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AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO NA VISÃO DE LUIZ RODRIGUES WAMBIER Por Welrika Beatriz. A consignação em pagamento é uma das formas de extinção das obrigações. Assim, não só o credor tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação, como também o devedor tem direito ao adimplemento. Então na hipótese de não conseguir que o credor aceite ao pagamento, caberá ao devedor a ação de consignação em pagamento, com objetivo de desobrigá-lo do pacto assumido. As hipóteses de cabimentos da ação de consignação são aquelas previstas no artigo 335 do Código Civil de 2002: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; Naquelas obrigações em que o devedor deve procurar o credor, para efetuar o pagamento, na forma e lugar estipulados no pacto, e o credor não pode, ou, sem razão plausível, não aceita receber. II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; Nas obrigações em que se pactuou caber ao credor buscar o pagamento, no lugar e tempo indicados pelo devedor. III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

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AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO NA VISÃO DE LUIZ RODRIGUES WAMBIER

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Page 1: AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO NA VISÃO DE LUIZ RODRIGUES WAMBIER

Por Welrika Beatriz.

A consignação em pagamento é uma das formas de extinção

das obrigações. Assim, não só o credor tem o direito de exigir o cumprimento

da obrigação, como também o devedor tem direito ao adimplemento. Então na

hipótese de não conseguir que o credor aceite ao pagamento, caberá ao

devedor a ação de consignação em pagamento, com objetivo de desobrigá-lo

do pacto assumido.

As hipóteses de cabimentos da ação de consignação são

aquelas previstas no artigo 335 do Código Civil de 2002:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o

pagamento, ou dar quitação na devida forma;

Naquelas obrigações em que o devedor deve procurar o credor,

para efetuar o pagamento, na forma e lugar estipulados no pacto, e

o credor não pode, ou, sem razão plausível, não aceita receber.

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e

condição devidos;

Nas obrigações em que se pactuou caber ao credor buscar o

pagamento, no lugar e tempo indicados pelo devedor.

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado

ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;

Casos em que, após o pacto, houve alteração no estado ou

residência do credor.

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do

pagamento;

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Como o crédito é circulável, pode ocorrer de, em sucessivas

tranasferências, vários serem os que intitulam credores, não

sabendo o devedor a quem deva efetuar o pagamento.

V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Situação em que, após o pacto, a coisa, em que consiste o

pagamento, vem a ser disputada, tornando incerto seu destino.

LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA

A ação de consignação em pagamento pode ser promovida

tanto pelo devedor principal como por qualquer terceiro interessado na extinção

da obrigação. Quanto à legitimidade passiva a ação é promovida contra o

credor ou credores, se houver. Mas se houver dúvida a quem pagar, deverá ser

promovida contra todos os possíveis credores.

COMPETÊNCIA

O foro competente para a ação de consignação é o do lugar do

pagamento. Em regra este domicílio é do devedor, mas nada impede que as

partes pactuem o foro de eleição. Na obrigação que consistir em entregar corpo

no lugar onde se encontra, diverso do domicilio do devedor, o devedor está

autorizado a propor a consignatória no foro onde está a coisa. E se tratando de

prestação relativa a imóvel e consignação de aluguéis é competente o foro da

situação do imóvel, excesso expressa estipulação de outro foro pelas partes.

DEPÓSITO BANCÁRIO

Houve uma considerável alteração na ação de consignação em

pagamento, inserindo a possibilidade de que se faça depósito bancário,

procedimento extrajudicial que também extingue a obrigação sem necessidade

de propor ação consignatória.

Se tratar de obrigação em dinheiro, o devedor poderá efetuar o

depósito da quantia devida atualizada monetariamente em um estabelecimento

bancário qualquer. O credor será cientificado do depósito, por carta com aviso

Page 3: AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

de recepção, abrindo prazo de 10 dias para que se manifeste. Neste prazo

pode o credor aceitar o depósito e levantar a quantia; permanecer inerte ou

manifestar expressamente a recusa, por escrito ao estabelecimento bancário.

Não há necessidade de explicar os motivos da recusa, pois poderá fazê-lo na

contestação se a ação consignatória vier a ser proposta.

Somente se houver recusa expressa é que a obrigação

persiste, cabendo ao devedor em trinta dias, contados da ciência da recusa

ajuizar a ação consignatória.

PROCEDIMENTO

Tendo ou não havido depósito bancário (lembrando que é

opção do devedor), a ação de consignação em pagamento será proposta por

meio de petição inicial, observados os requisitos do artigo 282 do CPC,

contento o pedido do depósito da quantia ou da coisa devida que deverá

ocorrer no prazo de cinco dias contados do deferimento, e a citação do réu

para levantar o depósito ou oferecer resposta. Se o autor já houver feito o

depósito bancário basta a juntada do comprovante de depósito.

Se houver dúvida a quem pagar o pólo passivo deverão

constar todos aqueles que disputam o direito de receber, devendo o autor

requerer a citação de todos.

Como a consignação em pagamento tem cabimento restrito, é

muitíssimo importante a demonstração da situação reclamada encaixada em

uma das hipóteses legais. Sendo que só é possível consignar aquilo que pode

ser objeto de pagamento, devendo a petição inicial demonstrar ser a dívida

líquida, certa e exigível.

Resposta do réu

A Resposta do réu deverá ser oferecida em 15 dias, quando

poderá ser ofertada contestação, exceção ou reconvenção.

Page 4: AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

O conteúdo da contestação é limitada, não cabendo ao réu

alegar toda matéria de defesa, mas somente o previsto no artigo 896 do CPC

que nos trás regras especiais.

I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida;

Nessa hipótese o réu está negando o fato constitutivo do direito do

autor (a recusa).

II - foi justa a recusa;

Neste caso o réu admite a recusa do pagamento, mas alega outro

fato justificando seu comportamento.

III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;

Com esta alegação busca demonstrar que não houve mora do

credor.

IV - o depósito não é integral.

Aqui se discute o montante da dívida, pois o réu alega que o autor

depositou a menos do que deveria, assim não basta apenas alegar

que o depósito não é integral, devendo expressar o montante que

entende devido.

JULGAMENTO ANTECIPADO

Poderá haver julgamento antecipado da lide, se o réu

devidamente citado não apresentar contestação e se tiverem produzido os

efeitos da revelia, ou se o réu comparecer e aceitar a oferta.

DÚVIDA SOBRE A QUEM PAGAR

Uma das hipóteses de cabimento da ação de consignação em

pagamento é quando o devedor não sabe quem deve receber a prestação.

Neste caso não há mora do credor, pois não se trata em recusa de receber,

mas sim dúvida objetiva do devedor, sobre a quem deva efetuar o pagamento.

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Tal dúvida autoriza a consignatória, para acautelar o devedor dos riscos do

pagamento indevido.

Assim, proposta a ação contra todos os possíveis credores e

requerida a citação de todos, insurge três hipóteses:

I – nenhum pretendente comparece;

Neste caso, ocorrerá o julgamento antecipado, e a sentença

declarará extinta a obrigação, liberando o devedor. O depósito será

convertido em arrecadação de bens de ausentes.

II – apenas um pretendente comparece;

Sua manifestação, evidentemente, não será a contestação, pois

não se trata de defesa contra o autor, mas, sim, de alegação de

que a ele cabe o direito de receber. Assim o Juiz analisará a

relação creditícia e deverá julgar se o pretendente é ou não credor.

III - mais de um pretendente comparece.

Há uma grande transformação, pois o Juiz declarará efetuado o

depósito e extinguirá a obrigação, excluindo o autor do processo, e

a demanda prosseguirá entre os pretendentes, que estão

disputando o crédito. Em verdade inicia-se outro processo,em que

os pretendentes são reciprocamente autores e réus, e a sentença

definirá a quem cabe o direito.

INSUFICIÊNCIA DE DEPÓSITO

Se o réu alegar insuficiência de depósito, desde logo está

autorizado a levantar o depósito, pois, em verdade, se o réu alegou que o

depósito é insuficiente, não está discutindo o quantum depositado, mas sobre a

diferença não depositada. Levantando o depósito, ocorre a liberação parcial do

devedor, e o processo prosseguirá, versando apenas acerca da parcela

controvertida. Concluindo-se efetivamente que o depósito foi insuficiente, a

sentença não apenas julgará improcedente a consignação, mas determinará

qual o montante devido, devendo o devedor fazer sua complementação.