus membros ao mundanismo para a própria destruição? Essa decadência foi planejada por homens duas vezes mortos e pos-ta em prática gradualmente até que assumiu a forma “normal” que se conhece em nossos dias. Primeiro esses falsos profetas abandonaram as origens e a verdadeira igreja para fundarem suas próprias denominações ou ministérios onde tivessem a liberdade de ensinar suas doutrinas de perdição.

Aos poucos eles foram abandonando a ousadia do teste-munho cristão e adotaram posturas simpáticas em relação ao mundo, porque entendiam que o Evangelho pode ser algo ma-leável. Como se não lhes bastasse, passaram a ensinar que ao rebanho que Deus não espera que sejamos perfeitos, e que não devemos viver segundo a “lei”, pois isso aniquilaria a graça divina que salva os homens a troco de nada. Em seguida, eles permitiram que o mundanismo fosse instalado nas igrejas e até estimularam tais usos com o objetivo de aumentarem os nú-

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meros de seus rebanhos. Desde então, tudo se tornaria per-mitido, se para tanto, os membros não deixassem de contribuir com seus dízimos e ofertas.

Covarde, perversos, criminosos. Eles não estão se impor-tando com os milhares de vidas que, desavisadas, marcham para o inferno. Estes vivem como se de fato o Senhor mais re-gressará a esse mundo para arrebatar os seus escolhidos. Aliás, esse é um assunto no qual eles evitam tocar, pois o refletir sobre tal acontecimento pode provocar o abandono do pecado e isso implicará em muitos inconvenientes para aqueles que vivem da ignorância dos crentes.

Meu irmão, é lastimável a realidade, mas os nossos pas-tores há muito que nos têm abandonado, de modo que as igrejas já não oferecem abrigo contra o pecado; e o que é mais grave, elas até têm servido de coito e estímulo às práticas comuns à prostituição religiosa. Nossas famílias estão sendo arrastadas para o mundo e condicionadas ao pecado pela co-vardia e ambição de homens que não temem a Deus. O am-biente no qual congregamos é tão mundano e tão pervertido que as pessoas nem pensam mais em abandonar a igreja. Todos os tipos de pecados já podem ser tolerados e esti-mulados por aqueles que lidam com os rebanhos.

A juventude cristã, que outrora era o glorioso jardim da igreja, agora tem se tornado em um reduto de prostituição, pelo que têm sido raros os casos de moças e rapazes que, apesar de haverem nascido em lares cristãos, não conseguem

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mais manterem-se livres da fornicação até o casamento. Sei de inúmeros casos de crianças e adolescentes cristãos que se reú-nem para ver filmes de sexo explícito, e os pais, ao tomarem conhecimento do fato, dão risadas, como se isso fosse normal! Conheço presbíteros, diáconos e dirigentes do círculo de ora-ção que são favoráveis aos casais que vêem filmes pornôs sob o pretexto de estarem “apimentado as relações”. Não faz mui-to tempo, precisei usar o computador de um amigo e ele me direcionou ao andar superior da sua casa. Quando lá cheguei, pude flagrar um grupo de adolescentes, filhos de crentes, que estavam vendo um filme de sexo direcionado ao público gay. É o espírito de Sodoma, avassalando as nossas famílias sem que a igreja nada possa (ou não queira) fazer!

Ultimamente não têm sido raros os casos de jovens cristãos e até mesmo de obreiros que me procuram para confessar que estão viciados em pornografia virtual, mas especialmente na internet. É preocupante o nosso quadro. O número de divór-cios entre os crentes tem crescido incontrolavelmente nesses últimos anos, sem que mencionemos aqui aqueles casos de traição conjugal em que os pares optaram pela não dissolvição do casamento. E o que os pastores estão fazendo pelo resgate de nossas famílias? Absolutamente nada! Antes, para proveito próprio, banalizaram os sagrados laços do casamento ao torna-ram comum a prática do divórcio entre eles mesmos.

Igualmente lamentável é notar que os nossos filhos estejam abandonando o Evangelho e a igreja tão logo atinjam a puber-dade. Na região onde moro é mais do que normal os filhos de

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crentes aguardarem a chegada do dos doze anos de idade, quando se verão livres para seguirem o curso do mundo. E eu mão posso estar surpreso, pois de um evangelho nojento como esse não podem pulular frutos que permaneçam para sempre. Esses também se tornaram filhos de Sodoma e não poderão ser salvos!

Agora temos chegado ao cúmulo dos absurdos e estou sendo obrigado a ensinar aos meus filhos a não imitarem as práticas da minha própria igreja! É meu dever como pai e sacerdote dar proteção espiritual à minha prole a fim de que sejamos havidos por dignos de ingressar na grande viagem para o Céu. Lutarei com todas as forças para que eles sejam livres da fascinação de Sodoma que já impera nas igrejas. Todos os dias oro ao meu Deus e todos os dias me ponho de prontidão para resistir ao ímpeto do inferno que, por infe-licidade, possui passe livre nesse cristianismo moderno. Meus amigos pastores sabem da minha postura em relação ao Evangelho de Deus e entendem que inútil lhes será tentar me remover dessa convicção.

Eu não permitirei que os meus filhos cresçam para o inferno; não os tenho colocado no mundo para serem entre-gues a Satanás. E não serei como Ló no dia da destruição de Sodoma, desolado por não poder levar consigo o máximo de sua descendência. Mas não negarei que às vezes me sinto im-potente qual Ló, e temo pela vida dos meus amados, pois se dependerem de nossos pastores, eles estarão perdidos para sempre.

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Mas eis que os anjos lhe dão pressa: vamos, fuja para a montanha e salve a sua vida. Não pare pelo caminho e nem olhe para trás; não há mais tempo para se fazer coisa alguma.

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CONCLUSÃO

Lembrai-vos da Mulher de LóE a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida em uma estátua de sal

(Gênesis 19.26)

A mulher de Ló é a personificação da hipocrisia; um tipo do cristão cujos devaneios só serão revelados no ato do arreba-tamento, quando todas as máscaras enfim cairão por terra e o mundo inteiro saberá a diferença que existe entre aqueles que servem a Deus e os que fazem do Evangelho uma cortina sob a qual se escondem.

Esse certamente foi o golpe mais doloroso que o velho Ló teve de sofrer. Como se não lhe bastasse haver perdido alguns filhos que não puderam ou não quiseram abandonar a cidade, ele ainda teve de amargar a mais dura surpresa. Sua mulher que até então parecia ter-lhe sido fiel, desobedeceu à reco-mendação dos anjos e durante a fuga de Sodoma parou e olhou para trás ficando assim convertida em uma estátua de sal. Por que parou? Por que ousou desobedecer ao Senhor e olhou para trás? A verdade é que ela tinha o coração preso à maldade daquela cidade, e ficou convertida em estátua porque resolveu amar àquilo que Deus abomina e condena.

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Foi dessa forma que ela entrou para a história e ficou como um exemplo para todos aqueles que continuam com o coração amarrado ao mundo, mesmo depois de haverem sido amados e resgatados pelo Senhor. E veja que a providência divina tudo fez para que Ló e sua família inteira fossem salvos, pois além de tê-los arrancado de dentro da cidade, ainda usou de piedade e a pedido seu chegou a poupar a pequena Zoar que deveria ter sido destruída juntamente com Sodoma.

Em suma, a mulher de Ló se assemelha àquela classe de crentes que aparentemente conseguem se manter fiéis até o fim de suas vidas, mas que apesar de tudo jamais entregaram o coração por inteiro ao Senhor, e por essa razão não podem herdar a bênção do Seu eterno amor.

Portanto, convém que o povo de Deus viva de modo a não sacrificar a sua eterna herança, não usando de sandices e nem abrindo mão das recomendações divinas em favor dos conse-lhos ou doutrinas de homens que não temem ao Senhor. O Apocalipse claramente nos admoesta: “Quem é santo, se esfor-ce para estar ainda mais santificado”.

Vivamos como peregrinos que somos neste mundo e em tudo santifiquemos o Nosso Deus; busquemos a pátria celes-tial, pois onde estiver o nosso tesouro, estará também o nosso coração.

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